Ficha 1
Frente 2
Classicismo Renascentista I - Camões
Cantiga Lírica de Amor Trovadorismo
2 Classicismo Renascentista II
6 Introdução ao Barroco no Brasil
Ficha 4
10 Considerações Gerais do Barroco
Ficha 5
Ficha 3 Ficha 2
Frente 1
O Arcadismo em Portugal
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16 Humanismo I
20 A Era Romântica ou Moderna - Romantismo I
28 A Era Romântica ou Moderna - Romantismo II 2ª Geração Romântica: Álvares de Azevedo
30 3ª Geração Romântica A Poesia Romântica
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Classicismo Renascentista I
Camões 1. CAMOES LÍRICO
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Camões
A biografia e a bibliografia de Luis Vaz de Camões levantam problemas apaixonantes e aparentemente insolúveis, quer pela distância temporal, quer pela falta de dados confiáveis, quer pela grandiosidade com que a obra e o tempo foram construindo, não uma reputação, mas um verdadeiro mito dentro da literatura portuguesa e universal. Nascido provavelmente em Lisboa, em ano incerto e não sabido, filho de uma família da pequena nobreza, não se pode aceitar que não tenha tido uma educação formal de qualidade, tendo a vista a universalidade do conhecimento que ressuma de sua obra, particularmente da épica. Na juventude freqüentou a corte e a boêmia lisboeta, onde o gênio forte e aventureiro o marcaram e conseguiram o cognome de “o trinca-ferros” com que passou a ser conhecido. Envolvido em repetidas brigas e confusões, acabou embarcado para o serviço militar nas índias - Portugal então estava empenhado na expansão ultramarina - e passou cerca de vinte e cinco anos longe da pátria, chorando o “exílio amargo e o gênio sem ventura”. Retornando à pátria, por obra e graça do acaso e da ajuda de amigos, pôde publicar sua obra máxima, quiçá o maior monumento literário das literaturas lusófonas - Os Lusíadas - que por si só vale pôr uma literatura inteira.
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LITERATURA
A lírica de Camões compreende duas vertentes principais: - A tradicional constituída de redondilhas que vão compor vilancetes, motes glosados, cantigas e trovas todas bem representativas da chamada “medida velha”, tão em voga na literatura portuguesa medieval. A clássica em que avulta a soneto petrarquiano, do qual é o grande e insuperável mestre de uma linhagem de maravilhosos sonetistas que enriqueceram as letras lusitanas através do tempo.
O soneto camoniano é incomparável na técnica superior, no domínio abastado do vernáculo, na felicidade da escolha dos temas, na sensibilidade das imagens criadas. Dessa forma, o campo de observação do estudioso é visto, rico e diversificado. As camadas ática, fônica, semântica e morfossintática interpenetram-se de maneira admirável, revelando um Autor ciente de seu oficio e dotado de talento
É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence; o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade.
É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário por entre a gente; É um nunca contentar-se de contente; É um cuidar que se ganha em se perder.
Mas como causar pode seu favor Nós corações humanos amizade, Se do contrário a si é o mesmo amor?
2. CONCEITUANDO A NATUREZA PARADOXAL DO AMOR
hegando a Goa, Camões toma parte na expedição do vice-rei D. Afonso de Noronha contra o rei de Chembe, conhecido como o “rei da pimenta”. Depois Camões fixou-se em Goa onde escreveu grande parte da sua obra épica. Considerou a cidade como uma “madrasta de todos os homens honestos” e ali estudou os costumes de cristãos e hindus. Em 1556 partiu para Macau, onde continuou os seus escritos. Viveu numa gruta, hoje com o seu nome, e aí terá escrito boa parte d’Os Lusíadas. Naufragou na foz do rio Mekong, onde conservou de forma heróica o manuscrito da obra, então já adiantada. No desastre teria morrido a sua companheira chinesa Dinamene, celebrada em série de sonetos.
Amor é fogo que arde sem se ver; Ferida que dói e não se sente; E um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer.
superior para bem executá-lo, unindo, em suas próprias palavras, “engenho e arte” na construção de verdadeiras jóias literárias. Humanista notável, soube exprimir a experiência vivida na guerra e no exílio, na prisão e na miséria, no amor e no abandono, na presença e na saudade. Sua poesia revela a meditação profunda sobre a realidade circundante, à luz de uma sólida cultura teórica que embasou o desvelamento de seu universo mítico solidamente plantado na cultura renascentista clássica e classicizante de que fazia parte. A lírica camoniana é contaminada pelo cânone maneirista, lembrando em muitos casos o Barroco literário que viria a seguir. Sua exploração da dúvida existencial, do desconcerto do mundo, a inquietude entre a fome e o espírito, as contradições do amor, sempre de forma equilibrada, harmônica e formalmente inatacável, revelam um homem atento ao que o cercava, mas com inquietação suficiente para ir além e antecipar; prever e meditar; inovar e surpreender. Nos sonetos é que Camões exercitou todas as suas virtualidades, aproveitando-se da brevidade e da estrutura facilitadora dos exercícios engenhosos da exploração das mais raras figuras e significados. As contradições do amor, o universalismo do homem renascentista; o neoplatonismo; o amar e o querer são temas versados com raras maestria e beleza.
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O soneto ressalta, em enunciados antitéticos, compondo um todo lógico, o caráter paradoxal do sentimento amoroso. Esclareça-se, entretanto, que tais contradições são, por vezes, aparentes, pois a segunda pane de cada verso funciona como complemento da primeira, enfatizando-a por intermédio da aproximação de realidades distintas, quais sejam o aspecto material, sensível (ferida que dói) (é dor que desatina) oposto ao transcendental e espiritual (em que se sente) (sem doer) como, de resto pode-se observar ao longo de todo o soneto, culminando com a indagação final, a traduzir toda a perplexidade diante da total impossibilidade de se compreender o próprio amor. Sete anos de pastor Jacó servia Labão, pai de Raquel, semana bela; Mas não servia ao pai, servia a ela, Quer a ela só por prêmio pretendia. E os dias na esperança de um sò dia Passava, contentando-se com vê-la; Porém o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos, Lhe fora assim negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida; Começa de servir outros sete anos, Dizendo: - mais servira, se não fora Para do longo amor tão curta a vida. A matéria prima do soneto vem diretamente do Antigo Testamento - Gênesis, XXIX, 25, - em que se narra uma das mais belas histórias de amor de toda a literatura universal: o amor de Jacó por Raquel. Jacó serviu a seu tio, Labão, por sete longos anos para fazer jús a Raquel, filha mais nova e linda. Após cumprir sua parte do acordo, recebe Lia, a filha mais velha, de bem poucos atrativos. Do impasse, Jacó inicia uma nova servidão de sete anos para conseguir sua amada. Raquel. Percebe-se a grandeza do amor de Jacó, que não serviria só mais sete anos, mas sete vezes setenta e sete, desde que conseguisse o objetivo almejado. Ressalta aqui o grande poder de síntese de nosso vate que resume todo um episódio bíblico nos limites estreitos de quatorze versos, com grande maestria lingüistica e interpretativa e sem que se perca nada do conteúdo primitivo e ainda acrescentando a carga poética bem mais significativa que o original de onde foi extraida. Ressalte-se, ainda, a grande economia de meios. Nada de vocabulário erudito ou hermético. Usando os termos em sua denotação usual e sem apelar em demasia para a figuração, o poeta passa a mensagem que pretende de forma absolutamente lógica e coerente, numa linguagem arrumada, seqüenciada e expressiva de tal forma que instaura uma linha direta de entendimento entre os homens de diferentes épocas, materializando magistralmente a função sinfrônica de que o
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texto literário de alto nível sempre é portador. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, Que já coberto foi de neve fria, E em mim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz de alor espanto: Que indo se muda já como sota. O soneto retoma a Teoria do Devir, do filósofo Heráclito, “O que é, enquanto é, não é, porque muda”, que reconhece como sendo a mudança o único estado observável das coisas. Essa colocação do tema da efemeridade da vida, e da continua mudança de. todas as coisas, é realçada pelos pares antitéticos mal x bem, verde manto x neve fria, choro x doce canto. O estado de incerteza contamina a própria mudança que não se faz mais como se fazia. Abre-se outro par antitético: presente x passado. O tom pessimista fica evidente com a alusão de que a mudança acontece sempre para pior, instaurando-se, ai, o saudosismo desesperançado tão presente no sentimento português de todos os tempos. Quando da bela vista e doce riso, tonando estrio meus olhos mantimento,1 tão enlevado sinta o pensamento que me faz ver na terra o Paraíso. Tanto do bem humano estou diviso,2 que qualquer outro bem julgo por vento; assim, que em caso tal, segundo sento,3 assaz de pouco faz quem perde o siso. Em vos louvar, Senhora, rido me findo,4 porque quente vossas cousas claro sente, sentirá que não pode merece-las. Que de tanta estranheza sois ao mundo, que não é d’estranhar, Dama excelente, que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas.
1 Tomando mantimento - tomando consciência. 2 Estou diviso - estou separado, apartado. 3 Sento - sinto. 4 Não me fundo - não me empenho.
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LITERATURA
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Um soneto que caracteriza à saciedade o vínculo de Camões com a lírica neoplatônica e petrarquista. Assimilando, como todo cristão culto de sua época, o idealismo de Platão, reorientado na Idade Média pelos doutores da Igreja Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino -, Camões concebe a mulher não como uma companheira humana, mas como um ser angélico que sublima e apura a alma do amante, Iluminada por uma luz sobrenatural que lhe transfigura as feições carnais, a beleza feminina convertesse numa imitação da Beleza plena, pura, que leva ao “mundo das idéias” e à divindade. É o que fica patente na “chave de ouro” do soneto em questão, que, apontando a distância entre a “Senhora” e as coisas terrenas, contemplada expressamente como criatura divina; “... não é d’estranhar, Dama excelente, que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas... “ Já no primero quarteto, a “bela vista e doce riso” são atributos que permitem ao poeta vislumbrar o Paraíso. E essa visão é tão perturbadora que, como registro o quarteto seguinte, seria causa de uma quase loucura: “assaz de pouco faz quem perde o piso”. Observe-se o contraste entre a dimensão humana do poeta, tenso e contraditório, e a imagem feminina, imaterial, distante e serena. A forma fixa do soneto petrarquista, pela disposição estrófica em dois quartetos e dois tercetos, e a métrica decassilábica (a “medida nova”) são os dois traços mais evidentes da Escola Clássica, imediatamente perceptíveis. Mas há mais: a sintaxe opulenta, com hipérbatos freqüentes, a seleção vocabular, a contenção emocional, o desenvolvimento lógico... Temas representativos da cosmovisão do mundo renascentista, como o amor; o desconcerto do mundo; a efemeridade da existência; o neoplatonismo e a fusão do maravilhoso cristão com o pagão, numa clara antecipação do Barroco que viria a seguir. Como elementos formais destacam-se o tom elevado, o vocabulário medido e contido, a harmonia simétrico das construções e a grande expressividade conseguida com imagens que falam bem alto à sensibilidade, sem descambar para o hermetismo ou para a ostentação intelectual. Sendo um dos grandes gênios artísticos do Renascimento, Camões desenvolveu em sua obra uma variedade de temas, dentro do padrão formal dessa estética clássica, sem perder, contudo, sua originalidade. Encontramos em sua obra:
3. PLATONISMO O resgate da filosofia do discípulo de Sócrates é uma marca de Camões. Verificamos pontos de contato entre a obra de Camões e as idéias platônicas em poemas que revelam o amor conduz o espírito amante; o amante elevado à Beleza Absoluta pelo amor. Pode-se extrair três idéias acerca do platonismo amoroso nos poemas de Camões: - o amor idealizado alça a tal altura o espírito, que o faz contemplar uma realidade extraterrena;-negação da sensualidade. - esse amor, chama orientadora do espírito, se dirigido para o Bem, ilumina a realidade inteligível; - negação da ignorância. - sublimado na ausência ou a contemplação da mulher amada, reflexo da Beleza Divina, o amor, enobrece a alma e nela executa a imagem incorporal; - negação da materialidade. Não podemos esquecer que tudo aquilo sentido pelo amante parte da observação física. Assim, a contemplação da beleza material seria o princípio da percepção de uma beleza absoluta, arquetípica.
“DESCALÇA VAI LEANOR”
MOTE: Descalça vai pera a fonte Leanor pela verdura, Vai fermosa e não segura. VOLTAS Leva na cabeça o pote, O testo nas mãos de prata. Cinta de fi na escarlata, Sainho de chamalote, Traz a vasquinha de cote Mais branca que a neve pura. Vai fermosa, e não segura. Descobre a touca a garganta, Cabelos de ouro entrançado, Fita de cor de encarnado, Tão linda que o mundo espanta. Chove nela graça tanta, Que dá graça a fermosura. Vai fermosa, e não segura.
Aplicações no Caderno de Exercícios Nessa viagem Camões também trazia consigo um manuscrito de sua grande obra,Os Lusíadas. Muitas pessoas brincam com esse episódio dizendo que no momento do naufrágio, com aquela confusão, Camões não sabia a quem salvar, se a amada ou sua obra prima. No final do incidente, a amada morre e o manuscrito permanece intacto.
4. PETRARQUISMO E O ESTILONOVISMO Francesco Petrarca, poeta italiano do século XIV, desenvolveu algumas tendências que serão inspiração para a criação camoniana: ● as contradições que a filosofia amorosa despertam no ser humano - prazer e sofrimento, esperança e desespero; ● a serenidade diante dessas contradições, pois fazem parte de um percurso purificador; ● a mulher amada como representação de um ideal de Beleza e Perfeição; ● a razão e o labor, como modo de criação, dando ao texto uma forma racional e um conteúdo e equilibrado. ● preferência pelo soneto e pela nova medida (verso decassílabo).
CAMÕES
5. “LIRISMO TRADICIONALISTA” Primeiro vamos prestar atenção à corrente peninsular pela qual foi inspirada de maneira significativa a obra lírica camoniana. Se falamos da lírica peninsular, não podemos deixar de mencionar que esta chegou para os tempos de Camões não só através dos antigos Cancioneiros, mas sobre tudo por meio do Cancioneiro Geral. Embora este cancioneiro colecione a poesia palaciana, mantém a herança do trovadorismo peninsular captando mesmo a transição do lirismo medieval para o renascentista.
