CLÁUCIA HONNEF ANA PAULA RAMPELOTTO ANGELITA MARIA MACHADO
OLHARES SOBRE O EXPERIENCIAR NA UNIDADE DE EDUCAÇÃO INFANTIL IPÊ AMARELO: TURMA AMARELA 2019/2020
AUTORIA Cláucia Honnef Ana Paula Rampelotto Angelita Maria Machado
CAPA, REVISÃO E DIAGRAMAÇÃO Camila Sehnem
PARTICIPAÇÃO Daliana Löffler
APOIO Vívian Jamile Beling Luana Graciano Xavier Everton Padilha Koltz Rossana Goularte Ribas Lílian Menezes dos Santos Cardoso
A NOSSAS INSPIRAÇÕES Alescendro Tinant N’Dah Alex Girelli Hillal Bernardo Frigo de Oliveira Henrique Bibmess Hemess N'Dah-Atchor Henry Memel Milel N'Dah-Atchor i Joana Hass Kretzmann Joaquim Pedriso Ferreira Lívia Londero Fronza Maria Alice Ferreira Burdulis Pedro Porto Rosa Rafael Camargo Silveira
Vicente Figueira Dalla Porta Vicente Miguel da Silva
Agradecemos às famílias da Turma Amarela 2019/2020 pela confiança, pela parceria e pelo carinho!
SUMÁRIO PREFÁCIO .................................................................................................... APRESENTAÇÃO ........................................................................................ PELO OLHAR DE JOANA .......................................................................... A ARTE DE EMPILHAR .............................................................................. A LINGUAGEM DO OLHAR ...................................................................... SOBRE AS HISTÓRIAS: VAMOS OUVIR? VAMOS CONTAR? ............................................. OS BURACOS, AS PEDRINHAS, AS COMIDINHAS .............................. ALÔ?! QUEM É? ......................................................................................... É NO VAI E VEM ........................................................................................ SERÁ QUE CABE? ....................................................................................... 1,3; TEMOS ENCONTRO OUTRA VEZ? ................................................. CONEXÕES VIRTUAIS .............................................................................. QUANDO EU ME ENCONTRAR ................................................................ VIAGENS VIRTUAIS ................................................................................. SAUDADES .................................................................................................. NATUREZA: UM MERGULHO NAS DESCOBERTAS, UM ENCONTRO COM AS EMOÇÕES ............................................. ENCONTRO VIRTUAL ............................................................................... AH, COMO É BOM COMPARTILHAR ...................................................... NO CAOS, SER A CALMARIA .................................................................. VAMOS FALAR DE SENTIMENTOS? .................................................... SUBINDO E DESCENDO............................................................................. COMPARTILHAR ........................................................................................ APRENDIZADO COM A VOVÓ ................................................................ AH, A COMIDA DA IPÊ ............................................................................. O LUGAR QUE A NATUREZA OCUPA NAS NOSSAS VIDAS ........................................................................ QUAL SERÁ O CARDÁPIO?....................................................................... AH, AS DESCOBERTAS DA IPÊ! ............................................................... TEM QUE TER ADAPTAÇÃO... PARA TER CONEXÃO ......................... AS POSSIBILIDADES DO INESPERADO ............................................... OS ENREDOS DAS INTERAÇÕES DAS CRIANÇAS: O QUE PODEMOS COM ELES E COM ELAS APRENDER? .......... BRINCADEIRA DE CRIANÇA ................................................................... AS CEM LINGUAGENS DE UMA CRIANÇA ...........................................
06 07 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 28 30 32 34 36 37 38 39 40 41 42 44 46 47
06
PREFÁCIO Gosto muito da ideia, expressa por Marta Nörnberg, de que o berçário é um lugar para se viver juntos, marcando a prática pedagógica como um lugar das relações, dos encontros, dos afetos, dos contatos, dos sorrisos, do choro, dos sabores, do inesperado, da mão suja, do olhar curioso, do faz e desfaz, do sobe e desce, do vai e vem... As mini-histórias da Turma Amarela nos falam de tudo isso e muito mais!
Nas
próximas
páginas
é
possível
encontrar
diferentes
possibilidades
de
encontros: na sala de referência, nas áreas externas, em casa... Em casa? Sim, são encontros marcados por elementos que nos remetem ao espaço de
vida
coletiva
também
na
encontros
brinquedos
Unidade
que
preferidos
e
de
carregam de
Educação a
Infantil
presença
memórias.
do
Memórias
Ipê
lar,
de
Amarelo,
da
um
mas
família,
tempo
que
dos fora
intensamente vivido, carregado de sentimentos. Encontros que nos falam de
um
normal,
de
um
antigo
normal,
e
talvez
de
um
novo
normal.
Encontros consigo, com os outros e com a materialidade do mundo que convidam
a
pensar
sobre
a
delicada,
sutil
e
potente
vida
dos
bebês
e
crianças bem pequenas.
A
partir
do
olhar
reinventaram deparamos
poético
nesses
com
a
das
tempos
ação
professoras, difíceis
infantil
que
que
que
se
desafiaram
estamos
extrapola
os
passando,
limites
do
e
se nos
proposto,
evidenciando a capacidade criativa, inventiva, curiosa e acolhedora dos bebês
e
crianças
pequenas
durante
os
seus
encontros.
Encontros
estes
que respeitam, valorizam e potencializam as crianças, seus direitos e suas culturas!
Daliana Löffler
07
APRESENTAÇÃO Muitas vezes em meio ao caos, em situações que parecem não ter uma solução
ou
não
descobertas,
ter
nada
achados,
de
positivo
aprendizados,
a
apresentar,
que
precisamos
surgem validar,
grandes valorizar,
potencializar e também compartilhar. Foi um pouco disso que aconteceu conosco neste ano de 2020, em que diante das provocações que ele suscitou, encontramos nas mini-histórias e
poemas,
compartilhados
neste
livro,
formas
de
seguir
e
potencializar
nosso saber/fazer na Educação Infantil, na/da Turma Amarela 2019/2020 e, nesta apresentação vamos contar, de forma breve, como chegamos às produções aqui apresentadas. Em um período em que fomos privados do convívio presencial diário com os bebês e as crianças bem pequenas
(2) ,
(1)
da Turma Amarela 2019/2020
a partir da necessidade do distanciamento social que a pandemia do
novo coronavírus SARS-CoV-2 diversas
emoções.
