PitubAmaralina: reconectando a cidade ao mar by camspassos

PITUB

RECONECTANDO A CIDADE AO MAR

MARALINA

C A M I L A P A S S O S F A U F B A

CAMILA SANTOS PASSOS TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

pitubAmaralina RECONECTANDO A CIDADE AO MAR

ORIENTAÇÃO: MARCOS QUEIROZ

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA Salvador, Bahia 2017 3

AGRADECIMENTOS À minha mãe, por ter sido até escala gráfica nesse trabalho, ao meu pai por todas as caronas nesses vários anos de faculdade e ao meu irmão por todas as consultorias jurídicas. Vocês são os maiores exemplos da minha vida, obrigada por constantemente me lembrarem que educação e o amor são nossos maiores bens. À minha família, por todo apoio. Em especial às minhas três tias pedagogas, Tia Cris, Tia Sana e Tia Vera, que, cada uma a seu jeito, me ensinaram tanto. Aos meus queridos amigos do colégio São Paulo, que me acompanharam e incentivaram desde o vestibular até a graduação (e espero que até o mestrado, doutorado e tudo mais que vier). Jota, Sô, Leite, Maribê, Yo, vocês não tem ideia do quanto esse trabalho é de vocês também! Ao Natolino, por estar perto mesmo estando tão longe, sempre acreditando que daria tudo certo. Obrigada por ter feito todos os freelas de redator e DA! A Marcos, por ter sido orientador, psicólogo e, principalmente, humorista. Agradeço o apoio da professora Rosana Munoz e do professor José Fernando Minho, que me auxiliaram no projeto estrutural. À Ariadne, Baqueiro e Juliana, por terem aceitado o convite para compor minha banca, contribuindo bastante para o trabalho. À professora Thais Rosa, que me convidou para ser monitora na disciplina História do Urbanismo e contribui muito para o meu interesse nas cidades. Ao Atelier 5, que, além de ter sido o momento onde defini o tema e o modo como conduziria esse trabalho, foi onde formei o grupo que tanto me apoiou nesse período conturbado. Beca, Clarinha, Gabs e Flavinho, obrigada por terem me “Carregado nas Costas.” À Iane, minha amiga arquiteta linda, referência de profissional mesmo sendo tão nova. Muito obrigada pela ajuda! Você vai dominar o mundo! À todas as oportunidades de estágio que tive e a todos os profissionais com quem trabalhei. De produção de eventos, a relações internacionais e desenvolvimento econômico, todos eles contribuíram pra ampliar minha formação. Por fim, não poderia deixar de agradecer às quatro cidades onde morei. Aracaju, Fortaleza, Manchester e Salvador são as responsáveis por me fazer tão apaixonada por essa loucura da vida urbana. Que venham muitas outras! 4

ÍNDICE Introdução 6 JUSTIFICATIVA �� 7 OBJETIVOS �� 8 METODOLOGIA �� 9

A Cidade e o Mar

A EXPANSÃO PELO MAR �� 11 SALVADOR E O MAR �� 12 AS RELAÇÕES COM O MAR �� 13 DISTANCIAMENTO DO MAR �� 14

Requalificações de Frentes de Água

PRINCÍPIOS E CASOS INTERNACIONAIS �� 17 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO �� 18 “NOVA” ORLA DE SALVADOR �� 19

Amaralina e Pituba

EVOLUÇÃO URBANA �� 25 ÁREA DE APROXIMAÇÃO �� 30 ANÁLISE TERRITORIAL �� 34 APREENSÃO SENSÍVEL �� 52

Proposta Projetual

CONCEITUAÇÃO �� 81 DIRETRIZES PROJETUAIS �� 82 ESTRATÉGIAS PARA VIABILIDADE �� 83 PROJETO URBANO �� 85

Anexos

134

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS �� 134 LISTA DE FIGURAS �� 138 PARECER DA PRÉ-BANCA �� 142 5

CAPÍTULO I

Introdução

JUSTIFICATIVA

FIG 01

As cidades sempre possuíram uma relação de dependência com as frentes de água. No contexto de Salvador, essa relação é ainda mais evidente, já que foi escolhida como sede do Império Português devido a sua conformação física e interação com o mar, possuindo mais de 50km de costa. Nas últimas décadas, devido ao cenário de violência e de poluição das águas, certos trechos da orla de Salvador foram se desconectando da dinâmica urbana, criando um distanciamento entre as pessoas e o mar. A partir da escolha do Brasil como sede da Copa de 2014, Salvador entrou para a “corrida” das cidades globais, preparando um Planejamento Estratégico muito voltado para a espetacularização. A requalificação das orlas foi um dos principais pontos desse Planejamento, recebendo muita atenção da Prefeitura a partir de então. Seria a oportunidade do poder público, junto a população, desenvolver projetos que integrassem mais as áreas de borda, com preocupação com o meio ambiente e as relações socioeconômicas existentes. Porém, o poder público ainda tem falhado em identificar e reconhecer a importância dessas dinâmicas e, muitas vezes, prejudica as relações e desconecta ainda mais a cidade do mar, criando espaços mais voltados para o turismo do que para o cotidiano urbano da população. O presente Trabalho Final de Graduação tem como intenção buscar maneiras de apreender as relações existentes nas Orlas de Amaralina e Pituba e, a partir delas, propor um projeto de Requalificação desse espaço, com o intuito de reconectar as dinâmicas desses bairros ao mar. 7

OBJETIVOS Intensificar a conexão da cidade com a sua frente marítima através da elaboração de um projeto urbano para o trecho de Amaralina e Pituba. Para alcançar tal propósito, foram traçados os seguintes objetivos específicos: •

•

Estudar a relação histórica das cidades com as frentes de água e suas transformações ao longo do tempo. Propor requalificação da orla a partir do entendimento dela como peça fundamental para estruturação dos bairros adjacentes. Compreender como as ações do Estado, mercado imobiliário e das pessoas interferem na formação desse espaço de borda marítima. Estudar a evolução urbana da área, tentando compreender as temporalidades, as diferentes dinâmicas existentes (inclusive as já extintas) e os agentes que construíram esse espaço. Se aproximar da população presente nesse espaço na tentativa de entender os usos, necessidades, tensões e potencialidades. Recuperar a relação entre a população local e as praias urbanas, reconquistando essas orlas como espaços públicos de interação social.

METODOLOGIA

FIG 02

O presente trabalho parte de um questionamento sobre um espaço da cidade, então não poderia se iniciar de outra forma que não com a busca por uma compreensão profunda sobre o local. No entanto, é premissa desse trabalho tentar se afastar de um processo linear, entendendo que as informações, as aproximações com o espaço e com a população e a elaboração de propostas devem se retroalimentar, tentando evitar a perda de dados e questionamentos. Então, apesar de partir da pesquisa, é um processo que se intercala e se sobrepõe constantemente. Para essa compreensão das Orlas, foram usados dados socioeconômicos oficiais, foi feita uma pesquisa sobre a evolução urbana dos dois bairros e um levantamento da situação infraestrutural, mas, principalmente, houve a tentativa de uma aproximação mais sensível, mais ao nível da rua. A ideia é que para alcançar o objetivo de reconectar as dinâmicas da cidade ao mar, o principal era entender como as relações humanas se davam naquele espaço e quais são suas tensões e potencialidades. Para esse fim, foram utilizados os métodos de apreensão da caminhada e da deriva, sempre usando o levantamento fotográfico e a elaboração de relatos de forma auxiliar. Também foram realizadas entrevistas a partir de um questionário, que tinha como principal finalidade promover uma aproximação maior com a população. Outra premissa desse trabalho foi de, sempre que possível, cartografar as informações apreendidas, tentando compreender melhor como os acontecimentos e características se

projetam no espaço físico e as implicações disso. Essa prática ajudou muito no momento propositivo, já que a elaboração do projeto se baseou bastante nas análises encontradas na sobreposição desses mapas. Além da busca pelo entendimento da situação específica do local, foi feito um estudo sobre as relações humanas com o mar, como elas tem se alterado ao longo do tempo, e como os arquitetos, urbanistas e o poder público tem agido frente a essas relações. Essa pesquisa ajudou a criar uma compreensão mais ampla a respeito dos projetos para as frentes de água, mas principalmente em relação ao descaso recorrente do poder público com a população e com as dinâmicas existentes, não só nas experiências brasileiras, mas internacionais também. Esse entendimento foi fundamental para elaboração de um projeto que não nega totalmente o que o poder público tem de propostas para a área, mas que coloca como principal fator nos momentos de decisão projetual as relações humanas, garantindo e incentivando a permanência das pessoas, que são o principal agente formador do espaço público.

A Cidade e o Mar

CAPÍTULO II

10 FIG 03

A EXPANSÃO PELO MAR A água é um elemento essencial para a vida, logo as primeiras aglomerações humanas precisavam estar localizadas próximas aos corpos d’água e possuíam uma relação intrínseca com eles, especialmente aqueles de água doce. Com o desenvolvimento das civilizações e de suas técnicas, o homem passou a utilizar os mares. Primeiramente como fonte para obtenção de alimentos e depois como meio

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Israel, como alternativa às dificuldades de cultivo em suas terras, desenvolveram uma habilidade maior com o comércio, por conta da localização estratégica no Oriente Médio, e à navegação, por estarem situados à beira do Mar Mediterrâneo. Essa conexão entre Oriente e Ocidente prosperou, levando as cidadesestados a se desenvolverem, trazendo inclusive grandes contribuições históricas, como o alfabeto fenício. Assim, se estabeleceu o primeiro sistema de comércio baseado no transporte náutico pelo Mar Mediterrâneo (AUBET, 2001), iniciando o uso dessa rota que seria palco para o desenvolvimento de outras civilizações, da Antiguidade ao período Renascentista. Mesmo durante o período Medieval, certas cidades Italianas permaneceram comercialmente ativas, principalmente devido a venda de especiarias e artigos de luxo trazidos do Oriente através do Mediterrâneo. Como essa rota estava sob domínio exclusivo

italiano, eles detinham o monopólio desse negócio e cobravam valores absurdos pelos produtos. Com a crise do sistema feudal e o Renascimento, veio a necessidade de reinventar o comércio Europeu, conseguir matéria prima para a produção manufatureira que se desenvolvia e terras férteis para produção de alimentos. Logo, para entrar nessa disputa comercial, as outras Nações dependiam da descoberta de rotas alternativas ao Mediterrâneo para alcançar o Oriente e da conquista de novas terras para exploração. Portugal, que já possuía uma intensa relação com o mar por causa da forte atividade pesqueira da região, se destacou nessa empreitada, conquistando vários territórios nas costas Africanas e Asiática e chegando ao “Novo Mundo” em 1500, se tornando, assim, a maior potência econômica do período.

de transporte. A opção de se locomover pelos mares levou ao crescimento das cidades à beira-mar e trouxe outra possibilidade de vencer distâncias e conectar povos, incentivando as atividades comerciais e a exploração de novos territórios, principalmente nas aglomerações onde a improdutividade do solo forçava seus habitantes a procurar outras formas de sustento. Os Fenícios, povo originário da costa atualmente dividida entre Síria, Líbano e FIG 05

FIG 06 11

SALVADOR E O MAR Os domínios Portugueses eram considerados parte de um Império Marítimo justamente porque, nesse primeiro momento, a dominação se dava muito mais através da subjugação de pontos estratégicos e do controle das rotas marítimas do que pela apropriação e ocupação definitiva dos territórios (BOXER, 2002). Por esse caráter de domínio através das rotas marítimas, as principais ocupações do Império foram implantadas nas costas das colônias em localizações com forte predisposição portuária e nas melhores rotas possíveis para os colonizadores. Salvador, primeira capital do Brasil, foi fundada em 1549 pelo então Governadorgeral, Thomé de Souza. Seu posicionamento estratégico, numa extensa baía, e sua formação topográfica atípica, que possibilita uma ampla visão do continente e atribui um caráter de fortaleza, foram cruciais para a escolha da localização como sede do Império em terras

brasileiras, revelando assim a relação profunda que a cidade possui com o mar desde seu princípio. Essas características de implantação são típicas do urbanismo português produzido na época, como é possível notar nas semelhanças encontradas na comparação entre as imagens das cidades do Porto, Coimbra e Salvador. Para além do aspecto morfológico, a cidade se desenvolveu economicamente por atividades ligadas ao mar. Seu porto era um dos mais movimentados das Américas, escoando a produção de cana-de-açúcar advinda do Recôncavo Baiano e recebendo o enorme contingente de escravos vindos da África. A pesca, que inicialmente foi fonte de subsistência para grupos oprimidos (SILVA, 1988), como os indígenas (que já praticavam a pesca antes da chegada dos colonizadores) e os escravos africanos (que possuíam táticas de pesca a alto mar, inclusive para captura de baleias), depois passou a ser também incorporada às atividades extrativas oficiais. Uma das primeiras ocupações na

FIG 07 - Cidade do Porto

FIG 08 - Cidade de Coimbra

FIG 09 - Frontispício de Salvador 12

Costa Atlântica também possui relação com a atividade pesqueira. Data de meados do Século XVI, quando o náufrago Diogo Álvares Correia, o Caramuru, passa a intermediar relações comerciais entre Europeus e Indígenas, posteriormente estabelecendo uma vila de pescadores onde atualmente se encontra o Rio Vermelho. Outro bairro da cidade que tem como origem uma vila de pescadores é Itapuã, local onde no Século XVII se instalou uma Armação Baleeira. Só a partir do Século XIX, devido à necessidade de modernização da cidade, ampliação de vias para carros e projetos sanitaristas, as ocupações na borda Atlântica passaram de esporádicas para mais consolidadas, quando Salvador passou a ter essa orla como eixo de expansão. Esse processo ganhou força a partir das obras de JJ Seabra, principalmente a de abertura da Avenida Sete de Setembro, que conectou o Centro Histórico ao Farol da Barra,

possibilitando a ocupação mais consolidada de todo esse percurso. A partir de então, as obras estruturantes foram acontecendo nesse sentido, como a Avenida Oceânica inaugurada em 1942, que ligou o Farol da Barra à praia de Itapuã, conectando praticamente toda a orla Atlântica contida no território da cidade. Atualmente, esse processo de crescimento no sentido norte ainda persiste e já gerou conurbação com os municípios de Lauro de Freitas e Camaçari. Boa parte dessa expansão foi feita pelo mercado imobiliário, tendo ocorrido vários casos críticos de descaso com o meio ambiente e de conflitos entre interesses socioeconômicos distintos. Apesar da população da Orla Atlântica ser, em sua maioria, de classe média e alta, que possuem condições de acesso ao mercado formal, existem alguns enclaves como o Calabar, o Nordeste de Amaralina e a Boca do Rio. Esses bairros populares abrigam habitantes de baixa renda que lutam para permanecerem próximos às áreas bem estruturadas da cidade e às oportunidades de emprego.

AS RELAÇÕES COM O MAR Mais que uma fonte de subsistência ou forma de locomoção, o mar sempre representou desafios, mistérios e beleza para o homem. Durante séculos, acreditouse que os oceanos possuíam um fim e que este também seria o fim do mundo, ou seja, o mar era o limite, a partir de certo ponto era o desconhecido. Mapas com gravuras de criaturas monstruosas

revelam o medo do homem perante às forças do mar e uma tentativa de elucidar os fenômenos que nele ocorriam, até então desconhecidos ou inexplicáveis pela ciência. Por esse reconhecimento da força dos mares e dos seus mistérios, as atividades marítimas sempre representaram uma aventura à alma humana. Histórias épicas foram escritas contando a trajetória daqueles corajosos que enfrentaram essa força, desde a Grécia Antiga, com A Odisseia, ao século XIX com Moby Dick, às inúmeras histórias de Piratas que deslumbram crianças e adultos até hoje. O mar, as angústias, desejos e paixões que a ele remetem, também foram representados em pinturas, esculturas e músicas, revelando a extensa fascinação do homem e suas possibilidades de demonstrá-las. A partir das Grandes Navegações, o mar ganhou ainda mais um caráter de negócios, sinônimo de riqueza e prosperidade. Os portos

FIG 10 13

FIG 11

se desenvolveram, gerando emprego e renda, mas também uma conexão entre o mar e aqueles que trabalhavam ali cotidianamente. A Revolução Industrial veio reforçar esse processo e a relação laboral que o mar possuía com seus usuários, especialmente na Europa e EUA. No Brasil, essa relação do homem e o mar aparece de maneira bem distinta. É no gingado de um povo que enfrenta turbulências todos os dias para sobreviver, na força de um povo escravizado que foi separado de sua terra por esse mesmo mar, na paixão e no calor de um povo que vive entre as belezas de FIG 12, 13, 14 um país tropical. Muito bem representada nas músicas de Vinicius e Caymmi, nos textos de Jorge Amado, nas imagens de Verger, nos traçados de Burle Marx e nos desenhos de Carybé, essa relação profunda é conhecida internacionalmente. Pela quantidade de vezes que esses artistas representaram especificamente Salvador, é possível notar como a cidade emana intensamente essa relação com o mar. É

também aqui que o mar encontra o religioso, o festivo e a gastronomia, com as festas de Bom Jesus dos Navegantes, de Nossa Senhora da Praia e, principalmente, de Yemanjá, no 2 de fevereiro, quando se agradece à deusa das águas, protetora dos pescadores. O mar é cotidiano para o soteropolitano, desde o “baba” nas areias da praia, ao dia de domingo lotado no Porto da Barra, à contemplação pela janela do ônibus ao passar pela orla, à gastronomia local repleta de frutos do mar. Numa cidade tão carente de espaços públicos de lazer e socialização, é essencial preservar e valorizar esse vínculo de diversas maneiras.

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DISTANCIAMENTO DO MAR O processo de distanciamento do mar que pretendo explicar não foi homogêneo, não ocorreu no mesmo período, ou sequer foi presente em todas as cidades litorâneas. Foram inúmeros processos, de diferentes origens, escalas e características, mas que atualmente têm levado, muitas vezes, a consequências e tratamentos semelhantes. Começarei pelo cenário internacional, particularmente nas cidades Europeias e Estadunidenses que se desenvolveram durante a Revolução Industrial. Era tática comum para o escoamento da produção das fábricas o uso de transporte hidroviário, fosse por corpos d’água já existentes ou pela construção de uma rede de canais auxiliares para esse fim. As cidades, então, possuíam uma relação laboral muito grande com as frentes de água, com indústrias, galpões, portos e vilas operárias se instalando em sua borda e proporcionando um uso constante e ativo para esses espaços (DUELL, 2013).

FIG 16

Após a Segunda Guerra Mundial, o uso de containers se tornou mais comum, dispensando a necessidade dos antigos galpões das áreas portuárias. Os navios também se desenvolveram, aumentando suas proporções e, assim, exigindo dos portos maiores áreas e profundidades. Os portos localizados nas grandes cidades acabaram se deslocando inicialmente para áreas remotas, onde existia a possibilidade de ampliação. Portos importantes e históricos, como o de Boston e Londres, se tornaram obsoletos e subutilizados, perdendo a dinâmica ativa que possuíam anteriormente. A terceira revolução industrial e a globalização iniciam um processo de descentralização da cadeia produtiva, levando ao deslocamento de inúmeras indústrias para países subdesenvolvidos (FONSECA, 2015). Com isso, entram em declínio os parques industriais localizados na Europa e nos EUA e, consequentemente, a atividade portuária perde demanda nesses países. A atividade industrial deixou marcas profundas nessas frentes de água, como altos índices de poluição e maquinários pesados, resultando em locais impróprios para a permanência humana. Durante anos, esses espaços foram relegados, intensificando sua degradação e distanciando os habitantes desses corpos d’água. Em Salvador, também é possível vislumbrar essa questão, apesar de ser em menor escala. A atividade portuária, importantíssima na origem da cidade, foi perdendo demanda desde a crise na produção de açúcar do recôncavo e, apesar de ser um dos portos mais movimentados do Nordeste, apresenta indícios de subutilização e necessidade de modernização, como a

presença de galpões vazios da Companhia das Docas do Estado da Bahia. Esses espaços subutilizados se configuram como barreiras ao uso das frentes d’água pela população. Outro aspecto desse distanciamento do mar no caso de Salvador é muito presente na Orla Atlântica. Essa parte da cidade, majoritariamente ocupada pelas classes média e alta, foi produzida pelo mercado imobiliário que soube utilizar da proximidade com o mar para vender seus empreendimentos. Contraditoriamente, essas mesmas habitações são construídas com cada vez mais áreas de lazer, com complexos de piscinas, parques infantis, áreas de convívio, etc. como se negasse a potencialidade das praias como espaços públicos. Esse processo de produção da cidade através da “condominialização”, retroalimentado pelo cenário de violência urbana e as péssimas condições ambientais de nossas praias, vem reduzindo a presença do mar na vida de parcela da população apenas ao aspecto visual, subutilizando a potência que as praias possuem como espaço democrático, de convívio e integração social. A imagem ao lado é um exemplo de publicidade veiculada pelas imobiliárias, onde é possível perceber claramente como a relação com o mar é colocada apenas como visualização. Mesmo sendo um empreendimento localizado à beira-mar, em nenhum momento se valoriza essa proximidade física ou se apresenta as oportunidades de usar a praia como espaço de lazer.

