Revista do Cruzeiro edição 123

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FEV • MAR • 2014

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A RAÇA DE Tinga Referência de caráter e sucesso no futebol, o jogador revela como superou o episódio de preconceito sofrido na estreia do Cruzeiro na Libertadores Máquina celeste Em menos de um mês, Sada Cruzeiro conquista a Copa Brasil e o bicampeonato sul-americano

E MAIS: Especial Libertadores Cruzeiro nas Copas Reforços 2014


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/////EDITORIAL Gilvan de Pinho Tavares Presidente do Cruzeiro No mês de fevereiro atingimos a marca histórica de 50 mil participantes do programa Sócio do Futebol. E para comemorarmos o feito, convidamos o senador Aécio Neves para receber de forma simbólica o cartão com o número que se tornou uma marca da fantástica adesão dos torcedores. Para nossa felicidade ainda maior, poucos dias depois superamos o Santos em quantidade de participantes e somos hoje o quarto clube do Brasil com o maior número de adeptos, atrás apenas do Internacional-RS, Grêmio-RS e do Flamengo. As informações fornecidas aqui nos reforçam duas teorias que temos reafirmado com bastante convicção: a primeira é que a China Azul é a mais fiel torcida do Brasil. Mesmo nos momentos em que atravessamos fases difíceis, com riscos de não permanecermos na elite do futebol brasileiro, ela sempre esteve do nosso lado, com apoio incondicional. O segundo ponto é a certeza de que a formação e a manutenção de grandes equipes sempre vão levar a torcida a acompanhar cada vez com mais interesse o desempenho dos nossos times nos estádio. Para isso, em 2014 fizemos um grande esforço de não vender nenhuma de nossas grandes estrelas. A base do time que encantou o país no ano passado e conquistou o Tricampeonato Brasileiro foi mantida e ainda fizemos contratações pontuais para que nosso elenco fique ainda mais forte. Com as chegadas do lateral Samudio, dos volantes Willian Farias e Rodrigo Souza, mais a contratação do jovem Marlone e o retorno do atacante Marcelo Moreno, temos certeza de que no momento o Cruzeiro tem o plantel mais forte do país. Já nos primeiros jogos da temporada, o técnico Marcelo Oliveira optou por poupar os chamados jogadores titulares em várias partidas e o time continuou mostrando em campo o mesmo padrão com exibições encantadoras, como no clássico contra o América. Mas não foi só com motivos de felicidade que atravessamos o primeiro trimestre. O episódio que ocorreu em Huancayo, na estreia do Cruzeiro na Copa Libertadores, demonstra o quanto a principal competição de clubes do futebol sul-americano precisa continuar crescendo para um dia se tornar um campeonato similar a Liga dos Campeões da Europa, onde vemos estádios seguros, luxuosos, confortáveis e, principalmente, o torcedor sendo tratado com respeito.

No Peru, infelizmente, tivemos uma série de problemas, que começaram com a escolha do local da partida, de difícil acesso para times de outros países, e se estenderam para a véspera do jogo, quando só pudemos treinar durante 15 minutos com o campo sem marcações e sem redes nas balizas. Mesmo diante de tantas adversidades, nossa delegação mal imaginava o que nos aguardava no dia da partida. Logo ao chegarmos ao estádio, a bagagem da nossa rouparia teve que ser revistada duas vezes, algo inédito na história do Clube. Ainda faltava no vestiário água e frases intimidadoras foram coladas nas paredes dizendo que a cidade era o local mais alto do mundo onde se pratica futebol, numa demonstração clara de pressionar emocionalmente nossos atletas. Por fim, assistimos estarrecidos as manifestações de racismo ao jogador Tinga, algo inaceitável em pleno Século XXI, quando já imaginávamos que a civilização havia abolido práticas de desigualdades entre os seres humanos e entendesse que somos todos irmãos, filhos de um só Deus, independentemente de cor, de raça, de credos religiosos, culturas e riquezas. Que o mundo saiba tirar lições daquele 12 de fevereiro, para que nunca mais a humanidade presencie cenas tão bárbaras e preconceituosas. O esporte foi idealizado como uma forma de unir povos e de entretenimento, não como uma guerra para se mostrar que alguém é superior. Que fique para todos nós essa lição. Um abraço e até a próxima,


EXPEDIENTE

Presidente

Gilvan de Pinho Tavares 1º Vice-Presidente

José Maria Queiroz Fialho 2º Vice-Presidente

Márcio Rodrigues Silva

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Vice-Presidente Administrativo

José Francisco Lemos Filho

Presidente do Conselho Deliberativo

Wilmer Santa Luzia Mendes

Vice-Presidente do Conselho Deliberativo

João Carlos Gontijo Endereço

Rua Timbiras, 2903 - Barro Preto CEP: 30.140-062 - Belo Horizonte | MG Tel.: 31 3349.1500 www.cruzeiro.com.br REVISTA DO CRUZEIRO Conselho Editorial

José Francisco Lemos Filho Marcone Barbosa Guilherme Mendes Bruno Mateus Rita de Cássia Pereira Ana Flávia Nazaré

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Editor Chefe

Guilherme Mendes Editor Executivo

Jihan Kazzaz

Jacqueline Dias, Priscilla Gouvêa e Rose Beatriz Rua Timbiras, 2903 - 3 º andar - Barro Preto CEP.: 30140-062 - Belo Horizonte | MG Tel.: 31 3349-1564 comercial@clube.cruzeiro.com.br

Assinaturas revista.cruzeiro.com.br A Revista do Cruzeiro, órgão oficial, retrata de forma transparente a história do Clube, dos craques do passado e do presente, categorias de base, contratações, revelações, enfim, sempre mantendo bem informada a nação azul, a maior torcida de Minas. A Revista do Cruzeiro é um produto oficial. Fica proibida a reprodução total ou parcial das matérias sem a expressa autorização da Diretoria de Marketing. O editor não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios veiculados ou conceitos emitidos em artigos assinados.

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Estagiários de jornalismo

Bárbara Batista e Gustavo Aleixo

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Equipe de Arte Bruno Marco, Carina Ribeiro e Mitiko Mine

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Redação, Edição, Diagramação e Arte Final ETC Comunicação – (31) 2535-5257 etc@etccomunicacao.com.br

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Jornalista Responsável Bruno Mateus - JP 11.887/MG

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/////PÁGINAS AZUIS

EMBAIXADOR CELESTE Do interior de Minas ao Japão, Raimundo Cândido Júnior, o Raimundinho, sempre leva as cinco estrelas no peito e o orgulho de ser cruzeirense Por Bruno Mateus / Fotos Bruno Senna

Advogado renomado, presidente da seccional Minas Gerais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por quatro mandatos (93/94, 95/97, 04/06, 07/10), procurador da República aposentado e, acima de tudo, cruzeirense fanático. Raimundo Cândido Júnior é um sujeito bom de papo, contador de casos. No início da entrevista, ele brinca e deixa claro: “Não me chame de senhor, pode me chamar de Raimundinho. Ficarei bravo se você me chamar de outro nome”. Raimundinho é uma espécie de embaixador celeste, como se autoproclama. Ele envia camisas do Cruzeiro para os amigos Brasil afora e, em suas muitas viagens, o manto tem lugar reservado na mala. Sua coleção pessoal já conta com mais de 50 camisas estreladas. Católico fervoroso, o crucifixo azul abençoado pelo Papa Bento XVI não sai do bolso do paletó, do lado esquerdo do peito. A advocacia e o Cruzeiro são duas paixões de família

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– dos oito irmãos, sete são cruzeirenses. “Tem um americano, uma ovelha desgarrada”, brinca. Nada menos do que seis irmãos trilharam o caminho do direito. Raimundinho é presença certa nas cadeiras do Mineirão e perde a conta das emoções que já viveu na Toca III. Hoje, ele lembra com gosto os tempos de criança, quando esfolava os joelhos nas peladas de rua. “Eu era muito bom de bola”, diz, deixando a modéstia de lado. Quis ser jogador de futebol, mas a carreira brilhante no direito mostrou que a escolha foi bastante feliz. Supersticioso, o advogado acompanhou a campanha do tricampeonato brasileiro com “a camisa da sorte”. Em 2014, ele só pensa em outro tri. “A gente quer é a Libertadores”. Enquanto sonha com a conquista da América, Raimundinho tem uma certeza: ele estará com o Cruzeiro onde o Cruzeiro estiver.


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/////PÁGINAS AZUIS Em que momento o Cruzeiro surgiu na sua vida? Desde garotinho? O meu avô materno, já falecido há muito tempo, era apaixonado pelo Cruzeiro e muito ligado ao Plínio Barreto [jornalista, escritor e conselheiro nato do Cruzeiro], eles eram vizinhos. Meu pai não mexia muito com futebol, ele até costumava dizer que era torcedor do Olaria-RJ, que era dos fracos e oprimidos. [risos] Então, foi meu avô que me influenciou muito. Ele nunca tinha ido ao Mineirão, ficava só no “radinho”. Adivinha em qual jogo eu o levei para o estádio? Cruzeiro 6 x 2 Santos [pela primeira partida da decisão da Taça Brasil de 1966]. Fiquei até com medo de ele ter um troço lá, de tanta emoção. Foi um momento muito feliz. Sou nascido e criado no [bairro belo-horizontino] Gutierrez. Vivi lá de 1951 até 1977, quando me casei. No Gutierrez, tínhamos um campinho de futebol e eu e meus amigos fizemos um time, que nunca perdeu uma partida. O Cruzeiro era octacampeão de futsal e empatamos por 3 a 3 lá no Barro Preto. O time era bom mesmo! Quando casei, me mudei para o Centro e depois de quatro anos, quando nasceu meu filho caçula, fomos para o São Bento, onde estou há 32 anos.

Você era bom de bola? Modéstia à parte, eu era muito bom de bola. Jogava no meio de campo, participava o tempo todo do jogo, mas já atuei de lateral e, se precisava jogar na zaga, eu também topava. Uma vez, jogando de beque no Colégio Loyola, subi na bola numa altura tão grande que virei uma cambalhota no ar, bati no chão e tive uma fratura exposta no braço direito. Inclusi-

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ve, recebi um convite do [ex-diretor celeste] Edmundo Lambertucci para treinar no futsal do Cruzeiro, que era fortíssimo, mas foi nessa época da fratura. Fiquei dois meses com o braço na tipoia. Eu tinha o desejo de ser jogador profissional, mas não dei essa sorte. Conto uma história, mas meu filho não acredita: eu chutava de letra muito bem de longe, e, certa vez, um pouco pra frente do meio de campo, fiz um gol de letra. No futsal, fiz vários gols de letra.

Como o direito entrou na sua vida? Por influência do meu pai, que foi advogado, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ele teve uma história de vida muito bonita. Aos sete anos, perdeu o pai, era pobre, negro, sofria todos os preconceitos. Tempos depois, virou arrimo de família, começou a trabalhar em construção de estrada de ferro, criou a mãe e os irmãos, estudou, fez vestibular para direito e se tornou advogado. A sede da OAB [em Belo Horizonte] foi ele quem construiu. Não havia dinheiro e ele deu a nossa casa, lá no Gutierrez, em hipoteca para garantir que a obra fosse feita. Isso foi em 1977. Dele, além de filho, costumo dizer que fui motorista, datilógrafo, estagiário, aluno, sócio de escritório. No direito, devo tudo a ele. E hoje, meus três filhos também são advogados.

Algum caso em especial lhe marcou como advogado? São muitos. Teve um até que eu fiz uma defesa oral para o Cruzeiro, em Brasília, e nós ganhamos a causa, que era a questão do Evanilson e do Fábio Júnior. [O América e o Democrata-

-GV reivindicaram participação nas vendas dos jogadores. Os clubes alegavam que eram os formadores dos atletas]. O Cruzeiro já havia perdido em Minas Gerais nas duas instâncias e, na época, o Alvimar [Perrella] perguntou se eu podia atuar no caso. Fui para Brasília e resolvemos em 15 minutos de conversa. Tínhamos a Lei Zico e a Lei Pelé. Na época da venda dos jogadores, a lei que vigorava era a Lei Zico e não havia essa previsão [de repassar 30% da venda ao clube formador do atleta], pois a Lei Pelé veio depois. Não se pode aplicar a lei ao passado. Dois dias depois, a decisão foi totalmente favorável ao Cruzeiro. Tem outro caso muito interessante. Um jornalista de Itajubá [a 445 km de Belo Horizonte] tinha uma atuação crítica contra os desmandos da polícia local. Com isso, alguns policiais teriam armado uma “casa de caboclo” e plantado droga na casa dele. Ele foi processado e condenado como traficante. Fui contratado para fazer a defesa dele aqui, em Belo Horizonte, e ele veio com o filho, que tinha um problema auditivo. Fiz a defesa, ganhei e ele foi absolvido. Quando o julgamento terminou, ele comunicou a vitória ao filho com gestos. O menino saiu correndo, pulou em mim e me deu aquele abraço. Foi uma satisfação muito grande.

