Projeto Editorial - Tcc Carina Toledo

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SYNTHZ

CARIN A T OL E DO MAT OS



A G R A D E C I M E N T O S Realizar este trabalho e esta coleção não teria sido possível sem a colaboração de algumas pessoas, que se tornaram muito especiais para mim ao longo desta jornada. Agradeço à minha mãe, por todo o apoio e compreensão em toda esta jornada acadêmica, pois sei que o suporte que recebi de você é para poucos. Ao meu pai, por ser, de certa forma, um norte, uma direção orientadora nos momentos de confusão. À minha grande amiga Carolina, por estar ao meu lado nos momentos bons e ruins e compreender que nem todo stress merece ser levado em consideração. Às minhas queridas companheiras marcelinas Vera, Patrícia e Julie, por compartilhar comigo todas as alegrias e agonias que é chegar ao fim deste curso, me proporcionando apoio, troca e momentos muito necessários de descontração. Aos amigos Marcelo, Caio, Pedro e Everton, pelas noites de diversão altamente necessárias, sem as quais eu enlouqueceria. À minha orientadora, Simone Mina, por apontar caminhos que eu talvez não enxergaria. À professora Angela, que colocou a mão na massa comigo. Ao Pierre, por acreditar em mim e no projeto. Nada como uma voz de fora para trazer uma nova visão e motivação para seguir em frente. Ao Franco, por compartilhar comigo seu conhecimento, tirar minhas dúvidas e mostrar o caminho para chegar ao meu objetivo e como driblar as dificuldades. Ao Fernando, por me auxiliar e emprestar seus conhecimentos elétricos – foi muito necessário ter um engenheiro de plantão. À Camilla Jade Martins e ao Fernando Denti, por criar este lindo projeto gráfico e conseguir traduzir visualmente tudo que estava na minha cabeça. Agradeço também a você, leitor, que chegou até aqui.

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CARIN A T OL E DO MAT OS

S ynthz O fu t u r o n o p r e s e n t e

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade Santa Marcelina como requisito parcial à obtenção do Bacharelado em Desenho de Moda. Pr ofes s o ra -o r ienta do ra : Sim one Mina

S ã o Pa u l o, 2 013 04


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SUMÁRIO Introdução

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Moda no Século XXI: a indústria do efêmero

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A Moda do Futuro

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O Futuro no Presente: trajetória criativa

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Synthz: Coleção Outono/Inverno 2014:

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Inspiração Visual Cartela de Cores Matérias e Maquetes

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Roupas-dispositivo e a Pirâmide de Maslow aplicada

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Considerações finais

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Referências bibliográficas

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Créditos de imagens

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INTRODUÇã0 “ A moda vai durar para sempre. Ela sempre vai existir. Existirá de sua própria maneira a cada era. Eu vivo no momento. É interessante saber os métodos antigos, mas é importante viver no presente. ” Azzedine Alaïa 1 .

A

moda tem como uma de suas características definidoras ser um reflexo de seu tempo, da cultura de um povo em uma determinada época. Traz, como elemento fundamental, a sua própria negação, aniquilando um determinado estilo para dar espaço ao novo – e é este ciclo autodestruidor que permite a sua sobrevivência (BRAGA, 2011). No entanto, se os criadores de moda estão a todo momomento em busca do novo, por que nós ainda seguimos os mesmos métodos de produção usados desde o fim do século XVIII? Enquanto a indústria da moda segue buscando o “novo”, esta busca parece aplicar-se apenas à estética, pois poucas inovações tecnológicas de fato marcam presença na indústria atual. A maior parte das roupas ainda são cortadas em pedaços de tecidos, que são unidos por costuras, exatamente do jeito que já eram na Revolução Industrial (QUINN, 2012). 2 Hoje vivemos mudanças cada vez mais rápidas, em uma sociedade que adquiriu uma dinâmica participativa que era impensável há 10 anos. Vivemos em rede e não precisamos mais estar cara a cara ou em frente ao computador para compartilhar novas experiências com nossos familiares, amigos ou colegas de trabalho – o avanço do telefone celular como dispositivo multifuncional nos possibilita estar conectados de qualquer lugar, sem perder nada do que acontece nas redes sociais, portais de notícias, blogs ou até mesmo dentro de nossas casas ou do nosso escritório. No entanto, “a moda ainda não desempenha um papel significativo nesta mudança cultural (...), e poucas marcas já incorporaram aos seus produtos a tecnologia de comunicação e sistemas microeletrônicos que podem tornar as roupas interativas” (QUINN, 2012, p. 6). A moda de massa ainda não apresenta grandes mudanças, mas alguns poucos estilistas já estão alinhando sua criação aos novos processos desenvolvidos nos campos do design industrial e da engenharia. A experimentação no campo têxtil é ampla, trazendo avanços desde a composição dos próprios tecidos para torná-los mais funcionais, até o desenvolvimento de suas superfícies, que tornam-se eletronicamente sensíveis e podem já transmitir mensagens.

1. The Future of Fashion, Part 9: Azzedine Alaïa”, disponível em <http://www.style.com/stylefile/2011/10/the-future-of-fashion-part-nine-azzedine-alaia/#more-15789>, publicado em 31/10/2011, acesso em 20/08/2013. 2. O livro Fashion Futures, lançado por Bradley Quinn e a editora Merrel Publishers em 2012, ainda não possui edição brasileira. Todas as citações contidas neste trabalho são tradução nossa.

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A presente pesquisa inspira-se ao invés de uma tecnologia nestes avanços tecnológicos e aplicada exclusivamente ao âmbito busca traduzí-los para nossa militar, médico ou industrial. Para realidade atual, criando isso, o conceito de computação roupas funcionais para o vestível aparece aqui AUTOpresente e não um futuro alinhado à Hierarquia REALIZAÇÃO distante, roupas para de Necessidades de (A necessidade de pessoas comuns e Maslow (KOTLER; desenvolvimento e criatividade). que nos auxiliem no KELLER, 2006, p. Estas necessidades são supridas através de autonomia e cotidiano, 183). realização.

ESTIMA ( A necessidade de auto-estima, poder, reconhecimendo e prestígio). Estás necessidades são supridas através da realização, reconhecimento, promoções e bônus.

SOCIAL ( A necessidade de ser querido, de pertencer ao grupo, de inclusão).

SEGURANÇA ( A necessidade de segurança, abrigo, estabilidade)

FISIOLÓGICA ( A necessidade de água, comida, exercício, repouso, de estar livre de doençs e incapacidades).

Buscando atender necessidades de vários níveis da pirâmide – dos níveis mais básicos, como nossas necessidades de segurança, chegando aos níveis mais altos, que são afetividade e relacionamento, estima e autorealização –, foram criadas roupas-dispositivo que combinam funcionalidade tecnológica e linguagem de moda.

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Figura 1: Gráfico do livro Administração de Marketing


“ referências visuais de filmes de ficção científica, com suas visões de futuro, viagens espaciais, andróides e transhumanismo, para unir roupasdispositivo e peças comuns em um guarda-roupa integrado .

Atualmente, a criação de vestíveis tecnológicos está separada do âmbito da moda, restrita aos laboratórios de engenheiros e designers industriais. A proposta desta pesquisa não é criar vestíveis tecnológicos totalmente novos – todos os dispositivos aqui usados nas roupas já existem, foram desenvolvidos anteriormente por pesquisadores da computação vestível. No entanto, ao estudar esse universo, foi encontrada uma lacuna a ser explorada, que é a aplicação desta tecnologia aliada ao design de moda, a um público-alvo e inserindo-a dentro do contexto de uma coleção. A marca Synthz foi criada como resultado desta pesquisa, com o objetivo de fazer esta conexão entre tecnologia e moda. Nesta coleção de estreia, para o Outono/Inverno 2014, a funcionalidade tecnológica foi combinada a referências visuais de filmes de ficção científica, com suas visões de futuro, viagens espaciais, andróides e transhumanismo, para unir roupasdispositivo e peças comuns em um guarda-roupa integrado para este consumidor de moda, com desejos voltados para a inovação. São apresentadas aqui 14 peças (sendo 3 delas roupasdispositivo), distribuídas em 8 looks. Assim, a Synthz dialoga com uma mulher moderna, que busca na tecnologia soluções para seu dia-a-dia atribulado, marcado pela alta mobilidade no espaço urbano, mas sem deixar de lado o desejo por sofisticação e diferenciação em seu vestir.

