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8. CONTROLE
Para controlar as doenças transmitidas pelos mosquitos, além de combater o próprio mosquito, outras três medidas podem ser tomadas de maneira conjunta: prevenção da picada dos insetos, tratamento dos doentes e imunização da população.
Controle das doenças
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Prevenção da picada do mosquito
Além da aplicação de repelentes, usar roupas que protejam pernas e braços ajuda a evitar as picadas dos mosquitos. Isso é difícil num país quente como o nosso, mas é uma dica valiosa quando nos deslocamos para áreas endêmicas, como em florestas que abrigam o Anopheles, o mosquito da malária.
O Aedes aegypti, por voar baixo, geralmente pica as pessoas nos pés e pernas. Para evitar sua picada, calças compridas são uma boa escolha. Mas como ele tem rejeição à claridade e atração pelo calor, as roupas de tecido escuro atraem ainda mais este mosquito. Então procure sempre utilizar roupas claras. Outra medida eficaz é a instalação de telas em portas e janelas, pois, dessa forma, os mosquitos não conseguem entrar nas casas, evitando assim as picadas.
Tratamento dos Doentes
O tratamento correto da doença não só auxilia na prevenção de novos casos como também é determinante para melhorar a qualidade de vida das pessoas infectadas. Se o
mosquito picar alguém infectado com dengue, ele irá transmitir o vírus a outras pessoas daquela população. Portanto, quanto menor for o número de pessoas carregando o vírus no sangue, menor será a chance de o mosquito transmitir a doença naquela região.
Imunização da População
Créditos: Camilla Carvalho/Acervo Instituto Butantan
É um dos processos mais eficiente em diminuir ou até mesmo eliminar a incidência de doenças na população. A forma mais comum de imunização é a vacinação, onde substâncias ou microrganismos são introduzidos no corpo da pessoa para estimular a reação do sistema imune.
Uma vacina é produzida a partir de substâncias infectantes (proteínas, toxinas), partes de vírus e bactérias, ou, ainda, de bactérias ou vírus completos atenuados ou mortos. Tais partículas não são capazes de desenvolver a doença no organismo, uma vez que são enfraquecidas, no entanto, induzem o sistema imune a produzir anticorpos, que são moléculas específicas de defesa, cuja função é proteger contra doenças.
O problema é que a maioria das doenças transmitidas por mosquitos ainda não têm vacinas. O Instituto Butantan está testando uma vacina para a dengue, contra os quatro sorotipos. Ela está na última fase de testes e será extremamente importante no controle da epidemia que o Brasil tem enfrentado nos últimos anos.
VOCÊ SABIA?
O uso das vacinas, além de prevenir, pode erradicar doenças, como ocorreu com a varíola. No entanto, as constantes mutações pelas quais passam esses microrganismos (com destaque para os vírus) dificultam a erradicação das doenças causadas por eles. Por isso, novas versões da vacina contra um mesmo agente são frequentemente desenvolvidas, como é o caso da gripe.
Controle dos mosquitos
Existem diversas maneiras de controlar os mosquitos, porém, também são diversas as dificuldades de colocá-las em prática e de uma forma realmente efetiva. O ideal é que exista um controle integrado, que inclua diferentes métodos aplicados ao mesmo tempo.
Créditos: Centers for Disease Control and Prevention: James Gathany
O Aedes aegypti é um mosquito bem famoso, pois ele vem transmitindo os vírus da Dengue, Zika e Chikungunya em larga escala no Brasil ultimamente. Ele também é responsável pela transmissão do vírus da Febre Amarela Urbana no país. Esse mosquito foi observado pela primeira vez no Brasil no final do século 19 e no inicio do século 20. Foi erradicado do Brasil em 1955, mas voltou em 1968. Ele tem origem egípcia, no entanto, sua dispersão pelo mundo ocorreu a partir da África, provavelmente com o tráfico de escravos. A infestação é sempre mais intensa no verão, em função da elevação da temperatura e da intensificação de chuvas – fatores que propiciam a reprodução do mosquito.
