Johannes Gutenber . type design

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Momento Hist贸rico na Europa Ocidental

Gutenberg

Johannes



maior parte da comunicação já não passa somente pelos meios de comunicação de massas, pois existem blogs, chats e os meios virtuais que desvirtuam a produto escrito. Hoje em dia comunica-se bastante, e há que discernir que géneros de comunicação que temos, uma vez que a humanidade pode ser lida através da evolução dos meios de comunicação. Estas fomentam revoluções silenciosas, cuja importância revertem em benefícios comunicacionais. A invenção da imprensa de caracteres móveis é considerada a origem da comunicação de massas por constituir o primeiro método viável de disseminação de ideias e de informação a partir de uma única fonte para um auditório numeroso e disperso. Analisando mais atentamente os fenómenos que constituíram a génese da impressão com caracteres móveis, verifica-se que esta resulta da confluência de factores cul-

turais e tecnológicos que se vinham desenvolvendo ao longo dos três séculos precedentes. A cultura da palavra impressa e a tecnologia tipográfica precisaram igualmente de atravessar séculos de mudança, após o tempo de Gutenberg até que, a massificação se pudesse concretizar plenamente. A história da impressão é longa e complexa. Importante será proclamar a causa das mudanças sociais, políticas e psicológicas a qual a imprensa está associada. Mas a ela se d eve uma marca indelével em todos os aspectos da cultura europeia, ou pelo menos, aceitar-se-á pacificamente que constituiu o instrumento de mudança que permitiu a emergência da ciência, religião, cultura, política e modos de pensar vulgarmente associados à cultura ocidental da era moderna.

Introdução

A

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Contexto Histórico Raizes Tecnológicas

O

aparecimento do livro surgiu no século I d.C., associado à divulgação da escrita e da leitura entre as elites locais do mundo romano, numa altura em que aquela, com a invenção do alfabeto, deixava os círculos restritos de sacerdotes e de escribas e estendia-se a mercadores e marinheiros que dela necessitavam para os seus negócios e acordos pontuais. A escrita tornava-se necessária ao habitante da pólis, ao cidadão de Roma. Verdade também é que a prática da cidadania requeria também, no mundo antigo, uma alfabetização de todos os que detinham esse direito. A escrita apresentava-se como uma forma de sociabilidade, que reflectia a ordem social, traduzindo-se num corpo legal escrito. A lei escrita distinguia-se, assim, do costume oral, quer na mesopotâmia, onde apareceu o primeiro código jurídico, quer na Grécia, em Roma ou nos reinos medievais.

1 A escrita permitia, também, captar a memoria, reduzida, até então, à oralidade da tradição, fosse ela histórica ou religiosa. No mundo medieval, os novos senhores laicos e eclesiásticos iriam apropriar-se da escrita como uma forma de poder. Nos mosteiros e catedrais, hábeis copistas permitiam que os saberes dos antigos fossem estudados, interpretados, glosados por homens da igreja e depois por universitários. Copiavam-se textos religiosos de tradição cristã, obras filosóficas, os tratados de medicina, de astronomia, de geometria de autores gregos, romanos e traduziam os árabes. A escrita e o códice apareciam, na idade media, como instrumentos de propaganda e de ideologia. Papas, reis, bispos, nobres, patrocinavam traduções e produção de obras; criavam as suas próprias bibliotecas e arquivos, tal como, a realeza e a nobreza que procuravam imitar, as oligarquias urbanas passaram a interessar-se pelo livro ma-


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nuscrito e a cultivar uma certa cultura, onde predominava a literatura de viagens, a cartografia com informações sobre lugares e produtos distantes. O saber e a escrita estavam aliados aos poderes na cidade, junto dos reis e da igreja. Com o Humanismo, a escrita modifica-se novamente, os caracteres góticos, cursivos, ou não, foram substituídos pelas letras capitais romanos e pelas minúsculas carolinas, o que não era de estranhar num período tão voltado para a Antiguidade nas artes e nas letras. A escrita Humanista Italiana respondia aos interesses das elites urbanas e mercantis da época e de Itália expandir-se-ia pelo mundo mediterrânico. Os progressos da escrita conduziam à divulgação do livro, por toda a Europa ocidental. O amanhecer do renascimento que surge no séc. XII nas cidades do norte da Europa traz a necessidade de adoptar a oferta à procura.

