Revista São Paulo, Né

Page 1

arte | cultura | lazer | técnologia | esporte NOVEMBRO

001 2021 revista

Gêmeos grafiteiros na pinacoteca Histórias das comidas de rua de SP Inteligência artificial em Sampa e Muito mais...


caderno

Expediente Diagramação.: Alexandre Santiago Capa, fotografia.: Thandy Yung, Unsplash Texto e revisão.: Forbes Brasil, Uol e colaboradores

sumario 04 10 16 18 20

Gêmeos Gustavo e Otávio Pandolfo preparam exposição mais importante da carreira na Pinacoteca Por Henrique Skujis.

As histórias de quem está por trás das comidas de rua em São Paulo Por Por Laíse Guedes.

Crônica: Fumaça e fome Por Aline Midlej.

IBM, USP e FAPESP inauguram Centro de Inteligência Artificial em São Paulo Por Gabriela Arbex.

As histórias de quem está por trás das comidas de rua em São Paulo Por Redação Forbes.

revista

2

“São Paulo, né” como a expressão mais comum dita por todo e qualquer paulistano, a expressão que define, que justifica, em poucas palavras parte da imensidão existente em uma única cidade. Surgimos como revista independente, visando gerar conteúdo para todos aqueles que são apaixonados por essa cidade, pois haja chuva ou haja sol, continuaremos falando: São Paulo, né.


3


arte

Gêmeos Gustavo e Otávio Pa mais importante da carreira n Por Henrique Skujis.

Os irmãos Pandolfo: Gustavo (de preto) e Otávio (de azul) ForbesLife, Fotos

A gente estava na onda do Michael Jackson, toda a criançada queria dançar Michael Jackson. Quando eles viram a gente na rua tentando imitar o Michael Jackson, eles falaram ‘não dança isso aí, dança break, a nova onda é o break’. A gente começou a treinar com eles e foi entendendo a cultura hip-hop. Tinha um filme no cinema chamado Beat Street, que influenciou todo mundo e mostrou o que tinha dentro da cultura hip-hop: o breakdance, o grafite, o rap e o djing. A gente deu sorte de nascer no Cambuci, um dos berços do hip-hop no Brasil. Tivemos contato direto com isso. Não por moda, mas por estilo de vida mesmo, como uma maneira de brincar. A gente era moleque, queria girar de cabeça. A gente queria fazer moinho.

Moinho é um dos movimentos clássicos do break: costas no chão e pernas ao alto, o dançarino gira como um moinho humano a todo vapor.

F

oi nas calçadas do bairro do Cambuci e na frente da estação de metrô São Bento que os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo deram seus primeiros rodopios. Além de dançar, inclusive em festinhas de aniversário, os gêmeos (nascidos em 29 de março de 1974) discotecavam entre versos afiados de

4

combate, esvaziavam latas de spray em muros da cidade e mandavam rima em festivais de rap, como o do parque da Aclimação e o da TV Gazeta, na Avenida Paulista.

A despeito do dom nas quatro pernas do hip-hop, foi no grafite que a dupla soltou a mão. Os dois culpam Arnaldo, o irmão 11 anos mais velho.

“Tivemos uma infância muito criativa. A gente se acostumou a “Era 1986, 1987, estava todo ver o Arnaldo desenhar ouvindo mundo começando: o DJ Pink Floyd e Led Zeppelin de Hum, o Thaíde, o MC Bronks…” madrugada. Ele colocou a gente


andolfo preparam exposição na Pinacoteca para desenhar desde o berço. Nosso pai [Walter Pandolfo] é químico, mas também desenhava com a gente – carrinho de bombeiros, essas coisas. Meu avô, lituano, ouvia ‘A ópera’. Minha mãe [Margarida Kanciukaitis], filha dele, bordava e chegou a expor na bienal têxtil de Kaunas, na Lituânia. A gente não precisava de brinquedo para se divertir, só de papel e caneta. Desenhar era a nossa forma preferida de brincar, de mergulhar no nosso universo. Os traços se encontravam naturalmente no papel. Porque o desenho é nosso lado espiritual. De antes do nascimento.”

Quando os dois moleques univitelinos e criados a canetinha trombaram com a cultura hip-hop, os desenhos pularam do papel para os muros. Grafite em essência: na calada da noite, ilegal e sob o olhar torto de pedestres e o cassetete da polícia. Viajaram pelos quatro cantos da cidade, deixando digitais inconfundíveis em cumes de arranha-céus, muros, paredes, trens e postes.

