Legião Urbana XXX anos

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Faculdade de Comunicação e Artes Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda

Caio Cesar Nery Caio Vitor de Mello Gama Mariana Perdigão Morais Lobo

LEGIÃO URBANA XXX ANOS: A atemporalidade do discurso político e sociocultural da banda

Belo Horizonte 2016


Caio Cesar Nery Caio Vitor de Mello Gama Mariana Perdigão Morais Lobo

LEGIÃO URBANA XXX ANOS: A atemporalidade do discurso político e sociocultural da banda

Projeto de pesquisa apresentado ao Centro de Pesquisa em Comunicação da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito para obtenção do título de Bacharel Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientador: Enaldo Souza Lima Ribeiro Supervisora: Teresinha Maria de Carvalho Cruz Pires.

Belo Horizonte 2016


Caio Cesar Nery Caio Vitor de Mello Gama Mariana Perdigão Morais Lobo

LEGIÃO URBANA XXX ANOS: A atemporalidade do discurso político e sociocultural da banda

Projeto de pesquisa apresentado ao Centro de Pesquisa em Comunicação da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito para obtenção do título de Bacharel Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda.

______________________________________________________________________ Professor Enaldo Souza Lima Ribeiro – PUC Minas (Orientador)

Professora Teresinha Maria de Carvalho Cruz Pires.– PUC Minas (Supervisora)

Júnia Miranda Carvalho - PUC Minas (Banca Examinador)

Belo Horizonte, 29 de novembro de 2016.


Ao Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá por toda a eterna herança que as canções da banda deixaram nos corações dos brasileiros.


AGRADECIMENTOS Primeiramente а Deus, que nos presenteou com o bem mais precioso que poderíamos receber um dia, a vida, e com ela a capacidade para pensarmos, amarmos e lutarmos pela conquista de nossos ideais. Muitas foram às lutas, maiores as vitórias, e isso porque o Senhor Se fez sempre presente, transformando a fraqueza em força e a derrota em vitória. Reconhecemos que o tempo todo o Senhor nos amou e que sem a sua misericordiosa graça e intervenção nada disso seria possível. Não somos mais os mesmos. Amadurecemos ao enfrentar os vários obstáculos, mas agora tudo é felicidade, pois atingimos nosso alvo. Hoje, temos a certeza de que a sua companhia foi o que fundamentou essa vitória. Não temos outra forma de agradecer senão dizendo: use-nos como instrumento de transformação e crescimento do nosso próximo. Somos gratos ao Senhor hoje, amanhã e eternamente. A esta universidade, sеu corpo docente, direção е administração qυе oportunizaram а janela qυе hoje vislumbramos υm horizonte superior, eivado pеlа acendrada confiança nо mérito е ética aqui presentes. Agradeço а todos оs professores pоr nos proporcionar о conhecimento nãо apenas racional, mаs а manifestação dо caráter е afetividade dа educação nо processo dе formação profissional, pоr tanto qυеsе dedicaram а nós, nãо somente pоr terem nos ensinado, mаs por terem nos feito aprender. А palavra mestre, nunca fará justiça аоs professores dedicados аоs quais sеm nominar terão оs nossos eternos agradecimentos. Agradecemos ao nosso orientador Enaldo, por aceitar prontamente o convite de orientar o projeto, pela sua dedicação e paciência que teve por nós durante todo o processo. A nossa supervisora Teresinha, pelo suporte nо pouco tempo quе lhe coube, pelas suas correções е incentivos. A Wânia do Cepec que solucionou todos os problemas técnicos que aconteceram durante a elaboração do projeto. Ao grande Arthur Dapieve, que nos concedeu uma honrosa entrevista, pelo qual nos tornamos admiradores do seu trabalho e competência. Também não poderíamos deixar de mencionar o Thiago Pereira pela sua ajuda em achar a “atemporalidade”, a palavra gatilho desse projeto. Em especial, Eu Caio Nery, quero agradecer a minha mãe, que apesar das dificuldades me apoiou incondicionalmente, trabalhou dobrado, sacrificando seus sonhos em favor dos meus, me ajudando a superar as minhas decepções e aplaudindo as minhas conquistas. Quero agradecer também ao meu padrinho Anderson, minha madrinha Heliana, minha vó Terezinha, tia Zélia, tia Helena, tia Fia, Pedro, Bruno, Izabela, Celinha, Lurdinha, Luana e a todos os familiares que torcem pelo meu sucesso. Quero agradecer a todos os meus amigos, em


especial ao meu eterno “doze” por quem tenho um grande carinho. Agradecer aos meus amigos da UNA: Marcinha, Tereza e Mari Diniz pelo apoio e cuidado que tiveram comigo durante os primeiros semestres de curso. Ao Caio Mello, um irmão que a faculdade me deu e que levarei a sua amizade pra sempre comigo. Agradecer também aos grandes mestres que tive durante esses quatro anos de curso que faço questão de mencionar, são eles: Glória Gomide, Teresinha Cruz, Enaldo Lima, Bruno Vasconcelos, Fernanda Medeiros, Mário Viggiano, Juliana Mello, Samantha Braga e Guilherme Guerra, por todo aprendizado e por despertar em mim a vontade de seguir a linha pesquisa e docência. Eu Caio Mello, gostaria de fazer um agradecimento em especial a todos que fizeram parte desta conquista tão importante. Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, Santo Expedito e Buda por toda capacidade, sabedoria, força, saúde, estrutura, serenidade e criatividade para enfim, concluir este sonho. Um agradecimento em especial aos céus, ao meu anjo da guarda Zinha, vó, sei que está presente e você é muito parte desta conquista. A minha família, em especial minha mãe, que sempre acreditou e confiou em mim, que bancou em todos os sentidos essa conquista, mesmo com algumas derrapadas (risos), te amo muito mãe! A minha irmã que foi uma grande incentivadora e a certeza de que fiz a escolha certa, de que essa é a minha vocação e profissão, a florzinha da minha vida. Ao meu pai que me inspirou com tanta imaginação (inventa muito, risos). A minha namorada Shirley Gonçalves, que foi mais que uma namorada, uma amiga, companheira, obrigado por estar sempre ao meu lado e por ser quem você é. Aos meus amigos da vida e acadêmicos, valeu Luiz Dudu Da Marra, por ser o amigo que é, que mesmo a distância se mostrou presente, acreditou e me incentivou em todos os momentos. Ao Renato, parceiro e amigo em toda a minha formação, desde o colégio até a faculdade. Tem o “Luquita da galera” também (o outro apelido não é muito apropriado, risos), amigo pra todas as horas. E sem esquecer as minhas raízes, meus amigos de Três Rios, Fabrício Costa e Saulo Guedes Xisto, saudações rubro negras aqui. Aos amigos que ganhei, que participaram e tiveram imensa importância em minha formação acadêmica, Caio Nery, Luiz Otavio Ferrato, Nayara Faria, Vinicius Prado, Ariádna Franco, Mariana Matos, Otávio Neves, Ana Carolina Oliveira, Loren Marques, Henrique Vandevelde, Bernado Couto Xavier, Marcone D´Ávila, Luciana Figueiredo, Lorena Dias, Amanda Darós, Danielle Adriane, Fernanda Ramos, Laís Carneiro, Dayse Pimenta, Nivea Monteiro, Rafael Martins e Caio Telefone. Aos funcionários, Valéria, Wânia e Rafael. Aos professores Enaldo Souza, José Albino, Samantha Braga, Carolina Marinho, Aléssia Franco, Dea Fonseca, Ester Saturnino,


Malco Camargos, Álvaro Miranda, Teresinha Cruz, e em especial Valério Augusto, que além de professor, um pai e amigo ali na PUC Minas. Eu, Mariana Perdigão, venho agradecer primeiramente a Deus, por me fortalecer durante todo o curso. Agradeço aos meus pais pelo apoio, por não me deixarem desistir. Várias pessoas durante o curso, incluindo os professores, me ajudaram, apoiaram, e cresceram ao meu lado, mas o meu agradecimento especial vai para os meus colegas de projeto, Caio Nery e Caio Mello, por toda paciência, compreensão, esforço, amizade que, foram de extrema importância para minha permanência no curso. Sou grata ao meu orientador Enaldo, por todas as reuniões, conselhos, e o grande aprendizado que levarei para vida. A todos, o meu muito obrigado, e minha sincera admiração por cada um. Caio C. Nery, Caio Mello e Mariana Perdigão.


“A Legião Urbana, formada em 1982, em Brasília, era composta por Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, tendo entre 1984 e 1987, o baixista Renato Russo Rocha como o quarto membro. Com sonoridade básica do rock, influência do pós-punk inglês e a formação clássica de guitarra, baixo, bateria e voz, a banda participou ativamente de toda a efervescência do rock brasileiro nos anos de 1980/1990. Com uma mistura de músicas politizadas e canções de amor e perda, o grupo conquistou um ávido público jovem e se tornou uma das bandas mais importantes de sua época, tendo vendido mais de 20 milhões de discos ao longo de sua carreira. A Legião teve seu fim em 1996, com a morte do vocalista Renato Russo, mas suas músicas e as célebres letras de Renato se perpetuaram como hinos para os jovens de diversas gerações.” (MAROVATTO, 2015, p. 1).


RESUMO

Esse trabalho tem por objetivo mostrar a atemporalidade do discurso político e sociocultural da Legião Urbana desde a sua estreia em 1985 até a comemoração dos trinta anos de história da banda (2015/2016) em uma turnê intitulada “Legião Urbana – XXX anos”. Para contextualizar o cenário em que essa comemoração se instala primeiramente o trabalho apresenta um estudo histórico do gênero rock alinhando-o a todos os movimentos políticos e socioculturais que aconteceram no mundo e principalmente no Brasil. Em um segundo momento é apresentada a história da Legião Urbana e toda a sua ligação como um instrumento de contestação ideológica para uma juventude que estava vivendo em um país que passava pelo fim do militarismo, as eleições direitas e consequentemente um processo de redemocratização. Para tanto deteve-se no momento atual o estudo de sua atemporalidade por meio de uma pesquisa de campo durante o show da turnê comemorativa de 30 anos em Belo Horizonte, uma entrevista com Arthur Dapieve (crítico de rock e da Legião Urbana) e também uma análise semiótica do discurso de três canções históricas que marcaram a sua trajetória. Palavras chave: Rock; Legião Urbana; Política; Cultura;


ABSTRACT

This monograph aims to show the timelessness of the sociocultural and political discourse of Legião Urbana since its debut in 1985 until the celebration of the thirty-year history of the band (2015/2016) in a tour entitled "Legião Urbana-XXX years". To contextualize the scenario in which this celebration first install the monograph presents a historical study of the rock genre by aligning it to all political and socio-cultural movements that have happened in the world and especially in Brazil. In a second moment, the history of Legião Urbana is presented and its whole link as an instrument of ideological challenge to a youth who was living in a country that spent the end of militarism, the election rights and consequently a process of democratization. For that, we stopped at the current time the study of its timelessness by means of a field research during the show of the 30-year commemorative tour in Belo Horizonte, an interview with Arthur Dapieve (rock and Legião Urbana’s critic) and a semiotic analysis of the discourse of three historical songs that have marked its career.

Keywords: Rock; Legião Urbana; Policts; Culture;


LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – População nas ruas no movimento "Diretas Já" ................................................. 29 FIGURA 2 - Início do Circo Voador em 1982 na Praia do Arpoador...................................... 32 FIGURA 3 – Bandas de Rock Carioca ..................................................................................... 34 FIGURA 4 – Bandas de Rock Paulista..................................................................................... 36 FIGURA 5 - Bandas de Rock Brasiliense ................................................................................ 38 FIGURA 6 - Banda Aborto Elétrico ......................................................................................... 41 FIGURA 7- Capa do álbum Legião Urbana ............................................................................. 43 FIGURA 8 - Capa do álbum Dois ............................................................................................ 45 FIGURA 9 – Capa do álbum Que País é Este .......................................................................... 47 FIGURA 10 – Capa do álbum As Quatro Estações.................................................................. 49 FIGURA 11 - Capa do álbum V ............................................................................................... 51 FIGURA 12 – Capa do álbum Música Para Acampamentos ................................................... 53 FIGURA 13- Capa do álbum O descobrimento do Brasil ........................................................ 54 FIGURA 14 - Álbuns solo do Renato Russo............................................................................ 55 FIGURA 15 – Capa do álbum A Tempestade .......................................................................... 56 FIGURA 16 – Repercursão midiática da morte de Renato Russo ........................................... 58 FIGURA 17- Capa do álbum Uma Outra Estação ................................................................... 59 FIGURA 18 - Álbuns "Ao Vivo" da banda Legião Urbana ..................................................... 60 FIGURA 19 - Nova formação da banda para a turnê de XXX anos ........................................ 62 FIGURA 20 – Modelo explicativo da construção do significado de ideologia ....................... 69 FIGURA 21 – Modelo esquemático da dualidade do nível profundo de Greimas .................. 71 FIGURA 22 - Modelo esquemático do octógono semiótico .................................................... 72 FIGURA 23- Exemplo do octógono proposto por Silva .......................................................... 73 FIGURA 24 - Relação do sujeito com os objetos modais e os objetos de valor ...................... 74 FIGURA 25 – Modelo esquemático do quadrado semiótico de Greimas ................................ 80 FIGURA 26 - Octógono semiótico da canção Que País é Este? .............................................. 81 FIGURA 27- Modelo esquemático da relação sujeito e objeto ................................................ 82 FIGURA 28 - A representação dos quatro níveis narrativos .................................................... 84 FIGURA 29 – Modelo esquemático do quadrado semiótico de Greimas ................................ 87 FIGURA 30- Octógono semiótico da canção Geração Coca-Cola .......................................... 88 FIGURA 31 - Modelo esquemático da relação sujeito e objeto ............................................... 89 FIGURA 32 – A representação dos quatro níveis narrativos ................................................... 90


FIGURA 33 – Quadrado semiótico da música Perfeição ......................................................... 92 FIGURA 34 – Modelo esquemático da relação sujeito e objeto .............................................. 93 FIGURA 35 - Octógono semiótico da música Perfeição ......................................................... 96 FIGURA 36 - As 4 fases do nível narrativo e sua aplicação na canção Perfeição ................. 100


SUMÁRIO

1.

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 14

2. ROCK – ARTE, POLÍTICA E CULTURA ............................................................... 17 2.1 A música como instrumento de contestação política ................................................. 17 2.2 Anos 1950 e o surgimento do rock .............................................................................. 18 2.2 Anos 1960 e a Ditadura Militar ................................................................................... 20 2.3 Anos 1970 e a Contracultura no Brasil ....................................................................... 23 2.4 Anos 1980 e o BR Rock ................................................................................................ 27 2.4.1 Rock carioca ................................................................................................................... 31 2.4.2 Rock paulista .................................................................................................................. 34 2.4 .3 Rock brasiliense.............................................................................................................. 36 3. 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8

A LEGIÃO URBANA ................................................................................................... 40 Trovador Solitário ........................................................................................................ 40 Nasce Uma Legião ........................................................................................................ 41 Filhos da Revolução ...................................................................................................... 46 As Quatro Estações....................................................................................................... 48 Será Que Vamos Conseguir Vencer? .......................................................................... 50 A Tempestade................................................................................................................ 55 Uma Outra Estação ...................................................................................................... 58 Legião Urbana- 30 anos de história ............................................................................ 60

4. A ATEMPORALIDADE DO DISCURSO POLÍTICO E SOCIOCULTURAL DA BANDA .................................................................................................................................... 67 4.1 Considerações Metodológicos ...................................................................................... 67 4.2 A atemporalidade e a universalidade na música ....................................................... 77 4.3 Análise de discurso das Canções ................................................................................. 79 4.3.1 Que País é Este? ............................................................................................................. 79 4.3.2 Geração Coca-Cola ......................................................................................................... 85 4.3.3 Perfeição ......................................................................................................................... 91 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 101 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 103 APÊNDICE A –Entrevista com fãs e admiradores na fila da turnê XXX Anos ............ 114 APÊNDICE B – Entrevista aplicada ao Arthur Dapieve ................................................. 116 APÊNDICE C – Entrevista aplicada ao Thiago Pereira................................................... 121


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1 INTRODUÇÃO

O estudo das artes e o universo da música é algo que se relaciona diretamente com as linhas de pesquisas na área de comunicação social, pois, elas envolvem uma análise sistêmica de todos os processos comunicacionais, interacionais e das relações humanas que permeiam a sociedade. Através das músicas é possível perceber a linguagem, o discurso e a estética que os emissores de tais mensagens procuram canalizar no intelecto dos indivíduos e a partir disso criam novas perspectivas, novos ideais e um novo prisma de pensamentos. A música é capaz de configurar novas ideologias a um corpo social e é desse pensamento que o gênero musical rock se apropria com o intuito de questionar ideais de uma sociedade conformista, ligada ao tradicionalismo e ao consumismo exacerbado. Com a expansão do rock em nível mundial é possível perceber que a mesma foi um importante instrumento no combate e nos questionamentos de situações políticas e socioculturais existentes em todo o mundo. A propagação do rock no Brasil se deu inicialmente nos primeiros anos do regime militar com apresentações de músicas do gênero através de artistas da tropicália, mas se amplificou somente nos anos 1980 com o chamado”Brock”, durante um período em que o país passava por um processo de redemocratização e a primeira eleição direta para presidente. Esse foi o período de maior prestígio do gênero e um celeiro para o surgimento de bandas que marcaram gerações. O movimento do “BR Rock” teve a capital nacional (Brasília) como uma localização geográfica primordial para a contextualização e perpetuação desse gênero. É nesse cenário que o objeto de estudo desse trabalho surge, a chamada “Legião Urbana”. Criada em 1982 e basicamente sob a formação de três integrantes: Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. A banda Legião Urbana configurou-se como uma das bandas nacionais de maior prestígio, não somente pelo seu poder de persuasão entre a juventude daquela época, mas também pela alta vendagem de discos (o que na época era considerado algo relevante para indiciar a proporção de sucesso de determinada banda). Pensando nisso, o objetivo geral do trabalho é analisar a atemporalidade do contexto político e sociocultural a partir do discurso presente nas canções da banda Legião Urbana.A partir disso, os objetivos específicos são: A - Investigar como a música e especificamente o gênero rock se configura como um instrumento de contestação política e sociocultural; B - Identificar a importância ideológica da banda Legião Urbana para o cenário político e sociocultural brasileiro;


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C - Examinar a atemporalidade do discurso presente nas canções Geração Coca-Cola, Que País é Esse e Perfeição em relação ao cenário político e sociocultural dos anos 80 e a fase (2015/2016) em que a banda comemora seus 30 anos de história. Para facilitar a sua realização e compreensão, o trabalho foi estruturado em cinco capítulos. O primeiro capítulo apresenta a introdução contendo um pouco da discussão geral sobre toda a proposta do trabalho, motivações e os interesses que levaram a escolha do tema. Além disso, é apresentada uma estruturação de todo o conteúdo, referenciando toda construção do projeto desde as teorizações acerca do tema até as suas aplicações metodológicas. Prosseguindo o andamento, se tem o segundo capítulo intitulado “Rock –arte, política e cultura” que conta com a descrição de todo o percurso do gênero musical. Inicia-se pelo surgimento nos Estados Unidos onde se deu os primeiros contatos com o gênero, a sua chegada ao Brasil e os impactos do regime militar que foram pautas de canções que perduraram por muitos anos. Também é relatado no capítulo às primeiras manifestações do gênero e a instalação dos movimentos contraculturais no Brasil na década de 1970 e por fim, relata todo o sucesso provocado pelo gênero na década de 1980 com o chamado movimento do “BR Rock”. É importante ressaltar que todo o capítulo está alinhado e contextualizado aos contextos políticos e socioculturais de maior relevância no mundo e principalmente no âmbito brasileiro. A partir desse contexto, o terceiro capítulo tem como intuito apresentar toda a trajetória da banda Legião Urbana. Iniciando pelos primeiros passos de Renato Russo na música, sua passagem pela extinta banda Aborto Elétrico e a sua fase em carreira solo conhecida como “O Trovador Solitário”. O capítulo também ressalta o surgimento da Legião Urbana, a assinatura com a gravadora Emi, a construção das composições tendo como pano de fundo a realidade dos anos finais da ditadura militar brasileira que estava sendo vivida por eles e a descrição completa de toda a discografia que permeia a história da banda. O quarto capítulo apresenta as considerações metodológicas utilizadas para averiguação do problema apresentado na pesquisa: Como o discurso político e sociocultural dos anos 80 da banda Legião Urbana se configura como atemporal mesmo depois dos 30 anos de carreira? Inicialmente apresenta uma teorização sobre cada método e técnica utilizada como meio de questionar ou apreender a complexidade do objetivo, posteriormente contextualiza todo o processo em que seu deu a turnê de comemoração dos trinta anos de carreira da banda intitulada “Legião Urbana -XXX Anos” e a descrição dos resultados obtidos com a realização de uma entrevista com amostra de 20 participantes entre eles fãs e admiradores da banda


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Legião Urbana na fila do show da turnê comemorativa no dia 14 de maio de 2016 na casa de show BH Hall (antigo Chevrolet Hall) em Belo Horizonte-MG, no objetivo de averiguar a importância da banda e de seu discurso político e sociocultural para os entrevistados. Outra aplicação da pesquisa de campo que aprofundou mais o estudo foi àentrevista com o jornalista, biógrafo e crítico musical Arthur Dapieve, que tem como principais canais (livros e coluna no jornal O Globo) de discussão do estudo e que analisa a cultura do rock nacional, principalmente as questões relacionadas à banda Legião Urbana. Arthur Dapieve já escreveu muitas colunas jornalísticas sobre a banda e inclusive até um livro sobre Renato Russo intitulado Trovador Solitário. Posteriormente, também foi realizada uma entrevista com Thiago Pereira, especialista em crítica e produção cultural. E fechando o quarto capítulo é apresentada uma análise semiótica do discurso de três canções da banda que tem em comum entre elas o discurso político e sociocultural e que foi escolhidas por meio da indicação de Arthur Dapieve na obra Trovador Solitário (2000) que entende que essas canções possuem em comum a busca pela propagação de uma nova ideologia a juventude daquela época. A análise foi realizada através de uma leitura crítica dividida em análises fragmentadas das estrofes de cada canção e buscando explicitar a interpretação por meio de aportes teóricos. A primeira canção que foi analisada é Geração Coca-Cola (1978/1985), a segunda foi a Que País é Este (1978/1987) e por último a Perfeição (1993). E por fim, o quinto capítulo apresenta as considerações finais do trabalho que de maneira geral mostra como a atemporalidade do discurso da banda ainda é encarnada nos fãs e admiradores após trinta anos de história da banda. Além disso, também mostra como as canções da banda retratam tanto o cenário político da época de surgimento da banda, como no atual momento em que a política brasileira vem passando.


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2 ROCK – ARTE, POLÍTICA E CULTURA

Propõe-se neste segundo capítulo compreender a história do gênero musical rock alinhado aos movimentos culturais e políticos que se estabeleceram em todo o mundo, principalmente no Brasil entre a década de 1950 até 1980. O capítulo começa a partir do surgimento do Rock nos Estados Unidos na década de 1950, posteriormente perpassa pelos primeiros contatos do rock entre artistas brasileiros da década de 1960 que já davam indícios da perpetuação do gênero no país. Seguindo o capítulo tem-se a década de 1970 que foi o período onde os primeiros artistas do gênero surgem no Brasil e por fim a década de 1980 que foi a explosão do Rock nacional através do movimento denominado “brock”.

2.1 A música como instrumento de contestação política

As manifestações artísticas são uma forma de analisar o mundo por inteiro. Desde os primeiros movimentos artísticos no mundo e principalmente no Brasil já era possível observar que tais expressões estavam ligadas diretamente aos contextos históricos que permeavam cada momento em que o país passava. Dentre as manifestações artísticas proporcionadas pela arte a que será analisada nesse projeto é a música que é “um exercício de pensar a cultura, a memória e a sociedade brasileira.” (ARAÚJO, 2011, p. 11). A música é um das referências que permite uma visão mais exploratória do mundo. Por esse motivo Bloch (2006), acredita que a música é a arte que possui maior influência, pois, ela tem poder de reorganizar tempos e espaços através da relativização do passado em paralelo ao presente e ampliar uma nova perspectiva em relação ao futuro. Ela tem o poder de pontuar situações em relação a tudo que é atroz e criar através de um protesto uma sensação de esperança e busca de solução para os questionamentos. Araújo (2011) explicita que a música se apropria a todo o momento de interações simbólicas e é nesse momento que ela se configura como um poder de ampliar a comunicação nas relações interpessoais. Por esse motivo os estudos culturais relacionados ao discurso das musicas contemporâneas se tornaram uma forma de identificar diversos vieses de pensamentos e comportamentos em uma sociedade, desde a forma psíquica de análise até as verbais e as imagéticas construídas através de símbolos.

Talvez possamos dizer que o alcance comunicacional, no sentido de popular, seja uma chave interessante para diferenciar a música de outras artes, neste sentido. Especialmente a música pop, que se vale se todo um aparato sócio-técnico que,


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mesmo com todas as mudanças no cenário da indústria- especialmente as lógicas de produção, divulgação e consumo em rede, via internet- ainda se valem de expedientes típicos de comunicação massiva, com rádio, televisão, etc. Este seria um primeiro aspecto: a maneira como a música popular é distribuída no tecido social, talvez mais ampla que outras formas artísticas. (PEREIRA, 2016).

Dentro do universo ampliado da música, podem-se perceber inúmeras construções simbólicas que vão se moldar conforme o gênero musical existente. No caso do presente trabalho, o gênero que terá como embasamento é o rock. O rock é um gênero que busca construir um pensamento crítico em relação à visão de mundo de cada individuo, onde cada um configura seu pensamento e sua análise em prol de criar uma construção de pensamento social. O gênero tem como base de exploração a juventude que é uma fase da vida em que o individuo não aceita ser apenas algo passivo a todas as consequências do mundo e vê no rock como uma forma de transgredir suas ideias em prol de uma ideologia crítica e reflexiva.