FIG 17

Requalificações de Frentes de Água CAPÍTULO III FIG 18 16

PRINCÍPIOS E CASOS INTERNACIONAIS Além das intensas transformações pelas quais as cidades portuárias europeias e norte-americanas estavam passando, ocorreram mudanças sociais que afetariam profundamente esses espaços. A dinâmica do trabalho também se transformou, passando de maioria industrial para prestação de serviços, gerando um aumento na necessidade de edificações comerciais localizadas nos centros das cidades, próximas às infraestruturas consolidadas e às áreas residenciais. Essa mudança nos exercícios profissionais também levou à diminuição da quantidade de horas de trabalho por dia e consequente a uma maior disponibilidade de tempo para lazer. Houve, assim, uma pressão popular pela criação e melhoria de espaços públicos dedicados às atividades recreativas nas cidades. A partir da década de 60, a preocupação com o patrimônio histórico das cidades se intensifica, incluindo uma atenção ao legado industrial, tão presente nas cidades portuárias. Também é nesse período que a preocupação ambiental começa a ganhar força, se organizando nos primeiros movimentos e organizações sociais, fazendo pressão para conquistar melhores condições nas áreas urbanas (JONES, 1998). Nesse contexto, percebeu-se a potencialidade das áreas de frentes d’água

para atender essas novas necessidades de uso, especialmente, nesse primeiro momento, as áreas portuárias subutilizadas. Normalmente eram áreas centrais, onde muitas vezes a cidade havia surgido, então possuía ampla infraestrutura e localização privilegiada. Possibilitar um novo uso a esses locais seria também a forma de preservar o patrimônio industrial existente. O processo de requalificação da área portuária seria também o momento de tratamento ambiental, limpeza dos corpos d’água afetados e da paisagem. E, pela atratividade natural que a água possui e a capacidade em criar espaços agradáveis para presença humana, seriam locais ideais para áreas de lazer urbana. Considerado o primeiro caso de requalificação de frente de água, Baltimore, no leste dos EUA, iniciou esse processo já a partir da década de 60, quando toda cidade passou por um processo de renovação urbana, e o trecho de Inner Harbor foi um dos principais vetores de mudanças (TIMUR, 2013). O que começou com a instalação de novos edifícios comerciais próximos a baía, se tornou uma atração turística na década de 70, atraindo milhares de visitantes do país para conhecerem a frente d’água requalificada. Esse interesse levou à construção de edifícios voltados para atração turística, como o National Aquarium, o Maryland Science Center, o Centro de Convenções de Baltimore, todos na área do antigo porto. O aumento de valor das propriedades,

FIG 19 - Porto de Baltimore em 1960

FIG 20 - Porto de Baltimore atualmente

a oportunidade econômica de ofertar novos usos a uma área degradada, a geração de empregos, a melhoria nos transportes, serviços e condições ambientais, a atração turística e favorecimento da imagem da cidade (JONES, 1998) são fatores positivos que transformaram o caso de Baltimore num modelo de desenvolvimento urbano. A partir desse “sucesso”, diversas outras cidades passaram a elaborar projetos de requalificação de frentes d’água, como Boston, Londres, Barcelona, Seul. No entanto, é importante ressaltar que esses projetos muitas vezes levaram a exploração demasiada, sem trazer um retorno proporcional ao ambiente e a sociedade. Os riscos e efeitos negativos mais comuns foram a padronização das intervenções e a consequente perda de características locais, a preferência em atender os interesses privados em detrimento do interesse público, a remoção de moradores e trabalhadores da região, uso comercial e turístico em excesso, número insuficiente de residências, criação de espaços exclusivos a certos grupos ao invés da ampliação das áreas públicas, a busca por atingir apenas grupos de classe alta (JONES, 1998; MORETTI, 2008). Seria conveniente, portanto, garantir que todos os desenvolvimentos atuais e futuros fossem considerados parte de uma estratégia de regeneração mais abrangente. Como tal, os projetos devem almejar assumir objetivos econômicos e sociais e integrar objetivos das políticas ambientais para a futura prosperidade dessas áreas. (JONES, 1998, p. 439, tradução da autora)

Segundo dados das Nações Unidas (2016), uma estimativa de 54,5% da população mundial vive em cidades e a projeção para 2030 é que esse percentual será de 60%. São aproximadamente 4 bilhões de pessoas enfrentando problemas urbanos, como dificuldade de transporte, insuficiência de espaços públicos, habitações inadequadas, poluição sonora, do ar e das águas. A água, como fonte primordial da existência humana, deve ser priorizada e seus corpos conservados. Dentro dessa realidade de maioria da população mundial vivendo em cidades, a única forma de atingir esse objetivo é conseguindo integrar os corpos de água à vida urbana de modo sustentável. Nesse contexto de grande preocupação com Nesse contexto de grande preocupação com as fontes de águas urbanas, foram aprovados, durante as iniciativas da Conferência Global Urban 21 (Berlim, 2000) e da EXPO 2000, 10 Princípios para o Desenvolvimento Sustentável de Áreas em Frentes de Água Urbanas, que inicialmente foram elaborados pela Wasserstadt GmbH, de Berlim, em colaboração com o Centro Cities on Water, de Veneza. São eles: Assegurar a qualidade da água e do meio ambiente 1. Frentes de água são partes do tecido urbano existente 2. A identidade histórica dá caráter e significado às frentes de água 3. Uso misto é uma prioridade 4. Acesso público é um pré-requisito 5. Planejar em Parcerias PúblicoPrivadas acelera o processo 6. Participação popular é um elemento de sustentabilidade 7. Projetos de Frentes de água são

para longo prazo 8. Revitalização é um processo contínuo 9. As Frentes de água se beneficiam com o apoio das redes internacionais Devido à procura de parte da população por uma vida urbana mais próxima à natureza, os projetos de requalificação retomando as frentes de água se expandiram para além das áreas portuárias, aproveitando orlas marítimas, fluviais e de lagos, se tornando fomentadores econômicos, culturais, habitacionais, turísticos e recreacionais das cidades (RIO, 2001).

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Uma das obras de requalificação de frentes de água mais conhecidas é a da praia de Barceloneta, realizada como parte do projeto de renovação urbana de Barcelona para os Jogos Olímpicos de 2002. O bairro de Barceloneta foi erguido em aterros sobre o mar, inicialmente como um local de pescadores e artesãos. Durante o século

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XIX, abrigou as principais indústrias da cidade, principalmente devido a sua localização à beira mar. Assim como nas outras cidades portuárias europeias, as mudanças nas dinâmicas econômicas e produtivas tornaram os antigos portos obsoletos e, consequentemente, subutilizados. A cidade, então, foi perdendo o contato que possuía com a frente de água e a região se degradou. A cidade permaneceu distanciada da praia de Barceloneta até a execução da sua obra de requalificação, englobada na proposta de renovação que Barcelona acordou fazer para sediar as Olímpiadas. Esse projeto, no entanto, não se enquadrou no estilo de planejamento urbano clássico, mas inaugurou o uso do Planejamento Estratégico dentro do âmbito da produção de cidades. O Planejamento Estratégico foi desenvolvido no meio da administração de empresas privadas a partir da década de 70 e tem como principais objetivos: facilitar a comunicação, estimular a participação, criar um consenso entre interesses divergentes, avaliar novas tendências e seus desdobramentos e aproveitar oportunidades

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antes não identificadas. Dentro dessa lógica, o caso de Barcelona foi um grande sucesso, inserindo-a na competição de cidades globais e transformando-a num dos maiores pólos de atração turística do mundo. Destaque para o bairro de Barceloneta, que foi completamente modernizado, recebendo um grande número de hotéis e restaurantes internacionais, centros de convenções e comerciais, amplos espaços públicos, equipamentos esportivos, etc. Barcelona, então, se tornou um modelo de transformação urbana a ser replicado em várias partes do mundo. Em 1992, no mesmo ano das Olímpiadas, foi fundado o CIDEU (Centro de Desarrollo Estratégico Urbano) que, embora se apresente como uma “associação de cidades ligadas pelo Planejamento Estratégico Urbano”, é na verdade uma empresa, liderada por Jordi Borja e Manuel Castells, que presta consultoria a cidades que tenham interesse em realizar Planejamentos Estratégicos similares ao de Barcelona. No entanto, a maior crítica desse modelo de planejamento é que a participação dos atores muitas vezes se restringe aos grupos ligados ao capital financeiro, em detrimento das parcelas da população diretamente afetadas (VAINER, 2000). Usando o mesmo exemplo, o bairro de Barceloneta apresenta diversos problemas devido a sua requalificação, como a presença excessiva de turistas durante o verão que prejudica o uso do espaço por parte da população local; como a sua estrutura histórica que foi bastante modificada, com uma perda enorme do patrimônio industrial; e como o valor das propriedades aumentou vertiginosamente, impossibilitando a permanência dos antigos moradores. Essas questões demonstram o descaso com os efeitos que o projeto teria na

dinâmica da cidade e na vida da população local.

“NOVA” ORLA DE SALVADOR Desde o anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, as cidades mais importantes do país entraram de vez na “corrida” das cidades globais. Salvador, então terceira maior cidade do país, além de possuir enorme apelo turístico, se tornou um dos principais destinos de investimentos, coordenados através da elaboração de um Planejamento Estratégico. No período que antecedeu a Copa do Mundo, na primeira gestão de ACM Neto na Prefeitura, foi elaborado o Plano Estratégico de Salvador que tenta tratar de forma coordenada os setores de educação, saúde, mobilidade e expansão urbana do município. O capítulo dedicado ao diagnóstico do ambiente urbano afirma que: “além da favelização, outro aspecto que chama atenção na paisagem urbana é a degradação da maioria dos pontos turísticos e da orla, em estado de abandono e sucateamento” (PMS, 2013, p. 84), estabelecendo assim, como uma das metas, a requalificação da orla de Salvador. A área portuária foi definida como uma das prioridades a serem tratadas com urgência antes da Copa justamente por ser a porta de entrada para milhares de visitantes que chegariam por cruzeiros. O projeto realizado pelo Governo do Estado, no entanto, não cumpriu o prometido, entregando apenas um dos galpões reformados, sendo pouco o legado deixado para a população. A outra prioridade do período foi a Orla da Barra por ser um dos principais cartões postais da cidade e a região que abriga a maior parte da rede hoteleira da 19

capital. Caso Orla da Barra SSituada na ponta da península que conforma Salvador, a Barra começou a ter uma ocupação mais consolidada após a abertura da Avenida 7 de setembro, que ligou a Praça Castro Alves ao Farol na década de 20 do século passado. Desde seu princípio, é um bairro de caráter habitacional, especialmente para as classes alta e média, que viam na região à beira-mar um espaço potencial para moradia. Apenas a partir da década de 80, devido ao crescimento do carnaval, que os bairros da Barra e Ondina passaram a fazer parte da rota da folia, modificando definitivamente a dinâmica do local. As belezas naturais, a importância histórica do local e de seus edifícios, como o Farol, o Forte de Santa Maria e a Igreja de Santo Antônio da Barra, e a própria fama da festa carnavalesca, transformaram o bairro em uma das principais atrações turísticas da cidade, se tornando no alvo de inúmeros projetos por parte do poder público. O projeto realizado pela atual gestão pretendia modernizar a área com a ideia de aproximar o tipo de uso a um caráter de espaço urbano livre, com prioridade para o pedestre, redução do

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tráfego, melhorias na acessibilidade, maior preocupação ambiental, entre outros fatores. Mesmo possuindo a aprovação e grande adesão por parte da população da cidade, o projeto apresentou diversas falhas no cumprimento do que foi proposto. Apesar da ideia louvável de diminuição do fluxo de veículos e de priorizar a circulação de pedestres, é conhecido que Salvador não possui uma rede de transporte público de qualidade para atender a demanda de pessoas que poderiam utilizá-la como forma alternativa ao carro para acessar a região. As mudanças no trânsito geraram grandes engarrafamentos nas ruas internas, incomodando moradores e usuários da região a ponto da Prefeitura voltar atrás na decisão e permitir o retorno do fluxo de carros na orla (IBAHIA, 2017). Um dos grandes ganhos para a cidade com esse projeto poderia ter sido a melhoria no tratamento de esgoto da área, que sempre apareceu nas listas de praias impróprias para banho. No entanto, o trabalho não foi realizado com precisão e, mesmo depois de 3 anos da obra concluída, ainda existem casos de contaminação da praia do Porto da Barra por esgotos irregulares. Ainda que o espaço para o pedestre tenha sido, de fato, priorizado, falta estrutura que ofereça conforto àqueles que usem o espaço, como um maior número de árvores que promovam áreas sombreadas e a presença constante de mobiliário urbano, já que muitas 21 vezes esses são retirados para a realização de eventos e demoram de serem reinstalados. Talvez o problema mais profundo e, provavelmente, o cerne de várias dessas questões, tenha sido a falta de diálogo com a comunidade, que afirma não ter sido consultada e que o projeto privilegia a realização de

grandes eventos, o maior deles sendo o Carnaval, em detrimento da qualidade de vida de seus habitantes e usuários. Os moradores sofrem com a grande quantidade de eventos realizados na região, que provoca ruído, grandes aglomerações, poluição e dificuldade de acesso, revelando a incompatibilidade do projeto da Barra voltada às festas com o uso habitacional. Também são diversos os relatos de dificuldade por parte do comércio após o início da obra, inclusive casos de expulsão de ambulantes regularizados que trabalhavam a décadas no local. O projeto da Barra foi o primeiro e de maior repercussão, porém vários outros projetos de Novas Orlas foram feitos desde a publicação do Planejamento Estratégico e as reclamações a respeito do descaso com a opinião e desejos da população é constante. Caso Orla do Rio Vermelho Considerado o bairro mais boêmio de Salvador, tem tido, nos últimos anos, seu apelo turístico elevado por ações como a inauguração da Casa do Rio Vermelho, antiga residência de Jorge Amado e Zélia Gattai, como museu; a reforma na CEASA do bairro para torná-la mais atraente ao consumidor de alto padrão; além de um maior destaque por parte da mídia e da rede de hotéis e restaurantes da região para a festa de Yemanjá.

Seguindo esse mesmo caminho, a Prefeitura divulgou em 2014 o projeto para a Requalificação da Orla do Rio Vermelho, gerando grande preocupação dos moradores e comerciantes locais de que, assim como na Barra, a reforma trouxesse consequências negativas para a dinâmica do bairro. Localizado na Orla Atlântica, o bairro tem limites tanto com áreas nobres, como Ondina e Horto, como com os enclaves da Chapada, Santa Cruz e Nordeste de Amaralina. Logo, possui em seu território faixas de renda diferentes, com interesses diferentes, se configurando como um local muito delicado de se intervir. Com essas apreensões em mente, houve uma mobilização maior por parte dos moradores e comerciantes da área, que se organizaram em torno de associações e comissões para dialogar com o poder público e buscar as melhores medidas para o bairro. Esse processo teve um resultado positivo, garantindo certas conquistas para os usuários do local, como a permanência do campo de futebol. Ainda assim, o projeto de Requalificação apresentou problemas profundos, principalmente derivados dos conflitos de interesses entre moradores e comerciantes e entre usuários do bairro de classes sociais diferentes. O Mercado do Peixe talvez seja o caso mais emblemático dessas questões: o local foi completamente desconfigurado e seus antigos comerciantes, que cobravam preços mais populares em seus pontos, foram retirados para implementação de estabelecimentos de luxo. Até o nome foi alterado para deixar clara a mudança de padrão, sendo agora denominado Vila Caramuru.

FIG 24, 25, 26 21

Em 2017, essa mesma Vila Caramuru, que deveria funcionar como espaço público e de livre circulação, foi fechada para sediar um evento privado durante as comemorações da Festa de Yemanjá. Assim como na Barra, obras importantes de infraestrutura não foram realizadas, como o enterramento da fiação, a melhoria no sistema de esgoto do bairro e a limpeza da foz do Rio Lucaia. Futuros Projetos Apesar das duras críticas, é reconhecido que as orlas de Salvador necessitam de investimentos e cuidados por parte do poder público para que possam oferecer a todos os moradores e visitantes da cidade opções de lazer, possuindo o caráter de espaço democrático e de convívio social que as áreas de frentes de água devem ter. No entanto, esse enorme projeto para Nova Orla de Salvador, que se intitula como Requalificação Urbana, ignora que o conceito desse instrumento é, sobretudo, de melhoria das condições de vida da população, promovendo a construção e melhoria de equipamentos e infraestruturas e a valorização dos espaços públicos com medidas de dinamização sociais e econômicas. Foram inúmeras orlas “requalificadas”, iniciando pela Barra, a de maior destaque, mas também em São Tomé de Paripe, Tubarão, Itapuã, Rio Vermelho, entre diversas outras. Da Baía de Todos os Santos à Costa Atlântica, a gestão municipal tem direcionado seus recursos para criar uma “Nova Orla de Salvador”. Nesse mesmo contexto da gestão municipal, temos discussões acontecendo

FIG 27, 28, 29 22

no que tange as ocupações e usos do solo em Salvador. O PDDU de 2016 modifica vários parâmetros e introduz instrumentos urbanísticos, que atingem a forma como a cidade é produzida, inclusive nas áreas de bordas marítimas. A elaboração do Plano de Gerenciamento Costeiro também está em andamento, e é um articulador importantíssimo para preservação do meio ambiente e garantia de acesso livre às praias e, portanto, deve ser acompanhado de perto pela população. Apesar disso, o que tem acontecido nessas propostas de Requalificações revela justamente o contrário: ausência ou descaso por parte do poder público com a importância da participação popular. Reformas recentemente promovidas pela prefeitura na praça em frente ao Quartel de Amaralina e notícias sobre a possível instalação de um parque aquático na Praça Wilson Lins, na Pituba, indicam que existe interesse do poder público de intervir nesse trecho de orla. A Amaralina e Pituba, como bairros consolidados, predominantemente residenciais, com escassez de espaços públicos eficazes, e que já possuem vários tensionamentos socioeconômicos, necessitam de estudos e uma proposta cuidadosa, levando em consideração suas particularidades.

SÃO TOMÉ DE PARIPE

RIBEIRA

BOA VIAGEM

FLAMENGO PIATÃ

ITAPUÃ

BOCA DO RIO BARRA

AMARALINA E PITUBA

ONDINA

FIG 30 23

RIO VERMELHO

Amaralina e Pituba

CAPÍTULO IV

FIG 31 24

“A aparência das coisas e o modo como funcionam estão inseparavelmente unidos, e muito mais nas cidades do que em qualquer outro lugar. [...] É tolice planejar a aparência de uma cidade sem saber que tipo de ordem inata e funcional ela possui. Encarar a aparência como objetivo primordial ou como preocupação central não leva a nada, a não ser a problemas” (JACOBS, 2003, p. 14)

Nos últimos anos, vários trechos da orla de Salvador têm recebido projetos de “requalificação”. A intenção com essas propostas parece ser de apenas embelezar, tornar agradável aos olhos, transformar em um padrão reconhecido internacionalmente, preparar para receber os turistas ou certos grupos de usuários. Com isso, o poder público não tem se proposto a se aproximar de verdade da realidade desse locais, conhecer seu cotidiano, sua história, como sua população utiliza seus espaços, as suas particularidades e tensões. Esse capítulo é dedicado a explicar como foi feito, antes da fase propositiva, o processo de aproximação com os bairros de Amaralina e Pituba, as pesquisas feitas sobre seus históricos, as análises territoriais, os processos de apreensão urbana e o contato com os agentes locais.

EVOLUÇÃO URBANA É claramente perceptível a diferença existente entre as localidades da Pituba e da Amaralina, principalmente ao adentrar o território, ultrapassando o limite da Avenida Manoel Dias, subindo suas inúmeras ladeiras. Essa distinção pode ser compreendida a partir dos diferentes processos de evolução urbana que cada bairro passou, desde a diferença de proprietário das antigas fazendas, ao período de ocupação inicial e o planejamento (ou falta de) dos espaços. Para melhorar a compreensão desses processos, a explicação feita aqui foi dividida. Num primeiro momento, do início das ocupações até o final da década de 70, a evolução urbana de cada bairro foi tratada separadamente, já que os processos foram muito distintos e não se relacionavam tanto nesse período. No segundo momento, da década de 80 até atualmente, a situação passa a se tornar mais clara quando analisada em conjunto, já que ambas as áreas estão extremamente consolidadas e relacionadas.

de modernização da cidade iniciado no governo de JJ Seabra, junto com o fortalecimento dos ideais higienistas, a burguesia de Salvador passou a procurar áreas residenciais próximas ao mar. Passaram então a ocupar também o Rio Vermelho, iniciando um processo de expulsão e inibição da presença dos pescadores da área. Na procura por um novo local para se estabelecer, os pescadores passaram a ocupar terras da fazenda Amaral, vizinha ao Rio Vermelho, numa tentativa de ainda se manter próximo ao antigo local de moradia e às infraestruturas urbanas existentes, ocupando sobretudo os morros (SOUZA, 2008). Relatos de moradores locais antigos afirmam que a fazenda Amaral não possuía uma fiscalização tão severa dos seus territórios, logo as ocupações foram acontecendo sem muita contestação, ao menos a princípio. Apenas em 1932 a prefeitura aprova o loteamento Balneário Amaralina, localizado na porção sul da fazenda, mais próxima ao mar e de terreno

Evolução urbana - Amaralina A ocupação da Amaralina tem suas origens na existência da vila de pescadores do Rio Vermelho, presente neste local desde o século XVI, denominada então de Aldeia dos Franceses. No início do Século XX, com o processo

FIG 32 25

plano.

Na década de 50, durante gestão do governador Otávio Mangabeira, a Avenida Oceânica, que ligava Amaralina a Itapuã, é asfaltada, atraindo assim uma maior ocupação do bairro por público de classe média e alta. Ao mesmo tempo, atrai também a presença de população de baixa renda, pois a região se insere cada vez mais no contexto da cidade, estando próximo a oportunidades de trabalho e infraestruturas. Durante esse mesmo período, se acentua o processo de êxodo rural e urbanização do país. Salvador passa a receber um grande contingente de pessoas vindas do Recôncavo Baiano e muitas delas se instalaram nos morros da Amaralina. Dentro desse contexto de consolidação da ocupação, a comunidade passa a temer sua expulsão, ainda mais pelos arredores terem se conformado como bairros de classe média e alta. Então em 1957, já surge a primeira associação de moradores, denominada Sociedade de Defesa dos Moradores de Amaralina e Adjacências. Apesar de não haver uma data exata

conhecida, é aproximadamente nesse período que as Baianas de Acarajé começam a se instalar na Amaralina de forma totalmente espontânea, atendendo a demanda existente próxima ao ponto do bonde. É importante destacar a total precariedade da ocupação, que não possuía infraestrutura básica, como saneamento, coleta de lixo ou abastecimento elétrico. A prefeitura não se manifesta em prol da comunidade até 1978 quando inicia o plano de urbanização da área, não coincidentemente no mesmo período que põe em prática o Plano de Valorização da Orla Marítima, que consolidou de vez a área sul do bairro como exclusivamente de classe média e institucionalizou o Largo das Baianas como ponto turístico da cidade. A população resiste em suas ocupações desde então devido, principalmente, a facilidade de acesso, pois nas adjacências havia sistema de transporte público, e a proximidade dos locais que ofereciam oportunidades de trabalho. Evolução Urbana - Pituba

Pereira da Silva, contratam o engenheiro civil Theodoro Sampaio para projetar uma “cidade nova”, como área de expansão de Salvador. Seguindo preceitos urbanísticos da época, o projeto prioriza questões como circulação, infraestrutura sanitária e previsão de crescimento, num processo racionalizado que se aproxima do que estava sendo produzido na Europa. Denominado de Cidade Luz por causa da existência da capela dedicada à Nossa Senhora da Luz na região, o projeto apresenta 10 ruas longitudinais paralelas à costa e 15 transversais, perpendiculares às primeiras. O arruamento foi traçado para região plana da localidade, próxima à costa, levando em consideração a ventilação conveniente, exposição, luz abundante, arborização e uma previsão das necessidades crescente do tráfego (SAMPAIO, 1919), revelando sua racionalização. Tem como eixo principal a Avenida Manoel Dias da Silva, a de maior dimensão do projeto, que se articularia com as praças e jardins propostos de forma monumental, incluindo uma dimensão estética

Até o início do século XX, a área da Pituba era uma fazenda de cocos, de propriedade de Manoel Dias da Silva, e possuía também em seu território uma vila de pescadores, tendo como principal edificação uma singela capela dedicada à Nossa Senhora da Luz. Localizada fora dos limites da cidade, era um local ermo e de difícil acesso, esse sendo possível apenas por transporte particular através da Estrada de Ubarana, já que não possuía linhas de bonde. Em um contexto nacional de projetos de melhoramentos que dão início ao processo de descentralização das cidades (LEME, 1999), Manoel Dias da Silva juntamente com Joventino

FIG 33 26

FIG 34

e de embelezamento do local. Em termos de mobilidade, o projeto considerava imprescindível a ampliação da linha de bonde até o centro do novo povoado. Previa também o acesso ao local através do transporte marítimo, com a construção de um enrocamento, na bacia da Itaigara, destinado a protege-la contra a levadia, e uma ponte sobre as estacas, permitindo a atração de embarcações pequenas. No mesmo local onde seria construído o enrocamento, estava previsto no projeto a instalação de uma estação balnear seguindo as normas de higiene, segurança e bem estar da época. Sampaio considerava esta como uma das principais atrações da “nova Cidade” (SAMPAIO, 1919). A proposta foi apresentada em 1919, mas só foi aprovada pela prefeitura em 1932. Mesmo então o acesso era muito difícil, ainda através de transportes particulares ou usando o bonde até a estação em Amaralina e depois continuando a pé, o que inibiu a ocupação do local. Foi só em 1950 que a atual avenida Otávio Mangabeira foi aberta e inaugurada, ligando o centro da cidade à Itapuã, facilitando o acesso ao bairro. A pedido de Joventino Pereira da Silva, em terreno de sua propriedade, foi construída a nova Igreja Nossa Senhora da Luz em 1955, se consolidando como núcleo central da nova ocupação. Já em 1961, o colégio Militar de Salvador é inaugurado na Avenida Paulo VI, que só será pavimentada em 65, se configurando como catalisador da área do bairro mais distante da costa. Em 1962, foi inaugurada a nova sede do Clube Português em frente à Igreja, confirmando o caráter de alto nível da região, que já havia começado a se consolidar através da construção de residências unifamiliares luxuosas. Em 1968,

as atuais avenidas Antônio Carlos Magalhães e Tancredo Neves foram inauguradas, garantindo a conexão com várias partes da cidade (BRITO, 1993). Segundo o Plano de Desenvolvimento Urbano de Salvador (PLANDURB, 1977), o bairro da Pituba iniciou seu processo de consolidação urbana como área de veraneio de alto padrão. Com a abertura de mais vias de acesso, o bairro começou a receber mais domicílios, sendo uma alternativa à falta de oferta e preços altos dos bairros nobres mais tradicionais, como Barra e Vitória (GUIMARÃES; CUNHA, 2007). A criação do Banco Nacional de Habitação – BNH nesse período, incentivou o crescimento da indústria da construção civil e gerou um cenário favorável a expansão imobiliária. Isso se refletiu na Pituba com a construção de conjuntos residenciais horizontais no interior do bairro e depois com a verticalização dos edifícios mais próximos à costa. Segundo Guimarães e Cunha (2007, p. 95) “isso possibilitou o acesso à área de populações de outras faixas de renda, todas, no entanto, com relativo poder de compra – e repetindo, assim, um modelo espontâneo e típico de uma expansão Urbana conduzida pelo mercado, pouco antes imposto aos bairros da Vitória, Barra, etc.” Com a descoberta de petróleo na Bahia e com a instalação do Complexo Industrial de Aratu em 1967, houve uma re-dinamização econômica na segunda metade do Século XX, levando à atração de capitais industriais para a região metropolitana; ao aumento populacional da cidade pela imigração em busca de melhores condições de vida; e ao aumento do número de possíveis compradores da produção imobiliária formal, ampliando a

ocupação dos bairros de classe média e alta, como a Pituba (ANDRADE; BRANDÃO, 2009). Nesse mesmo contexto de modernização da cidade na década de 60, houve um dos primeiros processos de remoção de comunidades informais que se tem registro em Salvador. Aconteceu em 1967, no primeiro dia de mandato do novo prefeito, Antônio Carlos Magalhães, que determinou a remoção da comunidade Bico-de-Ferro para a construção do atual Jardim dos Namorados. Em 1972, o novo Centro Administrativo da Bahia foi inaugurado na Avenida Paralela, movendo os órgãos administrativos do Governo do Estado da sua antiga localização no centro antigo da cidade e iniciando um processo de descentralização que irá se desdobrar na inauguração da Nova Rodoviária em 1974 e do shopping Iguatemi em 1975, construindo uma “nova” Salvador, mais condizente com a realidade moderna que os produtores da cidade, desde o Estado ao setor privado, gostaria de transmitir.

