IRMÃO NERY, FSC
Vidas Lassalistas, nº 103
IRMÃO IRINEU JOSÉ BOHNENBERGER (Irmão Calisto Ildefonso)
Subtítulo
Outubro de 2015
Título: Irmão Irineu José Bohnenberger (Irmão Calisto Ildefonso) Direitos Autorias reservados: Província La Salle Brasil-Chile Porto Alegre, RS Colaboração especial: Irmão Lauro Bohnenberger, fsc Revisão: Irmão Arnaldo Hillebrand, fsc Irmão Inácio Weschenfelder, fsc Serviços técnicos: digitação, scanner Eliane Trugillo Martins Rossi Solange Melo Diagramação e formatação: Setor de Comunicação e Marketing da Rede La Salle auxiliado por Candice Habeyche Casa Provincial La Salle Rua Honório Silveira Dias, 636 Bairro São João CEP 90550-150 - Porto Alegre, RS (51) 3358 3600.
SUMÁRIO Apresentação ........................................................................................ 5 Introdução .............................................................................................. 7 Cap. 1: Picada Café (Kaffeeschneiss) .............................................. Cap. 2: A família Bohnenberger ....................................................... Cap. 3: A Infância de Irineu ................................................................ Cap. 4: O Mundo em guerra ............................................................. Cap. 5: Uma corajosa decisão .......................................................... Cap. 6: Religioso Irmão Lassalista ................................................. Cap. 7: Religioso Irmão Lassalista Educador ............................... Cap. 8: Em Niterói-RJ .......................................................................... Cap. 9: Vida Comunitária e Saúde ................................................... Cap. 10: Novidades entre os Irmãos no Brasil .......................... Cap. 11: Guerra fria, euforia e crises ............................................. Cap. 12: Despedida de Niterói-RJ ................................................. Cap. 13: Tempos de Ditadura e de Igreja em renovação Cap. 14: Antenas ligadas .................................................................. Cap. 15: Irmãos Lassalistas em crise ...............................................
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Cap. 16: 1968: Um ano emblemático ............................................. Cap. 17: Em Rondonópolis-MT ........................................................ Cap. 18: Em Aparecida-SP .................................................................. Cap. 19: Em São Paulo-SP .................................................................. Cap. 20: Ecônomo Provincial ............................................................ Cap. 21: Uma triste surpresa ........................................................... Cap. 22: Em Joaneta, Picada Café-RS ............................................. Cap. 23: Mensagens ...........................................................................
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ANEXOS Anexo 1 – Irmão Lauro Bohnenberger.......................................... Anexo 2 – Duas Religiosas Irmãs na Família Bohnenberger... Anexo 3 – Irmãos. Irmãs, sobrinhos e sobrinhas........................... Anexo 4 – Nilse, enfermeira por vocação.......................................
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APRESENTAÇÃO Agradeço a todos os que possibilitaram a presente biografia, uma homenagem póstuma ao Religioso Irmão de La Salle, Irineu José Bohnenberger, falecido em 1976, portanto, há quase 40 anos. E, neste meu reconhecimento, destaco seus familiares, entre os quais, o seu mano, também Religioso Irmão de La Salle, Lauro Bohnenberger, que foi a São Paulo/SP, quando do falecimento de Irineu, para ajudar nos trâmites necessários para o traslado do féretro para a Vila Joaneta, em Picada Café, na época pertencente ao Município de Nova Petrópolis-RS. Aos 12 anos, Irineu José Bohnenberger ingressou no Aspirantado, iniciando sua caminhada, que o levaria um dia a seguir Jesus Cristo como membro do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, fundado por São João Batista de La Salle (1651-1719), em Reims, França, em 1680. Este santo Fundador, ao falecer em Ruão, França, deixava, como garantia do futuro de seu Instituto, quase 100 Irmãos, 32 escolas, uma delas em Roma, e mais de 20 livros. Sua obra educativa cresceu no mundo todo, buscando sempre ser fiel às suas origens e adaptando-se segundo as necessidades de cada época. Em 1900 o Papa Leão XIII o colocou na lista dos santos. Foi proclamado Celeste Patrono dos Educadores, por Pio XII, em 1950. O Instituto, chegado ao Brasil em 1907, cresceu com novos vocacionados, que respondiam Sim ao chamado do Senhor... Uma das riquezas desta biografia está na contextualização da história de Irmão Irineu, entre seu nascimento, em 1938, e seu falecimento, em 1976. O leitor, ao acompanhar a saga do
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biografado, vai percorrer também os principais acontecimentos do Brasil, da Igreja, do Instituto dos Irmãos Lassalistas e da Província Lassalista de São Paulo (1959-2011), da qual, o Irmão era membro, numa época especialmente complexa e desafiadora. Sua fidelidade e persistência, em meio a grandes crises, são exemplares e nos estimulam a ter firmeza em nossos ideais e no cumprimento de nossa vocação e missão. Esta é mais uma obra de Irmão Nery, que já publicou 68 livros. A ele nosso agradecimento, bem como de todos os Irmãos, familiares, amigos e admiradores de Irmão Irineu Bohnenberger. Fraternalmente, Irmão Edgar Genuino Nicodem, fsc Provincial da Província La Salle Brasil-Chile Setembro de 2015.
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INTRODUÇÃO Esta obra nasceu de uma conversa informal com o Irmão Nery, por ocasião da celebração do Dia da Província La Salle-Brasil-Chile, em janeiro deste ano de 2015. Ao ser perguntado por que eu não tinha escrito a biografia de meu mano Irineu José Bohnenberger, simplesmente respondi que era por não ter o dom de escritor. Mas informei também que o Irmão Egydio Lucas, da Comunidade de Niterói/RS, se mostrara interessado, em 1977 e 1978, em elaborar a biografia. Recordo-me que, de Cerro Largo, lhe enviei uma meia dúzia de fotos e um bilhete informando que, pelo fato de estar iniciando a direção de um Colégio completamente desconhecido me dificultaria levar à frente, naquele ano, colaborar no projeto. Depois, Irmão Egydio se entregou por completo na exigente tarefa de ajudar o Dr. Ivo Compagnoni na pesquisa sobre a História dos Lassalistas no Brasil, marcada para ser lançada em 19801. Com isso, o projeto da biografia do Irmão Irineu ficou postergado... O Irmão Nery então me disse que poderia ajudar-me. Fui buscar alguns álbuns de fotos de meu mano e ficamos um bom tempo viajando, no tempo, ao encontro de meu mano. Combinamos a tarefa e ele viajou para São Paulo. Para espanto meu, um mês depois, com o que havia nos arquivos da antiga Casa Provincial da Província Lassalista de São Paulo, ele me enviou a primeira versão do livro, solicitando-me mais material, de acordo com o rascunho de cada capítulo. Aos poucos fui conseguindo fotos, depoimentos, textos. Meses depois, mais uma solicitação me falava de COMPAGNONI, Ivo Carlos: História dos Irmãos Lassalistas no Brasil, no tricentenário da fundação do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs – Editora La Salle, Canoas, 1980 1
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acrescentar um anexo sobre mim mesmo e sobre os manos e manas, já que a biografia de Irmão Irineu termina com seu falecimento em 1976. Confesso que nestes meses de buscas sobre meu mano e para enriquecer a biografia dele, por várias vezes a minha emoção foi fortemente atingida. Agradeço a Deus por sua vida toda entregue ao Senhor e à educação, nos ideais de São João Batista de La Salle e, também, por minha vocação e missão de Religioso Irmão de La Salle, da qual ele, Irineu, mais velho que eu apenas um ano, teve a sua influência. Registro aqui minha gratidão a todos os que me ajudaram na coleta de dados e fotos para esta preciosa obra e, de modo especial a dedicação e o carinho do autor nesta homenagem ao Irmão Irineu. Irmão Lauro Bohnenberger, fsc Diretor do Colégio La Salle São João, em Porto Alegre-RS Agosto de 2015
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Capítulo 1
PICADA CAFÉ (Kaffeeschneiss) 1.Origem do Município Picada Café, onde nasceu o biografado neste livro, IRINEU JOSÉ BOHNENBERGER, começou a ser formada em 1844 pelos colonos alemães de São Leopoldo, RS. A iniciativa fazia parte do projeto do império brasileiro, aqui implantado por Dom João VI, rei de Portugal, a partir de 1808, de distribuição de terras a famílias trazidas da Alemanha, para acelerar o povoamento do Rio Grande do Sul, ameaçado de invasão por Argentina, Paraguai e da extensa área que, mais tarde, se transformaria em um novo país, o Uruguai. Aquele novo desmatamento, em São Leopoldo-RS, visava a disponibilizar terras cultiváveis para garantir a sobrevivência e progresso das famílias e a defesa do Rio Grande do Sul. O nome do local surgiu de um caminho feito à mão (com facões, foices, picaretas, etc.), na mata virgem, encontrando-se, enquanto se avançava mata adentro, pés de café. O caminho ou trilho, resultado deste tipo de trabalho, era comumente denominado de “picada”, termo derivado de picar, que, entre seus vários significados, tem o de “cortar aos pedaços e aos poucos”. E como o café era de boa qualidade muitos tropeiros ali paravam para saborearem a deliciosa bebida e descansarem um pouco. Mas, durante aquele trabalho de preparar a terra, os desbravadores se encontraram com nativos do local, os índios, e também com animais selvagens, abundantes na região, dificultando-lhes muito mais o trabalho. Daquele cansativo e prolongado mutirão resultou uma clareira no meio da mata espessa, que se transformou numa grande extensão de terras, limitada ao Sul com a Picada 48, ao Norte com a Linha Olinda, a Oeste com a Irmão Irineu José Bohnenberger | 9
Linha Nova, ao Leste com o Travessão São Paulo e com terras devolutas, que depois receberam a denominação conjunta de Picada Dois Irmãos2. Todas estas extensas propriedades dependiam de São Leopoldo-RS que, a partir da segunda metade do século XIX, era o núcleo central da colonização alemã do alto do rio dos Sinos. Mais tarde, Nova Petrópolis-RS se tornou município, ficando com Picada Café. Quase 150 anos depois dos seus inícios, Picada Café, em 20 de março de 1992, se tornou Município, mantendo o nome original, mas que os colonos traduziam para o alemão, Kaffeeschneiss. Houve, porém, redimensionamento das terras, de modo que novos lotes lhe foram acrescentados como alguns da Picada Dois Irmãos, especificamente as localidades de Jammerthal, Joaneta e parte de Lichtenthal.
O atual município de Picada Café, distante 80 km de Porto Alegre, Capital do Estado do Rio Grande do Sul, se estende por 83,49 km2, estando a106 metros acima do nível do mar e conta com uns 5.200 habitantes, com base no Censo Nacional de 2010. Limita-se com Nova Petrópolis (ao Norte), com Santa Maria do Herval (a Leste), com Morro Reuter (ao Sul), com Presidente Lucena (a Sudoeste) e com Linha Nova (a Oeste).
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FLORES, Hilda Agnes Hübner; FLORES, Moacyr. Picada Café. Ed. Nova Dimensão, Porto Alegre, 1996.
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Emancipado de São Leopoldo, o município de Picada Café (Kaffeeschneis), foi adquirindo sua identidade própria, sem renunciar, em nada às suas origens. Seu evento popular tradicional mais conhecido é a “Kaffeeschneis Fest”, que acontece no primeiro final de semana do mês de maio. Pela forte influência da cultura colonial alemã, Picada Café, destacase pela capacidade de trabalho de seus habitantes, pela tradição de raízes alemãs, pelo estudo e pela boa organização social.
Os cidadãos de Picada Café se orgulham de seu brasão e de sua bandeira
No campo industrial Picada Café se destaca no ramo coureirocalçadista, como o comprovam as empresas Coopershoes, a SugarShoes, a Emme Bolsas e a Nordweg. O Município abriga o Curtume Fridolino Ritter, um dos maiores do Estado do Rio Grande do Sul, sem dúvida um grande gerador de empregos na região. Picada Café também foi o berço da nacionalmente conhecida Fábrica de calçados Dakota, cuja matriz, posteriormente, foi transferida para a cidade vizinha de Nova Petrópolis-RS. E outras empresas muito contribuem com a população como a Malharia OK, a Schmitt, e as fábricas de estofados como a Rincão e o La Form. Há também
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pontos turísticos como belas paisagens, trilhas, cachoeiras, o Parque Nacional Jorge Kuhn, prédios históricos (Açougue, Moinho e muitas casas no estilo arquitetônico enxaimel). 2. São Leopoldo Considerada o“Berço da Imigração Alemã”, a primeira cidade fundada pelos imigrantes alemães no Estado do Rio Grande do Sul, no século XIX, foi São Leopoldo/RS³. Registra a história que o primeiro grupo de imigrantes alemães era procedente da região do Hunsrück, no sudoeste da Alemanha, que chegou ao sul do Brasil no dia 25 de julho de 1824, às margens do rio dos Sinos, e ali se fixou. Com as sucessivas levas de imigrantes, a colônia rapidamente cresceu, de modo que, no final de 1826, já contava com mais de 2.000 habitantes. Em 1º de abril de 1846, atendendo às solicitações da população, São Leopoldo foi elevada à categoria de Vila e desmembrada de Porto Alegre/RS.
Pintura de Ernst Zeuner retratando a chegada da primeira leva de imigrantes alemães em 25/07/1824, às margens do rio dos Sinos, hoje cidade de São Leopoldo4
Com pequenas propriedades e intensa produção agrícola, com bom investimento na educação e na cultura e, mais tarde, com a introdução da Ocupado, entre 1788 e 1824, por portugueses, o local tinha por nome Real Feitoria do Linho Cânhamo. Com a vinda dos imigrantes alemães o nome foi mudado para São Leopoldo. 4 Cf. http://sindileo.com.br/Institucional/MontaSaoLeo 3
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indústria, os imigrantes alemães de São Leopoldo abriram, para o território gaúcho, uma nova era de desenvolvimento. É por este motivo que a cidade se orgulha de ostentar o lema que a caracteriza: “Fé, Cultura e Trabalho”. Hoje São Leopoldo é um município essencialmente urbano, pois a cidade está com 91,5% da população de seu território. Com o progresso alcançado ao longo do tempo, o Município conseguiu indicadores de qualidade de vida que o colocam entre os mais desenvolvidos do Brasil. Sua economia é bastante diversificada, abrangendo comércio, indústria de metais, de mecânica, de couro (calçados), de borracha e química e, mais recentemente, informática, o que lhe dá um lugar de destaque na economia gaúcha.
Localização de São Leopoldo no mapa do Rio Grande do Sul e seu Brasão
Os imigrantes italianos e alemães que foram para o interior do Estado gaúcho, passaram pela rota que incluía São Leopoldo-RS. E onde se fixaram possibilitaram grande desenvolvimento, com preservação ambiental e produção agrícola de estilo europeu, como a uva, o vinho, o salame. Não demorou muito, a região se tornou de grande atração turística pela riqueza e diversidade da natureza, mas também pela especificidade da cultura muito própria, de índole italiana e alemã. São Leopoldo é, sem dúvida, o portal da região turística principal do Rio Grande do Sul, formada por 13 municípios, destacando-se entre eles, Caxias do Sul, Canela, Gramado e Nova Petrópolis. Atualmente São Leopoldo está ligada a Porto Alegre, por estradas asfaltadas e metrô de superfície (Transurb) e com serviço de transportes coletivos regulares e de boa qualidade. O Município possui uma rede de
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Entrada da Cidade de São Leopoldo-RS > na verdade esta é a entrada da cidade de gramado. São leopoldo não possui portico, suguiro o monumento em homenagem a 100 anos de colonização alemã.
ensino ampla e diversificada, com 32 escolas municipais, 27 estaduais e 12 particulares, e abriga ainda, uma das maiores Universidades do Estado do Rio Grande do Sul, a UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos, dos Padres Jesuítas, com mais 30.000 alunos. O evento popular máximo da cidade é denominado “São Leopoldo Fest”, realizado em julho, coincidindo com a comemoração da fundação da cidade, quando ali chegaram os primeiros imigrantes alemães, no dia 25 de julho de 1824.
Cartão Postal da Prefeitura
Mas... falemos agora um pouco da Família Bohnenberger de Picada Café, na qual nasceu o biografado neste livro...
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Capítulo 2
A FAMÍLIA BOHNENBERGER 1. Imigrantes alemães para o Brasil A maior parte da migração alemã para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina proveio, como acima aludimos, da região do Hunsrück5, no Sudoeste da Alemanha. Variantes de seus dialetos regionais - também ainda falados correntemente na Alemanha - continuam sendo praticados em diversas regiões, tanto rurais como urbanas do Brasil. Na Alemanha de hoje, a maioria dos falantes do Hunsrückisch é bilíngue, isto é, pratica o dialeto ancestral nos lares e socialmente lê e estuda em alemão clássico ou Hochdeutsch (alemão superior), que evidentemente tem gramática formalmente mais organizada, e que passou de dialeto a idioma oficial em toda a Alemanha, sobretudo, pela influência de Martinho Lutero que, ao usar este Hochdeutsch para a tradução da Bíblia hebraica, tornou-se notável e até mesmo o pai da língua alemã.
A denominação provém da época da invasão dos Hunos, que tentavam conquistar a região do rio Moselle, com montanhas e grandes extensões de terras. Os habitantes se uniram com o propósito de manterem os Hunos longe. No dialeto da época a expressão “que os Hunos fiquem longe” se transformou no termo Hunsrück. 5
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Na época das emigrações alemãs para o Brasil, eram pouquíssimos os agricultores letrados no Hochdeutsch. E, obviamente, levaram para o Sul brasileiro seus dialetos, sendo o mais comum entre eles, o Hunsrückisch, com raras e notáveis exceções, atribuíveis a professores e profissionais mais graduados, que também haviam emigrado. O Hunsrück corresponde a uma região, de várias serras ou montanhas baixas, localizada no estado da Renânia-Palatinado, no sudoeste da Alemanha, enriquecida pelos vales do rio Moselle, ao norte, do rio Nahe, ao sul, e do rio Reno, ao leste. Muitas das referidas serras, cada uma tendo seu próprio nome, não passam de 400 metros de altura. Há alguns picos mais altos como é o caso do Erbeskopf, com 816 metros. A região do Hunsrück, que na época das emigrações para o Brasil, já não sustentava seus habitantes, é, atualmente, muito rica, por causa das indústrias, da agricultura e das minas de ardósia, sendo muito beneficiada economicamente pelo Aeroporto internacional de Frankfurt-Hahn Airport. O clima da região se caracteriza por abundantes chuvas.
O brasão do Rhein-Hunsrück e o mapa indicando a região na Alemanha
2. A política do império para o Rio Grande do Sul A saga da Família Bohnenberger da Picada Café-RS, a qual pertence o biografado neste livro, se enquadra no projeto do império brasileiro de povoar o Rio Grande do Sul com imigrantes europeus. Já Dom João VI, quando teve 16 | Irmão Irineu José Bohnenberger
de sair de Portugal, em 1808, por causa da invasão francesa, determinada por Napoleão Bonaparte, ao chegar ao Brasil, tomou conhecimento das tentativas de invasão do território brasileiro correspondente à Província do Rio Grande do Sul, tanto por Argentina, como pelo que seria mais tarde, o Uruguai. Ele tomou providências reforçando o exército no Sul e promovendo migrações europeias para povoar bem toda aquela importante região e assim proteger o território brasileiro.
Dom João VI, 1808
Os contatos de Dom João VI com a Áustria, a Alemanha e a Suíça, em vista de conseguir uma esposa para seu filho, Dom Pedro I, o levaram a optar pela jovem austríaca, Dona Maria Leopoldina6. Diante do calor do Rio de Janeiro e das saudades que a moça sentia de sua terra, Dom João VI decidiu criar uma cidade, em alguma região do Rio de Janeiro, com semelhanças com a Áustria e a Suíça. Escolhido o local, estabeleceu, com imigrantes suíços de fala alemã, na serra fluminense, a cidade de Nova Friburgo. O nome deriva de Freiburg, na Suíça, de onde procedia a maior parte dos que vieram para a nova cidade no Rio de Janeiro.
A austríaca, Dona Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena, (em alemão: Caroline Josepha Leopoldine von Habsburg-Lothringen), nasceu em Viena em 22 de janeiro de 1797 e faleceu no Rio de Janeiro em 1826. Ela foi arquiduquesa da Áustria, primeira imperatriz-consorte do Brasil, regente do Brasil em setembro de 1821 e, durante oito dias, em 1826, rainha consorte de Portugal 6
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Foi assim que a princesa passou a ter em Nova Friburgo um refúgio onde passar um tempo, falando alemão, apaziguando suas saudades da pátria distante e descansando do calor da capital Rio de Janeiro. A partir desta experiência, Dom João VI viu possibilidades de oferecer a voluntários alemães, sobretudo agricultores, boas terras no Rio Grande do Sul. Seu projeto foi continuado por Dom Pedro I e por Dom Pedro II, resultando em uma grande massa de imigrantes alemães, mas também de italianos, especialmente depois da libertação da escravatura pela Princesa Isabel, em 18887.
A princesa Leopoldina e Dom Pedro II (na foto e Dom Pedro I - ao lado envio a foto de Dom Pedro II)
3. Os Bohnenberger Para esta biografia do Irmão Irineu José Bohnenberger, neste contexto da emigração alemã para o Brasil, fornece bons esclarecimentos o que consta no livro de Carlos Henrique Hunsche & Maria Astolfi, O Quatriênio 1827 - 1830 da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul, publicado pela Editora G&W, de Porto Alegre, em 2004. As informações para os parágrafos seguintes encontram-se nas páginas 500 e 501 da referida obra, aqui bem resumidas8. O recenseamento de 1900 registra 1,2 milhão de estrangeiros no Brasil, ou cerca de 7% da população. Destes, cerca de 500 mil estão em São Paulo, 200 mil no Rio de Janeiro, mais de 140 mil no Rio Grande do Sul. Cf. https://centraldefavoritos.wordpress.com/2014/04/14/politicas-de-colonizacao-migracao-imigracao-e-emigracao-no-brasil-nos-seculos-xix-e-xx/ 8 Cf. http://memoriadopovoalemao.blogspot.com.br/2011/04/abraham-bohnenberger-1794-niederalben.html acessado em setembro de 2015 7
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Trata-se de Abraão Bohnenberger que, com 35 anos de idade, junto com a esposa e quatro filhos, totalizando seis pessoas, chegaram a São Leopoldo, RS, no dia 22 de maio de 1829. A pesquisa revela que ele cruzou o Atlântico no veleiro Cäcilia, que partiu de Bremen, em 6 de janeiro de 1827, mas que teve uma interrupção por ter naufragado na costa inglesa. Seus passageiros foram obrigados à permanência por quase dois anos em Falmouth, S.O., na Inglaterra, antes de poderem continuar a viagem para o Brasil. Os Bohnenberger e os demais passageiros do Cäcilia, depois de quase um mês de viagem, chegaram ao Rio de Janeiro, no Brasil. Como acontecia com os imigrantes da época, eles ficaram uns dias na Ilha das Flores. Em seguida viajaram para Porto Alegre no costeiro Flórida. Dali eles foram levados para Bom Jardim, na colônia que levaria mais tarde o nome Bohnental e, depois, São José do Hortêncio. Abraão Bohnenberger, nascido em ano de 1794 em Niederalben, em Hessen, na Renânia Palatinado, viveu por 46 anos no Brasil, vindo a falecer, em São José do Hortêncio-RS, no dia 25 de maio de 1875. Casara-se, ainda na Alemanha, com Elisabete Werle, nascida em 1792.
