Síndrome Criança Espancada Atuação Enfermeiro

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PEDRO ANASTÁCIO DOMINGOS

SINDROME DA CRIANÇA ESPANCADA E ATUAÇÂO DO ENFERMEIRO

UNICASTELO SÃO PAULO 2011


UNIVERSIDADE CAMILO CASTELO BRANCO GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

PEDRO ANASTÁCIO DOMINGOS

SINDROME DA CRIANÇA ESPANCADA E ATUAÇÂO DO ENFERMEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à disciplina de Desenvolvimento de Projetos do 8° semestre do curso de graduação em enfermagem da Universidade Camilo Castelo Branco, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Enfermagem. Orientadora: Professora Ms. Ana Maria Costa Carneiro

SÃO PAULO 2011


D715S Domingos, Pedro Anastácio Síndrome da Criança Espancada/Pedro Anastácio Domingos – São Paulo: 20011 Orientadora: Ana Maria Costa Carneiro TCC (graduação) – Unicastelo, Faculdade, de Ciências da Saúde, Graduação em Enfermagem, 2011. 1.Criança.2.Violência. 3. Síndrome.


Pedro Anastácio Domingos

Síndrome da Criança Espancada

Monografia apresentada como requisito para obtenção do titulo de Bacharel em enfermagem pela Universidade Camilo Castelo Branco, defendida e aprovada em 29/11/2011

BANCA EXAMINADORA

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AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por todos os dias da minha vida. Pela força que me faz acreditar que toda manhã é sempre o recomeço. Pelos meus familiares com quem sempre posso contar. Em especial aos meus pais e as razões da minha vida: Vânia, Maria Fernanda, Kainã, Kaio, Ana Liz. Aos professores (Donato, Edna, Liliana, Claudia, Cristina, Esmeraldina, Roberto, Pâmela, Márcia, Dias) e a minha orientadora, Ana Maria Costa Carneiro. Também aos colegas que juntos dividimos nossas manhãs na academia, e nos Campos de estágios sofridos, porém necessários.


Não digam nunca: Isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia. Numa época em que reina a confusão. Em que corre o sangue. Em que o arbitrário tem força de lei. Em que a humanidade se desumaniza. Não digam nunca: Isso é normal! Bertolt Brecht.


RESUMO DOMINGOS, PA. Síndrome da Criança Espancada. A violência infantil vem se destacando como um problema de preocupação para a saúde pública. O presente estudo objetivou descrever a atuação do Enfermeiro frente a um caso de síndrome da criança espancada, por meio de entrevista semi-estruturada gravada e transcrita, com análise qualitativa seguindo a técnica de análise do discurso do sujeito de Bardin. Foram entrevistados Enfermeiros que atuam em unidade de pronto atendimento infantil e pediatria, de um hospital municipal da região leste da cidade de São Paulo. Os resultados demonstram que durante o primeiro atendimento não existe a utilização da sistematização da assistência de enfermagem o que dificulta a identificação da violência. Palavras chaves: Criança, Violência infantil, Enfermeiro.


ABSTRACT DOMINGOS, PA. Battered-child syndrome. The child violence has been a problem for the public health. This research aimed describe the nurse’s action about a case of battered-child syndrome, through a semi-structured interview recorded and transcribed, with qualitative analysis following the analysis technique of Bardin’s subject speech. Were interviewed nurses working in emergency child care and pediatrics of a municipal hospital in the east region of São Paulo. The results show that during the first treatment there is no use of the systematization of nursing care what turns difficult the identification of the violence. Keywords: Child, Child violence, Nurse.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................. Erro! Indicador não definido. 1.1 Síndrome da Criança Espancada ao Longo da História . Erro! Indicador não definido. 1.2 Conseqüências da Síndrome da Criança Espancada..... Erro! Indicador não definido. 1.3 Legislações para Síndrome da Criança Espancada ....... Erro! Indicador não definido. 2. OBJETIVO........................................................................ Erro! Indicador não definido. 3. METOLOGIA .................................................................... Erro! Indicador não definido. 3.1Tipo de Estudo. ................................................................ Erro! Indicador não definido. 3.2 Local de estudo .............................................................. Erro! Indicador não definido. 3.3 Participantes do estudo .................................................. Erro! Indicador não definido. 3.4 Instrumento de coleta de dados ...................................... Erro! Indicador não definido. 3.5 Procedimentos de coleta de dados ................................. Erro! Indicador não definido. 3.6 Análise dos resultados .................................................... Erro! Indicador não definido. 3.7 Procedimentos éticos...................................................... Erro! Indicador não definido. 4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO Erro! Indicador não definido. 4.1. Classificação das respostas .......................................... Erro! Indicador não definido. 4.2. Discussão ...................................................................... Erro! Indicador não definido. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................. Erro! Indicador não definido. 6. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS ................................... Erro! Indicador não definido.


