Prefácio Este é um manual para o desenvolvimento de projetos de apicultura em pequena escala. A intenção é oferecer uma visão geral da apicultura e suas possibilidades. Há níveis intermediários de tecnologia em apicultura que podem ser altamente sustentáveis e auto-suficientes baseados apenas em recursos locais. Embora haja uma grande abundância de publicações técnicas sobre apicultura, em sua grande maioria elas se dedicam à apicultura de alta tecnologia, que está fora do alcance de muitos apicultores e interessados. O presente manual portanto enfoca sistemas e métodos em níveis intermediários de tecnologia, que são acessíveis à maioria das pessoas com qualquer nível de conhecimento e experiência, e praticamente em qualquer região. Opções de alta tecnologia não são tratadas aqui em detalhe, mas apenas mencionadas como opções de desenvolvimento.
moderna. Porém, como veremos a seguir, as práticas primitivas de exploração extrativista das abelhas não desapareceram, e continuam a co-existir com sistemas altamente sofisticados de criação Posto de forma simples, há dois estágios básicos no desenvolvimento histórico do relacionamento entre humanos e abelhas: extrativismo do mel e a criação de abelhas, ou apicultura. Extrativismo do mel é a atividade onde colônias selvagens de abelhas são destruídas para extração dos favos contendo o mel. Com a colméia destruída, e deixadas sem mel e larvas, as abelhas sobreviventes estão fadadas à morte. Muitas vezes, pessoas que extraem o mel dessa maneira têm pena das abelhas, mas não conhecem outra forma de obter mel ou cera de abelhas. Mel assim obtido é usado para consumo familiar ou venda local. Muitas vezes é de baixa qualidade, contendo impurezas. Em alguns grupos étnicos, os ovos, larvas e pupas de abelhas são consumidas pelas crianças, sendo considerados um trato especial. O valor da cêra de abelhas é freqüentemente ignorado por pessoas que predam colônias selvagens, e a cêra é muitas vezes jogada fora, ou usada apenas como combustível. O extrativismo predatório de abelhas é uma atividade tradicional em algumas partes da África e Ásia, mas na maioria das outras regiões trata-se apenas de uma atividade ocasional, especialmente quando abelhas formam colônias em residências constituindo risco ou incômodo, ou quando da derrubada de árvores que contém colônias. A criação de abelhas possibilita rendimento e regularidade muito maiores na produção de mel. Em sistemas primitivos de criação, as abelhas são criadas em potes de argila, cabaças, caixas feitas de cascas de árvores, ou caixas feitas de palha com barro. As abelhas constróem os favos fixos à casa, dificultando a inspeção e permitindo pouca ou nenhuma manipulação da colméia. Favos contendo mel são removidos periodicamente, e favos contendo filhotes são normalmente deixados para criar.
Abelhas e Humanos O relacionamento do homem com as abelhas existe há milhares de anos. A coleta extrativista de mel de colônias de abelhas selvagens é uma atividade humana muito antiga, que ainda é praticada em boa parte do mundo. Há registros de tal atividade em pinturas rupestres datadas em cerca de 15.000 anos. A criação de abelhas propriamente dita também é uma prática muito antiga: os egípcios e gregos já as criavam cerca de 4.000 anos atrás; há indícios arqueológicos da existência de uma apicultura avançada em Jerusalém há 3.000 anos, e registros históricos da atividade na China há cerca de 2.500 anos. Desde o século XVIII, a apicultura recebeu um grande impulso no mundo ocidental com o estudo científico da biologia das abelhas, e uma abordagem sistemática no desenvolvimento de métodos de criação para maximizar a eficiência, levando ao que conhecemos por apicultura
Colméia de casca de árvore
Criação de abelhas em potes de barro
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Em criações mais sofisticadas, ou seja, na apicultura moderna, aplicam-se princípios baseados no conhecimento da biologia das abelhas para a manipulação da colônia visando o maior rendimento. O grau tecnológico, bem como a escala de produção, podem variar de níveis relativamente baixos, com equipamentos rústicos de fabricação caseira e produção para consumo familiar, até grandes operações utilizando equipamentos sofisticados e caros. De qualquer forma, a apicultura pode ser um negócio lucrativo na maioria das regiões do mundo
Colméia de quadros removíveis
Colméia de favos removíveis tipo queniano.
A apicultura é uma atividade relativamente trabalhosa, que exige dedicação contínua para que possa dar bons resultados. Os frutos dessa atividade são, porém, compensadores: o mel e cêra de abelhas são produtos de alto valor e fácil comercialização. Outro importante sub-produto é a polinização efetuada pelas abelhas, que têm um efeito invariavelmente positivo na flora local e produção agrícola. Além disso, há o fato que as abelhas representam um aproveitamento de recursos cuja exploração seria difícil ou inviável: néctar e pólen. Abelhas coletam néctar e pólen em uma ampla área ao redor de sua colméia, e não conhecem fronteiras ou cercas, o que significa que o tamanho de uma propriedade não é um fator limitante à produção de mel.
Cera de abelhas
Abelhas ocorrem naturalmente na maior parte do mundo, seja por serem nativas ou por haverem sido introduzidas. Onde quer que haja abelhas, estas representam um recurso a ser utilizado, em outras palavras, deve-se dar preferência às abelhas presentes em uma região, ao invés de comprar ou importar abelhas de outras áreas. A natureza simples dos equipamentos utilizados em apicultura, tais como as caixas, fumigadores e roupas de proteção, assegura que eles possam ser produzidos localmente, um fator importante para a independência e auto-suficiência. Projetos de apicultura em pequena escala podem ser lucrativos desde o princípio; após alguma experiência é adquirida, fica fácil para o apicultor aumentar o número de suas colméias. Além dos produtos da colméia já citados acima, há outras possibilidades, como o própolis, geléia real e pólen, embora sua produção possa requerer um grau mais alto de especialização, e mercados para esses produtos sejam geralmente mais restritos. Outro produto da apicultura são as próprias abelhas e colméias: uma forma de começar uma criação é comprar uma colméia de um apicultor estabelecido.
A cera de abelhas é um produto não perecível e de fácil armazenamento. Ela tem alto valor, sendo muito procurada por fabricantes de cosméticos e velas artesanais ou especiais. Outros usos incluem a impermeabilização de couros, revestimento de alguns queijos no processo de maturação, uso em moldagens, fabricação de ceras para sapatos, móveis, etc.
Planejamento de Projetos de Apicultura O primeiro passo no planejamento de um empreendimento em apicultura é conhecer e se familiarizar com as pessoas envolvidas com abelhas na sua área: criadores, vendedores e distribuidores de produtos, etc. Se você não tem experiência com apicultura, pode aprender muito com criadores locais, que muitas vezes estão dispostos a conversar e permitir que você os acompanhe em suas atividades. Conhecendo a forma como esses criadores locais trabalham, fica mais fácil adaptar as tecnologias presentes na sua área. Uma vez que você estiver familiarizado com o relacionamento entre as pessoas e as abelhas na sua área, você deve formular idéias de melhorias para seu próprio sistema. É uma boa idéia começar um projeto de apicultura com pelo menos duas colméias: isso não apenas te dá mais segurança caso uma colméia morra, mas ainda te dá uma oportunidade de comparar o progresso de diferentes colméias. Porém, é melhor não ser muito ousado, ou seja, deve-se buscar objetivos realistas e aumentar a escala ou complexidade de seus sistemas gradualmente. Mais vale uma criação pequena dando certo que uma grande dando errado. Equipamentos a serem utilizados dependerão da situação local: em algumas áreas, há lojas e representantes que podem
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fornecer todo o material e equipamentos necessários; em outras, você terá que encontrar pessoas que sejam capazes de produzir esses equipamentos, ou terá que produzí-los você mesmo. Conseguir todo o material para começar um projeto de apicultura pode ser um tanto trabalhoso. Apicultura como uma atividade integrada Apicultura integra-se bem com outras atividades produtivas agrícolas, que beneficiam-se do serviço de polinização prestado pelas abelhas. Os produtos agrícolas abaixo são potenciais beneficiários dos serviços de polinização das abelhas. Espécies assinaladas com um asterisco são também boas fontes de néctar para as abelhas.
sisal cajueiro chá mamoeiro* coqueiro* café* abóbora pepino dendezeiro* lichia laranja, limão, mexerica*
macieira* abacateiro trevo* melão melancia pessegueiro amoreiras gergelim girassol* soja (algumas variedades)* alfafa
Ao auxiliarem com a polinização, as abelhas contribuem para uma maior produção e qualidade de frutos e sementes. Abelhas podem ser importantes polinizadores especialmente em áreas onde a biodiversidade foi muito comprometida, com grande redução nas polulações de insetos, como infelizmente é o caso da maior parte das regiões agrícolas. É importante lembrar, porém, que nem todas as plantas atraem as abelhas. Abelhas são excelentes para integração com projetos policulturais agroflorestais, causando um aumento na produtividade de ambos os sistemas. Muitas espécies de árvores comumente usadas para propósitos tais como lenha, madeira, reflorestamento, sombreamento e paisagismo também podem ter excelente produção de néctar, que favorece a apicultura. A produção de néctar depende de vários fatores, como clima e solo, portanto uma espécie vegetal pode deixar de produzir boa quantidade de néctar quando introduzida em um ambiente diferente. A valorização de espécies nativas em todos os empreendimentos de reflorestamento, agroflorestais, bem como paisagismo e sombreamento representa não apenas uma preservação de um recurso valiosíssimo e ameaçado (a biodiversidade), como ainda impulsiona a apicultura, já que espécies nativas são bem adaptadas às condições climáticas e de solo da região, tendendo portanto a ter boa produção de néctar. Apicultura como uma Atividade Educacional Projetos de apicultura são uma boa opção de atividade educacional para comunidades rurais e escolas. Cursos e oficinas podem ser oferecidos periodicamente em tais locais. Exibições de abelhas, equipamentos, colméias e produtos em feiras regionais e eventos escolares são ótimos para promover a apicultura e a venda de produtos apícolas. Demonstrações práticas podem ajudar a combater medos e preconceitos da
população a respeito das abelhas. Uma demonstração particularmente de impacto é a captura de uma revoada e formação de uma nova colméia. Uma colméia com uma parede de vidro para observação pode criar grande entusiasmo por abelhas em muitas pessoas. Ela permite a observação das abelhas em suas atividades diárias, sendo portanto uma excelente ferramenta educacional, servindo não apenas para o ensino da biologia e hábitos das abelhas, mas também das práticas de manejo em apicultura.
Apicultura como Atividade Cooperativa Apicultura também funciona bem em cooperativas. Muitas cooperativas têm projetos de apicultura como parte de suas atividades, sendo que há inclusive cooperativas que se dedicam exclusivamente à apicultura. Cooperativas podem servir para provisão de suprimentos, suporte técnico e mercados para os produtos apícolas
As Abelhas Tipos de Abelhas Há muitas espécies diferentes de abelhas; em sua maioria, são insetos solitários, mas algumas são sociais. Essas vivem em colônias com uma divisão de trabalho entre os indivíduos. O hábito de visitar flores faz das abelhas importantes agentes polinizadores. Todas as abelhas coletam néctar e pólen das flores, mas apenas algumas das abelhas sociais armazenam o néctar na forma de mel. Das abelhas que o fazem, há apenas um número muito reduzido que produzem mel em quantidade suficiente para que nos valha a pena o esforço de coletar tal mel. Das abelhas que produzem mel, as do gênero Apis são as que produzem em maior quantidade, sendo por isso as mais largamente criadas mundialmente. Abelhas sem ferrão Em regiões tropicais, algumas espécies de abelhas, notavelmente dos gêneros Trigona e Melipona, são usadas como fonte de mel, geralmente de forma extrativista, mas algumas vezes criadas de forma especial. Embora possuam ferrão, não são capazes de picar o ser humano, defendendo-se apenas através de mordidas. Algumas secretam substâncias irritantes junto com a mordida. Os Maias da América Central desenvolveram um sistema de criação dessas abelhas em troncos de árvores ôcos. O mel era importante em suas celebrações religiosas, e eles tinham festivais e rituais especiais para garantir boas colheitas de mel. Esse sistema ainda existe em áreas da América
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Central; porém, infelizmente está em declínio acelerado, com a modernização da vida, a perda das tradições, e ainda a substituição das abelhas sem ferrão nativas pelas abelhas introduzidas do gênero Apis, de maior produção. O declínio da tradição de criar abelhas nativas, associado à destruição dos habitats naturais, atualmente ameaçam as abelhas das Américas de extinção. A criação de abelhas sem ferrão é um tópico fascinante, onde a produção de alimentos, preservação de tradições e preservação ambiental se misturam, mantendo assim um grande número de entusiastas, apaixonados por essas abelhas.
Em qualquer empreendimento de apicultura em pequena escala, as abelhas já existentes na área são o melhor recurso a ser utilizado – a importação de abelhas de outras regiões não vale a pena. Muitas vezes, pessoas que começam na apicultura com abelhas compradas criam uma dependência psicológica em recursos externos; não se dão conta que os recursos sempre estiveram ali ao seu redor, e não se sentem motivadas a utilizar esses recursos. Além disso e dos custos inerentes, há outros problemas: muitas vezes, abelhas compradas não estão bem adaptadas à região onde se pretende criá-las, podendo comprometer sua produção e mesmo sua sobrevivência. Além disso, a importação de abelhas é uma potencial porta de entrada de doenças e parasitas exóticos, que podem representar um problema eterno. Clima e Apicultura
Como as abelhas sem ferrão usam um tipo diferente de estrutura de ninho para criação de filhotes e armazenamento de mel, métodos otimizados para sua criação têm efetividade limitada no aumento da produção. Por isso, a criação dessas abelhas é normalmente feita apenas como atividade recreativa, de preservação, e para consumo familiar. Porém, mercados especializados existem e podem ser melhor desenvolvidos para esse tipo de mel. Abelhas Apis Há sete espécies de abelhas no gênero Apis, sendo nativas da Ásia, Europa e África. Todas essas abelhas têm aparência similar, embora haja diferenças de tamanho e côr. Todas constróem favos verticais duplos, ou seja, com duas camadas de alvéolos em cada favo.
Vista de seção transversal de favo. Cada favo tem duas camadas de alvéolos, uma voltada para cada lado. A abelha Apis mellifera é nativa da Europa, África e oeste da Ásia, e é a mais comumente criada em todo o mundo, tendo sido introduzida na maioria das regiões onde não é nativa, incluindo o continente americano e a Austrália. Dentro dessa espécie, há grandes variações regionais, com várias sub-espécies reconhecidas, divididas grosseiramente em grupos de abelhas européias e africanas. Várias sub-espécies são consideradas particularmente desejáveis para criação.
Para compreender como o clima afeta a apicultura, é útil primeiro entender dois conceitos relacionados às abelhas e seu ambiente: o fluxo de néctar e o fluxo de mel. Esses são dois conceitos que, embora semelhantes, são distintos. O fluxo de néctar é uma função inerente somente às plantas. Refere-se à quantidade e qualidade (teor de açúcares solúveis) do néctar secretado pelas plantas. O fluxo de néctar em uma área num dado momento depende da interação das espécies vegetais presentes e dos fatores ambientais atuando sobre elas. Fatores climáticos, edáficos (do solo) e a interferência humana são os principais fatores determinando a flora e seu potencial para produção de néctar. A qualidade do solo, precipitação chvosa, temperatura e irradiação solar afetam o fluxo de néctar. Algumas espécies vegetais secretam muito pouco ou nenhum néctar, enquanto outras secretam grandes quantidades. A qualidade, ou teor de açúcares no néctar também varia entre as diferentes espécies vegetais. O clima também tem um grande efeito na qualidade: alta precipitação chuvosa aumenta a quantidade de néctar, mas muitas vezes esse néctar tem concentrações de açúcar mais baixas. Para a maioria das espécies vegetais, as condições ideais para que se tenha a produção máxima de néctar são boa quantidade de chuva antes da época da florada, e clima seco e ensolarado na época da florada. Como a quantidade e distribuição de chuva e sol antes e depois do período de floração variam de ano a ano, assim também varia o fluxo de néctar. Algumas espécies vegetais são menos afetadas pelos padrões climáticos que outras; isso significa que essas plantas dão bom suporte à produção de néctar todo ano. Outras plantas são muito sensitivas aos padrões climáticos, e podem dar ótimos fluxos de néctar em alguns anos, e muito pouco néctar em outros. O fluxo do mel é uma função da relação entre as plantas e abelhas, ou mais especificamente, é o produto do uso do fluxo do néctar pelas abelhas. Bom manejo das colméias é essencial para garantir bons fluxos de mel. As condições climáticas também afetam o fluxo de mel; por exemplo, clima propício às atividades de forrageamento das abelhas (sem vento excessivo ou chuvas) durante a época de maior fluxo de néctar é importante para um bom fluxo de mel.
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Os três primeiros estágios ocorrem nos alvéolos do favo. Ovos e larvas ficam em alvéolos abertos, e recebem cuidados diários das abelhas operárias, enquanto as pupas ficam alvéolos selados. Os ovos são postos pela abelha rainha nas células vazias do favo. Assim que eles eclodem, as operárias continuamente alimentam a larva, enquanto esta se desenvolve. Quando a larva se aproxima do final do estágio larval, ela se engurgita de alimento fornecido pelas operárias, e as operárias selam a entrada do alvéolo com cêra. Após o alvélo ser selado, a larva muda para o período pupal. Neste período, ela não se alimenta. A pupa desenvolve-se na forma adulta, que sai da célula por conta própria. Nem todas as plantas atraem as abelhas, e a flora melífera varia muito dentro de qualquer zona climática. Fatores naturais e humanos afetam o ambiente, podendo prejudicar ou favorecer a apicultura na região, principalmente por afetar a quantidade e qualidade da flora, da qual as abelhas dependem. Assim, a apicultura pode beneficiar-se de recursos naturais, como matas, parques, reservas e plantações, dependendo das espécies cultivadas. Da mesma forma, pode-se melhorar a aptidão melífera de uma área ao se escolherem ou incluírem boas espécies melíferas em projetos paisagísticos, agrícolas, reflorestamentos, etc. Porém, no planejamento de um projeto de apicultura em pequena escala, não vale a pena se preocupar muito com a flora: projetos pequenos devem enfocar a utilização otimizada dos recursos apícolas presentes na área, e a própria existência das abelhas já significa que a flora local tem condições de suportar a apicultura. De fato, abelhas estão presentes na maioria dos lugares, e a maior ou menor aptidão de um local em particular para a apicultura afetará apenas a escala em que se poderá desenvolver a atividade. O conhecimento dos tipos de flora utilizados e preferidos pelas abelhas é adquirido naturalmente, com a prática da apicultura e a observação contínua e prolongada das abelhas em suas atividades.