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Antes de decidirem viajar para o Brasil eles tiveram quatro filhos, que os acompanharam na ousada aventura de tudo deixarem na Europa, na esperança de melhores dias no Brasil, que tanto prometia aos imigrantes. Mais outros filhos nasceram na Colônia alemã de São Leopoldo-RS. Como bons pais educaram seus filhos na fé e nos costumes da tradição católica alemã, sabedores, porém, de que a maioria dos emigrantes ali em São Leopoldo e arredores era formada por luteranos.
Os avós paternos de Irineu, Catharina Holtz e Antônio Trocourt, e a casa deles
Tempos depois, um dos descendentes, o senhor Frederico Bohnenberger casou-se com Elisabetha e o senhor José Hoffmann com Magdalena, filha de Antônio Trocourt e Catharina Holz. Estes casais residiam na Picada Café. Destas duas famílias surgiu uma nova, com o casamento de Affonso Bohnenbeger com Lucilla Hoffmann. Eles tiveram vários filhos, sendo um deles, Irineu José Bohnenberger, de quem saberemos mais nos próximos capítulos...
Affonso e Lucilla no dia do Matrimônio
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Capítulo 3
A INFÂNCIA DE IRINEU 1. Um presente de Deus Na Certidão de Nascimento de Irineu José Bohnenberger9, assinado por João Sander Sobrinho, oficial de Registro Civil, no dia 15 de fevereiro de 1938, encontram-se informações que aqui são transcritas. O nascimento do menino aconteceu no dia 5 de fevereiro de 1938, às oito horas da manhã, na
Igreja Santa Joana Francisca de Chantal, em Joaneta, Picada Café-RS10
A palavra Bohnenberger, provém da união de dois termos “bohnen” (feijão, grãos) e “Berger” (fazendeiro, cultivador). Muitas famílias, no final do tempo do feudalismo, tiveram de refugiar-se nas cidades que eram cercadas por grandes muralhas. Nasceram assim povoados fora dos muros, ampliando as cidades. Aos poucos descobriram que o único jeito de sobrevivência era o comércio, o que deu origem às miniempresas familiares, unindo cada grupo para um determinado tipo de produção. Assim os que produziam pão (Brod), os que faziam sapatos (Schumaker), os que produziam roupas (Schneider), os que trabalhavam na bigorna (Hammes), os que faziam espadas e facas (Schmid), etc., e os que produziam grãos (Bohnenberger), com a variável de montanha, próximo à montanha. Há grande variedade de adaptações deste sobrenome: Bohnenberg (1407), Bone (1524), Bohnen (1723). Cf. PARMAGANI, Jacob José: Irmão Adelmo Benjamin – Augusto Bohnenberger – La Salle, Gráfica e Editora – Canoas-RS, 2001. 10 Iniciada pelo zeloso Padre José Balduíno Spengler, as estruturas não suportaram e, após a colocação do telhado, tudo veio abaixo numa noite. Desanimado e triste o padre pediu ao bispo Dom João Becker transferência. Aconteceu a troca entre ele que foi para a Paróquia de São José do Hortêncio e o Padre João Miguel Royer. O bispo o estimulou a recomeçar a obra e lhe passou uma quantia, de modo que, com a ajuda de todo o povo, a Matriz foi erguida e ali permanece. Padre Miguel faleceu aos 90 anos, em 1995 e foi sepultado no Cemitério de Joanetha ou Joaneta. 9
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casa de seus pais, no Município de São Leopoldo-RS, no distrito de Joaneta, em Picada Café. O pai foi o declarante, tendo como testemunhas, neste Ato de registro, os senhores João Hansen e Alberto Kauck. No dia seguinte, seis de fevereiro de 1938, Irineu foi batizado na Igreja Matriz de Joaneta. O atestado de Batismo, pertencente ao Arcebispado de Porto Alegre-RS, só ficou pronto e foi assinado pelo Padre José Balduíno Spengler, vigário da Paróquia Santa Joana Francisca Frémiot de Chantal11, no dia 25 de abril de 1941. Foram padrinhos de batismo o senhor Pedro Hoffmann e a senhora Maria Bohnenberger, representada na ocasião, por Ottília Hoffmann.
A celebração do Batismo.
Ao chegar à idade de 8 anos, Irineu foi preparado e recebeu pela primeira vez Jesus Cristo Eucarístico. Depois, em 28 de abril de 1940, na mesma Matriz, Irineu recebeu o Sacramento da Confirmação ou Crisma. A celebração foi presidida por Dom João Becker, arcebispo metropolitano de Porto Alegre. O crismando estava Santa Joana Francisca Frémiot de Chantal (França *28/01/1572 - +13/12/1641). Casou-se com o Barão de Chantal, teve filhos e, aos 28 anos, ficou viúva. Mulher de intensa vida espiritual se colocou sob a orientação religiosa do bispo Dom Francisco de Sales. Depois de bem encaminhar seus filhos, entrou num convento, mas no ano seguinte a convite de seu orientador, ajudou-o a fundar uma nova Ordem Religiosa: as Irmãs da Visitação de Santa Maria (Visitandinas), em Annecy, França, destinada a cuidar dos doentes. Conseguiu criar 75 novas comunidades de Irmãs. Posteriormente a Ordem foi obrigada a adotar o estilo de clausura e contemplação. Mesmo assim, se espalhou pelo mundo todo. Joana de Chantal foi canonizada em 1767 e é celebrada no dia 12 de agosto. 11
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Irineu e Lauro, tendo entre eles, o mano Geraldo. Na 2ª foto, recordação da Comunhão Solene de Irineu
com dez anos e três meses de idade. O padrinho foi o senhor João Kuhn. O Atestado de Crisma, expedido pelo Arcebispado de Porto Alegre, anos depois, traz a data de 2 de fevereiro de 1949, e é assinado pelo novo Pároco de Santa Joana Francisca, em Vila Joaneta, Padre João Miguel Royer
Dom João Becker (1870-1946)
2. Uma família abençoada O casal Affonso Bohnenberger e Lucila Bohnenberger, teve outros nove filhos, além de Irineu José, nascido em 1938: Lauro (de 17 de agosto de 1939), Maria Angelina (de 18 de novembro de 1941), Geraldo (de 11 de setembro de 1943), Irmão Irineu José Bohnenberger | 23
Nilse (de 09 de setembro de 1945) Romeu (de 29 de fevereiro de 1948), José Aloísio (de 16 de abril de 1951), Leonardo (de 26 de outubro de 1952), Maria Goreti (de 8 de novembro de 1955), Madalena (de 27 de abril de 1958)12.
Da E para a D: Madalena, Maria Goreti, Leonardo, José Aloísio, Romeo, Nilse, Geraldo, Irmã Maria Angelina, Irmão Lauro, Irmão Irineu, Lucilla, Affonso
Uma das características das colônias alemãs, e que existia em Picada Café, era o cuidado em não deixar faltar três referências fundamentais para o bem do povo: o templo, o salão da comunidade e a escola. O senhor Affonso Bohnenberger, pai de Irineu, entre outras ocupações, zelava pelo templo e pelos eventos comunitários da população. E ele tinha seu próprio moinho. A família Bohnenberger era, portanto, privilegiada por usufruir de um pai, envolvida em tudo o que acontecia em Picada Café. Um outro privilégio dos Bohnenberger era a vida cristã intensa, alimentada pela oração diária, à noite, e nos momentos de refeição e, também, pela Missa dominical. Mas o fato de contar com membros da família, dedicados a Deus, como a tia religiosa, Irmã Benísia Hoffmann (das 12
Ver no Anexo deste livro a galeria de fotos dos membros da Família Bohnenberger
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Irineu (o menor na primeira fila, com um dedo na boca), seus primos e manos quando pequenos
Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristãs)13, era um estímulo especial para a vivência coerente da vida segundo Jesus Cristo. Nesta mesma Congregação ingressou uma das manas de Irineu, a Angelina Bohnenberger. 3. O que vou ser quando crescer Aos 10 anos de idade, Irineu havia confessado a seus pais, portanto em 1948, a intenção de ingressar no Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs para seguir, de modo pleno, Jesus Cristo como Irmão Religioso. Explicou que um Irmão havia passado na escola e convidado a quem quisesse ser feliz como ele, como religioso dedicado a Deus e à educação da juventude, e queele estaria à disposição para esclarecimentos durante o recreio. Irineu entregou aos pais uma estampa (santinho), no verso da qual estava escrito “Seja feliz seguindo Jesus no Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs. Jovem, seja generoso com Deus, entregue-se totalmente a Ele e a fazer o bem às pessoas, de modo especial, por meio da educação cristã”. E o texto Esta Congregação foi fundada por Catarina Damen, nascida em 1787 na cidade de Ohé-en Laak, Holanda. Seus pais se chamavam Cornélio Damen e Gertrudes van Bree. Quando jovem ela se fez membro da Ordem Terceira Secular Franciscana. No dia 10 de maio de 1835, ela deu início à nova Congregação, no antigo castelo do Kreppel, que se tornou o Convento dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Adotou um novo nome, Irmã Madalena, e colocou a Congregação sob o signo do “Deus Proverá”, inspirando assim a muitas mulheres a servir e amar como Irmã menor no meio do povo, sobretudo, por meio da educação. As Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã estão em vários países: Brasil, Guatemala, México, Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Polônia, Rússia, Tanzânia, Indonésia e Timor Leste. 13
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continuava com uma oração levando em conta São João Batista de La Salle. No final estava um endereço para correspondência.
Os pais, tendo ouvido atentamente as intenções do filho, o felicitaram pela decisão que estava tomando. E lhe garantiram todo o apoio. No dia 3 de novembro de 1949 foram ter com o Padre João Miguel Royer, para solicitarlhe um termo de apresentação de Irineu. O Padre lhes revelou que tinha três primos Irmãos Lassalistas, os Irmão Albino Royer, João Royer e Carlos Royer e escreveu à mão, numa folha de caderno que destacou e entregou aos solicitantes: “Atesto que o rapaz Irineu Bohnenberger, procede de boa família católica e não consta de doenças hereditárias físicas e mentais. Há fundadas esperanças de ele ser um bom religioso mais tarde. Joaneta, 3 de fevereiro de 1949, Padre João Miguel Royer, Pároco”.
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Capítulo 4
O MUNDO EM GUERRA No ano do nascimento de Irineu Bohnenberger, 1938, alguns acontecimentos na Europa e aqui no Brasil apontavam grandes mudanças para os anos seguintes. Para contextualizar 1938, citamos alguns dados. Em nível mundial, no dia 4 de janeiro de 1938, a Inglaterra deixava o domínio da Palestina e estudava a partilha dos territórios nomeando, para isso, uma Comissão, a Woodhead, com a tarefa de definir as fronteiras do futuro país. Mohandas Karamchand Gandhi (ou Mahatma Gandhi) escreveu que, do que dali resultasse, surgiria uma guerra entre israelenses e palestinos. Na Espanha, no dia 31 de janeiro, o General Franco, estabeleceu seu governo, iniciando assim a ditadura franquista que durou 40 anos. Na França, em 10 de abril, assumiu o governo um socialista radical, o senhor Edouard Daladier, apoiado por Léon Blum. E, em 16 de abril, a Itália e a Inglaterra assinaram um tratado pelo qual a Inglaterra reconhecia a soberania da Itália sobre a Etiópia, e a Itália, naquele ano, se comprometia a retirar suas tropas da Espanha.
Fronteiras entre Israel e Palestina. Mahatma Gandhi e General Franco
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Na Alemanha, em 27 de fevereiro, Adolf Hitler realizou uma grande cerimônia pública para apresentar o novo modelo de automóvel da Volkswagen, que viria a ser conhecido como “o fusca”. E, no dia 4 de junho, aconteceu o início, na França, do Terceiro Campeonato Mundial de Futebol (Copa do Mundo), organizado pela FIFA, com 15 equipes participantes. No final dos jogos, no dia 19 de junho, a Itália sagrou-se campeã ao vencer a Hungria por 4 a 2.
1938: Hitler lança o Fusca. Na França acontece a Copa do Mundo
Por sua vez no Brasil: no dia 2 de janeiro de 1938, o programa oficial de rádio do governo brasileiro, denominado Hora do Brasil, passou a ser transmitido para todo o país.1. No dia 3 de janeiro a eleição presidencial não foi realizada, devido ao Golpe de Estado, realizado por Getúlio Vargas. Pouco depois, Getúlio, no dia 29 de abril, assinou o Decreto-lei que criava o Conselho Nacional do Petróleo, precursor da Petrobrás, com grande mobilização do povo com a campanha “O petróleo é nosso!”.
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No dia 11 de maio, os integralistas, liderados por Plinio Salgado, atacaram o Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro-RJ, residência do Governo Federal. No dia 18 de maio Getúlio Vargas assinou o Decreto Lei da Segurança Nacional, e no dia 1º de dezembro, por decreto-lei, criou a Casa Civil. Ainda em 1938, Getúlio criou o Ministério do Ar. Em 28 de julho, foram assassinados, pelo Exército brasileiro, o cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira da Silva) e sua primeira companheira, Maria Bonita.
Pouco depois, em 1939, acontecia a Segunda Guerra Mundial, contra Adolf Hitler, sua megalomania e inacreditáveis atrocidades contra os inimigos e, especialmente, contra os judeus e homossexuais. Além do horrendo holocausto nos campos de concentrações nazistas, iniciava-se a era das armas mais letais, entre as quais a bomba nuclear. Era preciso, a todo custo, derrubar Hitler e suas loucuras, assim como seus principais aliados, Benito Mussolini (Il Duce), ditador da Itália, com seu regime Fascista, e, também, o poderoso Japão, liderado pelo Imperador Iroíto.
Hitler, Mussolini, Churchill. Roosevelt, Imperador Hirohito
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O Brasil decidiu fazer parte da guerra. Internamente, em relação aos descendentes germânicos e italianos, houve repressão por receio de aliados a Nazistas e Fascistas. Foram proibidos de formar grupos, falar alemão e italiano, de ter livros, jornais, revistas nestes idiomas. Foi um tempo de medo e insegurança. Terminada a Segunda Guerra Mundial o mundo ficou dividido entre duas grandes potencias adversárias e em constante perigo de novo conflito: a União Soviética, à frente dos países ideologicamente dominados pelo socialismo comunista e os Estados Unidos da América, à frente do bloco ocidental capitalista. É neste contexto, complexo, desafiador e de expectativa, já no período do pós-guerra, que o adolescente Irineu Bohnenberger tomou a importante decisão de se tornar Religioso Irmão Lassalista.
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Capítulo 5
UMA CORAJOSA DECISÃO 1. O tempo de Juvenato Com a autorização dos pais e a declaração de idoneidade, assinado pelo Pároco, o menino de apenas 12 anos de idade, foi levado pelo Irmão Armando Gewehr para Carazinho-RS14. Ali Irineu ingressou no Noviciado Menor La Salle ou Juvenato, uma casa destinada a iniciar os vocacionados no caminho em direção a serem, um dia, Irmãos Lassalistas.
Localização do Município de Carazinho-RS. Colégio La Salle de Carazinho
No dia 14 de dezembro de 1950, Irineu, após um ano de grandes esforços como estudante e vocacionado, teve a alegria de receber um Diploma de Honra, que guardou cuidadosamente em seu arquivo pessoal. Era assinado pelo Irmão Diretor Basílio Gregório (João Ernesto Flach) e impresso a cores, As terras do atual município de Carazinho-RS faziam parte da Redução jesuítica de Santa Teresa, Província das Missões, por volta de 1634, então subordinada ao governo espanhol. Em 1637 foi a Redução totalmente destruída pelos Bandeirantes e posteriormente abandonada. Em 1750, com o Tratado de Madrid, passou a ser território português. Em 1809 fazia parte do município de Rio Pardo e, em 1817, de São Luís de Leal Bragança. Em 1833, passou a fazer parte de São Borja e, depois, em 1834, de Cruz Alta. Em 1872, Possidônio Ribeiro de Sant’Ana Vargas doou para a Mitra Diocesana, terras para a construção de uma capela (Senhor Bom Jesus de Iguape inaugurada em 1880) que deu início ao povoado Arraial de Carazinho. Mais tarde chegaram imigrantes alemães, italianos e russos que se dedicaram à lavoura em pequenas propriedades. Em 1896 o 4º Distrito de Passo Fundo, denominado de Jacuizinho, foi dividido em 3 seções, e uma delas passou a se chamar Carazinho. Em 1931, Carazinho foi emancipado e em 1938, elevado à categoria de município. 14
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O ano de 1951 era especial para os Irmãos Lassalistas, porque celebravam os 300 anos de nascimento de São João Batista de La Salle, no dia 30 de maio. Sob liderança do zeloso Irmão Nilo Sonda, estava sendo construída, próximo a Canoas, em Esteio-RS uma nova escola para marcar aquela efeméride, com o nome de Escola Tricentenário La Salle. Os quase 200 Irmãos e juvenistas, que ocupavam o enorme edifício do Instituto São José, estavam, assim como os alunos do Colégio de Canoas, em clima celebrativo, com muitos estudos, leituras, orações, exposições, etc. a respeito do Santo Fundador.
O Instituto São José, dos Irmãos Lassalistas, abrigou por vários anos o Juvenato para candidatos a Irmão (Ensino Fundamental) e o Escolasticado (Escola Normal). Na foto central à esquerda, junto ao muro, a Escola São Luiz. À direita, em frente ao prédio maior, numa das casas estava a Alfaiataria Central e na outra residia o Capelão, na época, Monsenhor Berwanger. Na foto à direita Irineu como Juvenista.
Mas, no decorrer daquele ano de 1951, o jovem vocacionado Irineu, dessa vez em Canoas-RS, no Juvenato dos Irmãos Lassalistas no Instituto
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São José, teve dificuldades de adaptação e alguns transtornos de saúde, que afetaram seus estudos e também seu comportamento. Dois documentos, um boletim escolar ou Atestado de Estudos, da segunda série, e o Diploma de Honra revelam em boa parte o clima vivido por Irineu naquele ano. O Atestado diz que “entre 35 alunos, obteve o 34º lugar com uma média de 5,9. Sobre um máximo de 120 pontos o jovem vocacionado havia alcançado 70,5. Seu Diploma de Honra, assinado pelo Irmão Eusébio (João Munaro), Diretor do Juvenato, atesta que Irineu teve boa conduta e boa aplicação. Mas, na verdade, a observação do bondoso Irmão Diretor, era um incentivo, pois o jovem não havia terminado bem o seu ano escolar.
Juvenistas em Canoas-RS: O Irmão Diretor Eusébio Lourenço (João Munaro) tendo à sua esquerda o Irmão Zandomenighi e à direita o irmão João Brod. Irineu Bohnenberger é o primeiro à esquerda na segunda fila
Com alegria, Irineu soube, em começos de 1952, por meio de Irmão Ambrósio, que seu mano Lauro, depois de um tempo de reflexão e consultas, havia decidido ser Irmão Lassalista e já estava no Juvenato Nossa Senhora de Fátima, em Carazinho-RS. Tratou de escrever-lhe uma carta de felicitações e de estímulo. Na época as visitas aos familiares eram muito espaçadas e as cartas eram raras e, por tradicional costume nas Congregações Religiosas, o Superior da Comunidade era obrigado a ler todas as cartas, as que chegavam e as que saíam. Em 1953, ao finalizar o Curso Ginasial, correspondente hoje ao fim do Ensino Fundamental, a situação acadêmica não havia melhorado para Irineu, pois como revela seu Diploma de Honra do dia 6 de dezembro, ele obteve Irmão Irineu José Bohnenberger | 33
“boa conduta e regular aplicação”. Entretanto seus formadores acreditavam nele. Apesar das dificuldades no estudo e no comportamento, Irineu desejava continuar a sua preparação para ser Irmão Lassalista e, por isso, solicitou autorização para ser “Postulante”, isto é, passar para a segunda etapa do itinerário formativo. Aceito, com algumas recomendações, o jovem se aplicou mais à oração, à boa conduta e às orientações dos seus formadores. Avaliado, foi autorizado a passar, com a maioria de seus colegas, para a terceira etapa, denominada Noviciado, que estava na cidade de Flores da Cunha-RS15, na região de Caxias do Sul-RS, num casarão de madeira, com um subsolo bem aproveitado. Era mestre dos Noviços, o Irmão Bernardo Bunne, alemão, que viera para o Brasil, em 1907, no primeiro grupo de pioneiros lassalistas. Havia sido Provincial e decidira investir muito na animação vocacional e na formação de Irmãos brasileiros.
Localização de Flores da Cunha-RS no mapa do Estado do Rio Grande do Sul. Ao lado o Brasão do Município
O município de Flores da Cunha, inicialmente habitado por indígenas caingangues, depois desalojados pelo projeto de Dom João VI de povoamento do Rio Grande do Sul com imigrantes europeus, recebeu a partir de 1876, imigrantes italianos. Foi emancipado, como município, de Caxias do Sul, em 1924. Seu nome é uma homenagem ao ex-governador do Estado, José Antônio Flores da Cunha (1880-1959), general e político, nascido em Livramento-RS, que havia prometido, em seu mandato, construir uma linha férrea ligando a cidade ao resto do Estado. 15
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Capítulo 6
RELIGIOSO IRMÃO LASSALISTA 1. Tempo de Noviciado No dia 10 de fevereiro de 1954, em solene celebração, tendo presentes seus pais e alguns parentes, cada jovem, segundo o ritual de ingresso no Noviciado, era chamado a ir à frente de todos. Irineu, ao ouvir seu nome, adiantou-se. O Irmão Provincial Agostinho Simão (Deolindo Valiati), lhe deu as boas-vindas ao Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs e, depois de algumas considerações, lhe passou o hábito religioso de Irmão Lassalista e dizendo-lhe: “Agora você não usará mais as roupas do dia-a-dia no mundo, mas sim, o santo hábito de religioso, específico dos Irmãos Lassalistas, como prescreveu nosso Santo Fundador, São João Batista de La Salle, nos inícios do nosso Instituto. Além disso, na lista dos nomes indicados por nosso Instituto para a nossa Província o seu, a partir de agora, é Irmão Calisto Ildefonso. São sinais de sua pertença ao nosso Instituto e do novo estilo de vida que você vai viver”. 16 Cada jovem, acompanhado de seu padrinho de ingresso no Noviciado passou para uma sala perto da Capela. Quando todos já estavam prontos, voltaram em fila, vestidos com o hábito de Irmão Lassalista. A assembleia litúrgica, de pé, prorrompeu num alegre aplauso, com alguns comentários, em voz baixa, sobre os jovens com seus hábitos de religiosos, que lhes proporcionava uma característica identitária bem específica. Por muitos séculos os monges e os religiosos, as monjas e as religiosas, trocavam de nome ao ingressarem em Ordens e Congregações Religiosas. Em 1966-67, a Assembleia Internacional dos Irmãos Lassalistas (denominada Capítulo Geral) determinou que os Irmãos que o quisessem poderiam voltar a usar seu nome de batismo e que os novos Irmãos não mais precisavam trocar de nome. O mesmo aconteceu em relação ao hábito religioso ou batina. A motivação era relacionada à teologia e espiritualidade do batismo.. 15
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Terminada a celebração houve um longo momento de felicitações e abraços. Os jovens e seus familiares, bem como os Irmãos presentes à celebração, estavam muito emocionados e felizes com aquele passo tão importante rumo ao ideal de serem Irmãos de La Salle. O que mais se repetia no momento dos abraços era: “Parabéns, Irmão!”, “Perseverança, Irmão!”, “Conte com minhas orações, Irmão!”. 2. A bênção do Ano Mariano de 1954 Aquele ano de um prolongado retiro, para assumir interiormente a nova identidade para o resto da vida, transcorreu bem. Um estímulo especial colaborou para o fervor dos jovens Noviços: o Ano Mariano, convocado pelo Papa Pio XII na celebração do Dogma da Imaculada Conceição, proclamado pelo Papa Pio IX e, também, o centenário da Aparição de Nossa Senhora de Lourdes a Santa Bernadete Soubirous, numa Gruta em Massabielle, na França. Além do estudo da vida da Mãe de Jesus, havia momentos especiais de devoção a Maria e o incentivo à imitação de suas virtudes. Apesar de ser um ano de isolamento em relação aos acontecimentos do mundo, do Brasil e mesmo das famílias dos jovens Noviços, houve – dentro do clima específico daquele ano de retiro – a informação, dada pelo Irmão Diretor, do suicídio do Presidente do Brasil, Getúlio Vargas, com um forte convite para a oração tanto pelo falecido como pela grave situação em que se encontrava o Brasil com aquela tragédia. 36 | Irmão Irineu José Bohnenberger
No final do ano, os formadores que haviam acompanhado diuturnamente os jovens Irmãos Noviços, felicitando e corrigindo-nos, ensinandoedandoexemplos,avaliaramcadaumdeles.IrmãoCalistoIldefonso foi aceito para a etapa seguinte do itinerário lassalista, o Escolasticado. Para isso, cabia-lhe e aos demais colegas, um compromisso religioso fundamental: os primeiros votos. Todos já haviam estudando e meditado bem o conteúdo da consagração plena a Deus e dos compromissos, em forma de votos, a serem assumidos, mediante uma fórmula de juramento.
