Revista Manoel Bernardes

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R E v I S T A

#03

ano 1 / 2011

A imensidão branca do maior deserto de sal do planeta

Ronaldo Fraga A jornada de um criador pelo Rio São Francisco

Relógios Omega Speedmaster e as missões espaciais

Ayrton

sENNA

A trajetória de um ídolo

VENDA PROIBIDA / DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Salar de Uyuni



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EDIÇÃO LIMITADA 2011 Faça parte da história da corrida com um robusto relógio de aço inoxidável 316L, cristal de safira resistente à riscos, cronógrafo a quartzo e resistente à água até 10 bares (100m/330ft).

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editoriAl

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

C

hegamos à nossa terceira edição munidos da vontade de inovar. Mas não se preocupe: a essência Manoel Bernardes continua impressa a cada página. O que mudou pode até não ser percebido de imediado por você, caro leitor. Fato é que,

partir de agora, nossa revista será temática, com uma espécie de fio condutor que permeia cada nota, matéria e editorial. Para a edição que inaugura o novo formato, escolhemos como tema a jornada. Nada mais justo então que relembrar a incrível trajetória de Ayrton Senna, ídolo brasileiro vitorioso nas pistas, adorado por multidões e responsável por beneficiar milhões de crianças e adolescentes. Além do piloto, trazemos as histórias de mais pessoas interessantes, como as viagens do estilista Ronaldo Fraga pelo Rio São Francisco e do navegador Amyr Klink mar afora. Continuamos acreditando que nenhum bem é tão precioso quanto o tempo. Por isso, sugerimos excelentes maneiras de aproveitá-lo melhor. Entregue-se a uma expedição pelas paisagens surreais do Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do planeta. Outra opção é passear sobre duas rodas pelo Vietnã, com seu povo e cultura únicos. E, se a ideia for dar um mergulho para dentro de si, considere organizar uma viagem tendo você mesmo como companhia. Além de tudo isso, não nos esquecemos de indicar o que há de mais prazeroso para se fazer: conhecer novos lugares, devorar livros interessantes, aprender algo diferente, apreciar um bom prato, bebida ou música. Esperamos que goste do rumo de nossas páginas. Boa leitura!

Manoel Bernardes


Elegance is an attitude

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Kate Winslet


eXpedieNte

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

Diretor-Presidente Coordenação Varejo Atendimento SAC

Fotógrafo Assistente de Fotografia Modelo Styling Assistente de Styling Beauty Making Of Concepção

Presidente Diretor Executivo Projetos Especiais Marketing Comercial

Manoel Bernardes Manoel Bernardes Paulo Bernardes Zagaia Comunicação (31) 4501-3606 / sac@mbernardes.com.br www.manoelbernardes.com.br Editoriais Fotográficos “A Jornada” e “Bohemian Spirit” Paulo Laborne Pedro Nicoli Renata Johnson (J Model Management) Juliano Sá Camila Zamboni Cássia Perocco Paulo Raic Zagaia Comunicação

Megamidia Celso Hey Eduardo Jaime Martins Luiz Henrique Rui Fernanda Fadel Hey

Megamidia Editora Coordenação Geral Rafaela Mercaldo / rafaela.mercaldo@megamidia.com.br Coordenação da Revista Manoel Bernardes Thais Marques / DRT-PR 7698 Redação Ciro Campos, Juliana Fernandes, Mariana Pivatto, Manuela Salazar, Priciane Crocetti, Rodolfo Colnaghi, Taysa Dias, Thais Marques e Thais Vaurof Editor de Arte Eduardo Neves Designers Camile Semes, Eduardo Neves, Flávio Carvalho, Jonny Santos, Laís Pancote e Sacha Bezrutchka Arte-Final Anderson Antonio de Oliveira Revisão Mônica Ludvich e Felipe Martynetz Executivo de Contas Jaqueline Cancela / jaqueline@megamidia.com.br Colaboradores Iasa Monique, Renata Ortega, Mariana de Almeida Cassou e Fernanda de Almeida Cassou Publicidade Foto Capa Revista Digital Financeiro Tiragem

Fred Izak – Fred.iZak Mix Media / fred@fredizak.com.br Corbis/Latinstock Flavio Serpa Bárbara Ribeiro e Alissiane Liceski 15.000 exemplares Distribuição dirigida Venda proibida

Projeto Editado por Megamidia Dúvidas e Sugestões (41) 2106-8528 / revista@megamidia.com.br Rua Brigadeiro Franco, 3991 - Rebouças - Curitiba - PR CEP 80220-100 - Fone: (41) 2106-8500 megamidia.com.br


Ref.: HAR5948


Índice e

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Tempo Precioso Entregue-se a um delicioso passeio por páginas repletas de lugares fantásticos e indicações para guardar na memória

14 For Both

Tudo para a jornada deles e delas

16 For Him

Artigos masculinos cheios de personalidade

18 For Her

Itens que acompanham a mulher moderna

20 Perfil

Ayrton Senna: a trajetória de um ídolo

manoelbernardes.com.br

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20 26

26 História

Grand Hotel et de Milan, o escolhido por Dom Pedro II

30 Joias A jornada de uma joia, do garimpo ao adorno

BLUSA Mabel Magalhães CINTO Folie PANTALONA Victor Dzenk COLAR E BRINCO Manoel Bernardes Linha Olena ANEL E PULSEIRAS Manoel Bernardes Sob encomenda

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s


40 Sabores

80 Ronaldo Fraga

64 Moda

84 Arte e Cultura

74 Movimento

88 It Tips

76 Relógios

96 Vitrine MB

O estilista no rumo do Rio São Francisco

Trufas, o tesouro dos caçadores gourmet

Bohemian Spirit: roupas e joias para sentir-se livre

As viagens do navegadoor Amyr Klink

A vida de Isabella Gardner em um museu único

Dicas preciosas para sua próxima viagem

Destaque para a coleção Fancy Cut, exclusiva Manoel Bernardes, inspirada nos traços art déco

Omega Speedmaster e as missões espaciais

VESTIDO Renata Campos JOIAS Manoel Bernardes Linha Signa 11

76

64

97 Endereços

Encontre os sites de tudo o que você viu nesta edição

CONCEPÇÃO Zagaia Comunicação STYLIST Juliano Sá ASSISTENTE Camila Zamboni ASSISTENTE FOTOGRAFIA Pedro Nicoli MAKING OF Paulo Raic BEAUTY Cássia Perocco MODELO Renata Johnson (J Model Management)

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for both •

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

CLICK sardinha de 22 mm feita de plástico, dois modos de foco, opção para longa exposição e flash. O equipamento é instintivo e fácil de usar. O resultado são fotos com cara de antigas, muitos efeitos flare, desfoques e saturação intensa, bem do jeito que os apaixonados por Lomo veneram. São quatro opções: El Capitán, Fischers Fritze, Sea Pride e Marathon. lomography.com.br

Rolo dIgItaL

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Nada de 24 ou 36 exposições com este filme – aqui, cabem milhares de imagens. Aproveitando rolos já utilizados, a loja online Photojojo criou um dos pendrives mais curiosos dos últimos tempos. O upcycling é notável: de objetos esquecidos no tempo pela invasão das câmeras digitais, os rolos de filme se transformaram em

Memórias

O sonho de todo aficionado por livros, moda, arte, design e arquitetura: um baú recheado de títulos ilustrados com a jornada das mais diversas personalidades e estilos. A parceria entre a editora Assouline e a histórica malleterie francesa Goyard, especializada em bagagem desde 1853, atende a esse público com louvor. Feito sob medida, manoelbernardes.com.br

NO BAÚ

o baú, estampado com o famoso monograma em forma de Y, comporta 100 exemplares da coleção Memoires da editora, com fotobiografias de personalidades artísticas e table books sobre grifes e estéticas prestigiadas. Para citar alguns, há Marc Jacobs, Balenciaga, Diane Von Furstenberg, Dior e Lanvin. assouline.com

arquivos para 4 GB de informação (ou, aproximadamente, mil imagens). A matéria-prima é recolhida em laboratórios de revelação, por isso, a marca e o tipo do filme são sortidos. Quem sabe você não acaba com um pendrive feito em um precioso e histórico Kodachrome? photojojo.com

Fotos: Divulgação / Annie Leibovitz para Louis Vuitton

A liberdade de uma máquina fotográfica point and shoot em uma lata de sardinha? As novas câmeras Lomography ostentam essa humilde forma, sem perder todo o charme característico das analógicas plásticas da marca. Fotografar sua vida com a La Sardina é pura diversão. Relembre os bons tempos em que seus cliques eram mistério com filme 35 mm, lente grande-angular


Les valises

MODERNEs

Nem só de divertidos baús exclusivos vive a Pinel&Pinel, empresa jovem no mundo do luxo francês, criada em 1988 pelo ex-publicitário Fred Pinel, que abriu neste ano sua primeira flagship store na Rue Royale, em Paris. As malas da marca têm forte apelo clássico pelo formato vintage, ao estilo dos viajantes de outros tempos,

e um ar contemporâneo pela variedade de cores disponíveis (são 50!). A matéria-prima dos produtos é carbono revestido em couro, resistente o suficiente para sobreviver a muitas viagens, sem perder o charme. São quatro os tamanhos disponíveis: 40, 50, 60 e 70 cm. pineletpinel.com

Jornada

que transforma

Há anos, a Louis Vuitton promove a campanha journeys, em que célebres artistas inspiram a próxima geração de aventureiros. A última clicada pela fotógrafa Annie Leibovitz foi Angelina Jolie, no Camboja, lugar com o qual a atriz criou vínculos fortes desde a primeira vez em que pisou em suas terras, no ano 2000. Após muitas viagens para lá como comissária da ONU, Angelina adotou seu primeiro filho, Madoxx. Posteriormente, criou uma fundação

que leva o nome dele e, em 2005, recebeu o título de cidadã por seus serviços humanitários no país. “Uma viagem pode mudar o curso de uma vida”, diz a campanha, que traz a atriz em uma bucólica paisagem, ladeada por uma de suas bolsas favoritas da marca, uma vintage Alto. Entre os artistas que já participaram da campanha, estão Francis Ford e Sofia Coppola, Sean Connery, Bono Vox e Keith Richards. louisvuittonjourneys.com

Mapa

da mina

Este mapa da Urban Outfitters é perfeito para os eternos viajantes, que começam contando nas mãos os países que conheceram, até que não há mais dedos nem nos pés para somá-los! A cada nova descoberta, pode-se raspar a camada superior dourada do Scratch-Off

