Correio do Parque

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CORREIO DO PARQUE Ano 1 | Nº 1 | São Bernardo do Campo | junho de 2015

Samba faz presença no bairro Foto: Arquivo pessoal

Moradores de rua recebem refeições diariamente PÁG. 3

Palmira enfrenta problemas estruturais PÁG. 4

Serafim é o entrevistado do Papo no Parque PÁG. 6 Grupo Renascente representa Parque São Bernardo e faz parte do grupo especial das escolas de samba do município Foto: Lucas Laranjeira

Blumenau sofre com falta de infraestrutura PÁG. 12 Jogos e treinos do time precisam ser realizados fora do bairro por falta de quadra

Entenda a Congada do Parque São Bernardo PÁG. 7


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CORREIO DO PARQUE - JUNHO DE 2015

Opinião

Foto: Acervo Prefeitura SBC

Congada do Parque São Bernardo se apresenta em igreja em 1984

A cultura é a voz da alma Por: Ditinho da Congada

Foto: Lucas Laranjeira

Congada do Parque São Bernardo se apresenta em quermesse em 2015

Editorial

Lugar de jornalista é mesmo na rua. A proximidade do enO Brasil sempre foi um país ritrevistado humaniza a reportagem. Isso, somado com a essência quíssimo em cultura. Nós temos o do jornalismo comunitário dá a oportunidade de contar histósamba, o futebol e mais uma série rias que os veículos tradicionais dificilmente contariam. O furo de outras manifestações culturais perde parte de sua importância, a notícia se torna um serviço. presentes em nosso dia-a-dia. Seria O repórter não está mais distante da realidade que conta, ótimo se houvesse mais incentivos à essas práticas e os brasileiros, que se ele a observa e a vivencia, desde a apuração até o momento de dizem patriotas, não negassem suas escrever a matéria. Para isso ele precisa ser flexível, escrever próprias raízes e valorizassem demais sobre tudo e todos. Nada mais justo, já que toda boa história as culturas estrangeiras largamente merece ser contada. difundidas pelo mercado financeiro. Em tempos de um jornalismo cheio de jogos de interesse, Já conversei com muitos sobre esse assunto e muitas vezes as regras mudam e o único objetivo passa a ser o bem comum, ouvi a seguinte pergunta: “Então o senhor acha que a cultura é a coisa mais importante?” Pois digo que não. Investimentos em sendo que o critério de notícia mais valorizado é a utilidade educação, saúde, segurança, por exemplo, são, sim, louváveis, pública. mas não se deve deixar de investir menos de 1% do orçamento Ser bem recebido é gratificante. Conhecer histórias de pesdo poder público na cultura. Quando isso acontece, a gente soas que não têm privilégios que muitas vezes nos parecem copercebe que tem alguma coisa muito errada acontecendo. muns. Gente que lutou para conseguir energia elétrica e água e Quando se tira a manifestação cultural da vida de um cidadão, é como se um bebê recém-nascido fosse desconectado rapidaaté hoje batalha por melhores condições de moradia e educação. mente do cordão umbilical materno. Tudo isso, não muito distante de outra realidade social: Outro ponto importante a ressaltar é que a cultura não shoppings, grandes empresas e edifícios luxuosos. É perceptível deve ser vista apenas como arte. Se hoje nós temos dificuldao esquecimento proposital por parte do poder público. de de entendimento, de comunicação, de educação, é também Com o jornalismo comunitário, a população ganha voz para porque a cultura não tem acompanhado esses outros desenvolfazer reclamações, desde a infraestrutura de uma escola até vimentos. A partir da cultura, nós também podemos ter uma visão mostrar as coisas boas que existem na comunidade. mais social. Quando o governo faz uma campanha para vacinar Os líderes do local são parte fundamental desse processo, já crianças, por exemplo, e mais de 40% delas ficam sem serem que fazem a ponte entre o repórter, os moradores e o bairro. vacinadas, é porque a cultura não está incutida ali, e isso é um A partir desse ponto de vista, o nome do boletim foi escolhigrande problema. do por representar o papel do jornalista comunitário, que leva a Aí o que acontece? As pessoas começam a viver da violência e a televisão só vai conseguir vender tragédias. As pessoas notícia aos moradores do bairro mantendo-os bem informados perdem o prazer de ouvir a avó, o avô, o tio, sentar em volta do que acontece onde vivem. Boa leitura! da mesa para bater aquele papo, que é de onde surge toda a estrutura para os mais jovens. Houve uma inversão de valores na sociedade e com CORREIO DO PARQUE isso nós vamos nos perdendo. O jornal Correio do Parque é uma pu- Reportagem: Beatriz Moraes, Caíque Com orientações dos professores: As pessoas acham que cultura é to- blicação sobre o bairro Parque São Bernardo Alencar, Gienyfer Sayuri, Girrana Rodri- Texto: Alexandra Gonsalez e Eduardo Grossi. car um violão ou uma caixa, dançar, fa- em parceria com a escola de samba GRES gues, Giovanna França, Mariana Cunha, Diagramação: Maurício Gasparotto. zer show, mas ela não é só isso. Ela tem Renascente e a Congada do Parque São Ber- Matheus Angioleto, Pedro Henrique, Raíssa Fotografia: Oswaldo Hernandez. situada na rua Paula Souza, 39. É um Rivera, Rebeca Sabatini e Saara Paiva. que ser muito mais do que isso. Por isso nardo, projeto acadêmico desenvolvido pelos alunos Fotografia: Caíque Alencar, Girrana Ro- Universidade Metodista de São Paulo eu costumo dizer que ela é quem nos dá do 3º semestre de jornalismo noturno da Fa- drigues, Giovanna França, Lucas Laranjeira e (UMESP). Rua do Sacramento, 230 - CEP 09640-000 Rudge Ramos, São Bernardo do de Comunicação (FAC) da Univer- Matheus Angioleto. equilíbrio, sensibilidade. Coisa que está culdade Diagramação: Lucas Laranjeira Campo - SP. Tel: (11) 4366-5000 dade Metodista de São Paulo. em falta hoje em dia.