FIG 35 - Pituba em 1973 27

Todo esse processo de construção de uma nova centralidade para Salvador não aconteceu por acaso, foi atentamente planejado pelo poder público e por empresas próximas a ele que eram interessadas na área, especialmente incorporadoras que detiam a propriedade desses terrenos da cidade. Vemos então o papel do Estado como agente decisivo para o processo de especulação imobiliária. Evolução urbana - Amaralina e Pituba Com o já citado êxodo rural e consequente aumento da população urbana, as áreas centrais da cidade, nesse momento se configurando principalmente na região próxima ao Iguatemi, ou seja, incluindo as áreas da Pituba e Amaralina, foram amplamente procuradas por todas as classes sociais. A região da Pituba recebeu o contingente populacional que possuía condições de pagar o preço do mercado imobiliário formal e extremamente especulativo. O bairro, então, se desenvolveu para muito além do que havia no projeto de Theodoro Sampaio, que se restringia a área plana na região, mais próxima à costa. Se expandindo para o interior, os novos edifícios foram ocupando as áreas de relevo mais acentuado, sendo preciso modificar o traçado das vias, pois não cabia mais o quadriculado do projeto original. Por mais que o projeto inicial de Theodoro considerasse as possíveis expansões, muito do que foi idealizado por ele, especialmente no que tange os transportes coletivos e os espaços públicos, não foi concretizado. Esse intenso crescimento, que chegou a apresentar um acréscimo de 28

FIG 36 - Imagem Aérea em 1959

493,99% de domicílios num período de 10 anos (ANDRADE; BRANDÃO, 2009), não foi acompanhado por novos projetos urbanos para a região e mesmo a elaboração dos Planos de Desenvolvimento da cidade não foram suficientes para atender às novas necessidades. Logo, o bairro passou a sofrer com o sobrecarregamento das vias de trânsito; as falhas nos sistemas de tratamento de esgoto; e a insuficiência e ineficácia dos espaços públicos, que foram construídos nas áreas de sobra dos loteamentos e das ruas. Apesar dos problemas apresentados, a região da Pituba até hoje é uma das mais cobiçadas pelo mercado imobiliário de alto padrão, e possui uma dinâmica muito forte entre os comércios locais e os moradores. Recentes projetos de requalificação da praça Nossa Senhora da Luz e das avenidas Antônio Carlos Magalhães e Manoel Dias da Silva, foram resultados da pressão dos locais, num intuito de recuperar a qualidade do uso dessas localidades. Já a Amaralina continuou no sJá a Amaralina continuou no seu processo de adensamento precário, sem planejamento ou auxílios suficientes por parte do Estado, de maneira informal. Esse processo cada vez mais intenso de favelização, da agora denominada Região do Nordeste de Amaralina (incluindo a região da Amaralina, Santa Cruz e Vale das Pedrinhas), passou a afetar até mesmo a porção sul do bairro, mais próxima à orla, que não

IMG 37 - Imagem Aérea de 2010

IMG 37 - Imagem Aérea de 1976

teve seu solo tão valorizado nesse processo de especulação imobiliária justamente pela proximidade com a imensa ocupação. Sua permanência como um dos enclaves da Orla Atlântica da cidade (CARVALHO, PEREIRA, 2008) se deve ao incrível movimento de resistência da comunidade, que recusa veementemente seu afastamento das ofertas de emprego e do local de ocupação de tantas décadas, onde já se construiu uma história e profundas relações de pertencimento. Essa proximidade de duas realidades tão distintas não poderia existir sem o surgimento de tensões socioeconômicas, incluindo violência urbana, segregação espacial e esvaziamento dos locais públicos. Espero com esse trabalho conseguir mapear algumas dessas questões, agora compreendendo de onde surgiram e quais foram alguns dos agentes responsáveis por esse processo.

ÁREA DE APROXIMAÇÃO Devido a extensão e complexidade do lugar escolhido para abordagem neste trabalho, foi preciso definir uma área na qual os estudos estariam mais focados. No entanto, não seria condizente com o restante do trabalho simplesmente delimitar uma poligonal de forma abstrata, pois acredito que separar o território através de uma linha poderia deixar muitos aspectos “de fora” e passar a impressão de que o contexto em que essa poligonal estaria inserido não importa mais, apenas o que está contido nela. A estratégia utilizada foi sobrepor, de forma gráfica, aspectos importantes desse território para, a partir do resultado final da sobreposição, definir uma área na qual se debruçar mais intensamente, sempre compreendendo que ela está inserida num contexto contínuo, sem limites ou separações. Os aspectos escolhidos para o desenvolvimento dessa sobreposição foram: Evolução Urbana, Morfologia Urbana e o desenho da Bacia Hidrográfica da região, retirado do estudo Caminhos das Águas de Salvador (SANTOS, PINHO, MORAES, FISCHER, 2010). A seguir o resultado gráfico de cada aspecto, a sobreposição e a Área de Aproximação final:

FIG 39

0 100

500 FIG 40

1 - AVENIDA AMARALINA

2 - RUA DAS CASTANHEIRAS

3 - LARGO DAS BAIANAS

4 - CALÇADÃO AMARALINA

5 8

5 - LARGO TERRITÓRIO DO ACRE

6 - PRAÇA NSA SRA DA LUZ

7 - PRAÇA WILSON LINS

8 - JARDIM DOS NAMORADOS

33 FIG 41

ANÁLISE TERRITORIAL Mobilidade - Sistema viário As principais vias são as Avenidas Octávio Mangabeira e Manoel Dias da Silva, ambas paralelas ao oceano. A primeira segue para o leste, conectando a Pituba e Amaralina aos outros bairros da orla atlântica, até chegar em Itapuã. Para o oeste a conexão acontece através da ligação entre a Manoel Dias à Avenida Amaralina e às ruas Visconde de Itaborahy e Oswaldo Cruz, no Rio Vermelho. Para alcançar esses trechos de orla a partir do continente, o acesso mais usado é pela Avenida Antônio Carlos Magalhães, que conecta a região do Iguatemi e Itaigara à Avenida Octávio Mangabeira através das Ruas Rio Grande do Sul e Pernambuco, as duas principais vias transversais à orla da região. Outra forma de acessar vindo do Iguatemi é através da Avenida Professor Magalhães Neto, que acompanha o percurso do Rio Camarajibe, passando pelo Parque Costa Azul e se conecta com as vias da região na altura do Jardim dos Namorados. Vindo da região da Barra, a oeste, uma opção é através da Avenida Juracy Magalhães Júnior que, ao conectar as Avenidas ACM e a Rua Lucaia ao trecho de orla do Rio Vermelho, possibilita o acesso à Amaralina e Pituba. A região é bem conectada com o restante da cidade, através de várias avenidas de grande porte, que apresentam boa pavimentação e iluminação, sendo inclusive reformadas com frequência, como é o caso da Avenida ACM, que está passando por um processo de renovação atualmente. No interior dos bairros a situação é diferente. Entre as vias Juracy Magalhães e

a ACM, forma-se um bolsão que contém boa parte dos bairros da Pituba, Amaralina, Vale das Pedrinhas, Nordeste de Amaralina e Santa Cruz. Devido a evolução urbana, do relevo muito acidentado e da presença do Parque da Cidade, não foram implantadas vias de alto porte dentro desse bolsão, dificultando o acesso a certas localidades, principalmente pelo transporte público, o que incentiva o uso de veículos individuais. Uma das grandes problemáticas, especialmente da Pituba, é esse grande número de automóveis particulares e a quantidade necessária de estacionamento para eles. A avenida Manoel Dias é o exemplo mais marcante dessa questão, onde é comum a prática de estacionar nas calçadas dos estabelecimentos comerciais, dificultando o percurso dos pedestres e atrapalhando a fluidez do trânsito (Ver imagens ao lado). Para a alta demanda, há uma escassez de bolsões de vagas que, dependendo da localização, poderiam viabilizar a proibição de estacionamento nas avenidas e acarretar uma melhoria no trânsito e na sensação ao andar pelas calçadas do bairro. Inclusive, uma das grandes potencialidades do sistema viário da região é a Avenida Manoel Dias da Silva, que apresenta largas e confortáveis calçadas, mas que são intensamente prejudicadas pelo estacionamento indevido de carros. Outro fator que prejudica o ato de caminhar pela região é a enorme quantidade de cruzamentos, que levam o pedestre a ter que, regularmente, esperar para fazer travessias. O sistema de acionamento dos semáforos de pedestres, que poderia amenizar essa situação, está instalado, mas não funciona.

FIG 42

FIG 43

FIG 44

ACESSO C. DAS ÁRVORES

ACESSO IGUATEMI

ACESSO SALVADOR SHOP

ACESSO COSTA AZUL

ACESSO RV

E E

ACESSO RV

LEGENDA: Vias Arteriais I Vias Arteriais II Vias Coletoras I Vias Coletoras II

FIG 45

Bolsões de estacionamento

Mobilidade - Sistema de Transporte Público Os bairros da Pituba e Amaralina estão situados na Área Operacional Azul – Centro/Orla Atlântica e, como possuem uma localização privilegiada na cidade, próximo a equipamentos de grande importância, são, em geral, bem servidos pelas linhas de ônibus. Em relação aos sistemas de transportes de massa, no entanto, a orla desses bairros ainda está bastante desconectada. A estação de metrô mais próxima, a Rodoviária, fica a mais de 5km de distância. A Prefeitura está se propondo a criar essa conexão através de um Sistema de BRT, que ligará o Iguatemi a Estação da Lapa e terá uma extensão que chegará ao Itaigara, acelerando o percurso de ônibus entre essa região e o Metrô. Quando a obra estiver concluída, será possível, segundo informações da SEMOB, percorrer a distância de 2,9km entre o Parque da Cidade e o Iguatemi em sete minutos. Esse projeto tem recebido diversas críticas, tanto pelo fracasso de propostas com BRTs em outras capitais, quanto pela intervenção devastadora que será feita no canteiro central da Avenida Juracy Magalhães e nas proximidades do Parque da Cidade. Dentro da Área de Aproximação existe um serviço adequado de linhas de ônibus, apesar de certos locais apresentarem uma má distribuição dos pontos de ônibus, com alguns distanciando mais de 500 metros entre si, ou seja, acima do raio de caminhabilidade ideal. No entanto, como já mencionado na análise do sistema viário, o Nordeste de Amaralina sofre com uma deficiência de vias de alto porte, causando uma dificuldade no fluxo dos ônibus. Segundo informações da SEMOB, 36

FIG 46

no Fim de Linha do Nordeste de Amaralina transitam 7 linhas de ônibus, enquanto na orla esse número sobe para, em média, 30 linhas diferentes. Isso gera a necessidade, entre os moradores do Nordeste, de terem que se deslocar para áreas mais bem servidas, desincentivando o uso do transporte público. Os pontos de ônibus da Área de Aproximação são, em maioria, do tipo abrigo, do mesmo modelo utilizado no restante da cidade. Completamente desapropriado para o clima da região, esse abrigo gera grandes desconfortos para os usuários, não protegendo da chuva ou do sol e aumentando a temperatura do ambiente por conta dos

seus materiais. O metal, material usado para estrutura do ponto, não recebe tratamentos ou manutenções adequadas, e enferruja devido ao alto índice de salinidade nas praias da Amaralina e Pituba. Não existe nenhuma disponibilidade de informações sobre o transporte público da cidade na região, nem mesmo no Largo das Baianas, local considerado turístico, se tornando uma deficiência ainda mais grave.

ACESSO IGUATEMI

ACESSO C. DAS ÁRVORES

ACESSO SALVADOR SHOP

ACESSO COSTA AZUL

ACESSO RV

LEGENDA: Vias Arteriais I Vias Arteriais II Vias Coletoras I Vias Coletoras II Rotas de ônibus

FIG 47

Pontos de ônibus

Mobilidade - Sistema Cicloviário Segundo informações do Portal Mobilize Brasil, Salvador é a nona cidade em quilômetros de estrutura cicloviária do país, com 85,9 km. No site da Transalvador é divulgado um número mais expressivo, de 201 km. No entanto, o órgão inclui nesse valor propostas que ainda não foram completamente implementadas e circuitos que funcionam apenas em momentos específicos. Mesmo considerando essa diferença de informações, é visível o aumento da oferta de espaço destinado ao transporte cicloviário pela cidade nos últimos anos, iniciando um processo de transformação da forma de se locomover do soteropolitano. Essa mudança é lenta e fatores como o clima quente e úmido e o relevo extremamente acidentado da cidade prejudicam as possibilidades de uso. A borda Atlântica de Salvador, sendo praticamente toda plana, se torna um dos locais mais potenciais para implementação de ciclovias. Essa potencialidade já havia sido percebida pelo poder público, que instalou ciclovias em diversos trechos da orla atlântica há alguns anos. Porém, os projetos foram pensados para atividades de lazer ou físicas, e não como parte de uma rede de transportes e forma de locomoção diária. A desconexão com os centros comerciais, a interrupção brusca das ciclovias, os horários e dias determinados para separação de ciclofaixas, a falta de integração com o sistema de transporte coletivo, tudo isso indica um foco muito maior em lazer, turismo e esporte do que no transporte cotidiano. A pesquisa realizada pelo Movimento Transporte Ativo em várias cidades do país em 2015, incluindo Salvador, veio a confirmar essa situação: 38

Nos últimos 2 anos essa infraestrutura [cicloviária] foi ampliada, mas durante a pesquisa, foi possível perceber que ela ainda não se tornou atrativa para a maioria das pessoas que usa a bicicleta como meio de transporte pois trafegando pelas ruas se consegue fazer trajetos mais curtos e diretos e mesmo aqueles que buscam as ciclovias acabam tendo que fazer boa parte do trajeto foras delas, para conseguirem chegar ao destino desejado. (PESQUISA PERFIL DO CICLISTA, 2015, p. 75)

Nessa mesma pesquisa, quando questionados sobre o que faria pedalar mais, 54,8% dos entrevistados responderam que seria ter mais infraestrutura cicloviária. Essas reclamações quanto a estrutura são claramente percebidas na orla da Amaralina e Pituba. As ciclovias são desconectadas, entram em conflito com o espaço do pedestre, o calçamento é de baixa qualidade, não existem locais para armazenamento e até mesmo as estações de bicicletas compartilhadas estão mal posicionadas e sem manutenção. É importante realçar também a dimensão social da mobilidade. A dificuldade em se locomover nas cidades é um dos fatores da segregação social urbana e Salvador, como uma cidade extremamente desigual, precisa buscar alternativas e soluções para essa questão. A pesquisa já mencionada indica que a maioria dos usuários do transporte cicloviário de Salvador ainda é a população de baixa renda, mostrando a potencialidade que o transporte por bicicleta tem nas propostas de inclusão e a urgência que existe em melhorar esse sistema na cidade.

As orlas em questão margeiam bairros populares que apresentam diversos problemas socioeconômicos. Oferecer um sistema cicloviário de qualidade nessa orla, que seja conectado à rede de transporte da cidade e a locais estratégicos de comércios e serviços, seria possibilitar também um processo de inclusão social urbana.

FIG 48

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ACESSO IGUATEMI

ACESSO C. DAS ÁRVORES

ACESSO SALVADOR SHOP

ACESSO COSTA AZUL

ACESSO RV

LEGENDA: Vias Arteriais I Vias Arteriais II Vias Coletoras I Vias Coletoras II Ciclovias

FIG 50

Acesso à praia Ponto de bicicletas Itaú

Legislação A região encontra-se, segundo o PDDU 2016, na Macrozona de Ocupação Urbana que “compreende os espaços urbanizados do Município em seus diversos estágios de estruturação, qualificação e consolidação” (PDDU, 2016, p. 66) dentro da Macroárea de Urbanização Consolidada, indicando que o poder público considera que a localidade, em geral, possui condições satisfatórias, mesmo podendo apresentar padrões de uso e ocupação do solo heterogêneos. Importante notar que esse trecho da orla não se encontra na Macroárea de Requalificação de Borda Atlântica, que em parte coincide com a área da Operação Urbana Consorciada. Isso pode indicar que o mercado imobiliário não considera a área tão atrativa para grandes empreendimentos agora, provavelmente devido a sua já intensa consolidação e ocupação em alto e médio padrão e sua alta densidade habitacional, diferente de outros trechos da orla atlântica. SAVAM - Sistema de Áreas de Valor Ambiental e Cultural (...) compreende as áreas do Município de Salvador que contribuem de forma determinante para a qualidade ambiental urbana e para as quais o Município, no âmbito de sua competência, estabelecerá planos e programas de gestão, ordenamento e controle, visando à proteção ambiental e cultural, de modo a garantir a perenidade dos recursos e atributos existentes” (PDDU 2016, p. 122).

Algumas áreas da orla em estudo se 40

enquadram em definições desse sistema: APCP - Áreas de Proteção Cultural e Paisagística (...) se associam ao meio ambiente cultural, seja por vincularem-se à imagem da cidade e caracterizar monumentos históricos significativos da vida e construção urbanas, seja por se constituírem em meios de expressão simbólica de lugares importantes no sistema espacial urbano, seja por se associarem ao direito à manutenção de uma cultura própria de certas comunidades. (PDDU 2016, p.122).

A região em estudo apresenta uma área classificada como APCP, que engloba desde a Praça Wilson Lins até o Jardim dos Namorados, enquadrada devido aos seus elementos de paisagem natural, que se configuram como referencial para os bairros próximos. O PDDU determina que sejam feitos estudos técnicos e regulamentação mediante legislação específica para cada APCP, com destaque para as diretrizes gerais de: • Preservação e valorização dos sítios, monumentos e seu entorno. • Elaboração de projetos urbanísticos com a participação da comunidade, priorizando o uso para o lazer, atividades educativas, culturais e turísticas. • Definição de projetos catalisadores de desenvolvimento para áreas em processo de deterioração. • Parceria com instituições públicas e privadas para conservação, recuperação e gestão dos bens

culturais. Parques de Bairro Além de se enquadrar como APCP, a região do Jardim dos Namorados também é classificada pelo PDDU como Parque de Bairro: “área pública urbanizada (...) destinada ao convívio social, ao lazer, à recreação e também à prática de esportes” (PDDU 2016, p. 144). Destaque para as diretrizes de: • Elaboração de projetos urbanísticos para conservação e valorização dos atributos naturais e construídos, com foco para o lazer e a recreação das comunidades próximas. • Estruturação para acessibilidade universal • Realização de eventos culturais, recreacionais e esportivos. ABM - Área de Borda Marítima A área em questão se encontra na Borda Atlântica, especificamente entre os trecho 8 e 9. Destaque para as seguintes diretrizes: • Elaboração de projeto urbanístico, requalificando os espaços públicos, o saneamento dos cursos d’água e controle das fontes de contaminação das praias, valorização do patrimônio cultural e paisagístico, ampliação da rede cicloviária e recuperação de passeios. • Incentivo à diversidade de usos, como os de apoio ao turismo, esporte e lazer. • Controle da altura das edificações,

LEGENDA:

Gabarito máximo: 36 metros Gabarito máximo: 45 metros Gabarito máximo: 60 metros Gabarito máximo: 75 metros ZEIS I

Parque Urbano Área de Borda Marítima Zona de Centralidade Municipal 2 SAVAM - Área de Proteçao Cultural e Paisagística SAVAM - Parque Urbano Operação Urbana Consorciada

0 100

500 FIG 51

•

Social

evitando o sombreamento da praia no período das 9 às 15 horas. Incentivo à substituição de edificações deterioradas e ocupação de espaços subutilizados próximos ao mar. Requalificação da Avenida Otávio Mangabeira e da Rua Minas Gerais, com prioridade para o pedestre e o transporte não motorizado e intensificação da arborização. Incentivo para implantação de usos residenciais e empreendimentos voltados ao lazer e turismo.

