Celebramos nesta edição dois anos desde o lançamento do nosso primeiro BoletimCulturaldosCemitérios!
Para assinalar esta data, convidámos Barry James Goodman, cuja sensibilidade artística dá vida às ilustrações quemarcam as páginas de separação entre artigos. A capa, uma evocativa fotografia de Phillipe Gil de Mendonça, voluntário no nosso programa Adote uma Rua no Cemitério, é um tributo visual ao cuidado e dedicação à memória coletiva.
Nesta edição falamos na simbologia das árvores e das colunas truncadas, que evocam a fragilidade e a interrupção da vida. Em Monumentos Sepulchraes em Revista, destacamos um jazigo projetado pelo arquitecto Norte Júnior, exemplo do seu contributo para o patrimóniofunerário.
Em Echos do Passado, trazemos um artigo dedicado à saudade, a flor mais emblemática e mais representada nos nossos cemitérios, muitas vezesconfundidacomumaalcachofra.
Mostramos o resultado dainvestigação feita sobre o jazigo de Carvalho Monteiro,quenoslevouaperceber comofoiaproveitadoojazigodeseu pai, transformando-o no magnifico monumento que hoje vemos. Já em Pedras e Obras, abordamos a notável recuperação do Jazigo dos Benfeitores da Misericórdia, no Cemitério do Alto de São João, promovidapela Santa Casada Misericórdiade Lisboa.
E por fim, uma visão menos comum sobre os nossos cemitérios, mostra-nosque nem só de ciprestes vivem os cemitérios de Lisboa.
Recordamos o convite feito na primeira edição deste boletim: contamos com as vossas sugestões e contribuições para transformar este espaço numverdadeiropontodeencontroepartilhadeconhecimento.
SARA GONÇALVES
Envie-nos as suas sugestões e contribuições para cemiterios@cm-lisboa.r.t
SIMBOLOGIA: ÁRVORE E COLUNA QUEBRADA
A árvore é utilizada como símbolo em diversas culturas e religiões.
Simboliza o carácter, a verticalidade, a liberdade e o livre arbítrio, surgindo com a denominação de Árvore do Vida e como Árvore do Conhecimento. Na Bíblia é mencionada ainda no Jardim do Éden, como a Árvore do Bem e do Mal.
Na simbologia tumular, a árvore pode estar associada à vida terrena, mos também à vida espiritual. Mais especificamente a Árvore do Vida, simboliza três elementos cósmicos: as raízes representam o submundo ou mundo subterrâneo, o tronco é associado ao mundo terreno e a copa ao mundo celestio1.
Nos cemitérios de Lisboa, temos várias esculturas de árvores truncadas ou quebradas que estão normalmente a adornar jazigos onde repousam jovens ou crianças, simbolizando assim uma interrupção no genealogia familiar, a morte de alguém que parte antes do seu tempo, antes de envelhecer, logo, antes do tempo natural para abandonar este mundo.
JP n. 0 2202 do Cemitério dos Prazeres
JP n. 0 1903 do Cemitério do Alto de São João
JP n.0 2202 do Cemitério dos Prazeres
A coluna é um dos elementos arquitectónicos mais utilizados nas construções desde a Antiguidade, é um pilar que suporta outros elementos.
Na iconografia fúnebre, encontramos várias colunas quebradas ou truncadas. O seu significado simbólico é a perda inesperada do pilar familiar que, no século XIX, está habitualmente associado ao pai, àquele que dá sustento à família.
A coluna quebrada, tal como a árvore truncada estão associadas a uma morte prematura.
Bibliografia
Stories in Stone por Douglas Keister; Dicionário dos Símbolos por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant; Dicionário dos Símbolos e Objectos Sagrados da Mulher por Barbára G. Walker; Símbolos Religiosos por Pablo Martín Ávila; Os Simbolo e o seu Significado por Jack Tresidder.
JP n.0 539 do Cemitério do Alto de São João
E. C.
MONUMENTOS SEPULCHRAES
EM REVISTA
Jazigo N. 0 257 - Cemitério de Benfica
Localizado no lado esquerdo da Rua n. 0 2 do Cemitério de Benfica. O jazigo particular n. 0 257 foi adquirido a 29 de setembro de 1952 pelo Dr. Francisco Xavier Bento da Silva Santos, pela quantia de 1.539$40, com o intuito de imortalizar a memória do seu pequeno filho (José António de Mascarenhas Xavier Santos) e de o tornar o panteão da família. Para a sua edificação foi contratado o «distinto arquiteto»1 Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962), inscrito na CML, com o n. 0 23, e o canteiro
Almeida, Irmão & Silva.
Norte Júnior, o «arquiteto do ecletismo>>2, como foi apelidado na época, nasceu em Lisboa, na freguesia de Santa Engrácia a 24 de dezembro de 1878, filho de um construtor civil, oriundo do Algarve. Frequentou inicialmente o Curso Geral do Desenho e formou-se em Arquitetura Civil, em 1896, na Academia de Belas-Artes.
Norte Júnior, Vida Artística, 23 Dezembro 1911.
Notas
1 CARVALHEIRA, Rosendo, "A Casa do Sr. Mário de Artagão", A Architectura Portugueza, Ano 1 - N.º2, 1908, p. 7.
2 CORREIA, João Pancada, "As Artes e os Ofícios na Obra de Norte )unior", FERNANDES, José Manuel (Coord.), Norte Júnior ou o Triunfo de Ecletismo, Lisboa, Caleidoscópio, 2021, p.341.
Em 1903, graças ao seu mérito, ganhou uma bolsa de estudo em arquitetura, concedida pelo legado Valmor que lhe permitiu rumar a Paris e ingressar na École des Beaux-Arts e no Atelier Pascal Amblart. Viajou por Espanha, França e Bélgica onde adquiriu uma certa «inspiração francesa» 3 que, mais tarde, vai aplicar nos seus trabalhos.
Quando regressa a Portugal vai trabalhar com os arquitetos Rosendo Carvalheira (1861-1919) e Adães Bermudes (1864-1948). Fundando na primeira década do século XX, em Lisboa, mais concretamente na Praça da Ilha do Faial, junto ao Jardim Cesário Verde, o seu próprio atelier. Recebeu como primeira encomenda aquela que viria a ser o seu primeiro Prémio Valmor, em 1905, a Casa-Atelier do pintor José Malhoa, atualmente, Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves.
Foram inúmeras as suas obras, tendo ficado conhecido como o arquiteto das Avenidas Novas, por ter projetado vários palacetes e moradias unifamiliares localizados nessas avenidas. Isto para além de riscar hotéis, arranjos de interiores para estabelecimentos comerciais, nomeadamente, em 1905, o café A Brasileira no Chiado e, em 1929, a pastelaria Versailles na Avenida da República. A sua obra não se cinge à capital, também a podemos encontrar em outros pontos do país, como na Curia e no Buçaco, no Estoril, na Parede e em Faro.
Praticamente quase toda a sua obra foi inserida numa gramática historicista e eclética que como «arquiteto decorador»4, procurou utilizar volumetrias cénicas, elementos escultóricos decorativos, ostensivos e orgânicos, inseridos num estilo neorromântico. Inicialmente voltado para a Arte Nova, com a utilização do ferro forjado, nas décadas de 30 e 40, apesar de manter o seu cunho pessoal, dedicou-se à Art Déco e mais tarde ao Modernismo, onde chegou a expressar o chamado "Português Suave" adotado pelo regime. Sumariamente podemos dizer que Norte Júnior foi um arquiteto distinto que foi galardoado com cinco Prémios Valmor e Municipais da Arquitetura nos anos: 1905, 1912, 1914, 1915, e 1927. Acrescem duas Menções Honrosas do Prémio Valmor em 1908 e 1912.
Notas
3 FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no séc. XX, vol. 11, Lisboa, Bertrand, 1966.
4 SILVA, Raquel Henriques da, ·usboa 1900 as AvenidasNovas e o Arquiteto Norte Júnior·, Colóquio Artes, nº 73 - 2ª série.