ANEXO 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ANEXO 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS – ESCLARECIDO ANEXO 3 – CARTA DE AUTORIZAÇÃO DO CEP APÊNDICE – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS


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1. INTRODUÇÃO A crescente divulgação pelos meios de comunicação, cada vez mais freqüentes, sobre a violência contra crianças, despertou o interesse pelo estudo sobre esse tema, por entender a importância da atuação do Enfermeiro frente a esse agravo e como profissionais da saúde estão envolvidos diretamente com a resolução de parte desta problemática, servindo de mediadores entre a vítima e os agressores. Para Martins (2009), a agressão a criança muitas vezes ocorre no ventre da mãe por questões de desnutrição, violência contra a mulher e na infância quando enfrenta violências que vão desde as de ordem social, física, cultural e racial. Mendonça (2002) afirma que os gastos econômicos empregados para a assistência médica (tratamentos e reabilitações), sistema judicial e penal, os prejuízos sociais (diminuição da produtividade), o tratamento de lesões e traumas que são gerados pela violência provocam um grande impacto em longo prazo na economia. O hábito de se utilizar medidas de punições para crianças, até mesmo na escola, como ficarem ajoelhados sobre grãos de milhos, a fim de conseguir discipliná-las, nada mais é do que um ato de violência infantil. Historicamente os relatos de violência estão vinculados ao processo educativo, constituindo-se um problema histórico-cultural que perduraram todas as épocas até a atualidade, nas suas diferentes formas de expressão (ASSIS, 2003; MINAYO, 2002). Quando a violência ocorre no ambiente intra-familiar os pais tentam justificar de forma não convincente e contraditória; alegando que o filho é desobediente e que muitas vezes precisam agir de forma enérgica para discipliná-lo. Segundo Fontes e Lira (2005), é extremamente importante realizar diagnóstico diferencial entre as lesões causadas por violência, acidente ou doenças e manchas naturais. Para Sayão (2010), baseado no estatuto da criança e adolescente (ECA), o responsável pela criança que baterem em crianças serão encaminhados para um programa oficial ou comunitário. Ressalta ainda o mesmo autor que o objetivo não é de punição mas de conscientizá-los de que os castigos físicos não são eficazes. Comportamentos agressivos ou apáticos, fugas da escola ou de casa, podem está relacionados com violência. O Enfermeiro deve saber reconhecer e não omitir a


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ocorrência de uma criança vitima de maus tratos (ASSIS, 2003). Nos casos de violência física as lesões se apresentam como várias fraturas no corpo e pode aparecer escoriações, equimoses, queimaduras e marcas de unhas e de objetos como cabides e fivelas de cintos na pele (BRASIL, 2009). Por ser membro de um seguimento da saúde acredito ser de vital importância para o enfermeiro desenvolver habilidades e competências para saber lidar com uma série de desafios que irão surgir quando estiver atuando e atender crianças vítimas de violência física e seus agressores. A equipe de Enfermagem consciente de sua função em relação à violência física, precisa orientar os pais e fornecer alternativas estimulando-os a utilizarem outros meios de disciplina e a lidarem com o estresse. Quando os enfermeiros estiverem frente a esse tipo de ocorrência, devem conhecer e acionar as redes de apoio como o posto de saúde da área de residência da família, o conselho tutelar da região, a escola da criança (ALGERI & PORTELLA, 2006). O Enfermeiro é o profissional da saúde que permanece mais tempo dentro de uma unidade hospitalar, unidade básica de saúde ou outros setores do seguimento, é necessário que ele saiba enfrentar as situações de violência contra criança, a fim de que possa agir com racionalidade no momento da tomada de decisão. É importante e decisiva a ação do Enfermeiro enquanto: prestador dos cuidados, e educador, diante da realidade diária da violência infantil sofrida pela criança no seio familiar, buscar ações que possam diminuir o sofrimento dos indivíduos envolvidos neste processo, na criação de alternativas, visando reverter esse grave problema de saúde pública (ALGERI, 2006). Afirma ainda a autora que é de fundamental importância que os Enfermeiros tenham a percepção de que são agentes essenciais na transformação desta problemática quando no desenvolvimento de suas atividades de cuidado educação e pesquisa. Desta forma o presente estudo pretende descrever a atuação do enfermeiro frente à Síndrome da criança espancada.


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1.1 Síndrome da Criança Espancada ao Longo da História

A primeira vez em se teve relato da Síndrome da Criança Espancada, foi em 1962, através de estudos realizados pelo pediatra Henry Kempe, que percebeu durante seus atendimentos à crianças e adolescentes, a presença de múltiplas fraturas consolidadas, cicatrizes e outras lesões. Segundo Brêtas (1994), até nos mais antigos livros da história da civilização como a Bíblia e o Alcorão, a violência infantil é citada como forma de sacrifício para agradar a Deus. Também eram cometidos pelas civilizações mais antigas, violências como infanticídio com o intuito de eliminar crianças portadoras de defeitos físicos, ou para equilíbrio dos sexos, por motivos religiosos, como medida econômica nos grandes flagelos ou por não agüentarem longas caminhadas, as crianças também eram mortas ou abandonadas para morrerem desnutridas ou devoradas por animais. Era direito de o pai reconhecer ou não o direito de viver de seu filho (SCHERER, 2000). No século XVII, a teologia cristã (Santo Agostinho), elaborou uma imagem dramática da infância, em que logo ao nascimento a criança era símbolo da força do mal, um ser imperfeito, esmagado pelo peso do pecado original. Nesse período, amamentá-los era considerado prazer ilícito da mãe que causaria perda moral da criança. Ainda neste século, a criança era incluída nas brincadeiras sexuais do adulto (BRÊTAS, 1994). Já no século XIX, como afirma Scherer (2000), no Brasil os bebês brancos ficavam a cargo das amas negras, e concorriam com as crianças cativas para sobreviverem e no final do mesmo século as crianças inglesas, de quatro a oito anos de idade, trabalhavam em fábricas e em minas de carvão por até 16 horas diárias. O controle de natalidade chinês previa que o casal só poderia ter três filhos e o quarto seria jogado aos animais. No século XX, a criança passa a fazer parte da humanidade, e a família é a responsável por tudo de mal que lhe pudesse acontecer. Atualmente a infância é considerada a fase fundamental da existência do homem (SCHERER, 2000). Mesmo sendo a criança valorizada pela sociedade e protegida por políticas públicas, a violência ainda permanece como grave ameaça às suas condições de vida, e tem se perpetuado até os dias de hoje, sendo responsável por agravos e seqüelas que atingem as crianças e


