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Carta ao leitor
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presente revista é resultado de uma experiência singular para o Instituto Carijós (IC) e para a Estação Ecológica (ESEC) de Carijós: a implementação do Plano de Manejo da ESEC. Em 2001, as equipes destas instituições tomaram diversas iniciativas visando à elaboração do Plano de Manejo para a Unidade – o primeiro a ser colocado em prática em uma Unidade de Proteção Integral do estado de Santa Catarina. A implementação do projeto, aprovado em 2003, era fundamental para a preservação dos ecossistemas que a Estação abriga, dos ambientes do seu entorno e para a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. Após 22 anos desde a fundação da ESEC Carijós, 10 desde o surgimento do Instituto Carijós e 3 desde o início deste trabalho, encerra-se em 2009 uma etapa que teve apoio e parceria de instituições estratégicas para o alcance dos objetivos propostos. Mas não para por aqui. Inicia-se, desde já, uma nova fase, com novos desafios a serem superados, os quais darão continuidade
às experiências bem sucedidas. O envolvimento da comunidade do entorno foi um dos momentos mais significativos desta etapa para a construção de um processo de gestão participativa. Ter em um mesmo espaço pesquisadores, técnicos especialistas, moradores e pescadores dialogando sobre as ameaças e potencialidades da ESEC Carijós, e mais, construindo planos de ação participativos, foi uma grande conquista, resultado deste projeto, que promoveu aproximação e comprome-timento da comunidade com a Unidade e com o bairro em que vivem. As atividades de educação ambiental envolveram públicos diversos e de diferentes faixas etárias. Crianças, adolescentes, estudantes universitários e adultos tiveram a oportunidade de conhecer a ESEC Carijós e refletir sobre a sua importância dentro de um contexto socioeconômico bastante complexo. A pesquisa científica foi instrumento primordial para a geração de dados que deram subsídios à gestão da Unidade de Conservação. As informações apu-
radas apresentaram os principais problemas ambientais que precisam ser contidos no en-torno da Estação e que afetam diretamente a sua biodiversidade. A experiência com o Plano de Manejo da ESEC Carijós possibilitou ao IC alçar vôos mais largos, dividindo a prática com outras UCs e ONGs do litoral catarinense e promovendo a integração interinstitucional e inter-regional. Passar diariamente na frente da Estação Ecológica de Carijós e ver o “ninhal” de Garças repleto de aves se preparando para a reprodução ou encontrar Jacarés e Carangueijos passeando em seus habitats naturais nos dá a certeza de que estamos no caminho certo e de que este trabalho deve ser mantido ao longo das gerações. Deisiane Delfino Coordenadora do Projeto (2009) Ricardo Brochado Alves da Silva Coordenador do Projeto (2006 a 2008)
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Instituto Carijós
Dez anos protegendo quem sempre nos protege
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undado em 1999, o Instituto Carijós Pró-Conservação da Natureza é uma organização não-governamental (ONG) sem fins lucrativos, cujo objetivo é apoiar a implementação de Unidades de Conservação no Estado de Santa Catarina e promover a sua gestão participativa. Em dez anos, o Instituto vem desenvolvendo projetos e ações em três principais linhas: educação ambiental, mobilização social e pesquisa científica. Na Estação Ecológica (ESEC) de Carijós foi onde tudo começou. Em 2003, concretizou-se o maior
to ao Fórum Social do Saco Grande, o projeto de pesquisa Nosso rio tá pra peixe, desenvolvido com os moradores e pescadores de Ratones e o projeto Olho Mágico, promovido há sete anos em escolas situadas na área de influência da estação ecológica. O objetivo do trabalho é a sensibilização das crianças sobre a importância da conservação do meio ambiente (sobretudo do ecossistema de manguezal). Com adultos, além do reconhecimento da Unidade de Conservação, o Instituto exercita a consciência para que
tor da APA da Baleia Franca. A ONG ocupou também uma cadeira no Núcleo Gestor do Plano Diretor Participativo de Florianópolis, promoveu a mobilização comunitária no Fórum Social de Ratones e implantou o Laboratório de Recursos Hídricos e Qualidade da Água da Estação Ecológica de Carijós, que monitora a qualidade da água nas Bacias Hidrográficas de Ratones e do Saco Grande. Em 2009, o Instituto Carijós completou dez anos e, para comemorá-los, promoveu o I Seminário Regional de Integração de Uni-
feito da ONG: a aprovação para a implementação do Plano de Manejo da ESEC. O trabalho foi realizado em parceria com o IBAMA e, depois, com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Contou com a participação das equipes de outras UCs da região. Grande parte dos projetos da ONG é desenvolvida no entorno da ESEC Carijós. Com uma equipe constituída por estagiários, técnicos e voluntários de diversas áreas, há biólogos, ecólogos, geógrafos e turismólogos, o IC realiza ações que contemplam crianças, jovens e adultos de escolas públicas e privadas, universidades e entidades organizadas da sociedade civil. Entre elas estão a articulação jun-
eles se insiram no processo de gestão participativa da comunidade e da ESEC, colaborando na for-mulação de políticas públicas e lutando pela melhoria da qualidade de vida nos seus bairros. Recentemente, o IC ampliou o seu campo de atuação, atendendo às demandas de outras Unidades do litoral catarinense: Áreas de Proteção Ambiental (APAs) do Anhatomirim e da Baleia Franca, Reserva Biológica do Arvoredo e Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé. Destacam-se nessas UCs as atividades de formação continuada dos professores da rede pública de ensino municipal da APA do Anhatomirim – projeto Multiplicadores do Anhatomirim – e a participação no conselho ges-
dades de Conservação e Terceiro Setor: Fortalecendo Parcerias. O evento foi realizado em conjunto com o ICMBio e teve o apoio do Fundo de Incentivo à Implementação dos Planos de Desenvolvimento Institucionais, do Instituto Comunitário da Grande Florianópolis (ICom) e do Projeto PDA Mata Atlântica.
MISSÃO Promover a conservação da natureza subsidiando a gestão participativa de unidades de conservação e de outras áreas naturais protegidas no Sul do Brasil.
