Autor: Bruno Scarl scarl@nerdice.com
Blazze Wisdom’s Flames
Para meus amigos.
As pessoas criam monstros através de suas ambições, quanto maior for seu desejo sobre algo maior o monstro fica e quando está suficientemente grande propõe um pacto com o hospedeiro, ganhando através desse pacto a alma do mesmo. "Diferentemente dos fantasmas, os Monstros nunca experimentaram algo de melhor sabor do que uma alma humana." Os Monstros são conhecidos em algumas culturas como demônios ou chupa cabras, em grande parte devido às mordidas que deixam em suas vítimas. Há dois modos de criar um Monstro: O primeiro consiste de ter como ambição algo material, fruto da imaginação humana. "Se você sonha com algo que não pode ter, vai viver algo que, certamente, não quer." O segundo modo é o mais rápido de se alcançar, mais temida pelos humanos e mais adorada pelos Monstros. Consiste de ter um desejo sobre uma vida humana, o que geralmente parte de amor ou ódio. "Pague um amor com uma vida e o ódio com outra." Todos nós sonhamos, desde um pequeno inseto até um colossal mamífero possui desejos e metas. O primeiro Monstro que fez um trato nasceu logo que o homem começou a pensar. Um casal se unia, dois seres tornavam–se próximos. Uma bela dama e um bravo cavaleiro, habitantes de cavernas. Porém um outro humano que via a cena da união ficou com ódio, não admitia os dois juntos. "Ela têm de ser minha" foi o que provavelmente ele pensou. E mesmo não tendo conhecimento pleno da morte ele a desejava para aquele homem. Seu desejo era tão forte que ele transpirava ódio, então seu Monstro fez um trato. O trato tinha como termo principal o seguinte: "Quando se sentir completo com seu desejo principal, base desse contrato, ou quando o esqueces e não for mais útil e importante, os benefícios deste para você, o trato chega ao fim, e como tratado sua alma será minha para meu livre uso." O caso é que o humano aceitou. Ele queria ver o outro homem morto, e foi o que aconteceu. A felicidade corria por entre as veias do humano, era o ápice da vida dele, ele se sentia como um deus. Enfim, estava repleto, tão satisfeito que poderia morrer ali, naquela hora, e, bem, foi justamente o que aconteceu.
O trato havia chegado ao fim e o Monstro se alimentou da alma do humano, na primeira mordida, ao sentir o gosto, pegou todo o resto e engoliu de uma só vez, não acreditava que algo com sabor igual pudesse existir. Rapidamente avisou sobre o feito para todos os outros Monstros, que consumavam comer almas de animais, e se tornou o rei delas. "O poder de uma única alma é capaz de mudar o mundo." Um estudioso espiritual, depois de anos de pesquisas e rituais, conseguiu entender o que realmente eram os Monstros e o que podiam fazer. Quanto mais pesquisava, mais seu desejo alimentava seu próprio Monstro. Seu desejo era poder criar e controlar Sombras. Ele tentou inúmeras vezes cria–las artificialmente, como resultados vieram os homúnculos, os quais concederam a ele o titulo de 1º Alquimista, mas ele só conseguiu realizar seu desejo quando seu próprio Monstro propôs um trato proibido, onde, resumidamente, o hospedeiro teria esse poder, desde que desse todas as almas dos humanos que morressem através de seus atos fosse dada ao Monstro. Ele concordou, seu poder era tão grande que ele tomou o lugar como rei dos Monstros. Tornou–se tão forte e cruel, que, após tantas mortes, o chamavam de Rei do Submundo. Destruía os Monstros fracos e criava Monstros mais fortes e domáveis, Monstros que tomavam almas dos humanos até mesmo sem um pacto. O período inicial após isso foi conhecido como Idade das Trevas. Contudo, os humanos foram perdendo a esperança de tal modo que seus Monstros nem sequer cresciam o suficiente para poderem tomar o poder. Vendo isso o Rei do Submundo impôs uma regra, a qual proibia qualquer Monstro de tomar o poder sem um pacto com o hospedeiro, e selou–a com a sua própria alma. Então tudo seguiu como normalmente. Muitas pessoas ‘comuns’ e poucas pessoas 'poderosas' surgiram ao longo da história, alguns usaram essa vantagem para o bem, outros nem tanto. Mas tudo mudou com um segundo Trato proibido, o qual gerou a alma mais deliciosa de todas. Uma mãe, que havia acabado de dar a luz a um menino, fez um Trato, e deu, além de sua alma, as lembranças de sua existência para aquele Monstro, seu desejo era único e puro: Ela queria que seu único filho fosse libertado da lógica do mundo. O pedido foi atendido e o Monstro consumiu aquela alma com tempero de lembranças sofridas de uma mulher que nunca existiu. Aquela criança foi resgatada e entregue a um orfanato, o qual a nomearam de Bruno, o garoto medonho.