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adolescentes em plena fase de crescimento e desenvolvimento, constituindo a principal causa de morbi-mortalidade no grupo jovem (SOUZA, 2004; BRITO, 2005).

1.2 Conseqüências da Síndrome da Criança Espancada

Violência é qualquer evento que implica em danos físicos ou psicológicos e pode ser cometida pelos pais da criança e essas ações podem ameaçar o desenvolvimento físico ou psicológico da criança (BAZON, 2008). Durante o desenvolvimento infantil qualquer violência contra a criança, acarreta prejuízos no desenvolvimento e crescimento biopsicossocial (SOUZA & SANTANA, 2007). O que se observa atualmente é uma banalização das pessoas pela vida e atitudes desumanas são praticadas contra seres humanos e principalmente contra crianças. As que sofreram espancamentos na infância procuram manter-se isoladas e podem apresentar profunda depressão, são amedrontadas e ansiosas e apresenta baixa-estima e falta de confiança (SALOMON, 2002). Crianças que passaram por situações traumáticas sentem influências decisivas nas conexões neuronais do cérebro, causando transtornos psiquiátricos na fase adulta (BRAUN, 2004). A violência quando acontece no próprio lar, pode ter efeitos devastadores, porque as experiências vividas na infância refletem na fase adulta (RAMOS; SILVA, 2011). Tal vez por essa razão as crianças estejam cada vez mais violentas e praticando atitudes de adultos desequilibrados, vivendo nas ruas, longe dos seus lares e já não sentem segurança dentro da sua própria casa.

1.3 Legislações para Síndrome da Criança Espancada O avanço na luta contra os maus tratos à criança ocorreu em 1846, nos Estados Unidos da América (EUA), quando a Sociedade para prevenção da crueldade contra socorreram a criança Mary Ellen, que era maltratada severamente pelos pais adotivos. Essa intervenção se fez por alegar que a criança era um membro do reino animal e que,


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portanto, seu caso poderia ser regido pelas leis que punem a crueldade contra os animais (BRÊTAS, 1994). Antes da constituição Brasileira de 1988, os pais consideravam as crianças como uma propriedade. Depois esse grupo passou a ser reconhecido como sujeitos de direitos e se tornou um grande avanço na garantia da proteção à infância e adolescente (SÃO PAULO, 2004). Evidentemente que ouve um avanço nas leis de proteção a infância e a juventude com a criação do ECA em 1990, como afirma o Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (BRASIL, 2004), prevenir a ameaça ou violação dos direitos infanto-juvenis passou a ser dever de cada um e da sociedade de modo geral. Qualquer cidadão pode testemunhar ou notificar essa violência, mas segundo artigo 245 do ECA torna obrigatório médicos, enfermeiros e professores ou qualquer instituição de ensino e hospitalar assim como também seus responsáveis notificarem ao conselho tutelar nas localidades onde existir. O Conselho Tutelar é uma instituição criada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente nos artigos 131 a 140, com a importantíssima missão de zelar pelo cumprimento de todos os direitos garantidos a esses indivíduos em formação (TEIXEIRA, 1998). Delegacia Especial de Proteção à Criança e ao Adolescente – DPCA, que atualmente funciona em horário comercial. Em situações de abuso sexual, violência física grave e negligência severa, notificar ao plantão policial do hospital ou Delegacia de Polícia mais próxima da Unidade de Saúde. Defensoria Pública/ Núcleo de Atendimento da Criança e do Adolescente (NAECA): Atendimento especial e integrado às crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade da família, social e em conflitos com a lei. Divisão de Atendimento ao Adolescente (DATA): Atende adolescente infrator; Instituto Médico Legal: Elabora laudos com provas periciais a serem utilizados como provas forenses. Promotorias de Justiça da Infância e Juventude: Uma das atribuições é garantir o acesso a educação; Vara da Justiça que cuida dos interesses da criança e adolescente: Julga os pedidos de adoção entre outros.


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Apesar de existir grande numero de parcerias que possam ajudar os profissionais de saúde na identificação e notificação da violência física infantil, ainda esta longe de realizar uma atenção eficaz contra a síndrome da criança espancada.


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2. OBJETIVO Descrever a atuação do Enfermeiro frente à Síndrome da Criança Espancada.