Sumário Plano de Manejo da ESEC Carijós & Objetivos e Metas do Projeto
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PRIMEIRO CAPÍTULO Sistema de Gestão, Sistematização e Comunicação do Projeto
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SEGUNDO CAPÍTULO Programa de Proteção & Controle Ambiental SIG, Estrutura de embarque e desembarque e Sinalização da ESEC Carijós Mapa da ESEC Carijós
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TERCEIRO CAPÍTULO Programa de Pesquisa & Monitoramento Ambiental Projeto Nosso rio tá pra peixe Laboratório de Recursos Hídricos e Qualidade da Água da ESEC Carijós
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QUARTO CAPÍTULO Programa de Educação Ambiental & Envolvimento Comunitário Projeto Olho Mágico Projeto Criaventura Fóruns Sociais de Ratones e do Saco Grande Projeto Manguezal vai à escola, Visitas à ESEC Carijós e Interinstitucionais
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QUINTO CAPÍTULO Zona de Amortecimento da ESEC Carijós
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SEXTO CAPÍTULO Revisão do Plano de Manejo da ESEC Carijós
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Apresentação
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Estação Ecológica (ESEC) de Carijós – uma Unidade de Conservação (UC) Federal localizada a noroeste da Ilha de Santa Catarina – foi criada em 1987 por meio do Decreto n° 94.656. O nome da unidade faz alusão aos índios guarani, etnia que habitava o litoral sul do Brasil, chamada pelos exploradores europeus de carijó. O surgimento da ESEC decorreu de uma constatação referente ao aumento da especulação imobiliária em Florianópolis, a qual colocava em risco as áreas de manguezal que a cidade abriga. O município de Florianópolis área de influência da Estação - é a capital do estado de Santa Catarina e possui 433 km², divididos entre ilha costeira e península continental. Nos últimos 30 anos a cidade sofreu uma rápida expansão urbana e sua população aumentou significativamente. O número de habitantes passou de 188 mil, em 1980, para 408 mil, em 2009 (IBGE). Situada nas Bacias Hidrográficas
do Rio Ratones e do Saco Grande, a ESEC Carijós tem área de 7,12 km² e abriga inúmeras espécies vegetais e animais de manguezal e restinga: o capim praturá, o caranguejo, a lontra, o marisco, a ostra, o jacaré-de-papo-amarelo e mais de 110 espécies de aves. A conservação da UC é fundamental para a manutenção de sua biodiversidade. Segundo estudo realizado pelo IBAMA a partir de fotos aéreas e levantamentos topográficos, restam apenas 37,7% da área original do Manguezal de Ratones e 68,1% do Manguezal do Saco Grande. A Unidade, atualmente, é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), contando com a parceria do Instituto Carijós, que além de implementar o seu Plano de Manejo, desenvolve atividades de educação ambiental, mobilização social e pesquisa científica dentro da Estação e no seu entorno junto às comunidades que habitam esta área.
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Plano de Manejo
Estação Ecológica (ESEC) de Carijós
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om base na lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000, a qual instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o Plano de Manejo da Estação Ecológica (ESEC) de Carijós foi elaborado em 2001 com o objetivo de gerir de forma sustentável e participativa a Unidade de Conservação de Proteção Integral (UC) e amenizar os impactos da ocupação do solo, que acontece há décadas de forma acelerada e desordenada na região que abriga as Bacias Hidrográficas de Ratones e do Saco Grande, situadas a noroeste da Ilha de Santa
plano contém, na primeira, informações gerais da UC; na segunda e terceira a inserção da ESEC Carijós no contexto federal e estadual de conservação; na quarta a apresentação do contexto regional, a qual descreve a área de influência e a zona de amortecimento da Unidade; na quinta há a análise da UC; e na sexta o planejamento de sua implementação na ESEC Carijós. De acordo com o artigo 9° do SNUC, a equipe multidisciplinar de planejamento e gestão da ESEC Carijós definiu como objetivos específicos do ma-
científicas e a realização de projetos de educação ambiental nas escolas da região. O processo de implementação do Plano de Manejo da ESEC Carijós teve como principal parceiro o IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – órgão que hoje administra a UC –, recebendo o apoio das equipes da ESEC Carijós, da APA do Anhatomirim, da REBIO do Arvoredo e da RESEX do Pirajubaé. Os objetivos e as metas do projeto visaram a aumentar o conheci-
O manguezal, que abriga inúmeras espécies da fauna e da flora, como a Garça Moura, é reconhecido com o maior berçário marinho do planeta
Objetivos & Metas Catarina. A lei estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão de UCs no País. O documento (Plano de Manejo), aprovado em 2003 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), contou com verba proveniente do Subprograma Projetos Demonstrativos – PDA 066-MA, realizado pelo Ministério do Meio Ambiente no âmbito do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais (PPG7). Composto por seis diferentes modalidades, o
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nejo da Unidade tópicos tais como preservação de remanescentes dos ecossistemas de manguezal e restinga da Ilha de Santa Catarina nas Bacias Hidrográficas de Ratones e do Saco Grande; desenvolvimento de pesquisas, principalmente aquelas de interesse para a gestão; e promoção da educação e interpretação ambiental no interior da ESEC Carijós e em seu entorno. Executado pelo Instituto Carijós, o programa foi desenvolvido por meio de atividades diretas e indiretas, entre elas a articulação com as comunidades dos bairros situados no entorno da estação, o desenvolvimento de pesquisas
mento sobre os fatores que condicionam a relação da ESEC Carijós com o seu entorno por meio do envolvimento de todas as instituições participantes e da comunidade.
Ações previstas . Coordenação e comunicação do projeto.
. Proteção da Unidade. . Pesquisa e monitoramento. . Educação ambiental e relacionamento interinstitucional. . Diminuição da pressão negativa do entorno.
. Revisão do Plano de Manejo.
