“O que sobrevive enquanto memória coletiva de tempos passados não é o conjunto dos monumentos e documentos que existiram, mas o efeito de uma escolha realizada pelos historiadores e pelas forças que atuaram em cada época histórica” (Jacques Le Goff)
“Há muito por fazer, mas podemos afirmar que a experiência patrimonial no Brasil tem sido assimilada no seu sentido mais completo, em sintonia com a coletividade e a partir de conhecimentos antropológicos, sociológicos, históricos, artísticos e arqueológicos orientados por especialistas. A implantação de cursos de educação patrimonial, a organização de oficinas-escola e serviços em mutirão constituem ações de importância fundamental no processo de envolvimento da população. Esse esforço, articulado com o estímulo à responsabilidade coletiva, contribuirá para consolidar políticas de inclusão social, reabilitação e sustentabilidade do patrimônio em nosso país. ” (FUNARI; PELEGRINI, p. 55, 2006)
AGRADECIMENTOS
Dedico este trabalho, primeiramente, a minha família, pais Lauri e Márcia e, irmã, Beatriz, que me educa e prepara há 25 anos, porque fizeram com que tudo fosse possível na minha vida desde muito antes de ingressar na faculdade de arquitetura e urbanismo, além de serem os responsáveis pela oportunidade concluir essa graduação. Agradeço as amizades que a vida me deu durante as épocas de escola e cursinho que permanecem há anos como companheiros. Elas estiveram, às vezes mesmo à distância, presentes para mim em todos os momentos. Até mesmo compreenderam a minha ausência em diversas ocasiões nos finais de semestre e neste último ano dedicado ao trabalho de graduação. Algumas amizades marcaram e se solidificaram após 5 anos de convívio diário, dentre muitos, Higor e Miriã foram aqueles que se descabelaram comigo, viraram madrugadas finalizando projetos, quebraram cofrinhos para pagar maquetes, e, ainda por cima, ajudaram neste último ano com o companheirismo, risadas e dicas para o projeto a seguir. Também não poderia deixar de lembrar nomes que passaram por tudo isso comigo além de boas viagens, Gabriel e Renata. Não poderia, ainda, deixar de citar o nome do grande amigo de colégio, hoje já arquiteto, Danilo Medeiros, que durante 5 anos me salvou em quase todo final de bimestre com dicas, ajuda, apoio e, principalmente, a amizade da qual sou muito grata. Meu eterno agradecimento ao meu professor e orientador, Domingos Guimarães, pela calma e paciência durante os 5 anos de faculdade. Mas, em especial, durante este ano de TFC, porque me indicou os melhores caminhos para que eu alcançasse meus objetivos para este projeto. Não poderia deixar de citar os nomes das pessoas que se prontificaram a ceder um pouco do seu tempo e me fornecer os materiais necessários para a realização da pesquisa presente: professora Ana Carolina Gleria, museóloga e diretora do Museu Histórico e do Café Maria Luiza Clapis, arquiteto e diretor do MARP Nilton Campos, pesquisadora Silvia Maria do Espírito Santo, historiadora Tania Registro. Além das pessoas que me atenderam diversas vezes no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, e, aos funcionários que também me atenderam nas inúmeras visitas em que fiz ao Museu Histórico e do Café permitindo que eu andasse e tirasse fotos mesmo se encontrando interditado. Por fim, dedico também este trabalho ao meu namorado, Tiago, após estes 5 anos, pelo amor e paciência durante os bons e os piores momentos.
CAPÍTULO 01 TRANSIÇÕES: DE FAZENDA CAFEEIRA A MUSEU HISTÓRICO
pág. 11
SEÇÃO 02 - CONCEITOS
pág. 09
SEÇÃO 01 - HISTÓRICO
ApresentaçãO
SUMÁRIO
CAPÍTULO 02
pág. 33
PERCEPÇÕES SOBRE O PATRIMÔNIO NO BRASIL
CAPÍTULO 03
pág. 41
O PAPEL DO MUSEU PARA A SOCIEDADE
CAPÍTULO 04 A TEORIA JUSTIFICANDO A REQUALIFICAÇÃO
pág. 45
pág. 49
DIÁLOGO: INTERVENÇÃO E ÁREA EXTERNA
CAPÍTULO 06
pág. 59
ANALISANDO, DIAGNOSTICANDO E PROJETANDO
BIBLIOGRAFIA
SEÇÃO 03 - PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO
CAPÍTULO 05
pág. 92
APRESENTAÇÃO
Este trabalho tem como principal objetivo o enaltecimento à importância do patrimônio histórico e cultural para a sociedade. Com seu foco direcionado aos aspectos de conservação, manutenção e preservação do mesmo é traçada uma relação entre museus e patrimônios dentro do território nacional. Retratando como estudo de caso o Museu Histórico e do Café, remanescente da antiga Fazenda Monte Alegre pertencente ao terceiro maior produtor mundial de café no auge do século XIX, e, atualmente inserida nas dependências da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho apresenta uma proposta de requalificação do complexo em pontos evidenciados de maior fragilidade e, ainda, propõe projetos de exposição para espaço interno da casa principal do museu, intervenção para acessibilidade nas áreas externas e reorganização do espaço de atividade “café com chorinho” aos domingos; além do projeto de novos banheiros, lanchonete e espaço multiuso. De maneira geral, ao explorar os assuntos pertinentes à história de formação da fazenda relacionada com a da cidade de Ribeirão Preto tornou-se pertinente o desenvolvimento do assunto sobre turismo e lazer relacionados ao patrimônio histórico e cultural. A História, o patrimônio e o turismo tornaram-se pilares para evoluir o tema museus, bem como relacioná-lo aos métodos de preservação de bens tombados no Brasil e em Ribeirão Preto.
CAPÍTULO 01 TRANSIÇÕES: DE FAZENDA CAFEEIRA A MUSEU HISTÓRICO
HISTÓRICO
SEÇÃO 01
A FAZENDA MONTE ALEGRE
Através de arquivos digitais
João Franco foi um “escravocrata
disponibilizados pela historiadora
convicto”, portanto a história da
Tania Registro – ex-funcionária do
Fazenda Monte Alegre se contextualiza
Acervo Público e Histórico de Ribeirão
nos últimos anos da escravidão no
Preto – foi possível realizar todo o
Brasil. Todo o antigo terreiro da
levantamento histórico necessário
fazenda foi construído por escravos
ao trabalho. Assim, a história da
e ainda é existente, apesar de
fazenda tem início com o Coronel
deteriorado; parte da construção da
João Franco de Moraes Octavio, por
casa sede também remontam aos
volta do ano de 1877, quando o mesmo
tempos da administração de Moraes.
adquire áreas das terras das Fazendas
Fazem parte de seu período de gestão
Ribeirão Preto Abaixo e da Laureano.
a antiga tulha e senzala, antes situadas nas proximidades da tulha mais
IMAGEM SUPERIOR PÁG. 12: Foto do quadro exposto no Museu do Café que representa a disposição original da Fazenda Monte Alegre Fonte: Plano Diretor Campus Ribeirão Preto IMAGEM INFERIOR ESQUERDA PÁG. 12: João Franco de Moraes Octávio com esposa e filhas (1890) Fonte: Acervo Digital do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto Fotógrafo: Não Identificado IMAGEM INFERIOR DIREITA PÁG. 12: Cel. Francisco Schmidt (1920/1924) Fonte: Acervo Digital do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto Fotógrafo: Não Identificado IMAGEM SUPERIOR PÁG. 13: Planta da área da antiga Fazenda Monte Alegre que estava em posse do Estado. Documento de doação da área do Estado para o Município de Ribeirão Preto. Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto IMAGEM INFERIOR PÁG. 13: Foto da atual Sala de Concertos (antiga Tulha) Fonte: <www.ffclrp.usp.br/musica>
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recente – atual “Sala de Concertos” do curso de Graduação em Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECAUSP) de Ribeirão Preto. Um grande destaque para época e de grande relevância histórica para a região deu-se pelo início da utilização do, ainda recente, advento da eletricidade nas dependências da Casa Sede da fazenda – primeiro imóvel da cidade a dispor de energia elétrica (1883). Posteriormente, as terras da fazenda foram vendidas ao Coronel Francisco Schmidt, marcando sua história pela prosperidade econômica alcançada e pelo desenvolvimento estrutural fomentado nas dependências de todo complexo utilizado na crescente produção cafeeira que se sucedia. Em meados do final do século XIX e início do XX, Schmidt proporciona alterações construtivas: uma nova tulha é erguida; a estrutura da Casa Grande é ampliada – sede da fazenda e atual Museu Histórico – com o acréscimo das varandas circundantes a ela, a inserção dos banheiros no interior da casa (nova tendência da época e novidade no Brasil), bem como copa e cozinha com sala de jantar nos fundos; é construída, ainda, a Casa do Administrador – atualmente sem fins específicos, e sob administração da USP – e implantada uma linha férrea, (particular) interligando as doze fazendas filiadas à Cia. Agrícola Francisco Schmidt. Ainda outro grande destaque para
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a história dessa fazenda, de acordo com pesquisa do alemão Hildegard Werle Fauser cedida pelo prof. Rudolf Schallenmüller (cônsul honorário da Alemanha em Ribeirão Preto) ao autor do artigo, Ricciardi, apresenta a Fazenda Monte Alegre como a propriedade rural mais importante do cel. Schmidt; contando com 8.218,32 hectares, 3.802.526 pés de cafés, 3.934 trabalhadores na colônia, 06 máquinas de processamento de café e dividida em 12 seções, todas interligadas por telefone. Importante ressaltar, também, o legado de Schmidt ao desenvolvimento de toda a região de Ribeirão Preto, porque os desenvolvimentos da produção cafeeira conferidos à cidade estão intimamente ligados com a história da Fazenda. Dentre seus principais empreendimentos destacam-se o IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA: Fazenda Monte Alegre, vista do açude (córrego Laureano) em primeiro plano; à medio plano, tulha e terreiros de café. No fundo, a casa sede e colônia (na esquerda) (1900) Fotógrafo: João Passig Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto IMAGEM SUPERIOR DIREITA: Vista do jardim, parte lateral da casa sede, portal de entrada, terreiros de café e telhado da tulha. No fundo, vista de um campo na fazenda (1900) Fotógrafo: João Passig Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto IMAGEM INFERIOR ESQUERDA: Vista das plantações de café da Fazenda Monte Alegre no primeiro plano e, ao fundo, edifícios que provavelmente foram casas de colonos e de trabalhadores da fazenda (1900) Fotógrafo: João Passig Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto