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3. METOLOGIA 3.1Tipo de Estudo. Estudo de campo de caráter exploratório, descritivo, com análise dos resultados qualitativa. Segundo Gil (1991, p.45-46) o estudo de campo tem como finalidade familiarizarse com o problema e torná-lo explicito ou a construir hipóteses e aprimorar as idéias ou descoberta de intuições. Um estudo exploratório envolve levantamento bibliográfico, entrevistam com pessoas que tiveram (ou tem) experiências práticas como problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Para Köche (1997, p.126) este tipo de pesquisa é ideal para casos que não apresentem um sistema de teorias e conhecimentos desenvolvidos. Também é particularmente útil quando se conhece vagamente o problema de pesquisa (MATTAR, 1999, p.80). Vergara (2000, pág. 47) afirma que a pesquisa descritiva expõe as características de determinada população ou fenômeno, permite correlacionar as variáveis e define sua natureza, e serve de explicação, como por exemplo, a pesquisa de opinião. O principal objetivo da pesquisa descritiva é descrever as características da população em estudo estabelecendo relações entre as variáveis (SILVA, 2003, p.65).

3.2 Local de estudo O estudo foi desenvolvido em um hospital público municipal situado na zona leste da cidade de São Paulo, nos setores de pronto socorro infantil e pediatria contendo registros em prontuários de crianças vítimas de violência física que tenham sido atendidas na instituição.

3.3 Participantes do estudo Para este estudo foram convidados Enfermeiros (as) dos períodos de trabalho da manhã, da tarde e noturno num total de 08 profissionais com no mínimo 12 meses de atuação nos setores de Pediatria e Pronto atendimento.


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A amostra se caracterizou por enfermeiros que aceitaram participar do estudo após o esclarecimento dos objetivos deste estudo.

3.4 Instrumento de coleta de dados O instrumento de coleta de dados foi composto por duas etapas: a primeira destinada à caracterização sócio-demográfica do sujeito da pesquisa e a segunda caracterizada pela entrevista semi-estruturada. (APÊNDICE 2).

3.5 Procedimentos de coleta de dados Foram selecionados enfermeiros que atuam em unidades de Pronto Socorro Infantil e Unidade de Internação Pediátrica, foi explicado o objetivo da pesquisa e entregue termo de consentimento livre e esclarecido, e após assinados deu-se início a coleta de dados no próprio setor de trabalho. 3.6 Análise dos resultados A análise dos resultados se deu em três etapas: a primeira foi a transcrição cronológica das entrevistas. Em seguida foi realizada uma exploração dos discursos dos participantes

com

sucessivas

releituras

cuidadosas,

que

possibilitaram

o

acompanhamento e fechamento de associações em cada entrevista. Foram feitas novas leituras de toda a entrevista, grifando todas as frases que respondiam as perguntas, permitindo a obtenção de palavras chaves e seus significados. Por último identificou-se unidades de todas as entrevistas e nomeou-se de categorias e essas categorias serviram de discussão para melhor compreensão do objetivo do estudo (BARDIN, 2004). As respostas foram gravadas, transcritas e categorizadas e analisadas a luz da literatura.


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3.7 Procedimentos éticos O projeto de estudo foi encaminhado ao Comitê de ética da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, para análise e sendo aprovado em 28 de julho de 2011 pelo protocolo nº 251/11-CEP/SMS. Após aprovação foi realizado contato com a diretoria hospitalar e setor de educação permanente para coleta de dados. Os participantes do estudo foram informados e esclarecidos sobre o objetivo do estudo, assim como os direitos e deveres do pesquisador conforme consta no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 1) e a permissão dos participantes para gravação das entrevistas. Dando assim a ratificação da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO As respostas às entrevistas individuais foram gravadas e posteriormente transcritas, ao pé da letra, (ipsi líteri), preservando-se a identidade dos sujeitos da pesquisa. Para tanto se utilizou do recurso numérico a fim de identificar os entrevistados. Os discursos foram classificados seguindo a metodologia da análise do discurso de Bardin.


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4.1. Classificação das respostas Quadro1. Pergunta1. “como você atua frente a um caso de síndrome da criança espancada?”

Entrevistado 1 PSI

Entrevistado 2. Pediatria

Entrevistado 3 Pediatria

Entrevistado 4 PSI

Discurso

Palavra Chave

Significado

Discurso

[...] preenche o formulário e chama o serviço social, serviço social, serviço social junto com a enfermeira leva pra um setor jurídico.

Preenche formulário.

Burocracia

Burocracia

Envolvimento multidisciplinar

Equipe multidisciplinar

[...] A gente nunca pode dizer, é espancamento... A minha parte é atender...Passar pro serviço social e o serviço social pro conselho tutelar.

Nunca pode dizer que é espancamento. Passa pro serviço social. Serviço social leva pro conselho tutelar.

[...] Procuro por numa enfermaria que tem poucos leitos... Comunico ao serviço social.

Por em enfermaria de poucos leitos...

[...] é feita intervenções de enfermagem... A gente encaminha ao departamento de notificação.

Intervenções médicas e de enfermagem.

chama o serviço social. Serviço social leva para o setor jurídico.

Comunico ao serviço social

Encaminha para notificação.

Encaminhamento Encaminha

ENCAMINHAR

Reduzir contato

ENCAMINHAMENTO

o

Acolhimento Equipe

Envolvimento multidisciplinar

multidisciplinar

Assistir

SAE

Encaminhar

Encaminhamento


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(Continuação) Quadro1. Pergunta1. “como você atua frente a um caso de síndrome da criança espancada?”