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Sistema de Gestão, Sistematização, e Comunicação do Projeto
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ara que a implementação do Plano de Manejo da Estação Ecológica (ESEC) de Carijós ocorresse de forma integral, fez-se necessária a criação de um planejamento que visou a estruturar o trabalho para o alcance dos objetivos e das metas previstas. O projeto – desenvolvido dentro e no entorno da Unidade de Conservação (UC) Federal de 2006 a 2009 – contou com a coordenação da equipe técnica do Instituto Carijós (IC) e dos gestores da UC e com a administração do IBAMA e ICMBio. O trabalho realizado segundo a metodologia DRP – Diagnóstico Rápido Participativo incluiu o envolvimento de diversas instituições. Houve a distribuição de tarefas e contratação de profissionais especializados após a definição de coordenadores. A finalidade foi a manutenção do controle e da organização de todos os procedimentos, entre eles os referentes ao setor administrativo financeiro do projeto, cuja responsável de 2006 a 2009 foi a administradora de empresas Ucha Moura. Segundo Ucha, a experiência com o processo de prestação de contas, tomada de preços, produção de termos de referência para contratação de serviços e entrega de relatórios financeiros e de atividades para o Sub-Programa Projetos Demonstrativos PDA 006-MA foi um dos quesitos fundamentais para a posterior aprovação de outros projetos como os das Embaixadas da Finlândia e dos Países Baixos. Outro procedimento decorrente do processo de implementação do Plano de Manejo da ESEC Carijós foi a estruturação do setor de comunicação. Com o objetivo de atender às necessidades de divulgação do projeto, foram contratados assessor e estagiário. O setor, cuja atual editora executiva é
a jornalista Carolina Pinheiro, deu visibilidade ao trabalho, às instituições proponentes, financiadoras e parceiras e à UC por meio da utilização de ferramentas como a produção e edição de informativo eletrônico mensal, a atualização semanal de home page, a remessa mensal de newsletter, a produção de releases e material de divulgação para a imprensa, incluindo
de objetivos, metas e atividades. No decorrer das etapas de avaliação, realizadas de forma participativa com a equipe envolvida no trabalho e com alguns parceiros, entre eles os gestores da ESEC Carijós, ficou clara a dificuldade de conduzir o trabalho de forma integralmente participativa. A constatação decorreu de aspectos como interesses, tempos e ritmos distin-
Equipe multidisciplinar estabelece, em reunião, estratégias para a execução do projeto
contato permanente com jornalistas e veículos de comunicação de Florianópolis, a ampliação de mailing e a promoção da exposição fotográfica Os Ciclos da Vida, que percorreu vários locais da capital, entre eles a Reitoria e a Biblioteca da UFSC, o Beiramar Shopping e o Centro Administrativo do Estado de Santa Catarina.
Avaliação do projeto Uma das metas previstas no projeto de implementação do Plano de Manejo inclui a monitoria e a avaliação inicial, de meio termo e final do mesmo. Para a realização do trabalho foi contratada uma consultora, que teve como principal propósito contribuir com a equipe na reflexão sobre o processo de desenvolvimento dos objetivos e das metas, os pontos fortes e os fracos, visando à adequação, reformulação e possíveis subtrações
tos entre as partes. O IC estava envolvido com os objetivos e as metas do projeto. Os demais atores, contudo, não tiveram condições de acompanhá-lo devido à existência de outras demandas em curso. Outra evidência para a equipe foi o descompasso entre objetivos, metas e ações propostas. As atividades envolviam inúmeras pessoas e parceiros, e, ao mesmo tempo, havia um déficit de recursos humanos e financeiros para o cumprimento de todos os fins. O processo de avaliação trouxe experiência e amadurecimento para a equipe do IC, que estará mais atenta para a inclusão adequada de itens fundamentais em projetos futuros. O ciclo se cumpriu e a pergunta relevante que surgiu em seu encerramento será respondida pela equipe e pelos parceiros que integraram os trabalhos: quanto o projeto contribuiu para a implementação do Plano de Manejo da UC?
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Programa de Proteção e Controle Ambiental
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urante a implementação do Plano de Manejo foram criadas diversas condições operacionais para promover a proteção e o controle ambiental da Estação Ecológica (ESEC) de Carijós. As ações realizadas possibilitaram melhor fiscalização e acompanhamento das obras consideradas de risco em áreas de influência da ESEC. Aperfeiçoaram também o processo de licenciamento ambiental e controle do acesso à Unidade e aos recursos naturais do seu entorno. Entre as metas alcançadas, destacam-se a atualização da base de dados do Sistema de Informação Geográfica (SIG), a sinalização das áreas de risco da Estação com placas informativas e a construção de uma estrutura de embarque e desembarque na margem do Rio Papaquara.
Sistema de Informação Geográfica (SIG) O SIG é um sistema de informação que facilita a análise, o gerenciamento e a representação do espaço e das mudanças que nele ocorrem. O programa aceita dados de diversas fontes - de mapas e imagens de satélite a textos -, e os separa em diferentes camadas temáticas (conjunto de características geográficas visualizadas em mapa, as quais podem ser agrupadas de acordo com
o tema que descrevem). O cruzamento de dados propicia a realização de análises ambientais periódicas. O SIG é considerado uma das mais importantes ferramentas para a promoção de ações de controle e proteção ambiental da ESEC Carijós. No SIG da Estação estão disponíveis imagens de Florianópolis obtidas desde a década de 30. As mais recentes, de 2004 e de 2007, foram compradas e mostram, em alta resolução, a área que compreende as Bacias Hidrográficas de Ratones e do Saco Grande. Leonildo Lepre Filho, turismólogo e técnico do Instituto Carijós, explica que estas imagens são ortorretificadas, ou seja, contêm as correções das possíveis distorções fotográficas causadas por vários fatores como o relevo e a curvatura da terra. Com a maior resolução foi possível identificar nas fotos tipos de vegetação, áreas desmatadas e mudanças promovidas em edificações. Estão cadastrados no SIG dados sobre licenciamentos ambientais, cobertura e uso do solo, 30 pontos de monitoramento de água, ocorrências de infrações ambientais, 19 entidades comunitárias que se localizam no entorno da ESEC e 23 locais em que são desenvolvidas atividades de educação ambiental pelo Instituto Carijós. Foram realizadas correções e atualizações nos dados de altimetria e hidro-
grafia da região que abriga as Bacias Hidrográficas de Ratones e do Saco Grande e do complexo viário do norte da Ilha, área em que está situada a ESEC Carijós. As informações sobre a Estação estarão, em breve, disponíveis site do Instituto Carijós e no Google Earth.
Estrutura de embarque e desembarque Com a construção da estrutura de embarque e desembarque na margem do Rio Papaquara, foi aprimorada a fiscalização por via fluvial. O rio – um dos maiores do norte da Ilha por seu volume de água e sua extensão – deságua dentro da ESEC Carijós. Segundo Apoena Calixto Figueirôa, chefe da Estação, quase não havia saídas de barco para monitoramento no rio. Hoje as fiscalizações são realizadas com frequência.
Placas de Sinalização Placas com informações direcionadas à sociedade sobre leis, mapas das áreas protegidas e telefones de contato foram fixadas em lugares estratégicos. As antigas foram substituídas. Apoena esclarece que com todas as áreas bem sinalizadas, ninguém poderá alegar o desconhecimento da lei.