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LITERATURA
Como tivemos ocasião de observar, o tema deste vilancete como se estivesse tirado dos antigos cancioneiros medievais, incluindo os elementos bucólicos, típicos para as pastorelas, como a fonte ou o caminho cheio da verdura. Também a métrica dos versos faz nos lembrar o medieval, usando o autor a medida velha, ainda acentuada pelo uso do refrão em cada estrofe (inclusive no mote). Os vestígios da transição da poesia medieval para a renascentista (fenômenos sintomáticos para o Cancioneiro Geral) é possível ver no retrato da Leanor, que de certa maneira podia até ser considerada como uma “mulher petrarquiana”: loira, bela e graciosa, acentuando a graça espiritual.
De qualquer forma Camões parece ter-se inspirado nas antigas cantigas de amigo, retomando sobre tudo o tema que até nos faz lembrar as canções populares. Por outro lado, na forma do poema, podemos encontrar os vestígios do Cancioneiro Geral. O autor com freqüência usa a forma da redondilha mantendo simultaneamente um certo paralelismo medieval no refrão, como podemos ver no seguinte poema.
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A palavra épico vem do grego épos, e significa narrativa, recitação. Toda a obra de Camões influenciou a posterior literatura portuguesa, de forma particular durante o Romantismo, criando muitos mitos ligados à sua vida. Camões teve uma vida muito atribulada e que viajou bastante, inclusive refazendo a rota de Vasco da Gama na viagem do descobrimento do caminho marítimo para as Índias. Conta a história que numa dessas viagens Camões e sua amada Dinamene naufragam às margens do rio Mekong, no Camboja.
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LITERATURA
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4. EPISÓDIO DE INÊS DE CASTRO
Classicismo
RENASCENTISTA II
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Passada esta tão próspera vitória, Tornado Afonso à Lusitana Terra, A se lograr da paz com tanta glória Quanta soube ganhar na dura guerra, O caso triste e dino da memória, Que do sepulcro os homens desenterra, Aconteceu da mísera e mesquinha Que despois de ser morta foi Rainha.
1. CAMÕES ÉPICO E O CLASSICISMO PORTUGUÊS EM OS LUSÍADAS
O
renascimento literário atingiu seu ápice em Portugal durante o período conhecido como Classicismo, entre 1527 e 1580. o marco do início é o retorno a Portugal do poeta Sá de Miranda, que passara anos estudando na Itália, de onde traz as inovações dos poetas do Renascimento italiano, como o verso decassílabo e as posturas amorosas do Doce stil nuovo. Mas foi Luís de Camões, cuja vida se estende exatamente durante este período, quem aperfeiçoou, na língua portuguesa, as novas técnicas poéticas, criando poemas líricos que rivalizam em perfeição formal com os de Petrarca e um poema épico, Os Lusíadas, que, à imitação de Homero e Virgílio, traduz em verso toda a história do povo português e suas grandes conquistas, tomando, como motivo central, a descoberta do caminho marítimo para Índias por Vasco da Gama em 1497-99. Para cantar a história do povo português, em Os Lusíadas, Camões foi buscar na antiguidade clássica a forma adequada: o poema épico, gênero poético narrativo e grandiloqüente, desenvolvidos pelos poetas da antiguidade para cantar a história de um povo. A Ilíada e a Odisséia, atribuídas a Homero (séc. VIII a.C), através da narração de episódios da Guerra de Tróia, contas as lendas e a história heróica do povo grego. Já a Eneida, de Virgílio(71 a 19 a.C), através das aventuras do herói Enéas, apresenta a história da fundação de Roma e as origens do povo romano. Ao compor o maior monumento poético da língua portuguesa, Os Lusíadas, publicado em 1572< Camões copia a estrutura narrativa da Eneida de Vírgilio. Utiliza a estrofação na oitava rima, inventada pelo italiano Ariosto, que consiste em estrofes de oito versos rimadas sempre da mesma forma: abababcc. A epopéia se compõe de 1.102 dessas estrofes, ou 8.816 versos, todos decassílabos, divididos em 10 cantos.
2. DIVISÃO DA OBRA O poema se organiza tradicionalmente em cinco partes: I. Proposição (Canto I, estrofes 1 a 3) Apresentação de matéria a ser catada: os feitos dos navegadores portugueses, em especial os da esquadra de Vasco da Gama e a história do povo português. II. Invocação (Canto I, Estrofes 4 e 5) O poeta invoca o auxílio das musas do rio Tejo, as Tágides, que irão inspirá-lo na composição da obra. III. Dedicatória (Canto I, Estrofes 6 a 18) O poema é dedicado ao rei Dom Sebastião, visto como a esperança de propagação da fé católica continuação das grandes conquistas portuguesas por todo o mundo. IV. Narração (Canto I, Estrofe 19 a Canto X, Estrofe 144) A matéria do poema em si. A viagem de Vasco da Gama e
as glórias da história heróica portuguesa. V. Epílogo (Canto X, Estrofes 145 a 156) Grande lamento do poeta, que reclama o fato de sua “voz rouca” não ser ouvida com mais atenção. NARRAÇÃO A narração consiste, portanto, na maior parte do poema. Iniciase “In Media Res”, ou seja, em plena ação. Vasco da Gama e sua frota se dirigem para o Cabo da Boa Esperança, com intuito de alcançarem a Índia pelo mar. Auxiliados pelos deuses Vênus e Marte e perseguidos por Baco e Netuno, os heróis lusitanos passam por diversas aventuras, sempre comprovando o seu valor e fazendo prevalecer sua fé cristã. Ao pararem em Melinde, ao atingirem Calicute, ou mesmo durante a viagem, os portugueses vão contando a história dos feitos heróicos de seu povo. Completada a viagem, são recompensados por Vênus com um momento de descanso e prazer na Ilha dos Amores, verdadeiro paraíso natural que em muito lembra a imagem que então se fazia do recém descoberto Brasil.
Comentário: O rei Afonso1 voltou a Portugal, depois da vitória contra os mouros, esperando obter tanta glória na paz quanto obtivera na guerra. Então aconteceu o triste e memorável caso da desventurada que foi rainha depois de ser morta, assassinada. Tu, só tu, puro Amor, com força crua, Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres, áspero e tirano,
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LITERATURA
Gigante Adamastor, representação mítica do Cabo da Boa Esperança. Em seguida são acrescentadas as narrativas feitas aos seus companheiros pelo marinheiro Veloso, que relata o episódio dos Doze da Inglaterra. Por fim, já na Índia, Paulo da Gama, irmão de Vasco, conta ainda outros feitos heróicos portugueses ao Catual de Calicute. A estrutura narrativa do poema é composta, portanto, por três narrativas remetendo à historia de Portugal, interligadas pela narração da viagem de Vasco da Gama.
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Do teu Príncipe ali te respondiam As lembranças que na alma lhe moravam, Que sempre ante seus olhos te traziam, Quando dos teus fermosos se apartavam; De noite, em doces sonhos que mentiam, De dia, em pensamentos que voavam; E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Tuas aras banhar em sangue humano.
Comentário: O Amor, somente ele, foi quem causou a morte de Inês, como se ela fosse uma inimiga. Dizem que o Amor feroz, cruel, não se satisfaz com as lágrimas, com a tristeza, mas exige, como um deus severo e despótico, banhar seus altares (“aras”) em sangue humano: requer sacrifícios humanos. A palavra “pérfido”, na obra, geralmente se refere Túmulo de Inês aos Mouros inimigos. Nesse verso, parece indicar que Inês foi morta com a mesma crueldade que se usava contra eles.
Eram tudo memórias de alegria. Comentário: As lembranças do Príncipe2 respondiam-lhe, em pensamentos e em sonhos, quando ele estava longe. Isto é, a memória do amado fazia com que Inês conversasse com ele, quando este estava ausente. Ambos não se esqueciam um do outro e se “comunicavam” através da memória, em forma de pensamentos e sonhos. Assim, tudo quanto faziam ou viam os fazia felizes, porque lembravam dos respectivos amados. Esta estrofe é bastante ambígua. As lembranças do Príncipe vinham à mente de Inês como resposta aos seus cuidados amorosos; por outro lado, as mesmas lembranças, agora de Inês, existiam (moravam) na alma do príncipe quando estava longe da amada. Os sonhos e os pensamentos dos versos 5 e 6, dois modos de lembranças, pertencem indistintamente ao amado e à amada. E o sujeito de cuidava e via, no verso 7, tanto pode ser ela quanto o Príncipe.
Estavas, linda Inês, posta em sossego, De teus anos colhendo doce fruito, Naquele engano da alma, ledo e cego, Que a Fortuna não deixa durar muito, Nos saudosos campos do Mondego, De teus fermosos olhos nunca enxuito, Aos montes insinando e às ervinhas O nome que no peito escrito tinhas.
3. ESTRUTURA NARRATIVA DE LUSÍADAS O poema se estrutura através de uma narrativa principal, que apresenta a viagem da armada de Vasco da Gama. A esse fio narrativo condutor é incorporada inicialmente a narração feita por Vasco da Gama ao rei de Melinde, em que conta a história de Portugal até a sua própria viagem. Na voz de Gama ouvem-se os feitos dos heróis portugueses anteriores a ele, como Dom Nuno Álvares Pereira, o caso de amor trágico de Inês de Castro, o relato de usa própria partida, com o irado e premonitório discurso do Velho do Restelo e o episódio do
Rei Afonso
(“colhendo doce fruito”) da felicidade ilusória (“engano da alma, ledo e cego”) e breve (“Que a Fortuna não deixa durar muito”) da juventude. Nos campos, com os belos olhos úmidos de lágrimas de amor, repetia o nome do seu amado aos montes (para cima, para o alto) e às ervas (para baixo, para o chão) As formas “fruito” e “enxuito” são variantes de “fruto” e “enxuto”. Durante muito tempo, enquanto a Língua Portuguesa se solidificava, essas variantes foram utilizadas simultaneamente. A Língua Portuguesa acabou por definir “fruto” e “enxuto” como a forma culta. Na época de Camões, palavras como despois, fruito, enxuito e escuito eram as mais usadas. Ele, então, prefere estas formas para se adequar à estrutura poética de Os Lusíadas - a oitava rima -, formada por versos decassílabos (heróicos ou sáficos),
Comentário: Inês estava em Coimbra, sossegada, usufruindo 1
Entre 1337 e 1340 D. Afonso IV esteve envolvido em guerra contra Castela, tendo sido as tréguas assinadas em 10 de Junho desse ano (1340).Ainda nesse mesmo ano, a 30 de Outubro, os exércitos cristãos de Afonso XI de Castela e D. Afonso IV, combatendo lado a lado, aniquilaram por completo os invasores Mouros (ansiosos por recuperar o seu antigo poder na Península Ibérica), na célebre Batalha do Salado.
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De outras belas senhoras e Princesas Os desejados tálamos enjeita, Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas, Quando um gesto suave te sujeita. Vendo estas namoradas estranhezas, O velho pai sesudo, que respeita O murmurar do povo e a fantasia Do filho, que casar-se não queria,
Comentário: O Príncipe se recusa a casar com outras mulheres 2
D. Pedro I, o Justiceiro ou o Cruel (o cognome varia em função das sensibilidades). Em 1328, ainda infante, casa por “palavras de futuro” com D. Branca, filha do rei de Castela. Não houve futuro. O infante desiste e casa por procuração com D. Constança Manuel, da Galiza.
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(tálamo: casamento, leito conjugal) porque o amor despreza, rejeita tudo que não seja o rosto do amado (gesto significa rosto, semblante) a quem está sujeito. Ao ver este estranho amor, este comportamento estranho de não querer se casar, o pai sisudo (sério, grave) atende ao murmurar do povo e… Tirar Inês ao mundo determina, Por lhe tirar o filho que tem preso, Crendo c’o sangue só da morte ladina Matar do firme amor o fogo aceso. Que furor consentiu que a espada fina, Que pôde sustentar o grande peso Do furor Mauro, fosse alevantada Contra hûa fraca dama delicada? … decide matar Inês, para que o filho seja libertado do seu amor. O pai acredita que só o sangue da morte apagará o fogo do amor. Que fúria foi essa que fez com que a espada cortante que afrontara o poder dos Mouros fosse levantada contra uma frágil e indefesa mulher? Traziam-na os horríficos algozes Ante o Rei, já movido a piedade; Mas o povo, com falsas e ferozes Razões, à morte crua o persuade. Ela, com tristes e piedosas vozes, Saídas só da mágoa e saudade Do seu Príncipe e filhos, que deixava, Que mais que a própria morte a magoava, Comentário: Quando os horríveis e cruéis carrascos trouxeram Inês perante o rei, este já estava compadecido (com dó) e arrependido. No entanto, o povo persuadia, incitava o rei a matá-la. Inês, então, com palavras ou com a voz triste, sentindo mais pela dor e saudade do príncipe e dos filhos do que pela própria morte… Pera o céu cristalino alevantando, Com lágrimas, os olhos piedosos (Os olhos, porque as mãos lhe estava atando Um dos duros ministros rigorosos); E despois, nos mininos atentando, Que tão queridos tinha e tão mimosos, Cuja orfindade como mãe temia, Pera o avô cruel assi dizia: Comentário: Levantando os olhos cheios de lágrimas ao céu (somente os olhos, porque um carrasco prendia-lhe as mãos) e, depois, olhando para as crianças - que amava tanto e temia que ficassem órfãs -, disse para o avô cruel (o rei): Se já nas brutas feras, cuja mente Natura fez cruel de nascimento, E nas aves agrestes, que somente Nas rapinas aéreas tem o intento, Com pequenas crianças viu a gente Terem tão piedoso sentimento Como c’o a mãe de Nino já mostraram, E c’os irmãos que Roma edificaram: Comentário: “Se já vimos que até os animais selvagens, cujos instintos são cruéis, e as aves de rapina têm piedade com as crianças, como demostraram as histórias da mãe de Nino e a dos fundadores de Roma…” Semíramis, rainha da Assíria e mãe de Nino, a abandonara
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LITERATURA
num monte. Nino foi alimentada por aves de rapina. Rômulo e Remo, fundadores de Roma, foram abandonados quando infantes e amamentados por uma loba. Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito (Se de humano é matar hûa donzela, Fraca e sem força, só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la), A estas criancinhas tem respeito, Pois o não tens à morte escura dela; Mova-te a piedade sua e minha, Pois te não move a culpa que não tinha. Comentário: Sendo assim, ele, o rei, que tinha o rosto e o coração humanos (se é que é humano matar uma mulher só porque esta ama um homem que a conquistou), poderia ao menos ter respeito e consideração às crianças, ainda que não se importasse com a triste morte da mãe. Inês suplica, então, que o rei se compadeça dela e das crianças, já que não queria perdoá-la ou absolvê-la de uma culpa, um crime, que não tinha cometido. E se, vencendo a Maura resistência, A morte sabes dar com fogo e ferro, Sabe também dar vida, com clemência, A quem peja perdê-la não fez erro. Mas, se to assi merece esta inocência, Põe-me em perpétuo e mísero desterro, Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente, Onde em lágrimas viva eternamente. Comentário: E se o rei sabia dar a morte, como o mostrara ao vencer os Mouros, também saberia dar a vida a quem era inocente. Mas, se apesar da sua inocência, ainda a quisesse castigar, que a desterrasse, expulsasse, para uma região gelada ou tórrida, para sempre. Põe-me onde se use toda a feridade, Entre leões e tigres, e verei Se neles achar posso a piedade Que entre peitos humanos não achei. Ali, c’o amor intrínseco e vontade Naquele por quem mouro, criarei Estas relíquias suas que aqui viste, Que refrigério sejam da mãe triste.) Comentário: Que ele a colocasse entre as feras, onde poderia encontrar a piedade que não achara entre os homens. Ali, por amor daquele por quem morria ou sofria, criaria os filhos,
Comentário: o rei bondoso queria perdoar Inês, comovido por suas palavras. Mas o povo obstinado, persistente e o destino de Inês (que assim o quis) não lhe perdoaram. Os que proclamavam que ela deveria morrer puxam suas espadas. Mostram-se valentes atacando uma dama. Qual contra a linda moça Policena, Consolação extrema da mãe velha, Porque a sombra de Aquiles a condena, C’o ferro o duro Pirro se aparelha; Mas ela, os olhos, com que o ar serena (Bem como paciente e mansa ovelha), Na mísera mãe postos, que endoudece, Ao duro sacrifício se oferece: Comentário: Assim como Pirro (Os gregos, persuadidos de que Polixena tinha organizado uma cilada, ao apoderarem-se da cidade de Tróia, desvaneceram-se à sua procura. Pirro, filho de Aquiles, que os gregos tinham ido buscar para que tomasse o lugar de seu pai no exército, descobriu-a e imolou-a sobre a sepultura do herói.) se prepara com a espada (“ferro”) para matar Policena (Filha de Príamo), por ordem do fantasma de Aquiles, e ela - mansa e serenamente -, movendo os olhos para a mãe, enlouquecida de dor, oferece-se ao sacrifício… Aquiles, herói da guerra de Tróia, era invulnerável por ter sido submergido, logo ao nascer, na água da lagoa Estígia (Lagoa da Morte). Personagem da Ilíada de Homero, morreu durante a guerra de Tróia, quando foi atingido por uma seta no calcanhar, o único ponto vulnerável do seu corpo. Pirro, filho de Aquiles, teria sido aconselhado pelo fantasma (“sombra”) do pai a matar Policena, noiva do herói morto. Matou-a quando esta se encontrava sobre o túmulo de Aquiles.