-ALÇACC PBJNCfPl>,.t. -
Desenho técnico do Jazigo
No 9ue diz respeito ao jazigo n. 0 257, este en9uadra-se na tipologia de um jazigo de capela. Foi erguido inicialmente num terreno com 2,13m2 de frente por 2,30m2 de frente-a-fundo, ocupando uma superfície de 4,899m 2 No ano seguinte, foi ampliado com mais 0,309m 2 de terreno, ficando deste modo com uma área total de 5,208m2 .
Na memória descritiva submetida à Câmara Municipal de Lisboa, carimbada com o visto e a assinatura do chefe da 3ª Repartição {Arquitetura} da Direção dos Serviços de Salubridade e Edificações Urbanas, em 12 de dezembro de 1952, é-nos dada informação técnica sobre a construção.
Foi construído «com pedra rija acinzentada da região de Porto de Mós» 5 , tendo o «aparelho de bojarda»6 sido fino exteriormente e brunida interiormente. A meio encontra-se uma porta de chapa de ferro com «0,004 de espessura» 7 , com uma cruz vazada e com «caixilho interior com vidro transparente.» 8
Este edifício fúnebre possui uma lotação para catorze corpos, sendo dez na parte superior e quatro no subterrâneo.
Na parede do fundo, foi colocado um pequeno altar da mesma cantaria e por cima deste uma abertura com caixilho de ferro forjado com «vidro 9 de catedral»
No que respeita à sua ornamentação, no tímpano a encimar a porta encontra-se em alto-relevo a cabeça e as asas de um anjo. Em ambos os lados da fachada existem duas cartelas com quatro túlipas esculpidas em estilo Art Déco.
No topo do frontão existe uma cruz em monobloco. Antes da cruz, neste mesmo frontão encontra-se um epitáfio gravado, onde é feita uma dedicatória à memória do filho:
DAI-NOS SENHOR
ETERNO DESCANSO SAUDOSA MEMÓRIA
JOSÉ ANTÓNIO DE MASCARENHAS XAVIER SANTOS
14-6 1950 8-2
E. R.
ECHOS DO PASSADO:
SAUDADES, ROXAS SAUDADES
Em 1868 era publicada a terceira edição do Diccionário da Linguagem das Flores: ornado com estampas coloridas 1. A popularidade deste tipo de manuais revela-se na quantidade de publicações desta natureza por toda a Europa, incluindo Portugal. Citando no prefácio a influência de obras francesas, o editor refere o sucesso das anteriores edições, acrescentando que a introdução de inovações nas ilustrações permitiu reduzir os custos do livro. Essas ilustrações, aguarelas coloridas de pequenos ramalhetes de flores, captam a atenção de quem folheia o livro; na estampa 9, antes da letra F, encontramos uma saudade, acompanhada da devida legenda. O seu significado vem páginas depois, dizendo simplesmente que «esta flôr é homonyma com a sua significação. A sua côr é a da viuvez»2. Curiosamente, esta espécie - de nome científico Scabiosa atropurpurea L. - tem como nome comum na língua inglesa mourningbride, que se traduz de forma literal por "noiva enlutada", numa clara referência à cor da flor que, apresentando uma gama variada de tonalidades de roxo - pode ser tão clara, que resulta numa flor quase branca, ou tão escura que quase se confunde com preto 3 - era uma das cores aceites para o período de luto aliviado .
Saudade, Diccionário da Linguagem das Flores, Biblioteca Nacional
Notas
1 Disponível no site da Biblioteca Nacional em https://purl.pt/13929.
2 Diccionário da Linguagem das Flores: ornado com estampas coloridas, Lisboa, Typographia Lusitana, 1868, p. 176.
3 MONTEIRO, Gisela; MESQUITA, Sandra, GONÇALVES, Sara, Flores de Pedra/ Flowers of Stone, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 2020, pp. 25-27. ,___ ____.....,__________________________
JP n. 0 188 do Cemitério do Alto de São João
A silhueta da ilustração é familiar para quem visita cemitérios portugueses por a ver repetida em obeliscos e frontões de jazigos. Muitas vezes acompanhadas de perpétuas ou ouroboros, ambos sublinhando a eternidade do sentimento, a flor saudade foi dos primeiros símbolos a ser incluído nos cemitérios de Lisboa.
Ouando Mendes LeaI Junior escreveu as suas meditações na colecção
Os Tumulos Portuguezes no Alto dos Prazeres, refere a presença de «emblemas da morte»4 gravados nos monumentos, entre os quais destaca a «saudade»5 . Esta colecção compila desenhos e textos sobre vinte e quatro monumentos do cemitério; em pelo menos quatro deles podemos encontrar referida a saudade: no desenho e na descrição da peça.
Por exemplo, sobre o jazigo particular n. 0 218, concessionado em 1840, diz-nos o autor que «o obelisco na frente tem duas saudades sobre 6 uma tabela» , desenhando-as com clareza e, caso dúvidas houvesse sobre a identidade da flor, os concessionários originais fizeram questão reforçar a mensagem com o epitáfio, dedicado ao filho que faleceu com menos de um ano «deixando eterna saudade a seus 7 , paes» E de notar que muitos dos monumentos funerários erigidos nos cemitérios de Lisboa que temos estudado foram construídos na sequência do falecimento de filhos.
Notas
Jazigo Particular N.0 218 in Os Tumu/os Portuguezes no Alto dos Prazeres
4 JUNIOR, Mendes Leal, Os Tumulos Portuguezes no Alto dos Prazeres, Lisboa, Typographia da Academia das Bellas Artes, 1845, p. 4.
5 Loc. cit.
6 Ibidem, p. 39.
7 Loc. cit.
Cemitério do Alto de São João
Saudades e Perpétuas, Cemitério dos Prazeres
Se observarmos com atenção objectos fúnebres recuperados de jazigos abandonados vamos encontrar saudades pintadas em vidro, bordadas ou feitas em tecido para decorar ofertas e recordações dos falecidos. Aliás, raros eram os funerais do século XIX e primeiro quartel do século XX em que, nas coroas de flores, não se incluíssem saudades. Sobre o féretro de Rafael Bordalo Pinheiro, o Visconde de Faro e Oliveira colocou uma coroa 8 composta de «violetas, saudades, lilases, e mimosas, fitas roxas» dedicando-a «ao seu querido amigo» 9 ; na véspera, também o casal de actores Palmira e António Bastos tinha enviado uma coroa «em porcelana, de saudades, pretas, brancas e roxas, com fitas roxas, franjadas a 10 ouro»
Saudades pintadas no vidro de um retrato
Notas
8 Diário //lustrado, N.0 11457, 25 de Janeiro de 1905.
9 Loc. cit.
10 Diário !Ilustrado, N.0 11456, 24 de Janeiro de 1905.
As saudades eram conhecidas, populares e usadas nos mais diversos objectos de decoração, incluindo fora dos cemitérios. Como exemplo, vale a pena recordar alguns trabalhos do arquitecto Raul Lino, uma vez que a saudade é «tão constante na [sua] obra»11. Veja-se a capa da edição de 1915 do livro Poesias Sobre Scenas Infantis de Schumann de Afonso Lopes Vieira, apresenta um vaso com três bonitas saudades ou um postal ilustrado com uma cascata de saudades que serve de ilustração à citação de uma frase de D. Francisco Manoel de Mello, definindo saudade como «um mal de que se gosta e um bem de que se 12 padece» . Merecedor de destaque é o serviço de loiça Saudade, desenhado por Raul Lino e proposto à Vista Alegre em 1924, executado depois pela Fábrica Viúva Lamego, em que Lino descreve a saudade que compõe o padrão como «uma pequenina flor - «forma semelhante à da • 1 t 13 VIO e a»»
Terrina do serviço Saudade in Natureza e Tradição Raul Lino nas Artes Decorativas de Maria do Carmo Lino
Notas
11 LINO, Maria do Carmo, Natureza e Tradição Raul Lino nas Artes Decorativas, Lisboa, Scribe, 2014, p. 95.
12 Ibidem, p. 114.
13 Ibidem, p. 95. ---------------------------------------
Podemos ainda observar que, nas revistas em circulação no princípio do século XX, se publicavam poemas que referiam o sentimento e a flor, a sua cor, o seu significado:
«É roxa a sua côr?... Triste!... Discreta!...