No
início
(3)
apresentou, fomos tomadas pelas mais
ficamos
bastante
amedrontadas,
confusas,
reflexivas com a situação, pois como pensar a Educação Infantil, que tem como eixos norteadores as brincadeiras e interações (BRASIL, 2010), sem ter
contato
presencial
com
as
crianças?
Como
manter
os
vínculos
das
crianças com os adultos da turma, da Unidade e das crianças entre si, bem
como
a
escuta
sensível
nesse
momento
de
distanciamento?
Como
garantir os direitos das crianças? Como ser parceiros e oferecer apoio às famílias nesse momento?
(1) Conforme
bebês crianças bem pequenas as crianças entre 19 meses e 3 anos e 11 meses; e crianças pequenas, as crianças entre 4 anos a 6 anos e 11 meses (BARBOSA, 2008). o PPP da Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo (2019), consideramos
as crianças de 0 a 18 meses;
(2) O
conteúdo deste livro foi produzido em 2020, a partir de registros fotográficos da Turma
Amarela no ano de 2019 e no ano de 2020, a qual se manteve basicamente com os mesmos bebês
e
crianças
bem
pequenas
nestes
dois
anos
e,
por
isso,
aqui
usamos
aqui
a
nomenclatura “Turma Amarela 2019/2020”.
(3) “O que é COVID-2019?
É uma doença causada pelo novo tipo de coronavírus identificado
neste ano, que leva o nome de SARS-CoV-2. Ele pertence à família de vírus de mesmo nome que causa infecções respiratórias.” Fonte: Secretaria da Saúde do RS – RS, 2020. Disponível em: https://coronavirus.rs.gov.br/o-que-e.
08 Diante dessas reflexões nos mobilizamos e buscamos um norte por meio de nossos estudos, bem como no Projeto Político Pedagógico da Unidade de
Educação
Infantil
formação
virtual
Extensão
(DEPE)
Ipê
Amarelo
organizada da
UEIIA,
pelo
na
–
UEIIA
(2019).
Departamento
qual
retomamos
de
o
Participamos
Ensino,
estudo
Pesquisa
das
de e
Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010), da Base Nacional
Comum
Curricular
–
BNCC
(BRASIL,
2018)
no
que
tange
à
Educação Infantil, e ressaltamos aspectos balizadores do nosso trabalho na Unidade a partir do Projeto Político Pedagógico (2019). A
partir
desse
interesse
dos
movimento
de
pequenos/as
fortalecimento,
de
nossa
turma
conhecendo por
livros
o
e
grande
histórias,
revisitando nossos registros fotográficos e escritos sobre as crianças, bem como ao estudar sobre mini-histórias (FOCHI, 2019), surgiu o interesse e a motivação de nos lançarmos à criação de mini-histórias e poemas. Entendemos
que
compartilhadas,
os são
poemas, uma
bem
estratégia
como
as
mini-histórias
pedagógica
para
aqui
compor
e
compartilhar momentos significativos vividos pelas crianças (FOCHI, 2019), os quais contribuem para rememorar e evidenciar sentidos e significados, bem
como
para
promover
o
diálogo
sobre
algo
comum
ou
peculiar
do
contexto educativo.
No período de distanciamento social, escrevemos mini-histórias e poesias entendendo-os
como
potencialidade
na
construção
de
memórias
pedagógicas, como formas de olhar e relembrar as experiências já vividas pelas crianças, buscando nelas um acalento, uma forma de nos aproximar das crianças e de suas famílias e vice-versa. Também intentamos com essas escritas sensibilizar as famílias a observar e
buscar
compreender
seus
filhos
e
suas
filhas
com
olhar
para
as
possibilidades de suas brincadeiras, explorações e interações, buscando com
isso
instigar
pequenos/as
Ainda,
o
as
famílias
a
se
conectarem
com
seus/nossos
(4) .
nosso
saber/fazer
histórias
e
poemas,
famílias
e
à
tendo
comunidade,
também em
vista
tanto
foi a
elemento
de
importância
interna
quanto
reflexão
de
nas
mini-
transparecer
externa
à
UEIIA,
às as
intencionalidades, motivações e decorrências do nosso fazer pedagógico.
“Olhares
sobre
o
Experienciar
na
UEIIA:
Turma
Amarela
2019/2020”
apresenta poemas e mini-histórias criados a partir das diversas formas e possibilidades
que
nós,
como
professoras,
vemos,
entendemos
e
interpretamos nas e das experiências de nossos/as pequenos/as, bebês e das crianças bem pequenas que compuseram a Turma Amarela nos anos de 2019 e 2020.
(4)
Carinhosamente, entre as professoras, chamamos os bebês e as crianças bem pequenas
de nossa turma de “nossos pequenos/as”, termo também usado neste texto.
09 Trazemos o experienciar em nosso título, concordando com a professora e pesquisadora
Mônica
Pinazza
(2020)
(5)
quando
ela
refere
que
“os
profissionais da Educação Infantil, a meu ver, com foco nas experiências precisam pensar um currículo que privilegie a experiência, que privilegie a ressignificação
da
cultura,
que
privilegie
o
que
há
de
inventivo
no
destacar
as
cotidiano [...]”
Assim,
buscamos
experiências, inventivo fazem,
no
destacar
o
cotidiano,
trazem,
explorações
através
nos
dos que
a
vemos,
partir
mostram,
pensadas,
poemas
do
mini-histórias
entendemos, que
em
planejadas,
e
as
crianças
espaços,
(6) ,
exploram,
momentos,
executadas,
professoras, junto com a equipe da turma
interpretamos
como criam,
situações,
observadas
por
nós
com muita seriedade, zelo e
carinho, para e com as crianças. Esperamos que esse livro traga a você, leitor e leitora, o afago e as boas vibrações famílias
que
de
trouxe
nossos
a
nós,
quando
pequenos/as
da
criamos Turma
e
compartilhamos
Amarela
2019/2020
com as
as
mini-
histórias e poemas que compõem esta obra.
Cláucia Honnef Ana Paula Rampelotto Angelita Maria Machado Dezembro de 2020.
(5) Trecho da palestra “Cotidiano e Planejamento: o que é currículo na Educação Infantil'', da professora Mônica Pinazza, no evento V Webinar Comemorativa aos 31 anos da Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo.
