LABORARTIS: Uma Fábrica de Criação

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LABORARTIS: UMA FÁBRICA DE CRIAÇÃO Intervenção e refuncionalização de patrimônio industrial na Mooca Camila Miki Kawamura Trabalho Final de Graduação Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Orientador: Prof. Dr. Haroldo Gallo Campinas, São Paulo | Dezembro de 2016



À minha família querida: meu pai, minha mãe, meus avôs e avós, minha tia e meu tio. Obrigada por mais essa trajetória que só foi possível por causa de vocês.



AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Yuri e Nelson, que em meio a tantas dúvidas me apresentaram a opção de curso nº48 na hora de preencher a ficha do vestibular, compartilharam os altos e baixos nas vitórias e nas noites varadas, torceram para os projetos darem certo, e sempre acreditaram em mim, até quando eu mesma não acreditava. Ao Caio, por todo o amor, paciência e companheirismo, e pela ajuda sem medir esforços tanto nesse projeto quanto em muitos outros. À Unicamp, que me deu os melhores anos da vida, de onde carrego histórias, aprendizados e muita saudade. Aos meus queridos Lucas Diva, Marília, Midori, Luana, Natalie, Juliana, Yumi, Guilherme, Avatar, Ana Luisa e Arina, muito obrigada por serem minha família durante esses anos de intensa convivência. Às minhas companheiras de TFG, Fernanda e Ana Carolina. Um agradecimento especial à Fernanda, pelas nossas conversas infinitas de estrada, pela parceria na vida profissional e por compartilharmos risadas, angústias e aprendizados em meio a esse ano caótico. Aos meus amigos queridos, Feru, Miho, Thaís, Tiemi, Panda, Cebola, Tadeu, Nami, Sara, Camilli, Maira, Lídia, Gui, Lívia, Laura, Léo e Eli, que torceram por mim desde o início até o fim deste projeto, me socorreram nos momentos de desespero e me faziam rir quando não aguentava mais olhar para o computador. À Kwak, que topou se aventurar por (alguns vários) galpões antigos de São Paulo debaixo de um sol de 38º até encontrarmos um terreno ideal para o projeto. Ao meu orientador, Haroldo Gallo, por todo o apoio, motivação e dedicação com o projeto. Aos professores que avaliaram o trabalho durante este período, Daniel, Chico, Rafael e Gisela. Um agradecimento especial ao profº Alexandre, que muito contribuiu em momentos de dificuldade. Ao TFG, que apesar dos nossos desentendimentos, me ensinou tanto, me despertou a vontade de ser turista na minha própria cidade, me mostrou uma São Paulo antiga pela qual me apaixonei, proporcionou diversos encontros inesperados e surpresas agradáveis.

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“É preciso se libertar das ‘amarras’, não jogar fora simplesmente o passado e toda sua história, mas considerar o passado como presente histórico, ainda vivo.” (Citação Lina Bo Bardi in LATORRACA, 2014, p. 236)

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 2. A ARTE COMO TRANSFORMAÇÃO 15. Residências artísticas? 18. Uma visão do passado 26. Um contexto atual 30. Arte x patrimônio industrial 3. UMA PAISAGEM URBANA: A MOOCA 36. Contextualização 38. Histórico 49. A desindustrialização da Mooca 51. A Mooca hoje 56. Análise territorial 4. A MEMÓRIA INDUSTRIAL 68. Histórico 72. Inserção urbana 76. A evolução da quadra 78. Legislação 82. Estudos de preservação 87. Aspectos construtivos 94. Desenhos técnicos e levantamento fotográfico 105. Síntese da análise e diretrizes projetuais 5. PROJETO 108. Conceito 111. Espaços, fluxos e conexões 112. Programa de Necessidades 116. O processo projetual 124. Projetos referenciais 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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INTRODUÇÃO

Seguindo do centro de São Paulo pela Avenida Radial Leste, chanfros contíguos que se estendem ao longo de um conjunto de edifícios anunciam a passagem por um marco industrial remanescente no bairro da Mooca. As estruturas podem ser observadas a longa distância, tanto pela sua imensidão quanto pela sua característica peculiar: são referências aos resquícios da antiga Fábrica de Tecidos Labor, conjunto industrial do começo do século XX. Atualmente a paisagem urbana encontrada na área leste do centro de São Paulo se constitui de uma miscelânea de edifícios de diferentes épocas. As tipologias arquitetônicas remanescentes constituem-se como importante patrimônio da cidade: narram a trajetória da industrialização da cidade, iniciando pelo desenvolvimento urbano a leste do centro, com a presença das vilas operárias, até o abandono das indústrias, conformando uma região de vazios urbanos devido aos edifícios ociosos, que não são utilizados principalmente devido a especulação imobiliária. A valorização imobiliária da Mooca a tornou alvo de demolições contrárias à vontade da comunidade local e dos envolvidos em defesa do patrimônio nacional. São muitas as denúncias de dilapidação do legado histórico-cultural que o capital financeiro vem executando de forma predatória. O argumento de ociosidade dos edifícios não é aceitável, uma vez que há inúmeras experiências que comprovam a possibilidade 12

real de converter edifícios fabris de importância patrimonial em locais de uso público ou privado, conservando suas características arquitetônicas e urbanísticas. Todavia, subutilizar os edifícios é um dos instrumentos que alimentam a falácia do discurso da especulação imobiliária, para que se possa, então, partir para a demolição. Este cenário não é restrito à Mooca, o tecido urbano sempre foi palco de disputas de interesses, porém, o que define a qualidade urbanística de um território é por qual via se resolve tal impasse. Cidades como Nova York e Barcelona com vasta herança arquitetônica industrial converteram diversos edifícios industriais em espaços de utilidade pública e privada em concomitância ao estímulo do uso misto das cercanias. Dessa forma, o objetivo é tornar cotidiana a convivência com o patrimônio, favorecendo o cuidado do mesmo. A arte e a cultura protagonizam o conceito de muitas intervenções urbanísticas em áreas fabris. Pela relação inalienável com a preservação a qualquer referência histórica da sociedade, artistas e promotores de cultura tem se organizado em diversos níveis na defesa do patrimônio, compondo um quadro muitas vezes militantes no que tange às causas urbanas. Um exemplo interessante, que continuamente vem se disseminando, é a residência artística instalada em edifícios de notável importância arquitetônica, que, além de viabilizar o uso do local, também qualifica o


processo de criação do artista. O espaço urbano permeado por arte e cultura diversifica e enriquece as relações sociais. Além disso, dinamiza a economia local, atraindo formas inovadoras de produção pautadas em conceitos sustentáveis. Através da relação entre o patrimônio histórico e a arte como meio de transformação, fundamenta-se o tema deste Trabalho Final de Graduação. Busca-se a formação de uma plataforma cultural de criação dentro do bairro da Mooca onde o novo uso possibilite o resgate da memória coletiva do local. O projeto consiste na reconversão funcional do conjunto fabril da Fábrica de Tecidos Labor remanescente no bairro da Mooca, de modo a estabelecer um novo ciclo urbano e produtivo em uma área em permanente processo de transformação. Com isso, busca-se ressaltar a importância da conservação de galpões industriais dotados de história e relevância arquitetônica, mas que tendem a ser demolidos devido à especulação imobiliária. Para a produção deste memorial, primeiramente foi realizada uma breve introdução às residências artísticas, seus conceitos e propósitos para melhor compreensão do seu funcionamento. Em seguida, coube fazer uma aproximação da área de estudo ao decorrer de sua história no contexto da cidade, seguido da interpretação do conjunto fabril, considerando as necessidades da área segundo o Plano Regional Estratégico da Subprefeitura da Mooca, para então che-

gar a uma proposta de reconversão funcional do conjunto pertencente à Fábrica de Tecidos Labor, propondo novas ocupações através da produção de diversas vertentes da arte. O projeto proposto visa que o artista e o cidadão, independente do seu local de origem, sinta-se conectado a memória existente, em um local onde que a inter-relação entre todas as pessoas envolvidas, sejam elas artistas, a sociedade, a comunidade, seja intensificada.

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A ARTE COMO TRANSFORMAÇÃO

“Tudo pode ser… Temos uma certeza apenas: há que haver disposição para o encontro com a obra! Vale dizer, há que haver o desejo, muitas vezes a coragem, de ficar frente a frente com a obra, pois, ao ficar diante da obra, pode acontecer a experiência da alteridade: eu encontro o outro e recebo sua diferença, e então, encontro-me comigo mesmo.” (LEITE; OSTETTO, 2010, p.15) 15


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RESIDÊNCIA ARTÍSTICA?

re.si.dên.cia sf (lat residentia) 1 Morada habitual em lugar determinado. 2 Localidade onde uma pessoa vive. ar.tís.ti.co adj (artista+ico) 1 Relativo às artes. 2 Feito com arte. 3 De lavor primoroso e original. Através das definições dessas palavras na língua portuguesa, a expressão “residência artística”, em seu sentido literal, pode ser interpretada de diversas formas, como “local de morar com a arte”, ou então “casa de arte”. Porém, ao se pensar nessa expressão em um contexto atual, é possível chegar a um conjunto de significados que ela carrega fora da sua definição literal, entendendo-a como um local de moradia que gera relações de diversas naturezas, concomitantemente: afetiva, social, educacional, criativo e profissional. A residência artística pode então “ser pensada como um local destinado à criação, onde o espaço e o tempo são articulados para proporcionar uma condição de vida, de criação e de trabalho ao artista”1, que tem como premissa estabelecer as trocas e a convivência entre os artistas e todas as pessoas envolvidas durante o processo de desenvolvimento de sua obra, como artistas do mesmo meio, artistas que atuam em áreas 1. Tese de Doutorado apresentado a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, “Residência Artística: ambientes de formação, criação e difusão”, por Marcos José Santos de Moraes

diferenciadas, a sociedade, ou quaisquer pessoas que frequentam ou fazem parte do ambiente de criação. Portanto, pode-se afirmar que ela atua como um instrumento de transformação ampliado se comparado ao ambiente escolar, por estabelecer essas inter-relações amplas e intensas entre a criação e o criador. Falar em residência artística é falar também em deslocamento. Segundo Barbieri 2(2003), “A mobilização de estar em outro lugar, a viagem nos chama atenção/ tensão, nos deixa esticados, despertos/espertos, presentes. Assim como os encontros, é uma experiência que fica encarnada em nós, que faz parte da nossa corrente sanguínea.” Tendo como base a ideia da desterritorialização como incentivo à criação, os programas de residência artística propõem a mobilidade dos artistas para um contexto estrangeiro, permitindo uma nova visão de diversas vertentes através da transformação que o deslocamento por si só carrega. O deslocamento como busca por novos estímulos é uma estratégia que pode ser encontrada em demais épocas como na modernidade, onde Tarsila do Amaral, após sua passagem pelo Rio de Janeiro e por Minas Gerais em 1924, agregou cores e temas tropicais às suas obras, dando início à fase Pau-Brasil. Demais artistas, como Pina

2. Stela Barbieri é curadora do Educativo da Bienal de Artes de São Paulo.

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“De Lama Lamina”, obra de Matthew Barney, marchando com o cortejo no carnaval da Bahia. Fonte: http://gpc.andrelemos.info/blog/tar-algumas-questoes-sobre-pesquisa-em-arte-e-em-ciencias-duras/

Bausch3 (1940-2009) se utilizava dessa estratégia como um método de trabalho. Desde 1986, criou 14 espetáculos baseados em coproduções, batizadas como “coreo-geografias” pois, para a concepção de suas peças, os bailarinos passavam um período de aproximadamente três semanas em locais diferentes buscando ampliar seu próprio repertório. Em 2000, passou por Salvador 3. Pina Bausch era coreógrafa, dançarina, professora e diretora de balé alemã. É conhecida como a criadora da “dança-teatro” contemporânea, onde a dança se mistura com alguns elementos do teatro, onde a maior referência é a experiência de vida dos seus bailarinos.

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para criar sua peça “Água”, que chegou a estrear no Brasil no ano seguinte. Segundo Pina, “As viagens, com as experiências que elas proporcionam e as pessoas que encontro, me trazem muitas inquietações. Elas são muito importantes para mim.” Devido a diversidade cultural e sua natureza exuberante, o Brasil tem sido um destino recorrente. Dentre os muitos artistas contemporâneos que usaram o Brasil como inspiração, temos Matthew Barney4, que 4. Matthey Barney é um artista norte-americano que trabalha com escultura, fotografia, desenho e filme.


toma como referência o candomblé baiano e realiza a performance “De Lama Lamina” no carnaval baiano juntamente com o músico Arto Lindsay, em 2004. Além das diferentes relações, uma questão essencial no estudo das residências artísticas é o elemento inseparável de criação presente ao longo da história da arte: o ateliê. Durante muitos anos, o ateliê agrega sentido ao privado, onde se apresenta como uma moldura, um “envelope”/invólucro, o limite, e o espaço inicial de conformação da produção do artista, como propõe Daniel Buren5 em seu estudo sobre a funções do ateliê. Ao mesmo tempo que remete à ideia de um espaço protegido para suas experiências e cultiva a intimidade das relações pessoas, ressalta também a possibilidade de expandir essas relações da ordem do privado para lançá-las em outra esfera mais ampla. Se observarmos através do conceito proposto pela residência artística, o ateliê não é mais necessariamente um lugar isolado, mas sim um elemento de trocas mútuas, inspirador no processo de produção e difusão das práticas artísticas contemporâneas. Desta forma, a residência artística se posiciona como uma alternativa ao artista que produz sozinho em seu ateliê, ressaltando que esta não é mais a única condição de produção e formação pessoal e profissional. Ao contrário, atua como um espaço que visa o

crescimento do artista através dos encontros e trocas tanto com outros residentes quanto profissionais da área, que participam, opinam, observam e convivem durante o processo de pesquisa e projeto.

5. Daniel Buren é um renomado artista conceitual francês. Suas obras encontram-se no caminho da escultura, instalação e pintura, bem como a ação e a intervenção.

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UMA VISÃO DO PASSADO

“Como as residências artísticas, como pontos de encontro para artistas, diferem de outras instituições culturais tradicionais? Elas não são museus, pois elas não conservam; elas não são faculdades, pois o ensino não está entre suas funções básicas, nem são locais restritos à produção - como os teatros.” (Jean-Baptiste Joly, 1996) Segundo Moraes6, uma maneira de buscar as origens das residências artísticas atuais é através das academias de arte, nos quais os estudos realizados por Pevsner7 em sua obra “Academias de Arte: passado e presente”, possibilita percebê-las como uma estrutura de formação artística. Na obra de Pevsner, o autor cita um diferencial da Academia Real de Pintura e Escultura de Paris, quando esta propôs, em 1664, a criação de uma filial que inaugurou em Roma dois anos depois, e estabeleceu uma “recompensa suprema para um estudante, um prêmio mais importante que o GrandPrix, era o Prix de Rome, uma bolsa de residência na Académie de France em Roma, geralmente de quatro anos.” (PEVSNER, 2005, pág. 154) Segundo Jean-Baptiste Joly8, a Aca6. Tese sobre Residência Artística: ambientes de formação, criação e difusão (2009, pág. 12) 7. Nikolaus Pevsner (1902-1983) foi um historiador de arte britânico nascido na Alemanha, realizou uma série de trabalhos essenciais na história da arte, com foco na arquitetura e no design. 8. Texto apresentado no Annual Meeting of Res Arts, realizado em Annaghmakerrng, Ireland, no dia 4 de maio de 1996. Jean-Baptiste Joly é professor honorário na School of Art

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démie possibilitava, através do prêmio, que os jovens artistas franceses se acomodassem em Roma para copiar esculturas clássicas para o Jardim de Versalhes. Estabelecendo um paralelo com as residências artísticas contemporâneas, onde a concessão de uma bolsa de estudos ainda é uma forma de reconhecimento das habilidades artísticas, este fato pode ser considerado como o início da instituição denominada residência artística nos dias de hoje. Seguindo as formas de produção que se seguiram ao longo da história, um momento de destaque é no século XIX, onde questionamentos relacionados às instituições acadêmicas provocaram o surgimento de meios alternativos de criação. As colônias de artistas atuavam como uma resposta à industrialização das grandes cidades, tendo como base o bucolismo, a fuga urbano e o encontro com a natureza. Dentre as colônias mais conhecidas e referenciadas pela história da arte, temos Barbizon, iniciada na primeira metáde do século XIX, Pont Aven (1886-1896) e Giverny (1885-1915). Barbizon foi a primeira colônia fundada por artistas franceses que buscavam romper com o academicismo da capital francesa, buscando uma relação direta com a natureza. Abrigava artistas como Tousseau, D’Aubigny e Millet, e, segundo Weißensee, College of Design, Berlin, vive em trabalha em Stuttgart desde 1983. Disponível em: <http://www.resartis.org/en/ activities__projects/meetings/general_meetings/1996_-_dublin/ jean-baptiste_joly/>. Acesso em 24 de abril de 2016


Debussy ganhou o Prix de Rome para composição, com a peça L’enfant prodigue. Ganhou uma bolsa de estudos na Académie des Beaux-Arts na Villa Medice, e fez 4 anos de residência, entre 1885 e 1887. Fonte: http://www.classicfm. com/composers/debussy/pictures/debussy-20-facts-about-great-composer/debussy-rome/

Château de Fontainebleau, 30 de abril de 1936, chegada dos candidatos que concorriam ao Prix de Rome. Fonte: http:// www.musimem.com/prix-rome-1930-1939.htm

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Jean-Baptiste Joly, é um típico modelo de “villégiature”, que representa o rural e a fuga da cidade. A formação de colônias de artistas se espalhou pela Europa, se localizando fora dos centros urbanos da França, ou então nas colônias de Viena e Bruxelas; chegaram a se espalhar até nos Estados Unidos da América, da Península de Monterrey, na Califórnia até o norte do país, próximo ao Canadá. Segundo Moraes, o crescimento significativo destas colônias de artistas pode ser justificado pela procura de espaços de trabalho e criação fora dos grandes centros urbanos modernos, que estavam em pleno processo de industrialização e expansão urbana, na metade do século XIX. As colônias se estabeleceram como local de fuga da agitação e excesso de movimento das cidades, onde os artistas podiam aprofundar o processo de criação. Estas tiveram suas atividades reduzidas a partir do início do século XX, ao longo da Primeira Guerra Mundial. Caracterizadas por um caráter utópico de fuga das grandes cidades, as colônias de artistas seguem por um caminho distinto das residências artísticas do mundo contemporâneo. As residências artísticas atuais buscam alternativas para serem inseridas no contexto de sua atuação estabelecendo um papel incisivo, se opondo ao caráter utópico presente nas colônias de arte. Em contraste às colônias de artistas, temos a experiência urbana do “Bateau La22

voir”, localizada em uma casa prevista para demolição em Montmartre, Paris, no início do século 20. Desde a última década do século XIX até o desenrolar da Primeira Guerra Mundial, constituiu-se como uma casa de artistas9 com a presença de ateliês, convívio e trocas entre os frequentadores do local, fatos que faziam do local um possível precursor das residências artísticas. De 1930 a 1957, a Black Mountain College10 foi uma escola significativa na aproximação com as residências artísticas atuais, devido à combinação das duas formas de criação apresentadas anteriormente: localização afastada dos centros urbanos e dos círculos artísticos, porém focando na experimentação, nas trocas entre alunos e professores e na exploração de diversas linguagens da arte. Segundo Jean-Baptiste Joly, as residências artísticas devem sua existência a um desenvolvimento artístico na Europa e EUA na década de 1960, onde podem ser identificadas duas vertentes: uma com foco no isolamento, retomando as utopias das colônias artísticas, outra com foco da vivência em comunidades urbanas. Esta segunda tem como base principalmente os EUA, 9. Artistas como Pablo Picasso, Juan Gris e Raymond Radiguet eram alguns dos habitantes do Bateau Lavoir. Foi o local onde se desenvolveu uma das principais vanguardas artísticas do início do século XX, o cubismo. 10. Escola influenciada pelas propostas pedagógicas de John Dewey, fundada em 1933 próximo a Asheville, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Fechada em 1957, era caracterizada pela experimentação, e foi responsável pela formação de diversos artistas e intelectuais dos EUA ao longo do século XX.