Ovos
Larvas
Pupas (vista após a remoção da tampa da célula)
As castas Ciclo de vida das abelhas As abelhas são insetos com metamorfose completa; isso significa que elas têm quatro estágios em seu ciclo de vida: ovo, larva, pupa e adulto.
Ovo/larva
Pupa
Adulto
A abelha melífera é um inseto social com três diferentes tipos de indivíduos, ou castas, na colônia: rainhas, zangões (machos) e operárias. Cada casta têm sua função especial na colônia. Cada casta tem um período de desenvolvimento diferente, e são criadas em tipos específicos de célula na colméia. O período de desenvolvimento da rainha é o mais curto, 16 dias. Ela é criada em uma célula especial, a célula real. Células reais se parecem com cascas de amendoim, e ficam penduradas na superfície do favo, dentro da colméia. Elas podem ficar nas beiradas do favo, ou em outras partes. A colônia constrói células reais quando há a necessidade de produzir rainhas, embora às vezes as células sejam começadas e depois abandonadas.
célula real
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A larva da abelha rainha está sempre rodeada de geléia real, um alimento especial altamente nutritivo produzido por glândulas localizadas na cabeça das abelhas operárias. O esquema de alimentação da rainha é intensivo por todo o seu período de desenvolvimento. Todas as larvas jovens de menos de dois dias recebem geléia real em grande quantidade. Após o segundo dia, larvas que se desenvolverão em operárias passam a receber alimentação em um esquema chamado progressivo, recebendo uma mistura de geléia real, mel e pólen. Nesse esquema, as larvas recebem alimento periodicamente, portanto o alimento não está disponível permanentemente. São essas diferenças no esquema de alimentação que determinam a casta das abelhas fêmeas adultas, ou seja, todo ovo ou larva de menos de dois dias do sexo feminino tem o potencial de se tornar uma operária ou rainha. Operárias são criadas no mesmo tipo de alvéolo que é usado para armezenar mel e pólen. A maior parte dos favos na colméia são formados por esse tipo de célula. Já as rainhas são criadas em células especiais, a célula real.
de recursos estimulam as operárias a dar mais alimento à rainha, o que por sua vez a estimula a pôr mais ovos. A rainha possui diversas glândulas especializadas que produzem um complexo de substâncias chamadas feromônios, que são espalhados por toda a colméia pelas operárias que cuidam da rainha, passando também às demais operárias. Os feromônios da rainha servem para controlar o comportamento das abelhas. Abelhas de outras castas também produzem outros feromônios, e em conjunto essas substâncias servem para harmonizar o comportamento da colônia. Normalmente há apenas uma rainha por colméia, embora às vezes possa haver duas, quando uma rainha velha está sendo substituída. A rainha pode viver por até quatro anos, mas nas regiões tropicais, onde a postura ocorre por épocas mais prolongadas, elas normalmente não vivem tanto. Conforme envelhecem, as rainhas vão reduzindo sua capacidade de postura; portanto, em apicultura intensiva, muitas vezes procura-se substituir as rainhas a cada 2 anos, aproximadamente.
As tampas de células contendo abelhas operárias imaturas são opacas e planas. A operária adulta emerge da célula 21 dias após a postura do ovo. O período de desenvolvimento de zangões é 23 dias. Zangões são criados em alvéolos com o mesmo formato das operárias, porém maiores. Células de zangões imaturos são seladas com uma tampa abaolada. A tabela abaixo sumariza os períodos de desenvolvimento desde a postura dos ovos até atingir a idade adulta, de acordo com a casta. Esses períodos podem variar em um ou dois dias, dependendo do tipo particular de abelha, condições climáticas e época do ano. Operária Duração das fases (dias)
Operária Rainha Zangão
Ovo
3
3
3
Larva
6
5
7
Pupa
12
8
14
total até atingir fase adulta
21
16
24
A rainha é a única fêmea que é totalmente desenvolvida sexualmente, resultado de sua alimentação exclusivamente com geléia real, durante o período de desenvolvimento larval. Ela distingue-se por seu formato alongado, devido ao completo desenvolvimento de seus ovários em seu abdômen. Ela possui um ferrão, mas este não tem farpas. Na colônia, ela normalmente se encontra na área de maior criação de filhotes. Cerca de cinco dias após sair de sua célula, a abelha rainha começa a fazer séries de vôos de acasalamento, em um período de dois a três dias, podendo acasalar-se com dez ou mais zangões. O esperma dos zangões fica armazenado em um órgão especializado, a espermateca, e a rainha não mais se acasalará após esse período. Cerca de cinco dias após efetuar os vôos de acasalamento, a rainha começa a pôr os ovos. Em períodos favoráveis, uma boa rainha pode pôr mais de 1.500 ovos por dia. Fatores que afetam a postura incluem o clima, fluxo de néctar e pólen, o tamanho da rainha e as condições gerais da colônia. O número de ovos produzidos varia ao longo do ano, conforme os recursos de néctar e pólen: grandes quantidades
Rainha
Zangão
Zangões, os machos da colônia, são produzidos a partir de ovos não fertilizados. A rainha consegue controlar a fertilização dos ovos conforme ela os põe, portanto ela decide se os ovos serão machos ou fêmeas. O zangão é maior que as operárias ou a rainha, embora a rainha seja mais comprida. Os olhos são grandes e cobrem praticamente toda a cabeça. A parte traseira do abdômen tem forma rombuda e é coberta de pequenos pêlos. Zangões são desprovidos de ferrão, ou qualquer das estruturas necessárias para coletar néctar e pólen. Uma colônia forte pode ter cerca de 300 zangões. Mas durante períodos de escassez de recursos, as operárias podem expulsar os zangões da colméia, e eles acabam morrendo. A única função dos zangões é a de fertilizar rainhas. O acasalamento ocorre no ar, em vôo, afastado da colônia. Quando o clima está bom, zangões maduros deixam a colônia à tarde e posicionam-se em certos lugares para esperar rainhas virgens para acasalar. Às vezes, zangões entram em colônias onde há uma rainha virgem. Tais colônias aceitam zangões de outras colônias, e podem tolerar uma grande população de zangões enquanto a rainha não efetua o acasalamento. Porém, assim que a rainha encerra o período de acasalamento, as operárias expulsam muitos zangões da colônia. Operárias são fêmeas que não são totalmente desenvolvidas sexualmente. Elas realizam praticamente todo o
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trabalho na colônia (exceto reprodução). Operárias têm estruturas e órgãos especiais que são associados às funções que elas desempenham. Órgão ou estrutura
Localização
Função
Glândulas da cabeça parte anterior da cabeça
produção de alimento para larvas e geléia real
Glândulas de cêra
produção de cera
sob o adbômen
Glândulas odoríferas parte superior-posterior do abdômen
produção de feromônios
Ferrão e glândulas associadas
parte posterior do abdômen
defesa da colônia
Língua
cabeça
coleta de néctar
Bolsa do mel
dilatação do esôfago
armazenamento de néctar e água
Patas coletoras de pólen
patas traseiras
coleta, compactação e transporte do pólen (e também própolis)
As tarefas desempenhadas pelas operárias adultas mudam conforme a sua idade. Isso está relacionado com o desenvolvimento fisiológico de várias glândulas. Porém, este esquema não é totalmente rígido: as abelhas também mudam suas tarefas de acordo com as necessidades da colméia. Dias após atingir fase adulta
Tarefa
1a2
limpar células e aquecer filhotes
3a5
alimentar larvas mais velhas com mel e pólen
6 a 10
alimentar larvas jovens com secreções da glândula da cabeça
11 a 18
amadurecer o mel, produzir cera e construir favo
19 a 21
proteger e ventilar a colméia, vôos preparatórios para aprender a voar e se localizar
de 22 em diante
buscar néctar, pólen, água e própolis
O período de vida das operárias adultas varia enormemente nas diferentes épocas do ano. Durante períodos em que a colônia é relativamente inativa, as operárias podem viver por três meses ou mais, mas em épocas de alta atividade, poucas operárias vivem mais do que cinco semanas. Durante esses períodos de atividade intensa, cada operária passa cerca de três semanas trabalhando apenas dentro da colméia, e o restante da vida em trabalhos externos de coletar néctar e pólen (forrageamento). Quando uma colméia perde sua rainha e não há larvas ou ovos para gerar uma nova rainha, algumas operárias podem se desenvolver e começar a pôr ovos. Os seus ovários desenvolvem-se devido à ausência dos feromônios da rainha. Porém, como essas abelhas não têm a estrutura corpórea e comportamento necessário à fertilização, seus ovos não são fertilizados, e portanto produzem apenas zangões.
Se há um número anormalmente grande de zangões numa colméia, pode-se suspeitar que a colônia perdeu sua rainha, e que operárias estão pondo ovos. Outros achados confirmam essa situação: células de operárias (pequenas) com uma tampa de zangão (abaolada), e células contendo um variado número de ovos, de variados tamanhos e dispostos de forma aleatória e desorganizada (boas rainhas põem apenas um ovo por célula, e o ovo é posto no centro da base do alvéolo.
Ovos postos pela rainha
Ovos postos por operárias
Recursos necessários à colônia Operárias voam a distâncias de até três quilômetros da colméia para coletar água e alimentos necessários à colônia. Claro que recursos mais próximos são uma vantagem. É possível que abelhas voem mais longe que três quilômetros, mas muitas vezes isso não vale a pena do ponto de vista energético. As abelhas têm que coletar quatro coisas para garantir a sobrevivência e funcionamento da colméia:
Néctar Pólen Própolis Água
Néctar é uma secreção açucarada das plantas, geralmente produzida pelas flores, embora haja plantas que o secretam nas folhas ou caules. Néctar tem um teor de água de 70 a 80%. Teores mais altos de água são encontrados durante períodos chuvosos. Além da água, o néctar contém principalmente açúcares, e pequena quantidade de outros compostos orgânicos e sais. Néctar é o principal componente energético na dieta das abelhas. As operárias forrageadoras coletam o néctar das flores e o armazenam em um compartimento especial no abdômen. Ao retornar à colméia, elas passam o néctar para outras operárias mais jovens, que o transformam em mel e o armazenam nos favos da colméia. O processo de transformação do néctar em mel envolve processos enzimáticos e a evaporação do néctar pelas operárias. Ao ser depositado no favo, o mel ainda contém um teor de água elevado que possibilitaria a fermentação dos açúcares; o processo de maturação continua, portanto, com as operárias batendo suas asas para criar uma corrente de ar na colméia, conseguindo assim evaporar a maior parte da água presente no mel, concentrando-o, e é essa alta concentração e baixo teor de água que previnem a fermentação do mel, preservando-o. Na colméia, o mel é armazenado acima e ao redor da área de criação de abelhas imaturas. Abelhas adultas alimentam-se de mel, e o misturam com pólen para alimentar
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larvas de operárias e zangões. A maioria das colônias produzem mel além de suas necessidades durante épocas de bom fluxo de mel, e esse mel pode ser colhido. Bom manejo pode aumentar a produção de mel. De fato, a simples remoção de mel da colônia a estimula a produzir mais mel, desde que haja recursos florais disponíveis para tanto. Pólen é uma substância pulverulenta produzida pelos órgãos masculinos de flores, contendo os gametas masculinos das plantas. As abelhas auxiliam a transferência de pólen de uma planta para a outra; agentes polinizadores como as abelhas são muito importantes para a polinização cruzada de muitas plantas, e muitas espécies de uso agrícola dependem de tal polinização cruzada para poderem produzir sementes férteis. Tais plantações são obviamente favorecidas pela integração com a apicultura. Quando as abelhas visitam as flores, pólen se adere ao seu corpo, que é coberto de finos pelos. A operária remove esse pólen e o comprime, formando uma pelota (pellet), que é carregada na cesta de pólen, localizada nas patas trazeiras, e trazido de volta para a colméia.
O pólen é usado para alimentar larvas no final do estágio larval, e é também consumido em grandes quantidades pelas operárias que produzem a geléia real. O pólen é o principal componente protéico, mineral e vitamínico da dieta das abelhas Na colméia, o pólen é armazenado em células ao lado da área de criação de filhotes, ficando bem à mão para a alimentação das larvas e também das operárias que delas cuidam. Um processo de fermentação controlada do pólen, semelhante à ensilagem, ajuda a preservá-lo. Própolis é uma substância resinosa coletada das plantas. O própolis é encontrado ao redor ferimentos no tronco ou galhos das árvores. As abelhas o usam para selar pequenas fendas e buracos na colméia, para reforçar e consertar favos velhos, e para mumificar invasores da colônia que sejam grandes demais para poderem ser removidos. Própolis contém substâncias químicas com propriedades antibacterianas e antifúngicas. Portanto, ele serve para ajudar a controlar o crescimento desses microrganismos no ambiente da colméia. As forrageadoras coletam o própolis e o carregam para a colméia, usando a cesta de pólen. Água é misturada ao mel para que as abelhas possam dele se alimentar, ou alimentar as larvas. As operárias também utilizam a água para refrigerar a colméia. Em dias quentes, muitas operárias forrageadoras se empenham em trazer água e distribuí-la em pequenas gotículas espalhadas pela colméia, enquanto outras abelhas ventilam a colméia com o bater de suas asas. Com isso, a colméia é refrigerada pela evaporação da água. As abelhas carregam a água em seus estômagos, e uma boa fonte de água fresca próxima à colméia é de grande valor, por minimizar o esforço necessário para satisfazer as necessidades de água da colônia, permitindo que as abelhas se
dediquem mais à coleta de néctar e pólen. Portanto, se não houver um bom suprimento natural de água por perto, vale a pena providenciar um bebedouro para as colméias. Divisão da colônia, Substituição da rainha, e Abandono de colméia. Quando uma colônia atinge um grande tamanho e há recursos disponíveis em abundância no local, as operárias constróem novas células reais, normalmente ao redor das margens do favo, iniciando a preparação para a divisão da colônia. Poucos dias antes da primeira rainha virgem emergir de seu casulo, a rainha antiga deixa a colônia seguida por parte das operárias e zangões. A rainha geralmente pousa em algum lugar próximo, e as outras abelhas se aglomeram ao seu redor. Algumas abelhas se destacam do grupo e saem em busca de locais adequados para fazer uma nova colméia. Dentro de poucos dias, o grupo geralmente parte e muda-se para um local onde estabelece uma colônia permanente. Na colônia antiga, a primeira rainha a emergir procura pelas outras células reais e mata as outras rainhas. Se duas ou mais rainhas emergirem ao mesmo tempo, elas lutarão até a morte, de forma que só sobre uma. Às vezes, se a colônia ainda tiver uma população grande, uma nova rainha pode deixar a colônia com um número de operárias, ao invés de destruir as outras rainhas. Isso se chama divisão secundária da colônia, e é semelhante à divisão original, exceto que o grupo é menor, e a rainha é virgem. Algumas colônias dividem-se várias vezes sucessivamente. Substituição da rainha ocorre quando uma rainha começa a falhar em suas atividades, sendo substituída sem haver divisão da colônia. As operárias constróem células reais para criar rainhas para substituição. Essas células reais são normalmente localizadas nas partes marginais do favo. Após a nova rainha realizar o vôo nupcial, ela retorna à colméia e começa a postura. Nesse período inicial, não é incomum encontrar duas rainhas, a velha e a nova, vivendo juntas na mesma colméia, mas a rainha velha normalmente morre pouco depois
Abandono de colméia geralmente ocorre por perturbação excessiva de uma colônia, ou por uma redução
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dos recursos na área. A prática de abandonar a colônia é mais comum em espécies tropicais de abelhas. Estas informações básicas sobre a biologia das abelhas são necessárias para uma boa compreensão da apicultura e dos princípios de manejo da colméia. Seu conhecimento sobre a biologia das abelhas nunca parará de crescer, conforme você trabalha com elas; como em tudo, a experiência é a melhor professora. Ajudar apicultores iniciantes a desenvolver seus conhecimentos sobre a biologia das abelhas é muias vezes um processo lento e difícil. Palestras e manuais cheios de informações abstratas são muitas vezes incompreensíveis a pessoas que não têm um nível de instrução razoável - elas precisam ver por si mesmas. Portanto, demonstrações são em geral o modo mais efetivo de ensino nessas situações. Saber ouvir e interagir é muito importante do lado do professor. Deve-se procurar entender como as pessoas de determinada área vêem as abelhas e suas interações com o ambiente. Muitas vezes a desinformação e preconceitos são barreiras, mas outra vezes o conhecimento popular pode ser razoavelmente correto, embora termos técnicos sejam totalmente desconhecidos. Ao conhecer a forma como as pessoas vêem as abelhas, torna-se possível reforçar os conhecimentos corretos e mudar as percepções incorretas. Procure entender e respeitar a cultura local sobre as abelhas, e isso aumentará enormemente sua credibilidade
A Essência da Apicultura A apicultura segue ciclos, de acordo com as estações. Esses ciclos são mais nítidos em regiões com as estações do ano bem definidas. As floradas e, mais importante, o fluxo de néctar, são determinadas pela composição da flora e influenciados pelos padrões climáticos e suas variações de acordo com as estações do ano. A colméia responde a essas mudanças: quando há abundância de néctar e pólen, a colônia é estimulada a criar mais abelhas, aumentando sua população; em períodos de escassez de recursos, a população de abelhas também se reduz. Dependendo da disponibilidade de recursos, as operárias aumentam ou diminuem a quantidade de alimento que oferecem à rainha, e é isso que determina a taxa de postura. Além disso, as operárias podem comer ovos ou larvas jovens para controlar a população da colônia, em épocas de escassez de alimentos. Colônias com populações pequenas no início do período de maior fluxo de néctar tendem a priorizar a criação de filhotes sobre o armazenamento de mel. Tais colônias usam a maior parte de seus recursos para produzir novas abelhas e construir favos. Elas têm uma alta proporção de formas imaturas em relação à população de indivíduos adultos e, assim, o cuidado dos filhotes é a ocupação principal da maioria das operárias. Com o crescimento da população da colônia, a
proporção de filhotes diminui, e após atingir um certo tamanho (cerca de 40.000 para abelhas européias), a taxa de postura da rainha também diminui. Nessas colônias, as atividades têm sua ênfase voltada para o armazenamento de mel. Conhecimento da íntima relação entre os ciclos da colméia e os ciclos das estações é necessário para o manejo adequado em apicultura, de modo a propiciar um bom rendimento de mel e também a saúde da colônia. Para que se tenha um bom rendimento, deve-se manejar as colméias de modo que se tenha uma grande população de abelhas adultas na época de maior fluxo de néctar na área, já que isso possibilita o maior fluxo de mel. As práticas de manejo devem também garantir um suprimento adequado de mel na colméia para o período de escassez de recursos naturais dos quais as abelhas dependem. A tentação de colher todo o mel no final do período de maior fluxo é muitas vezes irresistível aos apicultores, mas este é um erro que tem um preço alto: embora o mel colhido represente um lucro imediato, muitas vezes isso pode significar que a colméia não terá reservas suficientes para sobreviver ao período de escassez, ou que terá dificuldade em se recuperar, o que significa uma enorme redução da produção na estação seguinte. Uma prática de manejo útil é o controle do espaço na colônia, ou seja, aumentar ou reduzir o espaço livre na colméia de acordo com o necessário. Na época de maior fluxo de mel, as abelhas precisam de espaço extra para expandir a área de criação de filhotes e produção e armazenamento de mel. Se o apicultor permitir que a colméia fique saturada, isso pode fazer com que as abelhas dividam a colônia, além de representar uma produção sub-óptima. Portanto, é necessário substituir os favos cheios de mel nas margens da área de criação por quadros ou favos vazios, possibilitando que as abelhas aumentem a população na colméia. Na época da entressafra, por outro lado, conforme a população da colônia naturalmente diminui, deve-se remover quadros excessivos e reduzir o tamanho da colméia, deixando-a mais compacta. É importante lembrar que manipulações no tamanho da colméia devem ser feitas sempre respeitando as necessidades da colônia, que por sua vez são determinadas pelas estações do ano. Entender o ciclo da colméia e saber fazer a manipulação certa no momento certo: esta é a essência da apicultura, e isso só pode ser aprendido com a experiência. Há três problemas básicos de manejo com que apicultores sempre se deparam: determinar quando o maior fluxo de mel ocorre; possibilitar um aumento da população de abelhas antes do período de maior fluxo de mel, e decidir o que fazer com as colméias após o período de maior fluxo, ou seja, na entressafra. Entender quando ocorre o maior fluxo de néctar requer atenta observação das abelhas e seu ambiente, e este conhecimento só se constrói com a experiência; porém, há certas atividades que podem ajudar na aquisição desse conhecimento: Pesquise a área para identificar as principais espécies
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vegetais presentes, e suas épocas de floradas. Preste atenção nas abelhas, e procure ver quais as plantas que elas mais visitam. Observe as variações na população das abelhas em suas colméias, e na quantidade de mel e filhotes presentes. Observe as práticas agrícolas desenvolvidas na área. Examine registros meteorológicos quanto a temperatura, vento e chuvas, e procure associar todas essas informações com a produção da colméia. Fale com outras pessoas na área envolvidas com apicultura, e procure aprender com eles informações específicas da área. Procure valorizar o recurso que a experiência dessas pessoas representa.