(6)
Cada turma na UEIIA possui uma equipe formada pelas professoras e por acadêmicos/as
bolsistas, geralmente do curso de Educação Especial ou Pedagogia, os quais são essenciais na Unidade, pelas ações que realizam e pelas ações que nos mobilizam a realizar em prol da formação inicial e continuada.
PELO OLHAR DE JOANA Joana sorri ao ver as fotos da turma amarela no celular da professora.
Entre um olhar e outro, percebi que ela tinha interesse em descobrir, manusear, brincar com o aparelho.
Então liguei a câmera frontal e, entre caras e bocas, expressões faciais surgiam junto com a sensação de olhar sua imagem ali.
Deixei Joana pegar o celular na mão. Vira de um lado, vira do outro, observa aqui, observa ali, sorri, caminha pra cá, caminha pra lá... Por seu olhar surgem, então, as formas de registrar
Que pensava ela ao manusear? Não sei! Só sei que ver suas explorações e seu sorriso trouxe e traz uma sensação tão boa que é maravilhosa de sentir.
TEXTO:ANA PAULA RAMPELOTTO, CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: ANA PAULA RAMPELOTTO,LUANA GRACIANO (2020) CRIANÇA: JOANA
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12
A ARTE DE EMPILHAR Empilha daqui, empilha dali, e coisas começam a se criar.
Empilha dali e empilha daqui, e as coisas começam a se transformar.
Monta, desmonta e monta de novo. Vemos a arte de empilhar.
São materiais, brinquedos, objetos que são carregados pra cá, carregados pra lá. Muitos são os cenários, os tons; muitas são as sensações, muitos sentimentos envolvidos no momento de criar.
Às vezes madeiras, outras vezes encaixes, ou então outros objetos: há sempre o que empilhar, há sempre algo a criar.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF, ANA PAULA RAMPELOTTO (2020) CRIANÇAS: ALEX, VICENTE MIGUEL, VICENTE F.
A LINGUAGEM DO OLHAR No primeiro dia na turma, após as férias de verão, a
emoção pairava no ar.
Professoras, pais e crianças... Quais novidades haverá?
Nesses momentos de tanta emoção, as crianças nos surpreendem, e como se entendem apenas com um olhar.
Naquele primeiro dia foi isso que aconteceu. Pedro, tímido, olhou Lívia, que correspondeu...
Um olhar, um sorriso, um toque, um abraço... Algo tão espontâneo, tão de coração… Foi tão bonito! De emocionar... Era saudade? Se reconheceram? Não sei! É complexo observar...
Mas uma coisa é certa, E não dá pra negar, Nós adultos temos muito, mas muito o que aprender Com as sutilezas das crianças, Com as sutilezas desse olhar…
TEXTO: CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) NAS IMAGENS: LÍVIA, PEDRO, BOLSISTA ROSSANA
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SOBRE AS HISTÓRIAS: VAMOS OUVIR? VAMOS CONTAR? Histórias, das tantas que temos por aí, histórias... Histórias para ouvir, histórias para contar, histórias para tocar e para se deixar tocar.
No individual ou no coletivo, nós lemos ou escutamos diferentes histórias. Descobrimos tantas coisas com as histórias e compartilhamos estas experiências em coletivo.
Há tanto para ouvir, há tanto para contar, e nunca deixar de se maravilhar.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: LUANA GRACIANO E CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: JOANA, VICENTE MIGUEL, MARIA ALICE; ADULTA: NEUSA
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OS BURACOS, AS PEDRINHAS, AS COMIDINHAS Na altura dos seus olhos um buraco escuro lhe chama a atenção. Bernardo observa e vê outros buracos assim.
Tem um funil ali em cima. Mas, e aqui embaixo, o que é isso aí?
Bernardo olha o buraco de um lado, olha o buraco do outro lado; coloca o dedo desse jeito, coloca o dedo de outro jeito.
E com esses movimentos, que são tão rapidinhos, conclui que ali não tem nada, mas é onde cabem seus dedinhos. Outro buraco escuro ele vê, agora na boca do golfinho. Conclui que ali também não tem nada, mas vê que pode cair água, pode pôr seus dedinhos e... Além disso, ele descobre que nesses buracos, na boca dos golfinhos, cabem as pedrinhas, que viram comidinhas.
É tão bonito de ver! Há tanta emoção nessas descobertas todas, na potência das crianças e na magia da sua imaginação.
TEXTO: CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: BERNARDO, JOANA, PEDRO, ALEX
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ALÔ?! QUEM É? Os eletrônicos para brincar e a possibilidade de olhar, a possibilidade de tocar, a possibilidade de ligar e muitas vezes imaginar.
Muitas vezes sentir ali um afeto de mãe, de pai, de irmão.
Com o som real do celular tocando e uma criança indo buscar um eletrônico no armário, temos as experiências de tocar, levar de um lado a outro, de ver, temos as vivências que cada um carrega de casa para a Ipê e da Ipê para casa.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: ANA PAULA RAMPELOTTO (2020) CRIANÇAS: VICENTE MIGUEL, JOANA, JOAQUIM
É NO VAI E VEM... Vicente se encanta com o banho nas bonecas. Ele as lava e as seca com todo cuidado. Depois delas, todo concentrado, começa o vai e vem das águas, que vão para um lado, para o outro lado. Por ali permanece, no restante da brincadeira. Alguém olhando de fora, talvez diria: Mas e as bonecas, as bacias, a banheira? Elas estão ali, não vão fugir... O importante é possibilitar e observar os caminhos, as tentativas, as conquistas que há ali.
Nesse vai e vem das águas, Que ao adulto pode parecer singelo, Vicente nos mostra um conjunto de aspectos, em elo. O domínio da força, da direção, a noção de proporção... Coisas nada simples de
conquistar,
Que nós adultos, muitas vezes, temos que exercitar... Uma gama de elementos da motricidade fina, que aparecem assim, no brincar, quando menos esperamos, em um vai e vem, Que só a infância tem o potencial, sem igual, de possibilitar.
TEXTO: CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: VICENTE FIGUEIRA, VICENTE MIGUEL
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SERÁ QUE CABE? Coloca, tira, observa e imagina. Que gostoso observar esses movimentos! Coisas simples e singelas viram poderosos elementos.