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Família Lemes fornece almoços diários para moradores de rua

Foto: Giovanna França

Refeição é servida há nove anos e mobiliza familiares e população local GIENYFER SAYURI GIOVANNA FRANÇA

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matriarca da família Lemes, Maria do Carmo Ribeiro lemes, 87, é conhecida como Dona Cotinha. Nascida em Douradinho (MG), mãe de sete filhos e avó de 11 netos, há mais de oito anos dedica parte de seu tempo para cozinhar e alimentar cerca de 40 moradores em situação de rua. Sua generosidade é conhecida por todos do bairro Parque São Bernardo. “Faço 40 marmitas por dia, um morador em situação de rua vem aqui e leva cinco ou seis para os amigos. Mas é sempre comida quente e fresquinha”, afirmou Cotinha. Segundo a moradora de rua Rosimeire de Sousa, 47, as refeições ajudam muito. “Eu me sinto como se fosse da família. Tenho muita gratidão e carinho por todos. Sem ela, estaríamos perdidos”, disse. Auxílio De acordo com sua filha, Maria Aparecida do Rosário Lemes, que é conhecida como Cida, 53, a iniciativa começou como uma forma de terapia para sua mãe, que estava triste pela morte do marido, Antônio da Silva Lemes. “Assim que o meu pai faleceu, mi- nha mãe ficava no murinho, olhando para o cemitério. Um dia, a pressão dela subiu e ela decidiu fazer algo para se distrair. Começou, então, a preparar as marmitas”, contou Cida. A filha acorda cedo para ajudar Cotinha no preparo das refeições. Elas recebem doações de alimentos de moradores e pessoas de Dona

Dona Cotinha prepara as refeições para 40 moradores em situação de rua durante toda a semana

Cotinha prepara as refeições para 40 moradores em situação de rua durante toda a semana fora da comunidade para compor o cardápio diário. “Não pedimos nada, mas o coração das pessoas é tocado e muitas acabam ajudando”, disse Cida. O almoço é servido de segunda a sexta-feira, sempre às 13h30. Os finais de semana são dedicados para o descanso e diversão da família, que vai junto para a Congada. “Ela se preocupa tanto com os moradores em situação de rua que, até quando sai, fica pergun- tando por eles”, afirmou a filha.

Cotinha ainda disse que o cardápio que oferece para os moradores em situação de rua é o mesmo que serve para a família de casa. “O dia que separar a nossa comida da deles, nós paramos de fazer”, disse. Ela acredita que todos devem sempre oferecer o melhor ao próximo. “Se Jesus oferece muito é porque ele sabe que é para compartilhar”, contou, emocionada. A aposentada nem pensa em parar com a ajuda. Se depender dela e da sua filha, Cida, enquanto tiverem saúde, as duas continuarão com as refeições. “O almoço que damos volta de outra forma muito nós”, explicou Cotinha.

Foto: Arquivo pessoal

Doações Alimentos de preferência não-perecíveis. Entregar: rua Paula Souza, 39 CEP: 09761-180 São Bernardo do Campo - SP Telefone: (11) 4123-7556 (res.) (11) 97304-8130 (cel.)

Família Lemes recebe algumas doações dos moradores do bairro

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Palmira enfrenta falta de estrutura Foto: Girrana Rodrigues

“As únicas escolas próximas da minha casa não têm vaga” Cleide Marcelino

Horário de saída dos alunos pode causar acidentes; portão é em uma rua muito movimentada do bairro

Escola estadual passa por problemas de infraestrutura e de ensino e preocupa aqueles que não conseguem transferência para outras unidades de ensino do bairro

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os alunos do 9º ano era de 275, porém apenas 208 pontos foram atingidos. A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação por e-mail questionando as reclamações de infraestrutura e educação da escola. A secretaria informou por meio de nota, no dia 22 de maio, que a diretoria se empenha em manter o bom andamento da unidade e se desenvolveu muito ao longo dos últimos anos, além de não possuir problemas de segurança.

MARIANA CUNHA

escola estadual Professora Palmira Grassioto Ferreira da Silva enfrenta problemas de infraestrutura e educação. Alguns alunos reclamam que entra água nas salas quando chove e que não há carteiras suficientes para os estudantes em todas as classes. Entre as necessidades da escola, os alunos também citam a maioria dos ventiladores que não funcionam. A mãe de uma das alunas Cleide Marcelino, afirmou que o pátio foi reformado e está organizado, mas que os banheiros não têm portas. “Eles geralmente estão limpos, as paredes estão pintadas, porém muito pixadas. As janelas não têm vidros”, criticou. Cleide já tentou mudar a filha do colégio. “As únicas escolas perto da minha casa, a Professor Clóvis de Lucca e a Walker da Costa Barbosa, não têm vaga. Agora ela está na lista de espera”, lamentou. Apesar dos problemas, a opinião

de alguns pais sobre a escola diferem. A pedagoga Silvia de Souza já foi estudante do Palmira onde hoje sua filha é matriculada no ensino médio. Para Silvia alguns alunos indisciplinados atrapalham as condições da escola, mas ela está muito melhor. “Hoje minha filha usufrui de um palco montado no refeitório. Acho que é um espaço bom para as crianças se expressarem. Minha filha adora”, contou. Avaliação De acordo com o site do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), prova realizada para avaliar o nível de ensino estadual, a média da escola ficou abaixo do estimado pelo Goveno do Estado em 2014. Os alunos do 3o ano do ensino médio atingiram a média de 252 pontos em língua portuguesa, sendo que a estimativa de desempenho era de 300 pontos. A meta para