Modigliani, Picasso e AndrĂŠ Salmon na frente do Bateau-Lavoir. Fonte: http://france.jeditoo.com/IleDeFrance/Paris/18eme/bateau-lavoir.htm

Bateau-Lavoir, no ano de 1950. Fonte: http://france.jeditoo.com/IleDeFrance/Paris/18eme/bateau-lavoir.htm

Um ateliĂŞ do Bateau-Lavoir, no ano de 1950. Fonte: http://france.jeditoo.com/IleDeFrance/Paris/18eme/bateau-lavoir.htm

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A escola Black Mountain College, localizada na Carolina do Norte, EUA. Fonte: http://archives.ncdcr.gov/ Public/Digital-Collections-and-Publications/Resources-By-Subject/ Black-Mountain-College

Estudantes da Black Mountain College. Fonte: http://archives.ncdcr. gov/Public/Digital-Collections-and-Publications/Resources-By-Subject/ Black-Mountain-College

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Logo da A.I.R. - “Artist In Residence”. Esse logo era freqüentemente colocado na entrada de edifícios industriais para indicar que haviam pessoas morando no prédio. Fonte: https://sohomemory.com/tag/the-soho-artists-association/

Reunião do “SoHo Artists Association Planning Committee”, discutindo mapas de levantamento antes das legalizações de ocupação dos galpões. Fonte: http://urbanomnibus.net/2013/06/living-lofts-the-evolution-of-the-cast-iron-district/

que carregaram forte influência dessa vertente em Nova York até a década seguinte. No final dos anos 60, as indústrias iniciaram a saída de Manhattan em busca de outras oportunidades, deixando a região abaixo da Rua Houston, o South of Houston (SoHo). Os galpões industriais desocupados e os espaços comerciais deteriorados foram ocupados por artistas que criaram comunidades ou as chamadas “A.I.R.” - “Artist In Residence”, alterando a natureza do local. Anteriormente degradado, o local passou a abrigar artistas de diversas áreas de criação, galerias de arte, estabelecendo uma forma de vida em comum e construindo um sistema de

trocas. Na mesma década, iniciou-se a fundação da Cité Internationale des Arts, localizada às margens do Rio Sena, no centro de Paris. Edifício de características modernas, era um local de amplitude considerável, contando com mais de 300 espaços para receber artistas que buscavam se estabelecer na cidade. No contexto brasileiro, as residências artísticas são um fenômeno relativamente recente, apesar da presença de experiências importantes durante o período modernista. A Aldeia de Arcozelo, em Pary do Alferes, próxima à Petrópolis, no Rio de Janeiro, 25


fundada em 1965 pelo diplomata Paschoal Carlos Magno é apontada como a primeira residência artística formal no Brasil11. Buscando proporcionar a artistas de todo país um espaço de criação, uma fazenda histórica colonial de 1792 foi ocupada, abrigando dois grandes teatros - sendo um ao ar livre e outro com palco fechado, sala de música, espaços para as artes plásticas, galerias, sala de vídeo, biblioteca, coreto, e um edifício colonial com 54 quartos, salões e varandas. Foi fechada em 1980 com o falecimento de Carlos Magno, e atualmente é administrada pela Funarte12. Segundo Moraes, uma “terceira onda da mobilidade artística subsidiada” (Hora, 2006, pág. 55) se iniciou no começo da década de 1990, que se distingue das experimentações ao longo da história devido a possibilidade de alcance global. Através de networks, websites e redes sociais, foi possível a expansão das denominadas “residências artísticas” fora da Europa e dos EUA, e a difusão para todos os continentes, até os dias de hoje.

11. Publicação: Mapeamento de Residências Artísticas no Brasil. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2014. (2014, p. 56) 12. A Fundação Nacional de Artes - Funarte é o órgão responsável, no âmbito do Governo Federal, pelo desenvolvimento de políticas públicas de fomento às artes visuais, à música, ao teatro, à dança e ao circo. Os principais objetivos da instituição, vinculada ao Ministério da Cultura, são o incentivo à produção e à capacitação de artistas, o desenvolvimento da pesquisa, a preservação da memória e a formação de público para as artes no Brasil. Ver http://www.funarte.gov.br/a-funarte/

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Cité Internationale des Arts, ao lado do Rio Sena. Fonte: http://residence-artistes-paris.blogspot.com.br/2010/10/ residence-artistes-paris-cite-art. html

Fotografia da Aldeia de Arcozelo, sede da primeira residência artística do Brasil, localizada no Rio de Janeiro, em 1965. Fonte: Revista ARTE! Brasileiros, julho/agosto 2016, nº35, p. 79

Mapa da Aldeia de Arcozelo, sede da primeira residência artística do Brasil, localizada no Rio de Janeiro, em 1965. Fonte: Revista ARTE! Brasileiros, julho/agosto 2016, nº35, p. 79

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UM CONTEXTO ATUAL

“Sempre penso que a ‘primeira’ residência foi a casa que Van Gogh alugou com Arles, em 1888, para onde convidou Paul Gauguin. Lá eles trabalharam juntos por alguns meses. Segundo Van Gogh, a experiência criou uma nova ‘atmosfera elétrica’.”13 A relação baseada na convivência dentro de um meio diversificado e a possibilidade de trabalho conjunto como apresentado na perspectiva de Lara Almarcegui14 representa uma das principais concepções das residências artísticas, que atualmente assumem um papel relevante no meio de produção artística. Em um mundo globalizado onde as informações se propagam de forma rápida e intensa, a recorrência dos artistas contemporâneos às residências artísticas pode ser explicada através da necessidade de buscar novas formas de experimentar e vivenciar o mundo. No mais, pode-se pensar na residência artística como uma nova forma de inserção no circuito artístico, como um mecanismo “alternativo” para tradicionais meios de formação, criação, produção, difusão e reflexão do campo das artes. Neste espaço, além da prática ar13. Depoimento da artista Lara Almarcegui em HORA, D. Residências artísticas: as múltiplas direções dos trânsitos contemporâneos. In CADERNO Videobrasil, Associação Cultural Videobrasil, vol.2, n.2, 2006, p.54-77 14. Lara Almarcegui é uma artista espanhola de Zaragoza e reside em Rotterdam, na Holanda.Realiza intervenções e instalações de arte. Conhecida por sua série de demolições, auto-construções e campos abertos.

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tística contemporânea temos o conceito do atelier “como campo expandido” através da atuação no contexto urbano, gerando uma relação de reflexão, interação e discussões sobre a cidade. Inserido neste contexto de busca por novas experiências, o processo de difusão de tecnologias e comunicação digital foram meios essenciais para a ampliação das residências artísticas devido a facilidade de divulgação, de atuação e de contato entre estas. Desde 1990, o ambiente virtual tem contribuído intensamente para a expansão das residências artísticas através de plataformas de coleta e difusão de informações que atuam como redes de estímulo, fomento e dinamização em escala global. Atuando como plataformas de trocas de informações e experiências, estas iniciativas conectam um universo de centenas de programas de residência artística pelo mundo. Dentre as inúmeras organizações que apóiam os programas de residência artística, alguns casos que merecem ser destacados são: ResArtis - Worldwide Network of Artist Residencies15: iniciada em 1993, com sede em Amsterdã. Possui a responsabilidade de colocar em contato permanente as instituições responsáveis pelos programas de residência artística, divulgar e difundir os mecanismos e informar os artistas dos mesmos. 15. ResArtis, ver http://www.resartis.org/en/. <acesso em 30/07/2016>


Alliance of Artists Communities AAC16: criada em 1990, é a primeira rede nacional de residências nos EUA. Junto com as redes internacionais ResArtis, TransArtists e a IntraAsia, constituem um mapeamento das formas de trocas e práticas artísticas contemporâneas. Responsável pela publicação dos primeiros manuais de orientação para criação dos projetos de residência. Intra Asia Network: criado em 2005, em Taiwan, envolve instituições em 15 países asiáticos. Ministra uma rede de colaboração e discussão sobre os diferentes aspectos e especificidades da residência artística no âmbito regional da Ásia. Além do contexto de conexão e trocas estabelecido através do sistema de redes, existe a preocupação em relação ao apoio financeiro aos artistas residentes. Atualmente é comum a adesão de residências artísticas a instituições e órgãos de governo (nacionais, regionais ou locais) como promotores de programas, sobretudo fornecendo auxílio financeiro às atividades, demonstrando o interesse institucional-político em se vincular e orientar esse processo de transformação social e cultural. Quanto à diversidade das residências artisticas pelo mundo, encontra-se das mais variadas organizações. Podem ser le16. Alliance of Artists Communities, ver http://www.artistcommunities.org/. <acesso em 30/07/2016>.

vados em conta os diversos ramos artísticos, as instalações técnicas e materiais, as áreas disponíveis, a forma de seleção dos artistas (inscrição através de edital, apresentação de projetos..), a idade dos artistas, a existência ou não de apoio financeiro, a duração da estadia, entre outros. Mas segundo Jean-Baptiste Joly, com base nas atividades da Academia Schloss Solitude e da convivência frequente com artistas, pode-se destacar quatro critérios que podem ser considerados comuns e essenciais em uma residência artística: 1- Identidade do local: através da cidade de instalação, da paisagem do local, da arquitetura do edifício de instalação, sua história. 2- Organização e objetivos: eficiência da equipe e diversidade de contatos, tanto no âmbito nacional quanto internacional 3- Possibilidades técnicas e materiais 4- Qualidade e coerência na escolha dos artistas Dessa forma, é possível uma melhor compreensão da organização das residências artísticas atualmente. Apesar das variadas organizações, em grande parte os artistas se inscrevem em um edital com a possibilidade de auxílio financeiro ou não, passam a se estabelecer em um local por um determinado tempo para estudo e criação, e dentro desse meio, estabelecem contato com demais artistas e com a sociedade, onde a proposta de contrapartida da residência ressalta 29


artistas

edital do programa de residência artística

tempo determinado de criação / estudos

relação artistas

convívio no local

relação sociedade

contrapartida residência

Tabela esquemática do funcionamento das residências artísticas nos dias de hoje

a importância de passar algum conhecimento obtido durante o tempo de permanência, através de workshops, oficinas e apresentações, por exemplo. No contexto brasileiro, o número de residências ainda é bastante escasso, contando com 191 no país todo. Muitas delas não se concentram em apenas em uma forma de manifestação artística, mas sim na diversidade de áreas de atuação, onde a área de maior destaque é a de artes visuais (119 espaços), seguido da dança (90 espaços), do artesanato (52 espaços), do circo (50 espaços) e até de jogos eletrônicos (10 espaços). Há instituições que premiam artistas com viagens, como o Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte) através da Bolsa Pampulha; o Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador); o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife); e a Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre), através da Bolsa Iberê Camargo. Dentre as residências instaladas no país, merecem destaque o Capacete Entretenimentos17 (Rio de Janeiro), um dos espa17. Fundado em 1998, a Capacete Entretenimentos tem como

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ços mais ativos no processo de práticas artísticas contemporâneas; e a residência na Ilha de Itaparica, em Salvador, Bahia, mantida pelo Instituto Sacatar18, uma fundação norte-americana que fundou um edifício para pesquisa e criação em locais isolados, contato com a natureza e comunidade local. Na cidade de São Paulo, podemos considerar dois momentos importantes para a residência artística: em 2002, a expo residências acolheu 33 artistas, sociólogos, escritores, cineastas, arquitetos provenientes de várias cidades e países que fizeram uma ocupação nos apartamentos no Edifício Copan, durante 3 meses; e em 2006, onde se iniciou a residência artística oferecida pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), que foi um estímulo para a formação de outros programas de residência posproposta expor e produzir trabalhos conceituais e contextuais inéditos, abrangendo diversas áreas das artes e abrigando artistas nacionais e internacionais. 18. Desde 2001, o Instituto Sacatar dirige um programa internacional de residência artística, oferecendo aos artistas um local de interação entre os artistas e a comunidade, estimulando a arte através de um lugar que promove calma e tranquilidade na hora da criação.


teriormente. Atualmente, existem diversas iniciativas de residências artísticas na cidade, localizadas principalmente próximas ao centro, como: Phosphorus (ao lado da praça da Sé), Pivô (edifício Copan), Aurora (República), Estúdio Lâmina (Anhangabaú), Red Bull Station (Anhangabaú), dentre outros. No âmbito dos programas do governo federal, a Fundação Nacional de Artes (Funarte) promove ações voltadas às residências artísticas através de editais de fomento. Dessa forma, desde 2008 a Funarte tem assumido o papel de principal instituição pública promotora e incentivadora das artes visuais no Brasil, o que leva a refletir sobre sua especificidade enquanto órgão do Estado formulador e executor de políticas públicas de fomento e difusão. As ações promovidas pela Funarte também lançam questões sobre modos de promover a criação e a manutenção de canais de diálogo; e se os mesmos assumem e são praticados em um viés democrático, participativo e horizontal no campo da produção cultural. Pode-se afirmar que, ainda em escala reduzida comparado ao cenário internacional, as residências artísticas no Brasil são reflexo das discussões e articulações em torno dos espaços de atuação da arte contemporânea. No mais, seguem rumo à internacionalização, através da inserção nas redes e networks globais.

Open Studio apresentando o resultado de residência de 8 artistas, no prédio da Praça do Patriarca, que abriga a residência artística da FAAP. Fonte: http://revistamaneira.com.br/?p=10501

Artista na 11ª residência do Red Bull Station. Fonte: http://brasileiros.com.br/2016/04/12a-residencia-artistica-red-bull-station-divulga-selecionados/

Exposição na Aurora, que funciona dentro de um apartamento no centro de São Paulo. Fonte: http://www.obeijo.com.br/ noticias/roteiro-de-espacos-culturais-alternativos-em-sao-paulo-12771476

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ARTE X PATRIMÔNIO INDUSTRIAL

O caso 22@bcn Nas últimas décadas, tem-se observado uma problemática comum em cidades que sofreram rápido processo de desindustrialização: a degradação de antigos espaços urbanos centrais, que deixaram de exercer sua função produtiva e acabaram estabelecendo áreas subutilizadas, como terrenos ociosos e galpões abandonados. Essa problemática é tão frequente no contexto atual que tem sido protagonista de discussões entre urbanistas, que buscam a melhoria dos centros urbanos degradados através de intervenção diversas. Em 1975, a Carta de Amsterdã estabelece o conceito de que a preservação do patrimônio arquitetônico se relaciona com a conservação de áreas urbanas, ressaltando que o patrimônio arquitetônico não é formado apenas pelos monumentos mais importantes mas também pelos conjuntos que constituem os bairros, as aldeias e as cidades antigas. Em 1980, surge o conceito do patrimônio como estratégia de reabilitação urbana, em que se busca a conservação de áreas de interesse histórico, social e cultural promovendo “a mudança sem crescimento urbano”, que consiste em novas formas de ocupação das antigas áreas industriais, ao invés da expansão para novas áreas. Inseridos nesse contexto em que antigas áreas industriais são alvos de degradação e demolição, os vazios urbanos, os wastelands e os “terrain vague” se tornam palco de implantação de projetos, realizadas em parceria entre o poder público e a iniciativa 32

privada. No caso europeu, existem inúmeros exemplos de projetos em busca de novos usos para esses locais e criação de novas centralidades a partir de diferentes tipos de “terrains vagues”, como vazios industriais, ferroviários e portuários. Um exemplo é a cidade de Barcelona, que foi alvo de grandes transformações realizadas através de projetos urbanísticos. O foco principal do poder público era incentivar o desenvolvimento econômico inserido no novo paradigma da sociedade da informação, que, segundo ele, proporciona posição internacional, coesão social e qualidade de vida. Portanto, os quatro projetos pensados para a cidade atualmente são: 122@bcn, em Poblenou; 2- Fórum Universal da Cultura de Barcelona; 3- Sagrera, em Sant Andreu; e Plano Delta do Llobregat. Focando em projetos de refuncionalização de antigas áreas industriais degradadas, destacamos o projeto de 22@bcn, que visa a transformação do distrito industrial de Poblenou, localizado no centro de Barcelona e que atualmente se encontra degradado. O bairro foi essencial para a cidade durante os séculos XVIII e XIX devido a presença de grandes indústrias, principalmente no setor têxtil. Através do projeto de 22@bcn, a prefeitura pretende criar um novo modo de ver a cidade, buscando amenizar algumas problemáticas existentes, como a baixa densidade, propondo um espaço de interação entre os diversos agentes urbanos e gerando uma


Em azul, se destacam as áreas que sofreram intervenções do Projeto 22@Barcelona, no Distrito de San Martí. Fonte: https://distritocriativo.wordpress.com/tag/fabricas-de-creacion/

massa crítica necessária para desenvolver uma economia de aglomeração; e a criação de um bairro de uso misto de qualidade urbana elevada, buscando desenvolver atividades intensivas e de alta tecnologia. Esse modelo urbano tem como tempo estimado de desenvolvimento aproximadamente 15 a 20 anos. Uma das vertentes do projeto do 22@ bcn é a criação das “Fàbriques de Creació de Barcelona”, que consiste na ocupação de antigos edifícios industriais por espaços de criação de arte. Esse projeto busca a criação de novos significados e valores simbólicos através de uma reinterpretação das antigas indústrias e da história do local. A origem dessas “Fàbriques de Crea-

ció” se deu no distrito de San Martí, através da ocupação de antigas fábricas, muitas delas degradadas, por artistas. Após mais de 8 anos de pressão de artistas e coletivos, no ano de 2008, a prefeitura de Barcelona finalmente criou essas “fábricas de criação”: “El nuevo motor de Barcelona es la cultura y la creatividad” (Jordi Hereu, prefeito socialista, em 2008). Atualmente, existem 10 dessas fábricas na cidade, com diversas atividades culturais de caráter sócio-cultural e de utilidade pública: 1- Ateneu Popular de 9 Barris - Nou Barris 2- Fabra i Coats - Sant Andreu 3- Graner - Sants - Montjuïc 33


4- Hangar - Sant Martí 5- La Caldera Les Corts - Les Corts 6- La Central del Circ - Sant Martí 7- La Escocesa - Sant Martí 8- La Seca -Ciutat Vella 9- Nau Ivanow - Sant Andreu 10- Sala Beckett / Obrador - Sant Martí Assim como a cidade de São Paulo, Barcelona também vivenciou um processo de desindustrialização no qual suas indústrias emigraram para outros locais. Portanto, visto a necessidade da refuncionalização de antigos galpões industriais para atender às novas funções, mas suas fachadas foram mantidas buscando preservar sua memória e a identidade do conjunto. Além do exemplo de Barcelona, diversos países da Europa estabelecem novos usos em antigas áreas industriais, voltados principalmente aos usos culturais e artísticos. Portanto, utilizando de modelo esses casos de estudo, a escolha da área de estudo se voltou principalmente para bairros na cidade de São Paulo que apresentassem um histórico industrial com potencial para a convivência entre o patrimônio e novas funções.

Fábrica abandonada de Can Ricart. Can Ricart (1852), durante anos, se dedicou à confecção de tecidos. Fonte: https://distritocriativo.wordpress.com/tag/fabricas-de-creacion/

Fabrica i Coats, dedicada antigamente à fiação. Atualmente, apenas do prédio com as duas torres é usado como Fábrica de Criação. Fonte: https://distritocriativo.wordpress.com/tag/fabricas-de-creacion/

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Can Ricart atualmente: Abriga Hangar, que funciona como fundação em uma das naves do complexo industrial. Abriga 15 ateliers para artistas; um espaço de coworking, laboratórios de vídeo, imagem e interativos; 2 estúdios e oferece assessoria técnica e acompanhamento à produção. Fonte: https://distritocriativo.wordpress.com/tag/fabricas-de-creacion/

Fabrica i Coats atualmente: Abriga inúmeras áreas artísticas - artes visuais, artes cênicas, música, e multimídia. Se encontra completamente integrada a vida cultural e educacional do Distrito de Sant Andreu. Fonte: https://distritocriativo.wordpress.com/tag/fabricas-de-creacion/

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UMA PAISAGEM URBANA: A MOOCA

“Aquela Mooca de antanho, com suas fábricas de macarrão, seus teares do operário tecelão. Aquela Mooca mais recente, com suas fábricas de bebidas, de açúcar e de café, de automóvel e de caminhão. Aquela Mooca dos passeios dominicais na avenida, dos corsos nos carnavais e do fantasiado folião. Aquela Mooca folclórica, aquela não existe mais. Hoje, é a Mooca dos prédios, dos apartamentos funcionais. São edifícios altos, com áreas de lazer e piscinas, com comodidades sem iguais. A Mooca de hoje é mais moderna e atualizada, com biblioteca, teatro, clubes de recreação, universidades e hospitais. A Mooca de hoje, contudo, continua hospitaleira, recebendo de braços abertos a todos os seres mortais.” (Poema em homenagem aos 448 anos do bairro da Mooca escrito pelo morador Raphael Cardamone, conhecido como “Raluca”)19 19. Poema disponível em: <http://www.portaldamooca.com.br/index.php/cronicas-poesias-e-etc/> Acesso em: 09/05/2016

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CONTEXTUALIZAÇÃO

“A Mooca é um bairro onde os sentidos se afloram, bastando ficar atento aos cheiros que marcam a vida em alguns pontos do espaço comum: cheiro de diesel das locomotivas, de carvão das padarias, do malte e cevada da Cervejaria Antártica, de fumo, de café torrado. Da mesma maneira para os sons: máquinas das gráficas e tecelagens, dos gritos da torcida no estádio da rua Javari, do trem correndo sobre os trilhos, do apito das fábricas, das pessoas conversando.” (Folder da exposição “Mooca Oggi”, realizada no Memorial do Imigrante) Na cidade de São Paulo, tanto as características arquitetônicas quanto a morfologia urbana de épocas antigas são muito escassas. Atualmente, a cidade se configura de forma desorganizada e carece de espaços históricos, praças, e caminhos agradáveis para o pedestre, refletindo os resultados do rápido processo de urbanização da cidade, onde os espaços que poderiam ser preservados com o intuito de oferecer qualidade foram ignorados em nome da impermeabilização do solo urbano e uso incorreto dos espaços públicos, onde privilegiou-se também o transporte privado sob o público. Para a valorização destes espaços, é necessário que não haja o sufocamento das malhas antigas com novas edificações que disputam fisicamente ou esteticamente com as arquiteturas originais. A teoria da preservação dos conjuntos urbanos nasce dos con38

frontos entre a cidade antiga e a cidade industrial, como pode ser visto nas afirmações de Choay20, quando destaca a importância da memória das cidades antigas através de autores como Gustavo Giovannoni. Giovannoni entende a fragmentação e desintegração da cidade moderna e enxerga elementos unificadores nos quarteirões antigos. “(...) colocava no centro do rol de interesses que poderiam envolver um congresso dedicado à “proteção” e “conservação” de “monumentos de arte e história”, também a “arquitetura menor” e a dimensão urbanística de seus agrupamentos.”21 Afirma que todo fragmento de cidade antiga deve ser integrado no Plano Diretor da cidade, defendendo a manutenção de sua morfologia mas também as desobstruções, demolições e reconstituições, com tanto que seja bem especificado. Dessa forma, é possível pensar no caso de São Paulo, que apresenta uma quantidade significativa de marcas da época industrial, através de galpões, trilhos e vagões de trem, máquinas e fábricas antigas que constituem espaços de características históricas e marcantes para a cidade. Dentro da cidade de São Paulo, a área que despertou a atenção foi o bairro da 20. CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado - São Paulo. Estação Liberdade: Editora UNESP, 2001. 21. CABRAL, Renata Campello; 2015. A dimensão urbana do patrimônio na Carta de Atenas de 1931. As contribuições da delegação italiana. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/15.179/5531> Acesso em: 21/11/2016.


