NOTAS CURTAS Registro e documentação fotográfica de Aratinga acuticaudata em Minas Gerais Thiago de Oliveira Souza¹, Karina Santos Silva² & Andréia Aparecida Batista Gouvêa³ Aratinga acuticaudata (Psittaciformes: Psittacidae) é a única espécie do gênero com píleo e fronte azul1, sendo sua área de ocorrência descrita principalmente para a caatinga nordestina e o oeste do Mato Grosso, além de Tocantins, Mato Grosso do Sul e Pernambuco1,2,3,4. Mattos et al.5 descrevem a presença da espécie para Minas Gerais mas, no entanto, não apresentam informações sobre os locais de ocorrência6. Recentemente Moura & Correa6 e Benfica et al.7 identificaram a espécie no município de Miravânia e no Parque Estadual Veredas do Peruaçu, no município de Januária, ambos na região norte de Minas Gerais, sendo estes os únicos registros publicados da espécie para o estado. Neste trabalho é apresentada nova localidade de ocorrência de A. acuticaudata para Minas Gerais. No dia 9 de fevereiro de 2011, foi registrado um grupo de dez indivíduos de A. acuticaudata às margens da rodovia MG-608 (15°18’03”S e 45°38’15”W; Figura 1), no município de Chapada Gaúcha, norte de Minas Gerais. As aves estavam pousadas em uma árvore seca, de aproximadamente 10 m de altura, próximas de um indivíduo de Guira guira. Os espécimes permaneceram pousados e vocalizando por um longo tempo, o que possibilitou fotografá-los (Figura 2). No dia 28 de julho de 2011, também às margens da MG-608, foi registrado novamente um bando da espécie, esse formado por 21 indivíduos e encontrado a 21 km do local do primeiro registro (15°25’45”S e 45°46’62”W). As aves estavam pousadas em uma árvore de aproximadamente 8 m de altura, e alçaram vôo logo que foram registradas. O ambiente de registro era formado predominantemente por plantações de soja, existindo às margens da rodovia poucos
indivíduos arbóreos. A ocorrência de A. acuticaudata no município é relativamente comum, tendo sida registrada em duas campanhas consecutivas de diagnostico da avifauna no ano de 2011 e por Araujo8 e Silva9 no ano seguinte. Portando, este trabalho tem por objetivo relatar nova localidade de ocorrência do táxon para Minas Gerais e contribuir com o estudo sobre sua distribuição geográfica.
Figura 1. Registros de Aratinga acuticaudata em Minas Gerais, incluindo registros prévios6,7 (círculos) e o novo registro apresentado nesta nota (estrela).
Agradecimentos Somos gratos a Marcelo F. Vasconcelos, Mauro G. Diniz, Thiago O. Almeida e Luiz Mazzoni que nos incentivaram e auxiliaram na elaboração do manuscrito. Agradecemos também a Davi Ferri e Rodrigo Tinoco pela elaboração do mapa. Referências bibliográficas
(1) Sigrist, T. (2009) Avifauna Brasileira; (2) Juniper, T. & M. Parr (1998) Parrots: a guide to the parrots of the world; (3) Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira; (4) InfoNatura (2007) NatureServe <http://www. natureserve.org/infonatura> acesso em: 9 de agosto de 2012; (5) Mattos, G.T. et al. (1993) Nova lista de aves do estado de Minas Gerais; (6) Moura, A.S. & B.S, Correa (2010) AO 155: 18-19; (7) Benfica, C.E. et al. (2011) p. 568. In: IX Congresso de Ornitología Neotropical; (8) Araujo, A.C. (2012) Wiki Aves <http://www.wikiaves. com.br/660651> acesso em: 9 de agosto de 2012; (9) Silva, A. (2012) Wiki Aves <http:// www.wikiaves.com.br/638879> acesso em: 9 de agosto de 2012.
Museu de Ciências Naturais PUC Minas. Avenida Dom José Gaspar, 290, Coração Eucarístico, CEP 30535-901. Belo Horizonte, MG. E-mail: thiagopucbio@yahoo.com.br 2 Centro Universitário de Belo Horizonte UNI-BH. Avenida Professor Mário Werneck, 1.685, Estoril, CEP 31110‑320. Belo Horizonte, MG. 3 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Rua do Rosário, 1081, Angola, CEP 32630-000. Betim, MG. 1
Figura 2. Indivíduo de Aratinga acuticaudata registrado dia 9 de fevereiro de 2011 (Foto: Thiago Souza).
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Registros de Sclerurus mexicanus e Accipiter poliogaster no estado de São Paulo
Figura 1. Sclerurus mexicanus bahiae, a subspécie da Mata Atlântica, evidenciando seu peito ruivo (Foto: João Quental).