Esses sapatos, será que cabem em mim? Sem palavra alguma, usando apenas o corpo, ficam ali, testando e criando hipóteses sem fim: Será que cabe ou será que não cabe? Esse objeto é grande ou pequeno? Com o pé, com o corpo, vem a experimentação Entrar, sair, olhar e imaginar. Será que eu caibo aqui? Sapatos ou bacias, pequenos ou grandes, objetos viram materiais... São testados, são manuseados e assim vão compondo aprendizados.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO, CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF, ANA PAULA RAMPELOTTO (2020) CRIANÇAS: BERNARDO, JOANA, PEDRO, VICENTE MIGUEL
1,3, TEMOS ENCONTRO OUTRA VEZ? 1, 3, na contagem do colega Alex, a gente se encontra outra vez. 1, 3, Alex conta, antes de começar a correr. Enquanto isso, os colegas vão se vendo mais uma vez
1, 3, feito mágica os colegas começam a aparecer, e, feito mágica, nos fins de encontros, eles se vão um por vez. 1, 3, nos encontramos virtualmente para compartilhar as situações que o coronavírus desfez.
1, 3, cada um da sua casa vai acolher, tantos sentimentos e aprendizados de uma só vez. 1, 3, e a sensação é de não conseguir descrever esses momentos de levez.
1, 3, não sabemos o que vai acontecer, e assim vamos nos permitindo fazer o que a gente nunca fez 1, 3, é hora de escrever uma nova história dessa vez.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: ANA PAULA RAMPELOTTO, BRUNA, CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: VICENTE MIGUEL, ALEX, BERNARDO, PEDRO (E INGRID), RAFAEL, HENRY, ALESCENDRO, HENRIQUE
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CONEXÕES VIRTUAIS Nesse mundo de balões vermelhos, pedras, bicicletas, vírus e bolos da vovó, existem conexões – de contato real ou virtuais – que nos contam muitas histórias e criam bonitas memórias. À sua maneira, cada um vai se conectando e compartilhando as tantas coisas que sabe fazer, as que aprendeu a fazer e as que ainda está descobrindo. Os momentos de telas a que estamos condicionados a viver o aqui e o agora nos remetem aos contextos de escola.
As coisas que fazemos aqui não são como as que a gente fazia na Ipê – não têm o mesmo som, a mesma cor –, mas buscamos conexões nessas adaptações. A voz dessas conexões vai dando forma à construção de novas histórias.
As vivências das crianças que carregam pedras, que andam de bicicleta, que brincam com os manos, com os balões, que esperam os avós chegarem, e que fazem uma infinidade de coisas, são de muita importância. Este lugar onde se assumem tantos papéis, cada um em seu contexto vai se (re)inventando e criando sentidos, conexões, memórias e - por que não dizer?! - histórias...
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO, CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: ANA PAULA RAMPELOTTO (2020) CRIANÇAS: PEDRO, JOAQUIM, ALEX E OS MANOS
QUANDO EU ME ENCONTRAR Quando eu me encontrar, uma história eu vou contar e uma memória eu vou criar, de um espaço tempo de viver um aqui e um agora.
Quando eu me encontrar, eu vou brincar e tantas coisas imaginar, desse momento de vivenciar, as diversas situações de explorar, coisas que antes
Quando eu me encontrar,
não nos eram permitido tocar.
eu vou lembrar do tempo que eu estava lá, ao me conectar eu vou me emocionar com esse tempo de presenciar as conexões com a natureza, com a mãe, o pai e o irmão.
Quando eu me encontrar, nos meus sentimentos, aqui na tela ou lá na Ipê, em um tempo que não é o do relógio, eu vou brincar, e ao brincar eu vou ressignificar e demonstrar a importância de observar esse universo de se conectar...
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: ANA PAULA RAMPELOTTO CRIANÇAS: BERNARNDO, JOANA, JOAQUIM
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VIAGENS VIRTUAIS Nós dentro de nossas casas e o coronavírus lá fora; diante dessa situação, a gente vai percebendo e recebendo, pela força da maior convivência, ou não, um maior afeto de mãe, de pai, de irmão. Separados do convívio social, unidos por uma tela. Quem diria, hein? Vamos aprendendo, por ela, novas formas de nos relacionarmos com o outro.
E num piscar de olhos, tudo pareceu ficar urgente. E é nos encontros virtuais que abraçamos tanta gente. De uma casa para outra, cada família com o seu jeitinho vai trilhando seu caminho.
Nesses encontros virtuais, que mais parecem viagens, nos propusemos a enxergar o outro em toda a sua essência. Tivemos tantos aniversários, tantas alegrias, tantos sorrisos... Compartilhamos, em cada encontro da Turma Amarela, um sentimento de querer estar na escola. Mas também sabemos que o importante, agora, é ficarmos cada um em seu lar, curtindo os afetos desse lugar.
Também torcemos para logo essa situação passar, e podermos voltar a nos abraçar. Até lá, vamos compartilhando pela tela e por histórias, emoções, sentimentos, memórias... Buscando seguir nossos vínculos, que têm nos levado a construir belas histórias.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO, CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: VERIDIANE, PRISCILA, ANA PAULA, VANESSA (2020) CRIANÇAS: VICENTE MIGUEL, PEDRO, LÍVIA, JOANA, MARIA ALICE, JOAQUIM, BERNARDO, VICENTE FIGUEIRA
SAUDADES Ah, que saudade que eu tenho de toda essa diversão, de todas as explorações e superações, de brincar no pátio e sentir a terra no pé, subir e descer na casinha da árvore a hora que eu quiser.
São tantos momentos pra relembrar, tantas histórias para contar Sobre momentos tão especiais. Mas agora só consigo pensar que um dia tudo irá voltar e essa saudade de aproveitar, brincar e explorar eu finalmente irei sanar...
TEXTO: ANGELITA MARIA MACHADO IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: ALEX, BERNARDO, JOANA, LÍVIA, PEDRO E VICENTE MIGUEL
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NATUREZA: UM MERGULHO NAS DESCOBERTAS, UM ENCONTRO COM AS EMOÇÕES A brincadeira com a natureza: é sobre o aqui e o agora, é sobre um espaço e tempo de construir memórias, histórias. Nesse tempo de isolamento em que esperamos mais natureza nas relações mais natureza nos espaços, mais natureza na nossa essência, são as crianças que nos mostram estes poderosos elementos. A água, o solo, as plantas, o ar, os animais e as tantas possibilidades de descobrir que há. Na água que vira tinta, ou na areia que vira bolo, na sutileza de detalhes, um convite para brincar em um mergulho de emoções. O contato com os elementos naturais - agora, para muitos, experiências de janelanos convocam a sair da tela e descobrir o eu, o outro, a natureza. Nas formas de se conectar à vida que pulsa ao nosso redor, a mais sutil das descobertas: há curativo nos refrões da natureza, você consegue reparar?