World Map, revelando diferentes cores em cada continente. Um verdadeiro quebra-cabeça das valiosas memórias de aventuras pelos mais diferentes lugares e uma eterna lembrança de que ainda há muito a se conhecer. urbanoutfitters.com


for him •

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

ESTIlo NA

cabeça

Os capacetes de fibra de carbono da marca francesa Les Ateliers Ruby misturam tradição, arte, design e criatividade. Quem não dispensa a motocicleta pode ficar mais estiloso com um desses. A espinha dorsal da linha é o modelo Pavillion, com frente aberta, inspirada nos cavaleiros medievais. O interior é feito de couro de ovelha bordô, material escolhido pelo conforto, pelas propriedades antibactericidas e por sua semelhança com o estofamento de carros antigos. A criação é do designer francês Jérôme Coste. Na lista dos colaboradores, estão estilistas como Karl Lagerfeld e Martin Margiela. ateliersruby.com

Clássico A Land Rover ruma para um novo tempo com seu mais leve e eficiente Range Rover até hoje. O Evoque tem inspiração urbana e tecnológica e chega para quebrar os paradigmas da marca. É um carro mais sustentável: proporciona performance de esportivo com baixo consumo de combustível e menores emissões de gás carbônico. Além da versão com quatro portas, há o coupé com duas. São três as opções de personalização interna e externa: Pure, com interior clean e exterior conceitual feito de materiais suaves e acabamento em alumínio escovado; Dynamic, com tema esportivo e postura mais atlética, exterior mais robusto e assentos de couro; e Prestige, a mais luxuosa, com rodas de liga leve e acabamentos brilhantes. landrover.com

Além do laranja Nada de monogramas ou da marca estampada de maneira exagerada. Esta bolsa de viagem da Hermès é um claro exemplo do understated chic, comum neste tipo de produto da marca, que preza pela qualidade em todos os detalhes. Feita de canvas e couro, é companhia ideal para pequenas viagens em que informal e casual são palavras de ordem. O design é simples, mas esconde nas tiras de couro marrom o H, inicial da casa francesa, que iniciou suas atividades em 1837 como fabricante de arreios e freios para carruagens de nobres do país. hermes.com

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Fotos: Dimitri coste / Divulgação

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REVISITADo


ExcLusiViDADE

em tramas

Imagine um terno italiano feito com moldes personalizados e cortes impecáveis, pelas hábeis mãos de um talentoso alfaiate. Pense em caimento perfeito, exclusividade, artesanato incansável. E se o tecido for a lã de maior qualidade do mundo? Na Loro Piana, isso é possível. Anualmente, o lanifício promove um concurso e premia um de seus fornecedores australianos de lã da raça de ovelhas Merino com o título de “melhor lã do mundo”.

cardigã feito com pelo de vicuña peruana é uma das especialidades da Loro Piana

A empresa hoje tem 132 lojas pelo mundo, onde vende tecidos e roupas para homens, mulheres e crianças, além de acessórios e produtos para casa. Os materiais são os mais primorosos possíveis. Além do Merino, a Loro Piana é o maior produtor de Cashmere e Baby Cashmere (retirada apenas uma vez dos filhotes de ovelhas Hircus em seu primeiro ano de vida) do mundo, com ligação direta com agências governamentais chinesas para monitorar a qualidade do material. Outra de suas vedetes é o pelo da vicuña peruana, com a qual fabrica casacos e artigos luxuosos de tricô. Em 1994, a empresa fez um acordo com o governo do Peru para proteger a espécie, ameaçada de extinção, trabalhando com o material de maneira sustentável.

um concurso elege, a cada ano, uma “record bale”, ou seja, a melhor e mais fina lã do mundo, retirada de ovelhas da raça Merino, na Austrália

O cuidado e a preocupação com a qualidade vêm da extensa tradição familiar, que já data de seis gerações. Original de Trivero, na Itália, os Loro Piana começaram suas atividades como mercadores de lã no início do século 19. Após 100 anos em que o mercado têxtil cresceu com a chegada da industrialização, Pietro Loro Piana fundou a companhia atual, em 1924. No período pós-Segunda Guerra, expandiram os negócios para a Europa, Estados Unidos e Japão. Atualmente, Sergio e Pier Luigi Loro Piana, netos de Pietro, dividem as responsabilidades como diretores da empresa. loropiana.com


for her •

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

Baroque

box

A suíça Reuge leva a fabricação de caixas de música a outro patamar. Criada em 1865 pelo relojoeiro Charles Reuge, especializou-se em relógios musicais e caixas de música, trazendo-os ao século 21 com modernidade, materiais luxuosos e melodias delicadas. O modelo Baroque é objeto de decoração único: feito de madeira vavona burr (de sequoias) e com incrustações barrocas, tem movimentos musicais intercambiáveis. São cinco cilindros, visíveis no mostruário de vidro, que tocam melodias de Bach, Corelli, Händel, Telemann e Charpentier. reuge.com

Querido DIÁRIO Forrada em couro de ovelha tingido em azul Yves Klein intenso, a agenda da coleção Lapis, da britânica Smythson – empresa criada em 1887 com especialidade em artigos de couro –, pode se tornar ferramenta essencial para a mulher moderna. Além da lista de compromissos diários (que vai até janeiro de 2013), a página oposta traz um útil espaço para as tarefas “a fazer”. Na seção inicial, há espaços especiais com informações de viagem, hotéis, teatros e restaurantes pelo mundo, além de uma tabela de vinhos vintage. smythson.com

Quando criança, Oscar de la Renta imaginava que, se acordasse muito cedo, poderia retirar o orvalho das flores para fabricar um perfume. O sonho de menino virou realidade com o glamour e a sofisticação de Esprit d’Oscar Eau de Parfum, nova fragrância do estilista, que, em lembrança, traz uma flor na tampa do frasco. O aroma é uma reinterpretação do

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clássico Oscar, de 1977, criado originalmente em celebração ao atemporal, ao feminino e às mulheres. A musa inspiradora da nova versão foi Eliza, a filha do estilista, que o ajudou a capturar a essência do que uma mulher deseja em um perfume. Notas florais e orientais se juntam a cítricas, como limão siciliano, bergamota e citron. oscardelarenta.com

Fotos: Márcio Madeira / Divulgação

Sopro de ar fresco


Perfume

RETRÔ

Considerado pela crítica um dos melhores desfiles da temporada brasileira do verão 2012, Alexandre Herchcovitch trouxe à passarela vestidos ricos e delicados, criados com tecidos vintage, encontrados, por acaso, em uma “queima de estoque” de uma pequena loja. O estilista optou por incorporar as manchas amareladas do tempo, levando-as inclusive aos novos tecidos, por um processo de estamparia por scanner. A cartela de cores é delicadíssima, com tons pastel – amarelo, rosa e salmão – e toques de vermelho e preto, perfeitos para o ar anos 1940 e 1950 da coleção. O clima é de romance: comprimento midi, lenço na cabeça, óculos de gatinha, sapatos comportados, bordados florais e bolsinha de mão. Perfeitos para subir na garupa da lambreta mais próxima ou trazer à vida moderna um aroma de outros tempos. herchcovitch.com.br

Soft

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MAPS

Que tal deitar-se sobre um mapa de Washington? Ou saborear um piquenique em cima do Central Park, mas longe de NYC? Cobrir-se com as ruas de Los Angeles? Enfeitar sua cama com o mapa de sua cidade natal? A arquiteta novaiorquina Emily Fischer levou esses sonhos adiante, juntando sua paixão pela cartografia, seus dotes de costureira e sua formação. Assim, fundou a Haptic Lab, empresa que cria lembranças táteis na forma de colchas estampadas com mapas, em seda Dupioni e algodão orgânico. Entre as opções, pequenas cobertas para bebês com o mapa do bairro da criança, nome, data de aniversário, endereço da casa e parques favoritos. hapticlab.com


perfil •

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

A trajetória de um Tímido, mas determinado, Ayrton Senna foi implacável nas pistas, colecionou vitórias e marca até hoje a história dos brasileiros

DE FóRMuLA 1 PARECIA TíMIDO EM uM AMBIEnTE TãO

DIFEREnTE. O COTIDIAnO BRuTO DO AuTOMOBILISMO FICOu DE LADO. O PILOTO, ACOSTuMADO A DIRIGIR A 300 KM/H, PARECIA DERRAPAR nO ESTúDIO DE TELEvISãO CERCADO DE CâMERAS E CRIAnçAS. POR MAIS quE O PROGRAMA FOSSE APRESEnTADO PELA EnTãO nAMORADA XuXA MEnEGHEL, AyRTOn SEnnA DEMOnSTRAvA DESCOnFORTO. EnquAnTO TEnTAvA SE SEnTIR MAIS à vOnTADE, O íDOLO BRASILEIRO EXIBIA O OLHAR DE quEM PREFERIA vOLTAR AO MunDO InóSPITO E TRAIçOEIRO DA FóRMuLA 1.

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Fotos: Norio Koike © AsE / cortesia instituto Ayrton senna

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M DEzEMBRO DE 1988, O MAIS nOvO CAMPEãO MunDIAL



perfil •

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Nascido em 1960, logo aos quatro anos ganhou o primeiro kart, construído pelo pai. Os calos nas mãos eram comuns para Ayrton, que treinava exaustivamente, inclusive na chuva, um de seus pontos fracos no começo. “Ayrton Senna era um exemplo de coragem, dedicação, trabalho e aplicação. Um camarada feliz e de bom coração”, disse Nuno Cobra, preparador físico de Senna, ao jornalista Lemyr Martins, que publicou a citação em seu livro Os arquivos da Fórmula 1. Em 1984, ele estreou na Fórmula 1 pela mediana equipe Toleman. Sem grandes chances de vitória, o brasileiro teve seu primeiro momento apoteótico no esporte, sob um temporal em Mônaco, quando terminou em segundo. “Tive a felicidade de prever que Senna seria um superpiloto quando trabalhamos juntos na Toleman. Acho que não me enganei”, contou Mike Cowlishaw, ex-mecânico da escuderia, ao mesmo jornalista. O brasileiro foi para a Lotus em 1985. Com um carro melhor, conquistou as duas primeiras vitórias naquele ano, ambas sob chuva, em Portugal e na Bélgica. O bom desempenho continuou nos dois anos seguintes e, em 1988, ele ganharia a maior chance da carreira. O contrato assinado com a McLaren dava a Senna um carro de ponta e um companheiro de equipe que viria a ser seu maior adversário: Alain Prost.