Entrevistado 5 Pediatria

Discurso

Palavra Chave

Significado

Categoria

[...] é feito ficha no

Ficha e registro

Burocracia

Burocracia

registro do hospital,

Exame físico e

exame físico e

história

Instrumentos

SAE

colhido história com

da SAE

os pais.

Entrevistado 6 PSI

[...] Ver e faz o

Histórico,

histórico da

prescrição e

criança,prescrição,

cuidados medicar.

Aplica a SAE

Equipe multidisciplinar

cuida e medica... Contato com o

Envolvimento

serviço social.

multidisciplinar

[...] identificar, ver o

Identificar, observar

Instrumentos

que aconteceu,

e anotar tudo.

SAE

Entra em contato com o ser-viço

SAE

social...

Entrevistado 7 PSI

da

SAE

anotar tudo que a gente tá vendo pra não aparecer alguma coisa a mais e sobrar pra gente.

Entrevistado 8 Pediatria

[...] tento abordá-la,

Abordá-la,

chegar mais próximo

mais próximo dela.

pra ela, da realidade

Se sinta a vontade e

dela, pra que ela se

confiante

sinta a vontade e se sinta confiante.

chegar

Acolher

Acolhimento


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Quadro-2. Pergunta-2 “como você identificou e quais são as medidas adotadas ao atendimento de criança vítima de violência física?”

Discurso Entrevistado1 PSI

Entrevistado2. Pediatria

Entrevistado 3 Pediatria

Entrevistado 4 PSI

[...]a gente suspeita e passa o caso para a médica ... Quando é uma criança de cinco a seis anos, ela já vem falando, foi ele que me bateu... [...] Dependendo do caso aí precisa de exames que aí o médico pede/ A gente nunca pode dizer é um espancamento, é a mãe ou qualquer outra pessoa... [...] se a gente suspeitar a gente passa pro serviço social né? se a gente ver que não é nada demais, a gente só fica observando. [...]avaliação médica junto com a equipe, aí se determina e dar prosseguimento e notificar a violência ou não junto com serviço social e a psicóloga...

Palavra Chave

Significado

Categoria

Encaminhar

Encaminhamento

Envolvimento multidisciplinar

Equipe multidisciplinar

[...] precisa de exames que aí o médico pede exames para comprovar.

Procedimentos médicos

Omissão

A gente nunca pode dizer é um espancamento. [...] se a gente suspeitar a gente passa pro serviço social né?

Não identifica.

Omissão

Encaminhar

Encaminhamento

Identifica com apoio da equipe multidisciplinar

Equipe multidisciplinar

suspeita e passa o caso para a médica

Avaliação em conjunto com a equipe médica a assistente social, a psicologia e também o departamento de notificação de violência.


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(Continuação) Quadro2. Pergunta-2 “como você identificou e quais são as medidas adotadas ao atendimento de criança vítima de violência física?”

Entrevistado 6 PSI

Entrevistado 7 PSI

Discurso

Palavra Chave

[...] a gente observa que tem sinais, no exame físico, sinais de agressão, de hematomas no corpo, nas costas entendeu?

No exame físico, a gente observa sinais de agressão, hematomas...

[...] na hora da gente fazer o exame físico e fazer a evolução da criança né? a gente vai tá conversando com o médico, vamos tá discutindo entre a equipe multidisciplinar, aí é acionado o serviço social...

na hora do exame físico, para fazer a evolução da criança né? Vai tá conversando com o médico e discutindo com a equipe multidisciplinar

Significado

Categoria

Aplica a SAE

SAE

Aplica a SAE

Equipe multidisciplinar

SAE

Equipe multidisciplinar

As respostas do quadro dois foram elancadas de acordo com os sujeitos que responderam apenas um quesito da questão e foi excluído o quinto sujeito por não responder os dois itens da questão.


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Quadro-3 Pergunta-3. “Quais são as dificuldades que você encontra ou encontrou ao atendê-las?”

Discurso

Palavra Chave

Entrevistado1 PSI

[...] a dificuldade é a sonegação por parte dos próprios familiares. eles nega, a gente fica difícil, a gente ir lá e falar que foi...

sonegação por parte dos próprios familiares, eles nega, a gente fica difícil, a gente ir lá e falar que foi...

Entrevistado 3 Pediatria

[...] dificuldade que tem é aaa criança se abrir e falar né? você vai observar por sinais né? Então a dificuldade as vezes é a criança se abrir, falar entendeu? Não é tão fácil não... [...] na hora que vai puncionar a veia, se eu perceber a criança assim, meio estranho, arredia, a gente tenta tirar alguma coisa da criança, as vezes a gente consegue... [...] essa criança as vezes já vem preparada pra dizer a mentira... depois com muito jeito, ela acaba te falando, aí você consegue dar um cuidado melhor né?

Entrevistado 6 PSI

Entrevistado 8 Pediatria

Significado

Categoria

Negação pelos responsáveis

Omissão por medo de retaliação

é aaa criança se abrir e falar né?

Falta de relato verbal da criança

Omissão por medo de retaliação

puncionar a veia... meio estranho...

Realizar procedimentos

Realizar procedimentos

comportamento arredio da criança

Comportamento

Medo de retaliação

criança as vezes já vem preparada pra dizer a mentira

Falta com a verdade

Omissão por medo de retaliação

No quadro três foram excluídos os sujeitos dois, quatro, cinco e sete por não responderem os itens da questão.


