Boletim Cultural dos Cemitérios de Lisboa n.º 4

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Cemitérios de Lisboa

Fotografia de Philippe Gi de Mendonça

ilustração de Barry James Goodman barrygoodman com

E D I T O R I A L

Celebramos nesta edição dois anos desde o lançamento do nosso primeiro Boletim Cultural dos Cemitérios!

Para assinalar esta data, convidámos Barry James Goodman, cuja sensibilidade artística dá vida às ilustrações que marcam as páginas de separação entre artigos. A capa, uma evocativa fotografia de Phillipe Gil de Mendonça, voluntário no nosso programa Adote uma Rua no Cemitério, é um tributo visual ao cuidado e dedicação à memória coletiva

Nesta edição falamos na simbologia das árvores e das colunas truncadas, que evocam a fragilidade e a interrupção da vida Em Monumentos Sepulchraes em Revista, destacamos um jazigo projetado pelo arquitecto Norte Júnior, exemplo do seu contributo para o património funerário

Em Echos do Passado, trazemos um artigo dedicado à saudade, a flor mais emblemática e mais representada nos nossos cemitérios, muitas vezes confundida com uma alcachofra.

Mostramos o resultado da investigação feita sobre o jazigo de Carvalho Monteiro, que nos levou a perceber como foi aproveitado o jazigo de seu pai, transformando-o no magnifico monumento que hoje vemos Já em Pedras e Obras, abordamos a notável recuperação do Jazigo dos Benfeitores da Misericórdia, no Cemitério do Alto de São João, promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

E por fim, uma visão menos comum sobre os nossos cemitérios, mostra-nos que nem só de ciprestes vivem os cemitérios de Lisboa.

Recordamos o convite feito na primeira edição deste boletim: contamos com as vossas sugestões e contribuições para transformar este espaço num verdadeiro ponto de encontro e partilha de conhecimento

S A R A G O N Ç A L V E S

Envie-nos as suas sugestões e contribuições para cemiterios@cm-lisboa pt

ilustração de Barry James Goodman barrygoodman com
Á R V O R E E C O L U N A Q U E B

R A D A

A árvore é utilizada como símbolo em diversas culturas e religiões

Simboliza o carácter, a verticalidade, a liberdade e o livre arbítrio, surgindo com a denominação de Árvore da Vida e como Árvore do Conhecimento. Na Bíblia é mencionada ainda no Jardim do Éden, como a Árvore do Bem e do Mal.

Na simbologia tumular, a árvore pode estar associada à vida terrena, mas também à vida espiritual. Mais especificamente a Árvore da Vida, simboliza três elementos cósmicos: as raízes representam o submundo ou mundo subterrâneo, o tronco é associado ao mundo terreno e a copa ao mundo celestial.

Nos cemitérios de Lisboa, temos várias esculturas de árvores truncadas ou quebradas que estão normalmente a adornar jazigos onde repousam jovens ou crianças, simbolizando assim uma interrupção na genealogia familiar, a morte de alguém que parte antes do seu tempo, antes de envelhecer, logo, antes do tempo natural para abandonar este mundo.

JP n º 1903 do Cemitério do Alto de São João
JP n º 2202 do Cemitério dos Prazeres
JP n º 2202 do Cemitério dos Prazeres

A coluna é um dos elementos arquitectónicos mais utilizados nas construções desde a Antiguidade, é um pilar que suporta outros elementos.

Na iconografia fúnebre, encontramos várias colunas quebradas ou truncadas. O seu significado simbólico é a perda inesperada do pilar familiar que, no século XIX, está habitualmente associado ao pai, àquele que dá sustento à família

A coluna quebrada, tal como a árvore truncada estão associadas a uma morte prematura.

Bibliografia

Stories in Stone por Douglas Keister; Dicionário dos Símbolos por Jean Chevalier e Alain Gheerbrant; Dicionário dos Símbolos e Objectos Sagrados da Mulher por Barbára G Walker; Símbolos Religiosos por Pablo Martín Ávila; Os Símbolo e o seu Significado por Jack Tresidder

JP n º 539 do Cemitério do Alto de São João
ilustração de Barry James Goodman barrygoodman com

J a z i g o N . º 2 5 7 – C e m i t é r i o d e B e n f i c a

Localizado no lado esquerdo da Rua n.º 2 do Cemitério de Benfica. O jazigo particular n º 257 foi adquirido a 29 de setembro de 1952 pelo Dr Francisco Xavier Bento da Silva Santos, pela quantia de 1.539$40, com o intuito de imortalizar a memória do seu pequeno filho (José António de Mascarenhas Xavier Santos) e de o tornar o panteão da família Para a sua edificação foi contratado o «distinto arquiteto»1 Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962), inscrito na CML, com o n º 23, e o canteiro Almeida, Irmão & Silva.

Norte Júnior, o «arquiteto do ecletismo»2, como foi apelidado na época, nasceu em Lisboa, na freguesia de Santa Engrácia a 24 de dezembro de 1878, filho de um construtor civil, oriundo do Algarve Frequentou inicialmente o Curso Geral do Desenho e formou-se em Arquitetura Civil, em 1896, na Academia de Belas-Artes. 2

Norte Júnior, Vida Artística, 23 Dezembro 1911.

Notas

1 CARVALHEIRA, Rosendo, “A Casa do Sr Mário de Artagão”, A Architectura Portugueza, Ano I - N º2, 1908, p 7

2 CORREIA, João Pancada, "As Artes e os Ofícios na Obra de Norte Junior", FERNANDES, José Manuel (Coord ), Norte Júnior ou o Triunfo de Ecletismo, Lisboa, Caleidoscópio, 2021, p 341

Quando regressa a Portugal vai trabalhar com os arquitetos Rosendo Carvalheira (1861-1919) e Adães Bermudes (1864-1948). Fundando na primeira década do século XX, em Lisboa, mais concretamente na Praça da Ilha do Faial, junto ao Jardim Cesário Verde, o seu próprio atelier. Recebeu como primeira encomenda aquela que viria a ser o seu primeiro Prémio Valmor, em 1905, a Casa–Atelier do pintor José Malhoa, atualmente, Casa–Museu Dr. Anastácio Gonçalves.

Foram inúmeras as suas obras, tendo ficado conhecido como o arquiteto das Avenidas Novas, por ter projetado vários palacetes e moradias unifamiliares localizados nessas avenidas. Isto para além de riscar hotéis, arranjos de interiores para estabelecimentos comerciais, nomeadamente, em 1905, o café A Brasileira no Chiado e, em 1929, a pastelaria Versailles na Avenida da República. A sua obra não se cinge à capital, também a podemos encontrar em outros pontos do país, como na Curia e no Buçaco, no Estoril, na Parede e em Faro.

Em 1903, graças ao seu mérito, ganhou uma bolsa de estudo em arquitetura, concedida pelo legado Valmor que lhe permitiu rumar a Paris e ingressar na École des Beaux-Arts e no Atelier Pascal Amblart Viajou por Espanha, França e Bélgica onde adquiriu uma certa «inspiração francesa»3 que, mais tarde, vai aplicar nos seus trabalhos. 3 4

Praticamente quase toda a sua obra foi inserida numa gramática historicista e eclética que como «arquiteto decorador»4, procurou utilizar volumetrias cénicas, elementos escultóricos decorativos, ostensivos e orgânicos, inseridos num estilo neorromântico Inicialmente voltado para a Arte Nova, com a utilização do ferro forjado, nas décadas de 30 e 40, apesar de manter o seu cunho pessoal, dedicou-se à Art Déco e mais tarde ao Modernismo, onde chegou a expressar o chamado “Português Suave” adotado pelo regime. Sumariamente podemos dizer que Norte Júnior foi um arquiteto distinto que foi galardoado com cinco Prémios Valmor e Municipais da Arquitetura nos anos: 1905, 1912, 1914, 1915, e 1927. Acrescem duas Menções Honrosas do Prémio Valmor em 1908 e 1912

Notas

3

FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no séc XX, vol II, Lisboa, Bertrand, 1966
4 SILVA, Raquel Henriques da, "Lisboa 1900 as Avenidas Novas e o Arquiteto Norte Júnior", Colóquio Artes, nº 73 - 2ª série

No que diz respeito ao jazigo n.º 257, este enquadra-se na tipologia de um jazigo de capela Foi erguido inicialmente num terreno com 2,13m2 de frente por 2,30m2 de frente-a-fundo, ocupando uma superfície de 4,899m2 No ano seguinte, foi ampliado com mais 0,309m2 de terreno, ficando deste modo com uma área total de 5,208m2.