O espaço das abelhas e as colméias. As abelhas normalmente constróem suas casas em cavidades, começando a construir os favos presos à parte superior da cavidade. Na maioria das vezes, é necessário destruir a cavidade e os favos para que se possa colher o mel de colméias selvagens. Apicultura requer a criação e manejo das colméias. O manejo requer manipulação dos favos para permitir a inspeção das condições e ajuste do espaço de acordo com as necessidades de espaço da colônia. Portanto, um sistema prático que permita a remoção e reposição dos favos sem causar danos é um pré-requisito para a apicultura. Um bom conhecimento do "espaço das abelhas" permite a construção de colméias que permitam a remoção e reposição dos favos, e também a separação das áreas de criação de filhotes e armazenamento de mel, com acessos separados para cada área. O espaço das abelhas é simplesmente o espaço necessário para as abelhas passarem com facilidade entre duas estruturas, e corresponde a 7,5 ± 1,5 mm. Se um espaço é pequeno demais para permitir a passagem das abelhas, elas o selarão com própolis, e se o espaço for muito grande, elas construirão favos ali. Quando o espaço entro duas superfícies dentro da colméia tem o tamanho correto, as abelhas o deixarão livre para trânsito. Se esse espaço é respeitado na construção da colméia, o resultado é uma colméia que permite a remoção e reposição dos favos sem causar danos.
Tipos de colméias Colméias de favo fixo são apenas cavidades artificiais. Podem ser feitas de troncos ôcos, caixas feitas com cáscas de árvores, potes de argila, caixas de madeira, cestas de palha, bambu, pau-a-pique, tambores de metal ou plástico, etc. Em algumas regiões, tais cavidades são feitas apenas na forma de escavações em barrancos. Favos podem ser removidos desse tipo de colméia apenas cortando-os, e não é possível repô-los, portanto esse tipo de colméia não permite apicultura propriamente dita, mas apenas uma criação rudimentar de abelhas. Ainda assim, são usados com sucesso por muitas pessoas. Colméias de favo removível têm uma série de barras no topo que permitem a construção dos favos. Essas barras são posicionadas mantendo um espaçamento adequado, permitindo a construção dos favos e deixando o espaço necessário para a passagem das abelhas confortavelmente. Colméias de favo removível podem ser construídas de muitos materiais, incluindo palha, bambu, cestas rebocadas com barro, metal ou madeira. Madeira é o melhor material para as barras superiores. A largura da barra superior é a única dimensão crítica, que deve ser obedecida neste tipo de colméia. Idealmente, as laterais da colméia de favos removíveis devem formar um ângulo de aproximadamente 120 graus com o fundo: essa inclinação segue aproximadamente a curvatura de favos construídos na natureza, minimizando a tendência das abelhas aderirem o favo às paredes da colméia. Isso facilita muito o manejo, evitando que os favos se rompam. Se as laterais não são inclinadas, as abelhas grudam o favo nas laterais da caixa, conforme o constróem. Se essa parte aderida é cortada várias vezes, e conforme o favo amadurece e recebe aplicações de própolis, as abelhas param de grudá-lo às laterais. Rebarbas do favo devem ser raspadas da lateral da colméia cada vez que a aderência do favo é cortada, e isso requer muito cuidado por parte do apicultor.
Espaço muito grande = espaço preenchido com favo Espaço muito pequeno = preenchido com própolis Espaço da abelha = mantido livre para passagem
Favo natural
Barra superior com favo
Colméias de favo removível são uma solução de baixa tecnologia para apicultura acessível à maioria das pessoas, e representam uma evolução em relação às colméias de favo fixo. Colméias de quadro removível representam a opção mais moderna de colméias, e permitem os melhores resultados em apicultura. Nesse tipo de colméia, as abelhas constróem os favos em quadros que recebem uma aplicação de cêra.
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Quadro com favo
Os favos são firmemente presos aos quadros, portanto menos cuidado é necessário na remoção e inspeção dos favos, e as colônias podem ser movidas com poucos danos aos favos. Isso facilita a apicultura "itinerante", para seguir as épocas e locais de maior fluxo de néctar.
Pode-se criar mais espaço na colméia pela simples adição de mais caixas, ou "andares". Isso favorece a tendência natural das abelhas de expandirem a colméia para cima. As desvantagens das colméias de quadros removíveis são: Essas colméias são construídas de forma a manter o espaço das abelhas entre os quadros, e entre os quadros e a caixa da colméia. Tal padrão exige precisão na construção da colméia, exigindo o uso de madeira de qualidade e habilidade em carpintaria.
Elas requerem habilidade em carpintaria e uso de madeira de boa qualidade, e portanto são mais caras.
Para melhor retorno, elas requerem a fundação para os favos (uma folha ou tira de cera, instalada no centro dos quadros) e extratores de mel (centrífugas). Esses insumos são caros e muitas vezes de difícil obtenção, embora possam ser produzidos pelo próprio apicultor.
Para máximo retorno, esse modelo exige dedicação e experiência em apicultura.
Como há abundância de espaços para as abelhas entre as barras superiores dos quadros, fica mais difícil de controlar abelhas de raças mais agressivas. Apiclutura de tecnologia intermediária
Como o espaço para a passagem das abelhas é mantido no topo dos quadros, várias caixas podem ser combinadas para fazer uma só colméia. Muitas vezes, duas caixas são usadas para fins de procriação das abelhas, e as caixas acima dessas são para a produção e armazenamento de mel. As caixas em si são idênticas, mas a diferente posição delas faz com que sejam usadas com funções diferentes pelas abelhas. Este modelo de colméia permite o mais alto grau de manejo das abelhas: não apenas os quadros, mas também as próprias caixas podem ser removidas, recolocadas, trocadas, adicionadas, etc., conforme as necessidades da colméia, possibilitando uma maior produção. As vantagens das colméias de quadros removíveis são:
Os favos podem ser facilmente removidos, inspecionados e substituídos, já que são construídos em quadros móveis.
Favos carregados de mel podem ser removidos, o mel pode ser colhido por centrifugação, e os favos vazios podem ser devolvidos à colméia. Isso aumenta a produção de mel, já que as abelhas são poupadas do trabalho de construir um novo favo.
Como apenas os favos contendo mel são colhidos, o mel tem um alto grau de pureza, estando livre de pólen, ovos e larvas, etc.
Como acabamos de ver, as colméias modernas de quadros removíveis maximizam a produção de mel. Embora ofereça uma vasta gama de opções de manejo, esse sistema é relativamente caro. Além disso, sua utilização ótima depende de investimentos que são muitas inacessíveis a apicultores pequenos ou iniciantes. Para que a gama de opões de manejo e o potencial de produção desses sistemas modernos de apicultura possam ser explorados eficientemente, um grau relativamente elevado de conhecimento, habilidade ou experiência são necessários. Projetos de apicultura em pequena escala muitas vezes são começados com colméias de quadros removíveis mas sem acompanhamento ou assistência técnica necessária. Isso pode resultar em uma situação em que um investimento relativamente alto é feito em equipamentos que permitiriam um bom retorno, mas acaba virando prejuízo pela falta da habilidade técnica para operar esses equipamentos e explorar seu potencial adequadamente. Ou seja, nesses casos, um sistema mais simples e barato provavelmente teria dado resultados muito melhores. Sistemas de baixa tecnologia podem não oferecer todas as opções sofisticadas de manejo das colméias mais modernas, mas isso não faz diferença nenhuma se o apicultor não tem condições de empregar tais técnicas. Este é o princípio do uso adequado de tecnologia. Sistemas relativamente simples de apicultura podem ser vistos como uma ponte, que auxilia o apicultor iniciante a adquirir conhecimentos e habilidades que lhe permitirão evoluir para sistemas mais intensivos no futuro. Porém, tais sistemas de tecnologia intermediária podem trazer resultados muito satisfatórios, e algumas pessoas podem permanecer satisfeitos com eles, sem desejarem passar a sistemas mais complicados e caros. Sistemas de apicultura de tecnologia intermediária permitem maior liberdade por parte do apicultor na construção da colméia, já que ela pode ser feita com materiais mais baratos e conhecimentos mais básicos de construção; além
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disso, nesses sistemas a necessidade de equipamentos em geral também é bem menor, reduzindo investimentos. A maioria desses sistemas sacrificam um pouco a produção de mel, aumentando a produção de cera, o que não é necessariamente um problema, já que a cera também é um produto valioso. Considerações importantes antes de começarmos Picadas de abelhas são uma preocupação para todo apicultor. Embora possam ser minimizadas por roupas protetoras e boas práticas, picadas ocasionais são inevitáveis. Aceitar isso é parte da atitude necessária a qualquer pessoa interessada em apicultura. A maioria das pessoas que trabalham com abelhas aceitam melhor a idéia de levar picadas de vez em quando que moradores urbanos em geral. Evite usar perfumes ou loções quando estiver lidando com as abelhas, pois cheiros fortes as irritam. Agir calma e lentamente ao manusear as colônias também é muito importante para minimizar problemas. As abelhas excitam-se facilmente por movimentos rápidos e bruscos. Cuidado deve ser tomado também para não esmagar abelhas, pois isso causa a liberação de feromônios, odores que sinalizam perigo às outras abelhas e as fazem assumir uma postura defensiva. O uso de fumaça ajuda a mascarar esse tipo de odor, ajudando a manter as abelhas calmas. Se uma colônia torna-se agressiva e foge do controle enquanto você a está manuseando, procure fechar a colméia o mais rápido possível e afaste-se. Se as abelhas o perseguirem, defenda-se apenas com fumaça, usando o fumigador para fazer uma nuvem de fumaça ao seu redor, enquanto você se afasta da colméia. Mover-se por entre arbustos também ajuda a confundir as abelhas. Quando uma abelha consegue entrar dentro de seu véu ou roupa, o melhor remédio é esmagá-la o mais rápido possível, antes que ela o pique: tentar soltá-la não vale a pena, pois isso normalmente resulta em picada. Abelhas às vezes picam através da roupa, especialmente em locais onde ela fica bem justa ao corpo, como nos ombros. Tais picadas, porém, raramente têm o efeito total.
Quando uma operária pica, o ferrão penetra na pele da vítima, e acaba desprendendo-se do abdômen da abelha. Junto com o ferrão, ficam a bolsa de veneno e glândulas associadas. A abelha sempre morre após picar. Os músculos associados com a bolsa de veneno continuam contraindo-se e injetando veneno na vítima mesmo após o desprendimento da abelha. Portanto, para minimizar os efeitos da picada, o ferrão deve ser removido o mais rápido possível.
Remova o ferrão raspando rente à pele com a unha ou, de preferência, uma lâmina. Nunca tente arrancá-lo puxando com os dedos, pois isso injetará mais veneno na pele. Uma borrifada de fumaça sobre o local da picada pode ser útil em disfarçar os feromônios liberados pela abelha, evitando a excitação de outras abelhas. Permaneça calmo quando picado. Não deixe a caixa ou favo caírem, por exemplo, já que isso pode criar uma situação muito perigosa. Inchaço no local da picada é a reação normal, e tende a ser mais pronunciado em pessoas que não são acostumadas a levar picada de abelha. Com a prática regular da apicultura, o apicultor desenvolve uma certa imunidade ao veneno, e a reação torna-se menos intensa. A reação local acontece em praticamente qualquer pessoa que leve uma picada de abelha. Porém, alguns indivíduos podem desenvolver alergias à picada de abelha, que podem levar ao surgimento de reações generalizadas (sistêmicas) a uma picada, que podem ser tão graves como o choque anafilático. Sintomas da reação alérgica sistêmica podem incluir placas vermelhas e coceira pelo corpo, inchaço de lábios, pálpebras, náuseas e vômito, tontura, fraqueza, confusão e torpor, dificuldade respiratória por broncoconstrição e edema de glote. Reações sistêmicas requerem cuidados médicos imediatos, pois podem ser muito graves e até causar a morte. O tratamento se dá por anti-histamínicos e adrenalina. Indivíduos com alergia a picada de abelhas não devem tentar se tornar apicultores. Após a injeção do veneno na pele da vítima, não há antídoto para a picada; loções, aplicações de gelo, etc. podem ser usados para alívio dos sintomas, mas a única cura é o tempo. Independente de tratamento, o inchaço tende a se resolver em um ou dois dias, após o que pode haver um período breve de intenso prurido no local. Localização do Apiário A escolha do local para instalação de colméias é um passo importante, e deve levar em conta uma série de fatores. Além da disponibilidade local de fontes de pólen e néctar para as abelhas, deve haver também água limpa e fresca. Isso reduz a energia necessária para as abelhas buscarem água. Colméias não devem ser postas sob luz solar direta nas horas mais quentes do dia, mas também não devem ficar permanentemente sob denso sombreamento. O local ideal receberia sol de manhã bem cedo, um sol fraco que não castiga as abelhas, e estimula as abelhas a começar a buscar néctar e pólen cedo. À tarde, o ideal é que a colméia permaneça na sombra. Geralmente, deve-se procurar instalar colméias sob a copa de árvores, de forma a propiciar um bom equilíbrio entre sol e sombra. O local para a colméia deve também permitir boa circulação de ar, evitando que a colméia fique úmida por longos períodos após dias chuvosos. Porém, a área da colméia deve ser protegida de ventos fortes, por exemplo pela utilização de barreiras de vento (muros, barreiras de terra, arbustos, vasos, treliças, etc.), já que ventos fortes restringem o vôo das abelhas. Ao escolher o local para a colméia devemos considerar :
fontes de néctar e pólen fonte de água sombra suficiente 12
circulação de ar barreiras contra o vento vandalismo proteção de pessoas e animais vivendo ao redor proteção contra fogo e enxentes facilidade de acesso para o apicultor cuidado com o uso de inseticidas na vizinhança
Abrigos com cobertura de sapé podem ser construídos para o apiário em áreas desprovidas de árvores. Árvores, preferencialmente nativas, boas produtoras de néctar e pólen para as abelhas e de crescimento rápido, podem e devem ser plantadas para fornecer boa sombra para os apiários. Fileiras de arbustos ou cercas vivas podem ser plantadas para separar colméias umas das outras e de habitações – isso ajuda a minimizar problemas com picadas. Tais arbustos também funcionam como barreiras contra o vento.