O piloto era motivo de orgulho e patriotismo aos brasileiros manoelbernardes.com.br

como todo ídolo, senna era retratado até em seus momentos de lazer

Grandes vitórias O ano de 1988 foi de tensão. Senna disputou o mundial acirradamente com Alain Prost. A vontade de realizar o sonho foi determinante para o piloto na prova decisiva, no Japão. O brasileiro e Prost partiram na primeira fila. Na hora da luz verde, o motor do carro de Senna falhou e ele demorou para arrancar. Após cair para o 16° lugar, o piloto tinha que reagir e terminar em primeiro, enquanto o francês liderava. A reação veio, Senna ultrapassou e partiu para a vitória. Depois da corrida, o novo campeão afirmou que viu Deus na chegada. Em 1989, o clima entre os dois azedou e eles nem se falavam. Em 1990, a relação ficou insustentável e Prost se mudou para a Ferrari. Nesses dois anos, o campeonato também foi decidido no Japão, inclusive de forma parecida: uma batida entre eles deu o título ao francês em 1989 – o troco do brasileiro viria no ano seguinte. Senna mudou de adversário no ano do tricampeonato. “Ele sempre foi muito exigente. Mas retribuía à altura cada melhora no equipamento. Esse foi o segredo de ter sido o maior vencedor da história da McLaren”, afirmou o chefe da escuderia, Ron Dennis, a Lemyr Martins. Em 1991, a Williams passou a ter carros de alta tecnologia. Mesmo assim, o talento e a determinação do brasileiro foram superiores ao concorrente direto, o inglês Nigel Mansell. Uma


prova disso foi a realização do sonho de Senna de vencer o GP do Brasil. Nem mesmo a forte chuva e os problemas mecânicos, que deixaram o carro somente com a sexta marcha, lhe tiraram a vitória. Exausto, ele mal conseguia levantar o troféu da vitória depois. Em 1992 e 1993, a Williams foi muito superior e Senna teve que se desdobrar para igualar no talento o que a tecnologia desequilibrou. Demonstrações disso não faltaram, como a vitória no GP da Europa de 1993, quando, sob chuva intensa, o piloto pulou de quinto para primeiro lugar ainda na primeira volta. O ano de 1994 trouxe mudanças. O antigo projeto de correr na Williams se tornou realidade, mas veio acompanhado de preocupação. O regulamento da Fórmula 1 mudou e certas especificações dos carros os deixaram mais difíceis de serem guiados. Com a responsabilidade de ser o favorito, Senna não conseguiu pontuar nas duas primeiras corridas e chegou pressionado para a terceira, em San Marino. O que aconteceu no fim de semana mais trágico da Fórmula 1 está presente na memória de todos os brasileiros. A comoção pela morte do ídolo tão querido se viu nos rostos tristes de milhões de pessoas. 

“Se você quer ser bem-sucedido, precisa ter dedicação total, buscar seu último limite e dar o melhor de si mesmo” Ayrton Senna, em entrevista ao jornalista Lemyr Martins

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Ayrton em momento de descontração


perfil •

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

senna conquistou seu primeiro título mundial pilotando uma McLaren

Naquele ano, os brasileiros aliviaram a frustração com o título da Copa do Mundo. Na comemoração, os próprios jogadores da Seleção levaram uma faixa em homenagem a Senna. Reconhecimento e, até mesmo, um pouco de superstição. “Acho que foi Senna quem me fez perder o pênalti. Foi ele quem pegou a bola e puxou para cima”, afirmou na época Roberto Baggio em entrevista ao programa Esporte Espetacular, da Rede Globo. Foi ele o jogador italiano que chutou para fora o pênalti decisivo.

na área educacional, para combater a defasagem escolar e o analfabetismo, promover atividades complementares e incentivar a inclusão tecnológica. Além disso, o projeto também possui brinquedotecas em hospitais. Desde a criação, o IAS já conseguiu inúmeros avanços, como a chancela de Cátedra de Educação e Desenvolvimento Humano, concedido pela Unesco em 2003, e a criação do Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo, para reportagens que abordam a educação.

Legado Senna sempre foi acostumado a lidar com os números, principalmente na Fórmula 1. Por isso, além de três títulos mundiais, 41 vitórias, 65 pole positions e 80 pódios, hoje ele ainda deixa cerca de dois milhões de crianças e jovens mais felizes, graças aos cuidados do Instituto Ayrton Senna (IAS), presidido pela irmã do piloto, Viviane Senna. Criado em novembro de 1994, o projeto coloca em prática uma ideia antiga deixada pelo ídolo de criar uma forma de ajudar a quem mais precisa. Atualmente, as ações do IAS estão presentes em mais de 800 cidades de 25 estados do Brasil. Os programas atuam principalmente

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O olhar distante, mas decidido, era uma das marcas do piloto



hiStÓriA •

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A suíte presidencial do hotel foi o lar de Giuseppe Verdi por muitos anos, nos quais ele compôs a ópera Otello

Timbres do século

Entre contraltos, sopranos, barítonos, tenores e um imperador, o Grand Hotel et de Milan traça sua história

MILAnêS REGISTRAvA: “nA TARDE DE 30 DE ABRIL,

1888, O SEnHOR SPATz, PROPRIETáRIO DO GRAnD HOTEL ET DE MILAn, EnFILEIROu-SE COM TODA A SuA EquIPE nO lobby PARA RECEBER vOSSAS MAjESTADES DOM PEDRO II DE BRAGAnçA E IMPERATRIz TEREzA CRISTInA DE BOuRBOn”.

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Fotos: Divulgação

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H

á EXATOS 123 AnOS, uMA COLunA DO CORREIO


na Segunda Guerra Mundial, o Milan foi ocupado por tropas norte-americanas, sendo usado como local para comemorações e bailes No Gerry’s Bar, a decoração é inspirada em um fumoir dos anos 1930

No quarto onde Dom Pedro ii ficou hospedado, o clima é de realeza e aconchegante

O que à primeira vista parecia uma casual viagem da Família Real do Brasil, que passaria alguns dias em Milão, marcou a história do país. Durante a estadia, no dia 13 de maio, Dom Pedro II ficou “diplomaticamente indisposto”. O motivo? Sua filha, a princesa regente Isabel, precisava assinar a célebre lei de abolição da escravatura. Naquela mesma noite, o imperador teve a mágica (e oportuna) cura de seu mal e pôde aproveitar com sua entourage o baile oferecido no Milan, como era conhecido o hotel, que organizou apresentação de teatro de sombras chinês baseado na ópera o Guarani, de Carlos Gomes. Até hoje, a estátua de um índio matando uma cobra, que repre-

senta a prática escravocrata, decora o lobby do estabelecimento como memória desta estadia. Além disso, uma das suítes leva o nome do imperador que lá se hospedou. Fundado em 1863, o Grand Hotel et de Milan, com seu estilo arquitetônico eclético e referências neogóticas, era um verdadeiro centro cultural no final do século 19. A localização foi um dos motivos: estar próximo à Catedral Duomo, à área financeira de Milão e à Ópera La Scala lhe proporcionou visitas ilustres. Entre elas, pode-se citar o compositor Giuseppe Verdi, que residiu na atual suíte presidencial de 1872 até o fim de sua vida, em 1901. 


hiStÓriA •

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

Deprimido e atormentado pela morte de sua esposa e de seus filhos, trabalhou intensamente na ópera Otello por meia década. Na data da estreia, em 1887, o povo saiu às ruas clamando seu nome e se dirigiu à frente do Milan para ovacioná-lo. Recentemente, a suíte de Verdi foi reformada com a preocupação de se manter fiel às características do século 19. Os arquitetos milaneses do Reaproveitamento do passado: nas paredes do bar caruso, antigas sopeiras de metal Dimore Studio se inspiraram em antigas fotografias para Os contrastes dessa trajetória secular podem ser reproduzir veludos preciosos, cetins e franjas detalhadas. bem visualizados nas escolhas de decoração de um dos Para o trabalho, comissionaram fábricas históricas para espaços do Milan, o Caruso. Itens do início do século manufaturar tecidos e bordados, como a francesa Lelievre, 20, banquetas de bar milanesas vintage e sofás suecos que criou os veludos utilizando técnicas de estampa com do século 18 são contrapostos com elementos bem cilindros do século 17. A reforma também atingiu o restante contemporâneos, como instalações de metal e neon. O do hotel, observando detalhes históricos. allure objetivado é o de um bar dos anos 1920 e 1930, com duas lâmpadas venezianas da época e grandes colunas de destaque. Na varanda, a mobília combina antiguidades, como as sopeiras de metal do próprio hotel penduradas na parede, cadeiras encontradas no depósito do estabelecimento e modelos Thonets originais. A decoração é finalizada por itens criados especificamente pelo Dimore Studio. Já no Gerry’s Bar, o ar é de um fumoir do início do século, decorado com chaises longues e palmeiras. Entre os antigos – e ilustres – habitués, estão Enrico Caruso, Tamara de Lempicka, Ernest Hemingway, Maria Callas e Rudolf Nureyev. No restaurante Don Carlos, a surpresa fica por conta de algo muito mais antigo do que qualquer móvel presente no hotel: na adega, encontrada durante uma reforma nos anos 1990, um trecho de uma legítima muralha romana, erguida em 250 d.C.

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nos anos 1960, o hotel tornou-se centro de moda, com desfiles e sessões de fotos

O muro romano de 250 d.c. é a atração central da adega do restaurante Don carlos

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joiAS •

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A JORNADA F O TO S PAU LO L A B O R N E


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SAC

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Caça às N

cão e as trufas, sua grande conquista

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os campos da antiga província de Périgord, na França, a jornada do cachorro caçador não é solitária. Atrás dele, aventureiros intrépidos correm em busca de uma iguaria única, quase exclusiva da região. O cão parte, fareja, enquanto o coração do homem bate mais rápido. Perto do carvalho, os dois procuram juntos a recompensa desta caçada: o diamante negro. Um tesouro que tem seu valor reconhecido. Um quilo da pérola negra pode custar entre 700 e 2.000 dólares. Também pudera: poucos gramas do tartufo negro recortados na espessura de uma folha de papel já são suficientes para deixar no prato um aroma próprio e, principalmente, um sabor requintado. As pequenas esferas pretas com a superfície irregular reúnem todo o sabor do bosque – com tons de avelãs e nozes invadindo a boca

– em um visual semelhante ao mármore negro. Tamanha obsessão, para deleite dos apreciadores, levou especialistas a buscar a possibilidade de cultivá-las. Com sucesso, hoje são produzidas nas raízes do carvalho trufeiro. Segredo de cultivo que ainda não foi descoberto para a trufa branca. O mesmo aspecto marmorizado das negras prevalece aqui, mas nas colorações marfim e bege. Se nas pretas destaca-se o gosto, nas claras o enfoque está no cheiro. A peregrinação pela trufa branca leva viajantes ao município de Alba, na Itália. Entre o mês de outubro e o Natal, caçadores têm uma tarefa difícil. Encontrar a trufa branca é muito mais desafiador do que a negra. Diferentemente daquelas da região francesa, esta não deixa qualquer espaço na vegetação em que é encontrada – sempre próxima de aveleiras ou salgueiros.