A média dos alunos do 3º ano do ensino médio foi de 252 pontos em Língua Portuguesa, sendo que a estimativa mínima das escolas estaduais de São Paulo era 300 pontos. Já em matemática, a meta para os alunos do 9º era de 275 pontos e os alunos do Palmira atingiram 208.


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Benzimento é a cura pela fé Costume proibido durante o século 19 sobrevive até hoje em centros urbanos e periferias

Foto: Giovanna França

Ana Maria Lemes é católica e exerce a prática do benzimento, com a sua fé, há 48 anos; ato pode ser feito com o uso de rósario, plantas, àgua ou óleo.

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BEATRIZ MORAES

aposentada Ana Maria Lemes, 60, recebe diariamente centenas de pessoas em sua casa. Vem gente do bairro Parque São Bernardo, de toda a região e até de outros estados. Todos eles procuram a ajuda espiritual da benzedeira, que cumpre essa missão desde os 12 anos de idade. A tradição de benzer foi herdada de seu pai, Antônio da Silva Lemes. Católica, Ana Maria não dispensa nunca a fé no auxílio da função. “A fé é o que me move”, afirmou. Com seu rosário em mãos, as palavras ditas por Ana são individuais e variam de acordo com o problema que a pessoa está passando. Sua jornada diária é longa: ela atende das 6h40 às 22h. A ex-moradora do bairro, Maria Aparecida da Silva Martins, 69, conheceu Ana há 50 anos, quando se mudou. “Meu filho estava com infecção intestinal e os remédios receitados pelos médicos não faziam efeito”, contou. Foi quando a benzedeira, que tinha só dez anos na época se ofereceu para ajudar. “Vim da roça, onde não existiam muitos médicos, por isso o benzimento era comum quando alguém estava doente.Com meu filho não foi diferente, ele sarou logo

depois”, explicou Maria. Crença Segundo a antropóloga e especialista em estudos de religiões do mundo contemporâneo, Jacqueline Moraes Teixeira, o ato de benzimento faz parte de um conjunto de práticas do Catolicismo Popular. “São práticas feitas por fiéis católicos, mas não são institucionalizadas na igreja”, explicou. Jacqueline ressalta que apesar do benzimento ter origem rural nos países da Europa com maioria católica, como França, Itália, Espanha e Portugal, no Brasil a prática é comum nos grandes centros urbanos e também nas periferias das grandes cidades. “Há uma dificuldade de serviços de saúde nesses locais e a prática acaba sendo importante no combate a doenças e serve como um auxílio para a população”, afirmou a antropóloga. Para a especialista, não é coincidência as benzedeiras serem sempre mulheres. “A mulher na história do país sempre esteve na questão do zelo, como professoras e enfermeiras, por exemplo”. “Na época do Império no Brasil a prática foi proibida por Lei do Código Criminal [atual Código Penal] por ser consi-

1º passo: mentalize seus problemas, em pé, enquanto é benzido com um rosário frente e costas – com sinais da cruz e palavras de oração.(O benzimento pode ser feito com plantas, água ou óleo).

2º passo: estique as mãos,

enquanto a benzedeira faz o sinal cruz e repete as palavras de oração.

3º passo: ajoelhe-se em frente

ao altar, encoste a cabeça três vezes. Bata o pé no chão três vezes. Cruze a cabeça com as mãos três vezes.

4º passo: ouça o que a benze-

deira tem a dizer e memorize as orações que deve praticar em casa. derada curandeirismo [cura por magia]”, conclui Jacqueline. Ana acredita que a maioria das pessoas que pedem sua benção são católicas, mas a religião não interfere na procura pela cura. Maria Aparecida é de crença espírita e afirmou não se importar com as diferentes religiões. “As religiões são rótulos que as pessoas colocam, mas Deus é único. Quando nós aprendemos o caminho dele, não importa a crença.”

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PAPO NO PARQUE

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Serafim Moura é pioneiro no desenvolvimento do Parque

GIRRANA RODRIGUES

Ex-morador do bairro participou da Associação dos Moradores e lutou para conseguir luz e água Foto: Caíque Alencar

munidade e era impossível tomar um banho quente em casa. A água encanada chegou depois, quando fizemos reuniões com um arquiteto da prefeitura. CP - A luta era só no Parque São Bernardo ou as comunidades vizinhas também passavam por dificuldade? SM - Era um trabalho em conjunto. Tem uma região no Baeta Neves que era conhecida como “Risca a Faca”. Os moradores ocuparam um terreno que estava vazio e na época, como eu pertencia à Associação de Amigos do Parque, me chamaram para representá-los na negociação. Conseguimos comprar o terreno do dono, que tinha interesse em vender, e foram construídos prédios próximos ao Olaria. CP - Como você vê o Parque São Bernardo hoje? SM - Eu sai em 2000 quando ainda não havia começado a maior parte da urbanização. Depois que eu fui embora, foram construídas muitas casas e apartamentos. Eu fico feliz, mas acho que ainda falta reformar a mente das pessoas. A cultura ajuda muito nisso e no Parque São Bernardo, o trabalho do Ditinho com a escola de Samba e a Congada, cumpre esse papel. Ajuda aos jovens. Escola de samba não é só diversão, é olhar para os valores de respeito. É um momento de se preocupar com o próximo e de cada um pensar seu papel na sociedade. Foto: Acervo Prefeitura SBC