Não sei se você sabe disso, mas o Zezé Perrella já disse que você é o cruzeirense mais fanático que ele conhece. Sou fanático, mesmo. Fui ver o Cruzeiro jogar em Tóquio [pela decisão do Mundial Interclubes, em dezembro de 1997], eu e meu filho. O Cruzeiro foi vice-campeão do mundo. Eu falava com muito orgulho, somos


Fotos: Arquivo Pessoal

Sempre junto dos amigos e da família, Raimundinho é presença certa em jogos do Cruzeiro no Mineirão.

vice-campeões do mundo. Porque os outros agora chegaram e não conseguiram nem o vice. Quando me perguntavam “e se nascer atleticano na sua casa?”, eu respondia: “Mando investigar a paternidade, porque não é filho meu”. [risos] Para eu me casar, a mulher tinha que ter três condições:

ser cruzeirense, católica e não fumar. Minha mulher sabe que viajar para acompanhar o Cruzeiro é a minha válvula de escape.

E você organiza sua agenda de acordo com a tabela de jogos da equipe?

Se eu te mostrar a minha agenda, você vai encontrar tudo já programado. Já fui, além do Japão, para Argentina, Uruguai e Brasil afora. No interior de Minas vou a todos os jogos.

Como é o Raimundinho torcedor, supersticioso e cheio de manias?

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/////PÁGINAS AZUIS dele para colocar em um quadro e colocar na parede”. Depois, fui visitá-la e a camisa estava lá, em um quadro na parede.

Depois do tricampeonato brasileiro, o que você está esperando para este ano? Tudo de bom. O Cruzeiro vai disputar torneios, mas temos que ter a realidade de que não vai ganhar todos. Se ganhar, melhor. O time está mantido, a base é a mesma. A Libertadores é o objetivo, a gente quer isso. Libertadores tem que ter “maldade”, não pode dar mole. E essa campanha vou acompanhar também, mas tem alguns lugares que eu evito pela altitude. No Peru, pode ser que eu não vá por conta disso, mas as outras todas já estão marcadas na agenda.

O que o advogado e o jogador de futebol devem ter em comum para conseguirem êxito em suas profissões?

Manias todos nós temos. Por exemplo, no ano passado eu repetia sempre a mesma roupa, a mesma camisa. Deu certo. Faço essas coisas, mas sou muito consciente, não como algumas pessoas que ficam desequilibradas. Tenho três coisas que não deixo de fazer: ir à missa todos os dias, bater foto e torcer para o Cruzeiro. O Cruzeiro é tudo para mim. Sempre digo que sou contra a pessoa cruzeirense ser enterrado com a camisa. Tive um vizinho de prédio que era americano. 10 Revista do Cruzeiro · nº 123

Ele foi enterrado com a camisa. Não demorou muito, o América-MG caiu para a Segunda Divisão. Um amigo, que foi meu aluno, era um grande cruzeirense, infelizmente já faleceu. Eu estava longe, não pude ir ao enterro – ele morava em Carrancas, perto de Campo Belo. Liguei para a presidente da OAB de Campo Belo e perguntei se ela ia ao enterro. Ela disse que sim, então pedi um favor: “Não deixe enterrá-lo com a camisa do Cruzeiro de jeito nenhum! Fala com a mulher

Dedicação. Assim como o jogador tem que treinar, treinar e treinar, o advogado tem que estudar, estudar e estudar. Essa é a receita: quando mais estudarmos, mais teremos a consciência de que não sabemos nada. Costumo dizer que quando você chegar ao ápice da montanha, vai pensar que sabe tudo, mas é no ápice que você vê que o horizonte é infinito. Tem que estudar pra valer mesmo, e com o jogador é a mesma coisa, treinar e levar a profissão com seriedade.

Nessas suas muitas viagens acompanhando o time, tem alguma boa história de bastidor que você tenha vivido com um jogador ou dirigente do Cruzeiro? O Cruzeiro jogou em Salvador [pelo


Campeonato Brasileiro de 2008] e ganhou do Vitória por 2 a 0. O Marcelo Moreno foi expulso e o Adilson Batista recuou o time todo. Depois da partida, a delegação estava jantando no hotel. Cheguei na maior inocência e falei: “Pô, Adilson! Quer matar a gente do coração e colocar o time todo para jogar atrás?”. Ele começou a se explicar, aquela coisa toda. Depois, o Zezé [Perrella] me ligou e brincou: “É, Raimundinho, você deu uma dura no Adilson, né?”. [risos] O que aconteceu depois disso? O Adilson achou que eu era o homem que ficava “cornetando”, o espião. Tinha jogo que ele me ligava e ficava me dando satisfação, 40 minutos no telefone. Morri de rir disso.

Orgulhoso, o advogado exibe o Raposão de Ouro, homenagem que recebeu da diretoria cruzeirense

São muitos os craques que passaram pelo Cruzeiro. Fica difícil escolher apenas 11, mas vou lhe dar essa missão ingrata: escale o seu esquadrão celeste de todos os tempos. Complicado. Gosto muito do Fábio, Raul foi um grande goleiro, mas o Dida nos deu uma Libertadores, então ele ganha esse lugar. Na lateral-direita, temos o Nelinho, que fazia coisas fantásticas com a bola. Na lateral-esquerda, o Sorín, por tudo o que ele fez na história do Cruzeiro. Na zaga, o Perfumo, que foi um grande zagueiro, e o outro vou pensando aqui. No meio: Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão. Na ponta esquerda, Joãozinho, e na direita, Natal. Agora me falta um zagueiro... Darci Menezes foi um cara muito regular no Cruzeiro, mas não sei... Então vamos de Procópio! A minha seleção fica assim: Dida, Nelinho, Perfumo, Procópio e Sorín; Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão; na frente, Natal e Joãozinho.

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Fotos: Bruno Senna Maquiagem: Claudinha Goulart Colírio veste: Olympikus, SPR Licenciados e acervo pessoal Produção: Ana Flávia Nazaré e Bárbara Batista 12 Revista do Cruzeiro · nº 123


CamilaCampos Natural de Barbacena, no Sul de Minas Gerais, a bela morena Camila Campos é a Colírio Azul da edição 123 da Revista do Cruzeiro. Formada em educação física, a gata é personal trainer na capital mineira. A beldade conta que na região de sua cidade natal, onde morou até o final de 2013, é comum encontrar torcedores de times do Rio de Janeiro. “Com a minha família foi diferente, um tio até tentou nos puxar para o Botafogo-RJ. Mas não teve jeito, somos Cruzeiro”, diz, toda orgulhosa. Aos 25 anos, Camila diz que uma das melhores lembranças que tem do Maior de Minas é a conquista do bicampeonato da Libertadores, em 1997. “Era bem pequena ainda, tinha só oito anos, mas jamais vou esquecer a festa que fizemos na minha casa. Essa foi sem dúvida a conquista mais inesquecível.” A Colírio entrega quem é seu ídolo atual no plantel celeste. “Gosto muito do Dedé, acho uma pessoa bacana, humilde. Encontrei com ele na praia, em Cabo Frio, ano passado, e ele recebeu todo mundo, tirou fotos, foi muito atencioso. A partir de então, virei fã número um dele.” A gata conta ainda que nos momentos em que não está trabalhando ou treinando jiu-jitsu, esporte que pratica há quatro anos, está lendo romances. Linda, simpática e romântica, Camila revela que está solteiríssima, para a alegria dos marmanjos de plantão.

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/////ACONTECE NO CRUZEIRO Por Bárbara Batista

Noventa e três anos No dia 2 de janeiro o Maior de Minas comemorou mais um aniversário. Fundado em 1921 por um grupo de desportistas italianos que se reunia em Belo Horizonte, no Barro Preto, o Clube era originalmente conhecido por Societá Sportiva Palestra Itália, que posteriormente viria a ser mundialmente conhecido como Cruzeiro Esporte Clube.

Cruzeiro/divulgação

A galeria de troféus do Clube é uma das mais ricas do país. São dois títulos da Copa Libertadores (1976 e 1997), dois da Supercopa (1991 e 1992), um da Recopa (1999), um da Copa Ouro (1995) e um da Copa Master (1995). No âmbito nacional, o time azul foi três vezes campeão brasileiro (1966, 2003 e 2013) e, em quatro outras ocasiões, conquistou a Copa do Brasil (1993, 1996, 2000 e 2003). Jovem, porém experiente, a Raposa iniciou a temporada ainda saboreando a conquista do Tricampeonato Brasileiro de 2013 e com a expectativa de novos títulos. Thiago Soraggi

Justa homenagem Em 2013, Benecy Queiroz, supervisor de futebol do Cruzeiro, completou 44 anos trabalhando na Raposa. Por esse feito e, principalmente, pela cumplicidade ao Clube, o funcionário celeste recebeu uma placa durante a reunião do Conselho Deliberativo. O homenageado ficou bastante surpreso e emocionado. “Quero agradecer a todos pela oportunidade. Sinto-me realizado porque são mais de 40 anos de muito trabalho, mas também de confiança de todos que já dirigiram essa agremiação até o momento. O mérito não é só meu, é da equipe”, contou. Benecy Queiroz começou sua história no Cruzeiro como preparador físico. Ele chegou até a comandar a equipe de futebol profissional como técnico interino, vencendo algumas partidas.

Tricampeão

Cruzeiro/divulgação

Escrito pelo tecladista da banda Skank, Henrique Portugal, e pelo jornalista Bruno Mateus, o livro Tricampeão Brasileiro foi lançado em janeiro deste ano e relembra as conquistas dos Campeonatos Brasileiros de 1966, 2003 e 2013, trazendo textos inéditos e depoimentos de jogadores dessas três gerações vitoriosas que vestiram a camisa azul. A publicação é leitura indispensável a todos os torcedores celestes e aos amantes do futebol.

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De acordo com Henrique Portugal, “poder imortalizar a história do título de Campeão Brasileiro 2013 é muito interessante, uma vez que houve ainda a oportunidade de relembrar as equipes vitoriosas de 1966 e 2003”. O livro Tricampeão Brasileiro está disponível em todas as lojas da rede Maior de Minas e também nas livrarias.


Inovador

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Em mais uma inovadora ação do seu Departamento de Marketing e Comercial, o Cruzeiro apresentou um produto de vanguarda para presentear a maior torcida de Minas Gerais. Trata-se de um VideoAlbum em comemoração ao Tricampeonato Brasileiro, que está disponível gratuitamente no Facebook oficial do Maior de Minas (facebook.com/cruzeirooficial).

Mais três anos O Cruzeiro e a AmBev acertaram a renovação do contrato de patrocínio. O novo vínculo tem início em janeiro de 2014 e encerramento em julho de 2017. Apesar de não estampar marca na camisa do Cruzeiro, a AmBev é uma das parceiras mais antigas do Clube e está presente na vida da equipe desde o início da década de 1980. Além de manter a garantia de exclusividade no fornecimento de bebidas nas Sedes da Raposa, pelo acordo a AmBev vai expor a marca Brahma e Gatorade em diversas propriedades comerciais do Cruzeiro.

Cruzeiro/divulgação

A exemplo da reforma e ampliação da sala de musculação da Toca da Raposa II (foto), feita em parceria entre Cruzeiro e Ambev, de acordo com o diretor de marketing do Cruzeiro, Marcone Barbosa, “essa renovação garante investimento financeiro maior para o Clube e também o investimento em ações de infraestrutura, como realizado em 2012, na Sala de Imprensa, e em 2013, na reforma no vestiário, ambos na Toca da Raposa II”. Marcone afirma que “dentro desse novo contrato estão previstas outras melhorias já no começo de 2014”.

O VideoAlbum do Cruzeiro, o primeiro de um clube de futebol do mundo, conta com 30 vídeos inéditos gravados durante a disputa do Brasileiro de 2013, que serão liberados à medida que o torcedor completar as figurinhas digitais (videobits). Os participantes do VideoAlbum ainda poderão ganhar diversos prêmios, dentre eles camisas autografadas pelos atletas e produtos licenciados do Clube. Os Sócios do Futebol têm vários privilégios e vantagens no VideoAlbum, como a troca de Cruzeiros por videobits e promoções exclusivas. “O objetivo é marcar uma conquista muito importante do Cruzeiro, que foi o Campeonato Brasileiro de 2013, além de ter uma plataforma de interatividade e aproximação do Clube com o torcedor”, pontua o diretor de marketing do Cruzeiro, Marcone Barbosa.

É Carnaval Os associados do Maior de Minas curtiram, no segundo domingo de fevereiro, o Grito de Carnaval do Cruzeiro, evento que contou com o show do cantor e compositor baiano Alexandre Peixe e marcou o aquecimento da folia celeste. E os festejos não param por aí. As sedes sociais do Cruzeiro possuem programações com animação garantida durante o Carnaval e também em datas festivas o ano todo. Assim como aconteceu em 2013, os clubes possuem uma programação que promete ser ainda melhor em 2014. Baterias de escolas de samba e concursos de fantasias infantis são algumas das atrações já confirmadas. Em breve, o Cruzeiro disponibilizará mais informações.

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/////CRUZEIRO RADICAL

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Muito além da embaixadinha Praticantes do futebol freestyle precisam de muita dedicação e persistência para mandar bem na modalidade Fotos Bruno Senna

Mathaus Silva Coelho já nasceu ligado ao futebol. O ano era 1994, acontecia a Copa do Mundo nos Estados Unidos, e a homenagem ao lendário jogador alemão Lothar Matthäus foi registrada em cartório. “Meus pais sempre gostaram muito de esporte. A ideia [do nome] foi da minha mãe e meu pai gostou”, diz. Depois de tentar a sorte nas escolinhas do Cruzeiro quando era criança, Mathaus descobriu, em 2010, seu caminho no futebol: o freestyle, modalidade em que o praticante realiza manobras com a bola e a equilibra em várias partes do corpo. Ao assistir vídeos na internet de praticantes do freestyle, ele não pensou duas vezes. “Achei muito interessante. Também quis fazer o que os caras estavam fazendo.”