Ações realizadas durante a implementação do Plano de Manejo promovem fiscalização mais efetiva de obras de risco na área de influência da ESEC
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Programa de Pesquisa e Monitoramento Ambiental
Nosso rio tá pra peixe
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projeto Nosso rio tá pra peixe, desenvolvido de setembro de 2006 a agosto de 2008 pelo Instituto Carijós, surgiu de um antigo questionamento dos moradores e pescadores de Ratones sobre a efetividade do trabalho da Estação Ecológica (ESEC) de Carijós na conservação do recurso pesqueiro da região, principal objetivo da pesquisa. Segundo eles, a área protegida não corresponde à área de criação dos peixes – criadouro – situada próxima à nascente do Rio Ratones. Essa divergência causou uma insatisfação com a estação, além de conflitos com a fiscalização. Parte da execução do Plano de Manejo da ESEC Carijós, o projeto envolveu toda a comunidade e buscou aliar a pesquisa ao saber popular por meio de entrevistas com os pescadores, oficinas e reuniões. Marília Medina Puppo, bióloga e coordenadora do projeto, afirma que foram apurados o conhecimento local sobre os peixes, as condições da bacia hidrográfica e da pesca. Houve coletas de campo em áreas dentro e fora da Estação. A Associação de Pescadores de Ratones (APRR) participou de forma direta do desenvolvimento do trabalho e a de Moradores (Amora)
colaborou na fase final. De acordo com Marília, os principais problemas encontrados foram o assoreamento e o depósito de matéria orgânica no curso do rio. A bióloga esclarece que a revitalização das águas resolveria o problema na base. Para tanto, seria necessária a recomposição da mata ciliar, a implantação de saneamento básico, a reabertura do Poço das Pedras (trecho do leito original do rio Ratones interrompido pela SC 402) e a revitalização das nascentes. O plano de ação participativo, traçado a partir da pesquisa, visa a envolver a comunidade na conservação do recurso pesqueiro local. Uma cartilha de linguagem simples elaborada por Marília contribui para aproximar o processo científico da comunidade. Outro resultado do trabalho foi o vídeo Ratones, Rio Vivo, Rio Morto, uma iniciativa das Associações de Moradores e de Pescadores de Ratones. O documentário é um relato dos pescadores sobre a importância de reverter o quadro atual da bacia hidrográfica. Realizado em 19 de maio, o Seminário de Orientação do Processo de Revitalização do Rio Ratones tomou forma durante as reuniões comunitárias do projeto, lembra
Flávio De Mori, presidente da Amora. O evento teve o apoio da prefeitura de Florianópolis, do Instituto Carijós e da Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) da Grande Florianópolis. Planos estratégicos do seminário 1. Promover o desassoreamento do Rio Ratones 2. Reduzir o nível de poluição na Bacia Hidrográfica do Rio Ratones 3. Promover a proteção do solo na área da Bacia Hidrográfica do Rio Ratones 4. Desenvolver processo integrado de educação ambiental na Bacia do Rio Ratones 5. Criar mecanismos e instrumentos de gestão e de controle social da Bacia do Rio Ratones O saber da população se integrou ao conhecimento científico de uma equipe de 11 instituições que desenvolvem ações na área da bacia, entre as quais a UFSC, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Fundação do Meio Ambiente (FATMA). Os resultados obtidos aumentaram as perspectivas de êxito da comunidade na luta pela revitalização da Bacia Hidrográfica de Ratones.
Como, na sua opinião, o projeto contribuiu para a reestruturação socioambiental da região? O projeto é um elo da corrente que está sendo construída há décadas pela comunidade, pela ESEC Carijós e pelos demais atores que se relacionam com as questões da região. Destacam-se como elos dessa corrente o processo participativo para elaboração do Plano Diretor de Florianópolis, com definição de diretrizes e ações prioritárias, o trabalho desenvolvido entre 2005 e 2008 pelo Fórum das
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Associações Comunitárias da Bacia do Rio Ratones, o trabalho de educação ambiental e formação de multiplicadores do Instituto Carijós e o trabalho e articulação das Associações de Pescadores e de Moradores de Ratones na condução do processo para a revitalização da bacia do Rio Ratones.
Acredito que agora podemos realmente mostrar para as pessoas a importância deste rio para toda a região, e que apesar do crescimento da cidade, esta é uma bacia que se deve preservar para que as gerações futuras possam entender a importância do manguezal para nossas praias e economia da cidade.
Flávio De Mori, presidente a Amora
Gilberto Ribas, pescador e integrante da APRR
Laboratório de recursos hidrícos e qualidade da água
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Laboratório de Recursos Hídricos e Qualidade da Água da Estação Ecológica (ESEC) de Carijós foi criado em 2005 com a finalidade de monitorar a qualidade da água dos rios e afluentes que percorrem a área da Estação e do seu entorno. No Projeto de Implementação do Plano de Manejo estavam previstas duas metas para o Laboratório: monitoramento da qualidade da água por meio da análise de amostras colhidas e mensura da toxicidade aguda dos efluentes lançados nos rios devido à ocorrência de atividades potencialmente poluidoras desenvolvidas no entorno da Unidade. O Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC), através do Curso Técnico em Meio Ambiente, coopera com o Laboratório, o qual é supervisionado pela professora da instituição, Débora Monteiro Brentano. Para o desenvolvimento das pesquisas, o ICMBio cede espaço físico e autoriza a realização da coleta de água para análise.
Monitoramento da água dos Rios Papaquara e Ratones Verificou-se, no decorrer do processo, a forma como a ocupação e o uso do solo interferiram nos níveis de poluição dos recursos hídricos das Bacias Hidrográ-
ficas de Ratones e do Saco Grande. As coletas foram feitas nos rios Ratones e Papaquara entre julho de 2008 e julho 2009. Em cada um dos rios, foram analisados, mensalmente, sete pontos entre a nascente e a foz. As amostras apontaram um grande nível de matéria orgânica presente nas águas. A origem dos resíduos é atribuída a possíveis lançamentos de esgoto doméstico e de dejetos de animais, sem nenhum tratamento, no curso dos rios. Com exceção das nascentes, que ainda estão preservadas, todos os pontos do Rio Papaquara têm um grau de poluição considerado grave, conforme informa Débora Brentano. Nesses pontos, o rio pode ser enquadrado na Classe 4, segundo a resolução CONAMA 357/2005, prestando-se apenas para harmonia paisagística, não podendo ser usado para abastecimento humano, balneabilidade ou irrigação. A pesquisa concluiu que nos locais em que há habitações a poluição da água ocorre com maior intensidade. As águas do Rio Ratones, contudo, apresentam melhor qualidade quando comparadas às do Papaquara, possivelmente devido à menor densidade populacional nas suas imediações. A biodiversidade da ESEC Carijós é comprometida pela poluição desses rios, pois todos os poluentes escoam dentro da Estação e desembocam no mar. Uma das soluções apontadas para conter os níveis de contaminação é a implementação
de saneamento básico nos bairros, tratamento de esgoto e maior controle do uso e da ocupação do solo.