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Moda no Século

XX/

A ind ú stria do ef ê mero

” O que eu vi lá foi disciplina e sacrifício pessoal em um nível extremo. Eu pedia para que as pessoas virassem a noite trabalhando para terminar a coleção e eles não hesitavam. Eles não tinham escolha. Ficou claro para mim que estava acabando aqui nos Estados Unidos – que era o fim. Quando eu vi o que estava vindo da China, era quase de dar medo. A concentração deles. Eles estavam iniciando essa indústria e iam construir [o país] em cima disso.” Cindy Ferrara, em entrevista a Cathy Horin. 3

E

nquanto a inovação de processos da moda fica confinada a pequenos ateliês e laboratórios de pesquisa de universidades, a realidade do mercado de consumo do vestuário é outra. A globalização proporcionou uma integração maior entre os mais diversos países e hoje os jovens do mundo todo vestem-se de maneira muito semelhante, pois as influências de moda agora são globais – e não é por acaso que uma das macrotendências neste início de século XXI foi o multiculturalismo4. Isso se deve ao surgimento do fast fashion, que transformou em meio de produção uma das características fundamentais da moda, que é a efemeridade 5.

3. “Behind the Scenes: The Product Specialist”, disponível em <http://runway.blogs.nytimes.com/2010/02/05/behind-the-scenes-the-product-specialist/?_r=1>, publicado em 5/02/2010, acesso em 16/08/2013. 4. Macrotendência WGSN Outono-Inverno 12/13, disponível em <http://vimeo.com/25192127>, acesso em 12/09/2013. 5. “A Desaceleração do Fast Fashion e o Começo de um Novo Momento”, disponível em <http://pontoeletronico.me/2013/04/04/a-desaceleracao-dofast-fashion-e-o-comeco-de-um-novo-momento/>, acesso em 20/08/2013.

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O fast fashion traz, como uma de suas características fundamentais, o lançamento constante de peças novas, instigando cada vez mais o consumismo e a compra por impulso, pois ao contrário do sistema tradicional, com coleções de outono-inverno e de primavera-verão, as peças de coleções fast fashion normalmente não têm reposição nas lojas, pois é preciso dar espaço para a próxima que já está chegando. Esse ciclo acelerado de lançamentos já influenciou também a alta moda e agora as grandes maisons estão desfilando coleções intermediárias entre as estações, o que para algumas marcas significa lançar oito coleções por ano e, para os estilistas, criar novas coleções a cada dois meses.

“ O fast fashion transformou em meio de produção uma das características fundamentais da moda, que é a efemeridade. “ O estilista Azzedine Alaïa, que ganhou notoriedade nos anos 1980, é um dos poucos que conseguiu manter-se com rentabilidade fora deste novo ciclo de moda, permanecendo fiel ao seus métodos criativos. “Hoje eu acredito que pedese muito dos estilistas, muitas coleções. É inconcebível para mim que uma pessoa criativa consiga ter uma nova ideia a cada dois meses. Porque se eu tenho uma nova ideia por ano, eu agradeço aos céus, eu rezo, eu faço tudo, mas Deus nem sempre me dá ideias”, declarou Alaïa ao Style.com 6.

6. “The Future of Fashion, Part 9: Azzedine Alaïa”, disponível em <http://www.style.com/stylefile/2011/10/the-future-of-fashion-part-nine-azzedinealaia/#more-15789>, publicado em 31/10/2011, acesso em 20/08/2013.

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Outra demanda intrínseca ao ciclo fast fashion é a redução de custos, para entregar roupas cada vez mais baratas ao consumidor. Esta demanda levou as empresas a buscar fornecedores nos países em desenvolvimento, sendo a China a mais proeminente neste setor. Atualmente, as marcas de moda precisam concentrar-se muito mais em políticas internas e custos de cadeia de produção e, logicamente, fornecedores mais baratos levam a redução na qualidade do produto final.

Este processo alimenta a característica de efemeridade da moda, com roupas mais baratas tornando-se quase descartáveis,

“Atualmente, as marcas de moda precisam concentrar-se muito mais em políticas internas e custos de cadeia de produção.”

Levar a produção ao exterior para países em desenvolvimento significa endossar processos empresariais questionáveis, como trabalhadores em jornadas excessivas e em condições precárias dentro das fábricas. Periodicamente surgem notícias ligando grandes marcas globais a tragédias em ambientes de trabalho, como o recente caso das duas fábricas no Blangadesh, com o colapso da fábrica de Rana Plaza e o incêncio na fábrica Tazreen Fashion. Os dois acidentes juntos, em abril de 2013, deixaram 1.200 mortos e mais de 2.500 feridos 7. Esperava-se que um desastre como este causasse uma revolta dos consumidores e que as empresas retirassem seus pedidos do país, mas as exportações não foram impactadas. Em julho de 2013, Blangadesh viu um aumento de 13% em suas exportações de roupas prontas 8.

sobrevivendo nos armários só durante aquela estação, só enquanto aquela tendência se mantiver válida.

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A.M. Ahad / AP

Desmoronamento de um prédio de 8 andares que abrigava várias oficinas de costura em Blangadesh. 24/04/2013.

“ O caso de Blangadesh é só

O caso de Blangadesh é só um exemplo que demonstra a insustentabilidade do modelo fast fashion no longo prazo, pois as melhorias necessárias para a indústria local certamente impactarão o preço do produto final. No entanto, ainda há muitos países em desenvolvimento a serem explorados e a tendência é que as empresas continuem migrando sua produção para fornecedores com preços competitivos. Enquanto a China já começa a elevar seus custos de mão-de-obra e padronização de condições de trabalho, outros países desenvolvem planos para entrar no setor, assim possibilitando que grandes varejistas mantenham seu modelo de exploração de fornecedores terceirizados.

um exemplo que demonstra a insustentabilidade do modelo fast fashion no longo prazo, pois as melhorias necessárias para a indústria local certamente impactarão o preço do produto final. ”

O governo da África do Sul, por exemplo, já criou um plano de três anos desenhado para atender às demandas internacionais, para aumentar a capacidade de manufatura do país, incluindo medidas para apoiar o setor têxtil e calçadista. Lá, o National Skills Fund 9, aliado ao governo sulafricano, está investindo na capacitação de mão-de-obra para tecnólogos, engenheiros e gerentes de produção. Além disso, está investindo também em tecnologia têxtil para processar fibras naturais como linho, seda e cashemere 10.

7. “Blangadesh: The Catalyst for Change in the Supply Chain”, disponível em <http://www.just-style.com/analysis/the-catalyst-for-change-in-the-supply-chain_ id118808.aspx>, publicado em 22/08/2013, acesso em 24/08/2013. 8. Ibid. 9. “South Africa: New Industrial Plan to Support Clothing Sector”, disponível em <http:// www.just-style.com/news/new-industrial-plan-to-support-clothing-sector_id117516.aspx>, publicado em 12/04/2013, acesso em 20/08/2013. 10. Ibid.