Bruno Lima1 Sclerurus mexicanus (Passeriformes: Scleruridae) A espécie ocorre no Parque Estadual da Serra do Mar, na “Trilha do Corcovado” no município de Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo1. Não muito distante dessa localidade, em mata de baixa-encosta conhecida como “Trilha da Folha Seca” a espécie tem sido registrada com certa frequência (Figura 1), sendo os registros depositados no site Wikiaves (WA4014). Mais ao sul, no município de Bertioga, na Baixada Santista, Willis & Oniki citam a espécie no Varjão do Guaratuba2. Da mesma localidade há uma pele no Instituto Adolfo Lutz (IAL), conforme informou o Dr. Luiz Eloy Pereira ao autor em 22 de janeiro de 2012, depositada sob a numeração OS-598, coletado em 24 de outubro de 1972. O exemplar foi coletado pelo Dr. Oscar de Souza Lopes por meio de redes-de-neblina (mist-nets) na mata às margens do Rio Guaratuba, próximo ao sopé da Serra do Mar. Mais ao sul, no município de Miracatu, no Vale do Ribeira o autor realizou uma gravação sob as coordenadas 24°15’45,22”S e 47°25’39,27”W. O registro foi depositado nos arquivos sonoros do site xeno-canto (XC53410) e Wikiaves (WA146178). O local do registro é uma área particular denominada “Sítio do Cervo”, às margens do Rio São Lourençinho, sendo composta principalmente por floresta ombrófila densa de baixa encosta, de formação secundária tardia, que recobre uma sucessão de pequenos morros cuja altitude raramente ultrapassa os 100 m. Poucos quilômetros ao sul, no município de Sete Barras, há um registro de ocor20
Figura 2. Accipiter poliogaster registrado na Zona Rural de Peruíbe (Foto: João Marcelo; WA182303).
rência da espécie, na forma de uma pele proveniente de uma região brejosa próxima à costa em Boa Vista, Rio Ipiranga, sob a numeração FMNH-265126, coletado em 30 de julho de 1960. A pele encontra-se depositada no Florida Museun of Natural History (FMNH). Ainda no município de Sete Barras, há o registro da espécie no Núcleo Saibadela do Parque Estadual de Intervales3. Tais autores consideram a espécie como rara na localidade, tendo sido registrada menos de uma vez por semana. A espécie foi encontrada em mata primária e formações secundárias tardias. Accipiter poliogaster (Falconiformes: Acciptridae) Em 14 de abril de 2011, Tim Hirsch, proprietário do Sítio do Cervo, em Miracatu, enviou ao autor uma gravação realizada em sua propriedade, que o autor identificou como pertencente à Accipiter poliogaster. A gravação foi depositada no site xeno-canto, sob o código XC76107 e também no site Wikiaves, sob o código WA333157. Nela pode-se perceber que há dois indivíduos vocalizando. O registro foi feito num fragmento de mata às margens do Rio São Lourençinho, sob as coordenadas 24°15’45,22”S e 47°25’39,27”W e distante 45 km do município de Peruíbe. A área é recoberta por floresta ombrófila densa de baixa encosta, sendo esse trecho da planície formado por uma sucessão de inúmeros morros cuja altitude máxima é de 100 m, por vezes totalmente recobertos por bananais. Os fragmentos remanescentes são de mata secundária tardia, com árvores cuja altura máxima atinge os 20 metros e sub-bosque desenvolvido.
Em floresta alta de restinga não muito distante desse registro, no município de Peruíbe, em 13 de agosto de 2010, um indivíduo foi registrado em um local conhecido como Zona Rural de Peruíbe, no bairro Vila Erminda. Na ocasião, a espécie estava pousada no alto de uma árvore isolada de aproximadamente 20 m de altura, sob as coordenadas 24°14’41,53”S e 46°57’37,56”W. Eram 17:00 h quando a espécie em questão foi avistada, permanecendo pousada por 10 minutos, sendo possível ao autor realizar um registro fotográfico, sendo este depositado no Wikiaves5. De lá ele alçou voo e sobrevoou uma área aberta, composta de pastagens e pequenos sítios (Figura 3) até pousar em um guanandi (Calophyllum brasiliensis) de aproximadamente 20 m de altura. Em poucos segundos a espécie partiu na direção de um pequeno morro isolado na planície, conhecido como Morro do Vatrapuã. Da mesma localidade há o registro de um imaturo em 30 de outubro de 20106 (Figura 4). Nessa ocasião o indivíduo estava pousado em uma árvore de aproximadamente 10 metros de altura em borda de mata, às 05:40 h. Ainda no município de Peruíbe, mas dentro dos limites da Estação Ecológica Juréia-Itatins, um indivíduo adulto e um jovem foram observados em fevereiro de 1995 sobrevoando a Praia do Guarauzinho7. A vegetação predominante é a floresta ombrófila densa baixo-montana, em bom estado de conservação. Mais ao sul do estado, no município de Itararé, um indivíduo imaturo foi registrado em 1 de setembro de 2011 alimentando-se de um Crypturellus obsoletus8. Além desses registros mais recentes, há a citação de
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Willis & Oniki2 da espécie ocorrendo em Vila Corredeira, Pirajuí. Há também um registro para Ipanema, tendo sido coletado por Natterer. Tal pele deve estar depositada no Museu de Viena. Os autores também citam a coleta de um exemplar no bairro de Santo Amaro, São Paulo. Trata-se de uma pele coletada por moradores locais e recebida por Margaret H. Mitchel de um amigo que residia na represa Billings9. Os autores destacam que a espécie habita de preferência as matas do interior, estando quase extinta atualmente. Com base no relatado, sabemos que o maior número de observadores e ornitólogos existentes nos dias de hoje é responsável
pelos novos registros de ocorrência das duas espécies no estado de São Paulo, o que nos leva a supor que novos registros surgirão. Agradecimentos Luiz Figueiredo contribuiu imensamente com esse artigo, com informações e dicas. Agradeço também ao Dr. Luiz Eloi pelas informações, Marcio Ribeiro por levar a mostrar algumas localidades e a João Quental e João Marcelo da Costa por disponibilizar as fotos que ilustram esse artigo.