Na memória descritiva submetida à Câmara Municipal de Lisboa, carimbada com o visto e a assinatura do chefe da 3ª Repartição (Arquitetura) da Direção dos Serviços de Salubridade e Edificações Urbanas, em 12 de dezembro de 1952, é-nos dada informação técnica sobre a construção

Desenho técnico do Jazigo 5

Foi construído «com pedra rija acinzentada da região de Porto de Mós»5, tendo o «aparelho de bojarda»6 sido fino exteriormente e brunida interiormente A meio encontra-se uma porta de chapa de ferro com «0,004 de espessura»7, com uma cruz vazada e com «caixilho interior com vidro transparente »8

5 Folha 3, Macroprocesso 14987/4 BEN Arquivo Municipal

6 Loc cit

7 Loc cit

8 Loc cit Notas

JP n.º 257 do Cemitério de Benfica

Este edifício fúnebre possui uma lotação para catorze corpos, sendo dez na parte superior e quatro no subterrâneo

Na parede do fundo, foi colocado um pequeno altar da mesma cantaria e por cima deste uma abertura com caixilho de ferro forjado com «vidro de catedral»9

No que respeita à sua ornamentação, no tímpano a encimar a porta encontra-se em alto-relevo a cabeça e as asas de um anjo. Em ambos os lados da fachada existem duas cartelas com quatro túlipas esculpidas em estilo Art Déco.

No topo do frontão existe uma cruz em monobloco Antes da cruz, neste mesmo frontão encontra-se um epitáfio gravado, onde é feita uma dedicatória à memória do filho:

Notas 9

DAI-NOS SENHOR O

ETERNO DESCANSO

SAUDOSA MEMÓRIA DE

JOSÉ ANTÓNIO DE MASCARENHAS XAVIER SANTOS

14-6 1950 8-2 1952

Em 1868 era publicada a terceira edição do Diccionário da Linguagem das Flores: ornado com estampas coloridas1. A popularidade deste tipo de manuais revela-se na quantidade de publicações desta natureza por toda a Europa, incluindo Portugal Citando no prefácio a influência de obras francesas, o editor refere o sucesso das anteriores edições, acrescentando que a introdução de inovações nas ilustrações permitiu reduzir os custos do livro. Essas ilustrações, aguarelas coloridas de pequenos ramalhetes de flores, captam a atenção de quem folheia o livro; na estampa 9, antes da letra F, encontramos uma saudade, acompanhada da devida legenda. O seu significado vem páginas depois, dizendo simplesmente que «esta flôr é homonyma com a sua significação. A sua côr é a da viuvez»2 Curiosamente, esta espécie – de nome científico Scabiosa atropurpurea L. – tem como nome comum na língua inglesa mourningbride, que se traduz de forma literal por “noiva enlutada”, numa clara referência à cor da flor que, apresentando uma gama variada de tonalidades de roxo – pode ser tão clara, que resulta numa flor quase branca, ou tão escura que quase se confunde com preto – era uma das cores aceites para o período de luto aliviado3.

Saudade, Diccionário da Linguagem das Flores, Biblioteca Nacional

JP n º 188 do Cemitério do Alto de São João Notas

1 Disponível no site da Biblioteca Nacional em https://purl.pt/13929.

2 Diccionário da Linguagem das Flores: ornado com estampas coloridas, Lisboa, Typographia Lusitana, 1868, p. 176.

3 MONTEIRO, Gisela; MESQUITA, Sandra, GONÇALVES, Sara, Flores de Pedra/ Flowers of Stone, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 2020, pp. 25-27.

A silhueta da ilustração é familiar para quem visita cemitérios portugueses por a ver repetida em obeliscos e frontões de jazigos. Muitas vezes acompanhadas de perpétuas ou ouroboros, ambos sublinhando a eternidade do sentimento, a flor saudade foi dos primeiros símbolos a ser incluído nos cemitérios de Lisboa

Quando Mendes Leal Junior escreveu as suas meditações na colecção

Os Tumulos Portuguezes no Alto dos Prazeres, refere a presença de «emblemas da morte»4 gravados nos monumentos, entre os quais destaca a «saudade»5. Esta colecção compila desenhos e textos sobre vinte e quatro monumentos do cemitério; em pelo menos quatro deles podemos encontrar referida a saudade: no desenho e na descrição da peça.

Por exemplo, sobre o jazigo particular n.º 218, concessionado em 1840, diz-nos o autor que «o obelisco na frente tem duas saudades sobre uma tabela»6, desenhando-as com clareza e, caso dúvidas houvesse sobre a identidade da flor, os concessionários originais fizeram questão reforçar a mensagem com o epitáfio, dedicado ao filho que faleceu com menos de um ano «deixando eterna saudade a seus paes»7. É de notar que muitos dos monumentos funerários erigidos nos cemitérios de Lisboa que temos estudado foram construídos na sequência do falecimento de filhos.

Notas 4 5 6 7

Jazigo Particular N º 218 in Os Tumulos Portuguezes no Alto dos Prazeres

4 JUNIOR, Mendes Leal, Os Tumulos Portuguezes no Alto dos Prazeres, Lisboa, Typographia da Academia das Bellas Artes, 1845, p 4

5 Loc cit

6 Ibidem, p 39

7 Loc cit

Cemitério do Alto de São João
Saudades e Perpétuas, Cemitério dos Prazeres

Se observarmos com atenção objectos fúnebres recuperados de jazigos abandonados vamos encontrar saudades pintadas em vidro, bordadas ou feitas em tecido para decorar ofertas e recordações dos falecidos Aliás, raros eram os funerais do século XIX e primeiro quartel do século XX em que, nas coroas de flores, não se incluíssem saudades Sobre o féretro de Rafael Bordalo Pinheiro, o Visconde de Faro e Oliveira colocou uma coroa composta de «violetas, saudades, lilases, e mimosas, fitas roxas»8 dedicando-a «ao seu querido amigo»9; na véspera, também o casal de actores Palmira e António Bastos tinha enviado uma coroa «em porcelana, de saudades, pretas, brancas e roxas, com fitas roxas, franjadas a ouro»10

8 Diário Illustrado, N º 11457, 25 de Janeiro de 1905

9 Loc cit

10 Diário Illustrado, N º 11456, 24 de Janeiro de 1905

Saudades pintadas no vidro de um retrato

As saudades eram conhecidas, populares e usadas nos mais diversos objectos de decoração, incluindo fora dos cemitérios Como exemplo, vale a pena recordar alguns trabalhos do arquitecto Raul Lino, uma vez que a saudade é «tão constante na [sua] obra»11. Veja-se a capa da edição de 1915 do livro Poesias Sobre Scenas Infantis de Schumann de Afonso Lopes Vieira, apresenta um vaso com três bonitas saudades ou um postal ilustrado com uma cascata de saudades que serve de ilustração à citação de uma frase de D Francisco Manoel de Mello, definindo saudade como «um mal de que se gosta e um bem de que se padece»12 Merecedor de destaque é o serviço de loiça Saudade, desenhado por Raul Lino e proposto à Vista Alegre em 1924, executado depois pela Fábrica Viúva Lamego, em que Lino descreve a saudade que compõe o padrão como «uma pequenina flor – «forma semelhante à da violeta»»13.