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4.2. Discussão

De acordo com as questões respondidas, foram analisados os discursos e emergiram categorias, as quais relacionaram de acordo com as questões. A questão “como você atua frente a um caso de síndrome da criança espancada?” Figura 1. Diagrama da categoria Encaminhamento X Equipe multidisciplinar Categoria 1. Encaminhamento.

EQUIPE ENCAMINHAM

x

MULTIDISCIPLINAR

Encaminhamento. Encaminhamento. ENTO Para essa categoria os sujeitos entrevistados referiram ao primeiro contato encaminhar a criança vítima de violência ao serviço social, ao médico, ao setor jurídico, a psicóloga e ao conselho tutelar. As equipes de saúde deverão estar atentas no ato do atendimento, reconhecendo as situações de riscos nas famílias (alcoolismo, abusos de drogas, desagregação familiar) além de verificar sinais e sintomas sugestivos de violência tais como lesões físicas (equimose, fraturas, queimaduras, etc.) (BRASIL, 2002). De acordo com o manual para atendimento às vítimas de violência (BRASIL, 2009. p.14), o enfermeiro deve priorizar a assistência à criança e a família e depois encaminhar para os órgãos de proteção. Diante desta categoria pode-se perceber pelas respostas dos entrevistados dos quadros 1 e 2, que o encaminhamento foi uma das medidas adotadas. Fazer o encaminhamento sem haver antes uma minuciosa avaliação, dificulta à assistência adequada à criança vítima de violência física, pois as etapas da SAE são primordiais neste primeiro contato.


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Equipe Multidisciplinar

No tocante a violência física contra a criança somos todos responsáveis a prestar assistência. Segundo o (CODEPPS, 2007), a assistência às crianças em situações de violência, deve ser prestada necessariamente por equipe multidisciplinar capacitada, integrada, institucionalizada e consciente de suas atribuições para interagir com outras instituições. A equipe multidisciplinar envolvida no atendimento, citado pelos

enfermeiros

entrevistados foram: médicos pediatras, serviço social, psicólogas e conselho tutelar, como citado nos trechos dos entrevistados 1, 3, 6 e 1, 4 e 7 dos respectivos quadros 1 e 2. Nas atribuições do enfermeiro mediante ao atendimento de violência física infantil, realizar os passos da SAE seria a primeira medida adotada, o que não foi citado pela maioria dos entrevistados nas questões. Para Moura e colaboradores (2008), casos de violência não são computados e são perdidos, por despreparo dos profissionais de saúde e a violência não é reconhecida e os procedimentos não são realizados.

Profissionais da saúde desatentos na

identificação da violência mostram o despreparo no registro deste agravo, tornando inexistente uma parte das ocorrências (LEAL, 2005). Quando perguntado aos entrevistados como atuam frente uma situação de violência física infantil, analisando as respostas, não existe um critério de escolha apropriado, pois o ato do enfermeiro encaminhar a criança diretamente a outros profissionais sem antes realizar um histórico ou exame físico, descumpre com sua função caracterizando uma falha no atendimento.


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Categoria 2 Sistematização da Assistência de Enfermagem

HISTÓRICO

DIAGNÓSTICO

PLANEJAMENTO

ENFERMAGEM

ENFERMAGEM

ENFERMAGEM

EVOLUÇÃO ENFERMAGEM

PRESCRIÇÃO ENFERMAGEM

O Enfermeiro na assistência a criança vítima de violência física, exerce privativamente as etapas da SAE, uma das ferramentas que lhe confere total autonomia na assistência. Como citado por Sanches e colaboradores (2006), a enfermagem sendo a ciência do cuidado, para que possa alcançar os objetivos na assistência ao cliente deve contar com a colaboração de todas as esferas hierárquica da equipe de enfermagem. Prestar assistência a alguém é habitual do enfermeiro, porém ele já a faz de forma espontânea. O Enfermeiro é o primeiro profissional a prestar o atendimento no pronto socorro a criança violentada e ter capacidade para identificar diferentes situações de violência é fundamental. Porém afirmam as pesquisadoras Woiski e Rocha (2010), que a equipe de enfermagem cuida sem um método específico, sem seguir o processo de enfermagem, o qual é de responsabilidade legal do enfermeiro, a fim de direcionar as ações do cuidado da equipe de enfermagem O processo de enfermagem envolve conhecimento técnico-científico e exclusivo do enfermeiro na sua atuação e essa ferramenta aliada a crença e valores morais desse profissional se fazem presente no atendimento (GARCIA, NÓBREGA, 2009). O Enfermeiro se utilizando das etapas desse processo, também precisa criar um ambiente favorável à conquista dessa criança na intenção da aderência da vítima aos cuidados.


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O processo da SAE com suas fases permitem uma assistência de enfermagem de forma científica e integral (TACSI, VENDUSCOLO, 2004). A criação de um protocolo pelos enfermeiros, para o atendimento de violência infantil tendo início desde a suspeita até o tratamento, acompanhamento, prevenção de recidivas até a avaliação final, é o que sugere autores como Cardoso (2006). Desta forma pode-se observar na fala dos participantes é que esse instrumento da enfermagem não foi utilizado com freqüência por esses profissionais, fugindo às vezes de suas responsabilidades no que tange à Lei do Exercício Profissional que os regem.