Hoje aos 82 anos lembra com orgulho as conquistas da comunidade

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erafim Moura,82, é mineiro nascido em Belo Horizonte, estudou filosofia na Suíça e teologia na França. Foi uma das primeiras lideranças do bairro e lutou para levar água e luz até o Parque na década de 1980. Ele morou na região até 2000, depois de ajudar os moradores a conquistar muitos benefícios para o local. CP - Por que você veio morar no Parque São Bernardo? SM - Para ajudar as pessoas a lutarem por seus direitos. Eu acredito no poder do povo reunido e acho que precisamos recuperar os valores de ajudar o próximo. CP - Como era o bairro quando você veio morar aqui? SM - Era muito violento, aqui era conhecido como o “Cordão da Miséria”. A prefeitura tinha olheiros no bairro para que ninguém contruísse barracos, senão eles vinham com um caminhão, amarravam uma corda e derrubavam. Quando comprei o meu, fiquei 15 dias morando nele para não derrubarem. Não ia nem à padaria. Não tinha eletricidade e não tinha água. CP - E como foi a luta por esses direitos? SM - Na década de 1980, começamos a reivindicar com a Associação de Amigos, formada em 1978. O bispo Dom Paulo Evaristo Arns conseguiu uma reunião com o governardor do Estado de São Paulo, na época, Franco Motoro. Lá, ele decidiu que ia levar luz para todas as favelas do Estado. Depois disso, tentamos trazer água encanada. No começo nos enganaram e instalaram apenas uma bica para toda a co-

Vista do Parque São Bernardo em 1982, antes do início da urbanização Foto: Caíque Alencar

Vista do Parque São Bernardo em 2015, após inicio da urbanização


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Congada mantém vivos valores familiares e devoção religiosa Dança folclórica reúne pessoas de todas as idades para celebrar a fé em São Benedito e Nossa Senhora do Rosário REBECA SABATINI SAARA PAIVA

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á 35 anos na comunidade do Parque São Bernardo, em São Bernardo, a Congada do seu Benedi- to da Silva Lemes, mais conhecido como Ditinho, está na família Lemes por mais de 100 anos . “Meu prazer é ver a família unida e mantendo a tradição”, disse o organizador. Congada é uma dança folclórica, expressão da cultura do Congo, na África, que chegou junto com os escravos provenientes daquele país. A festa celebra São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Constituída de um cortejo compassado e cantos, a Congada mantém enraizada nas famílias da região uma das tradições mais antigas do Brasil. Mostra os valores da religião católica e da família, além de repre-

sentar a luta do povo negro e sua cultura. Além dos católicos, também existem pessoas de outras religiões no grupo do bairro, como candomblé, umbanda e evangélica. “É muito importante aprender valores sobre família e religião, independente de qual seja”, afirmou a católica Janaina Lemes, 30, que faz parte do cortejo. Jovens na Congada Na Congada do seu Ditinho, que conta com cerca de 40 participantes, há uma grande quantidade de jovens, entre 13 e 19 anos. A maioria é do Parque São Bernardo e, desde cedo, são ensinados a terem respeito por outras culturas. “Os jovens vão crescendo no meio da

dança, respeitando as diferenças de cada um”, disse Ditinho. Para o estudante José Vitor Lemes, 15, a Congada mudou sua cabeça. “Vi que a cultura brasileira é muito diversificada”, contou. José Vitor participa da Congada desde os cinco anos e toca instrumentos junto com outros adolescentes, como o surdo, caixa, chocalho, banjo e violão. De acordo com o estudante, não existe um dia fixo para apresentações, que são marcadas pelo seu tio, Ditinho. Como o grupo não tem um local específico para os ensaios, alguns deles acontecem nas ruas da comunidade. As apresentações são feitas no Parque São Bernardo e em outras cidades, como no último dia 16 de maio, em Embu das Artes. Foto: Lucas Laranjeira

Banjo: dita o ritmo das músicas e ajuda na harmonia.

Surdo: chama a entrada para os outros instrumentos e ajuda na percussão.

Chocalho: usado para complementar e harmonizar as músicas.

Caixa: utilizado na percussão.

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ESPECIAL

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Renascente resgata cidada Foto: Giovanna França

Ensaios gerais acontecem uma vez por semana na rua Paula Souza, em frente à casa dos Lemes, quadras de bairros vizinhos ou onde há espaço disponível