Notas 11 12 13

Terrina do serviço Saudade in Natureza e Tradição Raul Lino nas Artes Decorativas de Maria do Carmo Lino

11 LINO, Maria do Carmo, Natureza e Tradição Raul Lino nas Artes Decorativas, Lisboa, Scribe, 2014, p 95

12 Ibidem, p 114

13 Ibidem, p 95

Postal Saudade in Natureza e Tradição Raul Lino nas Artes Decorativas de Maria do Carmo Lino

Podemos ainda observar que, nas revistas em circulação no princípio do século XX, se publicavam poemas que referiam o sentimento e a flor, a sua cor, o seu significado:

«É roxa a sua côr?... Triste!... Discreta!...

É uma divina e espiritual Violeta

Que não murcha na haste ressequida! »14

escrevia Esmeralda de Santiago no seu poema Saudade

Apesar da sua demonstrada popularidade, sendo uma flor associada à morte e aos cemitérios, a redução da importância dos rituais fúnebres na segunda metade do século XX, poderá estar na origem do seu esquecimento. Mas ainda é possível encontrar saudades nos campos, pequeninas e roxas, perdidas entre arbustos e outras flores silvestres

Cabe-nos a nós, agora, resgatá-las do esquecimento e voltar a usar o seu nome: saudade

Notas

G M
Cemitério dos Prazeres
ilustração de Barry James Goodman barrygoodman com

A Divisão de Gestão Cemiterial disponibiliza um conjunto de visitas orientadas gratuitas, que nos últimos anos tem sido alargado a novas temáticas e cemitérios. Podem ser agendadas para grupos de 8 a 30 participantes.

A l t o d e S ã o J o ã o

Conhecer o Cemitério

Conhecer o Cemitério e a Cripta dos Combatentes

Figuras Forenses (NOVA)

Flores de Pedra – simbologia das flores

Lisboa Modernista

Percursos no Feminino - mulheres famosas (NOVA)

P r a z e r e s

A Memória das Palavras - escritores e poetas

Arquitectura Funerária, um caminho diferente

Até que a Morte nos Separe - percurso romântico

Conhecer o Cemitério dos Prazeres

Figuras Forenses

Flores de Pedra – exposição e visita

O Jazigo dos Duques de Palmela

O Lado Soalheiro do Cemitério dos Prazeres

Percursos no Feminino - mulheres famosas

Pessoas em Pessoa - percurso pessoano

Protagonistas da Revolução Liberal de 1820

Qual é o mistério? Num cemitério com tanta história! (visita guiada para crianças)

Simbologia no Cemitério

Último Palco - actores e actrizes

Volta e Notas - músicos

A j u d a

Conhecer o Cemitério e a sua Cripta

B e n f i c a

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L u m i a r

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O l i v a i s

Conhecer o Cemitério

Escolha a visita, reúna um grupo de amigos e contacte-nos através do endereço cemiterios.visitas@cm-lisboa.pt

A 26 de Novembro de 1893, no jornal Commercio de Portugal numa curta nota na segunda página (entre a referência ao chumbo do orçamento de 1894 para a Câmara Municipal do Porto e informação da publicação, em Inglaterra, de um livro sobre Portugal), dava-se conta da aquisição da «esplendida quinta Torre da Regaleira em Cintra»1 pelo «ilustre amigo»2 António Augusto Carvalho Monteiro (18481920). 1 2

G i s e l a M o n t e i r o

Monteiro por Francisco Valença Varões Assinalados, Julho 1910

Filho de Francisco Augusto Mendes Monteiro (1816-1890) e Ana Thereza Carolina de Carvalho (1816-1871), António Augusto Carvalho Monteiro herdou de seu pai a alcunha de Monteiro dos Milhões ao herdar também a sua fortuna. Nascido no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, veio para Portugal estudar, tendo frequentado a universidade em Coimbra, onde se licenciou em Direito Em 1873 casou com Perpétua Augusta Pereira de Mello (18521913). Ávido coleccionador de Arte, de espécimes de Ciências Naturais (insectos, conchas) e de Camoniana, herdou do pai o Palácio Quintela na Rua do Alecrim e o jazigo da família no Cemitério dos Prazeres. Em 1895, começa a renovação e transformação da quinta Torre da Regaleira, com a contratação do arquitecto paisagista francês Henri Lusseau (1854-1931), cuja proposta não agradou a Carvalho Monteiro. Foi o cenógrafo e arquitecto italiano Luigi Manini (1848-1936) quem, a partir de 1898, desenhou a Quinta da Regaleira como hoje a conhecemos3 Entre as novas construções da quinta, 3

Notas

1 Commercio de Portugal, 26 Novembro 1893.

2 Loc. cit.

3 CARITA, Helder; ALVES, João Cruz (Coord.), Luigi Manini: Imaginação & Método, Arquitectura & Cenografia, Sintra, Fundação Cultursintra, 2006, p. 94.

Carvalho

quinta, encontra-se uma capela, cujas obras terminaram em 1907, o mesmo ano em que Carvalho Monteiro iniciou o processo de remodelação do jazigo de família.

O actual jazigo particular da família Carvalho Monteiro encontra-se implantado em lugar de destaque, próximo da entrada da capela do cemitério, do lado esquerdo

Desenho técnico do JP n º1382/1442

Construído em lioz branco, como a maioria dos jazigos de Lisboa, é original na ornamentação, no formato, na orientação. A sua fachada, imponente e densamente ornamentada, apresenta vários elementos de simbologia da Morte, como tochas invertidas ou a faixa de cápsulas de papoila-dormideira que, dispostas em conjuntos de três – talvez invocando a Santíssima Trindade, como acontece frequentemente nos cemitérios –, envolvem toda a construção

Duas figuras femininas ladeiam a entrada do jazigo, a da direita segurando uma cruz e a da esquerda, um cálice44

Notas

4 Estas figuras femininas são alegorias Como atributo, a cruz da figura da direita permite identificála como uma alegoria da Fé Habitualmente, no contexto cemiterial, é muito comum encontrar a representação das três virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade A âncora é o atributo da Esperança e a Caridade surge comummente acompanhada de crianças ou com um coração flamejante Alguns autores defendem que o cálice pode também ser um atributo da Caridade, pelo que podemos identificar a figura da esquerda como tal, mas com algum grau de cautela

No centro, uma porta de bronze, estreita, com uma pesada albarda e onde, no topo de uma ampulheta – materializando a locução latina Tempus Fugit –, está pousada a célebre borboleta Acherontia atropos, reconhecível pela caveira que lhe marca o dorso, propondo uma interpretação da Morte como «passagem para outro estado, qual metamorfose»5; e, claro, recordando-nos da paixão de Carvalho Monteiro pelas Ciências Naturais. Por cima da porta, num véu estendido, podemos ler em letras de bronze FAMÍLIA CARVALHO MONTEIRO

5

Notas

Contornando o jazigo, encontramos no tardoz uma entrada directa para a cripta, onde estão colocados os caixões em prateleiras de pedra Para além de papoilas-dormideiras, que continuam o motivo da fachada principal, encontramos duas corujas, símbolos de sabedoria, mas também da noite e, consequentemente, da Morte Sobre a porta, entre pequenas flores, uma caveira de olhos vazios fita o visitante, pousada sobre dois fémures cruzados, recordando novamente a efemeridade da vida e a esperança na ressurreição dos mortos. 5

CARITA, Helder; ALVES, João Cruz (Coord ), op cit , p 220

As escadas de acesso estão protegidas por um gradeamento decorado com elementos religiosos: querubins, invocando o Paraíso; espigas de trigo e cachos de uvas, simbolizando o pão e o vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo, ou seja, a Sagrada Eucaristia; e corações flamejantes, o Sagrado Coração de Jesus. No topo do jazigo, sobre um baldaquino que abriga uma arca funerária de pedra, encontramos um anjo.

Considerando toda a riqueza ornamental e simbólica do jazigo, não surpreende que o arquitecto responsável pela obra tenha sido também Manini, atestado pela gravação da sua assinatura do lado esquerdo Oposta a esta, está gravado o nome do construtor, José d’Almeida Rodrigues.

Como referido, sabemos que este jazigo é uma remodelação do jazigo de família, concessionado ao pai de Carvalho Monteiro, em 1863. Afinal, o que aconteceu ao jazigo herdado por Carvalho Monteiro e como surgiu este novo jazigo?