É uma divina e espiritual Violeta
Oue na murcha na haste ressequida! » 14 escrevia Esmeralda de Santiago no seu poema Saudade.
Apesar da sua demonstrada popularidade, sendo uma flor associada à morte e aos cemitérios, a redução da importância dos rituais fúnebres na segunda metade do século XX, poderá estar na origem do seu esquecimento. Mas ainda é possível encontrar saudades nos campos, pequeninas e roxas, perdidas entre arbustos e outras flores silvestres.
Cabe-nos a nós, agora, resgatá-las do esquecimento e voltar a usar o seu nome: saudade.
Cemitério dos Prazeres
G. M.
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O MISTERIOSO JAZIGO DE CARVALHO MONTEIRO
Gisela Monteiro
A 26 de Novembro de 1893, no jornal Commercio de Portugal numa curta nota na segunda página {entre a referência ao chumbo do orçamento de 1894 para a Câmara Municipal do Porto e informação da publicação, em Inglaterra, de um livro sobre Portugal), dava-se conta da aquisição da «esplendida quinta Torre da Rega/eira em Cintra»1 pelo «ilustre amigo» 2 António Augusto Carvalho Monteiro {18481920}.
Carvalho Monteiro por Francisco Valença. Varões Assinalados, Julho 1910.
Filho de Francisco Augusto Mendes Monteiro {1816-1890} e Ana Thereza Carolina de Carvalho (1816-1871}, António Augusto Carvalho Monteiro herdou de seu pai a alcunha de Monteiro dos Milhões ao herdar também a sua fortuna. Nascido no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, veio para Portugal estudar, tendo frequentado a universidade em Coimbra, onde se licenciou em Direito. Em 1873 casou com Perpétua Augusta Pereira de Mello {18521913). Ávido coleccionador de Arte, de espécimes de Ciências Naturais {insectos, conchas} e de Camoniana, herdou do pai o Palácio Ouintela na Rua do Alecrim e o jazigo da família no Cemitério dos Prazeres. Em 1895, começa a renovação e transformação da quinta Torre da Regaleira, com a contratação do arquitecto paisagista francês Henri Lusseau {1854-1931), cuja proposta não agradou a Carvalho Monteiro. Foi o cenógrafo e arquitecto italiano Luigi Manini {1848-1936} quem, a partir de 1898, desenhou a Ouinta da Regaleira como hoje a conhecemos 3 . Entre as novas construções da
quinta, encontra-se uma capela, cujas obras terminaram em 1907, o mesmo ano em que Carvalho Monteiro iniciou o processo de remodelação do jazigo de família.
O actual jazigo particular da família Carvalho Monteiro encontra-se implantado em lugar de destaque, próximo da entrada da capela do cemitério, do lado esquerdo
Construído em lioz branco, como a maioria dos jazigos de Lisboa, é original na ornamentação, no formato, na orientação. A sua fachada, imponente e densamente ornamentada, apresenta vários elementos de simbologia da Morte, como tochas invertidas ou a faixa de cápsulas de papoila-dormideira que, dispostas em conjuntos de três - talvez invocando a Santíssima Trindade, como acontece frequentemente nos cemitérios -, envolvem toda a construção. Duas figuras femininas ladeiam a entrada do jazigo, a da direita segurando uma cruz e a da esquerda, um cálice 4 .
Notas
4 Estas figuras femininas são alegorias. Como atributo, a cruz da figura da direitapermite identificála como uma alegoria da Fé. Habitualmente, no contexto cemiterial, é muito comum encontrar a representação das três virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade. A âncora é o atributo da Esperança e a Caridade surge comummente acompanhada de crianças ou com um coração -flamejante. Alguns autores defendem que o cálice pode também ser um atributo da Caridade, pelo que podemos identificar a figura da esquerda como tal, mas com algum grau de cautela. ,---' -------------
No centro, uma porta de bronze, estreita, com uma pesada albarda e onde, no topo de uma ampulheta - materializando a locução latina Tempus Fugit -, está pousada a céllebre borboleta Acherontia atropos, reconhecível pela caveira que lhe marca o dorso, propondo uma interpretação da Morte como «passagem para outro estado, qual metamorfose»5 ; e, claro, recordando-nos da pa1xao de Carvalho Monteiro pelas Ciências Naturais. Por cima da porta, num véu estendido, podemos ler em letras de bronze FAMÍLIA CARVALHO MONTEIRO.
Contornando o jazigo, encontramos no tardoz uma entrada directa para a cripta, onde estão colocados os caixões em prateleiras de pedra. Para além de papoilas-dormideiras, que continuam o motivo da fachada principal, encontramos duas corujas, símbolos de sabedoria, mas também da noite e, consequentemente, da Morte. Sobre a porta, entre pequenas flores, uma caveira de olhos vazios fita o visitante, pousada sobre dois fémures cruzados, recordando novamente a efemeridade da vida e a esperança na ressurreição dos mortos.
Notas
5 CARITA, Helder; ALVES, João Cruz {Coord.), op. cit., p. 220. ,--- -----------------------
As escadas de acesso estão protegidas por um gradeamento decorado com elementos religiosos: querubins, invocando o Paraíso; espigas de trigo e cachos de uvas, simbolizando o pão e o vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo, ou seja, a Sagrada Eucaristia; e corações flamejantes, o Sagrado Coração de Jesus. No topo do jazigo, sobre um baldaquino que abriga uma arca funerária de pedra, encontramos um anjo.
Considerando toda a riqueza ornamental e simbólica do jazigo, não surpreende que o arquitecto responsável pela obra tenha sido também Manini, atestado pela gravação da sua assinatura do lado esquerdo. Oposta a esta, está gravado o nome do construtor, José d'Almeida Rodrigues.
Como referido, sabemos que este jazigo é uma remodelação do jazigo de família, concessionado ao pai de Carvalho Monteiro, em 1863. Afinal, o que aconteceu ao jazigo herdado por Carvalho Monteiro e como surgiu este novo jazigo?
Para tentar responder a estas -e outras - questões começámos por analisar a informação existenteno cemitério. No Livro de Jazigos N. 0 6 do Cemitério dos Prazeres, confirmámos que a concessão original foi em Outubro de 1863, a Francisco Mendes Monteiro, tendo passado para o filho, AntónioAugusto Carvalho Monteiro, em Janeiro de 1892. Ao analisar o macroprocesso 6 deste jazigo, preservado no Arquivo Municipal da Câmara Municipal de Lisboa, era nossa expectativa encontrar o requerimento inicial de concessão: infelizmente, as primeiras folhas são de 1871 e correspondem a um requerimento de Mendes Monteiro, pedindo licença para mandar gravar o epitáfio da esposa, no jazigo, acompanhado do respectivo texto.
Notas
6 Os macroprocessos de jazigos particulares que se encontram no Arquivo Municipal de Lisboa são compilações de processos relativos a determinada construção. ,____________________
Seguem-se re9uerimentos de 1908, já de Carvalho Monteiro, pedindo 9ue lhe seja concessionada uma parcela adicional de terreno na envolvência do seu jazigo, assim como autorização para a transferência de propriedade do jazigo particular n. 0 1442 {adjacente ao seu), informando ter já o acordo do proprietário, a família Ennes. Carvalho Monteiro propôs-se a trocar o jazigo particular n. 0 1442 por um novo jazigo e a CML considerou 9ue «substituir-se um jazigo subterrâneo por outro de capella» 7 os direitos dos concessionários ficavam «valorizados, visto o novo jazigo ser de capella» 8 . Ambos os pedidos foram aprovados.