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Em entrevista ao The New York Times 11, a modelista e gerente de produção Cindy Ferrara conversou com a renomada jornalista de moda Cathy Horin sobre sua experiência acompanhando o modelo de terceirização de mão-de-obra para o Oriente desde a década de 1980 e sobre o que a expansão deste modelo deve significar para as empresas ocidentais: “Eu diria que a China tem uma mentalidade do amanhã. E há um desejo competitivo de serem os melhores. [...] Eles se mostram muito animados em mostrar para você como estão investindo – máquinas de bordado, de corte a laser e de modelagem. A última coisa que percebi é que eles estão entrando no design de produto e no merchansiding também. Minhas primeiras viagens à China eram muito sobre ensinamentos, mostrar e explicar. Mas agora, as pessoas que sabem criar roupas corretamente, com um senso de tridimensionalidade, não estão mais por aqui [nos EUA]. Agora é tudo uma questão de medidas. O caimento de uma roupa, o componente humano disso, se perdeu. [...] Eles estão olhando uma roupa a partir de como ela será apresentada na loja, não como fica na pessoa. [...] Eu vi todo esse processo ir para o exterior. Nós dávamos aos chineses as máquinas e o treinamento, e eles nos davam as roupas. O conhecimento ainda estava aqui nos Estados Unidos. Agora o conhecimento se foi, [...] eles têm o know-how. O que nós vamos nos tornar é vendedores. É o nosso marketing, são os nossos sites, os nossos depósitos. Você não tem ideia de quantas conversas eu tive sobre embalagens. Há uma preocupação maior em como empacotar caixas – para propósitos de eficiência, custos de transporte, para caber no depósito do e-commerce. Nós vamos é administrar galpões de depósito, e vender” (Cindy Ferrara, em depoimento ao The New York Times, 5/02/2010).

11. “Behind the Scenes: The Product Specialist”, disponível em <http://runway.blogs.nytimes.com/2010/02/05/ behind-the-scenes-the-product-specialist/?_r=1>, publicado em 5/02/2010, acesso em 16/08/2013.

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Kevin Frayer / AP

Uma sobrevivente ĂŠ retirada dos escombros no local da fĂĄbrica. 25/04/2013

Munir Uz Zaman / Getty Images

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“ A fabricação de roupas no modelo fast fashion pode ser, inclusive, literalmente tóxica. “ O ciclo autodestruidor da moda não aplica-se apenas a tendências visuais ou à migração da indústria. A fabricação de roupas no modelo fast fashion pode ser, inclusive, literalmente tóxica. De acordo com um recente relatório do Greenpeace, Os Fios Tóxicos – O grande remendo da indústria da moda 12, muitas roupas disponíveis nas lojas contém traços de produtos químicos potencialmente carcinogênicos e impactantes aos nossos hormônios, que são aplicados aos tingimentos e beneficiamentos. Alguns destes produtos químicos não afetam diretamente a pessoa que veste o tecido, mas são jogados no meio-ambiente durante a fabricação ou até mesmo durante a lavagem em nossas casas. Muitos desses produtos são proibidos nos Estados Unidos e Europa mas, como atualmente a produção é terceirizada para países em desenvolvimento com políticas menos rígidas de fiscalização, consumidores de todo o mundo acabam sendo impactados. Como disse o blog Business of Fashion, “na realidade, nós somos todos vítimas da moda” 13, pois acabamos consumindo produtos sem uma garantia de sua procedência. A pesquisa do Greenpeace testou 141 peças de roupa, de 20 marcas globais entre redes varejistas e marcas de luxo, compradas em 29 países diferentes para análise, incluindo nomes como Giorgio Armani, United Colors of Benetton, C&A, Calvin Klein, Diesel, H&M, Gap, Levi’s, Marks & Spencer, Tommy Hilfiger, Victoria’s Secret, Zara, entre outras. A partir deste estudo, o Greenpeace lançou-se em uma campanha de desentoxicação, convocando protestos e exigindo que as marcas mudem suas práticas de fabricação e sejam mais transparentes em seus métodos, mas das 20 marcas estudas, apenas C&A, H&M e Marks & Spencer comprometeram-se a chegar a zero emissões e poluentes até 2020, e já iniciaram medidas nesta direção.

12. Estudo conduzido pelo Greenpeace em Abril de 2012, cujo relatório está disponível na íntegra em <http://www.greenpeace.org/international/Global/international/ publications/toxics/Water%202012/ToxicThreads01.pdf>, acesso em 20/08/2013. Tradução do título pelo Greenpeace Brasil. 13. “Op-Ed: Toxic Chemicals in Clothing Make All of Us Fashion Victims”, disponível em <http://www.businessoffashion.com/2012/11/op-ed-toxic-chemicals-in-clothing-make-all-of-us-fashion-victims.html>, publicado em 20/11/2012, acesso em 20/08/2013.

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Qiu Bo/Greenpeace

“ na realidade, nÓs somos todos vítimas da modA, Uma fábrica de tingimento na zona industrial de Shaoxing Binhai, China. Dez/2012

pois acabamos consumindo produtos sem uma garantia de sua procedência. “

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“ Com o modelo fast

Qiu Bo/Greenpeace

fashion e a exploração de mão-de-obra de países em desenvolvimento tornandose a nova regra, surge a necessidade de quebrar novamente este padrão. “

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“ Como contra-tendência, hoje já estamos testemunhando o surgimento do movimento Slow Fashion, que critica o modelo de produção como um todo. “ Com o modelo fast fashion e a exploração de mãode-obra de países em desenvolvimento tornando-se a nova regra, surge a necessidade de quebrar novamente este padrão – pois na moda, marcas que seguem o caminho trilhado não podem moldar o futuro. Como contra-tendência, hoje já estamos testemunhando o surgimento do movimento Slow Fashion, termo criado em 2008 pela estilista Kate Fletcher, que critica o modelo de produção como um todo. O movimento também encoraja os consumidores a prestar mais atenção aos produtos que compram e diminuir o consumismo impulsivo, valorizando mais cada item do guarda-roupa e investindo em seus cuidados – não é negar a moda e deixar de comprar, mas sim relacionar-se com a roupa em um nível mais profundo 14. Nas últimas décadas, a moda foi marcada por atos de rebeldia e, atualmente, torna-se necessário fazer um contraponto não só à estética do vestir, mas também ao próprio processo de criação e fabricação, para dar lugar a novas e inovadoras soluções.

14. “The Slow Fashion Movement: 10 Brands That Are Doing It Right”, disponível em <http://fashionista.com/2012/12/the-slow-fashion-movement-what-it-is-and-the-10brands-that-are-doing-it-right/>, acesso em 20/08/2013.

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M od a

DO

FUTURO

” A ideia é encontrar um caminho harmonioso entre o novo e a tradição, entre o ontem e o hoje. Não é simplesmente uma questão de ser moderno e high-tech e seguir em frente. Para inovar, é preciso ter alguma base, você precisa estar vindo de algum lugar .” Alber Elbaz. 15

Dita Von Teese veste primeiro vestido articulável feito em impressão 3D. Criação dos designers Michael Schmidt e Francis Bitonti, com fabricação pela empresa Shapeways. 23


T

ecnologia e moda andam de mãos dadas há séculos – mesmo quando inovações técnicas ainda estavam muito distantes do que hoje chamamos de “tecnológico”. Como exemplo, podemos citar os corsets medievais e as complexas construções de crinolina para a armação de saias no século XIX, que já eram invenções da tecnologia de seu tempo. Hoje a transformação continua sendo a essência da moda e, enquanto redes varejistas exploram o modelo industrial do fast fashion e o ritmo acelerado de tendências, alguns poucos estilistas e estudiosos estão quebrando tradições para alinhar a moda à novas técnicas do campo do design e da engenharia, alguns integrando partes eletrônicas aos trajes, enquanto outros buscam uma nova sinergia entre roupa e usuário em níveis diferentes (QUINN, 2012, p. 6). Os primeiros protótipos de computação vestível surgiram no início dos anos 1990, com dispositivos acoplados a jaquetas, casacos e coletes. Este

“ As vestimentas do futuro terão a habilidade de ampliar a nossa percepção do nosso corpo e dos ambientes em que vivemos.