Para tentar responder a estas – e outras – questões começámos por analisar a informação existente no cemitério. No Livro de Jazigos N.º 6 do Cemitério dos Prazeres, confirmámos que a concessão original foi em Outubro de 1863, a Francisco Mendes Monteiro, tendo passado para o filho, António Augusto Carvalho Monteiro, em Janeiro de 1892. Ao analisar o macroprocesso6 deste jazigo, preservado no Arquivo Municipal da Câmara Municipal de Lisboa, era nossa expectativa encontrar o requerimento inicial de concessão: infelizmente, as primeiras folhas são de 1871 e correspondem a um requerimento de Mendes Monteiro, pedindo licença para mandar gravar o epitáfio da esposa, no jazigo, acompanhado do respectivo texto.

6

Notas

6 Os macroprocessos de jazigos particulares que se encontram no Arquivo Municipal de Lisboa são compilações de processos relativos a determinada construção.

Seguem-se requerimentos de 1908, já de Carvalho Monteiro, pedindo que lhe seja concessionada uma parcela adicional de terreno na envolvência do seu jazigo, assim como autorização para a transferência de propriedade do jazigo particular n.º 1442 (adjacente ao seu), informando ter já o acordo do proprietário, a família Ennes Carvalho Monteiro propôs-se a trocar o jazigo particular n.º 1442 por um novo jazigo e a CML considerou que «substituir-se um jazigo subterrâneo por outro de capella»7 os direitos dos concessionários ficavam «valorizados, visto o novo jazigo ser de capella»8. Ambos os pedidos foram aprovados

Carvalho Monteiro mandou assim construir um novo jazigo particular para a família Ennes, em 1908, ao que se seguiram as trasladações necessárias e o jazigo 1442 foi agregado ao jazigo 1382 e à parcela adicional de terreno adquirida, criando o jazigo particular 1382/14429. A forma do lote em que foi construído o jazigo é curiosa; ousamos mesmo dizer que é única – pelo menos nos cemitérios de Lisboa –, sendo constituída por «dois triângulos isósceles [ou seja, com dois lados iguais] de base comum»10 7 8 9 10

Planta do JP n º1382/1442

Notas

7 Folha 7, Macroprocesso 8224/2ºPRA, Arquivo Municipal.

8 Loc cit

9 Ainda que nem sempre tenha sido utilizada esta forma de numerar novos jazigos construídos em lotes correspondentes a concessões anteriores, a concatenação dos números dos jazigos que ocupavam anteriormente o lote permite uma rastreabilidade mais rápida do histórico

10 GANDRA, Manuel J , A A Carvalho Monteiro: Imaginário e Legado, Instituto Mukharajj Brasilian & Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica – Cesdies, Rio de Janeiro-Mafra, 2014, p. 243.

Na documentação segue-se um ofício do construtor José d’Almeida Rodrigues, datado de Novembro de 1911, relativo à demolição dos jazigos 1382 e 1442. O Regulamento dos Cemitérios de 1887, em vigor à época, estipula que o período entre a concessão de um terreno e o início da obra não pode ser superior ao prazo de um ano; mas, neste caso, o construtor justifica o atraso da obra clarificando tratar-se de uma obra de «transformação»11, e não de uma nova construção, uma vez que «se aproveita o [jazigo] actual»12.

Na restante documentação, encontrámos um requerimento do construtor, pedindo autorização para gravar três epitáfios no jazigo, anexando os textos a serem aprovados, datado de 1914. O texto relativo à mãe de Carvalho Monteiro é o mesmo que Mendes Monteiro tinha submetido em 1871 e o epitáfio dedicado ao pai é escrito de forma muito semelhante ao epitáfio da mãe. Talvez seja possível que Mendes Monteiro tenha escrito o seu próprio epitáfio, deixando expressa a vontade de o ver gravado no jazigo da família 11 12

Se voltarmos à Quinta da Regaleira, percebemos que os trabalhos de construção foram concluídos em 1910, ainda que «prossigam arranjos ornamentais no interior da mansão»13 Podemos especular que Carvalho Monteiro quis terminar a Casa da Vida antes de começar a obra da Casa da Morte e que foi esse o motivo do hiato entre a aquisição dos terrenos e o início das obras. Terá o jazigo sido a última obra por ser a última morada? Talvez se encontre uma carta ou uma nota, escrita pelo próprio, que nos elucide sobre este tema

O processo de construção do jazigo foi moroso e complexo e obrigou à compra de diversos jazigos e trasladações sucessivas para poder avançar com a construção do novo monumento Carvalho Monteiro necessitou de quatro jazigos e terreno adicional: herdou o jazigo particular n.º 1382, comprou o jazigo particular n º 1442, vizinho ao seu, com o objectivo de demolição, mandou construir o jazigo particular n.º 5065 para a família Ennes e comprou o jazigo particular n.º 4891 para a sua família, assegurando um local privado para depósito dos restos mortais, enquanto se faziam as obras do novo jazigo 13

Um dos pontos que continua por esclarecer é o aspecto do jazigo original. Apesar de, a partir de 1850 ser obrigatório entregar o desenho do jazigo, para aprovação, juntamente com o requerimento de concessão do terreno14, a ausência de documentação anterior a 1871 deixou-nos sem esses elementos Podemos, no entanto, procurar a imagem do jazigo noutros locais. Considerando que o jazigo ficava muito perto da capela, e 14

Notas

11 Folha 14, Macroprocesso 8164/2ºPRA, Arquivo Municipal de Lisboa

12 Loc. cit.

13 GANDRA, op. cit., p. 46.

14 MONTEIRO, MONTEIRO, Gisela, Civitas Mortuorum: Mimése Artística da Arquitectura da Cidade na Arquitectura do Cemitério, FCSH, Dissertação de Mestrado, 2024, p. 30.

que esteve erigido até 1911 e que as fotografias dos funerais publicadas em jornais são, normalmente na rua principal do cemitério, considerámos que podia, eventualmente, existir alguma fotografia que incluísse o jazigo original No Arquivo Municipal, entre muitas fotografias de funerais, encontrámos uma fotografia sem data, mas que corresponde ao local onde se encontra o jazigo particular da família Carvalho Monteiro

Surpreendentemente, o que descobrimos na imagem não é mais do que o baldaquino do topo do jazigo, sem a presença do anjo. Comparando lado-a-lado, conseguimos ver que são a mesma peça e que, de facto, houve

Imagem cedida pelo Arquivo Municipal de Lisboa

houve a preocupação de «aproveita[r] o [jazigo] actual»15 Conseguimos também ver que existe uma diferença no topo do baldaquino: a cruz latina presente na fotografia foi substituída por um anjo de pedra, de espada em riste, asas abertas e um par de chaves na mão e que poderá ser uma representação do Anjo da Morte: arcanjo que, com a sua espada flamejante, guarda a entrada do Paraíso. 15

Esquema por Maria da Gandra

A ideia de incluir antiga estrutura nesta nova construção, não só não destruindo, mas elevando o jazigo do pai, colocando-o naquele que é considerado o plano «celestial»16, pode ser interpretado como uma homenagem 16

Notas

15 Folha 14, Macroprocesso 8164/2ºPRA, Arquivo Municipal de Lisboa. 16 GANDRA, op. cit., p. 245.

homenagem de Carvalho Monteiro aos seus pais e irmão17. Nesta homenagem, são eles quem fica mais próximo do Paraíso, separados apenas pelo anjo que o guarda e em cuja mão segura as chaves que permitem a entrada.

