Portfolio - University

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PORTEFÓLIO SOFIA CARVALHO


INFORMAÇÃO PESSOAL

Cândida Sofia de Matos Carvalho 31/01/1993 - natural de Torre de Moncorvo, residente em Vila Nova de Gaia

FORMAÇÃO ACADÉMICA 2011-2018 Mestrado Integrado em Arquitetura na EAUM (Escola de Arquitetura da Universidade do Minho, Portugal) - Média 16 valores 2014-2015 Erasmus Mundi na FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Brasil)

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL 09/2014-02/2015 part-time Desenhadora – ENESCIL, São Paulo, Brasil 02/2015-05/2015 part-time Desenhadora – NUTAU USP, São Paulo, Brasil 05/2015-07/2015 part-time Desenhadora – Edu Rocha Arquiteturas, São Paulo, Brasil 2017 Colaboração no Projeto FCT (PTDC/EPH-PAT/4174/2014) “ESPANAFRI - Espaços e vivências do período português no Norte de África: cidades e vilas do ‘Algarve de Além-Mar’ (séculos XV a XVII)”, CHAM-FCSH-NOVA, Lab2PT-UMinho - Arzila, Marrocos

CARTA DE RECOMENDAÇÃO PARA A FREQUÊNCIA DA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 2014/2015

“A Cândida é minha aluna nas Unidades Curriculares de ‘Projeto IV’ e ‘Teoria da Arquitectura III’; em ambas as UCs, é notório o seu empenho e dedicação na abordagem dos exercícios propostos, bem como a qualidade dos seus trabalhos, claramente acima da média.” Guimarães, 30 de Maio de 2014


COMPETÊNCIAS

Softwares Conhecimento avançado em: AutoCad 2D e 3D; Revit; Photoshop; Microsoft Word; InDesign; PowerPoint. Conhecimento básico em: Archicad; SketchUp; Windows Média Player ; Adobe Illustrator; Microsoft Exel.

Sociais| Comunicativas| Organizativas Grande sentido de responsabilidade, autonomia e organização. Boa capacidade de cooperação e trabalho em equipa. Facilidade em adaptar-se a novos ambientes e absorver novos conhecimentos.

Idiomas Português – Língua Materna Inglês – A2 Espanhol – B2 Francês – C1

Carta de Condução B

Tese de Mestrado

“O Castelo de Cima de Tânger entre Quatrocentos e Seiscentos: de Paço a Cidadela”


Habitação coletiva: ”Delirious” Guimarães Projeto IV, EAUM

O exercício de habitação coletiva de grande escala impunha como condição determinante que o edifício constituísse, assumidamente, um elemento de exceção na paisagem envolvente. Apesar disso, a cidade histórica em redor exigia ser tida em consideração. Desta forma, o edifício implanta-se numa posição estratégica, pensada de modo a orientar o olhar de quem está no pátio principal dos jardins do Palácio Vila Flor para o Castelo.

PLANTA DE IMPLANTAÇÃO

Numa tentativa de tornar a torre permeável, a fachada é atravessada por grandes vãos. Essas “molduras da paisagem” funcionam, simultaneamente, como piso de entrada para os apartamentos e pátio comunitário, promovendo relações de vizinhança. Além dessas, existe uma grande abertura na zona de contacto com o solo, permitindo a livre transição entre diferentes cotas e uma outra, mais acima, funcionando como espaço de apoio ao hotel, também incluído no programa.

SECÇÃO A-A’

MAQUETAS DE ESTUDO DOS ENCAIXES DOS APARTAMENTOS E DO EDIFÍCIO SECÇÃO B-B’


PORÇÃO DA FACHADA OESTE DO EDIFÍCIO

PLANTA DE PISO SUPERIOR TIPO

PLANTA DE PISO INTERMÉDIO (DE ENTRADAS) TIPO

Os apartamentos têm duas frentes (Este e Oeste), de modo a poderem usufruir de mais iluminação natural, também obtida a partir dos pátios. Existem duas tipologias diferentes, constituindo ambas uma estrutura em “L” que parte de uma das faces e se contorce até ao extremo oposto. Com entrada a partir do piso dos pátios, ora se desenvolvem para um piso superior, ora descem. Cada apartamento tem, por sua vez, acesso a um terraço privado de contacto com a paisagem envolvente. Alguns estúdios surgem a partir da segunda metade do edifício, funcionando como elementos de exceção no alçado. A sua densidade vai aumentando à medida que se aproximam da cobertura.

PLANTAS DE TRÊS PISOS TIPO APARTAMENTOS T2 QUE SE DESENVOLVEM PARA O PISO SUPERIOR APARTAMENTOS T2 QUE SE DESENVOLVEM PARA O PISO INFERIOR ESTÚDIOS

PLANTA DE PISO INFERIOR TIPO


Reabilitação do Convento de São Francisco do Monte em Viana do Castelo: do Contraste à Analogia Atelier 1C de História e Ucronia, EAUM

ESQUEMA EVOLUTIVO TIPO TÁVORA

De acordo com Ignacio Solá Morales existem duas formas de intervir no Património: por Contraste e por Analogia. Quer manifestando o espírito da época da intervenção, destacando-se e distinguindo-se do antigo, quer interpretando as pré-existências e usando os seus princípios de composição na nova construção.