Tais contra Inês os brutos matadores, No colo de alabastro, que sustinha As obras com que Amor matou de amores Aquele que despois a fez Rainha, As espadas banhando e as brancas flores, Que ela dos olhos seus regadas tinha, Se encarniçavam, fervidos e irosos, No futuro castigo não cuidosos.
que era recordações do pai e seriam consolação da mãe.
Queria perdoar-lhe o Rei benino, Movido das palavras que o magoam; Mas o pertinaz povo e seu destino (Que desta sorte o quis) lhe não perdoam. Arrancam das espadas de aço fino Os que por bom tal feito ali apregoam. Contra hûa dama, ó peitos carniceiros, Feros vos amostrais e cavaleiros?
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Comentário: Do mesmo modo agem os cruéis assassinos de Inês. No pescoço (“colo”) que sustenta o belo rosto (“as obras”: o sorriso, o olhar, os movimentos do rosto) pelo qual se apaixonou (o deus Amor, Cupido, fez morrer de paixão) o príncipe, que depois a fará rainha, eles (os matadores) banham, lavam suas espadas e também as faces pálidas (“brancas flores”) e molhadas de lágrimas de Inês; atacavam enraivecidos, sem pensarem no castigo que o futuro lhes reservava. Camões supõe que Inês foi degolada, como Policena oferecendo o pescoço ao golpe, e o sangue escorreu sobre seu rosto.
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Bem puderas, ó Sol, da vista destes, Teus raios apartar aquele dia, Como da seva mesa de Tiestes, Quando os filhos por mão de Atreu comia! Vós, ó côncavos vales, que pudestes A voz extrema ouvir da boca fria, O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes, Por muito grande espaço repetistes.
Comentário: Naquele dia, o sol deveria ter-se escondido, como fizera quando Tiestes comeu os próprios filhos em um banquete servido por Atreu, para não ver o terrível crime. A última palavra de Inês - o nome de Pedro, o príncipe - ecoou longa e repetidamente através da região. Camões iguala a crueldade da morte de Inês à da história de Atreu e Tiestes. Tiestes era filho de Pélops e irmão de Atreu. Seduziu a esposa do irmão. Atreu deu a comer a Tiestes os filhos que nasceram daquela união. Assi como a bonina, que cortada Antes do tempo foi, cândida e bela, Sendo das mãos lascivas maltratada Da minina que a trouxe na capela, O cheiro traz perdido e a cor murchada: Tal está, morta, a pálida donzela, Secas do rosto as rosas e perdida A branca e viva cor, co a doce vida.
Comentário: Como uma flor colhida precocemente pelas mãos travessas (“lascivas”) de uma menina para colocá-la numa grinalda (“capela”), assim está Inês, sem perfume e sem cor. Morta, pálida, com as faces (“do rosto as rosas”) secas, murchas, sem rubor. O padrão de beleza feminino era uma combinação de branco na testa, colo, etc. (“branca e viva cor” ) e vermelho (“viva cor”) nas “rosas” do rosto. As filhas do Mondego a morte escura Longo tempo chorando memoraram, E, por memória eterna, em fonte pura As lágrimas choradas transformaram. O nome lhe puseram, que inda dura, Dos amores de Inês, que ali passaram. Vede que fresca fonte rega as flores, Que lágrimas são a água e o nome Amores.
Comentário: As ninfas do Mondego (rio de Portugal), durante muito tempo, lembraram chorando a morte de Inês. E, para sua memória eterna, as lágrimas transformaram-se numa fonte chamada “dos amores de Inês”, acontecidos ali. A fonte que rega as flores é refrescante porque é feita de lágrimas e de amores.
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Introdução ao Barroco
No brasil
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1. GREGÓRIO DE MATOS GUERRA CONTEXTO – HISTÓRICO MUNDIAL O Barroco1 (Seiscentismo-1601) vai refletir a luz contraditória do seu tempo. Abre-se a janela no século XVII, e vemos uma Europa perdida em conflitos de ordem religiosa, econômica, social e política, conforme vemos abaixo: 1.1-O término do ciclo das grandes navegações; 1.2-O capitalismo mercantilista se desenvolve contribuindo para o aumentar a influência da burguesia; A Reforma protestante2, movimento religioso, que foi liderada por Lutero e Calvino; ContraReforma3 em reação à Reforma marcando também a cisão da Igreja Católica.
2. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS: A poesia de Gregório de Matos é religiosa (Sacro) e lírica. Absolutamente conforme com a estética do Barroco, abusa de figuras de linguagem (Antíteses, Paradoxos, Hipérboles, Hipérbatos); faz uso do estilo cultista4 e conceitista5, através de jogos de palavras (Ludismo) e raciocínios sutis. As contradições são uma constante em seus poemas, oscilando entre o sagrado e o profano, o sublime e o grotesco, o amor e o pecado, a busca de Deus e os apelos terrenos. Também verfica-se no Barroco brasileiro o uso da sátira ferina, azeda e mordaz, usando, às vezes, palavras de baixo calão, daí seu epíteto Boca do Inferno. Critica todos os aspectos da sociedade baiana, particularmente o clero e o português. A atitude nativista que disso resulta é apenas conseqüência da situação na Colônia brasileira.
Filho de fidalgo português e de mãe brasileira, cursou humanidades com os Jesuítas da Bahia e se formou em Direito pela Universidade de Coimbra. Passou a advogar em Lisboa, ocupando cargos de magistratura. Por sua sátira, foi obrigado a voltar à Bahia e, aqui, esta foi aguçada, tornando-o motivo de reações e perseguições. Acabou deportado para Angola, retornando um ano antes de morrer em Pernambuco. a) Sacro – Religiosa Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinqüido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abrandar-vos sobeja* um só gemido: Que a mesma culpa que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória. b) Lírico Amorosa Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente: Ser Angélica flor, e Anjo florente* Em quem, senão em vós, se uniformara? Quem vira uma tal flor, que a não cortara, De verde pé, da rama florescente? A quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus o não idolatrara? Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio*, e minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo que tão bela, e tão galharda, Posto que* os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. c) Satírica
Muitos mulatos desavergonhados Trazidos pelos pés os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia.* Poesia Filosófica Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? (...) Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância.
A cada canto um grande conselheiro, Quer nos governar cabana e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um freqüente olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para a levar à Praça e ao Terreiro.
Aplicações no Caderno de Exercícios
A OBRA DE GREGÓRIO DE MATOS GUERRA:
3. CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO No Brasil o Barroco foi inaugurado com a publicação do poema épico Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira. O Brasil ainda se estruturava sócio-economicamente como país-colônia de base açucareira. Somente a Bahia e Pernambuco produziam alguma atividade cultural. O Brasil-Barroco é marcado também pela expulsão definitiva dos franceses (1615) e pelas invasões holandesas, na Bahia (1624) e em Pernambuco (1630) O termo “barroco”, é usado na língua portuguesa do século XVI para designar uma pérola de forma irregular.
. Uma das causas importantes da Reforma Protestante foi o humanismo evangelista, crítico da Igreja da época. A Igreja havia se afastado muito de suas origens e de seus ensinamentos, como pobreza, simplicidade, sofrimento. No século XVI, o catolicismo era uma religião de pompa, luxo e ociosidade. Surgiram críticas em livros como o Elogio da Loucura (1509), de Erasmo de Rotterdam, que se transformaram na base para que Martinho Lutero efetivasse o rompimento com a igreja católica . A Contra-Reforma, ou Reforma Católica, foi uma barreira colocada pela Igreja contra a crescente onda do protestantismo. Para enfrentar as novas doutrinas, a igreja católica lançou mão de uma arma muito antiga: a Inquisição. O Tribunal da Inquisição foi muito poderoso na Europa nos séculos XIII e XIV, No decorrer do século XV, porém, perdeu sua força. Entretanto, em 1542 este tribunal foi reativado para julgar e perseguir indivíduos acusados de praticar ou difundir as novas doutrinas protestantes.
. Valorização de forma e imagem, jogo de palavras, uso de metáforas, hipérboles, analogias e comparações. Manifesta-se uma expressão da angústia de não ter fé.
. Valorização do conteúdo/conceito, jogo de idéias através do raciocínio lógico. Há o uso da parábola com finalidade mística e religiosa.
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4 - GREGÓRIO DE MATOS (1623-1696)
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Em 1850, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen publicou 39 dos seus poemas na colectânea Florilégio da Poesia Brasileira (em Lisboa). Afrânio Peixoto edita a restante obra, de 1923 a 1933, em seis volumes a cargo da Academia Brasileira de Letras, excepto a parte pornográfica que aparecerá publicada, por fim, em 1968, por James Amado. A sua obra tinha um cunho bastante satírico e moderno para a época, além de chocar pelo teor erótico, de alguns de seus versos. Entre seus grandes poemas está o “A cada canto um grande conselheiro”, no qual critica os governantes da “cidade da Bahia” de sua época. Esta crítica é, no entanto, atemporal e universal - os “grandes conselheiros” não são mais que os indivíduos (políticos ou não) que “nos quer(em) governar cabana e vinha, não sabem governar sua cozinha, mas podem governar o mundo inteiro”. A figura do “grande conselheiro” é a figura do hipócrita que aponta os pecados dos outros, sem olhar aos seus. Em resumo, é aquele que aconselha mas não segue os seus preceitos. www.portalimpacto.com.br
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Considerações Gerais do
BARROCO
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1. CONSIDERAÇÕES GERAIS Convivendo com o sensualismo e os prazeres materiais trazidos pelo Renascimento, os valores espirituais - tão fortes na Idade Média e desprezados pelo Renascimento - voltaram a exercer forte influência sobre a mentalidade da época. Uma nova onda de religiosidade foi trazida pela Contra-Reforma e pela fundação da Companhia de Jesus. O que decorreu daí foram naturalmente sentimentos contraditórios, já que o homem estava dividido entre valores opostos. E a arte barroca, que
exprime essa contradição, igualmente oscila entre o clássico (e pagão) e o medieval (cristão), apresentando-se como uma arte indisciplinada. Comparado aos outros dois movimentos que integram a Era Clássica, o Classicismo e o Arcadismo, o Barroco representa um desvio da orientação clássica, já que procurava, ao mesmo tempo, fundir a experiência renascentista ao reavivamento da fé cristã medieval. Punha em risco, assim, certos princípios muito prezados pela tradição clássica, como o predomínio da razão e o equilíbrio. Resumindo, a literatura Barroca tenta conciliar duas concepções de mundo opostas, a medieval e a renascentista, de maneira que valores como a autoconfianca humana e a busca de prazeres mundanos trazidos pelo Renascimento, que era caracterizado pelo racionalismo, equilíbrio, clareza, fundem-se a valores espirituais trazidos pela Contra-Reforma, com idéias medievais, teocêntricas e subjetiva. Nasce então uma forma de viver conflituosa, expressa na arte barroca.
2. A LINGUAGEM BARROCA Algumas características da linguagem barroca merecem especial atenção pela sua peculiaridade e pelo uso que foi sendo feito de algumas delas em escolas posteriores. Requinte Formal (Obscuridade): você deve notar que o nível lingüístico dos textos é sofi sticado ou seja, suas construções sintáticas são elaboradas com vocábulos de nível elevado. O Barroco literário foi uma arte da aristocracia e esse refi namento era desejado por seu público consumidor, porque lhe conferia status: É nau enfi m, que em breve ligeireza, Com presunção de Fênix generosa, Galhardias apresta, alentos preza. Veja que as palavras empregadas por Gregório são pouco usuais, não estão no dia-a-dia, e essa é uma das marcas do requinte formal. Figuração (Similaridades): em vez de dizer as coisas de forma direta e objetiva, o texto barroco prefere a figuração, a sugestão por meio de metáforas, de comparações, símbolos e alegorias. Ontem a vi por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma mulher, que em Anjo se mentia; De um sol, que se trajava em criatura(...) Aqui a mulher é comparada ao Sol (estimula o ardor) e ao Anjo (símbolo da pureza). Conflito Espiritual (Fusionismo/Dualismo): o homem barroco sente-se dilacerado e angustiado diante da alteração dos valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o mundo material As fi guras que melhor expressam esse estado de alma são a antítese e o paradoxo .