Mapa de inserção do distrito da Mooca em meio às subprefeituras e distritos do município de São Paulo

Mooca, devido a presença da memória e da identidade que ganham materialidade através dos edifícios existentes. O descaso e a desconfiguração do patrimônio arquitetônico vem alterando essa paisagem histórica a cada dia de modo inadequado, se inserindo

em um contexto em que o patrimônio industrial, juntamente com as ações da população local, lutam para manter viva a memória histórica e cultural desta área essencial para a formação da cidade. 39


HISTÓRICO

“A cidade de São Paulo era circundada por um cinturão de chácaras que, além de fins agrícolas, encerravam importante função residencial. Muitos paulistanos ilustres residiam em suas chácaras” (Langenbuch, 1971, p.9-10) Através da descrição de Langenbuch, podemos contextualizar a paisagem de bairros rurais na cidade de São Paulo do fim do século 18 até meados do século 19. Brás e Mooca ainda eram regiões com características rurais, com a presença das grandes propriedades aristocráticas, conhecidas como “Prados da Mooca”.22 Segundo Azevedo (1958), ainda no século 18, o acesso à várzea do rio Tamanduateí era prejudicado por possíveis desmoronamentos da colina onde se localizava o centro da cidade. A interligação entre o centro e a parte leste do Rio só se iniciou entre 1814 e 1828 com a construção da Ponte do Carmo, que interligava a cidade de São Paulo com a Corte, localizada no Rio de Janeiro. Posteriormente, estas estradas deram origem à Avenida Rangel Pestana e ao Caminho da Mooca, atualmente Rua da Mooca, onde se localiza o conjunto estudado neste trabalho. No início do século 19, os trabalhadores, os pobres e os imigrantes foram destinados a fixar suas moradias do outro lado do Rio Tamanduateí devido às doenças que 22. MENEGUELLO, BERTINI, RUFINONI E VALENTIN; 2007.

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tinham como alvo principal a classe operária e fizeram com que a legislação sanitária proibisse a construção de novos cortiços no perímetro urbano da cidade. Dessa forma, nas proximidades do Rio Tamanduateí, que sofreu a primeira retificação em 1848, foi estabelecido uma subdivisão das chacáras, dando origem aos bairros Brás e Mooca, que logo se consolidaram sobre as áreas de várzeas aterradas. O marco para a evolução dos bairros do Brás e da Mooca se deu no ano de 1967, com a inauguração da São Paulo Railway, ferrovia que interligava o porto exportador de Santos à principal região produtora de café no Oeste da Província de São Paulo. O relativo crescimento econômico da capital paulista, com o deslocamento do café para o oeste paulista e a construção desta primeira ferrovia, foram fatores que aceleraram a urbanização de São Paulo. (Marcílio, 2004, p.263).

“A São Paulo Railway foi o ponto de partida para a implantação da extensa malha ferroviária de São Paulo. Construídas principalmente em função da necessidade de transporte da produção cafeeira para o porto, as diferentes ferrovias foram sendo lançadas para ir buscar o café nas regiões produtivas, trazendo-o até as estações da São Paulo Railway, para que dali seguisse para Santos.” (MAZZOCO; RODRIGUES, 2005, p. 36)


Vista da Mooca para o centro na Várzea do Carmo. Fonte: Revista Mooca: o portal da Zona Leste.

O rio Tamanduatey: como era chamado no início do século tinha tanto pescado, que ás suas margens foi instalado o Mercado do Peixe. Pelo rio também chegavam hortaliças e frutas das roças dos arrabaldes, e as donas de casa aproveitavam suas águas límpidas para lavar roupas. Fonte: Revista Mooca: o portal da Zona Leste.

“O velho Tamanduateí sempre aprontou das suas, qualquer chuva maior era o suficiente para transbordá-lo.” (1915) Fonte: Revista Mooca: o portal da Zona Leste.

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Vista panorâmica da Antarctica, Avenida Presidente Wilson, São Paulo, 1930. Fonte: Acervo do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo. “...colossos que, ao amanhecer, com o grito de suas possantes máquinas, despertam o operário e chamam-nos às oficinas, e que durante o dia envolvem o horizonte em nuvens de fumo quase impenetráveis” (Acervo Antarctica)

Vista da Fiação e Tecelagem Mariângela, na década de 20. Fonte: Acervo do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo.

Com a construção da São Paulo Railway, os antigos pontos de passagem para quem chegava do litoral paulista seguindo o “Caminho do Mar” foram progressivamente abandonados, e em consequência, ocorreu um rápido crescimento urbano nas proximidades da ferrovia, atraindo indústrias e imigrantes, principalmente italianos, que buscavam emprego como mão-de-obra nas fábricas. Após a implantação da São Paulo 42

Railway, a melhoria na Rua do Gasômetro e extensão do aterro do Gasômetro com o saneamento de várzeas alagáveis realizados pelo Presidente Dr. João Teodoro Xavier, presidente de província entre 1872 e 1875, deram início à viabilização da implantação da Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1877. (Toledo, 1981, p.44-48). De acordo com Langenbuch (1971), “(...) a indústria encontrou, ao longo da São Paulo Railway, o trinômio perfeito para o


Oficina de carpintaria da Antarctica, fábrica da Avenida Presidente Wilson, em 1935. Fonte: Acervo do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo.

Fiação e Tecelagem Mariangela, rua Monsenhor Andrade, bairro do Brás, em São Paulo. Fonte: Acervo do Arquivo Histórico Municipal de São Paulo.

seu desenvolvimento: a ferrovia, pela qual se garantiu o acesso ao porto marítimo e internacional de Santos (o “porto do café” a partir de 1854); os terrenos planos, os quais diminuíam o custo de implantação das fábricas; e os rios Tietê e Tamanduateí, os quais forneciam água aos motores a vapor e às caldeiras.” Além do trinômio apresentado por Langenbuch – com exceção do rio Tietê –, os bairros da Mooca e do Brás, que nessa época já apresentavam seu território subdi-

vidido em quadras, apresentavam outro fator essencial para a industrialização, o baixo preço dos terrenos, que eram ocupados por chácaras. A migração de mão-de-obra e infra-estrutura qualificada da economia cafeeira para as indústrias também foram fatores que intensificaram o desenvolvimento, em meados do século 19, de pequenas e médias indústrias em bairros industrializados como Lapa, Pari, Brás e Mooca. “Nas várzeas do Tamanduateí e do 43


Tietê, junto às estações ferroviárias, ao longo das estradas de ferro, desenvolveu-se em face do baixo preço dos terrenos e da facilidade de transporte dos produtos, o parque industrial paulistano, constituído principalmente por empresas de porte médio e pequenas oficinas, fabriquetas e ateliês, muitos deles de caráter doméstico. Assim Brás, Bom Retiro, Mooca, Água Branca, Lapa, Ipiranga foram loteados e cresceram rapidamente marcados por uma paisagem de fabriquetas, casebres, vilas e cortiços.” (Rolnik, 1997, p.78) De formação rápida e intensa, esta nova infraestrutura urbana caracterizou os bairros a leste como operários, pioneiros nas indústrias têxteis e de calçados, primordiais para o crescimento industrial, econômico e comercial da cidade de São Paulo. Segundo Langenbuch (1971), “o início do último quartel do século passado (século 19) abre realmente uma nova fase na evolução da cidade de São Paulo”. Entre 1890 e 1900 a cidade teve seu maior impulso evolutivo, passando de 64.934 habitantes em 1890 para 239.820 habitantes em 1900. Por volta de 1930, o tecido urbano destes bairros industriais já se encontravam consolidados, com a presença de vilas operárias, através de sobrados alinhados em série, nos quais o térreo utilizado como loja ou armazém. Abastecidos por eletricidade, gás, água e esgoto, os numerosos galpões industriais “fumavam” pelas chaminés ao longo das proximidades da ferrovia. Portanto, o processo de urbanização 44

de São Paulo foi um processo rápido e intenso. A imensa expansão periférica gerou uma metrópole que, em um período de 70 anos, viu sua área urbana passar de 180km² em 1930 para 1.874km² em 2001. Esse ritmo de crescimento acelerado se associa à evolução do traçado urbano e os caminhos traçados pela modernização do território que buscava organizar sua infra-estrutura e interesses econômicos, mas acabaram por resultar em profunda desorganização espacial, coerentes aos problemas urbanos que afetam a cidade até os dias de hoje. “São Paulo e algumas outras capitais brasileiras que nessa época [primeira década do século XX] passaram por rápidas transformações expandiram-se, portanto sem contarem com os benefícios do planejamento de longo prazo; foram, ao contrário, empurradas pelo progresso eterno, principalmente pelo sentido construtivo espetacular das grandes cidades norte-americanas.” (Richard Morse, Formação Histórica de São Paulo, 1970)


1841 - A várzea do Tamanduateí e as chácaras nas proximidades do Caminho da Mooca (em destaque), atual Rua da Mooca, em 1841.

Planta da cidade de São Paulo, realizada em 1841 por Carl Abraham Bresser. Disponível em: <https://confins.revues.org/10524>. Acesso em 10/05/2016.

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1868 - Aumento do traçado urbano a leste do Rio Tamanduateí, da Rua do Brás (atual Radial Leste), do Caminho da Mooca (atual Rua da Mooca) e da Rua Piratininga. Representação da linha férrea da São Paulo Railway, inaugurado em 1867.

12. Mapa da cidade de São Paulo, de 1868, autoria do engenheiro Carlos Roth. Disponível em: <http:// www.arquiamigos.org.br/ info/info20/img/1868-download.jpg>. Acesso em 10/05/2016.

Mapa da cidade de São Paulo, de 1868, autoria do engenheiro Carlos Roth. Disponível em: <http://www.arquiamigos.org.br/info/info20/img/1868-download.jpg>. Acesso em 10/05/2016.

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1881 - Começo da ocupação do bairro do Brás, principalmente nas proximidades da rua do Gasômetro e Rangel Pestana. Cruzamento entre a linha de trens da SPR e a Estrada da Mooca.

Mapa da cidade de São Paulo, de 1881. Disponível em: <http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart535014/cart535014.jpg>. Acesso em 10/05/2016.

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1897 - Crescimento da malha urbana em torno do eixo da ferrovia Santos-Jundiaí. Se inicia o parcelamento das terras em loteamentos na Mooca, e o rio Tamanduateí possui seus primeiros trechos canalizados (em destaque).

Mapa da cidade de São Paulo, de 1897. Disponível em: <http://www.arquiamigos.org.br/info/info20/img/1897-download.jpg>. Acesso em 10/05/2016.

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1950 - A Avenida Radial Leste teve seu primeiro trecho concluído em meados de 1950, iniciando na avenida do Estado na altura do Parque D. Pedro II. Esse trecho ligava a região central até a Rua Piratininga, próximo a via férrea.

Mapa da cidade de São Paulo e municípios circunvizinhos. Fonte: RODRIGUEZ, Maria Elizabet Paes. Radial Leste, Brás e Mooca: diretrizes para requalificação urbana. FAUUSP. São Paulo, 2006, p. 44

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1979- Brás e Mooca: uso do solo em 1979. Presença da Radial Leste concluída.

Mapa de uso do solo em 1979. Fonte: EMURB, Levantamento Área Cura Brás-Bresser, Análise Urbana, 1979.

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A DESINDUSTRIALIZAÇÃO DA MOOCA

Segundo Ana Fani Alessandri Carlos no artigo “A metrópole de São Paulo no contexto da urbanização contemporânea” (2009, pág. 305), podemos distinguir dois momentos importantes para a urbanização da metrópole de São Paulo: a urbanização recorrente do processo de industrialização, caracterizado pelo capital industrial proveniente da acumulação cafeeira; e o momento em que o capital financeiro de uma sociedade de consumo adquire supremacia sobre o capital industrial, em meados de 1980. “O bairro outrora operário, que abrigava inúmeras indústrias de grande porte, no entanto, coaduna com o processo de desconcentração industrial da Capital.” (CARLOS, 2009) Esse processo de passagem do capital industrial para o financeiro não significa necessariamente um processo de desindustrialização da cidade, mas um processo de desconcentração das empresas, sendo necessária a instalação de uma nova infraestrutura para abrigar este processo. No caso de São Paulo, o eixo financeiro empresarial se estabelece desde o centro da cidade em direção ao sudoeste, ocupando áreas de industrialização antiga. A transição econômica resultou em grandes consequências no tecido urbano, principalmente em antigos bairros industriais como Mooca, Brás e Ipiranga, que tiveram seus edifícios e complexos industriais desocupados. Sánchez (1998) já alertava sobre os perigos sócio-econômicos e ambien-

tais que o abandono do patrimônio material pode gerar para uma cidade: espaços topofóbicos, propícios para o acúmulo de lixos e peste urbanas (ratos, baratas, etc.), esconderijos, dentre outros. Dessa forma, é necessário pensar na revitalização destes patrimônios e em propostas de novos usos. Atualmente, estes sofrem com a formação de uma outra paisagem urbana, composta de edifícios verticais multiuso - residenciais, comerciais e escritórios. Ao invés dos antigos conjuntos industriais serem vistos como espaços de revalorização, se tornam possibilidades de criação de novas fronteiras econômicas para agentes hegemônicos da produção do espaço. Mesmo que agora se viva uma nova fase, não existe justificativa para a devolução dos pilares que sustentam a memória de sua evolução e, junto com os pilares, sua própria identidade (FORTUNATO, 2012)

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Convivência entre antigos galpões industriais e novos edifícios residenciais. Fonte: MEYER, Regina Maria Prosperi, GROSTEIN, Marta Dora. A leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010, p. 149.

Rua bloqueada pela linha férrea, ladeada por sobrados geminados e ocupados por moradias e por atividades relacionadas à Zona Cerealista. Fonte: MEYER, Regina Maria Prosperi, GROSTEIN, Marta Dora. A leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010, p. 147.

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A MOOCA HOJE

“...a vida no bairro da Mooca sempre foi muito provinciana. Em certo sentido, é como se fosse uma cidade dentro de São Paulo, quem viveu por lá ou continua fiel as suas ruas estreitas e nostálgicas sabe bem o que é não querer de maneira alguma deixar as tradições morrerem.” (ALVES, 1998 - sobre os pequenos tesouros da Mooca na transformação de São Paulo) A paisagem urbana atual encontrada na área leste do centro se constitui de uma miscelânea de edifícios de diferentes épocas da cidade de São Paulo.Trata-se de um território que possui fortes marcas da atividade industrial e da vida urbana da classe operária paulistana, podendo ser classificada como o setor urbano que congrega a parcela mais representativa do patrimônio industrial de São Paulo. O estabelecimento da indústria com a moradia operária criou uma morfologia única na cidade, dadas as proporções que as duas modalidades se encontram. Entretanto, em muitas situações, são utilizadas políticas de preservação voltadas para bens isolados, fato que poderia ganhar muito mais significado se fossem tratados conjuntamente, reforçando seu significado histórico e funcional. Através da análise das principais tipologias arquitetônicas existentes na área de estudo, é possível compreender o uso de predominante de alguns materiais e técnicas construtivas, a organização espacial e, consequentemente, o conjunto arquitetônico.

Além disso, é possível construir um esquema ideal da morfologia do bairro, que se pode reconduzir uma infinidade de objetos e exemplos arquitetônicos com características comuns. As tipologias arquitetônicas predominantes no bairro são: 1- OS GALPÕES INDUSTRIAIS Segundo Meneguello et al. (2007), mesmo depois de cem anos de transformações urbanas, os inúmeros conjuntos fabris ainda permanecem no bairro da Mooca com grande importância histórica e arquitetônica, firmando-se como um legado imaterial, das memórias e dos processos de trabalho de uma era passada. Nos dias de hoje, os edifícios industriais remanescentes se destacam na paisagem urbana em dimensões e tipologias arquitetônicas variadas, de acordo com seu uso: industrial, logístico (depósito de apoio ao comércio local), serviços (maioria voltado para conserto de automóveis), reciclagem de materiais, oficinas mecânicas, estacionamentos, ou então galpões que se encontram ociosos. As construções mais simples possuem pé-direito baixo e ocupam totalmente pequenos lotes, enquanto as grandes indústrias se encontram em grandes terrenos com uma tipologia mais nobre: fachadas de tijolos aparentes e cobertura em shed ou lanternins para a iluminação, com grandes janelas envidraçadas. Estes conjuntos que 53


Fábricas no Brás. Fonte: MEYER, Regina Maria Prosperi, GROSTEIN, Marta Dora. A leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010, p. 30

Galpão antigo em atividade, na Rua dos Trilhos, 2006. Fonte: RODRIGUEZ, Maria Elizabet Paes. Radial Leste, Brás e Mooca: diretrizes para requalificação urbana. FAUUSP. São Paulo, 2006, p. 107

abrangem uma área maior apresentam uma característica em comum, que é a presença de ruas internas aos lotes, visando a circulação dos funcionários, equipamentos e escoamento dos produtos, e a técnica de montagem e materiais utilizados: “(...) a técnica adotada na construção destes galpões industriais não variava muito: eram construídos com alvenaria de tijolos aparentes e estrutura de ferro fundido ou aço. Em alguns casos, as estruturas metálicas eram importadas da Europa e montadas no Brasil. As coberturas de estrutura metálica ou madeira eram a solução mais usual, em sheds ou em duas águas sucessivamente repetidas lado a lado.” (Meneguello et al., 2007)

os bairros do Brás e da Mooca se estabeleceram como alvo de investimentos para a formação de moradias operárias, devido à concentração das atividades industriais. A estratégia das empresas na época consistia na implantação de residências operárias e serviços próximo às fábricas, permitindo mão-de-obra barata localizada próxima ao local de trabalho e o pagamento dos salários dos trabalhadores através do aluguel das residências23. Porém, a estratégia tinha um outro lado, que buscava fazer com que o trabalhador se sentisse parte da comunidade local, fato que se reflete até os dias de hoje na identidade dos bairros. A construção destas residências operárias era realizada com pouca verba, pois

2- AS VILAS OPERÁRIAS

Nas primeiras décadas do século XX, 54

23. PAEZ, Maria Elizabeth Rodriguez. Radial Leste, Brás e Mooca: diretrizes para requalificação urbana. 2006, 248 p. Tese (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. São Paulo, 2006. p. 106.