Carvalho Monteiro mandou assim construir um novo jazigo particular para a família Ennes, em 1908, ao 9ue se seguiram as trasladações necessárias e o jazigo 1442 foi agregado ao jazigo 1382 e à parcela adicional de terreno ad9uirida, criando o jazigo particular 1382/1442 9 A forma do lote em 9ue foi construído o jazigo é curiosa; ousamos mesmo dizer 9ue é única - pelo menos nos cemitérios de Lisboa -, sendo constituída por «dois triângulosisósceles [ou seja, com dois lados iguais] de base comum» 10 .
9 Ainda que nem sempre tenha sido utilizada esta forma de numerar novos jazigos construídos em lotes correspondentes a concessões anteriores, a concatenação dos números dos jazigos que ocupavam anteriormente o lote permite uma rastreabilidade mais rápida do histórico.
10 GANDRA, Manuel J., A. A. Carvalho Monteiro: Imaginário e Legado, Instituto Mukharajj Brasilian ,___ & Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica - Cesdies, Rio de Janeiro-Mafra, 2014J >, 243 _______
Na documentação segue-se um ofício do construtor José d'Almeida Rodrigues, datado de Novembro de 1911, relativo à demolição dos jazigos 1382 e 1442. O Regulamento dos Cemitérios de 1887, em vigor à época, estipula que o período entre a concessão de um terreno e o início da obra não pode ser superior ao prazo de um ano; mas, neste caso, o construtor justifica o atraso da obra clarificando tratar-se de uma obra de «transformação»11, e não de uma nova construção, uma vez que «se aproveita o [jazigo] actual»12
Na restante documentação, encontrámos um requerimento do construtor, pedindo autorização para gravar três epitáfios no jazigo, anexando os textos a serem aprovados, datado de 1914. O texto relativo à mãe de Carvalho Monteiro é o mesmo que Mendes Monteiro tinha submetido em 1871 e o epitáfio dedicado ao pai é escrito de forma muito semelhante ao epitáfio da mãe. Talvez seja possível que Mendes Monteiro tenha escrito o seu próprio epitáfio, deixando expressa a vontade de o ver gravado no jazigo da família.
Se voltarmos à Ouinta da Regaleira, percebemos que os trabalhos de construção foram concluídos em 1910, ainda que «prossigam arranjos ornamentais no interior da mansão»13. Podemos especular que Carvalho Monteiro quis terminar a Casa da Vida antes de começar a obra da Casa da Morte e que foi esse o motivo do hiato entre a aquisição dos terrenos e o início das obras. Terá o jazigo sido a última obra por ser a última morada? Talvez se encontre uma carta ou uma nota, escrita pelo próprio, que nos elucide sobre este tema.
O processo de construção do jazigo foi moroso e complexo e obrigou à compra de diversos jazigos e trasladações sucessivas para poder avançar com a construção do novo monumento. Carvalho Monteiro necessitou de quatro jazigos e terreno adicional: herdou o jazigo particular n.0 1382, comprou o jazigo particular n.0 1442, vizinho ao seu, com o objectivo de demolição, mandou construir o jazigo particular n.0 5065 para a família Ennes e comprou o jazigo particular n.0 4891 para a sua família, assegurando um local privado para depósito dos restos mortais, enquanto se faziam as obras do novo jazigo.
Um dos pontos que continua por esclarecer é o aspecto do jazigo original. Apesar de, a partir de 1850 ser obrigatório entregar o desenho do jazigo, para aprovação, juntamente com o requerimento de concessão do terreno14, a ausência de documentação anterior a 1871 deixou-nos sem esses elementos. Podemos, no entanto, procurar a imagem do jazigo noutros locais. Considerando que o jazigo ficava muito perto da capela,
Notas
11 Folha 14, Macroprocesso 8164/2ºPRA, Arquivo Municipal de Lisboa.
12 Loc. cit.
13 GANDRA, op. cit., p. 46.
14 MONTEIRO, MONTEIRO, Gisela, Civitas Mortuorum: Mimése Artistica da Arquitectura da Cidade na Arquitectura do Cemitério, FCSH, Dissertação de Mestrado, 2024, p. 30.
que esteve erigido até 1911 e que as fotografias dos funerais publicadas em jornais são, normalmente na rua principal do cemitério, considerámos que podia, eventualmente, existir alguma fotografia que incluísse o jazigo original. No Arquivo Municipal, entre muitas fotografias de funerais, encontrámos uma fotografia sem data, mas que corresponde ao local onde se encontra o jazigo particular da família Carvalho Monteiro.
Surpreendentemente, o que descobrimos na imagem não é mais do que o baldaquino do topo do jazigo, sem a presença do anjo. Comparando lado-a-lado, conseguimos ver que são a mesma peça e que, de facto,
Imagem cedida pelo Arquivo Municipal de Lisboa
houve o preocupação de «aproveito[r] o [jazigo] octual»1s. Conseguimos também ver que existe uma diferenço no topo do boldoquino: o cruz latino presente no fotografia foi substituído por um anjo de pedra, de espada em riste, asas abertas e um por de chaves no mão e que poderá ser uma representação do Anjo do Morte: arcanjo que, com o sua espada flamejante, guarda o entrado do Paraíso.
Esquema por Maria da Gandra
A ideia de incluir antiga estrutura nesta nova construção, não só não destruindo, mas elevando o jazigo do pai, colocando-o naquele que é considerado o plano «celestial» 16, pode ser interpretado como uma
Notas
15 Folho 14, Macroprocesso 8/64/2°PRA, Arquivo Municipal de Lisboa.
16 GANDRA, op. cit., p. 245.
homenagem de Carvalho Monteiro aos seus pais e irmão 17 Nesta homenagem, são eles quem fica mais próximo do Paraíso, separados apenas pelo anjo que o guarda e em cuja mão segura as chaves que permitem a entrada.
Este é, sem dúvida, o mais interessante resultado da nossa investigação.
António Augusto Carvalho Monteiro morreu em 24 de Outubro de 1920, na Mansão da Quinta da Regaleira. Na revista /Ilustração Portuguesa encontramos alguns detalhes sobre o funeral. Foi alugado um comboio que, saído da Estação do Rossio, conduziu até Sintra quem queria velar Carvalho Monteiro e, depois, trouxe a procissão funerária para Lisboa. Curiosamente, quando Carvalho Monteiro chegou ao Cemitério dos Prazeres, não foi inumado no jazigo particular que concebeu, tendo ficado no outro jazigo particular da família, até à trasladação de todos os restos mortais em 1922. Porquê? Este é outro dos mistérios do jazigo da família Carvalho Monteiro, um que - para já - fica por desvendar.
11/ustracao Portuguesa, N. 0 768
Hemeroteca Municipal
Notas 1nvestigação por Gisela Monteiro e Sara Gonçalves.
17 No Livro de Jazigos N. 0 6, junto da inumação de Francisco Carvalho Monteiro, está a nota: «foi colocada [a ossada] na urna de pedra d'estejazigo», o que leva a concluir que esta se encontra na arca do topo do jazigo, quefazia partedo jazigo original.
PEDRAS E OBRAS
OBRAS DE RECUPERAÇÃO DO MAUSOLÉU DOS
BENFEITORES DA MISERICÓRDIA DE LISBOA
O Jazigo dos Benfeitores da Santa Casa da Misericórdia, implantado em lugar de destaque à entrada do Cemitério do Alto de São João, foi projectado pelo arquitecto Adães Bermudes (1864-1948) em estilo neomanuelino e construido entre 1906 e 1909, encontrando-se inserido no Núcleo Histórico do Cemitério do Alto de São João em «vias de classificação»1 como Conjunto de Interesse Público (CIP) conforme anúncio n.013/2016, Diário da Republica, 2.ª série - n.0 12 - 19.01.2016.
Possui planta em cruz, com escadaria de acesso ao portal decorado com baixo-relevo representando Nossa Senhora da Misericórdia.
As fachadas em cantaria, profusamente decoradas com motivos vegetalistas (flores e folhagens), esferas armilares, cordas, cruzes, figuras com formas de animais, medalhões, efígies e anjos, são rematadas por pináculos vazados e rendilhados e coruchéu piramidal coroado com cruz.
