Entrevista Rui Costa Pimenta

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de 25 de setembro a 1º de outubro de 2014

brasil Marlene Bergamo/Folhapress

Para Pimenta, eleições não mudam política de acordos

“O socialismo é uma inevitabilidade histórica”, diz Rui Costa Pimenta ENTREVISTA Candidato do PCO critica setores da esquerda por fazerem política “pequeno-burguesa” Bruno Pavan da Redação CONHECIDO por frases de efeito marcantes e discursos diretos, o Partido da Causa Operária (PCO) nasceu em 1996. Desde 2002, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do partido, disputa as eleições ao cargo máximo do Executivo brasileiro. Aos 57 anos, Rui é dono de um discurso firme e “radical” como ele mesmo admite. Começou a se envolver com política desde muito jovem, quando viveu na Inglaterra e teve acesso a textos que não teria se morasse no Brasil. Após seu retorno, entrou na faculdade de jornalismo em 1979 e ingressou no movimento estudantil. Trabalhou no Sindicato dos Químicos de São Paulo e para a CUT. Militou no PT até o início dos anos de 1990, quando foi expulso. Em entrevista exclusiva para a série do Brasil de Fato com os presidenciáveis, Rui critica setores da esquerda no Brasil, que chama de “pequeno-burgueses”, e aponta que, para o PCO, as eleições são um “palanque para a luta política geral”. Brasil de Fato – Qual o regime ideal a ser implantado no Brasil para o PCO e qual o principal problema do país? Rui Costa Pimenta – Não se trata de um problema de regime ideal. Nós achamos que o socialismo é uma inevitabilidade histórica. Lutamos como parte de um processo objetivo, que se desenvolve independentemente de nós, do que achamos ou deixamos de achar. O governo tem que ser controlado pela classe trabalhadora e deve expropriar a propriedade privada, o grande capital, as grandes empresas e bancos e colocar a economia a serviço do desenvolvimento amplo da sociedade para permitir uma melhoria na qualidade de vida da população. O problema histórico do Brasil é que ele é aquele país muito peculiar no mundo que fica no limiar entre os atrasados e os desenvolvidos. O maior deles é a questão agrária, que é o nó do atraso nacional que precisaria ser rompido. Além, logicamente, da dependência e da opressão do capital estrangeiro.

“Lutamos como parte de um processo objetivo, que se desenvolve independentemente de nós, do que achamos ou deixamos de achar” Como você vê o que aconteceu na Venezuela em relação ao chavismo em comparação com a ascensão do Lula em 2002? A ruptura é tanto maior quanto maiores foram as mobilizações revolucionárias das massas numa dada etapa. Não é que o chavismo seja hiperrevolucionário e o PT seja contrarrevolucionário, que é o que muita gente pensa. Tem a ver com as condições políticas. O governo PT, em parte, é um resultado indireto de uma

mobilização. A eleição do Lula foi produto de uma ruptura. Você vê que houve uma coincidência, quase toda a América do Sul é governada por governos de esquerda, nacionalistas burgueses de diversos graus. O motivo disso é o fracasso da política neoliberal. Esses são governos que, como todo o governo nacionalista burguês, operam em um quadro de enfrentamento e conciliação com o imperialismo, as duas coisas ao mesmo tempo, sem nunca chegar ao extremo da ruptura, a não ser quando eles são forçados por uma condição externa.

rapidamente de desvirtuar o caráter da manifestação, chamando a uma diluição completa e procurando voltar a manifestação contra o PT. Isso estabeleceu uma enorme confusão política. As manifestações cumpriram uma etapa; está tudo aberto. A insatisfação que ela mostra contra o PT é real porque o governo de fato não atendeu as necessidades dessa parcela. Mas eu acho que de um modo geral as manifestações, em si, independentemente das particularidades, foram positivas e nós caminhamos para uma época de maiores manifestações.

O governo brasileiro se virou mais para a América do Sul nos governos do PT e muitos acusam o Brasil de ser imperialista com os vizinhos. Como você vê essa situação? Eu acho que o Brasil se aproxima dos países da América do Sul como uma medida de autodefesa contra o imperialismo. Não é que ele esteja explorando o país vizinho. O que se tem feito nos tratados econômicos no marco do Mercosul e de outros instrumentos dessa natureza é uma política de autodefesa no marco da conciliação. O problema é que o imperialismo vai acabar engolindo todos esses governos. Sem uma ruptura com o sistema é impossível controlar a situação. Você vê que o governo chavista, apesar da imensa popularidade, vive na corda bamba. O imperialismo é uma força muito poderosa, que domina com grande facilidade uma nação gigantesca como o Brasil. Não é pouca coisa. No marco da conciliação, é o pacto entre o cordeiro e o leão, e isso não é um pacto entre iguais.

Qual a sua opinião sobre as eleições como elas se dão hoje no Brasil? Tendo em vista esse pensamento de que a mudança só viria pela revolução, qual é o motivo da presença do PCO nas eleições? Nós encaramos a eleição como uma tribuna para a luta política geral. É o que os marxistas sempre pensaram: o povo é chamado pela burguesia, que é uma força política no país, a se mobilizar em torno de um embate político. Nós achamos que temos que fazer parte desse debate embora nós não concordemos com as virtudes reformadoras do processo. A eleição acaba sendo sempre o produto de uma manipulação. Não é como um restaurante à la carte, o cidadão chega lá e quer comer filé, mas dizem pra ele: só tem macarrão e peixe. Se o garçom ainda falar que o peixe está estragado, finalmente ele só pode escolher mesmo o macarrão. Se você falar “vote na esquerda”, o eleitor vai olhar e perguntar: mas que esquerda, a esquerda do PT ou a esquerda do PSOL, PSTU, PCO e PCB? O eleitor vai acabar votando no PT porque é o partido que vai conseguir vencer a eleição.