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Se basta a vos irar tanto pecado A abrandar-vos sobeja um só gemido Que a mesma culpa, que a vos ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.
Observe que o poeta argumenta que o pecado é paradoxalmente o motivo da ira e da alegria de Deus. Temas Contraditórios (Jogo de Claro/Escuro): há o gosto pela confrontação violenta de temas opostos, como amor/dor, vida/morte, juventude/velhice, pecado/ perdão, etc. Lugar de glória, adonde estou penando Casa da morte, adonde estou vivendo! Ou Mas vejo, que por bela, e por galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. ‘Visão que o poeta tem da terra, local de sofrimento, mas também de luz. Isso reforça o aspecto contraditório da poesia barroca na qual fi gura feminina é vista como um ser ambíguo, que realiza simultaneamente uma sedução mística (religiosa) e carnal (profana). A Efemeridade do Tempo e o Carpe Diem: o homem barroco tem consciência de que a vida terrena é efêmera, passageira, e por isso, é preciso pensar na salvação espiritual. Mas, já que a vida é passageira, sente, ao mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que resulta num sentimento contraditório, já que gozar a vida implica pecar, e, se há pecado, não há salvação. Diante disso, nota-se um horror diante da passagem do tempo. Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trota a toda ligeireza, E imprime em toda flor sua pisada.
3. A CULTISMO E CONCEPTISMO Na Espanha do século XVII, dentro do padrão barroco, aparecem essas duas designações literárias que se tornam símbolos do exagero verbal e de certa obscuridade do pensamento. Assim: Cultismo: é o rebuscamento formal, caracterizado pelo jogo de palavras e pelo excessivo emprego de figuras de linguagem. Também conhecido como gongorismo, pela influencia do estilo do poeta espanhol Luís de Góngora, o cultismo explora efeitos sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume, sonoridade, imagens violentas e fantasiosas - enfi m, recursos que sugerem a superação dos limites da realidade. Ontem a vi, por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma mulher, que em Anjo se mentia, De um Sol que se trajava em criatura. Ocorre aí, de a mulher ser vista como um sol (quente); o cultismo está nessa analogia sensorial. Cultismo: Ludismo metafórico forma perfeita à qualquer preço. • Busca da perfeição formal através de um estilo rebuscado. • Utilização contínua metáforas sensoriais e cromatismo • Uso de hipérbatos (inversões sintáticas) de modo freqüentes.
Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afi rmais na sacra história; Eu sou senho a ovelha desgarrada. Para conseguir o perdão divino o eu-poético procura usar os trechos do livro sagrado, jogo de sedução intelectual. Conceptismo: Argumentação arguta e persuasiva Tentativa de dizer o máximo com o mínimo de palavras. Emprego de elipses, duplos sentidos, paradoxos e alegorias. Requinte expressivo e sutileza das idéias, Silogismo: duas premissas e uma conclusão Disseminação e Recolha: palavras espalhadas e recolhidas Referencialismo: citações bíblicas. Síntese SEISCENTISMO (SÉC. XVII) Idade Moderna: infl uência clássica. • Corrupção e exploração em Salvador-BA. • Unificação Ibérica (1580 - 1640)
4. LINGUAGEM: PORTUGUÊS MODERNO E EXPRESSÕES LOCAIS: Utilização de uma linguagem que varia em nível: vai do mais culto ao mais vulgar, usando mesmo, palavras de baixo calão. Gregório de Matos chega a usar expressões indígenas, para criticar o comportamento hipócrita da sociedade baiana. As suas características fundamentais são: • Conceptismo – argumentação apurada – uso de várias técnicas de argumentação, dentre elas a citação • Cultismo – uso de analogias sensoriais, jogo de palavras, ludismo e figurativo; • Contradição e exagero – tendência ao grotesco, com imagens estranhamente contraditórias que revelam o conflito do eu-lírico. • Temática diversifi cada que vai do amor, passa pela fugacidade (transitoriedade das coisas) e da contrição (arrependimento). • Melancolia, tédio, impotência, desequilíbrio e contrição. As questões 1 e 2 referem-se ao poema abaixo:
Nesse trecho há o convite à amada para que ela aproveite a vida enquanto está jovem.
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Conceptismo: (do espanhol concepto, “idéia”) é o jogo de idéias, constituído pelas sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico, por analogias, etc. Embora seja mais comum o cultismo manifestar-se na poesia e o conceptismo na prosa, é perfeitamente normal aparecerem ambos em um mesmo texto.
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Desenganos da vida humana, metaforicamente É a vaidade, Fábio, nesta vida, Rosa, que da manhã lisonjeada, Púrpuras mil, com ambição dourada, Airosa rompe, arrasta presumida. É planta, que de abril favorecida, Por mares de soberba desatada, Florida galeota empavesada, Sulca ufana, navega destemida. É nau enfi m, que em breve ligeireza Com presunção de Fênix generosa, Galhardias apresta, alentos preza: Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa De que importa, se aguarda sem defesa Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa? In: - NICOLA, José de. Literatura Brasileira. Das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 1998.
Vocabulário: airosa = elegante presumida= vaidosa soberba = arrogância desatada = solta galeota= embarcação de pequeno porte empavesada = enfeitada ufana = vaidosa apresta = prepara com rapidez penha = rochedo
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O Arcadismo
EM PORTUGAL
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1. ASPECTOS GERAIS CONTEXTO HISTÓRICO O século XVIII ficou conhecido como o “Século das Luzes”, é claro que um bom aluno perguntaria: por quê?. E a explicação é clara. O século XVIII foi palco de três importantíssimas revoluções que pretenderam “afastar” o homem das “trevas” do medievalismo Barroco de acordo com a visão renascentista. Os Iluministas foram homens que tentaram explicar à luz da razão e da ciência a verdade dos fatos. Assim, a razão e a ciência constituem para estes homens as LUZES às quais o século se refere. A Inconfidência Mineira foi fundamental porque des ocou o eixo sócio-econômico cultural da Bahia (onde ocorrera o Barroco) para Minas Gerais onde se teve na época o CICLO DO OURO. E a revolução industrial foi vital porque definiu profundas transformações sociais, políticas e econômicas. Pois, com o avanço científico surgiram as indústrias e os centros urbanos. A vida deixou de ser rural para se tornar urbana. As fábricas reuniram em torno de si grandes aglomerados populacionais e a atmosfera calma e pacata dos centros populacionais iniciais cederá lugar à agitação e ao burburinho próprio das cidades de nosso tempo. Por esse motivo que os homens esclarecidos, iluminados da época preferiram o campo ao invés da cidade. Essa é a maior característica da escola árcade.
2. CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO 1. Revalorização da cultura clássica: cultura clássica é toda cultura pertinente às civilizações da Antigüidade clássica: Grécia e Roma. Os conceitos greco-romanos (ou greco-latinos) são resgatados no Arcadismo porque os povos clássicos foram exemplos de equilíbrio e de racionalidade. Como os árcades valorizavam a razão, logo os conceitos greco-latinos foram também revalorizados. 2. Racionalismo: como foi dito anteriormente a escola árcade baseada nos princípios greco-latinos apresenta a supremacia da razão sobre a emoção, como conseqüência do desenvolvimento técnicocientífico do século XVIII. 3. Bucolismo: lingüisticamente é a qualidade de bucólico (relativo à vida e costumes do campo), no Arcadismo se entende esta característica como a exaltação da beleza do campo e de sua cultura em detrimento da vida citadina. Ex.: “Ver as longas Campinas retalhadas De trêmulos ribeiros; claras fontes, E lagos cristalinos onde molha As leves asas do lascivo vento...”. (Basílio da Gama)
4. Pastoralismo: o poeta, desnorteado com o avanço da urbanização das cidades, ao criar, se evade para um ambiente campestre onde se situa como um pastor, inclusive adotando um PSEUDÔNIMO (pseudo = falso e nimo = nome) pastoril. Ex.: “São estes os prados, Aonde brincava, Enquanto pastava O gordo rebanho
Que Alceu lhe deixou?”. 5. Uso de palavras latinas: devido à revalorização clássica greco-romana o LATIM língua falada na Roma Antiga é utilizado para compor características da escola árcade. • Fugere Urban: devido ao burburinho dos centros urbanos no século XVIII o poeta árcade desejou “fugir da cidade” para um lugar não corrompido pela civilização. • Lócus amoenus: ao fugir da agitação dos centros urbanos o poeta árcade buscou estalar-se num lugar ameno, calmo, pacato... o campo. • Carpe diem: ao chegar no local desejado o poeta deveria aproveita-lo o máximo possível daí a utilização do termo “carpe diem”, isto é, “aproveite o dia”, além de que o homem árcade tinha a consciência de que a vida terrena se finda, por isso a necessidade de aproveitala o quanto possível. • Inutilia truncat: princípio árcade de imitação da simplicidade formal dos clássicos contrária ao rebuscamento do Barroco. O termo significa “cortar as inutilidades” para o poeta árcade o rebuscamento barroco retirava a objetividade do texto tornando-o de difícil leitura, o que não era propósito dos árcades. Já a simplicidade por meio da moderação da linguagem e da emoção era obtida da natureza calma e amena. • Áurea mediocritas: fingir que eram pastores foi a saída encontrada pelos árcades para realizar (na imaginação) o ideal da “mediocridade dourada”, isto é, a louvação à vida equilibrada, espontânea, humilde, em contato com a natureza. Em Latim, o termo “áurea mediocritas” é entendido como “paz de espírito” e este era o ideal árcade da existência.
3. MANOEL MARIA DU BOCAGE CURIOSIDADE Você sabe por que o Arcadismo recebeu este nome? Arcádia, segundo a mitologia era um monte que ficava na Grécia Antiga. Tal monte era habitado pelo deus Pã (o deus das pastagens) que vivia lá com seus amigos pastores e algumas ninfas.
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MANOEL MARIA DU BOCAGE Poeta lírico neoclássico português, que tinha pretensão a vir a ser um segundo Camões, mas que dissipou suas energias numa vida agitada. Nasceu em Setúbal, em 15/09/1765 e morreu em Lisboa (21/12/1805), aos 40 anos de idade, vítima de um aneurisma. Ingressou na Nova Arcádia usando o pseudônimo de Elmano Sadino, também é conhecido como poeta obsceno e erótico na autoria de alguns sonetos satíricos. Notamos em sua obra o predomínio de uma “sensibilidade” do poeta; ao mesmo tempo uma “sensibilidade” sobre a razão, valorizando o sentimentalismo, marcado por um profundo sofrimento, pelo ciúme e o abandono, gerando um gosto pelo lado escuro da vida e tendo como única solução para seus problemas a morte, o que marca de certa forma a sua chegada ao Romantismo.
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COMPREENSÃO TEXTUAL
SONETO I Ó tranças, de que Amor prisão me tece, Ó mãos de neve, que regeis meu fado! Ó Tesouro! ó mistério! ó par sagrado, Onde o menino alígero(1) adormece! Ó ledos(2) olhos, cuja luz parece Tênue raio do sol! Ó gesto(3) amado, De rosas e açucenas semeado Por quem morrera esta alma, se pudesse! Ó lábios, cujo riso a paz me tira, E por cujos dulcíssimos favores Talvez o próprio Júpiter(4) suspira! Ó perfeições! Ó dons encantadores! De quem sois?... Sois de Vênus?(5) – É mentira; Sóis de Marília, sois de meus amores. Glossário 1- Cúpido / Literalmente, alígero significa rápido ligeiro. 2- Risonho alegre. 3- Significa rosto, é muito comum na poesia clássica. 4- Deus supremo, o pai de todos. 5 - Deusa da beleza e do amor. Comentários:
Tal soneto exemplifica a estética árcade. Neste, observamos a presença da natureza, bem como de figuras mitológicas como Vênus e Júpiter. O poema é construído tomando como tema à oposição beleza e o seu efeito sobre o poeta. As mãos da tágide tecituram o fado do poeta e os lábios da musa tiram a sua paz. A beleza dionisíaca da mulher amada é demonstrada ao longo do poema e, ao final, a mulher será comparada a Vênus (Afrodite), deusa da beleza e do amor e transparece tanto a mesma beleza, que mesmo Júpiter (Zeus) por ela suspira apaixonado. Soneto II “Importuna Razão, não me persigas; Cesse a ríspida voz que em vão murmura; Se a lei do Amor se força da ternura Nem domas, nem contrastas, nem mitingas:(1) Se acusas os mortais, e os não abrigas, Se (conhecendo o mal) não dás a cura, Deixa-me apreciar minha loucura, Importuna Razão, não me persigas. É teu fim, teu projeto encher de pejo(2) Esta alma, frágil vítima daquela Que, injusta e vária, noutros laços vejo: Queres que fuja de Marília bela, Que a maldiga, a desdenhe; e meu desejo É carpir,(3) delirar, morrer por ela.” Glossário 1– amansar, abrandar; 2- vergonha, pudor/ 3. sofrer, chorar Comentários: Nesse soneto fazem-se presentes traços do Arcadismo e também da estética romântica. Marília está em outros laços, este último vocábulo pode receber a conotação do termo ‘outros braços’. Essa visão real, essa “Importuna Razão” persegue o eu-lírico, que, aos invés de lhe dar ouvidos, prefere apreciar sua loucura. A Razão que é personificada pelo uso de iniciais maiúsculas, pede para o eu-lírico fuja da mulher amada, contudo, seu desejo “É carpir, delirar, morrer por ela.”