Capela São José, do Instituto São José, em Canos-RS, na década de 50
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3. Consagração e Votos Ajoelhados diante do altar, logo no momento das Oferendas, na Missa, os Noviços, no dia 11 de fevereiro de 1955, tendo a Fórmula de Votos na mão esquerda, e na mão direita, um castiçal com uma vela acesa, e tendo atrás deles seus pais ou representantes da família, proclamaram o texto de consagração e votos, quase na íntegra como havia escrito o santo Fundador La Salle. Aqui transcrevemos apenas o início da referida Fórmula de Consagração: Santíssima Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo, prostrado com o mais profundo respeito ante vossa infinita e adorável majestade, eu me consagro inteiramente a vós para procurar vossa glória, quanto me for possível e vós o exigirdes de mim... A vela simbolizando a fé, o quadro representando a Santíssima Trindade e a imagem de La Salle, para significar a continuidade do ideal e da missão lassalista, com os novos Irmãos
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Capítulo 7
RELIGIOSO IRMÃO LASSALISTA EDUCADOR 1. Escola Normal No mesmo dia à tarde, após o almoço, os jovens Irmãos foram de ônibus para Canoas-RS. A nova etapa, denominada Escolasticado, estava destinada à formação do Irmão Lassalista como profissional em educação. Seguiriam a Escola Normal La Salle, de três anos, para obterem o Diploma de Professores Primários. O Curso correspondia ao Ensino Médio ou Segundo Grau. Apesar das dificuldades para estudo, que tinha desde 1952, Irmão Irineu concluiu bem seu curso e formou-se como Professor Primário, no dia 24 de dezembro de 1957, véspera da celebração do Natal. O Documento traz a assinatura dele como aluno, assim como do Diretor Irmão Gilberto Hilário (Albino Affonso Ludwig) e do Inspetor, senhor José A. Záchia.
Durante seu tempo de Escola Normal, assim como seus coirmãos Escolásticos, Ir. Irineu iniciou um Curso a Distância, coordenado pela Casa Generalícia dos Irmãos das Escolas Cristãs, em Roma. Era um Curso para a Irmão Irineu José Bohnenberger | 39
Formação do Irmão Lassalista como catequista, com um bom embasamento bíblico, teológico, espiritual e metodológico. Ele terminou este estudo, que era em francês, em 1961, recebendo o Diploma, escrito em latim, no dia 5 de junho daquele ano. O Diploma estava assinado pelo Irmão Philip Antoon. As disciplinas estudadas foram: Teologia Fundamental e Dogmática, Teologia Moral e Ascética, Iniciação à Sagrada Escritura e à Liturgia, Direito Canônico, História da Igreja e Pedagogia Catequética.
Os Irmãos Escolásticos, na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, do Instituto São José, em Canoas-RS. O Irmão Irineu é o terceiro na primeira fila, da D para a E.
2. Formação multifacetada Os responsáveis pelo Escolasticado eram criativos e os jovens Irmãos recebiam boa iniciação nas diversas artes como música, pintura e teatro. Periodicamente, havia sessões literárias para declamação de poesias, apresentação criativa de importantes escritores. O coral dos escolásticos abrilhantava as celebrações e festas, até mesmo com cantos a quatro vozes masculinas. O tempo de cada jornada, semana e mês, era bem dividido, pois além dos estudos, dos exercícios práticos do magistério, da dedicação à cultura, à vida espiritual e à formação teológica, havia necessidade de ajudar nos cuidados da imensa casa com mais de 150 pessoas, nos trabalhos nos jardins e na horta. Não faltavam, porém, os variados jogos e os dias de passeio. Irmão Calisto Ildefonso gostava de participar em tudo e se mostrava espontaneamente colaborador e prestativo. Ele guardou fotos de alguns
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personagens que viveu nas peças de teatro. Sempre foi agradecido por aqueles três anos de Escolasticado que muito o ajudaram para ser um bom professor.
O jovem Irmão Irineu como artista de Teatro, no tempo do Escolasticado, em Canoas-RS.
3. Reformas e ampliações em Canoas-RS A partir de 1957 algumas obras de envergadura começam a ser realizadas no Instituto São José e no Ginásio São Luiz17. Em 1956, o Juvenato recebeu uma nova área coberta. O histórico e já envelhecido “Chateau”, no qual funcionava o Ginásio São Luiz, teria de ser demolido para dar lugar a um prédio novo. Devido a insistentes pedidos das famílias, foram iniciadas duas primeiras séries do primário. A comunidade dos Irmãos, diante da crescente quantidade de alunos, decidiu que, a partir de 1958, seriam contratados professores leigos. Uma nova ala, perpendicular à Capela e em direção à Estação Ferroviária, seria construída para o Ginásio São Luiz, com área coberta ampla e dois andares para 8 salas de aulas e para os laboratórios de Biologia, Química e Física.
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KIRCH, José Odillo: Ir. Hugo Rempel – Martinho Bento, Religioso Lassalista. Sales Editora. Canoas-RS 2006. Irmão Irineu José Bohnenberger | 41
Recordações da Família
Lucilla Hoffmann Bohnenberger e Affonso Bohnenberger
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Capítulo 8
EM NITERÓI-RJ 1. Do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro Terminado o curso da Escola Normal, em dezembro de 1957, o Irmão Irineu, depois do Retiro anual no início de 1958, foi transferido para a Comunidade Religiosa dos Irmãos Lassalistas, na cidade de Niterói-RJ18, da qual era diretor o Irmão Amadeu Egydio (Silvino José Fritzen). O jovem Irmão ficou deslumbrado com a gigantesca obra, planejada e, em parte construída, pelo Irmão Lucas Norberto, de 1949 a 1955. A partir daquele ano, o Irmão Amadeu, transferido de Guaxupé-MG, estava dando continuidade àquele belo edifício-templo da educação. Ele era, ao mesmo tempo, o vice provincial da Provincial Lassalista do Brasil. O Irmão Lucas Norberto, desde meados de 1955 estava em São Paulo, em tratamento de saúde.
Irmão Lucas Norberto, a fachada do Instituto Abel na década de 50 e o Irmão Amadeu Ao longo de sua história, Niterói recebeu os apelidos de ‘Cidade Sorriso’ e ‘Terra de Araribóia’. Antigamente a grafia era ‘Nictheroy’ ou ‘Nitheroy’, um nome indígena. Em 1834 a localidade recebeu o nome de “Vila Real da Praia Grande”, mas depois voltou ao nome ‘Niterói’. Existem várias explicações sobre o significado do termo na língua tupi, como, por exemplo, “água que se esconde”, “porto sinuoso” e “rio verdadeiramente frio”, pela junção dos termos ‘y’ (rio) com ‘eté’ (verdadeiro) e ‘ro’y’ (muito frio). Niterói, a partir de 1834, foi a capital da Província (depois, Estado) do Rio de Janeiro, que passou a ser a partir de 1892. Com a nova Capital, Brasília-DF, Rio de Janeiro, que havia sido o Distrito Federal, passa a ser, a partir de 1975, a capital do Estado do Rio de Janeiro... 18
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Outro motivo de maravilhamento para aquele jovem gaúcho, era a cidade do Rio de Janeiro-RJ, com suas montanhas, suas praias, seus monumentos... De cima do Instituto Abel, ele contemplava as belas paisagens do outro lado da Baía da Guanabara. E quando subiu o Corcovado, no bondinho, ficou admirado com a estátua do Cristo Redentor e embevecido com tanta beleza, que via lá de cima. A travessia da baía da Guanabara, pelas barcas, era também uma boa ocasião para novas descobertas nas paisagens da cidade do Rio.
2. Estudante de Pedagogia Além de trabalhar como professor primário no Instituto Abel, ele prestou exames e se matriculou na Faculdade Fluminense de Filosofia para o curso de Pedagogia. E, como era de praxe, teve de enfrentar o “batismo de calouro de universidade”. Entre as atividades do ritual, ele recebeu um Diploma, fornecido pelo Diretório Acadêmico da Faculdade, intitulado, em latim: Diploma Asininae Conditionis, isto é “Diploma da Condição Asinina”
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Na cerimônia de diplomação, Irmão Irineu, usando a batina de Irmão, ao ser chamado, teve de desfilar, com orelhas de burro, até à mesa e, ao mesmo tempo, imitando o animal. O texto jocoso, num latim mal-ajambrado, dizia entre outras coisas que o portador do Diploma vagava pelas praias niteroienses, perambulava pelas ruas, vagava pelas praças, não querendo estudar na Faculdade. Mas dizia também que, mesmo sem poder estudar, falar e muito menos entender Filosofia, desde que prometesse corrigir-se de seus erros passados e não falhasse às suas obrigações acadêmicas, teria direito à Carta de Alforria de sua condição asinina. O Diploma é datado de 20 de janeiro de 1958. Bem pertinho do Instituto Abel, no Estádio de Caio Martins lotado, aconteceu, em setembro de 1958, em Niterói-RJ, a abertura dos XV Jogos Universitários Brasileiros. Os Irmãos Lassalistas, todos gaúchos, mesmo não estando no Estádio, vibraram com o evento, mas, especialmente ao ver, no dia seguinte, em alguns Jornais, a foto da delegação gaúcha no desfile19.
Desfile de abertura dos XV Jogos Universitários Brasileiros, 1958 em Niterói/RJ
Por ter chegado à idade de prestar o Serviço Militar, conforme a legislação brasileira da época, ele se apresentou, em fins de 1958, à Primeira Região Militar. Recebidas as instruções relativas ao seu caso de Religioso Educador, e cumpridas as exigências legais, recebeu seu Certificado de Reservista de 3ª Categoria, sob o número de 365062, no dia 21 de janeiro de 19
Cfr. http://www.lume.ufrgs]].br/bitstream/handle/10183/9471/Rg100000198.jpg?sequence=1 . Irmão Irineu José Bohnenberger | 45
1959, logo após voltar de seu retiro anual, no fim do qual renovou seus votos de Religioso Irmão Lassalista. Irmão Irineu aproveitou seu tempo, em janeiro de 1959, para fazer um Curso Intensivo para Secretário de Estabelecimento de Ensino Secundário, oferecido pela Diretoria do Ensino Secundário do Ministério da Educação e Cultura, segundo a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Superior. Seu certificado ficou pronto no Rio de Janeiro, no dia 5 de fevereiro de 1959, e ele foi buscá-lo logo, pois, dele necessitava em sua nova tarefa de Secretário Escolar.
Irmão Irineu com seus alunos do primário
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Capítulo 9
VIDA COMUNITÁRIA E SAÚDE 1. Irmão Irineu na vida comunitária Um dos aspectos que sempre chamou a atenção no Irmão Irineu Bohnenberger foi sua cordialidade no trato com as pessoas. Na Comunidade do Instituto Abel, sua primeira experiência, após o Escolasticado, desde os primeiros dias, como que naturalmente, deu-se bem com todos os coirmãos, os alunos, os pais de alunos e os funcionários. Ele dava uma atenção especial ao mais idoso da Comunidade, o Irmão Boaventura Domingos (Giuseppe Pegoraro).
Irmão Irineu brincando com o IrmãoBoaventura à mesa do almoço
Este Religioso Irmão era considerado um santo, pois vivia exemplarmente sua vocação e missão, em grande humildade, dedicação, vida de oração, fraternidade e atenção aos alunos. Ele fazia questão de receber os alunos à porta da escola ou de passar pelos corredores para saudálos e ajudá-los a bem receber, em sala de aula, os colegas e os professores. Na época, Ir. Boaventura ocupava-se, sobretudo, dos serviços domésticos da Comunidade e da infraestrutura do Colégio, principalmente dos vários jardins e cantoneiras com abundante vegetação. Esta rica realidade ecológica havia sido incluída no projeto da escola pelo criativo e ousado fundador do Irmão Irineu José Bohnenberger | 47
Instituto Abel, o Irmão Lucas Norberto. Os objetivos de tanta vegetação dentro do Colégio eram dois: amenizar o clima, muito quente da cidade de Niterói-RS, e favorecer o processo educativo dos alunos por estarem em meio a plantas e flores. Em 1958 chegou do Rio Grande do Sul outro Irmão, ao qual Irmão Irineu passou a dar atenção especial. Era o Irmão Ângelo Gabriel (Antônio Taffarel) que trabalhara, de 1944 a 1952, no Instituto São Luiz em Jacarepaguá, Rio de Janeiro-RS, passara para o Instituto Abel, e havia sido transferido do Colégio Gonzaga, em Pelotas-RS. Irmão Ângelo assumiu, junto com o Irmão Boaventura, o acompanhamento da construção de novas alas do Colégio, os serviços domésticos da Comunidade e os jardins.
Pátio interno 1, logo após a entrada pela Av. Estácio de Sá (hoje denominada Av. Roberto Silveira), à esquerda: Jardim de Jesus Salvador. À direita, o Jardim de Nossa Senhora.
2. Problemas de Saúde De saúde boa, com raras gripes, estrutura física sólida, Irmão Irineu gostava de atividades físicas. Mas aconteceu, nos anos em que esteve em Niterói-RS, uma desagradável e preocupante surpresa, tanto na Universidade como no Colégio: crise de epilepsia20. Nada nele anunciava este distúrbio, que é provocado por um desequilíbrio na atividade elétrica nos neurônios de 48 | Irmão Irineu José Bohnenberger
uma parte do cérebro, causando transtornos neurológicos que se expressam por convulsões, que podem ter consequências neurobiológicas cognitivas e psicológicas. Uma crise epiléptica ou comicial, comumente é um distúrbio súbito e de curta duração com diminuição da consciência, queda ao solo e movimentos convulsivos.
Emocionalmente abalado, com muitos questionamentos e temores, Irmão Irineu fez diversos exames, foi medicado com anticonvulsivantes e teve acompanhamento médico por uns meses. Além de ler sobre o assunto, evitava ficar estressado. Não queria falar sobre o assunto, nem que os coirmãos e muito menos os familiares ficassem preocupados com ele. Mesmo sabendo que a doença não avisa quando pode acontecer uma crise, ele se vigiava para que não acontecesse diante dos alunos, na rua ou na Universidade. Homem de fé, intensificou sua oração, colocando tudo isso e a ele mesmo nas mãos de Deus.
BETTING, Luiz Eduardo et alii: TRATAMENTO DE EPILEPSIA - Consenso dos Especialistas Brasileiros. Em Arq. Neuropsiquiatr 2003;61(4):1045-1070 - http://www.scielo.br/pdf/anp/v61n4/a32v61n4.pdf. Este estudo diz que mais de 50 milhões de pessoas no mundo sofre desta enfermidade.. 20
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Recordações
Irmão Irineu com seus alunos na frente do Instituto Abel, em Niterói-RJ
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Capítulo 10
NOVIDADES ENTRE OS IRMÃOS NO BRASIL 1. Irmão Nicet Josef visita o Brasil Em fevereiro de 1959, pela primeira vez um Superior Geral do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs visitou o Brasil. Foi o Irmão Nicet Josef que veio acompanhado de seu Assistente Geral, que tinha encargo especial em relação ao Instituto Lassalista na América Latina e no Caribe. Foi um momento de grande alegria e de expectativa. Houve vários encontros, homenagens dos Irmãos e de autoridades civis, entrevistas, visitas. Ele esteve no Retiro anual em Caxias do Sul. Foi ao Noviciado em Flores da Cunha-RS e a NiteróiRJ. Sua agenda esteve bem ocupada.
Irmão Nicet Josef e Irmão Fabriciano Luís, orientados pelo Irmão Diretor do Noviciado, Apolinário José (Ruperto Jaeger), no meio de ambos, tendo abaixo o prédio do Noviciado em Flores da Cunha/RS
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2. O Brasil com duas Províncias Lassalistas Uma das tarefas importantes do Irmão Superior Geral foi a de oficializar a subdivisão da Província Lassalista do Brasil em duas, após um estudo realizado, pelo Irmão Provincial Agostinho Simão e pelo Conselho Provincial. A cerimônia aconteceu, em um momento especial e histórico, em Canoas/ RS, no dia 24 de fevereiro de 1959. Nascia assim a Província Lassalista de Porto Alegre, com sede em Canoas-RS, tendo, como Provincial, o Irmão Francisco Alberto (José Pedro Franz); e a Província Lassalista de São Paulo, com sede na capital paulista, tendo, como Provincial, o Irmão Agostinho Simão (Deolindo Caetano Valiati). Na distribuição dos Irmãos entre ambas Províncias, aconteceu que os manos Irineu e Lauro ficaram separados. Irmão Irineu passou a integrar a Província Lassalista de São Paulo e Irmão Lauro, a Província de Porto Alegre.
Na 1ª fila: da E para a D: Irmão Ildefonso Luís (Edwino Kerch), Irmão Fabriciano Luís, Irmão Nicet Josef, Irmão Agostinho Simão (Deolindo Valiati) - faltou a identificação de alguns irmãos
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Além dos compromissos no Rio Grande do Sul, o Irmão Superior Geral incluiu, em seu itinerário de visitas, o Instituto ABEL, em Niterói-RJ, facilitado que estava pelo Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. A Comunidade dos Irmãos providenciou algumas visitas a autoridades civis e religiosas e um passeio pelos lugares turísticos da cidade do Distrito Federal, principalmente o Cristo Redentor no alto do Corcovado. 3. Comunhão eclesial O Instituto Abel manteve sempre bom relacionamento com a Paróquia do Santuário Nacional das Almas, administrada e orientada pelos Padres Missionários do Sagrado Coração (MSC), em cuja jurisdição canônica está inserido, e, também, com a Diocese. Quando Irmão Irineu atuou em Niterói-RJ era arcebispo, Dom Antônio de Almeida Moraes Júnior, famoso por sua arte oratória. Sempre que solicitado, Dom Antônio fazia questão, se sua agenda o permitia, de atender a convites e solicitações do Instituto Abel, que ele admirava muito e valorizava o processo de escola em pastoral que ali funcionava.
À esquerda, o Irmão Amadeu (Silvino J. Fritzen) e à direita, o Irmão Irineu Bohnenberger, junto com Dom Antônio de Almeida Moraes Júnior, arcebispo de Niterói-RJ, um sacerdote, pais de alunos e alunos. Foto tirada na porta de entrada do Instituto Abel.
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Recordações
Alegre momento de confraternização da família Lucilla e Affonso Bohnenberger
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Capítulo 11
GUERRA FRIA, EUFORIA E CRISES 1. O caso de Cuba O mundo vivia o perigo de uma terceira guerra mundial, a partir da revolução cubana, pela qual Fidel Castro e Chê Guevara haviam conquistado o poder em Cuba, mediante luta armada, implantando o regime comunista e abrindo possibilidades para a União Soviética ter uma base militar na ilha caribenha e dali espalhar o ideal comunista para toda a América. Isso implementou ainda mais a guerra fria21, com ameaças entre os países capitalistas ocidentais lideradas pelos Estados Unidos e os países socialistas liderados pela União Soviética. As duas maiores potências bélicas da época, também na área científica, várias vezes estiveram próximas das vias de fato. A rivalidade ideológica era muito forte e, obviamente, direcionava o avanço acelerado e poderoso da tecnologia, com possibilidades realmente incríveis de desenvolvimento científico, mas ao mesmo tempo de guerras absurdamente destruidoras. Estes assuntos faziam parte da conversa corrente na Universidade e Irmão Irineu acompanhava apreensivo a situação.
A Guerra Fria foi um enfrentamento ideológico, político, económico, social, militar, informativo e esportivo, iniciado logo após a Segunda Guerra Mundial (1947), entre o Bloco Comunista, liderado pela União Soviética, e o Bloco Ocidental Capitalista, liderado pelos Estados Unidos e que durou até a queda do muro de Berlim, em 1989 e o fim da União Soviética em 1991 As razões fundamentais deste enfrentamento foram ideológicas, políticas e de ambição. 21
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2. A era JK O Brasil, porém, vivia a euforia do governo progressista de Juscelino Kubistchek que prometera fazer o país avançar 50 anos em 5 (1956 a 1960). Entre suas ousadas metas, JK decidira construir a nova capital do Brasil no planalto central, próximo a Goiânia, no Estado de Goiás. Irmão Irineu acompanhava com interesse os avanços políticos, econômicos e culturais do momento. Ficou fascinado com a inauguração de Brasília em abril de 1960, onde os Irmãos Lassalistas já estavam presentes com o Ginásio Brasília, no Núcleo Bandeirantes e, em breve, começariam o Colégio La Salle no Plano Piloto, na Asa Sul, 906.
Um fato que empolgou o Irmão Irineu, seus colegas universitários e seus alunos no Instituto Abel, foi o do primeiro voo espacial tripulado, no dia 12 de abril, quando o cosmonauta soviético Yuri Gagarin efetivou o primeiro voo orbital em torno da Terra, pela missão espacial Vostok 1, da União Soviética.