Vilas operárias no Brás e na Mooca baixa. Fonte: RODRIGUEZ, Maria Elizabet Paes. Radial Leste, Brás e Mooca: diretrizes para requalificação urbana. FAUUSP. São Paulo, 2006, p. 106

eram instalados em lotes baratos e construídas através de técnicas de construção simples: estrutura em alvenaria, com volumes uniformes e realizadas em série. Porém, apesar de serem construções simples e pequenas (aproximadamente de 55 a 85m²), satisfaziam as necessidades de seus moradores, dotadas de água encanada e eletricidade. As residências operárias se encontram conservadas em sua grande maioria até os dias de hoje, apesar das fachadas terem sofrido com as mudanças ao longo do tempo. A tipologia arquitetônica consiste em casas assobradadas e geminadas, em sua maioria de 2 a 3 andares, que se prolongam ao longo da rua, terminando ao final da rua em forma de cul-de-sac. O térreo geralmente era utilizado para comércio ou depósito, e no andar superior, se estabeleciam as resi-

dências, compostas por casa, sala, cozinha, banheiro e dois dormitórios. Atualmente, elas ainda permanecem formando a principal tipologia habitacional do bairro, que é a vila. O levantamento de uso do solo revela a existência de 20 vilas na área, na qual 14 delas já constavam na área desde 1930. 3- A VERTICALIZAÇÃO DA MEMÓRIA DE UM BAIRRO A paisagem dos bairros industriais até a década de 1960 possuía um perfil urbano horizontal onde os únicos elementos verticais que se destacavam eram as chaminés e os edifícios industriais de maior escala, como o Cotonifício Crespi (1897) e a cervejaria da Sociedade Antarctica Paulista, antiga fábrica da Bavaria (1892). Contemporâneo ao processo de aban55


dono dos conjuntos industriais, a verticalização da Mooca, iniciada no Alto da Mooca seguindo em direção à Mooca Baixa, tem sido um fenômeno que vem devorando24 as tipologias arquitetônicas analisadas anteriormente, desestabilizando a paisagem urbana histórica e enfraquecendo os grupos sociais criado na primeira metade do século XX. Graças a novos usos e projetos de reconversão funcional, alguns edifícios conseguiram resistir à demolição, como a antiga fábrica de calçados São Paulo Alpargatas que atualmente abriga a Universidade Anhembi-Morumbi. Existem casos também de intervenções inadequadas em bens tombados como o caso do Cotonifício Crespi, cujo edifício principal representa um dos exemplares mais importantes da arquitetura industrial da cidade, atualmente ocupado pelo hipermercado Extra. (RUFINONI, 2009, p.194) As intervenções no conjunto demoliram muitos trechos, sem critérios para a conservação. Através da planta, pode-se perceber que a intervenção do hipermercado acabou resultando em demolições de edifícios adjacentes que compunham o conjunto, para dar espaço ao estacionamento. Além disso, muitas edificações históricas sofrem com a especulação imobiliária e acabam sofrendo com a demolição, como

a fábrica de açúcar da Companhia União dos Refinadores, que em seu terreno atualmente abriga uma dúzia de edifícios de dez andares. Outra situação que também pode ser vista na paisagem urbana atual é a de “Manter de pé apenas as chaminés de antigas fábricas de São Paulo tem sido a estratégia das construtoras para conseguir a liberação dos órgãos do patrimônio histórico e, assim, ocupar os grandes terrenos do município com condomínios residenciais.”25

24. “Devorar, sobre este baldrame teórico, pressupõe um rito de passagem que se impõe pela força à fragilidade do objeto a ser devorado. É, portanto, um processo violento que apaga pela brutalidade a imagem que se propõe a renovar.” (FORTUNATO, 2012)

56

25. CORREA, V. Avanço dos prédios em São Paulo poupa apenas antigas chaminés. Folha de São Paulo, São Paulo, caderno cotidiano, domingo, 23 de janeiro de 2011, p. c1


Galpões industriais junto à ferrovia em primeiro plano e novos empreendimentos imobiliários ao fundo. Fonte: MEYER, Regina Maria Prosperi, GROSTEIN, Marta Dora. A leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010, p. 30

Paisagem vertical da Mooca: edifícios novos, galpões antigos e uma pseudo salvaguarda da memória, que é a chaminé. Fonte: Arquivo de Ivan Fortunato. Disponível em: <http://www. v i t r u v i u s . c o m . b r / re vistas/read/arquitextos/12.140/4189>

Antigo Cotonifício Crespi, 2013. Fonte: acervo digital Sampahistórica. Disponível em: <https://sampahistorica.wordpress.com/2014/01/16/cotonificio-crespi/>

Planta do conjunto arquitetônico do Cotonifício Crespi. Situação em 2001. Fonte: RUFINONI, 2009, p. 278

57


ANÁLISE TERRITORIAL

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

ás Ferrovia CPTM (Antiga

Estação Br

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Estação

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3Linha

Central do Brasil)

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Viaduto Alcântara

Viaduto Governador Roberto Abreu Sodré

Machado

Viaduto Professor Alberto Mesquita de Camargo

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do

N 0

100

200

LEGENDA USOS Residencial Serviços Misto Institucional Reciclagem - coleta e transformação Galpões industriais Comercial Cortiços - imóveis degradados ou parcialmente demolidos

58

500

Rua da Mooca e adjacentes: uso comercial com intenso fluxo de pedestres e veículos, somado ao uso residencial com elevado grau de deterioração das edificações. Fonte: arquivo pessoal


Segundo Meyer (2010), as proximidades do local de estudo se encontram em uma área de “uso comercial com intenso fluxo de pedestres e veículos, somado ao uso residencial com elevado grau de deterioração dos edifícios”. Os bairros do Brás e da Mooca apresentam diversidade de uso e ocupação do solo, ocasionado pela implantação das vilas operárias no início do século XX. Através de um mapa de uso e ocupação do solo dos bairros do Brás e da Mooca baixa, foi possível estabelecer um melhor entendimento das características de ambos os bairros: A ocupação no quesito comércio se potencializa mais no bairro do Brás do que na Mooca baixa. Os pontos comerciais são dispersos, e muitas vezes se encontram em edifícios de uso misto (comercial e residencial), onde o comércio de vestuários possui um grande destaque. A ocupação no quesito serviços é mais forte que o quesito comércio, em ambos os bairros. Na Mooca baixa, o setor de serviços é mais precário comparado ao Brás, onde predominam salões de cabeleireiros, barbearias, quitandas, chaveiros, bares e pequenos restaurantes. A ocupação no quesito indústrias é forte em ambos os bairros através da presença de galpões industriais, que, em sua maioria, abrigam serviços ou servem de depósitos. A ocupação mista (térreo voltado para serviços ou comércio e andares superiores

com uso residencial) pode ser observada com grande frequência tanto na Mooca baixa quanto no Brás. Estes conjuntos foram construídos durante a década de 1930 ou pouco depois, atendendo às necessidades dos comerciantes que trabalhavam e moravam com a família no mesmo local. A ocupação no quesito residencial é muito mais intensa na Mooca baixa. No Brás, porém, podemos encontrar os dez condomínios residenciais verticais produzidos pela COHAB na década de 1930, o Brás I - Brás X. Em ambos os bairros que se encontram próximos ao conjunto, pode-se perceber a escassez de edifícios institucionais, públicos ou particulares para usos educacionais, saúde e cultura.

59


BARREIRAS URBANAS Devido a localização em um local de conexão entre o centro e a periferia, o conjunto de estudo apresenta importantes vias de ligação regional nas suas proximidades como a Radial Leste, a Avenida do Estado, a linha verde do metrô e a linha férrea. Contudo, na escala do bairro, estas interligações acabam comprometendo a mobilidade intra-urbana, causando impactos negativos na mobilidade dos pedestres e dos veículos. Atualmente, a ferrovia Santos-Jundiaí (antiga São Paulo Railway) se estabelece como uma barreira urbana devido a presença de muros ao longo dos trilhos para evitar a passagem de pedestres e veículos, e atua como um elemento divisório do bairro da Mooca: Mooca baixa (entre a Avenida do Estado, Radial Leste e ferrovia Santos-Jundiaí) e o Alto da Mooca (a leste da ferrovia Santos-Jundiaí e ao sul da Radial Leste). Outro elemento essencial para a formação urbana de São Paulo mas que atua como fator divisório é a ferrovia Central do Brasil, que separa o bairro do Brás em três trechos: oeste da Santos-Jundiaí e ao norte da Radial Leste; leste da Santos-Jundiaí entre Radial Leste e a Central do Brasil; entre a Santos-Jundiaí, Rua Bresser, Radial Leste e a Ferrovia Santos-Jundiaí. Outro fator que agrava a situação, este localizado na diretamente na parte norte do terreno estudado, é a presença da Avenida Alcântara Machado (Radial Leste), implantada no fim da década de 1960. A avenida é essencial para a interligação entre o centro 60

e a área leste da cidade, porém, por ser um local de alto tráfego, tornou-se uma barreira urbana de difícil transposição. Buscando amenizar o problema das barreiras urbanas, foram implantadas passarelas metálicas pouco convidativas para a passagem de pedestres e viadutos de tráfico intenso para os veículos, mas que ainda não solucionam a problemática de acessibilidade dos pedestres e veículos.


LEGENDA Estação CPTM Estação metrô Objeto de estudo Transposição de pedestres Transposições viárias 0

1km

N N Diagrama de barreiras urbanas: interrupções viárias próximas ao local de estudo. Fonte: MEYER, Regina Maria Prosperi, GROSTEIN, Marta Dora. A leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010, p. 273.

61


LEGENDA Estação CPTM Estação metrô Objeto de estudo Ruas interrompidas pela Av. Alcântara Machado Ruas interrompidas pela linha férrea Ruas interrompidas pelo Rio Tamanduateí/Parque Dom Pedro II Ruas sem saída 0

1km

N N Diagrama de barreiras urbanas: transposições viárias próximas ao local de estudo. Fonte: MEYER, Regina Maria Prosperi, GROSTEIN, Marta Dora. A leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010, p. 272.

62


MOBILIDADE

Mapa de localização dos pontos de ônibus, estações de metrô e de CPTM próximos ao conjunto. Fonte: arquivo pessoal

N 0

100m

200m

500m

Devido a proximidade do centro e por ser um eixo de conexão entre o centro e a área leste da cidade, o bairro da Mooca é equipado com uma rica rede de transportes públicos, desfrutando de várias linhas de ônibus e trens metropolitanos. Devido às dificuldades de transposição de barreiras apresentadas anteriormente, os ônibus se apresentam como elemento importante de apoio tanto para a mobilidade entre bairros quanto para a mobilidade interna do bairro. Além da extensa frota de ônibus, as linhas de trem e metrô que se encontram próximas ao conjunto estabelecem conexão

com o circuito metropolitano de transporte de São Paulo: a linha 10 (turquesa), conexão com a Zona Sul, está instalada no lado leste do objeto de estudo (antiga São Paulo Railway) e para na estação Mooca; e a linha 3 (vermelha), conexão da região central da cidade à zona leste, passa a norte do objeto de estudo na “fronteira” com o Brás, parando nas estações Brás e Bresser-Mooca.

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EQUIPAMENTOS CULTURAIS

N 0

250m

500m

Catavento Cultural

Casa das Retortas (futuro centro cultural)

Memorial do Imigrante

Escolas

Mapa de localização dos equipamentos culturais e escolas próximas ao conjunto. Fonte: arquivo pessoal

O bairro da Mooca apresenta poucos equipamentos culturais apesar da proximidade com o centro. Temos o Memorial do Imigrante, o Catavento Cultural e o projeto de um futuro centro cultural na Casa das Retortas. Apesar da escassez de edifícios culturais, temos uma grande quantidade de escolas nas proximidades do conjunto, que se apresentam como um potencial de públi64

co-alvo para o projeto, para a realização de diversas atividades com os estudantes.


BENS TOMBADOS

N 0

250m

500m

bens tombados pelo CONDEPHAAT bens tombados pelo CONPRESP

Mapa de bens tombados e em processo de tombamento até 2006. Fonte: arquivo pessoal

bens em tombamento pelo CONPRESP

A Fábrica apresenta, nas suas proximidades, uma inúmera quantidade de bens tombados pelo Condephaat e pelo Conpresp e edifícios em processo de tombamento, no qual o conjunto se insere na última categoria.

65


ÁREAS VERDES E ALTAS TEMPERATURAS

N Mapa de altas temperaturas. Fonte: disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-86212012000400010>. Acesso em 20/11/2016.

As áreas verdes e praças são precárias, apresentando-se somente através de terrenos remanescentes da implantação do metrô, localizados em pontas de quadra e sem vegetação ou algum tipo de atrativo,como brinquedos e mobiliários urbanos. Além disso, as pequenas áreas verdes se apresentam subutilizadas, habitados por pessoas em situação de rua ou servem de depósito de lixo. Através do mapa de temperatura apa66

rente da superfície alvo de registro, pode-se observar que os bairros do Brás e da Mooca apresentam as temperaturas mais altas da cidade, devido a falta de arborização, excesso de solo impermeabilizado e intensa poluição atmosférica por conta do excesso de emissão de gases dos veículos. A escassez de áreas verdes prejudica a qualidade de vida da população local, que sofre com o calor intenso ao andar nas calçadas sem arborização.


SÍNTESE DA ANÁLISE TERRITORIAL Por ser uma área de conexão entre bairros, o local apresenta vias de tráfego intenso que acabam formando barreiras urbanas, dificultando o acesso de pedestres e veículos. Portanto, a área é equipada com uma rica rede de transportes públicos (ônibus e trens metropolitanos), onde os ônibus se apresentam como elemento importante para suprir o problema da mobilidade entre bairros e no interior destes. A ocupação é interessante por apresentar uma diversidade de usos, possibilitando um dinamismo social intenso, porém, a área carece de equipamentos culturais, educacionais e de saúde. Outra questão é a escassez de áreas verdes, o excesso de solo

impermeabilizado e a intensa poluição atmosférica, resultando na área com as temperaturas mais altas da cidade. Portanto, podemos concluir através das análises realizadas que a área apresenta como potencialidades e vulnerabilidades:

Potencialidades:

Vulnerabilidades:

1- Presença de transporte público (ônibus e trens) 2- Proximidade do centro de São Paulo e facilidade de acesso viário 3- Valorização histórico-cultural da área 4- Forte presença da tipologia arquitetônica industrial 5- Presença de infra-estrutura (pavimentação, luz, água, esgoto, coleta de lixo, etc) 6- Apoio da população local em defesa do patrimônio industrial 7- Diversidade de usos possibilita um dinamismo social intenso

1- Barreiras urbanas dificultam mobilidade de pedestres e veículos 2- Escassez de áreas verdes 3- Aumento excessivo das temperaturas do solo 4- Abandono e deterioração de edifícios de importância histórico-cultural 5- Carência de equipamentos culturais, educacionais e de saúde 6- Falha de conectividade da malha urbana 7- Dificuldade de acesso na escala do bairro 67


68


A MEMÓRIA INDUSTRIAL

69


HISTÓRICO

Os dados históricos mais antigos da fábrica fazem referência ao seu lote de implantação, que inicialmente pertencia ao Coronel José Ferreira de Figueiredo, importante cafeicultor da cidade de Bauru. Em 1907, o lote foi vendido para G. Crespi & Companhia, representado pelo sócio Giovanni Crespi (irmão de Rodolfo Crespi, proprietário do Cotonifício Crespi26). Sucessora da companhia G. Crespi & Companhia, recebeu o nome de Fábrica de Tecidos Labor em 191027, ano em que foi constituída juridicamente. Iniciou suas atividades no dia 22 de junho, e era vista como uma indústria de porte considerável, dedicada à fiação e à tecelagem de lã e algodão. Através de uma descrição do catálogo Impressões do Brasil no Século Vinte28 publicada em 1913, é possível obter uma impressão do impacto causado pela fábrica na época: “Fábrica situada na rua da Mooca, 155, a cinco minutos do centro da cidade, ocupa uma área de 20.000 metros quadrados. Os prédios que acabam de ser edificados são mag26. Inaugurado em 1897 no bairro da Mooca, projetado pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi, é um relevante patrimônio cultural industrial de São Paulo. Atuava nas áreas de fiação, tecelagem, tinturaria e malharia, relevante na história da industrialização. 27. Conforme Ficha Cadastral e Ficha de Breve Relato da Junta Comercial do Estado de São Paulo, nas folhas 92 a 98 28. LLOYD, Reginald; FELDWICK, W.; DELANEY, L. T.; EULALIO, Joaquim; WRIGHT, Arnald. Impressões do Brazil no século vinte: sua história, seo povo, commercio, industrias e recursos. Londres: Lloyd’s Greater Britain Plublishing Company, 1913.

70

níficos e de primeira ordem; os machinismos nelles installados realizam todas as exigências que o crescente progresso da industria impõe a estabelecimentos deste gennero. A installação completa comporta 600 teares e 10.000 fusos, movidos por electricidade. Os diversos motores, de 600 hp de força, são de Westinghouse. O fornecimento de vapor para as seções de preparação, tinturaria etc. é feito por uma caldeira de 200 hp, do fabricante Franco Tossi, Itália. As differentes secções da Fabrica são: fiação, tecelagem, tinturaria, acabamento, officina mechanica para concertos de machinas, etc. O funccionamento de todas as secções exige para cima de 1.000 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, que diariamente trabalham na fabricação de artigos de algodão, lã, linho, colchas, chales, brins e cretonnes. Na Exposição do Rio de Janeiro de 1908 recebeu a fabrica um grande premio e uma medalha de ouro pelos artigos expostos.” Através da afirmação de Maria Margarida de Andrade29, é possível também obter uma impressão sobre as condições de trabalho da fábrica: “foram consideradas modelos do ponto de vista da higiene e segurança, as fábricas Santista, Labor e Ipiranga. Nelas, as correias e transmissões foram colocadas segundo cri29. ANDRADE, Maria Margarida de. Bairros Além- Tamanduateí: o imigrante e a fábrica no Brás, Móoca e Belenzinho. Tese de doutorado. USP/FFLCH. São Paulo, 1991.


térios racionais; havia iluminação e ventilação adequadas; aspiradores de pó; vestiários para as operárias.” (ANDRADE, 1991) Dentre os cargos de importância dentro da fábrica, se destacava o presidente da companhia Dr. Erasmo Teixeira de Assumpção, também fazendeiro de café e sócio-gerente da firma Toledo, Assumpção & Cia; o diretor comercial Sr. Samuel Augusto de Toledo, e o diretor técnico Sr. Giovanni Crespi. Segundo a publicação Impressões do Brasil no Século XX, “(...) o sr. Giovanni Crespi, nasceu em Busto Arsizio, Itália, em 1869, e desde moço se dedicou, em seu país, à fiação e tecelagem. Veio para o Brasil, em 1900, ocupar o lugar de gerente da fábrica dos srs. Regoli & Crespi, donde se retirou em 1903 para se estabelecer por conta própria. A atual diretoria é a primeira da companhia e foi a sua incorporadora.” O período da I Guerra Mundial (1914-1919) foi de intensa produção, onde o auge da produção se deu entre 1921 e 1936. Às véspera da II Guerra Mundial (1936-1938), os sócios brasileiros estavam com dívidas no Banco de São Paulo e resolveram vender a fábrica. Em 1939, as famílias Vidigal, Mattar, Zarzur e Mafuz se interessaram pela compra da fábrica, e possivelmente aqui recebe o nome de Indústria Têxtil Supertext. A fábrica se apresentava como uma fonte de produção importante na primeira

tabela indicando as principais tecelagens instaladas na capital paulista em 1920. fonte: minuta de resolução de tombamento, Condephaat, processo 59448/2009. Acesso em 10 de abril de 2016.

fase de industrialização paulista, seguindo os modelos da indústria moderna. Na época que foi construída, a capital paulista se consagrava com destaque na concentração de indústrias do ramo têxtil, e também crescia como pólo industrial e econômico. Através de uma análise realizada pelo Departamento Estadual de Estatística, pode-se observar que a Fábrica de Tecidos Labor era identificada como um elemento de destaque no ramo industrial nos anos 1950 e 1960, sempre presente na listagem das principais indústrias têxteis de São Paulo. 71


Foto interna do galpão 01 da Fábrica Labor - imagem extraída do catálogo Impressões do Brazil, op. cit, publicada em 1913. Fonte: minuta de resolução de tombamento, Condephaat, processo 59448/2009. Acesso em 10 de abril de 2016

Estado atual do galpão 01, em 2016. Fonte: foto da autora, 09/04/2016.

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Foto da esquina da Rua da Mooca com a Rua Barão do Jaguará, em 1930. Fonte: minuta de resolução de tombamento, Condephaat, processo 59448/2009. Acesso em 10 de abril de 2016

Esquina da Rua da Mooca com a Rua Barão de Jaguará, em 2016. Fonte: google earth


Em 13 de agosto de 198730, a Fábrica de Tecidos Labor foi formalmente desativada devido a regressão das atividades fabris no bairro da Mooca e o deslocamento destas para outros pólos industriais. Após o encerramento de suas atividades, o conjunto não abrigara um uso em sua totalidade, mas partes de suas edificações receberam diferentes usos. Um dos principais usos que aumentou a popularidade do local na época foi a casa noturna “Fabrica 5”, inaugurada no ano de 2000 e encerrando suas atividades em 2002. Possuía, além do local para a festa, pizzaria, sushi-bar, karaokê e salão de beleza. Esta ocupava uma área de 3.500m² nos galpões voltados para a Radial Leste e foram construídos alguns anexos e realizadas algumas alterações para atender às necessidades do seu programa, como o aquário humano, banheiros e pintura da alvenaria de tijolo cerâmico. O casarão era utilizado como atelier de artes e local para exposições, e o Galpão 0131 era utilizado como estacionamento. “Na ocasião, a reforma realizada para adaptação ao novo uso foi responsável pela descaracterização de grande parte do conjunto arquitetônico. As alvenarias aparentes foram revestidas e pintadas de vermelho, foram abertos novos vãos e construídas coberturas 30. Fonte: Minuta de Resolução de Tombamento, Condephaat, processo 59448/2009

metálicas.” (Processo de tombamento do Condephaat, p.102) Posteriormente, o conjunto abrigou a “Fabrika Show”, um espaço alugado para eventos com capacidade para aproximadamente 10.000 pessoas, e também serviu de espaço para exposições temporárias, intervenções artísticas e ateliê de arte, principalmente nas construções da esquina da Rua da Mooca com a Rua Barão de Jaguara. Atualmente, o conjunto pertencente à Fábrica de Tecidos Labor é de propriedade privada de acesso proibido. O estado de preservação se encontra em situações precárias devido à falta de manutenção e ausência de novos usos, e tanto as fachadas quanto o interior dos edifícios sofreram diversas modificações para adaptação dos usos após sua desativação. Entretanto, constituindo-se como um componente essencial dos processos econômicos, sociais e industriais no bairro da Mooca, a Fábrica de Tecidos Labor resiste até os dias de hoje como memória dos que fizeram parte de sua história, como operários, empresários, imigrantes e moradores, e também como importante elemento arquitetônico do início da industrialização de São Paulo, “(...) integrando tempos e lugares e fazendo coexistir passado e presente em suas edificações e espaços.” (Parecer Técnico UPPH nº GEI400-2010, fls. 452 e 454).

