Praticas de avaliação

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CONGRESSO DA SPCE Bragança Resumo da intervenção na Mesa-redonda: 1MAIO209, 11.30 h PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO DAS ESCOLAS: diversidade, juventude, espaço vazio. Vitor Alaiz, FEP/UCP Como resumir, em poucas palavras, uma visão (parcialmente impressionista) das práticas de avaliação organizacional das nossas escolas? Diversidade, juventude, espaço vazio. Numa perspectiva descritiva, “espacial”: a diversidade é a tónica dominante. Diversidade de referenciais, de processos, de produtos. Numa perspectiva “genética”: predomínio da idade da adolescência sobre a da infância ou da maturidade. Numa perspectiva crítica, identificam-se alguns espaços vazios, silêncios. Diversidade de referenciais: as escolas não seguem um referencial único. O da IGE é cada vez mais utilizado mas, por vezes, de modo superficial ou decorativo. Em algumas escolas, seguem-se modelos estruturados, mais ou menos prontos a usar, como os modelos de inspiração empresarial, caso do modelo EFQM, do modelo CAF, do modelo ISO 9000:2001. Em algumas, não muitas, existem equipas de avaliação que optam por seguir modelos contingenciais, de construção local. Diversidade de lógicas de acção: as equipas responsáveis pela avaliação (na sua maioria, constituídas exclusivamente por professores) manifestam diferentes dinâmicas: umas hiperactivas, outras seguindo ritmos mais consentâneos com a restante actividade profissional. A participação nessas equipas funciona para uns como instrumento de manutenção de/trampolim para a liderança da escola, para outros como espaço de uma nova profissionalidade docente. Os restantes professores manifestam um leque diversificado de atitudes: empenho, indiferença, resistência passiva ou activa. Diversidade dos produtos e dos seus efeitos: numas escolas são produzidos relatórios mais ou menos completos; noutras, todo o trabalho resultou apenas num conjunto de folhas impressas com inúmeras tabelas estatísticas. Aqui e além, surgem formas de facilitação da comunicação da avaliação produzida: exposições documentais, apresentações com slides, disponibilização de documentos através da Internet (ou da Intranet). Numa perspectiva evolutiva, parece possível afirmar que, em muitas escolas, se passou da infância à adolescência no que às práticas de avaliação diz respeito. Ultrapassou-se a mera recolha de estatísticas de resultados académicos dos alunos e já se vai um pouco mais longe do que isso: preocupação de abranger mais domínios, de sistematizar, mesmo que seja na base da importação de algum referencial. A maturidade não foi ainda atingida, exceptuando algumas escolas onde a presença de profissionais com forte motivação, alguns dos quais com formação contínua ou pós-graduada nesse domínio, tem dado origem a verdadeiros processos de auto-regulação. Numa outra perspectiva, destacam-se os espaços vazios, os silêncios: - no plano do Objecto de avaliação, falam os resultados académicos e outros dados quantitativos, mas importantes dimensões da organização educativa permanecem em silêncio; o mundo dos sistemas fala, cala-se o mundo da vida (Sergiovanni, 2004). - no plano da Metodologia, a recolha de documentos e os questionários ocupam todo o campo, desenhando um imenso espaço vazio que poderia ser preenchido por outros modos de pesquisa (como entrevistas de grupo, registos fotográficos, etc.). [Escrever texto]

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- no plano dos Actores, as vozes de (alguns) professores fazem-se ouvir; mas as dos alunos e de muitos outros membros da comunidade educativa permanecem ausentes. Em face deste complexo contexto, em que o Estado privilegia cada vez mais o papel de mero avaliador em detrimento do de co-responsável, consideramos que é a nível local que se torna necessário agir. Por isso, defendemos o preenchimento dos espaços vazios com práticas de avaliação que façam do diálogo multilateral, participado por todos os interessados, um procedimento indispensável, tomado como princípio, meio e fim. Práticas de avaliação que dêem voz a todos os interessados, e que façam crescer o interesse de todos pela educação. Práticas de avaliação que construam um novo espaço público local que, partindo do foco nos problemas concretos da aprendizagem e do ensino nas organizações educativas locais, possa tornar-se ele próprio promotor de uma cidadania democrática, capaz de pensar e instituir um pacto educativo local, guião de autênticos projectos educativos. Mas essas novas práticas interpelam-nos a todos, nomeadamente: - ao Estado central que, além do papel de avaliador, tem também de somar o de co-responsável em problemas localmente intransponíveis; - aos autarcas que, acabadas todas as rotundas necessárias, têm agora de se assumir como promotores activos do desenvolvimento do referido espaço público local, construtores privilegiados da cidade educadora; - aos líderes educativos, que têm de integrar os processos e os produtos da avaliação num planeamento estratégico assente numa visão clara da missão da escola hoje; - aos professores que estão obrigados a dar prova de uma nova profissionalidade docente; - aos pais que têm de acrescentar à legítima defesa dos seus interesses particulares, uma perspectiva de coresponsabilização na tarefa educativa; - aos restantes membros da comunidade educativa local que, tendo direito a ser ouvidos, devem ser igualmente parceiros activos na construção do pacto educativo local; - e aos investigadores educacionais que são convidados a não limitar a sua investigação em avaliação das organizações educativas ao uso ou à crítica da racionalidade instrumental nas práticas de avaliação e a quem se propõe que, em aliança teórico-prática com os professores e outros actores educativos, centrem a sua investigação na teorização e no desenvolvimento de formas concretas de relatar o lado oculto da escola. Ou seja, um programa teórico tão simples como fazer falar os silêncios actuais e ocupar os espaços ainda hoje vazios.

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