ZEIS - Zonas Especiais de Interesse

São destinadas à regularização fundiária e às Habitações de Interesse Social e de Mercado Popular. São 5 categorias diferentes, sendo a região do Nordeste de Amaralina classificada como 1, que corresponde aos assentamentos precários (...) habitados predominantemente por população de baixa renda e situados em terrenos de propriedade pública ou privada, nos quais haja interesse público em promover a regularização fundiária e produzir de HIS e HMP. (LOUOS 2016, p. 9)

Destaque para as diretrizes de: • Regularização fundiária sustentável • Assegurar as condições de habitabilidade e integrar os assentamentos à cidade. • Incentivar o uso de imóveis sub ou não utilizados para programas 42

•

habitacionais. Permitir a participação e controle social na gestão desses espaços urbanos

A ZEIS demarcada na área de estudos inclui três bairros: Nordeste de Amaralina, Santa Cruz e Chapada do Rio Vermelho, todos muito importantes para formação histórica da região e que apresentam alta densidade populacional. Uso e Ocupação do Solo ZPR Residencial 3

Zona

são:

As principais diretrizes para essa zona •

•

Predominantemente

As ZPR são destinadas ao uso predominantemente uni e multiresidencial, admitindo-se outros usos desde que compatíveis com o uso residencial, de acordo com os critérios estabelecidos pela LOUOS. A área estudada se encontra praticamente toda dentro da ZPR-3, considerada de alta densidade construtiva e demográfica, com edificações de padrão vertical de grande porte, destinados a usos residenciais, admitindo também outros usos. 2

e estruturadas nas imediações dos corredores de transporte coletivo de passageiro de média capacidade.

ZCMun - Zona de Centralidade Municipal

Porções do território que concentram atividades administrativas, financeiras, comerciais, de prestação de serviços, bem como uso residencial, geralmente instaladas em áreas com fácil acesso. Um dos trechos da área de estudo é classificado pela LOUOS 2016 como ZCMun2, que compreendem as centralidades existentes

•

• •

•

Elaboração de projetos, com a participação da comunidade, com objetivo de estruturar as centralidades. Incentivo à diversidade de usos, consolidando as atividades de comércio e serviços, estimulando usos mistos e atividades culturais e de lazer. Adequação das condições de acessibilidade, mediante ampliação das calçadas, previsão de áreas para estacionamento de veículos, localização das paradas do transporte coletivo, etc. Valorização dos espaços públicos, qualificando-os para atividades socioculturais e de lazer. Organização do comércio informal, priorizando o conforto para a circulação dos pedestres e a eliminação de conflitos com os fluxos viários. Conciliação dos usos de lazer e turismo com os usos residenciais, em especial nas centralidades localizadas na ABM.

Observando o mapa XX, é possível notar uma predominância de certos usos em cada porção do território. Nas quadras mais próximas ao mar, os edifícios são, em sua maioria, de uso comercial, devido a grande

LEGENDA:

Comercial Residencial Misto Institucional

FIG 51

43 FIG 52 - Relação dos prédios com a rua em Amaralina

FIG 53 - Relação dos prédios com a rua na Pituba

movimentação de pessoas e facilidade de acesso das Avenidas Octávio Mangabeira e Manoel Dias da Silva. Essa característica se contradiz com o zoneamento definido pela LOUOS, que enquadra parte da Avenida Octávio Mangabeira como ZPR-3. Ao adentrar o território, o uso habitacional aumenta, mas são de tipos bem distintos. Na Pituba, há uma predominância de residências multifamiliares de alto padrão, produzidos pelo mercado formal. Já na Amaralina, o número de residências unifamiliares é maior, o padrão e o gabarito dos edifícios diminuem e, quanto mais afastado da borda marítima, maior é o número de habitações autoconstruídas, já entrando no Nordeste de Amaralina. Na maioria da área estudada nota-se um esvaziamento das ruas no período da noite. Mesmo nos lugares onde existem habitações, essas são em edifícios multiresidenciais que não apresentam uma boa relação com a rua, muitas vezes separados por blocos de estacionamento e portarias. Essa análise evidencia a importância de incentivar o uso misto, que possibilitam movimento de pessoas durante vários horários do dia e produzem pavimentos térreos mais bem relacionados com a rua.

É possível perceber que poucos edifícios da área estudada alcançam o gabarito máximo autorizado, principalmente aqueles localizados na primeira faixa (ver mapa XX), que permite até 36 metros de altura, indicando que no período de construção dessas edificações a legislação quanto ao gabarito era mais restritiva. Os dois edifícios que mais se aproximam do atual limite de gabarito, foram construídos recentemente, sendo eles o Residencial Atlântico Porto, em Amaralina, e o Pituba Privillege, próximo ao Jardim dos Namorados, de uso misto. Comparando os mapas de gabarito dos PDDU de 2008 e 2016, é possível perceber que recentemente a orla foi dividida em um número maior de faixas de altura máxima, aumentando o limite permitido em praticamente todos esses trechos, cedendo à pressão do mercado imobiliário, que possui interesse em construir nas áreas de orla e obter maior lucro com índices mais permissivos. A região do Nordeste de Amaralina foi

Gabarito O principal objetivo do limite de gabarito é evitar o sombreamento das praias. Para definição real da altura máxima de uma edificação na ABM Atlântica, é exigido um estudo de sombreamento para os dias de solstício de verão e inverno, entre os horários de 9h às 15h. 44

FIG 54

uma das que mais se alterou. Se antes eram permitidas construções de até 12 metros de altura, o que é compatível com o nível topográfico e o padrão construtivo da região, no PDDU de 2016 esse parâmetro se alterou para 75 metros de altura na porção sul do bairro e sem qualquer limite de altura no restante. A única exceção, onde o gabarito máximo diminuiu, foi na Praça Wilson Lins, no antigo clube Português. No PDDU de 2008, houve uma liberação de gabarito especial para a área, permitindo edificações com até 54 metros de altura, pois havia, no período, a intenção de construir um hotel de alto padrão na área, precisando de um maior limite de altura para viabiliza-lo. Após muita pressão popular e de profissionais da área, a prefeitura voltou atrás, inclusive fazendo uma consulta pública para definir qual equipamento a população gostaria de ter na área. As opções eram um oceanário, o hotel ou praça, sendo essa última a mais votada.

LEGENDA:

1 a 3 pavimentos 4 a 7 pavimentos 8 a 11 pavimentos 12 ou mais pavimentos

500

100

FIG 55

500

100

Aspectos Ambientais As orlas de Amaralina e Pituba se encontram na costa atlântica da cidade de Salvador, segundo a classificação feita pela Prefeitura na LOUOS, entre os trechos 8 e 9 da área de borda marítima. Recursos Hídricos: A área em questão é próxima a dois rios urbanos: o Lucaia, a oeste, e o Camaragibe, a leste, cuja foz é na Praia do Costa Azul. Ambos os rios são canalizados e se encontram em grave estado de degradação, relevando o descaso do poder público e da população com os recursos hídricos da cidade. Assim como os rios, o mar também “sofre alterações devido aos materiais e substâncias carregados pela drenagem pluvial, bem como ao lançamento de esgotos sanitários de domicílios ainda não ligados à rede coletora do sistema público de esgotamento sanitário ou que não dispõem de solução para o destino adequado dos excretos humanos e das águas servidas” (Caminho das Águas, p. 351).

Um indicativo que confirma essa situação são os relatórios de monitoramento da qualidade das praias realizados sistematicamente toda semana pelo INEMA, que colhe amostras do mar, avaliam o número de bactérias fecais na água e determinam se está própria ou não para banho. Segundo levantamento feito pelo jornal A Tarde (REZENDE, 2017), durante o ano de 2016, a praia de Amaralina foi considerada imprópria para banho em 20 semanas, 38% do total, enquanto a praia da Pituba apareceu como 46

imprópria 69% do ano. Essa situação dificulta imensamente o uso das praias como área de lazer e balneário. O índice de salinidade nesses trechos de orla é altíssimo, inclusive o nome Pituba significa sopro, em alusão às “nuvens de sal” que podem ser vistas nessas praias. Essa característica acarreta na rápida degradação dos equipamentos urbanos instalados e na dificuldade do plantio de árvores na costa, sendo necessário uma escolha cuidadosa de espécies. Outro corpo hídrico relevante para a região é a Lagoa Vela Branca, conhecida pelos moradores locais como Lagoa dos Patos. Não foram encontrados registros oficiais sobre o estado de preservação do corpo d’água em sim, mas a praça que o circunda é bastante utilizada e cuidada pela comunidade. Segundo relato de moradores descrito no livro O Caminho das Águas, havia outro lago na região, onde atualmente se encontra a praça dos ex-combatentes, em frente ao Quartel de Amaralina, mas que desapareceu devido ao processo de urbanização. A área de aproximação não apresenta grandes variações topográficas, com exceção do trecho mais a oeste, em Amaralina, onde a Avenida Manoel Dias da Silva atinge a cota de 35 m de altura. Adentrando o continente, no entanto, encontra-se um relevo bastante acidentado, tanto na Pituba como no Nordeste de Amaralina, o que causa a mudança na morfologia urbana e acarreta grandes dificuldades na acessibilidade. Não há nenhuma opção de modal público para vencer essas diferenças de níveis, incentivando o uso de veículo particular como alternativa, especialmente na Pituba, onde a população possui maior poder

aquisitivo. Salvador ainda não possui um levantamento da vegetação nativa e remanescente, portanto não foi possível determinar exatamente quais biomas são naturais da área em questão. Um dos biomas conhecidos é de Mata Atlântica, que era presente em toda a costa leste brasileira. O Parque Joventino Silva, ou Parque da Cidade, é um dos principais redutos desse tipo de vegetação na cidade, com 720 mil m2 ha de área e considerado como Área de Proteção Ambiental (APA) pelo PDDU 2016. Além do Parque, a Prefeitura Municipal de Salvador divulgou, também no PDDU 2016, um cadastramento das áreas de Mata Atlântica, tanto remanescente como em processo de consolidação. Apesar de não haver levantamento oficial, acredita-se que a área em questão também tem a presença do bioma Restinga em suas praias. Segundo resolução 07 de 1996 do CONAMA: “Entende-se por vegetação de restinga o conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamente distintas, sob influência marinha e fluvio-marinha” que “exerce papel fundamental para a estabilidade das dunas e mangues, assim como para a manutenção da drenagem natural”. Foi possível registrar in loco pontos onde ainda se encontra vegetação de restinga nas praias de Amaralina e Pituba, sendo a Praça Wilson Lins um dos principais redutos.

LEGENDA: Áreas remanescentes de Mata Atlântica - estágio inicial Fonte PDDU 2016

0 100

500

Parque Joventino Silva - reserva de Mata Altântica

FIG 56

Corpos hídricos

Espaços públicos A pouca quantidade de espaços públicos na área de aproximação é notória, especialmente na região de Amaralina e do Nordeste, reforçando a importância da orla como um espaço de encontro da comunidade e de conexão com a cidade. Para além da área de aproximação, no Nordeste encontra-se áreas de lazer criadas pela própria população, normalmente na forma de campos de futebol. Mesmo com esses espaços remanescentes, ainda há uma deficiência enorme de espaços públicos, principalmente considerando a alta densidade demográfica da região. O Parque Joventino Silva, apesar de ser um espaço público e livre para atividades físicas, de lazer e local de encontro, com o avanço das ocupações informais pelo seu território, teve seu perímetro murado e agora dá as costas à comunidade, tendo apenas um portão de acesso pelo bairro de Santa Cruz e o principal, pela Avenida ACM, no Itaigara. Já na região da Pituba, o número de praças aumenta consideravelmente, porém, os edifícios multiresidenciais que oferecem inúmeras opções de lazer dentro de seus muros, e a situação de violência urbana, inibem o uso desses espaços públicos. Provavelmente a praça que menos se encaixa nessa situação de abandono é a da Lagoa Vela Branca, mais conhecida como Lagoa dos Patos, que possui alto movimento de pessoas. A arborização intensa da área, junto com a presença de um corpo hídrico, cria um espaço agradável, convidativo para permanência e único na região, mostrando como o paisagismo tem uma função primordial de mudar a forma como as pessoas vivem a cidade.

FIG 57 - Entrada Parque da Cidade pela Santa Cruz

FIG 58 - Campo de Futebol na R. José Rodrigues

FIG 59 - Praça em torno da Lagoa Vela Branca

18 1

12 16

13 3

7 5

LEGENDA: 1 Parque Joventino Silva

7 Largo das Baianas

13 Praça R. São Paulo

2 Campo Futebol R. do Campo

8 Lagoa Vela Branca

14 Praça Nossa Senhora da Luz

3 Campo Futebol Av. Nova República

9 Largo R. Território do Acre

15 Praça Wilson Lins

4 Campo Futebol R. José Rodrigues

10 Praça Igaratinga

16 Praça Marconi

5 Praça dos Ex-Combatentes

11 Praça Alameda Pádua

17 Jardim dos Namorados

6 Praça João Amaral

12 Praça Alameda Benevento

18 Parque Costa Azul

FIG 60

POPULAÇÃO TOTAL

CRESCIMENTO POPULACIONAL

A Pituba, entre os bairros estudados, foi o único que apresentou crescimento populacional nos últimos 10 anos, com uma taxa geométrica de 2,41%, quase 3 vezes a taxa de Salvador. Esse crescimento é devido a alta produção imobiliária no bairro, que por ter um solo valorizado, foi se adensando. O aumento no gabarito da Borda Marítima veio para atender uma necessidade do mercado imobiliário de possibilitar um maior número de habitações nessa área, mesmo isso podendo resultar em impactos ambientais e na qualidade de vida dos moradores. Salvador é uma cidade extremamente pobre e desigual e a área estudada apresenta uma profunda tensão socioeconômica gerada pela proximidade entre os bairros da Pituba, de classe alta, de Amaralina, de classe média, com a RNA, Região do Nordeste de Amaralina, que engloba vários bairros de população com baixo poder aquisitivo, como o próprio Nordeste, a Chapada do Rio Vermelho, a Santa Cruz e o Vale das Pedrinhas. Pelo histórico de Salvador de cidade escrava e pela própria conformação dos bairros de Amaralina e Nordeste como local de moradia de pescadores e de trabalhadores humildes, essa desigualdade se desdobra numa expressiva segregação racial, como revela o gráfico X, mostrando como a população negra e parda se concentra nos bairros mais humildes, enquanto a Pituba possui, em sua maioria, moradores brancos. É possível confirmar como a situação é grave ao analisar os índices de analfabetismo e de rendimento dos responsáveis por domicílio, percebendo que essa desigualdade vai se sobrepondo em diversos aspectos. O índice de pobreza é “calculado a partir da população residente em domicílios particulares permanentes que possuem rendimento nominal mensal domiciliar de até 70 reais per capta” (IBGE, 2010) e o Nordeste apresenta um número mais de três vezes maior que os da Pituba e Amaralina. Avaliando a idade da população, percebe-se que a Amaralina e a Pituba apresentam um alto número de moradores idosos, quase o dobro do percentual médio da cidade. Analisando o grau de envelhecimento, que é “a relação dentre a população com 65 anos ou mais e a população abaixo de 14 anos”, temos que a Amaralina apresenta uma taxa de 1,23 e a Pituba 0,93, sendo, respectivamente, o sexto e o décimo primeiro bairro com maior grau de envelhecimento da cidade. Já em relação as crianças, o Nordeste de Amaralina é o bairro estudado que apresenta o maior percentual, de 18,93%. Essa variação etária deve ser considerada na elaboração de projetos, destacando principalmente a importância da acessibilidade e da disponibilidade de equipamentos urbanos adequados para cada idade.

DENSIDADE DEMOGRÁFICA

Análise Socioeconômica

FIG 61, 62, 63

FIG 64, 65, 66 FIG 67, 68, 69

RENDIMENTO POR SALÁRIO MÍNIMO

IDADE DA POPULAÇÃO

ÍNDICE DE POBREZA

COR OU RAÇA

ÍNDICE DE ANALFABETISMO

NÚMERO DE DOMICÍLIOS

APREENSÃO SENSÍVEL Apesar da importância, para um projeto urbano, das análises feitas anteriormente, é preciso ir além desse estudo físico, histórico, estatístico do espaço para compreende-lo e, assim, poder intervir com menos riscos de causar danos às dinâmicas existentes. “[...] a reflexão sobre a cidade é, fundamentalmente, uma reflexão sobre a prática sócio-espacial que diz respeito ao modo pelo qual se realiza a vida na cidade, enquanto formas e momentos de apropriação do espaço como elemento constitutivo da realização da existência humana.” (CARLOS, 2007, p. 11)

Para tentar compreender como acontece essa “realização da existência humana” em certo espaço, é preciso se retirar da posição de visualizador de cima, distante, para se posicionar próximo, com seu corpo, ao nível do solo, utilizando de todos os sentidos para apreender como o espaço realmente se constrói e, principalmente, como as pessoas se apropriam dele. Agir dessa maneira é compreender e incorporar ao processo projetual que, ao contrário da concepção do poder público, as pessoas que ali se encontram não são meros usuários de serviços, mas sim agentes formadores daquele espaço. Esse processo foi feito através de diferentes métodos de apreensão, tentando compreender diferentes escalas, percepções de tempo, formas de inserção do corpo no espaço e maneiras de aproximação com os agentes formadores.

Caminhada Esse processo de compreensão do espaço foi iniciado através da realização de caminhada, por entender que esse exercício possibilita uma compreensão mais ampla da área em questão, permitindo um contato maior com os fluxos e movimentos presentes nele, ainda mais se tratando de um espaço, fisicamente, de caráter extremamente contínuo e linear. O tempo, nesse exercício, não foi um aspecto levado em consideração, tanto que não foi definido previamente. A ideia era não se preocupar com a passagem do tempo, deixando que o ritmo natural da caminhada e os acontecimentos do percurso definissem por quantas horas o exercício aconteceria. A importância aqui estava nas dinâmicas presentes no espaço, nas possíveis transições existentes, nas diferentes percepções de cada trecho. A caminhada aconteceu no dia 21 de janeiro de 2017, numa tarde de verão típica de Salvador, com céu limpo e temperatura elevada. Para não me estender muito colocando todo o relato da caminhada aqui, foi feita uma abordagem pelos tópicos mais latentes apreendidos no percurso e feita uma relação de onde eles aproximam, se distanciam ou se tensionam. Comércio Informal: logo no princípio da caminhada, surpreendentemente havia uma presença muito intensa de comerciantes ambulantes na praça e na praia. Durante o percurso pude perceber que havia uma frequência constante desses agentes onde havia permanências, como nos pontos de ônibus, próximo aos equipamentos de ginástica e nos poucos trechos de praia ocupados. Esse

uso parece suprir uma demanda existente por consumo, já que não existe oferta de barracas de praia ou qualquer comércio mais formalizado nesse trecho de orla. Presença de banhista: outra surpresa foi, também no início da caminhada, encontrar um grande número de banhistas na praia de Amaralina, o que, no entanto, não se repetiu no restante do percurso. Esse trecho ocupado tem as particularidades de apresentar uma maior facilidade de acesso, um faixa de areia mais ampla, um distanciamento da avenida, que cria um ambiente mais agradável de estar e, acredito que principalmente, não apresenta sinais claros de poluição ambiental, como em outros trechos da praia de Amaralina e Pituba que possuem saídas de esgoto extremamente visíveis. Largo das Baianas: esse espaço, de tamanha importância histórica e social para o bairro da Amaralina, espantou pela infraestrutura extremamente deficiente e pela ausência de pessoas e até mesmo comerciantes nesse período do dia. Práticas de atividades físicas: o primeiro contato com esse uso foi na faixa de areia em frente ao Largo, onde jovens “batiam o baba”. Para além dos banhistas do começo do percurso e dos pescadores, mais adiante, esse foi um dos poucos momentos onde foi possível presenciar ocupação da faixa de areia. Durante o restante do percurso, no entanto, a prática de atividades físicas foi recorrente, mas no espaço do calçadão, principalmente por ciclistas e corredores. Foi possível notar tensões entre essas duas modalidades e também com os pontos de ônibus e a colônia de pescadores, principalmente devido a degradação e a falta de espaço nas calçadas. Pontos de ônibus: são um dos poucos

LEGENDA: INÍCIO TÉRMINO FIG 70

LEGENDA: INÍCIO TÉRMINO

FIG 72

FIG 73

FIG 74

FIG 76

FIG 79

FIG 77

FIG 80

FIG 78

FIG 81

LUGAR PARA SENTAR FIG 75

COMÉRCIO INFORMAL

ÁREA SOMBREADA

PRÁTICA DE ATIV. FÍSICA

locais onde há certa permanência de pessoas, principalmente por parte dos comerciantes, que aproveitam estrategicamente o local de grande circulação para vender. Outro motivo para essa presença é que, apesar de insuficiente e inadequadamente, os pontos oferecem um pouco de sombra, servindo de abrigo para os comerciantes e transeuntes contra intempéries. Áreas sombreadas: além dos pontos de ônibus, é escassa a oferta de áreas sombreadas nessas orlas, e a procura por elas é intensa, já que em praticamente todas as árvores existentes, por menor que fosse seu porte, havia alguém embaixo, buscando aproveitar a sombra. Locais para sentar: também há uma deficiência enorme de equipamentos urbanos, entre eles destaco os bancos, que são poucos e estão degradados, o que dificulta a permanência no calçadão. Foi possível encontrar várias pessoas utilizando o guardacorpo como local de sentar, especialmente próximo aos pontos de ônibus, devido a já mencionada inadequação desses com o clima da cidade. Praça Wilson Lins: um dos espaços públicos mais amplos dessa orla, podendo oferecer bastante área sombreada, equipamentos urbanos e áreas de lazer, é subutilizado como estacionamento e local para eventos esporádicos. Sua ocupação se restringe a alguns comerciantes informais na borda da praia, pessoas que aproveitam a pouca área de sombra próxima ao estacionamento e a presença da colônia de pescadores. Colônia de pescadores: instalada numa edificação claramente construída para ser temporária e que se encontra em estado de

degradação, é uma resistência importantíssima na região. Sua presença garante uma dinâmica especial ao lugar, ocupa a faixa de areia com as embarcações e enche de vida a praia, mostrando que existe um uso cotidiano nesse espaço. A rampa de acesso, construída de maneira inadequada, gera uma tensão com o fluxo de ciclistas e pedestres, tornando esse trecho do calçadão extremamente perigoso de transitar. Jardim dos namorados: ao se aproximar dele há uma mudança na percepção do espaço causada pela presença do edifício Pituba Privillege, que destoa do entorno por seu gabarito elevado. Também é nesse trecho onde as vias se juntam, aumentando a distância com as edificações do outro lado da pista, causando uma sensação mais caótica. Essa mudança gradativa de ambiência, que vai se consolidar totalmente ao final do Jardim dos Namorados, confirma o que foi analisado para a decisão da área de aproximação, sendo, por isso, o local onde a caminhada se finalizou.