“Muita gente passou a ver, conhecer e se interessar pelo nosso trabalho nas ruas. Mas, apesar de ser uma época com pouco intercâmbio, nossas primeiras exposições foram lá fora. Não tinha internet, nada. Como tudo era em revistas e livros, a gente começou a fazer uma revista, a ‘Fiz’. Saía na rua fotografando tudo que via, publicava e mandava lá para fora. Eles faziam a mesma coisa.” Foi assim que grafiteiros do Hemisfério Norte descobriram o Brasil e passaram a desembarcar em São Paulo, curiosos com o estilo dos artistas que começavam a rabiscar e colorir a cidade.

5


arte

“Em 1993 ou 1994, o [norte-americano] Barry McGee veio fazer um intercâmbio cultural no [museu] Lasar Segall e viu um trabalho nosso na Paulista, lá embaixo, sabe? Quando ele se deu conta da grandeza do grafite brasileiro, fez uma matéria na [revista] ’12 Oz Prophet’. Começamos a ficar conhecidos lá fora, até que, anos depois, em 1998, o Loomit e o Peter [Michalski], dois artistas alemães, vieram para o Brasil pintar com a gente. Do encontro nasceu nossa primeira exposição na Europa (na Alemanha), e, a participação no Isart, um festival de grafite de Munique, onde conhecemos artistas do mundo inteiro, inclusive muitos que eram nossa fonte de inspiração, como o [francês] Mode 2, um dos maiores.” Desde então, os gêmeos rodopiaram como moinhos pelo planeta. Sem abandonar as bombings – saídas para grafitar na rua –, renderam-se sem pudor (porque não há por que tê-lo) aos convites para colorir paredes mundo afora. Seus ilustres seres amarelos (e de outras cores) com roupas estampadas em cenários lisérgicos e oníricos tomaram conta de espaços públicos em mais de 60 países – Portugal, Alemanha, Suécia, Austrália, Cuba, Canadá, Estados Unidos… A arte de Gustavo e Otávio virou notícia quando foi parar na mansão de Johnny Depp em Los Angeles, no porco inflável dos shows de Roger Waters, no castelo de um milionário na Escócia, nos silos agrícolas em Vancouver e em outros rincões estranhos. Os irmãos, também sem constrangimento, migraram dos muros das ruas para as paredes de museus e galerias de respeito. Na lista, Tate Modern (Londres), MoCA (Los Angeles), Mot (Tóquio), Hamburger Bahnhof (Berlim), Fortes D’Aloia & Gabriel (São Paulo) e MAM (São Paulo).

esculturas, mais de 600 obras já estão a postos nas sete salas e no pátio externo e no imponente octógono da Pinacoteca do Estado de São Paulo. “Todas as exposições que fizemos são importantes – a da Faap, a da Fortes, todas –, mas a importância dessa é contar nossa trajetória. Tivemos a ideia com o Jochen [Volz, curador da mostra e diretor geral da Pinacoteca] de buscar nossos primeiros desenhos, de quando a gente tinha 4 anos. Queremos mostrar como tudo começou, as fases e as transformações até chegar aonde chegou. Vem daí o nome da exposição: Segredos. A gente vai mostrar para essa geração nova que a essência do nosso trabalho, das nossas conquistas, é o nosso estilo. Atingir a autenticidade é a base de tudo que a gente conseguiu.” A exposição seria de 28 de março a 3 de agosto, mas foi postergada por causa da pandemia da Covid-19 e ainda não tem nova data. Para não restarem dúvidas, os irmãos esclarecem: “A exposição na Pinacoteca não tem nada a ver com grafite ou street art. A gente ama grafite. O grafite é especial, só tem essa força e essa energia a partir do momento que está na rua, de forma ilegal. Quase 90% do que a gente pintou na rua não existe mais. É isso que dá a atmosfera mágica do grafite, só quem faz entende. Mas são dois mundos separados: o universo da rua é um, o universo de exposição é outro.”

Além dos desenhos supracitados – feitos na infância sob a tutela de Arnaldo – e dos preciosos caderninhos de anotações que os irmãos levam pra lá e pra cá, outros EXPOSIÇÃO NA PINACOTECA trabalhos inéditos expostos na Pinacoteca são as criações da época em que os gêmeos Aos 46 anos, sem filhos, barbas soltas, preferiram estudar em casa a fazer faculdade. cabelos grisalhos, avessos a qualquer droga e morando em apartamentos vizinhos em um prédio no centro da capital paulista, “Na adolescência, as coisas aconteciam osgemeos – com letras minúsculas, tudo sem muita perspectiva. A gente queria junto e sem acento, como eles assinam desenhar e precisava trabalhar para – estão prestes a abrir a maior mostra ajudar em casa. Em uma funilaria, onde da carreira. Entre desenhos, pinturas e a gente conseguia tinta, em lanchonete,

6


em locadora, como boy em banco… A gente fez um colegial técnico de desenho e comunicação na Carlos de Campos, no Brás. Ali conhecemos o Speto [grafiteiro da primeira leva], que trabalhava como ilustrador para revistas. Ele incentivou, e a gente viu uma possibilidade de viver de desenhar. Não sei como veio o primeiro dinheiro, se com ilustração ou se pintando a porta de uma loja para poder comprar tinta e pintar na rua.”