As colméias
2. As laterais da colméia devem ser inclinadas a um ângulo de 120o em relação ao assoalho da colméia. Isso minimiza aderência dos favos às paredes, já que segue uma inclinação semelhante aos favos naturais em colméias selvagens. A colméia pode ser feita de qualquer tipo de madeira, e ainda palha, juncos ou bambu, coberta com barro, ou ainda ser feita de tambores de metal ou plástico. A escolha dos materiais deve ser feita levando-se em consideração a disponibilidade local e custos, e também a durabilidade, todos fatores que variam de acordo com o local.
Colméias de favos removíveis foram primeiramente usadas pelos Gregos na antiguidade. Colméias semelhantes às usadas pelo próprio Aristóteles podem ainda ser encontradas na Grécia atual. essas colméias são feitas de cestas, às vezes rebocadas com barro. Barras superiores são cortadas em uma largura adequada para manter espaço para as abelhas, e são instaladas na abertura no topo da colméia. Essas colméias são os precursores dos modelos de favos removíveis atuais, e representam um nível de tecnologia viável para apicultura de pequena escala ainda hoje.
A colméia de modelo queniano é um tipo popular de colméia de tecnologia intermediária. Ela foi desenvolvida para uso no Quênia nos anos 70, e tem sido usada extensivamente desde então em várias partes do mundo. Trata-se de um modelo prático para projetos pequenos de apicultura. Seu desenho simples permite o uso de uma vasta gama de materiais em sua construção. Há dois fatores importantes na construção da colméia de tipo queniano:
Tambor Palha
Barro As barras superiores devem ser feitas de madeira. Para melhor controle de abelhas defensivas, é importante que as barras superiores se encaixem bem, ficando justas; neste caso, boa madeira e habilidade na construção passam a ser importantes. As vantagens da colméia queniana em relação a sistemas mais sofisticados de apicultura são:
1. É importante que a largura das barras superiores seja correta, de forma que as abelhas construam apenas um favo por barra. Para abelhas africanas, a largura deve ser de 32 mm, e para européias, 35 mm.
Colméia de Favos Removíveis - Modelo Queniano
Colméia de Quadros Removíveis
O
É necessário bom domínio de
número de dimensões críticas é menor que no sistema de quadros removíveis. Portanto, a colméia é fácil de construir pelo próprio apicultor, e com recursos locais.
Não
requer madeira de alta qualidade.
Não
necessita extrator de
carpintaria para construção da colméia. Precisão é necessária em muitas medidas, e a construção pode necessitar equipamentos caros.
Requer
madeira de alta qualidade, que normalmente é cara e nem sempre é disponível
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Necessita
mel (centrífuga).
Não
necessita fundação para os favos.
Não
necessita quadros com suporte de arame
Baixo
custo e manejo simples permitem razoável produção de mel
Projetado especificamente para as abelhas africanas, permite maior controle na hora do manuseio
Não
há reaproveitamento de favos, o que simplifica o trabalho. Isso também significa uma maior produção de cera, um produto de alto valor.
extrator de mel para que seja viável, e o extrator é um equipamento caro.
Necessita
fundação para os favos, nem sempre de fácil obtenção.
Para
melhor funcionamento, os quadros devem ter suporte de arame (nem sempre fácil de obter) para os favos, o que significa maiores custos.
Manejo
complicado, muitas vezes fora das possibilidades do pequeno apicultor.
Difícil
de trabalhar com abelhas africanas.
Esse sistema prioriza o mel,
Como a colméia modelo queniano consiste de uma única caixa, ela também pode ficar pendurada por arames, em árvores ou postes. Isso oferece boa proteção a predadores e também contra incêndios.. Manter a vegetação rasteira aparada ao redor das colméias também ajuda a reduzir problemas com predadores. Mato alto pode servir de ponte para formigas. Um apiário limpo também facilita o trabalho do apicultor. Pedras e outros obstáculos podem causar tropeções, criando situações perigosas.
portanto rende menos cera. Vários outros modelos de colméias de tecnologia intermediária existem e são usados em diversas áreas. Porém, a colméia de tipo queniano é considerada a que melhor combina simplicidade e facilidade de manejo com bons resultados, sendo provavelmente a mais adequada à maioria dos projetos iniciais de apicultura. O apiário A disposição das colméias é importante para atender às necessidades das abelhas enquanto facilita o trabalho do apicultor. Evite colocar as colméias muito próximas umas às outras em fileiras longas, pois isso pode confundir as abelhas. Para evitar esse problema, pode-se variar a direção das entradas das colméias, e colméias individuais podem ser separadas por obstáculos como árvores, arbustos ou mesmo vasos de plantas. Colméias devem ficar a pelo menos cerca de meio metro de distância umas das outras. O posicionamento das colméias deve permitir ao apicultor abordar a colônia pela parte de trás, pois desta forma perturba-se menos as abelhas, já que sua rota de entrada permanece livre.
Em regiões tropicais é muitas vezes necessário colocar a colméia em suportes que as protejam do ataque de formigas e outros predadores. Os pés devem ter cerca de 45 cm de altura, e podem ser colocados em latas contendo óleo queimado, ou pode-se aplicar graxa aos pés que impedirão a passagem de formigas. Aplicação regular de uma camada de cinzas ao redor dos pés também ajuda a repelir predadores.
Se não houver boas fontes de água fresca para as abelhas num raio de um quilômetro, pode-se prover um bebedouro para as abelhas. Um reservatório de água limpa como um balde ou bacia serve para tal propósito. O bebedouro deve ser coberto para manter a água fresca. Também, deve-se colocar algo, como gravetos por exemplo, boiando na água para servir de apoio para as abelhas, evitando que elas se afoguem. O bebedouro deve ser mantido limpo, com trocas regulares de água e limpeza do reservatório e substituição dos gravetos. Equipmentos Além da colméia, há diversos outros equipamentos que são indispensáveis à apicultura. Roupas de proteção adequadas previnem a grande maioria das picadas. Um fumigador usado adequadamente também minimiza picadas. Uma espátula ou faca de apicultor permite desprender as barras superiores ou quadros, facilitando a remoção dos mesmos de forma gentil e suave, de forma a não perturbar as abelhas. Todos esses artigos podem ser produzidos localmente, e até mesmo pelo próprio apicultor.
O véu é a peça mínima de proteção individual. Há casos em que um apicultor experiente pode até dispensar seu
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uso, mas o véu é essencial para os apicultores iniciantes, aumentando a segurança e confiança. O véu pode ser feito com uma malha de nylon, ou mesmo uma tela de filó ou de mosquiteiro. Normalmente ele é feito de forma que encaixe em um chapéu de aba larga, o que permite fique afastado do rosto e pescoço do apicultor. O material do véu deve ser preferencialmente escuro: isso diminui a reflexão da luz, permitindo melhor visibilidade para o trabalho, especialmente em dias ensolarados.
Errado
Correto (frente)
Correto (trás)
A parte inferior do véu deve ter tiras longas que possam dar a volta no corpo para serem amarradas na frente. Isso ajuda a garantir que o véu fique justo ao redor do pescoço, prevenindo a entrada de abelhas. Abelhas nervosas têm uma habilidade incrível de encontrar qualquer entrada em um véu. Luvas normalmente não são necessárias se as abelhas não forem altamente defensivas. Luvas podem ser desajeitadas e difíceis de trabalhar, mas devem ser mantidas à mão em caso de necessidade. Assim como o véu, luvas podem aumentar a confiança de apicultores iniciantes. Luvas podem ser de raspa de couro ou lona, e devem ser de preferência longas, e com elásticos na boca para evitar a entrada de abelhas. Roupas não devem ser muito justas, e devem ser de cores claras e materiais de textura lisa. As abelhas têm uma tendência maior de atacar cores escuras, e podem se enroscar em materiais grosseiros ou felpudos (como lã), resultando em picadas. Camisas de gola alta, colocada por dentro do véu, ajudam a proteger o pescoço. As calças podem ser metidas dentro das meias para prevenir entrada de abelhas. Macacões especiais para trabalho com abelhas também podem ser usados, embora não sejam necessários. O fumigador é usado para produzir fumaça, que inibe reações defensivas das abelhas. A fumaça também afugenta as abelhas, podendo ser usada para afastá-las da área da colméia sendo trabalhada.
O fumigador consiste de uma lata contendo uma grade interna, um cabo com um fole, e um bico para direcionar a fumaça. Dentro da lata se deposita um material combustível, que queima lentamente produzindo fumaça. O fumigador ideal permanece aceso, queimando lentamente, e produzindo uma fumaça clara e fria. A maioria dos apicultores têm um combustível preferido, o que normalmente é ditado também pela sua disponibilidade. Boas opções de combustíveis para o fumigador incluem a fibra de coco, sabugo de milho, esterco seco de vaca, estôpa, papelão, madeira podre, folhas secas, e pano. Umedecendo-se levemente o combustível tem-se uma fumaça mais fria e clara. Certos materiais devem ser evitados: madeira e carvão produzem muito calor; serragem não deve ser usada pois pequenas partículas de serragem incandescente acabam sendo sopradas sobre a colméia, matando abelhas e contaminando o mel. Materiais sintéticos e derivados de petróleo geram subprodutos tóxicos da combustão, irritando as abelhas e contaminando os produtos da colméia. Fumigadores podem ser comprados em lojas especializadas, ou feitos pelo próprio apicultor, usando materiais como latas vazias de óleo, molas de colchão e câmaras de pneu, etc. No apêndice ao final deste livro, há instruções para a confecção de um fumigador; com criatividade, outros modelos podem ser produzidos empregando recursos disponíveis. Como acender um fumigador
1) Amasse um pedaço de jornal, acenda-o e coloque dentro do fumigador. Obs.: brasas também podem ser usadas para acender o fumigador .
2) Aperte o fole algumas vezes. Quando o jornal pegar fogo, adicione o combustível lentamente dentro do fumigador, e continue apertando o fole. 3) Quando o combustível começar a queimar, coloque mais combustível (sem encher muito) no fumigador. Reduza o uso do fole para apenas manter o combustível aceso.
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4) Quando o fumigador já estiver bem aceso, ponha um punhado de folhas verdes ou grama sobre o combustível para esfriar a fumaça e reter fagulhas. Feche o fumigador
5) Aperte o fole periodicamente enquanto trabalha com as abelhas, para que o fumigador permaneça aceso.
O fumigador é companhia constante do apicultor. Um fumigador bem feito dura muitos anos, se propriamente usado e cuidado. Não deixe o combustível queimar até o fim no fumigador: esvazie-o em um local seguro (cuidado para não causar incêndios) logo após o uso para evitar danos por calor excessivo. Não deixe o fumigador exposto ao tempo.
Outra companheira constante do apicultor é a espátula ou uma faca de apicultura, usadas para raspagem de excessos de própolis e cera, e para desgrudar os quadros e favos. Um ferreiro local pode fazer ótimas ferramentas usando barras de aço (barras de suspensão automotiva são um excelente material para isso). Facões velhos também podem ser convertidos em ferramentas para a apicultura. Abelhas Abelhas podem ser obtidas de diversas formas, dependendo da região. Em áreas onde uma apicultura, por mais rudimentar que seja, é praticada, o modo mais prático de se obter abelhas é comprando uma colméia já estabelecida. Se a colméia for do tipo de favo fixo, ela pode ser transferida para dentro de uma caixa de favos removíveis, contendo apenas as barras superiores, e logo as abelhas construirão favos ali. Em locais onde a apicultura já é bem desenvolvida, abelhas podem ser compradas como “pacotes”, contendo operárias e uma rainha em uma gaiola telada, muitas vezes vendidas a peso, junto com quadros ou barras contendo favos com mel, pólen e filhotes. Esses pacotes são verdadeiras colônias, que uma vez instaladas em uma colméia se desenvolverão e produzirão em pouco tempo. Fontes de abelhas devem ser sempre locais. Importação de abelhas para projetos iniciais não é recomendada, pois além de criar uma dependência indesejável por fontes externas,
ainda há o risco de introdução de doenças, pragas, variedades de abelhas indesejáveis, etc. De fato, em muitos locais a idéia errônea que a importação de abelhas é uma necessidade tem se estabelecido, criando uma dependência psicológica dos apicultores por tais fontes, o que compromete a própria sustentabilidade da atividade. Em locais onde enxames são de ocorrência comum, estes podem ser uma forma prática de se obterem abelhas. Uma forma de se cativar enxames selvagens é simplesmente oferecer uma colméia vazia adequada e bem posicionada: enxames selvagens encontrarão a caixa e se instalarão nela. Locais ideais para se posicionar a caixa são justamente locais adequados à apicultura, ou seja, locais bem arejados, semi-sombreados e protegidos de ventos fortes. Os ninhos devem ser protegidos contra pestes, e periodicamente inspecionados para assegurar que não sejam ocupados por outros animais que não abelhas. Colocar alguns pedaços de favo novo, vazio dentro do ninho pode ajudar a atrair abelhas para o ninho. Esfregar ervas aromáticas dentro da caixa também pode atrair abelhas: capim cidreira é freqüentemente usado para esse propósito. Enxames também podem ser facilmente cativados se encontrados ainda agrupados em um galho ou outro objeto.
Práticas de Manejo Ao manejarmos a colméia, temos o objetivo de ajudar as abelhas a aumentarem sua população no período de maior fluxo de néctar, e a sobreviverem ao período de escassez de recursos. O primeiro passo de manejo em apicultura é obter abelhas em uma colméia manejável. Uma vez que a colméia esteja estabelecida, ela deve ser inspecionada regularmente e manejada de acordo com suas necessidades. Práticas específicas de manejo podem ser divididas em três fases: crescimento da colônia, colheita de mel e manejo de entressafra. Cativar enxames é o modo mais fácil e barato de se obter abelhas. Tudo o que você tem que fazer é oferecer uma caixa, ou um ninho adequado, e esperar que as abelhas o encontrem e habitem. Se um enxame encontra uma caixa e se instala ali, ele normalmente fica. Enxames que se agrupam em locais acessíveis podem ser transferidos para um ninho vazio, embora muitas vezes as abelhas mostrem-se relutantes em permanecer e estabelecerem-se ali. Para cativar um enxame, pode-se chacoalhar o galho onde as abelhas estão agrupadas, ou “varrê-las” com uma escova macia ou uma vassoura feita com um maço de capim, transferindo as abelhas para uma caixa de apicultura vazia. Para tanto, deve-se remover as barras superiores da colméia, colocar a colméia debaixo do galho, e cacoalhar o galho na direção da caixa. Ou então, pode-se jogar as abelhas em frente
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à entrada da caixa, e elas normalmente entram. Também é possível capturar as abelhas usando um saco grande ou caixa de papelão, e transportá-las até o local da colméia. Enxames não têm filhotes ou mel para defender, e portanto são geralmente dóceis, fazendo desnecessário o uso de fumaça para sua captura. Porém, se as abelhas mostrarem-se defensivas, pode-se usar uma pequena quantidade de fumaça, ou borrifar água sobre as abelhas para reduzir problemas com picadas. Evite o uso excessivo de fumaça, pois isso faz com que as abelhas deixem o ninho. Adicionando-se alguns favos com ovos e larvas ajuda a evitar que as abelhas deixem o novo ninho.
Se o enxame estiver em um galho acessível, chacoalhe o galho derrubando as abelhas no ninho.
Ou então, jogue-as sobre um pedaço de pano em frente ao ninho. O pano evita que as aelhas se enrosquem na grama ou sujem-se com terra.
Para o sucesso no estabelecimento da nova colméia, é necessário que a rainha esteja presente. Se as abelhas retornarem ao local de aglomeração original ou agruparem-se em algum outro lugar, é sinal que a rainha está no grupo. Tente transferir o enxame novamente. Embora não seja necessário encontrar a rainha, vê-la e saber onde ela está ajuda muito. Se a rainha é avistada, ela pode ser aprisionada em uma pequena gaiola de tela ou mesmo uma caixinha de fósforos vazia. Pegue-a por trás gentilmente, segurando por ambas as asas, e a ponha na gaiola. Se ela for pega por apenas uma asa ou perna, pode se machucar. Nunca agarre a rainha pelo abdômen, pois essa área é muito sensível e você pode machucar seus órgãos reprodutivos.
Aprisionando a rainha. Se a rainha é aprisionada, sua localização será conhecida até o final do processo de captura. Quando a colméia estiver em seu local definitivo, libere a rainha. Aprisionar a rainha também evita que ela seja atacada pelas operárias: sob condições de estresse na captura e transferência de abelhas, as operárias às vezes se aglomeram ao redor da rainha e podem tentar picá-la. Isso pode resultar em morte da rainha por picadas ou sufocamento.
Em seguida, despeje as abelhas dentro da colméia.
Se for possível, pode-se colocar alguns favos contendo ovos ou larvas dentro da colméia, pois isso aumenta as chances do enxame permanecer e estabelecer-se. Para isso, escolha um favo contendo ovos e larvas (células não seladas) de uma colméia estabelecida, remova todas as abelhas que estiverem sobre o favo, usando um punhado de capim para varrê-las do favo, e dê o favo para a colméia nova. Não transfira abelhas adultas com o favo, pois elas lutarão contra as abelhas do enxame. Favos contendo ovos ou larvas jovens dão à colméia a chance de criar uma nova rainha, caso esta se perca no processo de captura do enxame.