| Bruno do Latim Germânico: Impuro; Sombrio. | Ele era considerado impuro pelas pessoas que o rodeavam, daí o nome. As freiras que cuidavam do orfanato falavam para as outras crianças não se aproximarem dele. Ele sobreviveu, praticamente, sozinho, até que um dia um casal apareceu, um casal diferente, um casal que conseguia ver o amor nos fundos dos olhos de Bruno. E é aí que tudo começa.
O Monstro Capítulo 01 Bruno chegou em casa, depois do trabalho, cansado. Durante o banho ouviu alguns barulhos suspeitos, desligou o chuveiro, cobriu–se com a toalha e saiu para constatar o que era. Devagar e sem fazer barulho saiu do banheiro, seguiu para o quarto, de onde achou vir o barulho. Assustou–se, a companhia havia sido tocada. Seguiu para a cozinha. Atendeu o interfone, e apertando um botão, no mesmo, abriu o portão. Eram seus pais com algumas sacolas de compras. Bruno escondeu–se. – Filho, cadê você? – disse Matheus. – Buuuuuu! – gritou se revelando por de trás da parede. Sua tentativa de assustar seus pais havia falhado. – Olá filho, que bom que você já está em casa, o Júlio esqueceu as chaves – disse Matheus, um de seus pais, colocando as sacolas em cima da mesa –. Tudo bem?
– Estou bem sim. Quer ajuda? – Oh, quero sim. Poderia fazer a janta enquanto eu e Júlio lavamos a louça? – Posso sim – disse Bruno e seguiu rumo ao seu quarto para vestir suas roupas. Voltou de seu quarto com um pijama de cachorrinhos e pantufas de tigre. Júlio riu, mas não disse nada. Bruno colocou o avental, pegou alguns ingredientes na geladeira e pôs–se de frente ao fogão. Fogo, panela, azeite. Espera. Carne, colher. Mexe. Molho. Mexe, colher, mão. Experimenta. Estava fazendo carne ao molho. Desligou o fogo. Decidiu fazer a salada. Cortou–se. Bruno não soltou mais que um gemido, ao contrario de Matheus que começou a gritar aterrorizado até perceber que não havia sido grande coisa. – Ufa! – suspirou. Ele se levantou e pegou um pote em uma das sacolas de compras. – Curativo... – disse cantarolando. – Oh! Obrigado! – disse Bruno com os olhos brilhando. Eles jantaram e em seguida foram para a sala assistir televisão. Bruno não assistia há tempos, então não se focava nela. Durante o comercial Bruno olhou para a janela e viu ali algo humanoide, que transparecia os ossos, vestido em mantos negros que se dissipavam feito neblina. A criatura mussitou: "Venha para mim!". Bruno levantou–se assustado. Seus pais estranharam sua atitude. Bruno percebeu que só ele podia ver aquela criatura. Então fechou os olhos com bastante força. Ele estava com medo e esperava que assim a criatura sumisse. Quando abriu os olhos novamente deparou–se com aquela criatura, na sua frente. Gritou amedrontado. – Bu! – disse a criatura liberando um hálito, forte, que fez Bruno dormir.