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3. Formatura Terminado seu curso universitário, portanto com o Diploma de Bacharel em Pedagogia, recebido no dia 26 de abril de 1961, Irmão Irineu não perdera tempo e fez os trâmites legais para o reconhecimento de seu diploma pelo Ministério da Educação. O resultado lhe chegou no dia 8 de janeiro de 1962. De posse deste importante documento, assim reconhecido, ele iniciou a complementação de seu curso, conseguindo, da mesma Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, no dia 18 de setembro do mesmo ano, seu Diploma de Licenciatura em Pedagogia. Irmão Irineu já estava de posse de Registo de professor que lhe permitia dar aulas. O primeiro, de número 28.967, é datado de 29 de setembro de 1959. Mas ele sabia que precisava de outros, porque cada vez mais o Brasil exigia melhor formação dos profissionais da educação, tanto para ser professor ou Diretor como para trabalhar na Secretaria escolar..
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Recordações
Irmão Irineu em uma de suas visitas à família
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Capítulo 12
DESPEDIDA DE NITERÓI-RJ 1. Crise econômica e politica O segundo semestre de 1961 foi econômica e politicamente muito complicado para o Brasil. Juscelino Kubistchek, devido aos gastos com suas obras faraônicas, deixou o país desmantelado. Jânio Quadros, com seus discursos demagógicos e inflamados, ganhou as eleições, mas não tinha condições, naquele momento de crise, de governar o Brasil. Extravagante como era, em agosto homenageou a Chê Guevara com a condecoração máxima do Governo brasileiro, a “Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul”. Instalou-se logo uma forte reação das Forças Armadas e das principais forças políticas do país22. O jornalista e político Carlos Lacerda explorou o desgoverno de Jânio. No dia 24 de agosto, Jânio renunciou à Presidência da República, ocasionando uma profunda crise política e institucional. O vice-presidente João Goulart estava em visita oficial à China e Ranieri Mazilli, Presidente da Câmara, assumiu interinamente o governo.
1- Jânio Quadros e Chê Guevara; 2- Carlos Lacerda; 3- João Goulart
22
Cf. Folha de São Paulo, 19/08/1061 Irmão Irineu José Bohnenberger | 59
2. Um grande incêndio No final do ano aconteceu em Niterói-RS uma enorme tragédia, que abalou a população: o incêndio do Gran Circo Americano, no dia 17 de dezembro de 1961. O acidente aconteceu no final do espetáculo, às 15h45, com 2.500 presentes no Circo, dos quais mais de 500 morreram sem condições de sair do local. Junto com a imensa dor das famílias dos falecidos e dos feridos, aconteceu uma imensa onda de ajuda e solidariedade, mobilizando a população e as autoridades
Incêndio do Gran Circo Americano em Niterói, RJ
3. Adeus Niterói Em começos de 1962, Irmão Irineu participou do Retiro Anual. No final daquele momento de intensa oração, revisão de vida e meditação sobre temas centrais para a vida consagrada de Irmão, o Irmão Agostinho Simão, como era costume, transferiu alguns Irmãos de Comunidade. Irineu ficou agradavelmente surpreso com seu novo destino: Brasília/DF, inaugurada em abril de 1960. Ele havia acompanhado, à distância e com interesse, a construção e inauguração da nova Capital do Brasil e alimentava o desejo de pelo menos visitá-la. Mas agora era para lá morar e ajudar a Província a fincar ali raízes.
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Aproveitou uns dias, depois do Retiro, para visitar os familiares em Picada Café-RS e o fez junto com seu mano Lauro, também Irmão Lassalista. Foi um momento de alegria por reencontrar bem a todos, saber das novidades, falar de sua experiência, matar as saudades, estreitar laços de família. Houve bons momentos de conversa com o mano Lauro, visto que estavam em Províncias diferentes e a muitos e muitos quilômetros de distância. Um motivo de especial alegria foi encontrar ali sua mana Angelina, jovem religiosa Irmã Franciscana da Penitência e Caridade Cristã, e sua tia, a Irmã Benícia Hoffmann.
1ª Fila: Leonardo, Lucilla (mãe), Maria Goreti, Maria Madalena, Affonso (pai), José Aloísio. 2ª Fila: Nilse, Irmã Maria Angelina, Irmão Irineu, Irmão Lauro, Geraldo e Romeo
4. Plano Piloto, Brasília-DF Coube-lhe morar no Plano Piloto e trabalhar no Centro Educacional La Salle, na 906 Sul, ao lado do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, sob os cuidados dos Padres Capuchinhos. A Comunidade de seis Irmãos, tendo à frente como diretor, o Irmão Emílio Athanásio (Arno Bonfleur), recebera a incumbência de ali iniciar Colégio, no Plano Piloto, da nova capital do Brasil, inaugurada no dia 21 de abril do ano anterior. A referida Comunidade era formada pelos Irmãos Emílio Athanásio (Arno Bonfleur), Gabino Agostinho (Hyldeu Bressane), Calisto Ildefonso Irmão Irineu José Bohnenberger | 61
(Irineu Bohnenberger), Edmundo Inácio (Edmundo Reis), Valério Domingos e Tarcísio Estanislau (José de Oliveira). As aulas foram iniciadas no dia 8 de março de 1962. O Colégio continuava em construção, como um desdobramento do Ginásio Brasília do Núcleo Bandeirantes. Para a continuidade das obras, os Irmãos lançaram mãos de promoções sociais variadas, como rifas, bingos, leilões e festas.
Os dois jovens manos, Religiosos Irmãos Lassalistas, Irineu (à extrema esquerda) e Lauro (à extrema direita), com três parentes Bohnenberger, também eles Religiosos Irmãos Lassalistas: Da E para a D: Pedro Bohnenberger, Augusto Bohnenberger e Benno Bohnenberger
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Capítulo 13
TEMPOS DE DITADURA E DE IGREJA EM RENOVAÇÃO 1. Brasil em crise política No Brasil, o Plano Trienal do governo de João Goulart mostravase um fracasso, causando índices de inflação altíssimos. Os movimentos sociais pressionavam cada vez mais, exigindo transformações substanciais na sociedade. A União Nacional dos Estudantes (UNE) foi para as ruas. Segmentos organizados da Igreja Católica com orientação socialista se juntaram aos estudantes nas manifestações. Em Brasília aconteceu uma rebelião de sargentos, que foi avaliada pelo alto escalão das Forças Armadas como uma grave ameaça à hierarquia militar.
Neste clima de tensão popular, sentindo-se enfraquecido politicamente, João Goulart realizou, na Estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, um grande comício, no dia 13 de março, com mais de duzentos mil manifestantes. E ele assinou decretos de grande impacto popular, como a nacionalização das refinarias de petróleo e a desapropriação de terras para a reforma agrária, as que estavam situadas às margens de ferrovias e rodovias federais.
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Em São Paulo-SP, em resposta às manifestações no Rio de Janeiro-RJ, foi realizada a Marcha da Família com Deus pela Liberdade para pedir a Deus e aos militares que salvassem o Brasil do perigo comunista. O estopim final para o Golpe aconteceu quando João Goulart apoiou a manifestação dos marinheiros no Rio de Janeiro, em 30 de março. O Alto Comando das Forças Armadas acusou o Presidente de conivência com os atos de insubordinação que ameaçavam a hierarquia militar. 2. A Ditadura militar No final de março de 1964, um golpe militar colocava no governo do país, o general Castelo Branco, impedindo a João Goulart de prosseguir como Presidente do Brasil. Instalava-se, assim, no Brasil, uma Ditadura Militar, que seguia os ditames da política norte-americana para a América Latina. Seu objetivo principal era impedir o avanço do comunismo, implantado em Cuba e que, com o apoio da União Soviética, tentava se alastrar por outros países do continente latino-americano.
Os 5 presidentes do Brasil durante o regime da Ditadura Militar
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O regime militar, evidentemente, assumiu a pose de salvador do país e colocou um freio violento à tendência da esquerda política de introduzir o comunismo no Brasil. Houve, evidentemente, mudanças profundas na política, na economia e na cultura. O catolicismo, com sua forte influência social, especialmente pela Ação Católica, em suas diversas organizações como a Estudantil, a Operária, a Independente, também entrou na vigilância do regime militar. Desde os primeiros momentos a ditadura brasileira deixava claro que tudo o que parecesse ter alguma ligação com o socialismo e o comunismo, não seria tolerado
Grupo de militares que iniciaram a Ditadura em 1964. Na foto à esquerda o General Costa e Silva e à direita o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco
3. Igreja: Concilio Vaticano II (1962-1965) E, naqueles anos, algo novo, de enormes repercussões, estava acontecendo na Igreja Católica. Em uma grande assembleia em Roma de 1962 a 1965, denominada Concílio Vaticano II, convocada pelo carismático e profético Papa João XXIII, anunciavam-se grandes mudanças, tanto de renovação interna da mesma Igreja, como em sua inserção no meio do povo. O Concílio, com clareza, impulsionava os católicos a assumirem sua condição de cidadãos com a missão de colaborar eficazmente na transformação da sociedade segundo a justiça, a solidariedade, a fraternidade e a paz.
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O Papa João XXIII, a grande assembleia conciliar e o Papa Paulo VI
4. Perseguição político-religiosa Era evidente que algumas lideranças episcopais, assim como teólogos e líderes leigos, que estavam levando para o povo as orientações do Concilio passariam a fazer parte das atenções do governo militar, de modo especial alguns bispos de maior influência na opinião popular, tais como Dom Helder Câmera, Dom Evaristo Arns, Dom Adriano Hipólito... Em 1968, aconteceu um segundo golpe político dos militares, o Ato Institucional nº 5, que fazia endurecer ainda mais o regime ditatorial, cortando a liberdade de imprensa, as reuniões de lideranças e as manifestações públicas e introduzindo a perseguição política. Diversos intelectuais, líderes operários, líderes católicos passaram a ser vigiados de perto, perseguidos, presos, torturados. Muitos foram expulsos do Brasil, outros, de um momento a outro, entraram para a lista dos desaparecidos. Um dos alvos principais da perseguição a lideranças católicas era Dom Hélder Câmara, arcebispo de Recife. Como o profético pastor não se calava em suas duras denúncias ao regime ditatorial, mesmo tendo sua casa metralhada várias vezes, aconteceu uma tragédia. Na madrugada, de 26 para 27 de maio de 1969, no Recife, o padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, que com ele trabalhava, foi sequestrado e torturado até a morte. O crime, nunca foi esclarecido, mas é sabido que teve o objetivo, claramente político, de barrar, pela violência física, até mesmo o Arcebispo. 66 | Irmão Irineu José Bohnenberger
Dom Adriano Hipólito OFM, o jovem Padre Henrique Pereira e Dom Hélder Câmara
Esta era uma época de chumbo. Porém, não acontecia apenas no Brasil. Um a um dos países da América Latina e do Caribe, segundo as orientações da política externa dos Estados Unidos, entravam em regime ditatorial. E, de todos eles, os mais duros foram o Chile, com o general Augusto Pinochet, o da Argentina com o general Arturo Videla e o do Paraguai com o general Stroessner.
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Recordações
Irmão Irineu entregando o certificando de conclusão de curso
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Capítulo 14
ANTENAS LIGADAS 1. É preciso progredir Junto com a Igreja e o povo brasileiro, o Irmão Irineu sofria com as mudanças que estavam acontecendo no Brasil a partir da implantação da Ditadura Militar. Lia, escutava rádio para ficar por dentro do que estava acontecendo. Mas, como não havia liberdade de imprensa, as principais informações lhe chegavam por outras vias. Em 1965, havia 10 Irmãos na Comunidade do Plano Piloto, em Brasília, DF. A matrícula alcançara 1.100 alunos e a Direção do Colégio decidira por introduzir o Curso Técnico de Contabilidade, o Centro de Formação e Treinamento de Professores do Ensino Comercial e o atendimento a alunos com deficiência. Como o número de Irmãos cresceu, foi construído um espaço apropriado para a residência deles, com 14 quartos. Por sua vez o Colégio revelava novas necessidades. Irmão Irineu, além de aulas no período diurno, aceitou, num final de tarde, um pedido do Diretor, Irmão Gabino Agostinho (Hyldeu Bressane), para dar aulas no período noturno. No dia seguinte, o Ir. Gabino lhe entregou a nomeação para lecionar Legislação do Ensino, no Curso de Formação de Professores de Ensino Técnico Comercial.
Irmão Irineu, primeiro da fila, ao lado do Irmão Diretor Gabino Agostinho (Hyldeu Bressane), em cerimônia de Formatura, no Centro Educacional La Salle (CEL), Plano Piloto, Brasília, DF
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2. Estar sempre atualizado Apesar de sentir que a epilepsia, que se manifestara algumas vezes, poderia complicar sua missão de professor, Irmão Irineu, preocupado sim, mas confiante, assumiu a nova missão que, sem dúvida, iria cansá-lo um pouco mais. O risco era real por avançar até tarde da noite em trabalho. Ora, os Irmãos levantavam muito cedo, às 4h45 para a oração matinal e o café da manhã e, em seguida, estarem a postos para receber professores e alunos. Eles eram responsáveis pelos três turnos do Colégio. Ao saber que uma famosa educadora, residente no Rio de Janeiro e com vários livros publicados, a senhora Maria Junqueira Schmidt, iria dar um Curso intensivo sobre Psicopedagogia Familiar, em Brasília, Irmão Irineu, apressou-se em se inscrever. No dia 19 de setembro ele estava com mais um Certificado em seu Curriculum Vitae. E, outro certificado lhe veio, no dia 30 de outubro, depois de participar do Primeiro Seminário sobre a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e da Legislação complementar aplicável ao Ensino Técnico Comercial. Em 196723, ele participou do VII Congresso Brasileiro do Ensino Técnico Comercial em Porto Alegre-RS, nos dias 19 a 27 de julho, uma promoção da Diretoria do Ensino Comercial do Ministério da Educação e Cultura. E, em setembro do mesmo ano, lhe chegava do Rio de Janeiro, uma homenagem da Livraria “El Ateneo” do Brasil. Com sede em diversos países. Através de seu Departamento de Divulgação Cultural, no Rio de Janeiro, a Livraria lhe enviava um Diploma de Honra ao Mérito, datado do dia 14 de setembro, outorgando-lhe o primeiro lugar na série 4, formada por uma única turma.
Em 1966 o Irmão Reinaldo Sebastião (Reinaldo Poersh) retirou-se do Instituto e o Ir. Gabino Agostinho (Hyldeu Bressane) foi nomeado Diretor da Comunidade e do Colégio. Integravam a Comunidade Religiosa os Irmãos Irineu Bohnenberger, Ângelo Reffatti, Pedro Brod, Vasco Pedro Moretto, Velocino Lourenço Tonietto, Ênio Tonietto, Albano Thomas, Luiz Rancan e Dorvalino Chini. 23
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E, em 1968, de 17 a 28 de agosto, devido a uma crescente onda de interesse no Brasil pela Parapsicologia, Irmão Irineu decidiu aproveitar uma chance especial e fez um curso intensivo, nas dependências do próprio Centro Educacional La Salle, ministrado pelo professor Artemiro Longhi. Este professor estava ligado ao Laboratório de Parapsicologia da Duke University, em Durham, Carolina do Norte, nos Estados Unidos, orientado pelo Doutor J. B. Rhine, fundador da Parapsicologia Científica.
Maria Junqueira Schmidt (educadora), Joseph Blanks Rhine (Parapsicólogo) e detalhe do Certificado de Honra da Livraria El Ateneo
3. Malária Em Brasília-DF, Irmão Irineu teve algumas crises epilépticas. Quando da primeira vez, os Irmãos da Comunidade e a Comunidade Educativa ficaram preocupadas. Ele, porém, explicou quais medidas tomarem quando das crises e que ninguém ficasse preocupado, pois, dizia ele, não era doença grave. Como é costume nas Congregações Religiosas, as Comunidades ou Fraternidades têm em seu planejamento anual dias de descanso coletivo, inclusive de passeios. A vida escolar é muito estressante e a responsabilidade administrativa muito exigente. Uma ou outra vez são feitas excursões mais longas. Numa dessas, a Comunidade dos Irmãos do Centro Educativo La Salle do Plano Piloto, fez uma viagem turística ao Pantanal.
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De volta a Brasília, pouco depois, Irmão Irineu apareceu com febre alta, mal-estar geral, dor por todo o corpo, tontura. O médico diagnosticou Febre Amarela ou Malária. Ao saber que sofria de epilepsia o médico determinou que o paciente fosse internado para acompanhamento e medicação adequada. Recuperado, voltou à sua rotina normal, mas dizia que não mais voltaria ao Pantanal, pois a experiência o havia deixado muito mal.
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Capítulo 15
IRMÃOS LASSALISTAS EM CRISE 1. Capitulo Geral de 1966-67 e renúncia do Provincial Por sua vez, o próprio Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, do qual o Irmão era membro, passava por grandes mudanças, em obediência às orientações e ao espirito do Concilio Vaticano II, encerrado em 1965. Em 1966 aconteceu em Roma uma assembleia geral dos Irmãos, denominada Capítulo Geral 39. O Irmão Agostinho Simão, Provincial da Província Lassalista de São Paulo, no comando da mesma desde 1959, decidiu não participar. Já estava em crise pessoal desde o final do Concilio e não escondia sua situação incômoda. Alguns Irmãos articulavam a eleição de um Irmão Vice-Provincial para ajudá-lo.
Mas, sabedor da importância do evento em Roma o Irmão Agostinho resolveu enviar, no seu lugar, o seu secretário especial, Irmão Cristóvão (Tarcísio Della Senta). Ao chegar ao Capítulo Geral, este Irmão, obviamente, causou um transtorno, porque, pelo regulamento, ele não tinha direito de participar. A situação era constrangedora, mas o bom senso dos coordenadores do evento, com aprovação do Irmão Superior Geral, fez uma exceção e o Ir. Cristóvão foi aceito.
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De volta ao Brasil, o Irmão Cristóvão comunicou ao Ir. Provincial as reflexões e decisões do Capítulo Geral, assim como a eleição do brasileiro, Ir. Francisco Alerto - Provincial da Província Lassalista de Porto Alegre -, como Assistente Geral, portanto, membro do Conselho Geral do Instituto, em Roma, com especial encargo do Instituto na América Latina e no Caribe. Após longo diálogo com seu secretário, o Irmão Agostinho Simão decidiu apresentar a sua renúncia do cargo de Provincial. Justificou seu gesto, dizendo não aceitar os rumos que o Instituto estava tomando no Capitulo Geral, mas, para não prejudicar a Província, ele continuaria exercendo seu mandato até dezembro. Este fato aconteceu durante uma reunião de Irmãos Diretores em Araruama/RJ, em julho de 1966, deixando a todos em estado de choque. Mas, logo os Irmãos se refizeram e imediatamente procuraram, juntos, uma solução ao inesperado problema. Em poucas horas estava escolhido o Irmão Emilio Athanásio (Arno Bonfleur), como Vice-Provincial, com direito à sucessão. A votação foi comunicada ao Irmão Superior Geral em Roma, que ratificou a escolha e convocou o novo Provincial para a segunda sessão Capitular, marcada para o segundo semestre de 1967. 2. A crise da Província Lassalista de São Paulo A renúncia do Irmão Agostinho, evidentemente, afetou muito a maioria dos Irmãos. Vários deles, que o admiravam e seguiam suas orientações,
Da esquerda para a direita: Irmãos Agostinho Simão (Deolindo Caetano Valiati), Francisco Alberto e Cristóvão (Tarcísio Della Senta) e Emilio Athanásio (Arno Bonfleur).
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ficaram perplexos com a sua atitude e entraram em contato com ele para saber o que fazer. O contágio aconteceu e a crise atingiu um bom grupo de Irmãos. Vários decidiram por deixar a vida de Religioso Irmão, causando grandes transtornos na organização das Comunidade e dos Colégios. O Conselho Provincial optou por desfazer-se, quase que de imediato, de algumas das obras, que eram, aliás, muito promissoras. Não havia, naquela época, condições de confiar as escolas a leigos e leigas. Irmão Irineu sentiu-se abalado com a crise que se avolumava, mas recorreu à oração, à meditação, ao diálogo e conseguiu perseverar, apesar do ambiente hostil, pois, alguns que desistiam de ser Irmãos provocavam outros a deixarem a Congregação. No meio daquela confusão, o Irmão Cristóvão Della Senta (Tarcísio) se candidatou e foi eleito Secretário Geral da Conferencia dos Religiosos do Brasil (CRB), com sede no Rio de Janeiro. Ali, ele conseguiu criar um Departamento de Educação, à frente do qual colocou seu amigo Irmão Agostinho Simão (Deolindo Caetano Valiati), para ajudá-lo a enfrentar a sua crise pessoal. Em 1969, ele resolveu retirar-se do Instituto e o mesmo fez o Irmão Cristóvão. 3. Visita do Irmão Francisco Alberto e do Irmão Charles Henry Mas, voltemos a 1967. Logo após o término do Capítulo Geral o Irmão Assistente Francisco Alberto (brasileiro), em outubro, chegou à Província Lassalista de São Paulo para a sua primeira visita oficial, iniciando por São Paulo/SP. Com toda a sua boa vontade, dedicou-se à missão de transmitir as orientações sobre o Capítulo Geral 37, destinado a promover uma profunda renovação no Instituto dos Irmãos Lassalista no mundo todo. Em suas colocações, ele dava ênfase à Nova Regra de vida dos Irmãos e a três Documentos Capitulares de fundamental importância para o futuro do Instituto: “O Irmão das Escolas Cristãs no mundo de hoje”, “Consagração e Votos” e “O Caráter laical do Irmão das Escolas Cristãs”. Quando esteve em Brasília, o Irmão Irineu lhe solicitou um momento a sós para conversar. Irmão Irineu José Bohnenberger | 75
Sentiu-se muito reconfortado pelas orientações do Irmão Conselheiro Geral. A Revista Mensagem, de dezembro de 1967, publicou um denso parágrafo, resumindo as falas do Ir. Francisco Alberto: “O Capítulo Geral afirma a sua fé na vocação divina à Vida Religiosa e a sua fé na resposta livre do homem pela consagração religiosa. Tivemos a grande alegria pela canonização do Irmão Benildo, que é um pouco a canonização da vida do Irmão, especificamente da vida do Irmão das Escolas Cristãs”. Em inicios de 1968, a Província Lassalista de São Paulo contava com 112 Irmãos. Muitos deles, porém, apesar dos esforços dos superiores para dinamizar a renovação solicitada pelo Capítulo Geral 39, já estavam em séria crise vocacional. E havia muitas dúvidas quanto ao alcance do Capítulo Geral de 1966-67 na solução da crise desencadeada, em 1966, na Província, pela renúncia do Irmão Agostinho Simão (Deolindo C. Valiati) ao Provincialato. E ele, por diversos meios, continuava a influenciar muitos Irmãos, com seu forte negativismo sobre o futuro da vida religiosa e do Instituto e por apoiar ostensivamente os que desejavam retirar-se do Instituto.