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É notório neste poema a existência de um conflito entre a razão árcade e a subjetividade romântica. SONETO III Oh retrato da morte, oh Noite amiga Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha de meu pranto, De meus desgostos secretária antiga! Pois manda Amor, que a ti somente os diga Dá-lhes pio(1) agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel, que a delirar me obriga E vós, oh cortesãos da escuridade Fantasmas vagos, mochos(2) piadores, Inimigos, como eu, da claridade! Em bandos acudi aos meus clamores; Quero a vossa medonha sociedade, Quero fartar meu coração de horrores. Glossário 1– piedoso. 2- espécie de coruja. Comentários: Bocage, neste poema, anuncia a vinda do Romantismo. A morte se faz presente, confunde-se com a noite e é amiga do eu-lírico, mais que isso, ela é a “Calada testemunha” do seu pranto. Além disso, surgem fantasmas e mochos, figuras noturnas, que tal como o poeta são inimigos da claridade. Claridade essa que não deve ser vista simplesmente como luz, mas sim como metáforas da luz do conhecimento e da razão, que se opõe à noite, ou seja, a incerteza, aos mistérios da alma, porém, essa atmosfera romântica, que envolve o eu-lírico, não atinge a mulher amada, que alheia a tudo isso, dorme tranqüilamente. SONETO IV Meu ser evaporei na lida(1) insana Do tropel(2) de paixões, que me arrastava Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava Em mim quase imortal a essência humana. De que inúmeros sóis a mente ufana(3) Existência falaz me não dourava! Prazeres, sócios meus e meus tiranos! Esta alma, que sedenta em si não coube No abismo vos sumiu dos desenganos. Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube Ganhe um momento o que perderam anos, Saiba morrer o que viver não soube.
Glossário 1- Vida 2- Grande confusão, desordem 3- Que se orgulha de algo Comentários:
Esse soneto, de tom confessional, é um dos poemas de Bocage mais reproduzidos no Brasil. Ele foi escrito pouco antes da morte de Bocage e é outro exemplo do pré-romantismo, porque a emoção, mais uma vez é contraída pela rigidez do verso. No poema, o eu-lírico nos mostra como a sua vida foi consumida em prazeres e amores. No último terceto ele invoca Deus, arrepende-se dos erros cometidos em vida e, mostrando que está totalmente reconciliado com a religião, espera encontrar na eternidade o perdão Divino.
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Cantiga Lírica de Amor
Trovadorismo
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1. RESUMO TEÓRICO NAQUELE TEMPO ... (CONTEXTO HISTÓRICO): A partir desse século, Portugal começava a afirmarse como reino independente, embora ainda mantivesse laços econômicos, sociais e culturais com o restante da Península Ibérica. Desses laços surgiu, próximo à Galícia (região ao norte do rio Douro), uma língua particular, de traços próprios, chamada galegoportuguês que consolida-se como língua falada e escrita da Lusitânia. Os árabes são expulsos para o sul da península, onde surgem os dialetos moçárabes. Em galego-português são escritos os primeiros documentos oficiais e textos literários não latinos da região, como os cancioneiros (coletâneas de poemas medievais), surgindo os Trovadores Medievais. O período histórico em que surgiu o Trovadorismo foi marcado por um sistema econômico e político chamado Feudalismo, que consistia numa hierarquia rígida entre senhores: um deles, o suserano, fazia a concessão de uma terra (feudo) a outro indivíduo, o vassalo. O suserano, no regime feudal, prometia proteção ao vassalo como recompensa por certos serviços prestados. Essa relação de dependência entre suserano e vassalo era chamada de vassalagem. Além da casta da nobreza e dos servos, havia ainda um outro grupo social: o clero. Nessa época, o poder da Igreja era bastante forte, visto que o clero possuía grandes extensões de terras, além de dedicar-se também à política. Os conventos eram verdadeiros centros difusores da cultura medieval, pois era neles que se escolhiam os textos filosóficos a serem divulgados, em função da moral cristã. A religiosidade foi um aspecto marcante da cultura medieval portuguesa. A vida do povo lusitano estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma. Nessa época, eram freqüentes as procissões, além das próprias Cruzadas - expedições realizadas durante a Idade Média, que tinham como principal objetivo a libertação dos lugares santos, situados na Palestina e venerados pelos cristãos. Essa época foi caracterizada por uma visão teocêntrica (Deus como o centro do Universo). Até mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos. Tanto a pintura quanto a escultura procuravam retratar cenas da vida de santos ou episódios bíblicos. Quanto à arquitetura, o estilo gótico é o que predominava, através da construção de catedrais enormes e imponentes, projetadas para o alto, à semelhança de mãos em prece tentando Tocar o céu. Classes Sociais: Nobreza (classe que pertenciam os suseranos) Servos - classe dos vassalos. Clero - possuía grandes extensões de terras, além de dedicar-
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se também à política. Trovador - alta nobreza ou clero, músico, poeta que compunham a letra e a música de canções. Em geral uma pessoa culta Segrel - nobre decadente, poeta, cantor. fidalgos desqualificados que iam de corteem corte, acompanhados por um jogral Jogral - cantores e tangedores ambulantes, geralmente de origem plebéia Menestrel – cantores, músicos-poetas sedentários; viviam na casa de um fidalgo, enquanto o jogral andava de terra em terra Soldadeira - mulheres que acompanham os jograis. Aumente seu vocabulário: A Trova possui o seu conceito plenamente estabelecido: é o poema de quatro versos setissílabos com rima e sentido completo. Já Quadra é toda estrofe formada por quatro linhas de uma poesia Trovador – É uma palavra da língua d’ oc, acusativo singular de “trobaire” (poeta), proveniente do verbo trobar (inventar, achar).Gênero Lírico - neste gênero, o amor é a temática predominante. São divididos em cantiga de amor e de amigo. O INÍCIO DO TROVADORISMO. A época do trovadorismo abrange as origens da Língua Portuguesa, a língua galaico-portuguesa (o português arcaico) compreende o período de 1189 a 1418. A tradição histórica considera como o primeiro texto literário português uma cantiga (poema musicalizado com viola, a harpa, a lira e o alaúde – as vezes, acompanhadas por bailarinos e artitas circenses - Os trovadores medievais escreviam em pergaminhos) escrita por Paio Soares de Taveirós, datada de 1189 ou 1198. O poema foi dedicado a d. Maria Pais Ribeiro – apelidada de Ribeirinha. Esta cantiga ficou conhecida como cantiga da Guarvaia. As cantigas, primeiramente destinadas ao canto, foram depois manuscritas em cadernos de apontamentos, que mais tarde foram postas em coletâneas de canções chamadas Cancioneiros (livros que reuniam grande número de trovas). “No mundo nom me sei parelha, mentre me for’ como me vai, ca já moiro por vós-e ai ! mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi em saia! Mao dia me levantei, que vos enton non vi fea! E mia senhor, des quel di’, ai! me foi a mi muin mal, e vós, filha de Don Paai Moniz, e bem vos semelha d’ aver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, dá alfaia nunca de vós ouve nen ei valia dua correa.”
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2. E HOJE EM DIA.... No mundo não conheço ninguém que se compare a mim em infelicidade, Enquanto minha vida continuar como vai indo, Porque já morro de amor por vós – e ai !minha senhora vestida de branco e de faces rosadas, quereis que eu vos descreva quando eu vos vi sem manto! Em infeliz dia me levantei,pois vos vi bela, e não feia! E, minha senhora, desde aquele dia, ai! tudo correu muito mal para mim, e vós, filha de Dom Paio Moniz, parece-vos suficiente e satisfatório que eu deva receber, por vosso intermédio uma guarvaia1 (por pintar vosso retrato) pois eu, minha senhora, na verdade como prova de amor nunca de vós recebi nem receberei nem o simples valor de uma 2correia. 1. Guarvaia: luxuoso vestuário de corte. 2. Ou seja, alguma coisa de valor.
3. CANTIGA LÍRICA DE AMOR COMPREENSÃO TEXTUAL
Nestas Cantigas de autoria masculina, o eu-lírico é masculino. O poema revela uma aspiração frustrada (O sofrimento amoroso é conhecido como coita), em que o poeta idealiza a mulher1 amada (Dama Palaciana pertencente a Nobreza Feudal), considerando-a inacessível, superior, divinizada, casta, angelical e distante). Por isso, vive um amor platônico ou platonismo e assume um comportamento servil (vassalagem amorosa), submisso diante dela (o amor cortês).
A mulher é chamada respeitosamente de mia senhor - (as palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino) - minha senhora - ou mia dona (Minha Dona) usando uma linguagem formal com eufemismos, obedecendo-se assim as regras e convenções da Mesura. A origem da cantiga de amor é a Provença, no sul de França, Existem dois tipos de cantigas de amor: as de refrão e as de mestria, que não tem refrão.
1. Na Idade Média, as pessoas casadas que pulam a cerca são
enterradas — as mulheres até o peito ou da cintura para baixo — e alvejadas pelo povão com pedras pequenas, até a morte ou eram queimadas nas fogueiras em praça pública. Se a traidora não for oficialmente casada, o castigo é mais leve: cem chibatadas. (Fonte: Revista Mundo Estranho)
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Love Song (Nuno Fernandes Torneol)
“Pois naci nunca vi Amor e ouço d’el sempre falar Pero sei que me quer matar mais rogarei a mia senhor que me mostr’aquel matador ou que m’ampare d’el melhor” Renato Russo
COMPREENSÃO TEXTUAL “Hun tal home sei eu, ai, bem talhada, que por vós ten a sa morte chegada; vedes quem é e seed’em nembrada: eu, mia dona! Hun tal home seu eu que preto sente de si morte chegada certamente: vedes quem é e venha-vos em mente: eu, mia dona! Hum tal home sei eu, aquest’óide: que por vós morr’e vo-lo en partide; vêdes quem é, non xe vos obride: eu, mia dona!” (Cancioneiro d’el-Rei D. Dinis)
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3. CANTIGA LÍRICA DE AMIGO A autoria desta cantiga lírica é masculina, expressa o sentimento amoroso (Coita), mas difere da Cantiga de Amor. A palavra amigo, na época, era sinônimo de namorado ou amante. Agora, o eu-lírico é feminino, ou seja, o trovador assume o ponto de vista da mulher (Fingimento Poético) e, por isso, não submetida as regras e convenções do casamento.
4. ASPECTOS ESTILÍSTICOS A Cantiga de Amigo, de origem ibérica, tem inspiração popular (rural – camponesa - o amor cantado é por uma mulher do mesmo nível social - ou urbana), o que explica sua linguagem coloquial, simples com uso constante de Paralelismo e refrão.
A mulher camponesa2, concreta-real (sensual, às vezes) se dirige em queixa ou lamento diretamente ao amigo, ou a mãe, irmãs, amigas ou algum elemento da natureza confidente (Animismo ou Personificação) onde exalta a necessidade do amor físico ou carnal3 e anseia pelo retorno do amado.
Ausência do amado – o eu-poético revela não saber seu paradeiro. Amor natural e espontâneo - algumas revelam que já foi realizado, e a moça espera por um bis Confissão dos sentimentos feito indiretamente ao amado – o eu-poético confessa seus sentimentos à outrem. É por isso que essas cantigas geralmente apresentam diálogos. Mulher mais próxima da realidade, que sofre pressão social, sua madre (mãe) exerce esse poder. Patriarcalismo - comportamento vigiado ou tolhido. Eu-poético Feminino e Autor Masculino – canção colocada na boca de uma moça do povo que exprime seu amor pelo “amigo” (namorado). Estrutura de poesia folclórica, uso de elementos reiterativos, principalmente, paralelismo e refrão. usicalidade: Paralelismo e refrão são recursos que dão musicalidade, reforçam a idéia principal do texto e facilitam sua a memorização. Paralelismo: repetição de expressões ou significados: Refrão: repetição de versos, geralmente no final de cada estrofe de um poema.
2. A situação feminina era ainda pior nas camadas sociais inferiores (burgueses e camponeses). Naturalmente, a descoberta da cortesia nas classes altas do século XII não se difundiu rapidamente por todo o corpo social. No século XIV um texto do direito de Aardenburgo (cidade flamenga que seguia o costume de Bruges) é muito chocante no que diz respeito à condição das mulheres burguesas: “Um homem pode bater na sua mulher, cortá-la, rachá-la de alto a baixo e aquecer os pés no seu sangue; desde que, voltando a cosê-la, ela sobreviva; ele não comete nenhum malefício contra o senhor.” 3. A iluminura mostra uma dama abraçando seu cavaleiro de uma maneira muito envolvente. O abraço amoroso é um tema comum nas pinturas dos cantores alemães. Sentado a seus pés, reclinado, fascinado por sua beleza e pelo contato físico de seu amor, o cavaleiro se entrega passivamente aos seus carinhos, com seus olhos nos olhos dela. Para aumentar a sensação de ternura da pintura, o iluminista colocou a dama debruçada suavemente sobre seu amado, com seu rosto tocando o dele. Repare, sua atitude é a de quem está tomando a iniciativa, especialmente pela posição de seu braço esquerdo, envolvendo Conrado.
Origem Ibérica: é uma cantiga que nasceu no seio popular e que talvez por esse motivo, sua ambientação é periférica, podendo a cantiga se classificada de acordo com seu ambiente:
Aplicações no Caderno de Exercícios
CANTIGAS MEDIEVAIS.
4. CLASSIFICAÇÃO • Alvas (quando se passam ao amanhecer):
Manifestação artística que ocorre durante a Idade Média. Era composta por poemas que possuíam uma forte relação com a musica. Daí a denominação cantigas medievais.
“Levantou-s’a velida (a bela) / Levantou-s’à alva; / e vai lavar camisas / e no alto (no rio) / vai-las lavar à alva (de madrugada)”. - D. Dinis. • Bailias (quando seu cenário é uma festa onde se dança): E no sagrado (local sagrado, possivelmente à frente de uma igreja), “em Vigo / bailava corpo velido (uma linda moça) amor ei!” - Martim Codax. • Romarias (sobre visitas a santuários, enquanto as “madres queymam candeas”): “Pois nossas madres van a San Simon / de Val de Prados candeas queimar (pagar promessas) / nós, as menininhas, punhemos d’andar (vamos passear). - Pero de Viviães.” • Barcarolas ou Marinhas (falam do temor de que o “amigo” vá às expedições marítimas; do perigo de que ele não volte mais. “Vi eu, mia madr’ , andar / as barcas e no mar, / e moiro de amor!” - Nuno Fernandes Torneol • Pastorelas (quando seu cenário é o campo, próximo a rebanhos): “Oi (ouvi) oj’eu ua pastor andar, / du (onde) cavalgava perua ribeira, / e o pastor estava i senlheira, (sozinha) / a ascondi-me pola escuitar... - Airas Nunes de Santiago.”