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primeiro estágio logo evoluiu para pesquisas que buscam colocar a tecnologia totalmente integrada ao tecido e à roupa, permitindo maior conforto e naturalidade no uso (QUINN, 2012, p. 14). Conforme as pesquisas avançam, roupas de alta tecnologia estão expandindo expectativas do que nossas roupas podem fazer por nós: coberturas para o corpo que executam funções, servem seus usuários e redefinem o propósito da própria roupa (SMITH; TOPHAM, 2005, p. 10-12). Aplicar a tecnologia de vestíveis à medicina diagnóstica é um dos grandes campos de estudo atualmente, criando sistemas de exame portáteis que nos darão maior qualidade de vida e saúde. Um exemplo deste tipo de pesquisa é o sutiã First Warning Systems, desenvolvido pela Lifetime Biotechnologies, que promete prevenir o câncer de mama, fazendo o diagnóstico nos primeiros estágios de mutação celular, antes mesmo do câncer ser visível para mamografias ou ressonâncias magnéticas. Com o formato de um sutiã esportivo, seu tecido traz sensores que monitoram


e detectam alterações de temperatura na pele dos seios, e envia os dados automaticamente pela internet, para serem analisados por alogaritmos da empresa. Todos os resultados podem ser acompanhados pelas usuárias em seus computadores ou smartphones. O produto ainda está em fase de testes mas, em três etapas com mais de 650 mulheres cada, o First Warning Systems já mostrou 90% de exatidão da detecção de anormalidades. Caso os resultados mantenhamse positivos, o produto deve chegar ao mercado em 2014, a um custo de varejo em torno de US$1.000,00. 16 No livro Future Fashions, Bradley Quinn (2012) prevê que a moda do futuro refletirá a sociedade participativa e conectada em que vivemos hoje. Considerando que a moda traz mais significados emocionais e comportamentais do que qualquer outra categoria de consumo (DAVIS, 1992), esperase que a tecnologia vestível possibilitará que as roupas fiquem

“ Já há pesquisas em desenvolvimento com o objetivo de prolongar a vida útil de uma roupa.

mais ligadas ao seu ambiente, permitindo que o aspecto sensorial ganhe mais espaço no nosso dia-a-dia do que tem hoje. As vestimentas do futuro terão a habilidade de ampliar a nossa percepção do nosso corpo e dos ambientes em que vivemos. Elas conseguirão imitar nossas habilidades cognitivas, como intuição e lógica, tornando-se compatíveis com nosso humor e nossos gatilhos emocionais, para tornar nossas experiências com elas mais satisfatórias (SMITH; TOPHAM, 2005, p. 32). Assim como o fast fashion impactou o ciclo da moda como um todo, a introdução de vestíveis tecnológicos também deve transformar a indústria futuramente. Já há pesquisas em desenvolvimento com o objetivo de prolongar a vida útil de uma roupa. Tecidos “sempre limpos” e camisetas “à prova de suor” alterarão a dinâmica de uso e lavagem das roupas atuais, nos levando para um cotidiano de tecidos autolimpantes ou sem necessidade de limpeza. Esta nova dinâmica dará às

15 . “The Future of Fashion, Part 6: Alber Elbaz”, disponível em <http://www.style.com/stylefile/2010/05/the-future-of-fashion-part-six-alber-elbaz/#more-10376>, publicado em 17/05/2010, acesso em 20/08/2013. 16. “Bra Detects Breast Cancer: ‘First Warning Systems’ Bra Uses Sensors to Detect Tumors”, publicado em 16/10/2012, disponível em <http://www.huffingtonpost.com/2012/10/16/bra-detects-breast-cancer-lifeline_n_1970096.html>, acesso em 20/10/2012. Site oficial do produto, com maiores informações disponível em <http://www.firstwarningsystems.com/>, acesso em 06/09/2013.

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roupas a aparência de estarem sempre novas, dando a elas vida extendida. Esta transformação deve significar um retorno da valorização de roupas bem cortadas e modeladas – e o momento “throwaway chic” em que vivemos hoje deve sair de moda definitivamente (QUINN, 2012, p. 20). Bradley Quinn ainda traça o panorama de um futuro em que as roupas responderão a comandos programados, possibilitando que elas se concertem automaticamente caso sejam danificadas. Outra possibilidade será o download de templates de modelagem diretamente do site das marcas, permitindo aos consumidores fazer o upgrade de uma roupa para o último estilo apresentado nas passarelas. Esta realidade não está tão longe de acontecer com o advento da impressão 3D. A estilista holandesa Iris Van Harpen, conhecida por suas silhuetas esculturais e pioneirismo tecnológico, inaugurou a impressão 3D nas passarelas ao desenhar e fabricar sua coleção de Outono/Inverno 2011-12, chamada Escapism. “ Os vestidos em impressão 3D que eu criei não foram feitos para uso cotidiano, simplesmente porque o material deles é frágil. Tecnologia de impressão 3D já evoluiu desde então (...) Acho que é só uma questão de tempo até conseguirem imprimir tecidos laváveis e, depois disso, haverá uma enorme mudança na moda”, entrevista com Iris Van Harpen (QUINN, 2012, p. 50).

“ Esta nova dinâmica dará às roupas

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Michel Zoeter

a aparência de estarem sempre novas, dando a elas vida extendida . “


“ Outra possibilidade será o download de templates de modelagem diretamente do site das marcas, permitindo aos consumidores fazer o upgrade de uma roupa para o último estilo apresentado nas passarelas . “ Em maio de 2013, os designers Michael Schmidt e Francis Bitoni apresentaram o primeiro vestido de alta moda articulado em impressão 3D, usado por Dita Von Teese em um evento no Ace Hotel, em Nova York 17. A impressão foi realizada pela empresa Shapeways e o vestido foi adornado por mais por mais de 13 mil cristais Swarovski, tornando o protótipo digno de qualquer tapete vermelho do mundo.

17. “Dita Von Teese Flaunts Fibonacci-Inspired, 3D Printed Gown”, publicado pela Wired.com em 5/03/2013, disponível em <http://www.wired.com/design/2013/03/dita-von-teese-3-dprinted-gown/ >, acesso em 11/03/2013. Vídeo explicativo disponível em < http://youtu.be/ J4zGFdKfU1U> , acesso em 10/09/2013.

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“ a criação de moda nunca desaparecerá, as roupas é que serão já desenhadas com vários estágios de uso em mente. “ 28


Alguns questionam a ideia de durabilidade como ameaçadora à moda, já que hoje o próprio ato de comprar transformou-se em lazer; e ao âmbito profissional, já que equipes de estilo são formadas justamente para suprir a sede por novidades e tendências. No entanto, a criação de moda nunca desaparecerá – as roupas é que serão já desenhadas com vários estágios de uso em mente. As superfícies mudarão de cor de acordo com a estação, silhuetas poderão alterarse e texturas poderão transformar-se constantemente, fazendo com que a próxima geração da moda surja como uma mídia mutável (Ibid, p. 25). Neste cenário, a profissão de estilista e criador de moda nunca morrerá – o que está fadado à eventual extinção é a indústria têxtil e de confecção. Mesmo em um futuro em que todos nós poderemos acessar a internet, comprar uma roupa e imprimí-la em casa, o desejo pela moda e pela novidade não deve desaparecer, apenas o ato de comprar como fim em si só, sintoma mais grave do consumisto insustentável que em muito prejudicou nosso planeta. Seremos ainda uma sociedade de consumo, mas com produtos mais duráveis para a diminuição do consumismo em níveis nocivos. O fim definitivo para esse tipo de roupa tecnológicamente avançada seria um sistema sensorial para que ela percebesse quando não é mais necessária e desaparecesse, automaticamente (Ibid, p. 31) O imaginário de uma beleza ideal também não deve sumir tão cedo – ao contrário, a tecnologia é que se esforçará para tornar idealizações em realidade. A maneira como as roupas se ajustam ao corpo será tão importante no futuro como é hoje, usando a tecnologia para modelar nossas formas de acordo com os padrões do momento. “Paineis têxteis vão traçar grupos musculares para aumentar sua performance, melhorando a circulação sanguínea e dando suporte extra para estimular músculos cansados, melhorar disposição e força” (Ibid, p. 25).