A alegria de estar a serviço dos jovens
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Capítulo 16
1968: UM ANO EMBLEMÁTICO 1. A ditadura contestada pela juventude Em 1968, alguns acontecimentos mexeram muito com alguns Irmãos da Província Lassalista de São Paulo, que estavam mais antenados com os acontecimentos nacionais e internacionais. Aos poucos, o Brasil recebia os influxos da juventude rebelde que começavam a agitar as ruas em diversos lugares do mundo, com canções de protesto contra a tradição das famílias, das Universidades, dos costumes. Nas rádios e nas discotecas crescia a presença dos Beatles e dos Rolling Stones. No Brasil alguns compositores ousavam criticar abertamente, com as letras de suas canções, o regime militar ditatorial, tendo seu momento forte no Festival Nacional da Canção, estando em destaque Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré e outros. Era um enorme contraste em relação à Jovem Guarda, com a liderança de Roberto Carlos, Vanderleia e Erasmo Carlos, com suas canções e shows românticos, longe do contexto sócio, econômico e político da realidade brasileira da época. Em agosto de 1968, explodiu a revolta estudantil em Paris, contagiando o mundo todo. Aos poucos nascia um jeito rebelde de os jovens se vestirem e se comportarem, que adquire seu clímax no Festival de Woodstock. Era a vez dos Hippies, dos Beatniks.
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2. Igreja da Libertação Na cidade de Medellín, na Colômbia, a Igreja Católica, com sua 2ª Conferência Episcopal Latino-americana24, para aplicar no Continente as orientações e documentos do Concílio Vaticano II (1962-1965), tomava posição favorável à nascente Teologia da Libertação, à organização dos fiéis em Comunidades Eclesiais de Base, à Educação Libertadora, e assumia com clareza a opção preferencial pelos pobres e oprimidos. Os regimes ditatoriais interpretaram as medidas da Igreja católica como um incentivo às reações populares e passaram a perseguir lideranças católicas entre os bispos, os padres, os religiosos e os leigos.
Em novembro de 1968, com a presença da Rainha da Inglaterra e sob grande curiosidade, múltiplos questionamentos e dúvidas da população de Niterói e do Rio de Janeiro e de todo o Brasil, era iniciada a construção da Ponte Rio-Niterói, sob liderança do arquiteto Mário Andreazza, ex-aluno lassalista do Colégio Nossa Senhora do Carmo, em Caxias do Sul. A imensa obra estava projetada para um comprimento de 13.290 metros, e altura de 72 metros 3. Ato institucional nº 5 Mas, o Governo militar apertava cada vez mais o cerco contra os opositores. Em dezembro de 1968 foi decretado, pelo General Arthur da CELAM: Documento de Medellín: A Igreja na atual transformação da América Latina, Sede do CELAM, Bogotá, Colômbia, 1968. 24
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A Ponte Rio Niterói, em construção de 1968 a 1974
Costa e Silva, o Ato Institucional nº 5, dando início ao período mais duro da ditadura, dando ao regime poderes excepcionais, para reprimir opositores, fechar o Congresso Nacional, cassar mandatos eletivos, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão, intervir nos Estados e Municípios, realizar confisco de bens, suspender o direito ao “habeas corpus” para crimes políticos. Diante de tanta opressão, alguns Irmãos Lassalistas, bem como bispos e religiosos, se perguntavam sobre o futuro imediato que as medidas da Ditadura Militar anunciavam.
4. Um sinal de esperança No ano seguinte, 1969, o Irmão Superior Geral Charles Henry, americano, 23º sucessor de São João Batista de La Salle, eleito no Capítulo Geral de Renovação, em 1966, visitou a Província, nos dias 22 a 29 de janeiro, acompanhado do Irmão Francisco Alberto. O encontro principal aconteceu Irmão Irineu José Bohnenberger | 79
no Instituto Abel em Niterói-RJ, no dia 25, com a maioria dos Irmãos da Província, motivando-os à renovação pessoal, comunitária e missionária, segundo o Concilio Vaticano II e o Capitulo Geral de 66-67. Depois de visitar a cidade do Rio de Janeiro e Brasília, a nova capital do Brasil, o Irmão Superior Geral voltou a São Paulo e regressou a Roma. 5. Uma crise especial no Colégio La Salle
O Irmão Provincial Arno Bonfleur, o Irmão Superior Charles Henry e o Irmão Assistente Francisco Alberto
Em 1970, Ir. Irineu viveu uma outra crise. O Diretor do Colégio, Irmão Gabino (Hyldeu Bressane), decidiu introduzir o estilo da famosa Escola de Summerhill25, do escocês Alexander Niell Sutherland, na qual os próprios alunos assumiam a gestão escolar, em assembleia diária junto com os professores. Sem a devida preparação dos professores, das famílias e dos próprios alunos, o Colégio entrou num caos insuportável. Foi necessária uma intervenção da Província para que o processo educativo pudesse voltar à sua normalidade. Foi quando o Irmão Irineu teve de assumir, no segundo semestre de 197o, a direção do Colégio, tarefa inicialmente muito complexa e difícil. Mas ele, com a ajuda da equipe de apoio, conseguiu fazer o Colégio retomar sua exitosa caminhada. Antes de ausentar-se do Colégio, o Irmão Gabino deixou por escrito SUTHERLAND NIELL, Alexander: Liberdade sem medo, a experiência da Escola de Summerhill foi publicado, em 1960, na Inglaterra e editado em português pela editora IBRASA, tendo muita repercussão no Brasil. 25
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uma declaração sobre o ótimo trabalho realizado por Irmão Irineu no Centro Educacional La Salle do Plano Piloto de Brasília. De 1962 a 1970, havia lecionado, com êxito, as disciplinas de Matemática e de História, no primeiro e no segundo grau, e, também, Legislação do Ensino e Administração Escolar no Curso de Formação de Professores do Centro de Formação e Treinamento Pedagógicos de Ensino Técnico Comercial. Em 1971 Irmão Gabino foi transferido para o Instituto Agrícola La Salle, depois de participar do CETESP, um curso de renovação teológica e espiritual no Rio de Janeiro-RJ.
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Recordação
Os jovens Irmão Irineu (à esquerda) e Irmão Lauro (à direita), com seus pais Lucilla e Affonso
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Capítulo 17
EM RONDONÓPOLIS-MT 1. Curso no Chile Em fevereiro de 1971 o Irmão Irineu, com 33 anos, viajou para o Chile, com alguns outros Irmãos brasileiros, dos quais os Irmãos Ludovico Celant, Benno Backes, Simon Dupont, Alberto Giuseppe Sgarbi, para uma sessão de um mês de um Curso-Encontro formativo. A promoção, era do CEL (Centro de Estudos Lassalistas) órgão da Região Latino-americana Lassalista (RELAL), com sede em Bogotá, Colômbia. Ao todo 34 Irmãos das diversas Províncias da América Latina e do Caribe participaram do mesmo. Entre os assessores estavam o Irmão Michel Sauvage, um lassalista francês, brilhante teólogo e escritor, o Irmão Victor Bertrand, o Padre Jesús Vela, SJ, o Padre Egydio Viganó, SDB, o Padre Luiz Ignácio Ramalho, SJ. Uma parte do CEL esteve sob a liderança do famoso jesuíta, o Padre Jesús Vela, da Colômbia, que trabalhou o tema “Relações humanas e Dinâmica de Grupo”. O Ir. Irineu guardou em sua pasta de documentos o “Diploma de Honor” deste curso, datado do dia 20 de fevereiro de 1970.
Diploma de Honra, recebido no Chile, em 1970, e assinado pelo Padre Jesús Andrés Vela, SJ
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No final do CEL houve a avaliação geral do mesmo. E o Irmão Irineu conservou entre seus documentos o rascunho da sua avaliação, na qual ele destaca o grande aproveitamento espiritual, fraterno e missionário que obteve Entre os receios da etapa seguinte, ele colocou duas dificuldades: primeiro, a falta de acompanhamento dos Irmãos por parte dos superiores, para “re-motivar” quanto às disposições iniciais e, segundo, a falta de ulteriores contatos com os participantes do CEL Nesta avaliação ele confessa sua confiança na Província Lassalista de São Paulo, em luta para superar a crise, na qual estavam vários Irmãos. E ele afirma também, que recebeu boa ajudou na sua renovação pessoal, do ambiente otimista dos Irmãos em relação ao futuro da Província, sobretudo, quanto à renovação pedagógica e à vivência comunitária
2. Em Mato Grosso Ao voltar do curso no Chile, Irmão Irineu visitou os familiares e depois foi para a cidade de Rondonópolis-MT26. Ali, ele não tardou em se adaptar ao A atual região de Rondonópolis-MT, era ocupada pelos índios Bororo. De 1875 a 1890 o império brasileiro colocou ali um destacamento militar, mais precisamente em Ponte de Pedra. Com esta segurança, comitivas de aventureiros em busca de ouro e de pedras preciosas ali se instalaram. Entre 1907 e 1909 chegaram as expedições da Comissão Construtora das Linhas Telegráficas, comandadas pelo tenente Cândido Rondon, para interligar os estados do Mato Grosso e do Amazonas ao resto do país. Em 1922, foi inaugurado o posto telegráfico, às margens do rio Poguba. O povoado cresceu e, em 1920, Rondonópolis transformou-se em distrito de Santo Antônio do Leverger e em comarca de Cuiabá. Logo em seguida, por causa de epidemias e desavenças entre os moradores, a população diminuiu drasticamente. Mas, com a descoberta de diamantes em Poxoréo, por João Arenas, em 1924, muita gente foi chegando. A partir de 1947, Rondonópolis retoma o processo de crescimento, como fronteira agrícola mato-grossense, resultado da política do sistema de colônias implantado pelo Governo do Estado. A emancipação política aconteceu em 10 de dezembro de 1953.. 26
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clima, às condições da cidade e ao Colégio La Salle, que havia sido iniciado em 1959. Já. funcionava em contrato com o Estado, iniciado em 1967, com o nome de Escola Estadual La Salle. Já em março de 1970, o bispo da Prelazia de Rondonópolis, Dom Vunibaldo Talleur e, pelo prazo de um ano, conferiu tanto ao Irmão Irineu como o Ir. Estanislau Perazoli, o ministério extraordinário da distribuição eucarística, nas Missas, com direito a levar a sagrada comunhão a enfermos nas suas respectivas casas .
Escola Estadual La Salle, Rondonópolis-MT
Em 11 de agosto do mesmo ano de 1970, o Ir. Irineu assumiu a Direção do Escola La Salle de Rondonópolis, como 4º Diretor, em substituição do Irmão Emílio Athanásio (Arno Boufleur), que, após seis meses na direção, assumiu o cargo de Provincial. Dinâmico, criativo e de espírito prático, Ir. Irineu introduziu importantes modificações na Escola: reorganizou a Secretaria, a Administração, a Pastoral. Em 1971, de 11 a 16 de janeiro, ele fez, em CuiabáMT, o Curso de Administração de Escola de Nível Médio. Pouco depois, no dia 2 de fevereiro de 1971, o bispo sucessor de Dom Vunibaldo Talleur, Dom Osório W. Stoffel, renovou o mandato de Ministro Extraordinário da Eucaristia de Irmão Irineu, desta vez, diz o texto, “até que aconteça revogação expressa” da autoridade eclesiástica. No dia 7 de setembro, dia da Pátria, Irmão Irineu participou da “Corrida do Fogo Simbólico da Pátria”, em comemoração ao sesquicentenário da Independência do Brasil, recebendo por causa disso um Diploma da Irmão Irineu José Bohnenberger | 85
Dom Vunibaldo Talleur, Dom Osório E. Stoffel e Irmão Arno Bonfleur
Prefeitura Municipal. Em 1972, com a ajuda de Irmão Irineu, o Irmão Olavo Reinaldo Schneider criou o JULCEA (Juventude Líderes Cristãos em Ação). E, de 25 a 27 de setembro de 1972, em Rondonópolis-MT, Irmão Irineu fez o Curso Intensivo de Atualização Pedagógica, promovido pela Delegacia Regional de Ensino, junto com a Associação de Professores. Além disso, ele se envolveu, com dedicação, competência e entusiasmo, no movimento a favor da criação da Faculdade de Rondonópolis. Reconhecido por sua capacidade e ampla cultura, era muito convidado para dar palestras. Depois de vários meses de esforços, Irmão Irineu recebeu a boa notícia da autorização para introduzir o Ginásio Noturno, o Supletivo e a Alfabetização de Adultos na Escola La Salle. Foram muitas as iniciativas exitosas que ele tomou em seu curto mandato de três anos como Diretor da Escola Estadual La Salle de Rondonópolis-MT, que o homenageou dando seu nome a uma sala de aula.
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Capítulo 18
EM APARECIDA-SP 1. Na capital mariana do Brasil Mas, em 3 fevereiro de 1973, tendo a Província Lassalista de São Paulo diminuído para 65 Irmãos, uma nova transferência, assinada pelo Irmão Provincial Domingos Celeste Viecelli, colocava o Ir. Irineu em AparecidaSP27, como Diretor do Ginásio La Salle28. A autorização oficial, de nº 36173, foi assinada por Sylvio da Costa Monteiro, da Delegacia Regional de Educação do Vale do Paraíba, situada em São José dos Campos-SP. Em abril, Irmão Irineu solicitou autorização para lecionar Educação Moral e Cívica, disciplina obrigatória criada pelo governo militar. Ele queria aproveitar esta possibilidade para realizar a educação cidadã segundo os valores do evangelho. Examinados os documentos apresentados, a autorização lhe foi concedida em um documento assinado pelo Delegado de Ensino, o senhor Silvio da Costa Monteiro, mas a título precário, isto é, enquanto o estabelecimento educacional não dispusesse de pessoal habilitado. A cidade de Aparecida surgiu, quando Dom Pedro de Almeida, Conde de Assumar e Governante da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, passava pela então Vila de Guaratinguetá, em direção a Vila Rica em outubro de 1717. Ao saber da novidade, a população decidiu homenagear, com uma festa, tão importante autoridade. Para isso, três bons pescadores, Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso, foram solicitados a providenciarem abundante quantidade de peixe pois, muita gente almoçaria. Infelizmente não era temporada de pesca. Mesmo assim, rezaram a Nossa Senhora, e lançaram seus barcos no rio Paraíba do Sul. Após várias tentativas infrutíferas, desceram pelo rio até Porto Itaguaçu, já prestes a desistirem da pescaria, até que João Alves jogou sua rede novamente e em vez de peixes, apanhou o corpo de uma imagem de Nossa Senhora, sem a cabeça. Ao lançar a rede novamente, apanhou a cabeça da imagem, que foi envolvida em um lenço. Em seguida a pescaria rendeu mais do que o suficiente para a festa. Em agradecimento, consertaram a imagem de Maria e fizeram uma capela. A devoção cresceu e resultou na cidade, em templos maiores, na Basílica Velha e na atual Basílica, com capacidade para 40 mil pessoas. 28 O Ginásio La Salle de Aparecida foi inaugurado no dia 19/01/1958, funcionou até 1966 no prédio ao lado da Santa Casa de Aparecida. Os Irmãos adquiriram, depois, um terreno de 19 mil m2, na Avenida Getúlio Vargas, ao lado da Nova Basílica, e ali construíram um moderno prédio escolar. Após várias crises e diante da impossibilidade de levar à frente a obra educacional, os Irmãos Lassalistas fecharam o Colégio e venderam a propriedade. No local funcionam dois hotéis. 27
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Ginásio La Salle, quando estava ao lado da Santa Casa, no centro de Aparecida, SP. E quando funcionava em novo prédio ao lado da Basílica nova.
Constam, num Curriculum Vitae de Ir. Irineu com data de 28 de dezembro de 1973, alguns dados importantes, tais como, sua Certidão Militar de Reservista (1959), seu título de eleitor (1971), sua Carteira Profissional, de número, 21.260 do Estado de Mato Grosso, seus títulos acadêmicos, seus registros profissionais e os Diplomas e Certificados que ele possuía naquela data. Ele tinha autorização para lecionar Filosofia, História e Matemática. No seu zelo de sempre estudar e atualizar-se constam, por exemplo, entre seus documentos, um Curso de Administração, um Curso de Aplicação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, um Curso de Atualização Pedagógica, um Curso de Psicopedagogia familiar, um Curso sobre Legislação do Ensino e de Administração Escolar para ser Diretor de Colégio.
Aparecida: a Basílica antiga e a Basílica nova
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No primeiro semestre de 1973, o Irmão Irineu recebeu da Prefeitura Municipal de Aparecida-SP, uma importante Declaração que, também, lhe causou tranquilidade. O documento, assinado pelo Prefeito Municipal, no dia 31 de maio, Dr. Vicente de Paulo Penido, assim dizia: Declaro, para os devidos fins, que o Colégio La Salle de Aparecida, vem funcionando regularmente nesta cidade, desde alguns anos, sem remunerar os membros de sua Diretoria, conforme determinam seus Estatutos, aplicando integralmente sua renda no país para os fins previstos nos mesmos estatutos, sendo sua atual Diretoria: Irineu José Bohnenberger (Diretor), José Afonso Machry (Secretário) e Celito Fochi (Tesoureiro).
Ginásio La Salle de Aparecida, 1963, Formatura. À esquerda Irmão Vitor (Gentil Vian) e à direita Irmão Hilário Giuseppe Sgarbi
No final do ano, 26 de dezembro, a Assembleia da Associação Brasileira de Educadores Lassalistas (ABEL), reunida em Taboão da Serra, SP, elegeu os 20 membros do Conselho Deliberativo da mesma Associação, entre os quais, o Irmão Irineu José Bohnenberger.
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2. O La Salle de Aparecida entra em crise Mas o Colégio La Salle de Aparecida, famoso nacionalmente por sua Banda Marcial, campeã, por diversas vezes nos concursos paulistanos e nacionais e campeoníssima em 1969, no fim do segundo semestre de 1973, estava passando por sérias dificuldades. Um baque muito grande para a prestigiada instituição educativa foi a decisão de vários Religiosos Irmãos da Comunidade de Aparecida se retirarem da Congregação, inclusive o fundador do Colégio e da sua Banda Marcial, o Irmão Gentil Vian. A situação afetou profundamente o Irmão Diretor Irineu que passou a ter noites de insônia e agravamento de seu quadro de saúde, sobretudo, a epilepsia que o pegava de surpresa com mais frequência.
A famosa Banda Marcial La Salle de Aparecida-SP
Em fins de 1973 o Colégio La Salle de Aparecida estava com poucos alunos, 218 e a situação financeira estava insustentável. Com a diminuição dos Irmãos, devido à crise iniciada em 1966, com o Provincial Deolindo Caetano Valiati (Ir. Agostinho Simão), a Comunidade Lassalista de Aparecida-SP, em 2074, ficara reduzida a dois, os Irmãos Irineu Bohnenberger e Celito Fochi, o que causou em ambos um baque emocional, afetando especialmente o Irmão Celito. Irmão Irineu lutou como um leão, buscou alternativas e ajudou o Conselho Provincial a fazer um convênio de quatro anos com a Faculdade Braz Cubas de Mogi das Cruzes para assumir o Colégio. O ano escolar começou com 415 alunos e com novas e esperançosas perspectivas. 90 | Irmão Irineu José Bohnenberger
Irmão Irineu com alunas e alunos da Banda Marcial La Salle
A Revista Mensagem publicou um relatório do dia 17 de março, escrito pelo Irmão Irineu. Ele foi positivo quanto à nova administração do Colégio. E, no final, ele levantava alguns importantes questionamentos: “E, onde estão os Irmãos? Somos somente dois Irmãos aqui para constituir comunidade. Ora, para o Lassalista, a Comunidade tem um grande significado. O quê e como fazer? Tentaremos, refletindo, rezando e trocando ideias, encontrar uma solução para o La Salle de Aparecida”. Um sinal de esperança importante em relação ao futuro da Província e, portanto, dos Irmãos em Aparecida, no dizer de Irmão Irineu, foi o Encontro de alguns candidatos à vida religiosa e missionária de Irmão Lassalista, no dia 3 de novembro, em Curitiba-PR. Compareceram seis jovens: Silvio Kieling (Francisco Beltrão-PR), Lauro Kieling (Aparecida-SP), Valdemiro Zacarias (Aparecida-SP), Waldemiro Schneider (Toledo-PR), João Rocha (ToledoPR) e José Carlos da Costa – apelidado de Lobão (Niterói-RJ). Participaram deste encontro os Irmãos Domingos Viecelli (Provincial), Arno Boufleuer (Orientador Vocacional), Irmão Irineu Bohnenberger (Diretor do Ginásio La Salle de Aparecida, SP), Irmão Israel Nery (Niterói-RJ) e o Noviço Antônio Lino Sá. Mas, no final do ano de 1974, mais um baque afetou o ânimo de vários Irmãos: dois falecimentos na Casa Provincial. A do jovem Irmão Valdeyr Machado, que teve um enfarto enquanto assistia o noticiário da TV, e a do Irmão Irineu José Bohnenberger | 91
já idoso e dinâmico Irmão João Ody (Irmão Aloysio Ody, apelidado “Irmão John Odai”), também vítima de infarto, no dia 23 de dezembro, quase à meia-noite.
Alegre momento de premiação de aluno
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Alegre momento de passeio
Capítulo 19
EM SÃO PAULO-SP 1. Em São Paulo-SP Com a decisão do Irmão Celito, no final de 1974, de retirar-se do Instituto, o Ir. Irineu Bohnenberger foi transferido, em começos de 1975, para a Casa Provincial La Salle, à Rua Avaré, 201, no bairro Pacaembu, São Paulo, SP29. Passava a integrar a Comunidade com os Irmãos Affonso Ludwig (Secretário provincial e Secretário da Conferência dos Bispos do Brasil, regional São Paulo), Bernardo Damke (Secretário do Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de São Paulo) e o Irmão Domingos Celeste Vieceli (Provincial). Coube ao Irmão Irineu ser Diretor da Comunidade, mas concomitantemente ele daria um acompanhamento à distância ao Colégio La Salle de Aparecida e ajudaria no economato da Província. A desativação da Comunidade dos Irmãos em Aparecida deixou o Ir. Irineu muito entristecido, especialmente por não ver possibilidades de os Irmãos estarem na capital espiritual do Brasil. Doía-lhe o fato de, naqueles anos de crise interna na Província Lassalista de São Paulo, ter sido necessário desativar algumas Comunidades de Irmãos em Londrina-PR, Arapongas-PR e Cianorte-PR. Decidiu-se por um acordo com a Província de Porto Alegre que aceitou assumir o Ginásio Brasília, no Núcleo Bandeirantes-DF.
A povoação de São Paulo de Piratininga surgiu em 25 de janeiro de 1554, com a construção de um colégio jesuíta, de taipa de pilão, pelos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, no alto de uma colina entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí. Dali os padres catequisavam os índios do Planalto de Piratininga, separados do litoral pela Serra do Mar, chamada pelos nativos, de “Serra de Paranapiacaba. e lhes ofereciam vários tipos de assistência e assessoria. O nome São Paulo foi escolhido por coincidir a fundação do colégio com o dia 25 de janeiro, festa litúrgica da Conversão do Apóstolo São Paulo. 29
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Foto da década de 70 da segunda Casa Provincial La Salle da Província Lassalista de São Paulo, situada à Rua Avaré, Bairro Pacaembu, São Paulo, SP
Apesar das enormes dificuldades, a Província Lassalista de São Paulo continuava apostando nas vocações e na possibilidade de boa colaboração dos leigos. Assim, como um gesto de esperança, em 2 de fevereiro de 75 foi inaugurada a Casa para Postulado e Noviciado, em Curitiba-PR, junto ao Colégio La Salle. Um meritório esforço do Irmão Arno Bonfleur.