O amanhecer do renascimento que surge no séc. XII nas cidades do norte da Europa traz a necessidade de adoptar a oferta à procura. Pode-se dizer que o renascimento trouxe um apetite civilizacional pela informação. O surgimento da imprensa só foi possível pela invenção e refinamento das técnicas de fabrico de papel na China ao longo de vários séculos. Em 105 d.C. os Chineses desenvolveram o papel de farrapos, fabricado com fibras vegetais e trapos velhos, constituindo uma alternativa económica às pesadas pastas de bambu e cascas de árvores ou ao precioso e dispendioso papel de seda. Os segredos desta técnica foram revelados aos árabes por prisioneiros chineses no século VIII sendo posteriormente introduzidos na Europa nos séculos XII e XIII. Muito antes de Gutenberg, as inovações chinesas nas tintas, impressão xilográfica e impressão com caracteres móveis de argila, tinham já prestado


o seu contributo para a divulgação da palavra impressa. Apesar de ter demorado séculos a chegar à Europa, o seu impacto cultural só aqui se fez efectivamente sentir. O uso desta tecnologia de caracteres móveis na escrita chinesa, que emprega milhares de ideogramas, implicava um esforço e um dispêndio de recursos materiais insuportável. Assim, o seu impacto na eficácia da produção só se viria a verificar no ocidente, pela fácil adequação e adaptação dos 26 caracteres do alfabeto latino a esta tecnologia. Algumas teses na historiografia afirmam que, o carácter normalizado, sequencial e linear da tipografia se adaptou admiravelmente ao particularismo ocidental, direccionado para o progresso técnico e para a conquista características que favorecem a mudança rápida e intensiva. O papel iria permitir a revolução do livro, ou seja, a divulgação deste suporte da escrita arrastava consigo a ideia de reproduzir textos e imagens em série.

Johannes Gensfleisch Gutemberg (década de 1390 a 1468)


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rios necessários para manter em funcionamento as crescentes burocracias políticas, religiosas e comerciais, criaram a necessidade de um sistema de ensino que produzisse esses mesmos funcionários. Para tal era necessária a existência e disponibilidade de material escrito. Durante séculos, os monges copistas garantiram a manutenção e a reprodução dos textos sagrados, mas o mundo secular emergente criou a sua própria versão de copista, surgindo o amanuense profissional. Os novos “scriptoria” ou lojas de escrita que surgiram, empregariam virtualmente qualquer clérigo letrado que procurasse trabalho. Apesar do seu rápido aumento, os amanuenses não conseguiam dar resposta à crescente procura comercial de livros. Outro potencial campo de negócio era a venda de indulgências, folhas de papel oficial da Igreja, concedendo o perdão pelos pecados cometidos, emitidas

Gutenberg

As

rápidas mudanças culturais que se faziam sentir na Europa desde o início do século XV estimularam uma crescente procura (e a necessária produção) de documentos escritos mais baratos. Desde a sua introdução na Europa, no século XII, o papel foi-se afirmando como alternativa viável ao “vellum” e ao pergaminho, que constituíam à época os meios convencionais de para o registo e transporte da informação escrita. O papel de farrapo foi-se tornando cada vez mais barato e abundante e, simultaneamente, a alfabetização expandia-se. Em parte, os dois processos aceleraram por se estimularem mutuamente. A necessidade de documentação aumentava com o desenvolvimento do comércio, assim como com o aumento da complexidade dos processos de governo e administração política e religiosa. Por seu lado, os processos comerciais mais sofisticados e o número de funcioná-

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a troco de fundos destinados à construção de edifícios e a outros projectos dirigidos para a expansão do seu domínio. De facto, tiragens de 200.000 exemplares já eram vulgares pouco depois das indulgências manuscritas se tornarem obsoletas. É também no séc. XV, que aparece uma das figuras mais importantes na história, Johannes Gutenberg. Ourives e impressor alemão, a ele se atribuem, com os mais sérios fundamentos, a invenção e fabrico dos caracteres tipográficos móveis. A sua biografia está recheada de enigmas, sabe-se, porém, que era oriundo de uma família burguesa de Mogúncia, os Gensfleich. Estabelecido em Estrasburgo a partir de 1430, conhecia a técnica da ourivesaria, que aplicou depois no fabrico de punções e matrizes tipográficas. As primeiras experiências no domínio do livro impresso com caracteres móveis foram efectuadas em Mogúncia, cida-

de a que Gutenberg regressou depois de 1449. Johannes Gutenberg pressente o potencial e o lucro duma tecnologia que consequentemente lhe pudesse dar resposta a estes problemas e, para o efeito, contraiu um empréstimo que lhe permitisse desenvolvê-la. Para tal, desenvolveu com Johannes Fust, adaptando características da tecnologia têxtil, papeleira e de prensagem de uvas já disponíveis na época. A inovação mais significativa reside no estabelecimento dos processos de moldagem e fundição de tipos móveis metálicos. Cada letra era gravada no topo de um punção de aço que era posteriormente martelado sobre um bloco de cobre. Essa impressão em cobre era inserida num molde, e uma liga de chumbo, antimónio e bismuto era aí vertida, originando uma imagem invertida da letra que era então montada numa base de chumbo. A largura dessa base variava com a dimensão da letra (por exemplo, a