Monitoramento de atividades poluidoras O monitoramento de atividades potencialmente poluidoras ocorreu por meio da análise dos efluentes tóxicos ou potencialmente tóxicos lançados nas águas. Foram analisados os efluentes de 27 estabelecimentos localizados no entorno da Estação. A maioria das empresas apresentava irregularidades e recebeu notificação após o primeiro diagnóstico. Depois do segundo, os estabelecimentos que continuaram irregulares foram multados e, no terceiro, grande parte estava gerando efluentes de acordo com a Legislação Ambiental. Os resultados demonstraram que as empresas dispõem de recursos e tecnologia para fazer o tratamento correto da água, tanto que regularizaram a situação após terem que pagar as multas. A equipe do ICMBio só pode se deslocar para multar determinado estabelecimento se tiver respaldo técnico, o que demonstra a importância da realização das análises. Débora Brentano destaca que o resultado de pesquisas de qualidade da água possibilita o apontamento de pontos críticos, em que se faz necessária a intervenção. A ferramenta é essencial para a gestão de Unidades de Conservação.
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Programa de Educação Ambiental e Envolvimento Comunitário
Olho Mágico
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m roda, cada um recebe uma placa de papelão com as palavras esgoto, peixes, água, desmatamento. Uma das crianças pega o rolo de barbante que deve ligá-la ao colega cuja palavra se associa a sua. Terra se liga a preservação, que se liga a saúde, que se liga a pessoas, e assim se forma uma rede. Esta é a dinâmica da teia, uma das atividades do principal projeto de educação ambiental do Instituto Carijós (IC): o Olho Mágico. Desenvolvido há sete anos no entorno da Estação Ecológica (ESEC) de Carijós, já envolveu mais de 1000 crianças. O projeto tem como objetivo despertar a percepção ambiental dos alunos e sensibilizar a comunidade escolar da região que integra as Bacias Hidrográficas de Ratones e do Saco Grande (entorno da ESEC Carijós) sobre a importância do meio ambiente (sobretudo do ecossistema de manguezal) como forma de alcançar melhor qualidade de vida. Em 2009, o trabalho – realizado com recursos de contrapartida – conta com a participação de 250 alunos da terceira, quarta e sexta séries de seis escolas da rede municipal. Em 15 encontros semanais de duas horas e saídas de estudos, os técnicos e estagiários do Instituto Carijós abordam questões como meio ambiente, patrimônio histórico, manguezal, mata atlântica e saneamento básico (água, esgoto e lixo). O Olho Mágico é uma das atividades previstas no Projeto de Im-
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plementação do Plano de Manejo da ESEC Carijós. Com recursos provenientes do Subprograma Projetos Demonstrativos – PDA 066-MA, foi possível, de 2006 a 2008, ampliar o número de turmas atendidas e investir em recursos materiais e humanos. Segundo Roberta Alencar, geógrafa e ex-técnica do Instituto Carijós, o Olho Mágico é dinâmico, mutável, e, na medida em que entraram profissionais com diferentes experiências, a equipe começou a trabalhar com novos temas, novas metodologias. De acordo com a presidente da ONG, Débora Lehmann, foi durante o período de implementação do Plano de Manejo que o IC firmou parceria com a Secretaria Municipal de Educação. Maeli Fae, assessora pedagógica da Secretaria, destaca como ponto forte do projeto as saídas de campo, que abrem espaço para um aprendizado mais
prazeroso. Os profissionais que participam gostariam que o Olho Mágico fosse ampliado para mais turmas e escolas. Professores, técnicos e estagiários percebem mudanças de comportamento nas crianças. Elas começam a ter consciência do meio e a agir de forma diferente. A diretora da Escola Desdobrada Marcolino José de Lima, Eneida Espíndola, relata que os pais comentam nas reuniões que os filhos passaram a chamar a sua atenção sobre o lixo, por exemplo. As crianças passam a adotar posturas cidadãs e a ter consciência de que devem agir pensando no bem coletivo. O Olho Mágico tem em sua base a multiplicação do conhecimento. Guilherme Betiollo, educador físico e ex-técnico do Instituto Carijós, conta sobre o ciclo que inicia dentro da sala de aula, pois as crianças falam sobre o que estudaram para outras crianças, pais e amigos. Os professores comentam os temas entre si, trocam de escola e levam o que aprenderam consigo. O projeto é realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
servação ambiental como algo tão importante quanto a saúde e a habitação. O objetivo é inserir a “O Olho Mágico é muito especial, ESEC Carijós em seu dia-a-dia”. é mesmo mágico. Chega perto das Débora Lehmann, presidente crianças ao abordar temas sobre do Instituto Carijós o bairro em que vivem. Na medida em que reconhecem o manguezal e “O Projeto Olho Mágico leva as a ESEC Carijós como o quintal de crianças a refletir sobre o espaço suas casas, passam a valorizá-los”. em que vivem e o quanto a mudança de seu comportamento contriRoberta Alencar, geógrafa e exbui para a conservação da ESEC técnica do Instituto Carijós Carijós e do planeta Terra”. “A ideia é fazer com que a comuniJoyce Freitas, atual responsável pelo projeto dade do entorno reconheça a pre-
A equipe
DEPOIMENTOS.... Plano de Manejo é um documento técnico, baseado nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, a partir do qual se estabelece o zoneamento e as normas que regem o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive no que se refere à implantação das estruturas físicas necessárias para a gestão da unidade. Plano de Manejo é um documento técnico, baseado nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, a partir do qual se estabelece o zoneamento e as normas que regem o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive no que se refere à implantação das estruturas físicas necessárias Plano de Manejo é um do-
Técnicos do Instituto Carijós e grupo de alunos do Olho Mágico em saída de estudo realizada em 2006
As crianças “Eu gosto muito de plantar as árvores. No futuro, sei que elas podem estar ali para ajudar as pessoas.” Maria Regina Jaroseski, 12 anos, 6ª série da Escola Básica Municipal Luiz Cândido da Luz
Criaventura O projeto Criaventura foi realizado pelo Instituto Carijós (IC), de 2005 a 2007, na comunidade do Saco Grande. Compreendeu ações de arte-educação que visaram a estimular a auto-estima e a inserção social de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, entre 6 a 14 anos, atendidos no contra-turno do horário escolar na sede no Conselho dos Moradores do Saco Grande (Comosg). De acordo com a presidente do Comosg, Rosângela Amorim dos Anjos, conhecida como Nina, o Criaventura nasceu de demandas das lideranças comunitárias. Solicitaram que o foco da educação ambiental praticada pelo IC na área passasse a ser os jovens, que
“Gosto de desenhar a convivência do homem com o meio ambiente no caderninho reciclado, que ficará com a gente. E gostei de plantar árvores de coquinho lá perto da horta.”
