Capela de São José
Uma nova arquitetura sobre uma antiga lembrança
Camila Brandão Nunes da Silva
Camila Brandão Nunes da Silva
Capela de São José
Uma nova arquitetura sobre uma antiga lembrança
Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido no curso de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Senac - Santo Amaro. Orientadora professora Dra. Myrna Nascimento.
São Paulo 2020
AGRADECIMENTOS
O amor me manteve de pé em toda a jornada da minha vida, mas se tornou ainda mais evidente no percurso de minha graduação. Reconhecido por diversas formas, o vi presente através de situações comuns do dia-a-dia, seja como uma palavra amiga, um abraço, uma companhia, uma piada, uma ajuda, ou até mesmo em um pedido de desculpas. Em todo o momento, nunca estive só. Convivi com frustrações e medos, mas havia sempre alguém ao meu lado me dizendo que no dia seguinte, eu daria risada da situação, que poderia superar, evoluir, avançar. A essas pessoas que me sustentaram, que me ergueram do chão, eu dedico esse Trabalho de Conclusão de Curso: Aos meus pais, que me apoiaram desde o início, pagaram minha faculdade e mesmo com esse esforço, apostando em mim de olhos fechados. Entenderam minhas necessidades, me apoiaram nos novos desafios e suportaram todas as dificuldades comigo. A eles devo tudo. A toda minha família, em especial minha vó Leonilda, motivo do tema desse trabalho, que impulsionou a minha curiosidade, a minha vontade de lutar pelo que acredito e em saber a verdade. Ela me ensina sobre a força da fé em nossas vidas, e que desistir não é uma opção. Ela, minha tia avó Rosa Helena, minha avó Olga, meus falecidos avôs Carlos e José, são o verdadeiro exemplo de superação e luta na minha vida, pois mesmo com a origem simples, conseguiram construir suas vidas com base no trabalho e entrega. Agradeço também pelo acolhimento de minha família que vive no bairro da Cascata, que me ajudaram a tornar esse trabalho possível: Luiz Antônio Bonilha, Silvana Bonilha, Dona Estácia, Dona Laurinda e a Izis Cavini, arquiteta que nasceu na região e disponibilizou suas pesquisas históricas do local, utilizadas em seu TCC.
Aos meus amigos que convivi ao longo do curso de arquitetura e urbanismo e compartilharam suas vivências comigo: Ana Carolina Poli, Asaph Nicolas, Heloisa Helena, Bruno Guimarães, Leopoldo Alberto, Sophia Maciel, Diogo Lima e Yanah Melo, a todos meus colegas de sala que fizeram parte de minha vida nesses 5 anos. Aos meus amigos de infância que me apoiaram desde o início: Giulia Mendes, Miguel Ricardo e Felipe Salles. Expresso profundo agradecimento a minha orientadora, professora e doutora Myrna Nascimento, que me ensinou a ver a arquitetura de modo sensível desde o início do curso. Acreditou em meu potencial e me impulsionou a evoluir como profissional e como pessoa. Se disponibilizou a todo o momento, em especial no momento difícil de pandemia que vivemos, a me ajudar a compreender as necessidades do projeto e também a compreender meus próprios limites. A todo o corpo docente do Bacharelado de Arquitetura e Urbanismo, que se mostrou sempre disposto a ensinar, acompanhando nossos passos a todos os momentos, sempre se preocupando com o entendimento dos alunos. Agradeço especialmente a nossa coordenadora Valeria Fialho por todo apoio, ensinamento e por ser nosso ombro nos momentos difíceis, ao professor Ricardo Luiz pelo companheirismo e ensinamentos em como ver e ler a cidade, ao professor Ralf Flores que foi meu orientador do projeto de Iniciação Científica, ao professor Paulo Magri que nos acompanhou no desafio do concurso Embalagem e Marca, ao Professor Paulo Barreto, o PT, que me ensinou a entender meu traço de desenho e me incentivou a ver a vida de outra forma, aos professores João Yamamoto, Marelo Suzuki e Cesar Shundi, grandes profissionais que considero uma honra de ter sido aluna, e aos professores Fabio Robba e Marcela Ocke, que despertaram em mim uma paixão pelo projeto do espaço não edificado, além de me ensinarem a ter confiança em meus desenhos.
Agradeço também pela empresa que trabalho, a By Kamy, que sempre reconheceu a importância do curso e me apoiou quando precisei. Agradeço em especial aos meus chefes Fabio Gomes, Rogerio Santos e Noemia Ferreira, por me apoiarem e confiarem em meu trabalho, mostrando sempre preocupação tanto com minha vida profissional e universitária, quanto a parceria e amizade que construímos ao logo do tempo. Agradeço ao meu namorado, Felipe Barretti, que me acompanhou em todo o trajeto desse trabalho, me ajudando em decisões, me ensinado a persistir e me impulsionando para conquistar meus objetivos. Graças a ele, consegui muito mais do que esperava. Agradeço a Deus, por colocar todas essas pessoas em meu caminho, por abrir as portas do conhecimento em minha vida e me abençoar com a conclusão de mais essa etapa.
RESUMO
ABSTRACT
O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem
The present Final Work proposes the historic rescue
como proposta o resgate histórico de uma vila no
of a village in the interior of São Paulo, through a
interior de São Paulo, por intermédio de uma nova
new architecture in a pre-existing building, in this
arquitetura em um edifício pré-existente, no caso,
case, a chapel. Through the documentation of
uma capela. Mediante a documentação de relatos,
reports, photographs and visits, the analyzes
fotografias e visitas, as análises entrelaçam passado
intertwine past and present, which show the
e presente, que mostram a possibilidade da
possibility of the resignification of a place through
ressignificação de um local através da arquitetura,
architecture, designating a symbolic and functional
designando
meaning, considering the necessity of a population
sentido
simbólico
e
funcional,
considerando as carências de uma população que
that needs to revive awareness of its origins .
necessita reavivar a consciência de suas raízes. Palavras-chave:
Key words:
Resgate histórico – Arquitetura Religiosa – Fenomenologia – Anexo - Intervenção
Historical rescue - Religious Architecture - Phenomenology - Annex Intervention
SUMÁRIO Introdução
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Capítulo 1 Fundamentação Histórica
18
Capítulo 2 Reconhecimento do Local
37
Capítulo 3 Reconhecimento da Capela 3.1 Situação atual das construções 3.2 A celebração ritualística 3.3 Religião e sociedade 3.4 Intenção de projeto
47
Capítulo 4 Arquitetura, Atmosferas e Sensações
72
4.1 Referências projetuais sobre a sensação de estar Capítulo 5 Referências Projetuais
88
Capítulo 6 Projeto, Hipóteses e Ensaios
110
Capítulo 7 Projeto
131
Considerações finais
173
Lista de Imagens
176
Referências bibliográficas
184
INTRODUÇÃO
Este Trabalho de Conclusão de Curso apresenta o projeto de uma arquitetura religiosa, cuja finalidade é propor um anexo a uma capela existente, em um vilarejo afastado de meios urbanos, localizado na divisa de São Paulo com Minas Gerais, mais precisamente entre as cidades de Poços de Caldas e Águas da Prata. A proposta deste projeto vem de encontro a afinidade da autora com o lugar, uma vez que seus antepassados por parte materna são provenientes da região abordada. O interesse pelo assunto manifestou-se após conversas em família que desencadearam em antigas histórias, que habitam apenas em memórias, nas quais estão se esgotando com o tempo. O objetivo principal deste trabalho foi desenvolver um projeto que utilizasse materiais que representam a história e características do local, focando nas sensações do indivíduo no ambiente, ou seja, afirmando os princípios da fenomenologia como base da proposta arquitetônica, e destacando a simbologia própria dos edifícios religiosos católicos.
A opção pela fenomenologia justifica-se, pois, o lugar selecionado para intervenção tem forte apelo simbólico e ritualístico para os moradores da cidade. Portanto, priorizar o significado dos ritos e das histórias locais é uma forma de relembrar e evocar valores locais do passado e sinalizá-los no edifício a ser projetado.
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Como metodologia optou-se por um levantamento em documentos históricos da cidade, estudando a história do local, seu entorno e o uso atual da capela de São José. Estes dados organizam informações sobre a origem, característica e importância das regiões que envolvem o alvo principal deste trabalho, além da documentação de registros passados do local, como fotografias pertencentes a antigos moradores, e também seus relatos, que trazem e recuperam informações importantes para o projeto, conectado com a tradição e memória do lugar. Fez parte deste levantamento reconhecer o simbolismo das procissões no passado, que justificarão a abordagem proposta para o anexo inserido na igreja existente.
Em paralelo desenvolveu-se o estudo de referências bibliográficas, base para discutir, estudar e entender a fenomenologia na arquitetura religiosa. Também foi feita uma pesquisa de campo no terreno de implantação do projeto para levantamento fotográfico e coleta de dados de topografia do terreno e de exemplos de materialidade do local. Através destes novos registros fotográficos e descritivos, entrevistas com moradores atuais do local, dimensionamos as possibilidades de intervenção que o projeto deveria apresentar.
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Após as análises a partir da região até a proximidade do objeto de trabalho, pesquisas sobre referências projetuais foram investigadas para associar as possibilidades de exploração do tema de forma mais concreta. O método de aplicação do estudo da fenomenologia e dos materiais usados na obra serão desenhos, tanto desenhos técnicos quanto modelos 3D. Por fim, o projeto foi deduzido de uma série de pesquisas exploratórias que investigaram possibilidades de representar os signos e significados que o lugar assumiu e pelos quais é reconhecido até hoje.
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Dessa forma, organizamos este trabalho em 7 capítulos: O primeiro; Fundamentação Histórica; explica sobre a história da região que circunda o objeto de estudo.
No segundo; Reconhecimento do local / Levantamento; documenta e analisa a realidade atual do local e as necessidades que sua população carece. No terceiro; Reconhecimento da Capela; levanta dados construtivos e de ocupação do objeto de estudo. No quarto, Arquitetura, Atmosferas e Sensações; aborda questões sobre a fenomenologia e sua aplicação com elementos arquitetônicos. No quinto, Referências Projetuais; ilustra possibilidades de implantação para o projeto final deste Trabalho de Conclusão de Curso. No sexto, Projeto, Hipóteses e Ensaios; no qual foram ensaiadas volumetrias e planos de massas para uma proposição de nova ocupação. Por fim, o sétimo e ultimo capítulo, Projeto, é o resultado de todas as etapas acima através do projeto arquitetônico. Finalizando, apresentamos as considerações finais, a lista de imagens e as referências bibliográficas.
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CAPÍTULO 1
FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA
A religiosidade, crenças e costumes estão enraizadas na história da humanidade, e quando associadas à uma nova proposta de arquitetura, levantam questões sobre como criar um ambiente sagrado, ou, como transformar um ambiente considerado sagrado, preexistente, em um edifício ampliado com a inserção de um anexo, garantindo coerência formal e afinidade na temática religiosa entre eles. A real motivação para o tema se encontra na familiaridade da autora com um bairro chamado Cascata, que fica afastado de seu município, Águas da Prata, no interior do estado paulista. Este peculiar bairro também é conhecido como Marco Divisório, por estar exatamente na divisa do estado de São Paulo com Minas Gerais. Do lado paulista o bairro está próximo a Águas da Prata, e do lado mineiro, está próximo da cidade de Poços de Caldas.
São Paulo
Figura 1 – Relação entre a Região Metropolitana de São Paulo e a área abordada + Mapa de Localização do bairro da Cascata (em vermelho) em relação a suas cidades vizinhas
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Essa região é muito conhecida por sua formação geológica, fator principal para o surgimento dos povoados que deram origem às respectivas cidades citadas, e para entender a história dessa vila, é necessária a compreensão de seu entorno. As propriedades da cidade de Águas da Prata foram descobertas de modo inusitado. Por volta de uma data anterior a 1876, um caçador, que rondava a região de São João da Boa Vista, observou que os animais tinham preferência pela água de um córrego, que afluía para o Rio da Prata, rio que se forma pela extensão de afluentes que descem a Serra de São Domingos. Após explorações de novas fontes e nascentes, pesquisas mais aprofundadas ao longo do tempo foram feitas e os estudos divulgados apontaram que as propriedades químicas, alcalinas e radioativas da água eram de uma qualidade muito específica, semelhante à das nascentes da cidade de Vichy, na França.
Figura 2 – Fotografia da cidade de Águas da Prata
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O motivo da alteração química e radioativa da água corresponde a atividades vulcânicas extremamente violentas, com datação anterior a 90 milhões de anos, que geraram o maior maciço alcalino da América Latina e um dos maiores do mundo, moldado por uma serra em forma de cratera, com diâmetro de aproximadamente 35 quilômetros e picos com mais de 1500 metros de altura. Essa enorme conformação geológica abriga as cidades de Poços de Caldas, Andradas, Santa Rita e Caldas. Águas da Prata fica no sopé da serra dessa cratera.
Poços de Caldas Águas da Prata
Caldas
Andradas
Santa Rita
Figura 4 – Mapa de localização das cidades ao entorno da caldeira vulcânica Figura 3 – Imagem aérea da caldeira vulcânica de Poços de Caldas
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Poços de Caldas também passou por um processo parecido com a cidade de Águas da Prata, mas tem uma datação anterior, por volta de 1818, quando as terras em que hoje se encontra a cidade eram propriedade de uma família de sobrenome Junqueira. Como o local era mais próximo do centro da caldeira vulcânica, as características eram muito marcantes; poços de águas termais emergiram na superfície do planalto, os animais eram atraídos pela água quente e se banhavam diariamente. Após estudos e ciência da localidade pelas autoridades, a família se viu sujeita a uma desapropriação da fazenda, decretada pelo senador Joaquim Floriano Godoy, e a decisão da própria família de doar as terras para o Estado sucedeu antes do decreto, em 1872, e com isso deu-se a fundação da cidade.