Interiormente, estrutura-se em capela, ao nível do piso térreo, e cripta, abaixo do nível do solo, onde se encontram as urnas colocadas em prateleiras de pedra.
Notas
l Diário da Republica, 2." série -n.0 12, 19 de Janeiro de 2016. ---------------------------
Parte superior do portal (depois da intervenção)
Com algumas intervenções pontuais desde a sua construção, o monumento necessitava de recuperação e limpeza generalizada no início de 2000.
Tendo sido construído com calcários de diversas pedreiras e de qualidades distintas, incluindo a chamada pedra de Ançã da região de Coimbra, de conhecida fragilidade mineralógico-estrutural, já existiam relatos em 1964 de várias «estarem a desfazer-se pela ação das chuvas»2
Elementos escultóricos apresentando proliferação de algas e fungos
Notas
2 "Mausoléu de Benfeitores da Misericórdia de Lisboa / Jazigo da Misericórdia de Lisboa" in http://www.monumentos.gov.e.!JSite/
Interior da capela
As cantarias apresentavam sujidade {algas, fungos, dejetos de pombos), fraturas devido a corrosão de espigões interiores em ferro, e desagregação, desgastes e laminação nas pedras mais frágeis.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa {SCML) preparou, com o apoio do antigo Instituto Português do Património Arquitectónico {IPPAR), uma empreitada de restauro do monumento. As obras {em 2005 e 2020) foram executadas pelas empresas MONUMENTA - Reabilitação do Edificado e Conservação do Património e IN SITU - Conservação de Bens Culturais.
Elementos escultóricos apresentando fracturas e desagregação
Nestas duas importantes intervenções todo o monumento foi limpo pelo exterior, utilizando biocidas, detergentes suaves, jactos de água e jacto de micro-silica pontual em crostas negras resistentes.
Os elementos de cantaria fissurados foram refeitos e colados com argamassa à base de resinas epoxídicas substituindo-se os elementos de ligação em ferro oxidados por peças de aço inox. As juntas, fendas e fissuras foram limpas, estucadas e consolidadas.
Foi feito um trabalho importante de consolidação superficial dos calcários mais frágeis e em desagregação sobretudo na escadaria, utilizando um produto especifico {TEGOVAKON da BIU) que vai permitir estabilizar o fenómeno da erosão.
Antes
Depois
Antes Depois
Os sistemas de recolha e drenagem de águas pluviais constituídos por terraços que canalizam a água para 10 gárgulas e 4 goteiras, foram limpos de plantas, materiais terrosos, ninhos e dejetos de aves que os obstruíam e os terraços impermeabilizados com um sistema elástico continuo {SIKAGARD-570W da SIKA).
A porta em ferro, decorada com elementos geométricos circulares, flores-de-lis e uma cruz, foi decapada e metalizada em oficina, assim como os gradeamentos, e pintados a esmalte forja tipo Cinofer de cor cinza.
Ao mesmo tempo, os vitrais no interior foram limpos e reparados {colmatação de juntas desguarnecidas), assim como as cantarias e alvenarias com correcção de salitres e infiltrações.
Pormenor dos vitrais de Cláudio Martins
Para finalizar todo o monumento foi pulverizado com um hidrofugante {Aguasil da BIU) para protecção contra infiltrações, eflorescências e a deterioração por poluentes solúveis em água, bem como contra danos causados pelo gelo e por microrganismos.
O pavimento, em calçada à portuguesa, integrando as inscrições: "Misericórdia de Lisboa" e "Jazigo dos Benfeitores" foi apenas limpo visto que se encontrava em perfeitas condições.
O monumento foi assim, temporariamente, restituído à sua antiga glória.
Os métodos e os produtos utilizados vão retardar os processos de erosão e degradação que são contínuos, inevitáveis e mais acentuados nas cidades onde os níveis de poluição são mais elevados.
Periodicamente {o Regulamentos dos Cemitérios obriga a mínimo de 10 anos) todos os jazigos construídos nos Cemitérios Municipais de Lisboa terão de ser objecto de limpeza e recuperação {a não ser que estejam em perfeitas condições, como acontece frequentemente em construções de mármore polido ou granito).
No caso de obras-primas da arte cemiterial portuguesa de elevada qualidade arquitetónica e artística, de que são exemplos no Cemitério do Alto de S. João este jazigo dos Benfeitores da SCML ou o Jazigo dos Viscondes de Valmor e no Cemitério dos Prazeres o jazigo de Carvalho Monteiro, essas manutenções são fundamentais e deverão ser sempre executadas por empresas credenciadas, como foi o caso desta recuperação, para que se possa manter em bom estado património tão relevante.
V.C.
Bibliografia
"Relatório Final de Obra", MONUMENTA, Julho 2005.
"Trabalhos de Conservação e Beneficiação do Mausoléu dos Benfeitoresda Santa Casa da Misericórdia de LisboaDiagnóstico do Estado de Conservação de Terraços e Estruturas Hidráulicas Superiores·, IN SITU, Junho de 2020.
"Mausoléu dos Benfeitores da Misericórdia de Lisboa Foi Restaurado", in https://scml.pt/media/noticias/mausoleudos-benfeitores-da-misericordia-de-lisboa-foi-restaurado/ consultado em 19 de Novembro de 2024.
"Mausoléu de Benfeitores da Misericórdia de Lisboa / Jazigo da Misericórdia de Lisboa· in http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=35396 consultado em 15 de Novembro de 2024.
O Occidente, N.0 961, 10 setembro de 1905.
SILVA, André Martins da, ·o Património Cemiterial da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa", LEMOS, Fernando Andrade; SILVA, José António (Dir.), Cadernos Culturais - L1,1miar - Olivais - Telheiras, Lisboa, Centro Cultural Eça de Queiroz, 2016.
NEM SÓ CIPRESTES VIVEM LISBOA
CEMITÉRIOS DE NOS
Jorge da Rosa Neves
Os Ciprestes, pelo porte e expressão dominante no arvoredo dos Cemitérios de Lisboa, assumem um carácter identitário e indissociável da sua silhueta, tornando-os parte integrante da paisagem da cidade.
Portadores de protagonismo em contexto de botânica cemiterial, pela copa em forma de vela apontada ao céu, cor e aroma perfumado, os Ciprestes dos Cemitérios de Lisboa, constituem pela sua localização, porte e subespécies presentes, testemunhos da sua construção, expansão e gestão.
Entre os Ciprestes-comuns (Cupressus sempervirens L.) domina em todos os cemitérios a forma sempervirens, seguindo-se a forma horizontalis, distinta da anterior pela horizontalidade dos seus ramos (Fig. 01 e Fig. 02).
Recentemente, de forma progressiva, e em todos os Cemitérios, foram introduzidas as variedades "Stricta" e "Bolgheri". No primeiro caso, por desenvolver uma copa de diâmetro inferior, facilitando assim a circulação de viaturas nos arruamentos, e no segundo caso, pela resistência à doença conhecida por Cancro Cortical dos Ciprestes, provocada pelo fungo Seiridium cardinale, que tem vindo a dizimar as formas inicialmente plantadas. Do género Cupressus, podemos ainda encontrar em vários cemitérios o Cedro-do-Buçaco (Cupressus lusitanica) que quase se confunde com a silhueta da forma horizontalis do Cipreste (Cupressus sempervirens).
Fig. 01 - Expressão paisagística dos Ciprestes no Cemitério dos Prazeres.
Fig. 02 - Expressão paisagística dos Ciprestes no Cemitério do Lumiar.