Fotos: shutterstock

Preciosos, estes diamantes da gastronomia são apreciados pelo homem há mais de três mil anos



SAboreS •

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Com cuidado, o trufeiro a retira do solo. Não é permitido quebrá-la ou feri-la na superfície. Nos restaurantes, mais esmero no momento de guardar, uma a uma, envelopadas e com cuidado extremo. São joias comestíveis, avaliadas em quatro mil euros o quilo. No Piemonte italiano, produtores locais se reúnem a cada ano para um merecido festival. As ruas são tomadas por espaços em que são expostos, não só os tartufos, mas vinhos, queijos e salames típicos da região. A grande estrela é a trufa – que, além de sua versão in natura, está presente em outras

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aromáticas delícias, como óleos trufados, molhos para macarrão e patês. O produto conquista pelo olfato. Na experiência incomparável de apreciar o ingrediente – na forma negra ou branca –, são os italianos os grandes mestres. Com um toque, deixam massas muito mais sofisticadas, colorindo-as após os tartufos serem raspados na hora. Embelezam também carnes – até mesmo as cruas, como o fassone – ou podem acompanhar ovos mexidos com manteiga. Os franceses costumam colocar uma lasca no pote de sal. Um pedaço pequeno tempera todo o recipiente do condimento, que será usado em diversas receitas. Apenas algumas lascas da iguaria já dão toque especial a receitas

O tartufo, encontrado na França e na Itália, é um presente ao olfato e ao paladar

As pequenas esferas pretas com a superfície irregular reúnem todo o sabor do bosque manoelbernardes.com.br



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Tempo

precioso I

nTAnGívEL, O TEMPO SE TORnOu ARTIGO DE LuXO nA ATuALIDADE. nA MATéRIA ESPECIAL

DA REvIStA MANOEl BERNARDES, REunIMOS TuDO AquILO quE FAz O TEMPO SER MELHOR APROvEITADO. MERGuLHE nuMA jORnADA DE CORPO E MEnTE POR LuGARES FAnTáSTICOS E EXPERIênCIAS MEMORávEIS. COMO uMA EXPEDIçãO PELO SALAR DE uyunI, A MAIOR PLAníCIE SALGADA DO MunDO, OnDE Céu E TERRA SE FunDEM SOB O OLHAR. Ou PELO EXóTICO vIETnã, AInDA MAIS BELO quAnDO EXPLORADO SOB DuAS RODAS. SE PARA MuITOS PODE PARECER LOuCuRA, COnvIDAMOS vOCê A REFLETIR SOBRE A EXPERIênCIA DE vIAjAR SOzInHO. ALIMEnTOS PARA A ALMA: MúSICA, LEITuRA E PRAzERES GASTROnôMICOS TAMBéM FAzEM PARTE DESSA SELEçãO. EMBARquE nESSA AvEnTuRA E BOn vOyAGE!  manoelbernardes.com.br


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Foto: Thinkstock


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Viajar

A isla del Pescado não é rodeada por mar, mas por uma imensidão de sal

salar de uyuni, Uma paisagem surreal. O Salar do Uyuni, no altiplano andino, é diferente de qualquer outro lugar do planeta. Coordenadas? Sudeste da Bolívia, nos departamentos de Potosí e Oruro. Suas fotografias não chegam perto de traduzir a emoção do viajante ao pôr os olhos naquela imensidão puramente branca. Quem já foi confessa ser impossível compará-lo com neve ou desertos. Comparar é macular sua memória, pois o Salar é único. A vastidão de seu entorno também engloba cenários mil: são vales, montanhas, vulcões, lagos, pântanos, com fauna e flora surpreendentes. Fascinante, imenso, branco, inóspito, sem fim. O Salar é o maior e mais alto deserto de sal do mundo, com 12 mil quilômetros quadrados, a 3.660 metros

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Nos dias em que há uma camada de água sobre o sal, um espelho perfeito reflete o céu

Fotos: Thinkstock / Explora – chile

Bolívia


no Salar, é difícil distinguir o que é céu do que é chão

Para facilitar a extração de sal, trabalhadores juntam pequenos montes, criando outra bela paisagem

de altitude. Um local sem horizonte, no qual não se entende onde o chão termina, onde o céu começa e em que lugar as nuvens estão. Um “fundo infinito” da natureza. Às vezes, por chuvas ou pelo derretimento da neve nos Andes, uma fina camada de água se forma acima do sal, criando um esplendoroso espelho natural, que reflete o céu tranquilo, os passantes, os automóveis. Em dias assim, é como se fosse possível andar sobre as nuvens. O silêncio é tão absoluto que nem o vento cortante faz barulho. Chega a perturbar. Tudo é branco, reflexivo, brilhante. Os olhos podem sofrer com tanta claridade, fazendo de óculos escuros e protetor solar ferramentas essenciais 

A região de uyuni sobrevive economicamente da extração de sal e, principalmente, do turismo

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para desbravar esse lugar fascinante. É preciso estar bem adaptado à altitude e preparado para enfrentar o frio, pois o clima não é dos mais amigáveis. Seco, como em qualquer deserto, atinge de 2 °C a 15 °C de junho a setembro, chegando a temperaturas de -20 °C à noite. No verão, entre janeiro e março, os termômetros marcam de 5 °C a 20 °C. Em tempos remotos, o Salar fazia parte do gigante lago pré-histórico Michin. A isso deve sua extensão e curiosidades da paisagem, como a remanescência da Isla Pescado. Rochosa e coberta por cactos altíssimos, esta “ilha” parece flutuar sobre um mar branco de sal. O surrealismo da paisagem de Uyuni inclui também flamingos rosas, vicuñas, ciprestes, chorões, montanhas roxas, marrons e negras, caminhos tortuosos, rios secos. 

No salar do uyuni, confundem-se céu, nuvens, horizonte, chão

uma das diversões dos turistas é brincar com o espelho d'água nas fotografias manoelbernardes.com.br

Fotos: Thinkstock / shutterstock

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Na Lagoa Eldorada, uma lhama passeia. Entre a fauna do salar, também é possível encontrar alpacas e vicuñas


O rosa intenso dos flamingos ĂŠ contraste surpreendente com o branco purĂ­ssimo do deserto de sal


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salar com direção A brancura do Salar é tamanha que a desorientação é iminente. Não há esquerdas e direitas em um deserto monocromático. Por esse motivo, a segurança de guias confiáveis é essencial. A agência chilena Explora é um exemplo: promove passeios ao Uyuni e a outras regiões da América Latina de maneira criativa e interessante. As “jornadas nomádicas” englobam roteiros de vários dias por regiões extraordinárias, mas remotas e pouco conhecidas. Cruzam-se fronteiras e noites são passadas em acomodações simples – muitas vezes acampamentos –, mas não se abre mão de um relativo conforto, com refeições reforçadas e saborosas para satisfazer as demandas físicas da viagem. Na jornada pelo deserto de sal, há duas opções: de Uyuni ao Atacama (oito dias) e vice-versa (11 dias). As duas passam mais ou menos pelos mesmos lugares, com algumas modificações de percurso. O viajante conhecerá pequenas cidades bolivianas e chilenas, como Iquique, Mauque, Llica, Tahua, Coquesa e Jirira, além de maravilhas naturais como os vulcões Tanupa e Licanbur, as lagoas Turquiri e Colorada e

Viajam no máximo seis passageiros junto de uma equipe com cinco pessoas

Fotos: Explora – chile

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A viagem é de aventura, mas é melhor contar com o apoio de guias confiáveis para desbravar a região

O Hotel de Larache é ponto estratégico dos viajantes da Explora

A agência prepara as refeições nos acampamentos. No cardápio, comida saborosa para esquentar e reabastecer as energias

o campo geotérmico Sol de Mañana. O número máximo de integrantes por grupo é de seis pessoas, que se juntam a cinco membros da equipe Explora: guia, motorista, cozinheiro e assistentes. Um ponto importante da viagem é a estadia no Hotel de Larache, em San Pedro de Atacama, a principal acomodação da Explora. Quando a viagem começa por lá, o hotel é um bom ponto para acomodar os viajantes às sensações da altitude. Se ele for o destino final, é o lugar ideal para relaxar após a jornada de trilhas e caminhadas. O terreno é uma espécie de reserva com 17 hectares, que abriga um lindo cenário de árvores de sombra ampla, piscinas, vista para a serra do Atacama e um observatório de estrelas. Os 50 quartos foram reformados em 2008 e possuem decoração simples e charmosa, que acomoda perfeitamente viajantes prontos para a aventura. Durante as outras noites do trajeto, a Explora hospeda seus clientes em diferentes acomodações pelo altiplano: Cañapa, Chituca, Tahua e Aravilla.


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Praticar

De Saigon a Hanói,

Uma profusão de cultura, vistas surpreendentes, aromas, gostos e simpatia observados sobre duas rodas. Pedalar pelas planícies do Vietnã é um gracioso convite para conhecer um novo universo, repleto de momentos de meditação, aprendizado e experiências sensoriais. Quando o sol e o vento batem no rosto, o que se veem passar são fascinantes paisagens, cidades pitorescas em seu caos organizado e os sorridentes vietnamitas acenando. Dizem que são um povo que “come rápido, anda devagar e ri de tudo”. Tirar tempo para conhecê-los com calma, aproximar-se de sua cultura e história, é essencial.