“Eu achei bem legal a experiência de ter conhecido de perto um jacaré. Fez muita diferença, porque ver o bicho no seu ambiente me deu maior noção do quanto é importante preservá-lo.”
Rhailan Correa Santos, 11 anos, 6ª série da Escola Básica Municipal Luiz Cândido da Luz
Giovana da Rocha, 11 anos, Escola Desdobrada Marcolino José de Lima
sofriam com a falta de atividades e de áreas de lazer e, portanto, ficavam a mercê do tráfico de drogas e da violência. A meta 4.3.2 do Projeto de Implementação do Plano de Manejo da ESEC Carijós - que previa a realização de eventos culturais para as comunidades do Saco Grande - foi, desta maneira, adaptada à realidade local. Em 2006, dos 150 jovens atendidos pelo Projeto Renascer – desenvolvido pelo Comosg com crianças e adolescentes de baixa renda - 30 integravam o Criaventura (o nome do projeto foi escolhido por eles). O projeto contou também com a parceria do Fórum Social do Saco Grande e da Associação de Moradores da Vila Cachoeira (AMVIC), que emprestou ao IC seu Centro Comunitário para o desenvolvimento de ações pontuais. O Criaventura foi coordenado pela assis-
tente social e ex-técnica da ONG Eleonora Kaczur. Para Débora Lehmann, bióloga e presidente do Instituto Carijós, as atividades lúdicas do Criaventura serviram de via para alcançar a questão ambiental. Segundo Débora, o interesse pela ESEC Carijós e pela conservação do meio ambiente é uma consequência da construção de cidadãos críticos, conscientes e participativos.
Oficina de Maracatu (2007)
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Fóruns Sociais de Ratones e do Saco Grande
O
Instituto Carijós (IC) considera o envolvimento da comunidade com a ESEC tão importante quanto as pesquisas lá realizadas. Para obter resultados mais efetivos durante a implementação do Plano de Manejo, participou como articulador e ajudou a gerir Fóruns Sociais em Ratones e no Saco Grande. Os Fóruns foram compostos por entidades como ONGs e associações dos bairros do entorno da Estação, as quais contaram com o apoio do IC para suporte técnico, institucional e de material. Além dos temas relacionados à ESEC, desde a fundação de ambos,
chegaram a contar com 150 pessoas. O Presidente da Associação de Moradores de Ratones (Amora), Flávio De Mori, conta que o Fórum de Ratones foi criado em 2003, a partir de uma demanda coletiva de associações e entidades organizadas da região da Bacia Hidrográfica de Ratones para expor anseios e fazer propostas aos candidatos à Prefeitura Municipal de Florianópolis durante as eleições, que ocorreriam no ano seguinte. Após este processo, o Fórum se consolidou como um espaço para discussões de temas comuns às comunidades da região. De Mori ressalta que a questão ambiental
Com o argumento de que uma só entidade não chega a lugar algum, a presidente do Conselho dos Moradores do Saco Grande (Comosg), Rosângela Amorim dos Anjos, a Nina, reconhece a importância do Fórum Social do Saco Grande (FSSG). Ela conta que as organizações participantes adquiriram mais força perante o poder público e também passaram a ter consciência de que realmente podem reivindicar seus direitos. O FSSG foi criado em setembro de 2005, e teve a coordenação assumida pelo Instituto Carijós. Nina aponta como fundamental o papel
O envolvimento comunitário e o trabalho de integração entre gestores de Unidades de Conservação de Santa Catarina foram destaques do projeto
Articulação & Participação Social também foram tratadas questões de interesse comum dos moradores como tratamento de esgoto e mobilidade, o que levou os Fóruns a participarem ativamente da elaboração do Plano Diretor Participativo de Florianópolis. Constituíram-se, desta maneira, como espaços democráticos de participação social. As reuniões para discutir o Plano Diretor merecem destaque, pois tiveram bastante respaldo junto à Prefeitura Municipal e uma considerável participação dos cidadãos. No Saco Grande, por exemplo, houve reuniões que
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sempre foi prioridade nas pautas. Ele considera que o estudo e projeto de saneamento básico para a Bacia de Ratones, solicitado à Casan desde 2005, foi uma das principais conquistas. Em abril de 2009, o Fórum de Ratones foi dissolvido e teve suas atividades encerradas oficialmente. A coordenadora geral do Instituto Carijós, Deisiane Delfino, acredita que o motivo foi divergência de interesses entre os participantes. De Mori constata que houve um desvirtuamento dos objetivos. O presidente da Amora diz que mesmo sem respaldo oficial, o Fórum continua a existir, pois quando há necessidade, as associações se mobilizam.
do Instituto, que lhes deu instrução e teve uma grande capacidade de agregar. A líder comunitária explica que foi por meio do Fórum que a comunidade passou a respeitar o trabalho do IC e a compreender a importância da ESEC. Hoje, a coordenação do Fórum está a cargo das associações participantes. A assistente social Eleonora Kaczur, que representa voluntariamente o IC no FSSG, aponta como um dos aspectos positivos da participação da ONG no Fórum a aproximação da comunidade com ações que visam ao alcance de um dos objetivos do IC: a preservação da ESEC Carijós. Deisiane Delfino considera que esse Fórum se articulou bem e se tornou um espaço legítimo de debate e discussão.
Seminário e Oficinas de Integração & Cursos de Capacitação
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o promover oficinas de capacitação e integração entre Unidades de Conservação (UC) e realizar o I Seminário Regional de Integração de Unidades de Conservação e Terceiro Setor: Fortalecendo Parcerias, o Instituto Carijós cumpriu mais uma das metas previstas no Projeto de Implementação do Plano de Manejo: integrar as Unidades do sul do Brasil, os órgãos ambientais e o terceiro setor. Entre 2007 e 2008 foram realizadas três oficinas, das quais participaram equipes de Unidades de Conservação de Santa Catarina e do Paraná como o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e a Área de Proteção Ambiental (APA) de Santa Cruz. Estiveram presentes universidades e integrantes de equipes técnicas de ONGs.