Tipo de controle
Mecânico
Químico
Biológico
Coleta massiva
Supressão populacional
Envolvimento da comunidade
Controle manual com a vistoria semanal dos possíveis criadouros. Geralmente este controle é realizado pela equipe da vigilância sanitária, mas também deve ser feito pelos próprios moradores. Aplicação de inseticidas químicos como, por exemplo, o “fumacê”, realizado pela equipe da vigilância sanitária. Controle realizado geralmente em época de epidemia, através da aplicação de indivíduos de outra espécie animal que possuem o hábito de se alimentarem de larvas de mosquitos ou causam alguma intoxicação. Como exemplo, temos os indivíduos do gênero Toxorhynchites (em sua fase larval), peixes do gênero Poecilia, bactérias Bacillus thuringiensis israelensis. Controle geralmente realizado em época de epidemia, onde os funcionários da vigilância sanitária distribuem armadilhas (geralmente para a fase imatura - ovo, larva e pupa). Utilização de técnicas, como engenharia genética. com o objetivo de diminuir a população dos mosquitos, matando a prole ou deixando alguns indivíduos estéreis. Atividades de educação ambiental e difusão científica, com o objetivo de informar e esclarecer dúvidas da população e envolver a comunidade no controle destes insetos.
Novos testes e técnicas de controle vetorial estão sendo pesquisados e lançados diariamente, como:
• Modificação de um pedaço do material genético dos mosquitos, com o objetivo de matar os seus descendentes; • Inserção de bactérias no organismo para interferir na transmissão de algum patógeno ou na produção de descendentes;
• Modificação de algum microrganismo e a inserção deste mesmo indivíduo dentro dos mosquitos para também influenciar na dinâmica da transmissão das doenças; • Esterilização dos mosquitos machos, fazendo com que não gerem mais descendentes.
Nós, como cidadãos, devemos contribuir com o controle dos mosquitos, desempenhando ações como limpar o quintal, não jogar lixo na rua, e conversar com os vizinhos, amigos e familiares para que façam a mesma coisa.
Para se protegerem, algumas pessoas utilizam receitas caseiras de repelente e inseticida, porém, como cientistas, acreditamos apenas no que já foi comprovado cientificamente. Isso não significa que as receitas caseiras são uma mentira, mas sim que quando fazemos
Créditos: Max Malmann
uma receita desse tipo, não sabemos qual o efeito causado pela quantidade de produto que foi colocado, qual a toxicidade causada por este produto, etc. Por isso, sempre aconselhamos que haja muita cautela no uso destas práticas.
O Aedes aegypti, uma espécie exótica, ou seja, que não é brasileira, já foi erradicado há tempos, e, dessa forma, se a eliminarmos novamente é provável que não haverá problema algum ao ecossistema do país. Outras medidas de erradicação de mosquitos já foram tomadas no Brasil e no mundo, na década de 40, aplicando-se o inseticida conhecido como “Verde de Paris”, para eliminar um dos transmissores da malária Anopheles gambiae do território nacional, e em 1949 foi utilizado DDT nos Estados Unidos para acabar com a transmissão de malária.
No entanto, estudos demonstraram que não adianta o esforço para eliminar uma única espécie de mosquito, já que o seu nicho logo será ocupado por uma nova espécie. Os mosquitos e os patógenos são muito adaptáveis e flexíveis, dessa forma, outras espécies de mosquitos estarão participando da transmissão das doenças. Os resultados das aplicações dos inseticidas também causaram problemas no meio ambiente, afetando a saúde humana e dos animais devido aos danos causados pelo uso desses componentes. Dessa forma, devemos manter os métodos de controle e criar novos, trabalhando sempre de forma integrada. Assim poderemos manter as populações de mosquitos em uma densidade baixa, a qual impossibilite o surgimento de novas epidemias. Desse jeito poderemos viver em “harmonia” com eles.