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HUMANISMO I
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HUMANISMO
Costuma-se enquadrar Gil Vicente na segunda época da literatura medieval portuguesa, uma época de transição da idade média para o renascimento, denominada de Humanismo. Humanismo é o nome que se dá a um movimento intelectual, um comportamento e uma postura artística que representa a transição entre cultura européia medieval e a cultura do Renascimento. Teve o seu início na Itália, entre o fim do século XIII e o início do século XIV. Os humanistas acreditavam que a natureza como testemunho da grandeza e da bondade de Deus, como elemento digno de ser valorizado e estudado racionalmente. Aprenderam também a reconhecer no homem quali-
dades superiores: a razão, a iniciativa, a capacidade de transformar a história e a natureza, o seu poder de infl uência na construção de seu próprio destino. Esta visão de mundo otimista, assimilada de grandes clássicos da Antiguidade, foi o germe do antropocentrismo, que viria a caracterizar o Renascimento. Acreditavam também na busca de retorno ao cristianismo original, daí advém a crítica ao comportamento da Igreja Romana. Os humanistas repugnavam ao autoritarismo e aos desvios em relação às fontes da doutrina cristã (os Evangelhos) que igreja medieval praticava. Além disso, a difusão dos estudos clássicos (a língua, a literatura, a filosofia, a religião e a história da antiguidade greco-romana) despertou o interesse pela investigação da natureza e o gosto pela investigação racional (racionalismo). Os humanistas trouxeram de novo uma atitude de liberdade intelectual de que a escolástica não dispuha. Essa independência levou a conquistas que abalaram o teocentrismo. Dentre elas, uma das mais expressivas é a valorização da ação e da necessidade que o homem possui em dominar a natureza (valorização do homem e da natureza). A mentalidade humanista impregnou todas as artes de novos valores e formas de expressão, preparando o terreno para a virada estética do Classicismo renascentista.
2. HUMANISMO E A FARSA DO VELHO DA HORTA O drama “VELHO DA HORTA” revela influência dos princípios adotados pelos humanistas na medida em que apresenta: Influência das encanações litúrgicas – caráter moralizante – as peças tem como objetivo reformar os comportamentos. Uso de redondilha de e rimas – o teatro poético vicentino visava facilitar a memorização dos assuntos tratados Temas que exploram os costumes humanos em fatos que buscam a conscientização da degeneração moral – o homem tomando consciência de seus defeitos morais. Humor e Ironia / crítica e ridicularização – uso do
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Os temas das farsas dizem respeito à realidade do Portugal quinhentista; e por isso, além de jóias de fantasia e de poesia, esses textos são curiosíssimos documentos de vida. PICCHIO, Luciana Stegagno. História do Teatro Português, trad. port. Lisboa, 1969, p. 67.
Na forma mais simples, a farsa reduz-se a um episódio cômico colhido em fl agrante na vida da personagem típica (...).
1. O TEATRO MEDIEVAL PORTUGUÊS A origem do teatro português está relacionada à figura de Gil Vicente que é considerado o fundador do teatro lusitano. Antes dele, parece ter havido uma produção de caráter religioso, mas não há registros devidamente documentados. O estudo que desenvolveremos agora colocará as obras de Gil Vicente como representantes das manifestações dramáticas da Idade Média.
3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A FARSA
lema clássico: ridendo castigat mores – rindo mudamos os maus hábitos. Teatro popular: feito para agradar aos populares, daí a musicalidade e o Humor, serem elementos importantes. Tipos Sociais: personagens que revelam tipos muito comuns da sociedade. Linguagem híbrida: Mistura do idioma lusitano, à época o português arcaico, com uma modalidade do castelhano, também arcaico.
Análises e comentários: André Belém
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SARAIVA, J. A & LOPES, O. História da Literatura Portuguesa, 8.o ed., págs.201 e 202.
Roteiro para agilizar o entendimento da Obra 1. Apresentação
Sucinta, mas rigorosa, pois analisa os fatos principais ligados a obra, enumerando os momentos mais relevantes, bem como aspectos extra-textuais como sua data de apresentação, que ajuda no entendimento das circunstâncias de sua encenação. APRESENTAÇÃO DA FARSA DO VELHO DA HORTA Esta farsa é o seu argumento o seguinte que um homem honrado e muito rico, já velho tinha uma horta; e andando uma manhã por ela espairecendo, sendo o seu hortelão fora, veio uma moça de muito bom parecer bus car hortaliça, e o velho em tanta maneira se enamorou dela que, por via de uma alcoviteira, gastou toda a sua fazenda. A alcoviteira foi açoitada, e a moça casou honradamente. Entra logo o velho rezando pela horta. 2. Cena I Entra o Velho rezando, misturando latim com português. A oração dá ao personagem um falsa impressão de beatice e religiosidade, que depois irá contrastar com sua postura de assédio da moça e de crença no misticismo que alcoviteira irá apresentar. Isso dá à oração um aspecto cômico, de beatice e ignorância religiosa. VELHO —Pater noste criador, qui es in coelis, poderoso santific tur, senhor nomem tuum vencedor Adveniat a tua graça, regnum tuum sem mais guerra; voluntas tua se faça. sicut in coelo et in terra. 3. Cena II A postura que o Velho assume com a entrada da Moça apresenta caracteriza-se por uma ambigüidade que está entre a mera cortesia e o galanteio, que ira evoluir para uma admiração progressiva e obsessiva. Seu discurwww.portalimpacto.com.br
so amoroso apresenta os seguintes temas: • Amor que revigora; • Amor que aprisiona; • Amor que é risco; • Amor que se acende com rejeição; • Amor que é morte antecipada; • Amor que é sofrer e querer sofrer; • Amor que é cego; • Amor que é irracional; • Amor que se doa, transporta-se totalmente para o outro etc. Entra a MOÇA na horta e diz o VELHO: VELHO — Senhora, Benza-vos Deus! MOÇA — Deus vos mantenha, senhor. VELHO — Onde se criou tal fl or, eu diria que nos céus. MOÇA — Mas no chão. VELHO — Pois damas se acharão, que não são vosso sapato. MOÇA — Ai! Como isso é tão vão E como as lisonjas são de barato! ........................................................ Assim cantando, colheu a MOÇA da horta o que vinha buscar e, acabado, diz: Eis aqui o que colhi; vede o que vos hei de dar. VELHO — Que me haveis vós de pagar, pois que me levais a mi? Oh coitado! Que amor me tem entregado e, vosso poder me fino, porque sou de vós tratado como pássaro de mão dado de um menino! MOÇA — Senhor, com vossa mercê. VELHO — Por eu não ficar sem a vossa, queria de vós uma rosa. MOÇA — Uma rosa? Para quê? VELHO — Porque são colhidas de vossa mão, deixar-me-ies alguma vida, não isenta de paixão mas será consolação na partida. MOÇA — Isso é por me deter. Ora tomai, (e) acabar! Tomou-lhe o Velho a mão: Jesus! E quereis brincar Que galante e que prazer! VELHO — Já me deixais? Eu não vos esqueço mais e nem fico só comigo. Oh martírios infernais! Não sei por que me matais, nem o que digo.
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CENA V Ao término de sua colheita, a Moça é surpreendida pelo assédio do velho que ao lhe pedir uma das rosas colhidas tentou segurar sua mão. Isso aumentou nela a indignação e o desprezo e lhe precipitou a partida. O velho fica e põe a rosa em sua cabeça. 4. Cena III Sai a personagem feminina e entra o parvo, criado do velho, que a mando da patroa foi saber o motivo da demora na horta e foi chamá-lo para jantar. Vem um PARVO, criado do velho, e diz: PARVO — Dono, dizia minha dona que fazeis vós cá té à noite? VELHO — Vai-te! queres que t’açoite? Oh! Dou ao demo a intrujona sem saber! PARVO — Diz que fosseis vós comer e não demoreis aqui. VELHO — Não quero comer, nem beber. PARVO — Pois que haveis cá de fazer? VELHO — Vai-te daí! ............................................................................................ PARVO — Assim, por Deus! Então tanta pulga em vós, tanta bichoca nos olhos, ali, cos finados, sós, e comer-vos-ão a vós os piolhos. Comer-vos-ão as cigarras e os sapos! Morrei! Morrei! Mesmo abandonado pela sua paixão o velho continua a evocá-la em seu discurso como a razão de sua perda de apetite e seu desejo de morte, para o espanto do Parvo. Este, cria um discurso cômico no qual seu patrão passaria de comedor para comido. Ele não entende o alheamento de seu amo, por estar preso as coisas prática da vida. Como comer, por exemplo. VELHO — Deus me faz mercê de me soltar as amarras. Vai saltando! Aqui te fico esperando; traze a viola, e veremos. PARVO — Ah! Corpo de São Fernando! Estão os outros jantando, e cantaremos?!... VELHO — Fora eu do teu teor, por não se sentir esta praga de fogo, que não se apaga, nem abranda tanta dor... Hei de morrer. PARVO — Minha dona quer comer; Vinde, infeliz, que ela brada! Olhai! eu fui lhe dizer dessa rosa e do tanger, e está raivada!
Pelo céu sagrado, que meu dono está danado! viu ele o demo no ramo. Se ele fosse namorado, logo eu vou buscar outro amo. Saída definitiva do parvo: em suas últimas palavras revela um contraste entre seu apelo material e o apelo ideal de seu amo. 5. Cena IV Entra a mulher do Velho. Ao perceber que seu Marido estava com uma rosa na cabeça, indica-lhe a idade avançada, propõe-lhe mudar os costumes. O velho não lhe dá ouvidos, termina por expulsá-la da horta. Vem a MULHER do VELHO e diz: Hui! que sina desastrada! Fernandeanes, que é isto? VELHO — Oh pesar do anticristo, Oh velha destemperada! Vistes ora? MULHER — (E) esta dama, onde mora? Hui! infeliz dos meus dias! Vinde jantar em má hora; (por) que vos meteis agora em musiquias? MULHER — Já vos estais em idade de mudardes os costumes. VELHO — Pois que me pedis ciúmes, eu vo-los farei de verdade. MULHER — Olhai a peça! VELHO — Que o demo em nada me empeça, Senão morrer de namorado. MULHER — Está a cair da tripeça e tem a rosa na cabeça e embeiçado!... VELHO — Deixai-me ser namorado, porque o sou muito em extremo! MULHER — Mas que vos tome inda o demo, se vos já não tem tomado! VELHO — dona torta, acertar por essa porta, velha mal-aventurada! Saia, infeliz, desta horta! MULHER — Hui, meu Deus, que sereis morta, ou espancada! VELHO — Estas velhas são pecados, santa Maria val com a praga! tanto mais são endiabradas! “Volvido nos han volvido. volvido nos han: por una vecina mala meu amor tolhe-me a fala. volvido nos han.”
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Entrada da alcoviteira Branca Gil. Seu objetivo e roubar o velho. Essa cena pode ser dividida em três momentos: PRIMEIRO MOMENTO: o velho troca cortesias com a alcoviteira. Ela mostra-se conhecedora de práticas de bruxaria. Ao revelar saber onde mora a moça e quem ela é, o Velho passa mal. SEGUNDO MOMENTO: a alcoviteira faz uma ladainha. Acredita-se hoje que os santos citados por ela, eram pessoas da corte. Roga que ele melhore e consiga realizar seu desejo. TERCEIRO MOMENTO: Branca Gil diz ir ver a Moça e ao retornar revela ao Velho que para ele seduzir a amada, precisa gastar. Ele confia e entrega seu dinheiro para a Alcoviteira, mas ela fica o dinheiro dele para si. Entra Branca Gil, ALCOVITEIRA, e diz: Mantenha Deus vossa mercê. VELHO — Olá! Venhais em boa hora! Ah! Santa Maria! Senhora, Como logo Deus provê! ALCOVITEIRA — Certo, oh fadas! Mas venho por misturadas, e muito depressa ainda. ................................................................ VELHO — Isso é o que sempre brado, Branca Gil, e não me val, que (eu) não daria um real por homem desnamorado. Porém, amiga, se nesta minha fadiga vós não sois medianeira. não sei que maneira siga. nem que faça, nem que diga, nem que queira. ALCOVITEIRA — Ando agora tão ditosa (louvores a Virgem Maria!), que logro mais do que queria pela minha vida e vossa. De antemão, faço uma esconjuração é um dente de negra morta ante(s) que entre pela porta qualquer duro coração que (a) exorta.
Ó precioso Santo Areliano, mártir bem-aventurado, tu que foste marteirado neste mundo certo e um ano; Ó São Garcia Moniz, tu que hoje em dia fazes milagres dobrados, dá-lhe esforço e alegria, pois que és da companhia dos penados! Ó apostolo São João Fogaça, tu que sabes a verdade, pela tua piedade, que tanto mal não se faça! Ó senhor Tristão da Cunha, confessor, O mártir Simão de Sousa, pelo vosso santo amor, livrai o velho pecador de tal cousa! Ó Santo Martim Afonso de Melo, tão namorado, dá remédio a este coitado, e eu te direi um reponso com devoção! Eu prometo uma oração, todo dia, em quatro meses, por que lhe deis força, então, Meu senhor São Dom João de Meneses! ................................................................ ALCOVITEIRA— Sus! Nome de Jesus Cristo! Olhai-me pela cestinha. VELHO — Tornai logo, fada minha que eu pagarei bem isto. Vai-se a Alcoviteira, e fica o Velho tangendo e cantando a seguinte cantiga “Pues tengo razón, señora, razón es que me la oiga!
VELHO — Dizede-me: quem é ela? ALCOVITEIRA — Vive junto com a Sé. Já! já! Já! Bem sei quem é! É bonita como estrela, uma rosinha de abril. uma frescura de maio. tão manhosa, tão sutil!... VELHO — Acudi-me, Branca Gil, que desmaio. Esmorece o VELHO e a ALCOVITEIRA começa a sua reza: www.portalimpacto.com.br
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Vem a Alcoviteira, e diz o VELHO: Venhai em boa hora, amiga! ALCOVITEIRA — Já ela fica de bom jeito; mas, para isto andar direito é razão que vo-lo diga: eu já, senhor meu, não posso sem gastardes bem do vosso. vencer ua moça tal. VELHO — Eu lhe pagarei em grosso. ALCOVITEIRA — Ai está o feito nosso e não em al. Perca-se toda a fazenda, por salvades vossa vida! VELHO — Seja ela disso servida, que escusada é mais contenda. ....................................................................
Dei, má-hora, uma topada. Trago as sapatas rompidas Desta vindas, destas idas, e enfim não ganho nada. VELHO — Eis aqui dez cruzados para ti. ALCOVITEIRA—Começo com boa estréia!