Estudar o Rock é procurar compreender os movimentos da mentalidade. É tentar descobrir no coletivo as razões interiores que motivam à participação (ou à alienação), é entender melhor porque fazem aquilo que fazem os movimentos jovens. Num momento da vida de extrema riqueza de questionamento dos valores, embaraçam linhas cujo fio da meada pode ser vislumbrado, com grande facilidade, num som eletrificado. (CHACON, 1983, p. 31)

Para entender todo o processo de construção do pensamento ideológico do objeto de análise desse trabalho científico (Legião Urbana) é preciso apresentar a linha cronológica não só relacionada à música, como tambémos mais expressivos movimentos políticos e socioculturais que permearam o mundo com ênfase claramente no Brasil. Nas seções a seguir busca se apresentar o cenário em que estabeleceu as primeiras configurações de início do gênero rock no mundo até a década de 1980 onde a Legião Urbana nasceu e fez morada.

2.2Anos 1950 e o surgimento do rock Segundo Mazzoleni (2012), as raízes do rock foram observadas em meados da década de 30no âmbito rural das cidades do interior dos Estados Unidos. A música era considerada uma forma mais sólida de perpetuar a ideologia da luta dos negros das comunidades rurais e foi sendo incluída nos grandes centros urbanos por meio da inserção dos discos nas prateleiras das principais lojas, dos concertos musicais e obviamente ao crescente número de músicos. Historicamente, os gêneros musicais que foram os percussores para a criação e contextualização do rock são considerados o country, o blues e o Rhythmand bluese o grande


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ápice do sucesso desses gêneros aconteceu durante a crise de 1929 que perpetuou até meados da década de 1930 e ocasionou uma recessão nas atividades econômicas de diversos países. Conforme Vinil (2008), o primeiro gênero que influenciou o surgimento do rock foi o Country. Gênero no qual é proveniente da influência dos escravos e que se tornou uma característica cultural da vida no campo, tal estilo é considerado o que mais se enquadra no modo de vida do americano e que teve os imigrantes irlandeses como responsáveis por agregar técnicas e alguns instrumentos musicais para o gênero como o banjo, por exemplo. Respectivamente, o blues é um estilo que possui como característica o uso de notas graves que proporciona a construção de uma melodia expressiva e estruturada através das repetições das notas musicais. Uma das marcas desse estilo é a padronização de uma baixa frequência nas notas e além de ser ligada a cultura afro-americana que possui enraizada em suas letras temas de cunho social como a questão da relação do homem com o trabalho, o amor, a religião, o sexo e as dualidades dessas características. Já o Rhythmand Blues conforme Chacon (1983) é considerado a “vertente negra do rock” que se originou na década de 1940 nos Estados Unidos e tem como ligação histórica a questão da mão de obra negra e a escravidão. Além disso, uma das marcas da identidade do gênero é a influência do blues através do uso das guitarras elétricas, composição com uma estrutura mais harmoniosa, ritmo mais acelerado, vozes mais gritadas e as características do folclore negro norte-americano. O rock propriamente dito ou caracterizado como um gênero se iniciou a partir da manifestação por liberdade do negro recém-chegado na América como escravo e se tornou um símbolo no movimento de contracultura dos jovens da década de 1950, É então, que a partir daí se perpetuou um novo conceito musical que surgiu historicamente em um momento de disputa entre as grandes potências e as formas de governo tanto capitalista como o comunismo. Alinhado ao contexto de pós-guerra esses jovens se viam inseridos em uma sociedade com a extrema valorização do consumo e da perpetuação tecnocientífica. Como válvula dessas novas perspectivas, a música se tornou um chamariz para a empregabilidade das ideologias contestatórias da sociedade em relação à cultura existente, a educação e a política. Nascida do protesto e da rebelião, a contracultura tende a ser assimilada pela cultura oficial, cada vez mais rapidamente, como demonstram os muitos movimentos de vanguarda desse século. Mas há também a contrapartida: ao absorver elementos da contracultura, a cultura oficial se deixa modificar e é bem possível que esteja assinando, com esse processo de absorção, sua própria sentença de morte. (MUGGIATI, 1983. p. 69).


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2.3 Anos 1960 e Ditadura Militar Os anos 1960 para o rock é caracterizado como a década da rebeldia e transgressão e tinha como foco a contestação social e ideológica, principalmente devido às diversas manifestações contra os valores morais que eram perpetuados pelas gerações passadas. Nesse período o mundo entrava de maneira plena na chamada “sociedade do consumo”, onde a indústria cultural ditava a moda e o comportamento das pessoas e como questionamento a essa nova percepção de mundo os jovens viam na música uma forma de libertação para tais imposições. Segundo Muggiati (1983), essa onda de questionamentos era procedente do chamado “anos rebeldes”, período onde a pluralidade cultural se estabeleceu e serviu como meio de propagar ideais contestatórios. Os jovens foram os percursores na luta contra o atual sistema, através dos jovens brancos de classe média que se sentiam oprimidos em relação à cultura das gerações passadas e com isso assumiram a cultura negra como forma de reafirmação de identidade e a busca por visibilidade. Esta cultura tornou-se “objeto de exportação” dos EUA em seu ápice de prosperidade conquistado após a Segunda Guerra Mundial. A partir dali, este país experimentaria um surto de êxitos econômicos que culminariam num nível de consumo inédito em sua história. A população branca de classe média foi a principal responsável por essa corrida ao consumo, mas este não ficou restrito apenas a ela. O Rock’nRoll, com este rápido internacionalismo decretado pela indústria fonográfica norte-americana acabou se somando a esse estilo de vida novo, mas desta vez, voltado aos jovens. Configurado desta maneira, chegou a inúmeras partes do mundo não só como uma música, mas como um padrão de comportamento juvenil típico de uma sociedade desenvolvida e consumista. (RAMOS, 2009, p. 3).

Historicamente, nesse período se vivia no mundo a chamada “guerra fria”, ou seja, a disputa ideológica entre as principais potências daquela época: Estados Unidos e União Soviética e como desdobramento dessa disputa ocorreu à construção do muro de Berlim em 1961 que dividia a Alemanha oriental (comunista) e a ocidental (capitalista). Na cultura, os marcos mais importantes foram à perpetuação do movimento hippie, o acontecimento do festival Woodstock que estava ligado às ideologias comunistas e contraculturais, a perpetuação de subgêneros do rock como o folk rock (uso de instrumentos acústicos, alinhado ao blues e que continham discursos progressistas em sua letras), o rock progressivo (letras que usam temas como ficção científica, religião, amor, guerra e loucura) e o rock psicodélico (ligado ao estado psíquico do indivíduo que está sob os efeitos dos alucinógenos e que passa a perceber o mundo como se fosse um sonho através de um surto de


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consciência) e por fim, o êxito da carreira musical de bandas como The Who, Rolling Stones, The Doors e Beatles. Em meio a esses movimentos pelo mundo, o Brasil passava por uma década onde ocorreu um dos fatos históricos mais marcantes da história nacional, a ditadura militar. Segundo Saggiorato (2008), já inserida em outros países, o regime militar iniciou-se no Brasil em março de 1964. O país passou a ter o controle político das forças armadas e de seus aliados civis. E desde então, os habitantes passaram a ser censurados e controlados conforme a vontade do governo. Uma das coisas mais marcantes do rock é exatamente essa ligação da revolta dos jovens naquela época, com relação à situação em que eram obrigados a viver. A música foi apenas uma das expressões utilizadas. Assim, começaram a surgir às chamadas canções de protesto, escritas por dezenas de compositores que, de primeiro momento, queriam expressar uma possível intervenção política dos artistas na realidade social que o país se encontrava, como a da frase representada na figura 2 “Amanhã vai ser outro dia”, oriunda de uma das canções compostas por Chico Buarque que criticava subjetivamente o momento em que o país estava passando. Talvez assim, eles pudessem contribuir para a criação de uma sociedade mais justa e igualitária.

Nas décadas de 1960 e 1970 os campos cultural e, devidamente, musical passam a ser uma extensão dos conflitos político-ideológicos do Estado e também dos ideais de esquerda. Portanto, durante o regime militar não somente o Estado oficial tem seu projeto de homogeneização cultural, mas também as esquerdas apresentam e tentam executar o seu. (SAGGIORATO, 2012, p.96).

De acordo com Fagundes (2012), o rock ainda não era definido como um estilo musical no Brasil, pois se misturava com as canções de MPB e Bossa Nova que já existiam no país. Mas o que mais diferenciou todos esses estilos foram os protestos musicais feitos por compositores, perante a indignação de uma política autoritária e opressiva. As músicas representadas pelos compositores de Bossa Nova e MPB já continham determinadas avaliações sobre a situação política do Brasil naquela época, que faziam as pessoas repensar um pouco sobre uma possível revolução social no país. Exatamente por isso, muitos desses compositores, como Caetano Veloso e Geraldo Vandré, foram punidos, presos, censurados e, muitas vezes, até vaiados por uma sociedade que, ainda não conhecia o tamanho da sua força social para enfrentar uma ditadura militar. Segundo Saggiorato (2012), o surgimento do primeiro registro de rock no Brasil, foi por meio de uma versão do filme Rock aroundtheclock de Bill Haley, onde a cantora de sambacanção Nora Ney, grava uma versão em português chamada Ronda das Horas, lançada em


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1955. Até então, não existiam realmente roqueiros de raiz, pois era uma coisa muito recente no mundo. Existiam apenas músicos de outros gêneros, que resolveram embarcar nesse estilo musical. Então, um pouco mais tarde, podemos repensar sobre o surgimento do verdadeiro rock, que foi o único movimento musical que realmente pertenceu aos jovens. Porque através do rock, conforme Contier (1998) os jovens passaram a sentir que, pela primeira vez, tinham poder para mudar as coisas no país. Foram jovens que nasceram com milhares de coisas sendo impostas a eles, desde a educação que os pais davam, até a forma com que aprendiam na escola, as ideias que tinham que ter e as regras impostas pelo governo. O rock fez com que o jovem pensasse que, finalmente, conseguiu uma identidade e que poderia expressar suas opiniões por meio dela. Após os anos dourados da década de 1950, surgiu uma canção que fez muito sucesso na época e foi importante relevância para a formação do rock na Jovem Guarda que viria anos depois. A canção se chama Rua Augusta e foi composta por Hervê Cordovil. É uma canção que demonstra claramente o comportamento dos jovens daquela época e demonstra o desinteresse dos músicos com a relação política da época. Analisando dessa forma, segundo Groppo (1996), pode-se perceber que somente após o surgimento do Rock’nRoll é que pode-se identificar uma “cultura jovem” na sociedade. Esse movimento de cultura jovem começou nos EUA e contagiou todos os outros países com o passar dos anos, pois causou um sentimento de esperança e mudança nos jovens, que passaram a não querer mais viver sobre a sombra de seus pais e do governo. A fuga desses padrões estabelecidos começou pelo visual que foi se modificando e gerando certo estereótipo sobre o que seria o roqueiro na sociedade. Antes da “revolução musical'' trazida nos anos 1980, esse movimento rebelde dos jovens em relação ao rock, era considerado sem causa, pois eles não aderiam a nenhuma causa específica para se rebelarem, ou seja, não havia uma luta ideológica clara. Mas com o surgimento da Tropicália, trazida pelo MPB (Música Popular Brasileira) “reformado”, algumas bandas brasileiras, e a inspiração em bandas de outros países, os jovens do Brasil começaram a repensar sobre suas atitudes e sua rebeldia sem causa, e utilizavam da música para expressar o que pensavam e protestar contra o governo naquela época. Diversas canções serviram com esperança para toda a sociedade que estava cansada da ditadura imposta no país há anos. Dessa forma, o rock passou a se espalhar no mundo, não só como música, mas como um padrão de comportamento juvenil típico de uma sociedade desenvolvida e consumista.


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2.4Anos 70 e Contracultura no Brasil Segundo Monteiro (2010), os primeiros anos da década de 1970 foram marcados por fatos históricos como o fim da guerra do Vietnã em 1975 devido aos protestos de grupos pacifistas e da população em prol da retirada das tropas dos Estados Unidos, a assinatura do acordo de cooperação pacífica da energia atômica, feita por Richard Nixon e Leonid Brejnev em 1973 como uma possível solução para resolver a situação da corrida armamentista e do mundo polarizado, a continuidade das ditaduras militares na América latina e o apartheid na África do Sul e na Rodésia. Os movimentos sociais ganhavam força, principalmente na luta contra a discriminação racial, sexual e também em relação à devastação dos recursos naturais do planeta. No campo da música, os ícones dos anos 1960 estavam sendo substituídos por novos artistas e o rock ganhava novas ramificações. O rock progressivo ainda estava em evidência com as mesmas características, como a ligação com a psicodelia e com o caráter revolucionário. O glam rock e sua similaridade com o estilo das discotecas e um visual mais andrógeno. A indústria fonográfica do rock se expandiu como nunca, e o rock havia chegado ao seu grau máximo de sofisticação e desenvolvimento de vários subgêneros do estilo que surgiram como produto da “subcultura” homossexual, negra e latina dos grandes centros urbanos dos EUA. Foi um período evasivo do rock e da música no mundo. (LIMA, 2015, p 13)

Conforme Anaz (2014), os anos 1970 ampliaram a efervescência das discotecas, a hegemonia do cinema hollywoodiano, o fim do rock progressivo e o surgimento do movimento punk. O vestuário e o comportamento dos jovens tiveram mudanças radicais. No início da década ainda era possível observar uma ligação dos jovens com a cultura hippie e da psicodelia dos anos 1960, já no final da década eles já se posicionavam significativamente com o visual agressivo e rebelde do punk. Todas essas características fizeram com que fossem enterrados as ilusões da década passada e fortificar a sociedade para uma possível nova visão na década que estava chegando. Os anos 70 trouxeram uma mudança radical no comportamento jovem. Em uma década, ele foi da esperança à desilusão, do engajamento ao descompromisso. O que começou com protestos contra a Guerra do Vietnã, com lutas contra os regimes autoritários na América Latina e outros embates ideológicos terminou no niilismo e no desencanto do punk ou num crescente hedonismo que daria o tom nas décadas seguintes. Ao final daqueles anos, quase nada da cultura hippie, da paz e amor do “flowerpower” havia sobrevivido. Aquela contracultura idealista e pacifista, por exemplo, havia sido substituída por uma outra agressiva e pragmática. (ANAZ, 2014)


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Enquanto isso no Brasil, o cenário sociocultural e político dos anos 1970 no Brasil ainda estavam ligados diretamente a todo o período da ditadura militar. Segundo Ramos (2014), o ponto mais agravante desse período se deu em 1968 no governo de Costa e Silva, quando foi acordado através do tratado do AI-5 diversas novas definições para a constituição brasileira como a suspensão das atividades do congresso, pouca autonomia por parte do executivo e fortes regras quanto à liberdade de expressão dos indivíduos, principalmente os que estavam vinculados às diversas expressões artísticas em evidência na época. Em termos culturais, essa nova imposição governamental fez com que as manifestações artísticas se tornassem uma afronta ao regime militar, pois todo o conteúdo das mensagens continham fortes críticas ao governo. Conforme Ramos (2014), dentre os produtos que foram censurados estavam cerca de seiscentos filmes, quinhentas peças teatrais, diversas produções cinematográficas, a proibição da publicação e editoração de livros e a reprodução de músicas que continham traços que eram considerados pelo governo como “libertinários”. Como forma de reação a essa imposição, conforme Habert (2001), os músicos da época começaram a reinventar as artes e passaram a recriar o conteúdo de suas músicas utilizando diversos recursos como a metáfora, mensagens cifradas, sátira, uso de humor e trocadilhos. Essa foi uma forma bem satisfatória dos artistas para reafirmarem o conteúdo para o público de massa sem sofrer perigo de serem questionados. Para Brandão e Duarte (2013), o rock dos anos 1970 proporcionou uma nova construção ideológica e estética de um envolvimento contestatório, porém esses princípios não estavam ligados aos discursos de direita e nem de esquerda. O que estava em evidência era um novo meio de discurso que não tinha envolvimento partidário, ou seja, o caráter ideológico tinha como base a representação da sociedade por intermédio dos músicos. Fazer política era mais do que criticar o governo, a guerra, a repressão ou o fisco, além de defender os pobres e as minorias. Mais do que o capitalismo ou a luta de classes, buscava-se uma solução mais ampla (porque generalizada) e, paradoxalmente, mais particular (porque vinda do interior de cada um). Necessário se fazia dar vazão às utopias, tanto coletivas como individuais. (CHACON, 1985, p 23).

Conforme Alves (1993), um dos movimentos mais evidentes nas artes e principalmente na música na década foi à chamada “contracultura”. O início dos movimentos contraculturais se deu na Europa e nos Estados Unidos nos anos 1960, porém no Brasil ele teve relevância somente na pós-ditadura. A ideologia dessa nova concepção possuía um caráter que buscava


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conhecer uma nova maneira de viver e conhecer o mundo interior de cada indivíduo por meio das reflexões propostas nas canções dos artistas da época, principalmente os roqueiros. Para Barros (2005), com a busca pelas ideologias contraculturais, os jovens seguidores desse movimento foram considerados inseridos em uma “cultural marginal”, conhecida também como underground. Esse conceito está ligado à busca por uma maior evidência de uma sociedade minoritária que busca a desagregação dos valores institucionais e da burguesia: “Os embriões de uma nova cultura, que foi, muito frequentemente, chamado de contracultura”. Havia três reações para o jovem da época: a luta armada, “o desbunde da contracultura”, ou, então, a conformidade com o sistema, tornando-se, no linguajar contracultural, um “careta”. (BARROS, 2005, p 84) Para Pawloski e Teixeira (2012), a contribuição da contracultura estabeleceu uma nova perspectiva social que é procedente dos impactos dos chamados estudos culturais. As relações dos músicos ao emitir um discurso aos ouvintes produzem neles uma construção de ideais opositores e certa resistência a toda informação proposta pela grande mídia. É a partir desse contexto que os meios de comunicação de massa, em parte, começam a serem veículos representativos de contestação e produção de elementos críticos. Segundo Cruz (2000), o rock teve grande influência no processo da contracultura e elas podem ser observadas nas composições da década de 1970. Embora esse período não tivesses um expressivo número de bandas nacionais em evidência, as poucas que fizeram parte dessa época mostraram uma qualidade conceitual e de grande poder para exercer influência na sociedade que vivia os resquícios da ditadura militar. Um dos grandes destaques do cenário do rock de 1970 foi Rita Lee,Conforme Hepner (2015) ela foi considerada pelos críticos e seguidores do rock como “Rainha do Rock Nacional”. Ela foi uma grande influência para uma juventude em que estava inserida em um momento que tinha como evidência o consumo exacerbado, em suas canções ela evidenciava o descompromisso dos jovens com a crítica ao sistema. Sua efetiva participação na década de 19’70 se deu após a sua saída do “Mutantes”, banda formada juntos com seus irmãos. O motivo de sua saída consistia no fato de que a banda estava seguindo uma nova ideologia buscando escrever suas canções em uma linha mais hermética, psicodélica e sob a perspectiva do rock progressivo, na verdade, a banda nunca seguiu uma vertente mais voltada por rock’n’roll de fato. Posso afirmar que a trilha sonora da minha juventude foi uma viagem de LSD cujo bilhete era só de ida. Assim sendo, nunca mais retornei ao meu sagrado lar, onde vivia sossegadinha minha vida bestinha. Daí que, quando me chega alguém me


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perguntando “Que rock é esse”?”“, eu respondo uma bobagem qualquer e saio à francesa. É um pássaro? Um avião? Um disco voador? Uma guitarra distorcida? Uma inteligência artificial? Um violãozinho porreta? Sei lá meu. Bota tudo num liquidificador e chama de rock’n’roll. (RITA LEE apud GOHL, 2014, p 8).

Segundo Dapieve (2015), outra banda de grande contribuição para o rock desse período foi a Secos e Molhados que tinham os princípios conceituais baseados na contracultura. Eles se definiam como “parte marginal” da sociedade e procurava evidenciar em suas canções um espírito de liberdade e contrário a tudo o que era considerado “normal” para o momento em que estavam vivendo. Essa ideologia só fez afirmar mais ainda a resistência ao regime e vivenciar de fato as características da cultura underground. Uma das personalidades mais icônicas do cenário do rock nacional de acordo com Santos (2007) teve o auge do seu sucesso na década de 1970. Raul Seixas, mais conhecido como “Raulzito” iniciou sua carreira em 1968 através da criação de sua banda chamada “Os Panteras”, porém, seu êxito na música se deu apenas em meados da década posterior. Uns dos pontos mais característicos de suas composições eram que elas exprimiam conceitos filosóficos, psicológicos e até mesmo do ocultismo. Raul era um estudante e apreciador dessas áreas. Segundo Batista (2011), Raul Seixas teve uma grande contribuição para o movimento de contracultura. Suas músicas empregavam palavras de ordem contra o sistema em que estava inserida, grande parte dessas ideologias eram frutos de análises da sociedade com a ajuda do escritor Paulo Coelho que vivia com ele, segundo suas próprias palavras em uma entrevista para o portal da UOL (2007) "Eu e Raul Seixas éramos amigos e inimigos íntimos". Embora a relação conflituosa, ambos foram compositores de canções que colocava em debate a sociedade vigente, como a música Ouro de Tolo que fazia uma crítica à efemeridade da duração dos bens materiais e as falsas sensações que o consumo exercia no pensamento dos indivíduos: “Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês. Eu devia agradecer ao senhor por ter tido sucesso na vida como artista. Eu devia estar feliz porque consegui comprar um corcel 73.” (SEIXAS, 1973, faixa 11). O fundamento histórico da analogia dessa canção é procedente segundo Lima (2008), das falsas promessas dos alquimistas na idade média com as aspirações da classe média brasileira que apoiou o milagre econômico da ditadura. Sem falar também no moralismo por parte da sociedade, a construção do “cidadão respeitável” e pela visão religiosa que se conforma de maneira totalmente passiva as leis e os costumes empregados naquele período.


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Outro exemplo, podemos encontrar na música “Mosca na Sopa” que segundo Batista (2011), utilizava de figuras de linguagem principalmente a metáfora para confrontar o governo autoritário dizendo que as tentativas em censurá-lo seriam frustradas, porque por mais que eles tentassem barrar novos discursos sempre aparecerá uma nova “mosca na sopa”, ou seja, um revolucionário para questionar os valores da ditadura: “Eu sou a mosca que pousou em sua sopa, eu sou a mosca que pintou pra lher abusar.” (SEIXAS, 1973, faixa 9). Segundo Boscato (2006), a fase mais marcante da trajetória de Raul Seixas foi à chamada “Sociedade Alternativa”, nome que foi empregado em uma canção do álbum “Gita” de 1974. Tal conceito teve como inspiração os ensinamentos libertinários do ocultista inglês AleisterCrowley e sua Lei de Thelema: "Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.". O ocultista foi um dos responsáveis por moldar o cenário das filosofias ocultas durante a sua existência e alinhar a linha do humanismo ao ocultismo. Suas ideologias fizeram com que Crowley fosse considerado um admirador das trevas, chamado como “adorador do diabo”. De acordo com Batista (2011), no Brasil as composições de Raul e Paulo Coelho foram às únicas que associaram as ideologias de Crowley nas suas composições. Porém, no contexto do rock internacional pode-se ver a influência do ocultismo como na contracapa do disco “SgtPepper’sLonelyHearts Club Band” (1967) dos Beatles, a banda Black Sabbath fez uma música em homenagem ao ocultista e também a banda Led Zeppelin sofreu fortes influências. Em meio a essa perpetuação dos movimentos contraculturais no fim da década de setenta no Brasil através das músicas que empregavam ideologias e críticas ao sistema. A sociedade passava a vivenciar novas ideologias e é nesse momento que o rock brasileiro começava a configurar uma possível ascensão em grande escala na década posterior; Não só a sociedade brasileira, mas o mercado fonográfico estavaaberto para receber um novo movimento que depois se transformaria no ápice do rock brasileiro, o chamado Br Rock.

2.5 Anos 1980 e o BR Rock

Em meio a todos as divergências políticas deixadas com o fim da década passada, os anos 1980 se inicia com diversos conflitos armados e com uma das maiores guerras já vistas no mundo entre duas nações do oriente médio: Irã e Iraque. De acordo com Chaise (2014), o conflito que durou cerca de oito anos, teve como principal característica a intervenção americana em prol de colaborar com o Irã, no objetivo de enfraquecer o poder de Saddam Hussein. O que ocasionou ainda mais as disputas políticas e ideológicas das grandes potências mundiais.