Desfile da coleção Escapism, com roupas em impressão 3D. Outono/Inverno 2012 Semana de Moda de Paris - Alta Costura 29

“ Mesmo em um futuro em que todos nós poderemos acessar a internet, comprar uma roupa e imprimí-la em casa, o desejo pela moda e pela novidade não deve desaparecer, apenas o ato de comprar como fim em si só.


“ O imaginário de uma beleza ideal também não deve sumir tão cedo, ao contrário, a tecnologia é que se esforçará para tornar idealizações em realidade.

Aldous Huxley, em sua visão de futuro no livro Admirável Mundo Novo (2000), originalmente publicado em 1932, previa uma sociedade onde o corpo perfeito era primordial, controlado por pílulas reguladoras. Muito antes da descoberta da fertilização in-vitro, Huxley imaginou que os seres humanos transfeririam o processo biológico de reprodução para laboratórios, tendo como um de seus propósitos não prejudicar a figura femina com os efeitos da gestação, parto e amamentação – tanto que quando uma mulher Selvagem chega à civilizada Londres de 2540, sua imagem “mutilada” pelos efeitos da maternidade, com sobrepeso e peitos caídos, causa grande choque. A sociedade dividida em castas, destituída do conceito de família, encorajadora do sexo recreacional e drogas alucinógenas ainda não se concretizou da maneira como Huxley imaginava. Apesar de já praticarmos sexo sem compromisso, ainda somos julgados por valores morais em nossa sociedade. Podemos usar drogas alucinógenas, mas ilegalmente e correndo risco de prisão. No entanto, a busca pelo corpo perfeito já está bem concretizada, em um processo de “desqualificação” do corpo natural (HOFF, 2004) e, se ainda não abdicamos da maternidade como defendia Huxley, a mídia e a indústria de celebridades reforçam a ideia de que o peso ganhado deve ser perdido imediatamente, retornando o corpo ao ideal erotizado, pronto para ser apreciado pelo olhar masculino e para o ato sexual. As modelos Gisele Bündchen e Alessandra Ambrosio, ambas com dois filhos cada, já estavam de volta às passarelas em desfiles de moda praia menos de seis meses após o parto. A relação entre moda, corpo e autoimagem, que já é muito forte hoje, deve intensificar-se ainda mais no futuro, conforme avanços tecnológicos na área cosmética, cirúrgica e têxtil consigam tornar nossas idealizações em realidade.

Processo de criação do vestido 3D de Michael Schmidt e Francis Bitonti, com fabricação pela empresa Shapeways.

.“ 30


31


32


o futuro no

presente:

tra j et ó ria criativa

“ Eu

vi coisas que vocês, humanos, não acreditariam. Naves de ataque em chamas nas bordas de Orion. Vi Raios-C cintilar na escuridão perto do Portal de Tannhaüser. Todos esses momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer. “

Roy Batty (Rutger Hauer), Blade Runner – O Caçador de Androides (1982). 33


O

desejo por uma ideia de futuro que move esta pesquisa começou há dois anos, se desdobrando em várias pesquisas acadêmicas. O processo de investigação começou pelo futurismo sessentista de estilistas como Pierre Cardin e André Courrèges (BOUCHER, 2010), cuja moda era influeciada pelas primeiras conquistas do Homem no espaço e olhava-se o que estava por vir com otimismo, especialmente nos EUA, já que “a América sentia-se pronta para caminhar para o futuro, liderados por seu presidente jovem, John F. Kennedy” 18 . Chegando a visões atuais de futuro, a nova arquitetura do Oriente Médio, onde capitais monetizadas como Dubai e Abu Dhabi já estão construindo um futuro marcado por opulência e paraísos artificiais, entraram para a combinação de referências estéticas.

18. “JKF: A New Generation” e “The Space Race”, documentários da série The 1960’s, do History Channel, disponível em <http://www.history.com/ topics/1960s/>, acesso em 9/09/2013.

34


An dr é C o ur r èges

A sentimentalização dos androides serviu de conceito fundamental para a criação de uma estética para a coleção. Buscando combinar o artificial das fibras sintéticas, do tecido plástico e dos dispositivos eletrônicos com um componente humano, escolhi implementar uma ornamentação com bordados feitos à mão. Outro conceito crucial na literatura de Asimov foi o estabelecimento das Três Leis da Robótica:

“ 1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal. 2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe são dadas por um ser humano, exceto em casos em que tais ordens conflitem com a Primeira Lei. No entanto, a referência futurista mais pungente foi a ficção científica de Isaac Asimov e sua devoção e exploração do conceito de robô humanoide. Na coletânea de contos Eu, Robô (2004), o escritor transita por vários níveis de inteligência artificial contando a evolução tecnológica dos robôs, desde quando eram máquinas enormes e barulhentas, chegando ao ponto que conseguiriam emular sentimentos humanos, ficando afeiçoados aos seus donos, assim como nós humanos ficaríamos apegados aos nossos robôs.

3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e/ ou Segunda Lei. ”

(ASIMOV, 2004).

Pierre Cardin: The Metropolitan Museum of Art - Costume Institute 35


As Três Leis regem o comportamento dos robôs em toda a ficção de Asimov, e seu enunciado simples e claro gerou um desejo por funcionalismo dentro da coleção e da linguagem As Três Leis regem o comportamento dos robôs em toda a ficção de Asimov, e seu enunciado simples e claro gerou um desejo por funcionalismo dentro da coleção e da linguagem de moda da Synthz. A literatura e cinema de ficção científica já serviria de inspiração estética para as roupas, mas foi após o contato com Eu, Robô e as Três Leis que veio a decisão por implementar dispositivos tecnológicos nas roupas. E, assim como Asimov em sua ficção, escolhi uma série de preceitos para guiar minha criação de moda. O embasamento aqui foi a Hierarquia de Necessidades de Maslow, que serve de guia para entender como produtos se encaixam nos planos e na vida dos consumidores, conceito aqui usado para criar roupas-disposivo que facilitem o nosso cotidiano e sirvam ao usuário. Segundo Maslow, “as necessidades humanas são dispostas em hierarquia, da mais urgente para a menos urgente. (...) Por exemplo, um homem passando fome (necessidade 1) não tem interesse pelos últimos acontecimentos no mundo da arte (necessidade 5)” (KOTLER; KELLER, 2006, p. 183). A partir do momento que vamos suprindo um nível da pirâmide de necessidades, o próximo se torna relevante. Dois experimentos de computação vestível tiveram grande impacto para a escolha de aliar criação de moda com um conceito de necessidades de consumo advindo do marketing. O primeiro foi a Hug Shirt, desenvolvido pelo laboratório de moda londrino CuteCircuit, que por tecnologia de telecomunicação consegue transmitir remotamente a sensação de um abraço. Usuários

36

da Hug Shirt podem transmitir abraços virtuais uns aos outros por meio de áreas sensíveis no tecido da camisa, interagindo com sua superfície (QUINN, 2012, p. 36). Apesar de ser um experimento têxtil muito interessante e complexo, sua aplicação no mercado de consumo atual é questionável. No mundo atribulado de hoje, em que o contato interpessoal está sendo cada vez mais substituído por gadgets e pela internet, será que queremos que até nossos abraços sejam virtuais? A lógica que rege a Synthz é contrária, acreditando que buscamos tecnologias que facilitem nossas obrigações e economizem nosso tempo para que, assim, possamos apreciar o contato interpessoal verdadeiro.