4. CENA VIII Chegada de uma mocinha para comprar couve e cheiros. Ela conta ao Velho que Branca Gil acabava de ser chicoteada, enquanto os executores apregoavam ao público que ela estava sendo castigada: “Por mui grande alcoviteira e para sempre degradada”. Conta ainda que, enquanto isso acontecia, passava um cortejo com uma formosa moça, “que vivia ali à Sé” para se casar. O velho, percebendo que se trata de sua amada, lastima-se:
Vais-se e o VELHO torna a prosseguir a sua música e, acabada, torna a ALCOVITEIRA e diz:
2. CENA VI Entra um alcaide (autoridade) seguido de quatro beleguins (policias). O diálogo revela que eles já conhecem a alcoviteira e ela já foi presa e castigada outras vezes. Chama a atenção a bonomia com que trata os policias, no que é duramente repreendida.
Vem um ALCAIDE com quatro BELEGUINS, e diz:
Dona, levantai-vos daí! ALCOVITEIRA — Que me quereis vos assi? ALCAIDE — À cadeia VELHO — Senhores, homens de bem, escutem vossas senhorias. ALCAIDE — Deixai essas cortesias! ALCOVITEIRA — Não hei medo de ninguém, vistes ora! ALCAIDE — Levantai-vos daí, senhora, dai ao demo esse rezar! Quem vos fez tão rezadora? ALCOVITEIRA — Deixai-me ora, na má-hora, aqui acabar! ALCAIDE — Vinde da parte d’el Rei! ALCOVITEIRA — Muita vida seja a sua. Não me leves pela rua; deixai-me vós, que me irei. BELENGUINS — Sus! andar! ALCOVITEIRA — Onde me queireis levar. ou quem me manda prender? Nunca havedes de acabar de me prender e soltar? Não há poder! ALCAIDE — Nada se pode fazer ALCOVITEIRA — Está já a carocha aviada?!... Três vezes fui já açoitada e, enfim, hei de viver
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3. CENA VII Solilóquio no qual o velho revela sua tristeza diante da prisão de sua ajudante. O sonho de realização amorosa parece -lhe distante. Levaram-na presa e fica o VELHO dizendo: Oh! que má-hora! Ah! Santa Maria! Senhora! Já não posso livrar-me bem. Cada passo se empiora! Oh! Triste quem se enamora de alguém!
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Vem uma MOCINHA à horta, e diz: Vedes aqui o dinheiro? Manda-me cá minha tia, que assim como noutro dia lhe mandeis a couve e o cheiro. Estas pasmado? VELHO — Mas estou desatinado. MOCINHA-Estais doente, ou que haveis? VELHO — Ai! não sei! desconsolado, que nasci desventurado . MOCINHA — Não choreis,mais mal fadada vai aquela! VELHO — Quem? MOCINHA — Branca Gil. VELHO — Como? MOCINHA-Com cem açoites no lombo, uma carocha por capela,e atenção ! Leva tão bom coração como se fosse em folia. Que pancadas que lhe dão! E o triste pregão — porque dizia: “Por mui grande alcoviteira e para sempre degredada”, vai tão desavergonhada, como ia a feiticeira. E, quando estava, Uma moça que passava na rua, para ir casar, e a coitada que chegava a folia começava de cantar: ua moça tão fermosa que vivia ali na Sé... VELHO — Oh coitado! A minha é! MOCINHA -E agora má hora é a vossa! Vossa é a treva. Mas ela, o noivo a leva. Vai tão leda, tão contente. Uns cabelos como Eva; Por certo que não se lhe atreva toda gente! O noivo, moço polido não tirava os olhos dela, www.portalimpacto.com.br
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e ela dele, Oh que estrela! É ele um par bem escolhido! VELHO — Ó roubado, da vaidade enganado. da vida e da fazenda! Ó velho, siso enleado! Quem te meteu desastrado em tal contenda? Se os jóvenes amores, os mais têm fins desastrados, que farão as cãs lançadas no conto dos amadores Que sentias, triste velho, em fim dos dias Se a ti mesmo contemplaras, souberas que não sabias e viras como não vias e acertaras. Quero me ir buscar a morte, pois que tanto mal busquei. Quatro filhas que criei eu as pus em pobre sorte. Vou morrer. Elas hão de padecer, porque não lhe deixo nada; da quantia riqueza e haver fui sem razão despender, mal gastada.
Gil Vicente, tal como costuma ser representadoGil Vicente (1465? — 1536?) é geralmente considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta de renome. Há quem o identifique com o ourives, autor da Custódia de Belém, mestre da balança, e com o mestre de Retórica do rei Dom Manuel. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, actor e encenador. É frequentemente considerado, de uma forma geral, o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico já que também escreveu em castelhano - partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina. A obra vicentina é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o balanço de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis, para uma nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao questioná.
Aplicações no Caderno de Exercícios
3. O TEMPO:
A farsa apresenta um certo desprezo do autor por essa categoria. Isso se observa por meio da não preparação das cenas de entrada e de saída das personagens, além da precipitação de alguns quadros e situações. OS PERSONAGENS
VELHO - Caracterizado, sem introspecção psicológica, como personagem ambíguo. Como TIPO, ele generaliza todas as pessoas que são revestidas por uma falsa religiosidade. Apaixona-se pela moça e perde o bom senso. Funciona como protagonista problemático e labioso. Preste atenção em seu discurso amoroso, que envolve sabedoria e poeticidade. MOÇA - Caracterizada como mulher firme e decidida, que sabe muito bem se proteger das investidas do velho. Às vezes, é dócil e carinhosa, às vezes é irônica e sarcástica. Sua rejeição é que desenvolve a trama. PARVO - Criado do velho, ingênuo e subserviente ao seu senhor. Este o considera incapaz de compreender “atitudes amorosas”, pois longe da complexidade do Amor, só encontra objetivos em necessidades básicas, no caso, alimentação. Entra na farsa com o objetivo de chamar o velho para jantar. ALCOVITEIRA - Tipo comum na fisionomia social da época. Mulher que se caracteriza pela retórica a favor de sua ambição. Chama-se Branca Gil, com a desculpa de ajudar o velho a conquistar sua amada, acaba por enganá-lo, mas é castigada no final da farsa. Outros: A Mulher do velho (inconformada, mas submissa ao patriarcalismo); Alcaide e Beleguins (que representam a justiça); e a Mocinha (que dá as boas-novas ao velho) LINGUAGEM: Apesar desse texto não ser o original, mesmo nele se percebe algumas características da falada pela população na época, já que alguns termos já caíram completamente no desuso. Cita-se: carocha, capela, al, etc. _________________________________________ Mintra posta na cabeça dos condenados da Inquisição. Isto é: e tome cuidado!
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AUTO DO VELHO DA HORTA
O Teatro de Gil Vicente - 1512 Esta farsa é o seu argumento, que um homem honrado e muito rico, já velho, tinha uma horta. E andando uma manhã por ela espairecendo, sendo o seu hortelão fora, veio uma moça,de muito bom parecer buscar hortaliça e o Velho em tanta maneira se namorou dela que por via de uma Alcoviteira passou toda sua fazenda. A Alcoviteira foi açoutada e a Moça casou honradamente. Entre logo o velho rezando pela horta. Foi representada ao mui sereníssimo rei dom Manuel, o primeiro deste nome. Era do Senhor de 1512.
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A Era Romântica ou Moderna
romantismo I
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1. RESUMO CARACTERÍSTICAS. 1-Individualismo (Egocentrismo) e Subjetivismo
Metade do Século XIX Momento Histórico: Revolução Francesa Em Portugal: Invasão Napoleônica / Revolução Liberal e Constitucionalista No Brasil: Independência Características: • Primeiro estilo de época em que predominam os padrões da burguesia em ascensão, corresponde, assim, ao abandono dos padrões aristocrático da arte clássica, (Arcadismo) substituídos pêlos ideais de simplicidade, sinceridade e individualidade da arte burguesa. • A Literatura Romântica, por um lado, valoriza tudo o que vem do povo, mas, por outro lado, foge da realidade deste mesmo povo, refugiando-se nos temas do “eu”, do sonho, do passado e da natureza.(Escapismo e evasão) • Caracteriza ainda o Romantismo a defesa da pátria e da liberdade; a divisão do mundo em heróis e bandidos (Maniqueísmo); o “mal do século” (melancolia, desejo de morte); o sentimentalismo. • A poesia romântica se divide em três correntes: Indianista (Nacionalista), Byroniana (Ultra – romântica) e Condoreira (Abolicionista ou Hugoana).
2-Liberdade artística e reação a estética neoclássica 3- Idealismo: o mundo é como eu vejo. 4-Solidão – Ócio e Blazé. 5-Um novo sentido do amor – Platonismo (Mundo inteligível) e Idealização Amorosa da Mulher. 6-Culto a Natureza – Panteísmo, Deísmo e Animismo. 7- Sertanismo (Regionalismo) 8- Procura da língua brasileira 9- Religiosidade e Misticismo. 10-Sonho, fantasia e Imaginação – Escapismo e Evasão. 11-O culto do passado 11.1- Passado histórico: textos sobre a vida na Idade Média. 12.2-Passado individual: textos sobre a infância e a adolescência dos escritores
2. A PRIMEIRA GERAÇÃO - NACIONALISTA E O INDIANISMO DE GONÇALVES DIAS CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL O Romantismo brasileiro nasce das possibilidades que surgem com a Independência política e suas conseqüências sócio-culturais: o novo público leitor, as instituições universitárias e, acima de tudo, o nacionalismo ufanista que varre o país, após 1822, e do qual os escritores são os principais intérpretes. Contribuir para a grandeza da nação através de uma literatura que fosse o espelho do novo mundo e de sua paisagem física e humana, eis o projeto ideológico da primeira geração romântica. Há um sentimento de missão: revelar todo o Brasil, criando uma literatura autônoma que nos expressasse. O Romantismo se opunha à arte clássica, e Classicismo aqui significava dominação portuguesa. O Romantismo voltava-se para a natureza, para o exótico; e aqui havia uma natureza exuberante, etc. Tudo se ajustando para o desenvolvimento de uma literatura ufanista.
GONÇALVES DIAS O poeta Antônio Gonçalves Dias, que se orgulhava de ter no sangue as três raças formadoras do povo brasileiro (branca, indígena e negra), nasceu no Maranhão em 10 de agosto de 1823. Em 1840 foi para Portugal cursar Direito na Faculdade de Coimbra. Ali, entrou em contato com os principais escritores da primeira fase do Romantismo português. Em 1843, inspirado na saudade da pátria, escreveu “Canção do Exílio”. No ano seguinte graduou-se bacharel em Direito. De volta ao Brasil, iniciou uma fase de intensa produção literária. Em 1849, junto com Araújo Porto Alegre e Joaquim Manuel de Macedo, fundou a revista “Guanabara”. Em 1862 retornou à Europa para cuidar da saúde. Em 1864, durante a viagem de volta ao Brasil, o navio Ville de Boulogne naufragou na costa brasileira. Salvaram-se todos, exceto o poeta que, por estar na cama em estado agonizante, foi esquecido em seu leito. Se por um lado deve-se a Gonçalves de Magalhães a introdução do Romantismo no Brasil, por outro, deve-se a Gonçalves Dias a sua consolidação. Isso porque o poeta trabalhou com maestria todas as características iniciais da primeira fase do Romantismo brasileiro. De sua obra, geralmente dividida em lírica, medieval e nacionalista, destacam-se “I-juca Pirama”, “Os Tibiramas” e “Canção do Tamoio”.
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4. Textos Para Análise I - JUCA PIRAMA Meu canto de morte Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci: Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi. Comentário: Este texto é uma espécie de síntese do indianismo de Gonçalves Dias seja pela concepção épicodramática da bravura e da generosidade de tupis e timbiras, seja pela ruptura, ainda que momentânea, da convencional coragem guerreira, seja ainda pelo belíssimo jogo de ritmos que ocorre no texto. I-Juca Pirama significa “aquele que vai morrer” ou “aquele que é digno de ser morto”. Em sua abertura, o poeta apresenta o cenário onde transcorrerá a história.
II- CANÇÃO DO EXÍLIO Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar - sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.” Comentário: a celebração da natureza entrelaça-se também com o sentimento saudosista. Gonçalves Dias é um homem nostálgico que, na Europa, sentira-se exilado. Por isso, a memória a todo momento o arrasta até a terra natal. E a pátria aparece sempre como natureza: palmeiras, céu, estrelas, várzeas, bosques e o sabiá. Canção do exílio sintetiza esta identificação entre o país e sua expressão física.
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Este texto clássico argumenta que mesmo em Portugal, (onde o poema é escrito, no ano de 1843) há árvores e aves, bosques e várzeas. Aliás, em todos os países há uma natureza interessante a ser cantada. Mas, para Gonçalves Dias, é só na moldura do solo pátrio, que a natureza (brasileira) adquire um maior valor, um valor que em nenhum outro lugar ela pode ter. Estamos diante da essência do ufanismo romântico: minha pátria é a melhor. Por outro lado, trata-se de uma verdade humana definitiva: qualquer indivíduo no exílio - independente da terra natal ser boa ou ruim - sempre guardará por ela uma amorosa e obstinada saudade.
III – SEUS OLHOS Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, De vivo luzir, / Estrelas incertas, que as águas dormentes / Do mar vão ferir;Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, / Têm meiga expressão, / Mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta .De noite cantando, — mais doce que / a frauta. Quebrando a solidão, Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, / De vivo luzir, São meigos infantes, gentis, engraçados. Brincando a sorrir.São meigos infantes, brincando, saltando / Em jogo infantil, Inquietos, travessos; causando tormento, Com beijos nos pagam a dor de um momento, Com modo gentil.Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, Assim é que são; Às vezes luzindo, serenos, tranqüilos, Às vezes vulcão!Nas almas tão puras da virgem, do infante, Às vezes do céu / Cai doce harmonia duma Harpa celeste, / Um vago desejo; e a mente se veste De pranto co’um véu.Quer sejam saudades, quer sejam desejos Da pátria melhor; Eu amo seus olhos que choram em causa / Um pranto sem dor. Comentário: A lírica amorosa de Gonçalves Dias é marcada pelo sofrimento. Em seus poemas, o amor raramente se realiza, é sempre ilusão perdida, impossibilidade vital de relacionamento. Entre a esperança e a vivência, entre a intenção e o gesto estão os abismos da experiência concreta. E a experiência concreta remete para o fracasso. Apaixonar-se é, pois, predispor-se à angústia e à solidão. O poeta confessa sua afetividade, suplica a paixão da mulher, mas não obtém resposta. Resta-lhe, pois, o desespero.