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Fotos: © Butterfield & Robinson

Vietnã

No roteiro proposto, são mais de 300 quilômetros de pedaladas


A bicicleta é uma opção que possibilita proximidade maior com a cultura de um lugar e, principalmente, com a vida fora do eixo turístico

Não há transporte melhor do que a bicicleta, que nos deixa mais próximos do terreno e das pessoas, numa jornada de contemplação e aprendizado. A trajetória – uma das opções de roteiro oferecidos pela renomada agência de viagens Butterfield & Robinson pelo país – é desafio ao corpo: em 11 dias de viagem, são mais de 300 quilômetros percorridos, não somente sobre duas rodas. Preparo físico é necessário, mas os trechos não passam dos 40 quilômetros diários e são sempre recompensados com deliciosas refeições em restaurantes selecionados, onde se prova da comida local à cuisine francesa, passando pela culinária fusion. O trecho escolhido cobre grande parte do país por bicicleta, carro e avião. A partida é a histórica capital Ho Chi Minh, conhecida localmente como Saigon. O trajeto único inclui charmosas paisagens coloniais rurais, estreitas estradas silenciosas por extensas plantações de arroz ou café, patrimônios da humanidade,

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mercados coloridos, plácidos lagos e rios, templos sossegados, jardins floridos. Sejam cidades grandes ou pequenos vilarejos, seus complicados nomes passarão lentamente pelo caminho: Hué, Da Nang, Hoi An, Nha Trang, Da Lat (mais conhecida pelo romântico epíteto “a cidade da eterna primavera”) e, por fim, Hanói. Momentos de turismo, compras e relaxamento em spas também fazem parte do pacote, desenvolvido há dez anos pela Butterfield & Robinson, criada em 1966 no Canadá e pioneira no conceito de viagem “slow down to see the world”, com 90 roteiros diferentes pelo planeta, entre opções de bicicleta, a pé e de veleiro. Basta pedalar – eles cuidam do restante: das bicicletas e do equipamento necessário, dos guias, das entradas em museus e atrações, do transporte da bagagem, das refeições nos melhores restaurantes e da hospedagem em ótimos hotéis.


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Ler

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um livro é uma jornada em si: leva o leitor para universos únicos, imaginários ou reais. navegue por trajetórias de vida surpreendentes, encontre-se em meio a recantos afastados do planeta ou emirja em fantasias inebriantes

um guia para os charmes e tesouros de seis países selecionados com curadoria da Luxury Collection Hotels & Resorts lUXURY COllECtION

(ASSOUlINE – 2010) Este box da Editora Assouline contém guias de seis destinos – Itália, Grécia, Argentina, Índia, Espanha e Estados Unidos –, com curadoria da Luxury Collection Hotels & Resorts, conjunto de 75 estabelecimentos hoteleiros de luxo localizados em mais de 30 países. Os livros ilustrados trazem dicas de insiders dos melhores restaurantes, lojas e espaços culturais de cada local. Cada livro traz uma receita de um célebre chef, incluindo Mario Batali na Itália, Francis Mallmann na Argentina, José Andrés na Espanha e Charlie Palmer nos Estados Unidos. O set é como uma chave para os lugares mais distintos e únicos em cada destino, prometendo experiências inesquecíveis que apenas os habitantes locais conhecem. As imagens são registros de uma verdadeira exploradora global, a fotógrafa Andréa Fazzari. manoelbernardes.com.br

Fotos: Divulgação

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FRIDA kAHlO: SUAS FOtOS (PABlO ORtIZ MONAStERIO ([ORG] – 2011)

A trajetória da artista mexicana Frida Kahlo, um dos símbolos da mulher libertária do século 20, é contada em imagens nessa nova publicação da Editora Cosac Naify. São mais de 400 fotografias inéditas de sua vida, divididas em sete temas principais: “Origens”, “Papai”, “A Casa Azul”, “O corpo dilacerado”, “Amores, “A fotografia” e “Luta política”. Espalhados pelo livro, registros de seus amigos mais célebres – nomes como Duchamp, Breton, Trotsky, Dolores

del Río, Eisenstein, Man Ray, Pierre Verger, Tina Modotti e Edward Weston –, anotações e intervenções pessoais de Frida e textos ensaísticos de especialistas do mundo todo. O arquivo da obra faz parte do acervo pessoal da artista e de seu marido Diego Rivera, com mais de seis mil imagens, que, por mais de 50 anos, permaneceu trancafiado em um dos banheiros da Casa Azul, residência do casal, atual Museu Frida Kahlo, na Cidade do México.

tHE UNGUARDED MOMENt (StEvE MCCURRY – 2011)

Décima coletânea de imagens do premiado fotojornalista norte-americano Steve McCurry, The unguarded Moment, da Editora Phaidon, traz uma coleção de vívidas fotografias, na maioria retratos, de rituais diários e costumes de pessoas em locais afastados e desconhecidos, registrados nos últimos 30 anos. O melhor do estilo “homem certo, no lugar certo, na hora certa”. Os cliques, em sua maior parte, são indissociáveis do estilo do autor: surpreendentes cores fortes

saturadas, engenhosos jogos de luz e sombra, olhares fixos para a câmera ou fortuitos para o horizonte, preciosos detalhes de mãos calejadas. O fotógrafo viajante esteve em lugares como Mali, Yemen, Camboja, Chade, Índia, Sri Lanka, Afeganistão, França e na antiga Iugoslávia. O título do livro vem de uma ideia que o autor frequentemente reitera: a de que tenta sempre capturar os momentos de descuido das pessoas, em que elas estão menos autoconscientes.

tRÊS SOMBRAS (CYRIl PEDROSA – 2011)

Metáfora de convivência com a perda das pessoas ao longo de nossas vidas, o romance gráfico Três Sombras, da Editora Companhia das Letras, explora o contraste entre as fantasias da infância e a aspereza da vida adulta. Vencedor de prêmios no Festival de Angoulême, mais importante evento de quadrinhos da França, traz a história de uma família do campo que tem a harmonia abalada quando três sombras aparecem no alto de uma colina. “Seriam viajantes?

Por que estariam rondando a casa?”. A percepção de que estão ali para buscar um dos membros, o pequeno Joachim, faz o pai fugir com o filho de maneira desesperada, sempre com as sombras em seu encalço. A viagem conturbada demonstra o contraste do mundo idílico de Joachim com terras hostis, adultos trapaceiros e imorais. O autor francês Cyril Pedrosa tem no currículo trabalhos de animador nos Estúdios Disney, em desenhos como O Corcunda de notre Dame e Hércules.


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Comer e Beber ZACAPA O fértil solo vulcânico e o clima tropical da Guatemala fazem do país um dos melhores lugares para se produzir cana-de-açúcar, e, consequentemente, o melhor dos runs. O ingrediente básico do Zacapa XO é o “mel virgem” – o primeiro líquido extraído da cana quando prensada. O detalhe único fica por conta da localidade escolhida pela master blender Lorena Vásquez para envelhecer a bebida: a “casa acima das nuvens” fica a 2.300 metros acima do nível do mar, com temperaturas frias que retardam o processo de maturação da bebida. A mistura utiliza um processo adaptado do xerez espanhol chamado “sistema solera”, no qual a blender combina meticulosamente runs envelhecidos entre seis e 25 anos em tonéis que costumavam armazenar uísques americanos, xerezes delicados, além de finos vinhos e conhaques, o que confere novas profundidades ao sabor.

PAtO IMPERIAl

QUAN JU DE Preparado há mais de 700 anos, o Pato Imperial, Pato Laqueado ou Peking Duck é considerado uma das receitas mais tradicionais da China. Em 1864, o restaurante Quan Ju De, em Pequim, abriu suas portas e desenvolveu um método único de preparo dessa iguaria. Primeiramente, o pato inteiro deve ser temperado e colocado para secar por um dia. Depois disso, é assado por 45 minutos no forno a lenha, com madeira de árvores frutíferas, e coberto por uma camada de molho doce. Esse ritual é o responsável pela cor dourada e pelo aroma frutado do prato. Para servir, o próprio chef traz o pato inteiro à mesa e desfia toda a carne em pequenas lascas. Os acompanhamentos são panquecas, cebolinha, pepino e molho de soja doce. A maneira correta de degustar essa iguaria imperial é rechear a panqueca com as lascas do pato e os complementos – o sabor é surpreendente.

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Fotos: Bruno Nakamura / Divulgação

RUM CENtENÁRIO


MONSIER lE SOUFFlÉ

REStAURANtE MARCEl O soufflé é uma das muitas descobertas do período renascentista: no século 15, mestres cozinheiros e alquimistas entraram pela primeira vez em contato com as propriedades aeradoras de claras de ovos batidas. No século 19, o célebre chef francês Antonin Carême aperfeiçoou a receita, cozinhando-a em forno. O prato é o carro-chefe do Le Bistrot Marcel, de São Paulo, fundado em 1955 pelo francês Marcel Aurières e modernizado por Ambroise Meinrad Zufferey, premiado chef formado na escola de hotelaria de Zurique. O restaurante serve oito versões salgadas e quatro doces do prato, algumas com ingredientes que tornam o soufflé mais brasileiro, como carne seca e queijo coalho.

GOlDEN APRICOt

GHRAOUI O preparo desta preciosa iguaria começa pela seleção refinada dos melhores damascos da região de Ghouta, na cidade que os nomeia, Damasco, capital da Síria. Em seguida, eles recebem um tratamento especial para preservação de seu aroma: são cobertos por açúcar e passam cinco dias sob o forte sol de junho para secar. Por fim, os damascos são recheados manualmente com pistaches torrados de Aleppo, cidade conhecida pela produção da iguaria. A receita centenária do Golden Apricot of Damascus é uma das mais pedidas nas filiais europeias da Ghraoui Chocolate, empresa fundada em 1805 por uma família damascena especializada em confeitaria luxuosa.

vINHO MÍtICO

lA DOMAINE ROMANEÉ-CONtI A vinícola La Domaine Romaneé-Conti, na Borgonha, figura sempre entre as listas de produtoras dos melhores e mais caros vinhos do planeta. Em 1131, monges franceses de Saint-Vivant criaram a Cros de Cloux, que virou Romaneé em 1760, foi comprada pelo Prince de Conti em 1763 e ganhou sua atual nomenclatura em 1794. Confiscada na época da Revolução Francesa, passou por muitas mãos, até ser comprada por Jacques-Marie Duvauld em 1869. Atualmente, duas famílias cuidam de sua administração. A Romaneé Conti é um terroir – pequeno pedaço de terra com as condições climáticas ideais para certo tipo de vinho – com cultivo de uvas pinot noir, considerado um dos “grand crus”, vinícolas excepcionais que correspondem a menos de 1% da produção da Borgonha. La Domaine produz apenas seis mil garrafas por ano.

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O álbum surge como uma nova abordagem dos sucessos do cantor e instrumentista norte-americano

Ouvir RAvE ON A grandiosidade do precursor do rock fica clara pelos artistas reunidos na gravação do álbum de tributo a Buddy Holly: uma junção que vai dos veteranos Paul McCartney (The Beatles), Lou Reed (líder do Velvet Underground), Graham Nash (Crosby, Stills & Nash) e Nick Lowe (que fez alguns trabalhos com Elvis Costello) até revelações dos últimos dez anos, como Fiona Apple e sua pegada jazz, o soul de Cee Lo Green, do Gnarls Barkley, e o rock de Julian Casablancas, do The Strokes. São 19 sucessos do astro, que completaria 75 anos em setembro. Buddy Holly teve a carreira interrompida precocemente, de maneira trágica, em 1959. No “dia em que a música morreu”, conforme narrou Don McLean no hit American Pie, um acidente de avião matou o artista após um ano e meio de sucesso. Rave On Buddy Holly surge como uma nova abordagem dos sucessos do cantor e instrumentista, muito bem avaliada pela crítica. A música de Buddy, assim, renasce.