“ n o mundo atribulado de hoje, em que o contato interpessoal está sendo cada vez mais substituído por gadgets e pela internet, será que queremos que até nossos abraços sejam virtuais? A lógica que rege a Synthz é contrária, acreditando que buscamos tecnologias que facilitem nossas obrigações e economizem nosso tempo para que, assim, possamos apreciar o

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An dré C o urr èges

contato interpessoal verdadeiro. “


A

segunda grande influência da coleção foi a jaqueta No-Contact, criada em 2003 pela dupla de designers americanos Adam Whiton e Yolita Nugent. A vestimenta feminina tradicional, com seus vestidos e saltos-altos, tende a colocar a mulher em uma posição de fragilidade, que se agrava ainda mais quando somamos a violência das grandes cidades. Com a jaqueta No-Contact, a mulher que a veste, caso sinta-se ameaçada, pode acionar um mecanismo e disparar uma descarga elétrica contra seu agressor. O sistema é acionado por botões nas mangas, mais alongadas que a modelagem padrão, para que os botões possam ser pressionados apenas fechando as mãos e para que estas fiquem protegidas do choque pelo tecido. Antes do disparo, luzes de LED funcionam como um aviso ao agressor. Caso ele ignore e ainda decida atacar a mulher, ela pode liberar a corrente de alta voltagem armazenada na jaqueta. Uma camada isolante de borracha, que forra toda a peça, protege a mulher que a veste da corrente. Como a resposta natural do corpo ao medo é contrair as mãos, a jaqueta ainda executa sua função mesmo que a agressão seja tão chocante que sua usuária esqueçase de acioná-la. Os designers ressaltam que sua criação não é uma solução mágica para situações de ataque, aplica-se apenas a ataques com agressão física, como uma tentativa de estupro, e não a situações envolvendo armas ou facas, por exemplo. “Recebemos uma enorme procura de mulheres querendo comprar as jaquetas. E sentimos que é mais alarmante o fato de que mulheres na nossa sociedade vejam

esse tipo de roupa como algo necessário para usar diariamente”, declararam os designers (SMITH; TOPHAM, 2005, p. 118). O desejo de consumo inspirado pela jaqueta No-Contact é o que busco replicar com as roupas-dispositivo da Synthz, aplicando tecnologia para atender à necessidades atuais e traduzindo inspirações futuristas para o presente. Falar de moda e tecnologia sem mencionar Hussein Chalayan é quase impossível, já que vestíveis tecnológicos permearam suas criações pela última década. Em 1999, ele fechou sua coleção de Outono/Inverno, chamada Echoform, com um vestido animado mecânicamente, feito em fibra de vidro e um design que lembrava a construção de um avião. Sua forma evocava a fetichização da figura feminina, já que seios, cintura e quadris foram esculpidos em fibra de vidro, independente do verdadeiro formato do corpo que o vestisse. Os movimentos realizados pelo mecanismo do vestido eram controlados remotamente, simbolizando a passividade humana frente à tecnologia – um tema que depois tornou-se recorrente no trabalho de Chalayan. Na passarela, a modelo Audrey Marnay ficava parada enquanto uma série de partes do vestido movimentavam-se e revelavam partes de seu

No - Contact Jacket. 38

Adam Whiton e Yolita Nugent.


corpo, lembrando o discurso e movimentos das aeromoças antes da decolagem, sinalizando procedimentos e saídas de emergência. “Do ponto de vista do passageiro, essa dança de sinais significa a abnegação de controle e submissão à máquina” (VIOLETTE, 2011, p. 11). Analisando o uso de tecnologia por Chalayan em diversas coleções, vemos que nenhuma de suas criações servem ao usuário – as roupas apresentadas sempre são controladas remotamente. Neste sentido, seu trabalho é muito mais uma obra de arte performática, usando a Semana de Moda e a passarela como mídia. Chalayan apropria-se da tecnologia para criticá-la, sua discussão fala de nossa sociedade e os efeitos que o progresso tecnológico deixou, problematizando esta questão. Suas coleções comerciais não levam a tecnologia para o consumo de moda – que é o que buscamos fazer aqui com a Synthz. Hussein Chalayan: “Airplane Dress” Primavera/verão 2000. 39


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outono / in v e rno 2 0 14

syntHz A

escolha de criar uma coleção sob um nome outro que não meu próprio veio da natureza temática do trabalho – falar de tecnologia, androides e visões de futuro pedia um nome próprio para este propósito. A ideia surgiu dos materiais da coleção, tão sintéticos e incomuns ao vestuário contidiano. Ao mesmo tempo, há a ideia de concisão estética das roupas, mas sem entrar na vertente do minimalismo, com foco nas formas e diálogo com o espaço urbano. Assim surgiu a Synthz, palavra derivada de synthetic, que muito bem poderia ser nome de uma personagem de algum filme sci-fi, mas aqui aparece para personalizar todo o espectro temático que envolve esta coleção – e com desejo de continuar no futuro, quem sabe até ampliando o campo de trabalho para jóias, sapatos, bolsas, roupa masculina, acessórios para gadgets... Como uma boa ficção, a imaginação é o limite.

” Synthz, palavra derivada de synthetic, que muito bem poderia ser nome de uma personagem de algum filme sci-fi, mas aqui aparece para personalizar todo o espectro temático que envolve esta coleção. ” A marca, em um primeiro momento, tem como público-alvo mulheres das classes AB+, de 23 a 40 anos, que têm um dia-a-dia atarefado e estão em constante movimento, equilibrando compromissos profissionais e sociais. Ocupam profissões nas áreas de design, arquitetura, publicidade, internet, artes e moda, e tem grande interesse em tecnologia, aderindo aos lançamentos como early-adopters. Preocupam-se em unir praticidade e funcionalidade à roupas modernas esteticamente. 41






C artela de cores

A partir da temática escolhida e das imagens coletadas, a seleção das cores para a coleção foi um processo de redução e descarte – inicialmente incluindo tons avermelhados e violeta – e, aos poucos, foi-se distanciando das cores quentes e priorizando cores frias, dialogando com a temática robótica. Os tons selecionados foram azuis, cinzas e metálicos, além dos neutros preto e off-white.

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matérias e maquetes

Os tecidos escolhidos para a coleção são, em sua maior parte, sintéticos, representando a artificialidade dos androides, com uma presença forte de materiais metalizados e do plástico. Estão presentes na coleção tecidos como nylon, lycra de poliéster, tule de lycra, glitter grosso, cristal colorido fosco, e tecidos metalizados compostos de poliuretano, em variações como amassado, espelhado, matelassê e imitando couro. Em contraponto, há o desejo de inserir um componente humano na máquina, e assim aparecem fibras naturais, couro bovino, lã e o bordado manual.

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Bordado geometrizado em couro, com fios prateados e pedrarias.

Bordado em cascata com fios de algodĂŁo egĂ­pcio.

4 91


Estamparia em método sublimação, sobre Lycra 100% poliester para tingimento.