“O imperialismo é uma força muito poderosa, que domina com grande facilidade uma nação gigantesca como o Brasil. No marco da conciliação, é o pacto entre o cordeiro e o leão, e isso não é um pacto entre iguais” Você considera que o PT faz um governo de esquerda? Considero um governo de esquerda. Logicamente uma esquerda burguesa, extremamente moderada, que procura levar adiante uma política de interesses da burguesia nacional e fazer certa abertura para as camadas populares. Muita gente estranha essa posição porque encara a esquerda como um atestado de pureza. Mas o governo Vargas, que teve início em 1950, foi um governo de esquerda, mesmo ele sendo antes o chefe de um governo de tipo fascista. O PT é um partido de esquerda, assim como os partidos social-democrata francês, alemão, que, apesar de responderem aos interesses do imperialismo, mantêm uma relação com os trabalhadores diferente da de um partido de direita. Sobre as manifestações de junho do ano passado, qual a sua opinião sobre o ocorrido nas ruas? Nós participamos ativamente delas desde o começo, e temos uma opinião muito concreta. Primeiramente, elas começaram como um movimento reivindicativo do transporte, que aderiu um caráter político devido à repressão brutal do governo do estado de São Paulo. A burguesia, a imprensa capitalista e direitista e os partidos de direita trataram

Em um vídeo disponível no site do PCO, você faz uma crítica a alguns setores da esquerda brasileira os chamando de “pequeno-burgueses”. Num certo momento você declara que o socialismo com democracia é contrarrevolucionário. O que você quis dizer com essas colocações? Vamos pegar o caso mais óbvio que é o do PSOL. O PSOL é uma federação de parlamentares, isso já define o partido como um partido pequeno-burguês. Um partido operário não pode ser isso. O parlamentar é que tem que ser controlado pelo partido. O problema todo é esse tal de socialismo com democracia, veja bem a peculiaridade da frase, existiria um socialismo com democracia e um socialismo sem democracia. O socialismo rigorosamente é a superação da democracia. Considerar que o socialismo seria um regime econômico superior, mas politicamente aquém do regime da burguesia é uma contradição lógica. Se ela é um absurdo teórico, na prática, ele faz a mesma coisa da política do PT, só que de um ponto de vista utópico. [Quando] o PT defende que só dá pra progredir através de acordos, ele pratica uma política burguesa. “Você quer aprovar um aumento para o Bolsa Família? Chama o PMDB, oferece cargos, faz aquele toma lá da cá e aprova o que você quer”. É uma política que nunca vai chegar a favorecer o povo brasileiro, mas é uma proposta concreta porque o partido que ganha a presidência não consegue ter mais do que 100 deputados dos quase 600. Pra fazer qualquer coisa tem que ser por acordo. Os outros estão falando a mesma coisa. A não ser que antes de chegar ao poder você modifique totalmente o regime político, o que não está em pauta, você vai cair na mesma situação do PT. Eu vi que o Randolfe Rodrigues falava assim: “Vou governar sem o PMDB”. Mas o PSOL é um partido que elege muito menos de-

putados que o PT, [de modo que] com algum partido burguês ele vai ter que governar. O socialismo com democracia é isso: ele não rompe revolucionariamente com a ordem burguesa; é uma proposta que não tem nada de concreto. Eles vão fechar o Congresso? Eles têm apoio das Forças Armadas pra fazer isso? Vão chamar o povo pra invadir o Congresso? O que ele vai fazer? Sobre a nossa política você pode perguntar: “Será que vai ter (a revolução)?” Eu não sei. Pode ser que sim, pode ser que não, mas a mudança revolucionária é uma maneira concreta de mudar o quadro, ou então, é o acordo, não tem muito terreno intermediário. Agora, é preciso ficar claro, e isso deve ficar bem enfático: pra nós, o socialismo é uma superação da democracia burguesa. Se estivermos pensando em algo que seria inferior ao regime de Estado de direito, de garantias democráticas, então, não vale a pena porque é um regime de barbárie. Você também não pode ser um regime progressista no terreno econômico se a expressão política dele é a barbárie.

“O PT é um partido de esquerda, assim como os partidos socialdemocrata francês, alemão, que, apesar de responderem aos interesses do imperialismo, mantêm uma relação com os trabalhadores diferente da de um partido de direita”

Qual a sua posição em questões como o aborto, casamento gay e legalização das drogas no país? Nós somos contra todo o tipo de proibição, cada um faz o que quer! Você é drogado e fulano acha que isso aí é muito feio, autodestrutivo, tudo bem, mas não é crime e, portanto, não deve ser proibido, nem ser objeto da legislação. Sobre o casamento gay e o aborto, a mesma coisa. Nossa posição nesse sentido é bem radical, nós não queremos dar a sociedade escravagista, capitalista e repressiva nenhum tipo de poder sobre o cidadão. Os direitos têm que ser todos garantidos. Para nós, o Estado de direito é quando você consegue forçar o Estado a garantir os direitos do povo. Quando ele começa a tirar o direito do povo, não é Estado de direito, é um Estado de arbitrariedade. Então, somos contra a diminuição da maioridade penal; a favor da redução de todas as penas criminais; contra o encarceramento de pessoas por vários motivos pelas quais elas são encarceradas hoje. PCO

O candidato do PCO à presidência, Rui Costa Pimenta


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