Hoje, o estudante de educação física treina uma hora por dia e, aos fins de semana, se reúne com amigos e chega a praticar a modalidade, também chamada de street style, durante três horas. Quem pensa que o esporte é moleza e basta ter habilidade, está enganado. “Tem que ter foco, persistência e paciência para esperar a evolução”, recomenda. O cruzeirense participou de duas edições do Campeonato Brasileiro de Futebol Freestyle – em 2011, quando ficou no top 20 da competição, e em 2012. Este ano, ele já se prepara para a quarta edição do torneio. “Ainda não tem data definida, mas já estou treinando bastante”, garante Mathaus.

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///// /////MEU JOGO INESQUECÍVEL

NATAL E O FOGUETE CARIJÓ

Por Luiz Fernando Gomes* Ilustrações Carina Ribeiro Foi no velho e acanhado Sales de Oliveira, campo do Tupi, em Juiz de Fora, que tive meus primeiros contatos com o futebol. Era um moleque dos anos 1960. Almoçar e seguir com meu pai e meu irmão para o jogo de domingo a tarde era um programa imperdível. O Tupi jogava o Campeonato Mineiro. Recordo-me de confrontos que certamente não primavam pela técnica apurada, o que pouco importava para quem queria só torcer. Valeriodoce, Villa Nova, Democrata, Nacional, Atlético, América faziam parte do meu cotidiano boleiro. Mas nada se comparava a expectativa por um domingo – às vezes dois por ano – em que o Cruzeiro ia a Juiz de Fora. Meu pai era torcedor fiel do Tupi. Juiz-forano de nascimento, alimentava e passava para os filhos a rivalidade com Belo Horizonte. Odiava ser chamado de “carioca do brejo”, pela proximidade da cidade com o Rio. Mas ante aquele Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes, Zé Carlos (também juiz-forano, aliás), Natal, Piazza e cia., não havia rivalidade que resistisse. Claro que o velho Álvaro queria que o galo carijó vencesse, eu também. Mas o que valia era ver aquele timaço em ação.

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Um jogo foi especial. Eu devia ter uns nove anos. Naquele tempo, a gente ficava em pé, encostado no alambrado. Com uma boa lábia dava para convencer o segurança e passar para o lado de dentro. Com a condição de ficar quietinho, sentado junto à cerca. Foi o que aconteceu. Eu estava ali, com meu irmão, bem perto da bandeirinha. O louro Natal corria por ali, na ponta-direita, a dois ou três metros de mim. Um sonho. O jogo era duro. O estádio lotado, a torcida do carijó pressionando. Escanteio para o Cruzeiro. Natal se preparou para cobrar. Vaiado, tinha de desviar-se de todo tipo de objeto. Entre pilhas e copos de água, alguém lançou um rojão. Que estourou entre Natal e eu. O ponta caiu, se contorceu, como se tivesse sido atingido. Fez a cena que tinha de fazer para valorizar aquela

situação absurda. O jogo foi interrompido, a polícia chamada, mas nunca se soube quem disparou o tal artefato. Só quem pagou o pato fomos eu e meu irmão, postos para fora do campo. E nem consegui o autógrafo do Tostão que ia tentar no intervalo. Nem me lembro do placar. Sei que o resultado foi o óbvio: deu Cruzeiro. Sei também que aqueles domingos em que o estádio ficava azul eram muito mais do que simples domingos de futebol. Eram domingos de arte que me fizeram entender a diferença entre o futebol normal e o futebol dos deuses. Que me mostraram que ganhar era importante, mas que jogar bonito, ser artista da bola era muito mais gostoso. Coisa que nunca sai da memória – mesmo que o show seja do time rival. *Luiz Fernando Gomes – Editor do Jornal Lance

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/////ESPECIAL LIBERTADORES

Era uma vez

na América Dirceu Lopes relembra a primeira participação do Cruzeiro na Copa Libertadores. Em 1967, o time da Toca começou a colocar seu nome na história da competição mais importante do continente Por Bruno Mateus

Mil novecentos e sessenta e sete foi um ano pra lá de agitado no mundo inteiro. Efervescência política, revoluções no comportamento e nas artes. Os Beatles lançaram seu mítico álbum Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, Che Guevara foi assassinado nas serras da Bolívia, o movimento hippie espalhava a mensagem de paz e amor e a Guerra do Vietnã continuava contabilizando vítimas para todos os envolvidos. No Brasil, os festivais internacionais da canção, a Tropicália e a tensa atmosfera de repressão e medo eram o cenário de um país que vivia sob o comando de uma ditadura militar.

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Mil novecentos e sessenta e sete também marcou a história do Cruzeiro, pois foi naquele ano que o Clube disputou pela primeira vez a Copa Libertadores da América, o mais importante torneio do continente. E logo como cartão de apresentação, o time celeste fez bonito, chegou a semifinal e mostrou que a fama de time copeiro não é à toa.

Aconteceu em 1967... Credenciado pela vitória histórica diante do Santos na Taça Brasil de 1966, o Cruzeiro embarcou para sua primeira competição internacional oficial. Dirceu Lopes foi um dos jogadores que defenderam a camisa estrelada na estreia do Cruzeiro na competição. Disputada pelos campeões e vices de 10 países (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela), a Copa Libertadores, no entanto, não contou com 20 times, já que o Santos, vice-campeão brasileiro de 1966, optou por não jogar o torneio.

Na fase de grupos, o time celeste teve a companhia de quatro times: os venezuelanos Deportivo Italia e Deportivo Galicia e os peruanos Sport Boys e Universitario. Com partidas de ida e volta contra todos os adversários, o Cruzeiro foi soberano: foram sete vitórias e um empate, 22 gols marcados e apenas seis sofridos, o que nos valeu a melhor defesa da competição na primeira fase. Na etapa seguinte, os dois melhores de cada grupo foram divididos em duas chaves de três equipes, e o Peñarol, campeão da edição de 1966, entrou na disputa. O time uruguaio então se juntou ao conterrâneo Nacional e ao Cruzeiro em um dos dois grupos e a semifinal estava armada. Dirceu Lopes se lembra bem dos confrontos contra os hermanos No Mineirão, duas vitórias apertadas – 2 a 1 diante do Nacional e 1 a 0 sobre o Peñarol. Na terra dos adversários, a história foi diferente, como Dirceu se recorda: “Lembro os dois jogos que

perdemos no Uruguai. Fomos roubados lá dentro pela arbitragem. Esses dois jogos são inesquecíveis também pela condição do gramado, era um lamaçal. Jogar no Uruguai era complicado”. Formado pelos mesmos jovens craques que pararam o timaço de Pelé um ano antes, na Libertadores de 1967 o Cruzeiro, além de vencer os adversários dento de campo, tinha de superar os desafios impostos pela catimba, para dizer o mínimo, dos nossos hermanos. Os comandados de Aírton Moreira foram guerreiros e enfrentaram tudo e todos de peito aberto. “Naquela época não tinha a tecnologia que temos hoje, não tinha transmissão pela TV. Os times tinham muita maldade e nós, muito jovens, só nos preocupávamos em jogar futebol. Os argentinos e uruguaios jogavam o antifutebol. Cusparada, soco na cara, era impressionante”, relembra Dirceu Lopes, que marcou quatro gols em 10 partidas. “E ainda não tinha exame antidoping”, completa.

Extremamente habilidoso, quando Dirceu Lopes não era caçado em campo, o camisa 10 deixava os adversários caídos no chão

Fotos: Cruzeiro/Arquivo

Fevereiro/março 2014

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menta o ex-camisa 10 cruzeirense.

De roupa nova em busca do tri

Foi com a conquista da Taça Brasil de 1966 que o Cruzeiro garantiu presença em sua primeira Copa Libertadores

A campanha da Raposa na Copa Libertadores de 1967 foi digna de uma equipe acostumada a jogar competições internacionais. Embora fosse sua primeira participação, o Cruzeiro avançou até a semifinal do torneio e encerrou a disputa com números bastante respeitáveis: 12 jogos, nove vitórias, um empate e duas derrotas; 27 gols a favor, 12 contra. Gols, vitórias, sangue e suor que escreveram os primeiros capítulos da história de um time que cruzou as montanhas de Minas para ser conhecido e respeitado em todo o continente como La Bestia Negra.

Quarenta e sete anos depois Em 2014, a Raposa voltou à disputa continental de olho no tricampeonato. O ídolo celeste acredita que a equipe comandada por Marcelo Oliveira tem totais condições de repetir os títulos de 1976 e 1997. “O Cruzeiro tem que repetir o futebol que jogou no ano passado, que até lembrava em 28 Revista do Cruzeiro · nº 123

algumas coisas o time de 1966. O caminho é esse, jogar o futebol do ano passado”, afirma Dirceu Lopes, um dos maiores jogadores da gloriosa história do Cruzeiro Esporte Clube. Quarenta e sete anos depois de pisar pela primeira vez em campos sul-americanos, o ex-jogador acompanhou incrédulo a derrota na estreia celeste da competição. Não pelo resultado, que é coisa do esporte. Mas o que espantou um dos maiores craques da história da Raposa foram os atos de racismo contra o jogador Tinga. Toda vez que o meia tocava na bola, a torcida, numa demonstração reprovável de intolerância e preconceito, imitava sons de macaco. “Esse fato me deixou muito chateado. Tive o prazer de conhecer o Tinga, é um cara diferenciado. Todas as vezes em que vou à Toca, ele me dá muita atenção, me trata bem. Fiquei revoltado com o que aconteceu. É estarrecedor ver isso na época em que estamos”, la-

O Cruzeiro lançou, no início de fevereiro, a camisa que será usada exclusivamente na Copa Libertadores deste ano. Em mais uma ação inovadora do departamento de marketing do Clube, os guerreiros celestes já mostram espírito de luta necessário para conquistar o título e chegaram à cerimônia, realizada na Toca da Raposa II, em um caminhão do exército. “A apresentação do uniforme para a Libertadores é uma alusão ao fato de que nossos jogadores são valentes, guerreiros e entram em campo para ganhar todas as partidas”, comentou o presidente celeste, Gilvan de Pinho Tavares. O novo uniforme apresenta detalhes que remetem à camisa da campanha de 1976, quando a Raposa sagrou-se campeã pela primeira vez. O mandatário celeste espera que o Cruzeiro comemore o título da Libertadores pela terceira vez. “O novo uniforme lembra, e muito, o que foi utilizado pelos nossos guerreiros campeões em 1976. Sei que nossos atletas vão honrar essa camisa para que possamos conquistar de novo o título, que é um sonho da torcida doAlves/Light Cruzeiro”, Washington Press Washington Alves/Light Press destacou.


#WINFROMWITHIN


/////REFORÇOS 2014

QUALIDADE A SER 30 Revista do Cruzeiro · nº 123


VIÇO DA RAPOSA FEVEREIRO/MARÇO 2014 31


Rodrigo Souza, Marcelo Moreno, Marlone e Miguel Samudio chegam ao Cruzeiro para reforçar o elenco tricampeão brasileiro. Com a camisa estrelada, eles agora querem fazer parte da história vitoriosa do Clube Por Bruno Mateus | Fotos Bruno Senna

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No futebol, a receita é conhecida: para brigar por títulos, é necessário ter um elenco forte e qualificado, pensando em um grupo inteiro capaz de fazer parte dos 11 titulares. No Cruzeiro de 2013, a máxima foi seguida à risca e o resultado não poderia ter sido mais satisfatório. O tricampeonato brasileiro coroou o excelente trabalho feito pela diretoria. Para a atual temporada, o planejamento é o mesmo. “Fizemos uma grande contratação, que foi a manutenção do elenco. Ninguém ganha um campeonato brasileiro da maneira como ganhamos se não tiver um elenco forte. Entendemos que o Cruzeiro tem um elenco de qualidade.

Queremos só melhorar o que entendemos ser bom”, afirma o diretor de futebol celeste, Alexandre Mattos. E foi pensando assim que, além de manter a base campeã nacional, o Cruzeiro buscou no mercado reforços pontuais. O lateral-esquerdo Miguel Samudio, o volante Rodrigo Souza, o meia Marlone e o centroavante Marcelo Moreno vestirão a camisa do clube mais poderoso de Minas Gerais e querem ajudar a Raposa a escrever mais e mais páginas imortais na sua história.

Marlone - 21 anos Armador

Miguel Samudio - 27 anos Lateral-esquerdo

Rodrigo Souza - 26 anos Volante

Marcelo Moreno - 26 anos Atacante

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Experiência e raça paraguaia 27, estreou na primeira divisão do Campeonato Paraguaio. Jogando pelo 30 de Agosto, clube da cidade de Capiatá, onde vivia com os avós maternos, ele surpreendeu a todos, e a ele mesmo, com um gol logo em seu début. De lá pra cá, o jogador passou por Sol de America e Libertad, ambos do Paraguai.