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base da letra “i” não chegaria a metade da largura da base da letra “w”). Esta característica permitiu enfatizar o impacto visual das palavras e dos conjuntos de palavras, evitando o efeito individualizador das letras, característico do mono espacejamento. Com este princípio estabeleceu-se uma norma de elegância estética e sofisticação para a perfeita e impecável regularidade de uma página impressa. A Técnica de gravar em metal que marcou a invenção da imprensa, entre 1435-1450. Gutenberg e Fust, imprimiram as primeiras bíblias, saltérios e obras de Aristóteles. As primeiras impressões faziam-se com uma tinta aguada que se revelou imprópria para esta arte, pois era difícil estende-la uniformemente sobre a matiz de madeira e ainda mais difícil se tornou, quando esta era de metal. Por outro lado, sendo o papel absorvente o desenho ficava ilegível, pois a tinta espalhava-se na horizontal e pe-

los dois lados da folha. Venceram-se estas dificuldades utilizando uma tinta misturada com óleo de linhaça fervido e com carvão vegetal em pó ou com cinza, resultando daqui uma tinta que seria utilizada durante quatro séculos. Para que a impressão tivesse sucesso e aliada as descobertas aplicadas na tinta, a impressão era feita através, de uma prensa de fuso, com a qual era possível alcançar-se uma pressão maior e uniforme, que só viria a ser ultrapassada pela prensa holandesa, já no séc. XVIII. Este tipo de impressão era designado por impressão em relevo, onde se usava também a técnica da impressão em ôco, ou seja, a tinta impregnava as ranhuras do desenho, pelo que apenas se traçavam os contornos do desenho. Johannes Gutenberg produz então, uma Bíblia impressa em latim, que viria a ser o seu trabalho de consagração. Uma tiragem de cerca de 300 exemplares em dois volumes, vendidos a



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30 florins cada, ou seja, cerca de três anos do salário de um sacerdote, não foi suficiente, apesar do sucesso da sua invenção, para pagar as dívidas contraídas. A sua oficina foi penhorada, as suas técnicas tornaram-se públicas e para os credores foi transferida a propriedade dos direitos comerciais relativos às Bíblias de Gutenberg. Passadas as resistências iniciais, o clero viu as vantagens do poder da impressão. Indulgências impressas, textos teológicos e mesmo manuais de instruções para a condução de inquisições, tornaram-se instrumentos comuns para a disseminação da influência da Igreja. Mas o reverso da moeda também se fez sentir: era muito mais difícil controlar a actividade dos impressores do que tinha sido controlar os copistas, tanto religiosos como seculares, durante séculos. A produção e distribuição de uma variedade explosiva de textos tornaram-se rapidamente impossíveis de

conter. Cópias impressas das teses de Lutero foram rapidamente divulgadas e distribuídas, desencadeando as discussões que viriam a iniciar a oposição à ideia do papel da Igreja como, único guardião da verdade espiritual. Bíblias impressas em linguagens vernáculas, em alternativa ao latim, alimentaram as asserções da Reforma Protestante que questionavam a necessidade da Igreja para interpretar as escrituras uma relação com Deus podia ser, pelo menos em teoria, directa e pessoal. No plano da fixação das normas da linguagem (ou pelo menos, da escrita) pode-se referir o papel desempenhado por William Caxton, que, em 1476, estabeleceu em Inglaterra a primeira tipografia. Caxton tinha sido um tradutor prolixo, e viu na tecnologia da imprensa de caracteres móveis um excelente veículo para a promoção e divulgação da literatura popular. Verificando que o Inglês padecia de tantas variações regionais que muitas pesso-


as eram incapazes de comunicar com outras, mesmo dentro do mesmo país, Caxton editou, imprimiu e distribuiu uma variedade de livros, determinando e controlando a soletração e a sintaxe em todos os títulos produzidos na sua oficina, contribuindo assim largamente para a estandardização da língua inglesa, vindos estes procedimentos a ser gradualmente adoptados em todos os países onde a tipografia se ia estabelecendo.

Politecnico di Milano . Giangiorgio Fuga . Typedesign . Bruno Miguel Costa 713127


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sennahoJ

grebnetuG

latnedicO aporuE an ocir贸tsiH otnemoM


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