Grupo do Parque São Bernardo luta por ideais de respeito e fraternidade

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CAÍQUE ALENCAR RAÍSSA RIVERA

omo já é característico do bairro, as manifestações culturais da família Lemes têm sempre muita presença no Parque São Bernardo. Além do grupo de Congada, o GRES (Grupo Recreativo Escola de Samba) Renascente de São Bernardo também é uma das principais atividades realizadas pela família na região. Os projetos para a criação do grupo começaram em 1994, quando um bloco de terceira idade da cidade resolveu participar do desfile de Carnaval da época. O diretor da escola, Júlio da Silva Lemes, 39, contou que em 1995 eles decidiram prestar ajuda aos idosos, pois eles não tinham instrumentos para desfilar nem experiência para tocar. “Nós já tocávamos por causa da Congada e

tínhamos facilidade com instrumentos de percussão, por conta das apresentações que costumávamos fazer em Minas Gerais”, disse. Na época, o falecido patriarca, Antônio da Silva Lemes, não gostou desse novo engajamento da família em um novo projeto cultural e demorou dois anos até que os parentes pudessem convencê-lo. A partir de então, a ideia começou a ganhar corpo, já que a música está enraizada na genealogia dos Lemes há mais de 150 anos. Então, em 1996, foi fundada oficialmente a Renascente, tendo como seus principais idealizadores os irmãos José, Luís e Benedito da Silva Lemes, o Ditinho, que hoje é o presidente da escola. A bandeira do GRES carrega como dia oficial da fundação primeiro de janeiro, mas apesar do ano estar correto, não se lembram o dia em que realmente a escola nasceu. Nenhum membro era especialista em Carnaval, mas todos logo notaram que o grupo teria um futuro promissor com o samba. “No primeiro e no segundo ano de

participação, nós éramos pleiteantes, fomos campeões nas duas vezes e no terceiro ano a gente já era do grupo especial de São Bernardo”, lembra o diretor. Entre as conquistas, a escola já faturou quatro vezes o segundo lugar e sete vezes o terceiro, mas ainda não foi a campeã. No início, a escola contava com membros da própria família Lemes. Hoje, a agremiação conta com mais de 300 membros, sendo que somente 45 pessoas carregam o sobrenome Lemes. Ainda assim, a força familiar fortalece muito o grupo e os mantém unidos. Essa ideologia continua até hoje, mas Júlio explica que as pessoas que vêm de outros bairros também são muito importantes para a Renascente. O diretor conta que o grupo é muito rígido com relação à disciplina, consumo de álcool, drogas, respeito e fraternidade, mas mesmo assim muita gente continua frequentando ensaios e apresentações da Renascente. “Nós somos um pouco ‘chatos’ com relação a bebidas e uso de drogas, meio


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ESPECIAL

ania com samba de bairro Foto: Lucas Laranjeira

caretões. Mas mesmo assim o pessoal gosta bastante da gente”, brincou. Até nas festas de confraternização, a escola de samba mantém essa tradição. “Toda vez que tem um churrasquinho, a gente não compra cerveja para não ter nenhum tipo de incentivo ao alcoolismo“, completou. Lemes também ressalta que a relação das escolas de samba com o Carnaval acaba trazendo um pré-julgamento sobre as atividades. “Conseguir juntar um grupo de pessoas cantando a mesma música e reunidas pelo mesmo propósito não é em qualquer lugar. A maioria da sociedade ainda acha que é tudo uma bagunça, e não é. Tem uma estrutura muito grande”, explicou. Dificuldades financeiras Apesar do sucesso que a escola faz, há muitas dificuldades pelas quais ela passa. Uma delas é que, a única ajuda de custo que ela recebe é da prefeitura de São Bernardo, mas isso ocorre apenas para uma única apresentação do ano, a de fevereiro, e chega com muito atraso, além de não ser suficiente. “Se você olhar o quanto um show precisa de remuneração, não dá nem para dividir entre quem desfilou. Se fosse mesmo remunerado, cada integrante teria que ganhar uma quantia”, lamentou o diretor. Júlio afirmou que a verba costuma chegar só nos meses de novembro ou dezembro e, enquanto isso, o custeio das despesas com instrumentos, fantasias, figurino, refeição e higiene é feito pelos próprios membros da Renascente. “Quando alguém está com um pouquinho mais de dinheiro, sempre coloca um pouco do próprio bolso“, disse. “O dinheiro que vem do governo nós usamos para alugar balcões para fazermos os carros alegóricos, que é o que exige mais gastos“, completou. O diretor também alertou que a visão que as pessoas têm sobre a escola roubar dinheiro é um engano. “ Na verdade, trabalhamos o ano inteiro, mobilizamos um grupo grande de pessoas e fazemos um trabalho social importante para a comunidade, mas que é pouco valorizado”, declarou. Ensaios A Renascente não tem uma sede, nem um espaço físico fixo para seus ensaios, que acontecem uma vez por semana, em casa de familiares, quadras de esportes de bairros vizinhos ou na rua. “Antes nós ensaiávamos no Palmira, escola estadual da região, ou na casa da minha avó, mas agora nunca é definido e nós vamos

Escola de samba não tem certeza do dia da criação, mas bandeira carrega como data ofical 1º de janeiro

onde tem espaço”, explicou Júlio. Segundo o diretor da escola, por questões religiosas, eles foram impedidos de ensaiar na escola. “Muitas pessoas achavam que os ensaios eram uma farra, mas era impressão, já que muita gente comparecia para relaxar. Isso é um benefício que vem indiretamente”. Mas para ele, a situação teve um lado positivo. “Ensaiar na quadra do Boa Vista, que é um bairro vizinho, fez com que muitas pessoas que nunca tinham frequentado um ensaio, conhecessem nosso trabalho.” Júlio destacou que apesar de muitas comunidades conviverem lado a lado, nos úl-

timos anos os moradores não se misturam. “É só descer uma rua que já está em outro bairro. É preciso lembrar que somos todos uma grande comunidade, estamos todos no mesmo barco. Esse é o papel da escola de samba, todos podem participar.” Para o próximo Carnaval, Lemes espera que mais pessoas abracem a escola e desfilem juntos. “Esse ano a escola levou 300 pessoas para o Estância, a maioria chegou só em março”, afirmou. Apesar de considerar a escola de samba um lazer, ele não esconde a vontade de ser campeão no próximo ano. “Estamos trabalhando para isso”, confessou.