31. Nome estabelecido para o galpão principal pelo estudo de tombamento realizado pelo Condephaat.

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INSERÇÃO URBANA

Estação Brás Estação Pedro II

Radial Leste Viad. Gov. Abreu Sodré

Rua Barão de Jaguara

Viad. Leste-Oeste

Rua da Mooca

Av. do Estado

LEGENDA Objeto de estudo

Estação CPTM

Estação Metrô

Localização do conjunto pertencente à antiga Fábrica de Tecidos Labor. Fonte: arquivo pessoal

74

0

250m


Viaduto Alcântara Machado

Estação Mooca N 500m

A Fábrica de Tecidos Labor se encontra no bairro da Mooca, na esquina da Rua da Mooca com a Rua Barão de Jaguara, entre os números 715 a 815. A fachada frontal e o acesso principal se encontram na Rua da Mooca, número 815, e a fachada posterior se encontra na Avenida Alcântara Machado (Radial Leste). O terreno referente à Fábrica ocupa uma área total de aproximadamente 15.700m², onde a área construída é de aproximadamente 14.080m². Atualmente, conjunto se encontra em um núcleo de vias de relevância histórica e econômica da cidade de São Paulo: a oeste, a Avenida do Estado que margeia o rio Tamanduateí, interligando a Marginal Tietê aos bairros da zona sudeste e o grande ABC; a leste, a ferrovia que liga Santos a Jundiaí (atual linha 10-Turquesa da CPTM); e a norte, a Avenida Alcântara Machado (Radial Leste), principal ligação entre o centro e a Zona Leste. Apesar destas vias serem conectores essenciais do bairro da Mooca com a cidade, atuam, na maioria das vezes, como uma barreira urbana à acessibilidade local devido à dificuldade de circulação dentro e entre os bairros. Mesmo que o local seja bem servido de transporte público como estações de trem, metrô e ônibus em seus arredores, os pedestres ainda encontram dificuldade de acesso na escala do bairro, contribuindo para o afastamento destes, o isolamento e a degradação do entorno. A barreira física que possui relação direta com a fachada posterior do conjunto de estudo é a Radial Leste, que interliga o centro 75


Estação Brás

ROTAS DE PEDESTRE

1

Estação Pedro II

Estação de metrô Brás 1,0km - 12 minutos

ROTAS DE PEDESTRE Estação de metrô Pedro II

2

1

1,3km - 15 minutos

Estação de metrô Brás Estação CPTM Mooca - 12 da minutos 31,0km 1,5km - 18 minutos

1 2

3

Estação Mooca

histórico com a zona leste de São Paulo. Esta via expressa não apresenta travessias viáveis com o entorno, dificultando o cruzamento tanto de pedestres quanto de veículos. Algumas rotas alternativas possibilitam a transposição desta avenida, porém são locais pouco convidativos, como uma passagem escura localizada abaixo do viaduto Alcântara Machado, a 150m do terreno, atualmente ocupada por moradores de rua. Para os pedestres que desejam se deslocar do conjunto até o metrô, a linha 3-Vermelha que conecta a região central à zona leste é a de mais rápido acesso e possibilita o uso de duas estações: Brás (12 minutos a pé) e Pedro II (15 minutos a pé). Apesar do conjunto se localizar mais próximo destas duas estações, muitos pedestres que se 76

N

2

Estação de metrô Pedro II 1,3km - 15 minutos

3

Estação da CPTM Mooca 1,5km - 18 minutos

Caminho dos pedestres: rotas possíveis para acessar as linhas de metrô e trem nas proximidades e transposição das barreiras (acrescentar ponto de ônibus). Fonte: arquivo pessoal

utilizam da linha 3-Vermelha preferem iniciar a viagem a partir da estação da Mooca (linha 10-Turquesa da CPTM) que se encontra mais distante (18 minutos a pé) e depois descer na estação Brás, na conexão da CPTM com a linha Vermelha. Essa escolha tem como fator primordial a dificuldade de cruzamento da Radial Leste. Portanto, uma das diretrizes principais de projeto consiste na relação entre a acessibilidade do conjunto e a conexão com a Radial Leste.


Travessia de pedestre debaixo do viaduto da Radial Leste: local escuro, perigoso e com alta quantidade de veículos. Fonte: google maps.

Passarela de pedestres localizada na Radial Leste, a três quarteirões do conjunto. Fonte: google maps.

Fachada posterior do conjunto, conexão direta com a Radial Leste. A grande quantidade de veículos em alta velocidade impossibilita a travessia do pedestre nas proximidades do conjunto. Fonte: google maps.

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A EVOLUÇÃO DA QUADRA

1895: Mapa e esquema da cidade de São Paulo. Fonte: http://www.sempla.prefeitura. sp.gov.br/

1973: Mapa e esquema da cidade de São Paulo. Fonte: Gegran.

78


1930: Mapa e esquema da cidade de SĂŁo Paulo. Fonte: Sara Brasil

2016: Mapa e esquema da cidade de SĂŁo Paulo. Fonte: Google maps.

79


LEGISLAÇÃO

O local de inserção da fábrica apresenta características relevantes como o potencial para adensamento populacional devido a diminuição da população ao longo das últimas décadas, e o potencial de estudo para o conhecimento da história da industrialização de São Paulo. Levando em conta estas características, o conjunto se insere em uma Macroárea de Estruturação Metropolitana, inserida dentro da Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, segundo o Plano Diretor Estratégico (PDE) de 2014. Segundo o art. 10 do PDE, “A Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, situada integralmente na Zona Urbana, apresenta grande diversidade de padrões de uso e ocupação do solo, desigualdade socioespacial, padrões diferenciados de urbanização e é a área do Município mais propícia para abrigar os usos e atividades urbanos.” (PDE de São Paulo, Capítulo I, Seção I, Art.10) Segundo o art. 11 do PDE, “As porções dos territórios que integram a Macroárea de Estruturação Metropolitana passam por processos de mudanças nos padrões de uso e ocupação e conversão econômica, com concentração de oportunidades de trabalho e emprego geradas pela existência de legados industriais herdados do passado, novas atividades produtivas, polos de atividades terciárias, grandes vias estruturais e infraestruturas que fazem parte dos sistemas de transporte coletivo de massa.” (PDE de São Paulo, Capítulo I, Seção I, Subseção I, Art.11) 80

Segundo o art. 12 do Plano Diretor Estratégico de São Paulo, alguns dos objetivos específicos a serem alcançados na Macroárea de Estruturação Metropolitana são: I - transformações estruturais orientadas para o maior aproveitamento da terra urbana com o aumento nas densidades construtiva e demográfica e implantação de novas atividades econômicas de abrangência metropolitana, atendendo a critérios de sustentabilidade e garantindo a proteção do patrimônio arquitetônico e cultural, em especial o ferroviário e o industrial; II - recuperação da qualidade dos sistemas ambientais existentes, especialmente dos rios, córregos e áreas vegetadas, articulando-os adequadamente com os sistemas urbanos, principalmente de drenagem, saneamento básico e mobilidade, com especial atenção à recuperação das planícies fluviais e mitigação das ilhas de calor; III - manutenção da população moradora, inclusive através da promoção da urbanização e regularização fundiária de assentamentos precários e irregulares ocupados pela população de baixa renda com oferta adequada de serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas; IV - produção de HIS e HMP; V - incremento e qualificação da oferta de diferentes sistemas de transporte coletivo, articulando-os aos modos não motorizados de transporte e promovendo melhorias na qualidade urbana e ambiental do entorno;


tabela de legislação do terreno

VI - regulação da produção imobiliária para captura, pela municipalidade, da valorização imobiliária decorrente de investimentos públicos, para financiamento de melhorias e benefícios públicos; VII - redefinição dos parâmetros de uso e ocupação do solo para qualificação dos espaços públicos e da paisagem urbana; VIII - minimização dos problemas das áreas com riscos geológicogeotécnicos e de inundações e solos contaminados, acompanhada da prevenção do surgimento de novas situações de vulnerabilidade; IX - compatibilização de usos e tipologias de parcelamento do solo urbano com

as condicionantes geológico-geotécnicas e hidrológicas; X - recuperação, preservação e proteção de imóveis relacionados ao patrimônio industrial e ferroviário, bem como locais de referência da memória operária, incentivando usos e atividades compatíveis com sua preservação; XI - manutenção e estímulo ao emprego industrial e atividades econômicas de abrangência metropolitana. Segundo o Plano Regional Estratégico de 2004, o local de estudo consta como uma Zona de Preservação Cultural (imóvel), 81


e a Lei de Zoneamento a define como uma Zona de Centralidade Polar. Localizado no art. 9 da Lei nº 16.05032, de 31 de julho de 2014, a Zona de Centralidade se define como: “porções do território voltadas à promoção de atividades típicas de áreas centrais ou de subcentros regionais ou de bairros, destinadas principalmente aos usos não residenciais, com densidades construtiva e demográfica médias, à manutenção das atividades comerciais e de serviços existentes e à promoção da qualificação dos espaços públicos.” O gabarito máximo estabelecido no parâmetro de ocupação é de 28m, com recuos mínimos de 5m na parte da frente e 3m nos fundos e nas laterais do terreno. Como conceitos norteadores deste trabalho, leva-se em conta as diretrizes estabelecidas pelo Plano Diretor Estratégico, que incentivam a preservação do patrimônio industrial, incentivo à criação de programas e espaços culturais nessa região da cidade, além do aproveitamento dos bens ociosos e subutilizados e sua integração com espaços públicos.

32. Fonte: <https://leismunicipais.com.br/a/sp/s/sao-paulo/ lei-ordinaria/2016/1640/16402/lei-ordinaria-n-16402-2016disciplina-o-parcelamento-o-uso-e-a-ocupacao-do-solo-nomunicipio-de-sao-paulo-de-acordo-com-a-lei-n-16050-de31-de-julho-de-2014-plano-diretor-estrategico-pde> Acesso em:19/04/2016.

82


Mapa de Uso e Ocupação do Solo do Plano Estratégico Regional da Subprefeitura da Mooca. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/chamadas/25_mapa_mo_04_1436901554.jpg> Acesso em 08/05/2016

83


ESTUDOS DE PRESERVAÇÃO

Nos anos próximos da realização do Relatório Final do Plano Diretor Regional da Mooca, foi realizado um levantamento de alguns imóveis da região que apresentavam potencial para o tombamento, visando a preservação da paisagem urbana característica do bairro. O conjunto da Fábrica de Tecidos Labor, conhecido na época como “Edificações que abrigam hoje o Fabbrica 5”, foi um dos locais levantados em leitura comunitária, tanto pela prefeitura quanto pela população local. O levantamento foi encaminhado para o CONPRESP, e em 2009 deu-se início ao seu processo de tombamento. Este não abrange o conjunto inteiro como um bem tombado e está em processo de aprovação até os dias de hoje, sem ser oficializado. Primeiramente, o Condephaat emitiu o Parecer Técnico UPPH nº GEI-188-2012 com o propósito de “Solicitação de tombamento do prédio sito a Rua da Mooca, nº 815, município de São Paulo”, perímetro pertencente ao conjunto arquitetônico da antiga Fábrica de Tecidos Labor. Foram incluídos no Parecer Técnico estudos demonstrativos com o intuito de reverter diretrizes de preservação que poderiam colocar em risco a viabilidade de preservação do exemplar fabril. Portanto, em relação à proposta de tombamento, “(...) os estudos realizados apontaram que a fábrica em questão é representativa do período compreendido entre as décadas de 1910 e 1930, pela sua constituição e contribuição 84

na consolidação da indústria têxtil paulista e do parque fabril da Mooca. Um olhar atento sobre o conjunto arquitetônico realça este entendimento, tendo em vista que as edificações construídas neste período se sobressaem em relação às demais pelas características que ainda conservam. Nesse sentido, o tombamento pautou-se nos remanescentes datados desta fase das atividades da fábrica.” (Parecer Técnico UPPH nº GEI400-2010, fl. 454). No anexo 1 da Minuta da Resolução de Tombamento do Condephaat, processo 59448/2009, foram considerados diversos fatores que ressaltam a importância histórica, econômica e construtiva da Fábrica de Tecidos Labor: - Que é um exemplar da primeira fase da industrialização paulista, contexto de definição dos ramos de atividade conforme os modelos da moderna indústria; - Que foi fundada pelos principais agentes econômicos do período (cafeicultores, importadores e imigrantes), evidenciando as práticas econômicas e sociais deste contexto histórico; - Que iniciou suas atividades no período no qual São Paulo se tornava umas das regiões brasileiras com maior concentração de unidades fabris do setor têxtil; - Que o período no qual foi constituída igualmente corresponde ao momento de consagração da capital não apenas a pólo da produção têxtil paulista, mas também como pólo industrial e econômico no país;


- Que representa a contribuição de uma fábrica que não se consagrou no processo de industrialização de São Paulo enquanto um grande empreendimento ou complexo industrial, embora apresentasse porte considerável e nível tecnológico condizente com seu tempo; - Que é um registro do período de formação do parque industrial da Mooca, tratando-se de um exemplar das profundas transformações da paisagem urbana daquela região no esteio da ocupação dos espaços pelas indústrias e imigrantes que ali se estabeleceram, tornando-o lugar de trabalhar e morar e constituindo-o como um dos principais redutos fabris e operários de São Paulo; - Que ainda conserva as principais características e elementos da arquitetura fabril do período de sua constituição, cujas alterações constatadas documentam obras de adequação às sucessivas inovações técnicas ou atendimento às demandas do setor ao longo de décadas de atividade aos seus usos; - Que apresenta razoável estado de conservação, com reconhecidas possibilidades de restauro; - Que é exemplar da atividade industrial paulista também pelo ano de sua extinção, tendo em vista que ocorreu justamente no período de decréscimo da indústria em São Paulo; - Que está inserida em um contexto urbano de degradação e destruição do patrimônio industrial pela demolição dos antigos

redutos industriais e operários paulistas, os quais forjaram parte da identidade do estado de São Paulo e de sua capital; - Que evidencia valores intrínsecos relacionados a processos econômicos, sociais e culturais da história paulista, sendo representante da memória e do ethos de São Paulo e, portanto, um patrimônio industrial a ser preservado. Considerados todos os fatores citados anteriormente, fica tombado, através do Artigo 1º da Minuta da Resolução de Tombamento do Condephaat, processo 59448/2009, como bem cultural de interesse histórico, arquitetônico, artístico, turístico e ambiental, a Fábrica de Tecidos Labor, conjunto formado por edificações e remanescentes da antiga tecelagem do Município de São Paulo. De acordo com o Parágrafo 1º da Minuta da Resolução de Tombamento do Condephaat, processo 59448/2009, o tombamento do conjunto arquitetônico da antiga Fábrica de Tecidos Labor corresponde ao perímetro que coincide com os limites do lote no qual estão inseridas as edificações da fábrica (S003 Q045 L0043 e 0044). O tombamento aplica-se aos seguintes edifícios e elementos: I. Pavilhão 01 – Galpão Principal; II. Pavilhão 02 - Depósitos; III. Prédio 03 - Residência; IV. Prédio 04 – Oficinas / Sala de Motores; V. Prédio 05 - Oficinas; VI. Prédio 06 - Cocheira; 85


6

10 8

17

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7 4

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5 1

3 2

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16

34

N LEGENDA 1. Galpão principal 2. Depósitos 3. Residência 4. Oficinas / sala de motores 5. Oficinas 6. Cocheira 7. Batedores e tinturaria 8. Respirador 9. Caixa d’água 10. Depósitos 11. Chaminé 12. Caldeiras 13. Ampliação da área de produção (possível acabamentos) 14. Carpintaria 15. Depósito 16. Escritórios 17. Chaminé 34. Portão, pilares, arco e lustre da entrada principal 35. Caldeira a vapor

86

Escala 1:1000 N

Planta de identificação dos edifícios indicados para tombamento. Fonte: Minuta de resolução de tombamento, Condephaat, processo 59448/2009.


Chaminés Depósitos Galpão principal

Caldeira a vapor

Tinturaria Ampliação Carpintaria

Oficinas e sala de motores

Depósitos Escritórios Residência Portão, pilares, arco e lustre

VII. Pavilhão 07 – Batedores e Tinturaria; VIII. Elemento 08 - Respirador; IX. Elemento 09 – Caixa d’água; X. Pavilhão 10 - Depósitos; XI. Elemento 11 - Chaminé; XII. Prédio 12 - Caldeiras; XIII. Prédio 13 - Ampliação da Área de Produção (possivelmente Acabamentos); XIV. Prédio 14 - Carpintaria; XV. Pavilhão 15 - Depósito; XVI. Prédio 16 - Escritórios; XVII. Elemento 17 - Chaminé; XVIII. Elemento 34 - Portão, pilares, arco e lustre da entrada principal; XIX. Elemento 35 – Caldeira a vapor;

O artigo 2º da referida Resolução estabelece um perímetro passível de intervenção que corresponde a uma área delimitada por recuo de 10 metros a partir dos edifícios 02 e 10 (depósitos), e da linha de projeção entre estes, recuo de 15 metros a partir do alinhamento em relação à Rua da Mooca. Outra exigência estabelecida pelo Conselho considerando a paisagem urbana industrial do entorno, é a determinação do gabarito máximo de 7 metros de altura no caso de reforma e de novas edificações dentro da área delimitada.33 33. Minuta da Resolução de Tombamento do Condephaat, processo 59448/2009

87


Segundo o artigo 3º da Resolução, são estabelecidos os principais graus de preservação para os bens tombados: I. Para o bem descrito no inciso III, do Art. 2º, devem ser preservadas as características interiores e exteriores, fachadas e volumetria em sua integralidade. II. Para os bens descritos nos incisos VIII, IX, XI, XVII, XVIII e XIX, do Art. 2º, suas características devem ser preservadas integralmente. III. Para os bens descritos nos incisos I, II, IV, V, VI, VII, X, e XII, XIII, XIV, XV e XVI, do Art. 2º, devem ser preservadas fachadas e volumetria, além da estrutura metálica presente nas edificações I e VII Segundo o artigo 4º da Resolução estabelecem-se as seguintes diretrizes, visando assegurar a preservação dos elementos tombados, a variedade e o dinamismo das funções dos edifícios do conjunto: I. Devem ser respeitadas em suas feições originais, quando ainda estiverem preservadas, as características externas e volumétricas dos prédios, elementos de composição de fachadas e materiais de vedação, os vãos e envasaduras, acabamento e ornamentação. II. Para assegurar a manutenção física das construções e garantir sua utilização, desde que esgotadas as possibilidades de recuperação dos elementos originais, serão aceitáveis, desde que justificadas, interven88

ções para atualização dos espaços, materiais e infra-estrutura. III. De modo a preservar as relações entre as edificações destacadas neste tombamento, demolições ou construções de novos edifícios dentro do perímetro tombado (áreas livres) devem ser objeto de aprovação prévia pelo Conselho. Os projetos apresentados para aprovação devem expressar com clareza as relações entre as novas construções e as destacadas neste ato. IV. Serão permitidas e até recomendáveis demolições de anexos e ampliações não listadas neste ato, que tenham desfigurado os partidos arquitetônicos originais sem contribuir para a melhor adequação do espaço. “(...) Diante das atuais transformações vivenciadas pela Mooca, pretendeu-se a preservação da representatividade histórica e cultural da fábrica em questão mediante tombamento das edificações enquanto um conjunto inserido em um ambiente que ainda conserva a identidade fabril, permitindo a sua leitura como patrimônio industrial.” (Parecer Técnico UPPH nº GEI400-2010, fls. 452 e 454).


ASPECTOS CONSTRUTIVOS

A arquitetura fabril da época da consolidação da indústria e formação dos bairros operários na cidade de São Paulo é visível nas estruturas remanescentes do conjunto da Fábrica de Tecidos Labor. A construção foi realizada segundo as necessidades do setor produtivo, caracterizado por espaços amplos, desimpedidos e com predominância de pavimentos térreos devido ao deslocamento de cargas e possibilidade de fluxo entre os setores. Um material amplamente utilizado era a estrutura metálica pré-fabricada aparente e modular, devido a facilidade de montagem e a capacidade de vencer grandes vãos. Para a construção das paredes, eram utilizados tijolos cerâmicos sem revestimento com aberturas rítmicas e numerosas. Através do uso de shed nas coberturas, era possível obter iluminação e ventilação. Em grande parte das fábricas têxteis as chaminés eram elementos essenciais à produção e para o funcionamento das caldeiras a vapor. Os terrenos eram amplos para comportar a construção de anexos conforme necessidade e se localizavam próximos aos trilhos do trem para facilitar o escoamento da produção. Através de uma planta e pedidos de alterações e ampliações junto à prefeitura de São Paulo encontradas no Arquivo Histórico Municipal Washington Luís, foi possível concluir que a Fábrica de Tecidos Labor acompanhou as evoluções do setor têxtil e é um exemplo típico da arquitetura industrial paulista. A planta mais antiga encontrada é

de 1910, com pedido de acréscimo de galpões e modificação da planta original do sobrado. Além disso, um documento de pedido de ampliação (acréscimo de galpões junto a Avenida Alcântara Machado, destinados a depósito de algodão em rama) possibilita uma compreensão mais detalhada da estrutura: “Memorial: Perímetro: urbano Natureza do terreno: seco e firme Alicerces: De pedra, profundida de 80cm por 50cm Paredes: de alvenaria de tijolos, assente com argamassa de cal e areia na proporção de 1 por 4 e rejuntadas cimento interno e externo. Forro e armação: O telhado é feito com armação de ferro e coberto com telhas francesa, nacional, e vidros, para dar claridade. Assoalho: De pedregulho com um revestimento espesso de cimento. Forro e armação: As duas colunas C são cilíndricas de ferro fundido, altura 5m, diâmetro 150M/m e espessura de 15m/m. Vigas metálicas do telhado de A=7m e B=8. Temos, além disso, um vidro de 1m por 52cm de altura, em toda a largura da construção para dar claridade ao deposito. O telhado de madeira é construído com vigotas de madeira de lei de 160X60m/m. As telhas são de Marselha. Parte de telhado de ferro construída similar ao já utilizado na fabrica.” 89


Planta provavelmente datada anterior ao ano de 1910, devido à presença do Galpão 01 e a planta do casarão sem apresentar detalhes. Fonte: Acervo do Arquivo Histórico de São Paulo.