Nos encontros, foram abordados os temas formação de colegiados em UCs, gestão participativa e pesquisa e conservação de territórios da biodiversidade marinho-costeira de SC. Em 2009, foi realizado o Seminário, meta não prevista no projeto original. O evento, realizado em comemoração aos 10 anos do Instituto Carijós, surgiu da necessidade de integração entre as UCs e o Terceiro Setor. O seminário ocorreu no dia 25 de junho, no auditório da Reitoria da UFSC. Com o objetivo de contribuir para que a comunidade identificasse seus problemas e buscasse resoluções, o IC promoveu, entre 2004 e 2006, a capacitação de professores e alunos no bairro do Saco Grande. A atividade ocorreu em parceria
com a Secretaria de Estado de Educação por meio da Gerência Regional de Educação e Inovação da Grade Florianópolis. Três escolas estiveram envolvidas, entre elas o Colégio Estadual Profª. Laura Lima e as Escolas Básicas Municipais Donícia Maria da Costa e José do Valle Pereira. Houve seis módulos com duração de 16 horas. As atividades uniram teoria e prática, com discussões e saídas de campo sobre o bairro e sua relação com a Unidade de Conservação. A geógrafa Janaína Benincá foi a responsável pelo grupo de professores e a bióloga Juliana Torres coordenou a capacitação dos alunos. Durante todo o período de capacitação, participaram 20 professores das três escolas e um grupo de 30 estudantes de 5ª a 7ª série.
Manguezal vai à escola & Visitas à ESEC Carijós
O
projeto Manguezal vai à escola e as visitas à ESEC Carijós são trabalhos de educação ambiental desenvolvidos pelo Instituto Carijós (IC) com o objetivo de ampliar a conscientização de estudantes e professores sobre a importância da Unidade e dos manguezais que ela abriga. Criado em 2005, o Manguezal vai à escola levou aos docentes de instituições de ensino que se localizam no entorno da ESEC informações sobre a Estação e o meio ambiente. Para atender a esta demanda, o corpo técnico da ONG entrava em contato com as escolas e marcava
uma reunião ou parada pedagógica. Nos encontros, eram doados o vídeo “Os manguezais de Carijós” e o texto didático “Manguezal vai à escola”, além serem discutidos temas relacionados à ESEC Carijós, ao ICMBio-SC e aos projetos do Instituto Carijós. De 2006 a 2007, 24 escolas foram visitadas e cerca de 250 professores foram capacitados para trabalhar com o conteúdo em sala de aula. Para a agendamento de visitas à ESEC Carijós ocorre o inverso. As próprias escolas entram em contato com o IC pelo telefone ou por email e marcam horário. A ONG é procurada não apenas por instituições
de ensino situadas no entorno da Estação, mas também por colégios de outras regiões da Grande Florianópolis, outras cidades e outros estados, além de universidades e escolas técnicas. Durante a visita, as turmas participam de uma palestra e, em seguida, saem a campo para conhecerem de perto os ecossistemas de manguezal e de restinga protegidos pela Unidade. O número de visitantes ultrapassou a meta de 2000 pessoas estabelecida no Projeto de Implementação do Plano de Manejo. Entre 2006 e 2008, 2816 pessoas visitaram a ESEC Carijós. A atividade acontece desde 2001.
Alunos e professores de escolas da rede pública ampliam percepção ambiental e se conscientizam sobre a importância da conservação da natureza
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Zona de amortecimento
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A fim de que atividades realizadas nas áreas próximas à Estação Ecológica (ESEC) de Carijós não prejudiquem a biota ali existente, é fundamental que sejam tomadas medidas com relação ao que se passa no entorno da Estação. Por isso, um dos pontos trabalhados durante a Implementação do Plano de Manejo foi a criação da Zona de Amortecimento. Como indica o nome, sua função é amortecer os impactos do que ocorre no exterior da Unidade de Conservação (UC) por meio de indicações sobre o uso e a ocupação do solo e das bacias hidrográficas. A definição, o zoneamento e as diretrizes de gestão da Zona de Amortecimento da ESEC baseiam-se na Legislação Ambiental e em informações sobre aspectos geográficos como relevo, hidrografia e urbanização. A área compreende as bacias de Ratones e do Saco Grande, trechos contíguos situados na Praia do Forte e Ponta do Sambaqui e dois trechos marinhos adjacentes. O analista ambiental do ICMBio e ex-coordenador do Projeto PDA Mata Atlântica, Ricardo Brochado Alves da Silva afirma que os maiores problemas existentes no entorno da ESEC são a poluição das águas e as ocupações que provocam a fragmentação do ambiente. Ricardo aponta a poluição como um problema relativamente fácil de reverter, desde que o tratamento e a coleta de esgoto sejam feitos de forma correta. As ocupações, por outro lado, são fatores mais impactantes a longo prazo, pois dificultam a recomposição da mata nativa e prejudicam a preservação dos trechos onde ainda há este tipo de vegetação. Esses trechos não podem ser diminuídos, sob pena de redução da biodiversidade. O Chefe da ESEC Carijós, Apoena Calixto Figueirôa, considera que o maior desafio é instituir legalmente
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a Zona de Amortecimento. O projeto está pronto desde 2006, passou pelas instâncias jurídicas e técnicas no ICMBio e também já teve as consultas públicas necessárias para sua viabilização. Há, entretanto, um impasse legal que está impedindo a criação da Zona de Amortecimento não apenas da ESEC, mas de UCs em todo o Brasil. Para a Zona de Amortecimento da ESEC foram aplicadas as leis já existentes, como a Resolução do CONAMA. Esta determina que todos os empreendimentos licenciados a uma distância de até 10 km de uma UC devem ter o parecer do órgão gestor da Unidade. Dessa maneira, o avanço da ocupação no entorno da Estação vem sendo contido. Em Ratones, por exemplo, a construção de um condomínio foi negada após entrega de parecer da ESEC. Se a Zona de Amortecimento estivesse instituída legalmente, o ICMBio disporia de mais recursos para cuidar da área, principalmente no que diz respeito ao trabalho preventivo. Também seria possível exigir o reconhecimento da área no Plano Diretor de Florianópolis. Na atual situação, o que o órgão pode fazer é sugerir aos administradores públicos que reconheçam a área no projeto.