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Raio-X dos integrante Foto: Arquivo pessoal

Carlinha, como é conhecida, 32, é amiga dos Lemes desde a infância e rainha de bateria da Renascente. Aos 13 anos, fez parte da fundação da escola como rainha mirim. Foto: Lucas Laranjeira

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Tema Enredo Samba

Cléo, 52, é a primeira e atual porta bandeira e é um membro da escola desde a formação, em 1996, quado tinha 33 anos. “Essa família tem muita garra. Ninguém tem medo de pegar o touro com unha”, afirmou Foto: Arquivo pessoal

Figurino/Fan

Confira a preparação da Renascente desde que acaba o Carnaval até o próximo Foto: Arquivo pessoal

Daniel, 18, é membro da escola desde criança, quando só ensaiava e era da ala infantil. Aos oito anos se tornou ritmista e hoje é diretor de bateria. “Eu praticamente nasci na Renascente”, contou.

Júlio, filho de Ditinho, formador da Renascente, acompanha a escola desde a formação, quando tinha 18 anos. Começou como instrumentista e se tornou diretor, ocupando o cargo até hoje.


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ESPECIAL

es da escola de samba Foto: Caíque Alencar

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Carnaval 2016 Concentração

Ditinho, 63, foi um dos fundadores da Renascente e atualmente é o presidente da escola e líder das manifestações culturais da família Lemes.

CARNAVAL

Jean, 26, entrou na escola em 2009 como percussionista e, três anos depois, substituiu o antigo mestre de bateria, cargo que ocupa até hoje dentro da Renascente.

Foto: Caique Alencar

ntasias Coreografia Ensaio

Carros Ensaio Técnico

Foto: Caíque Alencar

Foto: Arquivo pessoal

Fernando, 20, ingressou na escola aos 13 anos como folião e precisou de muita dedicação para defender a Renascente. “Mestre-sala não tem que só sambar, tem que saber cortejar bandeira”, explicou.

Zeca começou fazendo parte da ala infantil por 2 anos. Aos 8 anos de idade, passou a integrar a bateria da Renascente. Hoje em dia, com 15 anos, é instrumentista na escola, toca ripelique e tem o sonho de ser cantor.

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Pontos gastronômicos ag No cardápio da rua tem espaço para os mais variados Foto: Girrana Rodrigues

Foto: Girrana Rodrigues

Foto: Girrana Rodrigues

Na Pichorra são servidos caldos de mocotó, piranha e pichorra. O preço varia de R$ 4,00 a R$5,00. Funciomento: Domingo a domingo das 17h a 01h. Local: rua Almeida Leme, 104.

Foto: Girrana Rodrigues

GIRRANA ROGRIGUES

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uem passa pela rua Almeida Leme, em São Bernardo, tem a garantia de encontrar bons lugares para matar a fome. A rua conta com barracas e lanchonetes que oferecem opções salgadas ou doces, que abrem até de madrugada aos finais de semana. A Pichorra é um dos locais mais frequentados. Especializado em caldos, funciona no mesmo endereço há 22 anos. Os caldos mais pedidos vão do tradicional mocotó ao pichorra, uma espécie de sopa de mandioca com acompanhamento de carne ou frango e cebolinha. A dona do estabelecimento, Rosana Moura Holanda, 45, herdou o comércio do pai, com quem aprendeu a fazer os caldos. “Ele veio de Minas Gerais e quando chegou aqui no bairro, pichorra era uma gíria utilizada para descrever uma coisa muito boa. O nome acabou ficando”. Rosana vende 15 litros de cada caldo todas as noites, servidos em porções de 350ml e 500ml. Os amigos Wesley Vieira, 32, Leandro Santos, 27, Suellem Cristina Vieira, 23, e Leopoldo Vieira, 29, frequentam a Pichorra há sete anos. Segundo o pintor Wesley Vieira, é bom tomar o caldo depois de uma noite de bebedeira. “Cura até ressaca. É tiro e queda.” Dog turbinado O Super Dogão funciona na mesma rua e é especializado em cachorro-quente. O sanduíche mais famoso tem 30cm e pesa cerca de 700g. Ricardo Santos, 40, é proprietário do local e disse que sempre buscou fazer um lanche com algum diferencial. “A concorrência é grande aqui na rua, então criamos um lanche grande, para chamar a atenção

Foto: Divulgação

No Super Dogão, o cachorro-quente comum custa R$ 4,00, sendo que o especial de 30cm sai por R$ 7,00. Além de salsicha, purê, batata palha e vinagrete, o especial acompanha calabresa, carne ou frango. Funcionamento: de domingo a quinta, das 17h à 1h, e Sexta e sábado, das 17h às 4h. Local: esquina da rua Almeida Leme com a rua dos Vianas, em frente à padaria Belo Pão