primeiro engenho de açúcar da região; a adoção da pecuária e da cultura de algodão, como complementos de produção; o patrocínio da construção do antigo Theatro Carlos Gomes; a viabilização do projeto do reservatório de água no bairro Higienópolis; a contribuição na implementação da iluminação pública e apoio à Santa Casa de Misericórdia. Com o falecimento do Francisco Schmidt, todos seus bens são partilhados entre os herdeiros e posteriormente vendidos a terceiros. A fazenda é vendida em 1940, assim,
IMAGEM INFERIOR DIREITA: Foto do antigo Theatro Carlos Gomes (1904) Fotógrafo: João Passig Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto
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ao último – e de menor significância histórica – proprietário, João Marchesi,
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categorizando seu fim definitivo como fazenda para uso de produção rural. Ao ser adquirida pelo Governo do Estado de São Paulo é instalada em suas dependências a Escola Prática de Agricultura – período que remete às novas instalações do prédio central (atual sede da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP/USP) e 01| RICCIARDI, p. 01-04
da portaria de acesso ao Campus pela Avenida Bandeirantes –, além
IMAGEM: Com o auxílio da implantação com a configuração do Campus da USP Ribeirão Preto é apresentado tanto o perímetro atual da unidade, bem como o remanescente da área outrora pertencente à fazenda e, posteriormente, à escola agrícola que foi tombada pelo CONDEPHAAT no ano de 1994 Fonte/Desenho: Plano Diretor fornecido pelo departamento de Arquitetura e Engenharia do Campus Alterações: Camila Cavalieri
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de uma série de outras construções em estilo neocolonial. As alterações realizadas na fazenda terminam com a fundação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto no ano de 1952 e inauguração do novo Campus Universitário da USP. (01)
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O MUSEU HISTÓRICO E DO CAFÉ
O Museu Histórico e de Ordem Geral
trabalhadores braçais imigrantes e os
(denominado pela Lei Municipal
escravos anônimos). Foi caracterizado,
n.º 1.750, de 06 de março de 1963),
o museu, em torno do significado da
originou-se por iniciativa de Plínio
nacionalidade e da importância do
Travassos dos Santos, em 1938, com
café como símbolo para a mesma, não
o objetivo de criar um Museu em
tendo como foco o valor testemunhal
Ribeirão Preto para homenagear
particular de cada objeto (fossem
e cultuar a sociedade, a economia
réplicas ou autênticos), mas sim
cafeicultora e suas personalidades
um valor para enaltecer a história
(“reis do café”, barões, capitães,
colonial e republicana brasileira.
políticos modernos, legisladores, escritores, filósofos, historiadores, cientistas e, de forma tímida, os
IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA: Foto da fachada dos fundos do atual Museu Histórico Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR CENTRO: Foto da fachada frontal do atual Museu Histórico; em primeiro plano as palmeiras imperiais no jardim Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR ESQUERDA: Foto da fachada lateral direita do atual Museu Histórico Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR CENTRO: Fachada frontal do prédio do Museu do Café Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR E INFERIOR DIREITA: Disposição de acervo em uma das salas do Museu Histórico (antes da sua remoção pré-desabamento do forro e interditamento) Fonte: Arquivo Pessoal
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Plínio recolheu, elementos que pudessem testemunhar o passado
para a formar o acervo, dos quais
de 1948 a 1949. “O Museu Municipal
para um prédio existente na Praça
de início eram materiais, em sua
foi por mim organizado mediante
Santo Antônio (atual sede do
maioria, de doação e ele armazenou
doações de materiais que obtive
Departamento Municipal da Cultura)
no começo em sua residência. Por
desde Janeiro de 1948, e, somente
e aberto ao público em 28 de
falta de espaço, o mesmo distribuiu
em 1951 foi conseguido o prédio em
novembro de 1950. No mesmo ano o
as peças de caráter decorativo como
que está instalado.” (extraído de
município recebeu por empréstimo
pinturas, esculturas, desenhos e
carta do Plínio Travassos dos Santos
a casa sede (antigo solar Schmidt)
cerâmicas, pelas dependências da
ao dep. dr. Cunha Bueno, 1953).
da Fazenda Monte Alegre, onde o imóvel e a área circundante foram
Prefeitura. Quando contava com um considerável número de peças, esse acervo inicial foi transferido para uma sala no Bosque Municipal (à rua Tamandaré), onde permaneceu
A criação do Museu foi oficializada através da Lei Municipal n.º 97, de 01 de julho de 1949, quando o acervo foi transferido, provisoriamente,
posteriormente doados (em regime de comodato) mediante autorização legal datada de 1956 e escritura lavrada em 05 de janeiro de 1957.
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Em 28 de março de 1951, instalado
com as significações históricas –
definitivamente no antigo Solar
dos artigos –, orientado apenas em
Schmidt, o Museu foi inaugurado,
exibir objetos antigos. Contudo, é
com as seguintes seções: Artes,
de fato uma afirmação errônea ao
Etnologia Indígena, Zoologia, Geologia
passo que o museu foi formado sob
e Numismática (História também, e
as premissas de educar, colecionar
mais tarde Biologia, segundo consta
e documentar a história social, além
na carta de Plínio para o Dep. Ulysses
de fundamentar-se nos princípios
Guimarães – 1953). Em uma primeira
da ciência empírica; ou seja, através
impressão superficial o museu se
de fatos/experiências vividas.
classificaria como um antiquário, ou Com o objetivo de contar a história
seja, descaracterizado de funções
do Ciclo do Café em Ribeirão Preto
educacionais por um descompromisso
SALÃO DE EXPOSIÇÃO
VARANDA
R
AM
SOBE
PA
D
E
AC
ES
SO
2| ESPÍRITO SANTO, 2015, p. 97
PLANTA BAIXA MUSEU DO CAFÉ ESC. GRÁFICA 0
IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA: Planta baixa do Museu do Café Desenho: Camila Cavalieri IMAGEM SUPERIOR DIREITA: Vista da fachada da área do Museu através da Av. Prof. Dr. Zeferino Vaz no interior da USP Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM CANTO SUPERIOR DIREITO: Implantação reduzida da situação atual com destaque em vermelho para a localização do Museu do Café Desenho: Camila Cavalieri IMAGEM INFERIOR: Foto panorâmica de cima da rampa acessível ao espaço do “Café com Chorinho”. Verifica-se jardins à esquerda, no centro e ao fundo a casa do Museu Histórico e à direita o Museu do Café Fonte: Arrquivo Pessoal
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e no Brasil, Plínio Travassos dos Santos recolhe objetos alusivos à cultura do “ouro verde”. De início as peças ficaram guardadas no Museu Histórico até que, em 20 de janeiro de 1955, após um número
Café “Coronel Francisco Schmidt”,
significativo de objetos, essa coleção
construído próximo ao Museu
esteve exposta provisoriamente em
Histórico, por meio de uma iniciativa
3 salas e 3 corpos das varandas que
da Prefeitura Municipal de Ribeirão
circundam a casa. Em 26 de janeiro
Preto que contou com a colaboração
de 1957 o acervo das peças alusivas à
financeira do Instituto Brasileiro do
cultura do café é, finalmente, instalado
Café (IBC) e do Comendador Geremia
em seu prédio oficial, o Museu do
Lunardelli (3.º Rei do Café). (2)
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IMAGEM: Implantação da situação atual da área municipal dos Museus no interior da USP Desenho: Camila Cavalieri LEGENDA: 01_Museu Histórico 02_Antiga área de serviço da época da fazenda 03_Pavilhão Duque de Caxias 04_Espaço para funcioários (cozinha, banheiros e armários) 05_Banheiros 06_Monjolo (desativado) 07_Museu do Café 08_Remanescentes da Piscina (construída para lazer da família Schmidt) 09_Caixa D’água (abastecia o monjolo quando estava ativado) 10_Espaço onde ocorre a atividade Café com Chorinho, espaço construído na década de 1997 durante mandato do prefeito Luiz Roberto Jábali 11_Belvedere (construído para a esposa do Francisco Schmidt) 12_Coreto construído durante a década de 90
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ARQUITETURA
O atual complexo do Museu Histórico
Tombada apenas em suas disposições
e do Café compõe, possivelmente,
externas, pertinentes ao quesito das
o mais importante ícone do período
fachadas, é um bem que guarda em si
cafeeiro regional (a sede da Fazenda
a representação da prosperidade de
Monte Alegre), de propriedade inicial
quando a cidade foi fundada (1856),
da família João Franco de Moraes,
pois a fazenda viria a tornar-se a
vendida ao célebre Schmidt, é um
maior produtora mundial de café. A
patrimônio protegido por tombamento
casa edificada para o primeiro dono
em órgãos municipal e estadual após
fazia parte de um conjunto símbolo
sua última venda, para João Marchesi
de edificações da arquitetura rural
e confiscada pelo estado quando é
cafeeira do século XIX (composta
transformada em espaço público.
pelos elementos do terreiro, tulha, casa sede e moradia de colonos).