Mas nem só Ciprestes vivem nos Cemitérios de Lisboa, bem pelo contrário. Pelo elenco botânico que encerram, com mais de quarenta espécies de árvores (no qual se incluem algumas variedades), mais de meia centena de espécies arbustivas, a que se juntam ainda algumas espécies de palmeiras, Palmeira-das-Canárias (Phoenix canarienis), Palmeira-da-Califórnia { Washingfonia fi/ifera), de suculentas e de xerófitas, entre muitas herbáceas vivazes, os Cemitérios de Lisboa constituem-se como uma segunda linha de "jardins botânicos" que, pela sua expressão territorial e localização, constituem elos de amarração, de continuidade e de reforço da Estrutura Verde da Cidade. Neste contexto, merece referência a proximidade do Cemitério dos Olivais à Ouinta Pedagógica dos Olivais, do Cemitério do Lumiar ao Parque Botânico do Monteiro-Mor, do Cemitério dos Prazeres à Tapada das Necessidades, do Cemitério da Ajuda entre o Jardim Botânico da Ajuda e o Parque dos Moinhos de Santana, ou do Cemitério de Benfica ao Parque Urbano da Ouinta da Granja.
Entre as arvores, e a par dos Ciprestes, merecem referência as espécies exóticas, não pela dominância, mas pela continuidade que permite estabelecer com os jardins de Lisboa, onde o carácter universalista dos seus elencos botânicos, constitui uma tradição enraizada, fomentada pelo gosto pelo colecionismo e pelo exótico que acompanhou a segunda metade do Século XIX, e que em Lisboa encontrava a luz e o clima ameno apropriado à adaptação de espécies de outros contextos geográficos.
Estas espec1es, olhadas com "desconfiança" pela botânica cemiterial, face à exuberância das suas formas, cores de folhagem e de floração e aromas, aumentam significativamente o património botânico e a biodiversidade vegetal e animal dos Cemitérios de Lisboa. Entre estas espécies, merecem destaque, pela exuberância da sua floração, algumas oriundas da América do Sul. Entre estas, o Jacarandá (Jacaranda mimosifolia) que, embora presente na maior parte dos cemitérios, assume maior protagonismo nos cemitérios do Alto de S. João e dos Prazeres. Igual protagonismo poderá ser atribuído à Tipuana { Tipuana tipu) no Cemitério do Alto de São João ou à Paineira {Ceiba speciosa, syn Corizia speciosa) no Cemitério da Ajuda. Esta última, e a Árvore-daborracha (Ficus elastica), originária da Ásia, do Cemitério dos Olivais, merecem igualmente destaque pela dimensão das copas e desenvolvimento dos seus sistemas radiculares. No outono, a mudança da cor das folhas que antecede a sua queda em algumas espécies caducifólias, recomenda igualmente uma visita aos Cemitérios de Lisboa. Entre estas, destacam-se os plátanos presentes nos cemitériosde Carnide e do Lumiar, as tílias nos cemitérios da Ajuda, dos Prazeres e do Lumiar, os choupos e os freixos no Cemitério do Alto de S. João e os aceres (Acer pseudoplatanus, Acer negundo) no cemitério de Carnide, ou ainda o Castanheiro (Castanea sativa) no Cemitério do Lumiar (Fig. 03), entre outras.
Fig. 03 - Cemitério do Lumiar, Secção 4. Composição com várias espécies perenifolias e caducifólias. Em primeiro plano, Castanheiro (Castanea sativa) e Plátano-americano (PIatanus occidentalis). Em segundo plano e ao longo dos arruamentos, Ciprestes (Cupressus sempervirens f. sempervirens e Cupressus sempervirens "Stricta")
Os arbustos trepadores, vulgarmente conhecidos como trepadeiras, estão igualmente presentes nos Cemitérios de Lisboa. A Hera (Hedera helix) domina entre as demais espécies, emprestando o seu verde-escuro ao enquadramento de muitos jazigos (Fig. OS) e muros e ao revestimento de alguns troncos de árvores. As roseiras {Rosa sempervirens) ocorrem ainda com frequência, assim com a Tecomaria { Tecoma capensis), conferindo pequenos apontamentos de cor entre o verde dominante, e discreto.
Fig. 04 - Cemitério da Ajuda, Cendrário. Em primeiro plano, sebe topiada. Em segundo plano, Espinheiro-da-Virgínia ( Gleditsia triacanthos) e em terceiro plano Ciprestes ( Cupressus sempervirens f. sempervirens).
Fig. 05 - Cemitério dos Prazeres. Floreiras de jazigos com Hera (Hedera helix), à esquerda, e com CactoAloé (Aloe Brevifolia).
Com igual interesse botânico, e merecedoras da atenção dos colecionadores, podemos encontrar uma infinidade de espec1es suculentas de pequeno porte que pontuam canteiros, floreiras e vasos na proximidade de alguns edifícios, como nos cemitérios do Lumiar e dos Olivais, ou carinhosamente utilizados no adorno de alguns jazigos (Fig. 05). Espécies de maior porte, como os aloés originários da África do Sul, Aloe maculata (syn. Aloe saponaria), Aloe brevifo/ia ( Cacto-Aloé) e Aloe arborescens (Candelabro) ou as agaves da América Central, Agave attenuata (Agave Dragão) e Agave americana "Variegata" (Piteira), enriquecem igualmente o elenco botânico de alguns cemitérios, em particular, do Cemitério da Ajuda (Fig. 06).
Visite, com tempo, e ao longo das quatro estações, Os Cemitérios(-Jardins) de Lisboa.
Fig. 06 - Composição com Suculentas. Cemitério da Ajuda.
JAZIGO DE RAFAEL BORDALO PINHEIRO EM PUBLICAÇÕES ACADÉMICAS
Uma das investigações que realizámos e que faz já parte de algumas das nossas visitas no Cemitério dos Prazeres, prende-se com o jazigo particular n.04099.
Construído em 1895 para os Viscondes de Faro e Oliveira pelo canteiro Miguel Jeronymo dos Prazeres, o desenho do jazigo foi encomendado ao artista Rafael Bordalo Pinheiro, amigo de longa data da família. A aguarela original pode ser encontrada na colec�ão online doMuseu Bordalo Pinheiro.
A nossa investigação, que inclusivamente permitiu datar a aguarela, resultou em dois artigos que foram publicados em Novembro de 2023 e em Maio de 2024.
A versão em português foi incluída no volume das actas do colóquio ln Memoriam: Passado, presente e futuro dos cemitérios como espaços de memória, organizada pela Santa Casa da Misericórdia de Braga, coordenado pelo Prof. Francisco Oueiroz. Para quem quiser ler o artigo em digital P-ode seguir esta ligação.
Publicação do volume 39 da revista especializada norte-americana Markers
Uma versão em inglês, adaptada para um publico não-português, foi publicada no volume 39 da revista especializada norte-americana Markers, editada pela Prof.ª Elisabeth Roark, da Chatham University e publicada pela Association of Gravestone Studies.
Este é uma das formas que temos de divulgar o nosso património cemiterial, fazendo-o chegar além-fronteiras.
HISTÓRIA E HISTÓRIAS DOS CEMITÉRIOS DE LISBOA
No dia 21 de Maio de 2024, estivemos na Unisseixal - Universidade Sénior do Seixal, na disciplina Os Cantinhos da História, leccionada pela Dr.ª Margarida Vale, onde falámos sobre a história dos cemitérios em Portugal e revelámos algumas das mais curiosas histórias dos cemitérios de Lisboa, emespecial, doCemitériodos Prazeres.
Fundada em 2007, a Universidade Sénior do Seixal pertence à rede de Universidades Séniores e foi classificada como Universidade de Excelência; conta, nestemomento, commaisde1.000alunos.
Fomos recebidos com curiosidade e entusiasmo e deixámos o convite para uma visita de estudo no Cemitério dos Prazeres ou no Cemitério do Altode São Joãonopróximo anolectivo.
Fotografias de Margarida Vale
SESSÃO DE TRABALHO COM REDE DE BIBLIOTECAS DE LISBOA
A Divisão de Gestão Cemiterial tem desenvolvido vários projectos com a Rede de Bibliotecas de Lisboa, em especial com a Hemeroteca Municipal. Com o objectivo de dar continuidade a esses trabalhos e desenvolver novas sinergias, no dia 5 de Junho de 2024 foi realizado um workshop com representantes de várias das bibliotecas municipais, incluindo uma visita guiada no Cemitério do Alto de São João.