O sorriso do paraguaio Miguel Angel Ramón Samudio mostra o quanto ele está orgulhoso por vestir a camisa do Cruzeiro. Camisa essa que defenderá, se for preciso, até as últimas consequências, como ele disse em sua apresentação na Toca da Raposa II. “Sinto-me muito feliz por estar em um clube tão grande. Sempre dizia que quando saísse do Libertad tinha que ser para um clube melhor. Quero primeiramente lutar por um lugar na equipe, trabalhar dia a dia para ser titular. Tratarei cada treinamento como se fosse o último. Esta camisa é grande e tem que ser defendida até a morte.” A trajetória de Samudio no futebol começou cedo. Com apenas 15 anos, o lateral-esquerdo, atualmente com 34 Revista do Cruzeiro · nº 123

Samudio disputará sua sexta Copa Libertadores. Experiência que ele pretende usar em campo para ajudar a Raposa e realizar o sonho dele e de oito milhões de cruzeirenses: trazer de novo a taça para a Toca. Para tanto, ele ressalta, é necessário que o time tenha personalidade e foco na disputa. “Tem que saber o que quer. A Libertadores não te dá tempo de trabalhar as partidas, não é como o Campeonato Brasileiro. É importante não perder em casa. Jogando mal, péssimo, vencer por meio a zero, não importa, tem que ganhar. E quando vier a derrota, você tem que analisá-la.” Do Paraguai, além da admiração pelo futebol brasileiro, Samudio traz o costume de tomar tereré, um mate típico de seu país consumido com água gelada. “Quem toma comigo é o Rodrigo Souza, mas não tanto como Marcelo Moreno. Ele sempre me fala: ‘Qué pasa con el tereré?’. Tomamos quase todos os dias.”

Se dentro de campo o destemido lateral fará de tudo para honrar a camisa do Maior de Minas, fora das quatro linhas existe apenas um contratempo, mas nada que interfira em suas atuações. É que Samudio, assim como canta o compositor cearense Belchior em uma de suas músicas, não se sente confortável quando está “voando”. “Tenho medo de avião, sempre tive. Sofro quando estou lá em cima”, diz o jogador, que, alheio a esse detalhe, pretende ir longe com la poderosa camiseta do Cruzeiro.

Gualter Naves / Light Press


Destino escrito nas estrelas não deu certo e eles não puderam entrar. Agora, oito anos depois, o jogador chega como um dos reforços para a temporada de 2014. “Quando veio a proposta concreta, confesso que não acreditei. O atual campeão brasileiro interessado em mim e querendo me contratar! Um dia, bati na porta e não entrei e hoje visto essa camisa. Agora a ficha está caindo”, revela o meia.

“Eu estava no portão querendo ver um treino, os jogadores chegando de carro. Não pude entrar. Estar hoje no Cruzeiro é um sonho realizado e um orgulho muito grande não só para mim, mas para a minha família e amigos.” Para contar a história de Marlone, é preciso voltar a janeiro de 2006. Ele tinha 13 anos e saiu de Augustinópolis, no extremo norte de Tocantins, com destino a Belo Horizonte para uma semana de testes na Toquinha, centro de treinamentos da base celeste. Marlone não foi aprovado, mas sugeriu ao pai que eles fossem à Toca da Raposa II acompanhar um treino dos profissionais. Era seu sonho. Também

Apesar das dificuldades, Marlone não desistiu de seu sonho. Dois meses depois do período de testes na capital mineira, voltou para sua cidade, mas não ficou muito tempo por lá. Ele deixou a família em casa, seguiu para o Rio e foi trilhar seu caminho no futebol. No clube carioca, foi aprovado, ingressou nas categorias de base, se profissionalizou e por lá ficou até dezembro do ano passado. Ele relembra toda essa caminhada: “Sair de casa tão jovem foi difícil, mas também amadureci e soube administrar. Senti muito esse lado da família, dos amigos, mas quando você quer traçar alguma coisa na sua vida e lançar uma meta, você tem que abrir mão de muitas coisas para conseguir essa vitória”.

Aos 21 anos, Marlone vê a grandeza do Cruzeiro como forte aliada para que ele possa evoluir seu futebol. “Acho que foi fundamental na minha escolha a estrutura do Clube, os profissionais que estão aqui e a torcida. Me vejo ainda um atleta em formação, e a cada jogo, a cada treino, vou melhorar”, diz o jogador, que na Raposa encontrará um conhecido dos tempos de Vasco: o treinador Marcelo Oliveira. Quando o comandante cruzeirense chegou ao Vasco, em setembro de 2012, Marlone estava no elenco profissional e ganhou de Marcelo uma atenção especial. “Sou muito grato a ele e à comissão técnica por terem me olhado com carinho. O Marcelo me ensinou coisas que levo até hoje. Espero que essa nova história no Cruzeiro seja com títulos, boas atuações e alegrias ao torcedor.”

Washington Alves / Light Press

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Bom dia, Vietnã os nove meses em que ficou por lá, o atleta passou por alguns apertos. Ele teve de se adaptar, por exemplo, ao forte calor, ao fuso-horário (diferença de 10 horas em relação ao horário de Brasília) e à gastronomia, com carne de cachorro e bastante pimenta no cardápio.

Rodrigo Souza sempre quis ser jogador de futebol. Isso vem de família, como ele mesmo conta. O avô costumava ser o goleiro das peladas, e o pai teve a chance de ser profissional, mas não seguiu carreira. Aliás, o avô de Rodrigo era mineiro e cruzeirense, mas não chegou a ver o neto vestindo o manto azul estrelado. “Infelizmente, ele faleceu no fim do ano passado. Ele sempre dizia que queria me ver com essa camisa”, relembra. Se o futebol está no sangue da família, foi por meio do esporte que o volante do Cruzeiro desembarcou em um país marcado pelo horror da guerra, o Vietnã. Em outubro de 2009, o jogador disputou um torneio em terras vietnamitas pelo Duque de Caxias, clube pelo qual atuava na época. Campeão e destaque da competição, Rodrigo foi convidado a se juntar ao elenco do XSTK Can Tho, da cidade de Can Tho. Durante 36 Revista do Cruzeiro · nº 123

A saudade da família também foi um grande obstáculo. O contato era feito por Skype todos os dias. “Quando você está longe assim, até do cachorro você sente saudades. Às vezes, eu ligava para casa e pedia para minha mãe colocar o telefone perto do cachorro para ele latir. Foi um pouco sofrido, mas consegui me adaptar”, diz Rodrigo, que atuou em 2013 pelo Boa Esporte, de Varginha. Ele jura que não teve nenhum contato com o personagem mais famoso da cidade mineira: “Não cheguei a conhecer o ET. [risos] Alguns dizem que [a história é real] sim, outros dizem que não. Pelo menos Varginha ficou conhecida mundialmente. É uma cidade boa, gostei muito de lá”. Rodrigo Souza chega ao Cruzeiro e já é “alvo” do ótimo clima vivido pelos jogadores na Toca da Raposa II. Pela semelhança com o lutador de MMA, o volante é chamado de Jon Jones pelos companheiros. “Já pegou, né?

Não foi nem o Dedé que colocou, foi o Tinga, mas o Dedé é quem ‘põe pilha’. É um apelido bom, dá até para impor respeito”, diverte-se. Como atuou em Minas Gerais no ano passado, Rodrigo acompanhou de perto e conhece bem a força da maior torcida do estado. “Vi a torcida sempre empurrando, cantando, dentro ou fora de casa. Isso motiva muito o jogador.” A adaptação a Belo Horizonte tem sido tranquila. Ele gosta da cidade e, se o assunto é gastronomia, o volante já sabe o que não pode faltar no seu cardápio: “Um prato que conheci aqui foi a tal da galinhada (prato típico mineiro composto por arroz, pedaços de frango e açafrão). Essa eu gostei!”, diz. Se é assim, a Nação Azul espera que Rodrigo Souza coma bastante galinhada por um bom tempo.

Washington Alves / Light Press


O bom filho à casa retorna E o matador celeste, em sua primeira partida como titular na temporada, já mostrou que não está para brincadeira. Na vitória diante do Villa Nova, pelo Campeonato Mineiro, Moreno, de peixinho, fez o terceiro gol da Raposa e chorou de alegria. “Fui abençoado com o gol e pude retribuir o carinho que o torcedor me deu desde que cheguei. Voltar para a minha casa e o torcedor me receber assim é muito emocionante e com certeza essas lágrimas são merecidas. Espero que possa fazer muitos outros gols ainda.”

Depois de quase seis anos longe da Toca da Raposa, o atacante Marcelo Moreno está feliz da vida por estar de volta ao Cruzeiro, clube pelo qual o boliviano jogou entre 2007 e 2008. No período, foram 36 jogos e 21 gols, além da artilharia da Copa Libertadores de 2008. “Fiz um grande trabalho, e o torcedor reconhece isso. Essa confiança é fundamental. Como sempre falei, considero aqui a minha casa pelos momentos que passei e pela recepção que tive desde a primeira vez. Estou muito motivado para fazer um grande ano, temos competições importantes pela frente”, projeta o jogador. O atacante foi titular da seleção boliviana e marcou três gols nas eliminatórias para a Copa 2014, mas isso não foi suficiente para classificar a equipe para o torneio no Brasil.

O jogador conta com a confiança não somente da maior torcida de Minas. O diretor de futebol da Raposa, Alexandre Mattos, rasga elogios ao estilo de jogo do atacante e ressalta que tê-lo no elenco cinco estrelas será fundamental para o sucesso do Cruzeiro nesta temporada. “Ele é um atleta de vibração, de força, de bola aérea. São características que podem ser úteis na Libertadores, por exemplo. Moreno tem experiência na competição, tem identificação com a torcida e com o torneio.”

baiana, ingressou nas categorias de base do Vitória. Ele não gosta muito de lembrar as dificuldades pelas quais passou na Bolívia. Falta de dinheiro para ir aos treinos, entre outros obstáculos, foram superados. Hoje, ele agradece o apoio da família e se orgulha de suas conquistas. “Sofri bastante para ser jogador, saí de casa cedo com essa responsabilidade. Fico muito orgulhoso pelo que conquistei, sei que foi difícil e pretendo conquistar muito mais.” No Clube e na cidade onde se sente em casa, Moreno já faz planos ambiciosos. Embora tenha apenas 26 anos, o atacante celeste mira o futuro, traça um horizonte próspero e só pensa em vestir a camisa azul estrelada por muito tempo. “Quero fazer um grande ano para poder renovar o contrato. E depois fico aqui para terminar a carreira. Mais cinco anos aqui ‘tá bom demais’”, diz, como um bom mineiro.

Nascido em Santa Cruz de la Sierra, Marcelo Moreno deixou a cidade e a família aos 15 anos com destino a Salvador. Na capital Washington Alves / Light Press FEVEREIRO/MARÇO 2014 37


/////CRUZEIRO NAS COPAS

Honrando as cinco estrelas em 1970 e 1974, Piazza foi o primeiro cruzeirense a vencer uma Copa pela Seleção Brasileira, ao lado de Tostão Por Bruno Mateus/Foto Bruno Senna Um dos maiores jogadores da história do Cruzeiro, Wilson Piazza não só honrou o manto azul estrelado e ganhou títulos importantes pela Raposa, como também desfilou seu futebol elegante com a camisa da Seleção Brasileira. Em 1970, no Mundial do México, o volante fez parte daquele time que é apontado como um dos melhores de todos os tempos. Ao lado de Pelé, 38 Revista do Cruzeiro · nº 123

Tostão, Rivellino, Jairzinho e Carlos Alberto (só para citar alguns craques), garantiu a taça e o tri do Brasil nas Copas. Detalhe: Piazza foi deslocado do meio-campo, sua posição original, e atuou como quarto zagueiro, mas mostrou a categoria de sempre. Em 1974, na Alemanha, o título não veio, mas Piazza, capitão do sele-

cionado nas três primeiras partidas do torneio, trouxe experiências e aprendizado. À Revista do Cruzeiro, o eterno capitão cruzeirense conta histórias dos bastidores da Seleção, revela os momentos marcantes das duas Copas e fala como Felipão e seus comandados podem fazer bonito no Mundial e conquistar o hexacampeonato. Ele inaugura a série Cruzeiro


nas Copas, que irá trazer entrevistas com os craques cruzeirenses que tiveram a primazia de levantar a taça mais importante do planeta.

Como você recebeu a notícia da convocação para disputar a Copa de 1970? Nas Eliminatórias, o João Saldanha me colocou de capitão. Com ele, em princípio, eu seria capitão e titular do meio de campo. Com a mudança de treinador, o Zagallo fez a opção [de capitão] pelo Carlos Alberto e fui jogar de quarto zagueiro. A convocação para a Copa de 1970 foi um processo natural, não teve aquela surpresa toda. A minha primeira convocação foi em 1967.

Na campanha daquele Mundial, quais jogos foram mais marcantes?

Confesso que me senti campeão com antecedência. Não porque vestimos a máscara, por convencimento ou por diminuir o adversário, porque o futebol prega muitas peças.

“Em 1970, quando passamos pelo Uruguai, me veio aquele sentimento: não vai ser a Itália que vai segurar a gente. Não disse isso nem para o Tostão, que era meu companheiro de quarto. Confesso que me senti campeão com antecedência.”