Categoria 3 Burocracia O Enfermeiro além da atenção nos cuidados, também desempenha algumas tarefas burocráticas pertinentes a sua função, deixando às vezes de dedicar o tempo de trabalho num só tipo de atendimento. A rotina dos serviços de emergência pode dificultar a detecção dos casos de violência (MOURA, 2008). Dentro de uma instituição de saúde o profissional de enfermagem está envolvido com todos os outros setores do hospital e desenvolve uma série de atividades burocráticas que vão além do cuidado. O profissional de saúde durante o atendimento deve preencher a Ficha de Notificação e relatório e encaminhar o caso para as autoridades competentes. Os pacientes e familiares devem ser engajados nos serviços especializados da rede de atendimento. Segundo o Protocolo de Atenção Integral a Criança e Adolescente Vítima de Violência (BRASIL, 2009), além do atendimento o profissional da saúde realiza uma série de registros burocrático no atendimento a vítima como: Documentar através de registros detalhados todo o processo de avaliação, diagnóstico e tratamento; Transcrever ou, seja descrever o histórico, as palavras da criança ou adolescente, sem interpretações pessoais ou prejulgamentos; Notificar através de comunicação compulsória toda suspeita de violência.


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Categoria 4 Acolhimento Apoiar emocionalmente a criança vítima de violência física é uma ação que não exige do profissional de enfermagem uma competência especializada, é uma realidade subjetiva que está ao alcance de qualquer individuo. Ser simpático, compreensivo e acolhedor contribuem para um bom atendimento à criança e a família. O apoio da enfermagem acontece quando as ações são destinadas a resolução do problema e o acolhimento é essencial desde a entrada no serviço de saúde, durante o acompanhamento, internação até a alta da vítima (BRASIL, 2009. p. 41). Atender vítimas de violência exige da equipe de enfermagem certo controle emocional e principalmente quando a vítima é uma criança. A enfermagem busca conforto e proteção zelando pela criança superando seus sentimentos negativos e visando bem-estar de forma acolhedora (WOISKI & ROCHA, 2010).

Em resposta a questão: “como você identificou e quais são as medidas adotadas ao atendimento de criança vítima de violência física?”

Categoria 1 OMISSÃO

OMISSÃO

X

TRABALHO EM EQUIPE

Quando o Enfermeiro não consegue identificar a violência física em crianças durante o atendimento, seja por despreparo ou por negligência, está sendo omisso a notificação e ou ao atendimento. Ainda que essa problemática seja tratada muito mais como responsabilidade dos pais e da polícia, do que como um direito e como caso de


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saúde pública (BRASIL, 2002), o profissional da saúde que não notificar esse agravo, está infringido a legislação arcando com as punições cabíveis (ECA, 1990). O atendimento na unidade de Pronto Socorro Infantil ou Pediatria é primeiramente iniciado pelo enfermeiro, mas também se faz necessário uma ação de um trabalho em equipe, principalmente quando tem certa dificuldade na identificação da violência contra a criança. Como citado no protocolo de atenção integral a criança e o adolescente vítimas de violência, no processo de apoio à criança vítima de violência, reúne um conjunto de orientações que necessita do apoio de uma equipe interdisciplinar que atuam na saúde, par que haja uma resolução com eficácia (BRASIL, 2009. p. 37). A omissão também pode ser observada por uma série de fatores não identificados pelo enfermeiro no atendimento a criança violentada. Para Ramos e Silva (2011), muitos Enfermeiros desconhecem para que órgãos de competência esses casos devam ser encaminhados ou por sentirem-se intimidados com a relação profissional-famíliacomunidade.

Categoria 2 Não identifica A prestação da assistência de enfermagem a violência física infantil, compreende uma série de ações que partem desde a identificação no primeiro contato, observando os sinais e sintomas de uma possível violência para tratar da criança como um todo. Segundo os autores Souza e Santana (2007), se o profissional de enfermagem possuir apenas conceitos limitados, terá dificuldades de identificarem a violência física e praticar atenção integral. Quando os profissionais de enfermagem não conseguem identificar uma situação de violência infantil no momento do atendimento, podem estar comprometendo a assistência a criança e os familiares.


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Em resposta a questão “Quais são as dificuldades que você encontra ou encontrou ao atendê-las?” Categoria 1 OMISSÃO POR MEDO DE RETALIAÇÃO RETALIAÇÃO Profissionais

Responsáveis Criança

Omissão por medo de retaliação Quando o profissional da saúde não tem a preocupação de olhar atentamente para a criança como um todo, no momento do atendimento da violência física, é omissivo e descumpridor das leis de proteção a criança.

Os enfermeiros com dificuldades de

reconhecerem os sinais e sintomas da violência infantil, e a forma de como abordar os familiares e ou o vitimado limita-se apenas em prestar assistência e tratar os sintomas (CIUFFO, 2008). A omissão também pode ser observada por uma série de fatores não identificados pelo enfermeiro no atendimento a criança violentada. Para Ramos e Silva (2011), muitos Enfermeiros desconhecem para que órgãos de competência esses casos devam ser encaminhados ou por sentirem-se intimidados com a relação profissional-famíliacomunidade. Muitas vezes a presença do agressor pode dificultar a investigação do Enfermeiro na coleta de dados sobre o ocorrido. Conforme Arpini (2008), As ameaças freqüentes pelos autores da agressão a criança para com os profissionais da saúde coíbem a notificação da violência infantil. Muito profissional da saúde mesmo com todas as evidências de violência infantil a partir da avaliação e da vítima ter conseguido revelar a realidade dos fatos, acabam omitindo-os.