Fotografias de Vanessa Batista
Continuamos a procurar pontos de contacto e projectos comuns, sendo que nesta sessão surgiu a ideia de realizar uma sessão do Clube de Leitura da Biblioteca da Penha de França no Cemitério do Alto de São João, no âmbito da 3° Semana Cultural nos Cemitérios. Teremos, certamente, novos projectos no futuro.
PARTICIPAÇÃO NO 4 ° ENCONTRO MEMÓRIA PARA TODOS
Em parceria, a Hemeroteca Municipal e a Divisão de Gestão Cemiterial enviaram uma proposta de apresentação para o 4° Encontro Memória para Todos: Memórias para a Sustentabilidade, Territórios e Comunidades, organizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que ocorreu nos dias 20 e 21 de Junho de 2024 no Colégio Almada Negreiros.
A proposta enviada, Perpetuando a Memória: da escrita à eternidade, teve como objectivo apresentar o projecto conjunto Falar de Abril no Alto de São João, uma visita que foi elaborada no contexto da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril de 1974.
Este projecto visou a criação de um percurso no Cemitério do Alto de São João, abordando várias figuras importantes no período da Revolução e algumas das suas condicionantes. A visita foi concebida para ser enriquecida com a apresentação de capas, fotografias e artigos de diversos periódicos, assim como a disponibilização de links para acesso a outros conteúdos relevantes.
A proposta foi aceite e apresentada no encontro por Vanessa Batista e Gisela Monteiro, permitindo - através deste caso - demonstrar a importância da imprensa e do seu estudo para a construção e preservação da memória e a forma como os cemitérios são, também, espaços de memórias, pessoais e coletivas, que permanecem ao longo do tempo, cristalizadas em pedra.
Fotografia FCSH
BOAS PRÁTICAS DE SAÚDE, HIGIENE E SEGURANÇA: COVEIROS
No dia 23 de Maio de 2024, nos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa, decorreu a conferência internacional Ergonomics
Profession in Europ_e: Sharing Best Practices.
A Câmara Municipal de Lisboa, através do Departamento de Saúde, Higiene e Segurança da Direção Municipal de Recursos Humanos apresentou um conjunto de boas práticas, incluindo - como estudo de caso -o grupo dos Coveiros. Na apresentação, foi ilustrada a forma como o investimento numa solução mecanizada inovadora para movimentação de urnas no interior de jazigos contribuiu para reduzir os efeitos físicos nos trabalhadores, revelando-se um sucesso neste contexto.
Este equipamento é um protótipo desenvolvido em conjunto com a empresa TAGUSVALLEY constituído por uma estrutura metálica, guincho e cintas para movimentação de urnas metálicas em jazigos, podendo ser utilizada na capela e no subterrâneo.
Existem dois equipamentos, um no Cemitério dos Prazeres e outro no Cemitério do Alto de São João - cemitérios com 90% dos cerca de 15.000 jazigos particulares existentes nos sete cemitérios de Lisboa - podendo ser deslocado a qualquer um dos outros cemitérios, sempre que necessário.
No dia 4 de Julho de 2024 decorreu na capela do Cemitério dos Prazeres uma sessão de Arqueologia no Bairro, promovida pelo Centro de Arqueologia de Lisboa (CAL).
Conduzida pelo Prof. Rodrigo Banha da Silva, a sessão Prazeres: de vil/a romana a cemitério permitiu descobrir o passado romano da zona onde se encontra implantado o Cemitério dos Prazeres.
Contando com o auditório cheio e começando por uma apresentação dos objectos encontrados, de maneira fortuita, neste cemitério em 1996 e o seu contexto histórico-arqueológico, foi depois feita uma deslocação ao local onde estes foram encontrados.
Esta actividade fez parte da iniciativa Arqueologia no Bairro, sessões promovidas pelo CAL em articulação com as entidades competentes, que pretendem ser um espaço informal de divulgação da informação histórica e arqueológica junto do público em geral, mas sobretudo vocacionada para a população local, que costuma usufruir dos espaços que foram intervencionados.
Capela do Cemitério dos Prazeres
"UMA HISTÓRIA VIVA DOS CEMITÉRIOS DE LISBOA"
No âmbito do projeto colaborativo entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Universidade Simon Fraser, no Canadá, foram realizadas duas iniciativas dedicadas ao público em geral no mês de Julho de 2024.
No dia 17, decorreu a mesa-redonda Étíca do Uso de Esqueletos Humanos no Ensino e na Investigação no auditório do Centro de Informação Urbana de Lisboa, com a presença de diversos especialistas.
Moderada por Clara Saraiva, a mesa contou com a participação de António Matias, César Vieira, Francisca Cardoso, Francisco Curate, Silvério Figueiredo e Tânia Casimiro. A abertura da discussão ficou a cargo de Hugo Cardoso, professor no Departamento de Arqueologia da Universidade Simon Fraser e responsável pela constituição da Coleção Memorial Ccemeteria Olisipponis.
Mesa de debate - CIUL
No dia 19 foi inaugurada a exposição Uma História Viva dos Cemitérios de Lisboa - Ética, Formação e Investigação sobre o Esqueleto Humano. Dividida em dois núcleos, aborda as práticas funerárias dos cemitérios municipais de Lisboa e a constituição da Coleção Memorial Coameteria Olisipponis, bem como o envio a título devolutivo de restos mortais não reclamados dos cemitérios do concelho de Lisboa para estudo a longo prazo no Canadá.
Este projecto permite também enfatizar o papel dos cemitérios de Lisboa noutras vertentes para além da sua principal função de responder à demanda mortuária, destacando-se o apoio ao desenvolvimento científico e a valorização cultural do património cemiterial.
Fotografia de Hugo Canosa
90 ANOS DO PARQUE FLORESTAL DE MONSANTO
No dia 1 de Novembro de 2024, o Parque Florestal de Monsanto fez 90 anos, tendo iniciado a celebração algum tempo antes com actividades variadas, promovendo a importância desta area verde para a cidade de Lisboa.
A Divisão de Gestão Cemiterial também aderiu a esta celebração tendo participado no evento de dia 14 de Setembro com uma actividade dedicada aos mais pequenos, permitindo a exploração de texturas e distribuição de cadernos de actividadles.
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VISITA DOS PRESIDENTES DAS AUTORIDADES MUNICIPAIS DE AILEU. DÍLI, ERMERA E LIQUIÇÁ
No dia 10 de Outubro de 2024, a Câmara Municipal de Lisboa recebeu os presidentes das Autoridades Municipais de Aileu, Díli, Ermera e Liquiçá que se encontravam em Portugal no âmbito de uma delegação do Ministério da Administração Estatal de Timor-Leste.
Entre os vários encontros e visitas de trabalho, foi incluída uma troca de experiências sobre a área da gestão cemiterial, um projecto que se encontra a decorrer há já algum tempo. Neste contexto, foi realizada uma visita ao Cemitério do Alto de São João, com especial atenção aos processos administrativos, incluído os manuais de registo e a manutenção de arquivo.
Cemitério do Alto de São João
PARABÉNS: 50 ANOS DE SERVIÇO
No dia 3 de Junho de 2024 decorreu uma sessão comemorativa dos 50 anos de serviço de onze trabalhadores do Município de Lisboa, entre os quais se encontrava António Manuel Silva colaborador desta divisão há várias décadas.
Tendo iniciado o seu percurso profissional na Câmara Municipal da Lisboa em 1973, desde 2012 que António Silva era coordenador do Cemitério dos Olivais, tendo-se aposentado este Verão.
Desejamos-lhe as maiores felicidades nesta nova etapa da vida.
Fotografia da DMRH/DGRH
3 ª SEMANA CULTURAL NOS CEMITÉRIOS
Entreos dias 5 e 13 de Outubro de 2024 decorreua 3ª Semana Cultural nos Cemitérios, com actividades nos vários cemitérios de Lisboa e, também, nosmunicípiosde Loures, Palmela, SetúbaleVila Franca de Xira.