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Outro importante conflito que ocorreu na mesma década segundo Cassarotti (2013), foi à guerra das Malvinas, iniciada através da Argentina na tentativa de invadir o arquipélago e reivindicar a soberania das Ilhas Malvinas alegando ser herdeira dos direitos da colonização espanhola e o tomar do Reino Unido. Toda essa perspectiva por parte da Argentina se deu devido a brigas territoriais procedentes de colonizações distintas, embora os embates físicos sejam datados historicamente nesse período, esses conflitos existiam desde o século passado através de lutas ideológicas. Em contrapartida a essas intensas batalhadas ocorridas. Para Ávila (2010), o muro de Berlim, um dos símbolos da guerra fria foi derrubado em 1989 através de populares que utilizaram de ferramentas para romper a divisão física não somente das duas Alemanhas, mas como forma de pacificar o conflito entre as ideologias do comunismo e do capitalismo. Com isso, a URSS se vê totalmente em um colapso político e o processo termina na reunificação das duas Alemanhas em 1990. Em termos culturais a década de 1980 possuiu características peculiares, como a globalização e difusão da cultura pop. Também foi marcada por inúmeros novos subgêneros do rock, embora ainda fosse percebido um resquício bem acentuado da cultura punk. Conforme Prado (2011), a geração que estava em evidência possuía traços que seguiam uma linha mais sombria e solitária, empregando a imagem de uma juventude rebelde e que se sentiam representados pelas letras das canções que exploravam do lado individualista de pensar de cada um e a forma de ver o mundo através de suas ideologias. É nesse contexto ideológico, político, econômico e enfim, cultural, que temos a emergência do movimento juvenil roqueiro da década de 80, na qual a juventude acreditava que poderia mudar a sociedade, indo buscar novas formas de mentalizar os valores humanos. Os paradoxos da modernidade, em um país que em sua essência não é moderno, provocam nesses sujeitos jovens uma grande mudança, uma verdadeira revolução no campo da música, em que o rock é um elemento de contestação e ligação da geração em debate. (PRADO, 2011, p. 4)

Segundo Lima (2015), o rock passou a receber novas influências em subgêneros como o Hard Rock e Heavy Metal. Embora sejam muito parecidos e até utilizados como sinônimos, a diferença consiste na essência e na influência no qual cada uma segue. Ambos possuem suas raízes no blues e no rock psicodélico, porém, o hard rock está ligado mais a essência de suas influências e já o heavy metal tem como base nas suas melodias o uso das guitarras elétricas de sons mais graves e intensos, repetição estratégica de notas e solos na maioria das músicas. Segundo Prado (2011), outros subgêneros surgiram a partir de meados da década de 1980 como o pós-punk (que alinhavam o experimentalismo das vanguardas artísticas através das


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mesmas atitudes presentes no punk e seguindo uma linha mais melancólica e obscura), o glam metal (subgênero procedente do heavy metal e que tinha com base em suas canções a tríade que utilizavam o sexo, a bebida e o rock) e por fim o rock alternativo (gêneros musicais influenciados pelo punk que não se enquadravam em nenhum subgênero, pelo fato das inúmeras misturas de estilos e de sons mais complexos). As bandas de maior sucesso na década de 1980 foram: The Cure, The Smiths e U2. A banda The Cure tinha utilizavam um visual dark (subcultura gótica que estava alinhada ao pós-punk) que usavam roupas, batons e maquiagens em tons escuros e os cabelos arrepiados. Outra banda característica desse momento são os irlandeses da U2 que traziam em suas composições críticas ao sistema político e social em que o mundo estava instalado através de um conteúdo lírico com o uso imagens ligadas a espiritualidade e o cristianismo. Enquanto isso no Brasil, conforme Lungov (2012) a década de 1980 foi marcada por um processo de transformação da população brasileira. No início dos anos 80, a ditadura militar brasileira ainda estava em evidência. O processo de democratização do regime começou a se dar através do governo de Ernesto Geisel no final da década de 70 que propôs uma abertura política “Lenta, gradual e segura” o que proporcionou aos poucos o fim do regime militar com a colaboração da força instalada pela oposição ao governo, o fim do bipartidarismo e o surgimento de novos partidos e o fortalecimento da força sindicalista. É nesse momento em que muitos cidadãos saíram às ruas exigindo que a população tivesse o direito de escolher o próximo presidente através do voto direto. O chamado movimento das “Diretas Já” (figura 1) em 1984 nominou as várias passeatas ocorridas nos centros urbanos do país e também instigou uma série de manifestações artísticas que refletiam sobre aquele momento. Frustrando as expectativas da população, as eleições diretas não foram aprovadas nesse momento e em 1985, Tancredo Neves foi eleito em uma votação indireta. Porém, antes de assumir o cargo ele faleceu, é então que seu vice José Sarney acabou se tornando o primeiro presidente pós-ditadura. Figura 1 – População nas ruas no movimento “Diretas Já”.


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Fonte: ESTUDO PRÁTICO, 2014.

De acordo com Santagada (2010), os analistas econômicos da conjuntura brasileira consideram esse momento da história do Brasil como uma “década perdida”, pelo fato da herança do milagre econômico (1968 - 1973) que acabou ocasionando ainda mais os grandes constastes sociais e econômicos em uma sociedade onde o acesso aos bens básicos como a saúde, o saneamento básico, a educação, o direito a moradia e a alimentação eram extremamente excludentes. Nesse momento o Brasil se posiciona em um dos primeiros países do mundo com maior concentração de renda, porém, a qualidade de vida da população era baixa. Por esse motivo existia toda essa crítica por parte dos analistas em prol dessa dívida social. Outro fato histórico de cunho político que ocorreu na década de 1980 segundo Lungov (2012), foi à promulgação de uma nova constituição em 5 de outubro de 1988 que foi o principal evento do início da nova república. A carta magna determinou novos rumos para a política como as eleições diretas e em dois turnos para a presidência da república, o maior controle do poder legislativo sobre as ações do executivo, manteve-se o presidencialismo, o voto se tornou facultativo aos indivíduos de 16 a 18 anos e aos analfabetos. Os movimentos trabalhistas também conquistaram importantes direitos como a licença maternidade e paternidade, a jornada semanal de trabalho, décimo terceiro salário para os aposentados e pensionistas, seguro desemprego, limite para o pagamento de hora extra prestada para os servidores, liberdade sindical e os trabalhadores domésticos também foram inclusos na participação por proveitos relacionados às leis trabalhistas. Além disso, se tornou crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados ou militares contra o estado democrático de direito, o racismo, a tortura e o terrorismo. É nesse cenário político, econômico e cultural que se percebe o surgimento de um novo movimento roqueiro da década de 1980, na qual os jovens tinham como ideal buscar refletir um novo discurso na sociedade levando eles há uma reflexão mais crítica em relação à realidade do país. Segundo Prado (2011), os jovens buscavam utilizar a música como um instrumento de contestação social em prol de trazer a grande massa discussões relacionadas a diversas esferas do corpo social. Embora nas décadas anteriores já terem aparecido artistas do gênero, o rock praticamente teve que esperar em torno de três décadas para se consolidar no Brasil. Renato citado por França (2016),dizia que os anos 1980, no Brasil, representavam na verdade os anos 1960.Essa nova mudança se deve a nova percepção dos jovens músicos daquele período que passaram a


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enxergar o rock não somente como algo relacionado à diversão dos finais de semana, mas sim como um viés capaz de gerar um deslocamento do “lugar comum” em que o país se encontrava. Por esse motivo, eles amadureceram musicalmente e passaram a profissionalizar a carreira. Os sentimentos que moveram as juventudes nesse período foram muito mais subjetivos do que sociais. A liberdade tão procurada antes mostrava-se palpável; agora com o processo de abertura política e as identidades e identificação assimiladas por essa parcela da população urbana, não podiam estar fechadas dentro de nenhum modelo pré-determinado por quem quer que fosse. A liberdade de ser ou não ser, gostar ou não gostar, querer ou não querer passou a estar acima de qualquer ideologia política e social. O mundo assistia a derrocada do socialismo e a nova Ordem Mundial, produzida pela globalização, que se auto proclamava avassaladoramente redentora do capitalismo, o que aclamava a falência de projetos modernizantes em países como o Brasil. (RAMOS, 2010, p.100).

Apartir dessa nova percepção dos jovens músicos é que inicia uma nova fase no cenário do rock nacional, o chamado “Brock”. De acordo com Rochedo (2011), a expressão “Brock” foi criada pelo crítico musical Arthur Dapieve que entendia que o gênero passava por um processo de despontamento naquele período. As bandas que iniciaram essa nova fase estavam basicamente no circuito Rio/São Paulo e em sua grande parte eram influenciados pela ideologia “faça você mesmo” do punk-rock.

2.5.1 Rock Carioca No Rio de Janeiro a expansão do rock se deu por meio da inauguração de um espaço cultural chamado “Circo Voador” onde a sua primeira localização era na Praia do Arpoador, já que o local era o ponto de encontro dos jovens cariocas. A criação desse espaço proporcionou uma visibilidade maior aos novos artistas, principalmente os roqueiros que estavam se tornando conhecidos midiaticamente e por esse motivo desde os primeiros meses de existência o espaço foi considerado por Dapieve (2015) como “o templo carioca para o novo rock brasileiro”. Atualmente o “Circo Voador” (figura 2) se localiza no bairro da Lapa e ainda é considerado um espaço tradicional e de apropriação cultural.


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Figura 2 - Inicio do Circo Voador em 1982 na Praia do Arpoador.

Fonte: YAHOO, 2012. O Rio de Janeiro foi um celeiro de bandas que se tornaram ícones principalmente do movimento do Brock (figura 3). Conforme Dapieve (2015), a primeira banda carioca que já deu indícios para uma nova concepção no cenário do rock brasileiro foi à banda Vimana no final da década de 1970 que contribuiu sistematicamente no processo de transição para esse novo movimento intitulado Brock, tendo em sua formação músicos como Lulu Santos, Ritchie e Lobão. Já nos anos 1980 se tem o surgimento de bandas como a Blitz que tinha uma relação muito direta com o Circo Voador, já que ela ficou conhecida após algumas apresentações nos primeiros momentos pós-inauguração do espaço. Durante a passagem da banda tiveram alguns artistas icônicos como Lobão (ex-integrante do Vimana), Márcia Bulcão, os cantores e atores Fernanda Abreu e Evandro Mesquita. As canções da banda, como a mais emblemática “Você Não Soube me Amar” se tornaram músicas de grande execução nas rádios, além de ter sido um caso particular do movimento do Brock, pois, foi à única banda que carregava a histeria dos fãs e muitas roupas coloridas no figurino dos integrantes. Em pouco tempo, a banda conquistou popularidade entre a juventude e instaurou polêmicas na crítica especializada, em função do uso de linguagem improvisada e da inserção de gírias. A música da Blitz era novidade absoluta tocada nas rádios e muitos de seus versos ainda estão incorporados na linguagem. Conseguiu espaço na mídia por utilizar situações do cotidiano dos jovens cariocas, como as referências a botecos, namoros, chopes e batatas fritas, combinando jogos cênicos, canto e oralidade. Era a poesia urbana, numa linguagem mais direta e coloquial, “mas era também uma coisa mais intuitiva do que pensada e elaborada”. (ROCHEDO, 2011, p. 50).


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Posteriormente em 1981, segundo Alves (2000), nasceu à banda Barão Vermelho de Frejat, Maurício, Dé, Guto e Cazuza. A banda começou a se formar com dois colegas de escola. O baterista Flávio Augusto Goffi Marquesini, de 19 anos e o tecladista Maurício Carvalho de Barros, de 17 anos, colegas no Imaculada Conceição. Eles faziam covers de Led Zeppelin e dos Rolling Stones. O guitarrista Roberto Frejat, com então 19 anos, foi adicionado à banda por um colega de aulas de guitarra. O baixista André Palmeira Cunha, de 16 anos, foi adicionado à banda num festival de colégio. Faltava somente um vocalista. O vocalista Agenor de Miranda Araújo Neto, ou mais conhecido como Cazuza, de 23 anos, foi adicionado à banda por Leo Jaime, seu colega de teatro. Para a sorte de todos da banda, Cazuza era filho do diretor da gravadora Som Livre. Por esse motivo, a banda se tornou um grande sucesso em todas as mídias principalmente através da Rede Globo, já que a Som Livre faz parte das Organizações Globo. O grupo era bem disciplinado e ensaiava todos os dias. Todos na banda haviam decidido fazer da música, o seu viver, o seu ganha-pão. O primeiro disco da banda, intitulado Barão Vermelho, foi lançado em 27 de setembro de 1982. O sucesso do disco seu deu sem dúvidas devido à espontaneidade em que os músicos conseguiam atrelar o conceito politizado das músicas de uma forma que atraia fortemente o público. Essa conversação entre a política e juventude é observada em alguns momentos da carreira da banda como descreve Rochedo (2011), Em 1984, mesmo ano de lançamento da candidatura de Tancredo Neves para presidência, o grupo lança o LP “Maior Abandonado”. A foto da contracapa mostra a frase escrita no muro: "Faço da minha vida um cenário da minha tristeza". Encostados no muro, os integrantes da banda são revistados durante uma blitz policial, cena comum no cotidiano de uma parcela de jovens ainda nos dias atuais. (ROCHEDO, 2011, p. 54).

Por fim, outra banda de destaque do cenário do rock carioca foi o Paralamas do Sucesso que foi uma banda que teve uma relação direta com o objeto empírico desse projeto de pesquisa. O vocalista da banda Herbert Vianna era um grande amigo de Renato Russo desde a época em que Renato integrava a banda Aborto Elétrico no final da década de 1970. Segundo Rochedo (2011), a banda foi um exemplo a outras bandas de rock a seguirem na carreira, além disso, os músicos da Paralamas contribuíram para o êxito de outros profissionais através de ajudas com equipamentos e espaços em eventos para a realização de shows para bandas iniciavam a sua história no cenário do rock.


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Figura 3 – Bandas do rock carioca, respectivamente: Vimana, Blitz, Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso.

Fonte: VAGALUME, 2016.

2.5.2 Rock Paulista Influenciada também por estilos como punk e pós-punk, São Paulo ganhou uma nova geração do rock no início da década de oitenta. Essa geração encabeçada por bandas como Voluntários da Pátria e IRA (ainda sem o ponto de exclamação) foram conquistando um espaço importante no cenário musical paulistano. O momento de incertezas no país representadas pelo desemprego e escassas oportunidades e de perspectivas reais para os jovens no início dos anos oitenta criaram um cenário sombrio e bandas resultantes desta conjuntura vivida no Brasil. Com isso nasceram bandas representativas e providas deste momento e movimento, os Titãs e os Ratos de Porão. As bandas de rock paulistanas mais relevantes da época foram os Titãs, Ira e Ultraje a Rigor, cada um com sua importância, tanto para o movimento quanto musicalmente. De acordo com Castanho (2013), rádios e casas noturnas tiveram sua importância e relevância para a difusão do rock paulistano, já que algumas rádios tocavam somente o gênero rock como a 97 FM, primeira rádio paulista com programação vinte e quatro horas que somente tocava rock e Brasil 2.000, que apostava em bandas universitárias. A 89 FM, por exemplo, era chamada similarmente por Rádio Rock. As casas noturnas promoveram e alastraram o rock na capital paulista tais como Rádio Clube e MadameSatã, a última citada marcou e fez história cidade paulistana, pois foi palco de um dos primeiros shows da Legião Urbana, Capital Inicial e Ira, bandas de rock reconhecidas e de sucesso nacional. Colégios e


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programas de televisão também contribuíram grandiosamentepara a disseminaçãodo rock em São Paulo. Segundo Araújo (2011), a primeira banda que consolidou seu espaço no rock paulistano foi à banda “Ira” em 1981 e que era encabeçada pelo vocalista Nasi e o guitarrista Edgar Scandurra. A banda passou por alguns problemas em relação à interpretação do seu nome, algumas pessoas achavam que era uma referência ao Exército Republicano Irlandês, sendo que na verdade era apenas uma expressão de revolta. Por isso a banda acabou incluindo o ponto de exclamação no nome. O Ira! tornou-se uma das grandes referências do rock nos anos oitenta em São Paulo, seus shows aconteciam todos os finais de semana, se tornando algo rotineiro para os paulistanos. Um dos primeiros sucessos da banda foi à música “Pobre Paulista”, que expunha os problemas de uma sociedade preconceituosa e sem qualquer ambição. Ideologia, revolução, cunho político e problemas socioeconômicos, eram os principais elementos encontrados nas letras de outra banda, a chamada Ultraje a Rigor, liderada pelo vocalista Roger Rocha Moreira, figura emblemática do rock paulistano do início dos anos oitenta. As canções da banda eram politizadas, como por exemplo, a música “Inútil” que tinha como propósito retratar de maneira crítica toda a alienação do povo brasileiro em meio ao caos vivido no país na época em relação à política. A música transformou-se também em uma canção de protesto. Dentre as bandas do rock paulistano (figura 4), a que mais se sobressaiu quanto à questão de sucesso midiático, sem dúvidas foi o Titãs. A banda era formada inicialmente por oito integrantes e que em determinado momento e música se revezavam nos vocais. Eles começaram a fazer shows em pequenas praças e palcos, que mal cabiam seu octeto musical. Seguindo a ideologia do Brock, a banda compôs diversas canções de cunho social como“Polícia”, que retratava a apropriação e abuso de poder por parte dos policiais. A música se tornou um hino para os jovens paulistanos. Prova disso é que hoje o Titãs é reconhecido como uma das maiores bandas de rock nacional.


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Figura 4 – Bandas do rock paulistano, respectivamente: Ira, Ultraje a Rigor e Titãs.

Fonte: VAGALUME, 2016.

2.5.3 Rock Brasiliense

A cidade de Brasília de acordo com Ramos (2010), por ser a capital federal e também uma região geográfica onde se instala todo o processo administrativo e gerencial do Brasil fez com que ela acabasse se tornando um celeiro para o surgimento de grandes bandas (figura 5) e movimentos de cunho político e social, utilizando das canções como forma de protesto a situação na qual o país se encontrava. A construção e monumentos arquitetônicos da cidade, o tédio e a sensação de vazio, eram algumas das inspirações de revolta dos jovens, o que também contribuiu para o surgimento de várias bandas de rock que fizeram sucesso não só na cidade como nacionalmente. “A principal influência é Brasília. O fato de estarem cara a cara com o poder central, então exercido pelos militares, e de terem acesso a novidades musicais do exterior graças ao ótimo padrão de vida de suas famílias, quase todas compostas por algum tipo de servidor público.” (DAPIEVE, 2016). Para Dapieve (2015), dentre essas bandas que surgiram e representaram Brasília no cenário rock nacional, três se destacaram mais: a Legião Urbana com suas canções metafóricas e que retratavam o jovem vivendo de falsos valores impostos pela sociedade em uma cidade decadente, o Capital Inicial com suas canções mencionando o lado urbano, o


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descompromisso, a frieza e a indiferença do sujeito de Brasília com o que estava a sua volta e a Plebe Rude com seu som pesado com base em crítica social e política. A maioria dessas bandas tiveram como ponto geográfico de surgimento os condomínios fechados da universidade de Brasília chamados de Colina, onde se reuniam a fim de criar novas composições e ensaiar os acordes para os shows que faziam nas noites brasilienses. É nesse contexto que surge o Aborto Elétrico, a primeira banda formada por Renato Russo e que será explicada mais detalhadamente no segundo capítulo intitulado “Legião Urbana – A História”. A Colina, conjunto de prédios residenciais para professores e funcionários dentro do campus da Universidade de Brasília. Apenas quatro blocos e algumas casinhas simples, chamadas de invasão, compunham o local. Em pouco tempo, os apartamentos foram ocupados pelos professores e suas famílias vindas de outros locais do país. Foi assim que começou a história dos amigos que se conheceram, cresceram na Colina e mudaram a cultura da capital com o movimento do Rock. (MAZZOLA, 2015, p. 8).

Acelerando um pouco a história, em 1983 após a banda Aborto Elétrico decidir por encerrar suas atividades após uma briga entre Renato Russo e Fê Lemos, surge então nesse contexto a Legião Urbana e o Capital Inicial, essa na qual era formada pelos irmãos Fê e Flávio Lemos. Integrou-se ainda a banda o vocalista Dinho Ouro Preto, após Heloísa, cantora inicialmente escolhida largar os vocais por pressão da família, e o Loro Jones, ex-guitarrista da Blitx 64. A Capital Inicial passa a realizar várias apresentações nos principais palcos do rock nacional, e em alguns na companhia da Plebe Rude e Legião Urbana. Até que no ano de 1984 assinam seu primeiro contrato fonográfico com a CBS e em 1985 passam a fazer parte da equipe de trilha sonora do primeiro “filme-rock” brasileiro e estourar com as músicas “Fátima”, “Leve Desespero” e “Música Urbana”. Em paralelo ao sucesso desses dois icônicos grupos de rock, Brasília também foi palco para o surgimento de outra banda de importância para o rock nacional, a chamada Plabe Rude. Conforme Buzzi (2015) a banda foi criada e liderada pelo vocalista norte-americano Philippe Seabra, o Plebe Rude tinha como influência a música inglesae o new waveque se contrapunham na composição das letras, arranjos e melodias configurando assim um discurso sociopolítico nos enredos das canções em músicas como “Minha Renda” que problematizava as questões relacionadas ao consumo e também na “Até Quando Esperar” que fala da desigualdade social e má distribuição de renda no Brasil.


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Figura 5 – As bandas de rock brasiliense Capital Inicial, Legião Urbana e Plabe Rude durante um encontro para uma matéria sobre o rock de Brasília em 1984.

Fonte: SETE DOZES, 2015.

Em ação conjunta, as três capitais brasileiras foram as grandes responsáveis por perpetuar e amplificar as ideologias na qual o gênero rock trouxe para a cultura e para a musicalidade brasileira. O movimento do Brock teve sua amplitude na década de 1980 e se ramificou até meados dos anos 1990. Segundo Matias (2015), o fim do movimento de expansão do gênero se deu após o lançamento do álbum “Lavô Tá Novo” da banda Raimundos, que para ele foi à última banda popular da década. Em entrevista a Bergamo (2016), o fundador da banda Barão Vermelho, Frejat, argumenta que tal identificação das pessoas pelo rock dos anos 1980 se dava devido à forma em que os músicos abordavam temas desde assuntos minuciosos (do cotidiano) até mesmo referentes a grandes discussões políticas e sociais. Ele argumenta que o discurso proposto pelos artistas do movimento acabava transpassando um ideal político, a busca pela liberdade e a autonomia do pensar. Diferentemente: “Hoje em dia o rock tá muito mais ligado a uma linguagem musical do que a uma coisa comportamental. Qualquer tipo de pessoa pode ser apreciadora sem ter identificação com o estilo de vida rock’nroll” (FREJAT citado por BERGAMO, 2016). Frejat argumenta que o rock perdeu um pouco da sua vertente, e deixou de ser uma linguagem de inquietação juvenil contemporânea. Ele acredita que atualmente o rap e o hip hop cumpre esse papel que era do rock na década de 1980, pois o discurso do gênero passou a


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abordar temas de contestação social como a relação com os fatores socioeconômicos, as reivindicações da periferia e a inquietude com a situação política que ainda permeia a sociedade.


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3 A LEGIÃO URBANA

Neste terceiro capítulo propõe-se entender toda a história da banda Legião Urbana, desde os primeiros passos de Renato Russo na música, incluindo a sua passagem pela banda Aborto Elétrico, a fase de Trovador Solitário e a comemoração dos 30 anos de história da banda em 2015/2016. O capítulo começa descrevendo a vida de Renato Russo e o seu processo de concepção da banda Legião Urbana até chegar ao lançamento do primeiro álbum da banda em 1985. Posteriormente, o capítulo apresenta todas as fases da banda incluindo o momento em que as músicas da Legião tinham um cunho exclusivamente político até os últimos álbuns da banda que tiveram composições que representavam o momento caótico em que Renato se encontrava. E por fim, o capítulo se encerra descrevendo sobre a turnê comemorativa de 30 anos da banda, realizada por Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e convidados.

3.1 Trovador Solitário

Segundo Alves (2002), a biografia da banda Legião Urbana se inicia indiretamente com a criação do Aborto Elétrico (figura 6) em Brasília, banda fundada em 1978 por Renato Russo (que posteriormente seria o vocalista da Legião). É então que aos 18 anos juntamente com Felipe Lemos (filho de um professor universitário) e André Petrórius (filho de um embaixador da África do Sul) decidiram juntar os seus interesses e ingressar na carreira musical. A juventude brasileira estava começando a viver a “onda punk” que era inspirada pela filosofia “do-it-yourself” ou “faça você mesmo”. Os percussores desse subgênero do rock no Brasil eram jovens de classe média alta, portados de muita informação, conhecimento e que tinham a ideologia como uma válvula de escape para os padrões tradicionais das famílias brasilienses, por esse motivo eram considerados “punks de fim de semana”.


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Figura 6 - A banda Aborto Elétrico composta porRenato Russo, Felipe Lemose André Petrórius, respectivamente.

Fonte: DÉCADAS DE SOM, 2010. O Aborto Elétrico não chegou a se tornar um grupo profissional, mas suas canções foram utilizadas por diversas bandas criadas na década de 1980 como a Legião Urbana e o Capital Inicial. É então que a partir de uma sucessão de desentendimentos entre Felipe e Renato, que culminam na decisão de acabar com a banda. Renato funda a Legião Urbana e Felipe junto com seu irmão e Dinho Ouro Preto fundam a banda Capital Inicial.