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: VICENTE M, LÍVIA, VICENTE F, PEDRO, MARIA ALICE, MARTINA
ENCONTRO VIRTUAL Hoje vamos nos ver com data e hora marcada: um encontro virtual com toda a Turma Amarela convidada!
As profes ansiosas para ver e conversar. As crianças preocupadas com o que vão mostrar. Correm ali, correm aqui. Passam embaixo da mesa, encontram brinquedos e começam a brincar; tomam chá, tocam violão e cantam uma canção.
O encontro virtual é animado; tudo é preparado para ser bem aproveitado. Mas sempre tem o inusitado: quando se trabalha com criança, tudo o que é planejado pode ser reajustado.
No encontro virtual, o tempo passa rápido. Mas o fato de nos encontrarmos faz a saudade arrefecer. Anima saber que o reencontro logo vai acontecer, que em breve vamos no ver e voltar a ser a Turma Amarela da Ipê.
TEXTO: ANGELITA MARIA MACHADO IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF, ANA PAULA RAMPELOTTO (2020) CRIANÇAS: JOANA, JOAQUIM, VICENTE FIGUEIRA, MARIA ALICE PROFESSORAS: ANGELITA, CLÁUCIA E ANA PAULA
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AH, COMO É BOM COMPARTILHAR Ah, como é bom compartilhar. Na escola, os colegas, os amigos encontrar. Maria Alice, no retorno à escola, nos surpreende, No espaço externo, de repente, Ela observa Martina a brincar E com ela se senta a compartilhar.
Colocando um tijolo sobre o outro, organizando com a colega Martina, Que se põe a orientar: - É aqui, assim! Agora vamos arrumar. Maria Alice olha e empilha, as duas empilham e organizam, E se propõem, de modo coletivo, a criar.
Depois dessa criação, a Turma Laranja chega ao gramado, e estendem-se os colchonetes lado a lado. As crianças
pegam
e
a folheá-los.
se
põem
os
livros
Assim que vê isso, Maria Alice corre para lá! Pega um livro, olha e compartilha. Esse gesto é tão lindo, espontâneo, um gesto que nos toca. Maria Alice procura o outro, Busca um momento de partilha e de troca.
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Quando a professora Maria Talita começa a leitura, Maria Alice se aproxima dela, compartilhando o colchonete. Busca por esse momento de ouvir a contação ao lado das crianças maiores - uma nova experimentação.
E depois ela segue envolvida nessa exploração... dos livros, das imagens, das histórias...
Foi saudade que fez o anseio da interação? Confiança em saber que, para qualquer coisa, Estaríamos ali, para segurar a sua mão? Curiosidade em explorar e brincar?
Pode ser isso ou aquilo, Ou tudo junto a se misturar... O que sabemos de verdade é que hoje temos muita saudade mas que um dia ainda vamos voltar. E com as crianças e adultos, diferentes espaços e momentos vamos na escola compartilhar.
TEXTO: CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: MARIA ALICE, MARTINA, YASMIN,MARIA ANTÔNIA, LAVÍNIA E GIÚLIA. PROFESSORA: MARIA TALITA
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NO CAOS, SER A CALMARIA Esse dia foi de sensibilizar. Lívia chegou à escola querendo no colo da mãe ficar.
Estava vivendo uma nova experiência, de em outra escola pela manhã também estar. Com isso havia novos desafios a superar e novas aprendizagens a agregar. Para Lívia, sua família e para nós, professoras, Novos momentos a vivenciar. Com carinho, afago, respeitando seu tempo e a sua emoção, explicamos a Lívia essa nova situação. Falamos a ela que entendíamos a sua saudade e o desejo de ficar com a mãe, bem como sua tristeza em não poder, naquele momento, realizar essa ação.
Com carinho, acolhendo e validando as emoções, As crianças se sentem mais seguras, Mesmo que precisem de alguém para segurar a sua mão. Assim, aos poucos, buscamos auxiliar Lívia na nova compreensão. E ela, à medida que as emoções de outrora foram passando, foi se sentindo mais segura, e partindo, devagarinho, para junto dos colegas, a fazer sua exploração.
29 Pegando o pincel, passando na mão, sentindo a textura e observando com atenção. Viu os pincéis, a água, a parede e os colegas na diversão. De mansinho, ela foi se envolvendo, fazendo sua apreciação. Buscando sempre o olhar de segurança da professora que antes a acolhia com carinho e segurava a sua mão.
Esse momento me levou à reflexão sobre a importância de compreender e reconhecer que o que as crianças sentem precisa muito da nossa validação. Como seus adultos de referência, precisamos ser apoio em diversas experiências.
Mais que isso, precisamos ser também exemplo em muitas coisas às vezes difíceis para nós. Se antes lidávamos com emoções, talvez, na explosão, agora, temos alguém atento a nós e precisamos cuidar nossa expressão.
No caos ser a calmaria e na angústia ser o alento não é algo nada fácil! Mas, muitas vezes, precisamos aprender ou reaprender, se quisermos o melhor para e por nossas crianças fazer. E quem sabe isso até nos ajude a uma pessoa melhor ser.
Então, quando aquela emoção difícil bater, lembremos que nossa criança é um ser em formação, e que além das nossas palavras, ela sente e aprende muito, muito mais pela nossa ação.
TEXTO: CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: LÍVIA E PEDRO
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VAMOS FALAR DE SENTIMENTOS? Os nossos sentimentos em tempos de isolamento agora tão mais evidentes no aconchego do nosso lar. Em meio a tantas demandas, como acolher sem julgamento? Precisamos observar e entender o sentimento que está a ocorrer.
A sensação é do sentimento de frustração por ver o parabéns acontecer e o bolo não aparecer; de passar pela Ipê e não poder permanecer na pracinha ou no gramado até o entardecer. A sensação, por trás do desespero, muitas vezes é de não conseguir transparecer. o sentimento que está a ocorrer. Morder, chorar e até gritar são formas de deixar esse sentimento ecoar.