Este é, sem dúvida, o mais interessante resultado da nossa investigação. 17

António Augusto Carvalho Monteiro morreu em 24 de Outubro de 1920, na Mansão da Quinta da Regaleira Na revista Illustração Portuguesa encontramos alguns detalhes sobre o funeral. Foi alugado um comboio que, saído da Estação do Rossio, conduziu até Sintra quem queria velar Carvalho Monteiro e, depois, trouxe a procissão funerária para Lisboa. Curiosamente, quando Carvalho Monteiro chegou ao Cemitério dos Prazeres, não foi inumado no jazigo particular que concebeu, tendo ficado no outro jazigo particular da família, até à trasladação de todos os restos mortais em 1922. Porquê? Este é outro dos mistérios do jazigo da família Carvalho Monteiro, um que – para já – fica por desvendar

Funeral de Carvalho Monteiro

Illustracao Portuguesa, N º 768

Hemeroteca Municipal

Investigação por Gisela Monteiro e Sara Gonçalves

Notas

17 No Livro de Jazigos N º 6, junto da inumação de Francisco Carvalho Monteiro, está a nota: «foi colocada [a ossada] na urna de pedra d’este jazigo», o que leva a concluir que esta se encontra na arca do topo do jazigo, que fazia parte do jazigo original.

OBRAS DE RECUPERAÇÃO DO MAUSOLÉU DOS

BENFEITORES DA MISERICÓRDIA DE LISBOA

O Jazigo dos Benfeitores da Santa Casa da Misericórdia, implantado em lugar de destaque à entrada do Cemitério do Alto de São João, foi projectado pelo arquitecto Adães Bermudes (1864-1948) em estilo neomanuelino e construido entre 1906 e 1909, encontrando-se inserido no Núcleo Histórico do Cemitério do Alto de São João em «vias de classificação»1 como Conjunto de Interesse Público (CIP) conforme anúncio n.º13/2016, Diário da Republica, 2.ª série - n.º 12 – 19.01.2016.

Possui planta em cruz, com escadaria de acesso ao portal decorado com baixo-relevo representando Nossa Senhora da Misericórdia.

Parte superior do portal (depois da intervenção) 1

As fachadas em cantaria, profusamente decoradas com motivos vegetalistas (flores e folhagens), esferas armilares, cordas, cruzes, figuras com formas de animais, medalhões, efígies e anjos, são rematadas por pináculos vazados e rendilhados e coruchéu piramidal coroado com cruz

Interiormente, estrutura-se em capela, ao nível do piso térreo, e cripta, abaixo do nível do solo, onde se encontram as urnas colocadas em prateleiras de pedra.

Notas

1 Diário da Republica, 2.ª série - n.º 12, 19 de Janeiro de 2016.

Com algumas intervenções pontuais desde a sua construção, o monumento necessitava de recuperação e limpeza generalizada no início de 2000.

Tendo sido construído com calcários de diversas pedreiras e de qualidades distintas, incluindo a chamada pedra de Ançã da região de Coimbra, de conhecida fragilidade mineralógico-estrutural, já existiam relatos em 1964 de várias «estarem a desfazer-se pela ação das chuvas»2.

Elementos escultóricos apresentando proliferação de algas e fungos

Notas 2

2 “Mausoléu de Benfeitores da Misericórdia de Lisboa / Jazigo da Misericórdia de Lisboa“ in http://www monumentos gov pt/Site/APP PagesUser/SIPA aspx?id=35396 consultado em 15/11/2024

Interior da capela

As cantarias apresentavam sujidade (algas, fungos, dejetos de pombos), fraturas devido a corrosão de espigões interiores em ferro, e desagregação, desgastes e laminação nas pedras mais frágeis.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) preparou, com o apoio do antigo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), uma empreitada de restauro do monumento. As obras (em 2005 e 2020) foram executadas pelas empresas MONUMENTA - Reabilitação do Edificado e Conservação do Património e IN SITU - Conservação de Bens Culturais

Elementos escultóricos apresentando fracturas e desagregação

Nestas duas importantes intervenções todo o monumento foi limpo pelo exterior, utilizando biocidas, detergentes suaves, jactos de água e jacto de micro-silica pontual em crostas negras resistentes

Os elementos de cantaria fissurados foram refeitos e colados com argamassa à base de resinas epoxídicas substituindo-se os elementos de ligação em ferro oxidados por peças de aço inox. As juntas, fendas e fissuras foram limpas, estucadas e consolidadas.

Foi feito um trabalho importante de consolidação superficial dos calcários mais frágeis e em desagregação sobretudo na escadaria, utilizando um produto especifico (TEGOVAKON da BIU) que vai permitir estabilizar o fenómeno da erosão

n t e s D e p o i s

Os sistemas de recolha e drenagem de águas pluviais constituídos por terraços que canalizam a água para 10 gárgulas e 4 goteiras, foram limpos de plantas, materiais terrosos, ninhos e dejetos de aves que os obstruíam e os terraços impermeabilizados com um sistema elástico continuo (SIKAGARD-570W da SIKA).

A porta em ferro, decorada com elementos geométricos circulares, flores-de-lis e uma cruz, foi decapada e metalizada em oficina, assim como os gradeamentos, e pintados a esmalte forja tipo Cinofer de cor cinza

A n t e s D e p o i s
A

Ao mesmo tempo, os vitrais no interior foram limpos e reparados (colmatação de juntas desguarnecidas), assim como as cantarias e alvenarias com correcção de salitres e infiltrações.

Pormenor dos vitrais de Cláudio Martins

Para finalizar todo o monumento foi pulverizado com um hidrofugante (Aguasil da BIU) para protecção contra infiltrações, eflorescências e a deterioração por poluentes solúveis em água, bem como contra danos causados pelo gelo e por microrganismos.

O pavimento, em calçada à portuguesa, integrando as inscrições: "Misericórdia de Lisboa" e "Jazigo dos Benfeitores" foi apenas limpo visto que se encontrava em perfeitas condições

O monumento foi assim, temporariamente, restituído à sua antiga glória.

Os métodos e os produtos utilizados vão retardar os processos de erosão e degradação que são contínuos, inevitáveis e mais acentuados nas cidades onde os niveis de poluição são mais elevados.

Periodicamente (o Regulamentos dos Cemitérios obriga a mínimo de 10 anos) todos os jazigos construídos nos Cemitérios Municipais de Lisboa terão de ser objecto de limpeza e recuperação (a não ser que estejam em perfeitas condições, como acontece frequentemente em construções de mármore polido ou granito).

No caso de obras-primas da arte cemiterial portuguesa de elevada qualidade arquitetónica e artística, de que são exemplos no Cemitério do Alto de S. João este jazigo dos Benfeitores da SCML ou o Jazigo dos Viscondes de Valmor e no Cemitério dos Prazeres o jazigo de Carvalho Monteiro, essas manutenções são fundamentais e deverão ser sempre executadas por empresas credenciadas, como foi o caso desta recuperação, para que se possa manter em bom estado património tão relevante.

Bibliografia

“Relatório Final de Obra”, MONUMENTA, Julho 2005

“Trabalhos de Conservação e Beneficiação do Mausoléu dos Benfeitores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa –Diagnóstico do Estado de Conservação de Terraços e Estruturas Hidráulicas Superiores”, IN SITU, Junho de 2020

“Mausoléu dos Benfeitores da Misericórdia de Lisboa Foi Restaurado” , in https://scml pt/media/noticias/mausoleudos-benfeitores-da-misericordia-de-lisboa-foi-restaurado/ consultado em 19 de Novembro de 2024

“Mausoléu de Benfeitores da Misericórdia de Lisboa / Jazigo da Misericórdia de Lisboa“ in http://www monumentos gov pt/Site/APP PagesUser/SIPA aspx?id=35396 consultado em 15 de Novembro de 2024

O Occidente, N º 961, 10 setembro de 1905

SILVA, André Martins da, “O Património Cemiterial da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”, LEMOS, Fernando Andrade; SILVA, José António (Dir ), Cadernos Culturais – Lumiar - Olivais – Telheiras, Lisboa, Centro Cultural Eça de Queiroz, 2016