Uma vez que as abelhas tenham sido transferidas para a nova colméia, a entrada é fechada e a colméia transportada para seu local definitivo. É melhor mover a colméia no final da tarde ou à noite, quando as abelhas estão todas dentro da colméia e o tempo é mais fresco. Algumas abelhas podem querer retornar ao antigo local se movidas a uma distância inferior a dois quilômetros. Não deixe a colônia em uma colméia fechada no sol. Se a caixa for permanecer fechada por mais de quinze minutos, a entrada deve ser bloqueada com algum material telado para permitir ventilação. Borrife água sobre a tela na entrada da colméia: isso permite que as abelhas bebem água e ajuda a refrescar a colméia.
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Colméias selvagens também podem ser transferidas para caixas de apicultura. Esta é uma abordagem útil quando se trata de colônias instaladas em locais indesejáveis, como residências ou em árvores que serão podadas. Nestes casos, cativar a colméia efetivamente significa salvá-la, já que na maioria das vezes as pessoas, querendo remover a colônia, acabam por destruí-la. Para maior sucesso, a cativação de colméias selvagens deve ser feita no início do período de crescimento da colônia. Nessa fase, a população da colônia está relativamente pequena, e há pequena quantidade de mel. Isso facilita o trabalho e minimiza problemas de roubo de mel por abelhas de outras colônias. Transferindo-se a colônia no início do período de maior fluxo de mel dá às abelhas bastante tempo para se recuperarem do trauma da transferência e se prepararem adequadamente para o próximo período de escassez de recursos. Transferências feitas no final do período de fluxo de néctar ou durante a entressafra têm chances reduzidas de sobrevivência. Na transferência de colméias selvagens para caixas de apicultura, deve-se abrir a cavidade onde a colméia está instalada, cortar-se os favos e instalá-los na caixa de apicultura. Algumas localizações são de fácil acesso; outras, como paredes, telhados ou troncos de árvores, podem ser bastante complicadas. Transferindo uma colméia selvagem
1) Colméia em tronco de árvore
2) Prepare a caixa de apicultura para receber a colônia
3) Abra a colméia selvagem e retire os favos um por um
4) Guarde favos contendo mel em uma vasilha com tampa, e descarte favos contendo filhotes de zangões
5) Fixe favos contendo ovos e larvas de fêmeas às barras superiores, e instale-as na colméia.
6) Após remover todos os favos, transfira as abelhas restantes para a colméia nova, e feche a colméia. Remova totalmente restos da colméia antiga para evitar que as abelhas sejam atraídas para o local antigo
Para fazer a transferência, aplique bastante fumaça e, se possível, coloque a caixa nova no local onde a colméia antiga estava situada, pois isso faz com que as abelhas entrem mais facilmente na casa nova. Continue aplicando fumaça. Abra a colméia selvagem, de preferência pela parte inferior. Corte os favos. Favos contendo filhotes de zangões e a maioria dos favos vazios são separados para aproveitamento da cera. A maior parte dos favos contendo mel serão colhidos. Favos contendo filhotes de operárias e rainhas, alguns favos contendo mel, e talvez um favo novo, vazio, são fixados a barras superiores, com auxílio de elásticos, barbantes, arame, espetos de bambu ou outras técnicas. Cera derretida também pode ser usada para “colar” os favos às barras superiores. Os favos assim montados são introduzidos na colméia. Transfira as abelhas remanescentes para a colméia, recoloque todas as barras superiores e bloqueie a entrada da colméia – uma entrada reduzida ajuda a colônia recém-transferida a se defender de predadores e ladrões de mel.
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Formas de se fixar os favos às barras superiores
Se a rainha for encontrada, ela deve ser aprisionada em uma gaiola de tela ou caixinha de fósforo até que todos os favos tenham sido colocados. Isso evita que ela se perca ou machuque durante a transferência. Favos contendo mel podem e devem ser colhidos; eles são difíceis de manipular, e vazam muito atraindo ladrões de mel (abelhas e outras espécies) e predadores, portanto não há sentido em se tentar transferir todo o mel para a colméia nova. Porém, deve-se transferir alguns favos (cerca de meio quilo), para que as abelhas possam se alimentar. Remova a colméia antiga do local completamente, para evitar que as abelhas sejam atraídas para o local pelo cheiro. Restos de favo devem ser derretidos para aproveitamento da cera, e restos de madeira podem ser queimados. Se as abelhas começarem a se agrupar em algum lugar fora da colméia nova, aplique fumaça ao local. Abelhas às vezes abandonam a colméia nova após a transferência. Garantir que a colônia tenha favos contendo ovos e larvas e uma quantidade suficiente de comida (mel e pólen) ajuda a minimizar esse problema, aumentando as chances de sucesso. Transferência de colônias selvagens para caixas de apicultura é uma experiência traumática tanto para as abelhas como para o apicultor. Às vezes, o trabalho é complicado e duro, e alguma experiência prévia com abelhas pode ser de grande ajuda. Abelhas confusas voando por todo o lugar podem criar uma situação bem desconfortável. Muitas abelhas são mortas, e parte dos favos e filhotes também se perdem. Porém, a transferência em si é uma grande experiência de aprendizado. Se você conseguir fazer uma transferência com sucesso, você certamente está no caminho certo para se tornar um apicultor. Deve-se inspecionar a colméia regularmente após a transferência, para garantir que suas necessidades estejam sendo preenchidas. Durante períodos de crescimento da colônia, há intensa atividade na colméia, e a mesma deve ser inspecionada a cada duas semanas. Inspeção apenas uma vez por mes é suficiente durante períodos de entressafra, quando a colônia é menos ativa. Na inspeção, verifique as condições da criação de filhotes, necessidades de espaço e a presença de reservas adequadas de alimento. Dependendo do período do ano (ou a fase do ciclo da colônia), você deve se preocupar com coisas diferentes.
Com experiência, a condição da colônia pode ser percebida ao se observar a atividade na entrada da colméia, e removendo um ou dois favos. Porém, apicultores inexperientes devem fazer inspeções mais completas e detalhadas enquanto aprendem o que devem procurar. O temperamento das abelhas varia muito com o tipo de abelha, condição da colônia e o clima. Geralmente, as abelhas são mais mansas em dias quentes e ensolarados, durante o fluxo de néctar. Nesses dias, um grande número de abelhas estão trabalhando fora da colméia, buscando néctar, pólen e água. Essas abelhas forrageadoras, que buscam alimentos e água, são as mais defensivas da colméia, e têm as glândulas do veneno totalmente desenvolvidas. Na maioria dos lugares, o fluxo máximo de néctar é na parte da manhâ. Portanto, esta é a melhor hora para inspecionar a colônia, já que haverá menos abelhas na colméia. Em áreas onde prevalecem abelhas particularmente agressivas, muitas vezes o apicultor prefere trabalhar com as abelhas ao entardecer ou mesmo à noite, pois com algumas abelhas isso pode reduzir problemas com picadas. Roubo de mel por abelhas de outras colméias também é um problema ao inspecionar colônias, especialmente no período da entressafra. Abelhas de outras colméias aproveitam-se do espaço aberto durante a inspeção para roubar o mel. Você pode suspeitar que isso está acontecendo, se notar abelhas lutando entre si. Prevenir o roubo de mel é muito mais fácil que remediar. Trabalhe rápido durante a inspeção, para minimizar o tempo que a colméia fica aberta. Também, tome cuidado para não deixar pingar mel na área da colméia, e não deixe favos expostos. Se um "assalto" começa, feche a colméia e espere até o dia seguinte. Se o assalto for intenso, incontrolável, bloqueie a entrada da colméia com grama ou mato, e borrife água nas abelhas estranhas (as que estão do lado de fora) para contê-las, facilitando a defesa da colônia por suas abelhas. Remova o bloqueio da entrada da colméia apenas de noite ou no dia seguinte, quando a paz estiver restabelecida. Não negligencie roubo de mel, pois se algo não for feito para pará-lo, a colméia pode até ser destruída, tendo todo o seu mel roubado e a maioria das suas abelhas mortas. No momento da inspeção, a condição da criação de filhotes (ovos, larvas e pupas) é a coisa mais importante a ser verificada. Uma olhada rápida no favo contendo filhotes pode lhe informar da presença ou não da rainha, e pelo padrão da disposição dos filhotes no favo pode-se determinar a condição da rainha ou a ocorrência de doenças.
Os filhotes são sempre localizados na porção mais baixa de um favo de cria. O pólen é armazenado ao redor dos lados e na área superior, e mel é encontrado ao longo da margem superior do favo. A camada de mel acima serve para isolar o ninho de cria.
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Inspecionando uma colméia 1) Aborde a colméia por trás ou pelo lado. Aplique fumaça à entrada e espere 30 segundos.
2) Remova a tampa e aplique mais fumaça sobre as barras superiores. Bata levemente nas barras para identificar barras vazias.
3) Remova uma barra superior vazia. Aplique fumaça dentro do espaço abaixo, conforme você remove a barra.
4) Verifique as barras vazias uma a uma, reposicionando-as, até você chegar ao ninho de cria, contendo filhotes. Aplique fumaça periodicamente para manter as abelhas sob controle, mas não use fumaça excessivamente, pois isso pode fazer com que as abelhas abandonem o ninho.
5) Remova os favos de cria um por um e inspecione-os. Não tente virar o favo rotando-o sobre o eixo da barra superior, pois isso fará com que se quebre. Porém, o favo pode ser virado de cabeça para baixo ao longo da barra superior. 6) Ao inspecionar a colônia, devolva as barras superiores aos seus locais originais, e feche a colméia.
Uma boa rainha põe ovos em um padrão concentrado. Ela começa a pôr ovos em uma parte do favo, e continua pondo ovos nas células ao redor, expandindo para fora, ao redor das células contendo filhotes em desenvolvimento. Quando abelhas adultas emergem da área central, a rainha volta àquela parte e recomeça a pôr ovos, preenchendo as células ao redor conforme estas esvaziam-se com a saída de mais abelhas adultas. Portanto, um bom favo de cria tem um padrão de círculos concêntricos, com anéis contendo filhotes aproximadamente da mesma idade.
Se a rainha está falhando, ou há alguma doença nos filhotes, ou operárias estão pondo ovos, o padrão da distribuição dos filhotes assumirá formas irregulares, com muitas células vazias em meio à área de criação de filhotes. Quedas temporárias na disponibilidade de néctar e pólen também podem causar esse tipo de padrão irregular, mas normalmente apenas por períodos curtos. Se doenças estiverem acometendo os filhotes, algumas células podem conter filhotes mortos em decomposição. Uma rainha velha ou em declínio põe ovos que não eclodem, ou não são fertilizados e portanto geram apenas zangões. A colônia naturalmente substitui tais rainhas, mas o apicultor pode, uma vez constatado o problema, substituir a rainha o quanto antes, melhorando assim a produtividade da colônia. Você pode substituir a rainha da colméia simplesmente matando a rainha velha e permitindo que a colônia produza uma nova, ou introduzindo uma célula real no dia seguinte após matar a rainha velha. A rainha é normalmente encontrada em favos de cria, contendo ovos e larvas. Porém algumas rainhas são “fujonas”, saindo do favo quando a colméia é perturbada, e podem ser difíceis de localizar. Porém, não é necessário encontrar a rainha toda vez que se inpeciona a colméia: Se há ovos, e estes estão dispostos da forma correta (um por célula, em posição central na célula) e as células contendo filhotes estão no padrão circular descrito acima, a presença de uma boa rainha está assegurada. Se uma colônia ficar sem rainha por muito tempo, as operárias começarão a pôr ovos. Por não serem fertilizados, esses ovos apenas geram zangões. Células contendo ovos e
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larvas em um padrão por “manchas” ou de “tiro de cartucheira” e células de operárias (pequenas) com tampas de formato abaolado (característico de zangões), são sinais de que operárias estão pondo ovos. Quando operárias estão pondo ovos, a colméia está em uma situação complicada, pois apenas zangões são produzidos e portanto a colônia logo morrerá. Como a colônia não percebe a falta de uma rainha, não aceitará larvas de rainhas de outra colônia. Quando você encontrar uma colméia em que as operárias estejam pondo ovos, combine-a com uma colônia forte que tenha uma boa rainha. As operárias da colônia forte eliminarão as operárias que põem ovos. Durante a inspeção, observe a condição geral do apiário. Veja se há mato crescendo ao redor das colméias, que possa servir de acesso a formigas ou outros predadores. Verifique também que há equipamento danificado ou apodrecendo, que necessite ser substituído. A presença de uma quantidade adequada de reservas de mel e pólen é um item importante a ser inspecionado na colméia. Deve haver pelo menos um favo contendo mel de cada lado do ninho de criação. Se a colméia não tiver reservas suficientes, adicione favos contendo mel (sem abelhas) de colônias mais fortes, ou se a colônia for fraca, você pode combiná-la com outra mais forte. É bom manter registros das inspeções das colméias para acompanhar o progresso das colônias, e planejar ações futuras no apiário. O manejo durante a fase de crescimento da colônia visa fornecer espaço para a espansão de ninhos de criação, permitindo à colônia atingir seu tamanho máximo para o período de maior fluxo de néctar. Manipulações têm que ser feitas várias vezes durante o período para evitar que o ninho de criação seja restringido pela ocupação dos favos por mel. Com o crescimento da área de criação na colméia, os favos vão sendo todos ocupados e a rainha passa a não ter espaço suficiente para pôr mais ovos, pois favos restantes estão ocupados por mel. Nessas situações, diz-se que a colméia está “amarrada”, com o ninho de criação restringido pela ocupação dos favos por mel. Ao adicionar barras superiores vazias ou contendo favos vazios ao lado do favo de criação, você pode rapidamente aumentar a área do ninho de cria e aliviar seu congestionamento. Esta manipulação simples permite o maior crescimento da população da colônia, aumentando a produtividade. Quando o ninho de criação torna-se restringido por mel, isso não apenas prejudica o crescimento da colônia e a produtividade, mas ainda pode induzir a colônia a se dividir por enxameamento. Para alguns apicultores de baixo nível técnico, o enxameamento pode representar uma forma de aumentar o número de colméias; porém, muitas vezes o enxame abandona o local. Além disso, a redução no número de abelhas também significa uma produção menor de mel. Portanto, quando o apicultor deseja aumentar o número de colônias, é preferível fazê-lo por divisão artificial da colônia, conforme sua conveniência e sem os riscos de perder o enxame. Se células reais são encontradas em uma colônia forte durante o período de crescimento da colméia, a colônia está provavelmente se preparando para enxamear. Tais células reais são normalmente encontradas nas margens do favo. Neste caso, pode-se proceder à divisão artificial da colônia, ou “enxameamento artificial”.
Manejo de um favo restringido por mel (vista lateral da colméia)
1) Ninho restringido por mel.
2) Remova dois favos de mel de cada lado do ninho de criação, remova também dois favos vazios ou barras superiores.
3) Ponha os favos contendo mel no lugar onde estavam as barras vazias, ou colha o mel.
4) Movimente os favos de cria, gerando espaço em ambos os lados para a colocação de barras superiores vazias.
5) Coloque barras superiores vazias em ambos os lados do ninho de cria. Uma vez iniciado o processo de enxameamento pela colônia, é difícil interrompê-lo. Uma forma de se tentar prevenir o enxameamento é a seguinte: destrua todas as
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células reais da colônia; então, troque sua posição com a de uma colméia fraca do apiário. As abelhas operárias forrageadoras voltarão ao local original da sua colméia, ao qual estão acostumadas. Uma colônia preparando-se para enxamear é uma colônia forte. Portanto, ao se trocar as colméias de posição, a colônia forte perderá abelhas e a colméia mais fraca as ganhará. Tal troca de posição das colméias durante os períodos de maior fluxo de néctar ou crescimento das colônias normalmente não leva a lutas entre as abelhas forrageadoras e abelhas internas da colméia. As forrageadoras estarão retornando à colméia, trazendo néctar e pólen, e portanto são prontamente aceitas pela colônia. A destruição das células reais, combinada à perda de operárias forrageadoras, normalmente são suficientes para interromper o processo de enxameamento da colônia. Verifique a colméia algumas semanas mais tarde, e destrua novamente quaisquer novas células reais. A troca de posição entre colméias fortes e fracas é uma prática fácil para nivelar populações de colméias diferentes. É uma boa rática de manejo procurar ter colônias de tamanho e força semelhantes em um apiário, já que isso reduz problemas de roubos de uma colméia por outra. Outra forma de se igualar populações de colônias em um apiário é transferir favos contendo filhotes (mas não abelhas adultas) de uma colméia forte para colônias mais fracas, ajudando-as a aumentarem suas populações. Porém, deve-se ter cuidado de não dar a uma colméia mais filhotes do que ela pode cuidar. Pupas (células seladas) que emergirão logo são as melhores para esse propósito, já que necessitam mínimos cuidados. A divisão artificial de colônias é outra forma de se lidar com colônias que estão se preparando para enxamear. Trata-se essencialmente do processo de divisão, mas sob o controle do apicultor. Este é o método mais prático para o apicultor que deseja aumentar o número de colméias em seu apiário. Trocando colméias de posição
Colônias fortes podem ser estimuladas a construir células reais e criar novas rainhas se a rainha for removida. Essas células reais de emergência podem ser usadas para gerar mais colméias, se desejado. O melhor momento para dividir colônias é no começo do período de crescimento. Se a divisão for feita suficientemente cedo, a colônia pode crescer o suficiente para produzir mel excedente, que poderá ser colhido. A divisão de colônias sempre sacrifica um pouco a produção de mel dessas colônias. Lembre-se que colônias fortes rendem mais mel relativo à mão de obra e equipamentos que colônias fracas. A decisão de dividir colônias deve sempre ser baseada no objetivo da criação: produzir mel ou produzir abelhas? Divisão de colônia (enxameamento artificial) 1) Comece colônia forte.
com
uma
2) Pegue pelo menos dois favos de cria selados e pelo menos dois favos de mel da colônia.