3| ESPÍRITO SANTO, 2015, p. 71/73 IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA: Vista dos prédios do Museu Histórico Municipal à esquerda, e, do Museu do Café ao fundo (1956) Fotógrafo: Miyasaka Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto
IMAGEM INFERIOR ESQUERDA: Vista das fachadas frontal e lateral esquerda; varandas circundantes à casa e alpendre no andar superior Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM CENTRAL: Implantação parcial da Fazenda Monte Alegre após a compra por Schmidt Legenda: 01_Casa Sede e Jardim; 02_Residência Empregados; 03_Piscina Particular e Caixa D’água; 04_Pomar; 05_Parque; 06_Supostamente Casa do filho mais velho de Francisco Schimidt (fato incerto); 07_Máquinas e Tulha; 08_Terreiro para Café Desenho: Walter O. Santos Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto IMAGEM SUPERIOR DIREITA: Antiga (e suposta) casa pertencente ao filho mais velho de Schmidt, possui aparência e formato de implantação semelhante à Casa Sede da Fazenda; posteriormente se tornou a Casa dos Docentes da USP e não faz parte da área do complexo dos museus (hachura 06 na implantação de Walter O. Santos) Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR DIREITA: Foto apresentando as telhas francesas e os adornos das varandas após intervenção de Schmidt Fonte: Arquivo Pessoal
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Quando comprada – 1890 – pelo cel.
da edificação, adquirindo sua
telhas francesas importadas, além do
Francisco Schmidt (quem tornar-
configuração atual. Inclusive foi o
ferro e do concreto armado, adornos
se-ia o maior produtor de café no
primeiro local em Ribeirão Preto a
para enfeitar as fachadas indicando
mundo), sofre mudanças cujas
receber energia elétrica, outro fator
os símbolos do alargamento da classe
técnicas mineiras de construir se
contribuinte para considerá-la como
social burguesa dominante paulista
inserem de modo a substituir a taipa
uma das principais representações
para significar ascensão social. (3)
de pilão pela taipa de mão; além de
materiais históricas da formação da
passar por inovações quanto aos
cidade. A casa logo transformou-
aspectos formais programáticos:
se em demonstração do modo de
passa a compor varandas circundantes
fazer com o cozimento dos tijolos
à casa, escadarias externas, são
com bitolas comerciais específicas
incluídos banheiros, sala de jantar e
para a madeira serrada, movidos a
área de serviço no corpo principal
eletricidade. Por conseguinte, exibia
O conjunto da casa sede somado as demais construções componentes da arquitetura rural cafeeira, apresenta organização espacial típica do século XIX, como destacada por Gleria: a “implantação (...) constitui-se tendo
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como organizador do espaço o terreiro,
características: 1) não traz heranças
ou seja, todas as edificações estão
marcantes de tempos anteriores
distribuídas ao redor dele.” (2013, p.
por ser produzida por um recém-
205), onde inclusive a casa sede situa-
chegado de Minas (Cel. João Franco
se na parte superior do terreiro e com
de Moraes Octavio); 2) a arquitetura
a sua fachada frontal voltada para
se compõem de novas alternativas
ele. Ela, ainda, não tem bem definidas
tecnológicas, como a substituição
suas determinantes arquitetônicas,
da taipa de pilão pelo tijolo de barro;
porque é do final do século XIX e
3) agrega características ecléticas
suas modificações foram realizadas
trazidas pela imigração europeia,
no início do século XX. Dessa forma,
no caso de Francisco Schmidt.
apresenta-se como uma arquitetura transitória; devido a algumas
IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA PÁG. 26: Construção onde se encontra atualmente a área dos funcionários do museu e onde se localizou a residência dos empregados da Casa Sede da Fazenda (hachura 02 na implantação de Walter O. Santos) Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR ESQUERDA PÁG. 26: Vista para o espaço onde ficava a antiga piscina construída durante o período da família Schmidt e que funcionava, antigamente, a caixa d’água da fazenda irrigando as canaletas que descem até o monjolo (hachura 03 na implantação de Walter O. Santos) Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA PÁG. 27: Foto atual da antiga área de serviço localizada no exterior da casa Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR CENTRO PÁG. 27: Antigo monjolo da fazenda, atualmente desativado Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM CANTO SUPERIOR DIREITO PÁG. 27: Implantação reduzida com destaque em vermelho para a localização do Museu Histórico Desenho: Camila Cavalieri IMAGEM INFERIOR PÁG. 27: Planta do pavimento térreo do Museu Histórico evidenciando a sua disposição atual em contraste com a suposição do seu uso original durante os períodos da Fazenda Fonte: Mattos, 1981 Desenho: Camila Cavalieri
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Como última alteração ocorrida
ÁREA DE SERVIÇO
LEGENDA PROJEÇÃO DE ARCOS (EX.) PROVÁVEL DISPOSIÇÃO ORIGINAL
(PORÃO INABITÁVEL)
SO
BE
DEPÓSITO / ACERVO
varanda construída por volta de 1910 (Schmidt)
SOBE
SOBE
SOBE
(QUARTO)
(ESCRAVOS)
DEPÓSITO / ACERVO
(QUARTO)
DEPÓSITO / ACERVO
(QUARTO)
DEPÓSITO / ACERVO
DEPÓSITO
DEPÓSITO / ACERVO
SOBE
(SALA DE JOGOS)
(ESCRAVOS)
DEPÓSITO / ACERVO
marcas de caixa de escada
(SALA)
ADMINISTRAÇÃO
SOBE
cofre (Schmidt) (DEPÓSITO)
EXPOSIÇÃO
PLANTA BAIXA_PAVIMENTO TÉRREO ESC 1:250
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nos edifícios da fazenda, quando o
natural do terreno em aclive. Apresenta
Governo do Estado de São Paulo
sua fachada principal assobradada
instala na propriedade a Escola
com um alpendre precedido de
Prática de Agricultura (1942), tem-
escadas com varandas estreitas ao
se a reforma das paredes internas
redor de toda a casa ornamentadas
da casa grande com o acréscimo
com lambrequins (interferência
de arcos neocoloniais – classificada
do Cel. Schmidt), e, face posterior
como desastrosa por Ricciardi –
apoiada sobre a parte elevada do
incompatíveis com o estilo original.
terreno. Possui porão habitável, com depósitos e quartos para hóspedes e
A edificação é um sobrado em “L”, de braços laterais com janelas, construído em meia-encosta com aproveitamento
IMAGEM SUPERIOR PÁG. 28: Vista da fachada lateral direita evidenciando a fundação de meia-encosta com declive do terreno Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR ESQUERDA PÁG. 28: Arco neocolonial acrescentado no interior da sala principal de entrada do Museu Histórico Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR DIREITA PÁG. 28: Banheiro no interior da Casa Sede com alguns dos revestimentos originais, porém não conservados e não fazem parte do documento de tombo da fazenda Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA PÁG. 29: Pavilhão Duque de Caxias ao centro da foto, com vista do Museu do Café em segundo plano. O pavilhão foi inaugurado no dia 25/8/1955 pelo fundador dos Museus, Plínio. para abrigar a estátua monumental do Duque de Caxias (5,00 m de altura) em cima do cavalo, pois a mesma estátua foi adquirida em 1950 pelos Museus Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR ESQUERDA PÁG. 29: À esquerda encontra-se o Belvedere original, construído durante o período de Schmidt; à direita o Coreto construído em 1997 no mandato de Luiz Rooberto Jábali Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM DIREITA PÁG. 29: Planta do pavimento superior do Museu Histórico evidenciando seu uso atual em contraste com a suposição do original durante os períodos da Fazenda Fonte: Mattos, 1981 Desenho: Camila Cavalieri
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criadagem. A armação do telhado é de tesouras com telhas do tipo Marselha e tirantes de ferro; as esquadrias e o
forro em madeira de pinho de “Riga”;
corpo da casa; casa do administrador
Suportes verticais: paredes estruturais
assoalho de tábua larga e estreita
e presença de “muros de fecho” para
em alvenaria de tijolo no pavimento
em peroba e jacarandá; revestimento
a demarcação do limite da sede.
superior e, no inferior, alvenaria
de azulejos decorados nas salas de almoço, cozinha e banheiro.
de pedra. Portanto pode-se dizer Fundação: direta, com a parte
que a construção possui estrutura
posterior apoiada sobre a parte
autoportante. Após a reforma, na qual
Nas áreas externas há ainda a presença
mais elevada do terreno e, frontal,
de pomar e terreiro de café; jardins
apoiada sob o porão de paredes de
com palmeiras imperiais (símbolo
alvenaria de pedra de largura variada.
de ostentação durante o período
Portanto supõe-se que os alicerces
cafeeiro); fontes e árvores de grande
sejam de pedras retangulares, com
porte; tem a presença do monjolo; área
as maiores atingindo até 1,00 m.
o Cel. Schmidt manda construir uma varanda ao redor da casa, aparecem colunas com base de secção quadrada feitas em pedra, de fuste com secção circular, em tijolo revestido.