V C

ilustração de Barry James Goodman barrygoodman com

J o r g e d a R o s a N e v e s

Os Ciprestes, pelo porte e expressão dominante no arvoredo dos Cemitérios de Lisboa, assumem um carácter identitário e indissociável da sua silhueta, tornando-os parte integrante da paisagem da cidade. Portadores de protagonismo em contexto de botânica cemiterial, pela copa em forma de vela apontada ao céu, cor e aroma perfumado, os Ciprestes dos Cemitérios de Lisboa, constituem pela sua localização, porte e subespécies presentes, testemunhos da sua construção, expansão e gestão Entre os Ciprestes-comuns (Cupressus sempervirens L.) domina em todos os cemitérios a forma sempervirens (Figs 01 e Fig 02), seguindo-se a forma horizontalis, distinta da anterior pela horizontalidade dos seus ramos. Recentemente, de forma progressiva, e em todos os Cemitérios, foram introduzidas as variedades “Stricta” e “Bolgheri” No primeiro caso, por desenvolver uma copa de diâmetro inferior, facilitando assim a circulação de viaturas nos arruamentos, e no segundo caso, pela mesma razão e pela resistência à doença conhecida por Cancro Cortical dos Ciprestes, provocada pelo fungo Seiridium cardinale, que tem vindo a dizimar as formas inicialmente plantadas Do género Cupressus, podemos ainda encontrar em vários cemitérios o Cedro-do-Buçaco (Cupressus lusitanica) que quase se confunde com a silhueta da forma horizontalis do Cipreste (Cupressus sempervirens)

Fig 01 - Cemitério dos Prazeres Expressão paisagística dos Ciprestes na arborização dos arruamentos.

Fig 02 - Cemitério do Lumiar Expressão paisagística dos Ciprestes, em primeiro plano, e das espécies caducifólia, em segundo plano

Mas nem só Ciprestes vivem nos Cemitérios de Lisboa, bem pelo contrário. Pelo elenco botânico que encerram, com mais de quarenta espécies de árvores (no qual se incluem algumas variedades), mais de meia centena de espécies arbustivas, a que se juntam ainda algumas espécies de palmeiras, Palmeira-das-Canárias (Phoenix canarienis), Palmeira-da-Califórnia (Washingtonia filifera), de suculentas e de xerófitas, entre muitas herbáceas vivazes, os Cemitérios de Lisboa constituem-se como uma segunda linha de “jardins botânicos” que, pela sua expressão territorial e localização, constituem elos de amarração, de continuidade e de reforço da Estrutura Verde da Cidade. Neste contexto, merece referência a proximidade do Cemitério dos Olivais à Quinta Pedagógica dos Olivais, do Cemitério do Lumiar ao Parque Botânico do Monteiro-Mor, do Cemitério dos Prazeres à Tapada das Necessidades, do Cemitério da Ajuda entre o Jardim Botânico da Ajuda e o Parque dos Moinhos de Santana, ou do Cemitério de Benfica ao Parque Urbano da Quinta da Granja.

Entre as árvores, e a par dos Ciprestes, merecem referência as espécies exóticas, não pela dominância, mas pela continuidade que permitem estabelecer com os jardins de Lisboa, onde o carácter universalista dos seus elencos botânicos, constitui uma tradição enraizada, fomentada pelo gosto pelo colecionismo e pelo exótico que acompanhou a segunda metade do Século XIX, e que em Lisboa encontrava a luz e o clima ameno apropriado à adaptação de espécies de outros contextos geográficos.

As espécies exóticas, olhadas com “desconfiança” pela botânica cemiterial, face à exuberância das suas formas, cores de folhagem e de floração e aromas, aumentam significativamente o património botânico e a biodiversidade vegetal e animal dos Cemitérios de Lisboa. Entre estas espécies, merecem destaque, pela exuberância da sua floração, as oriundas da América do Sul Entre estas, o Jacarandá (Jacaranda mimosifolia) com floração de cor lilás azulado que, embora presente na maior parte dos cemitérios, assume maior protagonismo nos Cemitérios do Alto de S João e dos Prazeres Igual protagonismo poderá ser atribuído à Tipuana (Tipuana tipu) com floração de cor amarelo no Cemitério do Alto de São João ou à Paineira (Ceiba speciosa, syn Corizia speciosa) com floração de cor rosa no Cemitério da Ajuda. Esta última, e a Árvore-da-borracha (Ficus elastica), originária da Ásia, presente no Cemitério dos Olivais, merecem igualmente destaque pela dimensão das copas, formas dos troncos e desenvolvimento dos seus sistemas radiculares (Figs. 03 e 04).

No outono, a mudança da cor das folhas que antecede a sua queda em algumas espécies caducifólias, recomenda igualmente uma visita aos Cemitérios de Lisboa. Entre estas, destacam-se os Plátanos presentes nos Cemitérios de Carnide e do Lumiar, as Tílias nos Cemitérios da Ajuda, dos Prazeres e do Lumiar, os Choupos e os Freixos no Cemitério do Alto de S. João e os Aceres (Acer pseudoplatanus, Acer negundo) no Cemitério de Carnide, ou ainda o Castanheiro (Castanea sativa) no Cemitério do Lumiar (Fig. 05), entre outras.

Fig 03 - Paineira Pormenor do tronco, alargado na base e revestido com picos
Fig 04 - Árvore-da-borracha Pormenor do sistema radicular

Fig 05 - Cemitério do Lumiar, Secção 4 Composição com várias espécies perenifólias e caducifólias Em primeiro plano, Castanheiro (Castanea sativa) e Plátano-americano (Platanus occidentalis) Em segundo plano e ao longo dos arruamentos, Ciprestes (Cupressus sempervirens f sempervirens e Cupressus sempervirens “Stricta”)

Fig 06 - Cemitério da Ajuda Secção 9 (Cendrário) Em primeiro plano, sebe topiada Em segundo plano, Espinheiro-da-Virgínia (Gleditsia triacanthos), e em terceiro plano, Ciprestes (Cupressus sempervirens f sempervirens)

Os arbustos trepadores, vulgarmente conhecidos como trepadeiras, estão igualmente presentes nos Cemitérios de Lisboa A Hera (Hedera helix) domina entre as demais espécies, emprestando o seu verde-escuro ao enquadramento de muitos jazigos (Fig 06) e muros e ao revestimento de alguns troncos de árvores. As roseiras (Rosa sempervirens) ocorrem ainda com frequência, assim com a Tecomaria (Tecoma capensis), conferindo pequenos apontamentos de cor entre o verde dominante, e discreto.

Com igual interesse botânico, e merecedoras da atenção dos colecionadores, podemos encontrar uma infinidade de espécies suculentas de pequeno porte que pontuam canteiros, floreiras e vasos na proximidade de alguns edifícios, como nos Cemitérios do Lumiar e dos Olivais, ou carinhosamente utilizados no adorno de alguns jazigos (Fig 07) Espécies de maior porte, como os Aloés originários da África do Sul, Aloe maculata (syn. Aloe saponaria), Aloe brevifolia (Cacto-Aloé) e Aloe arborescens (Candelabro) ou as Agaves da América Central, Agave attenuata (Agave Dragão) e Agave americana “Variegata” (Piteira), enriquecem igualmente o elenco botânico de alguns cemitérios, em particular, do Cemitério da Ajuda (Fig 08)

Visite, com tempo, e ao longo das quatro estações, Os Cemitérios(-Jardins) de Lisboa.

Fig. 08 - Cemitério da Ajuda. Seção 15. Composição com Suculentas.
Fig 06 - Cemitério dos Prazeres Rua 2A Jazigos com floreiras com Cacto-Aloé (Aloe Brevifolia)
Fig 07 - Cemitério dos Prazeres Jazigo com floreiras com Hera (Hedera helix)

Uma das investigações que realizámos e que faz já parte de algumas das nossas visitas no Cemitério dos Prazeres, prende-se com o jazigo particular n.º4099.

Construído em 1895 para os Viscondes de Faro e Oliveira pelo canteiro Miguel Jeronymo dos Prazeres, o desenho do jazigo foi encomendado ao artista Rafael Bordalo Pinheiro, amigo de longa data da família A aguarela original pode ser encontrada na colecção online do Museu Bordalo Pinheiro.

A nossa investigação, que inclusivamente permitiu datar a aguarela, resultou em dois artigos que foram publicados em Novembro de 2023 e em Maio de 2024.