Mas as preocupações aumentaram a partir de julho. O Irmão Diretor, Inácio Lúcio Weschenfelder, quando viajava de ônibus para a reunião do Conselho Deliberativo da ABEL em São Paulo, sofreu um acidente no dia 17 de julho perto da meia-noite. Na altura de Ponta Grossa-PR, de madrugada, com pouca visibilidade por causa da neve, o ônibus em que viajava bateu na traseira de um caminhão. Quase todos os passageiros se feriram na testa. No momento do acidente bateram a cabeça na poltrona da frente. Aflitos e sangrando ficaram à espera de socorro, preocupados, sobretudo porque os motoristas estavam muito mal. Horas depois outro ônibus da mesma empresa, que também ia para 94 | Irmão Irineu José Bohnenberger
Curitiba, parou e prestou ajuda. Os motoristas, gravemente feridos, foram levados para um Hospital. Os passageiros seguiram viagem para Curitiba e todos foram levados a um hospital e medicados. Ir. Inácio foi à casa de um parente. De lá telefonou para Toledo para informar do acidente e teve a desagradável surpresa, quando lhe informaram do incêndio, acontecido às 21h30 do mesmo dia 17 de julho que havia destruído o Auditório do Colégio La Salle de Toledo, do qual era Diretor. Decidiu voltar para Toledo-PR. Foi para a Rodoviária, conseguindo lugar no ônibus das 11h00 da manhã do dia 18 de julho. Era preciso verificar o estado do Auditório e tomar as necessárias providências para recuperá-lo.
Colégio La Salle de Toledo- PR. O teatro (prédio branco à esquerda) que foi destruído no incêndio de julho de 1975 e refeito em 1976
O ano de 1975 se sobrecarregava de situações adversas para os Lassalistas. Outra notícia agravou a preocupação dos Irmãos em São Paulo. O Irmão Germano (Ertmann Rohden) viajava de carro com o Professor Dullius, procedentes de Machado-MG. O veículo derrapou e capotou, deixando os dois desmaiados. Pessoas que passaram pelo local os encontraram e os ajudaram. Ambos foram hospitalizados em Piraí do Sul-PR. Quando soube do desastre, o Irmão Provincial solicitou que os Irmãos Affonso Ludwig e Felippe Kappaun para lá se dirigissem. Ambos os acidentados já estavam liberados, mas como o carro estava totalmente destruído, continuaram a viagem com os Irmãos Affonso e Felipe. Mais tarde, em outubro, o Irmão Germano teve de deixar Machado-MG, para tratamento, pois, com diabete e insuficiência cardíaca, tivera um desmaio na Secretaria do Colégio e apresentava um quadro preocupante de saúde. Irmão Irineu José Bohnenberger | 95
E uma tristeza para os Irmãos foi o falecimento, no mesmo mês de julho de 75, no dia 23, em Porto Alegre-RS, do Irmão Eduardo Inácio (Wilibaldo Royer), que trabalhara por muitos anos no Ginásio São José, em Machado-MG30, e alguns anos em Toledo-PR. Este Irmão tinha o bom hábito de registrar, em seu diário, o que acontecia a cada dia. Deixou, portanto, vários tomos de preciosas anotações. Ele, que residia na Tipografia La Salle, em Canoas-RS, desde 1968, era muito querido e valorizado pelos Irmãos da Província Lassalista de São Paulo. Ir. Irineu, apesar dos abalos com tantos acontecimentos adversos, conseguiu participar, nos dias 8 e 9 de novembro de 1975, do X Simpósio de Educação, promovido pela Associação de Educação Católica de São Paulo (AEC-SP), fazendo jus ao Certificado, assinado pelo Presidente da referida Associação, o pelo Padre Lionel Corbeil, O.S.C. 2. É preciso encontrar novos caminhos Em dezembro, durante uma longa viagem a Rondonópolis-MT, o Irmão Provincial Domingos Viecelli refletiu sobre a necessidade de o Instituto Lassalista abrir um “Sinal Vermelho” diante da crise que atingia a Igreja toda, a sociedade e a vida consagrada e o Instituto Lassalista. Ele, como superior religioso, sofria com a quantidade de Irmãos que deixavam o Instituto e com a pouca perseverança dos jovens formandos. De volta da sua viagem pastoral, escreveu um artigo para a Revista Mensagem de dezembro de 75, que noticiava sua reeleição para mais três anos de provincialato. Em seu artigo detectava que, em grande parte, a crise era causada pela falta de forte estrutura interior das pessoas. O remédio só podia ser a vida de oração, a leitura espiritual, os estudos teológicos. Só assim seria possível o surgimento do “Sinal Verde” da esperança para todos. Era, ao mesmo tempo, uma reflexão em sintonia com a preparação do Capítulo Geral de 1976, para PARMAGNANI, Jacob: Irmão Eduardo Inácio – Religioso Lassalista. Gráfica e Editora La Salle, Canoas, RS, 1987. 30
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o qual os Irmãos haviam eleito os delegados da Província Lassalista de São Paulo, oravam e estavam estudando os subsídios que chegavam, motivados pelo Irmão Superior Charles Henry e pelo Irmão Assistente Francisco Alberto. Algumas notícias sobre alguns ex-Irmãos amenizavam o sofrimento proveniente da diminuição de Irmãos na Província. Havia os engajados em comunidades paroquiais, outros levavam para as escolas onde atuavam a marca lassalista. O ex-Irmão Ary Praxedes, que havia sido aluno do Instituto Abel, não somente informava que ingressara na Ordem dos Frades Menores (Franciscanos), mas convidava os Irmãos para a sua ordenação presbiteral na Capela do Instituto Abel, em Niterói-RJ, no dia sete de dezembro de 1975. Devido ao ano bem carregado de compromissos e preocupações, o Irmão Diretor da Comunidade da Casa Provincial, Irineu Bohnenberger, propôs que juntos passassem um fim de semana na Rancho La Salle, uma chácara da Comunidade de Botucatu, em Barra Bonita. A sugestão foi aceita. Uma notícia sobre este passeio da comunidade, a Revista Mensagem de dezembro de 1975, informa que todos os Irmãos voltaram muito contentes pela confraternização e descanso num local tão aprazível: “pesca, futebol, canastra e cozinha entretiveram a todos. Respiramos ar puro, longe da poluição da capital paulista... Voltamos renovados por estes momentos de confraternização, lazer e oração.
Irmão Irineu e sua irmã Maria Madalena, em visita ao Museu do Ipiranga, em São Paulo-SP
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Recordações
Niterói-RJ: A primeira professora do Instituto Abel, Rita Perlingeiro (à esquerda) e Irmão Irineu (à direita)
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Capítulo 20
ECÔNOMO PROVINCIAL 1. Momentos de lazer Um motivo de grande alegria para Irmão Irineu era receber visitas de parentes, ex-alunos e amigos. Mas, ele também gostava de sair para caçar, pescar, descansar. Algumas das fotos que guardou retratam estes momentos de descontração, como a visita que fez com sua mana Madalena por alguns lugares turísticos de São Paulo-SP, as visitas aos pais, os momentos de confraternização na família, os passeios, etc.
2. Nova função na Província Em começos de 1976 o Irmão Irineu consta, como 1º Tesoureiro, na Diretoria da Associação Brasileira de Educadores Lassalistas (ABEL). A Província contava com 52 Irmãos. O Centro Educacional de Brasília (CEL) havia sido passado para a administração da Província Lassalista de Porto Alegre, assim como o Ginásio Brasília, do Núcleo Bandeirantes. Os Irmãos da Província Lassalista de São Paulo atuavam em São CarlosSP, em Botucatu-SP, em Brasília-DF (no Plano Piloto) e no Instituto Agrícola La Salle (IALS), em Taguatinga-DF, em Rondonópolis-MT, em Machado-MG, Irmão Irineu José Bohnenberger | 99
em Curitiba-PR, em Francisco Beltrão-PR, em Pato Branco-PR, em Toledo-PR, em Niterói-RJ, e em São Paulo-SP (na casa Provincial e no Educandário Dom Duarte). Já não havia mais comunidade de Irmãos em Aparecida/SP, em Arapongas-PR, Cianorte-PR e Londrina-PR. Naquele começo de 1976, chegava ao Brasil a notícia do êxito do filme “O Senhor de La Salle”, produzido pelo americano, Irmão Leo Burckard, autor do livro “Um garoto de Paris” (traduzido pelo Irmão Nery e publicado pela Editora Vozes, em 1964, com o título “O Senhor De La Salle”). Anunciava-se a possibilidade de se fazer cópias em 16mm para exibição nos Colégios. O Irmão Irineu, Ecônomo Provincial, propôs encomendar pelo menos uma cópia da versão em espanhol e sugeriu a possibilidade de uma versão em português, falada ou legendada. O Conselho Provincial aprovou a aquisição de um exemplar e motivou os trâmites para a versão em português.
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No dia 31 de março o Irmão Provincial Domingos Viecelli viajou para Roma como membro do Capítulo Geral, marcado para abril (dia 16) a julho de 1976, precedido de um encontro dos delegados da América e do Caribe. Em sua ausência, como ficou acertado no final de 1975, o Irmão Arno Bonfleur responderia pela Província e pela ABEL. Antes de viajar, o Ir. Provincial deixou recomendações sobre o Ano Vocacional da Província e para o Dia de Orações pelas Vocações Lassalistas, motivado por uma carta do Ir. Superior Geral, Charles Henry. Deixou, também, o convite para participação na celebração do início do Noviciado São Benildo, em Curitiba, marcado para o dia 21 de julho. 3. Época conturbada Na reunião da Diretoria da ABEL e Conselho Provincial abordou alguns assuntos administrativos delicados. Foram tratados sob a coordenação do Irmão Ecônomo, Irineu Bohnenberger: a) revisão da contribuição das casas à Sede da Província e da ABEL, pois o que se recebia já era insuficiente; b) aluguel, por falta de Irmãos, do Colégio La Salle de Cianorte-PR; c) fechamento e destino dos móveis da Escola Profissional La Salle de Machado-MG; d) Normas para Rifas nas obras educativas da Província (ABEL); e) alienação de imóveis da ABEL em Botucatu-SP; f) Estudo do pedido de cursos universitários no Colégio Diocesano La Salle de São Carlos-SP. De Roma, em maio de 1976, o Irmão Provincial Domingos Viecelli, enviou um relatório sobre o Capitulo Geral. Informou da eleição do Ir. Superior Geral John Johnston e de seus Conselheiros, entre os quais, o Irmão Irineu José Bohnenberger | 101
Irmão John Johnston, Superior Geral, eleito em 1976 e Irmão Pedro Ruedell, brasileiro, eleito Conselheiro Geral
Provincial Lassalista de Porto Alegre, Irmão Pedro Ruedell, sendo que o Irmão Francisco Alberto, terminado seu mandato em Roma, voltaria para o Brasil. Em substituição ao Ir. Pedro Ruedell, a Província Lassalista de Porto Alegre escolheu o Irmão José Fridolino Schmidt (Arnaldo Isidoro). Na reunião do Conselho Provincial dias 24 a 26 de julho, em Araruama-RJ foram tratados dois novos temas, sob liderança do Ir. Irineu: a) comunicação sobre o término da construção do Salão de Festas do Colégio La Salle de São Carlos-SP; b) pedido de autorização para a venda de lotes da ABEL em Toledo-PR, para se poder finalizar a reconstrução do Auditório La Salle, destruído pelo incêndio de julho de 1975. E esta venda foi autorizada pelo Conselho. No dia 21 de julho, com presença do Irmão Pedro Ruedell, Conselheiro Geral e do Irmão Domingos Vieceli, Provincial, de vários Irmãos e, também, de religiosos e religiosos de Curitiba, foi, como havia sido divulgado, inaugurado, em uma Celebração Eucarística, presidida pelo Arcebispo, Dom Pedro Fedalto, na Igreja Matriz Sagrado Coração, em Pinheirinho, CuritibaPR, o Noviciado São Benildo, com 7 Postulantes. Mas, politicamente, o Regime militar, instalado no Brasil em 1964, endurecera-se em relação a membros da Igreja, com perseguição ostensiva a bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, e líderes leigos. E, isso, apesar de alguns sinais de abertura política por parte do Presidente, General Ernesto Geisel. Mesmo com a proibição de manifestações públicas o povo já não
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mais aguentava tanta arbitrariedade e exigia o fim das prisões, torturas, assassinatos, fim da Ditadura. No dia 22 de setembro de 1976, Dom Adriano Hypólito, bispo de Nova Iguaçu-RS, que havia denunciado duramente, em 1975, o desrespeito aos Direitos Humanos pelo governo brasileiro, foi sequestrado, junto com seu sobrinho, às 19hs. Atendendo ao pedido do Bispo os sequestradores liberaram o sobrinho. Encapuzado Dom Adriano foi levado e, depois de várias voltas de carro, ouvindo impropérios, foi despido, pintado de vermelho, amarrado num poste e torturado. As expressões mais repetidas pelos sequestradores, como depois informou o bispo, foram: “Cale a boca, comunista!”; “Subversivo!”; “Quem trabalha com comunistas é também comunista!”; “O próximo vai ser Dom Waldir Calheiros”31.
Seus perseguidores levaram seu fusca e o explodiram diante da sede da Conferência dos Bispos do Brasil, no Largo da Glória, no Catete. Dom Adriano foi liberado por pessoas que por ali passavam, socorrido e levado à Delegacia para registrar queixa e liberado. Em outubro, foi preso e torturado o Padre Florentino Maboni, em São Geraldo, Prelazia do Araguaia, considerado 31
Consultar sobre o tema: http://www.itf.org.br/regime-militar-memoias-de-um-bispo-profetico.html Irmão Irineu José Bohnenberger | 103
subversivo. A crueldade aconteceu exatamente quando ele foi à Delegacia fazer denúncia em relação a injustiças a posseiros na região, como informava uma Carta do bispo local, Dom Estêvão Cardoso de Avelar, OP.
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Capítulo 21
UMA TRISTE SURPRESA 1. E as tarefas transcorriam normais A 71ª reunião do Conselho Provincial e também Diretoria da ABEL teve lugar em Toledo-PR, para poder coincidir com a solene reinauguração do Auditório La Salle, reconstruído após o incêndio de julho de 1975. Não puderam comparecer a esta reunião os Irmãos Bortolo Perazzoli (Irmão Amadeu Maria, residente em São Carlos) e o Irmão Israel Nery (residente em Niterói-RJ). A solenidade da reinauguração do Auditório La Salle foi emocionante e rica de expressões artísticas. Um destaque especial teve o Coro Infantil, com canções preparadas para a ocasião, acompanhadas pelos acordes da Banda Lira Antiga, e a Orquestra Típica do Instituto Abel de Niterói-RJ, que enfrentou longa e complicada viagem de ônibus, dirigido pelo Gaúcho, o senhor Narciso Hipler, passando por Londrina-PR. Depois da Festa a Orquestra Típica visitou Foz do Iguaçu-PR, e apresentou-se em Pato BrancoPR e em Curitiba-PR. A Pauta do Conselho era longa, também no tocante às responsabilidades diretas do Irmão Irineu, Ecônomo Provincial e Tesoureiro da ABEL, que fez um relato das necessidades da instituição.
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Na referida reunião, foram tratados e aprovados alguns assuntos: a) alienação da Fazenda La Salle, em Nobres-MT; b) alienação de alguns lotes da ABEL, em Francisco Beltrão-PR; c) alienação de uma chácara em Rondonópolis-MT; d) contato para uma possível locação do prédio do Ginásio São José de Machado-MG, por dificuldades muito grandes de os Irmãos continuarem à frente daquela obra; e) continuação dos estudos quanto ao possível Ensino Superior La Salle em São Carlos-SP, iniciando com o aluguel de salas para a Sociedade de Ensino Superior de São Carlos (SIMESC); f) pedido de ampliação da Residência La Salle em Curitiba-PR; g) alienação de mais três lotes da ABEL em Toledo-PR; h) autorização para compra de terreno para estacionamento na Praça de Esporte La Salle, em Niterói-RJ; i) Contratação do Dr. Élio Monetat Solón de Pontes como Assessor Jurídico da ABEL.
2. A surpresa da morte Daqui em diante, a informação é um denso resumo de duas narrativas sobre os acontecimentos na Casa Provincial La Salle de São Paulo, depois da Reunião do Conselho-Diretoria em Toledo, PR, em fins de outubro. Os dois textos são, respectivamente, da autoria do Irmão Affonso Ludwig, Secretário Provincial, e do Irmão Bernardo Damke, que residia na Casa Provincial, à Rua Avaré, 201, no Bairro Pacaembu, da cidade de São Paulo, SP e trabalhava no Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de São Paulo. Terminada a reunião do Conselho, todos os seus membros viajaram 106 | Irmão Irineu José Bohnenberger
para as suas respectivas comunidades. Como pede a prudência, os Irmãos não viajaram no mesmo ônibus. E o Irmão Irineu era esperado em São Paulo a partir do dia 4 de novembro, pois avisara que passaria primeiro por Cascavel, para alguns contatos lá. Os Irmãos da Comunidade da Casa Provincial, no dia 6 de novembro, estavam celebrando o aniversário do Irmão Bernardo Damke, mas haviam combinado de realizar o momento festivo na hora do jantar, porque o Ir Affonso Ludwig, Secretario da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), Regional São Paulo, tinha compromissos e, portanto, não poderia estar em casa para o almoço. O Irmão Irineu não havia comparecido à Oração da Manhã, às 6h30, e os Irmãos, entenderam que tivesse chegado de madrugada e precisava descansar da longa noite de viagem. Após o café da manhã, cada um foi para seus afazeres. Ao meio dia, já na mesa para o almoço, o Irmão Provincial Domingos Celeste Vieceli solicitou à senhora Geralda, uma das funcionárias da casa, para verificar se o Irmão Irineu desceria para almoçar. Ela foi e voltou informando que o quarto estava trancado, que havia chamado, mas sem resposta. O Irmão Provincial resolveu subir, pois o quarto tinha comunicação pela sala da Secretaria. Entrou rapidamente e decidiu descer e solicitar que o Irmão Bernardo o acompanhasse. O Irmão, ao se deslocar, perguntou: “Ele teve mais um ataque de epilepsia?” O Irmão Domingos não respondeu e apenas repetia: “Meu Deus! Meu Deus! Isso não pode ser verdade!”. Entraram no quarto pela Secretaria. Acenderam a luz e viram, com espanto, que o Irmão Irineu estava de bruços na cama, junto à parede. Uma parte do corpo coberto por uma colcha branca e o braço direito, à mostra,
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mas com a mão por baixo do peito. O Ir. Bernardo tocou no braço e constatou que não havia sinal de vida e exclamou: “Meu Deus! Ele está morto!” Com delicadeza os dois Irmãos viraram o corpo e viram que o Irmão estava com rosto tranquilo e sereno e os olhos fechados, parecendo dormir. De um lado da boca havia corrido um filete de sangue aguado. Irmão Domingos, mal controlando sua emoção, pediu ao Irmão Bernardo para colocar novamente o corpo na posição encontrada e imediatamente telefonar para o médico. Mas o Doutor Francisco Delano Nunes Galvão, ex-aluno lassalista do Instituto Abel, estava viajando... 3. Providência imediatas Os dois Irmãos desceram ao refeitório. Informaram à cozinheira, e à outra funcionária, a triste notícia e procuraram o telefone de um médico amigo. Este atendeu com atenção e, expressando seus pêsames, deu algumas orientações, dizendo que, neste caso específico, não adiantaria muito a sua presença, mas sim a da Polícia. O Irmão Bernardo telefonou imediatamente para a Rádio Patrulha e, em poucos minutos, dois policiais chegaram. Primeiramente anotaram o documento de identidade de todos os presentes e, em seguida, foram até o quarto do Ir. Irineu. Após uma rápida revisão, um deles ficou na porta do quarto e o outro foi à Delegacia do Distrito Policial mais próximo para comunicar a ocorrência e providenciar um profissional da Medicina Legal, que chegou e se pôs a realizar os exames como de praxe. Durante este procedimento chegou o Delegado distrital, acompanhado por dois Investigadores, que fizeram várias perguntas sobre o falecido, tanto aos Irmãos como à funcionária da casa. O médico, terminado os exames, comunicou a causa mortis: “Edema pulmonar agudo e insuficiência cardíaca”. E o Delegado informou que uma ambulância estava a caminho, pois era necessário levar o corpo ao Instituto Médico Legal (IML). Todos desceram menos um guarda, que ficou junto à porta do quarto. 108 | Irmão Irineu José Bohnenberger
Foi quando chegou uma Variant, o carro da Comunidade. Já eram 15h00. O Ir. Provincial e o Ir. Bernardo, ao ouvirem o ruído do auto, saíram fazendo sinal ao Irmão Affonso para não entrar na garagem. Após estacionar junto à calçada, Ir. Affonso viu o Irmão Domingos Vieceli, já com lágrimas nos olhos, dizer ao Ir. Bernardo para comunicar o ocorrido. Irmão Affonso pensou em algum acidente, pois os Irmãos estavam esperando pelo Irmão Irineu, desde o dia 4 de novembro. O Irmão Bernardo, controlando a emoção, disse: “O Irmão Irineu morreu esta madrugada. Perto do meio dia o encontramos sem vida, em sua própria cama! Estamos de saída para o Instituto Médico Legal. A Ambulância está para chegar!”. Irmão Afonso, tentou consolar o Irmão Provincial, e disse que era preciso imediatamente ligar para a Casa Provincial da Província Lassalista de Porto Alegre-RS, e também para algum membro da família do Irmão Irineu... Irmão Affonso subiu à Secretaria e fez as ligações. Voltou dizendo que os parentes desejavam que o Irmão Irineu fosse sepultado na Vila Joaneta, em Picada Café, no Rio Grande do Sul. 4. Trâmites para o traslado para o Sul Por volta das 15h30 o corpo foi trasladado ao Instituto Médico Legal para os trâmites legais. Os Irmãos Domingos e Bernardo acompanharam, e o Ir. Affonso ficou em casa para atender os telefonemas que poderiam chegar e preparar alguns documentos para o traslado do corpo para Porto Alegre. Passado um tempo, o Ir. Bernardo ligou dizendo que tudo já estava pronto no IML, mas que somente um parente poderia retirar o corpo do falecido. Irmão Affonso ligou então para a Casa Provincial. Recebeu a informação de que o jovem Irmão Lauro Bohnenberger, mano de Irmão Irineu, que já estava a par do acontecido, viajaria naquela mesma noite para São Paulo. Irmão Irineu José Bohnenberger | 109
Às 21h00, o Irmão Affonso foi buscar o Irmão Lauro no Aeroporto e rumaram diretos para o IML para providenciar a liberação do corpo. Mas, quando se comunicou que haveria translado para Porto Alegre, os funcionários informaram que, neste caso, se devia fazer o embalsamento e sugeriram que enquanto era realizado este procedimento, se garantisse o transporte aéreo. O corpo de Irmão Irineu foi levado pela ambulância ao Hospital da Beneficência Portuguesa para o embalsamamento, que aconteceu no decorrer da madrugada. Os Irmãos Domingos Viecelli e Lauro Bohnenberger ali permaneceram, aguardando o término daqueles procedimentos. Às 7h00 de domingo, dia 7 de novembro, o féretro foi embarcado num voo para Porto Alegre. No mesmo voo seguiram os Irmãos Domingos Viecelli e Lauro Bohnenberger. O Ir. Affonso havia providenciado maleta com algumas peças de roupa e outros objetos de asseio pessoal para o Irmão Provincial. De Porto Alegre, seguiriam direto para Picada Café, próximo a São Leopoldo, RS, conforme orientação dada pelo Irmão Eleutério Maria. Na Certidão de Óbito, fornecido pelo Cartório de Registro Civil da Avenida General Ataliba Leonel, 1606, do 47º Subdistrito, na Vila Guilherme, em São Paulo, SP, e assinado por Nilson José da Silva, no dia 7 de novembro de 1976, consta que a causa mortis foi por insuficiência cardíaca e que o óbito de Irineu havia sido atestado pelo doutor Chably Michel Haddad. Em seu Laudo de Exame de Corpo de Delito (Exame necroscópico), o Dr. Chably, porém, posteriormente, no dia 16 de novembro, escreveu: “Do observado, concluímos que o examinado faleceu em consequência de edema agudo do pulmão e insuficiência cardíaca aguda”.