de serviço (tanques) desvinculada do
Esquadrias: as janelas envidraçadas
chaminé
LEGENDA
SOBE
PROJEÇÃO DE ARCOS (COZINHA)
(COPA)
(EX.) PROVÁVEL DISPOSIÇÃO ORIGINAL
ARQUIVO PÚBLICO
ARQUIVO PÚBLICO
(BANHEIRO)
SEM USO (BANHEIRO)
EXPOSIÇÃO 07 (SOBRE-VARANDA)
(BANHEIRO)
SC
DE
SEM USO (BANHEIRO)
E
(SALA DE ALMOÇO) (QUARTO)
EXPOSIÇÃO 08
EXPOSIÇÃO 06
(SALA DE VISITAS)
(QUARTO)
(QUARTO)
(QUARTO)
(SALA)
EXPOSIÇÃO 09
EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA
(ESCRITÓRIO)
EXPOSIÇÃO 10
EXPOSIÇÃO 11
(RECEPÇÃO)
SALA DE ENTRADA
(SALA)
DESCE
(QUARTO DE HÓSPEDES)
EXPOSIÇÃO 05
marcas de caixa de escada
(QUARTO)
EXPOSIÇÃO 04
ESCRITÓRIO
CIRCULAÇÃO (CORREDOR) (QUARTO)
(QUARTO)
EXPOSIÇÃO 01 EXPOSIÇÃO 02 EXPOSIÇÃO 03
SOBE
ENTRADA PRINCIPAL
fechada por ter sido exposição de armas
PLANTA BAIXA_PAVIMENTO SUPERIOR ESC 1:250
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apresentam bandeiras, ora fixas, ora móveis, além de venezianas em peroba. Todas as portas e janelas são de vergas retas, com exceção de uma pequena porta na fachada principal. (4)
4| MATTOS, 1981 IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA PÁG. 30: Vista da lateral esquerda da Casa sede e anexos ao fundo. E, em primeiro plano, os jardins e pomares em sua configuração original (1900) (hachuras 04 e 05 na implantação de Walter O. Santos) Fotógrafo: João Passig Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA PÁG. 31: Foto das varandas sustentadas pelas colunas de base quadrada feitas em pedra Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR CENTRAL PÁG. 31: Portas de madeira e vidro que dão acesso à varanda no fundo da casa do Museu Histórico Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR DIREITA PÁG. 31: A pequena porta que é a excceção às vergas retas na fachada principal Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR: Foto panorâmica do jardim em frente a entrada principal do Museu Histórico Fonte: Arquivo Pessoal
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CAPÍTULO 02 PERCEPÇÕES SOBRE O PATRIMÔNIO NO BRASIL
CONCEITOS
SEÇÃO 02
A noção de patrimônio envolve (...) as seguintes funções simbólicas: reforçar a noção de cidadania, no sentido de utilização de bens em nome do interesse público; identificar símbolos que representariam a coesão nacional; os bens patrimoniais constituiriam o mito de origem da nação, objetivando a legitimação do poder; a conservação de bens se justificaria pelo alcance pedagógico, para instruir cidadãos. (FONSECA, 1997, p. 59-60 apud RIBEIRO, 2005, p. 44).
no Brasil se amplifica no século XX através de inspirações nos valores europeus acerca do mesmo. Porque é quando se expande a abrangência dos questionamentos por novas ideologias para a preservação de bens, tais como agregar uma utilidade social ao patrimônio; relacionar o novo e o relacioná-lo com a indústria cultural
comunidade, onde nele reside a
e o turismo; promover integração da
acumulação contínua da diversidade
população sobre as decisões; e, inseri-
de objetos que se unem pela
lo nas políticas urbanas e regionais.
saberes e savoire-faire (saber fazer) dos seres humanos. No monumento histórico seu sentido provém do latim, monumentum, derivado de monere (“advertir”, “lembrar”), ou seja, aquilo que traz à lembrança alguma coisa. A natureza afetiva do seu propósito é essencial, ele não está conservado para ser neutro, mas sim almejando tocar pela emoção uma memória viva – talvez esquecida – pertencente à sociedade. Monumento é, portanto, tudo o que for edificado por uma comunidade de indivíduos para rememorar ou fazer que outras gerações de pessoas rememorem
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Ribeiro a evolução do patrimônio
bem destinado ao usufruto de uma
trabalhos e produtos de todos os
3| FUNARI; PELEGRINI, 2006, p. 44-45
Para a autora Sandra Bernardes
antigo, sem desprezar sua história;
belas-artes e das artes aplicadas,
2| RIBEIRO, 2005
emergir como se fosse presente. (1)
O patrimônio histórico é aquele
história: obras e obras-primas das
1| CHOAY, 2006, p. 11-17-18
sobre a memória, faz o passado
acontecimentos, sacrifícios, ritos ou crenças. A especificidade dele deve-se pela forma em como atua
Ademais as dissipações dessas discussões chegam ao Brasil por volta da década de 1920 primeiramente nos estados de Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, sempre inspirados no modelo francês – no qual o valor do patrimônio vai além da materialização do passado, pois também possui potencial pedagógico. É com o início do governo Vargas (1930), através da presença de um Estado modernizador que ocorre a expansão da intervenção na área cultural. Da qual o escritor Mário de Andrade, por solicitação do ministro Gustavo Capanema, torna-se grande idealizador de um anteprojeto excepcional no qual a maior preocupação seria atingir através dos monumentos uma função social, coletivizar o saber para extrapolar as questões conceituais a respeito do patrimônio; em vista disso nota-se em
suas ideias uma grande preocupação
mineiras. Tal disposição, somente
quanto à questão da educação
sancionada com a Constituição de
patrimonial. Não obstante sendo um
1937, se mostrou decisiva para a
projeto não colocado em vigência
proteção do patrimônio brasileiro,
por incumbir em si uma concepção
conforme submetia o instituto da
de patrimônio muito avançada para o
propriedade privada ao interesse
seu tempo; diretrizes presentes nele
coletivo, ou seja, sob ingerência do
seriam adotadas internacionalmente
Estado. Após esse esclarecimento
30 anos depois. Ao passo que o
são viabilizados os processos de
anteprojeto preferido na disputa foi o
tombamento no país, instituídos
de Rodrigo de Melo Franco de Andrade
através do Decreto-lei n.25/1937
cujo planejamento propunha a criação
– o principal instrumento jurídico
do Serviço do Patrimônio Histórico
utilizado pelo Sphan. Graças ao auxílio
e Artístico Nacional (SPHAN). Nesse
de órgãos protetores dos bens de
projeto a preocupação fundamental
interesse público pode ser concebida
se fixava em garantir meios legais
uma garantia de perpetuação dos seus
para a atuação do órgão quanto a
valores artísticos e históricos para
questão da propriedade e viabilização
as gerações seguintes. A exemplo, o
do tombamento; logo, em 1936, deu
tombamento foi – e ainda é – um dos
início às suas atividades. Somente
instrumentos estratégicos para impedir
em 1988 com a nova Constituição
o desaparecimento dos monumentos.
brasileira, os conceitos adotados
Por conseguinte, dentre vários órgãos
por Mário de Andrade tornaram-se
já criados e dissolvidos desde a
precursores da política de proteção
década de 1930, o IPHAN (Instituto
ao patrimônio. Concomitante e
de Patrimônio Histórico e Artístico
indissociável, no mundo, têm início
Nacional) é visto como o maior atuante
conferências a fim de formular cartas
nacional no regimento de cuidados
patrimoniais (cartas internacionais
quanto a preservação da cultura. (3)
cujo objetivo se firma em documentar as recomendações acordadas em reuniões e congressos internacionais acerca de temas relativos aos bens materiais e imateriais das nações). (2) A Constituição da República Federativa do Brasil de 1934 declara o impedimento à evasão de obras de arte do território nacional, além de introduzir o abrandamento do direito de propriedade nas cidades históricas
O IPHAN é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Cabe ao Iphan proteger e promover os bens culturais do País, assegurando sua permanência e usufruto para as gerações presentes e futuras. (Portal IPHAN). Para analisar com maior clareza os procedimentos adotados pelo órgão responsável pela proteção do patrimônio cultural no Brasil, cabe recordar:
enquanto a Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cultural e Natural atua na fiscalização e proteção dos bens culturais inclusos na Lista do Patrimônio Cultural da Humanidade, as ações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional se encarregam da identificação, catalogação, restauração, conservação, preservação, fiscalização e difusão dos bens culturais em todo o território brasileiro. (FUNARI; PELEGRINI, 2006, p. 45).
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NO LAZER E NO TURISMO
O surgimento de tantos métodos
de patrimônio histórico e cultural
protecionistas ao patrimônio, tantas
universal apresentada pela UNESCO
leis e normas para regimentar o seu
(Organização para a Educação, a
uso, a sua conservação encontrou
Ciência e a Cultura das Nações Unidas)
seu alicerce na indústria cultural.
em 1972 – órgão responsável pela
Os patrimônios sofreram uma
proteção internacional e mundial dos
transição muito importante, de
bens patrimoniais e históricos de
meros monumentos que abrigam
interesse referentes à formação de
a História passaram a ser também
toda a população. Prontamente, sob o
objetos de culto da indústria.
panorama de um mundo globalizado onde ocorre o estreitamento das
Logo no século XIX o monumento histórico é consagrado sob uma constituição institucional temporal. Ou seja, simultaneamente adquire intensidade de presença concreta e situa-se num passado definitivo e irrevogável. O patrimônio torna-se para a sociedade dessa época um objeto de culto incumbido de um importante papel memorial. Com o caminhar
distâncias, universalização da economia e quando as fronteiras se esmaecem, o termo Turismo Cultural é difundido em escala mundial, dando surgimento a um novo segmento econômico: a indústria cultural; a somatória dos acontecimentos entre esses dois séculos desloca o passado cada vez mais próximo para o presente, torna estreita, inclusive, a fronteira temporal.
do século XX, “a mundialização dos
4| CHOAY, 2006, p. 206-211 IMAGEM PÁG. 36: Vista da Praça XV, Palace Hotel (com a fachada original), Teatro Pedro II e parte do edifício Meira Junior (1930) Fotógrafo: Maggiori Photo Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto IMAGEM SUPERIOR PÁG. 37: Edifçio Diederichsen na esquina das ruas Álvares Cabral e General Osório Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto IMAGEM INFERIOR ESQUERDA PÁG. 37: Vista da fachada do Teatro Pedro II e grupo de pessoas na esplanada do teatro (1940) Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto IMAGEM INFERIOR DIREITA PÁG. 37: Theatro Pedro II e Meira Júnior vistos a partir da rua General Osório esquina com Álvares Cabral (1950) Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto
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valores e das referências ocidentais
Com a ideia de aproximação
contribuiu para a expansão ecumênica
facilitada de elementos do passado
das práticas patrimoniais” (CHOAY,
difundida, a facilidade de locomoção
2006, p. 207). Essa expansão
impulsionada e a expansão da
pode ser explicada pelo conceito
cultura do saber e do prazer para
todos cresce, no turismo, o chamado de lazer cultural. Monumentos e patrimônios históricos adquirem, nesse contexto, dupla função: obras para proporcionar saber e prazer, postas à disposição de todos; e produtos culturais, fabricados, “empacotados” e distribuídos para serem consumidos. A título de exemplo pode-se tomar o discurso do Ministro francês em 9 de setembro de 1986: “nosso patrimônio deve ser vendido e promovido com os mesmos argumentos e as
entanto, controle de acesso e manejo, dentre outras medidas, são primordiais para que se mantenham a plena funcionalidade e uso dos mesmos. (4)
mesmas técnicas que fizeram o
Isto posto, torna escancarada a
sucesso dos parques de diversão”.