FIG 82

Deriva A intenção para esse trabalho foi explorar as ruas internas da Amaralina e Pituba, especialmente os trechos planejados (e mais antigos) desses dois bairros, como funcionam as dinâmicas de usos e fluxos nessas quadras, e como são as relações com a orla e o mar. Por essa intenção de compreender as quadras, a regra a ser definida precisava possibilitar trocas frequentes de direção, para transitar no maior número possível de ruas. Então, foi escolhido sortear cartas que indicassem os sentidos (frente, volta, direita e esquerda) a cada dois cruzamentos de vias. Em caso de impossibilidade de seguir conforme indicado, seria sorteada outra carta. Diferente da caminhada, o tempo para a deriva é um fator muito importante, então foi definido que esse exercício de apreensão duraria 2 horas. No entanto, não foi possível cumprir o previsto devido a uma chuva típica de março, que inviabilizou sua continuidade. Fazendo uma retomada dessa prática, foi possível notar como as dificuldades auxiliaram na apreensão de diversos aspectos do espaço. O sorteio das cartas foi uma ideia interessante, pois proporcionou explorar a relação entre as ruas, mas algumas vezes as cartas levaram o percurso a dar voltas nas mesmas quadras. Isso, somado a diminuição no tempo de prática devido à chuva, e ao tempo gasto esperando para atravessar nos semáforos, resultou numa área explorada bem mais restrita que antes imaginada e que não se aproximou de apreender relações importantes, como com a Amaralina. No entanto, essas repetições, apesar de parecerem sem propósito, contribuíram para uma apreensão mais profunda, já que me levou 56

a perceber o espaço com diferentes olhares. Além da dificuldade em se andar na Pituba, devido a constante espera nos semáforos para atravessar as ruas, outra tensão com os veículos é o estacionamento destes nas calçadas. Mesmo quando estão parados em locais reservados para isso pelos edifícios, a entrada e saída dificulta o fluxo de pedestres. Também é uma prática comum estacionar em locais inapropriados, ao ponto de existir um grande número de “flanelinhas” trabalhando nesses pontos, o que gera um grande distúrbio para o pedestre que, em certos casos, precisa caminhar pela rua mesmo em vias com calçadas largas, como a Manuel Dias da Silva. Essas barreiras para o fluxo de pedestre também aparecem como postes, lixeiras e até mesmo comerciantes informais. Assim como na prática da caminhada, os comerciantes informais também apareceram no relato da deriva como agentes importantes, possuindo uma dinâmica própria de apropriação do espaço e de relação com as pessoas. Foi possível notar que havia uma preferência por parte deles de se localizar nas esquinas que, além do motivo evidente de ser a interseção entre duas ruas e possuir mais movimento, é também, no caso da parte planejada e quadriculada da Pituba, o local onde estão os semáforos. Como tanto os veículos como os pedestres precisaram parar e esperar, gera tempo suficiente para consumir nesses comércios. Esse fenômeno é ainda mais claro entre os comerciantes que não possuem um apoio fixo, trabalhando apenas segurando seus produtos, que se utilizam da espera no semáforo como sua vitrine. A presença desses comerciantes nas ruas garante uma maior sensação de

segurança, efeito também produzido pelos pequenos pontos comerciais, aqueles cujas vitrines são os limites diretos com a calçada. Isso não acontece próximo aos comércios maiores, como os galpões, edifícios recuados pelo seu estacionamento, supermercados, que possuem um maior distanciamento e uma menor interação com o pedestre. Essa insegurança pela falta de “olhos da rua” (JACOBS, 2003) também é latente na praia, já que está um nível abaixo da calçada, prejudicando a visualização de quem passa por ela, e também pela dificuldade de acesso a faixa de areia em vários trechos. Um dos momentos em que houve “desobediência” à regra das cartas foi quando a direção indicada era para seguir pela faixa de areia, mas não havia forma de acessa-la próxima e o nível de insegurança era muito alto. Apesar dessas questões em relação a praia, foi possível presenciar alguns usos resistentes nela, principalmente os pescadores e dois praticantes de atividade física. O outro momento em que as cartas não foram seguidas foi quando a indicação de caminho levaria a uma rua que só cruzaria com outra via muito à frente, num local já bem desconectado da dinâmica de espaço que essa prática se propôs a apreender. Nesse momento, o conhecimento prévio do bairro como moradora afetou o exercício e revelou uma gradativa desconexão existente do “miolo” da Pituba com a dinâmica existentes nas ruas da área do bairro planejada e mais próxima à orla.

LEGENDA: INÍCIO TÉRMINO FIG 83

LEGENDA: INÍCIO TÉRMINO

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USO RESISTENTE DAS PRAIAS FIG 87

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COMÉRCIO INFORMAL

TENSÃO COM CARROS

FIG 85

Pesquisa in loco A maior parte das estratégias de apreensão do espaço mostradas até agora retratam o meu olhar que, apesar de ser moradora da região, está, naquele momento, sendo externo. Com o avanço no processo de apreensão, chegou o momento de se aproximar mais das pessoas Tentar compreender o olhar que ele, usuário ativo e interno do contexto naquele instante, possui para o lugar. O método de aplicação de questionário foi escolhido por possibilitar o início de um diálogo, por criar uma oportunidade inicial de conexão que, a partir do momento que começa, pode levar a informações além daquelas programadas nas perguntas. Por esse intuito, o questionário foi elaborado e aplicado deixando as respostas mais livres, tentando evitar induções e buscando criar um momento de conversa com o entrevistado. Logo ficou claro que esse processo deveria ser realizado apenas pessoalmente, dispensando o uso de plataformas online que poderiam agilizar e aumentar a quantidade de retornos. Ao tomar essa decisão de aplicar o questionário apenas in loco, estava ciente que, por ser um trabalho realizado individualmente e em relativo pouco tempo, não seria possível atingir uma parcela significativa de usuários e moradores da região. Esse fator reforçou a ideia de um questionário mais aberto, livre, assumindo um caráter mais qualitativo que quantitativo. Elaborando o questionário, notei a necessidade de criar dois modelos, um para o público geral

de frequentadores da orla e outro específico para os pequenos comerciantes da região que, como já percebido nos outros processos de apreensão do espaço, são agentes importantíssimos. O processo de aplicação ocorreu durante os meses de Maio e Junho, nas Orlas de Amaralina e Pituba e nas áreas adjacentes, como Jardim dos Namorados e Avenida Manoel Dias da Silva. Como é possível notar no mapa abaixo, houve um esforço de aplicar questionários de forma dispersa na Área de Aproximação, reunindo no total 61 entrevistas, sendo 44 de frequentadores gerais e 17 de pequenos comerciantes. • Entrevista com passantes O percentual em relação ao sexo dos entrevistados está dentro do esperado, sendo 45% de mulheres e 55% de homens. Em relação a faixa etária, como é possível ver no Gráfico 1, os grupos mais presentes foram entre 31 a 40 anos e entre 51 e 60 anos. Surpreendente

foi notar que, ao considerar o percentual de pessoas acima dos 50 anos, acharia um valor superior ao de jovens (entre 16 e 30 anos), revelando um interesse ou necessidade de pessoas em idade mais avançada de usar o espaço. Outro fator importante de ressaltar é a ausência de crianças e adolescentes na região. Mesmo quando o questionário foi aplicado aos finais de semana, quase não havia a presença dessa faixa etária, impossibilitando uma aproximação e talvez indicando uma falta de atrativos na orla para esse público. Entre os passantes, surpreendentemente, houve um número expressivo de não moradores: 45% dos entrevistados afirmaram não residir nos bairros da Amaralina, Nordeste de Amaralina ou Pituba. Quando foi perguntado o que trazia à região, metade respondeu que seria para Praticar Atividades Físicas, revelando o enorme potencial da área para esse uso e que seu atrativo tem um alcance para além dos bairros dessa orla. Já 25% desse grupo de não-residentes,

FIG 94 - Mapa com locais das entrevistas

estava na região à trabalho, permanecendo na orla apenas a espera de transporte para voltar para casa. Importante revelar que 45% das pessoas que não moram na região, acessam a área através do transporte público, apesar de muitas delas não terem sido entrevistadas nos pontos de ônibus. Quando questionadas porque não esperavam no ponto, explicavam que era muito desconfortável e era preferível sentar nos locais próximos e observar à distância. Relacionadas a motivações de lazer, como encontrar amigos e relaxar na orla, foi uma parcela de 20% e os 5% restantes vão para usar os Serviços e Comércios da região. Entre os entrevistados que não moram na região, quando questionados se frequentavam o calçadão da orla (desconsiderando as vezes que estavam apenas de passagem ou esperando ônibus), as respostas ficaram divididas. Metade vai ao menos uma vez por semana e a outra metade frequenta poucas vezes ou nunca. Já entre os moradores da região, 41% respondeu que vai ao calçadão da orla mais de uma vez por semana, 42% diz que frequenta uma vez por semana e apenas 17% diz ir poucas vezes por ano. Nenhuma pessoa respondeu que nunca frequenta a orla contra um total de 83% de entrevistados indo com uma frequência alta, revelando que é um espaço amplamente utilizado pelos moradores. Para compreender melhor a frequência das pessoas nas praias da Pituba e Amaralina, os dados foram contabilizados em dois grupos, agora sem mais distinção entre moradores ou não da área: considerando aqueles que não frequentam o calçadão, tendo respondido que iam poucas vezes ou FIG 93, 94, 95

nunca; e um outro grupo considerando aqueles que frequentam à orla com regularidade, ou seja, ao menos uma vez por semana. Como é possível ver no Gráfico do primeiro grupo, daqueles que não frequentam a orla, a grande maioria não vai à praia com regularidade, sendo que 54% do total afirmou nunca ter ido às praias da Pituba ou Amaralina, mesmo entre os que moram na região. Os 23% que afirmaram ir poucas vezes ao ano, contaram em conversa que costumam ir em eventos especiais, como na noite de Réveillon, para assistir à queima de fogos, ou no dia de Iemanjá. Dentro do segundo grupo, que frequenta o calçadão da orla, temos que um total de 64% que não vai às praias da Amaralina e Pituba com frequência. Mesmo revelando uma presença maior na praia entre aqueles que vão ao calçadão, ainda assim é um grupo muito significativo que não possui uma relação de uso com ela mesmo estando tão próximo. Conhecendo esse distanciamento entre os usuários da região e a praia, tentou-se compreender os motivos para tal conversando com os entrevistados sobre a questão e tentando deixá-los o mais livre possível nas respostas. O motivo que mais foi mencionado foi o da praia ser poluída, seguido pela falta de estrutura, que engloba desde respostas em relação a ausência de sanitários, mobiliários urbanos, equipamentos de lazer, a opções de restaurantes e bares. O próximo motivo mais citado não era esperado. 20% dos entrevistados mencionaram que não frequentavam mais as praias da área porque “poucas pessoas vão”, o que tornaria elas menos atraentes, revelando a importância que a interação social tem durante o uso das praias, especialmente as urbanas.

FIG 96, 97, 98

Outro motivo interessante de ressaltar é o de “Dificuldade de acesso”, que foi mencionado principalmente por pessoas que estavam na Amaralina, a região mais carente de escadas apropriadas para descer ao nível da areia. Para entender melhor esse distanciamento, foi questionado especificamente o que os entrevistados percebiam de ausências e quais elementos poderiam contribuir para uma melhor relação entre os usuários da região e as praias da Amaralina e Pituba. O mais citado, com 82%, foi a ausência de Sanitários públicos, que possibilitariam um uso mais cotidiano da praia, como poder dar um mergulho no mar e ter a possibilidade de se limpar antes de entrar no carro ou pegar um ônibus. 66% mencionaram sentir falta dos restaurantes e bares nas formas de barracas localizadas na areia, o que acredito também ter uma relação com a questão dos sanitários, já que esses estabelecimentos ofereciam essa estrutura anteriormente. Também tem relação com a questão social, mencionada anteriormente como motivo. As barracas promovem um movimento de pessoas e se tornam atrativos, como é possível notas nas praias que ainda as possui, como Stella Maris e Flamengo. Um número significativo de pessoas também mencionou a falta de disponibilidade de equipamentos esportivos, pois já existe um uso da areia para prática de atividades físicas, principalmente futebol e vôlei, mas não possui estrutura alguma, precisando ser completamente improvisada por àqueles que desejam usa-la nesse sentido, muitas vezes inibindo o uso por outras pessoas.

A questão da acessibilidade aparece novamente, com 20% das pessoas mencionando-a e relatando dificuldades e improvisações que precisaram ser feitas em diversos pontos para que fosse possível o acesso à faixa de areia. Esse questionamento sobre as estruturas que mais fazem falta também foi feito em relação aos Calçadões da orla, sendo o mais mencionado a necessidade de um melhor calçamento, já que o atual está extremamente deteriorado e, inclusive, já causou acidentes com ciclistas e corredores, segundo relatos dos entrevistados. Com 55% de menções, a falta de equipamentos urbanos também é latente, englobando desde locais para sentar, a equipamentos de ginástica que foram removidos e ainda não foram reinstalados, aos pontos de aluguel de bicicleta que estão deteriorados e com pouca oferta. A falta de áreas sombreadas também foi muito mencionada, já que é uma orla bem carente de árvores e de locais de abrigo. Inclusive os pontos de ônibus, que poderiam servir como espaços de sombra, foram mencionados por 23% dos entrevistados, que afirmam que a orla precisa de pontos de ônibus mais amplos e confortáveis termicamente. 27% dos entrevistados mencionaram a iluminação precária, que dificulta o uso da área à noite, especialmente na Praça Wilson Lins e no Largo das Baianas, locais muito potenciais para a permanência, já que são mais amplos e, no caso do Largo, possui opções de bares e restaurantes. •

Entrevista com pequenos comerciantes Ao aplicar esse questionário, foi 61

FIG 99, 100, 101

surpreendente notar como havia um número muito maior de homens trabalhando nesse setor, atingindo uma fatia de 82% dos entrevistados, em relação a quantidade de mulheres. Como é possível ver no Gráfico, a faixa etária mais presente é de 41 a 50 anos, com um total de 41% dos entrevistados. Também existe uma presença significativa de idosos trabalhando, sendo 24% do total. Relacionando as informações desse gráfico com as respostas em relação ao tempo de trabalho no mesmo ponto, percebe-se que as áreas onde foram aplicadas os questionários permite uma permanência extensa desses comércios, somando 64% de entrevistados que trabalham há mais de 10 anos no mesmo local. Dos comerciantes entrevistados, 41% reside nos bairros da Pituba, Amaralina ou Nordeste de Amaralina. A forma de deslocamento mais comum é usando o transporte público, mas existe uma parcela grande, de 41%, que chega ao trabalho caminhando, especialmente entre aqueles que moram na região. Entre o grupo que não mora na região, as respostas em relação a frequência na orla ficou dividida igualmente. Entre os que moram, 86% afirmam utilizar a orla além do horário de trabalho, principalmente para lazer e prática de atividades físicas. Em relação ao uso da praia, considerando o local de moradia, temos que 71% daqueles que residem na região frequentando a praia. Já entre os que não são residentes, 40% frequenta a praia, sendo um percentual quase equivalente ao dos Passantes que moram na região e vão à praia, que é de 42%. Inclusive, muitos dos entrevistados, comentaram que gostam de ir à praia relaxar um pouco durante ou ao final do expediente de trabalho,

FIG 102, 103, 104

revelando a importância que esse espaço tem no cotidiano dessas pessoas. Quando questionados quais melhorias fariam em seus pontos comerciais, 71% dos entrevistados respondeu que melhoraria ou adicionaria Cobertura, pois o sol forte ou a chuva prejudicam seus trabalhos. O segundo item mais mencionado foram sanitários, o que é natural, já que eles passam a maior parte do dia na região e não existe a disponibilidade de sanitários em seus pontos de trabalho, ou mesmo na orla em condições e quantidades adequadas. Já em relação as melhorias que fariam na Orla e nas praias de Amaralina e Pituba, o mais mencionado foi a Iluminação, já que afeta diretamente àqueles que trabalham até à noite. A questão dos sanitários aparece novamente, com 47%. Assim com os passantes, os comerciantes também mencionaram bastante a questão do calçamento, relatando outros casos de acidentes por conta das irregularidades. Apesar de não aparecer no gráfico, é importante mencionar que 3 comerciantes localizados no Largo das Baianas comentaram sobre a urgência da instalação de semáforo e faixa de pedestre para acesso ao posto de saúde à frente. Relataram, inclusive, inúmeros casos de pessoas tentando atravessar a faixa com grande dificuldade por conta do fluxo e velocidade dos veículos na Avenida Octávio Mangabeira.

FIG 105, 106, 107

FIG 108, 109, 110

“Gosto de vir ver a queima de fogos do Reveillon aqui [Largo das Baianas], já vim uns 3 anos” Rita, 52 anos

“Teve esse monte de reforma nas orlas de Salvador, aqui tá precisando também” Márcio, 34 anos

“Queria que ao invés desse toldo, fosse algo que remetesse a nossa cultura.”

“Quando era mais nova ia muito para a praia atrás do Clube Português, agora não tem mais nada ali” Silvana, 40 anos

“Ouço falar que tem muito assalto, ai fico com medo de ir [para praia]” Marília, 27 anos

SOCIAL “A localização é a melhor parte do meu ponto” Antônio, vendedor de coco

“Tinha que ter área coberta, porque quando chove a gente não consegue vir. Estamos tentando conseguir uma liberação do Salvador Norte [shopping] pra andar no estacionamento de lá. ”

Josenildo, 40 anos, morador do Cabula, frequenta o Jardim dos Namorados com grupo de patinadores 64

“Eu gostava daqueles aparelhos [de ginástica] que tinham na Praça Nossa Senhora, mas tiraram” Oswaldo, 73 anos

“Lembro de uma queda de bicicleta que vi aqui perto, “Quase ninguém vem [pra por causa do praia], fica sem graça. Prefiro asfalto ruim” ficar só no calçadão mesmo” Ademir, 57 anos

Gervásio, Baiano de Acarajé

Joyce, 20 anos

“Já fui assaltada lá [praia de Amaralina], ai não vou mais” Naíra, 19 anos

INFRAESTRUTURA “A galera não costuma vir pra essa praia, ai eu também não venho” Gustavo, 25 anos

“Tiraram os equipamentos de ginástica, não sei porque, todo mundo usava”

Edmilson, 34 anos, morador de Brotas que pratica atividades físicas na orla

“A gente tem medo desse parque aquático porque a prefeitura pode querer tirar a gente daqui ” Osvaldo, pescador da colônia da Pituba

“Prefiro ir na Barra, lá é melhor pra tomar uma cervejinha”

Entrevistado que não quis revelar nome, 35 anos, morador do Vale das Pedrinhas, sobre ir à praia de Amaralina e Pituba

ATIVIDADE FÍSICA “Vi o esgoto descendo pro mar, ali na Pituba. Ai nunca mais fui pra lá né” Daniel, 35 anos

“Fiz várias amizades andando de patins aqui, agora venho quase todo dia” Josenildo, 40 anos, morador do Cabula, frequenta o Jardim dos Namorados com grupo de patinadores

“Ah, toda resenha depois do baba marca” “Adoro correr aqui, mas o calçamento tá Fábio, 32 anos, morador de Pernambués que participa horrível, a gente fica com medo de cair” do “baba” aos domingos na praia, quando questionado Taiana, 23 anos

sobre momentos marcantes relacionados à orla

“Fiz foi amizade com um pessoal que vem caminhar aqui no calçadão, ai agora a gente marca as vezes de vir junto” Wilson, 60 anos

“A chuva atrapalha demais aqui, ninguém consegue trabalhar direito nessa época. A CONDER disse que ia instalar uma parede de vidro mas ainda não veio” Suely, Baiana de Acarajé no Largo

“Vendo muito pras pessoas que vem correr aqui” Edson, vendedor de água de coco

“O ponto de ônibus tá muito longe, as pessoas ficam lá e não compram aqui” Suely, Baiana de acarajé no Largo das Baianas

“Queria uma reforma tipo a do Rio Vermelho, aí aumentava o movimento” Márcio, vendedor

“Essa praça [Wilson Lins]! Tá totalmente abandonada, toda hora tem assalto, não tem luz, segurança, nada!” Ademir, 57 anos

“Lembro muito de quando ia no Clube Português. Era muito movimentado, tinha barracas, tinha jogo, ficava cheio!” Diogo, 73 anos, morador da Pituba há 40 anos

LEMBRANÇAS “Quando tá chovendo a gente não faz venda nenhuma” Ricardo, vendedor espetinhos

“Gostava daqueles aparelhos [de ginástica] da Praça Nossa Senhora, mas tiraram” Oswaldo, 73 anos

“Uma vez vim com uns amigos e um deles, que é gordinho, quebrou a escada quando tava descendo [pra praia] e caiu” Ingrid, 20 anos

COMÉRCIO “Eu não sei nem por onde desce para chegar lá [na praia]” Rita, 52 anos

“Amo jogar bola aqui na praia [de Amaralina]” Clodoaldo, 47 anos

“Essa obra nos pescadores deve ter uns 5 anos, aí fica assim tudo bagunçado” Diogo, 73 anos, morador da Pituba há 40 anos

O processo de aplicação do questionário foi de enorme aprendizado, não apenas pela coleta de dados, mas pelo contato constante com o local e tentativas de interação com as pessoas. Um dos maiores obstáculos durante a aplicação da pesquisa levou a uma conclusão sobre o uso do espaço. Era difícil se aproximar e criar um contato com as pessoas, já que a maioria delas estava ali para correr, andar de bicicleta ou esperar a chegada do seu ônibus. Essa dificuldade me levou, num primeiro momento de forma inconsciente, a buscar locais que promovessem permanência, como os Largos das Baianas e da rua Território do Acre e as praças Wilson Lins e Nossa Senhora da Luz. O que esses espaços têm em comum é a presença de pequenos comércios, que trazem movimento e uma sensação de segurança, áreas sombreadas e mobiliários urbanos, mesmo que deficientes. Como a ideia da aplicação desse questionário era de promover um contato com a população, não apenas as respostas quantificadas foram importantes, mas os depoimentos dados também foram registrados e analisados posteriormente através da elaboração desse MindMap. Os relatos se conectam, tratando especialmente de cinco macro aspectos do espaço: o aspecto social, a situação infraestrutural, o uso para atividades físicas, o relato de lembranças e o uso comercial. O registro desses relatos foi fundamental na apreensão do espaço sob as diferentes perspectivas das diferentes pessoas que se apropriam dele. Foi poder “enxergar” um pouquinho através dos olhos de um idoso, de um comerciante local, de uma atleta, de um morador do bairro há 30 anos, etc.

FIG 111

CARTOGRAFIAS DAS APREENSÕES Durante o processo de apreensão foram coletados vários dados, desde a pesquisa histórica, às entrevistas com as pessoas, às várias excursões no local, às informações sobre infraestrutura, etc. Esses dados foram cartografados, para entender como eles se dispõe no espaço físico. Posteriormente foi feita a sobreposição desses mapas, possibilitando uma análise mais ampla das questões, levando a compreensão de novas relações, antes não percebidas.