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Capítulo 22
EM JOANETA, PICADA CAFÉ-RS 1. A chegada do féretro a Porto Alegre Em Porto Alegre-RS, os Irmãos da Casa Provincial tinham providenciado um Carro Fúnebre, que esteve a postos no Aeroporto, aguardando a chegada do corpo do Irmão Irineu José Bohnenberger. Ao mesmo tempo havia carros da Província Lassalista de Porto Alegre e de alguns parentes do falecido, o que possibilitou que os Irmãos Domingos Viecelli e o Irmão Lauro Bohnenberger, tivessem transporte garantido para acompanhar o Carro fúnebre até à Vila Joaneta, em Picada Café-RS. O Irmão Domingos Viecelli assim escreveu na Revista Mensagem, órgão interno da Província Lassalista de São Paulo: “Às 10h00 da manhã do dia 7 de novembro, aterrissamos no Aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre-RS. Aguardavam-nos ali Irmãos Lassalistas, Irmãs Religiosas, entre as quais a Provincial das Irmãs Franciscanas, tia do Irmão Irineu... Seguimos para Joaneta. Foi muito doloroso para todos os parentes e amigos, ver o rosto do falecido Irmão Irineu, através do vidro do féretro lacrado...” 2. Velório em Picada Café-RS O velório aconteceu no Salão Paroquial. Um grande número de moradores da cidade acorreu para prestar sua homenagem ao Irmão Irineu. Além dos parentes, ali estavam vários Irmãos Lassalistas, entre os quais o Irmão Provincial da Província Lassalista de Porto Alegre, Irmão José Fridolino Schmidt (Irmão Arnaldo Isidoro), muito querido pelos Irmãos da Província Lassalista de São Paulo por ter sido o fundador e diretor do Ginásio São José, em Machado-MG. Irmão Irineu José Bohnenberger | 111
Às 17h00, houve a Missa de Corpo Presente na Igreja matriz. Em seguida, um grande cortejo se dirigiu ao Cemitério da Comunidade Católica da Vila Joaneta. Ali, escreve o Irmão Domingos Viecelli: “a pedido do Irmão Provincial Arnaldo, fiz uso da palavra”. Mesmo muito emocionado, ele saudou os familiares e os presentes, fez um curto relato sobre a vida do Irmão Irineu e agradeceu a Deus, aos familiares e a todos os que ajudaram o Irmão Irineu a ser e viver com fidelidade como um excelente religioso Lassalista. Do texto de Irmão Domingos, vale transcrever os seguintes parágrafos: 3. Agradecimentos “Dos muitos pontos positivos deste sepultamento do querido Irmão Irineu Bohnenberger, destaco os seguintes: a atuação de vários Irmãos da Província Lassalista de Porto Alegre, sobressaindo-se o Irmão Eleutério (Martin José Weber) que se desdobrou ao máximo na colaboração com a nossa Província, assim como com os familiares do nosso falecido Irmão. Destaco a presença do Irmão Provincial Arnaldo Isidoro e de vários outros coirmãos. Creio que a família sentiu todo o calor humano e fraterno de parte dos Irmãos e creio também que o povo de Joaneta deu-se plenamente conta disso. Aqui fica registrado o mais profundo agradecimento da Província Lassalista de São Paulo à de Porto Alegre, por toda a ajuda prestada neste momento de dor, especialmente a assistência que nos deu para os trâmites em vista do traslado aéreo do féretro e o transporte terrestre até aqui”. “Agradeço ainda a todas as pessoas que nos escrevem e telefonam 112 | Irmão Irineu José Bohnenberger
dando-nos os pêsames, nos consolando e garantindo orações. Muitos Irmãos já fizeram isso, fortalecendo ainda mais a nossa fraternidade lassalista neste momento de dor. Agradeço, uma vez mais, às Religiosas Irmãs, aos nossos vizinhos na Rua Avaré em São Paulo, os Padres Willy e Leocádio, os familiares de Irmão Irineu e, particularmente o seu mano, o jovem Irmão Lauro Bohnenberger, que foi a São Paulo ontem ajudar-nos”. E o Irmão Domingos prosseguiu em seu texto: “A morte do Irmão Irineu foi um grande impacto em nós Irmãos e nas duas funcionárias da Casa Provincial em São Paulo. Para a nossa Província é uma grande perda. Só a fé e a esperança amenizam o que estamos sentindo com este doloroso acontecimento. Entre as muitas qualidades do querido Irmão Irineu destaco: seu apreço e apego à sua vocação religiosa, a sua devoção a Nossa Senhora e a sua dedicação à missão. Como ele sofria de insônia, era seu costume ocupar seu tempo rezando o terço que, aliás, foi encontrado junto dele na cama. Sem dúvida, o Irmão Irineu sofreu muito ao longo de sua vida por seu grave problema de saúde, a epilepsia, tratada de todos os modos possíveis. Ele assumiu esta questão como parte de sua vida e missão e evitava queixarse, apesar de cada vez mais estar com seu sistema nervoso prejudicado por esta doença. Como era muito sensível, ele muitas vezes, pedia desculpas por agir com menos delicadeza que de costume. E ele sempre preferia cumprir ordens e dedicar-se à sua tarefa do que discutir. Irmão Irineu era muito positivo, otimista e trabalhador, até demais”.
Sepultura do Irmão Irineu Bohnenberger, em Joaneta, Picada Café-RS
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“Nosso querido Irmão morreu jovem, com apenas 38 anos! Mas viveu com intensidade e muito amor. Certamente ele já está junto de Deus Pai. Aliás, semanas antes de seu falecimento ele nos disse que invocava seguidamente os Irmãos Lassalistas falecidos nas duas Províncias para que Deus lhe desse a graça da perseverança na vocação, para ser santo, fazendo em tudo a santa vontade de Deus. Creio que podemos fazer o mesmo agora, em relação a ele, solicitando que ele interceda por nós junto de Deus. Amém”.
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Capítulo 23
MENSAGENS Dias depois, alguns Irmãos enviaram ao Irmão Provincial Domingos Celeste Viecelli, as seguintes mensagens a respeito do Irmão Irineu Bohnenberger.
1. Irmão Bernardo Damke Convivi com o Irmão Irineu Bohnenberger. Ele era um ótimo colega de Comunidade, ótimo coirmão e companheiro, alegre, otimista, dedicado e piedoso. Depois de muitos exames e tratamentos para a sua enfermidade (a epilepsia), ele nos disse em uma reunião: “Irmãos, deixem-me ficar como estou. Eu sei que minha doença não tem cura. Vou morrer assim e gostaria, quando morrer, não incomodar ninguém.” 2. Irmão Giuseppe Pegoraro (Ir. Boaventura Domingos) Conheci este bom Irmão em nossa Comunidade em Niterói-RJ, onde deu aulas uns dois ou três anos. Era muito zeloso e fazia as crianças progredirem e serem contentes. Os alunos o admiravam e o estimavam muito, apesar de às vezes se mostrar muito nervoso, devido à doença que o incomodava e o deixava inseguro, a epilepsia. Irmão Irineu tinha profundas convicções lassalistas e gostava de orientações e determinações bem claras.
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A última vez que o encontrei depois que foi mudado de Niterói, foi em Araruama-RJ, na Casa de Abel, em julho. Passamos quatro dias bem alegres e divertidos. Não parecia que iria nos deixar tão depressa, pois três meses depois, chegava a notícia de que havia falecido repentinamente. Certamente ele terá sido bem acolhido por Deus Pai Celeste, a quem o Irmão Irineu havia servido tão generosamente.
3. Irmão Joaquim Sfredo (professor, escritor, poeta) Convivi com o Irmão Irineu Bohnenberger uns 20 dias na Casa Provincial em São Paulo/SP. Ele era o Diretor. Ali eu estava para fazer um Curso de Bíblia. Irmão Irineu pertencia à geração dos jovens Irmãos da Província Lassalista de São Paulo, fundada em 1959. Sem ter os excessos comuns da juventude nem a acomodação dos velhos, sabia equilibrar bem a sua vida de Religioso Irmão Lassalista segundo as perspectivas do Concilio Vaticano II. Sabia-se limitado em muitos aspectos. Reconhecia, por exemplo, que em seu caso especifico de saúde, o cigarro lhe fazia mal. Mas, ele confessava com tristeza, que não conseguia parar de fumar. Às vezes ele tentava justificar, dizendo que se tratava de uma necessidade psicológica. Uma coisa, porém, era evidente: ele se preocupava em acertar nos caminhos da renovação do Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs, numa época em que havia uma crise generalizada na Igreja e na Vida Religiosa. Irmão Irineu tinha uma atenção bem marcante para com a realidade social do Brasil e especialmente com os marginalizados pela Sociedade. Era solícito com todas as pessoas, sobretudo, com os Irmãos de passagem pela Casa Provincial La Salle em São Paulo. Repouse em paz, Irmão. Amém! 116 | Irmão Irineu José Bohnenberger
4. Homenagem póstuma da Escola Estadual La Salle de RondonópolisMT, registrada em uma placa.
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Recordações
1ª foto. Na 2ª fila, da E para a D: Irmã Benísia Hoffmann, o senhor Affonso Bohnenberger e a Irmã Angelina Bohnenberger. Na 1ª fila: Maria Goreti e Maria Madalena. 2º foto. O Senhor Affonso (pai de Irineu), de pé e, sentado, o senhor Frederico Bohnenberger (avô paterno de Irineu)
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ANEXOS Como o Irmão Irineu faleceu há quase 40 anos, e a sua biografia é publicada em 2015, achei conveniente colocar um anexo com alguns dados atualizados da família Bohnenberger. Agradeço a colaboração de Irmão Lauro, com textos e fotos. A seguir apresento uma síntese da biografia de Irmão LAURO, mano de Irmão Irineu, e uma GALERIA DE FOTOS para que os parentes possam se reconhecer nesta obra.
ANEXO 1 Irmão Lauro Bohnenberger, mano de Irmão Irineu Infância Affonso Bohnenberger e Lucilla tiveram mais um filho, o segundo, no dia 17 de agosto de 1939, em São Leopoldo/RS, na localidade de Vila Joaneta, hoje pertencente ao município de Picada Café/RS, e lhe deram o nome de LAURO. A família muito cristã, era simples e lutava com muitas dificuldades num lugar muito pobre. Com oito anos, o menino passou a frequentar a escola que, na época, um professor ou professora tinha de ministrar aulas simultaneamente a várias séries, porém, todos os alunos numa mesma sala de aula. Obviamente isso não apenas dificultava e muito para quem ensinava, mas também para os próprios alunos. A primeira professora marcou a vida de Lauro, foi Esther Strasburger. Mas, diferentemente dos outros alunos, ele tinha suas preferências e queria ficar em casa para trabalhar e se divertir. Mas, na verdade, era porque sentia muita dificuldade para estudar.
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Havia um Irmão Lassalista, que algumas vezes aparecia por Joaneta. Ele visitava escolas, famílias e paróquias para propor aos meninos e rapazes, como um bom caminho de futuro, ingressar na Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs, ou Lassalistas. A denominação Lassalista vinha do nome do Fundador, São João Batista de La Salle, canonizado em 1900, pelo Papa Leão XIII. O Irmão Ambrósio (Carlos Othmar Geweher) se locomovia a cavalo, que conseguia emprestado de amigos. E quando vinha a Joaneta, pernoitava na casa dos Bohnenberger. Todos gostavam de atendê-lo bem, como era tradição nas famílias católicas quando recebiam visitas de Padre, Freiras e Irmãos. Era agradável conviver com o Irmão Ambrósio, um homem muito culto e com facilidade de conversar com a garotada. E, da família, Lauro era quem mais estava interessado em conversar com o Irmão Ambrósio. Mas, por lá apareciam também algumas Freiras, porque o senhor Affonso tinha uma cunhada no convento, a Irmã Benícia Bohnenberger. A decisão de ser Irmão Lassalista Em 1950 seu mano Irineu, nascido em 1938, portanto com apenas um ano a mais do que Lauro, acompanhou o Irmão Ambrósio, pois havia decidido ser Irmão Lassalista. Foi para a cidade de Carazinho-RS. Lauro, que várias vezes havia conversado com o mano, passados uns dias, também se perguntou: “E eu? Afinal o que eu vou ser na vida?”. Pensou bem, foi sincero com os pais e, numa das visitas do Irmão Ambrósio, além da curiosidade para ter notícias do Irineu, ele conversou longamente com o Irmão e expôslhe sua intenção de ir para o Juvenato ou Aspirantado, uma casa para jovens que aspiram, desejam ser um Irmão Lassalista. Segundo as normas da Igreja naquele tempo, o Pároco, que era o Padre Miguel Royer, escreveu um Atestado de Boa Conduta para que Lauro pudesse ser juvenista. O santo homem de Deus, com sua enorme bondade, assim escreveu à mão: 120 | Irmão Irineu José Bohnenberger
Atesto que o menino Lauro Bohnenberger, candidato à Vida Religiosa, é oriundo de família profundamente católica. Não consta que ele tenha doenças corporais nem mentais hereditárias entre parentes dele. É um menino bom, de suficiente talento, mas um pouco preguiçoso nos estudos. Joaneta, 3 de março de 1952. Lauro ingressou no Juvenato Nossa Senhora de Fátima, em CarazinhoRS, em 1952. Com falta de base escolar, longe de casa e sem facilidades para o estudo, a duras penas, ele conseguiu vencer o 5º ano escolar, chamado de Admissão ao Ginásio, como exigência para o ingresso ao 1º ano do Ginasial, frequentado por Lauro em 1953. Em seguida, ele foi transferido para CanoasRS, dar continuidade ao seu tempo do Juvenato, no Instituto São José. Aos poucos, Lauro foi dando alguns passos importantes na adolescência e tendo mais clareza do que estava acontecendo com ele, seus estudos, e o caminho que estava seguindo. Houve uma boa guinada nos estudos, pois com a base conseguida, conseguia ter gosto e mais facilidade para tudo. Terminado o Curso Ginasial e seguindo as orientações recebidas, escreveu uma carta ao Irmão Provincial solicitando para fazer o Noviciado, etapa essencial, para o início da vida de Religioso ou Religiosa. Aceito, ele foi, com alguns colegas, para Flores da Cunha-RS, em começos de 1957, na bela e grande Casa do Noviciado32, e durante o ano de 1957, realizou o difícil e necessário processo interior de “desvestir-se do homem velho e vestir-se do homem novo”, isto é, tornar-se seguidor de Jesus Cristo, segundo São João Batista de La Salle, no estilo de Vida Consagrada, em Comunidade, para a missão de educar segundo os valores do Evangelho. Como símbolo deste passo fundamental Lauro teve o nome mudado para Irmão Irineu Afonso (levando em conta o mano Irmão Irineu e o pai Affonso) e passou a usar a hábito religioso própria dos Irmãos Lassalistas. Eram, na época, importantes sinais externos de pertença ao Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs.
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A casa ainda existe. A prefeitura a adquiriu e ali instalou vários serviços administrados do Município. Irmão Irineu José Bohnenberger | 121
Noviciado e Escolasticado Terminado o Noviciado, pediu e foi aceito para fazer seu primeiro compromisso ou consagração, também conhecido como primeiros votos. No mesmo dia à tarde o grupo voltou para Canoas-RS, para cursar o Ensino Médio. Naquele ano de 1958, o Instituto São José estava aceitando alunos leigos para o Ensino Médio. A turma do Irmão Lauro foi dividida em duas. A metade para o Curso Científico, com 50% de alunos externos e outra metade a Escola Normal. Quando Irmão Lauro chegou a Canoas-RS, seu mano Irineu José, já estava em Niterói-RJ, trabalhando no Instituto Abel.
Irmão Lauro com sua tia Irmã Benísia Hoffmann e sua cunhada Hilda
No ano seguinte, em fevereiro de 1959, pela primeira vez um Superior Geral visitou o Brasil, o Irmão Nicet Josef, acompanhado de seu Assistente Geral, o Irmão Fabriciano Luís. Na segunda metade daquele mês, no dia 24, em sessão solene o Irmão Superior Geral dividiu a Província Lassalista do Brasil em duas, para facilitar a administração e o avanço da obra lassalista por outros Estados do país. Nasciam assim a Província Lassalista de Porto Alegre, com sede em Canoas/RS, e a Província Lassalista de São Paulo, com sede na capital paulista. E os dois manos ficaram separados, Irineu José para a Província de São Paulo e o Lauro para a de Porto Alegre. Terminado o Curso Científico, Irmão Lauro fez vestibular e passou para a Faculdade de História Natural, na Pontifícia Universidade Católica de Porto
122 | Irmão Irineu José Bohnenberger
Alegre, a PUC, dos Irmãos Maristas. Mas, tendo sido transferido para Cerro Largo/RS, para iniciar seu tempo de jovem Irmão no Colégio Medianeira, com dor e decepção, ele teve de cancelar sua matrícula na universidade. Viveu com todas as suas energias como professor durante o ano de 1961. Com a orientação clara do Irmão Provincial de voltar a estudar, Irmão Lauro foi novamente transferido para Porto Alegre, com algumas tarefas no Colégio Santo Antônio, no bairro Parthenon. Terminado seu curso universitário, nova transferência o colocou, em começos de 1965, no Colégio Nossa Senhora das Dores, na mesma capital gaúcha, onde assumiu aulas de Biologia, no Ensino Médio. Cinco anos depois, no dia 17 de agosto de 1971, foi nomeado Diretor do mesmo Colégio, ali permanecendo por mais 10 anos até meados de 1974. Voltando, mas tarde, para mais dois mandatos de Diretor. Missão de Religioso Irmão Lassalista Depois do Colégio Nossa Senhora das Dores, Irmão Lauro exerceu a missão de Diretor em outras obras lassalistas: Colégio Medianeira em Candelária-RS, Colégio Medianeira em Cerro Largo-RS, Colégio Gonzaga em Pelotas-RS, Colégio La Salle em Manaus-AM, Colégio La Salle em Lucas do Rio Verde-MT e Colégio São João em Porto Alegre-RS. Foi vice-diretor no La Salle Abel, em Niterói-RJ, em 2013. Em 2014 retornou, como Diretor, ao Colégio La Salle São João, de Porto Alegre. Experiência notável a destacar, na vida do Ir. Lauro, foi sua presença, na Comunidade Lassalista Missionária de Beira, Moçambique, nos anos de 1998 e 1999, onde trabalhou como encarregado da construção da Residência dos Irmãos, tendo sido, ao mesmo tempo, Diretor do Colégio João XXIII, administrado pelo Irmãos Lassalistas. Em 2015, Irmão Lauro completou 44 anos no exercício da missão de Diretor de Colégio. E quando esteve no La Salle de Manaus, foi convidado e aceitou, integrar, de 1991 a 1994, o Conselho Estadual de Educação de Amazonas. Destes longos anos como educador, Irmão Lauro, relata dados interessantes relativos à sua primeira professora em Joaneta. Assim, em 1973, quando era Diretor do La Salle Dores, um aluno lhe disse:
Irmão Irineu José Bohnenberger | 123
Colégio La Salle Dores em Porto Alegre-RS e La Salle Manaus em Manaus-AM
- Irmão. Minha mãe me contou que foi tua professora. Ela tem uma foto da tua turma, quando estavas no primeiro ano primário. Irmão Lauro ficou contente com a informação, fez perguntas sobre a senhora professora Esther, solicitou que o rapaz desse um grande abraço a ela e que lhe dissesse que gostaria muito de vê-la. E a sua alegria foi grande, quando no dia seguinte, o aluno lhe colocou nas mãos, a referida foto. Maior, porém, foi seu contentamento ao encontrar-se com a sua primeira professora, agora mãe de aluno no Colégio, do qual Irmão Lauro era Diretor. Anos depois, em 2004, ao receber, na Câmara Municipal de Porto Alegre, o Prêmio de Educação Thereza Noronha, lá estava senhora Esther Strasburger, feliz com as homenagens que recebia seu ex-aluno. Sou-lhe eternamente grato.
Colégio La Salle São João, em Porto Alegre-RS 124 | Irmão Irineu José Bohnenberger
Obras de arte de Círio Simon no Colégio La Salle São João, em Porto Alegre-RS
Algumas saudades Entre as muitas recordações e lembranças, obviamente estão em primeiro lugar as de sua família: seus pais, manos e manas, tios e tias. Irmão Lauro mostra uma foto antiga de toda a família em uma fila, por ordem de nascimento, tendo à frente os pais Affonso e Lucilla. Que saudades!
A foto é de 1967, da casa dos avós paternos: Frederico Bohnenberger e Elisabetha Pooter, que faleceu em 1968. As filhas Maria e Cecília, Esta, casada com Carlos Binebier. O Avô faleceu aos 96 anos.
Mas, Irmão Lauro, continuou a folhear o Álbum e encontrou fotos dos avós. Percebi o carinho dele por seus queridos avós. Uma das fotos é de 1967. E seu comentário está como legenda da mesma: A outra foto, mostra o Irmão Lauro visitando o avô Frederico: Mas, ao virar uma página do Álbum, ele encontrou uma recordação do Jubileu de Ouro do casamento de seus pais, Affonso e Lucílla. Irmão Irineu José Bohnenberger | 125
A 1ª neta, Cristina, com os avós Affonso e Lucilla, na festa do Jubileu de Ouro de Casamento. Ao lado o fusca, no qual Affonso morreu acidentado, em 1991.