Foram as circunstâncias que nos deixaram otimistas. Quando passamos pelo Uruguai, me veio aquele sentimento: não vai ser a Itália que vai segurar a gente. Não disse isso nem para o Tostão, que era meu companheiro de quarto. Fui para o jogo muito tranquilo e fiquei até preocupado disso prejudicar a Seleção. Era como se eu estivesse jogando uma pelada, embora soubesse da responsabilidade e da pressão daquele momento.

Uma coisa que sempre chama a atenção nas imagens da decisão é a multidão invadindo o gramado depois do apito final do juiz e praticamente arrancando camisas, shorts e meiões dos jogadores da Seleção. Passamos apertado, quase existiria o nudismo em pleno [estádio] Azteca. [risos] Tem uma foto do Tostão em que ele até está segurando o calção, mas tinha uma sunga por baixo. Arquivo do Cruzeiro

A estreia [contra a Tchecoslováquia, vitória do Brasil por 4 a 1] é sempre tensa, uma interrogação. Começamos perdendo de 1 a 0, mas estávamos muito bem preparados, crescemos no segundo tempo e tivemos forças para reagir. É aquela coisa, você tem que começar ganhando. Tivemos um jogo contra a Inglaterra [pela primeira fase da competição], que era a atual campeã e tinha uma excelente seleção, grandes valores individuais. Ter vencido a Inglaterra não foi só ganhar da equipe campeã, mas nos deu a condição de continuar em Guadalajara, com ótimas condições. Estávamos muito bem adaptados, não tivemos que nos deslocar de cidade até a final. E foi lá que jogamos a partida contra o Uruguai [pela semifinal do torneio], cercada por toda aquela história do Maracanã, em 1950. A própria imprensa brasileira nos questionava se não tínhamos medo de que o estádio Jalisco acabasse se “transformando” no Maracanã. E olha que começamos perdendo. Foi um jogo que mexeu muito pela rivalidade e por essas particularidades.

Esse jogo teve um peso ainda maior do que a decisão contra a Itália?

Com a camisa estrelada, foram mais de 500 jogos e títulos importantes, como a Taça Brasil e a Copa Libertadores FEVEREIRO/MARÇO 2014 39


/////CRUZEIRO NAS COPAS Arquivo Pessoal

Tricampeão em 1970 e capitão na Copa de 1974 (na foto, jogo contra o Iugoslávia), Piazza defendeu as cores da Seleção com raça e categoria

Uma coisa que me toca muito emocionalmente, e às vezes me pego pensando, é esse carinho e essa sintonia da Seleção com o torcedor mexicano. Eles nos deram uma demonstração da beleza do esporte, no sentido da confraternização. Acho que nem se estivéssemos dentro do Brasil nos sentiríamos tão à vontade como nos sentimos lá. Quando terminou o jogo, passou muita coisa na minha cabeça, me lembrei da noiva, dos pais, dos amigos, mas o que mais me encantou, e isso fica vivo até hoje, foi ver o mexicano vibrando com aquele momento como se fosse deles, da seleção deles. Isso mostrou a beleza ímpar que é o esporte. Foi um momento muito marcante para mim, me sinto eternamente grato ao torcedor mexicano.

Depois do Tri em 1970 com uma campanha fantástica, vocês foram eliminados nas quartas de final na Copa seguinte. Qual foi o sentimento, frustração, aprendizado? Tem hora que você não está preparado para vencer. Em 1970, ganhamos porque estávamos preparados. Em 1974, foi um momento diferente. Naquela Copa, a Holanda teria que ser a campeã, com aquela inovação tática do carrossel e aquele time ex40 Revista do Cruzeiro · nº 123

traordinário, ou a Alemanha, anfitriã e uma seleção poderosa, que acabou conquistando o título. Em 1974, não fomos com o mesmo sentimento, a mesma harmonia, a mesma sintonia de 1970. Tínhamos muita insegurança, não sabíamos se íamos jogar ou não. Tem uma passagem interessante que mostra como estava o ambiente. Se o jogador estava na dúvida se ia jogar ou não, era só fazer o seguinte: “lotar” o prato de comida e passar em frente à mesa da comissão técnica. Se alguém falasse, “Ô, garoto, pega leve aí!”, era porque estava no esquema para jogar. [risos] Quando você tem uma coisa dessas, é sinal de que não está tudo bem.

Em 1974, a Seleção Brasileira foi eliminada pela Holanda, aquele time revolucionário do técnico Rinus Michels e do craque Johan Cruijff. Como foi enfrentar a Laranja Mecânica, o Carrossel Holandês? Eles eram fantásticos. Fiquei na reserva naquele jogo. Do banco, observei bem o time deles. Eles não tinham só os valores individuais, mas também consciência coletiva, por isso a coisa funcionava. Outra coisa: quando pegávamos a bola, de repente tinham três jogadores em cima, parecia que

o time deles tinha 30 caras. Por esses caprichos do futebol, a Holanda não foi campeã.

O que a Seleção Brasileira deve ter para conquistar o título este ano e não frustrar sua torcida? Jogar o futebol que é a nossa característica, não podemos perder aquilo que sempre foi o forte do futebol brasileiro, que é do meio pra frente. Mas não pode ser desordenado, taticamente perdido. Os jogadores têm de estar bem fisicamente, ter pensamento vencedor, saber lidar com a pressão e espírito de grupo harmonizado. Você não ganha uma Copa com os 11 titulares, mas com o grupo. Como o Saldanha falava, “o regulamento só me permite colocar 11, mas tenho 22 feras.” A Seleção vai ter que jogar convencendo a torcida, a exemplo do que fez na Copa das Confederações, mas na Copa do Mundo será outra história. Copa do Mundo é uma competição que num piscar de olhos você perde, e também num piscar de olhos você ganha. Todos os jogos são especiais, mas tem aquele que você vibra, sente mais pela rivalidade ou pela circunstância, pela história da competição.


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///// CAPA

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TINGA, um brasileiro

O triste episódio de racismo em Huancayo, no Peru, revela a nobreza e o caráter de um dos jogadores mais incontroversos do futebol nacional Por Jihan Kazzaz / Fotos Bruno Senna

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///// CAPA Os huancas são um povo nativo da selva amazônica que vive na região central do Peru. Fazem parte do grupo étnico Quechua, termo coletivo usado para denominar indígenas que vivem na região em torno do Vale do Mantaro, centro do país. Durante centenas de anos, os huancas sofreram com a dominação dos conquistadores, primeiro na formação do Império Inca, depois pelo espanhol Francisco Pizarro e, finalmente, com a guerra civil peruana, na segunda metade do século XX, tendo sido vítimas de constante perseguição étnica. Dentre os cerca de 400 mil habitantes da cidade de Huancayo, quarta maior do Peru, pelo menos a metade tem origem huan-

ca. Os demais são, em geral, de sangue europeu ou asiático. A história sangrenta de um povo que conhece a dor de ser dominado e subjugado por invasores não impediu que, séculos depois, alguns dos seus representantes protagonizassem uma das mais tristes e desrespeitosas manifestações de racismo em um estádio de futebol. A estreia do Cruzeiro na Copa Libertadores de 2014, contra o Real Garcilaso, no dia 12 de fevereiro, em Huancayo, no Peru, não será lembrada pelo resultado final do jogo, e sim pelas ofensas preconceituosas ao volante Paulo César Fonseca do Nascimento, o Tinga.

O jogo poderia ter sido em Cuzco, mas o estádio do adversário na partida de abertura do grupo 5 da Libertadores estava em reformas e havia sido interditado. Poderia também ter acontecido em Espinar, porém a pequena cidade da província de Cuzco não possuía base aérea a 150 km de distância, como exige o regulamento da Conmebol. Assim, o duelo foi marcado para Huancayo, a 3.259 metros acima do nível do mar e a 700 km da “casa” do Real Garcilaso, onde as duas equipes tiveram que se digladiar em território desconhecido, mas continuariam tendo pela frente os efeitos da altitude como principal arma dos peruanos contra o time celeste. Aos 20 minutos do segundo tempo, com o placar desfavorável ao Cruzeiro, o volante Tinga, carreira internacional na Europa e Japão, duas Libertadores conquistadas, 36 anos, entrou em campo para tentar mudar a história da partida. A Raposa perdia por dois a um, resultado que se manteria até o final. O técnico peruano Freddy García fechou o time inteiro, com sete atletas na defesa, cinco zagueiros e dois volantes. Pelo lado do Cruzeiro, Marcelo Oliveira apostava na experiência, excelente passe e capacidade de infiltração de Tinga, mesmo nas defesas mais impenetráveis. Assim, colocou o jogador no lugar de Ricardo Goulart. Mas Tinga não imaginava que mudaria a história da partida sem mexer no placar. Rapidamente percebeu que, a cada toque que dava na bola, a torcida peruana grunhia, fazia guinchos, sons e gestos que tentavam intimidá-lo, trazendo à partida um desfecho inesperado e sombrio. Pouco importava o resultado final. Todos sabiam que o futebol havia sido derrotado. A Revista do Cruzeiro conversou com Tinga, em uma tarde quente de feve-

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reiro nos jardins da Toca da Raposa II. Da história vencedora no futebol à discrição na exposição de suas atitudes, o volante celeste mostrou sua conhecida personalidade e muita firmeza nas opiniões e posições. A mesma seriedade demonstrada ao final do jogo contra o Real Garcilaso, quando fez uma declaração tão forte quanto verdadeira: “Se [eu] pudesse não ganhar nada e ganhar esse título contra o preconceito, trocaria todos os meus títulos pela igualdade em todos os lugares, todas as áreas e todas as classes”. O que se passou com Tinga não foi inédito e poderia ter ocorrido com qualquer jogador negro, brasileiro ou não. Craques internacionais como o camaronês Samuel Eto’o, do Chelsea, e o italiano Mario Balotelli, do Milan, já deixaram o gramado revoltados e até chorando após serem insultados por torcedores,

nos gramados da Europa e da Ásia. O que chama a atenção no episódio foi ter acontecido na América Latina, em um país onde há forte miscigenação racial e poucos registros de preconceito tão escancarados como o visto em Huancayo. Tinga não esconde que ficou muito incomodado e surpreso com a atitude da torcida peruana. “Tenho muita fé em Deus e sei que não foi por acaso o que aconteceu”, garante. “Estou preparado para responder a todos sobre isso, pois sempre tive opinião formada sobre todos os assuntos”, explica o experiente jogador, ciente de que se as ofensas tivessem sido dirigidas a um garoto iniciante no futebol, o resultado poderia ter sido devastador. Impactante também foi a repercussão do episódio. Tinga diz que ficou impressionado com a quantidade de manifestações de apoio que recebeu, de vários

ex-atletas e jogadores, como Ronaldo Fenômeno e Neymar, e de personalidades como Joseph Blatter, presidente da FIFA, e Dilma Rousseff. Até o presidente peruano Ollanta Humala condenou a atitude da torcida: “Um país tão diverso como o nosso e que fortalece sua identidade, com todas suas culturas, não deve admitir reações racistas de nenhum tipo”, declarou o presidente, pelo Twitter. Também pelas redes sociais, cruzeirenses e torcedores de outros times demonstraram apoio ao volante. A hashtag #FechadoComOTinga chegou a ser a líder dos termos mais discutidos no Twitter.

Exemplo para a família Depois de tudo que passou, a emoção toma conta de verdade quando Tinga se refere à família, em especial a um dos filhos, Davids, de 11 anos, que chegou a faltar à escola no dia seguinte ao jogo

Tinga chegou ao Cruzeiro em maio de 2012 e desde então tornou-se referência de raça e dedicação ao Clube

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///// CAPA e perguntou ao pai porque ele havia sido comparado a um macaco durante a partida. “Este foi um dos momentos mais difíceis que passei. Mas achei importante explicar para ele que o preconceito pode acontecer em vários tipos de situação, contra idosos, gordos e deficientes, por exemplo, e que ele nunca fizesse isso contra alguém, pois a pessoa se sentiria como eu me senti.” Orgulhoso da inteligência do filho, que estudou na Alemanha e tem esse nome em homenagem ao ex-meio-campista holandês Edgar Davids, Tinga é casado com a gaúcha Milene Nascimento, loira, de origem italiana, e lembra que sempre sofreu com o preconceito, inclusive no Brasil. “Muitos acham que um negro só pode ser casado com uma loira por ser jogador de futebol e não sabem que

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estamos juntos há 19 anos, antes de me tornar atleta profissional.” Se o futebol trouxe algumas tristezas para Tinga, as alegrias foram muito maiores. “Não tive a oportunidade de continuar estudando, terminei só o primeiro grau. Fui educado, alfabetizado, me tornei homem e cidadão através do futebol, pois aproveitei as oportunidades que a carreira me deu.” Aos 21 anos, ele saiu do país pela primeira vez para atuar por uma equipe japonesa, o Kawasaki Frontale, quando não sabia falar nenhuma língua estrangeira. Jogou também na Alemanha, pelo Borussia Dortmund, e em Portugal, pelo Sporting. “Aprendi muito como cidadão. O futebol me levou a conhecer pessoas, lugares, culturas e hoje consigo conversar sobre qualquer assunto.”