Mas e a história da faculdade? “Depois do Carlos de Campos, a gente teria que entrar na faculdade. Não passou na nossa cabeça ser engenheiro, médico, nada. A gente queria desenhar e decidiu fazer a nossa própria faculdade, em casa, aqui no Cambuci. Nossos pais sempre entenderam que esse era nosso universo. Chegamos para eles e falamos: ‘A gente vai fazer nossa faculdade em casa, vai estudar e viver disso. Vai desenhar e levar a vida como artista, como ilustrador, como pintor. É nisso que a gente acredita’. Então a gente transformou o quarto em um estúdio de desenho e se fechou por quatro anos para estudar. Experimentamos todo tipo de pintura e de escultura, todos os estilos, todas as técnicas. Óleo, aquarela, aerografia, pastel, guache, spray…” O autodidatismo levado a sério e colocado em prática, além do convívio precoce com o grafite, ensinou cedo à dupla uma das regras morais entre os artistas de rua: não copiar o estilo do outro, ter personalidade. “Essa foi uma preocupação nossa, ter uma característica. Na cultura hiphop você tem que ter seu estilo, sua originalidade para se diferenciar. O estudo das letras, dos personagens, de não poder copiar o outro. Se copiasse tinha que dar crédito, dizer que o cara te influenciou. Caso contrário, você era chamado de toy [gíria para quem grafita apenas por moda].”

7


arte

há quase duas décadas. Talvez o lance inicial tenha sido na exposição na Deitch Projects, do marchand Jeffrey Deitch, em Nova York, em março de 2005. Deitch representa ou representou, entre outros gigantes, JeanMichel Basquiat, Jeff Koons, Keith Haring e o já citado Barry McGee. Foi o catálogo dessa exposição que fez crescer os olhos da Fortes D’Aloia & Gabriel, galeria de São Paulo, que, ao lado da Lehman Maupin, de Nova York, representa os irmãos. “É tudo muito lúdico. A gente deixa aberto Alexandre Gabriel, sócio da Fortes, conta para as pessoas interpretarem, mas esse que ficou impressionado ao ver o trabalho da universo é muito importante, muito pessoal, dupla no catálogo. muito sério. É como se a gente desenhasse “Era uma expressão fora da arte contemporânea nosso sonho todo dia.” tradicional, de muita qualidade, e que já estava sendo absorvida fora do Brasil. Nosso interesse Para Danilo Oliveira, artista plástico e inicial foi absorver esse universo mais pop e atrair professor de história da arte, o trabalho da uma visitação de outra natureza, um público dupla parte de um universo muito particular. que não é apenas de arte. Quando fizemos a exposição de 2006 [considerada a primeira “É possível observar elementos que remetem grande mostra individual no Brasil de um artista à cultura popular brasileira, ao artesanato, o vindo das ruas], o retorno foi muito maior do que balão de São João, as brincadeiras infantis o imaginado. Lotou todos os dias. Tivemos que adiar o término por duas semanas, e no último brasileiras, a colcha de retalhos, a roupa dia, um sábado, precisei fechar às nove da noite, remendada. Alguns personagens denotam distribuindo senha com gente na fila brigando certa precariedade, certa melancolia, solidão, para entrar.” e muitos têm uma potência de acontecimentos relacionada com essa memória coletiva.” Também querendo ou não, os irmãos estão com o pé de meia feito. Segundo Gabriel, as Há quem veja os seres vestidos com roupas obras da dupla custam a partir de R$ 250 mil e de estampas coloridas criados pelos irmãos podem ultrapassar R$ 1,2 milhão. Há quem fale como parte da iconografia da arte brasileira, que o valor esteja muito acima desse patamar tal como as bandeirinhas de Volpi e as mulatas de Di Cavalcanti. Ou até, sob um “Nosso valor em dinheiro não importa, não olhar estrangeiro, os girassóis de Van Gogh se compara com o lado espiritual dos nossos desenhos. É muito bom fazer e viver daquilo e os corpos volumosos de Botero. Exagero? que você gosta. Todo mundo tem esse sonho, “A gente não questiona. A gente pensa para a de ter prazer e ser remunerado por isso. Mas o frente, o que vem a seguir, o próximo desenho, mais importante é saber controlar isso dentro a próxima instalação, o próximo mural. Não de você. O valor do seu trabalho não é apenas o criamos nosso estilo para ser comparado a mercado da arte que coloca, mas é como esse ninguém ou para vender mais. Tudo o que a valor foi construído. Existe uma trajetória, uma gente desenha, sem exceção, a gente gosta, construção. Nós fizemos da nossa maneira, e tem muito carinho, muito apego, até ciúmes. foi 100% com o coração. Independentemente Quem mais gosta da nossa obra somos nós. de viajar o mundo inteiro, de fazer exposição, Então o que mais importa é o valor espiritual e de ganhar dinheiro, de ser conhecido e de ser não por quanto a obra foi vendida. O mercado de arte nunca foi uma preocupação para a famoso, desenhar é uma necessidade, um prazer, uma paixão que começou, a gente não gente.” esquece, aqui no Cambuci. A gente veio do Seja como for, querendo ou não, os gêmeos cenário underground e conseguiu chegar onde circulam pelo mercado de arte contemporânea chegou. Esse é o maior valor que a gente tem.” Dessa busca por autenticidade, pariram Tritrez, como eles batizaram o universo retratado em suas obras – um blend de Nordeste brasileiro com hip-hop norteamericano, de urbano com indígena, de melancolia com felicidade, de calma com ativismo; um mundo fantástico com bicicletas, estrelas, música, bichos, barcos, balões e bugigangas coloridas.