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Fotos: Divulgação

BUDDY HOllY


PINk FlOYD

EXPERIENCE Experience é um box especialíssimo com três dos maiores álbuns da banda Pink Floyd – e do rock. Em Dark Side of the Moon, divagações sobre loucura, guerra, morte e pressões do tempo e do dinheiro convivem com uma das mais preciosas gravações musicais do mundo, em acordes, efeitos e uso de instrumentos únicos e ricos. Já Wish you Were Here começa e termina com a tocante – e em sua maioria instrumental – Shine on you Crazy Diamond, homenagem a Syd Barret, que havia deixado a banda e é também lembrado na música que dá nome ao disco. Por fim, o muro metafórico de The Wall separa Pink – o personagem anti-herói da ópera rock (que teve o pai morto na Segunda Guerra Mundial) – da realidade, recheada de desafios da sociedade, da escola (Another Brick in the Wall) e da família (Mother). Todos os discos receberam nova arte visual, feita por Storm Thorgerson, colaborador de longa data da banda, e encartes especiais com as letras de todas as músicas.

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Conhecer

Dar-se o direito de viver uma jornada pessoal pode ser único e libertador

Quem já viveu a experiência garante: todos deveriam, ao menos uma vez na vida, viajar sozinhos. Despedir-se temporariamente da família, dos amigos e até de animais de estimação não quer dizer que você deixará de amá-los ou de se preocupar com eles. Mas se dê o direito de viver uma jornada só sua. No Brasil, ao contrário de outros lugares, tem-se a ideia de que a solidão é ruim e que as pessoas que viajam sozinhas só fazem isso por falta de companhia. É hora de rever esses (pre)conceitos. Quem embarca nessa aventura por livre e espontânea vontade quer ter um tempo só para si, estar mais aberto a conhecer novas pessoas e lugares, sentir emoções diferentes e até se entender melhor.

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Para uma viagem ser mais interessante e realmente transformadora, precisamos deixar de lado nossas referências e mergulhar no desconhecido. E não existe ponte maior que uma companhia, alguém que faça essa conexão com o mundo que estamos tentando deixar para trás. Agora, viajando sós, descobrimos o que podemos oferecer aos outros e, assim, acabamos por nos descobrir também. Afinal, ninguém consegue ficar dias em silêncio. Na ânsia de se comunicar ou se informar, gente interessante entra em nossa história, assim como as pessoas se sentem mais à vontade para se aproximarem sem se sentirem intimidadas por um grupo já formado.

Fotos: shutterstock / Thinkstock

viajante solitário


A sensibilidade é maior quando estamos sós. Há tempo para prestar atenção àquilo que está acontecendo à sua volta e dentro de você

Tire um tempo para registrar momentos e impressões – isso tornará a viagem ainda melhor

Lembre-se: estar sozinho não é sinônimo de solidão

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Viajando sozinho você toma suas próprias decisões, tem que agir ativamente se tiver algum problema e assumir a culpa se cometer algum erro. Mas terá também a deliciosa sensação de dar oportunidade ao improviso. Programação, cardápio, horário – tudo como lhe for mais conveniente. Outra grande vantagem é que você pode se desprogramar. Digamos que no segundo dia de viagem você achou que aquele lugar já lhe ofereceu tudo o que podia. Desfrute a liberdade de não ter que fazer conferência e votar num consenso com companheiros, fazendo o que quiser, sem concessões. Para alguns, não ter com quem comentar as coisas lindas que estão sendo vistas e vividas é motivo de tristeza. Mas há aqueles que aprendem a gostar da própria companhia e conseguem ver vantagem nessa sensação de cumplicidade consigo mesmo. A sensibilidade é maior quando estamos sós, existem menos distrações e há tempo para prestar atenção àquilo que acontece à nossa volta e dentro de nós. Começou a gostar da ideia? Encha-se de coragem, arrume suas malas e embarque nessa viagem rumo a si mesmo.


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Uma vida a

navegar Amyr viaja sozinho, mas diz não se sentir solitário

Apaixonado pelo mar, Amyr Klink lembra suas expedições em entrevista à Revista Manoel Bernardes

E

u gosto de estar no mar”. Uma frase que resume bem a essência de quem a proferiu por algumas vezes durante entrevista concedida à Revista Manoel Bernardes. O autor? Amyr Klink, conhecido empreendedor de expedições marítimas, responsável por grandiosas viagens pelo mundo em embarcações de autoria própria e por difundir a atividade náutica no país. O jeito simples – e até prático – de levar a vida não é obra do acaso: o brasileiro, filho de pai libanês e mãe sueca, é formado nas faculdades de Economia, Administração e Literatura Francesa e diz que a última, que parecia ser “inútil”, em suas palavras, foi a mais

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importante delas. “Sem perceber, ganhei curiosidade pela leitura em francês e encontrei autores que me inspiraram, me fizeram ver tudo de modo diferente”, conta. Foi por causa de um livro em particular, do navegador Gerard d’Aboville, que Amyr tomou a decisão de fazer sua primeira expedição no mar, em 1982. Remador confederado, estudou a proposta do autor de atravessar o Atlântico num barco a remo e, dois anos depois, repetiu o feito. De acordo com ele, o preparo para a jornada foi intenso: “Viajei com uma carga de informações e experiências muito grande. Foi o exercício prático de tudo isso”. Inquieto e inspirado, Klink não parou desde então. Em 1989, fez sua estreia como velejador a bordo do Paratii, passando 642 dias sozinho no mar, boa parte deles para-


do, em ação chamada pelos navegadores de invernagem. A exemplo de seu barco a remo, ele foi o responsável por desenvolver o próprio meio de transporte. “Navegamos num ambiente em que não há espaço para erros. E isso, na prática, significa fazer bem feito. Envolve desde o desenho até o treino adquirido na condução do barco. Eu adoro o que faço, é uma experiência profundamente gratificante e prazerosa. Principalmente por ter a chance de estar no mar com uma embarcação que concebi”. Amyr fez outra viagem com o Paratii, em 1998. Mais uma vez de forma solitária, realizou a circunavegação polar pela rota mais difícil. “Daí para frente, fiz uma sucessão de viagens”, lembra ele, dizendo que nem todas foram realizadas sem companhia. “Levo família, amigos, equipes, cinegrafistas, documentaristas e pesquisadores, mas não dependo da qualificação técnica dessas pessoas para conduzir”.

Klink passou sete meses em invernagem na Antártica

Quem pensa que as expedições solitárias do navegador são difíceis do ponto de vista sentimental se engana. “A última coisa no mundo com que você vai se preocupar é o aspecto emocional. A dificuldade reside em administrar o tempo e uma quantidade enorme de tarefas simultaneamente. Não dá tempo para procurar desafios pessoais, conhecer a si mesmo, pensar na vida”, explica.

Fotos: Maria Bandeira Klink / AKPE/Divulgação

O mar trouxe amigos e aprendizado ao navegador, apaixonado pela vida longe da terra firme Klink não se deixa levar pela notoriedade que suas empreitadas conquistaram no Brasil. O exemplo veio dos colegas com quem conviveu durante os anos de atividades marítimas. “Eu tive o privilégio de estar com pessoas que eram de fato grandes e, ainda assim, desprendidas e humildes, o que fazia delas ainda maiores”, declara. “Vivemos num período engraçado, em que as experiências profundas, as grandes aventuras, são vendidas no balcão do supermercado”, critica ele, comentando também sobre os esportistas da área: “Você não vê as pessoas fazendo as coisas por puro idealismo, simplesmente porque gostam. No mundo de quem viaja de barco, não é assim. Eu me encantei com isso, devo admitir”. Navegar exige equilíbrio entre corpo e mente


relÓgioS •

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Tempo

Modelo Omega Speedmaster já esteve em mais de 100 expedições espaciais, inclusas Apollo 11, Apollo 13 e as outras cinco missões lunares 13 de abril, 1970. 10:08 PM Astronauta John Swigert: “Okay, Houston, nós tivemos um problema.” Nasa: “Aqui é Houston. Repita, por favor.” Comandante James Lovell: “Houston, nós tivemos um problema. Uma ‘main B bus undervolt’.” Nasa: “Copiado. “Main B bus undervolt.” Comandante James Lovell: “A temperatura do tanque de oxigênio número 2 começou a baixar sistematicamente há 59 segundos, indicando falha no sensor.” Em menos de um minuto, os astronautas da missão espacial Apollo 13 resumem a tensão de um sério problema à base da Nasa, em Houston, nos Estados Unidos. Uma explosão danificou a principal fonte de alimenta-

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Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na Lua e o primeiro a levar um speedmaster à sua superfície

ção de energia da cápsula espacial, causando o desligamento de todos os equipamentos elétricos da nave, incluindo os medidores automáticos de tempo. O único instrumento disponível para cronometrar com absoluta precisão os 14 segundos necessários para a queima dos motores do foguete, o que garantiria um retorno seguro à Terra, era o relógio Omega Speedmaster, do comandante James Lovell. O menor erro seria fatal. O fim dessa história é bem conhecido: a tripulação chegou sem arranhões à Terra. Posteriormente, a Omega recebeu dos astronautas o prêmio de Consciência do Voo Tripulado, mais conhecido como Snoopy Award. Essa é apenas uma das aventuras espaciais em que o Speedmaster esteve presente. Criado em 1957, o modelo

Fotos: Divulgação / Nasa

e espaço


foi escolhido pela Nasa como seu cronógrafo oficial três anos depois, após uma série de testes que envolviam condições extremas de altas e baixas temperaturas, pressão, vibração, umidade relativa do ar, quantidade de oxigênio, vácuo e corrosão. No dia 1º de julho de 1969, o relógio ganhou a denominação Moonwatch, ao tornar-se o primeiro usado na Lua, no pulso do astronauta Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar em seu terreno. A família Speedmaster já foi usada em mais de 100 viagens pelo espaço, nas quais calcular o tempo terrestre é algo absolutamente essencial. Estão inclusas aí as missões russas a partir de 1975 – antes disso, a escolha dos cosmonautas era o Omega Flightmaster. O Speedmaster também é utilizado pelos astronautas da Estação Espacial Internacional de todos os lugares do globo e em missões de países diversos. Também esteve em duas expedições polares. Em uma delas, em 19 de abril de 1968, após 44 dias e 1.320 quilômetros percorridos, quatro homens calcularam a posição 90° Latitude Norte – o Polo Norte Geográfico – utilizando um sextante e um Speedmaster. O speedmaster é usado pelos astronautas com um velcro no lugar da pulseira, por cima da roupa espacial