Então Bruno sonhou. Ele estava inicialmente flutuando no ar, mas logo se deu conta que estava sentado em um carrinho de uma Montanha Russa, o qual começou a andar, cada vez mais rápido. Seguiu reto durante muito tempo e começou a subir, cada vez mais alto até que o carrinho parou no topo, de onde só se via a descida rumo ao abismo que viria a seguir. O carrinho tremia, mas não tanto quanto Bruno, que mantilha suas mãos fechadas, nas barras de segurança, tão bem fechadas quanto seus olhos. Sentiu que começou a descer. Acordou assustado. Lá estava ele, deitado, sozinho, no chão da sala. O sol já estava forte lá fora e a Televisão fora do ar. Na sua mão, para surpresa de Bruno, havia uma rosa, branca e sem nenhum espinho. Bruno levantou–se e procurou seus pais pela casa, os quais não estavam lá, em nenhum lugar. Ele sentia o desespero pulsando junto ao seu coração. “O que aconteceu?” – ele pensava. – O que realmente aconteceu? – disse para si mesmo. Por mais que suas memorias ainda estivessem cobertas por uma grossa cortina de neblina, Bruno sentia culpa, mas não sabia ao certo de quê. Talvez culpa por não ter sido tão corajoso, ou forte, talvez por ter dormido, ou por não saber o que de fato aconteceu. “Eles saíram! Foi isso” – Bruno pensou tentando convencer a si mesmo. Bruno saiu à procura deles pela vizinhança. Procurou por algum tempo, nas lojas ali perto, na padaria, no mercadinho e até perguntou para algumas pessoas nas ruas, mesmo que a maioria desses odiassem a tal família. Bruno estava cada vez mais desesperado e resolveu voltar para a casa, na esperança de que eles já estivessem lá e tudo o que aconteceu foi um simples desencontro. Chegando perto da casa, porém, notou o portão arrombado e mais uma vez seu coração quase saiu pela boca. Correu, entrou na casa. Chorou. Seus pais estavam atirados ao chão da sala, havia sangue, o bastante para nunca mais esquecer. – Pai! – disse enquanto sacudia Matheus. Estava morto.
Bruno chorava desesperadamente. – Bruno... – disse Júlio com dificuldades. – Pai! – disse Bruno saltando em direção a Júlio – Pai! Que bom que você está bem... – parou de falar quando sentiu sua mão úmida, olhou e viu que estava cheia de sangue, a recolheu e notou o enorme buraco no peito de Júlio. – Bruno... – Você vai ficar bem pai, eu juro, tente não se esforçar, pode ser perigoso – disse Bruno sorrindo de tristeza. Bruno sabia que o ferimento era grave o suficiente para nenhuma esperança ser criada. – Não!... Bruno... – Júlio tinha dificuldade para falar, havia sangue na sua boca – Fuja! Por favor. – Não posso te deixar sozinho. Tenho que pedir ajuda – disse procurando o celular no seu bolso. Começou a digitar os números. Júlio colocou a mão por cima do celular. – Por favor!... Fuja! – Para onde? Eu não posso... – Por mim... Júlio fechou os olhos. Bruno chorou de desespero novamente. Imagens começaram a se formar na cabeça de Bruno, havia sangue, muito sangue, e aquela criatura. Bruno ficava cada vez mais com medo, pois cada vez mais as imagens eram mais assustadoras e reais. Então começou a ouvir a voz de Júlio dizendo para fugir. Júlio estava morto agora. As vozes viam de dentro da cabeça de Bruno, o qual percebeu que tinha, realmente, que fugir. Correu para o quarto, pegou a mochila, abriu a gaveta e começou a pegar algumas roupas. Chovia forte do lado de fora, muito forte, aliás. Houve um estrondo nos céus. A energia acabou. Bruno continuou pegando as roupas no escuro. Uma luz forte surgiu apontando para seu rosto. Uma lanterna. Ao lado de uma arma. – Largue a mochila! Central, encontrei.