No mesmo ano, 1872, ocorria a inauguração da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (Figura 5), que projetava um aumento dos ramais ferroviários de São Paulo para Minas Gerais. Esse é o momento em que as cidades passam a ter um vínculo maior de crescimento. Após a notícia de que o novo ramal de Caldas iria conectar a estação de Casa Branca (São João da Boa Vista) até Poços de Caldas (Figura 6), que ainda era uma pequena vila, fazendeiros e mineradores ainda se interessaram pelas terras mais próximas às novas estações, devido à vastidão de solo fértil e da alta de concentração de Bauxita, minério muito valioso.
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Figura 5 – Boletim da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, dÊcada de 1940
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Figura 6 – Imagem da antiga estação de Poços de Caldas, meados de 1886
A inauguração do novo ramal ferroviário deu-se em 1886. Nessa ocasião já haviam investimentos dos novos moradores das duas cidades: hotéis, balneários, termas, cassinos, e tudo o que poderia tornar as cidades atrativas a turistas, principalmente em Poços de Caldas. Esta pequena cidade recebeu a visita de Dom Pedro II (Figura 8) na festa de inauguração da estação e diversas personalidades ao longo do tempo frequentaram a cidade em busca da paisagem e de suas famosas águas com propriedades curativas.
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Figura 7 – Imagem do antigo Hotel Empreza. Meados de 1886.
Figura 8 – Fotografia de Dom Pedro II em sua visita a Poços de Caldas,no antigo Hotel Empreza. Meados de 1887.
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Porém, entre as duas cidades que pertencem a dois Estados, havia uma vila que permaneceu parada no tempo até os dias de hoje. É essa vila o alvo da atenção deste Trabalho de Conclusão de Curso. Como dito anteriormente, o bairro da Cascata se encontra na divisa de São Paulo com Minas Gerais, e tem seu início mais antigo do que as duas cidades, Águas da Prata e Poços de Caldas. Segundo relatos de antigos moradores, o real motivo do crescimento de um povoado no local foi a construção da estação férrea da Cia Mogiana. “(...)pelo que eu saiba, existia uma tal de fazenda do Pinheirinho antes, mas o crescimento da Cascata foi por causa da Estação com certeza, apareceu muito imigrante né, assim como meus pais (...)” Relato de Leonilda Martins Brandão Remanescente do bairro da Cascata
Uma estação do ramal ferroviário de Caldas foi alojada próximo à vila, exatamente entre Águas da Prata e Poços de Caldas, e as famílias dos operários acabaram se instalando no local. Analisando a situação, provavelmente o local foi escolhido por essas famílias mais pobres por que as cidades próximas eram visadas pelos fazendeiros, proprietários e investidores pelo atrativo turístico que os locais poderiam oferecer, enquanto a vila da Cascata estava apenas entre essas duas realidades.
1 Relato obtido em São Paulo no dia 22/02/2020 por ocasião de entrevista.
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Figura 9 – Imagem da Estação da Cascata. Fevereiro de 2020
“A regra é que nos bairros cêntricos se promova a concentração de benesses urbanísticas para uso cada vez mais exclusivo dos mais ricos e das atividades mais nobres. O resto, a maioria das pessoas e de suas ações, vai se distribuindo como pode em espaços tanto mais pobres e desprovidos quanto mais diferenciados dos núcleos cheios de privilégios. ” Citação: Carlos Nelson F. dos Santos.
2 Citação: artigo “Preservar não é tombar; renovar não é pôr tudo abaixo”, de Carlos Nelson F. dos Santos. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
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A vila da Cascata cresceu pouco, alguns imigrantes europeus, na maioria italianos e espanhóis (caso da minha família) instalaram-se no local, buscando refúgio de guerras e por motivos pessoais como “casamentos proibidos”. A única forma de se sustentar nesse meio era a criação de gado e cultivo de terras. Alguns moradores também trabalhavam nas mineradoras de Bauxita e pedreiras próximas, ou nas cidades com prestações de serviços básicos. Na evolução urbana do povoado foi feito apenas o considerado essencial: o sistema viário, com ruas e pequenas pontes, fontes de água retiradas das nascentes, casas, armazéns para as plantações, campos de futebol, uma escola e pequenas capelas. Todas essas construções não se distanciavam mais do que 1 (um) quilômetro da estação ferroviária. A realidade é, até hoje, sofrida para os remanescentes desta vila. Mas, antigamente, as condições meteorológicas influenciavam diretamente nas produções de alimentos que seriam posteriormente comercializados. Quando chovia demais, geralmente na época de inverno, as plantações sofriam com geadas e deslizamentos, devido à declividade e altitude, chegando a atingir a -7,2°C negativos nessa estação do ano; mas, ainda assim, conseguiam se manter com o gado. Já no verão, o problema era contrário, não chovia e as plantações também eram perdidas, mas, como o gado também não sobrevive sem água, a situação piorava, e os tempos de estiagem perduravam mais do que no inverno.
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Figura 10 – Ilustração sobre a rotina do cultivo de terras no vilarejo.
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Figura 11 – Ilustração sobre as plantações arrasadas pelo período de estiagem e geadas.
“(...) me lembro de uma vez que a água do encanamento congelou! Imagina passar por um frio desse do jeito que se vivia na época? Mas a seca judiava as plantações, muito dono de terra ficava preocupado sabe (...)” Relato de Leonilda Martins Brandão Remanescente do bairro da Cascata
3 Relato obtido em São Paulo no dia 22/02/2020 por ocasião de entrevista.
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A partir da dificuldade, a fé persistia. A maioria dos moradores eram católicos apostólicos romanos, e começaram a se organizar em procissões, e, com o pouco que tinham, confeccionaram andores com imagens de santos para orar pela chuva. Uma capela, construída em homenagem a São José, era o ponto de partida para essa procissão; os fiéis seguiam o caminho até o topo de um morro em que foi instalada uma cruz. Após as orações e cânticos, os moradores jogavam água, o pouco que lhes restava, na esperança de que a força divina pudesse presenteá-los com a chuva, salvando suas famílias da miséria. “(Leonilda) - Aquele morro que você disse que tinha a cruz Camila, eu não sei quem colocou, você sabe Luiz? (Luiz) - Ah aquele cruzeiro é velho... Não sei quem foi não. (Leonilda) - O povo subia em procissão com andor, vela, água...ia todo mundo em procissão, rezavam pela chuva e jogavam a água nos pés da cruz. E chovia viu!” 4 Relato de Leonilda Martins Brandão, Luiz Antônio Bonilha e Dona Estácia Remanescentes do bairro da Cascata
4 Relato obtido em São Paulo no dia 22/02/2020 por ocasião de entrevista.
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Figura 12 – Ilustração sobre as procissões no antigo Morro da Cruz.
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Os registros desses locais são extremamente escassos, não havia máquinas fotográficas com preços acessíveis, o analfabetismo era mais recorrente nessa época, e o que restou deste ritual, foi apenas uma foto da procissão, em que nenhum rosto é reconhecível, mas é possível observar muito bem a cena. (Figura 13)
Figura 13 – Fotografia de uma procissão no vilarejo da Cascata. Meados de 1932.
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As memórias dos antigos moradores do local são os registros mais lúcidos de um passado que está sendo esquecido aos poucos. A Capela de São José existe, mas as procissões que se tornaram tradição no local, foram perdidas, e o Morro da Cruz já não é mais conhecido assim, por não ter mais um cruzeiro em seu topo há uma década. (Figura 14)
Figura 14 – Fotografia do trilho do trem, ao fundo antigo Morro da Cruz. Fevereiro de 2020.
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Após conversas com moradores e antigos residentes, as terras de que o morro fazia parte foram vendidas para um dono de família Alemã, cuja religião é luterana. A cruz foi destruída pelas chamas do fogo que o novo dono colocou na terra, a fim de limpá-la para um novo plantio, técnica muito usada antigamente, mas que hoje é proibida por leis de proteção ambiental. Há uma hipótese de que o novo dono não se preocupou em manter a cruz, pelo contrário, seria uma forma de não promover, nem permitir, peregrinações em sua propriedade. Mas isso não é confirmado, são apenas reflexões sobre o passado, procurando respostas para mudanças. “(...) O terreno do morro antes era dos Sargaço...é se não me engano era sim. A família do homem que comprou aí parece que é alemã, são luteranos né. Era fácil limpar o morro sem botar fogo na cruz, vai saber né, vai ver eles nem viram que tinha lá” 5 Relato de Luiz Antônio Bonilha e Laurinda Mançano Remanescentes do bairro da Cascata
Para reviver as marcas do passado que foram apagadas, a hipótese de um projeto arquitetônico de uma nova capela no terreno da antiga cruz inspirou a proposição desse trabalho. Porém, após levantamentos e análises sobre o local, constatou-se que já existem duas capelas no pequeno vilarejo, uma antiga capelinha de fazenda de 140 anos de idade, e a capela de São José, que era ponto de partida para a procissão até a cruz.
Levando em conta que a capela de São José é utilizada e valorizada pelos moradores, a proposta de adequá-la aos seus usos sociais e religiosos juntamente a um anexo, que possa fazer referência aos antigos rituais e à paisagem de entorno, pareceu-nos mais adequada, pertinente e apropriada para o local.
5 Relato obtido em São Paulo no dia 22/02/2020 por ocasião de entrevista.
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CAPÍTULO 2
RECONHECIMENTO DO LOCAL
O bairro da Cascata consiste em duas partes separadas, a parte Norte e a parte Sul. A primeira que leva o nome de Cascata está na parte Sul, carrega este nome devido uma queda d’água que existia no local até 1910, e nasceu a partir da construção da estação de trem da Cia Mogiana de Estradas de Ferro, em meados de 1883 e 1886, datas respectivas de início da construção e inauguração do ramal de Caldas. O início dessa ocupação é anterior à notícia da construção da estação, pela existência de fazendas na região, que no caso, seria a fazenda do Pinheirinho a propriedade que abrigava essas terras.
A segunda parte, nomeada como Vila Nossa Senhora Aparecida e mais conhecida como Ponto da Cascata, foi fundada depois que Luis Bonilha Martins, descendente de espanhóis que imigraram de seu país de origem para a região, comprou as terras da antiga fazenda do Pinheirinho, em 1950, para conseguir levar infraestrutura com a ajuda e mão de obra dos próprios moradores. Mas o real motivo do desenvolvimento dessa parte do bairro é consequência da proximidade de uma Rodovia. Em conversas com uma antiga moradora, foi revelado que as linhas férreas perderam força a partir da década de 60, período em que os trens pararam de transportar passageiros, então, as estradas passaram a ser o único meio de transporte entre as cidades maiores. As estradas passam a ter maior fluxo de pessoas, e por isso, os comerciantes se sentiram mais atraídos em instalarem seus estabelecimentos na beira da rodovia, fato que convida mais visitantes ao local.
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Lembrando que as duas partes pertencem ao mesmo bairro, entretanto, são divididas pela dificuldade de acesso causada pela topografia extremamente acidentada entre um planalto, em que se encontra o Ponto da Cascata e um vale, em que se encontra a Cascata. As duas partes são conectadas por uma estrada curvilínea, que dá a volta na encosta de uma montanha, como podemos ver na imagem ao lado. (Figura 16)
Figura 16 – Mosaico de fotos aéreas do bairro da Cascata. 2010. Em vermelho o “Ponto da Cascata” (parte Norte), em amarelo a estrada que conecta o bairro, em azul o Bairro da Cascata (parte Sul)
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Figura 17 – Mapa topogrĂĄfico, com curvas de nĂvel cotadas a cada 20 metros de altura. 1970.
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Fazendo análise aos usos da área, é possível perceber camadas que vão se aproximando ao bairro da Cascata. A primeira camada e mais afastada são as cidades, Águas da Prata e Poços de Caldas, essa que mais oferece emprego por ser uma cidade maior, e que abriga em sua periferia diversas indústrias como a Ferrero, Danone, algumas empresas de fertilizantes e mineradoras. A faixa intermediária seriam as terras de cultivo, como plantações de vegetais, frutos e frutas, criações de animais e plantações de eucalipto que cresceram vertiginosamente nos últimos 10 anos. E finalmente, a mancha urbana do bairro, que, em sua totalidade, tem ocupação marcada pelo uso residencial e pequenos comércios, como mercadinhos, bares, padarias, lojas artesanais, entre outros. A maioria do comércio está na parte Norte do bairro, enquanto a parte Sul abriga alguns comércios essenciais como mercadinhos e padarias, e a grande maioria do uso é residencial. Apesar da grande presença de produtores, muitas pessoas da parte Sul da Cascata ainda cultivam a terra em seus próprios quintais para sobreviver e se sustentar. Figura 18 – Mapeamento dos usos segundo cada camada.