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Bordado geometrizado em linha lastex sobre tule de lycra azul marinho.


matĂŠrias

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R oupas - dispositivo e a P ir â mide de M aslo w aplicada A criação das três roupas-dispositivo da coleção se deu atendendo a necessidades de três níveis da Pirâmide de Maslow, aplicando-a à demandas de uma roupa de inverno. Com auxílio e orientação do artista plástico Glauco Paiva19, cujo trabalho dedica-se a descontrução de objetos de baixa tecnologia, brinquedos e artigos chineses e sucata tecnológica, apliquei seu método de trabalho construindo os vestíveis a partir de artigos pré-existentes, remontandoos para um novo propósito. Trazer este conceito para o trabalho também foi uma necessidade, considerando a escassez de materiais disponíveis no mercado brasileiro (ainda mais para uma coleção acadêmica), em que a computação vestível não está nem sendo discutida e estudada por grandes empresas e fornecedores. A primeira peça é um casaco aquecedor, atendendo o segundo nível de necessidades apontado por Maslow, que são as necessidades de segurança. Precisamos proteger nossa sobreviência, assegurando que nosso corpo estará protegido do frio. Ao mesmo tempo, por que usar muitas camadas de roupas e casacos se poderíamos ter um único casaco, com temperatura regulável? Buscando aplicar este conceito, foi usado um dispositivo aquecedor pré-existente, que foi desmontado e seus componentes foram aplicados à roupa, em pontos estratégicos para melhor aquecer o corpo. A segunda peça é também um casaco, equipado com placas solares fotovoltaicas (que convertem calor em energia). Atendendo ao terceiro nível de necessidades, de relacionamento interpessoal, o casaco permite que, no decorrer de atividades durante o dia – tanto com exposição ao sol como à luz artificial –, a luz seja convertida em energia e armazenada em uma bateria para quando for necessário. Por meio de uma saída USB, torna-se possível carregar um celular ou qualquer outro gadget, assim solucionando o problema de ficarmos incomunicáveis na cidade, quando mais precisamos. O uso de placas solares

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19. Mais sobre o artista e seus projetos e workshops disponível em <http://www.glaucopaiva.com/>, acesso em 13/09/2013.


fotovoltaicas em um contexto de moda já foi feito anteriormente, pelas estilistas americanas Jane Palmer e Marianne Fairbanks, da marca Noon Solar. Criada em 2003, como uma resposta ao militarismo dos EUA em busca de petróleo no Iraque, a Noon Solar busca individualizar as fontes de energia. “Queríamos trazer poder literal ao indivíduo, (...) para viver fora do sistema e ter fontes alternativas de energia”, explicou Palmer (SMITH; TOPHAM, 2005, p. 48). As placas são usadas por elas em uma linha de acessórios, resultando em um produto final que elas esperam, um dia, ser produzido em larga escala para a vida cotidiana, afinal, a moda não se torna moda até que todo mundo use (BRAGA, 2011, p. 18). Enquanto esta massificação não ocorre, Palmer e Fairbanks “estão comprometidas a refinar a tecnologia para que outros designers possam integrá-la em suas próprias roupas e acessórios, para uma distribuição mais ampla” (SMITH; TOPHAM, 2005, p. 48). A terceira peça atende ao quarto nível da pirâmide, que trata da nossa necessidade por estima e reconhecimento, usando paineis de LED em um vestido para criar uma nova proposta de “estamparia”. Por que usar roupas com desenhos criados por outras pessoas, se poderíamos nós mesmos escolher as imagens que mais amamos e vestí-las? Os paineis funcionam de forma interligada e as imagens são carregadas por meio de programação em Arduíno. Desta maneira, é possível alternar as imagens exibidas, de acordo

com o momento e ocasião, levando a expressão pessoal na moda ao nível máximo. Um exemplo disso foi visto em 2011, quando a Polaroid, em parceria com a cantora Lady Gaga, lançou um óculos de sol que também era uma câmera fotográfica e continha telas na frente dos olhos, reproduzindo as imagens captadas 20. O produto no entanto, nunca chegou a popularizar-se no mercado. Aqui, a aplicação é feita ao longo do corpo e, em uma possibilidade futura e mais complexa, o dispositivo poderia ser desenvolvido para sincronizar-se a um smartphone, alimentando-se diretamente de imagens coletadas nas redes sociais do usuário, como Pinterest, Tumblr e Instagram. A montagem desta peça foi a mais afetada pelas limitações de produtos disponíveis no mercado brasileiro, e até aceitar subir os custos não traria uma solução. A grande dificuldade tornou-se não construir um painel de LED (as lâmpadas estão amplamente disponíveis), mas ter o equipamento para a programação, que faria com que os LEDs formassem desenhos e padronagens alternáveis. Importar os equipamentos pela Internet e recebêlos no Brasil é muito fácil, mas o prazo disso tornavase inviável para esta coleção. Considerando que o único problema era tempo, partiu-se para uma solução temporária, com a montagem de painéis “falsos”, usando o LED em fitas colantes, mas cujas possibilidades são mais limitadas (apenas acender, piscar e dimerizar). Assim, a roupa fica em estágio de protótipo, aguardando mais alguns meses para a implantação do dispositivo definitivo.

20. “Lady Gaga unveils Polaroid sunglasses camera, printer”, publicado por Macworld em 7/07/2011, disponível em <http://www.macworld.com/article/1156968/ ladygaga_polaroid.html>, acesso em 13/03/2013.

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loo k 1


desen h o tĂŠcnico

processo 59


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loo k 2


desen h o tĂŠcnico

processo 61


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loo k 3


desen h o técnico FRENTE

processo FRENTE COSTAS

COSTAS elástico

tecido 2

Tecido 1 tecido 1

Tecido 2

tecido 2 tecido 1

tecido 1

costura dupla - 2 agulhas

FRENTE

COSTAS tecido 1 entretelado

tecido 1 entretelado

Tecido 1

aplicação de bordado com linhas azuis

aplicação de dispositivo com placa solar

Observação: peça com forro destacável

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preenchimento do espaço não ocupado pela placa solar com placas de acrílico, bordadas no tecido


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loo k 4


desen h o tĂŠcnico FRENTE

COSTAS tecido 1

tecido 1

Tecido 1

tecido 2

tecido 2

tecido 3

Tecido 2

zĂ­per trator azul - 40 cm

Tecido 3 tecido 3

tecido 1

tecido 1

tecido 4

Tecido 4

tecido 4

processo 65


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loo k 5


desen h o técnico

COSTAS

FRENTE botão de acrílico

processo

acabamento à fio tecido 2

tecido 2

Tecido 1

tecido 1 tecido 1

acabamento à fio

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Tecido 2


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loo k 6


desen h o técnico COSTAS

FRENTE

tecido 1

tecido 1 tecido 2

Tecido 1

Tecido 2

aplicação de bordado com linha prateada e pedrarias

Tecido 3 tecido 3

tecido 3

processo 69


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loo k 7


desen h o técnico FRENTE

COSTAS acabamento à fio tecido 2

tecido 2

Tecido 1

tecido 1 inserção de dispositivo: paineis de LED

cinto bordado com fios prateados e pedrarias tecido 1

acabamento à fio

acabamento à fio

processo 71

Tecido 2


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loo k 8


desen h o técnico

FRENTE

processo

COSTAS tecido 1

tecido 1

Tecido 1

Tecido 2 abertura com botões de pressão, por dentro

tecido 2

Observação: peça com forro destacável. Aplicação de dispositivo aquecedor sob todo o casaco.

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79


considerações finais O

processo de pesquisa que levou à criação da Synthz e de cada uma das roupas desta coleção se deu a partir de uma exploração teórica e conceitual sobre ideias e visões de futuro, transitando entre pesquisas científicas e obras da literatura, cinema e cultura pop. Explorar o futuro e trazê-lo ao presente foi o grande objetivo desta pesquisa, motivado pelo desejo de usar e testar os experimentos da computação vestível, com a proposta de trazê-los para o cotidiano. O processo de executar estas roupas – ainda que em um patamar noventista de inovação, com dispositivos aplicados extra-tecido – foi muito enriquecedor. A busca por matérias-primas e equipamentos para aplicar nas roupas explicitou o quão atrasado o Brasil se encontra neste campo de pesquisa. Fora do âmbito de uma grande empresa, há poucas possibilidades para estudar a área de eletrônicos de forma individual, e a dificuldade de montar vestíveis tecnológicos é apenas uma consequência disso. Ainda assim, partir de objetos já existentes, foram criadas roupas-dispositivo funcionais. Vale ressaltar que o fator principal aqui não era a inovação em tecnologia, mas sua reaplicação, explorando um guarda-roupa contemporâneo que incorporasse estas novas possibilidades, mas não só. Futuro para o presente, tecnologia para facilitar nossa vida cotidiana, moda que pode fazer mais por nós do que apenas cobrir o corpo.