urgente necessidade de que ambos,
A exploração dos monumentos, por variados meios, se apresenta como um vasto empreendimento. Dessa forma, surgem tarefas de multiplicação indefinida do número de visitantes. Cabe, nesse ponto, ressalvar a importância fundamental de sempre se manter os cuidados e reparos necessários para salvaguardar os mesmos. É direito de todos o acesso
população e governantes, devem se conscientizar sobre a preservação dos bens materiais, além dos imateriais. A difusão da história e do conhecimento é um legado da nação para as próximas gerações que cabe a população do presente conserválo e adequar o seu uso. Pois, assim, sobretudo o interesse é perpetuado e passível de continuar em crescimento.
aos bens patrimoniais da população, no
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Em ribeirão preto
A cidade de Ribeirão Preto foi palco
quando é criado o Conselho de Cultura,
importante dos períodos áureos da
pela Lei nº 2.002, cuja finalidade foi
produção cafeeira no Brasil recebeu
definir os critérios que tornariam as
um enorme contingente de novos
construções em patrimônios para a
moradores durante essa época –
cidade. Alterações e novas leis foram
século XIX – o que conferiu a cidade,
criadas com o passar dos anos até
especialmente na região central,
se chegar no advento do CONPPAC:
novos casarões, palacetes, magazines,
“órgão colegiado de caráter consultivo
ateliês de alta costura; como exemplo
e deliberativo, encarregado de
o Theatro Pedro II, o Palace Hotel, o
representar a comunidade e assessorar
Edifício Meira Junior, dentre outros.
o Poder Público Municipal”. (5)
O reconhecimento da importância de algumas dessas construções foi essencial para a atuação do poder público em tombar grande parte das remanescentes na cidade.
Ainda de grande importância para a cidade há o IPCCIC (Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais) criado em 2013 sem fins lucrativos, cuja atuação desde
5| Lei Complementar nº 482/2007, Artigo 1º IMAGEM PÁG. 38: Palacete projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e construído em 1932 é uma construção que compõem a paisagem cultural urbana do café, segundo Arthur Barros, historiador e coordenador do Arquivo Histórico de Ribeirão Preto. Foi o local onde morou o coronel Quito Junqueira, e sua esposa conhecida como Sinhá Junqueira. Tendo se tornado biblioteca apenas em 1955 e atualmente protegida tanto pelo CONDEPHAAT quanto pelo CONPPAC Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR PÁG. 39: Tombado em 2005 pelo CONPPAC o edifício Diederichsen inaugurado em 1936, em auge do declínio do período cafeeiro, foi o primeiro arranha-céu de Ribeirão Preto Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR ESQUERDA PÁG. 39: Palacete Camilo de Mattos construído em 1920 e tombado pelo CONPPAC em 2008, situado na R. Duque de Caxias no centro da cidade Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR DIREITA PÁG. 39: Atual prédio do MARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto) localizado na R, Barão do Amazonas em frente à praça Carlos Gomes foi construído em 1908 para abrigar a sede da Sociedade Recreativa. Seu tombamento pelo CONPPAC ocorreu em 2008 Fonte: Arquivo Pessoal
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Além da existência dos órgãos
então, se exprime na elaboração de
protetores dos patrimônios em escala
propostas para a implantação de
mundial (UNESCO), nacional (IPHAN) e
Cidades Criativas a partir de suas
estadual (CONDEPHAAT), o município
Identidades Culturais. Assim sendo, os
passou a contar, a partir de 2007, com
pesquisadores do Instituto entenderam
o CONPPAC (Conselho de Preservação
a necessidade de trabalharem com
do Patrimônio Cultural do Município
temas relacionados à formação da
de Ribeirão Preto). O interesse em
cidadania, tendo em vista dados de
documentar os monumentos históricos
pesquisas evidenciando a existência
de Ribeirão Preto se inicia em 1967,
de cidadãos usuários da cidade e
não cidadãos coautores. As questões relacionadas ao patrimônio cultural sempre estiveram inseridas na área de atuação do Instituto, por entendimento de que a base cultural solidifica as questões de sociedade.
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CAPÍTULO 03 O PAPEL DO MUSEU PARA A SOCIEDADE
Delimitar a natureza e a finalidade de um museu é mais complexo do que definir através de um dicionário como “qualquer estabelecimento permanente criado para conservar, estudar, valorizar pelos mais diversos modos, e sobretudo expor para deleite e educação do público, coleções de interesse artístico, histórico e técnico.” (FERREIRA, 2009, p. 1378). Isso porque trata-se de instituições culturais repletas de potencialidades e contradições, pela forma como obtiveram sua plenitude demonstrada no período pós-Revolução Francesa – a França foi grande propulsora de novas políticas e ideologias voltadas ao povo e à sua identidade como nação; os museus se tornaram instrumentos de integração cultural, porém, também se apropriaram, de certa forma, da cultura popular em prol de defini-la como cultura nacional. Desse modo, estabeleceu-se um processo que
Desde suas origens, até os dias de
popular da própria população,
hoje, os museus sofreram inúmeras
tornando a elitizada – causa indireta
transformações. Os interesses mudam
e indesejada pela Revolução. (1)
– são influenciados pela política, pela
populacional que a imagem do museu agregou a si deveria ser desfeita, segundo a nova onda de pensamento que se desenvolvia na França. Esta é uma associação que o museu adquiriu e não poderia ser perpetuada em concordância com a
2| SISEM, 2011, p. 50
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3| SISEM, 2011, p. 52
(SISEM-SP, 2011, p. 50).
contraditoriamente afasta a cultura
A associação excludente à massa
1| SISEM, 2011, p. 17-18
Os museus estão entre as instituições mais antigas da humanidade; são instituições que viajaram pelos tempos, que podem melhorar o presente e influenciar o futuro, através das reflexões que operam como lugares de representação, como polos educativos, geradores e disseminadores de conhecimento, promotores de cidadania, que valorizam as identidades culturais em suas formas de expressão cotidiana, ritual e material. Identidades que são construídas, não são fixas e imutáveis e se constroem historicamente; e falar em identidade implica falar em memória, pois a memória é um elemento constitutivo da identidade, tanto coletiva, quanto individual. Museus são locais de memórias, são responsáveis pela preservação do patrimônio, entendendo-se essa atividade como prática social constitutiva da dinâmica cultural de nossas sociedades.
ideia crescente de que é direito de todo e qualquer cidadão o acesso à sua própria história e cultura.
economia e pelas ideologias – e novos horizontes florescem. Atualmente a preservação cultural ganha cada vez mais espaço, tanto em âmbito internacional como nacional (apesar de, neste caso, mais vagarosamente), pelo fato da conscientização social tornar esse quesito mais fundamental. É através desta que se entende e pode se propagar o conceito de pluralidade cultural, diversidade, biodiversidade, meio ambiente, pois é
com os museus que se proporcionam
a conscientização nessas esferas
a todas formas de patrimônio
de poder adquire lucidez. (2)
(tangível, intangível, móvel, imóvel, cultural e natural) a sua salvaguarda.
Essa entidade tem sua responsabilidade realçada nos dias de
É responsabilidade do museu
hoje naquilo que se refere a inclusão
compatibilizar suas atividades técnicas
sociocultural – adquire cada vez mais
relacionadas e sua funcionalidade
função social – enquanto a museologia
operacional à práticas de inclusão
tradicional primordialmente limitava-
social, e de forma acessível. Por
se ao seu acervo como valor em si
isso se dá a grande importância da
mesmo, concebendo o patrimônio
adequação expográfica de seu acervo;
desvinculadamente de possíveis
a flexibilidade para mudanças, bem
usos sociais. Fabri conclui que “os
como inovações nessa forma de expor
museus passam a ser entendidos
os bens presentes; a existência de
como locais privilegiados para
de grande valia ainda por possuir o
programas e atividades incentivadoras
o diálogo e a preservação das
símbolo da educação não formal, livre
ao museu, desde atividades atraentes
identidades e da diversidade
e flexível, a possibilidade da exploração
ao coletivo, ao privado e ao político.
natural e cultural”. (2011, p. 51).
das potencialidades e das limitações
É de suma importância que no museu exista harmonia entre esses três setores básicos: o cidadão, a empresa privada e a política pública.
Além da função social, o museu adquire enorme papel na economia de modo geral, especialmente na economia cultural. Eles se encarregam
O papel do museu na sociedade
de importante movimentação de
está cada vez mais em evidência,
recursos – geram empregos diretos
apesar de ainda apresentar restrições
e indiretos e deslocam públicos
a diversos públicos – cobrança de
– principalmente relacionados
ingressos, negligência por parte de
às atividades turísticas de um
políticas públicas e privadas – pode-
município. Outra esfera de atuação
se falar em um momento promissor.
consideravelmente importante que
No Brasil e no Estado de São Paulo,
os museus se engajam pelo seu
bem como ao redor do mundo,
comprometimento é a da educação -
novos museus têm sido criados.
compreendendo-se como um processo
Além de os existentes passarem
social de formação de consciência
por reformulações, muitos passam
crítica – uma vez que possibilita
por processos de reestruturação,
ao público o entendimento de sua
requalificação, revitalização. Em
história e promove a manutenção e/ou
suma, apesar de antagônico, ao
transformação de tradições e valores;
mesmo tempo em que alguns locais
leitura e interatividade com o mundo,
ainda perdem incentivos de setores
de forma permanente e ininterrupta
públicos e privados, também há onde
na vida do indivíduo. Apresenta-se
que o museu proporciona. Essa educação nos museus é o princípio da Educação Patrimonial, nela está centrada o Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo, pois busca levar a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização cultural que se disseminem entre os novos conhecimentos. (3) Trata-se de um processo muito rico e complexo que, se bem desenvolvido, pode contribuir sobremaneira para o fortalecimento da cidadania e da identidade, contribuindo ainda para a compreensão da produção da cultura e suas diferentes formas de expressão que resultam na diversidade cultural a ser reconhecida, respeitada e valorizada; cumprindo assim o museu uma de suas principais funções. (SISEM-SP, 2011, p. 52/53).