Ao futuro

O snoopy Award concedido à Omega pela tripulação do Apollo 13

Os astronautas Fred Haise, James Lovell e John swigert no retorno seguro à Terra

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Depois de chegar à Lua, o grande sonho espacial permanece alcançar nosso vizinho, Marte. Tendo em vista uma possível missão da Nasa, em 1998, a Omega desenhou o Speedmaster X-33, o Mars Watch, com calibre multifuncional de quartzo e mostrador híbrido: analógico para horas, minutos e segundos; digital para o cronômetro, tempo local, tempo de missão e tempo universal. O modelo pode não ter adentrado a atmosfera do Planeta Vermelho, mas já esteve em diversas outras missões espaciais. A mais nova jornada do Omega Speedmaster será a volta ao mundo em um avião movido apenas a energia solar, intitulada Solar Impulse, ainda sem data marcada. Um modelo de relógio homônimo já foi criado e conta com caixa de titânio e mostrador de fibra de carbono. Além disso, a Omega participa como patrocinadora ativa da iniciativa, criando, inclusive, instrumentos para o avião.


relÓgioS •

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“Eu não sei exatamente quando o primeiro astronauta vai andar em Marte, mas eu sei uma coisa: ele ou ela estará usando um Omega Speedmaster” comandante Eugene cerman, o último homem a pisar na Lua

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speedmaster Moonwatch Apollo 15 40th Anniversary Limited Edition

A evolução do modelo É interessante notar que, mesmo com mais de 50 anos, o Speedmaster manteve suas características mais marcantes de design praticamente intocadas e, mesmo assim, continua atual e moderno. O modelo surgiu como parte da linha Seamaster, com mostrador inspirado em carros italianos da época e nome proveniente de uma de suas inovações: o taquímetro no aro. A ideia inicial era criar um relógio “preciso, fácil de ler e de usar, à prova d’água e confiável”, adjetivos que se tornariam a definição de “cronógrafo esportivo”, gênero criado com o nascimento do Speedmaster.

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O astronauta Eugene cerman em evento organizado pela Omega no Brasil

Os primeiros, com moldura de aço, ficaram conhecidos por colecionadores de relógios como Broad Arrow (flecha larga) graças aos ponteiros largos e luminosos. A segunda versão trouxe ponteiros afinados e moldura de alumínio. Em 1963, surgiu um modelo com moldura assimétrica, que hoje se chama Professional. Atualmente, a Omega comercializa diversos modelos em nove famílias do Speedmaster. A última novidade é o Speedmaster Moonwatch Apollo 15 40th Anniversary Limited Edition, que celebra os 40 anos da quarta aterrissagem na Lua, que levou consigo a sonda lunar. Atrás do cronógrafo, está gravada uma ilustração do veículo com os dizeres “O primeiro relógio usado na Lua”.



modA •

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A

Detalhe do ambiente “Memória e Devoção”

O estilista mineiro Ronaldo Fraga revela à Revista Manoel Bernardes suas sensações ao navegar pelo Rio São Francisco

N

a exposição “Rio São Francisco Navegado por Ronaldo Fraga”, as roupas estão presentes, mas não têm papel principal. Podemos abraçá-las e assim ouvir Maria Bethânia recitar o poema águas e Mágoas do Rio São Francisco, de Carlos Drummond de Andrade, e, entre uma estrofe e outra, cantarolar músicas de seu repertório. Há um documentário dirigido pelo ator Wagner Moura e muitos outros detalhes, descobertos por Ronaldo ao longo de muitas viagens às margens do rio. O estilista passou pela nascente, pelo médio São Francisco, por trechos no norte de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco, alguns a bordo do célebre a vapor Benjamin Guimarães.

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A mostra teve recordes de visitação em Belo Horizonte e São Paulo e seus próximos destinos são Rio de Janeiro, Brasília e diversas cidades ribeirinhas. Primeiro projeto com o assunto “moda” aprovado pela Lei Rouanet, teve origem na coleção do estilista do verão 2008, que representava um grande passeio da nascente à foz do São Francisco, com peças bordadas em Minas, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. O cenário fazia alusão ao processo de salubrização do rio, com dez toneladas de sal grosso espalhadas pelo chão. Confira trechos da entrevista que o estilista concedeu à Revista Manoel Bernardes sobre suas sensações e impressões desse trabalho.

Fotos: Marcelo soubhia/Agência Fotosite e Gustavo scatena/Agência Fotosite

alma do rio


“A mágica do barulho do vapor, o cheiro, o deslizar pelas águas, isso também é o Rio São Francisco, uma experiência maravilhosa” Ronaldo Fraga, sobre a viagem com o barco a vapor Benjamin Guimarães

Revista Manoel Bernardes – De onde veio a inspiração para iniciar a pesquisa no Rio São Francisco? Ronaldo Fraga – A minha relação com o Rio São Francisco é de afeto e vem desde a infância. Confunde-se até com a minha própria memória afetiva. Meu pai, embora não fosse ribeirinho, dizia que o lugar mais lindo do Brasil era qualquer um às margens do rio. Todas as vezes em que ele saía em férias, era para lá que ele ia. E eu adorava porque sabia que, na volta, ele traria, além dos peixes gigantes e dos brinquedos produzidos pelo artesanato local, aquilo que eu mais amava, que eram as assustadoras histórias das lendas ribeirinhas. Meu pai faleceu há muito tempo e eu sempre tive resistência a conhecer o rio; morria de medo de que esse universo imagético criado em mim através das histórias dele não correspondesse ao rio real. RMB – E quando você tomou coragem? RF – Em 2007, no auge da polêmica da transposição do Rio São Francisco, eu achei que era hora de ir e me posicionar em relação a isso. Fui e era exatamente

aquilo que eu imaginava. E esse fascínio só aumenta. A viagem originou uma coleção, desfilada no verão 2008. Depois disso, o desejo de falar do rio permanecia em mim. Lembrava-me muito de que, na primeira viagem, escutei um ribeirinho dizendo: “Olha, cuidado, quando se bebe a água do São Francisco, ele nunca mais sai de você”. E foi isso que aconteceu. RMB – O que mais o marcou nessa viagem? RF – É impossível falar do São Francisco sem uma postura política. Por questões óbvias, é o rio da unidade nacional, da formação do interior do país. Eu não queria que essa postura política se sobrepusesse à solaridade da cultura ribeirinha. Uma cultura feliz, própria: com sua música, comida e histórias. A força da mistura do índio, do negro e do branco é uma coisa fascinante. Você a vê no artesanato, no bordado, no jeito de ser. Acho isso muito lindo. Eu citaria uma fala do pensador e estudioso Bené Fonteles que diz que “o povo do rio é o rio”. 

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modA •

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A exposição traz, além das roupas da coleção verão 2008, elementos da cultura do Rio são Francisco

RMB – Você percebe que a atitude dos governantes é de descaso? RF – Para entender isso, temos que revisitar o início da história, quando o rio foi descoberto pelo italiano Américo Vespúcio, em 1501. Na ocasião, ele escreveu uma carta eloquente ao rei de Portugal, absorto com o volume de água que saía do

continente. Ele estava sem palavras diante do fato de que, 200 milhas para dentro, a água era doce. Quando você vai hoje ao rio, vive o inverso: o mar invadindo o continente. A 200 milhas, a água é salobra. Mataram-se os peixes, foram construídas hidrelétricas, muitas delas sem necessidade alguma, o que alterou totalmente a fauna e a flora do Rio São Francisco.

Detalhe do ambiente “chico morre no mar”, com mil peixes coloridos feitos de garrafa PET e quase quatro milhões de canudinhos manoelbernardes.com.br

Muitas cidades com cemitérios indígenas de três mil anos desapareceram com as barragens. Isso evidencia o descaso com as águas no Brasil. Talvez por isso essa coleção e essa exposição tenham despertado tanto a atenção da imprensa internacional. RMB – Você diz que se embebeu das águas e da cultura do rio. De que maneira a jornada o transformou? RF – Eu já vinha desenvolvendo um trabalho de me aproximar da formação da cultura e do povo brasileiros. De estabelecer diálogos com grupos de artesãos e ribeirinhos no Nordeste e no Sul do país. No caso do São Francisco, há uma cultura muito específica, não importa se você está na Bahia, em Minas, em Sergipe ou Alagoas. Quando falamos do rio, não estamos falando só de um desastre ambiental, mas também de um desastre cultural. Com a morte do rio e dos peixes, você fala da morte da ancestralidade de um povo. Mata-se com isso os costumes, a história. Eu me preocupo com a questão de as novas gerações não carregarem a mesma emoção e o mesmo brilho dos olhos de seus pais.



Arte e culturA •

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Fênix

O jardim, com esculturas romanas e gregas, é a única parte mutante do museu

Museu Isabella Stewart Gardner, a obra da vida de uma mulher extraordinária

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Fotos: sean Dungan / cortesia isGM

No casarão da área nobre de Back Bay, em Boston, Massachusetts, a figura de uma fênix e a inscrição abaixo dela iniciam a visita. “C’est mon plaisir”, diz a dama que ali habita aos milhares que visitam sua morada todos os anos. A dama está partout. Nos quatro amplos andares, nos 19 cômodos, nos 2.500 objetos – pinturas, esculturas, tapeçarias, móveis, manuscritos e livros raros. Seja bem-vindo ao Museu Isabella Stewart Gardner, um refúgio único e espetacular, paralelo fiel de sua criadora.

uma das obras mais importantes: Europa, de Ticiano manoelbernardes.com.br


Mrs. Jack, como também era chamada a esposa de John L. “Jack” Gardner, era uma daquelas figuras inquietas, que fascinavam e escandalizavam a imprensa local no início do século 18. Paradoxal – e, por que não, bostoniana típica –, Isabella amava a Orquestra Sinfônica da cidade, o time de futebol americano de Harvard e o beisebol do Red Sox. Dos reveses da vida, perdeu seu filho Jackie para a pneumonia aos dois anos de idade. Com a alma e a mente adoecidas, ela partiu em uma viagem por Escandinávia, Rússia, Viena e Paris. Voltou pronta para fazer de sua existência algo relevante para todo o sempre. Em 1917, escreveu: “Anos atrás decidi que a maior carência de nosso país é a arte... Então, determinei fazer disso a obra de minha vida se puder”.