Y, Oniki (2003) Aves do Estado de São Paulo; (3) Aleixo, A. & M. Galetti (1997) Bird Conservation International 7:235-261; (4) Vilela, A.R. (2012) <http://www.wikiaves.com/711192>; (5) Costa, J.M. (2010) <http://www.wikiaves.com/182303>; (6) Silva, M.R. (2010) <http://www.wikiaves. com/243681>; (7) Develey, P.F.(2004) In: Estação Ecológica Juréia-Itatins: ambiente físico, flora e fauna; (8) Godoy, F.I. (2012) AO 30:04-05; (9) Mitchell, M.H. (1957) Observations on birds of southeastern Brazil.
Rua 15, n.289. Bairro Guaraú, Peruíbe, São Paulo. CEP: 11750-000. E-mail: buiolima@gmail.com 1
Referências bibliográficas (1) Goerck, J.M. (1999) Bird Conservation International 9:235-253; (2) Willis, E. O. &
Primeiro registro documentado de noivinha-coroada Xolmis coronatus para o estado de São Paulo, Brasil
Figura 1 Xolmis coronatus pousado sobre cerca da Ilha do Cardoso, litoral sul do Estado de São Paulo (Foto: Bruno Lima).
Bruno Lima1 A noivinha-coroada (Passeriformes: Tyrannidae) habita áreas abertas com árvores esparsas, tanto nativas quanto cultivadas, na Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai1. No Brasil é um visitante de inverno no extremo sul do Rio Grande do Sul proveniente da Patagônia, registrado entre os meses de inverno em áreas campestres2. Sick3 aponta essa espécie como ocorrendo apenas no extremo sul (Rio Grande do Sul). Na Ilha do Cardoso, município de Cananéia, litoral sul do estado de São Paulo, um indivíduo de Xolmis coronatus foi fotografado em 14 de maio de 2012 enquanto capturava insetos em voos curtos em arbustos existentes nos quintais da vila de Marujá,
Figura 2. Mesmo indivíduo, sob forte chuva de uma frente fria que perdurou por muitos dias (Foto: Bruno Lima).
sob as coordenadas 25°12’42, 91”S e 47°59’41,18”W. O indivíduo registrado (Figuras 1 e 2) tinha a parte de cima cinzenta, embaixo branco, asas e cauda negras e boné preto margeado de branco. Além do tamanho, também coincidia com as principais características morfológicas de Xolmis coronatus 3, 4. O indivíduo foi registrado sob forte chuva durante a passagem de uma frente fria, o que leva a crer que a espécie alcançou o estado de São Paulo migrando durante algum tipo de alteração climática, como frentes frias extremas. Tal fato explica como o presente registro aumentou sua área de distribuição em mais de mil quilômetros. Analisando a literatura existente, concluiu-se que esta espécie ainda não tinha sido relacionada para a localidade até en-
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tão3, 5, 6 sendo este o primeiro registro da espécie no estado. Agradecimentos Agradeço a Roberto Soares Martins, Marisa e Janaína Moraes por me acompanharem em expedição ornitológica à região da Ilha do Cardoso e Ariri. Referências bibliográficas (1) Olmos, A. (2011) Aves en El Uruguay y su distribución; (2) Sigrist, T. (2006) Aves do Brasil: uma visão artística; (3) Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira; (4) Souza, D. (2004) Todas as aves do Brasil; (5) Willis, E.O. & Y. Oniki (2003) Aves do Estado de São Paulo; (6) Silveira, L.F. & A. Uezu (2011) Biota Neotropica 11 (1a): 1-27.
Rua 15, n.289. Bairro Guaraú, Peruíbe, São Paulo. CEP: 11750-000. E-mail: buiolima@gmail.com 1
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