A chamada vai começar e os profes, colegas e famílias vão aparecer, e nos chás e brincadeiras a compartilhar, vemos o vínculo afetivo se fortalecer.
E quando o medo aparecer? As lágrimas não devemos interromper e em meio ao caos vamos saber que até o medo vai nos fazer crescer.
Depois de tantos meses a sensação é de exaustão, ao ver tantas demandas a ter que fazer, e nem sempre conseguir desenvolver.
Mas quer mesmo saber? não estamos em uma competição.
31 E o que adultos podem fazer ao ver esse tipo de sentimento aparecer? Podem não reduzir, mas acolher. Observar para compreender e compreender para validar as mais distintas formas de se expressar.
E por que validar? É para buscar os sentimentos legitimar e também aceitar que até a raiva é uma forma válida de se expressar.
O momento é igualmente difícil para todos nós; para as crianças é em dobro: para elas, os sentimentos são complexos de se explicar.
Mas a hora pede para parar, escutar, sentir e conversar, e na compreensão buscar novas formas de lidar, para mais fortes e seguros por isso poder passar.
E quando estes sentimentos aparecerem e vocês não souberem o que fazer? Por ligações, histórias ou mensagens, nesta nova forma de nos conectarmos, buscaremos acolher os sentimentos que pulsam em vocês.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: ANA PAULA RAMPELOTTO, PRISCILA (2020) CRIANÇAS: PEDRO, JOANA, VICENTE M, VICENTE F, JOAQUIM, MARIA ALICE
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SUBINDO E DESCENDO Ah, o 'queijo' da casinha da árvore, como ali era gostoso de brincar! Quantos desafios, quantas conquistas e aprendizagens esse espaço pôde proporcionar...
Vicente Miguel, em uma de nossas tardes, se lançou a esse lugar. Nós, professoras, observamos com curiosidade: O que estaria ele a planejar? Vicente, então, pegou o caminhão amarelo e se pôs a engatinhar.
Mas segurando o caminhão amarelo, Vicente conseguirá escalar? Tínhamos essa dúvida, mas precisávamos deixá-lo tentar.
Assim incentivamos sua autonomia além do aprendizado motor e corporal que essa escalada poderia proporcionar.
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Buscamos não interferir, mas sim estar ali, passando segurança a Vicente e sendo seu suporte em qualquer necessidade que poderia surgir.
E quando Vicente nos olhava, buscamos transmitir tranquilidade em nosso olhar, para assim suas conquistas encorajar.
Vicente conseguiu subir até com certa tranquilidade, e esse momento foi cheio de conquistas e muita felicidade. Vicente Miguel adquiriu segurança e foi aperfeiçoando suas habilidades, subindo e descendo no queijo da casinha da árvore por muitas e muitas vezes durante aquela tarde.
TEXTO: CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) NAS IMAGENS: VICENTE MIGUEL
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COMPARTILHAR
Na Turma Amarela compartilhamos diariamente bons momentos e explorações divertidas, como Lívia, que estava a desenhar, explorando as cores na folha de papel. Pedro somente a observava, quando a colega alcançou um lápis a ele. Foram apenas trocas de olhares, não sabemos o que cada um estava a pensar. Não foram necessárias palavras; os dois estavam a compartilhar aquele momento de desenhar e explorar o lápis de cor e a folha de papel.
São experiências compartilhadas entre colegas com as mesmas curiosidades. Um simples experimentar se torna uma grande aventura. Joana e Bernardo largam seus animais de brinquedo, sentam-se perto da porta e compartilham juntos esse momento de experimentar os calçados dos colegas.
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Já Maria Alice compartilha, na companhia de colegas de outras turmas, de aproveitar cada momento, cada oportunidade de se divertir. Não sabemos o que ela pensou no momento em que entregou o livro à colega. Pode ter sido algo como: "Você compartilha comigo essa história?" ou "Essa história é muito boa, eu a conheço e quero compartilhar com você!"
Hoje o compartilhado fica na memória que estamos a recordar. Como é bom compartilhar o quanto aprendemos em histórias e momentos que juntos vivenciamos com nossas experiências na vida na Ipê Amarelo.
TEXTO: ANGELITA MARIA MACHADO IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: ALEX, BERNARDO, JOANA, LÍVIA, MARIA ALICE E PEDRO
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APRENDIZADO COM A VOVÓ A casa da vovó é um refúgio envolvente, que sempre aquece o coração da gente. E nesses tempos de isolamento em que se busca aquecer o coração, a vovó é quem muitas vezes nos estende a mão, em ligações ou por contato, ou ainda em visitas às memórias de um tempo bom em que construiu histórias.
Na casa da vovó Glória, Maria Alice se nutre e se envolve com as coisas da natureza, neste espaço tão presentes e potentes.
Cuidar da horta e dos animais, sentir o vento, regar as plantas, dar afeto à natureza são sim ensinamentos que se aprende de pequeno, partindo de bons exemplos.
E à vovó Glória o nosso agradecimento por seus sutis ensinamentos, pois em cada ligação, da casa da vovó ou não, em seu olhar Maria Alice demonstra gratidão.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: ANA PAULA RAMPELOTTO (2020) NAS IMAGENS: CRIANÇA MARIA ALICE
AH, A COMIDA DA IPÊ! Ah, a comida da Ipê! Olhando as fotos, as expressões das crianças, Como se diz por aí, popularmente: “- Dá gosto de ver!” As frutas do lanche, A salada, o arroz e o feijão da refeição... As crianças adoravam e não à toa havia pedidos para repetição. Como nesse dia em que fizemos nosso lanche no gramado. Todos sentados no chão, com pote de abacate e a colher na mão. O abacate foi sucesso! As crianças comeram de montão! E a nutricionista Susana que o diga, pois fez muitas idas e vindas à cozinha Para atender a nossa turminha, que mais e mais abacate pedia. Foi um lanche em um lugar diferente, fora da sala, e com toda a higiene e atenção! A Susana nos ajudou nesse processo e, na pia do gramado, as crianças lavaram as mãos. Depois foi hora de saborear o abacate, que pelo jeito estava muito bom!
Que tarde gostosa! Como é bom ter esses registros para recordar! E, quando pudermos à escola voltar, certamente com muita empolgação as crianças estarão ansiosas pelo momento da refeição.