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A Era Romântica ou Moderna
romantismo II 2ª Geração Romântica: Álvares de Azevedo
3. RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DESTA GERAÇÃO
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1. PANORAMA HISTÓRICO Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu na cidade de São Paulo em 12 de setembro de 1831. Ainda criança transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, onde fez o curso primário. Em 1848, retornou a São Paulo e matriculou-se no curso de Direito. Nessa cidade não se sabe ao certo como foi sua vida. Alguns dizem que viveu uma intensa e tumultuada vida boêmia, já outros falam que sua vida foi calma e serena. O que sabemos ao certo é que durante esse período sua produção poética foi muito intensa. A partir de 1851 o poeta passa a ter fixação pela idéia da morte. Isso fica claro nas cartas destinadas à mãe e à irmã. Em 25 Abril de 1852, quando tinha apenas 20 anos, Álvares de Azevedo morreu vítima de tuberculose, deixando uma obra relativamente extensa, para quem viveu tão pouco. Álvares de Azevedo, representante brasileiro mais legítimo do mal-do-século, foi fortemente influenciado por Lord Byron e Musset. Sua poesia é marcada pelo subjetivismo, melancolia e um forte sarcasmo. Os temas mais comuns são o desejo de amor e a busca pela morte. O amor é sempre idealizado, povoado por virgens misteriosas, que nunca se transformam em realidade, causando assim a dor e a frustração que são acalmadas pela presença da mãe e da irmã. Já a busca pela morte tem o significado de fuga, o eu-lírico sente-se impotente frente ao mundo que lhe é apresentado e vê na morte a única maneira de libertação. De sua obra, toda ela publicada postumamente, destacam-se os contos do livro “Noite na Taverna” (1855), a peça de teatro “Macário” (1855) e o livro de poesias “Lira dos Vinte Anos” (1853).
1- Fuga da realidade/ Evasão/ Escapismo: os autores não encaravam de frente a realidade, preferiam fugir dela através do tempo, resgatando o passado, a infância; através do espaço, criando lugares inexistentes e ilusórios e da morte. 2- Morbidez: temas que envolviam uma fixação por morte. 3- Pessimismo exagerado 4- Visão espiritualizada da mulher, endeusada: a mulher era comparada a seres como anjos, ninfas, santas, de maneira a abstraí-la. 5- Egocentrismo exagerado 6- Clima noturno, soturno, sombrio, por vezes satânico, lúgubre COMPREENSÃO TEXTUAL Texto 01
Meus olhos turvos se fechar de gozo! Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas Passam tantas visões sobre meu peito! Palor de febre meu semblante cobre, Bate meu coração com tanto fogo! Um doce nome os lábios meus suspiram, Um nome de mulher... e vejo lânguida No véu suave de amorosas sombras Seminua, abatida, a mão no seio, Perfumada visão romper a nuvem, Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras O alento fresco e leve como a vida Passar delicioso... Que delírios! Acordo palpitante... inda a procuro; Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas Banham meus olhos, e suspiro e gemo... Imploro uma ilusão... tudo é silêncio! Só o leito deserto, a sala muda! Amorosa visão, mulher dos sonhos, Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto! Nunca virás iluminar meu peito Com um raio de luz desses teus olhos?
Oh! ter vinte anos sem gozar de leve A ventura de uma alma de donzela! E sem na vida ter sentido nunca Na suave atração de um róseo corpo
Aplicações no Caderno de Exercícios
2. ARIEL E CALIBAN Ora puro e casto, carinhoso e dedicado à mãe e à irmã, ora retratado perverso como algum de seus personagens, Álvares de Azevedo é sempre motivo de controvérsia. A verdade suprema que podemos dizer sobre isso é que Álvares de Azevedo era um adolescente, e como todos os outros, arrebatado pelos impulsos e devaneios da juventude, manifestando em sua obra a contradição que talvez ele mesmo sentisse como jovem. Ainda mais importante do que a binômia de sua vida é a binômia de sua obra, que deve ser estudada com toda cautela que merece uma leitura de Álvares de Azevedo. “Cuidado, leitor, ao voltar esta página! Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha de Baratária de D. Quixote, onde Sancho é rei.[...] Quase depois de Ariel esbarramos em Caliban.” diz ele mesmo no segundo prefácio de Lira dos Vinte Anos, e continua: “A Razão é simples. É que a unidade deste livro e capítulo fundase numa binomia. Duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas faces.”
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Ariel e Caliban são personagens mitológicos que representam, respectivamente, o bem e o mal, incorporados por Shakespere em sua famosa peça “A Tempestade”. Na obra de Álvares de Azevedo Ariel representa a primeira face do autor, caracterizada por um amor puro, casto e inocente, marcada também pela idealização da mulher. Nessa fase, representada principalmente pela primeira parte de Lira dos Vinte Anos, a mulher é retratada bela, pálida, e de olhos claros, de acordo com os moldes europeus, e ainda idealizada como virgem, pura e angelical. O amor, também idealizado, é jóia preciosa e uma das únicas coisas na vida pela qual se vale à pena viver, sofrer ou morrer. A face de Caliban é representada pela melancolia e morbidez do poeta, componentes do chamado Spleen ou Mal do século. Essa parte de sua obra é representada principalmente pela segunda parte de Lira dos Vinte Anos, pelo poema “Idéias Íntimas” e “Spleen e Charutos” e ainda pela peça teatral Macário, e o livro de contos Noite na Taverna.
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COMPREENSÃO TEXTUAL TEXTO 02 É ela! É ela! É ela! É ela! É ela! É ela! – murmurei tremendo, E o eco ao longe murmurou – é ela! Eu a vi — minha fada aérea e pura – A minha lavadeira na janela! [...] Esta noite eu ousei mais atrevido Nas telhas que estalavam nos meus passos Ir espiar seu venturoso sono, Vê-la mais bela de Morfeu nos braços! [...] Afastei a janela, entrei medroso: Palpitava-lhe o seio adormecido... Fui beijá-la... roubei do seio dela Um bilhete que estava ali metido... Oh! Decerto... (pensei) é doce página Onde a alma derramou gentis amores; São versos dela... que amanhã decerto Ela me enviará cheios de flores... [...]
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3ª Geração Romântica
A Poesia romântica
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1. HUGOANA, ABOLICIONISTA OU CONDOREIRA CASTRO ALVES, O POETA DOS ESCRAVOS A IDEOLOGIA DE ENGAJAMENTO SOCIAL O Condoreirismo foi um momento da literatura romântica em que os poetas passaram a se preocupar com questões sociais, abolicionistas e republicanas. Foi uma poesia mais engajada e que propunha uma boa dose de espírito libertário, , por isso o símbolo do Condor para a geração. Esta geração também pode ser chamada de Hugoana, devido à influência estética do escritor francês Victor Hugo.
AS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS SÃO: 1. Poesia de cunho social 2. Poesia de cunho libertário 3. Tematizava a questão abolicionista 4. Uso comum de hipérboles e visão grandiosa da vida 5. A mulher era vista de maneira carnal 6 Sensualismo no tratamento lírico-amoroso 7. Uso de palavras grandiloqüentes em tom declamativo 8. Poesia voltada para os problemas sociais: a necessidade da abolição da escravidão e da implantação da republica. 9. Poesia engajada, disposta a ajudar na transformação da sociedade com atos de heroísmo. 10. Linguagem grandiloquente, cheia de vocativos, hipérboles, apostrofes e exclamações, caráter persuasivo. 11. Titanismo – imagens de imensidão, que revelam a fragilidade humana e a ânsia de liberdade. Ex.: Astros! Noites! Tempestades! Mares! 12. Imagens grotescas – separação de mãe e filho, o banzo, a dor da morte injusta, o navio negreiro, A vida na senzala. 13. Sentimentalismo – indignação e revolta. Texto 01 - Navio Negreiro – Tragédia no Mar Era um sonho dantesco!...o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho, Em sangue a se banhar. Tinir de ferros...estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...
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Negras mulheres, suspendendo as tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras, moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoas vãs! Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se eu delírio... ou se é verdade Tanto horror perante os céus... Ó mar! por que não apagas Co’a esponja de tuas vagas Do teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! Colombo, fecha a porta de teus mares!
POESIA AMOROSA ♦ Mulher ativa – sujeito da sedução amorosa ♦ Mulher amada sensual e próxima. ♦ Amor físico, material, carnal. ♦ Mulher idealizada, mas acessível. ♦ Platonismo e sensualidade juvenil ♦ Descrição do ato sexual de forma sugestiva Texto 02 - Poesia Lírico-Amorosa – Adormecida Uma noite, eu me lembro...Ela dormia Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão...solto o cabelo E o pé descalço no tapete rente. ‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço de horizonte, Via-se a noite plácida e divina. Era um quadro celeste!...A cada afago Mesmo em sonhos a moça estremecia... Quando ela serenava...a flor beijava-a... Quando ela ia beijá-la...a flor fugia... E o ramo ora chegava, ora afastava-se... Mas quando a via despertada a meio, Pra não zangá-la...sacudia alegre Uma chuva de pérolas no seio...
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Texto 03 - A CRUZ DA ESTRADA Caminheiro que passas pela estrada, Seguindo pelo rumo do sertão, Quando vires a cruz abandonada, Deixa-a em paz dormir na solidão.
trazer a liberdade e o alívio para o negro escravizado; assim, enquanto para o romântico do mal do século, a obsessão pela morte tinha caráter mais psicológico, intimista e mesmo egoísta, para Castro Alves, neste poema, a fuga da realidade, com a morte, adquire um caráter social, mais concreto. Isso está bem claro na terceira e na última estrofes.
Que vale o ramo do alecrim cheiroso Que lhe atiras nos braços ao passar? Vais espantar o bando buliçoso Das borboletas, que lá vão pousar.
♦ Note que em todo poema há um grave tom de melancolia (com a recorrência da palavra solidão, ou com a referência à noite e ao silêncio) e beleza (com as singelas imagens de os animais, as plantas, as flores que circundam e guardam a cruz).
É de um escravo humilde sepultura, Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz. Deixa-o dormir no leito de verdura, Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.
♦ Isso quer dizer que, neste poema há a crítica social (pois denuncia o abandono a que os negros estavam sujeitos, inclusive na hora da morte) que caracterizou a poesia de Castro Alves, mas de forma mais sutil e lírica.
Não precisa de ti. O gaturamo Geme por ele, à tarde, no sertão. E a juriti, do taquaral no ramo, Povoa, soluçando, a solidão. Dentre os braços da cruz, a parasita, Num abraço de flores, se prendeu. Chora orvalho a grama, que palpita; Lhe acende o vagalume o facho seu. Quando, à noite, o silêncio habita as matas, A sepultura fala a sós com Deus. Prende-se a voz na boca das cascatas, E as asas de ouro aos astros lá nos céus. Caminheiro! do escravo desgraçado O sono agora mesmo começou! Não lhe toques no leito de noivado, Há pouco a liberdade o desposou. ♦ Neste poema há o tema o qual Castro Alves mais abordou, que foi o da liberdade, e o abordou sob a ótica social, como forma de protestar contra a escravidão a que os negros eram submetidos, no período em que o poeta viveu. Esse tema foi tratado muito extensamente de forma épica, mais notavelmente em Navio Negreiro No entanto, é tratado aqui de forma lírica. ♦ O sujeito lírico avisa a um virtual caminheiro (viajante) de uma cruz no meio da estrada; essa cruz é da sepultura de um negro. O sujeito lírico diz que o caminhante não precisa ficar preocupado em dar atenção à sepultura (“Quando vires a cruz abandonada / Deixa-a em paz dormir na solidão”), pois os próprios animais e demais elementos da paisagem que cerca a estrada cuidam da sepultura – o gaturamo, o juriti (aves silvestres) fazem canto para o morto, o parasita (musgo) tece uma natural coroa de flores, o vagalume acende suas luzes. ♦ Segundo esse sujeito lírico, o morto está melhor agora pois já não sofre as agruras da escravidão que teve em vida. A morte aqui (como para os poetas do mal do século) é o único meio de fugir do sofrimento da vida, só ela poderia
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Texto 04 - O “ADEUS” DE TERESA
A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus E amamos juntos E depois na sala “Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala E ela, corando, murmurou-me: “adeus.” Uma noite entreabriu-se um reposteiro... E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus Era eu Era a pálida Teresa! “Adeus” lhe disse conservando-a presa E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!” Passaram tempos sec’los de delírio Prazeres divinais gozos do Empíreo ... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse - “Voltarei! descansa!...” Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: “adeus!” Quando voltei era o palácio em festa! E a voz d’Ela e de um homem lá na orquesta Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei! Ela me olhou branca surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa! E ela arquejando murmurou-me: “adeus!
CONDOREIRISMO Condoreirismo ou condorismo é uma parte de uma escola literária da poesia brasileira, a terceira fase romântica, marcada pela temática social e a defesa de idéias igualitárias. As décadas de 60 e 70 do século XIX representam para a poesia brasileira um período de transição. Ao mesmo tempo que muitos dos procedimentos da primeira e da segunda geração são mantidos, novidades de forma e de conteúdo dão origem à terceira geração da poesia romântica, mais voltada para os problemas sociais e com uma nova forma de tratar o tema amoroso.
F u g i n d o um pouco do egocentrismo dos ultrarromânticos, os condoreiros desenvolveram uma poesia social, comprometidos com a causa abolicionista e republicana. Em geral são poemas de tom grandiloquente, próximos da oratória, cuja finalidade é convencer o leitor-ouvinte e conquistá-lo para a causa defendida. O nome da corrente, condoreirismo, associa-se ao condor ou outras aves, como a águia, o falcão e o albatroz, que foram tomadas como símbolo dessa geração de poetas com preocupações sociais. Identificando-se com o condor, ave de vôo alto e solitário, com capacidade de enxergar a grande distância, os poetas condoreiros supunham ser eles também dotados dessa capacidade e, por isso, tinham o compromisso, como poetas-gênios iluminados por Deus, de orientar os homens comuns para os caminhos da justiça e da liberdade.
CONDOREIRISMO - DESIGNAÇÃO Condoreirismo - poesia social e libertária que reflete as lutas internas da Segunda metade do reinado de D. sugerem imensidão, força, majestade, como: montanhas, cordilheiras, oceanos, tempestades, furacões, astros, cachoeiras, configurando assim o estilo chamado Condoreirismo. — “Romantismo. Poesia (séc. XIX, no BR)”, graudez.com.br
Texto sobre o Condoreirismo, o que é condoreirismo, obras e autores do condoreirismo. — “Condoreirismo - InfoEscola”, infoescola.com Condoreirismo. Designação, na poesia brasileira, da tendência para o exagero de figuras (designadamente antíteses e hipérboles) e para uma retórica empolada, de influência francesa (Hugo e Lamartine), caracterizada ainda por uma temática de cunho social e político.
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