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Os responsáveis pela criança podem ou não serem os causadores da violência, haja vista que a maioria é causada no ceio da família e o medo de sofrer punições legais pode omitir as informações. Categoria 2 Realizar procedimentos Para que o profissional da enfermagem possa identificar os indícios da violência é preciso ter contato direto com a vítima e o melhor momento é na realização dos procedimentos de enfermagem. Conforme Thomazine e colaboradores (2009), quando o serviço de saúde cria um protocolo de atendimento, o profissional se sente protegido e respaldado para realizar os cuidados cabíveis. No setor de emergência dos hospitais a equipe de enfermagem procura conter as emoções e sentimentos quando percebem que os familiares tentam proteger o agressor. Conforme Woiski e Rocha (2010), o enfermeiro com sua equipe através do cuidado apóiam a criança transmitindo segurança e carinho nesse momento.


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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Descrever a atuação do profissional de enfermagem a uma criança vítima de violência infantil no hospital foi desafiador e despertou ampliação de um olhar crítico em relação à assistência a criança vitimada que se encontra no momento tão vulnerável e fragilizada por esse agravo. Ao término deste estudo foi percebível a atenção despendida à criança e familiar por esses profissionais, pois o ato de cuidar é peculiar do enfermeiro. Porém percebeu-se na fala dos participantes do estudo que no momento do atendimento de enfermagem, não foi utilizada na maioria das vezes a sistematização da assistência a saúde a criança violentada, descumprindo com a política de humanização e com as obrigações do conselho que os representam. Também ficou claro a falta de um protocolo de atendimento a criança vítima de violência física e aos familiares, o que permitiria ao profissional de enfermagem sentir-se protegido e respaldado para realização dos cuidados e melhorarem a identificação deste agravo. Quando não se tem uma boa utilização dessas ferramentas simplesmente vai se encaminhando o caso para outros profissionais envolvidos no atendimento e ao mesmo tempo acaba não realizando uma identificação da violência, favorecendo a omissão e a não notificação, permitindo ocorrências recidivas.


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ANEXOS


TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Solicito através deste convite a sua colaboração no sentido de participar deste estudo cuja contribuição ao pesquisador ao termino deste estudo será a obtenção do título de Bacharel em enfermagem pela Universidade Camilo Castelo Branco. Sendo assim solicito que leia com atenção este documento e realize todas as perguntas que desejar. O convite para sua participação neste estudo faz jus a sua formação em enfermagem e por sua atuação na assistência a criança vítima de violência física. O estudo será através de entrevista e tem como tema: Síndrome da Criança Espancada e Atuação do Enfermeiro e o objetivo é descrever a atuação do enfermeiro frente a esta síndrome. Ressalto ainda que VS (a) sr (a) não será obrigado (a) a responder todas as perguntas e sim as que se sentirem a vontade para responder. Caso aceite participar deste estudo, terá total liberdade para se recusar em participar ou retirar o seu consentimento em qualquer fase do trabalho. Esclareço que serão respeitados todos os princípios éticos, garantindo sigilo total e anonimato quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa, procurando deixá-lo(a) a cerca da metodologia que deverá ser utilizada. Esclareço também que não haverá pagamento por sua participação na pesquisa e também não haverá ajuda para o transporte e alimentação, pois a pesquisa será realizada em local e horário de trabalho, após a autorização da instituição. Neste sentido respeitando as dinâmicas das suas atividades laborais evitando causar interferências ou interrupções será proposto agendamento prévio para realização das entrevistas. O participante poderá entrar em contato com o pesquisador Profª Ma Ana Maria Costa Carneiro,

RG:

27.729.236-0,

nos

telefones:

2070-0225/2070-0218,

E-mail

coord.enfermagem.sp@unicastelo.br Para esclarecimento de dúvidas ou denúncias referente a questões éticas o participante pode entrar em contato com o CEP situado na Rua General Jardim, 36 – 1º and. V. Buarque – tel. 3397-2464 – email: smscep@gmail.com http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/comite_de_etica São Paulo,-------- de ----------- de ---------------

--------------------------------------------------Assinatura do(a) Enfermeiro participante

--------------------------------------------------Assinatura do pesquisador


CONSENTIMENTO PÓS – ESCLARECIDO

Eu...........................................após esclarecimento do pesquisador e por ter entendido o que me foi explicado, declaro para os devidos fins que consinto a minha participação no presente protocolo de pesquisa e que o mesmo poderá ser usado em estudos retrospectivos, desde que mantidas as condições aqui apresentadas. São Paulo, -----/-----/-------

Assinatura do participante Identidade Endereço Assinatura do pesquisador Identidade: 27.729.236-0 Endereço: Carolina Fonseca, 737 Itaquera São Paulo


APÊNDICE


SUJEITO DA PESQUISA Nome Sexo Idade Profissão Tempo de atuação

ENTREVISTA 1-Como você atua frente à um caso de síndrome da criança espancada? 2-Como você identificou e quais são as medidas adotadas ao atendimento de criança vítima de violência física? 3-Quais são as dificuldades que você encontra ou encontrou ao atendê-las?


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