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A maior parte dos moradores da área Sul da Cascata tem pouco poder aquisitivo e as prefeituras parecem não se preocupar tanto com a área, provavelmente pela pouca perspectiva de crescimento que a área oferece e pela pequena quantidade de moradores. A malha urbana é simples, traçada por uma rua principal em que está a estação (em amarelo na Figura 19), contando com algumas poucas ramificações. O estado do sistema viário é precário, com asfaltamento antigo ou até mesmo sem asfaltamento algum, várias ruas sem calçadas, alguns trechos com pouca iluminação noturna, aparentemente nenhuma obra de contenção geográfica em áreas com grande diferença de nível entre ruas. Próximo á estação, podemos observar a localização da Capela de São José (em roxo na Figura 19), e o antigo Morro da Cruz, em vermelho. Figura 19 – Mosaico de fotos aéreas do bairro da Cascata
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Figuras 20 e 21 – Fotos das habitações, destacando a situação do sistema viário. Fevereiro de 2020.
As casas são um retrato do passado, a maioria são da época da construção da estação (meados de 1880 +). A aparência de vila permanece, porém com sentimento de desamparo, não por descaso dos moradores, mas por falta de recursos, como mostram as figuras 20 e 21.
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Em análise aos usos e as carências dos moradores, é extremamente perceptível a necessidade de grande locomoção para as atividades básicas de um residente da área Sul da Cascata. Por conta do número baixo de habitantes, o bairro da Cascata conta apenas com uma escola de ensino infantil, um posto de saúde abandonado e pouco transporte. A infraestrutura frágil para as necessidades básicas aponta preocupação ainda maior quando o assunto é cultura e educação. Dessa forma, é possível observar que os moradores adultos não têm interação com educação e cultura no bairro, a não ser através das marcas do passado estampados nas fachadas das construções, histórias contadas pelos parentes antigos - fonte que está se esgotando com o passar do tempo, ou através dos ensinamentos religiosos, este que permanece em tradição, em valores afetuosos, e pelo respeito de todos os moradores. Sendo cenário de fé, aprendizado e caridade. Portanto, a capela de São José é o cenário mais próximo a uma intervenção possível no presente, por ser portadora de uma riqueza de relatos que vinculam a história e o sentimento de pertencimento dos antigos residentes, e a possibilidade de um retorno social, através da adequação e inserção de espaços destinados a cultura e ao aprendizado.
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Figura 22 – Imagem da Capela de São José. Fevereiro de 2020.
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CAPÍTULO 3
RECONHECIMENTO DA CAPELA
A capela de São José, como anteriormente comentado, é muito querida entre os moradores e pelas gerações que conhecem o local; voluntários cuidam da igreja, que permanece aberta durante o dia todo e todos os dias da semana, sem precisar de segurança.
Com um olhar pessoal, humano, é possível perceber que o silêncio do bairro está muito além da calmaria de uma cidade gostosa do interior. Muitas pessoas que puderam se mudar, saíram com a promessa de que nunca mais voltariam. Assim aconteceu com a minha avó, chamada Leonilda Martins Brandão, filha de espanhóis que imigraram para o Brasil, por motivo desconhecido por ela. Justificando o pensamento de negar as raízes com o local, ela explica que passou por muitas dificuldades e humilhações por morar no local. As experiências ruins também se deram pelo preconceito que as pessoas de lá passavam, e com certeza ainda passam, por serem residentes de um local tão carente. Eu não queria voltar de jeito nenhum! O tanto que vi meus pais sofrerem, tive que trabalhar quando era criança e já sofria humilhação de patrão, imagina se eu ia querer voltar? Sua mãe e seu avô queriam saber onde eu nasci né – Poxa Leo, quero ver onde você nasceu - ele falava, mas eu só levava eles até Poços de Caldas por ser uma cidade encantadora. Até que um dia que estávamos em Poços, o Carlos decidiu que a gente ia pra Cascata, e finalmente fomos, eles se encantaram! ‘Nossa que paz esse lugar tem’ ...Daí em diante surgiu a ideia de construir a casa de veraneio que você sabe 6 Relato de Leonilda Martins Brandão Remanescente do bairro da Cascata
5 Relato obtido em São Paulo no dia 22/02/2020 por ocasião de entrevista.
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A volta dessa importante personagem para suas raízes aconteceu devido um evento pouco comum com a maioria das pessoas: A uns 10 anos atrás...ou mais, me veio um pensamento, como uma voz que dizia que eu deveria reunir novamente a família no lugar que eu nasci, que é a Cascata. Isso quando eu não queria voltar pra lá de jeito nenhum...mas esse pensamento não saiu da minha cabeça, senti que era realmente necessário. Eu não podia deixar a família se afastar e esquecer do nosso passado...na época cada um tinha ido para um lado do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, até no Sul. Então me rendi a ideia, organizei uma missa na capela de São José, lugar em que todo mundo se reunia antigamente, e fui ligando para os parentes, descobrindo o telefone de gente que perdi contato, e por ai foi, até que o dia da missa chegou. Até o pessoal do pedágio tava sabendo dessa missa! Muitas pessoas foram, foi um reencontro abençoado. As famílias haviam crescido tanto, filhos de parentes falecidos também foram pra conhecer o passado da família...aquilo reacendeu algo dentro da gente.
6 Relato de Leonilda Martins Brandão Remanescente do bairro da Cascata
6 Relato obtido em São Paulo no dia 05/04/2020 por ocasião de entrevista.
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As memórias ruins foram sobrepostas pelas boas memórias, como os momentos felizes em família, casamentos, festas em que todos os moradores do bairro se uniram para organizar, colheitas fartas, e entre muitas outras que passaram a ser compartilhadas para as famílias sem nenhuma vergonha do que aconteceu. Você sabe que nossa família é família de batateiro né (risos) quando tinha colheita, tudo era colocado no armazém, até encher. Quando chegava o dia do trem buscar a carga, que era de noite, todo mundo descia para a estação pra encher os vagões. As mulheres levavam os lampiões e umas comidas, sempre tinha um que levava o acordeão para tocar música, era uma alegria só! Aí depois que o armazém estava vazio, nós limpávamos e fazíamos um baile, era tão bom... 7 Relato de Leonilda Martins Brandão Remanescente do bairro da Cascata
A igreja foi um dos locais que abrigou a união dos moradores, tanto nos momentos difíceis quanto nos momentos de festa. Em ocasiões do passado, a igreja era o centro da união para a procissão ao Morro da Cruz. Agora, novamente, a igreja torna a ser o centro de uma reunião entre famílias que se tornou a tradição atual.
7 Relato obtido em São Paulo no dia 05/04/2020 por ocasião de entrevista.
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3.1 – Situação atual das construções O local em que a igreja foi instalada é no cume de uma área de vales. Antigamente, quando não haviam as construções mais recentes, era possível observá-la de longe. Atrás da Igreja existe uma estrada de terra que leva as fazendas, e uma visão para grandes Araucárias (que são abundantes na região) e outras árvores que escondem uma vista privilegiada das montanhas e vales da região.
Figura 23 – Imagem da fachada da Capela de São José. Fevereiro de 2020.
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Ao adentrar no terreno, a capela é definida por uma fachada de 8 metros e meio de largura, e uma edificação de aproximadamente 10 metros de altura , que abriga uma única porta de entrada. Como o terreno - observado na direção da fachada principal da capela - está em aclive, uma escada se desdobra subindo em direção a entrada. A fachada é simples, com poucos adornos e ornamentos. As laterais são destacadas como molduras aparentando a presença de pilares, estendidos em altura além dos limites da alvenaria, formando duas pontas nas laterais. Acima, a cumeeira do telhado é seguida em forma triangular pela alvenaria da fachada, como um frontão sutil demarcado apenas por uma moldura em alto relevo nas duas arestas superiores, e, em seu topo, situa-se uma cruz de material metálico vazado, pintado de branco. Entre os limites do “frontão”, há um ornamento que simula a aparência de uma rosácea, porém, sem abertura para iluminar o interior da capela com um vitral, o que seria o mais comum nas soluções semelhantes em igrejas. Apenas identificamos uma simulação em alto relevo em forma circular que se alinha com o centro da fachada. A porta de entrada também está alinhada com o centro da fachada. Tem formato de arco, e sua materialidade consiste em um vitral sustentado por malha metálica pintada de branco. As cores dos vitrais alternam entre o magenta, azul e o amarelo, formando o desenho de uma cruz em cada lado da porta(Figura 24). Nas laterais da porta de entrada, há dois mosaicos de pedra branca, um simbolizando o Lírio da Paz, flor que está presente na maioria das imagens de são José, e do outro lado, uma cruz. (Figura 23)
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Figura 24 – Detalhe do vitral da porta de entrada. Fevereiro de 2020
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O interior da capela foi reformado diversas vezes. Não é possível visualizar o telhado ou sua estrutura na parte interna, por conta da instalação de um forro de madeira. As paredes internas se encontram atualmente com a cor azul claro, com poucos quadros e imagens de santos em pequenas prateleiras. Ao todo, seis bancos de madeira maciça se distribuem em cada lado da capela, totalizando doze peças de mobiliário a disposição do público.
O presbitério é separado por uma parede de alvenaria, revelado por uma abertura ampla em arco, emoldurada por uma peça de gesso em alto relevo. Nesse espaço, a altura do altar é elevada em dois degraus, contendo o altar, o ambão e a cadeira presidencial. A segunda abertura em arco, encontrada no lado direito da capela que abriga o sacrário. Na parede ao fundo do altar há um crucifixo, enquadrado no centro de uma faixa larga na parede, em mosaico de pedras brancas, e no restante das laterais as paredes de alvenaria são de uma cor azul mais forte. O piso da igreja é composto por peças cerâmicas frias, mescladas em branco e cinza, imitando mármore Calacata, e, sinalizando o corredor de entrada, peças escuras retangulares delimitam a área de fluxo.
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Figura 25 – Imagem do interior da capela de São José. Fevereiro de 2020
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Porém, analisando a capela, é preciso destacar que há outras construções no terreno, uma conectada e outra não conectada a edificação principal. Analisando a estrutura da edificação principal, trata-se de uma capela construída provavelmente no mesmo período da estação ferroviária, com estilo colonial bem singelo. Além do corpo construído da capela, há uma extensão posterior à parede do altar, que corresponde à sacristia (em vermelho na Figura 26), local onde se faz a preparação dos padres, ministros e coroinhas antes da missa e depois da missa. Há acesso a essa parte por uma porta escondida na lateral esquerda do altar. Outra extensão menor complementar à capela se encontra na parte posterior à sacristia (em roxo na Figura 26). Esses anexos foram construídos após a data de construção da igreja. Deduziu-se, após esta análise, que a capela em si e as extensões posteriores são estruturas independentes, incluindo os telhados.
Figura 26 – Ilustração da disposição de anexos da Capela de São José. Maio de 2020.
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O uso do anexo, que é objeto de interesse deste TCC, é restrito apenas aos funcionários da capela, ambiente que abriga a sacristia, depósitos de materiais utilizados na celebração da missa, vestiário e entre outros usos, mas que, curiosamente, ocupa uma área muito maior do que a capela em si. Por se tratar de uma capela, e não de uma paróquia, não há a necessidade de um espaço tão grande para a sacristia. Existe, segundo observou-se, uma supervalorização de espaço restrito, provavelmente pela falta de planejamento do local, que poderia ser convertido em espaços com uso aproveitado pela sociedade.
Figura 27 – Foto do anexo posterior da Capela de São José, atual Sacristia. Fevereiro de 2020.
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Além do contraste entre os usos e as dimensões destinadas a cada ambiente, a fachada lateral esquerda do terreno da igreja mostra a diferença de estilos e construção entre a capela e o anexo, como mostra a Figura 27: As janelas são retangulares, diferentes do restante da capela, que tem a forma de arcos. Também é possível observar mudança de material e técnica construtiva utilizados na alvenaria pela diferença na largura das paredes da capela que, são aparentemente estruturais pela largura superior a 30 centímetros, e no anexo, cujas paredes apresentam largura inferior a 20 centímetros. Ao lado direito da capela, há um anexo à parte da igreja, sem ligação direta, onde atualmente aparenta serem realizadas atividades de ensino, pela presença livros. Provavelmente o edifício foi feito posteriormente pela falta de espaço na sacristia para serem ministradas aulas de catequese. O espaço foi edificado novamente de forma diferente do restante. O sistema estrutural é sustentado dessa vez por pilares, no total de dez pilares para uma área pequena de sustentação. Provavelmente são pilares de tijolos maciços (comuns na região), o que é possível de ser constatado pela largura necessária para sustentar uma relativa baixa carga de peso, quando comparado a um pilar de concreto. As janelas também se diferem das construções ao lado. A construção não se encontra em perfeito estado, com as vigas do telhado cedendo e com sinais de apodrecimento da madeira. Vestígios claros de infiltração na base de alvenaria da construção podem ser observados nos inchaços da pintura e das paredes, seguido por rachaduras que se guiam do chão até a alvenaria.(figura 28)
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Figura 28 – Foto do anexo na lateral direita da Capela de São José, atual Catequese. Fevereiro de 2020.
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Na área externa, há uma pequena estrutura sustentada por dois pilares (Figura 29) e uma espécie de laje que protege o sino, alguns caminhos pavimentados que levam aos acessos da igreja e aos anexos, um pequeno campo gramado de cada um dos lados da frente do terreno e algumas plantas na mureta limite do terreno, chamadas de Agapanto, que são muito encontradas no vilarejo.
Figura 29 – Foto da estrutura do Sino da Capela de São José, localizado do lado esquerdo da fachada. Fevereiro de 2020.
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Figura 30 – Foto da entrada e do jardim frontal da Capela de São José. Fevereiro de 2020.