Era um policial. Logo eram vários, com varias lanternas e armas apontadas para Bruno. Bruno sabia que eles não vieram ajudar. O algemaram. Achavam que Bruno tinha feito aquilo, uma vez que suas mãos e roupas estavam sujas de sangue. – Não fui eu! Vocês precisam me ajudar! – Foi pego tentando fugir do local – disse o policial. – Eu posso explicar. – Espera, você é aquele garoto da quarta série... Os policiais se assustaram por estar diante de tal presença. – Você deveria estar morto depois daquilo! Mas dessa vez você não escapa, ninguém sobrevive duas vezes à sentença de morte. Você foi liberado por bom comportamento e faz uma coisa dessas depois. Você é louco! – disse o policial. Bruno sabia que não adiantava falar mais nada, não naquela situação. Os policiais, então, o guiaram para a viatura, a qual o iria levar para Delegacia Central da cidade. Os vizinhos olhavam com raiva, era possível ouvir alguns falando sobre Bruno ser louco, até possuído, e que ele deveria morrer para pagar por isso. Jogaram Bruno na viatura como se fosse um animal morto. Entraram dois policiais, um de cada lado, bloqueando as portas, além de um terceiro, que iria dirigir. O carro estava bem rápido e o motorista ria, falando que a justiça tarda, mas não falha. Os policiais do banco de trás estavam com medo, de certa forma, de Bruno. O carro, então, entrou em um túnel, escuro. Não era possível ver praticamente nada, as poucas luzes que iluminavam o túnel estavam apagadas. Somente o farol do carro iluminava o longo caminho. Então mais uma vez Bruno viu aquela criatura, desta vez na frente do carro. E mais uma vez Bruno constatou que ele era o único que a via.
O carro, porém, a atravessou, como se ela não estivesse ali. Bruno olhou para trás para constatar o ocorrido, mas não a viu. Virou–se de volta e ali estava a criatura, sentada no banco dos passageiros. Suas garras estavam dentro do corpo do motorista. Então a criatura girou o punho. O policial urrou de dor e caiu com o rosto no volante, ativando a buzina e sirenes. A criatura havia sumido novamente. Os outros dois policiais se assustaram, não sabiam o que havia acontecido. O policial a direita de Bruno pulou para frente do carro, tentando controlar o volante. O outro policial estava paralisado de medo, até que o seu celular tocou, ele atendeu. – Alô?! – disse em um tom neutro, como se não tivesse controlando seus atos – É para você... – disse entregando o celular para Bruno. Bruno não estava entendendo o que estava acontecendo, era tudo tão rápido. Contudo pegou o celular. No visor aparecia o nome “Lucas” – Alô?! – Quando o túnel acabar vai ter uma curva fechada, é necessário que pule. – O quê? – disse sem entender a situação. – Pule ou morra – a ligação foi finalizada. Bruno devolveu o celular. – Nós precisamos pular! – disse Bruno para os policiais. De fato o corpo do motorista não permitia tomar o controle do veiculo, se realmente existisse uma curva fechada não seria possível evitar a queda. – Calado! – disse o que tentava tomar a direção. – Têm uma curva, não vamos conseguir... – Eu disse para ficar calado! – repetiu o policial. O outro policial, a esquerda de Bruno ainda estava estranho. – Precisa pular! – disse olhando para Bruno. O policial abriu a porta esquerda. – Pule, agora. – Você vêm junto! – disse Bruno pulando sobre o policial, fazendo com que os dois caíssem.