8


9


Gastronomia

As histórias de quem está por trás das comidas de rua em São Paulo Por Laíse Guedes Colaboração para o Urban Taste, em São Paulo massonstock, Foto

D

e quantas estrelas Michelin é feito um grande restaurante? Se depender da cada vez mais popular comida de rua, sai de cena o glamour dos chefs renomados e entram os sabores e perfumes das modestas e disputadíssimas barracas ao ar livre. O segredo do sucesso e das enormes filas nas ruas? As receitas acessíveis e autênticas que são geralmente passadas de geração em geração de famílias por muitas décadas. Esse é o mote central da série documental Street Food, da Netflix, que leva os espectadores a uma viagem gastronômica ao redor do continente asiático, apresentando receitas populares locais. Mas para além das criações culinárias, cada episódio traz relatos e histórias de quem está por trás dos pratos, revelando quem são esses personagens urbanos que encaram diariamente as dificuldades do ofício de alimentar as pessoas que se movimentam pelas cidades. Das inúmeras séries e programas de TV às prateleiras de livrarias, com as mais variadas publicações dedicadas ao tema que pipocaram nos últimos tempos, a comida de rua vem ganhando com o tempo mais espaço de destaque. E claro, o estômago e o coração de quem busca pelo tempero único que só se encontra nas ruas.

10


São Paulo, capital da comida de rua. Assim como as cidades retratadas em Street Food, a metrópole paulistana também não deixa nada a desejar nesse quesito. Não à toa São Paulo tem fama de capital gastronômica: do guioza disputado aos domingos, nas ruas da Liberdade, aos famosos pastéis de feira da Dona Maria e do "Seu" Zé, a comida de rua se faz presente em São Paulo em seus terminais, praças, parques, mercadinhos, barracas de vendedores ambulantes e por toda a cidade. Com a fama da comida de rua, São Paulo não apenas consolidou de vez suas feiras tradicionais, como passou a receber as mais diferentes feiras gastronômicas. No último sábado (8) e domingo (9), a cidade sediou sua primeira edição do festival Smorgasburg, a maior feira de rua do mundo, que acontece semanalmente em Nova Iorque. O evento superou a expectativa de 50 mil visitantes em dois dias de festival, atraindo gente de toda a cidade em busca de receitas inusitadas, como o sanduíche de sorvete, o espetinho de rã e a farofa de formiga. O Urban Taste esteve por lá para ver de perto os chefs em ação.

Confira a seguir :

11


Gastronomia

O hambúrguer sem frescura dos O império peruano do ex-camelô amigos do Vinil Edgard Villar (vinil burger)

(Rinconcito Peruano)

Um dos sabores mais esperados do Smorgasburg foi o diferentão ramen burger, preparado pelo Vinil Burger, dos sócios Andre e Stefano Tarantino e Marco Magri. Mas o que agrada mesmo no dia a dia os fiéis visitantes da hamburgueria é a receita simples, mas preparada com muito sabor pela casa. A proposta é descontraída: a um valor fixo, o próprio cliente escolhe seus ingredientes e acompanha o hambúrguer em um grelha redonda giratória, remetendo à experiência da comida de rua de bairros alternativos de Nova Iorque. A hamburgueria que começou também na rua, cresceu, assim como a concorrência nos últimos anos, quando pipocaram muitas outras hamburguerias e food trucks dedicados a uma das comidas mais queridinhas dos paulistanos. Mas nada que desanime os amigos que comandam o lugar, que fazem questão de continuar ocupando as ruas. "Estamos pensando até em montar uma equipe fixa só para eventos de rua", conta André Tarantino.