Tinga lembra a infância difícil, principalmente após a separação dos pais, quando tinha somente sete anos. “Via minha mãe tomando conta de um banheiro de um clube, vivendo com dificuldades, enquanto meu pai tinha uma vida mais confortável com outra família”. O maior exemplo, lembra Tinga, foi dado pela própria mãe, 20 anos depois de ter sido deixada pelo pai. Após se separar novamente, o ex-marido precisou de ajuda e ela não negou seu apoio, acolhendo o antigo companheiro, mesmo com sérios problemas psicológicos, em sua casa, para que Tinga pudesse continuar jogando no Grêmio. “Essa foi uma lição muito importante para a minha vida e fez com que eu tentasse sempre ensinar aos meus filhos sobre o que é o amor e o perdão”, ensina o craque da vida, Paulo César Tinga.


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De uma coisa eu tenho certeza: Deus não faz nada por acaso. Se isso tinha que acontecer justamente comigo, deve haver uma forte razão.

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PAULO CÉSAR TINGA


/////DO FUNDO DO BAÚ

Projeto do fotógrafo Vinicius Soares recria fotos históricas da Raposa Por Bruno Mateus 48 Revista do Cruzeiro · nº 123


Antes

Depois

A paixão pelo Cruzeiro e o interesse pela história do Clube fizeram com que o fotógrafo e designer Vinicius Soares tivesse a ideia de dar outra vida e cor às fotos mais antigas da Raposa. O fotógrafo participa de um grupo no Facebook chamado “Clube do Palhinha”, dedicado exclusivamente à história cinco estrelas. E foi entre amigos, no ano passado, que tudo começou. “O pessoal sempre postava fotos antigas. Certo dia, encontrei na internet uma foto colorida do Zé Carlos, e estava muito legal, a camisa do Cruzeiro ‘azulzona’. Todos do grupo gostaram muito. Pensei: ‘Pô, vou colorir algumas para ficar como a do Zé Carlos’ e comecei a postar no grupo. A primeira foi uma do Jairzinho comemorando um gol, depois fiz uma do Tostão.”

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Antes

Depois

Segundo ele, ter a possibilidade de ver o azul do manto cinco estrelas nas novas versões das imagens é uma de suas grandes motivações. “A foto sem cores é linda, mas a camisa do Cruzeiro é azul!” O processo, como conta o designer, é todo feito no Photoshop e requer paciência e pesquisa. Vinicius modifica cada detalhe da foto e o trabalho é minucioso. Quanto mais elementos na foto, maior a dificuldade. “Se há uma ambulância ao fundo, por exemplo, faço uma pesquisa maior e tento achar a referência das cores originais. Às vezes é difícil encontrar. Dependendo da foto, demora muito. Mas se for só o jogador e o gramado, fica mais fácil”, explica o fotógrafo, que revela o desejo de levar o projeto para além da internet: “Seria legal demais”. A convite da Revista do Cruzeiro, Vinicius selecionou algumas fotos do acervo do Clube e passou horas e horas no computador colorindo as imagens e viajando no tempo. “Faço isso com o maior prazer”, ele diz.

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Antes

Depois

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/////AUTORRETRATO

BIGODE TRICAMPEÃO Com o mesmo visual de 2013 e embalado pelo tricampeonato brasileiro, Willian promete manter a disposição e a entrega que levaram o Cruzeiro ao caminho dos títulos Por Bruno Mateus | Fotos Bruno Senna Sucesso dentro e fora de campo. Assim foi a temporada de 2013 para o atacante Willian. Nos gramados, ele ajudou a equipe celeste a chegar com folga ao título de tricampeão brasileiro e logo caiu nas graças da China Azul. Fora deles, ditou moda e foi o bigodinho mais famoso do Brasil. Com sua marca registrada, fez com que a torcida cruzeirense também adotasse o visual – a febre foi tanta que era possível ver mulheres e crianças usando bigodes postiços nas arquibancadas do Mineirão. Willian chegou ao Cruzeiro em julho do ano passado e rapidamente se adaptou ao esquema de jogo do técnico Marcelo Oliveira. Com gols e assistências, mostrou que a camisa azul lhe caiu perfeitamente. Em 2014, ele espera continuar a trilhar o caminho dos títulos e conquis-

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tar outro tricampeonato pelo Clube, dessa vez da Copa Libertadores, competição que “o bigode” faturou em 2012, pelo Corinthians. Quando não está dando alegrias à maior torcida de Minas, o atacante da Raposa faz questão de participar de ações sociais e levar um pouco de esperança a quem está passando por alguma dificuldade. Consciente do papel de ídolo que os jogadores de futebol representam para milhões de pessoas e da responsabilidade que isso traz, Willian sabe muito bem como fazer gols dentro e fora de campo, distribuindo assistências, balançando as redes e praticando solidariedade.


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Washington Alves

Com muita raça e disposição, Willian espera repetir as grandes atuações de 2013

Meus primeiros chutes Brincava muito, como toda criança, mas a brincadeira sempre escolhida era jogar bola. Aos 4 anos, eu já ia para a escolinha. Nasci em Santa Fé do Sul [no interior paulista, a 620km da capital], e aos 2 anos me mudei para Três Fronteiras, e depois para Urânia [as duas cidades ficam na região de Santa Fé do Sul]. Lá, meu pai conheceu o treinador da escolinha e comecei a treinar. Aproveitei muito jogando bola, poderia ter me dedicado mais aos estudos, mas para conciliar era difícil. Eu tinha dificuldade de prestar atenção nas aulas sabendo que depois teria treino, isso tirava um pouco o foco. Hoje, quando alguém pergunta ou pede um conselho, eu sempre falo para dedicar aos estudos, porque ninguém pode garantir que você vai jogar futebol.

Marcação cerrada Uma coisa ficou marcada: meu pai me cobrava muito e não gostava que eu 54 Revista do Cruzeiro · nº 123

fosse para o córrego, desses que tem em cidade pequena. Um amigo meu tinha um campinho de terra em casa, e meu pai também não gostava que eu jogasse descalço. Meu pai chegava do serviço às 17h30, às 17h eu já estava lavando meu pé na torneira, chegava em casa e ficava quietinho. [risos] Foi muito importante ter esse respeito a ele, por isso segui uma linha na minha vida de tentar trilhar o caminho que ele sempre educou, de fazer as coisas corretas.

Família boleira Ser jogador foi um sonho do meu pai, mas meus avós deram uma freada. Gostar de bola vem de família, meus tios jogavam, meu finado avô Candinho também jogava. Nenhum deles foi profissional, mas sempre gostaram muito de futebol. Meu pai sempre me incentivou, mas nunca impôs que eu tinha que ser jogador.

Andanças, andanças... Em 2002, joguei pelo União Barbarense-SP, ainda como juvenil. Em março de 2004, fiz meu primeiro contrato profissional no Guarani-SP. Dois anos depois, já estava vestindo a camisa do Atlético-PR. No fim daquele ano, operei o joelho, fiquei uns dois ou três meses afastado. Quem me resgatou foi o Ney Franco. Ele me deu muita atenção e confiança para eu poder voltar a atuar. Em 2009, joguei o estadual e a Série B pelo Villa Nova-GO. Um ano depois, fiz uma temporada espetacular pelo Figueirense e fui vendido para o Corinthians, onde fiquei um ano e meio – período de vitórias, me sagrei campeão brasileiro e da Libertadores. Logo em seguida, em agosto de 2012, fui vendido para a Ucrânia.

Em busca de outro Tri Acho que as coisas mais importantes [para conquistar a Copa Libertadores] o nosso time tem: união, respeito, o trabalho do dia a dia, a boa relação com o Marcelo Oliveira e a comissão. Nosso time é muito competitivo, aguerrido, e isso a Libertadores exige bastante. Nosso time é jovem, mas também temos essa mescla com jogadores experientes. Libertadores é entrega, espírito, e isso nosso time também tem. A arbitragem da competição é um pouco diferente da nossa, eles deixam jogar mais, é bom ter cuidado. Tem a questão de altitude também, que pode interferir, e a “catimba”. Mas nosso time tem união, garra, e temos tudo para fazer uma bela Libertadores com qualidade para ser campeão.

Respeita o moço! Eu ainda estava jogando na Ucrânia e, como não tenho muito bigode, toda vez tinha que ficar raspando. Do nada, falei com minha esposa que ia


deixar crescer. Ficou um pouco estranho, mas deixei, dava uma aparadinha, foi ficando legal. Comentei com meu pai e ele falou que também ia deixar crescer o bigode. No meio do ano passado, combinei com ele que tiraríamos quando a gente se encontrasse. Quando cheguei ao Brasil, fui para o interior e minha mãe já estava agoniada porque meu pai estava com aquele bigode horroroso. [risos] Nos encontramos e falei com ele que já poderíamos tirar. Tiramos, voltei para a Ucrânia, fiz a pré-temporada, mas quando vim para o Cruzeiro, fiz o bigode direitinho, cortei o cabelo. Depois deixei o bigode crescer de novo. Fiz um gol contra o Flamengo [pela Copa do Brasil, no Mineirão] e fiz assim [imita um bigode com o dedo] para mostrar que era para o meu pai, que também estava de bigode. Essa febre pegou, deu no que deu. Foi uma coisa que me surpreendeu muito, foi muito bacana. Não foi nada plantado, nenhum tipo de marketing, até porque não gosto disso. Sinto-me bem de bigode, minha esposa gosta, a torcida abraçou. Foi uma coisa natural.

China Azul A torcida foi fundamental, brilhante, a maior média de público da competição [na conquista do tricampeonato do Brasileirão]. O Mineirão lotado é lindo, a força da torcida empurra o time, a gente sente esse calor. Comigo, em especial, é muito gratificante estar num clube como o Cruzeiro e em pouco tempo ter esse carinho da torcida. Mas a cobrança sempre vai existir, vai vir forte. Sempre agradeço de ter criado tão rápido essa relação com a torcida.

Temporada na Ucrânia Quando cheguei lá [em agosto de 2012], minha filha [Fillipa] nasceu, então voltei para o Brasil e fiquei uma semana por aqui. Depois, só fui

ver minha esposa e minha filha em dezembro. Minha esposa [Louise] sofreu, era um momento delicado, a mulher fica mais sensível. Peguei muito frio, -18ºC. Um tempo depois, elas [esposa, filha e sogra] foram para lá. Além do frio, tinha o fuso horário, a Fillipa não dormia direito. Foi um momento muito complicado. Ela pegou uma virose, a Louise ficou de cama, depois minha sogra também, todo mundo baqueou. O futebol lá é mais pegado, não tem a qualidade que temos aqui. Eu estava feliz, sabia que o primeiro ano de adaptação é normal, mas apareceu a oportunidade de voltar ao Brasil, para um grande clube. Voltei no momento certo, para o clube certo. Estou muito feliz aqui. Com relação à gastronomia, não tive nenhum problema na Ucrânia, eu comia muito bem. No Metalist, eles tentavam fazer arroz, tinha feijão, peixe, carne, frango, massa, tudo normal.

Navegando na internet Tenho Twitter para assuntos profissionais, e WhatsApp para falar com os amigos. Não tenho Facebook, tem até um [usuário] fake usando meu nome, mas ainda bem que não tive problemas com isso até hoje. Ele tenta mais ou menos seguir a minha postura. Teve uma época que eu tinha mais de 20 perfis que usavam meu nome. [risos]

Temos que aproveitar ao máximo a nossa família. Na concentração, por exemplo, fico no computador, leio a Bíblia, gosto também de jogar sinuca. Dá para brincar um pouco.

Solidariedade nota 10 Somos ídolos e espelho para algumas pessoas. O pouco que a gente faz, um sorriso que a gente leva, uma palavra, um abraço, é muito para eles. Quando tem algum convite, eu topo na hora. Vou com muito orgulho, com muito prazer. Sei o quanto é importante. É bacana a gente ajudar os outros. Tive a oportunidade de fazer esse comercial [em novembro de 2013, o jogador participou de uma campanha de combate ao câncer de próstata do Instituto Mário Penna], fiquei muito feliz. Sabemos o quanto a saúde é importante. Vou ao interior de São Paulo e as pessoas me falam: “Nossa, como você é querido”, “O filho do meu vizinho deixou o bigode crescer por sua causa”. No final de 2013, realizei um jogo beneficente para arrecadar alimentos. Conseguimos quase quatro toneladas de alimentos. Quando me convidam para ir a hospitais e clínicas sempre tento dar uma força, faço isso com o maior prazer.