LEGENDA: Fluxo predominante de Moradores e trabalhadores da região interna - Vias transversais Pessoas a procura de comércios e serviços - Av. Manoel Dias da Silva Praticantes de atividades físicas - Beira Mar

FIG 112

FLUXOS A Pituba mantém até hoje a malha quadriculada proposta por Theodoro Sampaio no projeto Cidade Luz. As vias de conexão entre os bairros são as Avenidas Octávio Mangabeira e Manoel Dias da Silva. Apesar de igualmente movimentadas, possuem características de fluxo de pedestre diferentes. Em amarelo no mapa, a Manoel Dias é um fluxo predominante de pessoas a procura de comércios e serviços ofertados. Esse fluxo é constantemente interrompido pela necessidade de atravessar as vias transversais. Já o fluxo da Octávio Mangabeira é predominantemente devido a pratica esportiva, incluindo muitos ciclistas. É um fluxo contínuo, praticamente sem interrupções. A partir do Largo das Baianas, esse fluxo se desvia da Avenida principal e passa a ocorrer com maior intensidade na Rua das Castanheiras, pois é por lá que a ciclovia passa e a calçada é mais larga. Já as vias transversais são as conexões para a parte interna dos bairros, sendo mais utilizadas por aqueles que moram e trabalham nelas. É possível perceber bastante, nessas vias transversais, a diferença entre a Pituba, com o traçado regular, e a Amaralina e Nordeste que, devido ao relevo e a ocupação não planejada, possui menos acessos. O local marcado em roxo é um desses acessos, um túnel para pedestres e ciclistas que passa por debaixo da ladeira da Avenida Manoel Dias. Devido ao abandono e insegurança, essa passagem é pouquíssimo usada e as pessoas acabam se colocando em risco para atravessar pela via. 67

Atravessamento através da Praça João Amaral Atravessamento através do Largo das Baianas

LEGENDA: Uso predominantemente residencial Uso predominantemente comercial Faixa de areia Espaços Públicos Avenida Amaralina / Octávio Mangabeira

Atravessamento através do uso residencial

FIG 113

Atravessamento através das Praças Nsa Sra da Luz e Wilson Lins

Atravessamento através do Jardim dos Namorados

USOS O uso comercial cria uma barreira, uma sensação de que não deve existir uma praia após aqueles edifícios. Certos espaços, então, se tornaram “atravessamentos” dessa sensação, se tornaram a conexão com o mar. Esses atravessamentos acontecem através das praças, o que é natural, já que elas representam um “alívio” em meio a tantos elementos construídos, são de livre acesso e, normalmente, são arborizadas. A única exceção é a Rua das Castanheiras, que passa beirando o mar, separada da Avenida Amaralina por quadras predominantemente residenciais. Essas características criam uma espacialidade tranquila, de reclusão, o que desinibe o uso da praia e permite melhor contato com mar. 69

LEGENDA: Espaços de Permanência Comércios ambulantes Pontos de ônibus 70

FIG 114

PONTOS DE ÔNIBUS COMÉRCIOS PERMANÊNCIAS É possível perceber claramente a relação que existe entre a localização dos pontos de ônibus e a presença de comerciantes informais, devido a maior movimentação de pessoas nesses locais, que se tornam excelentes pontos de venda. Entendendo essa lógica, percebe-se que oferecer pontos de ônibus mais agradáveis para os usuários de transporte público é, consequentemente, oferecer uma melhor condição de trabalho para os comerciantes. Outra análise feita durante as sobreposições de dados foi da relação entre a permanência maior de pessoas nos espaços e a presença de comerciantes. Não ficou claro qual é a causa e consequência, podendo ser diferente em cada situação: se o aglomerado de pessoas atrai o comércio ou se o comércio oferece melhores condições para as pessoas permanecerem, desde um local para sentar, uma sombra ou apenas a procura pelo produto. 71

LEGENDA: 1 Quartel de Amaralina 2 Largo das Baianas 3 Igreja Nossa Senhora da Luz 4 ColĂ´nia de Pescadores da Pituba

4 3

FIG 115

PRESENÇAS HISTÓRICAS Os espaços aqui indicados representam presenças históricas na formação desses bairros, mas não significa que esses agentes sempre estiveram nessa localização específica. Esse mapa é importante para entender como as mudanças das dinâmicas da cidade ao longo do tempo foram alterando esses usos, mas como esses usos também transformam a cidade, persistindo e se consolidando no espaço físico. Interessante também analisar o oposto desse mapa, que seriam as ausências. O Clube Português, por exemplo, de tanta importância anos atrás, está tendo seu registro físico cada vez mais apagado pelas transformações da cidade. 73

pela faixa de areia mais extensa pelo espaço público disponível

por estar mais reservado pela presença do uso habitacional

LEGENDA: Espaços Potenciais 74

pela faixa de areia mais extensa pelo intenso uso comercial e capacidade de atração de pessoas de outros bairros pela presença histórica das Bahianas e na memória das pessoas

FIG 116

pela extensão do espaço livre e pela disponibilidade de equipamentos esportivos

pela faixa de areia mais extensa e proximidade de hóteis

pela extensão do espaço livre e presença na memória das pessoas

pela futura conexão com o BRT pela relação com a Igreja e a possível conexão com a Praça Wilson Lins

POTENCIALIDADES Foi elaborado a partir da sobreposição de informações coletadas referentes aos espaços de permanência, a presença de comerciantes, aos relatos dos entrevistados, aos usos dados pelas pessoas e as análises territoriais. Indicam espaços potenciais para terem suas dinâmicas fortalecidas ou onde existem possibilidades de inserção de novos usos. Cada espaço apresenta motivos de potencialidade diferentes, o que deve ser extremamente considerado no momento propositivo. Se atentando a isso, esse mapa é um importante guia para definir as diretrizes projetuais e entender quais espaços recebem melhor cada proposição. 75

por causa do extenso muro do Quartel de Amaralina, que dificulta o acesso à praia

pela disputa de espaço entre os pedestres e os veículos

LEGENDA: Espaços de Tensão Limites de Tensão Presença de prostituição

pela diferença socioeconômica entre os bairros de Amaralina e Pituba

FIG 117

pela diferença de nível entre a calçada e a praia

pela ameaça de segregação do espaço público devido a instalação da piscina olímpica

TENSÕES Assim como o mapa de Potencialidades, esse também é extremamente importante no momento propositivo, para entender como os usos interagem entre si e suas repercuções no espaço físico. É essencial ressaltar que a intenção desse mapa não é propôr o silenciamento dessas tensões, já que a cidade é um espaço diverso e que naturalmente será disputado. A intenção de conhece-las é para projetar tentando entender o impacto nas existentes e o possível surgimento de novas tensões. A presença da prostituição na orla sempre foi uma tensão do uso do espaço público durante a noite. No entanto, essa tensão se intensificou quando esse uso ultrapassou a orla e a Avenida Manoel Dias e passou a adentrar o território do bairro, chegando nas ruas mais residenciais. 77

“Quase ninguém vem [pra praia], fica sem graça. Prefiro ficar só no calçadão mesmo” Joyce, 20 anos

“A galera não costuma vir pra essa praia, ai eu também não venho”

PISCINA OLÍMPICA NA PRAÇA WILSON LINS

FIG 121

Gustavo, 25 anos

FIG 118

“Prefiro ir na Barra, lá é melhor pra tomar uma cervejinha” CONVÍVIO

FIG 119

FUNCIONA COMO LOCAL DE CONVÍVIO

Entrevistado que não quis revelar nome, 35 anos, morador do Vale das Pedrinhas, sobre ir à praia de Amaralina e Pituba

POR QUE A BARRA É USADA MESMO COM PROBLEMAS DE INFRAESTRUTURA?

TURISMO ATIVIDADE FÍSICA

SOCIAL LAZER TRANSPORTE TRABALHO

ENTENDER COMO

MAR

PRAIA

“Vi o esgoto descendo pro mar, ali na Pituba. Ai nunca mais fui pra lá né” Daniel, 35 anos

ASPECTO SOCIAL

MELHORAR INFRAESTRUTURA

FIG 120

ATIVIDADE FÍSICA

POUCO USO

DIFICULDADE DE ACESSO

“A gente tem medo desse parque aquático porque a prefeitura pode querer tirar a gente daqui” Osvaldo, pescador da colônia da Pituba

USOS RESISTENTES POLUIÇÃO

INSEGURANÇA USO DA PRAIA NA RUA DAS CASTANHEIRAS

Rua residencial Menos carros Escada de acesso

FIG 122

Vôlei Futebol Funcional Corrida Caminhada

PESCA

CONECTOR DAS DINÂMICAS URBANAS

CONEXÃO COSTA AZUL

Jardim dos Namorados

CONEXÃO Quartel de RIO VERMELHO Amaralina POTENCIAL DA PRAIA NÃO É MAIS DE VERANEIO, É DE COTIDIANO URBANO

FIG 123

PROJETO CIDADE LUZ, DE THEODORO SAMPAIO

CICLOVIA

PRAIA URBANA

Como parte do sistema de transporte urbano

CLUBE PORTUGUÊS

ORLA MUITO USO COMÉRCIO

BAIANAS

AMBULANTES

IMPEDIA A VISÃO DO MAR

CIDADE

Largo das Baianas Praça Wilson Lins Pontos de ônibus

PERMANÊNCIA PASSAGEM

ATIVIDADE FÍSICA

Corrida Caminhada Ciclismo Aparelhos de ginástica

Presença de muitas pessoas vindas de outros bairros

AGENTES E PRESENÇAS HISTÓRICAS NA CIDADE

FIG 124

“Lembro muito de quando ia no Clube Português. Era muito movimentado, tinha barracas, tinha jogo, ficava cheio!” Diogo, 73 anos, morador da Pituba há 40 anos

Aumentar permanência dos atuais usuários

MELHORAR INFRAESTRUTURA

Faltam espaços públicos de qualidade em Salvador

79 FIG 125

Proposta Projetual CAPĂ?TULO V

O MAR

CONCEITUAÇÃO

A CIDADE

Um dos maiores entendimentos sobre o caráter dessas duas orlas é de que elas não são praias de veraneio, são espaços urbanos. Apenas quando forem entendidas e, principalmente, valorizadas como tal, que haverá uma conexão maior entre o mar e as dinâmicas dos bairros da Amaralina e Pituba. A partir dessa compreensão, a busca foi sobre como sintetizar e transcrever esse caráter para o espaço físico. Por se tratar de um projeto de grande extensão, de grande impacto paisagístico e numa área muito longitudinal, foi interessante propor um elemento visual que conectasse esses espaços, entendendo que apesar de apresentar dinâmicas distintas, há uma relação muito forte entre a orla dos dois bairros. Esse processo partiu da utilização de um símbolo que remetesse ao mar, sendo o ícone

das ondas o mais utilizado para representá-lo. É fluido, sinuoso, cíclico, traz uma sensação de leveza e tranquilidade. Depois, foi selecionado o símbolo que remete às cidades, que foi a silhueta de vários prédios, sendo inclusive algo possível de se ver das praias da Pituba e Amaralina. É um ícone muito gráfico, ortogonal, linear, duro, que traz uma sensação de objetividade. Através da sobreposição destes símbolos, houve um processo de reinterpretação e de redesenho, encontrando a interseção entre eles e tentando sintetizar o símbolo da praia e do mar em área urbana. O símbolo encontrado a partir desse estudo mantém a configuração cíclica do ícone do mar, mas é anguloso, mais direto, como o da cidade. Esse elemento visual triangular foi usado como base para elaboração formal do projeto da orla, a partir da reinterpretação dele a cada situação.

FIG 126

DIRETRIZES PROJETUAIS A maior inquietação desde trabalho foi com o distanciamento progressivo entre as dinâmicas da cidade e o mar, no recorte de Amaralina e Pituba. Logo, o horizonte desse projeto se tornou reconectar a Cidade ao Mar. A ideia inicial seria de utilizar o próprio espaço de praia e, possivelmente, o mar para proposição de elementos que fomentassem essa reconexão. Porém, durante o processo de apreensão, foram identificados alguns fatores que questionaram essa linha de projeto: • A faixa de areia é, em muitos trechos, extremamente estreita. Propor elementos físicos nesses espaços afetaria a liberdade de uso dele, seria perder um precioso espaço livre numa região carente deles, por ser tão adensada. • O mar já tem destruído algumas estruturas localizadas na orla, justamente devido a essa faixa de areia muito estreita, que não oferece proteção o suficiente. • A legislação federal brasileira é muito rigorosa em relação às construções na faixa de areia, inclusive é o motivo pelo qual as barracas de praia foram desativadas. Unindo a compreensão de que a orla já é um espaço utilizado pela população, tanto local como do restante da cidade, a estratégia para reconectar a cidade ao mar passou a ser de usar o espaço de orla como interface para essa reconexão, potencializando seu uso, gerando condições para a permanência das pessoas e oferecendo a infraestrutura de apoio necessária para uso da praia. 82

RECONECTAR AS DINÂMICAS DA CIDADE AO MAR ATRAVÉS DO USO DA ORLA COMO INTERFACE FÍSICA ASSEGURAR A PERMANÊNCIA DE IMPORTANTES AGENTES FORMADORES DO ESPAÇO, PROMOVENDO SUA CONSOLIDAÇÃO E CONECTANDO-OS GARANTIR A PRESERVAÇÃO DOS SIGNIFICADOS DOS ESPAÇOS PARA A POPULAÇÃO LOCAL, ASSEGURANDO A CONEXÃO DE USOS EXISTENTES COM OS NOVOS USOS PROPOSTOS. TRANSFORMAR O FLUXO PASSAGEIRO DE PEDESTRES EM PERMANÊNCIAS RETOMAR USO DA PRAIA E ORLA COMO ESPAÇOS PÚBLICOS DE CONVÍVIO SOCIAL E CONTATO COM A NATUREZA INCORPORAR A PROPOSTA DA PREFEITURA DE INSTALAÇÃO DA PISCINA OLÍMPICA NA PRAÇA WILSON LINS COMO FORMA DE VALORIZAR O USO ESPORTIVO JÁ MUITO PRESENTE NA REGIÃO PROPOR EDIFICAÇÕES QUE ATRAIAM USOS EM DIVERSOS HORÁRIOS E QUE TRAGAM UM RETORNO SOCIAL PARA A COMUNIDADE OFERECER MAIS ÁREAS SOMBREADAS, ATRAVÉS DA ARBORIZAÇÃO E DE ELEMENTOS CONSTRUÍDOS, POSSIBILITANDO PERMANÊNCIAS DAR PRIORIDADE AOS PEDESTRES ATRAVÉS DA INSTALAÇÃO DE PISTAS COMPARTILHADAS, COM A REDUÇÃO DE VELOCIDADE DAS AVENIDAS, E COM A INSTALAÇÃO DE FAIXAS DE SEGURANÇA E SEMÁFOROS NOS CRUZAMENTOS

OFERECER ESTRUTURAS DE APOIO ADEQUADAS PARA O TRANSPORTE PÚBLICO E CICLOVIÁRIO, COMO PONTOS DE ÔNIBUS, BICICLETÁRIOS, CICLOVIAS E SINALIZAÇÃO.

ESTRATÉGIAS PARA VIABILIDADE Um dos maiores problemas dos projetos urbanos realizados em Salvador, inclusive os mais recentes feitos nas orlas, é de execução da obra e manutenção. Devido ao alto custo dos projetos urbanos e da lei de licitação de obra (Lei nº 8666, de 21 de junho de 1993), os contratos normalmente são feitos com as empresas que apresentam o menor orçamento, o que tem acarretado em projetos mal executados. O projeto de orla proposto será de grande escala, com mais de 2km de extensão. Ainda está localizado numa região muito agressiva, devido ao alto índice de salinidade. Isso representa um custo ainda maior na especificação de materiais e, principalmente, na manutenção. Foi então estudado estratégias de viabilidade econômica, entendendo que o projeto seria financiado pelo poder público, que possui recursos limitados e curtos. Foram pensadas estratégias físicas e materiais, mas também políticas e sociais, considerando que para um bom projeto urbano todas as camadas da comunidade devem participar. Praças e Espaços Públicos O projeto adote faz parte do programa integrado “Verde Perto” da Secretaria Cidade Sustentável, que visa melhorar os espaços públicos, aumentar a cobertura vegetal da cidade e promover a participação da comunidade.

“O programa envolve a adoção de espaços e equipamentos públicos por pessoas, empresas e associações,

que de forma oficial, podem efetivar parceria, no intuito de trabalhar junto com o Poder Público a manter e cuidar desses espaços visando uma adoção responsável, podendo ser uma praça, uma árvore, um canteiro, um monumento, etc.”

As orlas de Amaralina e Pituba estão situadas numa região com muitos comércios e instituições de grande porte, que também se beneficiaram da estrutura e requalificação urbana propostos nesse projeto e ainda poderiam instalar placas alusivas à adoção feita. A divulgação do programa Adote! entre as empresas locais pode fomentar parcerias que auxiliem no custeio e, principalmente, na manutenção desses espaços. Sanitários Públicos

O principal custo com a implantação de sanitários públicos é com a necessidade constante de limpeza. Uma estratégia possível é localiza-los, no projeto, sempre próximo à quiosques e comércios que, por se beneficiarem por essa infraestrutura, já que vai atender desde o proprietário, os funcionários e os clientes, providenciarão a limpeza e manutenção básica. Essa proximidade também acarretará numa maior segurança, aspecto importantíssimo de se analisar ao instalar sanitários públicos, já que haverá uma maior movimentação de pessoas durante o dia nesses locais. Outra estratégia possível seria a cobrança de valores pequenos, no máximo 1 real, para sua utilização. Como deverão estar localizados em locais movimentados e num ambiente de praia (onde a procurar por sanitários para se limpar e trocar é grande),

acabará sendo muito usado e gerará, ao final, uma renda alta, que pode auxiliar na sua limpeza e manutenção. As coberturas das estruturas propostas na orla também poderão auxiliar nesse custeio ao realizar a coleta de água da chuva. Apesar de representar um custo de implantação alto, haverá economia a longo prazo. Centro Aquático O programa deve prever uma área de estacionamento com um número grande de vagas, que comporte o público para os dias de competição. Quando só forem necessárias vagas para os funcionários, estudantes e atletas em treino, o restante do estacionamento poderá ser usado por qualquer pessoa, sendo realizada a cobrança deste. Essa renda seria revertida para manutenção do equipamento. Outro item que o programa deve prever é um café e lanchonete, que deve estar situado no edifício de forma a atender tanto o público do centro aquático em si, mas também funcionar nos dias e horários que o centro aquático não estiver aberto. Por fim, outra estratégia possível seria a disponibilização das piscinas, quando não estivesse sendo oferecidas aulas públicas, para os colégios particulares da região que tem interesse em oferecer aulas de natação para seus alunos, mas não possuem estrutura própria para isso. Dessa forma, o espaço estará sendo utilizado no seu potencial máximo, atendendo o maior número de cidadãos possível, e não se tornaria um “elefante branco”, como tantos outros equipamentos esportivos no Brasil. A cobrança seria feita apenas com intuito de auxiliar na manutenção do espaço.

LARGO VISC. ITABORAHY

LARGO R. PARÁ

PÇA DOS EX-COMBATENTES

PÇA JOÃO AMARAL

LEGENDA

SOMBREAMENTO

SANITÁRIO PÚBLICO

BICICLETÁRIO

ARMAZENAMENTO PARA PEQUENOS COMERCIANTES

ACESSO À PRAIA

COLÔNIA DE PESCADORES

APARELHOS DE GINÁSTICA

ESTACIONAMENTO

CENTRO DE ESPORTES AQUÁTICOS

MUDANÇA NO PONTO DE ÔNIBUS

ESPAÇO DE BRINCAR

QUIOSQUE

LARGO DAS BAIANAS

FIG 127

PÇA SÃO PAULO

PRAÇA WILSON LINS

LARGO R. TERRIT. DO ACRE

PROJETO URBANO No momento do detalhamento das propostas, foi necessário selecionar em quais áreas seria feito o aprofundamento do projeto. Essa escolha partiu do cruzamento de informações e do processo de sobreposição cartográfica, considerando fatores como relevância histórica, usos presentes, potencialidades e tensões e estado atual de degradação. Os locais escolhidos foram a Praça João Amaral, por ser a conexão com a cidade do trecho de praia mais utilizado atualmente; o Largo das Baianas, pela relevância histórica, pela importância como fonte de renda para vários comerciantes e pelo alto estado de degradação; e a Praça Wilson Lins, pela quantidade de espaço disponível, pela conexão com outros espaços públicos e pela tensão existente entre o uso atual da Colônia de Pescadores e o uso proposto de Centro Aquático. 85

LEGENDA: Área Verde Playground

Estacionamento Fluxo alto de carros Fluxo predominante - Atividades físicas

Ciclovia

Interrupções

Ciclofaixa

Ponto de Ônibus

Área de praia muito usada FIG 128

Amaralina

Referências Projetuais Superkilen (2012) Copenhagen, Dinamarca Arquitetos: BIG / Topotek

FIG 129

FIG 130

O longo parque composto por três praças atravessa bairros etnicamente muito diversos da cidade. Essa diversidade foi representa no projeto, através des artes públicas e programas específicos. Na praça foram usadas cores vivas e ousadas, criando um efeito de excitação e energia, que convida a população a interagir e se envolver com o espaço. Promenade (2014) Velenje, Eslovênia Arquitetos: Enota Situada na pequena cidade de Velenje, projetada na década de 50 como cidade jardim, e ao longo do rio Peka, o Promenade foi o projeto inicial de requalificação do seu centro. O traçado extremamente anguloso dos canteiros e o uso da escada para vencer o desnível da margem do rio como arquibancada para pequenos eventos foram inspirações para o projeto.

FIG 131

FIG 132

Praça Turca (2005) Juazeiro, Brasil Arquitetos: Sete43 Desenvolvida com o principal intuito de gerar sombreamento numa cidade do sertão baiano, a praça fornece uma espacialidade diferenciada, sem possuir um eixo central, com a criação de efeitos de luz e sombra, e coma verticalidade dos pilares. É composta de módulos parabolóides feitos em estrutura metálica e cobertos por tiras de material reciclado a partir de garrafas PET e Tetrapak. FIG 133

FIG 134

1 7 6 6 4 7

5 6 2 4 3 8

LEGENDA: 1 Praça João Amaral 2 Rua das Castanheiras - pista compartilhada 3 Calçada drenante 4 Acesso à praia 5 Largo das Baianas 6 Estacionamento 7 Ponto de Ônibus 8 Ciclovia FIG 135

FIG 136

Cobertura das Praças Um dos principais elementos paisagísticos da orla de Amaralina é seu conjunto de Coqueiros, que verticalizam a visão e compõem a imagem simbólica de praia típica do Nordeste. No entanto, essas árvores não geram

muita sombra, não propiciando espaços para permanência. Portanto, esse projeto propõe uma cobertura que tanto produza sombreamento quanto proteja da chuva, em ambas as praças. Com o intuito de propor um elemento que converse com a paisagem, a concepção partiu dos coqueiros. Foram feitos processos

de triangulação na árvore, relacionando-a com o conceito formal do projeto, até chegar a uma forma que pudesse ser modulada. O resultado final é uma “árvore” de treliças espaciais, encaixadas de forma que seu núcleo esteja conectado ao pilar, que terá encanamento para coleta de água. Como a região é agressiva devido ao alto índice de salinidade, foi preciso critério para a escolha dos materiais. Apesar do preconceito com o uso de estrutura metálica próxima ao mar, por conta das situações onde o material se deteriorou, ele é extremamente indicado para locais com alta agressividade, basta notar como é usado nas plataformas de extração de petróleo e em embarcações. A questão com os exemplos em Salvador do uso desse material exposto ao salitre é a falta de manutenção. Todos necessitam de manutenção, e a estrutura metálica se adequadamente tratada, responde bem a esse uso. Para o fechamento das treliças foi especificado argamassa armada, que também é um material historicamente utilizado em situações de alta agressividade, como embarcações. Deve-se ter uma atenção grande com sua qualidade, desde o traço da argamassa, a dimensão do cobrimento, até a tela, que pode ser a tradicional metálica, como as novas tecnologias de telas de polímeros ou fibras vegetais. Já para os módulos vazados, colocados para permitir iluminação, foi especificado tiras de material reciclado a partir de garrafas PET e Tetrapak. 89

Interrupção pela falta de acesso à praia

Acesso impedido pela rampa danificada

LEGENDA: Área Verde

Estacionamento

Playground

Vistas das Fotos

Ciclovia

Principais Fluxos Interrupções

Área de praia muito usada

Ponto de Ônibus

FIG 137

Praça João Amaral

FIG 138

FIG 139

Praça João Amaral Para quem anda, de carro, a pé ou de bicicleta, no sentido Rio Vermelho – Pituba, visualiza a Praça após um longo trecho de via de onde não é possível visualizar o mar, que vai desde o Largo da Mariquita ao Quartel de Amaralina. Essa visão tem um impacto paisagístico enorme, com a praia de Amaralina surgindo a direita e a praça ao fundo. Também está situada no trecho de praia mais utilizada dos dois bairros, o que poderia torná-la um local extremamente dinâmico. No entanto, sua estrutura parece dar as costas a essa potencialidade. O ponto de ônibus, parte mais movimentada da praça, possui um desenho que, além de extremamente desconfortável, cria uma desconexão com a praça. Os comerciantes se localizam ou próximo ao ponto ou no outro extremo, já no calçadão da orla, reforçando o caráter de desconexão da praça, como se houvessem dois espaços distintos. O desenho da praça, apesar de respeitar o fluxo natural de quem sai do ponto de ônibus ou da faixa de pedestre para a praia, não apresenta estrutura que possibilite permanência. Não há lugares para sentar, há pouca sombra, proveniente apenas dos coqueiros, e o sanitário existente é químico e ainda afeta a visualização da paisagem. Atravessando a rua, o fluxo é interrompido pela falta de acesso à praia, já que a rampa está destruída. As pessoas improvisaram a descida com sacos de areia.