Todo o museu está intacto, assim como sua criadora ordenou

Para se recuperar de uma grande dor, Isabella Gardner construiu um museu para a humanidade

A sala gótica conta com obras de Giotto, simone Martini e vitrais de passagens bíblicas


Arte e culturA •

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

A coleção está permanentemente exibida conforme a estética e a intenção da mecenas

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Dutch Room: Rubens, Rembrandt, Van Dyck, entre outros

A cura pela arte se deu por meio de Michelangelo, Ticiano, Rafael, Botticelli, Rubens, Manet, Degas, Velázquez, Rembrandt, Whistler, Sargent e tantos outros. Nome importante da arte norte-americana, John Singer Sargent não pôde deixar de retratar a patrona e amiga. Em seu testamento, Isabella estipulou que a residência deveria ser mantida “para a educação e o gozo do público para sempre”. Antes chamado de Fenway Court, o Museu Isabella Stewart Gardner mantém o prestígio de ser a única coleção de arte privada em que o prédio, o acervo e as instalações foram criados por um só indivíduo. Aquele que passeia pelas galerias se sente acolhido, caminha como se visitasse a casa de um conhecido, e murmura para si só “Obrigado, Isabella”. Coração da

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Retrato de isabella Gardner, por John singer sargent

propriedade, o jardim em estilo veneziano localizado ao centro é a única parte mutante. Seus displays floridos são renovados a cada mês. Em janeiro de 2012, o ISGM inaugura uma nova ala, projetada pelo arquiteto Renzo Piano, ganhador do Prêmio Pritzker. Outra surpresa do local é que todas aquelas que foram batizadas “Isabella” nunca pagam para entrar. Com licença e... Obrigado, Isabella!


Ref.: EBM5948


it tips •

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indulgence Estadia que mexe com os sentidos: o One&Only Cape Town tem quartos decorados com cores vibrantes, equipados com som da Bose, lençóis mais do que macios e sol morno no pátio privado. Diariamente, delivery especial de frutas tropicais. O spa oferece o

ápice do relaxamento e a espelhada piscina, a desejada tranquilidade. Os restaurantes têm chefs renomados: o célebre japonês Nobu, de Nobuyuki Matsuhisa, e Reuben, de Reuben Riffel, com deliciosa comida de bistrô. capetown.oneandonlyresorts.com

EM uM Só LUGAR No coração do porto de Cape Town, o centro comercial V&A Waterfront chama a atenção pela variedade quase infinita de serviços – de sightseeing à pesca, dos iates às compras, passando por mais de 80 restaurantes, 450 lojas, hotelaria, marina, entre muitos outros. Sua história começa com um discreto cais, em 1654, que evoluiu para porto ao longo dos séculos, até 1988, quando acumulou sua nova função. waterfront.co.za

Hotel galeria

Sidecar Fotos: Divulgação

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CAPE tOWN

Um dos apelos do Ellerman House é a grande coleção de arte sul-africana que hospeda. Além disso, o serviço impecável o levou à Gold List 2010 da Condé Nast. A espaçosa casa branca, instalada em um cenário dramático, entre montanhas e o oceano da Bantry Bay, preza pela exclusividade e pela privacidade. O restaurante explora os sabores da cozinha local e dispõe de uma imensa adega com 7.500 rótulos. ellerman.co.za manoelbernardes.com.br

O passeio promovido pela Cape Sidecar Adventures é dos mais originais: o passageiro vai no compartimento lateral – sidecar – de uma autêntica motocicleta do tempo da Segunda Guerra Mundial. São diversos ro-

teiros a escolher, como uma volta pela península de Cape Town, com parada estratégica na colônia de pinguins. A empresa tem frota de 25 veículos, o que possibilita tours com até 50 pessoas. sidecars.co.za


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it tips •

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OPULÊNCIA CHIC

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O hotel W Istanbul está no coração do bairro mais elegante da cidade, Akaretler Row. Aproveite o melhor dos dois mundos entre o antigo e a metrópole moderna, muito perto das melhores atrações: mágicas mesquitas, minaretes, bazares exóticos e a ponte do Bósforo. A decoração dos quartos é inspirada no luxo dos haréns turcos com toques contemporâneos. Nos restaurantes Frederic’s e Minyon, aprecie vistas surpreendentes acompanhadas de sabores exóticos e deliciosos. starwoodhotels.com

IStAMBUl

O Anjelique, misto de restaurante e casa noturna, fica instalado em uma bela mansão de três andares com vista magnífica para o Estreito de Bósforo. O menu é variado e inclui sabores das cuisines asiática e mediterrânea contemporânea. Para acompanhar, adega com destaque para a seleção de vinhos turcos. Com o fim do jantar, a música continua até o amanhecer, saindo das pick-ups de dois badalados DJs, um em cada ambiente da casa. istanbuldoors.com/anjelique

Deleite Doce com história é a melhor definição do Turkish Delight, delicadeza saborosa com mais de cinco séculos de tradição, conhecida na Turquia como Lokum Rahat, ou “alegria para a garganta”. Na confeitaria Divan, há dezenas de variedades, como rosa & limão, canela, café turco e gengibre. Para os amantes do cacau, versões de pistache ou rosas cobertos com chocolate são uma boa pedida. Destaque para as embalagens para presente, com interpretações modernas de motivos Selçuk turcos. divanpastaneleri.com.tr

Mediterranean A cada seis semanas, o menu do restaurante Mimolett é revisado para utilizar sempre ingredientes frescos. Localizado em um edifício centenário no bairro de Cihangir, com piso de cerâmica armênia do início do século 20, oferece opções à la carte e menu

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degustação da cozinha mediterrânea, com assinatura do chef Murat Bozok. A decoração sofisticada centraliza o foco em um enorme lustre de murano, que faz o contraste de cores fortes como roxo, cinza e marrom. mimolett.com.tr

Fotos: Divulgação

ATÉ O SOl NAscER


Ref.: OMK8182


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LOJA

histórica

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Desde o século 15, a Praça Vermelha é o centro do comércio de Moscou, o que se intensificou quando o czar Alexander I ordenou a construção de um gigantesco complexo de lojas no local. O edifício ficou pronto em 1893, com arquitetura original, que mistura vidro e metal a tradicionais paredes russas.

Na época da revolução, o espaço foi ocupado pelo governo e, em 1953, uma grande reforma deu origem à maior loja do país: a GUM. Atualmente, é possível encontrar uma variedade infinita de lojas e serviços – de Louis Vuitton a Wolford. gum.ru

MOSCOU

Luxo russo

Em cenário dramático, o Hotel Ritz-Carlton Moscou fica perto da Praça Vermelha e do Kremlin, o que facilita a exploração do universo russo. A decoração não perde pontos para as atrações turísticas over the top pela cidade: opulência é regra neste hotel, que,

Está agendada para outubro a reinauguração do palco principal do clássico Teatro Bolshoi, em reforma desde 2005. Quintessência da cultura musical russa, o teatro – fundado em 1776 – objetiva hoje integrar a herança clássica em um contexto de grandes mudanças culturais. Por exemplo, com a chegada do novo milênio, suas companhias – de balé, ópera e orquestra – iniciaram a inclusão de produções de compositores russos do século XX. bolshoi.ru manoelbernardes.com.br

Dois hectares de cultura No lugar do inebriante aroma do vinho, os 20 mil metros quadrados da antiga vinícola Winzavod abrigam hoje as principais galerias de arte contemporânea da Rússia – XL, Aidan, M&J Guelman, Regina e outras oito. O local contém ainda estúdios artísticos e fotográficos, agências de publicidade, lojas de roupa, escola de styling, artigos de arte, livraria e café. Um verdadeiro centro cultural a 15 minutos de carro do Kremlin. winzavod.com Fotos: Divulgação

RE NOvA DO

mesmo assim, não perde o conforto necessário para uma estadia perfeita. No último piso, o Lounge O2 é point da cidade, com sushi bar durante o dia e clube chic durante a noite. ritzcarltonmoscow.com


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it tips •

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

Forno

ECO-CHIC

COOL

Uma casa modernista, um imenso forno a lenha e registros de viagens do proprietário e chef Beto Madalosso decorando as paredes. Assim é a Forneria Copacabana, novo point em Curitiba. Cercada de verde, sua área externa possui mesas ao redor de um espelho d’água e aquecedores para amenizar o frio do sul. No cardápio, pratos repletos de referências do mundo inteiro. forneriacopacabana.com.br

PLuRALIDADE

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BRASIl BISTRÔ

tropical

Localizada na Rua da Moeda, centro de efervescência cultural do Recife, a Arte Plural é um espaço de convergência para profissionais e amantes das artes na cidade. Nos últimos anos, a galeria, instalada em um antigo casarão vermelho, vem trabalhando com ênfase as artes plásticas e a fotografia, preenchendo lacuna existente aos novos profissionais das áreas. No mês de setembro, a mostra Octa reúne oito nomes das artes plásticas do estado. artepluralgaleria.com.br

A inspiração das proprietárias Zazá Piereck e Preta Moysés para a criação dos pratos e da ambientação do carioca Zazá Bistrô são as viagens que fazem pelo mundo. O restaurante é berço cultural da festa Bailinho e de bandas como Pedro Luís e a Parede. Nos pratos contemporâneos, alimentos orgânicos. A dica é escolher a mesa na varanda, com a brisa do mar batendo no rosto. Afinal, como afirmam as proprietárias, “comer é um encantamento dos sentidos”. zazabistro.com.br manoelbernardes.com.br

Fotos: Divulgação

A 30 quilômetros de Maceió, na Barra de São Miguel, o Kenoa Resort explora nova proposta, o eco-chic design resort. Abraçado ao norte por quilômetros de mata, tem projeto assinado pelo arquiteto Osvaldo Tenório, que explora cores, texturas e aromas. Pedra, reboco rústico africano, madeira, ferro e telhados de piaçava natural se misturam harmoniosamente aos verdes do litoral alagoano. O restaurante, a cargo do chef César dos Santos, traz o Nordeste brasileiro com pitadas de Portugal. kenoaresort.com



vitrine •

r e v i s t a m a n o e l b e r n a r d e s

Be Fancy a

s linhas modernas do art déco estruturam a

coleção Fancy Cut, com forte viés geométrico,

inspirada na arquitetura e no estilo aristocrático observado entre os anos 1930 e 1950. Ao design, soma-se a experiência da Manoel Bernardes em lapidações diferenciadas, com um resultado rico e, ao mesmo tempo, contemporâneo.

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