Fora dos gramados Tento ao máximo ficar com minha filha. De vez em quando vou ao shopping, a restaurantes e só. Fico muito em casa. Tenho que dar atenção, porque às vezes fico mais com o Bruno Rodrigo preso no quarto concentrado do que com minha esposa. [risos] FEVEREIRO/MARÇO 2014 55


/////BASE

Sonho americano 56 Revista do Cruzeiro 路 n潞 123


Volante da base celeste, Luis Felipe faz sucesso vestindo a camisa da seleção dos Estados Unidos Por Gustavo Aleixo | Fotos Bruno Senna Português perfeito, sem sotaques. Nome e sobrenome tipicamente brasileiros e um talento com os pés originalmente verde e amarelo. À primeira vista, Luis Felipe Fernandes Rodrigues, de 18 anos, volante da base do Cruzeiro, é mais um garoto nascido no Brasil que sonha um dia se tornar jogador de futebol profissional. Ledo engano. Ele é o primeiro cruzeirense a vestir a camisa da Seleção norte-americana de futebol. Luis Felipe nasceu em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Filho de brasileiros, morou por lá até os três anos de idade, quando acabou se mudando com a família para o Brasil, onde passou a residir em Ouro Branco, a 100 km de Belo Horizonte. O tempo vivido no exterior pode ter sido curto, mas foi o que propiciou a Luis uma chance

única na carreira: defender a seleção sub-20 dos Estados Unidos. O país das oportunidades abriu as portas para o volante celeste viver o sonho brasileiro ao melhor estilo american dream. “Estava com a minha família para o feriado de Ano Novo. O pessoal da seleção americana me ligou e daí pra frente todo mundo começou a me ligar”, relembra o jogador. Volante com ótima qualidade de passe e bom chutador de média distância, Luis Felipe chegou ao Cruzeiro em 2009, após ser aprovado logo em seu primeiro teste pelo Maior de Minas. O garoto, que quando pequeno misturava o inglês com o português, sabia muito bem a língua do futebol e não demorou muito para que despertasse o interesse de olheiros da seleção norte-americana. Na final da FEVEREIRO/MARÇO 2014 57


Future Champions contra o Atlético-MG, em 2011, Luis Felipe foi o grande nome da Raposa ao marcar um golaço na decisão. Dois anos depois, o volante novamente se destacou, agora na conquista da IMG Cup, realizada nos Estados Unidos, em dezembro. O meio-campista entrava de vez no radar da comissão técnica dos ianques e recebia, cerca de 10 dias depois, a convocação para um período de treinos, na Flórida, com a seleção sub-20 norte-americana. “Tinha olheiros da seleção me observando desde 2011. O Cruzeiro, com viagens para fora do país, acabou me ajudando muito, mas eu não esperava a convocação. Aconteceu tudo muito rápido.” Nos primeiros dias de janeiro, Luis desembarcava na Terra do Tio Sam e logo percebeu que não era o único “gringo” convocado. “Tinha americano espalhado por muitos lugares. Alemanha, Holanda, Croácia, México e Argentina. Tinha muita gente de fora na mesma situação que eu”, comenta o jogador, que tinha como companheiro de quarto um atleta que mora na Polônia.

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Luis Felipe pode defender os Estados Unidos, mas a sua formação futebolística é brasileira. Não é toa que o jogador prefere ter como ídolo um atleta da seleção tupiniquim. “Hoje me espelho no Paulinho [volante do Tottenham, da Inglaterra]. Cheguei a pesquisar sobre alguns jogadores norte-americanos e soube um pouco mais sobre o Donavan [do Los Angeles Galaxy] e o Dempsey [meia do Fulham, da Inglaterra], mas nenhum que chegasse a me inspirar. Prefiro me inspirar nos jogadores da seleção brasileira.” Observado com grande expectativa por toda a imprensa norte-americana, Luis Felipe voltou a ser convocado em fevereiro e está confirmado na disputa da Dallas Cup, que acontecerá entre 14 e 21 de abril, na cidade de Dallas, no Texas. “O treinador tem mantido contato comigo. Realizei o sonho de jogar por uma seleção e agora quero sempre voltar”, arrematou o craque made in USA da Toquinha.

Toquinha: celeiro de craques

Além de Luis Felipe, o Cruzeiro também tem outra jovem promessa despontando nas categorias de base. O nome da fera é Luiz Pimenta, atleta do sub-10 celeste, que acabou conquistando os prêmios de revelação e craque na categoria meia-atacante, no Campeonato Mineiro IMEF (Instituto Mineiro das Escolas de Futebol), em 2013. “É um garoto que tem uma qualidade técnica apurada, bate com as duas pernas, tem uma boa visão de jogo, finaliza bem e durante o segundo semestre do ano passado evoluiu bastante. O Luiz é um menino que tem um grande potencial”, afirma Bebeto, técnico do meia-atacante no sub-10 da Raposa. Cruzeiro/Divulgação

Pela seleção norte-americana, Luis Felipe disputará, em abril, a Dallas Cup

No gramado, o volante cinco estrelas garante não ter tido muitos problemas em entender o que era passado pela comissão técnica. Difícil mesmo era superar o frio, adversário implacável durante os treinamentos. “Para conversar era tranquilo, a gente dava um jeito e tentava gesticular. O problema mesmo foi a temperatura. A gente treinava sempre de luvas e com algumas peças a mais de roupas para suportar o frio.” O meio-campista chamou a atenção do treinador e ex-jogador da seleção, Tab Ramos, pela sua técnica. “O estilo deles é mais força e velocidade, ao contrário do que é praticado no Brasil”, ressalta Ramos, conhecido por ter recebido uma cotovelada do brasileiro Leonardo, nas quartas-de-final da Copa dos EUA, em 1994.


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/////SADA CRUZEIRO

DOSE DUPLA Em menos de um mês, Sada Cruzeiro fatura a inédita Copa Brasil e conquista também o bicampeonato do Sul-Americano Por Ana Flávia Goulart 60 Revista do Cruzeiro · nº 123

A temporada 2013/2014 não precisou passar da metade para que o Sada Cruzeiro atingisse mais uma marca histórica. Campeão Mundial em outubro e tetracampeão Mineiro em dezembro do ano passado, o time celeste precisava apenas de mais uma taça para conquistar, novamente, a Tríplice Coroa. E vieram mais dois troféus. Em menos de um mês, a Raposa garantiu dois importantes títulos: a inédita Copa Brasil, em janeiro, e o bicampeonato do Sul-Americano de Clubes, em fevereiro.


Renato Araújo - Sada - Divulgação

O status de melhor equipe do país veio depois que a Raposa superou o Sesi-SP na emocionante final da Copa Brasil e, com isso, garantiu uma vaga no torneio continental. O Sul-Americano aconteceu de 19 a 23 de fevereiro, em Belo Horizonte, e foi disputado entre times da Argentina, Peru, Chile, Bolívia, Uruguai, além do Brasil. Na final, um clássico entre brasileiros e argentinos: o Sada Cruzeiro derrotou o UPCN por 3 sets a 2 e triunfou, mais uma vez.

À frente da Raposa desde 2009, o vitorioso técnico Marcelo Mendez destacou a superação do seu grupo na busca para garantir mais dois troféus. “Foram duas finais muito emotivas, dois grandes espetáculos. Tanto o Sesi quanto o UPCN se entregaram ao máximo e os pequenos detalhes definiram as partidas. Nosso time está de parabéns, segue demonstrando que pode ganhar mesmo em situações bem adversas. Acreditamos sempre. Houve muita superação e tenho que parabenizar todos os atletas, que lutaram o tempo todo.”

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Ivan Ivan Amorim/Divulgação Amorim/Divulgação CBV CBV

Só alegria: cruzeirenses comemoram o troféu inédito da Copa Brasil

A conquista inédita da Copa Brasil e o segundo título SulAmericano são mais dois troféus para somar à galeria do Sada Cruzeiro Decisões de tirar o fôlego Acostumado a disputar grandes finais, o time cruzeirense pôde acrescentar em seu currículo duas decisões muito emocionantes. A primeira, em 25 de janeiro, foi motivo de muita luta dentro de quadra. A finalíssima da Copa Brasil diante do Sesi-SP, realizada no Ginásio Chico Neto, na cidade paranaense de Maringá, terminou em 3 sets a 2, com parciais de 21/17, 15/21, 16/21, 21/15 e 23/21. Mesmo placar da conquista do Sul-Americano, em 23 de fevereiro, que também foi de62 Revista do Cruzeiro · nº 123

cidido no tie-break, com parciais de 23/25, 23/25, 25/20, 25/19 e 18/16. Em Maringá, os cruzeirenses começaram na frente e abriram o placar por sacarem melhor, além de encaixarem importantes bloqueios. Mas, na segunda parcial, diminuíram a potência no serviço e o Sesi melhorou no fundamento, empatando o confronto. O terceiro set praticamente vencido por Lucão, um dos destaques do time de São Paulo, que desmontou a recepção celeste com seu saque. No quarto set, o Sada Cruzeiro viveu um novo momento e, superior em quadra, levou a decisão para o tie-break. No set desempate, as equipes brigaram ponto a ponto até o placar de 9 a 9, mas o Sesi conseguiu marcar duas vezes de bloqueio, abrindo 12 a 9. Em uma espetacular reação, o time azul igualou o placar. Os dois clubes tiveram várias e emocionantes chances de fechar a partida, mas o Sada Cruzeiro conseguiu definir em 23 a 21, com um bloqueio do cubano Leal.

Reação foi também a palavra para definir a final do Sul-Americano. Naquele domingo, os argentinos do UPCN iniciaram a partida muito superiores, abrindo dois sets de vantagem com um grande trabalho de seu sistema defensivo. Porém, com a Arena JK, em Belo Horizonte, tomada pela China Azul, a Raposa encontrou motivação para virar o jogo. Com saques muito potentes, o bloqueio funcionando e os contra-ataques encaixados por Leal e Wallace, o time empatou o confronto e, mais uma vez, provocou o tie-break. O Sada Cruzeiro entrou no último set com a mesma força no saque e, com dois pontos do fundamento, chegou a abrir 12 a 6. Mas os adversários, que não desistiam de deixar a disputa emocionante, conseguiram quatro pontos seguidos de bloqueio, empatando em 12 a 12. As equipes foram trocando pontos até o Sada Cruzeiro fechar o set e a partida em 18 a 16, novamente com o cubano Leal, que, dessa vez, marcou num contra-ataque.

Hegemonia azul A conquista inédita da Copa Brasil e o segundo título Sul-Americano são mais dois troféus para somar à galeria do Sada Cruzeiro, que vive um ciclo vitorioso e pôde soltar o grito de campeão pela quarta vez na temporada. Levantar três canecos em diferentes âmbitos – internacional, nacional e regional – é uma marca que havia sido conquistada pelo Sada Cruzeiro em 2011/2012, quando o time foi campeão Sul-Americano, Mineiro e da Superliga. Agora, a equipe cruzeirense supera o feito atingindo números impressionantes para qualquer clube. Desde o início da parceria entre o Grupo Sada e o Cruzeiro Esporte Clube, o time construiu uma evolução evidente. De todas as 14 competições que disputou


nos últimos quatro anos, chegou a absolutamente todas as finais, levantando a taça dourada em 11 ocasiões.

“Nosso time procura ganhar cada torneio que disputa. Chegamos a todas as finais nos últimos anos e queremos continuar assim. Temos que reafirmar nossa boa fase, pois chegar ao topo já é difícil, mas o mais complicado mesmo é se manter lá”, diz o ponteiro Filipe, que veste a camisa celeste desde 2010. Renato Araújo/Sada/Divulgação

Dentre elas, estão os campeonatos de maior relevância para a modalidade, como um Mundial, dois Sul-Americanos, uma Superliga e a Copa Brasil. Não há sequer uma competição de vôlei – nas esferas possíveis de participação celeste – que não tenha sido conquistada pelo Sada Cruzeiro, uma das maiores potências do voleibol mundial

nidade de chegar a dois bicampeonatos de grande expressão no esporte. Os playoffs da Superliga 2013/2014 se aproximam e o time chega na ponta da tabela para buscar seu segundo troféu da competição. E, em maio, defenderá o título do Campeonato Mundial de Clubes, do qual será, mais uma vez, anfitrião.

Mais páginas, mais taças Mas o clube que já se acostumou a vencer não conhece outra maneira de escrever páginas heróicas e imortais. Por isso, ainda em 2014, terá a oportu-

ARTE FINAL - FORNO DE MINAS - AD Cruzeiro 21,6x14,3cm_OBAH DESIGN.pdf

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Sada Cruzeiro fatura mais um caneco e solta o grito de bicampeão sul-americano


/////ATLETISMO

Três décadas de vitórias

Fotos: Cruzeiro/Arquivo

Comandado por Alexandre Minardi, atletismo do Cruzeiro chega aos 30 anos com muitos títulos na bagagem e boas histórias para contar Por Gustavo Aleixo 64 Revista do Cruzeiro · nº 123


Uma quinta-feira nublada, atípica em meio a uma semana de forte calor em Belo Horizonte. Dia para ouvir uma boa história. Ele chega com fotos antigas, um pouco amareladas, e avisa: “Vou precisar de um dia para te contar tudo”. Alexandre Minardi, de 63 anos, sabe muito bem do que está falando. O atual diretor e técnico do atletismo do Cruzeiro tem praticamente metade da sua vida dedicada a comandar os corredores celestes. Cada foto relembra uma vitória e cada pergunta lhe remete a uma corrida marcante. A equipe de atletismo cinco estrelas completa três décadas de existência e o treinador revira a história que, desde o começo, já mostrava ser vencedora.