A versão em português foi incluída no volume das actas do colóquio In Memoriam: Passado, presente e futuro dos cemitérios como espaços de memória, organizada pela Santa Casa da Misericórdia de Braga, coordenado pelo Prof Francisco Queiroz Para quem quiser ler o artigo em digital pode seguir esta ligação.

Publicação do volume 39 da revista especializada norte-americana

Markers

Uma versão em inglês, adaptada para um publico não-português, foi publicada no volume 39 da revista especializada norte-americana Markers, editada pela Prof.ª Elisabeth Roark, da Chatham University e publicada pela Association of Gravestone Studies.

Este é uma das formas que temos de divulgar o nosso património cemiterial, fazendo-o chegar além-fronteiras.

No dia 21 de Maio de 2024, estivemos na Unisseixal - Universidade Sénior do Seixal, na disciplina Os Cantinhos da História, leccionada pela Dr.ª Margarida Vale, onde falámos sobre a história dos cemitérios em Portugal e revelámos algumas das mais curiosas histórias dos cemitérios de Lisboa, em especial, do Cemitério dos Prazeres.

Fundada em 2007, a Universidade Sénior do Seixal pertence à rede de Universidades Séniores e foi classificada como Universidade de Excelência; conta, neste momento, com mais de 1 000 alunos

Fomos recebidos com curiosidade e entusiasmo e deixámos o convite para uma visita de estudo no Cemitério dos Prazeres ou no Cemitério do Alto de São João no próximo ano lectivo.

Fotografias de Margarida Vale

A Divisão de Gestão Cemiterial tem desenvolvido vários projectos com a Rede de Bibliotecas de Lisboa, em especial com a Hemeroteca Municipal Com o objectivo de dar continuidade a esses trabalhos e desenvolver novas sinergias, no dia 5 de Junho de 2024 foi realizado um workshop com representantes de várias das bibliotecas municipais, incluindo uma visita guiada no Cemitério do Alto de São João.

Fotografias de Vanessa Batista

Continuamos a procurar pontos de contacto e projectos comuns, sendo que nesta sessão surgiu a ideia de realizar uma sessão do Clube de Leitura da Biblioteca da Penha de França no Cemitério do Alto de São João, no âmbito da 3ª Semana Cultural nos Cemitérios. Teremos, certamente, novos projectos no futuro.

Em parceria, a Hemeroteca Municipal e a Divisão de Gestão Cemiterial enviaram uma proposta de apresentação para o 4º Encontro Memória para Todos: Memórias para a Sustentabilidade, Territórios e Comunidades, organizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que ocorreu nos dias 20 e 21 de Junho de 2024 no Colégio Almada Negreiros

A proposta enviada, Perpetuando a Memória: da escrita à eternidade, teve como objectivo apresentar o projecto conjunto Falar de Abril no Alto de São João, uma visita que foi elaborada no contexto da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril de 1974.

Este projecto visou a criação de um percurso no Cemitério do Alto de São João, abordando várias figuras importantes no período da Revolução e algumas das suas condicionantes. A visita foi concebida para ser enriquecida com a apresentação de capas, fotografias e artigos de diversos periódicos, assim como a disponibilização de links para acesso a outros conteúdos relevantes

A proposta foi aceite e apresentada no encontro por Vanessa Batista e Gisela Monteiro, permitindo - através deste caso - demonstrar a importância da imprensa e do seu estudo para a construção e preservação da memória e a forma como os cemitérios são, também, espaços de memórias, pessoais e coletivas, que permanecem ao longo do tempo, cristalizadas em pedra

Fotografia FCSH

No dia 23 de Maio de 2024, nos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa, decorreu a conferência internacional Ergonomics

Profession in Europe: Sharing Best Practices.

A Câmara Municipal de Lisboa, através do Departamento de Saúde, Higiene e Segurança da Direção Municipal de Recursos Humanos apresentou um conjunto de boas práticas, incluindo – como estudo de caso – o grupo dos Coveiros Na apresentação, foi ilustrada a forma como o investimento numa solução mecanizada inovadora para movimentação de urnas no interior de jazigos contribuiu para reduzir os efeitos físicos nos trabalhadores, revelando-se um sucesso neste contexto

Este equipamento é um protótipo desenvolvido em conjunto com a empresa TAGUSVALLEY constituído por uma estrutura metálica, guincho e cintas para movimentação de urnas metálicas em jazigos, podendo ser utilizada na capela e no subterrâneo.

Existem dois equipamentos, um no Cemitério dos Prazeres e outro no Cemitério do Alto de São João - cemitérios com 90% dos cerca de 15.000 jazigos particulares existentes nos sete cemitérios de Lisboa – podendo ser deslocado a qualquer um dos outros cemitérios, sempre que necessário.

100% bem - CML

No dia 4 de Julho de 2024 decorreu na capela do Cemitério dos Prazeres uma sessão de Arqueologia no Bairro, promovida pelo Centro de Arqueologia de Lisboa (CAL).

Conduzida pelo Prof Rodrigo Banha da Silva, a sessão Prazeres: de villa romana a cemitério permitiu descobrir o passado romano da zona onde se encontra implantado o Cemitério dos Prazeres.

Contando com o auditório cheio e começando por uma apresentação dos objectos encontrados, de maneira fortuita, neste cemitério em 1996 e o seu contexto histórico-arqueológico, foi depois feita uma deslocação ao local onde estes foram encontrados

Esta actividade fez parte da iniciativa Arqueologia no Bairro, sessões promovidas pelo CAL em articulação com as entidades competentes, que pretendem ser um espaço informal de divulgação da informação histórica e arqueológica junto do público em geral, mas sobretudo vocacionada para a população local, que costuma usufruir dos espaços que foram intervencionados.

Capela do Cemitério dos Prazeres

No âmbito do projeto colaborativo entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Universidade Simon Fraser, no Canadá, foram realizadas duas iniciativas dedicadas ao público em geral no mês de Julho de 2024.

No dia 17, decorreu a mesa-redonda Ética do Uso de Esqueletos Humanos no Ensino e na Investigação no auditório do Centro de Informação Urbana de Lisboa, com a presença de diversos especialistas

Moderada por Clara Saraiva, a mesa contou com a participação de António Matias, César Vieira, Francisca Cardoso, Francisco Curate, Silvério Figueiredo e Tânia Casimiro. A abertura da discussão ficou a cargo de Hugo Cardoso, professor no Departamento de Arqueologia da Universidade Simon Fraser e responsável pela constituição da Coleção Memorial Cœmeteria Olisipponis.

Mesa de debate - CIUL

No dia 19 foi inaugurada a exposição Uma História Viva dos Cemitérios de Lisboa - Ética, Formação e Investigação sobre o Esqueleto Humano Dividida em dois núcleos, aborda as práticas funerárias dos cemitérios municipais de Lisboa e a constituição da Coleção Memorial Cœmeteria Olisipponis, bem como o envio a título devolutivo de restos mortais não reclamados dos cemitérios do concelho de Lisboa para estudo a longo prazo no Canadá.

Fotografia de Hugo Canosa

Este projecto permite também enfatizar o papel dos cemitérios de Lisboa noutras vertentes para além da sua principal função de responder à demanda mortuária, destacando-se o apoio ao desenvolvimento científico e a valorização cultural do património cemiterial

No dia 1 de Novembro de 2024, o Parque Florestal de Monsanto fez 90 anos, tendo iniciado a celebração algum tempo antes com actividades variadas, promovendo a importância desta área verde para a cidade de Lisboa.

A Divisão de Gestão Cemiterial também aderiu a esta celebração tendo participado no evento de dia 14 de Setembro com uma actividade dedicada aos mais pequenos, permitindo a exploração de texturas e distribuição de cadernos de actividades

No dia 10 de Outubro de 2024, a Câmara Municipal de Lisboa recebeu os presidentes das Autoridades Municipais de Aileu, Díli, Ermera e Liquiçá que se encontravam em Portugal no âmbito de uma delegação do Ministério da Administração Estatal de Timor-Leste

Entre os vários encontros e visitas de trabalho, foi incluída uma troca de experiências sobre a área da gestão cemiterial, um projecto que se encontra a decorrer há já algum tempo. Neste contexto, foi realizada uma visita ao Cemitério do Alto de São João, com especial atenção aos processos administrativos, incluído os manuais de registo e a manutenção de arquivo.