Foto: Girrana Rodrigues


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gitam a rua Almeida Leme tipos de comida desde caldos, lanches, pastéis até bolos das pessoas, que comem e contam para os amigos”, afirmou. Os clientes aprovaram a novidade e, dependendo do movimento da noite, Santos vende de 20 a 30 super cachorros-quentes por noite. O empresário José Nilton de Sousa, 63, frequenta o estabelecimento desde que abriu, há dois anos, e confessa que prefere os lanches menores. “Não aguento comer o super-dogão”, contou. Pastel de 30 centímetros A Pastelaria do Isac também faz sucesso no bairro há sete anos. O ponto é conhecido pelo tamanho dos pastéis tradicionais e especiais, que medem entre 15cm e 30cm. O proprietário, Isac Cassiano, explica que em finais de semana são vendidas 760 unidades. “Não é só o tamanho que atrai o público, eles se preocupam muito com a qualidade da massa e quantidade do recheio.” Cliente fiel desde que a pastelaria abriu, o motorista Erick Santos, 25, aprova o tamanho do produto. “Venho pelo menos duas vezes por semana comer o de carne com queijo.” Doce pedaço Para quem prefere saborear um docinho, o Carrinho de Bolos, que funciona no local há 15 anos, é uma opção. O dono do carrinho, Marco Antônio, 53, vende pedaços de bolo na região. “Eu fui confeiteiro por muitos anos e quando sai da padaria em que trabalhava, resolvi abrir meu negócio”, disse. Os sabores preferidos da clientela são prestígio, maracujá e floresta negra. A estudante, Hillary Laraiane, 12 , frequenta o local pelo menos uma vez por semana. “Adoro bolos, o meu preferido é o de maracujá”, explicou. Foto: Girrana Rodrigues

Foto: Girrana Rodrigues

Foto: Girrana Rodrigues

Pastelaria do Isac: pasteis de carne com milho e requeijão, carne com queijo, frango com queijo, frango com requeijão, calabresa com queijo e especial com todos os recheios. Os preços vão de R$5,00, no tradicional, até R$ 12,00, no especial. Funcionameto: de domingo a quinta, das 14h à 1h. Sexta e sábado, das 14h às 4h. Local: rua Almeida Leme, 119.

Foto: Girrana Rodrigues

Foto: Girrana Rodrigues

Foto: Girrana Rodrigues

O Carrinho de Bolos oferece diversos sabores, como maracujá, floresta negra, prestí gio e coco. O pedaço de qualquer bolo sai por R$ 2,00. Funcionamento: de domingo a domingo das 9h à 1h. Local: esquina da rua Almeida Leme com a rua dos Vianas, em frente à peixaria J.S.


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Blumenau EC luta contra problemas financeiros e falta de estádio Foto: Lucas Laranjeira

Jogadores têm que treinar individualmente e se reúnem apenas em dia de jogo; time não tem campo e precisa disputar campeonatos sempre fora do bairro

Bingos e doações ajudam a arrecadar dinheiro para pagar as despesas do time MATHEUS ANGIOLETO PEDRO HENRIQUE

E

ncontrar times amadores ou de várzea em bairros populares é muito comum, e no Parque São Bernardo não é diferente. O BEC (Blumenau Esporte Clube) é responsável por trazer o esporte para o bairro, mas o clube sofre por não ter estádio e dinheiro para manter a equipe atuante. O clube foi fundado em 7 de Setembro de 1980 por Geraldo Rosa e Amir Lagares. O primeiro elenco do Blumenau era composto por jogadores do próprio bairro e os problemas financeiros existiram logo na criação do clube, quando os atletas entravam em campo com uniformes simples, sem padrão. Para o ex-presidente e atual tesoureiro do clube, Joaquim do Nascimento, 48, conhecido como Magrão, o problema persiste. “Para competir com times como o Nacional ou o ECDER (Esporte Clube DER), por exemplo, gasta-se muito dinheiro. Antigamente os atletas jogavam

por amor à camisa, hoje não existe mais isso”, lamentou. O time chega a gastar R$ 2,6 mil por fim de semana no campeonato da Divisão Especial e joga, no mínimo, dez vezes na

Ideia de usar o nome Blumenau foi dada por Amir, que gostava do time de Santa Catarina competição. Segundo Nascimento, a dificuldade faz com que o amor e a identificação pelo time transformem dirigentes em pessoas que se desdobram para ver o clube funcionando. “O Blumenau é como uma religião’’, ressaltou. Para amenizar a crise financeira, os dirigentes organizam bingos para arrecadação de verbas, recebem doações e permitem que comerciantes anunciem na camisa

do time. “Algumas vezes, nós, dirigentes, tiramos até do nosso salário para manter tudo funcionando”, declarou Magrão. Atualmente, 90% do elenco é de jogadores de fora do Parque São Bernardo, que estão juntos há quatro anos. O BEC venceu os campeonatos da Divisão Especial nos anos 2012 e 2013. Para o lateral-direito da equipe e morador do bairro, Anderson Amorim, é um prazer vestir a camisa. “Eu jogo pelo Blumenau desde os meus 17 anos. Lembro do título de 2013, em que eu dei a assistência para o gol.” Já o volante Overdan Simões, morador do Capão Redondo, e que está no time há seis anos, a motivação vem pelo apoio da comunidade. “É uma honra integrar esse elenco. Fiz um gol em 2009, no meu primeiro jogo pelo time contra o Águia Branca, todos vibramos juntos”, afirmou. Falta estádio próprio Outro agravante é o calendário curto do campeonato da Divisão Especial e a falta de um campo de treinamento adequado. O Blumenau não tem local para receber os adversários e os jogos em que ele é o mandante são sempre transferidos para os


CORREIO DO PARQUE - JUNHO DE 2015 Foto: Lucas Laranjeira

Joaquim, conhecido como Magrão, sempre acompanha os jogos do Blumenau; Amor e dedicação são marcas dos dirigentes

Jogadores famosos Primeiro elenco como André Dias do Blumenau (ex-São Paulo) e era composto por Derlei (ex-Porto) 24 atletas do já passaram pela Parque São equipe Bernardo Foto: Matheus Angioleto