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A capela foi construída pelos antigos moradores da região, que fizeram muito além da alvenaria e das doações para sua construção. Alguns elementos que fazem parte da igreja como mosaicos na fachada, pinturas e os bancos no interior da igreja, foram frutos do trabalho de artistas locais, e devem ser valorizados. Por isso entende-se que a edificação principal é patrimônio do local, mesmo não sendo tombada por nenhum órgão público, mas sim, em função da memória afetiva e importância histórica que impacta o local. A igreja faz parte da malha temporal histórica do bairro, como interpreta fenômenos desta natureza o teórico e arquiteto Peter Eisenman. Avaliando sob esse aspecto, entende-se que seus limites principais, compostos pela área de celebração da capela (interior) e suas fachadas não devem ser modificadas. Eisenman insiste em que se trata de “um espaço eterno no presente, sem nenhuma relação determinada com um futuro ideal ou com um passado idealizado. No presente, a arquitetura considera-se um processo de invenção de um passado artificial e de um presente sem futuro. Recorda um futuro que deixou de ser”. 8 Montaner, J.
No caso do Brasil, o tombamento de edificações que carregam junto a si uma construção anexa posterior gera discussões sobre a relevância do edifício de idade posterior, com justificativas que tratam da possibilidade de um entendimento que interfira na história e significado principal do edifício, e elimine a possibilidade de uma nova intervenção que possa modelar um novo uso para o edifício, e devolva sua importância e presença na atualidade.
8 Citação do livro Arquitetura e Critica, de José Maria Montaner
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No caso em questão, a Capela São José recebeu anexos que foram posteriormente instalados de forma segregada à igreja, e, portanto, não têm a mesma importância arquitetônica, simbólica e fenomenológica da capela original. Enquanto a capela fica permanentemente aberta, os anexos encontram-se trancados. Um contraste que nega a oferta de espaços voltados tanto à prática da religião, quanto para o uso da sociedade.
Tais espaços, como a sacristia, salas de estudo comunitário, locais de arrecadação de doações, espaços de meditação e oração, entre outros usos, são ambientes que também devem carregar o sentido da liturgia e ter o mínimo de salubridade. Portanto, a necessidade de um novo anexo que traga valores, interação e renovação é de suma importância, para que a sociedade se aproprie do espaço, com a sensação de avanço e reconhecimento de sua história.
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3.2 A celebração ritualística A celebração de uma missa não começa apenas no rito inicial, e sim, na sua preparação. Como por exemplo, a sacristia é o ambiente em que a missa é preparada, obtendo os elementos e objetos necessários para a celebração da missa, que são guardados com todo o cuidado possível, como por exemplo os cálices, as hóstias, o vinho, a água, o incensário, livros, etc. Quando o rito da preparação da missa se inicia, os objetos são manuseados e preparados com muita delicadeza, seguido por orações. Além dos objetos, o local é usado para que o padre, ministros da comunhão e coroinhas se preparem para a celebração. Como é necessário o uso de devidas vestimentas, a sacristia também deve abrigar um vestiário. Como visto, a sacristia faz parte da igreja de forma essencial, necessita de certa separação com o ambiente de celebração por questões de preservação dos objetos e pela privacidade dos indivíduos que irão participar da execução da celebração, mas isso não significa que deve ser totalmente escondida e inacessível em sua totalidade. Na Capela de São José, por exemplo, a sacristia é acessada por uma porta estreita à esquerda do altar. Outra questão que precisamos considerar são as salas de aprendizado, que podem ser usadas para catequese, crisma, retiros e outros atividades e cursos ligados às artes manuais e artesanato, cujo aprendizado é aplicado na preparação para as festas e comemorações litúrgicas. Esses ambientes devem ter os recursos e elementos indispensáveis para favorecer o aprendizado, além da arquitetura que deve proporcionar conforto térmico, acústico, iluminação natural e ventilação.
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Anexo 1 -Sacristia -Banheiros e vestiários
ANEXO 2
-Salas de depósito de materiais e de reuniões - Cozinha Anexo 2
ANEXO 1
-Depósito de livros e outros materiais
- Sala de aula para catequese
Figura 31 - Diagrama de usos – planta atual da capela de São Jose
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Contando com tais ambientes, a ideia de que a capela seja receptáculo da sociedade como um todo, deve abranger além da prática individual da fé, também a da caridade. O conceito principal da convivência em sociedade, segundo o catolicismo, é a compaixão, como ensina Jesus, na carta de João: O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. 9 (JO 15:12)
A necessidade de um apoio para a sociedade, além dos fiéis, principalmente no atual momento de pandemia da Covid-19, é imprescindível para ajudar a propagação de arrecadação e distribuição de doações de alimentos, EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e produtos de higiene. Lembretes, avisos e instruções para a disseminação de informações importantes para a prevenção da doença, e também como auxílio para pessoas que desenvolvem problemas emocionais, psíquicos e dependências, causados pelo isolamento social, como a solidão, depressão, desemprego, violência doméstica, e entre outros agravantes. Nesses casos, a igreja deve ser pilar além da fé, mas sim, apoio e ponte entre os fiéis, doadores e quem mais precisa, independente da religião.
Portanto, o local deve ter mais ambientes para abrigar tais funções, e este é um dos pontos que o projeto proposto pretende atender.
9 Citação do Livro de João, Capítulo 15, versículo 12 – Bíblia Sagrada
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3.3 – Religião e sociedade A maioria das sedes religiosas contam com o apoio de voluntários que disponibilizam seu tempo e conhecimento dando aulas, que não se referem apenas a assuntos religiosos, mas sim, com cunho social, como por exemplo princípios de alfabetização, libras, aulas de artesanato, reuniões de alcoólicos anônimos e dependentes químicos, entre outras atividades que desenvolvem o aprendizado e a inserção, ou reinserção, de indivíduos na sociedade em um conjunto. Além desses serviços prestados voluntariamente, doações são recebidas em campanhas e distribuídas para quem mais necessita. Em tempos de crise, como este em que estamos vivendo, a pandemia do vírus Covid-19, os espaços religiosos tornam ainda mais cenários de ações sociais. As pessoas que podem ajudar com doações procuram principalmente hospitais, ONGs e igrejas por serem mediadoras entre quem precisa e quem ajuda. A importância cultural e educacional é de sumo valor para cada indivíduo se estruturar e se sentir incluso como cidadão. Após analisar a vivência no local e identificar suas carências, é possível afirmar que aproximar a população a tais vertentes juntamente às memórias e relatos de remanescentes, traria de volta as noções de pertencimento dos habitantes desse vilarejo. A Capela de São José tem o potencial de atender às questões discutidas aqui, pelo papel de mediador entre o passado e o presente-futuro, por ser cenário de tantas histórias. Com o auxílio da boa arquitetura, possibilitando o incremento do espaço projetado em questões de funcionalidade e simbologia, um sentimento de renovação e acolhimento nasceria, por dar devida importância ao passado e mostrar a relevância do local para a comunidade, e a adaptação necessária para ele adquirir novos usos que incluam parte de suas carências.
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O conceito do projeto assumiria como proposta a união entre a importância de reconhecer a história para saber e atender as necessidades atuais, resultando na transformação do lugar, e de seu significado para a comunidade e para a cidade nos tempos atuais. Caso contrário, a transformação se tornaria apenas uma reforma, que mantém o uso atual, sem possibilitar a evolução do local, como aconteceu com a Estação da Cascata, que foi reformada por fora, mas continua fechada e inutilizada pelos moradores. Deste modo, os novos espaços que devem abrigar as funções sociais e administrativas da capela serão: - Secretaria - Salas de aprendizado geral, produções artísticas e reuniões - Sala de depósito de doações - Banheiros públicos - Cozinha comunitária Além de espaços externos que possam abrigar eventos como as festas litúrgicas, exposições dos trabalhos confeccionados pelos grupos de aprendizado e reinserção, campanhas de doações, entre outros eventos que possam acontecer.
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3.4 – Intenção de projeto Como conclusão das análises de usos e condições dos anexos atuais da Capela de São José, a posição tomada consistiu em considerar os dados suficientes que justificassem a substituição dos anexos por uma nova intervenção, que cumprisse seus papéis essenciais de uso e pudessem propor conforto e significado para seus ambientes, levando também em consideração, elementos que fizessem referência simbolicamente aos acontecimentos passados do bairro. Para isso, a proposta permeou o simbolismo das passagens litúrgicas de forma discreta, para que o indivíduo interpretasse o ambiente através de significados e suas funções.
ANEXO 2
ANEXO1
Como apresentado anteriormente, o terreno está, em sua maior parte, ocupado por usos externos ao social e de celebração da missa. A disposição atual dos anexos não valoriza o tamanho do terreno, e polui a imponência e importância da presença de uma capela tão antiga quanto a existência de todo o bairro. Antes ou após a missa, a reunião de pessoas na entrada da capela fica estrangulada por um caminho de pedras de aproximadamente 1,5 de largura, impedindo a interação social por meio do encontro semanal que a celebração eucarística proporciona.
Figura 32 - Diagrama de usos social (amarelo) e restrito (vermelho) da capela – planta atual da capela de São Jose
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A nova intervenção proporcionou privacidade às funções que assim necessitam, mas, aos demais usos, propôs valorizar a liberdade, fluidez e interatividade entre visitantes, funcionários, voluntários e usuários. E , do lado externo, a interação entre as pessoas foi estimulada com um paisagismo que permitisse aglomerações sem uma concentração amontoada de pessoas.
Abordando e explorando ainda mais o paisagismo do terreno, levamos em consideração a relação da inserção da edificação com seu entorno. A paisagem que cerca a capela é negada após a inserção de gramados e arbustos podados, que mostram total controle da mão humana sobre a imponência da natureza ao redor. Tipos de plantas que não são nativas da flora local, afastam ainda mais o sentimento pertencimento e importância da inserção do edifício. Além do sentimento de pertencimento, a presença e proximidade com a natureza nativa estimula os sentidos, e as novas atmosferas, que um anexo podem proporcionar ao local. Assim, foram ANEXO 2 explorados estudos sobre a fenomenologia. Área de auxilio social
Sacristia
Salas de estudos
Área para confissão
Banheiros
Novo paisagismo
Depósitos
Figura 33 – diagrama de conceito
Cozinha
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CAPÍTULO 4
ARQUITETURA, ATMOSFERAS E SENSAÇÕES
O espaço corresponde a uma coesão infinita aos olhos, sendo tudo que nos cerca, mas não nos abriga por si só. No entanto, se em um espaço há elementos, como árvores, pedras, cavernas, por exemplo, o nosso corpo os faz morada, se apropriando de seus volumes. A arquitetura complementa o papel de habitáculo, fazendo do espaço e seus elementos como matéria prima, impondo limites ou conexões, e é o que nos envolve a partir de nossas necessidades, por ser uma intervenção moldada, que nos acolhe. Mas, o que nos permite percorrer o espaço? Einstein solucionou essa pergunta com a teoria da relatividade, em que diz que o espaço e o tempo são uma só unidade. O tempo grava nossos passos no espaço, e consecutivamente em nossas memórias. Então, podemos considerar que a arquitetura é feita de espaço, tempo e matéria, organizados e moldados para nossas necessidades? Não, há muito mais por trás dessa questão. Antes do início da história da arquitetura, o homem se aproveitava de conformações naturais, que permitiam possível conforto e segurança para ele se abrigar. Mas, em algum determinado momento, a necessidade o obrigou a desenvolver técnicas para construir um abrigo, utilizando pedras, madeira, ou folhagens em forma de pilhas. Sua experiência cresceu no ato de experimentar e viver essas realidades: passou a saber o que proporciona mais resistência, mais conforto térmico, menos umidade, etc. Além disso, o estilo de vida nômade teve de ser deixado para trás, a partir da descoberta do cultivo da terra e criação animal. Então, o ser humano teve que se habituar a moldar o espaço a seu favor.
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Sendo assim o homem molda a matéria ao seu redor a partir de suas experiências, fruto de vivências que estão gravadas em sua memória. Estas, que podem ser boas ou ruins, influenciam no volume, materialidade, tamanho, etc., além de atender à necessidade que o indivíduo carece, motivo da ação de construir. O habitar passa a ser também sinônimo, não só da necessidade dura, mas também , do conforto em geral. O ser humano passa a criar vínculos mais fortes com o local em que vive, reconhecendo as marcas de ter o poder de criar, moldar a matéria, e criando lembranças que geram a sensação de pertencimento. Como a arquitetura é fruto do nosso cotidiano, pertencemos à arquitetura como integração a ela em um único sistema, pois nosso corpo se projeta em interação diretamente com a sua forma.
A geometria do pensamento reflete a geometria do cômodo. PALLASMAA, Juhani. Esse contato entre o homem e a arquitetura cria vínculos emocionais. Cada detalhe passa a ser um registro, e assim, um lembrete. Por exemplo: se um indivíduo mora em uma casa de madeira, com certeza recordará de seu cheiro, de sua forma e de como o som se propaga no ambiente. Se há uma marca na parede, lembrará de como essa marca apareceu, e sua história é revivida na memória, como ver uma foto.