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CAPÍTULO 04 A TEORIA JUSTIFICANDO A REQUALIFICAÇÃO
Para que seja possível qualquer tipo
podem convir para formulação
de intervenção a algum patrimônio
da “intervenção” a ser realizada.
é necessário haver relatórios iniciais
O projeto pode encontrar suas
de levantamentos (fotográfico,
justificativas no próprio monumento
métrico e histórico), bem como ter
e sua importância histórica.
em mãos os documentos de tombo. Pois assim é descoberto quais medidas são necessárias para os seus reparos e qual a urgência de cada uma delas. Outra importante medida consiste na organização de um diário de desenvolvimento, cujos relatos devem conter os estudos prévios e a justificativa para o projeto. Posteriormente a todos os levantamentos o relatório apresentará um diagnóstico de qual método para a salvaguarda do patrimônio será necessário – “Entende-se por salvaguarda toda e qualquer medida conservativa que não implique a intervenção direta sobre a obra” (BRANDI, Carta de Restauração, 1972, p. 229) – mais adequado para o mesmo (intervenção, conservação ou restauração); “entende-se por restauração toda e qualquer intervenção voltada a manter em eficiência, a facilitar a leitura e a transmitir integralmente ao futuro as obras e os objetos definidos nos artigos precedentes” (BRANDI, Carta de Restauração, 1972, p. 229); sendo esses objetos definidos na Carta, desde os monumentos arquitetônicos aos de pintura e escultura. Ou seja, é necessário haver conhecimento sobre a história do local a intervir, bem como a caracterização de quais metodologias
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1| KÜHL, 2007, p. 06
relacionadas a patrimônio
Para esclarecimentos acerca do significado da restauração, as indicações de Cesare Brandi (um dos principais nomes da restauração de objetos de arte) foram utilizadas como base referencial. O autor “apresenta o conceito de restauração, fazendo a distinção entre restauração de produtos industriais, voltada a recuperar à funcionalidade, e aquela de obras de arte, que leva em consideração os aspectos estéticos e históricos, com o objetivo de conservar a autenticidade material da obra” (BRANDI, 2004, p. 26 apud KÜHL, 2007, p. 05). Essa conceituação é possível de se estender ao projeto desenvolvido, pois as decisões sobre as medidas a serem adotadas numa intervenção (seja de restauro, de manutenção, de revitalização, ou requalificação) consistem na interpretação da relevância histórica versus adequação do espaço. O restauro e a conservação, hoje, voltamse não mais apenas para aquilo que era entendido como “obra de arte”, mas também dirigem suas atenções às obras modestas as quais, com o tempo, assumiram conotação cultural, antes excluídas. Por isso, a ênfase crescente, na atualidade, nos aspectos documentais, e nesse sentido vai o esforço de alargamento
de variados autores, baseado nos princípios brandianos, buscando interpretá-los não apenas para as obras de arte, mas para todos os “bens culturais”, lembrando-se que mesmo não sendo “obras de arte”, possuem uma configuração e estratificações no tempo, as quais devem ser analisadas e respeitadas. (1) A proposta de intervenção para o complexo do museu consiste em reabilitar a área, um termo emprestado da Carta de Lisboa que diz respeito a Obras que têm por fim a recuperação e beneficiação de uma construção, resolvendo as anomalias construtivas, funcionais, higiênicas e de segurança acumuladas ao longo dos anos, procedendo a uma modernização que melhor o seu desempenho próximo dos atuais níveis de exigência. (1995, p. 03).
de qualidade e adequar uma área a novas funções são formas de valorizar tais espaços.” (SAKATO, 2011, p.55). Em suma, para algum monumento histórico apresentar estado de
O uso desse termo – reabilitação
apenas manter a conservação
– em alguns casos associa-se à
ou preservar suas qualidades, é,
requalificação como sinônimos.
antes de tudo, necessário o seu
“Espaços morfologicamente
restauro nas partes consideradas
estruturados da cidade, mas cuja
de grandiosidade histórica; ou
imagem, por motivos diversos, se
requalificadas naquelas abandonadas
deseja alterar recebem projetos
e que comportam modernizações;
de requalificação ou reabilitação.”
ou ainda intervenções nas que nunca
(SAKATO, 2011, p. 55). Francine Sakato
contemplaram algum projeto ou
continua e aproxima essa linha de
alguma função. Inclusive, dependendo
pensamento aos espaços dos centros
da situação de urgência alguns reparos
históricos das cidades, onde em alguns
emergenciais podem ser fundamentais
casos o desejo é de recuperar uma
para dar início a quaisquer desses
imagem de grande significado e frear
procedimentos. E assim foi analisado
o processo de degradação e evasão
o complexo do Museu Histórico e
de investimentos. Porque “reverter
do Café, de modo a desenvolver o
o processo de perda de algum tipo
programa do projeto proposto.
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CAPÍTULO 05 DIÁLOGO: INTERVENÇÃO E ÁREA EXTERNA
PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO
SEÇÃO 03
Museu casa de portinari brodowski/ sp
O Museu Casa de Portinari, situado no interior de São Paulo na cidade de 1| Sobre o Museu: <museucasadeportinari.org.br> IMAGEM ESQUERDA PÁG. 50: Fachada da Casa de Portinari vista da praça Fonte: <museucasadeportinari.org.br/o-museu/ fotos-do-museu>
Brodowski, foi o local de residência do pintor Candido Portinari, bem como onde funcionou como ateliê para as suas experiências e aprofundamentos nas suas técnicas de pintura. É uma casa na qual tem como característica
IMAGEM DIREITA PÁG. 50: Interior da Capela restaurado, inclusive os afrescos Fonte: <museucasadeportinari.org.br/o-museu/ fotos-do-museu>
principal as pinturas murais nas paredes da mesma e da capela presente nos jardins da residência. Assim com o passar de anos esse
IMAGEM PÁG. 51: Planta baixa do museu em que pode-se observar a relação dos caminhos (originais) em relação à casa principal e a capela, bem como juntamente da instalação dos novos banheiros públicos. A área externa é marcada pela presença dos diferentes caminhos em meio ao jardim e como eles se relacionam aos acessos das construções Fonte: <museucasadeportinari.org.br/o-museu/ ambientes-do-museu> IMAGEM SUPERIOR PÁG. 52: Vista B (localizada na planta) onde se encontra ao fundo a casa de Portinari e em primeiro plano os caminhos e jardins com entrada de acesso à sala e cozinha Fonte: <museucasadeportinari.org.br/o-museu/ fotos-do-museu> IMAGEM INFERIOR PÁG. 52: Vista A em que se enxerga ao fundo a estrutura de container do banheiro instalado para o público e ao lado os banheiros acessíveis. Área do quintal em que localizam-se as salas dos afrescos, dos desenhos e São Jorge Fonte: <museucasadeportinari.org.br/o-museu/ fotos-do-museu>
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conjunto tornou-se importante patrimônio para a cidade e a sua preservação, imprescindível. Ela foi tombada pelo IPHAN (Instituto
É um museu composto pela casa
do Patrimônio Histórico e Artístico
principal e alguns anexos (construídos
Nacional), logo, compreende-se a sua
em ampliações). Sua importância é
importância como patrimônio para o
grande para o interior de São Paulo e,
Brasil. Posteriormente foi adquirida
inclusive, é uma excelente referência
pelo Governo do Estado de São
para o país, porque atualmente possui
Paulo e tombada pelo CONDEPHAAT
programas de incentivos privados
(Conselho de Defesa do Patrimônio
e públicos, complexo programa
Histórico, Arqueológico, Artístico e
organizacional, promove diversas
Turístico do Estado de São Paulo),
atividades turísticas para a cidade,
para então, após esforços da família
além da preocupação constante para
do artista, do município e do Estado,
a sua preservação e readequações
o museu ser inaugurado em 1970.
expositivas de acervo. (1)
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Museu do pão ilópolis/ rs
O antigo moinho colognese é uma construção proveniente de imigrantes europeus entre os séculos XIX e XX. O moinho restaurado e transformado no atual Museu do Pão localizado na 2| Arch Daily: <http://www.archdaily.com.br/br/018579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasilarquitetura> 3| Brasil Arquitetura: <http://brasilarquitetura.com/ projetos/museu-do-pao/> IMAGEM ESQUERDA PÁG. 53: Vista panorâmica do Museu do Pão e seu entorno Fotógrafos: Nelson Kon e Leonardo Finotti IMAGEM DIREITA PÁG. 53: Ponto de vista A demarcado na implantação; aparece no plano o antigo moinho e seu novo anexo conectado por uma varanda Fotógrafos: Nelson Kon e Leonardo Finotti IMAGEM PÁG. 54: Planta baixa do museu na qual foram trabalhadas legendas para melhor entendimento do programa e de forma a explicar graficamente a característica principal de análise para esse trabalho: a relação provocada pela circulação que os caminhos criados entre os dois novos anexos possibilitaram ao local Desenho: Escritório Brasil Arquitetura IMAGEM SUPERIOR PÁG. 55: Foto noturna apresentando a conexão entre os anexos 02 e 01, assinalados na implantação com o ponto de vista B Fotógrafos: Nelson Kon e Leonardo Finotti IMAGEM INFERIOR PÁG. 55: Através desse ponto de vista (C) observa-se nessa foto como se dá um dos acessos de entrada da rua para o museu pelos caminhos marcados com piso Fotógrafos: Nelson Kon e Leonardo Finotti
Serra Gaúcha é de origem italiana ocupava a função produtora de farinha na época de sua construção. Sua materialidade se destaca pela construção inteiramente feita em madeira de araucária – técnica unida à estética utilizada da matéria
Ferraz e Francisco Fanucci.