Idealizador das categorias de base sente dificuldade com a falta de contato com os pais

bairros Nova Petrópolis e Baeta Neves, em São Bernardo. Magrão explica que já existiu um campo no bairro, mas foi tirado para construir um piscinão contra enchentes. “Naquela época os jovens não se envolviam com drogas. Para jogar, era necessário ter notas boas na escola.” O técnico do time, José Carlos, 42, Blumenau de coração, se diz apaixonado pelo clube, independentemente dos problemas. “Sou Blumenau desde o dente de leite. A dificuldade financeira é grande, mas eu sei que no futebol de várzea é assim.” Torcida organizada Os Pitbulls do Morro, também conhecidos como Blumaloucos, são grandes aliadas e vitais para incentivar o time. “Quando jogamos, eles batucam o jogo inteiro. Temos jovens e veteranos, pessoas que você nunca vê no bairro, mas vão aos jogos”, afirmou o fundador do time, Geraldo Rosa, 61. Segundo ele, o Blumenau já levou duas mil pessoas ao estádio numa final de campeonato. Rosa contou que no passado, uma van buscava e levava torcedores e jogadores para defender as cores do time. “Em uma final de campeonato contra o Treze de Maio, levamos a torcida dentro de caminhões”, conta. Além disso, o fundador do BEC contou que antes não havia tanta violência. “A gente irritava o juiz, soltava rojões e torcia pelo nosso time sem confusão.” Peneira para categoria de base O Blumenau começa uma peneira para selecionar os novos talentos do bairro. A ideia é montar um time de juniores com meninos de 17 a 18 anos, para disputar campeonatos regionais. O idealizador do projeto, Carlos Grisante, 38, o Bocão, contou que muitas famílias não incentivam a participação dos filhos no esporte. “Algumas famílias sequer acompanham os filhos nos treinos. Muitos não sabem que o futebol também é amizade e apoio”. Mesmo assim, Grisante tenta convencer as famílias da necessidade do esporte. A equipe está quase formada e em fase de testes. A previsão é que as atividades comecem a partir do segundo semestre de 2015. Mais informações na sede do clube. Rua Alameda Minas Gerais, n° 100.

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Com ou sem congada Foto: Lucas Laranjeira

LUCAS LARANJEIRA

“A saudade dói, a saudade dói, oohh meu Deus, tenha dó de nós” é um trecho de uma das canções que a congada do Parque São Bernardo tocou no dia 21 de abril, feriado de Tiradentes. Esta seria sua primeira apresentação do ano e o grupo, com homens, mulheres, idosos, crianças e jovens, saiu da sede da congada, a casa da família Lemes, por volta das 13 horas e 20 minutos em um ônibus escolar da prefeitura de Santo André sob um céu nublado, aquele tipo de tempo que parece nos seguir onde quer que vamos, sempre ameaçando uma chuva. O ônibus tinha como destino Paranapiacaba, local da apresentação. Depois de acomodados, seu líder, o Ditinho da Congada, chamou a atenção de todos e desejou um ótimo ano de apresentações, lembrou da importância da cultura e que é preciso ter o equilíbrio da saúde, da educação e a da cultura, pois sem isso, “teremos um carro bom, mas não vamos saber dirigi-lo, vamos ter casa boa, mas não vamos ter o prazer de estar nela, seremos grandes líderes, mas não seremos grandes pessoas e representantes de uma categoria”. Um discurso inspirador, algo que se espera de um líder no início de mais um ciclo, porém, antes de encerrar, ele lembra de uma integrante que não estava naquele ônibus, sua irmã, que era responsável pela limpeza das roupas da congada. Júlia, 52, sofrera um AVC recentemente. A irmã de Ditinho estava no hospital e, apesar da vontade do irmão em cancelar

Ditinho canta no ônibus junto com seus companheiros na volta de Parapiacaba para o Parque São Bernardo

a apresentação, Júlia mexeu as mãos em negativa, pedindo que o grupo se apresentasse normalmente. Assim eles o fizeram. A viagem durou cerca de uma hora e 30 minutos. A nuvem que antes só ameaçava, decidiu se impor. Uma neblina forte cobriu a estrada próxima ao destino e quando a neblina se dissipou, uma garoa fez os limpadores dançarem. O ônibus parou. Chegamos. Ditinho saiu do ônibus e, após alguns minutos, voltou. O veículo deu a partida, fez meia volta e fomos em direção ao Parque São Bernardo. A Apresentação foi cancelada devido à chuva, que impediu a performance ao ar livre. Na volta para casa, o silêncio, a tristeza e a sensação de missão falha é o que se espera de qualquer grupo de músicos em

uma situação dessas. Mas não a congada de Ditinho. Júlia, no hospital, imaginava uma apresentação da congada acontecendo naquele dia e eles não a decepcionaram. Sentados nos bancos, todos cantaram, enquanto o som de tambores soou pelo ônibus. O corredor se tornou a pista de onde Ditinho comandou o ritmo e virou palco para alguns arriscarem alguns passos rápidos. Assim foi a volta. E quando as canções acabaram, o bom e clássico “Quem roubou pão na casa do João?” passou a ecoar por todo o ônibus. Com ou sem congada, deram voz aos tambores e não perderam a alegria em seus olhos. As nuvens até tentaram acabar com o espetáculo, mas a música foi mais forte.

Festa Junina da RENASCENTE DIA 20/06 - 19hs Comidas típicas, bingo, quadrilha e apresentação da escola

Rua Paula Souza, Pq São Bernardo


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