10 Citação do Livro: Os olhos da Pele: A arquitetura e os sentidos. PALLASMAA, Juhani. Página 42, terceiro parágrafo.
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Tais sentimentos e sensações são retratados no estudo sobre como a arquitetura influencia este campo humano de recordações, que se chama fenomenologia. Este estudo aponta que a interação do indivíduo no ambiente possa ser influenciada a partir de suas lembranças, gerando sensações, causadas por sua forma e materialidade, como suas cores, luz, sombra, aroma, som, texturas, volumes, aberturas, temperatura, etc. Elementos que aguçam os conhecidos cinco sentidos do corpo humano, que são a visão, o tato, o olfato, a audição e o paladar. Com o passar do tempo, essas noções foram se corrompendo, as construções passaram a ter um padrão definido pela sua facilidade de execução, maior durabilidade, menor tempo e custo. A questão estética e do status social sobressaíram às questões de conforto e necessidade, e dessa forma, a arquitetura passou a ser sinônimo de organização do espaço em prol de padrões estéticos, sem levar em consideração a sensação de estar.
Tal sensação se resume à negação de um sentimento de entrar em casa e dizer que “finalmente estou em meu lar”, sem considerar a noção de máquina de habitar, cujo uso único é para abrigar. O que é necessário para que um homem chame uma casa de lar? Isso depende de suas experiências passadas, o que o faz sentir que pertence ao local. O que chamamos de “espaço aconchegante” se deve ao fato de que há elementos que nos permitam ter essa sensação, como uma luz amarelada que remete ao pôr do sol, e dá sensação de calmaria após um dia agitado, o uso de moveis e revestimentos de madeira, material que escurece o ambiente e tem grande propriedade para o conforto térmico, entre outros elementos que geram recordações sobre o convívio no local e contribuem ao sentimento de pertencimento.
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A exploração da fenomenologia na arquitetura se mostra poderosa aliada quando o assunto trata de qualquer tipo de espaço construído ou não edificado, mas, em especial, os ambientes religiosos tratam o assunto de forma diferente, principalmente na igreja católica. Tais ambientes são projetados para transmitir o sentido da fé no próprio espaço, e mostram a quão grandiosa é a entidade e a sua merecida adoração.
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4.1 Referências projetuais sobre a sensação de estar Para entender como a arquitetura religiosa utiliza os elementos arquitetônicos e naturais para instigar os sentidos, e consequentemente criar sensações, apresentamos exemplos de projetos arquitetônicos voltados ao tema deste trabalho. Os projetos foram distribuídos em ordem cronológica, destacando seus locais de implantação para entender suas influências temporais e materiais. A Igreja Espírito Santo do Cerrado, de Lina Bo Bardi, está localizada na cidade mineira de Uberlândia e foi construída no ano de 1975.
Figura 34 – Fotografia da igreja do Espirito Santo do Cerrado
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Apesar da obra não tratar de uma intervenção em pré-existência, como no caso deste presente trabalho, a essência do edifício incorpora diversos usos com a união de volumetrias. A planta abriga os usos públicos e privados, que são apontados na Figura 35:
Figura 35 – Planta baixa da igreja do Espirito Santo do Cerrado, com seus usos separados por cor.
Uso público: ambiente de celebração da missa (Nave) – em vermelho, ambiente de reuniões sociais (galpão) – em azul. Uso privado: sacristia, aposentos para freiras com cozinha, banheiros e quartos, sala de reuniões, sala de confissões – em amarelo.
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Fazendo uso da geometria, Lina Bo Bardi uniu 3 elementos circulares para separar estes ambientes, de forma que se complementassem na planta, e fizessem parte do mesmo conjunto. Toda a obra é feita com materiais e mão de obra locais, preservando o sentimento de pertencimento e estilo de construção local. A diferença se destaca pela opção de manter a natureza dos materiais, sem revestimento e nem pintura do lado externo. Os materiais envolvidos são a cerâmica, utilizada nos telhados; o tijolo, utilizado na alvenaria; a madeira, utilizada na estrutura dos telhados, nos bancos, nas portas, no altar e nas caixilharias; a pedra, utilizada nos pisos.
Figura 36 – Ilustração dos materiais utilizados na Igreja Espirito Santo do Cerrado
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A nave, local onde há a celebração das missas, é uma circunferência inteira em planta e fica na cota mais alta do terreno. Na parte interna deste ambiente, há apenas uma abertura que permite entrada de luz natural, que fica localizada no telhado. O local escolhido para tal abertura direciona a luz diretamente para o altar, proporcionando contraste de claro e escuro em relação ao restante do ambiente. A parede deste ambiente foi pintada de branco, talvez para refletir a luz que entra da abertura superior, para não deixar o ambiente totalmente escuro. Mas, a sensação é de que o ambiente é infinito, limpo, homogêneo na altura dos olhos, pois não há arestas nem cantos, e a sombra é homogênea em toda a extensão da parede interna.
Figura 37 – Interior da Igreja do Espirito Santo do Cerrado.
Os pilares da estrutura do telhado são de madeira, com aspecto de um tronco de árvore sem muito tratamento com verniz, com suas manchas e marcas naturais. Toda a estrutura do telhado é visível do lado de dentro da capela, trazendo a sensação de um trabalho realmente artesanal.
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Na área do altar, há 4 pilares ligados por 4 vigas, formando uma estrutura quadrada. Nessa estrutura, panos foram estendidos abaixo da abertura no telhado, formando uma espécie de tenda para o altar, que se encontra em um elevado de madeira, com 3 degraus. Todo o mobiliário do presbitério é feito do mesmo material; uma madeira de tom mais claro do que dos bancos para o público. Na área do altar, há 4 pilares ligados por 4 vigas, formando uma estrutura quadrada. Nessa estrutura, panos foram estendidos abaixo da abertura no telhado, formando uma espécie de tenda para o altar, que se encontra em um elevado de madeira, com 3 degraus. Todo o mobiliário do presbitério é feito do mesmo material; uma madeira de tom mais claro do que dos bancos para o público.
Figura 38 – Interior da Igreja do Espirito Santo do Cerrado.
Cada detalhe de seu interior se destaca, assim como sua materialidade e sua forma, no momento em que se entra no ambiente. A luz direcionada ao altar, quando o local está relativamente escuro, gera o maior destaque e contraste possível para o elemento principal.
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O ambiente escuro é capaz de fazer com que um indivíduo se abra a novas sensações. No escuro, o homem se sente acolhido a se expressar sem o medo de que alguém o esteja olhando, e a fé é justamente sustentada a partir de sua entrega. O exercício de fechar os olhos durante uma oração intensifica as emoções e os sentidos do corpo humano, e em um ambiente que aumenta a frequência do som, como no caso, em uma igreja circular, proporciona uma concentração no que está acontecendo apenas consigo mesmo, pois está sentindo todo o espaço refletir em seu corpo através do som, como se a arquitetura o envolvesse por completo. Este é o diferencial, ao entrar em uma igreja, mais se sente o espaço do que propriamente o vê. A próxima seção é a de moradia das freiras, correspondendo à volumetria do meio. O ambiente é separado em quartos com banheiro, cozinha, salas de reunião, confessionário e sacristia. A organização se dá pela separação radial dos ambientes, por paredes que se alinham com o centro da circunferência da planta. No centro há um pátio circular, criado para permitir a devida ventilação nos ambientes internos, e criar interação em um ambiente mais reservado, com a presença de um jardim e uma fonte. Figura 39 – Imagem do pátio interno da área de moradia das freiras.
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A última volumetria se trata de um galpão aberto, separado apenas por uma cerca de bambu. Este ambiente é voltado a reuniões para a sociedade, o local é simples, não há mobiliário fixo ou pré-definido, foi criado justamente para que os habitantes o utilize da maneira que precisarem no momento. Podem ser ministradas aulas de catequese, apresentações, aulas de artesanato, etc.
Figura 40 – Exterior da Igreja do Espírito Santo do Cerrado, enfatizando o ambiente de reuniões públicas.
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Entretanto, a fenomenologia não se aplica apenas a espaços construídos; sensações são despertadas principalmente em meio a natureza, por isso os sentidos ficam mais aguçados. Quando a arquitetura revela a natureza a sua volta, mesmo em seu interior, as relações entre o local e a edificação se intensificam ainda mais. Quando o projeto de arquitetura decide abranger o espaço e a paisagem ao seu redor, se torna completo por estender-se além do horizonte. Um exemplo em que a paisagem faz parte da construção é a Capela de São Pedro, projeto arquitetônico de Paulo Mendes da Rocha, na cidade de Campos do Jordão.
Figura 41 – Exterior da Capela de São Pedro.
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A implantação do projeto fica localizada em um ponto alto e afastado da cidade, próximo a uma antiga edificação chamada Palácio da Boa Vista. O nome dado indicia o sentido literal da obra; a vista da paisagem no local é privilegiada, sendo possível visualizar toda a cidade e as cadeias de montanhas ao redor. A Edificação é sustentada por um único pilar central, e todo o fechamento é feito em vidro. Dessa forma, a edificação interfere minimamente na paisagem, e acaba por se tornar parte dela. A luz natural permeia a capela sem filtro, diferentemente de muitos projetos que tem como preferência construir o ambiente sagrado com pé direito mais alto, vedado e escuro, para que a concentração do indivíduo seja somente com o que está no altar. Porém, no caso dessa capela, a paisagem é visível em todos os lados, e tal fato reforça o papel de imensidão, e torna-se objeto de reflexão.
Figura 42 – Interior da Capela de são Pedro, no nível mais baixo
A capela está em um terreno com declive de 3 metros. Na cota mais baixa, há um espelho d’água, que além de refletir a paisagem natural e principalmente o céu, faz referência a história de São Pedro, que era pescador antes de conhecer Jesus.
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A capela é separada em níveis, há entradas pelo nível mais baixo e pelo nível mais alto. A nave, que é o local em que os fieis assistem a celebração da missa, fica em uma conformação de degraus, que descem em direção ao altar, dessa todos tem uma visão limpa da celebração da missa e da paisagem ao redor.
O altar se projeta na direção do horizonte mais limpo, havendo também só a presença da mesa do altar. Tal situação passa a mensagem de que não há a necessidade de muitos elementos para que a religião possa ser praticada.
Figura 43 – Interior da Capela de são Pedro, no nível do altar.
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CAPÍTULO 5
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
O conceito da Igreja do Espírito Santo do Cerrado, de Lina Bo Bardi, apresentado como exemplo de arquitetura em relação a fenomenologia, utiliza a luz projetada em contraste a um ambiente escuro, dando a sensação de elevação e divindade para o altar, ressaltando a utilização de materiais e mão de obra local. Entretanto, seu foco não permanece na intenção de enriquecer a sensação de presença, mas também utiliza o princípio da união entre a religião e a sociedade. Além disso, resume-se na interação e entrelaçamento dos ambientes, utilizando volumetrias independentes, mas, que fazem parte de um conjunto que se completa, com a presença de diferentes usos. No caso da Capela de São Pedro, de Paulo Mendes da Rocha, a natureza é incorporada no espaço como um tributo à grandeza da criação divina, trazendo para o ambiente elementos naturais como a luz e sombra a partir da transparência do vidro, e a simbologia da água, como lembrança de passagens bíblicas. Para que esses pressupostos se aplicassem no alvo deste trabalho, fez-se necessário o uso de uma nova intervenção ao redor da existente Capela de São José. Um anexo que complementasse suas necessidades. Foram apresentados alguns exemplos de anexos em antigas preexistência. Estes projetos abordam temas além da arquitetura religiosa, mas, poderiam ser aplicados da mesma forma com diferentes usos. As obras abordadas são: Museu Rodin – Museu do Pão – Capela Elsa Morante – Convento Sant Francesc – Igreja St. Margaret
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1 – Museu Rodin Bahia A obra se trata da instalação arquitetônica de anexos em um palacete histórico, para possibilitar a acomodação da primeira sede brasileira do Museu Rodin, na Bahia.
Projeto: Brasil Arquitetura Localização: Salvador, Bahia Brasil
Ano: 2002
Figura 44 – Foto da fachada principal do Palacete Comendador Catharino.
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O projeto consiste em mudar o uso do palacete, adequando-o para receber obras de arte e proporcionar melhor fluxo entre grupos maiores de visitantes, sem sobrecarregar os prumadas de circulação e acessos existentes do edifício. A solução encontrada foi a demolição de uma área na fachada do fundo do palacete, que havia sido reformada em uma data posterior à construção do casarão, para inclusão de um anexo que serviria de circulação vertical, possibilitando acessibilidade a mais um ponto de entrada e saída do edifício.
Figura 45 – Processo de criação através de croquis
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O discurso adotado de preservação do palacete não se aplicava à área que havia sido reformada, pois não transmitia a importância da obra como conjunto. Então, poderia ser substituída por uma nova forma de arquitetura que pudesse incluir mais sentido e funcionalidade para o momento presente. Portanto, o contraste em relação ao novo anexo e a antiga construção se faz necessária, utilizando a mudança de materiais e técnicas, para deixar explícito que o anexo foi incorporado de acordo com sua época.
A partir desse anexo, os arquitetos pensaram em uma forma de unir o edifício antigos ao edifício novo, destinado a abrigar o museu. Então, foi feita a implantação de uma passarela a partir do primeiro pavimento do casarão até o novo edifício.
Figura 46 – Foto da fachada posterior do palacete, com o anexo de circulação vertical.
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O restante dos usos como o café, as áreas maiores de exposição, as docas, banheiros, e a parte administrativa, ficaram no novo edifício, mantendo uma certa distância entre o palacete, com a volumetria seguindo os limites da antiga construção, porém, em altura menor, para não competir visualmente com a obra histórica.
Figura 47 e 48 – Foto da passarela que liga o antigo edifício ao novo.
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Figura 49 – Implantação da intervenção.
Figura 50 – Vista da fachada lateral esquerda do edifício.