3.2 Nasce uma legião

Após o rompimento com a banda Aborto Elétrico, Renato que até então era estudante de jornalismo da Universidade de Brasília passou a realizar diversas apresentações pela cidade, abrindo shows de outras bandas conhecidas regionalmente. Conforme Alves (2002), essa mudança proporcionou ao Renato uma nova perspectiva quanto ao tipo de música produzida. Embora estivesse vivendo no momento ápice da difusão da cultura punk, ele vivia essa ideologia de uma maneira mais superficial. Não era sua filosofia de vida, até então porque as suas principais influências estavam alinhadas ao rock progressivo (teor lírico e historicizadas nos enredos das canções) e o folk rock (harmonias vocais afinadas e abordagem limpa dos instrumentos musicais), portanto, sua saída buscava traçar novos caminhos tanto na composição e na musicalização instrumental. Uma das provas que caracteriza os ideais de Renato foi um show em Brasília 1982, onde ele se apresentou como o “Trovador Solitário” colocando em seu repertório músicas como


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“Eduardo e Mônica”. “Geração Coca-Cola", "Faroeste Caboclo" e "Eu sei". Músicas na qual narravam uma história com uma duração extensa e que posteriormente foram gravadas nos álbuns da Legião Urbana. De acordo com Rochedo (2011), em 1983 depois de realizar várias apresentações sozinho após o fim do Aborto e estimulado pelo lançamento dos amigos do Paralamas do Sucesso, Renato decide alugar uma sala em um prédio comercial de Brasília para firmar uma nova parceria entre o baterista Marcelo Bonfá, o guitarrista Eduardo Paraná e o tecladista Paulo Paulista. Porém, essa formação durou pouco tempo. Paraná saiu da banda porque exagerava nos solos da guitarra e logo foi substituído por Iko Ouro Preto, que também permaneceu poucos meses na banda. É então que Renato convida Dado Villa Lobos para integrar a banda de último momento, tanto é que ele teve que aprender a tocar cerca de nove músicas em apenas três dias. A formação inicial então era composta por Renato Russo (vocalista e compositor), Dado Villa Lobos (guitarrista e compositor) e Marcelo Bonfá (baterista). A princípio as bandas do cenário do BR Rock se ajudavam mutuamente, emprestavam equipamentos, faziam shows em conjunto dividiam salas de ensaios e estúdios. Mas, diversos conflitos entre as bandas acabaram distanciando progressivamente as relações existentes entre elas, principalmente entre as bandas brasilienses que segundo Bonfá a disputa era uma “espécie construtiva para a cena” do rock. Conforme Santos (2014), a construção do nome “Legião Urbana” foi uma adaptação feita por Renato em relação ao lema do imperador romano Júlio César: “Romana LegioOmniaVincit” que significa “Os legionários romanos a tudo vencem”. Ele comparou a legião romana com a juventude brasileira daquela época, junto a esse princípio acrescentaram o “urbano”, já que para eles o rock era algo estritamente ligado ao contexto das grandes metrópoles. Quanto à questão das composições da banda é possível perceber que seguiam uma linha mais romântica através de um viés narrativo, como descrito nos parágrafos acima. Eram letras mais elaboradas, que valorizavam a intelectualidade, a busca por conhecimento e uma rebeldia politizada. A banda era é classificada como pertencente do pós-punk e possuía muito influencia em bandas inglesas como o JoyDivisioniv e The Smiths. Em relação à melodia eles utilizavam entre três a cinco acordes básicos como o punk tradicional e a musicalidade se dava através da poesia lírica dos versos. Por ser um grande estudioso, crítico da sociedade e amante de obras literárias, Renato buscava alinhar a poesia lírica em suas composições. De acordo com Algeri (2007), essa


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forma de poesia estava ligada ao contexto da Idade Antiga. A diferença da poesia “tradicional” é que a mesma era musicalizada ao invés de ser recitado devido ao uso da lira, instrumento que era utilizado nos recitais. Porém, somente na Idade Média através dos trovadores (artistas de origem nobre que compunham e cantavam com acompanhamento de instrumentos musicais) que esse tipo de modalidade foi denominado de canção, associando e aproximando a estreita relação entre música e poesia. Segundo Mattar (2014), em 1984 a banda assina com a gravadora Emi-Odeon e agrega um novo integrante: Renato Rocha (Negrete). É então que o primeiro disco da banda começa a ser planejado sob a produção de José Emílio Rondeau e lançado em janeiro de 1985. O processo gestacional do primeiro álbum teve alguns contratempos, a primeira proposta do disco de estreia era de utilizar os acordes de violão em destaque alinhando e aproximando ao gênero folk e a estética apresentada por Renato durante a sua passagem como trovador solitário. Porém, Dado, Bonfá e Renato exigiram mudanças que acabou ocasionando um disco com acordes de guitarra mais intensas voltadas mais para o punk rock. O primeiro álbum (figura 7) impulsionou a banda brasiliense a se configurar como um grande sucesso para o cenário do rock nacional e da música brasileira em um disco que traz 11 faixas que possuem em seu discurso temas como a crítica política, social e a análise da alma humana. Figura 7 - Capa do álbum “Legião Urbana” de 1985.

Fonte: JUNDIAQUI, 2014. Portanto, segundo Almeida (2004), a formação da banda em seu primeiro disco foi composta por Renato Russo (voz), Marcelo Bonfá (bateria), Dado Villa-Lobos (guitarra) e Renato Rocha (baixo). Outro fato que pode ser notado nas canções do álbum é que são


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praticamente todas do repertório do Aborto Elétrico e que leva em seu discurso o lema “do it yourself”, canções cruas, rápidas e letras voltadas à crítica aos costumes da sociedade da década de 70, já que as letras desse álbumforam escritas cerca de 6 a 8 anos antes do lançamento do mesmo. O disco se inicia com a música “Será” que conforme Corrêa e Mucury (2008) é uma canção que nela pode ser observada o viés poético de Renato Russo que revela um ser ambíguo, que se preocupa com o mundo à volta e que questiona os sentimentos de solidão e medo relacionados às relações amorosas. O compositor buscava com suas letras traçar uma linha entre a crítica política e o que é intimista “De certa forma, todas as canções de Renato Russo eram canções políticas, de certa forma todas as suas canções eram canções de amor.“ (DAPIEVE citado por CYNTRÃO; CORRÊA e MUCURY, 1996).

Russo falava para todos, com a habilidade de fazer parecer que falava apenas para aquele ouvinte, um único. Personalizava questões que interessava a todos, com uma evidente habilidade poética, o que tornava tudo ainda mais sedutor. Sabia com perfeição que a linguagem pop se estabelece, muitas vezes, em um jogo de representação (as canções, as performances, a obra enfim) e reconhecimento (como esta obra atingia sua audiência, ela se reconhecia naquilo). Em segunda ordem, temos a performance musical das canções: simples, direta, objetiva, popíssima por vezes. (PEREIRA, 2016).

De acordo com Almeida (2004), dentre as outras canções do álbum estão “A Dança” que faz uma crítica aos costumes da sociedade, “Geração Coca-Cola” e “O Reggae” que são ligadas as críticas sociais e políticas. Ainda é possível observar a temática da sexualidade em “Soldados” e “Teorema”, a romântica “Por Enquanto” e também as características do que seria o “pós-punk” através de um clima sombrio presente em canções como “Ainda é Cedo”, que discursava que ainda era cedo pra se discutir tais assuntos em um estado que tinha acabado de se livrar de um regime militar. O primeiro álbum da Legião Urbana se configurou através de diversos sucessos que foram executadas nas rádios por um bom tempo, em torno de dois anos o disco ainda repercutia com grande êxito no mercado fonográfico. Conforme Dapieve (2015) é nesse intervalo que o disco “Dois” (figura 8) é lançado no mês de julho de 1986, álbum no qual vendeu cerca de 100 mil cópias pra surpresa da gravadora EMI já que ela esperava em torno de cinco mil cópias de discos vendidos.


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Figura 8 – Capa do álbum “dois”de 1986.

Fonte: LEGIÃO URBANA, 2016. Produzido pelo produtor musical Mayrton Bahia, o disco “dois” buscou distanciar da politização punk do primeiro trabalho e procurou seguir uma linha mais voltada para um clima mais folk e um lirismo pós-punk, com o uso da sonoridade dos acordes do violão e dos teclados. O álbum começa com uma gravação ao vivo do trecho final da música “Será” sendo contextualizada pela primeira canção “Daniel na cova dos leões”, que mostrava a nova configuração não só de melodia, mas quanto da composição das letras da banda que acabou “deixando clara a intenção de privilegiar a esfera pessoal em detrimento da pública”. (DAPIEVE, 2015, p. 135). Segundo Ariede (2003), a canção “Daniel na cova dos leões” possui um título metafórico, pois, ela é a considerada a segunda música na qual o Renato Russo indiretamente busca fazer uma exposição sobre a sua opção sexual. Esse discurso pode ser observado através da luta entre o que ele almejava ser e o que a sociedade esperava que ele fosse claramente na letra da canção: “Aquele gosto amargo do seu corpo […] De amargo então, salgado ficou doce. Mas tão certo quanto o erro de ser barco a motor e insistir em usar os remos.” (LEGIÃO URBANA. 1986 faixa 1). Uma das canções que se tornaram um dos hits do álbum “dois” é a segunda canção “Quase sem querer” que possuía uma letra triste, que explorava da melancolia e do poético, ou seja, bem ligado ao lirismo proposto pelo álbum. Segundo Costa (2016), Renato nessa canção buscava explicitar o conflito entre mente e o coração, essa música foi uma espécie de libertação da sua ligação bem aproximada em muito das vezes com a racionalidade e que foi


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desperdiçada quanto ele poderia estar vivendo plenamente o que fazia feliz, ou seja, vivendo através de seus sentimentos e suas emoções. Seguiam-se então segundo Ariede (2003), a terceira canção “Acriliconcanvas” que tinha uma letra obscura e mórbida que era um pouco equilibrada pelo ritmo contagiante da melodia. Após, veio à canção “Eduardo e Mõnica” que virou coqueluche nacional, música que foi escrita por Renato durante a sua fase de “trovador solitário” em 1982 e que contava em sua letra uma história real embasada em um casal formado por seu amigo e ex-produtor executivo da Legião, Rafael Borges e sua ex-esposa. As últimas canções do lado A do disco é a “Central do Brasil” que possuía apenas arranjo instrumental e que dá uma espécie de introdução para a música seguinte “Tempo Perdido”, música na qual foi escrita durante a passagem de Renato pelo Aborto Elétrico em 1977. Essa canção explicita a depressão e a crise existencial pela qual o vocalista passava “Todos os dias antes de dormir lembro e esqueço como foi o dia.” (LEGIÃO URBANA, 1986, faixa 5). O lado B do disco é segundo Dapieve (2015), o que mais se aproxima com a banda Legião Urbana. “Metrópole” era a canção que abria o outro lado do disco, depois vinham às canções “Plantas Embaixo do Aquário” e “Música Urbana 2” que relembrava os bons tempos do punk que possuía um tom obscuro que rememorava muito os tempos de Renato nas ruas e madrugadas em Brasília. Por fim, segundo Ariede (2003), o disco termina com as canções “Andréa Dória” que tem como temática a separação, “Fábrica”, “Índios” e “Química", esta por última foi colocada no disco como faixa bônus.

3.3 Filhos da Revolução O álbum “dois” como já dito se tornou um êxito nacional e é nesse período que uma tragédia envolvendo a banda acabou abalando a carreira dos músicos. De acordo com Freitas (2006), durante um show em Brasília em dezembro de 1986 no ginásio poliesportivo aconteceu uma confusão em que terminou com a morte de uma menina e 20 pessoas feridas, tal incidente quase culminou no fim da banda e eles decidiram não fazer mais shows na cidade. Após passar aproximadamente um ano sem se manifestar sobre o assunto, conforme Alves (2011), eles decidiram não terminar com a banda e é nesse regresso que a Legião Urbana lança no final do ano de 1987 o terceiro disco da carreira intitulado “Que País é Este” (figura 9). O repertório do disco era composto basicamente de canções da época do Aborto


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Elétrico pelo fato de que o disco foi feito as pressas por pressão da gravadora que ficou entusiasmada com a vendagem do disco “dois”. Figura 9 - Capa do álbum “Que País é Este”.

Fonte: FREITAS, 2006.

Segundo Freitas (2006), o álbum alcançou boas vendagens graças ao repertório de grande sucesso pelo público que contava com as canções “Que País é Este” que fazia uma crítica ao sistema político e sociocultural brasileiro, sendo considerada uma das canções mais politizadas da história da música brasileira escrita como já mencionado durante a passagem de Renato pelo Aborto Elétrico. A canção que levava o nome do álbum era seguida pelas canções “Conexão Amazônica”, “Tédio”, “Depois do Começo” e “Química” (que pregava o culto à liberdade). Na parte final do álbum vem à canção “Eu Sei”, “Angra dos Reis”, “Mais do Mesmo” e a mais marcante do álbum “Faroeste Caboclo”, canção na qual chegou a ganhar uma adaptação paras as telas do cinema em maio de 2013. Veja a seguir um trecho da canção supracitada: E João aceitou sua proposta e num ônibus entrou no Planalto Central. Ele ficou bestificado com a cidade, saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal. "Meu Deus, mas que cidade linda, no Ano Novo eu começo a trabalhar, cortar madeira, aprendiz de carpinteiro, eu ganhava cem mil por mês em Taguatinga.” (LEGIÃO URBANA, 1987, faixa 7).

Segundo Paula (2010), a música se tornou emblemática, pois, ela fugia de todos os padrões fonográficos da época, pelo fato dela contar 168 versos na letra, duração em torno de


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9 minutos e também por ter sido censurada na época por conter palavras e expressões impróprias, sendo executada radiofonicamente apenas com o uso de sinais sonoros sobre os “palavrões”. O lirismo da canção conta a saga de João do Santo Cristo que deixa a sua cidade natal e viaja até Brasília para trabalhar como carpinteiro, mas, que diante das dificuldades econômicas acaba se envolvendo com o tráfico de drogas. Em meio a todo esse enredo ele acaba se envolvendo em um romance com Maria Lúcia, que é casada com o seu rival Jeremias. Portanto, o álbum se tornou até mesmo uma forma de protesto pra uma juventude que exigia as eleições diretas para presidente como uma fala de Renato citada por Dapieve (2015): “Exija eleição! É só com a gente votando que a gente pode mudar alguma coisa”. O sucesso da turnê “Que País é Este” fez com que a banda voltasse a tocar em Brasília no estádio Mané Garrincha para um público de 50 mil pessoas desde o fatídico show que aconteceu no ano anterior. Porém, novamente a banda se viu envolvida na mesma situação que resultou um quebra-quebra pela cidade que deixou um saldo de 60 pessoas detidas, 385 atendidas pelo serviço médico e 64 ônibus depredados. Novamente o trauma do Mané Garrincha trouxe um impacto na carreira da banda, que foi aos poucos ocasionando um afastamento “da agressiva esfera pública e a colocando no lirismo da vida privada.” (DAPIEVE, 2015, p. 139). Além disso, as relações entre os integrantes da banda se tornaram insuportáveis e especificamente Renato Russo entrou em uma fase complicada de sua vida particular, nesse período nasceu o seu filho Giuliano e também se perdeu numa vida “junkie” fazendo assim o uso constante de drogas ilícitas principalmente a heroína. É nesse contexto que se inicia a gravação do quarto álbum da banda.

3.4 As quatro Estações

Os conflitos entre os integrantes quase comprometeram de vez o andamento da carreira da banda, tanto é que durante as gravações do quarto álbum o baixista Negrete decidiu sair da banda devido aos frequentes atritos com Bonfá. Dapieve (2015) considera surpreendente a contraditoriedade da serenidade do álbum com a fase turbulenta vivida pela banda na época. Lançado em novembro de 1989 “As Quatro Estações” (figura 10), de acordo com Alves (2011), marca uma mudança da linha mais punk para o lirismo romântico nas temáticas das canções que passaram a privilegiar mais o “micro” do que o “macro”, ou seja, eles queriam dizer que antes de se criar a “revolução social” empregada em canções como “Que País é Este” do álbum anterior era necessária criar a “revolução pessoal”, porque nada se pode fazer


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socialmente se as questões individuais não estiverem bem resolvidas. “A partir do disco "As Quatro Estações", a Legião "amplia" de certa forma seu leque de influências, descolando das sonoridades típicas do período e buscando influências de um pop mais atemporal, especialmente nos 60.” (PEREIRA, 2016).

Figura 10 - Capa do álbum “As Quatro Estações”.

Fonte: LEGIÃO URBANA, 2016.

Segundo Alves (2011), os críticos midiáticos da época indagavam a banda com questionamentos que buscavam entender na visão deles os motivos pelos quais a Legião Urbana optou por não trabalhar canções com conotação política, já que o álbum foi lançado após a primeira eleição direta a presidente, a promulgação da constituição de 1988 e consequentemente o fim da ditadura militar. Para Renato citado por Alves (2011), ao se tratar de política não se deve entender ela apenas como algo relacionado à organização de poder do estado em relação à sociedade, mas sim, como uma ciência que permeia todos as esferas sociais. Portanto, Renato buscou associar e explicitar a política através do lirismo e do embasamento religioso que é presente em todo o álbum “O novo disco é todo político. Nesse disco a gente está falando do espiritual, e hoje em dia não existe nada mais político para mim do que o espiritual. Aliás, acho que essa é a questão crucial hoje em dia, a questão de você com teu lado religioso.” (RUSSO citado por ALVES, 2011, p. 163). O disco se inicia pela canção “Há Tempos” que mostra claramente, segundo Kchaço (2013), uma crítica ao que se passava no Brasil exposta através da expressão “disciplina é


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liberdade” que refere que em muitas das vezes o conceito de liberdade pode estar preso à escravidão dos próprios sentidos e da ignorância. “Parece cocaína, mas é só tristeza, Talvez tua cidade. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão. Descompasso, desperdício, herdeiros são agora da virtude que perdermos.” (LEGIÃO URBANA, 1989, faixa 1). Segundo Dapieve (2015), Renato explicitou a sua relação com a família através da segunda música do álbum, “Pais e Filhos” que buscava mostrar os conflitos nas relações familiares devido às divergências de visões de mundo de ambas as partes, como pode ser retratado no trecho a seguir: “Você me diz que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais. Você culpa seus pais por tudo isso é um absurdo, são crianças como você.” (LEGIÃO URBANA, 1989, faixa 2). Seguindo o álbum se tem a canção do disco é a “Feedback Song For a DyingFriend” que segundo Kchaço (2013), é uma homenagem ao fotógrafo gay americano Robert Mapplethorpe e ao cantor Cazuza, ambos portadores da AIDS. Posteriormente vinham as canções “Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto”, “Eu Era Um Lobisomem Juvenil”, e “1965”. A sétima canção do álbum é a “Monte Castelo” que foi composta através de uma junção de um soneto de Camões “O amor é o fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer.” (LEGIÃO URBANA, 1989, faixa 7). Chegando ao fim do álbum tem-se “Maurício” e “Meninos e Meninas” que conforme Dapieve (2015) é uma canção considerada uma autorrevelação explícita de Renato Russo em relação a sua homossexualidade “Eu gosto de meninos e meninas, vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre. Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente.” (LEGIÃO URBANA, 1989, faixa 2). O álbum “As Quatro Estações" se encerra ao som de “Sete Cidades” e “Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar”. Embora o grupo tenha seguido uma nova roupagem no discurso de suas canções referenciando de Camões até os versículos bíblicos, a turnê “As Quatro Estações” se iniciou em abril de 1990 levando multidões aos shows da banda. Um dos momentos mais marcantes da banda nesse período foi o show realizado no dia 7 de julho no Jockey Club em homenagem a Cazuza que faleceu no mesmo dia.

3.5 Será que vamos conseguir vencer?

Segundo Marovatto (2015), após a quietude do álbum “As Quatro Estações”, em dezembro de 1991 chegas às lojas de todo país o álbum “V” (figura 11) que apresentou ao público uma


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figura do Renato diferentemente do que os fãs e seguidores conheciam até o momento. Devido o seu diagnóstico da AIDS (Isso foi descoberto só após a sua morte), o cantor se tornou uma pessoa extremamente sociável e na época chegou a comentar que o álbum “V” é o seu disco preferido, pois, ele foi composto em completo estado de lucidez sem qualquer uso de álcool e estimulantes. Figura 11 - Capa do álbum “V”.

Fonte: LEGIÃO URBANA, 2016. De acordo com Prado (2011), alguns críticos consideraram o álbum radical e simbólico, visto que o seu anterior “As Quatro Estações” é algo mais puxado para o espiritualismo/lirismo. O álbum “V” foi lançado em meio a um período de crise econômica no Brasil e de “desintoxicação” do vocalista Renato Russo, que visava criar seu filho com mais tranquilidade e menos problemas psicológicos. Ainda assim, mantendo algumas abordagens com foco nos problemas sociais que aconteciam naquela época e, também, aumentando a visibilidade do outro lado da moeda, de um usuário de drogas e sua aceitação por parte da sociedade. O álbum seguiu uma linha relacionada às influências sombrias e medievais, buscando a caracterização através do lado simbólico que é visível desde a constituição da capa, até a simbologia das letras. A capa é formada pelo nome da banda de forma mais embaçada, sem simetria e desenhos que, de alguma forma, expressavam o que a banda queria passar para os fãs naquele disco. Era uma lua e uma estrela dentro de um octograma que representa o lado da criação que estava sendo realizada naquele momento. Conforme Freitas (2006), Renato Russo já passava por diversas crises depressivas, sofria com o álcool e se afundou no vício consumindo principalmente muita cocaína e heroína.


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Além disso, é nesse período que ele assume sua homossexualidade através de uma entrevista concedida por ele. Exatamente por isso, a abordagem sobre este assunto ficou facilmente ligada ao seu histórico. Ainda segundo a banda, o disco V foi feito propositalmente para ser lento, e dar visibilidade a sua parte instrumental.

O novo álbum, mais uma vez surpreendeu os fãs. Era pesado tematicamente, com músicas tristes e letras que falavam do vício nas drogas e de paixões perdidas (fruto de um relacionamento terminado abruptamente na época). Talvez por ter sido um álbum triste, em contrapartida ele tinha as melodias mais belas do grupo, mas mesmo assim teve músicas bem executadas nas rádios (talvez pelo próprio status da banda). (FREITAS, 2006).

O álbum possui dez músicas, dentre elas, que de acordo com Prado (2011), algumas tocadas incansavelmente nas rádios da época e famosas por sua duração. O disco começa pela canção “Love Song” seguida por “Metal Contra as Nuvens” que tem a duração de onze minutos, variação melódica extensa e possui um lado instrumental com uma letra que fala de amor, conquistas, e alguns termos semelhantes da época medieval, como o brasão das famílias “Viajamos sete léguas por entre abismos e flores, por Deus nunca me vi tão só é a própria fé o que destrói. Estes são dias desleais. Eu sou metal, raio, relâmpago e trovão. Eu sou metal, eu sou ouro em brasão. Eu sou metal, me sabe o sopro do dragão.” (LEGIÃO URBANA, 1991, faixa 2). Seguindo álbum têm-se as canções “A Ordem dos Templários” e “A Montanha Mágica”. Outra música do disco que é considerada uma das mais famosas é “O Teatro dos Vampiros”, que segundo os integrantes da banda foi inspirada na novela que fazia sucesso na época, chamada “Vamp”, e não fugindo das abordagens sociopolíticas e dos conflitos pessoais do principal escritor de todas as músicas da banda, Renato Russo. Tais como os assassinatos cada vez mais inseridos na rotina do país, a pouca condição para os jovens, a frustração do próprio Renato com questões sentimentais, entre outras. Começando a segunda parte do álbum têm-se as canções “Sereníssima” e “Vento no Litoral” que Renato compôs em meio ao sofrimento pela morte de um ex-namorado “Agora está tão longe, ver a linha do horizonte me distrai, dos nossos planos é que eu tenho mais saudade, quando olhávamos juntos na mesma direção. Aonde está você agora além de aqui dentro de mim.” (LEGIÃO URBANA, 1991, faixa 7). O disco se encerra com as canções “O Mundo Anda Tão Complicado”, “L’âge D’or” e “Come ShareMy Life.”. Depois da repercussão dos questionamentos gerados pelo álbum “v”, em 1992 segundo Freitas (2006), a gravadora decidiu lançar uma coletânea da banda intitulada “Música para


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acampamentos” (figura 12) que era um álbum duplo que incluía 20 gravações ao vivo e de especiais para rádio e televisão. Além disso, o repertório contava com covers do Beatles e dos Rolling Stones (heróis de Renato Russo) e uma versão elétrica de “Canção do Senhor da Guerra”, música que teve várias versões gravadas e que até o momento da produção da coletânea ainda não tinha sido lançada fonograficamente. Figura 12 - Capa do álbum “Música para acampamentos”.

Fonte: LEGIÃO URBANA, 2016.

Em 1993, depois de dois anos sem gravar um álbum com músicas inéditas conforme Freitas (2006), a banda Legião Urbana saiu da maior parte de seus padrões musicais, e lançou o sexto álbum (figura 13) com um diferencial que, agradou alguns fãs e desagradaram outros. Como a maior parte do Brasil já sabia, o vocalista Renato havia passado por inúmeros problemas com as drogas, bebida e com as crises de depressão, então o surpreendente lançamento de um álbum alegre, onde mostrava o vocalista, aparentemente, recuperado de tudo isso, realmente assustou alguns. É um álbum com muitas cores, onde os músicos na capa vestiam roupas medievais em um fundo florido. Legião não era uma banda conhecida pelas suas belas produções nos álbuns, e sim pela poesia inserida em suas músicas. Mas desta vez o álbum veio enriquecido de detalhes e com videoclipes mais elaborados.


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Figura 13 - Capa do álbum “O Descobrimento do Brasil”.

Fonte: LEGIÃO URBANA, 2016. Mesmo assim, conforme Facchi (2013) é perceptível à presença da antiga identidade da banda em um álbum não só composto por músicas alegres, mas também por músicas que continuavam abordando as questões sociais e políticas, como na música “Perfeição” que, ao contrário de outras canções que abordam esse assunto, é bem direta com relação ao que a banda queria passar para os jovens daquela época. A música se refere claramente à estupidez humana, das nações, a corrupção, a violência no Brasil, à alienação da população brasileira, entre outros questionamentos. É novamente uma tentativa de a banda alertar os jovens e tentar acorda-los para as questões políticas, econômicas e sociais do próprio país. Como dito anteriormente, ainda mantendo alguns estilos clássicos da banda, o álbum continha músicas que expressavam momentos de raiva, como em “Do Espírito” que, aparentemente, retrata uma revolta com questões emocionais e, muitas vezes, se assemelham com as revoltas comuns na cabeça dos jovens que se identificavam com a banda. Essa era uma das coisas que tornava a Legião como uma das maiores bandas de rock do Brasil, pois desprovida de qualquer desejo de divulgação de seu trabalho, conseguiu alcançar níveis nacionais muito interessantes. Outra música do álbum que se tornou muito conhecida, é “Vinte e Nove” que retrata questões emocionais. Outras canções do álbum foram “A Fonte”, “O Passeio da Boa Vista”, “O Descobrimento do Brasil”, “Os Barcos”, “Vamos Fazer Um Filme”, “Os Anjos”, “Um Dia Perfeito”, “Giz”, “Love In The Afternoon”, “La NuovaGioventú”, e “Só Por Hoje”. Na maioria, as músicas soam como poesias que causam uma sensação de familiaridade com a situação ao leitor. É um álbum que por si só é definido como “diferente”, dentre os outros


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lançados e que, mesmo assim, não deixou de trazer as questões que fizeram e, talvez ainda façam os jovens questionarem diversos parâmetros da sociedade brasileira. De acordo com Freitas (2006), entre os anos de (1990 - 1993) Renato paralelamente a Legião Urbana iniciou um projeto solo que rendeu três discos (figura 14). O primeiro intitulado "The StonewallCelebrationConcert" foi um álbum comemorativo cantando totalmente em inglês, dentre as canções do álbum também tinha regravações de Bob Dylan e de Madonna. Um ponto interessante desse álbum é que toda a renda dos 300 mil álbuns vendidos foram revertidos em doação a uma campanha contra a fome do sociólogo Herbert de Souza. Renato Russo nesses álbuns solo buscou mostrar o seu contato com diversas línguas. Outro exemplo dessa faceta de Renato foi demonstrado no seu segundo álbum “Equilíbrio Distante” que foi um disco feito sob o pedido de sua família e gravado em italiano. Esse trabalho proporcionou mostrar ao público o lado poético do cantor e compositor, agradando muito o público que passou a prestigiar um lado mais sensível do cantor.