Logo que isso aconteceu o túnel acabou, e de fato havia a tal curva. O carro quebrou a proteção e caiu, explodindo. Bruno e o policial se machucaram bastante, e ficaram bem próximos a margem de cair também. O policial voltou ao normal. Colocou as mãos na cabeça, parecia desesperadamente com medo. Virou–se e viu Bruno, achava que toda a culpa havia sido dele. Começou a afastar, de costas, com medo de Bruno. – Cuidado! – disse Bruno indo a sua direção. –Não... Não se aproxime! – dizia amedrontado. – Cuidado! – gritou Bruno. Mas era tarde demais. Com a desatenção do policial frente ao medo, ele havia caminhado de volta para o meio da rua. Um caminhão, que estava bem rápido, se aproximava, o motorista tentou frear de forma tão brusca que o caminhão tombou e acertou o policial de forma que levou parte do seu corpo junto. A entrada do túnel foi bloqueada pelo caminhão, o qual pegava fogo agora. Bruno não podia acreditar no que havia acontecido e no que estava vendo. Estava paralisado tentando digerir as informações. Porém algo quebrou a atenção, um toque, instrumental, clássico, com timbre alto nos metais. Era o celular do policial. O celular caiu quando o policial foi atingido, e estava quebrado. Viavelmente inutilizável. Bruno o pegou. O pequeno pedaço de tela que sobrava mostrava uma mensagem: “Fuja!”. Bruno então se lembrou das palavras de Júlio. E lembrou–se também que precisava fugir, mas não sabia o porquê nem para onde. Largou o celular e olhou em volta, estava tudo bloqueado, para fugir teria de descer o barranco. E foi o que ele fez, cautelosamente foi descendo, passou ao lado da viatura que havia caído e viu os corpos dos policiais sendo queimados pelas chamas do carro. Continuou indo, até encontrar uma pequena fenda nas rochas, onde entrou, decidindo se esconder. Logo apareceram helicópteros de emissoras de televisão e equipes de busca área.
O tempo passava, já estava ficando escuro. Era possível ouvir os latidos dos cães policiais se aproximando. Então surgiu uma luz, não era branca, nem amarela, diria que meio laranjada, ou vermelha, isso, era de fato vermelha, como uma chama, era uma chama, ou algo do tipo. Seja o que for se aproximou de Bruno o suficiente para que ele notasse sua forma. Uma bola de fogo, com asas tão puras como a de um anjo e com caudas que pareciam fitas em chamas. Era um ser muito bonito, que passava uma sensação de paz inigualável. Mesmo não tendo boca para falar Bruno podia a ouvir dizendo, em sua mente, para que a seguisse. Bruno estava encantado, esticou seu dedo e a tocou. Logo após Bruno sumiu em chamas, juntamente com a tal criatura.
Um som sepulcral Capítulo 02 A primeira família adotiva de Bruno não foi muito agradável, não que fossem maus, pelo contrário. Mas o caso é que eram raros momentos em que lembravam que Bruno existia. E uma coisa essencial para uma criança, adotiva, é, de fato, atenção. Aos seus sete anos e meio chegou ao auge da solidão, quando toda a sua família adotiva viajou, sem ele. Bruno queria ir, mas o caso não permitia. A família adotiva havia ido a um shopping, Bruno resolvera ficar em casa estudando, não gostava muito de shoppings, tinha até medo, pode–se dizer. Mas o caso era que sua mãe adotiva – uma mulher de quadris avantajados e seios tão grandes quanto o péssimo gosto para escolha de suas
roupas, que no geral eram vestidos floridos na tonalidade errada, com flores erradas e que ficava extremamente estranho no seu corpo – havia ligado para ele, falando que haviam ganhado cinco passagens para uma viajem mágica em Orlando, o que era, de fato, uma enorme sorte, o que piorava a situação. Com uma voz toda doce, que chegava a ser enjoativa, a mãe adotiva de Bruno explicou que foram a ultima família a ser sorteada, teriam de correr para o aeroporto para conseguirem embarcarem no avião. E com uma voz mais doce ainda perguntou se, de alguma maneira, Bruno não se importava de ficar, já que eram somente cinco passagens, uma para ela, outra para o seu pai adotivo, um homem tão bizarro quanto seu nome, e as outras para seus irmãos adotivos, uma garota alta e gótica, um garoto chato e assassino de formigas, e uma menina de uns dois anos de idade que mordia tudo o que via. Antes que Bruno pudesse perguntar algo