Fundador do consagrado restaurante Rinconcito Peruano, o chef Edgard Villar começou como muitos outros cozinheiros: vendendo comida na rua. A busca por uma vida melhor foi o que o trouxe ao Brasil, no início dos anos 2000. Na época, Edgard preparava comida em seu próprio apartamento e vendia marmitas para seus conterrâneos, até surgirem os contratempos com o síndico do prédio? Eu estava muito bem na rua, mas com o problema com o síndico, decidi abrir o Rinconcito em uma sobreloja. Tinha mesa, cadeira, já tinha tudo." Não demorou muito para que a comida peruana de qualidade a preços justos ganhasse o boca a boca e fizesse os paulistanos se deslocarem para a rua Aurora, no Centro, para experimentar as delícias do país andino. "O ceviche, os frutos do mar e os peixes são os pratos que mais cativam o público brasileiro", diz. Quase 15 anos depois e 11 restaurantes abertos na capital, Edgard, que se diz um apaixonado pela comida de rua, continua no batente comandando sua equipe em feiras gastronômicas. "Eu amo vender comida na rua, você encontra e conversa com todo tipo de pessoa. Muitos não conhecem e não podem ir ao restaurante, mas na rua têm a oportunidade de provar a nossa comida", conta emocionado.

Vai lá:

Vai lá:

R. Padre Carvalho, 18, Pinheiros R. Lemos Monteiro, 206, Butantã R. Dr. Melo Alves, 445, Jardins Domingo a Sábado, das 12h à 0h Mais informações no Instagram.

R. Aurora, 451 - Santa Ifigênia Segunda-feira, das 12h às 17h Terça-feira a Sábado, das 12h às 22h Domingos e Feriados, das 12h às 21h Mais informações no Instagram.

12


Das pâtisseries para as ruas com os macarons da Daniela (D`Macarons)

Muito se fala sobre a democratização da gastronomia com a comida de rua. Com a D`Macarrons, da chef mineira Daniela Diniz, não foi diferente. Os sabores e as cores que antes só poderiam ser provados em uma fina pâtisserie - ou a uma viagem à Paris -, ganharam as ruas da capital paulistana em 2012. O sucesso vem da receita original, a mesma do macaron parisiense feito com farinha de amêndoa e recheio de ganache. "Um dos maiores desafios que têm na gastronomia, principalmente na pâtisserie, é conseguir acertar o macaron", diz Nilton Diniz, esposo da chef. A receita certeira garantiu que no primeiro ano de existência fossem produzidos mais de 80 mil macarons, a maior parte sendo vendida em feirinhas como a Benedito Calixto e o extinto Butantan Food Park, onde fica atualmente a Vila Butantã. E das ruas, os macarons de Daniela foram para a inauguração da Le Courdon Bleu em São Paulo, o mais renomado instituto francês de culinária. Hoje a loja tem ponto fixo, em um casarão em Perdizes, onde os doces que dão nome à casa saem em sabores como baunilha, limão-siciliano e cereja amarena. Vai lá: Rua Itapicuru, 551 - Perdizes Segunda a sábado, das 10h às 18h30 Domingo, das 10h às 17h30 Telefone: (11) 3596-3779 Mais informações no Instagram.

13


gastronomia

Outros chefs e criações culinárias para As Zunigas e as saltenhas Aos domingos, a barraca mais concorrida da feira boliviana Kantuta, no Pari, é a Los Caporales, comandada pelo brasileiro Wilson Ferreira, marido de Mirian Zuniga. Mirian é nascida em Cochabamba, e de lá, trouxe a receita de saltenhas da mãe, Florencia Zuniga, dona dos segredos do molho e da massa das "empanadas da Bolívia". Em mais de 20 anos, a família criou nada menos que 45 receitas e vendeu 65 mil salgados. A maioria do público que freqüenta a feira é de bolivianos, mas os brasileiros já começaram a descobrir os sabores e o artesanato vendidos no local, um pedacinho colorido e saboroso do país em plena São Paulo. Vai lá: Barraca do Zé Um patrimônio do Pacaembu, José Hiromi Mori é o Zé, da Barraca do Zé da feira do Pacaembu, onde está desde o início dos anos 90 - ao lado da dona Maria (Pastel da Maria). Foi com os pais, aos 15 anos, que aprendeu a amassar, fritar e montar manualmente os pastéis sem economizar no recheio. Sempre às terças, quintas, sextas e aos sábados, ele monta duas tendas em frente ao Estádio do Pacaembu, onde fregueses se amontoam em volta para disputar um dos seus mais de 40 sabores. Vai lá: Feira do Pacaembu Praça Charles Miller - Pacaembu - São Paulo - SP Terça, quinta, sexta e sábado, das 5h30 às 14h