Figura 14 - Álbuns solo de Renato Russo.

Fonte: LEGIÃO URBANA, 2016.

3.6 A Tempestade

Segundo Freitas (2006), depois do intervalo mais longo de um álbum ao outro da Legião Urbana em meados de setembro de 1996 é lançado “A Tempestade” (figura 15) o que viria a ser o último álbum de Renato Russo ainda em vida. As primeiras tiragens desse álbum vieram acondicionadas em uma caixa especial, além disso, na contra capa do encarte era possível observar uma lista de referências de entidades de defesa dos direitos humanos, da


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mulher e da criança, novamente sendo possível observar a preocupação da banda com os princípios que permeiam a sociedade.

Figura 15 - Capa do álbum “A Tempestade”.

Fonte: LEGIÃO URBANA, 2016. Renato Russo ao pensar neste álbum, assim como em todos os outros, retrata de alguma forma a fase presente de sua vida. E não sendo diferente, “A Tempestade” conforme Daniel Júnior (2016) possui letras melancólicas, depressivas e que, provavelmente, queriam passar ao público a fase conturbada que o cantor se encontrava, enfrentando uma grave doença que, posteriormente, o levaria a morte. Uma característica da banda era sua dedicação para que os áudios das músicas ficassem bons, mas neste álbum, não foi uma prioridade visível, lembrando que o cantor já estava em uma fase muito complicada. Todas as músicas que foram gravadas, com exceção de “Via Láctea”, não tiveram seus áudios regravados, visto que o cantor não tinha mais condições. Em algumas entrevistas após a morte de Renato, os outros integrantes da banda disseram que ele já não se encontrava em condições de dedicar-se a produção e que, desconfiados, já pensavam que aquele poderia ser o último álbum do cantor. A Tempestade conseguiu retratar o contexto de uma banda que estava vivendo um período conturbado, contendo vários momentos de crise de Renato, tanto na doença, quanto na dependência química, portanto, é um álbum cuja capa não possui muitos detalhes e foge um pouco do padrão retratado nos outros. Não existia nenhum agradecimento na capa, nem frases que costumavam colocar, sem imagens oficiais da gravação. Apenas uma frase no final que dizia assim “O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus”.


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Além de músicas melancólicas e depressivas, o disco possui algumas exceções como “Música do Trabalho”, considerada uma das menos inspiradas pela banda, mas que de alguma forma ainda consegue retratar a péssima fase em que o vocalista se encontrava. É uma música que retrata o dia-a-dia de um trabalhador, mas a qualidade não é boa. A gravação é ruim, os instrumentos soam mais alto que a voz de Renato e, nitidamente conseguimos notar a fraqueza em sua voz, demonstrando toda a crise da doença e de suas dependências. A todo o momento é perceptível certa despedida por parte do cantor, ou em músicas extremamente tristes e com letras que nos fazem refletir sobre a vida, ou certo incentivo para os jovens continuarem lutando, como se de alguma forma, ele não fosse mais continuar conosco. Apesar de não ser um álbum muito venerado pelos fãs, existem músicas de muita qualidade e que, deveriam ser mais vistas pelos admiradores da banda. Vindo de um sucesso com o álbum anterior, foi um choque para os fãs o lançamento de “A Tempestade”, pois todos esperavam uma inspiração costumeira de Renato para escrever todas as canções e a dedicação para que ficassem realmente bonitas. De acordo com Freitas (2006), Renato, diferente de Cazuza, escondeu a doença até onde pode, sendo descoberto apenas por entrevistas que foram concedidas pelos seus familiares e integrantes da banda. Era de se esperar que o surgimento de “A Tempestade” fosse diferente dos outros, pois o álbum nasceu em um ambiente melancólico e de muita dor, sendo gravado na casa do tecladista Carlos Trilha. A banda e as poucas pessoas que sabiam da situação de Renato desconfiavam de sua possível morte e a despedida sendo realizada neste álbum, mas em nenhum momento isso foi declarado à mídia. Como já mencionado nos parágrafos acima, segundo Barreto e Carneiro (2006), o dia 11 de outubro de 1996 se tornou um dia fatídico para a Legião Urbana porque nessa data os fãs e admiradores da banda se viram totalmente perdidos com o anúncio da morte de Renato Russo devido às complicações por ser portador da AIDS. Renato descobriu a doença após ter namorado um roqueiro de Nova York Robert Scott Hickmon em 1989. Scott era gay e tinha um namorado portador do vírus da AIDS (figura 16) que estava em estado terminal, dessa maneira Renato acreditava que Scott foi quem transmitiu o vírus para ele.


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Figura 16 - A repercussão midiática da morte de Renato Russo e ao lado a imagem de Renato segurando rosas e simbolizando a sua morte.

Fonte: ROQUE VELOZ, 2010. Conforme Freitas (2006), atordoados com a morte de Renato Russo, dias depois de sua morte Marcelo Bonfá, Dado Villa Lobos e o empresário Rafael Borges anunciaram o fim da banda em comum acordo entre as partes envolvidas na história e na marca Legião Urbana. Deixando assim, uma geração totalmente órfã da banda que foi um dos grandes ícones do rock nacional, da música brasileira e que consequentemente imortalizou a historia da banda que se tornou referência da revolução social dos anos 1980.

Terminava nesse dia também a trajetória da maior banda de rock do país de todos os tempos, uma banda que era quase uma religião, um estilo de vida para os fãs. Para eles, sobraram as lembranças, saudades e músicas de um tempo onde éramos jovens e inocentes, e tudo parecia que ia mudar no país. Um tempo que agora parece muito distante, perdido mesmo. (FREITAS, 2006).

3.7 Uma Outra Estação O disco “A tempestade” na verdade, segundo Cardoso (2007), era pra ter sido lançado em um Box especial com dois discos, porém, pela situação em que Renato se encontrava isso não era possível. É então, que Dado e Bonfá decidem junto com a gravadora lançar um álbum póstumo (figura 17) com as canções inéditas que foram gravadas e não entraram no disco anterior. Todos os desenhos da capa e do encarte do álbum forma todos desenhados por Bonfá e fazia referência à cidade de Brasília.


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Figura 17 - Capa do álbum “Uma Outra Estação”.

Fonte: LEGIÃO URBANA, 2016. O álbum começa ao som de “Reading Song”, “Uma Outra Estação” e “Flores do Mal” que era uma homenagem de Renato a duas grandes amigas. A quarta canção do álbum “La Maison Die” faz referência ao sistema político brasileiro, seguindo vem “Clarice” que é uma canção autobiográfica de Renato que se colocava como um garoto que fala sobre as injustiças sofridas pelas mulheres através de suas próprias experiências e perspectivas. Seguindo a ordem do disco tem-se "Schubert Ländler", “A Tempestade” que lembra um pouco música gótica, “High Noon”, “Comédia Romântica” que fala do lado amargo de Renato Russo que não queria ajuda das pessoas quando se encontrava debilitado, “Dado Viciado”, “Os Marcianos Invadem a Terra”, “Antes das Seis”, “Mariane”, “Sagrado Coração” e “Travessia do Eixão”, Segundo o site oficial da Legião Urbana (2016), o disco teve uma vendagem consideravelmente boa em relação aos discos anteriores da banda, pelo fato nostálgico em que os fãs e admiradores procuravam saciar a saudade de Renato Russo. Depois do “Uma Outra Estação” a Emi reuniu alguns materiais ainda existentes e decidiu criar uma coletânea em 1998 que levava o nome “Mais do Mesmo” e também utilizaram gravações de shows da turnê para lançar três álbuns “Ao Vivo” (figura 18) da banda, são eles: “Acústico MTV” (Lançado em 1999 e que foi gravado em 1992), “Como é Que Se Diz Eu Te Amo” (Lançado em 2001 e gravado em 1994) e “As Quatro Estações - Ao Vivo” (Lançado em 2004 e gravado em 1990). Além disso, foram lançados o álbum “Renato Russo - Uma Celebração” em 2006 gravado pelo canal multishow e que teve nos vocais vários artistas como Paulo Ricardo, Vanessa da Mata, Chorão e Capital Inicial entoando as canções da banda, o álbum “Legião Urbana e Paralamas Juntos” que foi gravado e exibido em 1988 pela Rede Globo e lançado


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fonograficamente em 2009 e por fim a coletânea de músicas da banda no álbum “Perfil” de 2011. Figura 18 - Álbuns “Ao Vivo” da banda Legião Urbana.

Fonte: LEGIÃO URBANA, 2016.

Outro reencontro marcante da banda que merece ser destacado segundo o G1 (2011) foi o show-tributo que ocorreu durante o Rock In Rio no ano de 2011 tendo a participação de Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá junto com o acompanhamento da Orquestra Sinfônica Brasileira e, além disso, as participações especiais de Pitty, Dinho Ouro Preto, Toni Platão, Rogério Flausino e Herbert Vianna. Essa apresentação foi transmitida pelo canal Multishow e eternizada através de um DVD que levou o nome de “Concerto Sinfônico Legião Urbana”.

3.8Legião Urbana 30 anos de história

Após a morte de Renato Russo e consequentemente o fim da Legião Urbana, segundo Gaia (2014), aconteceram diversos conflitos envolvendo Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá, tanto que eles criaram um blog (http://entendaocasolegiao.blogspot.com.br) para poder explicar todo o embate enfrentado contra a família de Renato, principalmente o seu único e herdeiro filho GiullianoMafrendini envolvendo a posse dos direitos artísticos da banda e a gestão da marca “Legião Urbana”.


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Todo esse conflito se originou através de uma troca de acusações em torno dos direitos de uso da marca que pertencia à empresa “Legião Urbana Produções Artísticas” que foi criada por Renato Russo e que tinha Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos como sócios minoritários, mas que já não possuíam mais nenhuma participação quando ocorreu uma confusão após o sucesso do disco “Dois” onde um oportunista desconhecido registrou o nome de sua marca em seu nome, dessa maneira a banda moveu um processo judicial pra tomar a posse da marca novamente, porém, esse processo não poderia ir pra frente porque a lei não possibilita o nome de uma marca ser registrado por pessoa jurídica. É então que Renato é escolhido pra ser o detentor da marca já que ele era sócio majoritário.

Nesses anos todos nem o Dado nem o Bonfá tiveram a menor intenção de ir à justiça para obter de volta o que também era deles, pelos seguintes motivos: 1) Eles nunca duvidaram que a banda (e por tanto a marca) era tão deles quanto do Renato 2) Eles nunca tiveram a vontade de brigar com a família do Renato, ainda mais judicialmente, e sempre entenderam que quando chegasse à vez do escolhido por Renato para cuidar do patrimônio (entenda-se: Giuliano, seu filho), as coisas mudariam e, 3) Porque sempre acreditaram que a família do Renato foi levada a gerir o patrimônio de forma tão agressiva e maldosa, por determinação de seus assessores e não por motivação própria. (ENTENDA O CASO DA MARCA LEGIÃO URBANA, 2011).

Conforme o blog Entenda o Caso da Marca Legião Urbana (2011), o assunto em torno da marca nunca foi discutido pelos integrantes durante a época em que a banda estava na ativa. Como já mencionado, o registro da marca só se deu devido à tentativa de um oportunista tirar proveito sobre a mesma. A briga de fato só se iniciou anos depois por parte da família de Renato devido às diferenças artísticas entre Dado e Bonfá, principalmente após o surgimento de convites por parte das produtoras que convidaram os dois integrantes para participar de eventos comemorativos. Ambos chegaram inclusive a serem impedidos de participar de um festival em Curitiba no ano de 2012 por parte de GiullianoManfredini e que também tiveram fortes complicações como a gravação do “Tributo - MTV” que a mesma acabou tendo que pagar a família pelo uso da marca, já que ela não autorizava a inclusão de músicas compostas por Renato na setlist do show. Vale lembrar que dessa forma seria impossível a realização do tributo, já que Renato participou integralmente de todas as composições da banda. Depois de fortes conflitos entre ambos os lados somente em 2014 que segundo o G1 (2014), a justiça do Rio de Janeiro autorizou o uso da marca Legião Urbana por Dado-Villa Lobos e Marcelo Bonfá. Na sentença publicada pelo juiz Fernando Cesar Ferreira Viana no dia 28 de outubro de 2014 foi determinado que Giuliano não pudesse mais impedir o uso da


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marca por partes dos músicos em suas atividades profissionais, como assim diz o parágrafo do documento do processo: Por certo, os autores são ex-integrantes da banda e contribuíram durante toda a sua existência, em nível de igualdade com Renato Russo, para todo o sucesso alcançado. Assim sendo, não parece minimamente razoável que não possam fazer uso de algo que representa a consolidação de um longo e bem sucedido trabalho conjunto reconhecido por milhões de fãs. (7ª VARA EMPRESARIAL DO RIO DE JANEIRO, 2014).

Após a vitória de Dado e Bonfá no processo judicial, segundo o Correio Braziliense (2015), a banda “Legião Urbana” volta aos palcos com a formação inicial de Dado na guitarra e Bonfá na bateria e convidaram o Formigão do Planet Hemp para assumir o baixo e o ator e cantor André Frateschi para os vocais. O comunicado oficial da volta da banda foi feita através de um anúncio enviado a impressa que revelava a primeira cidade que receberia a turnê de XXX anos e posteriormente durante a apresentação da Legião no programa Fantástico em setembro de 2015. Como já dissemos inúmeras vezes, a Legião – como banda – acabou junto com a morte do Renato, em 1996”, diz Dado e Bonfá no comunicado, deixando claro que não há “volta” da Legião Urbana como grupo, mas sim um novo encontro nos palcos. “E ninguém pode substituir o Renato. Único e insubstituível. (LEGIÃO URBANA apud ROLLING STONES, 2016).

A escolha de André Frateschi pra assumir os vocais se deu devido Manzini (2016), pelo fato do mesmo já possuir um envolvimento com a história da banda. André aos 10 anos de idade conheceu Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá no ano de 1985 (figura 19), quando justamente estavam lançando o primeiro álbum da carreira da Legião Urbana. “A gente tomava conta dele e agora ele está no palco e é um artista incrível” diz Dado VillaLobos citado por Manzini (2016).

Figura 19 - Nova formação da Legião Urbana para a turnê de XXX anos, concedendo entrevista a um jornalista.


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Fonte: CORREIO DO ESTADO, 2015. O show comemorativo da banda segundo Lichote (2016) é dividido em duas partes: a primeira parte traz na íntegra o primeiro disco intitulado “Legião Urbana” com as canções “Geração Coca-Cola”, “Será”, “Ainda é Cedo”, entre outras. Já na segunda parte do concerto eles apresentam uma seleção com as músicas de maior repercussão em toda a história da banda. Durante o processo de criação de todo o espetáculo eles pensaram em utilizar diversos recursos que pudesse aproximar mais fielmente aos shows que a Legião Urbana fazia como uns dos primeiros no Circo Voador em 1983. Em entrevista a Lichote (2016), Dado sintetizou que inclusive até o cenário político atual tem grande semelhança ao momento em que a Legião Urbana naquela época se encontrava, os brasileiros estavam esperando a posse de Tancredo como presidente do Brasil, porém devido a um estado grave de saúde ele veio a falecer e assim consequentemente seu vice José Sarney assumiu a presidência do Brasil. É importante ressaltar também que as versões das canções dos primeiros momentos da história da Legião Urbana são mais viscerais, pois, elas refletem o movimento punk que se instalava no Brasil e que colocava o movimento do rock e consequentemente o “br rock” como uma ponte de protesto político daquela época. Os milhares de fãs e admiradores da banda entoam essas canções com o mesmo clima de questionamento durante o show da turnê comemorativa, analisando as semelhanças entre o país da década de 80 e o atual. “A gente continua sendo trilha sonora deste tipo de contestação, porque muitas coisas ainda não foram resolvidas.” (LOBOS apud LICHOTE, 2016). Os fãs e admiradores da banda ao serem questionados durante a entrevista no BH Hall se ainda há alguma herança da juventude da década de 80 que se reflita na geração atual, constatou-se uma divisão de opiniões. Alguns ainda acreditam existir resquícios dessa herança, pelos protestos que ocorreram no Brasil nos anos de 2013 e 2014 contra a corrupção e o aumento de vinte centavos nas tarifas de ônibus, e os movimentos contra e pró Dilma. Outros já acham que o fim da Legião Urbana e de algumas outras bandas de rock tão influenciadoras quanto, fez com que perdesse essa ideologia revolucionária e a força pra lutar. A juventude atual ficou carente nos ícones de contestação social. De acordo com Carlos (2015), paralelamente a realização da turnê de celebração dos 30 anos da banda, Dado e Bonfá decidiram resgatar o trabalho que levou a Legião Urbana ao conhecimento do grande público em 1985, sendo assim uma das ações promocional comemorativa inclusa no projeto. Gravado no ano de 1984 pela gravadora EMI e lançado em


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1985, o primeiro álbum da Legião Urbana teve seu relançamento realizado no ano de 2015 pela Universal Music/EMI em uma edição especial que contou com dois discos, em formato digital e físico. O anúncio foi feito pelos ex-integrantes da banda Legião Urbana: Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá como descrito no trecho a seguir: “O processo de mexer com todas essas fitas, de ver aquelas fotos, de ler aqueles textos e, principalmente, de ouvir aquelas primeiras versões das nossas músicas, foi realmente emocionante. Tanto que acabou despertando a vontade de estarmos juntos tocando de novo,” (BONFÁ; LOBOS apud TIMES FOR FUN, 2015, p. 1). Segundo Oliveira (2016), em uma versão especial e dupla o disco contra com o álbum original, porém remasterizado e o segundo com três faixas inéditas guardadas pela EMI. Dentre elas estão “Ainda é Cedo” em uma versão em inglês, “Será” e “Por Enquanto” em versões de takes alternativos. Essas raridades foram gravadas no ano de 1983, quando a banda ainda não se chamava Legião Urbana e Renato Russo tocava baixo. Chamadas elaboradas na época para as rádios e versões remixadas de “Será” produzidas por Liminha e “A Dança” produzida por Mario Caldato também se encontram neste álbum. “É um material que permite às pessoas verem como foi um processo de transição de uma banda punk para a Legião Urbana que todos conhecem. Era um momento muito especial para o Brasil. Nós éramos jovens e quisemos mostrar isso nas músicas”, (BONFÁ apud OLIVEIRA, 2016). A ausência mais sentida deste álbum de luxo foi da faixa “1977”, por não haver acordo entre os ex-integrantes e a família de Renato Russo pelos direitos autorais da música. O filho de Renato Russo Giuliano Manfredini alega que a música foi integralmente composta pelo pai e que os direitos sobre a mesma foram divididos em duas partes, Renato Russo com 75% e Legião Urbana Produções com os outros 25%. Para celebrar esse relançamento do primeiro álbum da Legião Urbana e comemorar a atemporalidade da banda, a turnê “Legião Urbana - 30 anos” que contará com o cantor/ator André Frateschi no vocal assumindo os vocais do insubstituível Renato Russo, também promete muito rock androll e um som mais pesado para os fãs. “O show está um pouco mais pesado do que era antes, sinto que entendemos melhor as músicas. Fazemos um show de rock de verdade”, (BONFÁ apud OLIVEIRA, 2016). O show passa ser uma “desculpa” e para reunir os “legionários” em um momento único de nostalgia e muito rock, honrando e demonstrando toda a idolatria pela banda, sucesso nos anos oitenta e noventa. Onde músicas representavam e mexiam com os jovens da época. “Eu começo a perceber que a força da música está acima de qualquer pessoa. Vejo pessoas tão


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ensandecidas no show como era há 30 anos, mesmo sem o Renato. Mas ele também está lá presente por meio da música”, (BONFÁ apud OLIVEIRA, 2016). De acordo com Lichote (2016) a banda afirma que a satisfação de reviver tudo como era antes e na mesma intensidade que antes. Como por exemplo, voltar a fazer show todos os finais de semana, pegar a estrada novamente, mesmo com todos os problemas que surgem pelo caminho e perrengues como fazer baldeações entre vans, ônibus e aviões, e estruturas para shows. O melhor passa ser curtir essa experiência sem a responsabilidade, tocar com leveza, alegria e prazer e sem se preocupar com a afirmação perante aos fãs e se sentir tão jovem outra vez. “O lance são as canções, a gente é só o gatilho que dispara isso. Começa o riff de “Será” e vem um retorno tão intenso, tão louco, quase como uma droga.” (LOBOS apud LICHOTE, 2016). A juventude que se vê no palco com o cantor André Frateschi, com o guitarrista Lucas Vasconcellos, com o baixista Mauro Berman e por fim com o tecladista Roberto Pollo que completam a banda nessa turnê de comemoração, é a mesma vista no público. “Muita gente que nem era nascida quando o Renato morreu gostaria de ver um show da banda. E quem viu sentia saudades... Achei muito honesta a acertada à estratégia do Dado e do Bonfá de deixar claro que não se tratava de uma volta da banda, mas de um tributo à própria história.” (DAPIEVE, 2016). Novos legionários, uma nova geração que se fazem plateia vivendo num cenário político parecido a década de oitenta vividos por Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, ajudam sustentar essa atemporalidade da banda Legião Urbana. “O show é muito parecido com o que fizemos no Circo em 1983, estamos repetindo tudo de forma mais concisa. Até o cenário político confuso tinham semelhanças.” (LOBOS apud LICHOTE, 2016). Pereira (2016) acredita que o crescente uso da internet na sociedade brasileira contribuiu sistematicamente para a amplificação do poder histórico e cultural da Legião Urbana, o que colaborou para a perpetuação da herança da banda na memória dos brasileiros:

Hoje acredito que a Legião Urbana seja vista como uma das maiores bandas do país, independente do gênero (MPB, rock, etc). Posso estar enganado, mas a sensação que tenho é que a grandeza, espelhado no valor de culto em relação à banda, apenas aumentou após a morte de Russo, em 1996. Em relação à influência lírica musical, é perceptível com mais nitidez em um ou outro caso (a banda acreana Los Porongas, os grupos mineiros Pelos e Lupe de Lupe), mas, especialmente na questão do texto, zilhões de artistas vão reforçar a admiração que tem por Russo no pop contemporâneo, de Criolo à Ivete Sangalo. Um arco que diz muito do poder de alcance que a potencia lírica dele possuí, diga-se. (PEREIRA, 2016).

A ideia do projeto da banda para turnê comemorativa pelos trinta anos do primeiro disco inicialmente era que fosse celebrada apenas nos últimos meses de 2015 e em algumas capitais,


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mas foi estendido para o ano de 2016 por vontade própria de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, que desejam tocar em cidades do interior que foram importantes para a Legião Urbana e em outras que não tiveram o privilégio de nunca ter recebido um show. Um prêmio para os fãs da banda em cada canto do Brasil. Depois de suprir este desejo, Dado e Bonfá não irão seguir em frente com a banda, acabando com a possibilidade de uma possível volta da Legião Urbana, já que afirmaram por várias vezes ser uma homenagem/celebração ao primeiro álbum, e por já estar engajados em projetos solos, tanto um quanto o outro.


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4 A ATEMPORALIDADE DO DISCURSO POLÍTICO E SOCIOCULTURAL DA BANDA

Neste quarto capítulo propõe-se mostrar os métodos e técnicas utilizadas na aplicação do projeto, como a pesquisa de campo com a aplicação de uma entrevista semiestrurada com fãs e seguidores da banda Legião Urbana e também a entrevista com os críticos musicais Arthur Dapieve e Thiago Pereira, todas as entrevistas citadas foram distribuídos fragmentos de análise e resposta durante todos os capítulos deste projeto. Por fim, este capítulo apresenta a análise semiótica do discurso das canções Que País é Este, Geração Coca Cola e Perfeição com base nos aportes teóricos proposto por Algirdas Julius Greimas.

4.1 Considerações metodológicas: A realização da pesquisa cientifica a ser analisada sob a perspectiva do tema: Legião Urbana XXX anos: a atemporalidade do discurso político e sociocultural da banda terá como técnica a análise de discurso, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo com uma entrevista qualitativa. Enfatizando, a importância histórica da banda para a construção de uma ideologia que se perpetua até os dias atuais. A análise de discurso tem como intuito estudar e analisar a estrutura de um texto, formada por textos estruturados e que conta com construção linguística, construção ideológica e suas influências. Seu desenvolvimento pode aparecer em forma de temas e figuras. Para Bardin (1995), existem duas maneiras de análise de textos, a interna e a externa. A interna é o que o texto propriamente diz já a externa é o porquê do texto dizer o que ele diz. Criando assim, a relação do texto com a situação criada, o campo da língua que seria a linguagem em relação ao campo da sociedade que seria a ideologia que a mensagem quer transmitir.

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 1995, p. 42).