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2 – Museu do Pão O Museu do Pão é um conjunto arquitetônico que inclui a recuperação de um moinho do final do século XIX, com anexos que aproveitam o amplo espaço do terreno, para a inclusão de uma escola de padeiros.
Projeto: Brasil Arquitetura Localização: Ilópolis, Rio Grande do Sul
Ano: 2005
Figura 51 – Foto superior do conjunto do Museu do Pão
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Os anexos foram construídos em concreto e vidro, para contrastar entre as novas construções e o moinho, que é feito inteiramente de madeira. Porém, mesmo com a diferença de matérias, o concreto foi moldado com a aparência de ripas de mateira, e assim, se aproxima mais da estética e estilo da construção original. Além de manter uma certa distância dos os materiais entre as construções, os anexos não encostam no moinho, para que a antiga construção se sobressaia e as anexos apenas cumpram o papel de emoldurar o edifício.
Figura 52 – Foto entre a construção original e o novo anexo
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Como os anexos não são colados no edifício, o projeto estimula o fluxo entre as construções com a implantação de passarelas de madeira. Dessa forma, o moinho não sofre a interferência de uma contraposição de materiais em sua fachada, e o contraste visual se mantém em harmonia. Além das passarelas, os espaços entre os edifícios são ocupados com jardins, e também utilizados para expor peças. Os visitantes podem perambular entre as construções e interagir com as maiores peças do moinho, feitas de pedra. Para retornar ao ambiente interno do museu, foram disponibilizadas escadas em cada entrada, e, assim, o fluxo fica extremamente livre.
Figura 53 – Foto do jardim entre os anexos, com as peças de pedra expostas
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3 – Capela Elsa Morante: Livraria pública Este projeto trata de uma intervenção em uma antiga capela localizada na Itália. A antiga edificação teve seu uso totalmente modificado, de uma arquitetura religiosa de estilo colonial, para uma livraria, mantendo sua estética e ornamentos exteriores, mas, modificando totalmente seu interior em um ambiente contemporâneo.
Projeto: DAP Studio Localização: Lonate Ceppino, Itália
Ano: 2008
Figura 54 – Fotografia da fachada da capela Elsa Morante
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Ao lado da capela foi instalado um anexo que cumpre o papel de prumada de circulação vertical. A reforma interior dispôs um novo pavimento no interior da capela, por conta da altura do pé direito que permitia tal alteração, dessa forma, para não perder espaço interno com circulações verticais, o anexo foi implantado. A materialidade externa do anexo mantém uma coerência formal limpa entre a edificação existente, devido ao uso de um revestimento branco com acabamento brilhante, sem ornamentos e com poucas aberturas. Dessa forma, a volumetria reflete seu entorno, agindo como uma camuflagem com a paisagem, e, assim, não assume a importância visual do edifício principal. Porém, apesar de tal cuidado com a interferência visual, por ser uma volumetria simples e minimalista em questões construtivas, o anexo não nega sua época, faz contraste com a edificação ao lado, evidenciando ainda mais a diferença de idade entre elas. Figura 55 – Fotografia da lateral esquerda do anexo, enfatizando o potencial reflexivo do material referente a paisagem de entorno.
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Figura 56 – Elevação e Corte da capela Elsa Morante juntamente ao anexo
Figura 57 – Planta da capela Elsa Morante juntamente ao anexo
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4 – Convento de Sant Francesc O convento de San Francesc fica na Espanha, na cidade de Santpedor. O antigo edifício, que estava sem uso desde 1835 e teve parte demolida nos anos 2000, assumiu a nova função de edificação cultural, e, para que a modificação de uso fosse possível, a implantação de anexos, reformas e restauros foram necessários para a adequação.
Projeto: Davis Closes Localização: Santpedor, Espanha.
Ano: 2011
Figura 58 – Fotografia da fachada principal do convento.
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O projeto mantém a aparência de ruína interna e externamente, porém, nas aberturas e novas intervenções, são usados materiais atuas, de modo que possam ser facilmente identificados e diferenciados dos elementos originais. Novos acessos foram criados, o mais impactante é a escada na fachada principal, com volume de faces inclinadas, revestido com um material translúcido, que aparenta estar colado na fachada do edifício.
No interior do convento, foram mantidas as dimensões originais do espaço. A maioria dos anexos de apoio, como prumadas de circulação vertical e banheiros, foram inseridos no exterior do ambiente, de forma que não pudessem influenciar na unidade interna da edificação.
Figura 59 – Fotografia da fachada principal do convento e seu entorno.
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Figura 60, 61 e 62 – Fotografias dos anexos inseridos na antiga edificação.
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A premissa principal do projeto também estava na entrada da luz natural no ambiente, dessa forma, incluíram a presença de claraboias no telhado, e o novo teto do interior foi pintado de branco, como é possível observar na figura 63, de modo que pudesse refletir a luz nas paredes de pedra e iluminar o ambiente de forma homogênea.
Figura 63 – Fotografia do interior do convento.
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5 – Igreja St. Margaret O projeto da Igreja St. Margaret trata-se da ampliação de seu ambiente interno através de um anexo construído em sua extensão. A construção localiza-se na Austrália, e a data da construção original é 1861, de estilo neogótico em tijolo aparente
Projeto: Atelier Wagner Localização: Austrália Ano: 2015
Figura 64 – Fotografia da fachada principal da Igreja.
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A construção da nova extensão foi possível, sem comprometer a estrutura da igreja, pois a parede posterior foi projetada para ser temporária, possibilitando uma ampliação posterior conforme a necessidade. A volumetria do anexo envolve a questão de iluminação natural devido à alteração de posição da alvenaria, que permitiu novas aberturas laterais.
Figura 65 e 66 – Fotografias do lado externo da igreja, enfatizando a intervenção.
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No interior da igreja houveram mudanças apenas no altar, local da extensão. A cor do interior do anexo intercala entre branco e dourado texturizado na parede do altar, novas luminárias foram colocadas para complementar a iluminação. O restante da igreja foi mantido, como a estrutura aparente do telhado e o piso.
Figura 67 e 68– Fotografias do lado interno da igreja, enfatizando a intervenção.
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Neste caso, o anexo faz conexão com outras construções do terreno, tornando mais fluida a interação e fluxo entre os ambientes.
Figura 69– Diagrama de implantação do anexo.
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CAPÍTULO 6
PROJETO HIPÓTESES E ENSAIOS
Nos capítulos anteriores, consideramos as análises e estudos desdobrados para a proposição de uma nova volumetria, partindo da compreensão histórica do local, de seus valores e necessidades; passando pelo estudo da fenomenologia, afinando o entendimento dos elementos arquitetônicos e naturais para o despertar dos sentidos humanos; e aprofundando tal conhecimento, reconhecemos exemplos construídos a partir dos estudos de caso apresentados. Portanto, as necessidades sociais e culturais partem como objetivo do projeto, por conta da escassez de infraestrutura urbana e educacional, que vão de encontro com o apelo simbólico pelas memórias e relatos das tradições que se perdem com o passar do tempo. O projeto poderia se considerar um alento para tal abandono, uma ressignificação do local se transforma em um memorial de sentimentos e emoções vividas em outros tempos, unindo-se a necessidade de um espaço para convivência da sociedade local, e um convite aos que ainda não conhecem a sua história. No presente capítulo, descrevemos o processo projetual do novo anexo da Capela de São José, aplicando o conhecimento adquirido anteriormente, juntamente a explorações volumétricas que pudessem moldar os elementos materiais e naturais, evocando a simbologia arquitetônica, sempre refletindo as características de seu entorno.
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Desse modo, partimos do reconhecimento do local para identificar as possíveis formas de materializar essa intervenção. As implantações de anexos em pré-existências vistas anteriormente nas referências projetuais, seguem a exigência de: - Não competir visualmente com o edifício principal; - Evitar atingir a mesma altura que o edifício principal; - Seguir limites de construção sem alterar a visão da fachada do edifício principal; - Utilizar materiais novos com poucos detalhes e cores neutras à construção principal. Dessa forma, esses tópicos foram, a princípio, as diretrizes seguidas para apontar a melhor possibilidade volumétrica, para que a edificação principal – a Capela de São José – fosse emoldurada por uma nova construção. A Capela está implantada em um terreno de 931m², ocupando apenas 103 m² de seu espaço, localizada próxima a lateral do lote em que se encontra a rua de acesso principal. Essa situação possibilitou maior aproveitamento do terreno, de forma que o novo anexo não tenha interferência na fachada da Capela. As possibilidades de implantação do anexo visam um uso mínimo de área construída, não há necessidade de uma infraestrutura que ocupe a mesma porcentagem de área que os antigos anexos utilizavam. O terreno da capela será mais livre, entretanto, não será vazio. O espaço não edificado deverá também carregar o simbolismo e intenção de projeto da volumetria construída, sendo mais um ambiente de reflexão que irá contribuir com a sensação de estar do indivíduo, envolvendo também o sentido e direção de que as pessoas poderão percorrer na nova proposta.
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Figura 70– Croquis de estudo: retirada dos anexos existentes
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A volumetria não poderia ocupar o atual espaço dos anexos, pelo tamanho do terreno, também não haveria a necessidade da construção de pavimentos. Dentre as infinitas possibilidades, a mais adequada e coerente se encontra na área posterior à Capela de São José.
Figura 71– Croquis de estudo: proposição da volumetria
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A partir da implantação definida, surge a necessidade de interligar a Capela á nova intervenção. As paredes do antigo altar são retiradas, abrindo espaço em seu interior, e o elemento de interação entre o antigo e o novo surge, como um portal que permite a transição entre duas atmosferas, que agora se interligam em um espaço contínuo. Tal elemento que fura a parede posterior da Capela deverá ter materialidade sólida, homogênea e contemporânea, de forma que se sobressaia como nova intervenção de fato, para que se torne consciente e intencional a ação de uma ruptura do antigo com o novo, mantendo assim um contraste fino por dentro, e robusto por fora.
O elemento que materializa como intervenção será uma caixa de concreto, que se eleva a 50 centímetros do chão, acompanhando a diferença de níveis do terreno, abrigará o altar, com duas rampas em cada lateral. As rampas, possibilitam um acesso mais fluido e contínuo tanto para o Sacerdote e os ministros, visitantes, portadores de necessidades físicas e especiais; mas também carregam o sentido de caminhar para o alto. Tal ato de andar em ascensão transmite e simboliza o anseio dos cristãos alcançarem o céu. Na história da antiga procissão do Morro da Cruz, o percurso também era feito para o alto. Dessa forma, definimos um novo movimento que remete as lembranças do passado. As rampas são acesso a uma nova área da Capela de São José, a “Capela do Santíssimo” como é assim chamada a área em que se encontra o sacrário, objeto que guarda a Hóstia, sendo o próprio Jesus vivo na religião Católica. O sentido de caminhar para cima, em direção aos céus se reafirma através do percurso.
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Parede posterior da Capela
Intervenção de ligação
Figura 71– Croquis de estudo: intervenção de ligação entre o antigo e o novo
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A “Capela do Santíssimo” está ainda na área de transição entre a Capela de São José e o novo anexo. Esse local abriga um valor extremamente forte na religião católica O sacrário se revela o objeto de maior valor simbólico e espiritual dentro de uma igreja. Se encontra na maioria das vezes, na perspectiva central do altar, em que se vê em primeiro destaque ao adentrar no ambiente. No caso da Capela de São José, o sacrário fica escondido no canto direito do altar, sem visibilidade e espaço para adoração dos fieis. No projeto da nova intervenção, foi estudada uma possibilidade de dar maior visibilidade e retomar a importância do elemento na Capela. O sacrário está posicionado na perspectiva central da nova intervenção, apesar de não estar no interior da antiga Capela, o Sacrário está inserido em um ambiente mais amplo, emoldurada por um elemento que da destaque aos olhos em primeiro contato com o interior do ambiente. A estrutura que abriga tais elementos permite a entrada de luz natural, tornando o ambiente mais iluminado que o interior da antiga Capela. Dessa forma, a visão do sacrário em um ambiente de luz abundante transmite a espiritualidade através de um toque simbólico vindo dos céus. Como visto anteriormente, uma das diretrizes apontadas com base nos estudos de caso indicava a não ultrapassar os limites de altura da construção principal. A estrutura da gota excede o limite de altura da capela, entretanto, o terreno está em aclive em direção a capela, sendo assim, a antiga construção oculta a estrutura quando o ponto de visão do indivíduo está de frente com a capela. Na rua de acesso da Capela é possível avistar a nova estrutura, mas como a forma segue também a inclinação do telhado da capela em primeiro momento, a forma se faz contínua, tornando um elemento fluido e destacando a presença da capela no local, recebendo também a função de novo marco.
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A estrutura que envolve o sacrário tem a materialidade e volumetria totalmente diferentes da intervenção que perfura a Capela de São José. Sua forma abriga a simbologia e marco da história da Procissão no Morro da Cruz juntamente ao abrigo da hóstia consagrada, que é o Sacrário. A volumetria da estrutura segue a forma de uma gota, sendo referência a chuva, elemento que era o objetivo das preces e orações dos fieis nas procissões para o Morro da Cruz. Além da água, a gota também se torna elemento que aponta para o céu, indicando que ali está a presença de Deus, e de onde Ele vem. Sua materialidade é definida pela madeira, elemento que se refere a São José, por sua profissão de carpinteiro. Sua presença esta marcada pelo fato da capela levar consigo o nome do pai de Jesus. A forma de gota também remete a forma da pétala da flor do Lírio, sendo mais larga em sua base, se afinando até a ponta. A flor do Lírio tem sua estrutura em 6 pétalas: 3 na parte superior e 3 na inferior. A sequência numérica também está presente nesse elemento de madeira: a estrutura se desdobra em camadas, descendo em direção ao sacrário, sendo 3 divisões em degraus que simbolizam a Santíssima Trindade – sendo o mistério de um só Deus em três pessoas: o Pai (Deus), o Filho (Jesus) e o Espirito Santo. Além do apelo simbólico, a madeira laminada permite a construção de formas mais orgânicas e livres, além de ser mais leve, tanto fisicamente quanto visualmente, trás uma ambiência de conforto, tanto por sua cor, textura, aroma e forma de reverberar o som. Sua cobertura é feita através de uma impermeabilização com produto de Poliurea sobre chapas de madeira, uma opção favorável a elementos curvilíneos, por tornar a cobertura um objeto contínuo e sem divisões.