14

Feira Kantuta R. Pedro Vicente, 700 - Pari (próximo a Estação Armênia do Metrô)

Domingo, das 11h às 19h Mais informações no site.


conhecer em SP:

Família Nakamura e a barraca de guioza O guiozá é um pastel de carne moída com legumes, que pode ser frito ou cozido no vapor. Quase todo restaurante japonês possui este prato em seu cardápio, mas existe uma receita que é referência na cidade: o guiozá da Família Nakamura, uma das primeiras a chegar no Brasil durante a 2ª. Guerra. A matriarca Nakamura começou na então pequena Feira da Liberdade com uma clientela básica, os japoneses que moravam no bairro. Mas com a volta de grande parte dos descendentes para o Japão, acabou adaptando sua receita para o público brasileiro, que pode até hoje ser degustada, sob o comando do filho Frank Nakamura. Vai lá: Pça da Liberdade s/n metrô - Liberdade Domingo, das 10h às 19h Mais informações no Facebook.

Uma paixão antiga dos paulistanos

A

inda nos séculos 19 e 20, a chegada de estrangeiros dos mais diversos países trouxe para a cidade uma variedade imensa de comidas, que não tardaram a chegar às ruas também. Desde essa época, a comida de rua passou a fazer parte da memória paulistana. Nos últimos anos, a cidade registrou um novo boom da gastronomia urbana e o movimento ganhou ainda mais adeptos. Quem se lembra de quando Alex Atala e um grupo de cozinheiros se reuniu no Minhocão para realizar o "Mercado Chefs na Rua", em plena Virada Cultural em 2012? A proposta, até então inédita, era oferecer a oportunidade de sabo¬rear pratos simples feitos por chefs famosos a preços módicos - uma versão tupiniquim do festival Smorgasburg. No fim, a procura foi tão grande que a estrutura montada não deu conta de atender a tanta gente e o caos foi inevitável. Sinal de que havia um público ávido pelos sabores da rua. Apesar de toda a procura, a comida de rua ficou por muito tempo marginalizada e só foi regularizada na cidade em 2016, na gestão do então prefeito Fernando Haddad. Em maio, o atual prefeito Bruno Covas sancionou a lei que regulariza a atividade de pequenos e micro empreendedores que trabalham com alimentos. Antes das medidas, só vendedores de cachorro-quente tinham autorização para trabalhar nas calçadas da cidade, além de alguns comerciantes que atuavam em feiras. Mais recentemente, o aumento do desemprego e a dificuldade de conseguir um trabalho formal levou muitos outros brasileiros para a profissão. Hoje, estima-se que haja mais de 100 mil trabalhadores de comida de rua na cidade. Para registrar os principais pontos de comida de rua na cidade, a ACOR-SP (Associação de Comida e Bebida de Rua de São Paulo) criou o guia "Onde tem comida de rua hoje?". A iniciativa mapeia as regiões da Bela Vista, Centro, Santo Amaro e Jabaquara e é um bom ponto de partida para descobrir por conta os verdadeiros tesouros gastronômicos da cidade.

15


Crônica

Por é âncora do Edição das 10h Vinicius Löw, foto Nuvem de fumaça originadas das queimadas do Pantanal pode ser vista do alto de prédio localizado na região central da cidade de São Paulo

N

em as dimensões continentais do Brasil conseguiram manter a venda nos olhos de quem preferia não ver. A negligência foi transportada pelas nuvens. O céu de São Paulo escureceu, a água da chuva em Santa Catarina também. As partículas de fumaça que saem do Pantanal em chamas se espalha a despeito da cegueira oficial, conveniente e fatal. Quem ainda não enxerga? E o momento exige olhos atentos a outras verdades sobre um Brasil cronicamente injusto e desigual, escancarado em novos números e rostos. O coronavírus continua tirando 800 vidas todos os dias no país. Disputas políticas fazem dos usuários do INSS os humilhados da vez. O negacionismo é aplaudido pelos donos das terras que queimam, enquanto riquezas irrecuperáveis são destruídas aos olhos do mundo que, sim, enxerga perplexo. E a fome visita a casa de um número ainda maior de brasileiros. São quase 10 milhões de pessoas sem ter o básico para comer, nos contou o IBGE nesta semana.