Segundo Brandão (2014), o estudo sobre a análise de discurso, atualmente, está bem difundido, com várias correntes teóricas. Sendo assim, ela procura focar, em sua pesquisa, em uma dessas tendências que ficou conhecida como “escola francesa de análise do discurso”. Essa tendência surgiu na década de 1960-1970 na França, onde havia uma forte tradição no


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estudo de texto literário, que acabou influenciando estudiosos brasileiros também na mesma época. Tanto o Brasil quanto a França estavam passando por períodos políticos e culturais agitados, e a análise de discurso francesa procurou entender esse período, e analisou o que foi produzido naquela época. Sendo assim, essa análise se debruça inicialmente nos discursos políticos, como posição de esquerda versus direita. Para analisar esse discurso um tanto quanto complexo, a escola francesa não se limita apenas na análise linguística, analisando apenas a parte gramatical da língua, e leva em conta outros aspectos que também são essenciais para a análise, como os elementos históricos, sociais, culturais e ideológicos que rodeiam a produção de um discurso. Ainda segundo Brandão, o discurso é um dos lugares onde a ideologia se manifesta, ou seja, toda forma material, se torna concreta por meio da língua. E assim, torna fundamental o elemento de análise ideológica também. Por ideologia, refiro-me às estruturas mentais – as linguagens, os conceitos, as categorias, imagens do pensamento e os sistemas de representação que diferentes classes e grupos sociais desenvolvem com o propósito de dar sentido, definir, simbolizar e imprimir inteligibilidade ao modo como a sociedade funciona (HALL, 1996, p.26).

Segundo Orlandi (2009), o discurso é “lugar em que se pode observar a relação entre língua e ideologia”. Dessa forma ela aborda sobre três domínios disciplinares que fazem parte dessa relação, que é o Marxismo, a Psicanálise e a Linguística, e os próprios deslocamentos produzidos pela análise de discurso, segundo a escola francesa. A análise de discurso se faz entre a linguística e as ciências sociais. Por um lado interroga a linguística excluindo o que é histórico-social e, por outro lado, interroga as ciências sociais que não consideram a linguagem em sua materialidade. A análise não se restringe a interpretação em si, nem procura uma chave para isso. As canções provenientes do gênero rock e principalmente as da banda Legião Urbana possuem o seu discurso carregado de questionamentos políticos e socioculturais que tem por fim buscar a afixação de uma ideologia contestatória. Para Chauí (2010), ideologia (figura 20) é um fenômeno moderno que substitui o papel que tinham os mitos e as teologias. Por intermédio da ideologia é possível responder questionamentos acerca dos homens, sociedade e da política sob uma manifestação de consciência ou de ideias.


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Figura 20 - Modelo explicativo da construção do significado da ideologia.

Fonte: (FILOSOFIA NO CEL, 2009).

É importante saber, entender e explicar a construção e elaboração de um texto e como o mesmo se interage com a história e a sociedade. Segundo Gregolin (1995), para compreender melhor o discurso, é essencial a análise desses dois elementos presentes no texto. Além disso, a análise de discurso pode ser usada como um importante instrumento de trabalho para ensino e para uma melhor reflexão sobre a construção e desenvolvimento de um texto. E compreender tudo isso ajuda e muito a trabalhar melhor com diversos tipos de textos e explorá-los de uma forma crítica, rica e criativa. O processo para a construção de uma análise de discurso parte da estruturação do texto e como ele liga diferentes elementos em um espaço onde são manifestados seus valores e conteúdo, ganhando sentido coeso e coerente para uma melhor leitura e relacionamento para enunciador do texto com o enunciatário. Isso faz com que o leitor enxergue de maneira clara todas as orientações argumentativas e as relações entre o texto e o contexto gerado. Para isso é muito importante que o texto contenha um bom nível fundamental (o sentido), um bom nível narrativo, (valores e conteúdo) e um bom nível discursivo (Manifestação textual). Etimologicamente a palavra discurso contém em si a ideia de percurso, de correr de movimento. O objeto da Análise do Discurso é o discurso, ou seja, ela se interessa por estudar a “língua funcionando para a produção de sentidos”. Isto permite analisar além das frases, ou seja, o texto. (ORLANDI, 2009, p. 17).


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A análise de discurso aplicada as canções é um método que está ligado a um processo dialético, que para Platão citado por Goldschimdt (2002) é uma arte e técnica capaz de trazer a discussão sobre questionamentos de diversos assuntos a fim de aproximar às ideias individuais as ideias universais. Através da dialética, a análise de discurso segundo Orlandi (2006), procura entender não só a palavra materializada através de um texto, mas sim, de todo o contexto social na qual ela está empregada, o meio em que o discurso se estabelece e os efeitos da recepção dessas mensagens oriundas desses tais textos “um processo de significação no qual estão presentes a língua e a história, em suas materialidades, e o sujeito, devidamente interpelado pela ideologia.” (ORLANDI, 2006, p.16). A análise de discurso será aplicada com base nos princípios semióticos do teórico linguista Algirdas Julius Greimas. Conforme Barros (2002), a teoria semiótica greimasiana tem como fundamento procurar entender e compreender como “o texto diz o que diz” através da construção do sentido nas obras artísticas desde a literatura (textual) ou até mesmo através da análise de uma imagem. Por esse motivo Greimas entendia que a semiótica é a ciência da significação, pois ela se estabelece como um percurso gerativo. O percurso gerativo de sentido proposto por Greimas tem como intuito aplicar uma análise semiótica explorando a semântica (significação e interpretação de uma palavra, signo ou uma expressão em determinado contexto) desde o nível superficial de análise até o mais profundo. Para chegar à busca dos questionamentos acerca da análise ele busca por meio do plano de conteúdo explicar os mecanismos utilizados na produção de um texto desde os temas discutidos até as figuras utilizadas na produção de determinado texto de uma maneira que busque o distanciamento do objeto (3ª pessoa) ou a aproximação (1ª pessoa) do indivíduo inserido naquela abordagem inclusa no material analisado. Para aprofundar a investigação do objeto a teoria greimasiana busca a compreensão considerando três níveis: o primeiro é o nível profundo que busca um recorte do objeto por meio de suas especificidades. O segundo é o nível narrativo que tem por objetivo entender o enredo da história por intermédio do terceiro nível, o discursivo, que apresenta a estruturação de como o autor construiu o tempo, o espaço e os personagens inseridos na obra. De acordo com Fiorin (2001), o nível profundo, também chamado de nível fundamental (figura 21) é a semântica que representa a parte inicial do percurso gerativo que visa uma análise mais aprofundada e consistente da produção, do funcionamento e da interpretação do discurso. Nela se encontra a base da construção do texto fundamentos em um dualismo, ou seja, por meio de uma oposição de dois termos, como por exemplo, a noção de bem/mal, paz/guerra ou vida/morte.


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Figura 21 - Modelo esquemático da dualidade do nível profundo de Greimas.

Fonte: (FIRMO. 2012, p. 36).

Conforme Firmo (2012), os elementos da categoria semântica de um texto podem ser avaliados por meio de duas classificações: a primeira é o elemento eufórico (valor positivo) e o segundo é o disfórico (valor negativo) que vai se enquadrar conforme o contexto empregado em cada análise. Por exemplo, na figura 27 pode-se perceber que rico é o elemento eufórico (valor positivo) e pobre é o elemento disfórico (valor negativo).

Compreende a(s) categoria(s) semântica(s) que ordena(m), de maneira mais geral, os diferentes conteúdos do texto. Uma categoria semântica é uma oposição tal que a vs b. Podem-se investir nessa relação oposições como vida vs morte, natureza vs cultura, etc. Negando-se cada um dos termos da oposição, teremos não a vs não b. Os termos a vs b mantêm entre si uma relação de contrariedade. A mesma coisa ocorre com os termos não a vs não b. Entre a e não a e b e não b há uma relação de contraditoriedade. Ademais, não a mantém com b, assim como não b com a, uma relação de implicação. Os termos que mantêm entre si uma relação de contrariedade podem manifestar-se unidos. (FIORIN, 1999, p. 4).

A dualidade proposta no quadrado semiótico resulta em novas aplicações. De acordo com Silva (1999), esses novos desdobramentos são utilizados em um modelo mais complexo denominado octógono semiótico (figura 22). Nessa nova concepção é possível observar novos contextos relacionais entre o elemento eufórico (valor positivo) e o elemento disfórico (valor negativo) do quadrado semiótico, esses novos elementos são chamados de termos complexos, termos neutros e as asserções. Na figura a seguir pode-se observar a orientação estrutural do octógono semiótico:


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Figura 22 - Modelo esquemático do octógono semiótico.

Fonte: SILVA, 1999, p. 5.

Na figura acima, percebe-se que na parte superioro S¹ é o valor positivo (eufórico) e o S² é o valor negativo (disfórico), ou seja, a dualidade de uma determinada palavra com base no quadrado semiótico. Já na parte de baixo são os valores sub-contrários dessa dualidade, representados na figura pelo símbolo S² e S¹. Paralelamente a esses símbolos são construídos problemáticas resultantes dos conflitos entre esses valores que são o termo complexo, o termo neutro e as asserções. Os termos complexos, são termos combinados entre os termos contrários S¹ e S² da parte superior do modelo esquemático. Os termos neutros, são termos combinados entre os termos sub-contrários S¹ e S² da parte inferior do modelo esquemático. As asserções é a combinação dos termos contrários com os sub-contráriosparalelos, como o S¹ superior com o S² inferior ou vice e versa, Para exemplificar melhor a aplicação dos termos no octógono semiótico, toma-se como exemplo a aplicação feita por Silva (2000), que utilizou no nível fundamental do quadrado semiótico a dualidade entre amor e a morte (figura 23). A combinação entre o amor e a morte resulta no termo complexo, que foi denominado como paixão. Já a combinação entre os subcontráriosnão-morte e não-amor resultam no que foi denominado como “indiferença”. Em contrapartida, no quadro das asserções tem-se a combinação entre o termo morte e o termo


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sub-contrárionão-amor que resulta na dêixis negativa “esterilidade e a combinação entre o termo amor e o termo subcontrárionão-morte que resulta na dêixis positiva “sublimação”, como pode-ser observado no modelo a seguir:

Figura 23 - Exemplo do octógono proposto por Silva.

Fonte: SILVA, 1999.

O segundo nível da teoria greimasiana é o chamado de nível narrativo que segundo Fiorin (2001), busca trabalhar com a narratividade através de um estado inicial, uma transformação e um estado final. De acordo com Fagundes (2001), para que essas transformações aconteçam é preciso existir no texto os papeis narrativos que são executadospelos sujeitos e os objetos que “são papéis narrativos que podem ser representados num nível mais superficial por coisas, pessoas ou animais.” (FIORIN, 1999, p. 22). Além disso, segundo Fiorin (2002) dentro de um texto há dois tipos almejados pelos sujeitos (figura 24): o primeiro são os objetos modais (o querer, o dever, o poder e o saber) e o segundo são os objetos de valor (o objetivo último da ação narrativa). Conforme Bressan Junior (2011) para se chegar ao objeto de valor no primeiro é necessário o poder, o dever e o saber dos objetos modais, o que ocasiona, portanto a transformação dos elementos do nível fundamental para o nível narrativo. O que no nível fundamental era trabalhado através da dualidade, no nível narrativo é realizado através dos objetos e a sua relação com o sujeito.

Quando dizemos que Pedro é rico, temos um sujeito Pedro em relação de conjunção com um objeto riqueza. Quando afirmamos Pedro não é rico, temos um sujeito Pedro em relação de disjunção com um objeto riqueza. A transformação é, por conseguinte, a mudança da relação entre sujeito e objeto. (FIORIN, 1999, p. 4).


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Figura 24- Relação do sujeito com os objetos modais e os objetos de valor.

Fonte: OS AUTORES, 2016. Portanto, o sujeito em primeiro momento buscará obter os aspectos modais de querer, poder, dever e saber. Posteriormente, ele tem como finalidade trações caminhos para se alcançar o objeto de valor. Esse movimento de transformação do sujeito em relação ao objeto é o que é chamado de “transformação de estado”. Dessa maneira, Gregolin (1995) explicita que a narrativa reproduz a história do homem e sua relação na busca de valores e das situações que permeiam as relações humanas através de quatro fases: a, manipulação, competência, performance e sanção. A primeira fase é a da manipulação. De acordo com Fagundes (2011), nessa fase o sujeito tem como objetivo alcançar o que deseja através de esforços que fazem como que outro indivíduo se torne um colaborador indireto para a realização da ação. Para a realização plena desse objetivo é preciso que o manipulador conheça de forma aprofundada o manipulado, pois, dessa maneira ele terá mais chances de êxito da manipulação ser bem sucedida. Nessa fase “o que importa é o esforço do destinador no sentido de despertar a confiança do destinatário (fazer crer) para, em seguida, completar a manipulação, fazendo-o fazer ou não fazer.” (TATIT, 2002, p. 191). Há várias características que possibilita o processo de manipulação, Tatit (2002) destaca quatro, são elas: a. Sedução: em que o destinador manifesta um saber fazer o destinatário querer fazer, elogiando-o ou enaltecendo-o de tal maneira que qualquer sinal de recusa à manipulação significaria também a renúncia a todas as qualidades que lhe foram atribuídas; b. Tentação: domínio em que o destinador demonstra poder fazer o destinatário querer fazer, apresentando-lhe uma recompensa de algum modo irrecusável;


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c. Provocação: caso no qual o primeiro actante obtém com o seu saber fazer o dever fazer do destinatário, já que o leva a agir como única forma de refutar a depreciação que lhe foi imposta; d. Intimidação: processo que põe em cena um destinador dotado de um poder fazer (normalmente extradiscursivo) o destinatário deve fazer a partir de algum tipo de ameaça. (TATIT, 2002, p. 191).

A segunda fase do nível narrativo é a competência. Conforme Gregolin (1995), nessa fase o sujeito manipulado tem como foco traçar caminhos para adquirir competência para realização da ação através do saber, poder e o querer. A terceira fase é a performance, ou seja, a ação propriamente dita e a quarta fase é a sanção que é a recompensa ou castigo que determinado indivíduo recebe pela prática de uma ação. O terceiro e o último nível da teoria greimasiana é o nível discursivo que Segundo Firmo (2012), acontece dentro da concretude das formas abstratas de uma narrativa. Tomando como exemplo um indivíduo que possui o desejo de alcançar a fama em algum momento, e transforma esse desejo abstrato em concreto, através de buscas por caça talentos, investimentos de milionários, entre outros. Quando o sujeito da enunciação assume o discurso, escolhendo pessoas, espaços, tempo, figuras, contando a história a partir de um “ponto de vista”, há o nível discursivo. Um outro elemento que pode ser característico do nível discursivo é a especialização, quando em algum texto, por exemplo, os personagens podem ser caracterizados pelo lugar onde moram, a temporalização, entre outros. De acordo com Gregolin (1995), esses recursos do nível discursivo estabelecem a relação entre o enunciador e o enunciatário, permitindo a interpretação nas marcas espalhadas no texto. Passa a ser mais claro então que o discurso é um dos percursos para geração de sentido de um texto, recuperando até mesmo as relações entre o texto e o contexto sócio histórico que o construiu. Conforme Crestani (2010), é no nível discursivo que o “abstrato” existente no nível narrativo ganha concretude através de termos que lhe revestem. Sujeitos, objetos, entre outros aspectos passam a ser representados por temas ou figuras. Um exemplo disso, ainda citado por Crestani, são os sujeitos do nível narrativo que ganham, no nível discursivo, nomes e se tornam personagens reais ou fictícios do texto. E ainda é ressaltado por ela que, o sujeito da enunciação quando produz o seu discurso, parte da estrutura fundamental que é a mais simples, para o nível discursivo, sendo o mais complexo. E o leitor faz o caminho inverso, partindo do nível discursivo, para a estrutura fundamental do texto. Pensando nisso, a proposta dessa análise de discurso é buscar interpretar o conteúdo político e sociocultural em três canções da Legião Urbana. A escolha das canções se deu por


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meio da indicação do escritor Arthur Dapieve na Obra “O Trovador Solitário” (2000) que entende que essas canções possuem em comum a busca pela propagação de uma nova ideologia a juventude daquela época. A partir disso, foram escolhidas as seguintes canções para aplicar a metodologia da análise, são elas: Geração Coca-Cola (1978/1985), Que País é Este (1978/1987) e Perfeição (1993).

Essas três músicas fazem uma espécie de crônica da vida política brasileira. “Que país é este”, a mais antiga, trata da ditadura militar na sua fase mais forte e truculenta. “Geração Coca-Cola” já é um retrato do processo de redemocratização, de uma nova geração experimentando a democracia pela primeira vez. E “Perfeição” é um comentário amargo às dificuldades da vida democrática, causadas por vícios ancestrais nossos. Musicalmente, uma é punk rock, outra é póspunk (não gosto do termo “new wave”, meramente comercial) e a terceira é samba-enredo à moda da Legião Urbana. Para mim, “Perfeição” é a obra-prima da banda. (DAPIEVE, 2016). Relacionado às três canções exibidas nos parágrafos acima, será apresentada uma análise aprofundanda correlacionando o movimento do rock e sua participação na perpetuação de ideologias na juventude brasileira. Sendo, que será enfatizado os contextos socioculturais e políticos permeados pelos movimentos contestatórios já existentes na história do Brasil e também as que foram vividas pela banda durante os 15 anos de existência. Além da análise de discurso das canções da banda, também será realizada uma pesquisa de campo que segundo Fonseca (2002), é uma técnica de pesquisa que consiste em coletar dados, na maioria dos casos, fora do ambiente acadêmico entre as pessoas envolvidas com o objeto empírico que está sendo analisado. Ela tem por objetivo analisar e compreender empiricamente os fatos e os fenômenos de acordo com a realidade do objeto, procurando evidenciar o que foi percebido e posteriormente analisar seus desdobramentos junto à pesquisa bibliográfica de modo minucioso. De acordo com Moresi (2003), a pesquisa de campo está ligada a uma experimentação empírica que deve ser realizada na localidade onde o objeto está empregado, pode ser tanto como um fato ocorrido ou até mesmo um movimento existente. A aplicabilidade pode incluir entrevistas, questionários ou testes para análise comportamental. Para Fidel (1992), esses estudos devem ocorrer sem qualquer interferência do pesquisador, buscando compreender de maneira mais ampla e aplicar todas as bases teóricas de acordo com o que foi observado. Também nesse trabalho será usado o método de pesquisa de campo que tem o objetivo de coletar informações por meio de uma entrevista qualitativa com os fãs e admiradores da


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banda Legião Urbana na fila do show da turnê de XXX anos, que foi realizado nos dias 14 e 15 de abril de 2016 no Chevrolet Hall (Av. Nossa Senhora do Carmo, 230 - Savassi) na cidade de Belo Horizonte. A princípio foram entrevistados vinte fãs da banda Legião Urbana, desde os seguidores da década de 80 até os mais recentes da geração pós 2000. Após coletar todos esses dados, foram segmentados públicos e as informações a fim de analisar a percepção da influência que a banda exerceu na década de 80 e ainda exerce na sociedade contemporânea. Conforme Santos (2012), o termo “pesquisa de campo” possui suas origens ligadas ao estudo psicossocial com o intuito de analisar qualitativamente, pois, ela não possui um amplo alcance devido ao recorte do objeto estar sendo analisado em locais pré-estabelecidos. A vantagem desse segmento de pesquisa é que ela é mais econômica por não utilizar de ferramentas específicas para a coleta de dados, porém, como o processo si dá por observação pode acontecer análises subjetivas distantes da realidade presenciada. A aplicação das entrevistas aos fãs e admiradores da Legião Urbana na fila do show é de caráter qualitativo, que conforme Bauer (2000) é um método estratégico utilizado para levantamento de informações, e que se transformam em conhecimento. Existem três tipos de casos que compõem a pesquisa qualitativa, um para substituir ou completar uma informação estatística, o outro se aplica em captar dados psicológicos e o ultimo para indicar o funcionamento de estruturas e organizações. Essa elaboração parte de uma origem, contexto e razão que busca explicitar de maneira clara a qualidade e essência no foco da investigação, sua fenomenologia e conceitos etnográficos que por fim enfatizam a especialidade em questão.

4.2 Atemporalidade e universalidade na música

Durante as composições das canções, os artistas buscam exprimir determinadas formas de discurso a fim de contextualizar um ideal sob a perspectiva do seu ponto de vista. Há canções que podem representar determinado tempo cronológico, outras podem ser produzidas no objetivo de ser atemporais. Conforme o dicionário Significados (2016), a atemporalidade é um adjetivo empregado quando algo não é datado historicamente, ou seja, quando determinada temática se enquadra em todos os tempos verbais. De acordo com Alves (2015), um dos principais pressupostos utilizado pela arte tem como objetivo de torná-la sempre renovada, criando assim novas experiências ao apreciá-la independente do tempo e o espaço onde o espectador está inserido “mesmo que a gente não


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viva mais no período em que uma obra foi realizada, os sentidos dela nunca deixam de ser presentes.” (ALVES, 2015). Feitosa (2015) acredita que a música é impactada através do momento independente do tempo em que o ouvinte está a apreciando. Para ele, a música revela detalhes da existência humana e acaba se tornando uma ferramenta da imortalidade de sentimentos e que revela aspirações particulares do indivíduo. Por esse motivo, os ouvintes de determinada canção são “capazes de, numa audição delicada, reconhecer o objetivo do compositor, apesar da passagem do tempo.” (FEITOSA, 2015).

Sem prescindir do espaço, naturalmente, a música concerne antes de mais ao tempo, ou talvez devamos afirmar que, sendo som, ela é tempo, o que procuraremos entender em que medida deve tomar-se ao pé da letra. Constitui a obra musical algo previamente configurado pelo compositor para ocorrer durante um lapso de tempo; ela não permanece, imóvel, perante nós, como a obra pictórica, ou uma escultura, remetidas por isso para o âmbito das artes do espaço. No caso da arte musical, a obra surge-nos aparentemente tão liberta do espaço que não a vemos, não conseguimos tocá-la: a sua exterioridade reduz-se ao som que algures se desdobra, e se nos oferece, invisível, ao longo de uma fracção maior ou menor de tempo. (CÂMARA, 2011, p.3).

Portanto, conforme Feitosa (2015), a música é capaz de viver ciclos de renascimentos independentes, sem estar afixados há um tempo cronológico“de todas as formas de expressão humana, a música é a mais livre, mais atemporal, mais sublime. Define-se enquanto vive.” (FEITOSA, 2016). A música tem o objetivo de gerar a inquietação e questionar os paradigmas que se estabeleceram na sociedade, portanto, o discurso delas se torna um instrumento de contestação social. Para Normando (2014), é possível perceber que mesmo depois de anos do fim da banda Legião Urbana, ela ainda influencia milhares de pessoas de geração a geração. Em cada canção é possível perceber traços que refletem situações atuais muito recorrentes no cotidiano, como por exemplo, as contradições humanas e políticas, a perversidade da humanidade, o individualismo, o egocentrismo, mas que sempre após essas menções explicita que ainda há esperança em obter um mundo melhor. Em entrevista a Dapieve (2016), ele contextualiza essa relação atemporal presente nas canções da Legião Urbana:

O Renato escreveu pensando deliberadamente em fazer com que suas músicas fossem entendidas em outros contextos, tanto históricos como geográficos. Há poucas gírias de época, poucas referências a fatos específicos da história brasileira ou a lugares específicos do Rio ou de Brasília. Ele me disse que queria que suas letras fossem entendidas tanto na Vila Rica do século XVIII quanto na Nagoya do


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século XXIII. Por isso, há essa gigantesca penetração da Legião entre novas gerações. Ele escreveu pensando em ser atemporal. Conseguiu. (DAPIEVE, 2016).

Renato Russo, como compositor principal da banda, tornou-se um ícone ao retratar questões em relação à existência humana e os valores na qual a sociedade estava inserida. Ele conseguia contemplar as situações caóticas que passavam em seu interior em paralelo aos questionamentos que assolavam a tensão social. “O tempo não é e nunca está simplesmente dado no “sujeito”, nem no “objeto” e nem tampouco “dentro” ou “fora”. O tempo é anterior a toda subjetividade e objetividade porque constitui a própria possibilidade deste anterior.” (HEIDEGGER, 2006, p. 515). Conforme Pereira (2016), Russo tinha uma preocupação em compor as suas canções para se tornarem presentes em todos os tempos e os espaços. Pode-se perceber em suas letras que não há marcações e datações específicas da época em que elas foram escritas:

Em teoria, sempre teremos favelas, senado, "sujeira pra todo lado". Isso facilita a fixação deste tipo de canção como uma espécie de hino permanente para as crises e nuances que, inevitavelmente, a vida passa. Um jogo muito inteligente da parte de Russo, leitor voraz de clássicos da literatura (onde vemos múltiplos exemplos desse jogo) e mesmo de bandas pop. Beatlemaníaco fanático, sempre soube que refrões como "AllYouNeedIs Love" e "Come Togheter" nunca vão expirar o prazo de validade. (PEREIRA, 2016).

A atemporalidade presente nas canções da Legião Urbana mostra-se por meio do uso das três linguagens atemporais discutidas por Luhmann (1976), que são o passado, o presente e o futuro, onde o discurso proposto nas canções é perpassado de modo sequencial a fim de se tornar “imortalizado”. Dessa maneira, a Legião Urbana até o presente momento mostra-se atemporal, visto que o discurso estabelecido em suas canções consegue contemplar as realidades vividas durante os 30 de história da banda, ou seja, desde o lançamento do primeiro álbum em 1985 até durante a turnê comemorativa da banda em 2016.

4.3 Análise de discurso das canções

4.4.1 Que País é Este? A primeira canção a ser analisada é a “Que País é Este”, escrita em 1978 por Renato Russo durante a sua passagem pelo o Aborto Elétrico, mas que foi gravada fonograficamente apenas em 1987 no terceiro álbum da banda que levava o mesmo nome da canção. Renato Russo teve a intenção de resgatar a canção justamente em um momento em que o cenário


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político brasileiro passava por uma fase de dificuldade da estabilização política nos três primeiros anos pós-ditadura militar. No encarte do álbum a banda explica o real motivo da canção não ter sido gravada antes: ""Que país é este nunca foi gravada porque sempre havia a esperança de que algo iria realmente mudar no país, tornando-se a música então totalmente obsoleta. Isto não aconteceu e ainda é possível se fazer a mesma pergunta do título.” (LEGIÃO URBANA, 1987).