Planta datada de 1910. Pode-se perceber a existência do Galpão 01 e do casarão. Fonte: Minuta de resolução de tombamento, Condephaat, processo 59448/2009.

90


Os dados apresentados no documento se referem a tipologia de construção do Galpão 0134, um dos primeiros edifícios a serem construídos dentro do complexo35, datado entre os anos de 1910 e 1913. Para a sua construção, foi utilizado uma modulação de 4m x 7m de pilares metálicos de seção fina e cobertura em sheds. Tratava-se do principal galpão da fábrica, onde era localizado a principal produção da fábrica. Através dos estudos e levantamentos históricos presentes na Minuta de resolução de tombamento do Condephaat, foi possível compreender a setorização e a ampliação da fábrica conforme necessidade da produção. O estudo de cronologia construtiva realizado foi essencial para a compreensão do estado de preservação dos edifícios, suas metodologias construtivas e, mais adiante, fator primordial para as diretrizes projetuais. Os galpões com as fachadas voltadas para a Rua da Mooca, construídos entre 1910 e 1929, possuem uma estrutura em alvenaria de tijolo maciço aparente na face externa, com caixilharia de ferro e vidro. A cobertura é sustentada através de tesouras de madeira de duas águas, sem sheds. A diferenciação de fachada próximo a entrada principal - caixilharia levemente diferente e presença de dois pavimentos - sugere um 34. Nome estabelecido para o galpão principal pelo estudo de tombamento realizado pelo Condephaat

uso administrativo. Já o galpão de três pavimentos da década de 1950 contíguo à fachada da Rua da Mooca apresenta uma estrutura totalmente distinta dos demais galpões, construído em concreto armado com alvenaria de tijolo maciço. A caixilharia também se distingue do restante da fachada, sendo estas no formato retangular, de ferro e vidro. Atualmente, se encontram bem degradadas. A residência dos antigos proprietários, construída em 1910 e localizada na esquina da Rua Baragão de Jaguara com a Rua da Mooca apresenta dois pavimentos e um porão, provavelmente utilizado como escritório antigamente e hoje, se encontra abandonado e degradado. O portão principal de ferro na Rua da Mooca construído em 1910, as chaminés e a caldeira a vapor de 1914-1919 voltadas para a Avenida Alcântara Machado são elementos originais. Um fato comum na época da industrialização de São Paulo era a ocupação de lotes menores ao redor das fábricas para a alocação de vilas operárias. Através de estudos do CONDEPHAAT, a Fábrica de Tecidos Labor pode se inserir nesse contexto, pois foi apontado a existência de um lote ao lado do conjunto com a existência de uma vila operária da década de 1910. Atualmente, a vila não existe pois foi demolida.

35. Segundo a Minuta de resolução de tombamento do Condephaat, fotos deste galpão já constavam na publicação Impressões do Brazil no Século XX, datada de 1913 (pág.77)

91


Avenida Alcântara Machado 25 18

8

11

6

21 26

12

27 28

13 9 29

31

22

guara

7 14

4

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5 1

Rua Barão de Ja

10

23

20 30 3

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2

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16

33

Rua da Mooca

N LEGENDA 1. Galpão principal 2. Depósitos 3. Residência 4, 5 e 22. Oficinas / sala de motores 6, 21, 26 e 27. Cocheiras e edificação 7. Belvedere / tinturaria 8. Respirador 9. Caixa d’água 10. Depósitos 11 e 18. Chaminés 12. Caldeiras 13. Ampliação produção 14. Carpintaria 15 e 16. Depósito e administração 17 e 19. Galpões 20. Caixa d’água 23. Refeitório 24. 92Edifício de três pavimentos 25. Aquário humano 28, 29 e 31. Acréscimos 30 e 32. Coberturas

ANOS DE PROJETO 1910 a 1913 1914 a 1919 1920 a 1929 1930 a 1939 1940 a 1949 1950 a 1959 após 1959 data indefinida

Escala 1:1000 N

Planta de localização dos edifícios e cronologia construtiva. Fonte: Minuta de resolução de tombamento, Condephaat, processo 59448/2009.


R AD IAL L

RU AD AM OO

E ST E

CA

Modelo 3D com localização dos edifícios conforme cronologia construtiva. Fonte: arquivo pessoal.

Planta da vila demolida Fonte: processo de tombamento do Condephaat

Vista do conjunto e da concessionária ao lado Fonte: google maps

Além dos estudos baseados nos materiais encontrados no Condephaat, durante a visita in loco foi perceptível a importância de um mapeamento estrutural das edificações remanescentes devido a forte característica industrial presente nas primeiras edificações, a alteração dos métodos construtivos conforme o passar dos anos, e as alterações realizadas na estrutura original para o(s) uso(s) posteriores. Para este estudo, as tipologias das estruturas remanescentes foram divididas em cinco categorias: tipo A, B, C, D e E, conforme seus materiais e técnicas construtivas. TIPO A: estruturas de ferro fundido pré-fabricadas de 18cm de diâmetro, aparentes e modulares; presença de grandes vãos modulares entre os pilares metálicos (4m x 7m); coberturas em telhas cerâmicas; material translúcido nos sheds. As estruturas de ferro se encontram em bom estado de conservação, os caixilhos dos sheds se encontram em estado ruim, tendo sido trocado várias vezes e faltam várias telhas cerâmicas que foram degradadas com o tempo. TIPO B: tesouras de madeira de duas águas apoiadas na alvenaria, cobertura em telha de fibra de amianto; presença de vãos de 6,5m-12m de acordo com o ambiente; presença de forro nos edifícios que abrigaram a casa noturna. As tesouras de madeira se encontram em bom estado de conservação e é possível perceber alterações na cober93


tura com o tempo, através do uso de telhas onduladas nos galpões da fachada frontal do conjunto e telhas de amianto nos galpões do fundo.

TIPO A: Estrutura em ferro fundido e modular, cobertura em telha cerâmica e translúcido nos sheds

TIPO C: estrutura mista de viga metálica (continuidade do galpão 01) e tesouras de madeira; vão entre a laje de concreto e cobertura resulta em aberturas laterais. TIPO D: estrutura metálica; cobertura de telhas translúcidas. Tanto a estrutura quanto a cobertura se encontram bem degradadas. TIPO E: mesma tipologia de cobertura do tipo B; com cobertura em telhas cerâmicas; presença de algumas aberturas nas telhas para inserção de material translúcido para entrada de luz nos galpões. As tesouras de madeira se encontram em bom estado de conservação e faltam algumas telhas cerâmicas que foram degradadas com o tempo.

TIPO B: Apoio das tesouras de madeira na alvenaria e cobertura em telha de fibra de amianto

TIPO C: Estrutura mista de tesoura de madeira e vigas metálicas (continuação do galpão 01).

94


TIPO D: Estrutura metálica e cobertura com telhas translúcidas. Grande parte se encontra degradado.

TIPO E: Mesma tipologia de cobertura do galpão 02. Inserção de alguns materiais translúcidos para entrada de luz.

R AD IAL L

RU AD AM OO

E ST E

CA

Modelo 3D de localização das tipologias de coberturas no conjunto. Fonte: arquivo pessoal

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DESENHOS TÉCNICOS E LEVANTAMENTO

Os desenhos técnicos que permitiram os estudos do local foram baseados nas plantas encontradas no Parecer Técnico UPPH nº GEI-188-2012 do Condephaat e nas elevações e cortes encontradas no levantamento realizado pelo Condephaat, em 2010. Com base nestes dados e nas fotografias tiradas in loco, foi possível realizar o levantamento métrico, o estudo de áreas e a modelagem 3D. Através dos cortes e elevações, foi possível obter um modelo semelhante ao objeto de estudo real, facilitando os estudos e a análise do conjunto. Para a realização do levantamento métrico do conjunto da Fábrica de Tecidos Labor, foram encontradas algumas dificuldades, como a escassez de informações técnicas documentadas do local e a dificuldade de acesso ao seu interior, pois o local não é aberto ao público. O acesso ao seu interior só foi permitido para um rápido levantamento fotográfico, com as condições de que as fotos não fossem divulgadas em meios sociais.

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A

B

Avenida Alcântara Machado

10 8

25

6

18 11

12

13 9

21 26 27 28

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4

32 5

17 1

19

23

Rua Barão de Ja

14

guara

7

20

C

C

A

30 Machado

3

21

31

22

Escala 1:1000 N

14

32 LEGENDA

4

guara

N

Rua Barão de Ja

29

B

26 27 28

5 1. Galpão principal 2. Depósitos 23 3. Residência 4, 5 e 22. Oficinas / sala de motores 6, 21, 26 e 27. Cocheiras Ce edificação 30Belvedere / tinturaria 7. 8. Respirador 9. Caixa3d’água 10. Depósitos 11 e 18. Chaminés 33 12. Caldeiras 13. Ampliação produção 14. Carpintaria 15 e 16. Depósito e administração 17 e 19. Galpões A

LEGENDA 15 16 2 33 1. Galpão principal 2. Depósitos 3. Residência Rua da Mooca 4, 5 e 22. Oficinas / sala de motores 6, 21, 26 e 27. Cocheiras e edificação 7. Belvedere / tinturaria 8. Respirador Planta pavimento térreo 9. Caixa d’água Fonte: levantamento realizado pelo Condephaat, em 2010. 10. Depósitos 11 e 18. Chaminés 12. Caldeiras 13. Ampliação produção 14. Carpintaria 15 e 16. Depósito e administração 17 e 19. Galpões 20. Caixa d’água 23. Refeitório 24. Edifício de três pavimentos 25. Aquário humano 28, 29 e 31. Acréscimos 30 e 32. Coberturas 33. Portão, pilares, arco e lustre A

24 6

97


A

B

Avenida Alcântara Machado

21

18 11 9

Rua Barão de Ja

20

guara

20

20

20

C

C

3

B

16 Rua da Mooca

33 A

24

N Escala 1:1000 N

LEGENDA 3. Residência 9. Caixa d’água 11 e 18. Chaminés 16. Depósito e administração 20. Caixa d’água 21. Cocheiras e edificação 24. Edifício de três pavimentos

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Planta primeiro pavimento Fonte: levantamento realizado pelo Condephaat, em 2010.


11 18 21

12

13

10 25

Fachada Norte | Escala 1:1000

3 23

22

5

21

Fachada Leste| Escala 1:1000

24 2

15

3

16

33

Fachada Sul| Escala 1:1000

3 23

14

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Corte A-A| Escala 1:1000

11 18 25 2

1

7

9

12

Corte B-B| Escala 1:1000

19 Corte C-C| Escala 1:1000

1

30

3

20

Elevações e cortes Fonte: levantamento realizado pelo Condephaat, em 2010.

99


3

2

1

1 Fachada frontal do edifício localizada na Rua da Mooca. Portão original da construção que se apresenta em bom estado de conservação e vista da fachada frontal do casarão.

2 Fachada frontal do conjunto localizada na Rua da Mooca. Vista da fachada dos depósitos que dão para o galpão principal.

3 Fachada frontal do conjunto localizada na Rua da Mooca. Pode-se observar a edificação de 3 pavimentos construída entre 1950-1959.

100


45

4 Entrada principal do conjunto. À direita, vista da lateral do casarão, à esquerda, acesso ao galpão principal (galpão 01) e ao fundo, acesso às antigas áreas de oficinas. Alteração no revestimento original da fachada do casarão durante o funcionamento da casa noturna.

5 Fachada principal do casarão. Estado de conservação precário das esquadrias, da pintura e degradação de algumas partes da alvenaria.

101


6 7 8 9 Corredor de acesso aos cômodos do Estado de conservação precário das Esquadrias originais degradadas Escada de acesso ao segundo paviesquadrias e diversas partes quebra- e remendadas e vários danos no mento do casarão. primeiro pavimento do casarão. das do teto. revestimento interno. 8 7 9 6 Primeiro pavimento

11 10 Corredor de acesso aos cômodos do Através de um terraço de 50m², é possegundo pavimento do casarão. sível observar a cobertura do conjunto instrustrial e, ao fundo, o bairro do Brás. 11 10 13

12

Segundo pavimento

102

12 13 Esquadrias originais degrada- Esquadrias originais degradadas e das, azulejos do revestimento problemas de infiltração na madeira quebrados e problemas de infil- do teto. tração na madeira do teto.


14 15

14 Galpão principal (galpão 01). Destaca-se em relação às outras edificações devido ao uso de sheds na cobertura para iluminação e ventilação. Estrutura em ferro fundido e madeira que se encontra em bom estado apesar de alguns trechos estarem degradados.

15 Presença de ruas internas e largas no interior conjunto, necessárias para a produção, característica das tipologias industriais da época. A cobertura desta área não faz parte da construção original, foi colocada posteriormente.

103


18

17 16

16 Galpão anexo que conecta o galpão principal (galpão 01) com o fundo do conjunto. Construído após 1914, nota-se uma tipologia estrutural diferente do galpão 01, constituído de estruturas de madeira e tesouras. Alterações nas paredes para adaptação ao uso posterior como casa noturna.

17 Galpão anexo localizado no fundo do conjunto. Construída após 1914, apresenta tipologia estrutural semelhante à apresentada acima, constituído de estruturas de madeira e tesouras. Alterações nas paredes para adaptação ao uso posterior como casa noturna. Caixilhos e portas originais em bom estado de conservação.

18 Acesso para a área da caldeira/chaminés. É possível visualizar a estrutura mista de vigas metálicas (continuação do galpão 01) e as tesouras de madeira.

104


20 19

19 Caldeira existente. Apresenta-se como um símbolo das fábricas têxteis do início do século XX e resiste até os dias de hoje apesar da falta de manutenção. Equipamento fundamental para aquecimento de água para alvejar e tingir tecidos.

20 Chaminés originais. Destacam-se na paisagem urbana e remanescem até os dias de hoje como memória industrial da cidade de São Paulo.

105


22

21 20

20 Fachada lateral do edifício localizada na Rua Barão de Jaguara. Através do muro de alvenaria que envolve o conjunto, é possível ter uma visão parcial de suas edificações, como o casarão. Algumas edificações possuem relação direta com a calçada, como um galpão anexo de 1910.

21 Fachada posterior do conjunto localizada na Avenida Alcântara Machado. O muro extenso de alvenaria impede a visão do conjunto através da avenida.

22 Relação da fábrica com a concessionária localizada no vizinho.

106


SÍNTESE DA ANÁLISE E DIRETRIZES PROJETUAIS

SOBRE ACESSIBILIDADE: Através da análise do meio urbano, é perceptível uma necessidade de melhoria na acessibilidade aos terminais ferroviários, tanto dos pedestres ou quanto de rotas de ônibus. As ferrovias muita vezes atuam como um elemento segregador do espaço, que, através de acréscimos em sua função original, poderiam funcionar como pontos de integração através usos múltiplos. Também são necessárias construções de passarelas em locais estratégicos que conectem os dois lados da linha ferroviária permitindo a travessia de pedestres e a melhoria das passarelas já existentes. Em relação ao conjunto, podemos afirmar que a Radial Leste atua como uma barreira urbana para os pedestres que visam chegar às estações de metrô. Portanto, a diretriz projetual em relação a essa dificuldade de acesso seria manter o muro existente na fachada voltada para a Radial Leste, mas estabelecer alternativas para permitir uma conexão visual entre os usuários que se encontram dentro do conjunto e também para os pedestres que transitam pela Radial Leste. A entrada principal seria mantida pelo portão original de 1910 localizado na Rua da Mooca. SOBRE AS ÁREAS VERDES: É necessário um planejamento de áreas verdes devido a carência na região, resultando em altos índices de impermeabilização do solo, aumento das temperaturas, e desconforto ao pedestre.

A demolição de algumas edificações do conjunto possibilita a criação de áreas internas de convivência e uma abertura de um grande acesso para a Rua da Mooca, que pode ser pensada como uma grande praça molhada conectando o conjunto à cidade. Outras áreas internas do conjunto possibilitam a criação de outras praças menores arborizadas, estabelecendo locais de convívio, áreas de descanso e sombreamento para o pedestre. SOBRE O USO DO SOLO: Tomando como partido a presença de terrenos muito amplos, é possível pensar em um uso mais livre da quadra como um local destinado ao passeio pedonal (praças) em convivência com o uso misto presente nas proximidades (misto, residencial, comercial, de serviços, institucional). SOBRE A DENSIDADE: Através do estudo de legislação, é possível afirmar que seria interessante manter pelo nas proximidades dos eixos ferroviários e nas proximidades dos lado dos galpões de interesse histórico, o gabarito baixo, visando a valorização da memória dos bairros históricos. O aumento da densidade pode ser desejável em alguns pontos, mas não necessariamente através dos novos empreendimentos, construídos lado a lado, verticalmente e murados, contrastando com os edifícios históricos remanescentes.

107


108


O PROJETO

109


CONCEITO

O projeto tem como objetivo a reconversão do conjunto pertencente à antiga Fábrica de Tecidos Labor para o desenvolvimento de uma “fábrica de criação” chamada “Laborartis”, um centro de criação e produção interdisciplinar que abriga residências artísticas. O centro busca atuar como local de estar e apoio para artistas, criadores e coletivos e, ao mesmo tempo, estabelecer a troca de ideias, culturas e valores da sociedade contemporânea através dos encontros e relações sociais, que são intensificadas através da convivência entre os inúmeros campos de criação e os diálogos entre os criadores e o público. O espaço de “criar arte” tem suas peculiaridades e características ao longo de sua trajetória, muitas vezes direcionando a criação ao caminho do isolamento dentro de ateliês. Atualmente o conceito de criação de arte se insere em um amplo sistema, formado por museus, galerias, centros culturais, teatros, e residências artísticas, que se destacam como resposta ao isolamento. Portanto, a intenção projetual é ultrapassar o sentido da criação de arte como espaço restrito e isolado, e atingir um contexto de troca e abertura à cidade, onde a produção e a exposição estejam integrados no espaço-tempo do objeto, atuando como espaço polivalente que responda às necessidades dos artistas. Dados os objetivos apresentados anteriormente, é possível afirmar que esta

110

forma de produção ressalta as experimentações e as inovações. Portanto, acredita-se em um modelo de cooperação institucional, público e privado, que incentiva a participação social e garante sua pluralidade e viabilidade. Segundo Bacurau36 e Gondim37, Ensino, Pesquisa e Extensão são os três pilares que sustentam as Universidades: o ensino se dá principalmente nos processos formais no interior da Instituição de Ensino Superrior (IES); a pesquisa geralmente emerge durante o processo de ensino dos trabalhos de conclusão ou, aos órgãos fomentadores; e a extensão diz respeito aos diálogos travados entre dois entes coletivos: a universidade e a comunidade, buscando tornar as ações dessa instituição promotoras de contribuições para a comunidade, bem como, tornar os espaços das IES interessantes e aptos a receber não apenas universitários, mas também, a comunidade do entorno. A criação de um espaço que converge e integra residências artísticas de diferentes universidades públicas da cidade de São Paulo busca explorar o terceiro pilar de sustentação dessas instituições, acreditando na po36. Concluinte do curso de Artes Visuais e professora de Artes do Ensino Fundamental I, atuou como mediadora educativa de exposições do SESC Petrolina. Atualmente, estagia na Diretoria de Arte, Cultura e Ações Comunitárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco. 37. Doutoranda em sociologia, mestre em educação, professora do colegiado do curso de Artes Visuais. Desenvolveu projetos de pesquisa e extensão a partir das discussões sobre Arte, Educação e Infância.


tencialidade criativa e produtiva advinda das diversidades, onde o processo se intensifica pelo ato de abertura à cidade. Atualmente, estes programas de residência artística ainda se encontram muito limitados dentro destas universidades, englobando apenas um número pequeno de residentes e abrangendo uma quantidade mínima de cursos. Dentro das universidades existem inúmeras áreas de criação com a capacidade de abrigar o programa, portanto, com a intenção de fortalecer a relação entre as diversas formas de expressão artística- artes visuais, literatura e leitura, artes cênicas, música e arte sonora, cinema, design, moda, arquitetura, urbanismo e paisagismo, o programa busca a conexão entre elas, que simultaneamente se distinguem mas se complementam. A motivação para criar este equipamento cultural interdisciplinar fora dos campus de suas respectivas universidades é a difusão dos programas de extensão fora do campus universitário. Com a abertura do espaço ao público mas mantendo o vínculo com as universidades, incentiva-se a participação dos frequentadores do meio universitário em atividades promovidas pelos artistas, ampliando o ensino através de um espaço fora da sala de aula. A difusão dos projetos da residência artística para a população é realizada através da possibilidade de acesso aos espaços aos locais de criação em determinados horários do dia, incentivando os artistas a apre-

sentarem o andamento de seus projetos e pesquisas ao público. Além disso, são realizados workshops, palestras, apresentações, exposições e conversas periodicamente. O público-alvo é voltado para as pessoas que moram, trabalham ou estudam na região, estudantes universitários, interessados em eventos culturais e artistas de perfis variados que buscam o programa de residência artística, como individuais, coletivos, grupos e bandas, por exemplo. Partindo da convicção de que a instituição pública tem o dever de apostar nas experimentações fora do tradicional, o centro de criação abriga espaços de residência para artistas locais e internacionais promovidas pelas universidades públicas do estado de São Paulo. Através de uma instituição vinculada às universidades públicas do estado de São Paulo e acordo com institutos culturais de outros países, o centro apresenta um programa de residência inderdisciplinar onde os artistas têm a possibilidade de coexistir com demais criadores e têm a oportunidade de se deslocar para outras residências de todo o mundo. O centro também oferece inúmeras possibilidades de organização espacial para iniciativas privadas que atuam em diferentes áreas da criação: artes plásticas, artes visuais, dança, estúdios de música, laboratórios de fabricação, arquitetura, design, moda, dentre outros. Intervindo no conjunto industrial

111


através do reconhecimento da natureza arquitetônica do pré-existente, fisicamente e simbolicamente, o projeto busca, através da reconversão de uma memória industrial remanescente no bairro da Mooca, atenuar a carência de equipamentos culturais nessa área da cidade e atrair uma população que abrange diversas faixas etárias.