prima abundante da região. (2) O projeto, para não se manter Sua história como moinho teve um
nostálgico, decidiu, ao invés de
fim concomitantemente à década
retornar à funcionalidade produtora
de 1990 com a morte do moleiro.
de farinha de milho para a polenta,
Permaneceu abandonado até 2004
agregar ao moinho um Museu do
quando surge a ideia da criação
Pão e uma escola de padeiros. Para
de uma rota turística/cultural dos
isso dois novos blocos em concreto e
moinhos. Consequentemente,
vidro foram as escolhas do escritório
foram comprados o moinho e o seu
para dialogar com a construção
terreno e teve o início do projeto de
existente em madeira. Apesar do
restauro com patrocínio da Nestlé
concreto a forma como foi utilizado
em convênio com o IILA (Instituto
– em forma de tábua – remete à
Ítalo Latino Americano), de modo a
madeira; esse é a característica
recuperar seus elementos e funções
marcante do museu: tudo remete
originais. O projeto de restauro foi
à madeira. Todo o pequeno
realizado pelo escritório paulistano
conjunto é o museu, o moinho
Brasil Arquitetura, de Marcelo
situa-se como peça central. (3)
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Banheiro público - miro rivera architects IMAGEM SUPERIOR ESQUERRDA: Vista aérea destacando uma das unidades do banheiro implantado no parque. Através da imagem é possível ver a relação da intervenção com o passeio e como se realiza o acesso ao banheiro Fotógrafo: Paul Finkel IMAGEM SUPERIOR DIREITA: Outro ângulo de visão para a lateral fechada com as placas de aço Fotógrafo: Paul Finkel IMAGEM INFERIOR ESQUERDA: Uma foto tirada de frente em paisagem noturna em que observa-se a característica marcante do projeto: as diferentes alturas trabalhadas com as placas de aço corten Fotógrafo: Paul Finkel IMAGEM INFERIOR CENTRAL: Porta de entrada acessível ao banheiro Fotórafo: Paul Finkel IMAGEM INFERIOR DIREITA: Ponto de vista de cima para baixo para as placas inseridas na parte externa do banheiro Fotógrafo: Paul Finkel
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Em um parque chamado Lady Bird Lake Hike and Bike Trail, em Austin no Texas (EUA), o arquiteto Miro Rivera e sua equipe desenvolveram o projeto de um banheiro público para o mesmo – um escape rural no entorno urbano – que se apresenta como uma escultura no parque. No projeto foi concebida a estrutura em aço corten de diferentes larguras (entre 30 cm e 60 cm) e alturas, assim foi criado um objeto dinâmico e artístico ao longo dos caminhos do parque.
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CAPÍTULO 06 ANALISANDO, DIAGNOSTICANDO E PROJETANDO
Análise da área e seus edifícios
Através de informações coletadas em
histórico aberto ao público. Além do
conversa numa visita ao museu no dia
abandono do museu pelos órgãos
29/03/2016, guiada pelo funcionário
políticos municipais houve forte
Reginaldo Ledo (segurança do
diminuição do próprio interesse
acervo e responsável técnico e de
da população nele. Dentre alguns
montagem de exposições) foi possível
motivos analisados para a causa desse
confirmar que o complexo, como um
desinteresse e listados a seguir um
todo, encontra-se com necessidade
deles compreende o maior problema:
urgente de diversos reparos (sistema
a falta de programas de incentivo
elétrico, hidráulico, calhas, guarda-
para a inclusão de capital privado
corpo, jardins, problemas com cupins,
– já que depender exclusivamente
umidade...), revisão geral nos pisos
de renda pública, atualmente no
e forros da casa sede, além de estar
Brasil, é utópico –; Faltam oficinas e
com seus elementos decorativos e
atividades variadas para integrar toda
de ornamentos das áreas externa
a área aos dois espaços de museu,
e interna degradados. Em adição
atividades que promovam ligação
a todos os problemas citados que
entre o externo e o interno, entre a
por anos foram negligenciados
história e a atualidade – anteriormente
contribuiu para que, em março de
à interdição ocorria o “Café com
2016, após uma noite de chuva parte
Chorinho” aos domingos, ainda sendo
do telhado e do forro no interior
uma única atividade recorrente –, falta
do museu histórico desabassem.
cronograma para eventos articulados com as necessidades do museu; o
Todo o local sofre de alta deterioração IMAGEM ESQUERDA PÁG. 60: Área interditada da varanda do Museu Histórico Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM DIREITA PÁG. 60: Forro que desabou no Museu Histórico Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR PÁG. 61: No fundo e ao centro, os banheiros com problema de infiltração próximos ao Museu Histórico. Com o Museu do Café ao fundo no lado direito e, a frente, o Pavilhão Duque de Caxias Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR ESQUERDA PÁG. 61: Sala em que teve o forro desabado, meses antes e enquanto ainda estava com seu acervo exposto Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR DIREITA PÁG. 61: Banheiros embaixo do espaço do “Café com Chorinho” que também sofrem de infiltração Fonte: Arquivo Pessoal
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somada a um descaso por parte do poder público, situação alarmante por se tratar de um patrimônio
acervo exposto no museu histórico atualmente recebe críticas quanto aos seus artigos e aos seus temas,
no entanto, como fora apresentado
realizadas após a doação da fazenda
as entradas de acesso ao complexo,
anteriormente, Plínio Travassos,
ao Estado). Por essas razões, tanto
por exemplo, porque foi mantido
seu fundador, focou em criar um
os caminhos para percurso nas áreas
durante os anos a mesma disposição
espaço de culto a história e aos
externas como os acessos de entrada
residencial dos caminhos e a primeira
fatos, não ao valor histórico e pessoal
a todos os ambientes é, ou precária,
criação de caminhos para os museus.
de cada artigo. Por isso classificar
ou inexistente para as pessoas com
sua expografia como “congelada”
necessidades especiais. Ainda, outra
torna-se recorrente, uma análise
questão importante é a relação entre
sólida, porém questionável já que é
cada espaço, cada construção e/
característica do museu ele adquirir
ou monumento. As distâncias se
o aspecto de um “antiquário”.
mostram maiores e independentes, é comprometida a conexão entre o
Mais um fator problemático
monjolo e o belvedere, a casa sede e
A questão ambiental – proximidade a áreas de preservação e disposição topográfica – se cruza com as questões construtivas mais de uma vez. Enquanto é preciso atenção para a menor interferência das instalações sobre a área verde,
identificado na área da antiga fazenda é a inexistência de acessibilidade adequada as novas normas, especialmente para a entrada no Museu Histórico. Por tratar-se de uma construção rural do período cafeeiro que sofreu apenas uma grande intervenção (década de 1950 com a construção do espaço do Museu do Café) suas características da época de Schmidt permaneceramse preservadas com poucas alterações (jardins com caminhos representativos da época e alterações
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também é obrigatório o controle de danos das intempéries, tais como a IMAGEM SUPERIOR CENTRAL: Caminhos de acesso ao “Café com Chorinho” feitos apenas de pedras e escadas, além de rampas sem inclinação adequada às normas de acessibilidade Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA E DIREITA: Interior dos sanitários localizados sob o Coreto; atualmente é mantido fechado por causa dos problemas com infiltração Fonte: Arquivo Pessoal IMAGEM INFERIOR: Foto panorâmica do espaço onde ocorria a atividade Café com Chorinho; e ao fundo os elementos do Belvedere (esquerda) e o Coreto (direita) Fonte: Arquivo Pessoal
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umidade (maior fator problemático a reserva do acervo). O conjunto desses aspectos direcionou a um ponto crucial as diretrizes projetuais deste trabalho a fim de somaremse a projetos já em andamento na cidade de Ribeirão Preto; o IPCCIC (Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais) tomou envolvimento com a urgente necessidade de reparos do Museu Histórico e do Café somado ao apoio da Secretaria da Cultura.
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Diretrizes projetuais
Diante das questões apresentadas como problemáticas para o complexo dos Museus Histórico e do Café foi tomado como partido a necessidade de melhor integração entre as edificações presentes na área. Porque se mostra evidente a precariedade na relação do Museu Histórico com o Museu do Café; do Museu Histórico ao Belvedere; das entradas do estacionamento ao museu como um todo. Portanto, para
possa tanto servir como espaço para eventos, como possa se integrar a paisagem criando uma área de exposição contemporânea. Inclusive
solucionar grande parte da carência
dessa intervenção com foco na
de acessibilidade na área externa,
reabilitação do museu é a volta
os mesmos atenderão à norma de
do uso de um dos, senão o, mais
acessibilidade vigente (NBR 9050).
importante patrimônio da cidade de
externa do complexo museológico
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bem como um espaço multiuso que
Assim sendo, o principal objetivo
para a requalificação da área
IMAGEM INFERIOR: Corte AA do terreno da situação atual em que se evidencia a concentração de atividades no lado esquerdo, ao passo que a porção da direita contém apenas o Belvedere com o Coreto, com os banheiros embaixo Desenho: Camila Cavalieri
e no próximo ao museu principal,
a realização desses caminhos e, ainda,
Conforme o vislumbre dos meios
IMAGEM SUPERIOR: Imagem de estudo da volumetria final configurada com o projeto adiante Fonte: Arquivo Pessoal
instalações sanitárias nesse ponto
Ribeirão Preto. Pois mantém viva a memória da importância que o café teve para o crescimento da cidade.
na USP, revelou-se a conveniência
E, para isso, o programa de
de readequar o Belvedere e seu
necessidades do museu foi distribuído
entorno na parte superior, os
de maneira a atender às normas
banheiros que situam-se embaixo
de acessibilidade da NBR 9050 e
– transformando a área com
às disposições da Lei de Estatuto
lanchonete –, apresentar novas
dos Museus (LEI Nº 11.904).