sobre como iria ficar, o que iria fazer, ou qualquer coisa que geralmente precisam ser perguntas nessas situações, sua mãe adotiva desligou o telefone, logo depois de um rápido e animado: “Tchau”. Foram todos, pois Bruno achava que mesmo que falasse que queria ir ou que não queria ficar sozinho não iria adiantar, e ele estava certo. “Dez dias” – Bruno pensava – “em Orlando”. Claramente Bruno estava chateado. Teria de se virar durante dez dias, enquanto sua família adotiva estava em Orlando. No primeiro dia Bruno acordou e fez seu café da manhã, comeu. Arrumou–se. Saiu. Pegou um ônibus para o colégio, estudou. Voltou. Fez seu, simples, almoço, comeu. Lavou as louças. Descansou. Estudou a matéria do dia, matemática. Tomou banho. Preparou as sobras do almoço, comeu. Dormiu. O segundo dia começou parecido, com o mesmo pão seco no café da manhã. Seguido do uniforme uniformemente amarrotado. O mesmo ônibus lotado, o qual Bruno não pode usufruir, pois estava sem dinheiro para pagar a passagem e no qual o motorista sentiu pena, mas como disse: Eram as regras da empresa. Bruno voltou para casa cabisbaixo. Dormiu, muito. Acordou, felizmente. Tomou banho, rápido. – A coisa mais sensacional que acontecia quando bruno tomava banho era que ele se sentia um só com a água, de algum modo, o que fazia suas lagrimas sumirem enquanto a água escorria pelo seu rosto. Outra coisa incrível que acontecia era de que Bruno tomava banho de olhos fechados, em grande parte do tempo, como todo garoto daquela idade ele sentia medo, mas esperava que, de algum modo, algo aparecesse quando ele abrisse os olhos e, seja o que for, não apareceu dessa vez.
Não tinha o que comer, já que uma das coisas que sua família adotiva iria fazer no shopping eram as compras de supermercado, o que, felizmente, para eles, acabaram não fazendo. Estava com fome. Só lhe restava pensar, não havia mais nada o que fazer. Bruno pensava muito naquele momento, mas nenhum pensamento era mais forte quanto o de ter uma companhia. Pegou seu bloco de anotações e uma caneta, preta. Abriu em uma página em branco, qualquer. Começou a escrever a história de um garoto chamado Bruno, o qual tinha um caderno mágico, mas Bruno não sabia disso, já que o caderno era novo, caderno esse ganho de presente de uma fantástica madrinha adotiva, que visitara Orlando e havia trago esse mágico artefato de presente para seu amado sobrinho. Mas o interessante é que Bruno começou a escrever no caderno mágico a história de uma, linda, garota, chamada Ana Lúcia, a qual era especial não só pelo fato de que era sua namorada, mas, também, por ser a garota mais incrível de todas, para Bruno, e para garotos como Bruno, não que existissem tantos guerreiros com menos de 10 anos e mais de 3 guerras, das quais saiu como herói, nas costas. Segundo a história do personagem da história de Bruno, Ana era alguns anos mais velha, 10 anos, para ser exato. Seus pais eram separados, moravam em cidades diferentes e amavam Ana. Ana, como disse inicialmente, era linda, com lindos cabelos negros, lisos e grandes, mas não tão grandes quanto ela. Sua pele era clara, e macia. Ela era inteligente, muito. Não estudava no mesmo colégio que Bruno, pois o namoro dos dois era segredo, assim como o passado de guerra de Bruno. Namoravam a três anos e meio, e esse e todos os outros detalhes – seja o nome dos pais dela, a casa onde morava, o tipo de gato favorito, a pressão do beijo – foram todos criados por Bruno e aplicados entre as linhas daquele caderno mágico. Porém nada aconteceu, pois Bruno não sabia que o caderno era mágico e a mágica não acontece se você não acredita nela. Bruno não acreditava que a mágica do caderno existia, pois não sabia que ela, sequer, poderia existir. Mas o caso é que Bruno, criador do guerreiro, também chamado de Bruno, sabia, pois ele havia criado o caderno e a mágica que o envolvia. Então algo incrível aconteceu, algo que jamais, nunca, havia acontecido antes, Bruno dormiu antes que terminasse a história. Acordou algumas horas depois, percebeu que havia uma passagem de ônibus na sua mão. Levantou–se animado, arrumou seus materiais e pegou o primeiro ônibus que viu, seguiu para a casa de sua amiga, Michelle, onde ficou o restante dos dias, felizmente.