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referencias

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IMAGEM Capa e contracapa. Glitch art de Mathieu St. Pierre – Fish/ Fire & Ice (2012), disponível em <http:// matstpierre.files.wordpress.com>, acesso em 20/10/2013. Manipulação e tratamento de imagem por Camilla J. Martins Imagem interna da capa: Glitch art disponível em: <http://www. tedmar tens.com/wp-content/img/ glitchArt001.png>. Cores manipuladas por Camilla J. Martins. Imagem página 5: Fundo: Glitch art de Mathieu St. Pierre – Melting Ice cream series (2012), disponível em <http://matstpierre.files. wordpress.com/2012/09/image102. png>, fotografia de Anthony Maule, para Dazed & Confused de abril, 2011, acesso em 01/10/2013. Manipulação e tratamento de imagem por Camilla J.Martins. Imagem páginas 6 e 7: Glitch art de Mathieu St. Pierre – Melting Ice cream series (2012), disponível em <http://matstpierre.files.wordpress. com/2012/09/image103.png>, acesso em 01/10/2013 Imagem páginas 10 e 11: Glitch art de Mathieu St. Pierre – Caffeine (2012), disponível em <http://matstpierre.files.wordpress. com/2012/07/image42.jpg>, acesso em 02/10/2013. Manipulação e tratamento de imagem por Camilla J. Martins. Imagem página 15: Desmoronamento prédio Bangladesh Fotografia de A.M. Ahad, (2013) Imagem página 16: Desmoronamento prédio Bangladesh Fundo - Fotografia de Munir Uz Zaman, 2013 Imagem página 17: Topo: Kevin Frayer, 2013. Esquerda e direita: Munir Uz Zaman, 2013

Imagem página 18 e 19: Fábrica de tingimento na China - fotografia Qiu/Bo para o Greenpeace, 2012. Imagem páginas 22 e 23: Fundo: Glitch art de Philip Stearns, 2012, disponível em <http://rebloggy.com/ post/photography-ar t-glitch-ar tists-ontumblr-glitch-art-phillip-stearns-year-ofthe/26974727167> . Fotografia de Dita Von Tease - Shapeways, disponível em <www. shapeways.com/blog/archives/1952revealing-dita-von-teese-in-a-fully articulated-3d-printed-gown.htm>,2013, acesso em 05/10/2013. Manipulação e tratamento de imagem por Camilla J. Martins. Imagem páginas 26: Escapism – Iris Van Harpen, Fotografia de Michel Zoeter, 2012. Imagem páginas 27: Fotografia de Dita Von Tease - Shapeways, disponível em < http://www.shapeways. com/blog/archives/1952-revealing-ditavon-teese-in-a-fully-articulated-3d-printedgown.html>, 2013. Imagem páginas 28: Fundo: Glitch art de Philip Stearns, 2012, disponível em < http://rebloggy.com/ post/photography-ar t-glitch-ar tists-ontumblr-glitch-art-phillip-stearns-year-ofthe/26974727167> . Fotografia de Petrovski e Ramone, 2013. Manipulação e tratamento de imagem por Camilla J. Martins. Imagem página 31: Fundo: Glitch art de Philip Stearns, 2012, disponível em < http://rebloggy.com/ post/photography-ar t-glitch-ar tists-ontumblr-glitch-art-phillip-stearns-year-ofthe/26974727167> . Fotografias do making off por Shapeways, disponíveis em < http://www.flickr.com/photos/51579195@ N02/8492126545> , 2013. Acesso em 05/10/2013. Manipulação e tratamento de imagem por Camilla J. Martins.

Imagem página 32: Pierre Cardin Audrey Hepburn por André Courreges, 1965, disponível em < http://pleasurephoto.files.wordpress.

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com/2012/01/hepburn-audrey-howto-steal-a-million_01.jpg> , acesso em 07/10/2013. Manipulação e tratamento de imagem por Camilla J. Martins. Imagem página 33:

Trecho do filme Blade Runner, 1982. .

Manipulação e tratamento de imagem por Camilla J. Martins. Imagem página 34: Arquitetura do Oriente Médio - verificar ano e crédito. Imagem páginas 35 e 36: André Courreges - Pierre Cardin - The Metropolitan Museum of Art - Costume Institute. Manipulação e tratamento de imagem por Camilla J. Martins. Imagem página 38: No contact Jacket - Adam Whiton e Yolita Nugent, 2003. disponível em: < http://www.no-contact. com> , acesso em 07/10/2013. Imagem página 39: Airplane Dress, Hussein Chalayan, 2000. disponível em: <www.domusweb. it/content/dam/domusweb/en/ design/2011/09/09/chalayanat-the-mus-e-des-arts-decoratifs/ big_357963_6765_Chalayan3.jpg> , acesso em 08/10/2013. Imagem páginas 40 e 41: Fundo: Criação e manipulação de imagem por Camilla J. Martins, Croquis: Carina Toledo. Painel Semântico 1: Background com Glitch art de Mathieu St. Pierre – Caffeine 2 (2012), disponível em <http://matstpierre.files.wordpress.com>, acesso em 15/09/2013. Imagens, da esquerda para direita, em sentido horário: 1..“Fly me to the Moon” – Harper’s BAZAAR China, Benjamin Kanarek, 2010 2. Fotografia de Jacques Dequeker – The KRTL Collective, 2010. 3.“Cyborg shot” – disponível em <http:// lapatesolaire.tumblr.com>, acesso em

8/08/2013. 4. André Courréges, fotografia por Bert Stern, 1969. 5. Domo geodésico de Buckminster Fuller – fotografia por Pacific Domes, 2006. 6. L_A_N Magazine, Issue 1, 2010. 7. Cena do filme “Cyborg”, 1989. 8.Franco Rubartelli, década de 1960. Painel Semântico 2: Background Glitch art de Mathieu St. Pierre – Melting Ice (2013), disponível em <http://matstpierre.files.wordpress. com>, acesso em 15/09/2013. Imagens, da esquerda para direita, em sentido horário: 1.“Fly me to the Moon” – Harper’s BAZAAR China, Benjamin Kanarek, 2010. 2. Paco Rabanne, fotografia de Richard Avedon, 1966. 3. L_A_N Magazine, Issue 1, 2010. 4. “Fly me to the Moon” – Harper’s BAZAAR China, Benjamin Kanarek, 2010. 5. Mind Expander, Haus-Rucker Co, 1967. 6. Lady Gaga, fotografia de Inez & Vinoodh, 2012. 7. Cena do filme Blade Runner, 1982. 8. L_A_N Magazine, Issue 1, 2010. 9.Cyborg, disponível em <http://www. pinterest.com>, acesso em 4/03/2013. 10. Philips Design Probe program - SKIN Bubelle, 2012. 11.Print screen do filme Metrópolis, 1927. 12.“Space Odissey” – Vogue America, Steven Klein, 2012. Imagem páginas 46 à 51: Fundo: Criação e manipulação de imagem por Camilla J. Martins e fotografias de Carina Toledo. Imagem páginas 56 à 79: Glitch art disponível em: <http://www. te d m a r te n s . c o m / w p - c o n te n t / i m g / glitchArt001.png>. Fotografias e croquis de Carina Toledo.



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