Para além das visitas guiadas habituais, foram apresentadas três novas visitas no Cemitério do Alto de São João, incluindo uma visita desenvolvidapelaHemerotecaMunicipal sobre a República e os Republicanos aí inumados.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Regimento de Sapadores Bombeiros foram novamente nossos parceiros para a iniciativa do "Dia Aberto", que decorreu no Cemitério dos Prazeres e na qual participaram quase 200 pessoas que, de mapa na mão, percorreram o cemitério para visitar a cripta dos Bombeiros, o interior do Jazigo dos Duques de Palmela ou do jazigo do pintor Columbano Bordalo Pinheiro,entreoutros.
No Cemitério Britânico fizeram-se visitas guiadas e o Cemitério Alemão abriuassuasportas, permitindovisitaslivresatodososquequiseram ficar aconhecerestecemitérioprivadoda capital.
Este ano, tivemos novas participações institucionais. O Museu de Lisboa - Palácio Pimenta preparou a visita Os mais antigos Cemitérios de Lisboa (da época romana à Idade Média} e o Mosteiro de São Vicente de Fora, apresentou a visita Enterramentos em São Vicente, que incluiu o antigo carneiro do mosteiro e o Panteão Real dos Bragança.
Foi realizada uma palestra virtual por Valeria Celsi que, directamente de Milão, partilhou a sua experiência de turismo cemiterial nos lindíssimos cemitérios do norte de Itália.
Foi uma semana cheia de coisas novas. Pela primeira vez, foi promovida uma sessão do Clube de Leitura da Biblioteca de Penha de França no Cemitério do Alto de São João, onde se discutiu o livro O Senhor Ventura de Miguel Torga.
No edifício Saudade, no Cemitério de Carnide, promovemos o nosso primeiro Death Cafe, que teve boa adesão e onde se falou da morte sem tabus. Também pela primeira vez, organizou-se uma oficina de filosofia para crianças com Joana Rita Sousa, em que convidámos as famílias a perguntar e responder sobre a morte.
As visitas nocturnas, sempre com muita procura, decorreram no Cemitério dos Prazeres e no Cemitério do Alto de São João, organizadas em diferentes dias e turnos, permitindo receber perto de 150 pessoas.
A semana foi encerrada com uma visita-concerto no interior do Jazigo dos Duques de Palmela, organizada pela Associação Cultura Oue Não Morre com a soprano Daniela Matos e o guitarrista Silvestre Fonseca.
Contámos com mais de 900 participantes nas 34 actividades que realizámos ao longo destes 9 dias e que decorreram em Lisboa e 4 outros municípios. Visitaram-se cemitérios, museus, mosteiros e castelos. Falouse da Morte sem complexos, entre adultos e com crianças, e descobriu-se o interior de jazigos e criptas.
Mais do que tudo, procurámos valorizar e promover o rico património cemiterial do nosso país.
Obrigada e até à 4ª Semana Cultural nos Cemitérios.
REFORÇO DE RECURSOS HUMANOS NOS CEMITÉRIOS DE LISBOA
A Câmara Municipal de Lisboa reforçou a sua equipa cemiterial com 27 novos coveiros.
A sessão de boas-vindas aos novos profissionais decorreu no dia 4 de novembro, no Cemitério de Carnide, e contou com a presença do Vereador Ângelo Pereira; da Diretora Municipal de Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia, Catarina Freitas; da Chefe de Divisão de Gestão Cemiterial, Sara Gonçalves; e ainda dos vários coordenadores dos cemitérios municipais da cidade.
Na sessão foi destacado o papel essencial destes profissionais, que, segundo o vereador Ângelo Pereira, "estão ao lado das famílias em momentos muito delicados", realizando um trabalho de grande sensibilidade. Este aumento de profissionais na área visa garantir uma gestão mais eficiente e reforçar a capacidade de resposta nos cemitérios da cidade.
Os novos funcionários vão ser alocados aos 7 cemitérios municipais de Lisboa, bem como aos dois crematórios do Município, o dos Olivais e o do Alto de São João.
Texto e Fotografia da Câmara Municipal de Lisboa I Departamento de Marca e Comunicação
NOVAS ESCADAS PARA ACESSO A COMPARTIMENTOS NOS CEMITÉRIOS MUNICIPAIS
Ainda antes das celebrações do Dia1 de Finados, que se comemora a 2 de Novembro, foi possível disponibilizar nos sete cemitérios de Lisboa, novas escadas para acesso aos compartimentos municipais.
Este novo equipamento disponibilizado aos munícipes resultou de um trabalho de concepção e desenvolvimento específico parautilizaçãocemiterial.
Considerando as necessidades e os pedidos dos munícipes relativamente às escadas e escadotes em utilização nos nossos cemitérios, percebemos que a oferta existente no mercado não permitia responderaessesrequisitos.
Assim, durante o último ano, a empresa 4LEAN concebeu um protótipo que foi sendo testado e melhorado ao longo tempo, baseado no desenho das antigasescadasqueeramutilizadasnoscemitériosequetemosemarquivo.
Esse trabalho resultou num primeiro conjunto de escadas, que foi agora disponibilizado, e que vai de encontro ao esperado pelos visitantes dos cemitérios, continuando aobedecer às directivasenormasem vigor.
ILUSTRAÇÕES - BARRY JAMES GOODMAN
DECLARAÇAO DO ARTISTA
O meu fascínio e atração pela arquitetura e pelas coisas efémeras, ao longo de toda a vida, conduziram-me ao Design Gráfico, tendo seguido uma carreira de sucesso em design e ilustração durante vários anos. Mais tarde optei por estudar gravura no London College of Printing {Universidade de Artes de Londres}, o que me permitiu construir uma carreira baseada nos meus interesses e ideias criativas pessoais. A minha experiência em design tem vindo a moldar e está presente em todo o meu trabalho atual - impressões gráficas coloridas e pinturas que ecoam com motivos urbanos - inspirados pela metrópole, muitos dos meus trabalhos são compostos por sinais e símbolos visualmente estimulantes retirados do tecido urbano. O meu trabalho tem sido exposto e vendido em todo mundo - de Londres a Lisboa, de Nova Iorque a Nuremberga, de Sydney a Singapura. Revistas renomadas como a Coast, Artist and 11/ustrator, a Paper Runway da Austrália, a Société Perrier i Nova Iorque e a Tegneren da Dinamarca apresentaram/mostraram o meu trabalho.
Também foi publicado nos principais manuais de gravura em todo o mundo, incluindo Preactical Printmaking, Hybrid Prints, The Printmakers Bible e 100 years in Print. A minha arte foi encomendada e publicada por vários clientes ilustres, incluindo: The New York Transit Museum, The Art Group, Urban Outfitters Almanac Gallery, Art Angels, Quarto Publishing, John Lewis, Heal's Paperchase e Das AutoMuseum Volkswagen, Alemanha.
O meu trabalho está presente em colecções públicas e privadas, incluindo a Biblioteca do Congresso - Washington D.C., o China Print Museum, o Aeroporto Internacional de São Petersburgo, a Coleção de Arte Permante da Cidade de Tampa a o Royal Chelsea Westminister Hospital. Desde 2006, sou membro da California Society of Printmakers, o maior grupo de criadores de gravuras da Califórnia.
DEZEMBRO 2024 NÚMERO 04
FICHA TÉCNICA
PROPRIEDADE,CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA I DIREÇÃO MUNICIPAL DO AMBIENTE. ESTRUTURA VERDE, CLIMA E ENERGIA I DIVISÃO DE CESTÃO CEMITERIAL EDIÇÃO, DCC COORDENAÇÃO, SOARA CONÇALVES PESQUISA, CONTEÚDOS, ELISABETE ROCHA. EMA CÂMARA. CISELA MONTEIRO, LICiNIO FIDALGO, SÉRCIO PALMEIRO E VENILIA CAEIRO DESICN, INES RIBEIRO FOTOGRAFIA DE CAPA, PHILIPPE CIL DE MENDONÇA
DCC· DIVISÃO DE CESTÃO CEMITERIAL·R. DO RIO ZEZERE 1600-75S LISBOA