FIG 140

2 4

LEGENDA: 1 Bicicletário

2 Ponto de Ônibus

3 Cobertura 4 Quiosque 5 Playground

6 Pista Compartilhada 7 Calçada Drenante

8 Ciclovia 9 Estacionamento 10 Acesso à praia FIG 141

FIG 142

FIG 143

FIG 144

1 2

Interrupção pela falta de acesso à praia Interrupção pela falta de faixa de pedestre e semáforo

LEGENDA: Área onde acontecem os “babas”

Estacionamento

Playground

Vistas das Fotos

Ciclovia Área de praia muito usada FIG 145

Principais Fluxos Interrupções Ponto de Ônibus

Largo das Baianas

MAPA ATUAL

2 FIG 146

FIG 147

Largo das Baianas Além do seu valor histórico, é um importante espaço de encontro social e é fonte de sustento para as pessoas que comercializam na área, desde ambulante aos donos de bares. As estruturas fixas estão extremamente debilitadas, inclusive, algumas coberturas de lona já cederam, como das barracas de água de coco. Os comerciantes também reclamaram que a cobertura não é adequada para proteger da chuva, dificultando o trabalho durante o inverno. As Baianas também questionaram a distância do ponto de ônibus dos comércios. Como já apreendido em outros momentos, a proximidade com os pontos ofertam um maior número de clientes para os comércios pequenos. O restante do largo é muito árido, não havendo espaços de sombra ou verde e nem locais agradáveis para permanecer, subaproveitando a potencialidade comercial e social da área. O que poderia valorizar esses aspectos seria a conexão maior com a praia, mas que aqui é extremamente dificultada pela falta de acesso. A população instalou uma escada de madeira móvel como forma de improviso. Essa dificuldade inibe o uso da praia, que é usada nesse trecho praticamente apenas pelos jogadores dos “babas”. Esses eventos sociais e esportivos atraem muitas pessoas, tanto para jogar quanto para assistir, aproveitando o desnível como arquibancada e o guarda-corpo como assento. Apesar de muito usada devido ao comércio, grande parte desse uso é de passagem, principalmente pelos praticantes de atividades físicas, que param, consomem, mas logo vão embora. Criar um ambiente de permanência daria um grande retorno aos comerciantes do largo e a população.

3 FIG 148

2 9

2 4 4

1 4 3 4 4

LEGENDA: 1 Estacionamento 2 Nova faixa de pedestre

3 Cobertura 5

4 Quiosque 10

5 Playground 6 Sanitário Público 7 Ponto de Ônibus 8 Ciclovia 9 Equipam. de ginástica 10 Arquibancada / Acesso à praia

FIG 149

Guarda-corpo de sentar Como já notado nos processos de apreensão, o guarda-corpo da orla é usado constantemente como local para sentar. Porém, isso representa um risco, já que sua altura não é suficiente para proteger de uma queda, ainda mais considerando que o desnível entre o calçadão e a faixa de areia pode chegar a mais de 3 metros de altura. Porém, propor um guarda-corpo usual, de altura recomendada, não seria a melhor solução, pois tiraria do espaço um elemento muito utilizado pela população, que prefere sentar no guardacorpo mesmo quando existem bancos convencionais disponíveis. Esse projeto então se propõe a a mesclar o guarda-corpo atual com um guarda-corpo convencional, gerando um resultado que tanto ofereça maior proteção, como ainda posibilite o uso como local para sentar e permanecer. O desenho, então, parte de um bloco de altura adequada para se sentar, marcado em amarelo, e uma barra com altura para proteger de quedas, sinalizada em vermelho. Depois, o desenho se desenvolve para oferecer maior conforto, sendo feito um recorte diagonal que acomode melhor as pernas, e também o vazamento de parte do bloco, para ocupar menos espaço do calçadão. Suas dimensões possibilitam tanto sentar voltado para o mar, como o boneco em preto, como voltado para a rua, respeitando as duas formas de sentar usadas atualmente. FIG 150

FIG 151

100

FIG 152

101

FIG 153

102

FIG 154

103

1 3

Tensão acesso de carros e pedestres Interrupção da rampa dos pescadores Interrupção pela falta de faixa de pedestre e semáforo

Espaço livre pouco utilizado

Interrupção pela falta de acesso à praia

LEGENDA: Área onde acontecem os “babas”

Área usada para eventos

Área verde

Estacionamento

Ciclovia

Vistas das Fotos

Praça Nossa Senhora da Luz Colônia de Pescadores FIG 155

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Principais Fluxos Interrupções Ponto de Ônibus

Praça Wilson Lins

1 FIG 156

FIG 157

Praça Wilson Lins É um dos espaços públicos com maior potencialidade da região. Desde o projeto original da Pituba, o Cidade Luz, de Theodoro Sampaio, esse espaço seria de muita relevância para a dinâmica do bairro, sendo o principal local de balneário e tendo um caráter de parque urbano, integrado a Paça Nossa Senhora da Luz. Posteriormente, recebeu o Clube Português, espaço de convívio social da elite da cidade durante muitos anos, mas que foi a falência devido a mudança do perfil de lazer do soteropolitano, sendo demolido em 2008. Após sua demolição, a Prefeitura propôs a atual praça, mas seu projeto e execução foram de péssima qualidade, resultando na perda de sua potencialidade. Agora, a praça abriga a Colônia de Pescadores, que resiste permanecendo no local apesar das dificuldades geradas pelo descaso do poder público. Também recebe shows e eventos esporadicamente, muitas vezes de proporções inapropriadas para a dimensão e localização da praça, causando transtornos no trânsito e para os moradores do entorno. Sua borda está passando por um processo de erosão, já tendo ocorrido deslizamentos, o que oferece grande risco aos usuários do espaço, principalmente aos pequenos comerciantes que se instalam nessa extremidade. Esse desnível também dificulta o uso da faixa de areia e do mar, já que dificulta o acesso. Outra potencialidade perdida é da proximidade com a Praça Nossa Senhora da Luz e com o Jardim dos Namorados, já que não existem conexões adequadas entres os três espaços públicos.

3 105 FIG 158

1 12

8 12

6 3

4 9 12

LEGENDA: 1 Pista compartilhada

8 Ciclovia

2 Colônia de Pescadores

9 Equipam. de ginástica

3 Playground

10 Pista de cooper

4 Quiosque e cobertura

11 Praça suspensa

5 Sanitário Público

12 Acesso à praça / praia

6 Estacionamento

13 Centro de Esportes Aquáticos

7 Ponto de Ônibus

14 Espaço livre para eventos

FIG 159

106

Referências Projetuais Jade Bamboo Culture Plaza (2009) Shenzhen, China Arquitetos: Urbanus

FIG 160

FIG 161

O projeto se propõe a resgatar a topografia acidentada e as diferentes espécies de vegetação presentes na região antes de sofrer um processo de adensamento por edifícios multiresidenciais. O uso de ângulos fechados nos percursos da praça e a criação da textura de paginação através da vegetação de forma ser percebida numa vista superior, são pontos fortes do projeto. Wurth La Rioja (2007) Logroño, Espanha Arquiteto: Dom A principal ideia do projeto era de criar novas condições morfológicas, topográficas e topológicas na paisagem e entorno do Museu. Esse dinamismo cativa os visitantes a explorarem os diferentes materiais, texturas e sensações, produzindo uma interação maior entre as pessoas e o espaço físico. Por se tratar do jardim de museu, esse caráter exploratório do projeto ganha ainda mais força.

FIG 162

FIG 163

Praça Victor Civita (2007) São Paulo, Brasil Arquitetos: Levisky e Anna Julia Dietzsch Foi instalado em uma área contaminada da cidade, que estava fechada para acesso. Projeto inclui a utilização de diversas espécies de vegetação como proposta educativa, para que os usuários do espaço possam conhecer e, assim, valorizar os ecossistemas locais. O percurso de madeira enfatiza as perspectivas naturais, direcionando o olhar dos visitantes para pontos da praça. FIG 164

FIG 165

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FIG 166

Praça Wilson Lins O projeto para a praça parte da sua característica, que atualmente é um problema: o desnível existente entre a calçada e a praça. Essa característica implica que a praça pode ser vista de cima não só por quem está nos edifícios do outro lado da rua, ou por quem olha uma planta baixa, mas sim por qualquer pessoa que passe pelo calçadão. Como forma de explorar isso, decidiu-

108

se por um traçado bem geométrico, anguloso e marcado, remetendo ao conceito formal do projeto urbano ao utilizar da triangulação para desenhar os percursos, desviando das árvores e conectando usos existentes, como a colônia de pescadores, os ambulantes da borda e os espectadores do baba. Criar uma conexão maior entre a Praça Wilson Lins e a Praça Nossa Senhora da Luz também era uma das diretrizes desse projeto. Logo se propôs o nivelamento do nível da pista

aos níveis da praça, dando a sensação de continuidade, e a instalação de redutores de velocidade e faixas, como forma de garantir maior segurança aos pedestres. O ponto de ônibus também sofreu alteração, localizando-se no projeto em frente à Praça Nossa Senhora da Luz, reforçando essa continuidade e uso das praças. A calçada precisou ser alargada para comportá-lo, o que criou uma marquise para que os pescadores possam armazenar suas embarcações.

A localização dos elementos propostos se iniciou pela confirmação de interesse por parte da Colônia em se manter no mesmo local. Os pescadores afirmaram que sua localização, por ser perto da faixa de areia mais extensa, possibilita que eles deixem suas embarcações ainda próximas da Colônia. Dos novos elementos propostos, a implantação se iniciou pelo Centro Aquático, por conta da sua grande dimensão e impacto no restante do projeto. Como havia o interesse de aproveitar o desnível existente entre a calçada e a praça para acomodar um dos pavimentos, para diminuir sua altura vista da rua, ele foi implantado onde o desnível já ultrapassava 3 metros de altura. O estacionamento precisou ser colocado junto ao Centro Aquático, por conta dos fluxos de carga e descarga. Foi situado na porção oeste, para que a rampa de acesso ao estacionamento ainda estivesse na pista compartilhada, que, devido a velocidade reduzida, tornaria mais segura essa entrada e saída de veículos. O sanitário público foi instalado em frente a rampa de acesso de veículos, onde já existem árvores de grande porte, de forma a diminuir seu impacto visual. O quiosque fixo, suas mesas e cobertura foram instalados próximos ao sanitário, seguindo a estratégia de viabilidade para manutenção e segurança. O playground foi situado ao lado, para que os familiares que estivessem no quiosque, pudessem olhar suas crianças. Muitos ambulantes, durante as entrevistas, disseram preferir não ter ponto fixo, já que isso aumentaria seus custos, sem a garantia de um retorno maior. Então só foi instalado um ponto de quiosque fixo, no centro da praça, para gerar movimento, e os ambulantes podem continuar usando a borda da praça, que apresenta passeios mais largos para que eles possam se instalar. A porção leste da praça ficará livre para que os eventos que acontecem nesse local possam continuar existindo. No entanto, o posicionamento do Centro Aquático definirá um limite para a proporção desses eventos e também reduzirá os ruídos, protegendo acusticamente parte dos edifícios próximos.

FIG 167

FIG 168

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Colônia de Pescadores Situado na porção oeste da Praça Wilson Lins, este edifício é o posto avançado de apoio da Colônia de Pescadores de Itapuã Z6. A estrutura do “barracão”, como é chamado pelos pescadores, é extremamente precária, não possuindo sequer estrutura de sanitários, muito demandada por eles. Outra reclamação é referente a quantidade insuficiente de armários para armazenamento do material. Cada armário comporta os equipamentos de dois pescadores, mas eles só possuem 18 armários, apesar do número de associados variar entre 50 e 70. No mesmo espaço onde estão situados os armários, fica o freezer para armazenamento da pesca e também a mesa onde eles fazem refeições e a parte administrativa. Obviamente o espaço não é suficiente para abrigar todos esses usos, gerando desconforto e conflitos. A rampa de acesso a faixa de areia e parte da calçada foram destruídas pelo mar em junho de 2017. Só não danificou as embarcações porque os pescadores, que já temiam a possibilidade de desabamento devido a falta de manutenção, empilharam os barcos e os colocaram no nível do barracão. O embate entre a Prefeitura e o Governo do Estado sobre de quem é a responsabilidade de manutenção dessa orla acarreta nesses graves problemas de manutenção. Até a data de publicação desse trabalho, nem a rampa e nem esse trecho do calçadão da orla foram reparados. Segundo relato do pescador Samuel, presidente desse posto avançado, a CONDER, órgão do Governo do Estado responsável pelo barracão, promete realizar obras de reparo e ampliação da colônia há mais de 5 anos. 110

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Proposta Colônia de Pescadores A proposta da Colônia respeita o desejo dos pescadores de permanecerem no mesmo local da praça, como já explicado anteriormente. Também cria a infraestrutura mínima adequada para os trabalhadores, com dois sanitários e chuveiro, e uma área social, onde os pescadores podem realizar reuniões, fazer refeições ou socializar. Esse espaço de convívio pode ser ampliado com a abertura das portas, criando uma conexão entre o interior e o exterior da edificação. O espaço de vendas agora possui bancada em L, gerando mais área de trabalho, além de possibilitar sua setorização entre bancada de tratamento da pesca e de venda. A localização desse espaço também é privilegiada, logo na primeira entrada da Praça e dentro da área integrada à Praça Nossa Senhora da Luz. Para o armazenamento, é proposta a utilização de 25 armários, assim atendendo até 50 pescadores e seus equipamentos ao mesmo tempo. A concepção de sua forma partiu do interesse em marcar a chegada à Praça Wilson Lins através desse edifício, já que ele apresenta uma história tão relacionada a ela. A cobertura proposta em formato de V acompanha as vigas em concreto armado, que juntas formam interessantes ângulos de visão do edificio, inclusive no sentido de chegada.

LEGENDA: 1 Espaço de convivência 2 Armazenamento 3 Administração 4 Sanitário 5 Vestiário 6 Espaço de Venda

FIG 173

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Centro Aquático Em 2017, Salvador foi escolhida para receber uma das piscinas olímpicas usadas nos Jogos do Rio. Mas qual a demanda para um equipamento desse porte na cidade atualmente? Quando a Fonte Nova foi demolida em 2010 para construção do que estádio que sediaria a Copa do Mundo em Salvador, a cidade perdeu sua piscina olímpica, fora outros equipamentos essenciais para formação esportiva. O Governo do Estado então se comprometeu a construir um equipamento que oferecesse infraestrutura para receber as competições de esportes aquáticos. Apesar das construções já terem se iniciado em 2011, foi apenas em 2016 que a piscina foi inaugurada, devido a problemas financeiros. A falta de espaço apropriado para treinos aquáticos em Salvador provocou a mudança de vários atletas para outras cidades. Mesmo com todo atraso para inauguração, o espaço ainda foi entregue incompleto e, até o momento da publicação desse trabalho, possui arquibancadas e sanitários provisórios. A tentativa de visita a Piscina Olímpica da Bahia, que está localizada na Avenida Mario Leal Ferreira, encontrou vários empecilhos, e o que consegui até a entrega do trabalho foi uma conversa com representante da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (SUDESB), que explicou sobre as etapas da obra, a falta de verba e, gentilmente, cedeu as imagens ao lado, tiradas pela sua equipe. Atualmente, o espaço conta com arquibancada provisória com capacidade para 300 pessoas, vestiários instalados em contêineres e duas piscinas, a olímpica e a de 114

aquecimento, ambas descobertas. A terceira e última etapa da obra prevê arquibancada fixa para 500 pessoas, vestiário para atletas e sanitário para público visitante. Ainda não possui prazo para entrega porque já se realizaram duas licitações e não houveram empresas interessadas. Além da falta de verba, o relevo do terreno dificulta e encarece as obras. O equipamento oferece aulas para crianças, adultos e idosos, totalizando 1191 pessoas atendidas, gerando um impacto social enorme através do esporte. Apesar de sua importância, o equipamento não atende todas as necessidades de um centro esportivo para a quarta maior capital do país, ainda mais com essa estrutura provisória. Logo, receber a piscina olímpica do Rio de Janeiro deve ser encarado como a oportunidade de oferecer à cidade um equipamento que possa tanto atender a população local, como receber competições de maior porte, valorizando os esportes aquáticos em Salvador.

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Referências Projetuais AISJ Aquatic Center (2012) Johannesburg, África do Sul Arquitetos: Flansburgh

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O projeto em questão foi a proposta de cobertura para uma piscina já existente. Os arquitetos deram muito destaque a estrutura usada, deixando-a aparente no interior da edificação. A cobertura e as paredes laterais formam um unico elemento, trazendo uma sensação de continuidade. Oslo Opera House (2007) Oslo, Noruega Arquitetos: Snohetta Situado a beira de uma baía, a edificação possui uma relação incrível com a frente de água, criando uma conexão ao invés de segregar. O uso livre da cobertura devolve à cidade o espaço público perdido no momento da implantação do edifício, diminuindo seu impacto e possibilitando novas dinâmicas. A abertura do prédio em vidro nessa grande rampa convida as pessoas a conhecêlo e explora-lo.

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Teatro Castro Alves (1967) Salvador, Brasil Arquiteto: José Bina Fonyat A solução arquitetônica de posicionar a platéia do teatro num volume piramidal, além de criar uma experiência formal diferenciada, gera o aproveitamento do espaço gerado pelos diferentes níveis dos assentos, que é usado como hall coberto. Sua fachada principal, vista do Campo Grande, é formada por uma linha, que é o encontro entre o volume da platéia com a cobertura, criando uma sensação de convite. FIG 183

FIG 184

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Centro Aquático Para o desenvolvimento do projeto do Centro Aquático, foram definidos alguns princípios considerando que sua implantação seria feita em um espaço público: • • •

• • •

•

Minimizar o bloqueio da vista para o mar, tentando criar uma conexão visual entre as piscinas e o mar; Propor rampa de acesso a praça como parte do edifício, convidando as pessoas a interagirem com ele; Aproveitar a edificação como mirante, oferecendo novas formas de visualização da cidade, do mar e da praça aos seus usuários; Minimizar a perda do espaço público devido a implantação do edifício através do uso do mesmo como tal; Propor edificação acessível; Entrada do Café ser pela rua, para que possa ser usado mesmo quando o Centro Aquático não estiver em funcionamento. Projetar parte do estacionamento no subsolo, para evitar a ocupação da praça por muitos veículos.

Números finais 471 assentos cobertos para público Sanitários • 11 femininos, sendo 1 adaptado • 14 masculinos, sendo 1 adaptado Café • capacidade para 25 pessoas sentadas Duas piscinas cobertas e aquecidas Vestiários: • 7 femininos, sendo 1 adaptado • 8 masculinos, sendo 1 adaptado Vagas: • cobertas: 58 para carros, 12 para motos • descobertas: 24 para carros, 2 para ônibus FIG 185

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Rampa como destaque do edifício Praça Suspensa

Estacionamento descoberto

Arquibancada em balanço

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2 1 7

LEGENDA: 1 Acesso estacionamento 2 Acesso ao Edifício de treino 3 Acesso ao Edifício de Competição 4 Carga e Descarga 5 Área técnica Piscina Olímpica 6 Subestação de energia 7 Piscina Olímpica 118

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10 5

4 4

7 15

6 18

4 4 16

8 14

LEGENDA: 1 Carga e Descarga

10 Espaço Funcionários

2 Triagem

11 Vestiário Funcionários

3 Área para Ar condicionado

12 Sala de reunião

4 Vestiários Atletas

13 Depósito do Café

5 Depósito

14 Sanitários Visitantes

6 Recepção / Administração

15 Espaço de Preparação dos Atletas

7 Esp. Alongamento

16 Piscina Olímpica

8 Piscina de Aquecimento

17 Bilheteria / Hall de Entrada

9 Enfermaria

18 Estacionamento descoberto

20 FIG 188

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4 1

LEGENDA: 1 Praça Suspensa

2 Reservatório de água 3 Bilheteria / Hall de entrada 4 Café 5 Área de Mesas 6 Sanitários Visitantes PCD 7 Arquibancada 8 Piscina Olímpica 9 Rampa de acesso 10 Estacionamento descoberto

120

20 FIG 189

LEGENDA:

20 FIG 190

1 Praça Suspensa e Edifício de Treino 2 Rampa de Acesso 3 Edifício de Competição

4 Estacionamento Descoberto 121

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Centro Aquático - Estrutura

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Como a proposta para o Centro Aquático prevê que as duas piscinas sejam cobertas, foi preciso investir em estruturas arrojadas, que pudessem vencer os vãos necessários. No edifício de treino, o vão final foi de 20 metros, podendo ser utilizada a treliça metálica plana. Já no edifício de competição, o vão seria de no mínimo 30 metros devido à grande dimensão da piscina olímpica e o espaço de circulação necessário ao redor dela. Porém, como o projeto propõe que a arquibancada esteja incorporada, formando um balanço por cima da rampa central, o vão aumentou para aproximadamente 40 metros, sendo necessário especificar uma treliça espacial. Para suportar o desenho da arquibancada em balanço, a estrutura treliçada percorre a seção transversal do edifício, funcionando como pórtico, que contrabalanceia o esforço no extremo da arquibancada, sustentando ela e a cobertura.