3) Transfira esses favos com as abelhas, e com um maço de mato “varra” mais algumas abelhas de alguns outros favos para dentro da colméia. Posicione os favos de cria entre os favos de mel para isolar o ninho de criação.
1) Antes da troca: colônia 1 é forte e a 2 é fraca.
2) Após a troca: a colônia 1 torna-se um pouco mais fraca, mas a 2 fica muito mais forte.
4) Adicione células reais à nova colônia. Esses podem estar em um dos favos, ou podem ser recortados de outro favo e enxertados em outro. Observação: se não houver células reais, as operárias criarão uma nova rainha se você lhes oferecer larvas jovens; porém, levará mais tempo para que se tenha uma rainha.
5) Posicione as duas colônias longe uma da outra para que as abelhas possam se acostumar com seus novos “endereços".
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Recortando e enxertando células reais 1) Corte ao redor da célula real, tomando cuidado para não cortar dentro da célula. Obs. não vire a célula real de lado pois isso pode machucar a pupa.
2) Faça um recorte no favo onde a célula real será enxertada.
3) Introduza a célula real no recorte do favo. Lembre-se: sempre mantenha a célula real apontando para baixo.
4) Devolva o favo à colméia. As abelhas terminarão de fixar a célula real ao favo.
A colheita do mel é a recompensa do apicultor. No período de maior fluxo de mel, os favos na periferia da colméia vão sendo preenchidos com mel. Colha esses favos várias vezes durante o período de fluxo. Isso evita que a colônia tenha seu crescimento restringido pelo mel, e o espaço vazio dentro da colméia estimulará as abelhas a forragearem mais. Quando a maior parte de um favo contém mel em células tampadas, este favo está pronto para ser colhido. O teor de umidade do mel de alvéolos abertos é muito alto, possibilitando a proliferação de microrganismos e fermentação. Um favo em que pelo menos dois terços dos alvéolos estão lacrado com cera contém mel maduro, com teor reduzido de umidade, e que portanto não permite a fermentação bacteriana, sendo naturalmente preservado. A melhor maneira de se removerem as abelhas do favo é “varrendo-as”. Um pouco de fumaça pode ser utilizada para facilitar o manejo, mas evite usar muita fumaça pois isso pode contaminar o mel, alterando seu cheiro e gosto. A extração do mel dos favos pode ser feita basicamente por dois processos: prensagem ou centrifugação. Alternativamente, o mel pode ser comercializado no próprio favo, não necessitando portanto ser extraído.
Colheita do mel (cortando os favos das barras superiores) 1) Remova apenas favos com mel (sem ovos ou larvas).
2) Aplique um pouco de fumaça ao favo.
3) “Varra” as abelhas com uma escova ou folhas.
4) Corte o favo (deixe 2 cm).
5) Ponha o favo em uma vasilha tampada ou coberta com um pano.
6) Devolva a barra superior à colméia
Observação: fumaça em excesso pode passar gosto ao mel Prensagem é o método mais comum de extração do mel em projetos de apicultura em pequena escala. Porém, sua eficiência em retirar o mel do favo é menor que a da centrifugação. Boas centrífugas podem ser construídas artesanalmente pelo próprio apicultor, que têm um bom desempenho. Um modelo de centrífuga é dado no apêndice ao final deste livro. O manejo durante períodos de escassez de recursos difere de acordo com o clima da região: em regiões temperadas há um período de dormência no inverno, e neste caso o manejo deve garantir que a colônia tenha reservas
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suficientes de mel para este período, a proteção da colméia contra ventos fortes, e prevenir a entrada de camundongos, que podem fazer ninho em algum canto da caixa. Não há períodos de dormência em regiões tropicais. A população da colônia diminui em períodos de escassez, mas as abelhas permanecem ativas por todo o ano. O manejo visa principalmente garantir reservas suficientes de alimentos e uma população suficiente de abelhas para cobrir e proteger os favos da colônia contra traças. A existência de reservas adequadas de mel na colônia depende primariamente do apicultor reconhecer as necessidades da mesma, e não colher demasiadamente o mel. A quantidade de mel a ser deixada para a colméia difere de acordo com a região, em função da duração e severidade do período de escassez de recursos. Isso se aprende com a experiência na área, e faz parte da “arte” da apicultura. Se você não tem experiência, como ponto de partida deixe pelo menos um favo cheio de mel para cada dois favos de filhotes em uma colméia. É melhor deixar muito mel, do que não deixar o suficiente. Se as abelhas não usarem tudo, você sempre poderá colher mais tarde. Alimentação artificial de abelhas Embora a alimentação artificial deva ser desencorajada, esta pode ser útil em algumas situações emergenciais, para evitar que as abelhas sofram com a falta de reservas.
Alimentador artificial(vista lateral) Para fazer um alimentador artificial para colméias de favos removíveis, use uma táboa de madeira do mesmo comprimento de uma barra superior, e o triplo da largura. Perfure um buraco na táboa, de um tamanho que permita a passagem do gargalo de uma garrafa. Encha a garrafa com um xarope de açúcar (duas partes de açúcar para uma de água) e faça pequenos furos na tampa. Os furos não devem permitir que o xarope escorra quando a garrafa é invertida. As abelhas consumirão o xarope. Se houver gotejamento, isso pode atrair formigas ou estimular roubos por abelhas de outras colméias. Para prevenir roubos, sempre que estiver fazendo alimentação artificial reduza a entrada da colméia com um bloco de madeira ou outro objeto. Proteger as colônias contra pestes é outro aspecto importante do manejo durante períodos de escassez de recursos. Larvas de traças da cera são as pestes mais perigosas à apicultura, porém podem ser prevenidas com simples práticas de manejo. Em regiões quentes e também durante o verão em regiões temperadas, traças da cera estão sempre presentes e pondo ovos. As abelhas em uma colônia forte normalmente
são capazes de cobrir e proteger todos os favos da colméia, removendo as larvas das traças antes que elas possam causar danos. Porém, se as larvas das traças da cera conseguem se estabelecer em parte do favo, as abelhas tendem a se afastar da área, abandonando o favo para as larvas. Neste ponto, a colméia está condenada, pois as abelhas tendem a perder sua organização social. A população cai rapidamente, e as poucas abelhas restantes acabam perdendo totalmente a colméia.
Traças da cera podem entrar na colméia para pôr ovos, ou podem pô-los em fendas e rachaduras na parte externa da colméia. Quando ovos postos na parte externa da colméia eclodem, as larvas migram até o interior e instalam-se nos favos. Se a colônia não tem abelhas suficientes para proteger o favo, as larvas da traça da cera começam a desenvolver-se nos favos, fazendo túneis através deles e se alimentando de cera, resíduos de pólen, e casulos deixados por abelhas que emergiram ao final do estágio pupal. As larvas da traça da cera preferem favos mais antigos, escuros. Elas destróem o favo, deixando para trás massas de excrementos e restos de cera.
Em colônias fracas, as larvas da traça da cera às vezes perfuram através do centro do favo que contém filhotes de abelhas em desenvolvimento. As deformações no favo deixadas pelas larvas das traças aprisionam as pupas das abelhas, impedindo-as de sair da célula quando se transformam em adultas – isso pode ser visualizado como trechos ou fileiras de abelhas adultas aparentemente normais tentando emergir das células. Essas abelhas acabam morrendo, sendo removidas pelas operárias que limpam a colméia. Problemas com traças da cera são um resultado de apicultura deficiente. O apicultor colhe muito mel da colméia, e esta se torna fraca demais para proteger os favos. Deixar uma quantidade excessiva de favos vazios na colméia no período de escassez de recursos também causa problemas com as traças. O apicultor deve pensar na força da colônia, tanto
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em termos do tamanho de sua população e em termos da habilidade dessa população de proteger todos os favos da colméia
4) Ponha um pedaço de jornal sobre o espaço vazio e corte o jornal em alguns lugares.
Boas práticas de manejo para o controle da traça da cera são baseadas em :
Manter colônias fortes Remover favos novos, vazios da colméia durante períodos de escassez de recursos. Posicione favos mais antigos e escuros afastados do ninho de criação de forma que possa ser removido quando se esvaziar. Mantenha a área do fundo da colméia limpa, sem resíduos. Traças podem criar-se nos resíduos que se acumulam na parte de baixo da colméia, e depois migrar para os favos. Posicionar a colméia levemente inclinada em direção à entrada ajuda as abelhas a removerem esses resíduos antes que se acumulem. Não acumule favos no apiário, mesmo fora das colméias, pois isso propicia a proliferação de traças da cera na área. Derreta a cera excedente e transforme-a em blocos para armazenamento, ao invés de armazenar na forma de favo. As traças não podem se desenvolver em blocos de cera pura. Colônias fracas podem ser combinadas para fazer colônias fortes com maiores chances de sobrevivência durante períodos de escassez de recursos. A rainha de uma colônia deve ser eliminada para que se possam combinar duas colônias. Uma colônia forte pode ser dividida novamente depois, durante o período de crescimento, para aumentar o número de colônias. Durante o período de escassez de recursos, o objetivo é a sobrevivência das abelhas, não a sobrevivência das colônias. É melhor ter uma colônia que sobrevive do que duas que morrem.
5) Ponha a caixa contendo a colônia fraca sobre o jornal. As abelhas lentamente removerão o jornal, e as duas colônias se combinarão. Como elas se combinarão lentamente, não haverá lutas.
6) Quando as duas colônias já estiverem misturadas, combine os favos e remova a caixa. Obs.: as duas colônias normalmente se misturam completamente em um único dia. Ponha os favos contendo filhotes das duas colônias juntos.
Remoção de favo velho
Combinando colônias
1) Duas colônias, uma fraca e outra forte. 2) Transfira os favos da colônia fraca para uma caixa retangular especialmente preparada, cujas medidas para encaixe dos favos (barras superiores) é idêntica às da colméia.
1) Ninho de cria com favo velho, escuro.
3) Remova uma barra superior vazia da colônia mais forte. 2) Remova o favo velho do ninho de cria.
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3) Retire o favo velho do ninho de cria, pondo-o na última posição na colméia, e agrupe os favos de cria restantes. Espere até que todos os filhotes tenham se desenvolvido e deixado o favo velho, e todo o mel e pólen tenha sido consumido, então remova o favo velho e o derreta para aproveitamento da cera.
Já que os favos são aderidos aos quatro lados dos quadros, e devido à presença de reforços feitos de fios de aço que aumentam a sustentação dos favos, as colméias podem ser manipuladas com tranquilidade, e com poucas chances de quebra de favos, o que possibilita a “apicultura migratória”. Em apicultura migratória, as colméias são transportadas a locais ou regiões diferentes para tirar melhor proveito de fluxos de néctar. Isso obviamente requer um bom sistema de transporte das colméias. O sistema de quadros removíveis também oferece ao apicultor a opção de produzir pólen, geléia real ou rainhas. Pólen é coletado instalando-se coletores na entrada da colméia. Esses coletores consistem de uma grade que possibilita a passagem das abelhas mas “raspa” as pernas das operárias forrageadoras conforme elas passam, fazendo com que parte do pólen seja derrubado em uma gaveta situada logo abaixo, através de uma malha fina que não permite a passagem das abelhas. O pólen assim colhido é normalmente retirado diariamente, para que não estrague.
Apicultura avançada Investimentos e possibilidades A apicultura é uma atividade que pode ser praticada em diversos níveis de tecnologia, mas mesmo os níveis técnicos mais avançados ainda são considerados simples e baratos, quando comparados a outras atividades agrícolas. Todos os implementos necessários aos níveis mais sofisticados de apicultura podem ser facilmente produzidos em oficinas de carpintaria e ferraria no nível local, sem necessidade de indústrias mais sofisticadas. A falta de conhecimento sobre como construir e utilizar os implementos da apicultura é na verdade o único fator que impede seu uso na maioria das situações. Uma apicultura mais avançada possibilita mais manipulações da colméia e oferece mais opções ao apicultor; porém, ela também exige maiores investimentos. Na maioria dos casos, um sistema de apicultura mais avançado propiciará mais lucros para o produtor, desde que seus potenciais sejam plenamente explorados. Porém, a combinação de falta de capital de investimento e a falta de conhecimentos técnicos e organização muitas vezes fazem com que sistemas mais complexos acabem dando prejuízo, onde sistemas mais simples vinham dando lucros. O sistema mais avançado de apicultura utiliza quadros removíveis em várias caixas. Este sistema permite uma maior facilidade na manipulação dos favos. Tanto os quadros (contendo os favos) como as caixas podem ser facilmente trocados nas práticas de manejo. Quadros contendo mel são retirados da colméia, as tampas das células são cortadas com uma lâmina aquecida, e o mel é extraído por centrifugação em um extrator. Os favos vazios são então devolvidos à colônia para que as abelhas os preencham novamente com mel. Neste modelo de apicultura, a produção de mel é maximizada, às custas da produção de cera. A produção de um quilo de cera custa às abelhas cerca de oito quilos de mel; portanto, devolvendo-se os favos vazios às abelhas, a produção de mel é bastante aumentada. Os quadros recebem uma fundação de cera, ou seja uma folha de cêra instalada no centro do quadro, que pode ter um relevo com as dimensões corretas de células de operárias. A função principal dessa fundação é produzir favos fortes, centrados no quadro. Uma fundação com dimensões precisas ainda reduz a quantidade de favos de zangões construídos.
Geléia real é produzida usando uma colônia de abelhas sem rainha. Uma colônia forte de abelhas jovens é produzida coletando-se seletivamente abelhas que cuidam dos favos de cria: essas abelhas são principalmente aquelas especializadas no trato das larvas, e têm glândulas da cabeça totalmente desenvolvidas sendo, portanto, boas produtoras de geléia real. À colônia é oferecido pólen e reservas de mel em abundância, sendo esta porém mantida sem rainha e sem favos de cria. Após um dia, quadros com barras de células artificiais (para produção de células reais) contendo larvas de um dia são introduzidas à colônia. Devido ao fato de não haver rainha, as abelhas jovens são estimuladas a criar rainhas. Para coletar a geléia real, as larvas são removidas das células após poucos dias, e a geléia real é colhida. Para criar rainhas, as células começadas são normalmente transferidas para uma colônia forte, para terminação. Elas são colocadas em uma das caixas da colméia, separadas da rainha por um exclusor de rainha, uma grade que permite a passagem das operárias mas não da rainha (já que esta é maior). Cada célula real é removida e colocada em uma colônia pequena e sem rainha, antes que a rainha deixe a célula. Após a rainha realizar seu vôo nupcial e começar a postura, ela é vendida juntamente com algumas operárias. Boa sincronia e organização são essenciais para o sucesso na produção de pólen, geléia real ou rainhas em grande número. Trata-se de operações especializadas, para atender a mercados especializados. Não são atividades para apicultores iniciantes ou de baixo nível técnico. Problemas no Desenvolvimento da Apicultura Em algumas áreas, programas de desenvolvimento da apicultura tentaram a introdução da tecnologia de quadros removíveis a apicultores de baixo nível de conhecimentos técnicos, com a intenção de conduzir a uma apicultura de
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nível mais alto. Porém, na maioria dos casos, tudo o que se conseguiu foi a continuação de uma apicultura de baixo nível, porém com a utilização de equipamentos caros. Ou seja, em relação ao potencial dos equipamentos, pouco retorno foi obtido. Esses projetos falharam principalmente por tentarem avançar rápido demais, sem considerar cuidadosamente barreiras culturais e de mercado, e pela falta de uma assistência técnica continuada. Todos os problemas de manejo resultantes da falta de entendimento da biologia das abelhas e seus ciclos ao longo do ano são normalmente encontrados em projetos de desenvolvimento fracassados. Há também outros problemas, derivados mais diretamente da tentativa de empregar colméias de quadros removíveis. As soluções para esses problemas às vezes são simples, mas muitas vezes a falta de informação leva ao estabelecimento de maus hábitos, e mudar maus hábitos é sempre difícil. A mudança de práticas em um projeto de apicultura mal-sucedido torna-se muitas vezes ainda mais difícil porque as pessoas envolvidas perderam o entusiasmo pela apicultura. Muitos problemas são causados por equipamentos mal feitos. A idéia que uma colméia de quadros removíveis é apenas uma caixa com qudros é disseminada, e o fato que a colméia é projetada a partir do conceito do espaço da abelha e necessita dimensões exatas muitas vezes escapa à compreensão das pessoas. Equipamentos são às vezes construídos sem qualquer consideração pelo espaço da abelha, o que pode ser o resultado da falta de conhecimento sobre o espaço da abelha, falta de habilidade em carpintaria, ou ambos. Caixas e quadros construídos sem a devida atenção ao espaço das abelhas não são em nada melhores que colméias de favos fixos: quadros encaixados muito justos serão aderidos uns aos outros por própolis, e sua remoção será difícil. Se for deixado um espaço muito grande entre os quadros e a parede interna da caixa, as abelhas construirão favo ali, e a remoção do quadro sem destruir esse favo fica impossível. Nessas situações, qualquer vantagem de um sistema de quadros é totalmente perdida. Também é necessário que haja um espaço adequado entre as barras superiores dos quadros e a tampa da colméia. Caso contrário, os quadros serão aderidos à tampa por própolis ou favo, comprometendo o manejo.
Espaços muito pequenos entre os quadros e a parede interna da caixa serão selados pelas abelhas com própolis; espaços muito grandes serão preenchidos com favo. Em ambos os casos, a remoção dos quadros ficará comprometida, impossibilitando manejo adequado.