Convite aceito. Faltava a Minardi formar uma equipe. Nada muito difícil de fazer, afinal, o projeto envolvia o nome do maior clube de Minas. “Divulguei na imprensa que ia ter uma seletiva na Via Expressa. Lembro que compareceram 200 e poucos atletas. Os 20 primeiros colocados iriam fazer parte da equipe do Cruzeiro”, relembra o treinador. “Terminada a seleção, treinei os atletas durante um mês na Academia da Polícia Militar. Nesse pouco tempo, consegui formar um grupo muito forte para encarar nosso rival, que na época também tinha uma equipe de atletismo”, acrescenta.

de testar os pioneiros do atletismo azul não tardou a chegar. A questão é que ninguém esperava um título logo na primeira competição. “Nossa estreia foi na Volta da BR-3. Para mim, já estava de bom tamanho ficar entre as 20 melhores equipes da prova e colocar um corredor entre os 10 primeiros. Mas o que aconteceu foi muito além das minhas expectativas. O Cruzeiro acabou conquistando o vice-campeonato geral com o Wilton Ferreira da Silva. Fomos também campeões por equipes, logo em cima do rival. Isso, para mim, foi a mesma coisa de ter ganhado a Libertadores. Vibrei demais”, conta Minardi, sem conter a sua alegria.

Mas a verdade é que treino é treino e corrida é corrida, por isso, a hora

O recado estava dado. Nas pistas, o Cruzeiro também deveria ser temi-

A largada Na década de 1980, Minardi já respirava atletismo não apenas como atleta, mas também como um promissor treinador. Foi nessa época que chegou à sua porta o chamado para comandar o Cruzeiro em um esporte que, assim como o futebol, se praticava com os pés. O autor do convite foi Dr. Gilvan de Pinho Tavares, hoje presidente do Clube estrelado, e que na época era diretor de esportes especializados da Raposa.

“A criação do nosso departamento de atletismo veio a partir de um sonho meu como dirigente do Cruzeiro. Convidei o Alexandre Minardi e a equipe se mostrou vitoriosa desde o princípio”, afirma o mandatário celeste.

Não importa o local da corrida, o atletismo da Raposa sempre estará nos primeiros lugares FEVEREIRO/MARÇO 2014 65


do. No entanto, o começo promissor esbarrava no investimento ainda modesto que era destinado ao atletismo celeste. A sorte da equipe cruzeirense foi ter o padrinho certo, que garantiu aos comandados de Minardi o apoio necessário. “Na Corrida do Aniversário de Mariana-MG, ainda nos anos 80, tivemos dificuldades para viabilizar o dinheiro do transporte. Entrei em contato com o Dr. Gilvan e ele conseguiu um ônibus especial para competirmos a prova. Fomos para lá e os 10 primeiros colocados foram do Cruzeiro, com o Joel Aparecido de Brito se sagrando campeão.” Com o apoio garantido, restava aos atletas apenas correr rumo às vitó-

rias. Triunfos surgiam até mesmo quando tudo aparentava dar errado. Em uma prova, Waldir da Silva Santos esqueceu o seu par de tênis em Belo Horizonte. Utilizando um calçado comprado horas antes da Corrida da Volta ao Cristo, em Poços de Caldas, ele completou o percurso e ajudou o Cruzeiro a ganhar o campeonato por equipes. E foi assim que a galeria de troféus do atletismo azul não parou de crescer. Além de levantar taças, o Cruzeiro passou a revelar talentosos atletas e não foi à toa que, desde 1984, a Raposa vem sendo representada pelos seus corredores em Olimpíadas. O

clube conhecido mundialmente pelo seu futebol, agora também é referência quando o assunto gira em torno de pares de tênis, pódios e linhas de chegada. “A imagem que se tem da nossa equipe no mundo é a melhor possível. Já competimos em quase três mil corridas e é até difícil guardar nossos troféus. Todo atleta de elite quer correr pelo Cruzeiro. Nós somos hoje o maior expoente do atletismo nacional e muito disso se deve ao Dr. Gilvan de Pinho Tavares”, exalta Alexandre Minardi, que logo depois passa a falar sobre as próximas provas que o Maior de Minas vai disputar. E, provavelmente, vencer.

Já na década de 1980, Alexandre Minardi (de barba) e sua equipe enchiam a sala do Cruzeiro de troféus 66 Revista do Cruzeiro · nº 123



Fotos: Cruizeiro/Divulgação

/////SÓCIO DO FUTEBOL

(da esq. para a dir.) O diretor de marketing do Cruzeiro, Marcone Barbosa, o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, o Sócio do Futebol 50 mil, Aécio Neves, o presidente celeste, Gilvan de Pinho Tavares, e o diretor comercial da Raposa, Robson Pires.

Ilustre representante Programa Sócio do Futebol ultrapassa a marca de 50 mil colaboradores e ocupa quarto lugar geral no ranking brasileiro. Para festejar o feito, a Raposa homenageou o cruzeirense Aécio Neves Por Bárbara Batista Cruzeirense declarado, o ex-governador de Minas Gerais e atual Senador da República, Aécio Neves, é o Sócio do Futebol número 50 mil. Superando recordes, o Cruzeiro comemora mais esse feito, se tornando a quarta equipe brasileira com o maior número de torcedores no programa. Muito empolgado, o Senador comemorou o feito. “Ser o Sócio 50 mil é uma homenagem simbólica que a diretoria faz a esse antigo cruzeirense. [risos] É muito importante que também no 68 Revista do Cruzeiro · nº 123

futebol nós possamos dar ênfase ao planejamento. O Cruzeiro vem fazendo isso e é hoje reconhecido como um dos times mais bem administrados do país. Estou muito feliz por receber o cartão de número 50 mil. É uma honra receber os dirigentes do Clube, meus companheiros do Cruzeiro, e vamos continuar nos encontrando no Mineirão em novas vitórias.”

juventude no Clube. “Meu pai me fez ser cruzeirense, para minha alegria. Quando nasci, meu pai já fazia parte do Clube, no meu nascimento era dirigente do Cruzeiro e depois veio a ser vice presidente na era Felício Brandi, por cerca de 20 anos”, relembra o ilustre torcedor, que, ao lado do pai, viajou o Brasil inteiro acompanhando jogos do Cruzeiro.

Cruzeirense desde criança, Aécio Neves recorda momentos da infância e

Animado com o ótimo momento vivido pelo Clube, Aécio Neves não es-


conde o orgulho por carregar as cinco estrelas no peito e enaltece a gestão do presidente da Raposa, Gilvan de Pinho Tavares. “Ele vem fazendo uma administração extremamente correta, com resultados positivos e me orgulho muito por ter viabilizado, enquanto governador do estado, tantos investimentos ao Mineirão que hoje é a grande casa do Cruzeiro.” O diretor comercial do Cruzeiro, Robson Pires, acredita que adesões de pessoas públicas como o Senador Aécio Neves, os músicos Henrique Portugal e Samuel Rosa, entre outros torcedores ilustres celestes, ajudam no crescimento e divulgação do Sócio do Futebol. Além disso, o diretor destaca os benefícios que o programa traz ao torcedor. “O Sócio do Futebol tem uma série de vantagens, como não precisar enfrentar fila, além de ter uma enorme quantidade de descontos em redes de supermercados, o que, no final do mês, praticamente

quita a mensalidade que é paga para o programa. Além de ajudar o time do coração, o torcedor tem participação direta com o Clube em ações que só o Sócio tem vantagem, como visitas a Toca e brindes exclusivos.”

Visita ilustre Enquanto o Senador Aécio Neves recebia o cartão de Sócio do Futebol 50 mil, o atual governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, chegou para uma rápida visita na residência do cruzeirense. “O Gilvan é meu amigo há muitos anos e tive a oportunidade de aplaudir essa iniciativa do presidente do Cruzeiro outorgando ao Senador Aécio, que é um grande cruzeirense, esse título de Sócio 50 mil”, conta o governador de Minas. O presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, ressaltou a importância de contar com mais um cruzeirense ilustre no programa de fidelidade e aproveitou para falar da satisfação

em encontrar o governador do estado na mesma oportunidade: “Tivemos a honra de sermos recebidos pelo Senador Aécio Neves, nosso Sócio de número 50 mil. Tivemos ainda a presença do governador do estado, Antonio Anastasia, que veio visitar o Senador e prestigiar esse ato.”

Vale a pena ser Sócio Desde que foi lançado, em janeiro de 2013, o Movimento por um Futebol Melhor só apresentou vantagens ao torcedor cruzeirense filiado ao Sócio do Futebol. No último dia 17, em evento na capital paulista, um balanço geral do projeto foi apresentado à imprensa. Em um ano, o número de clubes participantes passou de 15 para 45 e o de sócios apresentou um salto impressionante: de 158 mil para quase 700 mil. Entre os clubes brasileiros, o Cruzeiro foi o segundo que mais cresceu em números de sócios no ano passado – mais de 45 mil novos adeptos no período – e hoje ocupa o quarto lugar no ranking geral com quase 55 mil associados, que contam com uma rede de benefícios que, se bem aproveitados, chegam a igualar o valor da mensalidade paga pelos sócios-torcedores. São mais de 300 opções, que vão de bebidas, alimentos e itens de higiene pessoal a materiais esportivos e pacotes de TV por assinatura, oferecidas com descontos por empresas como AmBev, PepsiCo, Bradesco, Netshoes e Burger King, entre outras. E os benefícios não param por aí: a partir da segunda quinzena de abril, haverá sorteios de um carro 0km por mês, de pares de ingresso para a Copa do Mundo e muito mais.

FEVEREIRO/MARÇO 2014 69


/////CRUZEIRO PELO MUNDO

Esta edição do “Cruzeiro pelo Mundo” é especialmente voltada ao Sócio do Futebol que carrega o amor pelo time em vários cantos do mundo!

Ramon Henrique Gonçalves

Márcia Cristina Salazar Barbosa

Stonehenge - Inglaterra

Dubrovink - Croácia

70 Revista do Cruzeiro · nº 123


Plínio Tadeu Mendes de Oliveira Montana - Estados Unidos

Walerson Chaves da Fonseca Munique - Alemanha

Rodrigo Perrela Paris - França

Felipe Rômulo Chaves Silva e Rodrigo França Muniz

Luciano Martins Meireles Lisboa - Portugal

Monte Hermon - Israel FEVEREIRO/MARÇO 2014 71


/////TORCEDOR SANGUE AZUL

ZUL

UE A G N A S R CEDO

TOR

Gabriel Greco

valho

Elisa Fernandes de Car

Rodrigo Faria Am orim e o av么, Osvaldo Caetano de Faria (Vav谩) 72 Revista do Cruzeiro 路 n潞 123


s de

Leonardo Fernande Carvalho

Gianluca The e Enzo Th odoro Marchisotti eodoro M archisott i

Larissa Rezende Marra, Maria Clara Rezende Marra e a mãe, Sinara

Rafael Simões Salum Calhabeu

Quer participar? Mande a foto de seu torcedor-mirim para: revista@clube.cruzeiro.com.br FEVEREIRO/MARÇO 2014 73


///// O MEU CRUZEIRO

TORCEDOR MULTICAMPEÃO Por Filipe Faccion Ferraz* A minha relação com o Cruzeiro já dura mais de quatro anos. Desde que cheguei ao Sada Cruzeiro, minha história se fundiu com a do time e foram muitos os títulos conquistados aqui. A cada vitória, uma emoção diferente com um grupo que joga junto há muitas temporadas, apoiado por uma nação de cruzeirenses que sempre comparece em massa nos ginásios. Vestindo essa camisa celeste, carregamos no peito o escudo do Cruzeiro Esporte Clube e não tinha como as paixões não se misturarem. Eu e muitos atletas do time de vôlei temos o costume de ir ao Mineirão torcer pelos nossos companheiros do futebol. E um dos jogos mais marcantes pra mim foi Cruzeiro e Flamengo, pela Copa do Brasil de 2013. Eu e meus três irmãos fomos ao estádio juntos. Era um jogo completamente dominado pelo Cruzeiro, com o Mineirão lotado! No início do segundo tempo, quando a gente já vencia por 1 a 0, o Éverton Ribeiro recebe a bola pela direita no ataque e faz uma pintura, um golaço pra ficar registrado na memória daqueles 35 mil torcedores presentes, e na minha também. Pra mim, um gol espetacular! Além do espetáculo, a vibração e a emoção da torcida eram sentidas na pele. Arrepiante! E, depois de presenciar e participar de tudo isso na arquibancada, veio o dia mais incrível pra mim. Após a nossa conquista do Mundial de Vôlei, em outubro no ano passado, 74 Revista do Cruzeiro · nº 123

fomos recebidos pela China Azul no gramado do Mineirão para uma volta olímpica com a taça. Era um jogo do Campeonato Brasileiro, entre Cruzeiro e Criciúma. O que os jogadores de futebol sentem em todos os jogos, e que eu posso acompanhar do meio da torcida normalmente, nós tivemos a oportunidade de vivenciar na pele. Foi uma emoção inexplicável ver a nação azul gritando “É campeão, é campeão!”. Ovacionando nossos nomes, atleta por atleta... Eram mais de 40 mil pessoas, tinha mais gente do que no jogo contra o Flamengo! Foi um dia inesquecível, tenho certeza de que está marcado também na memória dos meus companheiros. E eu só tenho a agradecer por ser parte desse time, por poder contribuir com o meu trabalho em cada campeonato. Ainda quero levantar muitos troféus com a camisa azul para levar muitas alegrias ao torcedor cruzeirense.

*Ponteiro do Sada Cruzeiro, Filipe conquistou diversos títulos com a camisa celeste, entre eles o Mundial de Clubes, o bicampeonato sul-americano e a Superliga.


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