O impasse legal que impede a criação da Zona de Amortecimento de Unidades de Conservação limita o trabalho preventivo que visa a conter o avanço da ocupação urbana que ocorre no entorno destas áreas
Revisão do Plano de Manejo da ESEC Carijós
O
Plano de Manejo da Estação Ecológica (ESEC) de Carijós foi elaborado em 2001 e aprovado em 2003. Neste intervalo e nos anos subsequentes, ocorreram alterações consideráveis no interior da Estação e no seu entorno. Verificou-se a necessidade de realizar uma revisão do documento, determinada pela meta 6.1 do seu Projeto de Implementação. Nos dias 27 e 28 de julho de 2009, Deisiane Delfino, geógrafa e coordenadora do Projeto PDA Mata Atlântica, Edilene Menezes, analista ambiental do ICMBio,
pesquisas servirão de subsídio para a revisão do Plano, que será realizada a partir do primeiro semestre de 2010. O trabalho contará com a coordenação da equipe da ESEC Carijós e do ICMBio. Há necessidade de alteração nas Áreas Estratégicas Internas e Externas da ESEC.
Levantamento de pesquisas sobre a ESEC Para a etapa de revisão do Plano de Manejo faz-se necessária a
e 2009. Os trabalhos foram localizados a partir da consulta de bibliotecas universitárias, principalmente a da UFSC, e de bancos de dados digitais. A consultora explica que o objetivo do levantamento é organizar e facilitar o acesso dos gestores da ESEC aos materiais para que aproveitem o conhecimento já produzido e identifiquem lacunas a serem preenchidas. A metodologia utilizada é específica para cada caso. Ângela afirma que o fato da ESEC Carijós estar inserida em área urbana – em que as transformações são intensas – gera a neces-
O Plano de Manejo da Estação Ecológica de Carijós foi o primeiro a ser colocado em prática em uma Unidade de Proteção Integral do estado
e a equipe da ESEC Carijós se encontraram para debater sobre a monitoria e avaliação do Plano de Manejo, que visam a assegurar a interação entre o seu planejamento e a sua execução. O evento abriu espaço para a correção de desvios e a redefinição de metas. Duas ações foram traçadas com base na atual realidade. São elas a análise da efetividade da implementação do Plano e a contratação de uma consultoria para o levantamento de pesquisas científicas já desenvolvidas na ESEC e no seu entorno. Deisiane afirma que as
realização de um levantamento de atividades. Entre elas estão as referentes ao avanço do conhecimento mediante o desenvolvimento de projetos de pesquisas científica dentro e no entorno da Estação. Os projetos colaboram de forma decisiva para a gestão da UC. A engenheira agrônoma e consultora Ângela Cordeiro coordena a atividade. Em levantamento parcial, a equipe encontrou 60 artigos publicados em periódicos, anais de congressos e eventos, entre 1990
sidade de atualização e continuidade das pesquisas. Espécies identificadas na década de 1990, por exemplo, talvez não habitem mais o local. O resultado incluirá a produção do relatório intitulado “Documento Síntese do Conhecimento e Diretrizes para a Pesquisa na ESEC Carijós”. Está prevista, para o primeiro semestre de 2010, a realização de um seminário de pesquisadores sobre a ESEC Carijós. O evento terá como finalidade definir, a partir dos trabalhos catalogados, as linhas de pesquisa a serem adotadas na UC.
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Carta ESEC Carijós A implementação do Plano de Manejo da Estação Ecológica de Carijós representa mais do que a concretização de um planejamento, mas a consolidação da própria Unidade. A ideia de criar a ESEC Carijós surgiu em 1977. O objetivo era proteger as áreas de manguezal do norte da Ilha de Santa Catarina das ameaças decorrentes da expansão urbana, que ocorria de forma desordenada em Florianópolis. Em 1981 foram demarcadas as áreas dos manguezais de Ratones e do Saco Grande e, em 1987, foi criada a ESEC Carijós por decreto federal. A Estação foi administrada pela Fun-dação do Meio Ambiente (FATMA) até 1989, quando foi criado o IBAMA. Em 1998 foi instalada de forma definitiva a estrutura administrativa com recursos humanos para ge-
rir e implantar efetivamente a Unidade. A falta de monitoramento e fiscalização desde a sua fundação agravou consideravelmente a situação fundiária da ESEC. Houve invasões e construções irregulares foram erguidas em áreas que já enfrentavam tais problemas. Com a criação, em 1999, da Associação Amigos de Carijós, hoje Instituto Carijós (IC) –, o IBAMA, em parceria com a ONG, representantes da iniciativa privada e alguns voluntários, deu início à elaboração do Plano de Manejo, implementado na íntegra a partir de 2006, ano em que recebeu o apoio do PDA MA. São poucas as Unidades de Conservação (UCs) no Brasil que consolidam a aplicação de planejamento específico, ferramenta fundamental para a gestão de uma UC. No caso
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Expediente
Coordenação PDA MMA Brasília Luiz Rodrigues de Oliveira Coordenação do Projeto de Implementação do Plano de Manejo da ESEC Carijós Deisiane Delfino (2009) Ricardo Brochado Alves da Silva (2006 a 2008) Sub-coordenação Aline Scherer (2008) Carlos Henrique Salvador (2007) ESEC Carijós Chefe da Estação Apoena Calixto Figueirôa Sub-chefe Edinéia Caldas Correa Instituto Carijós Pró-Conservação da Natureza
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da ESEC Carijós, pode-se dizer com orgulho que o projeto saiu do papel e foi posto em prática. A implementação do Plano de Manejo permitiu às equipes da Unidade e do IC focar em pontos estratégicos e, sobretudo, deu visibilidade à ESEC Carijós por meio da execução de atividades de educação ambiental e mobilização social junto à população que habita o entorno da Unidade. A continuidade do trabalho é fundamental. Este, entretanto, carece do apoio finan-ceiro de instituições e de projetos como o PDA MA para prosseguir. A equipe da ESEC Carijós conta com o apoio e a participação de entidades comunitárias, de ONGs e da sociedade civil na luta pela conservação dos manguezais de Carijós. Apoena Calixto Figueirôa Chefe da ESEC Carijós
Presidente Débora Lehmann Vice-presidente Karen Karam Secretário Guilherme Gomes Tesoureiro Fabio Daura Resumo Executivo do Projeto de Implementação do Plano de Manejo PDA 006-MA Produção Instituto Carijós Edição Carolina Pinheiro SC02605-JP Textos Carolina Pinheiro SC02605-JP, Luisa Frey, Camila Augusto e Joana Neitsch Projeto gráfico e diagramação TZQG Fotos Anselmo Malagoli, Luciano Baldança e Instituto Carijós
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