Nas favelas, no Senado Sujeira pra todo lado Ninguém respeita a Constituição Mas todos acreditam no futuro da nação Nos primeiros versos da canção “Nas favelas, no senado, sujeira pra todo lado”, Renato explicita que desde os governantes (os que deveriam ser exemplo para a nação, já que possui em suas mãos o instrumento do poder de representação) até os mais pobres não possuem uma conduta em prol do bem comum e são totalmente individuais em seus pensamentos, dessa maneira eles se configuram como cidadãos que não enxergam a política e a cidadania como forma de construir uma sociedade mais justa e igualitária. Outro ponto colocado ironicamente por Renato provém da frase “Ninguém respeita a constituição”, pelo fato de que a sociedade exige uma conduta honesta dos governantes, mas que os próprios cidadãos burlam leis e regras no cotidiano. Aplicando a oposição semântica da canção no quadrado semiótico (figura 25) proposto pelo nível fundamental da teoria de Greimas, pode-se compreender que a oposição se encontra entre a sociedade (a brasileira que se encontra em uma situação caótica devido aos rastros de uma má gestão política) e o Estado (detentor das funções do executivo, judiciário e legislativo, mas que exercem uma governabilidade que deixou o país em estado de balbúrdia) que se organizam em um mesmo eixo semântico:

Figura 25 - Modelo esquemático do quadrado semiótico de Greimas.


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Fonte: AUTORES, 2016.

De acordo com o modelo supracitado, pode-se compreender que a sociedade é o valor positivo do quadrado semiótico, portanto ela é caracterizada como o elemento semântico eufórico. Logo, o Estado é o valor negativo do quadrado greimasiano, sendo assim o elemento semântico disfórico. Desta forma podem ser percebidos a semântica e a sintaxe dos termos se aplicados ao discurso da canção, sendo que a mesma tem o intuito de buscar contrapor e questionar a relação do estado frente à sociedade. Aplicando os conceitos estabelecidos no quadrado semiótico acima é possível estabelecer um novo desdobramento embasado na contraposição dos elementos semânticos: sociedade (eufórico) e estado (disfórico), como possível ver no octógono semiótico (figura 26)abaixo:

Figura 26 - Octógono semiótico da canção Que País é Este?

Fonte: AUTORES, 2016.


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Analisando o octógono semiótico acima pode-se aferir que a combinação entre a sociedade e o Estado resulta no termo complexo, que foi denominado como nação, ou seja, a questão principal discutida no enredo da música visa à busca pela concretização de uma nação que realmente esteja firmada nos princípios da justiça. Já a combinação entre o não-estado e a não-sociedade resultam no termo neutro que foi denominado como “ordem”, ou seja, uma nação que não há interferência nem do Estado e nem da sociedade não há ordem. Em contrapartida, no quadro das asserções tem-se a combinação entre o termo sociedade e não-estado que resulta na democracia, ou seja, quando o estado não interfere de modo totalitário nas decisões políticas há a existência da democracia. Já a combinação entre o Estado e o termo subcontrário não-sociedade resulta no autoritarismo, ou seja, em uma sociedade que não tem voz o Estado acaba agindo de forma arbitrária em relação à mesma. Dessa maneira pode-se perceber a relação do objeto com o sujeito (figura 27), assim resultando na transformação do nível fundamental para o nível narrativo. O sujeito da canção “Brasil” está em conjunção com a sociedade. Logo, o sujeito Brasil está em disjunção com o objeto estado, como representado no modelo esquemático abaixo:

Figura 27 - Modelo esquemático da relação sujeito e objeto.

Fonte: AUTORES. 2016.

No Amazonas, no Araguaia E na Baixada Fluminense, Mato Grosso, Minas Gerais E no Nordeste tudo em paz


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Na estrofe acima, Renato começa citando várias localidades do território nacional. O ponto em comum entre elas é que todas as regiões são localidades com passagens marcadas por situações caóticas. Primeiramente, o Amazonas que segundo Kohlhepp (2012), tem a sua extensa floresta como pano de fundo para o narcotráfico que já permeia a região por décadas e que se expandiu a partir do “Plan Colômbia” instalado na Colômbia com o apoio dos Estados Unidos que “coibiu” a prática no país, aumentando assim a transação dos produtos ilícitos no Brasil. Também deve-se citar que o crescimento econômico do estado tem ocasionando cada vez a destruição da floresta tropical e a degradação ecológica e social. Renato também cita o Araguaia que conforme Peixoto (2011) foi palco da chamada “Guerrilha de Araguaia” de 1968. Esse conflito se deu devido à tentativa de integrantes do Partido Comunista do Brasil (PCdo B) em organizar uma luta armada contra ao regime militar em que o Brasil estava passando e buscar implantar uma revolução socialista no país com base nos princípios da Revolução Cubana e Chinesa. Tal movimento ocasionou em um massacre que terminou com inúmeras mortes e desaparecidos. Prosseguindo a canção ele pontua a Baixada Fluminense, que de acordo com Galdo (2014) a região possui um dos piores índices socioeconômicos do estado do Rio de Janeiro. Dentre os problemas está o exacerbado aumento da violência, o tráfico de drogas, a falta de saneamento básico e uma das piores notas no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no estado. Por fim, Renato Russo acrescenta na canção “Mato Grosso, Nas Geraes e no Nordeste tudo em paz” argumentando que os problemas do Brasil não é algo específico e estão por todos os cantos do território nacional.

Na morte eu descanso, mas o sangue anda solto Manchando os papéis, documentos fiéis Ao descanso do patrão Nesse trecho da canção ao se referir “Na morte eu descanso, mas o sangue anda solto” ele mostra que as inúmeras mortes ocasionadas pelos poderosos são também uma forma de amedrontar possíveis ameaças e que por mais que muitos morram em favor de seus princípios, o sangue (ideologia) ainda corre nas veias daqueles que ainda lutam pelos seus ideais. Quando se diz “manchando os papéis, documentos fiéis” a intenção do compositor é falar sobre a “queima de arquivo” que é uma prática que tem como objetivo executar uma testemunha que


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pode denunciar os executores de uma prática de delito. Dessa maneira, os poderosos acabam limitando a liberdade de expressão e contestação dos indivíduos. As conceitualidades da relação entre sujeito e objeto na construção do nível narrativo da canção resulta na construção do enredo sob as perspectivas da manipulação, competência, performance e a sanção (figura 28). O processo de manipulação utilizada pelo eu lírico é a provocação, onde ele utiliza da figura de linguagem ironia para provocar não só o estado como também apresentar os seus maus feitos e a imoralidade política para a sociedade como representado nos versos: “Na favela, no senado, sujeira pra todo o lado.” e “Terceiro mundo só se for piada no exterior. Mas o Brasil vai ficar rico, vamos faturar um milhão.”. Já na fase da competência o indivíduo mostra-se dotado de senso crítico, onde o mesmo possui em suas mãos o saber, o poder e o querer para questionar o estado em prol da sociedade que se vê refém do poder político e ideológico que são pautados no autoritarismo (onde os governantes só pensam em suas necessidades e em seu enriquecimento ilícito) e em nada quanto à população que se sentem desprotegidas por esse modelo de governo. Seguindo as fases, tem-se a performance. Nessa fase o eu lírico do fazer executa a ação através da exposição de fatos históricos que permeiam a realidade brasileira e dessa forma reafirma o que já foi proposto na fase da competência como nos trechos: “No Amazonas, no Araguaia. Na Baixada Fluminense, Mato Grosso, Minas Gerais e no Nordeste tudo em paz.”. Na última fase do nível narrativo da canção tem-se a sanção do sujeito, que é representada nos versos: “Na morte eu descanso, mas o sangue anda solto. Manchando os papéis, documentos fiéis ao descanso do patrão”. Nesse trecho ele mostra que por mais que ele morra a favor da nação, ainda existirá a “ideologia” correndo nas veias de muitos militantes que tem por objetivo desmoralizar os políticos que não visam o bem estar social.

Figura 28 - A representação dos quatro níveis narrativos.


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Fonte: AUTORES, 2016.

Terceiro mundo se for Piada no exterior Mas o Brasil vai ficar rico Vamos faturar um milhão Quando vendermos todas as almas Dos nossos índios em um leilão. A última estrofe da canção tem-se no primeiro verso “terceiro mundo só se for piada no exterior”, O conceito de “terceiro mundo” segundo Faria (2016), foi criado durante o contexto da guerra fria onde denominou com essa categoria os países que não estavam nem do lado do EUA e nem do lado da URSS. Essa expressão anda em desuso e foi substituído pelo termo “países em desenvolvimento”. É por esse motivo que ele pontua ironicamente “Mas o Brasil vai ficar rico, vamos faturar um milhão” devido à polarização mundial que tem resultado em seu crescente desenvolvimento econômico. Nos últimos versos ao dizer “Quando vendermos todas as almas dos nossos índios em um leilão.” ele quis mostrar que a busca pelo desenvolvimento econômico brasileiro se iniciou a partir da exploração das riquezas naturais durante o processo de colonização pelos portugueses que foi totalmente egocêntrico e não respeitando a culturalidade, o espaço e as heranças indígenas. Pode-se perceber, portanto que o nível discursivo da canção tem por objetivo apresentar diversos fatos históricos que permeiam a sociedade brasileira por meio de uma abordagem cronológica que visa pontuar a revolta do eu lírico perante o descaso dos governantes em relação à população que vivia desolada nos últimos anos do governo militar, onde o estado (valor disfórico) não intervia de maneira competente na construção política do país e que acabou ocasionando nos desvios de conduta por parte da sociedade que também pratica ações corruptivas no seu dia a dia, mostrando assim que o governo é o reflexo do comportamento da sociedade. 4.4.1 Geração Coca-Cola: “Geração Coca-Cola” é a segunda música a ser analisada neste presente trabalho. Ela é uma canção composta por Renato Russo durante a sua passagem pela extinta banda “Aborto


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Elétrico” no final da década de 1970 e foi gravada fonograficamente em 1984 e lançada em nível nacional em 1985. Ela é a sexta música que integra o primeiro álbum homônimo “Legião Urbana” e que foi lançada justamente no momento em que a banda teve o seu conhecimento não só popular como midiaticamente. Deve-se ressaltar como já abordado nos capítulos anteriores, que o Brasil no momento em que Renato Russo compôs a música estava passando por um processo de redemocratização “Lenta Gradual e Segura”, lema instaurando através do governo de Ernesto Geisel (1974 1979). Nos trechos a seguir podem-se observar os questionamentos do compositor em relação ao momento em que o Brasil passava.

Quando nascemos fomos programados A receber o que vocês Nos empurraram com os enlatados dos U.S.A, de nove as seis

Nesses primeiros versos pode-se observar uma crítica ao capitalismo exacerbado da época. Quando Renato refere que “quando nascemos fomos programados” ele busca explicitar que a geração que nasceu naquele momento estava “programada”, ou seja, alienada e passiva ao consumo de uma maneira robotizada, ou seja, já cresceu alfabetizada com a cultura do consumo. Baudrillard (1970) em seu livro “Sociedade do Consumo” explica que o consumismo se instala por meio de trocas simbólicas, onde a mercadoria se torna um signo que acaba se tornando um modo ativo nas relações humanas servindo de base a um sistema cultural. Dessa maneira as crianças já crescem através das experimentações das sensações do consumo. No quadrado semiótico (figura 29) proposto pelo nível fundamental da teoria de Greimas, pode-se compreender uma oposição semântica entre o ser acrítico (a sociedade brasileira que é alfabetizada pela cultura consumista norte-americana) e o ser crítico (uma juventude revolucionária sob uma perspectiva politizada e crítica ao regime militar vivido naquele período) que se organizam em um mesmo eixo semântico:

Figura 29 - Modelo esquemático do quadrado semiótico de Greimas.


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Fonte: OS AUTORES, 2016.

Pode-se compreender que o ser crítico é o valor positivo do quadrado semiótico, portanto ele é caracterizado como o elemento semântico eufórico. Logo, o ser acrítico é o valor negativo do quadrado greimasiano, sendo assim o elemento semântico disfórico. Tanto a semântica e sintaxe dos termos podem ser percebidos e aplicados ao discurso da canção, já que a mesma busca relativizar de maneira dualística a noção do conhecimento dos indivíduos críticos em contraposição aos indivíduos acríticos.

Desde pequenos nós comemos lixo Comercial e industrial Mas agora chegou nossa vez Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês Na segunda estrofe da música ao se referir ao “lixo comercial e industrial” ele enfatiza a má influência dos hábitos consumistas estrangeiros que vinha sendo empregado na sociedade brasileira. Principalmente através da publicidade e midiatização de produtos advindos da indústria cultural que segundo Adorno e Horkeimer (1997), faz com que o consumo se torne um processo mecanizado que prepara as mentes para o esquematismo, onde tudo já vem pronto para ser recebido, ou seja, através da alfabetização do consumo. “A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente.” (ADORNO, 2002, p. 295). Fazendo a aplicação dos conceitos estabelecidos no quadrado semiótico referenciados nos parágrafos acima, pode-se estabelecer um novo desdobramento com base no octógono semiótico (figura 30):


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Figura 30 - Octógono semióticoda canção Geração Coca-Cola.

Fonte: AUTORES, 2016.

Na figura acima, percebe-se os desdobramentos do quadrado semiótico. Na parte superior do quadrado central é possível observar o valor positivo (eufórico) representado pelo “crítico” e o valor negativo (disfórico) na parte inferior do quadrado representado pelo “acrítico”. A combinação entre o crítico e a acrítico resulta no termo complexo, que foi denominado como conhecimento, ou seja, a questão principal discutida no enredo da música. Já a combinação entre o não-crítico e não-acrítico resultam no termo neutro que foi denominado como “passividade”. Em contrapartida, no quadro das asserções tem-se a combinação entre o termo acrítico e não-crítico que resulta no termo negativo “alienação” e a combinação entre o termo crítico e o termo subcontrário não-crítico que resulta termo positivo “analítico”, como pode ser observado no modelo supracitado.

Somos os filhos da revolução Somos burgueses sem religião Somos o futuro da nação Geração Coca-Cola Quando Renato explicita o termo “Geração Coca-Cola” ele se refere ao imperialismo americano que acaba influenciando e interferindo na cultura brasileira através do consumismo. A marca “Coca-Cola” é usada como um símbolo do poder da influência americana sobre o capitalismo mundial, já que a marca é consagrada pela sua alta vendagem.


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Ao dizer que “somos filhos da revolução”, Renato considera que através do discurso da música pode-se criar uma nova perspectiva em uma juventude que estava totalmente passiva a todas as influências estrangeiras, pois, essa nova geração proposta por Renato eram “burgueses sem religião”, ou seja, ele se referia aos burgueses que vivem sobre o regime capitalista que de acordo com Alves (1991) tem-se como ideologia de vida viver pela e para a igreja, que outrora por se entendida como a religião. Portanto, Renato compara o capitalismo a uma religião, doutrina na qual “os filhos da revolução” não seguem. Dessa maneira pode-se perceber a relação do objeto com o sujeito, assim resultando na transformação do nível fundamental para o nível narrativo (figura 31). O sujeito da canção “Geração Coca-Cola”, está em conjunção com o objeto eufórico “crítico” e consequentemente está em relação de disjunção com o objeto “acrítico”, como representado no modelo esquemático abaixo:

Figura 31 - Modelo esquemático da relação sujeito e objeto.

Fonte: OS AUTORES, 2016.

Para se chegar à transformação de estado do objeto é preciso traçar caminhos para se alcançar o objeto de valor (crítica) por meio de quatro fases do nível narrativo (figura 32), são elas: a manipulação, a competência, a performance e a sanção. O processo de manipulação utilizada pelo eu lírico é a provocação, onde ele busca apresentar diversas situações recorrentes que mostra como a cultura consumista faz com que a alienação se torne possível na mente das pessoas. Já a competência parte do sujeito que é dotado de senso crítico, pois, ele se torna um condutor de uma nova ideologia para aquela sociedade que estava refém da alienação da


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cultura consumista. A performance se dá através do grito por uma nova sociedade “Vamos cuspir de volta tudo em cima de vocês”, no objetivo dos indivíduos buscarem marchar rumo a um novo pensamento social. Já é a sanção é a consolidação da juventude denominada Geração Coca-Cola “Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião, somos o futuro da nação.”

Figura 32 - A representação dos quatro níveis narrativos.

Fonte: AUTORES, 2016.

Depois de 20 anos na escola Não é difícil aprender Todas as manhas do seu jogo sujo Não é assim que tem que ser Na terceira estrofe ao referenciar os “20 anos na escola” ele tem a intenção de fazer uma analogia aos mais de 20 anos em que o Brasil passava pela ditadura militar. Embora tenha sido composta no final da década de setenta (menos de 20 anos de ditadura), Renato buscava escrever suas composições já alinhado ao futuro e os 20 anos acaba acontecendo no período de gravação e lançamento do primeiro disco que coincidentemente levava dentre as suas faixas a canção que está sendo analisada. Então, pode-se observar que ele quis dizer que com tanto tempo em que o militarismo e a censura estavam instalados no país, os jovens da “geração Coca-Cola” aprenderam sobre o “jogo sujo” do regime ditatorial militar.

Vamos fazer nosso dever de casa E aí então vocês vão ver


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Suas crianças derrubando reis Fazer comédia no cinema com as suas leis

A encerrar, na estrofe anterior como já citado, pode-se perceber que o militarismo se tornou segundo Renato Russo de maneira irônica, uma “escola” onde a sociedade brasileira se viu refém de um regime ditatorial. Quando fala do “dever de casa” ele está referenciando a presumíveis movimentos políticos futuros da grande massa. Como as composições de Renato já seguiam uma linha que buscava a crítica à política brasileira, a música quando lançada fonograficamente em 1985 pode ser entendida por meio desse trecho (devido a sua atemporalidade) como uma menção a campanha de Diretas Já (1983 - 1984) que levou milhares de brasileiros as ruas buscando a primeira eleição para presidente. Então, a campanha de “Diretas Já” seria a primeira movimentação política de maior proporção e também um início pela busca por mudança no país em prol de “derrubar os reis” (políticos) e mostrar que política não é algo ligado somente à organização de poder.

4.4.3 Perfeição A terceira música a ser analisada é “Perfeição”, a quarta faixa do álbum “O Descobrimento do Brasil” (1993) e a última canção da banda que ganhou um videoclipe gravado pela MTV. A canção é considerada um dos hinos de protesto por conter uma crítica à sociedade brasileira tanto é que no próprio título da canção pode-se perceber uma ironia por parte dos compositores (Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Russo), já que o título chama “Perfeição” e a canção acaba relatando na verdade as imperfeições do cenário da política brasileira daquela época, como podem ser observadas na análise a seguir:

Vamos celebrar a estupidez humana A estupidez de todas as nações O meu país e sua corja de assassinos Covardes, estupradores e ladrões... Vamos celebrar A estupidez do povo Nossa polícia e televisão


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Vamos celebrar nosso governo E nosso estado que não é nação

Nessas duas primeiras estrofes da canção eles buscam apontar a triste realidade vivida pela população brasileira, a estupidez dos cidadãos que culpabilizam o governo pela imoralidade política frente ao estado, mas que tem se posicionado diferentemente do que se espera uma sociedade que busca por melhoria e que acaba se igualando a seus próprios governantes, como no trecho “O meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões.” De acordo com a teoria de Greimas, onde podemos explicar e compreender o objeto de estudoatravés de seu quadrado semiótico (figura 33), neste caso a música “Perfeição” possui a sua dualidade representada pela primavera (que na música representa um sentimento de esperança e de novos tempos) e o inverno (momento sombrio que se vivia o país). Que se organizam em um mesmo eixo semântico: Figura 33 - Quadrado semiótico da música “Perfeição”.

Fonte: AUTORES, 2016.

Entende-se ao elaborar o quadrado semiótico que a primavera é o valor positivo, e diante disso, se caracteriza como o elemento semântico eufórico. Já o inverno que se contrapõe no quadrado semiótico, caracteriza-se como valor negativo, e logo, é o elemento semântico disfórico. Desta maneira, pode-se perceber uma relativização dualística no discurso da canção ao abordar as questões referentes às estações climáticas existentes sob a perspectiva da primavera e do inverno. O eu lírico faz alusão ao inverno na música com o objetivo de explicar o contexto histórico em que país vivia, já que nesta estação do ano tudo é mais frio e nebuloso, representados pela revolta, e acompanhada por versos que utilizavam da ironia para pontuar


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os problemas existentes, o que torna o clima mais sombrio. Já a primavera é representada pelo renascimento das flores, que associa-se a uma nova esperança, passada por mensagens positivas e de perspectivas ao recomeço de uma vida e de um país melhor. A partir dessa perspectiva pode-se compreender a transformação do nível fundamental para o nível narrativo (figura 34) da canção que se mostra através do ponto de vista do sujeito. No caso da canção analisada o sujeito é o eu lírico e ele está em conjunção com o objeto primavera. Logo, pode-se entender que o eu lírico está em disjunção com o objeto inverno, assim como representado no modelo esquemático abaixo:

Figura 34 - Modelo esquemático da relação sujeito e objeto.

Fonte: AUTORES, 2016.

Além disso, eles apontam a perda de poder da polícia que se vê cada dia mais refém do crime e não consegue ser mais a detentora da segurança nacional. Eles também pontuam o poder coercitivo da televisão frente à sociedade, já que até os dias atuais ela é o principal meio de comunicação de massa devido a sua grande abrangência em todo o território nacional. Vale ressaltar também o último verso “vamos celebrar o nosso estado em que não é nação”, que busca criticar o distanciamento das ações governamentais e o exercício de poder em relação à sociedade. Para melhor compreensão, é necessário entender a diferença entre o que é “estado” e o que é “nação”. De acordo com Pereira (2015), “estado” é um instituição administrativa de um território e a “nação” é uma forma de sociedade política que se interliga pela identidade, cultura e aspectos históricos.


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Celebrar a juventude sem escolas As crianças mortas Celebrar nossa desunião... Vamos celebrar Eros e Thanatos Persephone e Hades Vamos celebrar nossa tristeza Vamos celebrar nossa vaidade

Nas estrofes acima, os compositores buscam ironizar a falta de oportunidade para os jovens que possui um acesso a uma educação precária. Além disso, ele (Renato, intérprete) começa a clamar na canção por características presentes no cotidiano através da analogia e personificação de deuses que segundo Bulfinch (2006), pertencem à mitologia grega como Eros (Deus do amor), Thanatos (Deus da morte), Persephone (Deusa da primavera e submundo) e Hades (Deus do mundo inferior). Se observar as características da maioria dos deuses citados é possível perceber uma ligação bucólica entre eles que vem seguido na música com a ordenação de celebrar a tristeza e a vaidade que impera no Brasil pós-processo de redemocratização.

Vamos comemorar como idiotas A cada fevereiro e feriado Todos os mortos nas estradas Os mortos por falta De hospitais Vamos celebrar nossa justiça A ganância e a difamação Vamos celebrar os preconceitos O voto dos analfabetos Comemorar a água podre E todos os impostos Queimadas, mentiras E sequestros…


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Nos primeiros versos das estrofes acima ele começa criticando o excesso de feriados existentes no Brasil e cita o carnaval que é o feriado mais extensivo e um marco da cultura e identidade brasileira. Através dessa perspectiva ele faz um contraponto com a realidade por trás dessas festividades que acaba resultando em inúmeros acidentes de trânsito nos grandes anéis rodoviários do país e que muito das vítimas desses acidentes acabam falecendo devido à inexistência de hospitais e a má qualidade da saúde pública. Posteriormente, ele acaba pontuando (também de maneira irônica) os problemas sociais existentes como a injustiça por parte do judiciário, o preconceito de diversos tipos (o étnico, racial, religioso, de gênero, entre outros), ao direito ao voto dos analfabetos (que revela indiretamente a conquista de uma classe que possui pouca instrução ao voto), ao saneamento básico ainda precário em muitas regiões do país, ao excesso de impostos cobrados por parte do governo e a degradação ambiental sofrida principalmente pelas queimadas e ao desmatamento massivo e ilegal que acaba ocasionando um desequilíbrio nos grandes biomas brasileiros.

Nosso castelo De cartas marcadas O trabalho escravo Nosso pequeno universo Toda a hipocrisia E toda a afetação Todo roubo e toda indiferença Vamos celebrar epidemias É a festa da torcida campeã...

Vamos celebrar a fome Não ter a quem ouvir Não se ter a quem amar Vamos alimentar o que é maldade Vamos machucar o coração…

Nessas estrofes ele continua questionando alguns problemas sociais ainda existentes no Brasil. No primeiro verso ele já pontua através da frase “Nosso castelo de cartas marcadas” que a situação vivida no país já possui suas “cartas marcadas” que seriam os políticos e as


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classes favorecidas economicamente que acabam não sofrendo na pele os problemas vividos por milhões de brasileiros todos os dias. Os desdobramentos do quadrado semiótico podem ser explicados através da análise da conjuntura política brasileira no período em que a canção foi composta. Pelo octógono abaixo (figura 35), pode-se compreender na parte superior a dualidade entre o valor eufórico representado pela primavera e o valor disfórico representado pelo inverno. A combinação entre a primavera e o inverno resulta no termo complexo, que foi denominado cotidiano, por mostrar as quatro estações como algo que permeia a vida da sociedade. Já a combinação dos elementos não-primavera e não-inverno resultam na desesperança, ou seja, o termo neutro da canção. Em relação à parte das asserções mostradas no octógono semiótico, primeiramente se tem a combinação entre os elementos primavera e não-inverno que resulta na libertação do indivíduo para conhecer o que o eu lírico chama de “perfeição”. Já a combinação de inverno e o subcontrárionão-primavera resulta na hipocrisia da sociedade brasileira frente aos problemas existentes no país. Figura 35 - Octógono semiótico da música “Perfeição”.