Colméias com espaço insuficiente entre os quadros e a caixa podem ter problemas de ventilação para a colônia. Espaços pequenos que não podem ser alcançados pelas abelhas também fornecem criadouros para pragas como a traça da cera. A largura dos quadros é fundamental, e o espaço entre quadros também é importante: deve haver espaço suficiente para as abelhas construírem um favo do tamanho normal. Espaço insuficiente resulta na construção de favos com células muito rasas que não podem ser usadas para a procriação das abelhas, e têm uma capacidade reduzida de armazenar mel. Por outro lado, se houver um espaço excessivo entre os quadros, as abelhas construirão favo entre eles, impossibilitando sua remoção. Se os quadros são espaçados incorretamente e não for usada a fundação de cera, as abelhas construirão os favos onde bem entenderem. O resultado final é uma colméia “selvagem” sendo construída dentro de uma caixa de apicultura. Favos podem até mesmo ser construídos perpendicularmente ou diagonalmente às barras superiores.
É necessário que o espaço da abelha seja mentido entre as barras superiores dos quadros para permitir que as abelhas transitem livremente, entre as caixas. Para isso, os quadros muitas vezes são construídos com um beiral mais largo na parte superior das laterais, de forma a manter o espaçamento adequado quando os quadros são postos justos. Quadros assim são portanto auto-espaçantes. Boas práticas em apicultura requerem atenção para a disposição adequada dos quadros dentro da caixa antes de fechar a colméia, um detalhe fundamental mas muitas vezes negligenciado.
Quadros que não têm o beiral pode ser feitos auto-espaçantes usando-se pregos, postos de forma que mantenham um espaço de 1 cm entre os quadros. Os pregos devem ser postos em lados opostos dos quadros, permitindo que os mesmos sejam virados sem perder o auto-espaçamento. Todos os equipamentos de madeira usados em apicultura devem ser pregados firmemente, especialmente os quadros, que são muito manipulados. Quadros que se quebram na manipulação são motivo de frustração na apicultura.
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Os quadros devem ter espaçados em 35 mm de centro a centro para abelhas de raças européias, e 32 mm para as africanas. Este espaçamento é o ideal porque ele permite que as abelhas construam o favo nas dimensões corretas deixando apenas o espaço adequado para a passagem das abelhas entre os favos. Tanto os quadros como os favos devem ser reforçados com fios de aço inoxidável. Arame comum ou galvanizado não deve ser usado, pois enferrujam ou liberam zinco, que reage com o mel, mudando sua cor e sabor. Uma alternativa é fio de pesca (monofilamento de nylon). Outra idéia errônea que compromete a eficiência na apicultura é uma colméia de quadros removíveis consiste sempre de duas caixas, uma para cria e a outra para mel. A câmara de criação é a área da colméia que contém os ovos, larvas e pupas de abelhas. Para uma colônia plenamente desenvolvida, a câmara de cria deve consistir de duas caixas. Usando-se apenas uma caixa, restringe-se o crescimento da colônia, comprometendo a produtividade, e ainda dificulta-se a obtenção de caixas superiores contendo somente mel. Para uma boa apicultura, cada colônia necessita pelo menos três caixas: duas para a cria e uma para o mel. Assim, a colônia terá condições de crescer mais, e portanto poderá aproveitar melhor o fluxo de néctar para maior produção. Troque a posição das duas caixas de cria periodicamente para fornecer mais espaço para a expansão do ninho de cria. A tendência natural da colônia é expandir o ninho de cria para cima. Quando a caixa de baixo contém principalmente larvas em estágio mais avançado e pupas, e a rainha estiver realizando a postura na caixa de cima, troque as caixas de posição. Isso põe a rainha na caixa de baixo da colméia, onde ela pode novamente mover-se para cima conforme as células da caixa de cima vão-se esvaziando, com a saída das novas abelhas adultas. Assim, a rainha ao mover-se para cima está sempre entrando de novo em uma caixa de cria, e não na caixa do mel. Usando duas caixas para cria e trocando-as periodicamente de posição consegue-se a câmara superior contendo apenas mel, livre de filhotes. O uso de apenas uma caixa para o mel aumenta a necessidade de trabalho por parte do apicultor. O mel deve ser colhido várias vezes durante o período de fluxo, para que as abelhas sempre tenham espaço para produzir mais. Uma alternativa é acrescentar mais caixas para o mel, aumentando a capacidade de armazenamento da colméia. Isso reduz a necessidade de trabalho, mas aumenta o investimento em equipamento. O exclusor de rainha é uma peça de equipamento importante para algumas operações especializadas, tal como a produção de rainhas em grande número. Ele pode ser usado
também por apicultores amadores, mais preocupados com conveniência que com a produção total de mel. Porém, o exclusor de rainha não é interessante para o apicultor interessado em produção de mel, pois ele de fato reduz a produção. Exclusores de rainha são muitas vezes mal empregados, devido à desinformação. Muitos acreditam ser este o melhor modo de se obter favos contendo somente mel, sem larvas ou pupas. Porém, esse objetivo pode ser facilmente alcançado com o manejo adequado e o uso de um número adequado de caixas. Além disso, o exclusor de rainha é caro, normalmente importado, e por reduzir a produção de mel acaba sendo ainda mais desvantajoso. Muitas vezes apicultores inexperientes utilizam exclusores para manter a rainha confinada a uma única caixa, enquanto nada fazem para aliviar o problema de restrição de espaço para postura quando os favos estão preenchidos por mel. Isso não apenas restringe o crescimento da colônia como ainda pode induzir enxameamento.
Problemas com o exclusor de rainha O uso adequado de exclusores de rainha requer ótima sincronia do manejo. Eles são muitas vezes vistos como uma alternativa ao manejo, e deixados permanentemente, o que é errado. Especialmente, durante o período de escassez de recursos, o exclusor restringe o acesso das abelhas, permitindo a instalação de problemas com a traça da cera, resultando muitas vezes em grandes perdas. A falta de fundação de cera para os favos às vezes representa uma barreira ao desenvolvimento da apicultura. Pessoas envolvidas em projetos de apicultura tornam-se dependentes desse recurso, já que ele é introduzido juntamente como o restante do equipamento. Porém, trata-se apenas de uma dependência psicológica, já que a fundação pode ser produzida de forma satisfatória pelo próprio apicultor, utilizando a cera de suas próprias abelhas. O propósito principal da fundação do favo é guiar as abelhas para a construção de um favo bem centrado no quadro. A forma mais prática de se fazer essa fundação é preparar folhas de cera com aproximadamente 1 mm de espessura, cortá-las no tamanho correto e montá-las nos quadros. A confeção de folhas de cera é detalhada no apêndice ao final deste livro. Outra alternativa ao uso de fundações completas para o favo é o uso de tiras iniciais: corta-se a folha de cera em tiras de 3 cm de largura, e fixa-se essa tira a uma fenda na face inferior da barra superior, com o auxílio de cera derretida. Isso faz com que as abelhas comecem a construção do favo bem no centro da barra superior; a partir daí, elas tenderão a construir todo o favo bem centralizado, até em baixo.
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Lembre-se que o posicionamento correto dos quadros, mantendo a distância correta entre os favos, é também importante para a produção de favos bem centralizados nos quadros. A combinação de quadros corretamente dispostos e a utilização de tiras iniciais garante favos adequadamente construídos. Folhas inteiras de fundação nos quadros são um luxo, não uma necessidade para a apicultura. Uma péssima prática muitas vezes encontrada independentemente do tipo de equipamento utilizado é a alimentação em massa dos apiários com xaropes de açúcar. Trata-se de uma prática anti-natural e mesmo anti-ética: a vantagem do mel é justamente ser um produto natural, produzido por abelhas a partir de néctar e pólen das flores. Se for para alimentar as abelhas com açúcar comercial, então mais vale deixar de consumir mel e consumir açúcar de vez. A alimentação artificial de abelhas com xaropes de açúcar deve ser encarada como um recurso emergencial, apenas com o propósito de garantir a sobrevivência de colônias mais fracas frente a períodos de escassez de recursos severos e prolongados. Em qualquer projeto de desenvolvimento de apicultura, a transferência de conhecimento, ou o ensinar às pessoas a utilização de equipamentos e práticas de manejo, é o aspecto mais difícil. Paciência e um senso de humor são condições importantes para o sucesso de tais projetos. Os produtos da colméia O produto mais conhecido da colméia é sem dúvida o mel, largamente utilizado como alimento e remédio. Cera de abelhas é outro produto de grande importância, embora nem seus usos nem seu real valor sejam devidamente conhecidos pelas pessoas, em comparação ao mel. Mel e cera são produtos gerados em qualquer projeto de apicultura, e sua produção e comercialização são livres de maiores problemas para a maioria dos pequenos produtores. Outros produtos da colméia são o pólen, geléia real, própolis, veneno de abelhas, filhotes e abelhas (rainhas e colônias). Todos esses produtos, porém, exigem práticas especializadas de manejo e equipamentos ou mercados altamente especializados. Sua produção e comercialização normalmente não estão ao alcance do apicultor iniciante. O mel é o produto primário da colméia. Ele é basicamente néctar, enzimaticamente modificado e evaporado pelas abelhas. No processo de produção do mel, as enzimas das abelhas quebram açúcares complexos em moléculas mais simples. As propriedades do mel dependem das flores que serviram como fonte de néctar para a sua produção. Portanto, méis de diferentes regiões e de diferentes períodos ao longo do fluxo de néctar terão gostos e propriedades físicas diferentes. Geralmente, méis mais escuros têm gosto mais forte.
Nutricionalmente, o mel é praticamente puro carboidrato, contendo apenas traços de outras substâncias, e seu uso principal é como um adoçante natural, embora também tenha usos medicinais (xarope para tosse, tratamento de feridas por suas ações bacteriostáticas, preparação de bebidas alcoólicas, etc.). O mel é um produto largamente conhecido e utilizado. O aspecto mais importante de sua comercialização é garantir sua qualidade, o que depende diretamente dos cuidados no seu processamento. Ausência de material estranho é o principal critério da qualidade do mel. Pedaços de cera ou própolis, pólen, larvas, abelhas mortas, cinzas e sujidades em geral podem contaminar o mel durante sua extração ou processamento. Porém, o principal contaminante do mel é açúcar, introduzido intencionalmente por apicultores desonestos, prática fraudulenta proibida por leis sanitárias e de proteção ao consumidor. Bons apicultores, que se preocupam em oferecer um mel de qualidade e livre de contaminações, serão recompensados por um mercado fiel para seu produto. Todo mel contém um pouco de pólen. Um excesso de pólen no mel representa na verdade mais um problema estético, podendo contribuir para uma aparência turva e talvez um gosto mais forte. Mel extraído por prensagem geralmente tem um teor de pólen mais alto que mel extraído por centrifugação. O teor de água também é um fator importante na qualidade do mel. Todo mel contém pequenas quantidades de leveduras. Para prevenir o crescimento dessas leveduras naturais com a resultante fermentação do mel, o teor de água do mel não deve ultrapassar os 19%. Mel com teor de umidade inferior a 19% é chamado maduro, enquanto mel com teor de água acima disso é chamado de mel verde; méis verdes são sujeitos à fermentação. As leveduras não podem crescer em méis maduros devido à grande força osmótica gerada pela concentração dos açúcares. Uma vez que as abelhas terminam de evaporar o mel, elas selam as células contendo o mel maduro com cera. Deve-se colher apenas favos de mel contendo a maioria das células tampadas, pois isso assegura que o mel está maduro e será auto-preservante. Mel maduro, colhido e embalado de forma higiênica e mantido em locais frescos mantém-se conservado por longos períodos, sem necessidade de refrigeração. Mel extraído por prensagem é o tipo mais comumente produzido em projetos de pequena escala. Para minimizar o teor de pólen no mel, verifique a quantidade de pólen no favo antes da prensagem (o pólen pode ser visto ao se inspecionar o favo contra a luz). Áreas de favo que contém grandes quantidades de pólen podem ser cortadas e extraídas separadamente para consumo doméstico ou local. Não se esqueça que o pólen é um alimento muito nutritivo e saudável, com alto teor protéico. Imediatamente após a extração, o mel deve ser envasado. Mel é higroscópico, ou seja, ele absorve a umidade do ar. Se exposto a ambientes úmidos, o teor de umidade do mel aumentará, possivelmente permitindo que o mel fermente, estragando-se. Larvas e abelhas mortas também aumentam o
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teor de umidade no mel, além de representarem uma contaminação esteticamente desagradável.
Mel fermentado contém bolhas e espuma Mel cristaliza. A cristalização é um fenômeno natural que ocorre com todos os méis, embora o tempo necessário varie com diversos fatores. Um engano comum entre as pessoas é achar que a cristalização do mel é indício de adulteração com xarope de açúcar. De fato, tanto o mel puro como o adulterado cristalizam
Mel pode ser vendido em garrafas ou no favo.
Vender mel no favo é uma forma de garantir ao consumidor um produto de qualidade. O mel é selado dentro da colméia, pelas próprias abelhas, portanto o comprador pode estar seguro que não houve adulteração. Mel no favo tem normalmente ótima aceitação, podendo facilmente se tornar uma tendência de merdado.
Mel cristalizado não é mel estragado. Ele pode ser consumido normalmente em seu estado cristalizado (apreciado por muitas pessoas), ou liquefeito novamente por aquecimento em banho-maria. A questão da qualidade é freqüentemente negligenciada pelos apicultores, o que compromente enormemente seu sucesso. Faça da qualidade um hábito desde o princípio, já que maus hábitos e vícios são difíceis de mudar depois. A qualidade não custa quase nada, e sempre haverá um mercado aberto a produtos de qualidade. Cera de abelhas é um produto apícola cujo valor é totalmente ignorado em algumas áreas, enquanto em outras ela possa ser considerada até mais valiosa que o mel. Cera de abelhas pura é mais dura e tem um ponto de derretimento mais alto (64 oC) que a maioria das ceras. Essas propriedades fazem da cera de abelhas um produto especialmente apropriado para certas aplicações. A cera de abelhas é usada industrialmente ou artesanalmente na produção de cosméticos, produtos farmacêuticos, ceras de
polimento e impermeabilização, e velas. Procure fazer contato com pessoas envolvidas nessas atividades na área, e você pode descobrir (ou mesmo criar) um mercado direto para seu produto. Todos os pedaços e rebarbas de favos, bem como favos velhos, devem ser fundidos para o aproveitamento da cera. Para mercados mais exigentes ou especializados, deve-se separar favos novos dos velhos e fundí-los separadamente, pois a cera dos favos novos é de melhor qualidade. Não se deve armazenar favos por muito tempo, pois isso oferece oportunidade para a criação de traças da cera, que pode depois alastrar-se para as colméias. Portanto, favos e rebarbas de cera devem ser fundidos tão rápido quanto possível, para que a cera seja armazenada de forma adequada, ou seja na forma de blocos de cera pura, que não possibilitam o desenvolvimento de traças. Cera de abelhas normamente é derretida em água, já que cera e água não se misturam, e a cera flutua na água, endurecendo na superfície. Este método é muito prático, mas alguns pontos devem ser observados:
Nunca
use panelas ou latas de ferro, zinco, latão ou cobre para derreter a cera, pois esses materiais reagem com a cera alterando suas propriedades (principalmente a cor). Use panelas de alumínio, esmaltadas, ou de aço inoxidável.
Não permita que a mistura de cera com água ferva vigorosamente: além do risco de combustão (a cera é combustível), fervura também reduz a qualidade da cera, tornando-a quebradiça.
Blocos
de cera podem ser armazenados em locais secos e frescos por longos períodos. Eles devem, porém, ser embalados em papel ou plástico, para proteger contra a poeira.
Nunca
armazene cera de abelhas próximo a pesticidas. Cera absorve muitos produtos químicos, e eles podem matar as abelhas se a cera for usada para fazer fundação de favos
Derretendo a cera
1) Ponha os favos e raspas de cera em uma panela ou lata contendo água.
2) Aqueça a água até que a cera derreta. Evite a fervura, pois isso faz com que a cera torne-se quebradiça.
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3) Após o derretimento, transfira a mistura de água e cera para outro recipiente, passando por uma peneira.
4) Deixe a mistura descansar até que esfrie completamente. A cera, menos densa que a água, ficará na superfície onde endurecerá, formando um bloco. 5) Remova o bloco de cera e limpe-o, raspando os resíduos da sua parte inferior.
O pólen só passou a ser visto como um produto da colméia para consumo humano recentemente. Antes disso, porém, pólen era coletado por apicultores em períodos de grande fluxo de pólen e armazenado para alimentar as abelhas no início do período de crescimento da colônia. O interesse em pólen como alimento para humanos é normalmente encontrado apenas em grandes centros urbanos onde há um mercado especializado para alimentos naturais. Nutricionalmente, o pólen é uma fonte rica de proteínas, vitaminas e minerais, embora do ponto de vista de economia de produção não possa competir com outras fontes desses nutrientes. Muitas alegações de efeitos medicinais foram feitas a respeito do pólen, mas estas não foram comprovadas, e além disso algumas pessoas desenvolveram alergias ao pólen após usá-lo como alimento. Pólen é coletado pela instalação de coletores de pólen, que consistem de uma malha contendo cinco furos por polegada. Os pelotes de pólen são derrubados das pernas das abelhas forrageadoras, quando essas passam pela malha ao retornar à colméia, sendo coletados em uma gaveta, a qual é coberta por uma malha mais fina que impede a passagem das abelhas, impedindo-as de recuperar o pólen. Há muitos modelos de coletores de pólen. Coleta de pólen não é recomendada para apicultores iniciantes, ou para a maioria dos empreendimentos de apicultura em pequena escala. A colônia precisa de pólen para criar os seus filhotes, portanto apenas pequenas quantidades podem ser colhidas, ou a colônia ficará fraca. Isso significa que a colônia deve ser monitorada de perto. A coleta de pólen é mais eficiente em áreas onde há fluxos de pólen particularmente intensos. Porém, na maioria das áreas isso é inviável. Pólen também é muito perecível, estragando-se facilmente. Portanto, o pólen coletado deve ser removido diariamente, e rapidamente desidratado ou congelado. Exposição solar direta e calor excessivo reduzem o valor nutricional e a qualidade do pólen, portanto instalações adequadas devem ser providenciadas para se trabalhar com esse produto.