TEXTO: CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇAS: VICENTE MIGUEL,JOANA, MARIA ALICE, BERNARDO, LÍVIA PROFESSORA: ANGELITA, BOLSISTA: ROSSANA
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O LUGAR QUE A NATUREZA OCUPA NAS NOSSAS VIDAS O que a natureza move em você? A situação pandêmica pede essa reflexão. E esse relação parece estar na contramão desde o distanciamento de então. Mas tudo não passa de uma percepção que nem sempre está no nosso campo de visão, e nesse aqui e agora podemos fazer essa reflexão:
Tem solo que vira tinta, bolo de aniversário, esconderijo de brinquedos ou moradas de animais. Tem plantas que viram chás e temperos, outras ainda nos oferecem sombra. Tem os animais que nos fazem companhia, os que viram descobertas e os que nos presenteiam com diferentes sons.
A água que toca nosso corpo é mesma que molha as plantas e sacia a nossa sede. O ar que esvoaça os cabelos, que empina as pipas, também balança as folhas das árvores e carrega as suas sementes. O fogo, elemento do encontro, que aquece e que prepara os nossos alimentos, também aparece nas brincadeiras.
E o que percebemos, então: Há mistérios nas brincadeiras das crianças que envolvem a natureza e que nós, adultos, podemos ver com mais leveza ao proporcionar a brincadeira com mais sutileza. O desafio é enxergar os elementos como marca e não sujeira, como possibilidade e não perigo, é estar junto e acolher, e dessa forma perceber o que a natureza move em você
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF, ANA PAULA RAMPELOTTO (2020) CRIANÇAS: ALEX, VICENTE M, MARIA ALICE, JOANA, VICENTE F. E LÍVIA
QUAL SERÁ O CARDÁPIO? A arte de cozinhar que Joaquim está a realizar... São alimentos, brinquedos tudo entra na panela e o sabor é o diferencial. A panela fica pequena para tanto material.
Ele escolhe atentamente o que irá utilizar. Sua receita é única e de muito sabor. Que técnicas usa para os ingredientes escolher? Será o sabor ou a cor? Talvez algo que tenha visto sua família utilizar, brinquedos ou alimentos que sabe que vai gostar
E ao escolher os alimentos, ele se envolve: faz e desfaz, cria e recria as possibilidades de experimentar e ver o que irá acontecer nesse processo de explorar as possibilidades do brincar.
TEXTO: ANGELITA MARIA MACHADO IMAGENS: ANA PAULA RAMPELOTTO (2020) CRIANÇA: JOAQUIM
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AH, AS DESCOBERTAS DA IPÊ! Acompanhado da mãe, Alescendro chegou à unidade em meados de setembro de 2019, e desde então foram tantas descobertas... Na Turma Azul Anil, foi acolhido com materiais diversos, em situações e sentimentos complexos, que agora, pelo momento, estão desconexos.
Mas que sentimento nele ecoava essas vivências de Ipê? Nem sempre é fácil de descrever aquele cena que se vê nos corredores da Ipê, mas em sala deixou-se transparecer. O pedido de colo para as professoras acontecia e, nesses momentos, Alescendro sorria. Os elementos da natureza e objetos não estruturados Alescendro apreciava e com o corpo sentia os mais distintos sentimentos e as mais diversas sensações que nele ocorriam. Alescendro se envolvia com potes, rolhas, madeiras e areia além de apreciar os amplos espaços externos. E nessas situações de juntar e separar, jogar para o alto e tocar, também vimos suas formas de se expressar. Nas brincadeiras e explorações, ou até mesmo em imitações, foram formas afetuosas de notar e as suas descobertas observar.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: BANTCHI, VÍVIAN JAMILE BELING (2020) CRIANÇA: ALESCENDRO
TEM QUE TER ADAPTAÇÃO... PARA TER CONEXÃO É março de 2020 e Rafael vive o momento de adaptação. Acompanhado do pai, chega à nova sala e se depara com outra professora, então. Que sentimentos podem surgir nessa situação? Na ausência do pai, o choro de Rafael faz a demonstração de um dos sentimentos que surge com essa condição. E aqui se faz importante a observação e reflexão de como acontece a interação. No cantinho das panelinhas, na companhia do pai, Rafa faz uma aproximação e a profe Lu tenta acolher o sentimento que aparece na ocasião. Com materiais e objetos, e usando de imaginação, seja na sala ou na recepção, ou até com objetos em um vão, há diferentes formas de acontecer adaptação. Tem que haver preparação para essa nova condição que Rafael, a família e professores a vivenciar estão. E não existe receita mágica para essa preparação: quase sempre é observação dos sentimentos da criança que está em interação.
Para Rafael, a adaptação foi importante condição de lidar com a emoção em cada passagem pela recepção. E em meio à adaptação, com a presença do pai ou não, vai-se construindo, com as profes e colegas… conexão.
TEXTO: ANA PAULA RAMPELOTTO IMAGENS: BRUNA, EDUARDO, RENATA DA SILVEIRA (2019, 2020) CRIANÇA: RAFAEL
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AS POSSIBILIDADES DO INESPERADO Na docência com crianças pequenas, a organização do planejamento, que envolve espaços, tempos, materiais, intervenções e propostas, é diferente em cada dia, com cada criança, com cada grupo de crianças e em cada situação... E
nesse
movimento,
nessa
preparação,
as
crianças
estão
com
a
gente,
dão
dinamicidade a esse saber/fazer, a essa ação. As crianças encaminham, organizam e também reorganizam, num processo complexo de aprender. E elas não precisam falar para isso acontecer. Mesmo as crianças mais pequeninas nos mostram, pelo olhar, pelo movimentar e se locomover, a diversidade infinita de explorações, de compreensões, de ser, estar, viver e conviver... Revendo essas imagens, revisitando as memórias desse dia, me dei conta do quanto pude aprender...
E as crianças muito nos ensinam, se conseguirmos parar, observar, refletir e também rever, pois as vezes é necessário mudar a estratégia, flexibilizar, para
um
nesse
momento
dia,
também,
em
um
que
tapete
mais
potente
dispusemos com
poder no
imagens
oferecer.
tatame
de
os
animais...