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Figura 72– Croquis de estudo: a estrutura da Gota
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O elemento que emoldura o sacrário absorve a forma da estrutura em gota que o rodeia, sendo mais baixo nas pontas e com seu centro mais alto. A forma é materializada por lâminas de quartzo branco, material proveniente da região, que elucida a nobreza que o elemento carrega em estrar no plano de fundo do sacrário, seguido por ripas de madeira que sobem em direção ao alto, intensificando o foco do elemento central, reconhecendo a simplicidade do local e reafirmando a presença da figura de São José, patrono da Capela que representa também a humildade e pequenez do homem diante de Deus. Entre as ripas foi inserido um vidro fosco, pois além de ser um elemento de destaque, essa forma também oculta a entrada da sacristia, que fica atrás. O elemento de destaque está elevado em uma base de granito, com um degrau de 15cm de altura. O Sacrário se sustenta em uma base de tubos de acrílico, que sobem de um espelho d’agua. Tais tubos levam uma pequena quantidade de água até uma chapa de acrílico perfurada, derramando gotas no espelho d’água, reproduzindo um som que remete ao início de uma chuva. Como o elemento de destaque posterior ao sacrário se dispõe em placas que se posicionam em uma forma de concha, tendo também um material que reverbera o som e não o absorve, as ondas sonoras causadas pelo impacto das gotas na água são projetadas em direção a Capela.
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Figura 73– Croquis de estudo: o sacrário e sua moldura
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O espelho d’água que recebe as gotas do Sacrário derrama sua água através do desenho do piso. Um rastro se faz desde sua origem e “escorre” até a porta de entrada da Capela. A água é representada no piso pelo granito Azul Macaubas, de origem nacional.
O desenho do piso da Capela recebe as curvas que representam as gotas de chuva e da flor do Lírio, marcando o fluxo de entrada principal e evidenciando o altar, com o peças de granito mais escuras no centro. Na porta de entrada, o granito verde Candeias traz a natureza dos morros e montanhas do entorno, em especial ao Morro da Cruz, que recebe o desenho da água vinda do Sacrário.
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Levando em consideração o novo traçado do desenho de piso, as janelas e a porta de entrada sofreram alteração para corresponderem igualmente aos valores simbólicos atribuídos a todos os elementos da Capela. As janelas eram na verdade vitrôs, se distinguiam entre a linguagem da porta de entrada, sendo um vitral, e das janelas menores, com sua moldura, cores e formas diferentes. Foram então adicionados vitrais ás janelas e porta de entrada. Os vitrais transformam a atmosfera sensorial do local por proporcionarem um filtro a luz, com a sua refração colorida, tornam os olhos mais sensíveis aos detalhes, pois nossos olhos não estão acostumados com luzes coloridas, levando uma sensação de estar em um momento sobrenatural, ao mesmo tempo o restante dos sentidos se afloram por conta da porcentagem de luz mais baixa no ambiente. O desenho dos vitrais conta a história do Morro da Cruz. Como o desenho da abertura da parede é um arco, o desenho do vitral reflete a mesma semicircunferência de forma espelhada. A forma da gota é completa pelas curvas e também refletida para cima, se sobrepondo uma a outra. A gota com a ponta para cima simboliza a água da chuva (azul) caindo sobre a terra seca (vermelho), e a gota com a ponta para baixo simboliza o poder divino (amarelo) enviando a chuva em direção a terra. Entre as laterais da gota, há a natureza do entorno que representa a vida (verde), tanto da fauna, quanto da flora, proveniente do poder de Deus.
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Figura 74– Croquis de estudo: desenho dos vitrais
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Finalmente, após a estrutura da madeira, há o anexo construído para abrigar as funções auxiliares da igreja e da sociedade. A princípio, a forma desse anexo foi pensada com retas, sendo totalmente ortogonal. Porém, quando se percebe seu entorno, sua abundância em elementos naturais, suas particularidades, o ortogonal foge da realidade do local. Se torna um contraste heterogêneo, não se funde com as histórias do passado e nem com seu presente. A forma curvada, além de remeter a natureza do entorno, também reflete a necessidade de adequação da volumetria com a forma do terreno da capela, além de evocar sentidos que a fé contém: A curva é um elemento singelo, aos olhos, parece infinita. É suave, porém presente. Dependendo do ângulo, o indivíduo não vê o inicio e nem o fim. Quando se está no côncavo da curva, o indivíduo se sente abraçado, enquanto o contrário, se sente em uma amplitude inexplicável. O novo anexo segue a extensão da curva na proporção áurea, na construção da forma, suas linhas se estendem até a antiga entrada do terreno da igreja, desse modo, a própria geometria do anexo indica seus acessos.
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Figura 75– Croquis de estudo: forma do anexo auxiliar
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O anexo se divide em duas partes: 1 - A primeira parte abriga a Sacristia, uma sala de reuniões, um vestiário, uma cozinha e um banheiro acessível. Não tem livre acesso do público em geral, apenas em caso de confissões será utilizada a sala de reuniões. A Sacristia, local onde se prepara a missa e armazena seus objetos sagrados se encontra de forma mais aberta e direta ao Sacrário e ao Altar, facilitando o fluxo entre os ambientes e proporcionando também descrição sobre o local. A cozinha é o único ambiente da primeira parte do anexo com uma porta para o lado de fora. Tal solução foi abordada pela segurança do ambiente e para o caso de eventos da igreja, para que as pessoas possam transitar entre a primeira e segunda parte do anexo sem passar pela Capela do Santíssimo. Tal percurso é abrigado por uma marquise feita com a extensão do desenho da laje. O banheiro é ventilado por uma abertura que se forma com a diferença de altura entre as lajes da parte 1 e 2 do anexo. 2 - A segunda parte é totalmente aberta ao público e com livre layout, conta com um banheiro accessível. Podem ser ministradas aulas de catequese, artesanato, retiros, reuniões ou festas. O ambiente comporta 8 mesas e 32 bancos, que podem ficar armazenados em um móvel projetado para essa finalidade, localizado na única parede do ambiente. O fechamento do local foi feito com portas de folha dupla, contando com brises internos de madeira, que podem ser regulados manualmente para controle de luz, e na parte externa da porta, o acabamento é feito com uma folha de vidro, para um isolamento mais eficaz. Tal solução foi pensada para o caso de grandes eventos organizados pela igreja, pois todo o ambiente pode ser aberto, se tornando uma grande marquise.
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Como o terreno conta com uma diferença de nível de 2,5 metros, a preocupação com uma acessibilidade mais confortável para todos os públicos se encontrou com uma dificuldade na criação de acessos para a Capela e para os anexos.
O novo acesso a Capela foi determinado a partir da variação de tamanho de duas janelas presentes próximas ao Altar. A nova porta de entrada foi feita seguindo os princípios da intervenção direta em ligação da Capela e do Anexo: uma caixa de concreto, com proporções menores, porém, demarcando a nova intervenção com o contraste de materiais. Além dessa determinação pela variação de padrões construtivos da capela, a janela escolhida está localizada próxima a altura máxima do terreno, facilitando a criação de uma entrada acessível. Uma rampa em curva foi estendida beirando o limite oposto do terreno, permitindo um acesso para cadeirantes com uma inclinação favorável e mais confortável para a subida ou descida. Como a Capela e o anexo estão em cotas diferentes, a rampa se estende novamente a partir de um patamar, criando mais um acesso fluido ao anexo. Na calçada da rua também é possível acessar o anexo, pois a rua acompanha toda a extensão do terreno da igreja, porém, é uma subida contínua e sem patamares, sendo desconfortável para o acesso de cadeirantes.
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O espaço do terreno ao lado da Capela se torna uma praça aberta, com degraus elevando os passos dos visitantes a um percurso agradável, proporcionando uma possibilidade a reflexão e permanência. Áreas abertas são moldadas pelas diferenças de altura, rampas gramadas acompanham os degraus e convidam o visitante a se deitar e olhar o céu, acompanhados pelo plantio de Agapantos, plantas que existem em toda a extensão do local, inclusive na Capela, Lírios, que reforçam a presença da figura de São José, entre outros plantios que emolduram e evocam a presença da natureza local. O desenho do piso acompanha o percurso de andar em direção ao alto, fazendo uma procissão até a sua evolução e ascensão, seja ela através dos aprendizados litúrgicos, educacionais ou espirituais.
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CAPÍTULO 7
PROJETO
Este capítulo apresenta o projeto em sua totalidade, com desenhos técnicos e imagens 3D, baseando-se nos ensaios e proposições anteriores, sendo assim, resultado de todas as discussões e análises acumuladas até então.
132
Figura 76– Implantação 50
10 20
133
Figura 77 – Planta 10
1
5
134
Altar Capela do Santíssimo Sacristia Sala de reuniões Vestiário Banheiros Sala de atividades
Figura 78 – Planta – diagrama de usos 10
1
5
135
1
5 2
Figura 79 – Corte AA
136
1
5 2 Figura 80 – Corte AA Ampliado
137
1
5 2
Figura 81 – Corte BB
138
Figura 82 – Corte BB Ampliação 5
1 2
139
1
5 2
Figura 83 – Corte BB Ampliação
140
1
5 2 Figura 84 – Corte BB Ampliação
141
1
5 2
Figura 85 – Corte CC
142
Figura 86 – Elevação esquemática da Estrutura – materiais utilizados: Madeira Laminada Colada (MLC) vidro texturizado e concreto aparente Texturizado
143
Figura 87 – Imagem 3D externa – vista superior
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Figura 88 – Imagem 3D externa – perspectiva da fachada frontal
145
Figura 89 – Imagem 3D externa – perspectiva da fachada frontal – altura do observador
146
Figura 90 – Imagem 3D externa – perspectiva da fachada frontal – altura do observador
147
Figura 91 – Imagem 3D externa – perspectiva da fachada frontal
148
Figura 92 – Imagem 3D externa – perspectiva da fachada posterior
149
Figura 93 – Imagem 3D externa – perspectiva detalhe da fachada lateral - altura do observador
150
Figura 94 – Imagem 3D externa – perspectiva da fachada posterior
151
Figura 95 – Imagem 3D externa – perspectiva da fachada posterior
152
Figura 96 – Imagem 3D externa – perspectiva aproximada - estrutura
153
Figura 97 – Imagem 3D externa – perspectiva praça e visão do anexo - altura do observador
154
Figura 98 – Imagem 3D externa – perspectiva aproximada do anexo (portas abertas) - altura do observador
155
Figura 99 – Imagem 3D externa – perspectiva aproximada – jardim posterior do anexo - altura do observador
156
Figura 100 – Imagem 3D interna – perspectiva interior do anexo - altura do observador
157
Figura 101 – Imagem 3D interna – perspectiva interior da Capela – entrada - altura do observador
158
Figura 102 – Imagem 3D interna – perspectiva interior da Capela – detalhe intervenção - altura do observador
159
Figura 103 – Imagem 3D interna – perspectiva interior da Capela
160
Figura 104 – Imagem 3D interna – perspectiva interior da igreja – detalhe altar - altura do observador
161
Figura 105 – Imagem 3D interna – detalhe vitral
162
Figura 106 – Imagem 3D interna – detalhe vitral menor
163
Figura 107 – Imagem 3D interna – perspectiva interior da igreja – detalhe intervenção - altura do observador
164
Figura 108 – Imagem 3D interna – perspectiva Sacrário - altura do observador
165
Figura 109 – Imagem 3D interna – perspectiva Sacrário - altura do observador
166
Figura 110 – Imagem 3D interna – perspectiva Sacrário – vista da estrutura - altura do observador
167
Figura 111 – Imagem 3D interna – perspectiva Sacristia - altura do observador
168
Figura 112 – Imagem 3D interna – perspectiva sala de reuniões - altura do observador
169
Figura 113 – Imagem 3D interna – perspectiva cozinha - altura do observador
170
Figura 114 – Imagem 3D interna – perspectiva vestiário - altura do observador
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após iniciar a discussão com um assunto de interesse pessoal da autora, as análises de dados, condições locais do objeto de estudo e considerações sobre fenomenologia, levantaram questões que se mostraram essenciais para a vivência humana em geral, e que sua ausência influencia negativamente a rotina e dificuldade de inserção social. De todo modo, o trabalho não aborda somente o tema de um projeto arquitetônico, e sim, de um resgate do sentimento de pertencimento dos moradores do local. Dessa forma, é possível concluir que a inclusão de um novo edifício que fomenta o conhecimento sobre o passado, levando em conta as demandas atuais e projetando um novo ofício para um presente-futuro, cumpre o papel de renovação, diferentemente dos conceitos de demolição da malha temporal urbana para que uma nova consciência seja formada. Como resultado dessa abordagem, a arquitetura possibilitou a visão além de habitáculo, mas, de símbolo por si só. Tornando plausível a projeção de lembranças e memórias através de seus elementos, absorvidos por meio das próprias sensações humanas.