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IMAGEM DIREITA: Implantação da área do município destinada ao Museu Histórico e do Café com o projeto proposto Desenho: Camila Cavalieri IMAGEM ESQUERDA: Legenda de vegetação representada no projeto
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A ideia de uma
Exposição na sala da entrada principal do Museu Histórico dedicada à história de Francisco Schmidt e a importância da fazenda Monte Alegre, enquanto formadores do município de Ribeirão Preto, se mostrou indispensável após pesquisas teóricas realizadas para a construção deste trabalho. Para tanto, a diagramação da expografia foi pensada para dialogar com a referência estética do
IMAGEM SUPERIOR DIREITA: Gabarito de localização do Museu Histórico na implantação sem escala IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA: Planta do pavimento superior do Museu Histórico com área de exposição demarcada IMAGEM INFERIOR DIREITA: Representação em 3D da disposição do ambiente com as placas para a exposição IMAGEM INFERIOR ESQUERDA: Aproximação da planta da exposição
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Desenhos: Camila Cavalieri
banheiro de Miro Rivera utilizada nas intervenções realizadas. Na sala indicada como a recepção as placas de metal apresentam informações breves e imagens e foram organizadas com diferentes comprimentos, presas por ganchos com cordões de aço no teto.
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Um novo design para
os mobiliários
externos se mostrou necessário, inclusive para se adequar a necessidade dos projetos realizados. Os bancos nos jardins foram escolhidos utilizando-se do modelo presente em alguns parques, de acordo com pesquisa, como no “New York Botanical Garden” feitos de concreto. Para as lixeiras, a ideia era a de serem também em concreto, a fim de manter a mesma materialidade dos bancos propostos.
IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA PÁG. 70: Lixeira de concreto polido de alta performance e aço escovado Fonte: Google Imagens IMAGEM INFERIOR ESQUERDA PÁG. 70: Banco estilo conversadeira em concreto Fonte: Google Imagens IMAGEM DIREITA PÁG. 70: Foto de área de gramado com caminhos no espaço do Museu com projeção de localizações para a inserção de alguns bancos e lixeira IMAGEM INFERIOR PÁG. 71: Foto do jardim frontal com a projeção de localização de banco e lixeira IMAGEM SUPERIOR DIREITA PÁG. 71: Gabarito de implantação com pontos a serem inseridos os mobiliários
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Desenhos: Camila Cavalieri
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IMAGEM INFERIOR ESQUERDA E DIREITA PÁG. 72: Projeção em 3D do resultado da escada com a rampa acessível IMAGEM SUPERIOR PÁG. 73: Implantação sem escala com localização em vermelho da localização de inserção da rampa IMAGEM CENTRAL PÁG. 73: Modelo 3D da rampa e escada projetada IMAGEM INFERIOR PÁG. 73: Aproximação da Implantação do projeto para as especificações do suporte projetado Desenhos: Camila Cavalieri
Como parte do projeto de
A escolha do material foi articulada
acessibilidade, a instalação de
para contrastar com o elemento
rampa metálica para o acesso a
marcante da casa rural do século
cadeirantes no Museu Histórico
XIX, a madeira; com aparência
localizada no menor desnível (0,55
simples e limpa de forma a se
m) entre a varanda e o jardim.
distanciar dos ornamentos típicos
A rampa
e
A rampa atende à inclinação
a escada foram projetadas em aço,
máxima permitida pela norma
de forma a ser removível e garantir a
NBR 9050 de 8,33%.
facilidade para reparos e manutenções na mesma e na face externa da casa em que ela se localiza.
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da burguesia do período.
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IMAGENS 01 A 05: Fotos dos pisos existentes na área dos museus e que permanecerão, enumerados e representados na implantação com os mesmos em destaque Fonte: Arquivo Pessoal IMAGENS 06 A 08: Fotos das propostas de paginação para os novos caminhos e para o estacionamento Fonte: Google Imagens IMAGEM INFERIOR PÁG. 75: Implantação com apenas os caminhos e sua paginação destacados e enumerados com a legenda das imagens ao lado Desenho: Camila Cavalieri
Os caminhos
01
criados com inclinação adequada para a locomoção de pessoas com necessidades especiais também foram revestidos com blocos intertravados, inclusive para ser clara a distinção dos passeios originais. Com estes novos caminhos
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também melhorou a integração entre todos os espaços do museu.
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IMAGEM CANTO SUPERIOR DIREITO PÁG. 75: Implantação sem escala com localização hachurada da área do projeto em zoom no desenho IMAGEM DIREITA: Planta detalhada da área com projeto para estacionamento Desenhos: Camila Cavalieri IMAGEM SUPERIOR PÁG. 74: Piso intertravado com grama para as vagas Fonte: Google Imagens
O estacionamento dentro do museu foi readequado com projeto utilizando pisos ecológicos de blocos intertravados por garantirem a permeabilidade do solo, visto que estão assentados em área próxima de onde localizamse as jabuticabeiras remanescentes dos pomares no período de Schmidt. Nas vagas o piso é misto com grama, enquanto para a circulação dos pedestres e veículos foi utilizado o tipo inteiriço. Duas entradas para os pedestres estão dispostas em
IMAGEM INFERIOR PÁG. 74: Piso intertravado para circular carro Fonte: Google Imagens
cada extremidade do estacionamento. Dessas x vagas, 2 foram disponibilizadas para pessoas com deficiência física e 3 para idosos.
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IMAGEM INFERIOR ESQUERDA: Planta baixa com cotas IMAGEM CANTO SUPERIOR DIREITO: Implantação reduzida com localização hachurada da área do projeto em zoom nos desenhos IMAGEM CENTRAL DIREITA: Fachada do banheiro (elevação 01 marcada em planta) IMAGEM INFERIOR DIREITA: Corte BB com cotas e detalhes
O banheiro projetado partiu da referência do banheiro de Miro Rivera por causa do aspecto escultural que o arquiteto o proporcionou. Ao mesmo tempo em que a instalação se camufla na paisagem, também se destoa dos aspectos construtivos
Desenhos: Camila Cavalieri IMAGEM ABAIXO: Foto do Banheiro de Miro Rivera Fotógrafo: Paul Finkel
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do parque em que está inserido e da vegetação circundante.
Portanto, de modo semelhante, a casca envoltória dessa unidade é composta por placas finas de concreto (10 cm de espessura) e diferentes alturas e larguras (2,80 m; 3,10 m; 3,40 m; e, respectivamente, 0,50 m; 0,65 m) justapostas para conceder à construção o aspecto leve, destoante e escultural.
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A porção dermarcada em vermelho
no local dos quais evidenciaram
na imagem abaixo, e, que encontra-se
uma problemática: a inutilização
ampliada na imagem ao lado, destaca
de praticamente metade da área
a área escolhida para abrigar projetos
disposta para o museu. Além de
novos para o complexo dos museus.
não abrigar funcionalidade maior que a de uma única atividade
Essa escolha se deu através de análises e levantamentos feitos
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(o “Café com Chorinho”).
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o Belvedere Ao espaço onde se encontra
original diversas mudanças e intervenções foram estabelecidas: IMAGEM ESQUERDA: Corte CC IMAGEM CENTRO: Planta baixa do pavimento térreo no espaço do Belvedere em que mostra a configuração da lanchonete IMAGEM CANTO SUPERIOR DIREITO: Implantação reduzida com localização hachurada da área do projeto em zoom nos desenhos Desenhos: Camila Cavalieri
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manter a atividade do “café com chorinho” bancos de concreto em forma de arquibancadas foram substitutos para os originais que possuíam configuração semelhante, mas agora de forma mais limpa e com iluminação no chão em meio à
Na parte superior o principal foi a
vegetação que segue no último plano;
remoção do coreto construído na
essa vegetação na parte mais alta
década de 90, porque sua aparência
foi replanejada de forma a melhor
imitando o belvedere original
separar a área de preservação dos
criava equívocos acerca do aspecto
bambus; escadas e rampas foram
histórico de ambos; porém, para se
implantadas para tornar esse espaço acessível e com circulação mais livre.
Na parte inferior onde antes havia apenas banheiros e depósitos inutilizados
uma lanchonete com novos banheiros o projeto conferiu
; sem
fechamentos, assim quebraria a solidez de toda a estrutura em concreto do espaço e manteria a proposta inicial de integração solidificada com a área externa, inclusive para para melhor garantia dessa melhor comunicação recebeu na área externa a instalação de um deck com cobertura translúcida em vidro para proteger contra a chuva e abrigar as mesas para as pessoas se sentarem em meio à paisagem.
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IMAGEM SUPERIOR ESQUERDA: Modelo adotado para as portas giratórias Fonte: Google Imagens IMAGEM INFERIOR ESQUERDA: Corte DD detalhado
O espaço multiuso criado próximo à lanchonete teve a sua localização pensada para atender a variados usos, como a locação para eventos de cunho cultural,
IMAGEM CANTO SUPERIOR DIREITO: Implantação sem escala com localização hachurada da área do projeto do espaço multiuso IMAGEM INFERIOR DIREITA: Planta do espaço multiuso
exposições de obras contemporâneas
Apenas duas faces são inteiramente de portas giratórias, enquanto uma é com grandes janelas e a que permanece sem vista para o exterior é por apresentar-se de frente para um talude formado para deixar o nível do espaço intermediário à lanchonete e ao caminho de saída do Belvedere.
e que privilegiem artistas locais,
Como a enorme laje em concreto
ou exposições temporárias de
receberia sol na maior parte do
assuntos diversos de forma a
dia e os fechamentos são, em três
criar mais atrativos ao público.
faces, de vidro, para não provocar
Desenhos: Camila Cavalieri
A estrutura projetada com laje nervurada possibilitou o aumento entre os vãos; as vedações com portas giratórias de vidro criam integração com o espaço da lanchonete, além de também viabilizar
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a comunicação com o exterior.
um superaquecimento no interior do espaço e alta variação de temperatura incidindo sobre a laje o mecanismo com pedras de argila expandida foi escolhido para evitar o super aquecimento e trincamentos.
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IMAGEM SUPERIOR: Representação em elevação da porção em que se configurou a inserção dos projetos relacionados ao Belvedere (com lanchonete, banheiros e espaço multiuso) Desenho: Camila Cavalieri IMAGEM INFERIOR: Corte geral EE do terreno com o projeto Desenho: Camila Cavalieri
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