Os problemas envolvidos na coleta e processamento do pólen, associados com seu mercado limitado, fazem dele um produto inviável para a maioria dos apicultores, especialmente os de pequena escala. Filhotes de abelhas, ou seja larvas e pupas, têm potencial para uso local, podendo ser usados como alimento humano (em áreas onde insetos são aceitos com alimento) ou animal. Apenas filhotes de zangões devem ser utilizados, já que os de operárias devem ser mantidos para a renovação contínua da colônia. Corte as áreas do favo contendo os filhotes, e remova-os sacudindo o favo, ou espetando-os com uma pinça ou palito. Após a remoção das larvas, o favo pode ser derretido para aproveitamento da cera. Favos contendo filhotes podem também ser dados diretamente às galinhas: elas comerão todas as larvas e pupas, mas a cera será perdida. Como alimento humano, os filhotes de abelhas podem ser consumidos crus, secos ou fritos, soltos ou em espetos. Pólen, geléia real, própolis, veneno de abelha e abelhas (rainhas e colônias) são produtos apícolas que requerem experiência em apicultura e habilidades especializadas para sua produção e comercialização. Esses produtos geralmente não estão ao alcance de apicultores iniciantes ou produtores em pequena escala. Doenças, Pestes e Inseticidas Doenças são problemas mais comuns em apicultura intensiva e de larga escala, onde grandes números de colônias são mantidas em áreas pequenas. O conceito que doenças são causadas por agentes microscópicos não é facilmente aceito por muitas pessoas, especialmente as mais simples e de baixa escolaridade, que compõem grande parte dos apicultores em muitas regiões. Às vezes é difícil convencer apicultores nessas comunidades da necessidades de medidas efetivas para o controle de doenças, e isso fica ainda mais difícil quando tais medidas envolvem a destruição de colônias. Felizmente, muitas áreas são livres de alguns dos principais agentes patogênicos e pestes que afetam a apicultura. Esta é uma grande razão por que deve-se evitar a importação de abelhas. Em áreas onde a apicultura já está estabelecida, é interessante buscar informação com apicultores locais sobre as doenças presentes na área, e as medidas de controle utilizadas. Principais doenças das abelhas Doença Larva pútrida americana Larva pútrida européia Cria giz
Cria ensacada
Agente causador bactéria (Paenibacillus larvae) bactéria (Melissococcu s pluton) fungo (Ascosphaera apis) vírus (sac brood virus)
Estágio Principais sintomas afetado larvas e larvas mortas nas células, pupas com consistência viscosa; opérculos furados. larvas larvas mortas em alvéolos jovens abertos, cheiro pútrido, larvas pastosas; favos falhados larvas larvas mortas formam de céls. múmias esbranquiçadas, abertas semelhantes a giz. larvas células abertas ou com opérculos furados, crias mortas, mas sem cheiro pútrido.
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Paralisia
desconhecido (vírus)
adultas
abdomen inchado, tremores, lentidão, dificuldade de vôo, fezes amareladas, acúmulo de abelhas mortas na frente da colméia. Varroose ácaro larvas, presença de ácaros em (Varroa sp.) pupas e larvas e pupas; adultos adultos deformados. Acariose ácaro larvas e afeta traquéia, causando (Acarapis adultas asfixia; abelhas não woodi) conseguem voar, arrastando-se pelo chão. Nosemose protozoário adultas diarréia, acúmulo de fezes (Nosema apis) no fundo da colméia. Lesões no intestino. Amebíase protozoário adultas disenteria (Valkamfia mellificae) Septicemia bactérias adultas morte por infecção (diversas) generalizada
As doenças que causam mais problemas à apicultura são aquelas que afetam as crias, pois podem enfraquecer uma colônia rapidamente. Larva pútrida americana e européia são as doenças mais sérias das abelhas, ambas tendo distribuição mundial (os nomes não tem nada a ver com a distribuição geográfica das doenças, e sim onde foram primeiro reconhecidas). Ambas são causadas por bactérias. As bactérias matam as crias em desenvolvimento, fazendo com que apodreçam dentro dos alvéolos. A massa em decomposição dá aos favos acometidos um odor de putrefação característico, daí o nome das doenças.
Um favo doente apresenta um padrão com manchas (“tiro de cartucheira”) Essas doenças resultam em um padrão de distribuição irregular das crias no favo, às vezes descrito como “tiro de cartucheira”. Parece haver muitas células vazias espalhadas pelo ninho de cria. Uma rainha fraca ou escassez de recursos alimentares também podem gerar um padrão de manchas, mas nesse caso os alvéolos estão realmente vazios. Num favo acometido por larva pútrida, os alvéolos “vazios” na verdade geralmente contém os restos de larvas em decomposição. As abelhas adultas não conseguem remover esses restos até que eles estejam secos. A idade das larvas mortas é o principal critério que permite a distinção entre a larva pútrida americana e a européia. Larva pútrida americana afeta larvas mais velhas e pupas, portanto a morte ocorre após o fechamento do alvéolo. Com a morte do filhote, o opérculo afunda-se visivelmente. As operárias muitas vezes fazem um furo no opérculo, também característico da doença.
Larva pútrida americana: opérculos perfurados
Larva pútrida européia: larvas retorcidas no alvéolo
Larva pútrida européia causa a morte das larvas antes que os alvéolos sejam selados, portanto as larvas doentes e mortas podem ser vistas diretamente. Larvas mortas por larva pútrida européia têm coloração esbranquiçada a marrom, e ficam retorcidas dentro da célula aberta. Outra diferença entre as duas doenças é a consistência da massa em decomposição: na larva pútrida americana, as larvas mortas são geralmente pegajosas e tendem a aderir a palitos introduzidos nos alvéolos. As bactérias causadoras dessas doenças são muitas vezes disseminadas pelo próprio apicultor. Tome cuidado para não introduzir favos doentes em uma colônia durante o manejo, e nunca combine uma colônia doente com uma sadia. Ferramentas contaminadas também podem espalhar doenças entre colônias. Ferramentas utilizadas em colônias doentes devem ser lavadas e esterilizadas por fervura, fogo ou desinfetantes antes de uso em colônias sadias. Enquanto houver uma colônia doente, é preferível manter um conjunto de ferramentas dedicado ao uso exclusivamente nessa colônia. Uma das formas mais comuns de transmissão de doenças entre colônias é através da prática do roubo de mel: uma colônia fraca tende a ficar vulnerável a roubo por parte de colônias mais fortes. Assim, as abelhas da colônia forte se contaminam e levam a doença de volta para casa, infectando a colônia forte. Portanto, é importante reconhecer colônias doentes e tratá-las adequadamente, antes que elas se tornem tão fracas a ponto de se tornarem alvo de roubo por outras abelhas. . Fome crônica ou aguda pode muitas vezes ser confundida com doenças. Abelhas de uma colônia faminta podem abrir algumas células e comer algumas crias, e jogar outras para fora da colméia. As operárias podem parecer agitadas, e às vezes agressivas. Essa situação pode ser confirmada pela ausência de reservas de mel e pólen na colméia As duas outras doenças das crias, a cria giz e cria ensacada, são geralmente menos sérias e mais fáceis de controlar. Ambas são doenças induzidas por estresse. É importante saber reconhecê-las e não confundí-las com larva pútrida americana ou européia, que são doenças muito mais sérias. Cria giz é uma doença fúngica com aspecto bastante distinto das outras doenças das crias. Larvas infectadas morrem e incham-se devido ao crescimento dos micélios do fungo causador, preenchendo o alvéolo. Nesse estágio, a larva apresenta-se como uma massa mole e com um cheiro de fermento. Mais tarde, a massa resseca-se transformando-se em
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uma múmia esbranquiçada que se parece com um pedaço de giz, daí o nome da doença. Às vezes, a múmia pode ser coberta com filamentos do fungo, semelhantes a um mofo escuro. Cria giz é geralmente mais comum ao redor das margens do ninho de cria, onde as larvas são mais susceptíveis ao resfriamento. Condições frias e úmidas favorecem o desenvolvimento dessa doença, e ela geralmente pode ser evitada ou resolvida melhorando-se a ventilação da colméia. Cria ensacada é causada por um vírus, sendo normalmente encontrada apenas ao redor das margens do ninho de cria. Normalmente, é causada pelo resfriamento do ninho, devido à falta de operárias suficientes para cobrir toda a área de cria. Cria ensacada é mais provável de ser confundida com larva pútrida do que a cria giz. Porém, a ausência de odor de putrefação é um fator importante na distinção entre larva pútrida e cria ensacada. Além disso, na cria ensacada as larvas permanecem intactas, já que o vírus não ataca a pele, enquanto na larva pútrida a cria se transforma em uma massa de material em decomposição. Doenças que afetam abelhas adultas são menos dramáticas e muitas vezes menos perceptíveis ao apicultor que as doenças das crias. Doenças de abelhas adultas tendem a ser mais crônicas, reduzindo a vida das abelhas afetadas. Como as abelhas normalmente morrem longe da colônia, a presença das doenças é menos nítida ao apicultor. Varroose é causada por um ácaro que ataca tanto as crias como abelhas adultas. Trata-se de um parasita externo que se alimenta de hemolinfa (o “sangue” da abelha). Larvas afetadas morrem ou transformam-se em adultos deformados. Adultos infestados são enfraquecidos e morrem precocemente. Há outros ácaros de abelhas ou colméias, mas geralmente causam poucos danos. Tratamentos contra ácaros geralmente não são viáveis para pequenos apicultores. Felizmente, muitas áreas são livres desse problema. Nosemose é uma doença intestinal de abelhas adultas, causada por um protozoário. As abelhas ficam desorientadas e tem sua habilidade de vôo prejudicada. Em casos severos, muitas abelhas com asas “deslocadas” podem ser vistas rastejando em frente à colméia. Este é um sintoma geral da maioria das doenças de abelhas adultas. Nosemose também causa disenteria em alguns casos. Você pode ver manchas de fezes ao redor da entrada da colméia e, em casos severos, também dentro da colméia. Transmissão da doença se dá através de fezes contaminadas. Bebedouros artificiais podem favorecer a transmissão, mas isso pode ser prevenido pela instalação de uma cobertura adequada que previna sua contaminação por fezes de abelhas. Disenteria pode ser causada também por amebíase, ou intoxicações por algumas plantas que são tóxicas às abelhas. Quando fontes de néctar e pólen mais adequadas estão indisponíveis, as abelhas acabam utilizando plantas que são tóxicas para sua alimentação. Ácaros podem enfraquecer a colônia, tornando-a mais susceptível a outras doenças e pestes. Acariose é uma doença que afeta o sistema respiratório das abelhas. Os sintomas nas abelhas adultas são semelhantes à nosemose, exceto que não há diarréia.
Pestes são geralmente mais fáceis de se lidar em apicultura. Elas podem ser vistas, seus efeitos são imediatos, e a solução para o problema é geralmente óbvia para o apicultor. A traça da cera é de longe a pior peste para a apicultura. Outros animais que podem atacar as abelhas ou colméias incluem bezouros, passarinhos, formigas, moscas, lagartos, sapos, camundongos e alguns mamíferos insetívoros. Geralmente, o dano causado por esses animais é mínimo, e restringe-se a colméias enfraquecidas como resultado de mau manejo. O controle dessas “pestes” baseia-se portanto na correção do manejo de forma a fortalecer as colônias, e na prevenção física de seu acesso à colméia, por exemplo instalando as colméias sobre suportes elevados (afastadas do chão e, portanto, de sapos), mantendo a vegetação baixa ao redor das colméias (prevenindo o acesso de formigas), etc. Inseticidas de uso agrícola ou doméstico também afetam as abelhas. O grau de severidade desse problema varia consideravelmente. O uso indiscriminado de inseticidas na agricultura pode impossibilitar totalmente a apicultura em algumas áreas. Envenenamento por inseticidas afeta principalmente as operárias forrageadoras. Muitas são mortas a campo, mas algumas ainda conseguem retornar à colméia antes de darem seu último suspiro. Aparecimento repentino de grandes números de abelhas mortas ao redor de colméias é um motivo para se suspeitar de envenenamento por agrotóxicos. Fungicidas e herbicidas em geral são relativamente bem tolerados pelas abelhas. Porém, sua aplicação ainda pode causar a contaminação do mel. Em anos recentes, tem-se observado um grande aumento na consciência do potencial da apicultura como uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável, resultado de esforços concentrados em projetos de pequena escala A apicultura se encaixa perfeitamente nessa abordagem para o desenvolvimento local. Seu potencial é excelente. Este manual tem a intenção de contribuir para a disseminação dessa idéia.
Escrito por Curtis Gentry – Ilustrado por Stacey Leslie
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ANEXO Modelos de Colméias (Obs.: todas as medidas em centímetros)
2) Faça uma fenda no centro da barra superior, e use-a para instalar uma tira de cera de 1 mm de espessura, previamente cortada com 3 cm de largura. Fixe a tira usando cera derretida ou amolecida.
barra superior com guia inicial (vista lateral) Colméia de quadros removíveis (para 10 quadros) (Dimensões em cm, usando madeira com 2 cm de espessura)
Colméia de favos removíveis, tipo queniano (KTBH) Dimensões em cm, usando madeira com 2cm espessura
Obs.: não pinte dentro da colméia.
Quadro para colméia de quadros removíveis (para caixa tamanho padrão)
Guia inicial para barras superiores Uma tira de cera deve ser instalada no centro da face inferior da barra superior, para auxiliar as abelhas a construírem o favo centrado na barra. Apresentaremos duas formas de se fazer a guia: 1) Usando cera derretida ou amolecida, faça uma linha central na face inferior da barra superior. Obs.: a altura total do quadro é de 23,5 cm para caixas padrão, e 15,9 cm para caixas rasas.
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Colméia de observação (dimensões em cm, usando madeira com 2cm espessura)
Projetos de Equipamentos Extrator de mel (centrífuga)
O corpo da colméia pode ser coberto com uma tampa das mesmas dimensões do fundo, ou várias caixas podem ser empilhadas. Lembre-se de deixar o espaço da abelha ao redor do quadro.
Afunde o arame na fundação do favo pressionando-o com auxílio de uma moeda.
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Detalhes da cesta interna
Véu
Fumigador
Fazendo a fundação de cera (ou tiras iniciais)
Faça uma mistura de água da chuva, detergente, mel e álcool. (água da chuva deve ser usada, pois caso contrário os minerais presentes na água farão com que a cera grude na tábua.)
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Rale e derreta a cera de abelhas. Deixe esfriar até tornar-se semi-sólida. Adicione os demais ingredientes e misture. Armazene em um pote tampado hermeticamente.
1) Use uma tábua aparelhada 2) Molhe a tábua com a de madeira dura. mistura acima
4) Quando a cera endurecer, 3) Mergulhe a tábua tire-a cuidadosamente da tábua molhada em uma lata de cera e corte no tamanho do quadro, derretida. ou em tiras de 2 a 3 cm.
Ungüento para queimaduras 18 g de cera de abelhas 40 g de parafina 10 g de extrato de aloe vera em pó 30 ml de água 1 g de bórax (disponível em farmácias) Rale e derreta a cera de abelhas juntamente com a parafina. Tire do fogo e adicione os demais ingredientes, misturando. Creme frio de cera de abelhas 100 g de cera de abelhas 200 ml de água 300 ml de óleo mineral (de farmácia) 6 g de bórax essência aromática (se desejado) Aqueça a cera e o óleo mineral a 70 oC, mexendo até que a cera derreta completamente. Adicione o bórax à água e aqueça também a 70 oC. Adicione a mistura de água com bórax à mistura de cera e óleo mineral, mexendo vigorosamente, até obter uma emulsão homogênea. Deixe a mistura esfriar até aproximadamente 60 oC, e adicione a essência aromática, mexendo bem. Transfira o creme ainda quente para potes com tampa, e tampe apenas após o resfriamento total. Como fazer um enxame artificial
Observação: derreta a cera em banho maria. Cera é inflamável, e aquecê-la em demasiado pode fazer com que se torne quebradiça.
Usos da cera de abelhas Na costura Puxe a linha de costura através de pequenos blocos de cera. A cera deixa a linha firme e lisa, e isso é especialmente útil para costurar couros e materiais grossos. Ungüento para tratamento de rachaduras em cascos Uma mistura de cera de abelhas e mel em partes iguais é um bom remédio para rachaduras em cascos de animais. Lave as rachaduras com água e sabão e seque bem antes da aplicação do ungüento. Cera para polimento de móveis 200 g de cera de abelhas 100 g de terebentina 50 g de óleo de laranja, limão ou côco. Rale a cera de abelhas com um ralador. Adicione gradualmente a terebentina para amolecer a cera. Adicione o óleo e misture. Armazene em um pote hermeticamente fechado. Impermeabilizador para couros 750 g de cera de abelhas 45 g de piche 60 g de óleo de óleo de amendoim 40 g de sulfato de ferro 15 g de essência de tomilho
Tábua de enxame 1) Faça uma “tábua de enxame”.
2) Encontre a rainha em uma colméia e aprisione-a em uma gaiolinha ou caixinha de fósforo. Prenda a rainha na malha da tábua de enxame.
3) Remova os favos da colméia e chacoalhe ou varra todas as abelhas que vierem com o favo de volta para dentro da colméia. Ponha os favos em uma caixa vazia tampada.
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4) Posicione a táboa de enxame contendo a rainha sobre as operárias soltas. Em poucos minutos, as abelhas se agruparão ao redor da rainha. 6) Para alojar o enxame, chacoalhe a táboa de enxame derrubando as abelhas sobre um pano ou jornal em frente à caixa onde você colocou o favo. Solte a rainha dentro da colméia.
5) Então você pode pendurar o enxame para observá-lo.
Anatomia da Abelha
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