174
LISTA DE
IMAGENS
LISTA DE IMAGENS Figura 1 - Mapa de Localização do bairro da Cascata em relação a suas cidades vizinhas. <http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO>
Figura 6 - Imagem da antiga estação de Poços de Caldas, meados de 1886. < http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO >
Figura 2 - Fotografia da cidade de Águas da Prata <http://bancodeimagem.implantado.com.br/index.php?p=Y2RkdmRV MQ==>
Figura 7 - Imagem do antigo Hotel Empreza. < http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO >
Figura 3 - Imagem aérea da caldeira vulcânica de Poços de Caldas. < https://medium.com/@revistaatua/o-vulc%C3%A3o-depo%C3%A7os-e-sua-import%C3%A2ncia-para-a-regi%C3%A3oeea71a84ae29> Figura 4 - Mapa de localização das cidades ao entorno da caldeira vulcânica <http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO> Figura 5 - Boletim da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, década de 1940. <http://www.memoriadepocos.com.br/search/label/Mem%C3%B3ria%2 0Fotogr%C3%A1fica?updated-max=2012-02-24T17:14:00-03:00&maxresults=20&start=60&by-date=false>
Figura 8 - Fotografia de Dom Pedro II em sua visita a Poços de Caldas, no antigo Hotel Empresa. Meados de 1886. < http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO > Figura 9 - Imagem da Estação da Cascata. Fevereiro de 2020. Figura 10 - Ilustração sobre a rotina do cultivo de terras no vilarejo. Acervo da autora. Maio 2020.
Figura 11 - Ilustração sobre as plantações arrasadas pelo período de estiagem e geadas. Acervo da autora. Maio 2020. Figura 12 - Ilustração sobre as procissões no antigo Morro da Cruz. Acervo da autora. Maio 2020. Figura 13 - Fotografia de uma procissão no vilarejo da Cascata. Meados de 1932. Acervo de Luis Antônio Bonilha.
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LISTA DE IMAGENS Figura 14 – Fotografia do trilho do trem, ao fundo antigo Morro da Cruz. Fevereiro de 2020. Acervo da autora.
Figura 23 – Imagem da fachada da Capela de São José. Acervo da autora. Fevereiro de 2020.
Figura 16 – Mosaico de fotos aéreas do bairro da Cascata. 2010. Em vermelho o “Ponto da Cascata (parte Norte), em amarelo a estrada que conecta o bairro, em azul o Bairro da Cascata (parte Sul). Edição feita pela autora. < http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO >
Figura 24 – Detalhe do vitral da porta de entrada. Acervo da autora. Fevereiro de 2020
Figura 17 – Mapa topográfico, com curvas de nível cotadas a cada 20 metros de altura. Mapa de 1970. < http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO >
Figura 26 – Ilustração diagrama de usos da Capela de São José. Acervo da autora. Fevereiro de 2020.
Figura 18 – Mapeamento dos usos segundo cada camada. Fotos aéreas de 2010. Edição feita pela autora. < http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO > Figura 19 – Mosaico de fotos aéreas do bairro da Cascata < http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO > Figuras 20 e 21 – Fotos das habitações, destacando a situação do sistema viário. Acervo da autora. Fevereiro de 2020. Figura 22 – Imagem da Capela de São José. Acervo da autora. Fevereiro de 2020.
Figura 25 – Imagem do interior da capela de São José. Acervo da autora. Fevereiro de 2020
Figura 27 – Foto do anexo posterior da Capela de São José, atual Sacristia. Acervo da autora. Fevereiro de 2020. Figura 28 – Foto do anexo na lateral direita da Capela de São José, atual Catequese. Acervo da autora. Fevereiro de 2020. Figura 29 – Foto da estrutura do Sino da Capela de São José, localizado do lado esquerdo da fachada. Acervo da autora. Fevereiro de 2020. Figura 30 – Foto da entrada e do jardim frontal da Capela de São José. Acervo da autora. Fevereiro de 2020.
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LISTA DE IMAGENS Figura 31 - Diagrama de usos – planta atual da capela de São Jose. Acervo da autora. Fevereiro de 2020. Figura 32 – diagrama de usos da capela (antes). Acervo da autora. Fevereiro de 2020. Figura 33 – diagrama de conceito/plano de massas. Acervo da autora. Fevereiro de 2020.
Figura 38 – Interior da Igreja do Espirito Santo do Cerrado. <http://pranchetadearquiteto.blogspot.com/2016/03/proj-religiosoigreja-santo-espirito-do.html> Figura 39 – Imagem do pátio interno da área de moradia das freiras. <http://pranchetadearquiteto.blogspot.com/2016/03/proj-religiosoigreja-santo-espirito-do.html>
Figura 34 – Fotografia da igreja do Espirito Santo do Cerrado <http://pranchetadearquiteto.blogspot.com/2016/03/proj-religiosoigreja-santo-espirito-do.html>
Figura 40 – Exterior da Igreja do Espírito Santo do Cerrado, enfatizando o ambiente de reuniões públicas. <http://pranchetadearquiteto.blogspot.com/2016/03/proj-religiosoigreja-santo-espirito-do.html>
Figura 35 – Planta baixa da igreja do Espirito Santo do Cerrado, com seus usos separados por cor. <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/19.223/7432>
Figura 41 – Exterior da Capela de São Pedro. <https://www.archdaily.com.br/br/774776/classicos-da-arquiteturacapela-de-sao-pedro-paulo-mendes-da-rocha>
Figura 36 – Ilustração dos materiais utilizados na Igreja Espirito Santo do Cerrado Acervo da autora. Maio de 2020.
Figura 42 – Interior da Capela de são Pedro, no nível mais baixo <https://www.archdaily.com.br/br/774776/classicos-da-arquiteturacapela-de-sao-pedro-paulo-mendes-da-rocha>
Figura 37 – Interior da Igreja do Espirito Santo do Cerrado. <http://pranchetadearquiteto.blogspot.com/2016/03/proj-religiosoigreja-santo-espirito-do.html>
Figura 43 – Interior da Capela de são Pedro, no nível do altar. <https://www.archdaily.com.br/br/774776/classicos-da-arquiteturacapela-de-sao-pedro-paulo-mendes-da-rocha>
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LISTA DE IMAGENS Figura 44 – Foto da fachada principal do Palacete Comendador Catharino. <https://www.archdaily.com.br/br/910445/museu-rodin-bahia-brasilarquitetura> Figura 45 – Processo de criação através de croquis <http://brasilarquitetura.com/> Figura 46 – Foto da fachada posterior do palacete, com o anexo de circulação vertical. <https://www.archdaily.com.br/br/910445/museu-rodin-bahia-brasilarquitetura> Figura 47 e 48 – Foto da passarela que liga o antigo edifício ao novo. <https://www.archdaily.com.br/br/910445/museu-rodin-bahia-brasilarquitetura> Figura 49 – Implantação da intervenção. <https://www.archdaily.com.br/br/910445/museu-rodin-bahia-brasilarquitetura> Figura 50 – Vista da fachada lateral esquerda do edifício. <https://www.archdaily.com.br/br/910445/museu-rodin-bahia-brasilarquitetura>
Figura 51 – Foto superior do conjunto do Museu do Pão <http://brasilarquitetura.com/> Figura 52 – Foto entre a construção original e o novo anexo <https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinhocolognese-brasil-arquitetura> Figura 53 – Foto do jardim entre os anexos, com as peças de pedra expostas <https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinhocolognese-brasil-arquitetura> Figura 54 – Fotografia da fachada da capela Elsa Morante <https://www.archdaily.com.br/br/01-161967/biblioteca-publica-elsamorante-slash-dap-studio>
Figura 55 – Fotografia da lateral esquerda do anexo, enfatizando o potencial reflexivo do material referente a paisagem de entorno. <https://www.archdaily.com.br/br/01-161967/biblioteca-publica-elsamorante-slash-dap-studio> Figura 56 – Elevação e Corte da capela Elsa Morante juntamente ao anexo <https://www.archdaily.com.br/br/01-161967/biblioteca-publica-elsamorante-slash-dap-studio>
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LISTA DE IMAGENS Figura 57 – Planta da capela Elsa Morante juntamente ao anexo <https://www.archdaily.com.br/br/01-161967/biblioteca-publica-elsamorante-slash-dap-studio> Figura 58 – Fotografia da fachada principal do convento. <https://www.archdaily.com/251389/convent-de-sant-francesc> Figura 59 – Fotografia da fachada principal do convento e seu entorno. <https://www.archdaily.com/251389/convent-de-sant-francesc> Figura 60, 61 e 62 – Fotografias dos anexos inseridos na antiga edificação. <https://www.archdaily.com/251389/convent-de-sant-francesc> Figura 63 – Fotografia do interior do convento. <https://www.archdaily.com/251389/convent-de-sant-francesc> Figura 64 – Fotografia da fachada principal da Igreja. <https://www.archdaily.com.br/br/925606/reforma-e-ampliacao-daigreja-st-margaret-em-eltham-atelierwagner?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects >
Figura 65 e 66 – Fotografias do lado externo da igreja, enfatizando a intervenção. <https://www.archdaily.com.br/br/925606/reforma-e-ampliacao-daigreja-st-margaret-em-eltham-atelierwagner?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects> Figura 67 e 68 – Fotografias do lado interno da igreja, enfatizando a intervenção. <https://www.archdaily.com.br/br/925606/reforma-e-ampliacao-daigreja-st-margaret-em-eltham-atelierwagner?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects> Figura 69 – Diagrama de implantação do anexo. <https://www.archdaily.com.br/br/925606/reforma-e-ampliacao-daigreja-st-margaret-em-eltham-atelierwagner?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects> Figuras de 70 a 75 – Croquis de estudo Acervo da autora. Outubro de 2020. Figuras de 76 a 86 – Desenhos Técnicos do projeto. Acervo da Autora. Novembro de 2020.
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LISTA DE IMAGENS Figura 87 a 114 â&#x20AC;&#x201C; Imagens 3D do projeto. Acervo da autora. Novembro de 2020.
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BIBLIOGRAFIA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACHELARD, G. A Poética do Espaço. Editora Presses Universitaires de France, 1957. Guia de Orientações: Projetos, execuções e conservações de igrejas, de COBECISA. Documento elaborado pela Comissão para os Bens Culturais da Igreja da diocese de Santo André. 2016. HAWKING, S. Breves Respostas Para Grandes Questões. Rio de Janeiro. Intríseca, 2018. PALLASMAA, J. Os Olhos da Pele: A arquitetura e os sentidos. São Paulo: Bookman, 2011. SANTOS, C. N. S. Preservar não é tombar; renovar não é pôr tudo abaixo. In: “Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.” 1985. ZUMTHOR, O. Pensar La Arquitectura. Barcelona: Gustavo Gill, 2004. Livro Bíblia Sagrada. Edição Pastoral. Paulus Editora, 1990.
PALLASMAA, J. Essências. Barcelona, Espanha. Editora G. Gili, 2018.
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<https://jornada.ifsuldeminas.edu.br/index.php/jcpcs/jcpcs/paper/viewFi le/1191/701>
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História de Poços de Caldas
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<http://pocosdecaldas.mg.gov.br/a-cidade/historia/>
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<http://www.memoriadepocos.com.br/search?updated-max=2015-0728T09:46:00-04:00&max-results=10&start=20&by-date=false>
<http://pranchetadearquiteto.blogspot.com/2016/03/proj-religiosoigreja-santo-espirito-do.html>
<http://www.memoriadepocos.com.br/2016/11/1883-ramal-de-caldas-edados-tecnicos.html>
<https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/19.223/7432>
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REFERÊNCIAS: SITES Capela de São Pedro
Convento de São Francisco
<https://www.archdaily.com.br/br/774776/classicos-da-arquiteturacapela-de-sao-pedro-paulo-mendes-da-rocha>
<https://www.archdaily.com/251389/convent-de-sant-francesc>
Museu Rodin <https://www.archdaily.com.br/br/910445/museu-rodin-bahia-brasilarquitetura>
Igreja Santa Margaret <https://www.archdaily.com.br/br/925606/reforma-e-ampliacao-daigreja-st-margaret-em-eltham-atelier wagner?ad_source=search&ad_medium=search_result_projects >
<http://brasilarquitetura.com/>
Museu do Pão <https://www.archdaily.com.br/br/01-8579/museu-do-pao-moinhocolognese-brasil-arquitetura> <http://brasilarquitetura.com/>
Biblioteca Pública Elsa Morante <https://www.archdaily.com.br/br/01-161967/biblioteca-publica-elsamorante-slash-dap-studio>
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RELATOS Leonilda Martins Brandão – Remanescente do Bairro da Cascata, Aguas da Prata – SP. Luis Antônio Bonilha – Remanescente e morador do Bairro da Cascata, Águas da Prata – SP. Silvana Bonilha - Remanescente do Bairro da Cascata e moradora, Águas da Prata – SP. Estácia - Remanescente do Bairro da Cascata e moradora, Águas da Prata – SP.
Dona Laurinda - Remanescente do Bairro da Cascata e moradora, Águas da Prata – SP. Izis Cavini – Arquiteta e Urbanista. Remanescente do Bairro da Cascata, Águas da Prata – SP.
Relatos coletados no mês de fevereiro e abril de 2020.
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