FIG 199

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Considerações e possibilidades Na semana de conclusão desse dossiê, foi realizada uma visita a Praça Wilson Lins, pois tinha ouvido falar que as obras para instalação da Piscina haviam começado. Sim. Quando lá cheguei me deparei com o tapume fechado, as máquinas realizando os movimentos de terra e a placa da Prefeitura anunciando a obra. Fui conversar com os pescadores da Colônia. Perguntei se alguém da Prefeitura havia comunicado algo a eles, mas ninguém sabia de nada, só que chegaram para trabalhar um dia, e lá estavam as máquinas. “Pergunte a Bel, que tá ali no fundo. Acho que ele falou com os caras de lá”, me disse um deles. Bel, também pescador da colônia, me informou que não houve qualquer comunicado por parte da Prefeitura, que ele tinha inclusive perguntado a Samuel (presidente da Colônia) sobre isso alguns dias antes. Mas ele foi conversar com os assessores um dia, e lhe disseram que iriam fazer algumas melhorias na Colônia. “Que melhorias?”, perguntou Bel. “Ah, acho que um banheiro ali no fundo para vocês”. “E como vai ser isso?” questionou o pescador preocupado com a possibilidade de fecharem o barracão para reforma e nunca mais abrirem. “Ainda não sabemos informar direito, mas entraremos em contato”, respondeu o assessor, finalizando a conversa e deixando Bel não só desesperançoso por melhorias efetivas como também desconfiado. “Eles não vão construir um negócio bonito pra essa piscina e deixar esse barraco feio do lado. Tô com medo de tirarem a gente”. FIG 200

Esse trabalho tem o intuito de mostrar como a profissão do arquiteto e urbanista afeta profundamente as dinâmicas da cidade e, consequentemente, a vida das pessoas. Ele não foi apenas um exercício de desenho arquitetônico ou urbano. Foi um exercício de posicionamento crítico frente às práticas na cidade e de aprendizagem junto à população e ao espaço físico. Já é de conhecimento comum que projetos urbanos são feitos em equipes multidisciplinares. Então, eu sabia da impossibilidade de conseguir alcançar todas as camadas que um projeto desse exige. Mas consegui compreender melhor que essa “equipe multidisciplinar” necessariamente precisa incluir os moradores já que são os principais agentes formadores do espaço. Mesmo num espaço público de orla que deve servir à toda cidade, a disputa é ferrenha e, se os agentes formadores desse espaço não resistirem, são eliminados, desconsiderando toda sua importância. O processo de distanciamento do mar, de onde partiu esse trabalho, é decorrente desse planejamento urbano que não considera as dinâmicas e a vida, mas apenas as vontades políticas e financeiras de certos grupos. É preciso reverter esse cenário de distanciamento, aproximando a vida urbana do mar, inclusive como forma de preservá-lo e de manter a história de Salvador como uma cidade ligada às águas. Não devemos jamais ter medo de propor. É através do ato de propor que as possibilidades de melhoria aparecem. Mas as proposições para as cidades não podem vîr de cima. Elas precisam vîr do nível da rua, de onde as coisas acontecem, de onde as pessoas estão. 133

Anexos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, A. B. (2005). O espaço em movimento - a dinâmica da Pituba no século XX . Salvador: EDUFBA. Paulo.

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LISTA DE FIGURAS FIG 01 – Baianas do Largo Fonte: Elaborada pela autora FIG 02 – Dois homens ao mar Fonte: Elaborado pela autora FIG 03 – Embarcações e cidade Fonte: Elaborado pela autora FIG 04 - Fenícios Fonte: História Zine. Disponível em: https://historiazine. com/os-maiores-navegadores-da-antiguidadea49b6941a1aa FIG 05 - VIEW OF GENOA AND ITS HARBOUR, pintura de Cristoforo Grassi Fonte: Getty Image. Disponível em: http://www. gettyimages.com/detail/news-photo/view-of-genoaand-its-harbour-painting-by-cristoforo-grassi-newsphoto/454003137?esource=SEO_GIS_CDN_ Redirect#view-of-genoa-and-its-harbour-painting-bycristoforo-grassi-italy-picture-id454003137 FIG 06 – Domínios do Império Português Fonte: Klepsidra. Disponível em: http://www.klepsidra. net/klepsidra4/methuen.html FIG 07 – Cidade do Porto Fonte: Disponível em: https://s-ec.bstatic.com/images/ hotel/max1024x768/999/99950939.jpg FIG 08 – Cidade de Coimbra Fonte: Negócios Hub. Disponível em: http://www. negocioshub.com/wp-content/uploads/2017/08/ pousadas.jpg FIG 09 – Frontispício de Salvador Fonte: Memória da administração pública brasileira. Disponível em: http://linux.an.gov.br/mapa/?p=2720 FIG 10 – Construção Avenida Oceânica Fonte: Postal Mello & Filhos. Disponível em http:// www.salvador-antiga.com/barra/imagens/construcaoavenida-oceanica.jpg FIG 11 – Moonrise Over the Sea, de Caspar David Friedrich Fonte: Art History Project. Disponível em: http:// arthistoryproject.com/artists/caspar-david-friedrich/ moonrise-over-the-sea/ FIG 12 - Foto de Pierre Verger Fonte: Fundação Pierre Verger. Disponível em: http://

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www.pierreverger.org/br/acervo-foto.html FIG 13 - Foto de Pierre Verger Fonte: Fundação Pierre Verger. Disponível em: http:// www.pierreverger.org/br/acervo-foto.html FIG 14 - Foto de Pierre Verger Fonte: Fundação Pierre Verger. Disponível em: http:// www.pierreverger.org/br/acervo-foto.html FIG 15 – Gravura de Carybé Fonte: Acervo de Carybé. Disponível em: https://i. pinimg.com/ FIG 16 – West India Docks Fonte: Daily Mail. Disponível em: http://www.dailymail. co.uk/news/article-2325399/Canary-Wharf-Howbusy-financial-centre-thriving-port-taking-sugar-rumelephants.html FIG 17 - Anúncio Pituba Privillege Fonte: Marketing Imob. Disponível em: http://2. bp.blogspot.com/_Tl5DFW41uc0/TM3ZhSlHviI/ AAAAAAAACOU/5QQx9azLP3Y/s1600/ Pituba+Privilege+-+Anuncio-Jornal.jpg FIG 18 - Homem ao mar Fonte: Elaborado pela autora FIG 19 – Porto de Baltimore em 1960 Fonte: Kilduffs. Disponível em: http://www.kilduffs.com/ Harbor.html FIG 20 – Porto de Baltimore atualmente Fonte: Urban Design Poliba. Disponível em: https:// urbandesignpoliba.wordpress.com/2015/03/29/innerharbor-baltimora/ FIG 21 – Barceloneta antes das Olimpíadas Fonte: Arquitete suas ideias. Disponível em: http://arquitetesuasideias.com.br/wp-content/ uploads/2016/03/Olimpiadas_2016_arquitete_suas_ ideias_06.jpg FIG 22 – Barceloneta após as Olimíadas Fonte: Arquitete suas Ideias. Disponível em: http://arquitetesuasideias.com.br/wp-content/ uploads/2016/03/Olimpiadas_2016_arquitete_suas_ ideias_07.jpg FIG 23 - Requalificação Urbana no Planejamento Estratégico Fonte: Planejamento Estratégico de Salvador. FIG 24 – Orla da Barra após reforma Fonte: Leila Dourado. Disponível em: http://lelia-

dourado.blogspot.com.br/2014/02/salvador-cada-vezmelhor.html FIG 25 – Orla da Barra durante Carnaval Fonte: A Tarde. Disponível em http://atarde.uol.com. br/carnaval/noticias/1842328-pipoco-e-palco-skoldevem-permanecer-no-carnaval-de-salvador-2018 FIG 26 – Comércios na Orla da Barra Fonte: Leila Dourado. Disponível em: http://leliadourado.blogspot.com.br/2014/09/nova-orla-novasatracoes.html FIG 27 – Requalificação do Rio Vermelho Fonte: Leila Dourado. Disponível em: http://leliadourado.blogspot.com.br/2016/01/rio-vermelhorevitalizacao-concluida.html FIG 28 – Quadra do Rio Vermelho Fonte: Correio 24 horas. Disponível em: http://www. correio24horas.com.br/single-esporte/noticia/comopegar-um-baba-no-novo-campo-do-rio-vermelho/?cH ash=6ae219b20c4ca864092343d124615feb FIG 29 – Vila Caramuru Fonte: Leila Dourado. Disponível em: http://leliadourado.blogspot.com.br/2016/04/antigo-mercadodo-peixe-agora-vila.html FIG 30 – Mapa das Requalificações de Orla já realizadas Fonte: Elaborado pela autora FIG 31 - O rapaz e a Bicicleta Fonte: Elaborado pela autora FIG 32 - Antiga Amaralina Fonte: Skyscrapercity. Disponível em: http://www. skyscrapercity.com/showthread.php?p=137395020 FIG 33 – Largo de Amaralina Fonte: Guia Geográfico Salvador. Disponível em: http://www.salvador-turismo.com/amaralina/antigas. htm FIG 34 – Planta do Arruamento de um Cidade Nova na Pituba. Fonte: A Cidade Luz - Estudos e projeto para uma cidade nova de Theodoro Sampaio. Modificado pela autora. FIG 35 – Pituba em 1973 Fonte: Classical Buses. Disponível em: http:// classicalbuses.blogspot.com.br/2015/12/salvadorpituba-1973.html

FIG 36 – Imagem Aérea de 1959 Fonte: Retirada do livro O espaço em movimento - a dinâmica da Pituba no século XX. FIG 37 – Imagem Aérea de 1976 Fonte: Google Earth FIG 38 - Imagem Aérea de 2010 Fonte: Google Earth FIG 39 – Sobreposição para Área de Aproximação Fonte: Elaborado pela autora FIG 40 – Mapa Área de Aproximação Fonte: Elaborado pela autora FIG 41 – Mapa Compreendendo Área de Aproximação Fonte: Elaborado pela autora FIG 42 – Carros estacionados na calçada Fonte: Elaborado pela autora FIG 43 – Carros impedindo passagem dos pedestres Fonte: Elaborado pela autora FIG 44 – A espera no semáforo Fonte: Elaborado pela autora FIG 45 – Mapa Sistema Viário Fonte: Elaborado pela autora FIG 46 – Mapa transporte público de Salvador Fonte: Elaborado pela autora FIG 47 – Mapa transporte público da Área de Aproximação Fonte: Elaborado pela autora FIG 48 – Salvador Vai de Bike vazia Fonte: Elaborado pela autora FIG 49 – Ciclistas em Amaralina Fonte: Elaborado pela autora FIG 50 – Mapa Sistema Cicloviário Fonte: Elaborado pela autora FIG 51 – Mapa de Legislação Fonte: Elaborado pela autora FIG 51 – Mapa do Uso do Solo Fonte: Elaborado pela autora FIG 52 – Relação dos prédios com a rua em Amaralina Fonte: Elaborado pela autora FIG 53 - Relação dos prédios com a rua na Pituba Fonte: Elaborado pela autora FIG 54 – Mapa de limite de Gabarito do LOUOS ....... 2008. Fonte: LOUOS 2008 FIG 55 – Mapa de Gabarito

Fonte: Elaborado pela autora FIG 56 – Mapa de Aspectos Ambientais Fonte: Elaborado pela autora FIG 57 – Entrada do Parque da Cidade pela Santa Cruz Fonte: Google Street View FIG 58 – Campo de Futebol na Rua José Rodrigues Fonte: Google Street View FIG 59 – Praça em torno da Lagoa Vela Branco Fonte: Elaborado pela autora FIG 60 – Mapa de Espaços Públicos Fonte: Elaborado pela autora FIG 61 - Gráfico População Total Fonte: Dados do IBGE, gráfico elaborado pela autora FIG 62 – Gráfico Crescimento Populacional Fonte: Dados do IBGE, gráfico elaborado pela autora FIG 63 – Densidade Demográfica Fonte: Dados do IBGE, gráfico elaborado pela autora FIG 64 – Gráfico Número de domicílios Fonte: Dados do IBGE, gráfico elaborado pela autora FIG 65 – Gráfico de Cor ou Raça Fonte: Dados do IBGE, gráfico elaborado pela autora FIG 66 – Gráfico Idade da População Fonte: Dados do IBGE, gráfico elaborado pela autora FIG 67 – Gráfico Índice de Analfabetismo Fonte: Dados do IBGE, gráfico elaborado pela autora FIG 68 – Gráfico Índice de Pobreza Fonte: Dados do IBGE, gráfico elaborado pela autora FIG 69 – Gráfico Rendimento por Salário Mínimo Fonte: Dados do IBGE, gráfico elaborado pela autora FIG 70 - Mapa da Caminhada Fonte: Elaborado pela autora FIG 71 - Pessoas na praia de Amaralina Fonte: Elaborado pela autora FIG 72 – Embarcação deriva Fonte: Elaborado pela autora FIG 73 – Homem na sombra da Praça Wilson Lins Fonte: Elaborado pela autora FIG 74 – Homem na sombra do Coqueiro Fonte: Elaborado pela autora FIG 75 – Homem e o mar Fonte: Elaborado pela autora FIG 76 – Homem correndo no calçadão Fonte: Elaborado pela autora

FIG 77 – Homem sentado no guarda corpo Fonte: Elaborado pela autora FIG 78 – Pessoas sentadas no guarda corpo Fonte: Elaborado pela autora FIG 79 – Baba na praia de Amaralina Fonte: Elaborado pela autora FIG 80 – Ambulante no ponto de ônibus Fonte: Elaborado pela autora FIG 81 – Ambulantes na Rua das Castanheiras Fonte: Elaborado pela autora FIG 82 – Homem na escada destruída Fonte: Elaborado pela autora FIG 83 – Mapa da Deriva Fonte: Elaborado pela autora FIG 84 – Fotos das cartas para Deriva Fonte: Elaborado pela autora FIG 85 - Homem andando na rua por causa dos carros Fonte: Elaborado pela autora FIG 86 – Passagem bloqueada por carro Fonte: Elaborado pela autora FIG 87 – Vôlei na praia Fonte: Elaborado pela autora FIG 88 – Mulher espera pelo sinal Fonte: Elaborado pela autora FIG 89 – Ambulante na esquina Fonte: Elaborado pela autora FIG 90 – Caminhada na areia Fonte: Elaborado pela autora FIG 91 – Comércio no semáforo Fonte: Elaborado pela autora FIG 92 – Comércio na calçada Fonte: Elaborado pela autora FIG 93 – Pesca na praia Fonte: Elaborado pela autora FIG 94 - Mapa dos locais das entrevistas Fonte: Elaborado pela autora FIG 93 - Gráfico Idade dos Entrevistados Fonte: Elaborado pela autora FIG 94 - Gráfico Frequência ao Calçadão da Orla da Amaralina/Pituba entre não moradores da região Fonte: Elaborado pela autora FIG 95 - Gráfico Frequência no Calçadão da Orla Amaralina/Pituba entre moradores da região

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Fonte: Elaborado pela autora FIG 96 - Gráfico Horário de Frequência da Orla Fonte: Elaborado pela autora FIG 97 – Gráfico Frequência na praia entre aqueles que não frequentam o Calçadão da Amaralina/Pituba Fonte: Elaborado pela autora FIG 98 – Gráfico Frequência na praia entre aqueles que frequentam o Calçadão da Pituba/Amaralina Fonte: Elaborado pela autora FIG 99 – Gráfico Motivos para não ir às praias de Amaralina/Pituba Fonte: Elaborado pela autora FIG 100 – Gráfico Estruturas que fazer falta nas praias de Amaralina/Pituba Fonte: Elaborado pela autora FIG 101 – Gráfico Estruturas que fazem falta nos Calçadões de Amaralina/Pituba Fonte: Elaborado pela autora FIG 102 – Gráfico Idade dos Comerciantes Fonte: Elaborado pela autora FIG 103 – Gráfico tempo de trabalho no ponto de comércio Fonte: Elaborado pela autora FIG 104 – Gráfico Como é feito o deslocamento Fonte: Elaborado pela autora FIG 105 - Gráfico frequenta a orla da Amaralina/ Pituba – entre moradores da região Fonte: Elaborado pela autora FIG 106 – Gráfico frequenta a orla da Amaralina/ Pituba – entre não moradores da região Fonte: Elaborado pela autora FIG 107 – Gráfico Frequenta a Praia entre os Moradores da Região Fonte: Elaborado pela autora FIG 108 - Gráfico frequenta a Praia entre não moradores da região Fonte: Elaborado pela autora FIG 109 – Gráfico Melhorias nos pontos comerciais Fonte: Elaborado pela autora FIG 110 – Gráfico Melhorias na Orla e Praia Fonte: Elaborado pela autora FIG 111 – MindMap dos depoimentos Fonte: Elaborado pela autora FIG 112 – Cartografia das Apreensões - Fluxos

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Fonte: Elaborado pela autora FIG 113 - Cartografia das Apreensões - Usos Fonte: Elaborado pela autora FIG 114 - Cartografia das Apreensões – Pontos de Ônibus / Comércios / Permanências Fonte: Elaborado pela autora FIG 115 – Cartografia das Apreensões - Presenças Históricas Fonte: Elaborado pela autora FIG 116 - Cartografia das Apreensões Potencialidades Fonte: Elaborado pela autora FIG 117 - Cartografia das Apreensões - Tensões Fonte: Elaborado pela autora FIG 118 – Praia de Amaralina vazia no sábado Fonte: Elaborado pela autora FIG 119 – Praia da Barra cheia no sábado Fonte: Elaborado pela autora FIG 120 – Gráfico Estruturas que fazem falta nas praias de Amaralina/Pituba Fonte: Elaborado pela autora FIG 121 – Transporte Marítimo no projeto da Cidade Luz de Theodoro Sampaio Fonte: Trecho retirado de A Cidade Luz - Estudos e projeto para uma cidade nova de Theodoro Sampaio FIG 122 – Homem sentado no guarda-corpo na Rua das Castanheiras Fonte: Elaborado pela autora FIG 123 – Balneário no projeto Cidade Luz Fonte: Trecho retirado de A Cidade Luz - Estudos e projeto para uma cidade nova de Theodoro Sampaio FIG 124 – Clube Português Fonte: Vitruvius. Disponível em: http://www.vitruvius. com.br/revistas/read/minhacidade/08.090/1905 FIG 125 – Gráfico Estruturas que fazem falta nos Calçadões de Amaralina/Pituba Fonte: Elaborado pela autora FIG 126 – Diagrama de conceituação e forma Fonte: Elaborado pela autora FIG 127 - Mapa do Projeto Urbano Fonte: Elaborado pela autora FIG 128 – Mapa da Situação Atual e dos Fluxos de Amaralina Fonte: Elaborado pela autora

FIG 129 - Superkillen Park Fonte: Archdaily. Disponível em: https://www.archdaily. com/286223/superkilen-topotek-1-big-architectssuperflex FIG 130 - Superkillen Park Fonte: Archdaily. Disponível em: https://www.archdaily. com/286223/superkilen-topotek-1-big-architectssuperflex FIG 131 – Promenade Velenje Fonte: Archdaily FIG 132 - Promenade Velenje Fonte: Archdaily FIG 133 – Praça Turca Fonte: Vitruvius FIG 134 - Praça Turca Fonte: Vitruvius FIG 135 - Planta de Proposta para Amaralina Fonte: Elaborado pela autora FIG 136 – Diagrama de concepção da forma da Cobertura Fonte: Elaborado pela autora FIG 137 - Mapa da Situação Atual e dos Fluxos da Praça João Amaral Fonte: Elaborado pela autora FIG 138 – Praça João Amaral I Fonte: Elaborado pela autora FIG 139 - Praça João Amaral II Fonte: Elaborado pela autora FIG 140 - Praça João Amaral III Fonte: Elaborado pela autora FIG 141 - Planta de Proposta para Praça João Amaral Fonte: Elaborado pela autora FIG 142 – Perspectiva Praça João Amaral da Avenida Amaralina Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 143 - Perspectiva Praça João Amaral da Rua das Castanheiras Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 144 - Perspectiva Praça João Amaral interna Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 145 - Mapa da Situação Atual e dos Fluxos do Largo das Baianas Fonte: Elaborado pela autora FIG 146 - Largo das Baianas I

Fonte: Elaborado pela autora FIG 147 - Largo das Baianas II Fonte: Elaborado pela autora FIG 148 - Largo das Baianas III Fonte: Elaborado pela autora FIG 149 - Planta de Proposta para Largo das Baianas Fonte: Elaborado pela autora FIG 150 - Diagrama de concepção do Guarda-corpo para sentar Fonte: Elaborado pela autora FIG 151 - Perspectiva Largo das Baianas visto da praia Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 152 - Perspectiva Largo das Baianas interna Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 153 - Perspectiva Largo das Baianas da Avenida Octávio Mangabeira I Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 154 - Perspectiva Largo das Baianas da Avenida Octávio Mangabeira II Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 155 - Mapa da Situação Atual e dos Fluxos da Praça Wilson Lins Fonte: Elaborado pela autora FIG 156 – Praça Wilson Lins I Fonte: Elaborado pela autora FIG 157 - Praça Wilson Lins II Fonte: Elaborado pela autora FIG 158 - Praça Wilson Lins III Fonte: Elaborado pela autora FIG 159 - Planta de Proposta para Praça Wilson Lins Fonte: Elaborado pela autora FIG 160 – Jade Bamboo Culture Plaza I Fonte: Archdaily FIG 161 - Jade Bamboo Culture Plaza I Fonte: Archdaily FIG 162 – Wurth La Rioja Fonte: Archdaily FIG 163 - Wurth La Rioja Fonte: Archdaily FIG 164 – Praça Victor Civita Fonte: Archdaily FIG 165 - Praça Victor Civita Fonte: Archdaily FIG 166 – Perspectiva Praça Wilson Lins aérea

Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 167 - Perspectiva Praça Wilson Lins Playground Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 168 - Perspectiva Praça Wilson Lins Playground Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 169 - Colônia de Pescadores I Fonte: Elaborado pela autora FIG 170 - Colônia de Pescadores II Fonte: Elaborado pela autora FIG 171 - Colônia de Pescadores III Fonte: Elaborado pela autora FIG 172 - Colônia de Pescadores IV Fonte: Elaborado pela autora FIG 173 - Planta esquemática da nova Colônia de Pescadores Fonte: Elaborado pela autora FIG 174 - Perspectiva Colônia de Pescadores I Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 175 - Perspectiva Colônia de Pescadores I Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 176 – Piscina Olímpica da Bahia Fonte: SUDESB FIG 177 – Vestiários provisórios da Piscina Fonte: SUDESB FIG 178 – Arquibancada Provisóri Fonte: SUDESB FIG 179 – AISJ Aquatic Center Fonte: Archdaily FIG 180 - AISJ Aquatic Center Fonte: Archdaily FIG 181 – Oslo Opera House Fonte: Archdaily FIG 182 - Oslo Opera House Fonte: Archdaily FIG 183 – Corte Teatro Castro Alves Fonte: Archdaily FIG 184 – Teatro Castro Alves Fonte: Archdaily FIG 185 – Quadro de áreas para Centro Aquático Fonte: Elaborado pela autora FIG 186 – Diagramação de estudo da forma para Centro Aquático Fonte: Elaborado pela autora FIG 187 - Planta esquemática do Centro Aquático -

Subsolo Fonte: Elaborado pela autora FIG 188 - Planta esquemática do Centro Aquático – Nível Praça Fonte: Elaborado pela autora FIG 189 - Planta esquemática do Centro Aquático – Nível Rua Fonte: Elaborado pela autora FIG 190 - Planta esquemática do Centro Aquático Cobertura Fonte: Elaborado pela autora FIG 191 - Perspectiva Centro Aquático Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 192 - Perspectiva Centro Aquático Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 193 - Perspectiva Centro Aquático Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 194 - Perspectiva Centro Aquático Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 195 - Perspectiva Centro Aquático Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 196 - Perspectiva Centro Aquático Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 197 - Perspectiva Centro Aquático Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 198 - Perspectiva Centro Aquático Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 199 - Perspectiva Centro Aquático Fonte: Imagem elaborada por Iane Freitas FIG 200 - Uma obra e suas possibilidades Fonte: Elaborado pela autora

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