Nenhuma noticia de seus pais adotivos até então, na verdade a única noticia de sua família adotiva que Bruno teve depois da ligação, avisando sobre a viajem, foi outra ligação, mandando Bruno arrumar a casa, pois estavam voltando. Nada mais foi adicionado. *** Bruno apareceu, junto com a criatura, em um quarto, escuro. A criatura fez uns barulhinhos animados, bem baixinhos, e sumiu. Bruno ouvia um barulho de água caindo. “Chuveiro” pensou. Tentou caminhar pelo quarto, rumo a porta, de onde provinha luz. Caiu, tropeçando em alguns fios. Fez–se barulho. O chuveiro foi desligado. Com medo, Bruno entrou debaixo, do que percebeu ser uma cama. Escondeu–se. Seu corpo estava gelado de medo, ou talvez fosse só o piso frio. Por debaixo da cama viu pés, vinda do corredor de onde provinha a luz, se aproximar. Confirmou, era mesmo medo. Assustou–se, a companhia havia sido tocada. Os pés seguiram em outra direção. Bruno manteve–se durante muito tempo em baixo da cama, com medo. Ouvia, uma vez ou outra, gritos e risadas. Havia mais de uma pessoa naquele local, seja lá onde fosse. Depois de algum tempo Bruno resolveu sair de baixo da cama. Saiu. Andou, com cuidado, até o corredor. Aquele lugar era extremamente conhecido por Bruno. Porém, antes que Bruno pudesse pensar direito, um grito, forte, percorreu o lugar. Vinha da sala, agora Bruno sabia disso, pois sabia onde estava, era sua casa. Correu direto para a sala. Estava confuso. Viu ele mesmo no chão. Estava feliz. Viu seus pais, assustados, novamente. Estava bravo. Viu aquela criatura, novamente. Não pensou e pulou em sua direção, com raiva e um punho armado. O soco não acertou a criatura, na verdade o golpe a atravessou, saindo do outro lado. – Que feio! Atacando uma dama feito eu pelas costas. – disse a horrenda criatura. Bruno não sabia o que fazer, correu. Parou no meio do caminho, pegou uma espada japonesa que Júlio tinha pendurado na parede. A empunhou. Ficou em posição. A criatura apareceu ao lado dele, mas rapidamente Bruno deferiu um golpe com a espada, o qual, mais uma vez, não a acertou. A criatura ria.