Cemitério do Alto de São João

No dia 3 de Junho de 2024 decorreu uma sessão comemorativa dos 50 anos de serviço de onze trabalhadores do Município de Lisboa, entre os quais se encontrava António Manuel Silva colaborador desta divisão há várias décadas.

Fotografia da DMRH/DGRH

Tendo iniciado o seu percurso profissional na Câmara Municipal da Lisboa em 1973, desde 2012 que António Silva era coordenador do Cemitério dos Olivais, tendo-se aposentado este Verão

Desejamos-lhe as maiores felicidades nesta nova etapa da vida.

Entre os dias 5 e 13 de Outubro de 2024 decorreu a 3ª Semana Cultural nos Cemitérios, com actividades nos vários cemitérios de Lisboa e, também, nos municípios de Loures, Palmela, Setúbal e Vila Franca de Xira

Para além das visitas guiadas habituais, foram apresentadas três novas visitas no Cemitério do Alto de São João, incluindo uma visita desenvolvida pela Hemeroteca Municipal sobre a República e os Republicanos aí inumados

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e o Regimento de Sapadores Bombeiros foram novamente nossos parceiros para a iniciativa do “Dia Aberto”, que decorreu no Cemitério dos Prazeres e na qual participaram quase 200 pessoas que, de mapa na mão, percorreram percorreram o cemitério para visitar a cripta dos Bombeiros, o interior do Jazigo dos Duques de Palmela ou do jazigo do pintor Columbano Bordalo Pinheiro, entre outros.

No Cemitério Britânico fizeram-se visitas guiadas e o Cemitério Alemão abriu as suas portas, permitindo visitas livres a todos os que quiseram ficar a conhecer este cemitério privado da capital.

Este ano, tivemos novas participações institucionais. O Museu de Lisboa - Palácio Pimenta preparou a visita Os mais antigos Cemitérios de Lisboa (da época romana à Idade Média) e o Mosteiro de São Vicente de Fora, apresentou a visita Enterramentos em São Vicente, que incluiu o antigo carneiro do mosteiro e o Panteão Real dos Bragança

Foi realizada uma palestra virtual por Valeria Celsi que, directamente de Milão, partilhou a sua experiência de turismo cemiterial nos lindíssimos cemitérios do norte de Itália

Foi uma semana cheia de coisas novas. Pela primeira vez, foi promovida uma sessão do Clube de Leitura da Biblioteca de Penha de França no Cemitério do Alto de São João, onde se discutiu o livro O Senhor Ventura de Miguel Torga.

No edifício Saudade, no Cemitério de Carnide, promovemos o nosso primeiro Death Cafe, que teve boa adesão e onde se falou da morte sem tabus. Também pela primeira vez, organizou-se uma oficina de filosofia para crianças com Joana Rita Sousa, em que convidámos as famílias a perguntar e responder sobre a morte

As visitas nocturnas, sempre com muita procura, decorreram no Cemitério dos Prazeres e no Cemitério do Alto de São João, organizadas em diferentes dias e turnos, permitindo receber perto de 150 pessoas.

A semana foi encerrada com uma visita-concerto no interior do Jazigo dos Duques de Palmela, organizada pela Associação Cultura Que Não Morre com a soprano Daniela Matos e o guitarrista Silvestre Fonseca.

Contámos com mais de 900 participantes nas 34 actividades que realizámos ao longo destes 9 dias e que decorreram em Lisboa e 4 outros municípios. Visitaram-se cemitérios, museus, mosteiros e castelos. Falouse da Morte sem complexos, entre adultos e com crianças, e descobriu-se o interior de jazigos e criptas.

Mais do que tudo, procurámos valorizar e promover o rico património cemiterial do nosso país

Obrigada e até à 4ª Semana Cultural nos Cemitérios

A Câmara Municipal de Lisboa reforçou a sua equipa cemiterial com 27 novos coveiros.

A sessão de boas-vindas aos novos profissionais decorreu no dia 4 de novembro, no Cemitério de Carnide, e contou com a presença do Vereador Ângelo Pereira; da Diretora Municipal de Ambiente, Estrutura Verde, Clima e Energia, Catarina Freitas; da Chefe de Divisão de Gestão Cemiterial, Sara Gonçalves; e ainda dos vários coordenadores dos cemitérios municipais da cidade.

Na sessão foi destacado o papel essencial destes profissionais, que, segundo o vereador Ângelo Pereira, “estão ao lado das famílias em momentos muito delicados”, realizando um trabalho de grande sensibilidade Este aumento de profissionais na área visa garantir uma gestão mais eficiente e reforçar a capacidade de resposta nos cemitérios da cidade

Os novos funcionários vão ser alocados aos 7 cemitérios municipais de Lisboa, bem como aos dois crematórios do Município, o dos Olivais e o do Alto de São João

Texto e Fotografia da Câmara Municipal de Lisboa | Departamento de Marca e Comunicação

Ainda antes das celebrações do Dia de Finados, que se comemora a 2 de Novembro, foi possível disponibilizar nos sete cemitérios de Lisboa, novas escadas para acesso aos compartimentos municipais.

Este novo equipamento disponibilizado aos munícipes resultou de um trabalho de concepção e desenvolvimento específico para utilização cemiterial

Considerando as necessidades e os pedidos dos munícipes relativamente às escadas e escadotes em utilização nos nossos cemitérios, percebemos que a oferta existente no mercado não permitia responder a esses requisitos

Assim, durante o último ano, a empresa 4LEAN concebeu um protótipo que foi sendo testado e melhorado ao longo tempo, baseado no desenho das antigas escadas que eram utilizadas nos cemitérios e que temos em arquivo

Esse trabalho resultou num primeiro conjunto de escadas, que foi agora disponibilizado, e que vai de encontro ao esperado pelos visitantes dos cemitérios, continuando a obedecer às directivas e normas em vigor.

barrygoodman com

ilustrações de Barry James Goodman barrygoodman com

O meu fascínio e atração pela arquitetura e pelas coisas efémeras, ao longo de toda a vida, conduziram-me ao Design Gráfico, tendo seguido uma carreira de sucesso em design e ilustração durante vários anos. Mais tarde optei por estudar gravura no London College of Printing (Universidade de Artes de Londres), o que me permitiu construir uma carreira baseada nos meus interesses e ideias criativas pessoais.

A minha experiência em design tem vindo a moldar e está presente em todo o meu trabalho atual - impressões gráficas coloridas e pinturas que ecoam com motivos urbanos - inspirados pela metrópole, muitos dos meus trabalhos são compostos por sinais e símbolos visualmente estimulantes retirados do tecido urbano. O meu trabalho tem sido exposto e vendido em todo mundo - de Londres a Lisboa, de Nova Iorque a Nuremberga, de Sydney a Singapura. Revistas renomadas como a Coast, Artist and Illustrator, a Paper Runway da Austrália, a Société Perrier i Nova Iorque e a Tegneren da Dinamarca apresentaram/mostraram o meu trabalho. Também foi publicado nos principais manuais de gravura em todo o mundo, incluindo Preactical Printmaking, Hybrid Prints, The Printmakers Bible e 100 years in Print. A minha arte foi encomendada e publicada por vários clientes ilustres, incluindo: The New York Transit Museum, The Art Group, Urban Outfitters Almanac Gallery, Art Angels, Quarto Publishing, John Lewis, Heal’s Paperchase e Das AutoMuseum Volkswagen, Alemanha. O meu trabalho está presente em colecções públicas e privadas, incluindo a Biblioteca do Congresso - Washington D C , o China Print Museum, o Aeroporto Internacional de São Petersburgo, a Coleção de Arte Permante da Cidade de Tampa a o Royal Chelsea Westminister Hospital. Desde 2006, sou membro da California Society of Printmakers, o maior grupo de criadores de gravuras da Califórnia

barrygoodman.com

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