Um acidente, em 1991. Um recorte de jornal, entre as fotos, traz o comunicado do ocorrido, com um resumo da vida e missão do senhor Affonso Bohnenberger. Após um trágico acidente de trânsito ocorrido em Picada Café-RS, no dia 8 de agosto de 1991, faleceu o senhor Affonso Bohnenberger. Os atos fúnebres foram realizados na igreja católica de Joaneta, no dia 9 de agosto, com Missa de Corpo Presente e às 16h foi levado à sua última moradia no Cemitério da localidade. O senhor Affonso deixou enlutados: a sua esposa Lucilla e os filhos, Irmão Lauro, Irmã Angelina, Geraldo, Romeu, José Aloysio, Leonardo, Maria Goreti e Maria Madalena, além de sobrinhos, genros, noras e demais familiares. Muitas pessoas compareceram para a derradeira despedida pois, o senhor Affonso, além de ter sido um grande líder na Comunidade, tinha um grande rol de amigos e conhecidos na região. Pela fé que temos em Cristo, acreditamos que a sua morte não representa um “adeus”, mas sim um “até logo”, um “daqui a pouco”. A nossa dor ficou mais suave por ter sido repartida com muitos de seus amigos. A eles o nosso muito obrigado. Na minha angústia invoquei o Senhor, gritei por socorro a meu Deus e ele ouviu a minha voz. Salmo 18,6: 126 | Irmão Irineu José Bohnenberger
No mesmo recorte, há também, uma informação sobre o primeiro ano do falecimento de Nilse Bohnenberger, estudiosa, competente e dedicada enfermeira, filha de Affonso e de Lucilla. A frase bíblica do texto, é do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 11, 28: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”. Um outro recorte de Jornal noticia os 80 anos da mãe, Lucílla Bohnenberger. Com o texto de homenagem aparece a foto dela, feliz, sentada no gramado. E Irmão Lauro ainda recordou, com emoção, o falecimento de seu mano Geraldo. Depois comentou um pouco uma foto antiga da família inteira, em fila, encabeçada pelo pai Affonso e pela mãe Lucilla. Mensagem final Termino esta síntese com o seguinte depoimento de Irmão Lauro: Nunca me arrependi de ser Irmão Educador Lassalista. Sempre gostei de dar aulas, me dei muito bem com meus alunos e eles gostaram de mim e de meu trabalho. Como diretor me senti à vontade onde estive. Algumas vezes assumi a direção de colégios para tentar solucionar problemas bastante complicados. Com a graça de Deus e um bom trabalho em equipe, tive a alegria da missão cumprida, deixando os referidos colégios sanadas e em progresso. Gratificante para mim foi ouvir, mais de uma vez, de professores e de famílias, solicitação para voltar a trabalhar em colégios por onde havia passado. Olhando objetivamente meu passado, agradeço a Deus, por ter-me possibilitado deixar marcas positivas onde estive e com aquele gostinho de querer mais e melhor. E agradeço a Deus que me privilegiou com saúde, disposição e zelo apostólico para realizar todo este bem às crianças e aos jovens, às famílias, aos professores e ao Instituto, do qual faço parte. Porto Alegre, julho de 2015
Irmão Irineu José Bohnenberger | 127
Recordações
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ANEXO 2 Duas Irmãs Consagradas na família Bohnenberger
IRMÃ BENÍSIA HOFFMANN Uma Franciscana Feliz! O Senhor me chamou, procurei segui-lo e aqui estou:
Com simplicidade acolho a solicitação do autor da biografia de meu sobrinho, Irmão Irineu Bohnenberger, para relatar um pouco de minha vida de Consagrada, Irmã Franciscana da Penitência e Caridade Cristã. Nasci no dia 23 de abril de 1934, em Joaneta, que pertencia ao Município de São Leopoldo-RS e depois passou para o Município de Picada Café-RS. Fui batizada no dia 30 de abril de 1934 e crismada em 13 de maio de 1936. 1. Senti o chamado de Deus, bem cedo Já na infância Jesus Cristo me atraiu de um modo muito especial. O canto: “O meu coração é só de Jesus, pois Ele morreu por mim numa cruz”, sempre mexeu bastante comigo, no sentido de realmente ter meu coração somente para Ele. Crescendo numa família de princípios cristãos, com uma mãe piedosa e dedicada, apoiada por um pároco zeloso e um professor exemplar, decidi muito cedo ser Irmã. Como isso aconteceu comigo? Eu não sabia, mas as visitas periódicas do Irmão Ambrósio Cyrillo (Carlos Othmar Gewehr), promotor vocacional dos Irmãos Lassalistas, me ajudaram e o caminho foi se abrindo para mim e o chamado de Deus se confirmando. Fui encaminhada para as Irmão Irineu José Bohnenberger | 129
Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade e, São Leopoldo-RS. A Congregação foi fundada em 1835, na Holanda e cultiva a espiritualidade franciscana conforme o carisma de sua fundadora Madre Madalena Damen, pessoa simples e de uma inabalável confiança no Deus Bom e providente. Seu lema: Deus cuida. Ele proverá! Sua missão: Viver o Evangelho em comunidade fraterna, estando a serviço do Reino de Deus em qualquer atividade que responda a uma necessidade humana. Atualmente a Congregação se encontra em vários países nos cinco continentes. No Brasil, formamos duas províncias: uma com sede Porto AlegreRS e outra, em Santa Maria-RS. Procurando promover a vida em todos os seus aspectos, atuamos em escolas, Pensionatos, Lar de idosos, Hospital, Casa para Retiros e Encontros, em Comunidades inseridas em meios populares, bem como nas missões em Guatemala e na Tanzânia. 33 2. Meu itinerário rumo à vida consagrada: O objetivo: “Ser Irmã Consagrada para servir a Deus e aos irmãos e irmãs, em colaboração com a missão da Congregação, assumindo qualquer serviço que o Senhor, através da comunidade, me pedir. ” Aos 14 anos, com a permissão da minha mãe, fui morar, em 1948, na Comunidade das Irmãs do colégio, para o processo de preparação à vida e missão de Irmã Franciscana. Tive quatro anos de Juvenato, dos quais, um ano em Estrela-RS (no Colégio Santo Antônio), em 1948. Interrompi em 1949, para cuidar de minha querida mãe, que estava muito doente. Prossegui por mais três anos, a primeira etapa de formação, em Porto Alegre-RS (no Ginásio Santa Teresinha), nos anos 1950 a 1952.
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Irmã Benisia, tia materna de Irmão Irineu e de Irmão Lauro. No dia de sua “vestição” como Religiosa Irmã, recebeu o nome de Irmã Dóris
Tendo completado meus 18 anos, pedi e fui aceita ao Postulado que fiz de 23 de fevereiro de 1953 a 02 de fevereiro de 1954. Depois, segui para a terceira etapa, o Noviciado, com duração de dois anos (1954 e 1955). Terminada essa longa preparação, tive a alegria de ser admitida para a Consagração a Deus, no dia 03 de fevereiro de 1956, que inclui o compromisso de viver todos os valores e orientações recebidos e assimilados e os Votos Religiosos de Pobreza, Castidade e Obediência. Tornei-me, portanto, totalmente disponível para Deus, para minha Congregação e para a Igreja. 3. Como vivi e o que fiz? Nesses quase sessenta anos de Consagrada, vivi em 12 diferentes comunidades de vida, formação, oração, fraternidade e missão. Sempre colaborarei, como todas as Irmãs, nos serviços domésticos. Dediquei 17 anos ao serviço da educação humana cristã de crianças, adolescentes e jovens. Depois estive 22 anos a serviço da Direção da Província, seja como Assistente e Secretária Provincial, seja como Ministra Provincial. Passei três anos na Missão Central dos Frades Menores da Ordem Franciscana em Bonn, na Alemanha, a serviço de Projetos Sociais, encaminhados por entidades do Brasil e de outros países da América Latina, com a finalidade de obterem auxílio financeiro em função de atividades especificas de evangelização e promoção social dos mais
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Para mais informações sobre a Congregação e suas obras, consulte o site www.deuscuida.com.br da internet Irmão Irineu José Bohnenberger | 131
necessitados. Mais cinco anos a serviço interno da Congregação, como membro do Conselho Geral, com Sede em Roma e seis anos como Ministra (Superiora) de pequena comunidade. Agora, auxilio em serviços domésticos na Casa de Retiros, conforme possibilidades e limites da idade. 4. Gratidão Sou grata à Congregação que me proporcionou a necessária formação e meios para as diversas funções que exerci. Louvo e agradeço ao bom Deus, que me chamou para segui-lo na vida de Consagrada Franciscana, me acompanhou em todas as situações, fáceis e difíceis, fazendo-me muito feliz! IRMÃ MARIA ANGELINA BOHNENBERGER Sou feliz e agradecida, por ser toda de Deus
1. Alguns dados da minha infância Sou sobrinha de Irmã Benísia e mana dos Irmãos Lassalistas Irineu e Lauro. Agradeço ao autor da biografia de Irmão Irineu, possibilitar-me um espaço neste livro. Primeiro para louvar a Deus pelo dom da vocação e missão de Consagrada Irmã Franciscana da Penitência e Caridade Cristã. Segundo para agradecer a maravilhosa família na qual nasci e da qual recebi todo o apoio para ser Irmã Franciscana. Terceiro para estimular jovens para que sejam generosos com Deus e respondam sim a seu chamado e ao seu envio para a missão. Meus pais Affonso Bohnenberger e de Lucilla Hoffmann Bohnenberger tiveram 10 filhos: 6 meninas e 4 meninas. Nasci em 13 de novembro de 1941, em 132 | Irmão Irineu José Bohnenberger
Joaneta, que pertencia ao Município de São Leopoldo-RS. Atualmente pertence ao Município de Picada Café-RS. Fui batizada, pelo Cônego Pe. Miguel Royer, no dia 16 de novembro e recebi o bonito nome Maria Angelina e crismada em 16 de novembro de 1943, pelo então, arcebispo de Porto Alegre, Dom João Becker Meus pais, pequenos agricultores, também trabalhando com moinho de milho, descascador de arroz, triturador de amendoim para extração do óleo. Papai tinha uma pequena usina de energia elétrica, que servia também para os moradores da “vila”. Meus pais eram profundamente religiosos e procuraram transmitir uma boa formação religiosa aos filhos. Oportunizaram-lhes estudo e, à medida que iam crescendo, foram introduzidos no mundo do trabalho, recebendo aos poucos, suas pequenas tarefas diárias. Tivemos uma infância maravilhosa: brinquedos, estudos e tarefas. A escola era paroquial. Tinha uma professora para várias séries simultaneamente. Com isso, o ensino era bastante fraco. A catequese era também dada pela professora e complementada pelo pároco. 2. Aos 12 anos, decidi ser Consagrada a Deus Anualmente, vinha um promotor vocacional (O Irmão Ambrósio – Lassalista) fazer uma visita à escola e perguntava quem pretendia ser Irmão ou sacerdote e quem pretendia ser Irmã, estimulando-nos a prosseguirmos pensando no assunto. O Irmão também visitava as famílias das crianças que mostravam interesse. Os meus dois Irmãos mais velhos, após a 4º série, receberam licença para ir para o Juvenato dos Irmãos Lassalistas. Eu, também, aos 12 anos, recebi licença para ir com as Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã, em São Leopoldo-RS. Uma de minhas tias, de parte de minha mãe, lá estava como Noviça, Irmã Benisia Hoffmann. Meu pai me acompanhou até o Colégio São José. Era o dia da chegada das juvenistas. Fui apresentada para a Provincial e a responsável pelas juvenistas. Após este encontro – fui encaminhada para o juvenato.
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Eu não sabia falar bem o português, porque em casa tudo era no dialeto alemão. Como estava fraca nos estudos, me colocaram novamente na quarta série primária (do juvenato). As jovens postulantes e noviças nos davam as aulas. Recordo-me que, no mês de julho, recebemos um desafio especial. Todas as novatas recebemos uma semana de reforço nos estudos e havia uma proposta importante: quem se revelasse realmente aplicada, poderia ter uma semana em casa. O emprenho de todas foi enorme. Para podermos sair, as meninas maiores ficariam para ajudar nos trabalhos da casa. O grupo de juvenistas era grande: 105 meninas, que desejávamos ser Irmãs franciscanas da Penitência e Caridade Cristã. Achei bem legal esse período do Juvenato, aprendi muito, tive muitas amigas e tínhamos uma mestra atenciosa e bem-querida. O dia estava bem preenchido com horários para estudo, aulas, oração, pequenos serviços diários e tempo para brincar. Depois do Exame de Admissão, fiz a primeira e segunda série ginasial no Colégio São José, em São Leopoldo-RS. Em 1957 fui transferida para o juvenato no Ginásio Santa Teresinha, em Porto Alegre-RS, onde completei a terceira e quarta série ginasial. Em seguida fui transferida para a Escola Sagrada Família, também em Porto Alegre e, enquanto continuava meus estudos, já comecei a lecionava na segunda série primária, na Escola da Imaculada, na Vila Rio Branco, em Canoas.RS. Foi um ano de ótimas experiências. 3. Postulantado e Noviciado Em 1961, recebi autorização para passar à segunda etapa da formação para Irmã Franciscana, o Postulantado. Despedi-me de meus pais e irmãos, porque o regulamento só possibilitava alguma ida à família quando o pai ou a mãe estivessem muito mal de saúde, melhor dizendo, próximos da morte. Com certeza, foi um desafio muito grande. Por ocasião da despedida definitiva, na véspera à noite, meus pais me falaram o seguinte: -Angelina, o dia em que você chegar à conclusão de que este estilo de vida não é para ti, lembra-te que você tem aqui tua casa paterna e, serás sempre 134 | Irmão Irineu José Bohnenberger
bem-vinda!. Estas palavras foram marcantes na minha vida. Graças a Deus, com a renovação da Igreja, pelo impulso do Concílio Vaticano II (1962-1965) houve uma abertura bem grande na Congregação, facilitando também a nossa presença junto aos nossos queridos familiares, como parte de nossa missão apostólica. De qualquer forma, o desafio da despedida definitiva de meus pais e irmãos, para poder ser Irmã Consagrada, foi muito válido para mim. Fiz um ano de postulantado. Depois vivi, com grande emoção, o dia da “vestição”, isto é, deixei de usar a roupa social para usar o hábito religioso de Irmã Consagrada Franciscana da Penitência e Caridade Cristã. Foi no 02 de fevereiro de 1962. E tive, com minhas colegas, dois anos de Noviciado, para assimilar bem a nova vida que estávamos abraçando. Participávamos dos pequenos trabalhos da casa. Tínhamos momentos de reflexão, estudos e oração. Após o Noviciado, isto é, em 03/02/64, tive a graça de celebrar minha Consagração a Deus, incluindo os votos religiosos. Foi na Capela do Colégio São José, em São Leopoldo-RS. Como era tradição entre as religiosas e os religiosos, recebi um novo nome, isto é, Irmã Maria Rita da Sagrada Face, que mais tarde, por orientação da Igreja, deixamos de usar. 4. Trabalhando e estudando Terminado o meu tempo de Noviciado fui transferida para o Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho – onde tive oportunidade de continuar os estudos de segundo grau (fiz Curso Científico) e ao mesmo tempo trabalhava como Auxiliar na secretaria do Colégio. Nos finais de semana ministrava catequese de preparação à Primeira Comunhão Eucarística na Paróquia Santa Teresinha, em Porto Alegre-RS. Nos anos de 1965, 1966, 1967 e 1968 eu renovava os votos, sempre para mais um ano. No dia 2 de fevereiro de 1969 fiz a Consagração definitiva para toda a
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minha vida, isto é, os Votos Perpétuos. Continuei no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho até 30 de dezembro de 1971. Ao todo estive naquele colégio por 7 anos. De 30 de dezembro de 1971 até 17 de janeiro de 1978, passei outros 7 anos no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Santa Cruz do Sul-RS. Nesta época fiz o curso superior de Letras e língua Portuguesa, à noite, na UNISC. De dia trabalhava na Secretaria do Colégio Sagrado Coração de Jesus e nos finais de semana ministrava catequese na Paróquia. 5. Minha caminhada como Irmã Franciscana Em 18/01/78 até 23/07/84 – Secretaria do Colégio N.S. Bom Conselho – POA 23/07/84 – 05/10/90 – Sede Provincial (superiora e Secretária) 05/10/1990 – 01/01/93 – Col. Sagrado Coração de Jesus – Santa Cruz do Sul – Secretária. 03/01/93 – 02/01/99 – Com. N.S. das Graças – São Leopoldo – Coordenadora da Comunidade
Formatura de Irmã Maria Angelina Bohnenberger
03/01/99 – 02/01/02 – Com. N.S. das Graças – São Leopoldo – Coordenadora da Comunidade e Diretora do Lar Santa Elisabeth. 02/01/2002 – 19/07/2003 – Com. Hospital Santa Cruz – Coordenadora dos serviços de Higiene no Hospital Estrela 19/07/2003 – 02/08/2004 – Com. Francis de Assis – Coord. Da Comunidade e Serv. Hotelaria no Hospital Estrela 02/08/2004 – 01/01/2012 – Pens. São José – São Leopoldo – Coord. Da Com. e Diretora do Pensionato São José.
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01/01/2012 – 07/01/2012 – Com. N.S. Fátima – Estrela – Motorista e Serviços 07/01/2013 – Coordenadora da Comunidade, Motorista e Acolhida de Irmãs que chegam para consultas. 6. Gratidão Sou feliz na vocação e missão a que Deus me chamou e me deu a graça de ser fiel, colaborar com Ele, com a Igreja e com minha Congregação. Agradeço a meus pais, manos e parentes. Agradeço à minha tia, Irmã Benísia Hoffmann, e a meus manos Irmão Irineu e Irmão Lauro. Renovo minha entrega total a Deus. Sou dele para sempre! Irmã Maria Angelina Bohnenberger
A mãe Lucilla tomando chimarrão com a filha Irmã Maria Angelina (à direita) e uma colega de Irmã Angelina (à esquerda)
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Recordações
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ANEXO 3 Irmãos e sobrinhos dos Irmãos Lassalistas Irineu e Lauro Segundo combinamos, aqui vão várias fotos como recordação dos manos de Irmão Irineu e Lauro, e respectivas famílias. É também uma homenagem ao falecido membro da família Bohnenberger, o biografado neste livro.
Geraldo Bohnenberger À direita: Hylda, Padre Backes, Geraldo (esposo de Hylda) e a seu lado, a filha Cristina, num momento de confraternização com familiares de Hylda.
Romeu Bohnenberger Romeu Bohnenberger e a esposa Marlise, com os filhos Rodrigo e Fabiane
Aloísio Bohnenberger Aloísio Bohnenberger e a esposa Tânia, com os filhos Roger e Denis
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Leonardo Bohnenberger Leonardo Bohnenberger e a esposa Beatriz com os filhos Katiuscia e Henrique
Maria Goreti Bohnenberger Maria Goreti Bohnenberger Schneider e esposo Ari Schneider com os filhos Lucas e Mônica
Madalena Bohnenberger Madalena Bohnenberger Ninow e esposo, Larry Ninow, com os filhos William, Arthur e Sofia
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ANEXO 4 Nilse – enfermeira por vocação (Homenagem póstuma) Motivo de justo orgulho para a Família Bohnenberger é a enfermeira Nilse. Basta refletir sobre o que foi publicado, quando de seu falecimento, em Novo Hamburgo-RS, no dia 17 de setembro de 1996. Com leves adaptações, aqui transcrevemos o texto: 1. Sua vida. No dia 7 de setembro de 1945, o casal Affonso Bohnenberger e Lucilla Hoffmann Bohnenberger era abençoado por Deus com mais um filho, o 5º. Era uma menina, que recebeu o nome de Nilse. Seu batismo, ministrado pelo Cônego Miguel Royer, aconteceu quatro dias depois, 11 de setembro. Chegada à idade de estudar, Nilse foi matriculada na Escola Santa Joana Francisca de Chantal, em Picada CaféRS. Ali fez o curso primário. Depois foi para o Curso Ginasial no Colégio São José, em Novo Hamburgo-RS, e para os estudos de segundo grau no Colégio Frederico Michaelsen, em Nova Petrópolis-RS. Desde pequena se interessava pelos cuidados com a saúde e, por isso, como que naturalmente, tentou vaga, em 1967, na Escola de Enfermagem Madre Ana Moeller, na Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre-RS. Conseguiu o que queria, e ali fez o Curso de Auxiliar de Enfermagem. Ela estava irradiante de alegria no dia de sua formatura, com seu belo uniforme branco de enfermeira que realçava sua simpatia natural.
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Nilse com o pai e o mano, Irmão Lauro e com uma colega enfermeira
2. Sua vida profissional A vida profissional de Nilse foi muito intensa, como intenso foi seu amor, seu carinho e sua dedicação aos colegas, aos familiares e, de modo particular, aos enfermos. Na verdade, ela era a fraternidade em pessoa. Eis, resumidamente, os locais onde atuou e os cargos que ocupou:
Nilse com o pai Affonso e o mano, Irmão Lauro Bohnenberger
De 4 de março de 1967, logo após sua formatura, até 4 de janeiro de 1968, Nilse trabalhou na Santa Casa de Misericórdia, onde havia estudado. Em seguida foi para o Hospital de Nova Petrópolis-RS, como Diretora Chefe do Corpo de Enfermagem. Ali ficou de 1º de fevereiro de 1968 a 6 de abril de 1973, quando foi para o Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre-RS, onde trabalho apenas por um mês de 11 de junho de 11 de julho de 1973, tendo de ficar a tempo integral a serviço de um casal de idosos do dia 4 a 18 de novembro. 142 | Irmão Irineu José Bohnenberger
Depois, foi trabalhar no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre-RS, de 22 de novembro 1973 a 20 de junho de 1974. Seu próximo trabalho aconteceu perto de seus familiares em Nova Petrópolis-RS, de 2 de setembro de 1974 a 12 de fevereiro de 1980, atendendo também o Hospital Santa Teresinha, em Gramado-RS. Aproveitou a chance de um Concurso promovido pelo INAMPS e foi classificada em 1º lugar. De 6 de fevereiro de 198o a 1981 atuou no INAMPS de Novo Hamburgo-RS e, ao mesmo tempo, na mesma cidade, no Hospital Darci Vargas, na Firma Bender, na Albrecht e Cia Ltda. (um Centro Médico) e no Hospital Regina. 4. Mensagem de João Luiz Mallmann Os familiares, os amigos, os doentes e a Comunidade era a vida de Nilse Bohnenberger, que faleceu no dia 17 e novembro de 1996, no Hospital Regina, aos 45 anos de idade, em Nova Hamburgo-RS. Ela era enfermeira de letras maiúsculas, pois à sua profissão dedicou a vida inteira com amor. A mensagem da homilia do Padre, encontramos a certeza: “Se, a exemplo de Nilse, nos preocuparmos em praticar o bem, atendendo a todos com a mesma presteza, o mesmo sorriso, sem olhar cor, raça ou status social e assim o fizermos todos os momentos, também no último momento da vida das pessoas, estaremos praticando o bem.
Nilse com sobrinhos gêmeos Arthur e Wiliam, filhos da mana Maria Madalena e com a sobrinha Cristina
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Nas palavras de Jesus: “Estive doente e você me assistiu” encontramos uma lição de amor e dedicação de Nilse, quando em 1968, ela tomou uma decisão pessoal e livre de ser uma companheira de seus pais idosos, apesar de isso representar para ela um sacrifício a mais, pois de casa deles até o trabalho a distância era maior. Nilse sempre foi de grande dedicação e procurava em todos os momentos dar de tudo de si, com amor e alegria. Seu coração estava voltado especialmente para os menos favorecidos, que fizeram de sua vida profissional, motivo de muita felicidade e plena realização. Ela não se preocupava com marcar, medir e calcular horas extras de serviço. Tudo fazia dentro da mais absoluta responsabilidade e pontualidade. Todo o desprendimento que encontramos em Nilse é a esperança de que ainda em nossos lares, nas nossas famílias e em nossas comunidades, reinará o amor e vencerá o bem.
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“Nisto todos saberão que vós sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros, como eu vos tenho amado” (Jo 13 34-35)
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