FÁBRICA DE CRIAÇÃO: PÚBLICO

CRIAÇÃO

ACOMODAÇÃO

ateliês, salas de ensaio, estúdios

estadia temporária dos artistas

ESTUDO

SERVIÇOS

PERMANÊNCIA

biblioteca, leitura, mídias

restaurantes, café, livraria

praças e áreas de estar

workshops, oficinas, apresentações, exposições e eventos

PÚBLICO - ALVO:

quem mora, trabalha ou estuda na região

112

estudantes universitários

interessados em eventos culturais

artistas que buscam programas de residência


conexão obrigatória conexão por meio de áreas de circulação

área privada serviços área pública área semi-pública

Cozinha

Apoio técnico

Cozinha

Ensaio artes cênicas e dança

Livraria

Despensa

Reservat.

Carga e descarga

Palco

Bilheteria

Foyer

Platéia

Estacionamento

Café

Restaurante

Lixo Tesouraria

Coord.

Reunião

Bosque

Praça das chaminés

Praça molhada

Galpão principal

Secretaria

Área de PCs

Acervo livros

WC

Ateliês artes visuais

salas mul�uso

Estar

Leitura

Área Exposi�va

Refeitório e cozinha

Acomodações

Guarda volumes

Recepção biblioteca

Praça ver�cal

Copa

Estar

Ves�ário

WC

WC

Ateliês artes

Ateliês arq, moda e design

praça ar�stas

Estúdios música

ESPAÇOS, FLUXOS E CONEXÕES

113


PROGRAMA DE NECESSIDADES AMBIENTE

FUNÇÃO

EQUIPAMENTOS

ENTRADA

Informação

Informar, distribuir

Placas de sinalização, balcão, compu

ADMINISTRAÇÃO

Secretaria

Recepcionar, serviços administrativos gerais, encaminhar para os demais setores

Mesa, cadeira, armário, computador

Sala de espera

Aguardar para falar com os setores

Sofá, poltronas, mesinha

Coordenação

Coordenação dos programas de residência

Mesa, cadeira, armário, computador

Equipe de apoio

Auxílo na organização dos programas de residência

Mesa, cadeira, armário, computador

Tesouraria

Administração financeira

Mesa, cadeira, armário, computador

BIBLIOTECA

Marketing / comunicação visual Divulgação

Mesa, cadeira, armário, computador

Sala de reunião

Reunião entre funcionários, residentes e externos

Mesa de reunião, cadeiras

Almoxarifado

Armazenamento de materiais

Armários, estantes

Arquivo

Armazenamento de dados

Arquivos, armários

Copa

Local de estar para funcionários

Bancada, máquina de café, bebedour microondas

Área de estar

Local de descanso dos funcionários

Sofás, pufes, mesa

WC Feminino

Higiene

Lavatório, bacia sanitária, espelho

WC Masculino

Higiene

Lavatório, bacia sanitária, espelho, m

Recepção

Atendimento e empréstimo / devolução de livros

Balcão, cadeira, prateleiras, computa

Guarda-volumes

Armários para guardar mochilas

Armários

Acervo livros

Armazenar livros

Prateleiras

Leitura

Espaço para leitura e consulta de livros

Mesas, cadeiras, pufes

Área de computadores

Consulta do acervo e acesso à internet

Mesas, computadores, cadeiras

WC Feminino

Higiene

Lavatório, bacia sanitária, espelho

WC Masculino

Higiene

Lavatório, bacia sanitária, espelho, m

WC PNE

Higiene

Lavatório, bacia sanitária, espelho, b

Criar, pintar, esculpir, desenhar

Pranchetas, mesas, cadeiras, cavalete

Dançar, criar, ensaiar, costurar

Barras de apoio, camarins, guarda-ro

Ateliês artes visuais

Criar, projetar

Mesas, cadeiras, computadores, proj

Estúdios de música

Ensaiar, gravar, tocar, reger

Cadeiras, instrumentos musicais, cai

Ateliês arquitetura, design

Projetar, desenhar, criar

Pranchetas, cadeiras, canteiro experi

Acomodações

Conjunto de quartos para abrigar os residentes

Cama, escrivaninha, armário

Refeitório e cozinha

Cozinhar, comer

Pia, fogão, geladeira, armários, freez ras

Área de estar

Estar, descansar, encontrar, conversar

Pufes, sofás, tapetes

WC Masculino

Higiene

Lavatório, bacia sanitária, espelho, m

WC Feminino

Higiene

Lavatório, bacia sanitária, espelho, c

Exposição permanente

Exposição de obras permanentes

Iluminação, bancos, painéis

Exposição temporária

Exposição realizada pelos artistas residentes

Iluminação, bancos, espaço para as i

ATELIÊS RESIDÊNCIA Ateliês artes plásticas ARTÍSTICA Ateliês artes cênicas e dança

ACOMODAÇÕES

ESPAÇOS EXPOSITIVOS

114


ACESSO

POPULAÇÃO FIXA

POPULAÇÃO VARIÁVEL

Nº DE AMBIENTES

ESTIMATIVA DE ÁREA

utadores, cadeira

Público

1 funcionário

100

1

150

r, balcão

Público

2 funcionários

3

1

20

150

Público

x

10

1

20

r, multifuncional

Funcionários

2 funcionários

4

2

12

r, multifuncional

Funcionários

6 funcionários

12

1

30

r, multifuncional

Funcionários

3 funcionários

6

1

20

r, multifuncional, prancheta

Funcionários

2 funcionários

4

1

20

Funcionários

x

10

1

30

Funcionários

x

5

1

30

Funcionários

x

2

1

15

Funcionários

x

5

1

15

Funcionários

x

15

1

30

ro, cadeiras, pia, geladeira,

Funcionários

x

2

1

10

mictório

Funcionários

x

2

1

10

ador

Funcionários

2

5

1

15

Público

x

10

1

30

Público

5

10

1

800

Público

x

20

1

200

Público

1

15

1

100

Público

x

2

1

15

mictório

Público

x

2

1

15

barras de apoio

Público

x

1

1

5 1180

es, estantes

Público / residentes

6

2

10

170

oupas, máquinas de costura

Público / residentes

6

2

7

300

jetor, espaço para projeção

Público / residentes

6

2

10

200

ixas de som

Público / residentes

6

2

4

200

imental

Público / residentes

6

2

10

250

Residentes

30

30

25

900

Residentes

x

30

1

150

Residentes

x

50

1

200

mictório, chuveiro

Residentes

x

20

2

100

chuveiro

Residentes

x

20

2

100

zer, microondas, mesas, cadei-

instalações

1120

1450 Público

x

20

1

200

Público

x

20

1

400 600

115


AMBIENTE

FUNÇÃO

EQUIPAMENTOS

Foyer

Espera / distribuição

Circulação, poltronas para espera

Bilheteria

Distribuição / compra de ingressos

Bancada, computador, cadeiras

Apoio técnico

Auxílio

Equipamentos, computador

Platéia

Assistir

Poltronas

Palco

Apresentar

Palco, instalação para iluminação, ap

Camarins AMBIENTE

Trocar, se arrumar FUNÇÃO

Armários, espelhos, cadeiras, mesas EQUIPAMENTOS

LIVRARIA

Livraria

Foco em comércio de publicações independentes

Balcão, caixa registradora, prateleira putador, armário

CAFÉ

Espaço com mesas

Comer, descansar, estar

Mesas, cadeiras, balcão

Cozinha

Preparar alimentos

Pia, fogão, geladeira, prateleiras, máq tos

Despensa

Armazenar alimentos

Prateleiras

Salão com mesas

Espaço de alimentação para público visitante e residentes

Cadeiras, mesas, balcão

Cozinha

Preparo de alimentos

pia, fogão, geladeira, prateleiras, arm maquina de café, estufa de alimentos

Despensa

Armazenar alimentos

Prateleiras

Projeção de filmes ao ar livre

Projetar, assistir

Projetor, área livre para platéia

Espaços de convivência fechados

Conversar, encontrar, descansar

Poltronas, cadeiras, mesas

Espaços de convivência ao ar livre

Conversar, encontrar, descansar

Bancos, mesas

Estacionamento

Guardar carros, bicicletas e motos

Bicicletário, sinalização

Carga / descarga

Descarga de materiais, equipamentos e alimentos

Sinalização

Depósito de lixo

Depositar lixo

Lixeiras

Reservatórios

Reservar água

Reservatório

Depósito

Armazenamento de materiais de limpeza

Prateleiras

Vestiário

Trocar de roupa

Armários, bancos

WC Feminino c/ ducha

Higiene

Lavatório, bacia sanitária, espelho, d

WC Masculino c/ ducha

Higiene

Lavatório, bacia sanitária, espelho, d

ANFITEATRO

RESTAURANTE

ÁREAS DE CONVIVÊNCIA

SERVIÇOS

TOTAL

116


poio para cenários

as, vitrine, sofás, mesas, com-

ACESSO

POPULAÇÃO FIXA

POPULAÇÃO VARIÁVEL

Nº DE AMBIENTES

ESTIMATIVA DE ÁREA

Público

x

400

1

170

Público

3

20 (fila)

1

10

Público

3

2

1

40

Público

x

800

1

250

Privado

x

70

1

80

Privado ACESSO

xPOPULAÇÃO FIXA

80 POPULAÇÃO VARIÁVEL

6Nº DE AMBIENTES

200 ESTIMATIVA 750 DE ÁREA

Público

3

15

1

200 200

x

30

1

70

quina de café, estufa de alimen- Funcionários

4

7 (fila)

1

30

Funcionários

x

1

1

10

Público

1 (caixa)

150

1

500

Privado

6

15

1

150

Privado

x

3

1

20

mário, freezer, microondas, s

Público

110

670 Público

x

250

1

350

Público

x

150

1

800

Público

x

150

1

800 1950

Público

2

70

1

3700

Funcionários

x

2

1

90

Funcionários

x

1

1

10

Funcionários

x

1

1

20

Funcionários

x

1

1

5

Funcionários

x

8

2

15

ducha

Funcionários

x

3

1

12

ducha, mictório

Funcionários

x

3

1

12 3864 10356

117


O PROCESSO PROJETUAL

O processo de projeto se deu início com a análise dos estudos de tombamento da Fábrica de Tecidos Labor realizados pelo Condephaat, apresentados anteriormente. Através dos estudos, foi possível obter informações relacionadas à cronologia de construção dos edifícios (ver página 90) do conjunto, que, juntamente com a visita in loco, permitiram a realização de um levantamento fotográfico e a compreensão do estado de conservação dos edifícios atualmente. A visita e os desenhos obtidos pelo Condephaat também possibilitaram a realização de um mapeamento estrutural (ver páginas 92-93), que complementou os estudos de cronologia construtiva realizados pelo Condephaat, permitindo identificar a predominância de alguns materiais conforme a época que a edificação tinha sido construída. Um ponto importante que pôde ser observado através destas análises foi que o conjunto se estabelece atualmente como um retalho de sucessivas adaptações conforme as necessidades e o crescimento da produção, armazenando características de cada período. Levando em conta a discussão da autenticidade do conjunto, a Fábrica de Tecidos Labor se estabelece como um prato cheio de exercício projetual, principalmente na discussão do que deve ser preservado e o que não deve ser preservado. Os questionamentos em relação às edificações a serem mantidas e a serem demolidas levaram a realização de um modelo

118

3D para melhor compreensão do conjunto como todo, e para melhor percepção das características arquitetônicas das edificações remanescentes. Através do modelo, foi possível perceber que como características relevantes da arquitetura industrial, eram claramente visíveis as grandes portas e janelas (em sua maioria, com 2m) para o fluxo de pessoas e da produção, as estruturas de sustentação da cobertura mescladas entre metálico com coberturas em shed e tesouras de madeira, e cobertura em telha cerâmica. Essas características podem ser encontradas principalmente nas edificações construídos entre 1910 e 1929 – compreendem o galpão principal (1910-1913), os depósitos na fachada frontal (1910-1913), oficinas e salas de motores (1910-1913), a tinturaria (1914-1919), a área onde se localiza a caldeira (1910-1913), depósitos e administração (1920-1929), carpintaria (1920-1929) e a ampliação da produção (1920-1929). O casarão, datado de 1910 e 1913, que servia de residência para os donos da Fábrica também possui grandes portas e janelas e um pé direito de 4,5m em seu primeiro e segundo pavimento. Outros elementos que merecem destaque são o portão, arco, lustre e pilares (1910-1913) que demarcam a entrada principal da Fábrica, e as duas chaminés (uma do período de 1914-1919 e a outra de 1940-1949), que dão visibilidade à Fábrica dentro do bairro. Através desse estudo das características arquitetônicas industriais


juntamente com o estudo de tombamento realizado pelo Condephaat, comparou-se as edificações que se destacaram em ambas, e assim foi possível traçar diretrizes de projeto para o que seria demolido e o que seria conservado. Através dos estudos presentes no processo de tombamento do Condephaat, descobriu-se que no terreno ao lado da Fábrica, ocupado hoje por uma concessionária, havia uma vila operária que abrigava as residências dos trabalhadores. Os estudos presentes no processo de tombamento re-

latam que em uma visita, em 2010, constatou-se que não existiam mais residências remanescentes da vila dos operários. Através do levantamento fotográfico, é possível perceber que o edifício da concessionária interfere na leitura da Fábrica, e, por esse motivo, o processo de tombamento aponta a restrição de gabarito para minimizar a interferência na visualização do conjunto na paisagem urbana. Portanto, através desses estudos, concluiu-se então que seriam demolidas:

RADI

AL L ESTE

RU

A

DA

MO

OC

A

edifícios do conjunto a demolir coberturas do conjunto a modificar 119


RU

A

edifício vizinho a demolir áreas demolidas do conjunto

Uma vez obtida uma nova configuração do conjunto industrial, foi possível estabelecer conceitos de projeto levando em consideração o programa de necessidades para abrigar a “Fábrica de Criação”, a relação de áreas dentro do conjunto e a relação do conjunto com a cidade. Estabelecendo os conceitos e diretrizes de projeto, foram realizados diversos estudos através de croquis, em perspectivas e plantas, sempre com auxílio de softwares de modelagem 3D e desenho 2D.

120

DA

MO

OC

A


CONCEITOS

NOVAS EDIFICAÇÕES - Uso do concreto para distinção de materiais do conjunto - Estruturas metálicas para permitir permeabilidade no térreo

RUAS INTERNAS E EIXOS NO GALPÃO PRINCIPAL - Ruas internas das construções fabris - Eixos no galpão principal

ÁREAS DE CONVIVÊNCIA E PRAÇAS - Áreas de convivência no interior do conjunto - Grande praça como extensão da cidade

CONEXÃO VISUAL COM A RADIAL LESTE - Manter o muro existente para a Radial - Conexão visual através das estruturas metálicas

público

semi-público privado

USO DIURNO / USO NOTURNO - Organização do programa possibilita o uso diurno e noturno do conjunto

SETORIZAÇÃO - possibilita áreas públicas, semi-públicas e privadas

121


CROQUIS DE DESENVOLVIMENTO

Proposta de novas edificações: área destinada às acomodações dos artistas, uma área de praça seca arborizada e um auditório com o palco aberto que possibilita uma visualização externa.

Tipologias de dormitórios para as acomodações dos residentes - dormitórios individuais, de duplas e de grupos (ou coletivos).

Área posterior do auditório: possibilidade de visualização da área do palco para as pessoas que se encontram na praça.

122


Estudos de estruturas metálicas para as novas edificações e suas conexões com as estruturas existentes.

Estudos para o acesso do auditório aberto e permeável no terréo, suas conexões com a Rua da Mooca e edificações existentes.

Estudos de estruturas metálicas para a área de acomodação dos artistas residentes.

Estudos para a praça seca e conexão entre edifícios através de um passarela metálica

123


Estruturas modulares para os ateliês dos artistas, que possibilitam diversas configurações. A ideia é que sejam desmontáveis, para que se adequem aos vãos das estruturas metálicas presentes no interior do galpão principal.

Estudos para o interior do galpão principal

124


Estudos para a entrada da praça seca.

Estudos para as novas edificações.

Estudos para a cobertura da passarela metálica.

Estudos para as novas edificações e praças.

Estudos para as conexões entre as antigas e as novas edificações.

125


PROJETOS REFERENCIAIS

SESC POMPÉIA | São Paulo, Brasil “A experiência do SESC Pompéia contém uma chave para aqueles que quiserem refletir sobre o papel da arquitetura na vida dos homens. Uma chave contemporânea, ativada e ao nosso alcance. É uma experiência arquitetônica que alia criatividade a um grande rigor, liberdade com responsabilidade, riqueza com concisão e economia de meios, poética com ética.” (Marcelo Ferraz em “Numa velha fábrica de tambores. SESC-Pompéia comemora 25 anos”) O SESC Pompéia pode ser visto como um verdadeiro oásis em meio ao caos urbano, transformando uma antiga fábrica, local de trabalho duro e sofrimento, em um espaço de lazer. A sua linguagem arquitetônica é dotada de alma e personalidade, preservando a memória fabril e industrial do conjunto, tanto nas novas edificações quanto nas antigas. No desenvolvimento do projeto, ocorreu todo o cuidado de manter os vestígios da antiga fábrica evidentes aos olhos dos frequentadores: nas paredes, nos pisos, nos telhados, nas estruturas e até na linguagem das novas instalações. A comunicação entre a arquitetura do velho e do novo pode ser claramente vista no local, através do contraste entre a escala das duas torres de concreto e dos galpões industriais remancestes. Por outro lado, as canaletas de águas pluviais na rua central e as treliças de madeira nas janelas moldam 126

uma delicadeza no projeto. São elementos que mostram que, apesar dos contrastes, Lina tinha a capacidade de lidar com o equilíbrio em meio aos contrastes. Segundo Ferraz38, no SESC Pompéia, Lina retoma sua experiência vivida na Bahia (1958 a 1964), no projeto de reabilitação do Solar de Unhão para funcionar como Museu de Arte Popular. Muitos conceitos de programa e projeto utilizados no SESC haviam sido previamente experimentados nessa fase, como a formulação de um programa abrangente e inclusiva somada às soluções espaciais de acessibilidade, como trazer a rua e a vida pública para o interior do centro, que contemplasse diversas faixas etárias e classes sociais, sem discriminação. O nome destinado então a este espaço foi de “Centro de Lazer”, que buscava fomentar a convivência entre as pessoas e, consequentemente, a produção cultural. Portanto, o Sesc Pompéia serve de referência tanto pelo seu programa, que abrange espaços destinadas à cultura e arte na área dos galpões industriais e concentra o uso esportivo nas novas edificações, quanto pela relação entre os antigos galpões e as novas edificações, estabelecida através da materialidade e pela linguagem.