16

Houve um aumento de mais de 40% dos famintos nos últimos cinco anos e as projeções são de virar o estômago. A turbulência econômica gerada pela Pandemia pode jogar outros muitos milhões na pobreza. Não será o fenômeno exclusivo nosso, mas aqui temos o desafio constante de conseguir enxergar, deslocar o interesse para longe do conforto individual para sentir. Se não toca, não mobiliza. As eleições estão chegando e os mais vulneráveis precisam ser prioridade porque é o certo, não por interesses eleitorais. O que faremos com a consciência sobre as nossas divisões e preconceitos, tão evidenciados neste momento excepcional. Em uma casa de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a dona de casa Márcia Gracielli vive com o marido, nove filhos e três netos. Todos dividem um único quarto e a comida da despensa só está chegando por meio do auxílio emergencial, com prazo para terminar. É uma das histórias contadas

pela repórter Narayanna Borges, que registrou na GloboNews a miséria contabilizada pelo IBGE e naturalizada pela maioria de nós. Pela pesquisa, menos da metade dos domicílios do Norte e Nordeste tem acesso pleno e regular a alimentos básicos. Na mesma cobertura, também conhecemos o Nivaldo da Conceição, um pescador que ganhou a vida alimentando famílias e hoje abre o freezer para mostrar a privação em forma de água e gelo. Para economizar o gás, construiu seu próprio fogão à lenha. Sintamos o cheiro da fumaça, o engasgo com o ar tóxico das mentiras que matam nosso patrimônio. Vamos despertar no voto e em nossos corações.


17


Tecnologia

IBM, USP e FAPESP inauguram Centro de Inteligência Artificial em São Paulo

A IBM, a Universidade de São Paulo (USP) e a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) inauguraram hoje (13) o que classificam como o mais moderno Centro de Inteligência Artificial (C4AI) do Brasil, dedicado ao desenvolvimento de estudos e à pesquisa de ponta da tecnologia para endereçar temas de grande impacto social e econômico. Por Gabriela Arbex, redação Forbes, foto

O

C4AI, localizado no prédio do Centro de Pesquisa e Inovação InovaUSP, no campus da USP, em São Paulo, terá como foco inicial cinco grandes desafios relacionados à saúde, meio ambiente, cadeia de produção de alimentos, futuro do trabalho e desenvolvimento de tecnologias de processamento de linguagem natural em português,

procurando maneiras de melhorar o bem-estar humano e apoiar iniciativas para diversidade e inclusão. Segundo os pesquisadores envolvidos na iniciativa e os executivos da gigante de tecnologia, apesar do atraso estrutural do Brasil no tema, o país tem um potencial enorme de avanço, principalmente em função da qualidade dos pesquisadores da academia e dos bancos de dados. “Não tenho dúvidas de que o Brasil está pronto para um grande salto nessa área”, diz Sylvio Canuto, próreitor de pesquisa da USP. “Se o cenário não fosse altamente promissor, não investiríamos tanto nele”, complementa Cláudio Pinhanez, gerente de pesquisa da IBM Brasil para inteligência em conversação e vice-diretor do C4AI. Esse investimento passa por um financiamento de até 10 anos no qual IBM e FAPESP reservarão, cada uma, até US$ 500 mil anualmente para implementar o programa. Já a USP, por sua vez, investirá até US$ 1 milhão por ano em instalações físicas, laboratórios, professores, técnicos, administradores para gerir o centro, totalizando cerca de US$ 2 milhões anuais. Dez líderes técnicos estão envolvidos diretamente na iniciativa, além de 60 professores associados. Em paralelo, três comitês de


acompanhamento serão criados para promover temas de interesse comum do país, com foco na indústria, ciência e sociedade. “A ideia é dar um passo largo no sentido da inteligência artificial, juntando esforços e concentrando recursos para avançar na estruturação das comunidades, formação de recursos humanos especializados e, claro, pesquisa, para estimular o debate e até ajudar na construção de políticas públicas”, diz Pinhanez, ressaltando que o país precisa ter uma agenda alinhada com o restante do mundo no que diz respeito à IA. “Temos massa crítica para isso e podemos fazer muita diferença no andamento das pesquisas em nível global. O C4AI contará também com uma segunda unidade para capacitar estudantes e profissionais, disseminando conhecimento e transferindo os benefícios da tecnologia para a sociedade. Este local será instalado no Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação (ICMC), no campus da USP em São Carlos, interior de São Paulo. CINCO DESAFIOS “Esta é a realização de um projeto estratégico para a USP, que considera a área de IA obrigatória para acompanhar e participar dos desenvolvimentos que dominarão, com suas múltiplas aplicações, a sociedade moderna”, diz Canuto, explicando que um dos objetivos é a disseminação e a transferência da tecnologia para a sociedade, o que fez com que os cinco temas escolhidos tivessem aplicações muito práticas. O primeiro deles está relacionado aos ciclos produtivos do agronegócio, sustentabilidade ambiental, mudanças climáticas e segurança alimentar – demandas atuais que desafiam as autoridades mundiais. Essa linha de estudo vai focar em modelos de causa e efeito para cadeias de produção de agricultura, em especial a de pequenos produtores. O objetivo será utilizar modelos de correlação avançados para a tomada de decisão baseada na causa e efeito, abordando preocupações como desperdício de água e alimento. A segunda linha de pesquisa combina aprendizado baseado em dados e raciocínio baseado em conhecimento para desbravar a chamada Amazônia Azul, território marítimo brasileiro cuja área corresponde a aproximadamente 3,6 milhões de quilômetros quadrados – equivalente à superfície da floresta Amazônica. Blue Amazônia Brain (BLAB), como o projeto está sendo chamado, pretende abordar perguntas complexas sobre a região, rica em biodiversidade e recursos energéticos. Já na frente de estudos sobre saúde, serão abordadas duas questões: como integrar e selecionar recursos médicos relevantes (biomarcadores) de fontes heterogêneas e dinâmicas em grande escala e como interpretar decisões tomadas por algoritmos de aprendizado de máquina integrando inteligência humana e artificial. A primeira fase do estudo terá duas frentes de pesquisa. Uma com o objetivo de melhorar o diagnóstico, o tratamento e a