Fonte: AUTORES, 2016. Prosseguindo a canção, ele critica o trabalho escravo que ainda persiste no Brasil, a normalidade que o roubo se tornou na sociedade, o alastramento de doenças no país que acabam chegando a um estado caótico de epidemia, o aumento do problema da fome no país, a hipocrisia, a afetação e questiona a indiferença da sociedade que no meio de tanto caos está preocupado com apenas o futebol, esporte que é ligado à identidade cultural brasileira.


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Vamos celebrar nossa bandeira Nosso passado De absurdos gloriosos Tudo que é gratuito e feio Tudo o que é normal Vamos cantar juntos O hino nacional A lágrima é verdadeira Vamos celebrar nossa saudade Comemorar a nossa solidão... Vamos festejar a inveja A intolerância A incompreensão Vamos festejar a violência E esquecer a nossa gente Que trabalhou honestamente A vida inteira E agora não tem mais Direito a nada No primeiro verso da estrofe acima ele fala “Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos” ele critica a estética ideológica e visual que está por trás da simbologia das cores da bandeira do Brasil, como por exemplo, a cor verde que simboliza a extensa flora brasileira que está cada vez mais devastada pelo homem, o amarelo que relaciona a extração massiva das riquezas naturais e do ouro na busca pela garantia do comércio externo e o azul do céu que cada vez mais tem perdido a sua cor devido ao excesso de poluição principalmente devido à produção industrial, fruto do capitalismo. No decorrer dos versos ele explicita a normalidade em que os problemas sociais se tornaram frente à sociedade e como a solidão, a inveja, a intolerância, a incompreensão tem entrado cada vez na realidade brasileira e que não tem-se voltado os devidos olhares para esses males que assolam a individualidade dos cidadãos os impedindo de interferir em discussões políticas de interesses de toda sociedade. É também possível observar que ele


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pontua o descaso do governo com os aposentados que “trabalham honestamente a vida inteira e agora não tem mais direito a nada”.

Vamos celebrar a aberração De toda a nossa falta De bom-senso Nosso descaso por educação Vamos celebrar o horror de tudo isso Com festa Com velório e Caixão Está tudo morto, enterrado agora Já que também devemos celebrar A estupidez de quem cantou essa canção Nesse trecho quando ele (interprete) diz que “Vamos celebrar o horror de tudo isso, com velório e caixão. Está tudo morto, enterrado agora.” a intenção é mostrar que o brasileiro caiu no comodismo e deixou de lado a luta não só pelos seus princípios individuais como também pela sociedade em si, onde o sentimento de patriotismo de fato se perdeu e esse pensamento acabou se perpetuando pelas gerações se tornando algo enraizado na cultura nacional. No verso “Devemos celebrar a estupidez de quem cantou essa canção” ele pontua ironicamente que o próprio indivíduo que canta essa música acaba reproduzindo o discurso da canção sem ao menos se posicionar sob um pensamento crítico, onde na verdade o indivíduo canta a canção da maneira que de fato ela acontece, apenas reforçando a ideia da alienação provocada pela televisão já mencionada por Renato nos estrofes acima, onde o indivíduo reproduz o que é dado sem os devidos questionamentos. Venha! Meu coração está com pressa Quando a esperança está dispersa Só a verdade me liberta Chega de maldade e ilusão... Venha! O amor tem sempre a porta aberta


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E vem chegando à primavera Nosso futuro recomeça Venha! Que o que vem é perfeição! No início dessas últimas estrofes da canção ele convoca todos os brasileiros a irem à luta junto com ele, pois, o mesmo está com sede de justiça e de mudança. Ele argumenta que a esperança é um caos que se perdeu em meio a tantas injustiças, ela está dispersa e precisa ser reconstruída. Ele argumenta que já está cansado de ver tantas mentiras sendo colocadas na mente da população, com um discurso de que esse quadro um dia irá mudar. Para Renato, é imprescindível a participação mais efetiva da sociedade nas decisões políticas. Na estruturação da relação entre sujeito e objeto da canção pode-se perceber a construção narrativa da canção através das quatro fases (figura 36). Na manipulação ele usa da sedução para atrair a sociedade para conhecer o mundo proposto pelo eu lírico, um mundo pautado nos valores da justiça e do bem comum, como representado nos versos a seguir: “Venha, meu coração está com pressa, quando a esperança está dispersa. Só a verdade me liberta, chega de maldade e de ilusão”. Posteriormente, a fase da competência apresenta um eu lírico capaz de trazer reflexões das situações do cotidiano de uma forma mais crítica através do saber, o querer e o fazer, buscando questionar a realidade de uma maneira transfigurada a relação entre os detentores do poder e a sociedade, como representada nos versos a seguir: Vamos celebrar o horror de tudo isso - com festa, velório e caixão. “Está tudo morto e enterrado agora e já que também podemos celebrar a estupidez de quem cantou esta canção”; Utilizando o que foi proposto pela fase da competência, pode-se perceber que a intencionalidade do autor se aplica através da fase da performance, onde o mesmo procura evidenciar de maneira clara e objetiva os inúmeros problemas existentes, tanto quanto ao caráter resultante da má gestão política por parte dos governantes até mesmo os impactos que essas ações provocam na visão de mundo da sociedade. Finalizando o nível narrativo tem-se a fase da sanção, momento no qual o sujeito consolida a realização de convocar a sociedade a se aventurar em novas perspectivas, que é representada pela estação primavera. A intencionalidade do eu lírico pode ser percebida diante do seguinte trecho: “Venha, o amor tem sempre a porta aberta. E vem chegando à primavera, nosso futuro recomeça: Venha, que o que vem é perfeição”.


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Figura 36 - As 4 fases do nível narrativa e sua aplicação na canção “Perfeição”.

Fonte: AUTORES, 2016. Nos últimos versos ao falar “vem chegando à primavera, nosso futuro recomeça” ele faz uma analogia clara à “primavera” que segundo Feijó (2015) é uma estação que simboliza o renascimento, uma busca de novo significado para a vida, a procura pela verdade, a libertação. Para as tribos indígenas: “a primavera é a estação do despertar. É quando enxergamos através da ilusão, ou quando descobrimos novas informações, trazendo clareza para o caos e confusão.” (FEIJÓ, 2015). Por fim, no último verso “Que o que vem é perfeição” ele convoca a todos a buscar conhecer uma nova realidade. Uma realidade mais justa a todos com uma política que seja tratada com seriedade, com um sistema de mídia mais democrático, com uma educação de qualidade, com uma assistência mais segura da saúde pública, com o fim dos preconceitos de qualquer tipo, com a conscientização ambiental, com a valorização do trabalho do operário ecom exterminação da violência. Esse mundo sim seria o que os compositores chamam de “Perfeição”.


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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A música foi o principal instrumento de contestação social no século XX e uma das grandes ferramentas utilizadas pelos movimentos contraculturais. No Brasil, na década de 60 pode-se observar os primeiros movimentos de crítica política e social por meio da tropicália, e posteriormente essa crítica politizada se tornou amplificada com a ascensão do rock nos anos 1980. A Legião Urbana se emprega nesse contexto, onde surgiram diversas bandas na busca fervorosa por criar uma nova ideologia na juventude daquele período. Juventude na qual, já estava cansada dos valores morais que eram impostos, do capitalismo exacerbado e a passividade em que a população vivia frente à política. O rock dos anos 80 no Brasil foi o primeiro movimento que possuiu um caráter político totalmente desmascarado, visto que no regime militar algumas intervenções eram feitas, porém, de maneira camuflada a fim de evitar repreensão devido à falta de liberdade de expressão que foi imposta durante o militarismo. A tríade que proporcionou a expansão desse movimento se deu por meio principalmente das bandas cariocas, paulistas e brasilienses. A capital federal especificamente foi de grande relevância, já que por coincidência estava inserida no contexto onde fisicamente a política brasileira se estabelece. Renato Russo, o criador da Legião Urbana, foi um dos principais referenciais para idealizar o discurso na qual a banda carregava em suas canções, pois Renato era um homem que tinha o seu próprio tempo e pensava o mundo e seus fenômenos sempre com a perspectiva de tentar compreender o hoje para sintetizar o que provavelmente será visto no futuro. Suas experiências como aluno de comunicação social e as suas passagens em projetos como o Aborto Elétrico e o Trovador Solitário potencializaram não somente a veia artística, mas também a busca pela crítica sociopolítica. A banda Legião Urbana durante a sua existência acabou passando por duas fases: a primeira entre os anos de 1985 a 1988, onde a Legião Urbana estava totalmente focada em compor canções com teor político colocando em suas letras o tom da revolta em que eles viviam nos anos finais do regime militar e a segunda fase que compreende os anos de 1989 até a morte de Renato Russo que foi marcada por letras carregadas de melancolia devido às crises existências que o líder da Legião Urbana vivia durante a sua internação em um centro de reabilitação de dependentes químicos. Em ambas as fases o discurso atemporal se torna presente visto que as composições de Renato em sua maioria não possuíam traços que marcavam e denunciavam hábitos e signos de uma determinada época.


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Por esse motivo pode-se perceber a atemporalidade do discurso presente na análise semiótica do discurso das canções Que País é Este, Geração Coca-Cola e Perfeição, realizado por este projeto. Em todas as canções é possível compreender traços evidentes da revolta em que eles se encontravam frente ao momento político que os assolavam. Essas canções principalmente a Que País é Este se tornaram um hino da indignação da sociedade brasileira e que acabou sendo perpetuada por muitos anos, prova disso, é o uso da mesma nas diversas manifestações ocorridas entre os anos de 2013 a 2016. Dessa maneira explica-se que a atemporalidade dessas canções de fato se torna presente na realidade atual, mesmo depois de 30 anos do início da banda. Por isso, nessa celebração da turnê intitulada “Legião Urbana XXX anos” pode-se perceber a contribuição que a banda proporcionou a juventude daquela época e que acabou se tornando uma herança cultural passada de geração a geração. Estudar a Legião Urbana vai além de estudar a historiografia de uma banda, mas sim, estudar a Legião é aprofundar mais sobre o percurso político e sociocultural brasileiro. É estudar a história dos filhos da revolução, filhos que amam sua pátria e que marcaram pra sempre uma geração.


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APÊNDICE A – Entrevista aplicada aos fãs e admiradores na fila do show da turnê “Legião Urbana – XXX Anos”.

Público-alvo da pesquisa: Fãs e admiradores da banda Legião Urbana Local a ser realizado a coleta de dados: Fila do show da Banda Legião na turnê “XXX anos” na casa de espetáculos: Chevrolet Hall (Av. Nossa Senhora do Carmo, 230 - Savassi - Belo Horizonte / MG / Brasil) Horário: 16 ás 20:30

QUESTIONÁRIO DEMOGRÁFICO:

Idade: 10 a 14 anos ( )

30 a 39 anos ( )

15 a 19 anos ( )

40 a 49 anos ( )

20 a 29 anos ( )

50 a 64 anos ( )

65 ou mais ( )

Sexo: Masculino ( )

Feminino ( )

Formação: Nunca Frequentou escola ( )

Ensino médio incompleto( )

Fundamental incompleto( )

Ensino médio completo

( )

Fundamental completo

Superior incompleto

( )

Ocupação: Renda:

( )

Superior completo

( )


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A( ) B( )

Acima de 20 SM 10 a 20 SM

R$ 15.760,01 ou mais De R$ 7.880,01 a R$ 15.760,00

C

( )

4 a 10 SM

De R$ 3.152,01 a R$ 7.880,00

D

( )

2 a 4 SM

De R$ 1.576,01 a R$ 3.152,00

E

( )

Até 2 SM

Até R$ 1.576,00

ENTREVISTA:

1 - Pra você o que é arte? O que você associa a arte?

2 - A música é uma arte? Justifique.

3 - Na sua opinião, a linguagem e o discurso que são perpetuados através da música podem exercer influência ideológica para uma sociedade?

4 - Pra você qual é a importância do rock brasileiro nos anos 80?

5 - Quais são os grupos mais representativos do rock brasileiro?

6 - Qual a importância da banda Legião Urbana para o rock nacional?

7 - Na sua opinião, qual a música/trecho/verso/álbum da banda Legião Urbana melhor representa o cenário político nacional atual? 8 -Você acha que ainda há herança da “geração coca cola” (conceito utilizado pelo Legião Urbana na década de 80) em relação a juventude atual?


116

APÊNDICE B - Entrevista com Arthur Dapieve

Entrevista qualitativa semiestruturada para o trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Tema: Legião Urbana XXX anos - a atemporalidade do discurso político e sociocultural da banda Orientador: Enaldo Souza Lima Ribeiro Supervisora: Teresinha Maria de Carvalho Cruz Pires

PERGUNTAS:

1)

A música foi uma dos grandes meios utilizados pela contracultura no objetivo de contestar as ideologias políticas e socioculturais. Você acredita que o rock consegue cumprir com totalidade essa função de levantar essas questões na década de 80?

Sim, até meados dos anos 90 eu acredito que o rock conseguiu ser uma plataforma relevante para veicular mensagens sócio-políticas que confrontassem ou ao menos relativizassem as visões reinantes. Depois, esse papel foi assumido pelo rap e pelo funk, por exemplo. Isso tanto no Brasil quanto no exterior. No caso da década de 80, aqui, o contexto da redemocratização política ajudou na fixação do gênero como uma das inúmeras possibilidades de se fazer música popular brasileira. Ele foi a música certa na hora certa. Falava de coisas que reverberavam num regime que se democratizava progressivamente.

2)

Quais influências vividas pelos integrantes da banda Legião Urbana que você considera mais importante para construção ideológica do discurso da Legião Urbana?

A principal influência é Brasília. O fato de estarem cara a cara com o poder central, então exercido pelos militares, e de terem acesso a novidades musicais do exterior graças ao ótimo padrão de vida de suas famílias, quase todas compostas por algum tipo de servidor público.


117

Do ponto de vista musical, acho que há três principais influências: o movimento punk inglês, bastante politizado, Bob Dylan e, no começo da banda, o U2, pós-punk bem engajado.

3)

Você acredita que o discurso crítico do rock dos anos 80 se tornou algo amplificado socialmente a partir dessa década, ou você acredita que as músicas de protesto no início da ditadura militar tinham as mesmas proporções? Como você identifica e distingue ambos momentos da história nacional?

Não, foram momentos bem distintos. Primeiro, pela atuação da censura, mais intensa no período intermediário do regime militar (pós AI-5), do que no início e no final. Segundo, porque a linguagem usada pelo rock dos anos 80 era mais direta e agressiva que as metáforas rebuscadas da MPB da década anterior, como nas letras de Chico Buarque, usadas para tentar fugir da Censura. Isso impedia a música política de atingir uma audiência mais ampla. Quando vem o rock, o controle estatal estava afrouxando, e o público aumentou. Até porque pacotes econômicos criaram estabilidade temporária na economia e impulsionaram o consumo, inclusive de LPs.

4)

Você considera que a Legião Urbana foi a banda mais emblemática desse período? Por quê?

Sim. Porque a Legião tinha duas linhas de trabalho que falavam para dois públicos distintos e para aqueles que pertenciam aos dois públicos: a linha política e a linha amorosa. Titãs e Paralamas também têm essas duas facetas, mas apostam mais ou numa ou noutra. O Renato era capaz de misturar a esfera pessoal e a esfera pública numa mesma música. Pensem em “Perfeição”.

5)

É possível dizer que as canções da Legião Urbana são atemporais?

Sim. O Renato escreveu pensando deliberadamente em fazer com que suas músicas fossem entendidas em outros contextos, tanto históricos como geográficos. Há poucas gírias de época, poucas referências a fatos específicos da história brasileira ou a lugares específicos do Rio ou de Brasília. Ele me disse que queria que suas letras fossem entendidas tanto na Vila Rica do século XVIII quanto na Nagoya do século XXIII. Por isso, há essa gigantesca penetração da Legião entre novas gerações. Ele escreveu pensando em ser atemporal. Conseguiu.


118

6)

Em nosso projeto utilizamos as canções “Geração Coca-Cola”. “Que País é Esse?” e “Perfeição” para analisar o seu discurso. Quero saber na sua opinião, qual é a sua consideração sobre essas canções e de que maneira ela transcreve a fase política e sociocultural vivida pela Legião Urbana.

Boa escolha. Essas três músicas fazem uma espécie de crônica da vida política brasileira. “Que país é este”, a mais antiga, trata da ditadura militar na sua fase mais forte e truculenta. “Geração Coca-Cola” já é um retrato do processo de redemocratização, de uma nova geração experimentando a democracia pela primeira vez. E “Perfeição” é um comentário amargo às dificuldades da vida democrática, causadas por vícios ancestrais nossos. Musicalmente, uma é punk rock, outra é pós-punk (não gosto do termo “new wave”, meramente comercial) e a terceira é samba-enredo à moda da Legião Urbana. Para mim, “Perfeição” é a obra-prima da banda.

7)

Em relação a turnê comemorativa de 30 anos da banda Legião Urbana, a que você considera toda a expectativa que girou em torno dessa celebração?

Muita gente que nem era nascida quando o Renato morreu gostaria de ver um show da banda. E quem viu sentia saudades... Achei muito honesta a acertada a estratégia do Dado e do Bonfá de deixar claro que não se tratava de uma volta da banda, mas de um tributo à própria história.

8)

Qual a importância de se estudar a Legião Urbana?

Nenhuma forma de arte comunicou de forma mais abrangente e profunda no século XX do que a música popular. Curiosamente, ela ainda é pouco estudada em faculdades de comunicação, em comparação com o cinema, por exemplo. Estudar Legião Urbana, portanto, é não apenas um reconhecimento a uma grande banda, mas também o reconhecimento do rock como elemento de mudança histórica e social num determinado momento da história do Brasil.


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APÊNDICE C – Entrevista com Tiago Pereira

Entrevista qualitativa semiestruturada para o trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Tema: Legião Urbana XXX anos - a atemporalidade do discurso político e sociocultural da banda Orientador: Ednaldo Souza Lima Ribeiro Supervisora: Teresinha Maria de Carvalho Cruz Pires

PERGUNTAS:

1) O que difere a música das demais artes em relação à contestação social?

Talvez possamos dizer que o alcance comunicacional, no sentido de popular, seja uma chave interessante para diferenciar a música de outras artes, neste sentido. Especialmente a música pop, que se vale se todo um aparato sócio-técnico que, mesmo com todas as mudanças no cenário da indústria- especialmente as lógicas de produção, divulgação e consumo em rede, via internet- ainda se valem de expedientes típicos de comunicação massiva, com rádio, televisão, etc. Este seria um primeiro aspecto: a maneira como a música popular é distribuída no tecido social, talvez mais ampla que outras formas artísticas. Um segundo aspecto é o que podemos chamar aqui de "template" da canção pop: muito consumível e imediata traçada em lógicas de composição que muitas vezes obedecem às estruturas de memorização, força e impacto no inconsciente coletivo. Além de, obviamente, buscar o caminho mais tranquilo, digamos assim, para o prazer do ouvinte, através da harmonia, melodia e letras. Para ficar em dois exemplos clássicos na música brasileira, tanto "Para Não Dizer Que Não Falei Das Flores", de Vandré e "Que país é esse?" da Legião Urbana, possuem refrões imediatamente reconhecíveis, "cantáveis" e cativantes, pelo menos em suas primeiras audições. A contestação social, o discurso transgressor pode se valer muito destas estruturas típicas do pop.

2) Qual o apelo e a potência de comunicação da banda Legião Urbana através de suas músicas?


120

Considero que o apelo comunicacional da Legião Urbana, em primeira ordem, está nas letras. A lírica de Renato Russo tem como característica (assumida pelo cantor e compositor) uma certa atemporalidade, tanto na temática quanto na construção textual. Como ele disse uma vez, uma canção como "Há Tempos" deveria ser entendida seja em Vila Rica, seja em uma megalópole futurista. O discurso textual da Legião era muito pautado em aproximações com seu ouvinte, narrativas que tratavam, com alguma profundidade, de temas universais (amor, ética, política, amizade, religião), mas quase sempre de forma direta, estabelecendo uma conexão, como vimos quase imediata entre a música e o coração do ouvinte. Russo falava para todos, com a habilidade de fazer parecer que falava apenas para aquele ouvinte, um único. Personalizava questões que interessava a todos, com uma evidente habilidade poética, o que tornava tudo ainda mais sedutor. Sabia com perfeição que a linguagem pop se estabelece, muitas vezes, em um jogo de representação (as canções, as performances, a obra enfim) e reconhecimento (como esta obra atingia sua audiência, ela se reconhecia naquilo). Em segunda ordem, temos a performance musical das canções: simples, direta, objetiva, popíssima por vezes. A Legião Urbana não era uma banda de músicos por excelência, e por um ponto de vista isso se constituiu em uma vantagem para eles.

3) Como a Legião Urbana permanece como referência lírica musical para a geração pós 2000?

Como uma espécie de mito pop, dentro do contexto brasileiro, como uma obra que atravessou gerações e segue sendo percebida com potente e referencial. A era da internet, um problema para muitos contemporâneos, talvez tenha até amplificado o poder do grupo em relação a reunir fãs, por exemplo. Como todo mito, a Legião está sujeita a avaliações e reavaliações, seja da crítica, seja do público; mas, justamente por essa condição mítica, parece sublimar tudo isso no final das contas. Hoje acredito que a Legião Urbana seja vista como uma das maiores bandas do país, independente do gênero (MPB, rock, etc). Posso estar enganado, mas a sensação que tenho é que a grandeza, espelhado no valor de culto em relação à banda, apenas aumentou após a morte de Russo, em 1996. Em relação à influência lírica musical, é perceptível com mais nitidez em um ou outro caso (a banda acreana Los Porongas, os grupos mineiros Pelos e Lupe de Lupe), mas, especialmente na questão do texto, zilhões de artistas vão reforçar a admiração que tem por Russo no pop contemporâneo, de Criolo à Ivete Sangalo. Um arco que diz muito do poder de alcance que a potencia lírica dele possuí, digase.


121

4) Quais aspectos você considera importante para distinguir a banda Legião Urbana das demais bandas oriundas da década de 1980?

Dentro do contexto dos anos 1980, temos de certa forma uma estética que podemos chamar pós-punk, oriunda especialmente da Inglaterra, que balizou muitas das bandas nacionais desse período, inclusive a Legião. Acredito que na parte musical, em um primeiro momento, eles souberam transcrever com bom gosto o template sonoro destas bandas- em momentos mais ou menos referências, é claro. Nesse sentido, acho que discos como o primeiro, o "Dois" e "Que País é este?" denotam com clareza essa espécie de "tradução" de grupos como JoyDivision, Smiths e até o U2; grupos gringos que encontravam vinculação forte com uma parcela significativa do público "antenado" em música pop do período, e talvez viam na Legião uma representação interessante para essa estética no Brasil, mais do que em outros grupos (como Ira, RPM, etc). A partir do disco "As Quatro Estações", a Legião "amplia" de certa forma seu leque de influências, descolando das sonoridades típicas do período e buscando influências de um pop mais atemporal, especialmente nos 60 ( Beatles, Byrds) e, no disco "V", o hard rock e algumas nuances de rock progressivo dos anos 70. Mas de novo, acima de tudo, acredito que a grande marca diferenciadora do grupo, no sentido de captar a atenção do público, está na parte textual.

5) Você acredita que a expansão do rock na década de 80 se tornou um divisor de águas para um pensamento mais crítico da sociedade em relação ao meio em que ela está estabelecida?

Sim. Acho que a cultura pop, por mais filiada que esteja às lógicas de cooptação e conformismo- algo que está em sua essência, já que sempre transita em eixos como mercado, mídia- também (ou talvez justamente por isso), exibe essa potência reversa: o lugar da resistência, de um discurso crítico. Não é à toa que, de certa forma, o pop e o rock, como gêneros, são "negativos" da mesma foto, a cultura pop. É importante lembrar que a década de 80 marca um período de transformações fundamentais no tecido social do Brasil, mudanças políticas, mudanças comportamentais. Resumindo muito, com a abertura lenta e gradual do país para um sistema democrático, a explosão da cultura jovem, em termos de mercado e midiático, foi frutífero em "empacotar" um discurso mais crítico sistematizado em várias bandas do período.


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6) Diante da atemporalidade das canções “Geração Coca-Cola”. “Que País é Esse?” e “Perfeição” e do caráter político e sociocultural presente nelas, como essas canções de ontem explica o hoje? Como apontei acima, Russo tinha essa preocupação em soar para todos os tempos e espaços. Em uma análise mais profunda de seu texto, é possível perceber uma escolha por temas, palavras, etc não específicos, sem maiores datações ou referências espaços temporais imediatas. Em teoria, sempre teremos favelas, senado, "sujeira pra todo lado". Isso facilita a fixação deste tipo de canção como uma espécie de hino permanente para as crises e nuances que, inevitavelmente, a vida passa. Um jogo muito inteligente da parte de Russo, leitor voraz de clássicos da literatura (onde vemos múltiplos exemplos desse jogo) e mesmo de bandas pop. Beatlemaníaco fanático, sempre soube que refrões como "AllYouNeedIs Love" e "Come Togheter" nunca vão expirar o prazo de validade.

7) Qual a importância de estudar a Legião Urbana?

Bem, esta resposta está incluída em todas as outras questões, não é? ; ) Trata-se, em suma, de um excelente exemplar de como um representante da cultura pop consegue explicitar algumas de suas lógicas mais interessantes (cooptação X confronto; mainstream X underground, simplicidade e apelo textual X sofisticação e força lírica/poética) de uma forma que, acredito, nenhuma banda conseguiu no país, especialmente se pensarmos na vinculação que eles conseguiram com o grande público e com a crítica, profissional ou acadêmica.



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