38. FERRAZ, Marcelo. Numa velha fábrica de tambores. SESCPompéia comemora 25 anos. Minha Cidade, São Paulo, 093.01, Vitruvius, abr. 2008. Disponível em: <http://www.vitruvius.com. br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897> Acesso em: 07 de maio de 2016


1. Conjunto com piscina, ginásio e quadras (5 pavimentos): A= 1200x5 = 6000 2. Lanchonete, vestiários, salas de ginástica, lutas e dança (11 pavimentos): A= 225x11 = 2475 3. Caixa d’água 4. Deck solarium: A= 745 5. Exposição: A=585 6. Ateliês: A= 1256 7. Laboratório, estúdio, dança: A= 266x3 = 800 8. Teatro para 1200 lugares: A= 940 9. Foyer: A=400 10. Restaurante para 2000 e choperia à noite: A= 945 11. Cozinha industrial: A= 385 12. Vestiário, refeitório para funcionários: A= 125x2 = 300 13. Estar: A=1560 14. Biblioteca e videoteca: A=1220

Planta do Sesc Pompéia com respectivas áreas e usos. Fonte: https://teoriacritica13ufu.wordpress.com/author/arquitetura13/

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Galpões fabris antigos utilizados para fins culturais de múltiplos usos. Fonte: arquivo pessoal

Presença de amplas ruas internas dentro do complexo. Fonte: arquivo pessoal

Relação entre os antigos galpões industriais e as novas edificações. Fonte: http://vejasp.abril. com.br/estabelecimento/ sesc-pompeia

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CASA DAS CALDEIRAS| São Paulo, Brasil Edifício da década de 1920 construído para abrigar caldeiras vindas da Europa, a Casa das Caldeiras era responsável por gerar energia para todo o parque industrial sob comando do Conde Francisco Matarazzo, numa área de aproximadamente 100.000m². Forte representante do desenvolvimento da cidade, suas características conservam a memória industrial, que podem ser observadas através da alvenaria de tijolos, do pé direito alto que ainda conserva as caldeiras em seu interior, das três chaminés marcantes na paisagem. Em 1986, foi tombado pelo CONDEPHAAT e pelo IPHAN, como edificação remanescente das IRFM - Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. Em 1998-1999, a Casa das Caldeiras foi restaurada, podendo abrigar novos usos. Em 2005, a Associação Cultural Casa das Caldeiras (ACCC) foi criada com a intenção de estabelecer um novo uso ao espaço da Casa das Caldeiras. Buscando a valorização do patrimônio histórico, desenvolve ocupações artísticas e culturais, onde artistas, pesquisadores, instituições públicas e privadas e a própria sociedade produzem novas perspectivas de atuação e protagonismo sócio-cultural para a cidade. “Arte, Patrimônio e Território” é o trinômio que representa a ACCC. Através de parcerias com organizações públicas e privadas, desenvolve ações, eventos e projetos de relevância ao interesse público.

A partir de 2015, a ACCC celebra a parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e o Ministério da Cultura via Programa Cultura Viva, através do programa de residência artística denominado “Obras em construção”, visando fortalecer a ação cultural dos grupos atuantes na comunidade. O local viabiliza espaços de residências artísticas, onde os projetos possuem acompanhamento logístico, administrativo e de estruturação, fomentando a troca de conhecimentos, métodos e impressões entre os artistas residentes, com a criação de um território múltiplo de convívio, de pesquisa e produção. O perfil dos candidatos consistem em: “artistas, grupos, coletivos e pesquisadores portadores de projeto, que estejam trabalhando no campo da arte contemporânea, da cidadania e desejando desenvolver seu projeto através de um processo de residência artística e de pesquisa em espaço não tradicional, aberto a pluridisciplinaridade, aos encontros e aos Intercâmbios multiculturais; vivendo e trabalhando no Brasil ou no exterior – a candidatura pode vir acompanhada de propostas de oficinas, workshops e palestras. Não há um limite de idade para a participação.” Além do programa de residência artística, desde 2008 a Casa das Caldeiras iniciou o programa “Todo Domingo”, que incentiva a integração do público no espaço, através de exposições, atividades lúdicas, espetáculos, performances, oficinas, ciclos de palestras e seminários, projeção de docu-

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Diversidade de eventos que ocupam a Casa das Caldeiras. Fonte: https://livreopiniao.com/2015/03/27/cultura-brasileira-ocupa-os-espacos-historicos-da-casa-das-caldeiras-no-evento-calefacao-tropicaos/

Salão onde se localiza a caldeira e corredor de acesso à chaminé (subterrâneo) abrigam diversos tipos de eventos. Fonte: arquivo pessoal

mentários independentes, pesquisa, rodas de conversas. É realizada todos os domingos de abril a novembro, entre às 16hrs e 20hrs. Outro programa incentivado pela ACCC é a “Casa do Aprender”, que, através da residência formativa, propões oficinas de formação e aprendizado para jovens estudantes de escolas públicas da região. Iniciou em 2012 sob coordenação de Maria do Car130

mo Brant e Patricia Mendes, e é financiada pela Fundação Itaú Social. O espaço abriga encontros entre educadores, pais e alunos, estimulando a aprendizagem através do compartilhamento de experiências.


MATADERO | Madrid, Espanha O Matadero Madrid funcionava como um matadouro industrial e um mercado voltado à pecuária, durante o século XX. Em 2006, o Matadero Madrid foi criado pela Câmara Municipal de Madrid, e hoje em dia funciona como um grande laboratório de criação interdisciplinar ligado à cidade, um espaço para a troca de ideias sobre a cultura e os valores da sociedade contemporânea, aberto para múltiplos campos da criação: artes visuais, artes cênicas, literatura e leitura, pesamento, música, arte sonora, filme, design, moda, arquitetura, urbanismo e paisagismo. São diversas as instituições públicas e privadas que compõem as diversas áreas de criação cultural, promovendo a participação social no projeto e garantindo a pluralidade, a independência e a viabilidade do projeto. Atualmente, estas são as instituições que fazem parte do Matadero Madrid:

do cinema não-ficção. Inaugurada em 2011. Entidades privadas: 1. Central de Diseño, promoção design da plataforma gerida pela Fundação Projeto Madrid (DIMAD). Inaugurada em 2007. 2. Extensión AVAM, espaço para a participação, debate e visibilidade das produções de artistas geridos pela Associated Artistas Visuais de Madrid (AVAM). Inaugurada em 2011. 3. Fundación German Sánchez Ruipérez. Inaugurada em 2012. 4. Casa del Lector, centro internacional de investigação, desenvolvimento e inovação na leitura, sob a Ruiperez Fundação Alemã Sanchez. Inaugurada em 2012. 5. Factoría Cultural, Asociación de Apoyo al Emprendimiento de las Industrias Culturales y Creativa, gerido pelas Indústrias Criativas. Inaugurada em 2014.

Entidades públicas: 1. Intermediae, com um programa focado na mediação comunitária. Inaugurada em 2007. 2. Naves del Español, com propostas cénicas geridos pelo Teatro Espanhol (Sala 1, Sala 2 e Café Teatro). Inaugurada em 2007. 3. Oficina de Coordinación: (Abierto x Obras, Nave 16, el Taller; Archivo Matadero y espacio público). Inaugurada em 2008. 4. Cineteca, entregue à exibição e difusão

Além das instituições instaladas, o Matadero Madrid parte da convicção de que a instituição pública tem o dever de apostar na experimentação contra a reprodução de fórmulas padrão. Devido a isso, iniciou um novo formato de produção cultural denominado El Ranchito: um espaço de residência artística para artistas locais e internacionais. Através de acordos com instituições de outros países, em colaboração com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional e

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Diversos espaços para produção cultural e ateliês móveis para residência artística. Fonte: http://www.mataderomadrid.org/

Foto aérea do Matadero. Fonte: https://www.flickr.com/photos/ mataderomadrid/8102320705

Localização das instituições. Fonte: http://www.espinillo.org/foros/foroppp. php?foro=6&tem=3170

Desenvolvimento (AECID), realizam o programa de residências interdisciplinares onde os artistas podem coexistir com criadores de outras cidades tem a oportunidade de viajar para outras áreas de residências em todo o mundo. Portanto, o Matadero se estabelece como uma referência tanto de programa, 132

Identidade visual do Matadero. Fonte: arquivo pessoal

com destaque para a possibilidade da coexistência de instituições públicas e privadas em um mesmo local. Além disso, a identidade das suas edificações é muito forte, que é ressaltada através da identidade visual criada pelo Matadero, que se repete ao longo do conjunto.


GALERIA Z | Guangdong, China

Estruturas da Galeria Z. Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/621611/galeria-z-slash-o-office-architects

A Galeria Z se insere dentro do projeto Identidade da Cidade, numa atmosfera de ruínas na natureza. Esse projeto se iniciou a partir da abandonada Fábrica de Tingimento Honghua, localizada no Novo Distrito Turístico de Dapeng em Shenzhen do Oeste, Guangdong, na China. O primeiro projeto de reconversão dentro do projeto Identidade da Cidade foi a transformação da oficina mais longa em um centro de acolhimento, nomeado Galeria Z. A intervenção no edifício busca manter uma distância crítica da construção existente, de modo a inspirar o diálogo espacial entre o presente e o passado, entre o novo e o velho. O espaço apresenta uma caixa de aço preta e linear, que flutua sobre as ruínas da antiga oficina de purificação. Os espaços expositivos, café, salas de reuniões e recepção são inseridos dentro desta caixa. Para suprir as necessidades dos diversos usos e da presença de calor e umidade no verão do sul

da China, a fachada da caixa preta possui diversos portões rotativos e portas de vidro de correr, permitindo a criação de diferentes configurações conforme as estações do ano. Alem disso, o local comporta 7 caixas de estúdios individuais destinados a artistas. Estas se encontram alinhadas a Galeria Z, e se configuram como uma extensão do espaço de criação que permeiam entre as máquinas abandonadas. Cada caixa é, ao mesmo tempo, uma incubadora e uma vitrine de um artista. Um sistema de ponte de metal e plataforma, semi-ar livre concta a nova intervenção arquitetônica no plano mais amplo do paisagismo do local, espalhando o novo design para o espaço do futuro Projeto Identidade da Cidade. A Galeria Z se estabelece como referência de estruturas modulares que são pensadas de forma a amenizar o impacto em uma estrutura pré-existente. 133


SILO PARK | Auckland, Nova Zelândia

Estruturas metálicas que abrigam diversos eventos e permitem a visão da área portuária de um outro ponto de vista. Fonte: https:// www.silopark.co.nz/silo-park/home/

Projeção de filmes nos silos. Fonte: http://gatherandhunt.co.nz/directory/silo-park/

O Silo Park se localiza em Wynyard Quarter, uma área de revitalização no coração da orla de Auckland. Atualmente, é um espaço público que pode ser apreciado por pessoas de todas as idades. Durante a temporada de verão, acolhe mais de 50 eventos, ativações e exposições atraindo pessoas da 134

cidade. Os eventos incluem o Silo Cinema, onde os filmes são projetados nas estruturas dos silos, e também o Silo Sessions, que traz música ao vivo com artistas locais e internacionais.


PARQUE DA JUVENTUDE | São Paulo, Brasil

Passeios em estruturas metálicas em diferentes níveis. Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/763644/arquitetas-invisiveis-apresentam-48-mulheres-na-arquitetura-paisagismo/55007abae58ecee4f10000e7

O Parque da Juventude é um complexo cultural, recreativo e esportivo localizado na Zona Norte do município de São Paulo. Sua construção se deu no local onde estava implantado o antigo Complexo Penitenciário do Carandiru, historicamente marcado por violação aos direitos humanos, degradação urbana e violência. O Parque é composto de três grandes espaços: o primeiro, a Área Esportiva, é de caráter recreativo-esportivo, com quadras poliesportivas, espaços para prática de skate e patins, pistas de cooper, entre outros. Na Área Central, temos uma área recreativa-contemplativa, com trilhas, caminhos ajar-

dinados, passarelas, entre outros elementos que remetem mais à ideia tradicional do “parque”. O terceiro é a Área Institucional, é de caráter cultural, onde estão localizadas as Etecs (Escolas Técnicas), que oferecem cursos regulares de enfermagem, informática, música, canto, onde se encontra a Biblioteca de São Paulo. Portanto, a ideia é utilizar de referência a Área Central, que é composta de passarelas de diversos níveis e que possibilita uma diferente visão do pedestre em relação ao parque e diferentes sensações em relação às copas das árvores.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pessoas me perguntavam: “por que você escolheu uma fábrica tão grande?” Após um ano, tenho a resposta: foi ela quem me escolheu. Foram inúmeras as visitas e as pesquisas de galpões em bairros de São Paulo, como Bom Retiro, Brás e Mooca. Um dia, retornando de uma visita da Cia Antarctica Paulista, avistei da Radial Leste as chaminés da Fábrica de Tecidos Labor. Meu pai, que me acompanhava, parou o carro ali mesmo para tirarmos fotos enquanto eu dizia: “Olha esse lugar, ele é incrível!” A arquitetura é capaz de transmitir sensações e contar histórias, assim como a arte que tanto influencia através de seus movimentos e épocas. Após a primeira visita com a temática da residência artística em mente, não tive dúvidas de que gostaria de trabalhar com um lugar tão rico em memória, visível através da materialidade e dos detalhes construtivos. A proposta de intervenção e refuncionalização da antiga Fábrica exigiu uma sensibilidade de análise de cada parte do conjunto, devido à sua grande extensão e as peculiaridades das edificações de cada época. A possibilidade de uma visita no conjunto e os dados obtidos pelo levantamento do Condephaat também foram fatores de extrema importância para a escolha do local. Posso dizer que o processo projetual foi de altos e baixos. Alguns dias pareciam

extremamente satisfatórios, outros dotados de angústias e incertezas. Mas em meio aos questionamentos, sempre surgiam os amigos e os professores com opiniões, sugestões, críticas e discussões que foram acrescentando ideias e auxiliando no amadurecimento do projeto. Durante o processo de projeto, um fato que me causava inquietações mas ao mesmo tempo me fascinava era encontrar, tanto nos desenhos técnicos quanto nas fotos, um detalhe que não havia visto antes, que acabava alterando totalmente o rumo do projeto. Conforme ele foi tomando forma, era possível imaginar a Fábrica criando vida, onde seus espaços de produção têxtil abrigavam agora outro tipo de produção: a artística. Além do aprendizado acadêmico, o tfg me levou a conhecer mais a minha própria cidade, desbravar bairros que eu não costumava ir, me proporcionou encontros que pouco a pouco foram acrescentando informações sobre a Fábrica Labor, me despertou o olhar para a arquitetura industrial e, finalmente, me fez apaixonar por ela. Mais que o resultado final, o processo como um todo desse trabalho foi muito gratificante e cheio de aprendizados. Portanto, é com imensa satisfação e alegria que encerro mais esse ciclo, em que pude conhecer um pouco da arquitetura, onde me questionei, me desentendi, me perdi e me encontrei. 137


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOBRE O TERRITÓRIO: Livros: DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo. São Paulo. DIFEL, s.d. CARONE, Edgard. A evolução industrial de São Paulo (1889-1930). São Paulo: Editora Senac, 2000. MEYER, Regina Maria Prosperi, GROSTEIN, Marta Dora. A leste do centro: territórios do urbanismo. São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010. LANGENBUCH, Jurgen Richard. Estruturação da grande São Paulo; estudo de geografia urbana. Rio de Janeiro: IBGE, 1971. ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP, 2003. MARCILIO, Maria Luiza. História da cidade de São Paulo: a cidade colonial. São Paulo: Paz e Terra, 2004. MAZZOCO, Maria Inês Dias; RODRIGUES, Cecilia dos Santos. De Santos à Jundiaí: nos trilhos do café com a São Paulo Railway. São Paulo: Magma Editora Cultura, 2005. TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo: três cidades em um século. São Paulo: Duas Cidades, 1981. ALVES, M. R. Casas paulistanas: pequenos tesouros da Mooca na transformação de São Paulo. São Paulo: Casa Paulistana de Comunicação, 1998. Teses: RODRIGUEZ, Maria Elizabet Paes. Radial Leste, Brás e Mooca: diretrizes para requalificação urbana. FAUUSP. São Paulo, 2006. AMADIO, Décio. Desenho urbano e bairros centrais de são paulo: um estudo sobre a formação 138


e transformação do brás, bom retiro e pari. orientador: prof. dr. adilson c. macedo. são paulo: fauusp, 2004, 483p. dissertação (doutorado em arquitetura e urbanismo). KUSZNIR, Mauro. Espaço público, desenho: o bairro da Mooca na São Paulo de 1980 aos dias atuais. Trabalho de iniciação científica, FAUUSP, Fapesp. São Paulo, 1999. CARLOS, Ana Fani Alessandri. A metrópole de São Paulo no contexto da urbanização contemporânea. Estudos Avançados, v.23, n.66, p.303-314. FFLCH USP, São Paulo, 2009. SÁNCHEZ, L. E. A desativação de empreendimentos industriais: um estudo sobre o passivo ambiental. Tese (Livre Docência) - Escola Politecnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998. Artigos: MENEGUELLO, Cristina; BERTINI, Giancarlo; RUFINONI, Manoela; VALENTIN, Fernanda. Demolição de galpões industriais na Mooca: descaso e impunidade. Minha Cidade, São Paulo, 088.01, Vitruvius, nov. 2007. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/ read/minhacidade/08.088/1913>. Acesso em: 25 de abril de 2016. MENEGUELLO, Cristina. A preservação do patrimônio e o tecido urbano. Parte 2. Manchester, Dublin e São Paulo: reflexões a partir de três estratégias para a recuperação do passado urbano. Arquitextos, São Paulo, 003.06, Vitruvius, ago. 2000. Disponível em: <http://www.vitruvius. com.br/revistas/read/arquitextos/01.003/993>. Acesso em: 25 de abril de 2016. FORTUNATO, Ivan. Mooca, ou como a verticalização devora a paisagem e a memória de um bairro. Arquitextos, São Paulo, 140.05, Vitruvius, jan. 2012. Disponível em: <http://www.vitruvius.com. br/revistas/read/arquitextos/12.140/4189>. Acesso em: 25 de abril de 2016.

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SOBRE RESIDÊNCIA ARTÍSTICA: Livros e revistas: PEVSNER, N. Academias de arte: passado e presente. São Paulo, Cia. das Letras, 2005 Revista ARTE! Brasileiros, julho/agosto 2016, nº35, p. 79 Teses: MORAES, Marcos José Santos. Residência artística: ambientes de formação, criação e difusão. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/tde-29042010093532/publico/Marcos_Jose_tese.pdf> VASCONCELOS, Ana. Residências artísticas como política pública no âmbito da Funarte. III Seminário Internacional de Políticas Culturais. Fundação Casa de Rui Barbosa: Rio de janeiro, 2012. Disponível em: <http://culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa/files/2012/09/ Ana-Vasconcelos.pdf> Palestras / publicações: Jean-Baptiste Joly. http://www.resartis.org/en/activities__projects/meetings/general_meetings/1996_-_dublin/jean-baptiste_joly/ VASCONCELOS, Ana; BEZERRA, André. Mapeamento de Residências Artísticas no Brasil. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2014. Disponível em: http://www.funarte.gov.br/residenciasartisticas/wp-content/uploads/2014/07/miolo+capa-livro-res-artisticas-FINAL_baixa-res.pdf

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SOBRE ARQUITETURA INDUSTRIAL, PATRIMÔNIO E A FÁBRICA DE TECIDOS LABOR: Livros: KUHL, Beatriz Mugayar. Preservação do patrimônio arquitetônico da industrialização: problemas teóricos de restauração. cotia, sp: ateliê editorial, 2008. CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio . São Paulo: Unesp, 2001 Impressões do Brasil no Século Vinte, 1913. Disponível em: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300g32d. htm Teses: BARDESE, Cristiane Ikedo. Arquitetura industrial: patrimônio edificado, preservação e requalificação: o caso do mionho matarazzo e tecelagem mariângela. orientação: prof. dra. beatriz mugayarkhul. são paulo: fauusp, 2011, 182p. dissertação (mestrado em arquitetura e urbanismo). ALMEIDA, Eneida de. O “construir no construído” na produção contemporânea entre teoria e prática. orientador: prof. dr. luiz américo de souza munari. são paulo: fauusp, 2009, 235p. dissertação (doutorado em arquitetura e urbanismo). SAIA, Helena. Arquitetura e indústria – fábricas de tecido de algodão em São Paulo. Tese de mestrado. FAUUSP. São Paulo, 1989. RUFINONI, Manoela Rossinetti. Preservação do patrimônio industrial na cidade de São Paulo: o bairro da Mooca . São Paulo: FAUUSP, - Tese de mestrado, 2004. RUFINONI, Manoela Rossinetti. Preservação e restauro urbano : teoria e prática de intervenção em sítios industriais de interesse cultural . São Paulo: FAUUSP - Tese de doutorado, 2009. ANDRADE, Maria Margarida de. Bairros Além- Tamanduateí: o imigrante e a fábrica no Brás, Móoca e Belenzinho. Tese de doutorado. USP/FFLCH. São Paulo, 1991.

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Artigos: FERRAZ, Marcelo. Numa velha fábrica de tambores. SESC-Pompéia comemora 25 anos. Minha Cidade, São Paulo, 093.01, Vitruvius, abr. 2008. TFG: GIANECCHINNI, Ana Clara. Apropriação coletiva do patrimônio industrial da Mooca – oficina Labor de mobiliário popular. Trabalho final de graduação. Universidade de São Paulo.2004. ZAFFALON, Livia Ribeiro. Centro Têxtil Labor. Trabalho final de graduação. Universidade de São Paulo. 2012. LOEKMANWIDJAJA, Karina. Lazer e Cultura na Mooca: requalificação da antiga Fábrica Labor. Universidade de São Paulo, 2015. Estudos do Condephaat: Processo CONDEPHAAT número 59448/2009_Parecer técnico UPPH número GEI – 4002010

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