Bruno ficava cada vez mais com raiva, e tentava cada vez mais acertar a criatura, mas sem sucesso. A criatura começou a se aproximar. Bruno então inferiu o golpe direto, com a ponta da espada, na, possível, barriga da criatura. A criatura parou, parecia paralisada, seus olhos estavam com a coloração fosca de um azul brilhante. Bruno retirou a espada, o buraco que havia feito começou a se fechar. Bruno sabia que não tinha muito tempo. Voltou para a sala. Seus pais ainda estavam amedrontados. – Vamos! – gritou Bruno para seus pais– Nós temos de sair daqui. Seus pais concordaram com a cabeça e seguiram rumo ao portão. Bruno tentou pegar o seu corpo no chão, não conseguiu nem sequer tocar nele, algo impedia. Pegou, então, a espada, correu para o portão e saiu, junto de seus pais. Bruno, Júlio e Matheus corriam pelas estreitas ruas da cidade. Estava frio e escuro, não havia muitas pessoas na rua, devido ao horário. Então, todos os três se esconderam em um beco. Descansavam da corrida. A criatura, que já havia voltado ao normal, arrombou o portão e saiu. Por cerca de dez horas, eles se mantiveram escondidos. Revezaram a vez de quem ficava acordado. Estavam aguardando amanhecer para saírem dali. Faltava pouco. Nenhum deles ousava falar nada, mas não foi necessário, a criatura, enfim, achou eles. – Júlio! Acorda! – Gritou Matheus. Júlio levantou com um pulo. Mas era tarde demais, a criatura havia quebrado o pescoço de Matheus. A ira subia por entre as veias de Júlio, o qual saltou, com o punho armado na frente da criatura. O golpe errou, novamente. A criatura, porém, introduziu as suas garras no peito de Júlio, fazendo um buraco horrível. Bruno, com a espada, impediu que ela continuasse. Júlio caiu ao chão, estava sofrendo de dor. – Júlio! Vá para casa, por favor. – disse Bruno chorando – Não vou deixar que ela te mate... Júlio levantou–se e, com dificuldades, pegou o corpo de Matheus, pois pensava em dar um enterro, ao menos, para ele. Seguiu rumo a casa.
Bruno pensava em como matar ela, mas nada veio a mente em tempo hábil o suficiente, pois ela despertou novamente, parecia mais furiosa. Bruno correu, a criatura corria atrás. Bruno correu o suficiente para chegar ao parque da cidade, onde continuou correndo. A criatura conseguiu o alcançar. – De novo o truque sujo não – apelou a criatura. Mas era tarde, pois Bruno havia penetrado ela com a espada, e não tirou a espada dessa vez. Bruno voltou a correr, na direção oposta, queria ir para casa e ver se tudo estava bem. O sol já estava alto. O tempo passava diferente. Enquanto Bruno corria algo acertou seu rosto, com força, fazendo–o cair, mas não sobre o gramado do parque e sim sobre o concreto de um túmulo. O que acertou seu rosto foi aquela criatura flamejante. A criatura, mais uma vez, desapareceu. Estava chovendo, uma chuva cinzenta. Então Bruno levantou–se, estava em um típico cemitério, tipicamente triste. Percebeu que estava havendo um enterro ali perto, onde não havia ninguém além de dois homens, coveiros, que abaixavam o caixão pela cova, rasa. Bruno observou, quieto. Assim que o “enterro” terminou e os homens foram embora, ele se aproximou. Eram 2 túmulos, um ao lado do outro, o mais recente havia um nome: Ana Júlia. O que se encontrava ao lado desse o assustou ainda mais, pois contia, nada menos que, o seu nome: Charles Bruno. Antes que Bruno pudesse entender o que estava acontecendo houve uma explosão, não muito longe dali. Bruno correu para fora do cemitério e se encontrou em um cenário de caos, um pós apocalipse. Monstros eram os únicos que andavam pelas ruas, milhares deles. Algo então agarrou Bruno pelo braço e o puxou para uma viela. – Cuidado garoto! Cartola, luvas brancas, terno fino, maquiagem pesada. Aquela pessoa que havia o puxado, era diferente, e transmitia uma enorme segurança para Bruno. Retirando a cartola e fazendo uma suave reverencia ele se apresentou: – Olá, não sei se está lembrado de mim. – voltou ao normal e estendeu a mão – Sou Lucas, seu pai.