Foi
o
que
aconteceu
saquinhos
sensoriais
Henry,
dos
um
e,
menores
bebês da turma, lentamente se aproximou de um saquinho e o olhou com inquietação... Ele tocou o saquinho, o provou com a boca e nos mostrou com sua expressão que o gosto daquele saquinho lhe deveria ser estranho, não parecia saboroso, não... Depois, Henry se encantou com uma pontinha da fita amarela que prendia o saquinho no tablado e com os dedinhos a movimentava de um lado a outro lado... Alex, vendo esse movimento de Henry, se aproximou, balbuciou para ele e olhou para o lado, como que mostrando algo... Começava aí uma interação e, observando isso, me veio à mente, rapidamente, a questão: como potencializar e promover essa aproximação e uma maior interação?
43 Lembrei que Alex gostava de animais, que até estavam no tapete dispostos, mas esse material pouco possibilitava a
troca,
a
movimentação,
pouco
potencializava a interação... Coloquei ali, então, a caixa dos animais e esse material, que inicialmente não estava programado,
veio
a
compor
nosso
cenário... Alex,
então,
pegou
um
animal,
olhou e alcançou para Henry, que olhava
encantado,
tanto
o
material como seu colega, que lhe mostrou outras possibilidades...
Depois disso, Henry , com muita vitalidade, pôs-se a se movimentar e, nesse processo, vimos o início de seu engatinhar... Que momento único nós pudemos, como professoras, acompanhar e potencializar!! Isso traz para nosso trabalho algo bastante salutar... Planejamos com intencionalidade e possibilitamos também às crianças participar. Com atenção ao que elas vão apontar, que composições irão fazer em suas brincadeiras, ações e interações... E nesse movimento de observar, muitas vezes vemos que precisamos o
planejado
clareza
modificar,
de
qual
a
flexibilizar...
intenção
Tendo
desta
ação
realizar, dando possibilidades ao inesperado, que
diante
de
apresentar... pequenas levam
A
tem
cada
nós,
vez
pelas
crianças,
docência dessas mais
fortalecer
situações
a
nosso
com
ver,
se
faz
crianças que
nos
(re)aprender
e
saber/fazer...
Reconhecendo que cada criança é singular e que nós temos a responsabilidade de cuidar, educar,
respeitar,
potencializar
e
acompanhar,
principalmente,
observar, em
cada
criança acreditar!
TEXTO: CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF CRIANÇAS: ALEX E HENRY
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OS ENREDOS DAS INTERAÇÕES DAS CRIANÇAS: O QUE PODEMOS COM ELES E COM ELAS APRENDER? Henrique estava deitado em uma das caminhas e estávamos ali a lhe proporcionar sensações diversas com a exploração de pincéis, escovas e pompons a dependurar... Eis que em um belo instante, Vicente Figueira vem dele se aproximar. Ele olha para Henrique e começa a balbuciar...
Um olhar tão singelo e cheio de carinho, que Henrique corresponde com atenção... Há ali a observação do outro, uma troca de olhares a se cruzar, que culmina com o toque, o carinho de abraçar. Esses momentos são únicos e é um privilégio podê-los observar!
No fundo da imagem vemos Alex, também a esse momento contemplar, Mostrando curiosidade em seu olhar... Que interpretação ele está a realizar? Alex se aproxima da caminha onde Henrique está e, nesse momento, Vicente vai com outra coisa brincar como que sentindo que seria aquela uma oportunidade em que poderiam Alex e Henrique se aproximar. E dali surge outra interação...
45
Alex traz o dado e entra na caminha, compartilhando a pequena imensidão. Henrique estende os braços, interessado no dado. Mas Alex, percebendo essa situação, joga o dado longe, Pois parecia que ele queria ser de Henrique a atenção...
E assim, com cuidado e carinho, Alex vai se aconchegando a Henrique, deitando ao seu lado, bem de mansinho. Henrique sorri, mostrando satisfação. E ali os dois ficam lado a lado, no mesmo espaço, curtindo essa aproximação... Os enredos dessas situações nos mostram diferentes interações e como as crianças são verdadeiras, transparentes e singelas em suas expressões. Precisamos muito aprender com elas, para construir um mundo com mais respeito e menos violações.
TEXTO: CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2019) CRIANÇAS: ALEX E HENRIQUE
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BRINCADEIRA DE CRIANÇA Pedro está concentrado na sua exploração, na transformação que está a acontecer... Água, pincel e um olhar atento. A terra molhada vira barro, muda de cor, muda a textura e o cheiro… Vira tinta no pincel...
A arte de explorar realizada por Pedro aconteceu atentamente, respeitando o seu tempo. A ação gerou uma reação. Pedro observou e experimentou, aproveitando cada instante que, além de significante, em uma tarde de calor, foi também refrescante. Esses momentos acontecem quando a criança se sente à vontade para explorar, brincar e se sujar sem esperar um adulto autorizar, pois sabe que pode brincar e suas conclusões realizar em um espaço pensado nela e para ela explorar.
TEXTO: ANGELITA MARIA MACHADO IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF (2020) CRIANÇA: PEDRO
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AS CEM LINGUAGENS DE UMA CRIANÇA Ser criança, ter muitas possibilidades.
¹
Já dizia Malaguzzi , as crianças são, têm, múltiplas linguagens... O olhar, o movimentar, o pintar, o desenhar, o interpretar e até o chorar são todas linguagens das crianças que precisamos considerar... Cada uma com suas especificidades, Superando qualquer dificuldade.
Em espaços acolhedores Com adultos idealizadores Que as acompanham nos bastidores.
Ah, as crianças, suas ações e reações... Em cada exploração há uma emoção com grande empolgação! E quais linguagens das crianças, hoje, em casa, temos visto de montão?
¹ MALAGUZZI, In:
FARIA,
L.
Ana
Ao
contrário,
Lúcia
Goulart
as de;
cem
existem.
MELLO,
Suely
Amaral (Orgs.). O mundo da escrita no universo da
pequena
infância.
Campina,
SP:
Autores
Associados, 2005.
TEXTO: ANGELITA MARIA MACHADO E CLÁUCIA HONNEF IMAGENS: CLÁUCIA HONNEF ANA PAULA RAMPELOTTO CRIANÇAS: ALEX, BERNARDO, JOANA, JOAQUIM, MARIA ALICE, PEDRO, VICENTE FIGUEIRA,VICENTE MIGUEL PROFESSORA: ANGELITA, BOLSISTA: ROSSANA