reabilitação de pacientes de acidente vascular cerebral (AVC), com técnicas de análise de redes complexas em dados multimodais. E, a segunda, com foco em investigar formas de melhorar a escolha de protocolos de reabilitação em casos de AVC, o que trará uma importante contribuição social. A quarta área de atuação do C4AI vai envolver diversas áreas de humanas da USP, como economia, história, sociologia e ciências sociais, para mapeamento, compreensão e abordagem do impacto da IA em economias como a do Brasil. Inicialmente, o centro focará em pesquisas relacionadas às políticas públicas para a inteligência artificial e à coleta e análise de dados sobre impacto da IA nos empregos e no futuro do trabalho.E, finalmente, o centro vai atuar para aumentar a disponibilidade de ferramentas e dados para treinar sistemas de diálogo em português. O objetivo é habilitar o processamento de linguagem natural de alto nível para o português do Brasil, assim como já existe para outros idiomas, possibilitando sua melhor aplicação nas atuais demandas críticas da sociedade, como, por exemplo, aprimorar os serviços de atendimento ao cliente, o treinamento de assistentes virtuais, o monitoramento de redes sociais, bem como possibilitar a análise e a extração de conhecimento de grandes fontes de dados, entre outros. “A intenção é aumentar essa colaboração para além da IBM, USP e FAPESP, trazendo outros integrantes desse ecossistema e aportes financeiros maiores para que possamos encarar desafios também cada vez mais complexos”, diz Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP. “A área de IA é um infinito de possibilidades. Neste momento de intenso combate contra a Covid-19, por exemplo, estamos fazendo análises de milhares de moléculas, análises teóricas de potenciais vacinas, análises de centenas de milhões de dados, tudo com o apoio da tecnologia, gerando mais efetividade e diminuindo o tempo para soluções corretas. A área é estratégica para o futuro.”


lazer

São Paulo é eleita cidade mais inteligente e conectada do Brasil em ranking Por Redação Forbes FG Trade/Getty Images, foto

Centro financeiro do país, a capital paulista conquistou o primeiro lugar do ranking de smart cities, seguida por Florianópolis O estudo “Connected Smart Cities” deste ano elegeu São Paulo como a cidade mais inteligente e conectada do Brasil. A edição de 2020 do relatório e ranking sobre cidades colocou a capital paulista em primeiro lugar em categorias como tecnologia e inovação, bem como mobilidade e acessibilidade. Ao comentar sobre o destaque no ranking, o

prefeito de São Paulo, Bruno Covas, disse que é importante que a capital avance cada vez mais na agenda de cidades inteligentes por motivos como a geração de emprego e renda que, através da tecnologia, proporciona as mesmas oportunidades aos jovens da periferia, reduzindo a desigualdade social na capital.

“Investir em uma cidade inteligente é investir em serviços públicos prestados com alto nível de excelência”, ressalta o prefeito. “Outra motivação para investir em tecnologia é ampliar a transparência, possibilitar que a população possa fiscalizar e participar da implementação de políticas públicas e trazer as pessoas para dentro da governança.” O segundo lugar no ranking de cidades inteligentes ficou com Florianópolis (SC), seguida por Curitiba (PR), Campinas (SP) e Vitória (ES). Em sexta colocação está São Caetano do Sul (SP); seguida por Santos (SP); Brasília (DF); Porto Alegre (RS); e Belo Horizonte (MG).

20

O ranking foi divulgado por ocasião do evento Connected Smart Cities e Mobility Digital Xperience 2020. A conferência anual, que acontece virtualmente neste ano, começou ontem (8) e vai até amanhã (10).


21


caderno

22


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.