Numa encosta sobranceira à cidade de Viana do Castelo, as ruínas do Convento de São Francisco do Monte foram o local escolhido para instalar oficinas artesanais e um pequeno equipamento hoteleiro.

Além da ocupação do antigo Convento, restituindo-lhe algumas das suas funções passadas e mantendo a sua lógica funcional, regida em torno do claustro, havia a necessidade de criar um outro edifício para o programa mais privado: as oficinas de trabalho e os quartos, afastando-os da zona mais pública de atividades coletivas- espaço de exposições, auditório, refeitório e mercado-, promovendo a contemplação da paisagem e a reflexão. O prolongamento de um dos muros pré-existentes ditou a implantação do novo corpo. Este foi posicionado de forma a integrar-se num percurso de descoberta em torno do Convento, definido por um conjunto de praças de cariz diferenciado.

RUÍNAS DO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO DO MONTE


LEGENDA 1. ESPAÇOS DE TRABALHO 2. RECEÇÃO 3. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS 4. QUARTOS DE HOTEL/POUSADA 5 RECEÇÃO DO HOTEL 6. REFEITÓRIO 7. COZINHA/COPA 8. BAR DE APOIO 9. LOJA/MERCADO 10. SALA DE FUNCIONÁRIOS/ARRECADAÇÕES 11. BIBLIOTECA 12. GABINETE DO CHEFE 13. AUDITÓRIO E SALA DE APRESENTAÇÕES 14. FOYER 15. ESPAÇO DE CULTO 16. SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS

________________________________PISO SUPERIOR

MAQUETAS DE ESTUDO

_________________________________PISO TÉRREO

Fragmentos de granito local são utilizados na composição do betão que constitui as paredes do novo corpo, aproximando a sua tonalidade à das paredes do Convento, que não são rebocadas, permitindo perceber os grandes e pesados blocos que há séculos ergueram aquele local.


Reabilitação do Convento de São Francisco do Monte em Viana do Castelo: do Contraste à Analogia Atelier 1C de História e Ucronia, EAUM


LEGENDA 1. ESPAÇOS DE TRABALHO 2. RECEÇÃO 3. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS 4. QUARTOS DE HOTEL/POUSADA 5 RECEÇÃO DO HOTEL 6. REFEITÓRIO 7. COZINHA/COPA 8. BAR DE APOIO 9. LOJA/MERCADO 10. SALA DE FUNCIONÁRIOS/ARRECADAÇÕES 11. BIBLIOTECA 12. GABINETE DO CHEFE 13. AUDITÓRIO E SALA DE APRESENTAÇÕES 14. FOYER 15. ESPAÇO DE CULTO 16. SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS


Livraria Modular Projeto II, EAUM

PERSPETIVA GERAL DO PROJETO

O desafio consistia em criar uma livraria servida por um espaço de leitura e cafetaria, num terreno junto ao Campus da Universidade do Minho, em Guimarães, utilizando-se, para a composição do edifício, somente módulos cúbicos de 3m de aresta.

Considerando estas condicionantes, o projeto implanta-se junto a um ribeiro que corre no local, numa área bastante arborizada. O equipamento distribui-se por ambas as margens do curso de água, unificadas por uma estrutura de atravessamento. O acesso ao edifício faz-se por essa ponte, que cruza o ribeiro diretamente para a livraria, na margem Sul. O percurso até à margem Norte, onde se localiza a cafetaria, afastada para evitar que o ruído perturbe as leituras, também implica a transposição do ribeiro no mesmo ponto, contudo, por um trajeto diferenciado. A ideia é tirar o máximo partido da proximidade com a Natureza, de forma a proporcionar diversas relações sensoriais aos ocupantes, quer através dos vários pontos de vista entre o interior e o exterior envolvente, quer da possibilidade de ouvir e tocar a corrente e as árvores em redor.

ESQUEMAS DE ESTUDO DO CONCEITO DO PROJETO

PLANTA DE IMPLANTAÇÃO

MAQUETAS DO PROJETO


1.

3.

3.

4.

2.

1. PLANTA PISO TÉRREO

CORTE A-A’

4. 2.

3. PLANTA PRIMEIRO ANDAR

CORTE B-B’

LEGENDA 1. LIVRARIA 2. ESPAÇO DE LEITURA 3. PERCURSO DE ACESSO AO EDIFÍCIO 4. CAFETARIA

4. 3. CORTE C-C’


Loteamento em Guimarães: “Muros habitados” Projeto III, EAUM

IMPLANTAÇÃO DO LOTEAMENTO NA CIDADE DE GUIMARÃES

O loteamento de habitações unifamiliares implanta-se na cidade histórica de Guimarães, pelo que o seu planeamento tinha implícito o respeito pelo tecido urbano envolvente e a articulação entre diferentes escalas tinha de obedecer a uma lógica pouco intrusiva. Partindo do conceito de “barreira”, o loteamento desenvolve-se numa lógica de patamares conectados entre si, transmitindo às pessoas que percorrem a rua à cota mais baixa, que constitui o principal acesso ao local, a perceção de uma série de muros quebrados que se multiplicam pela encosta a cima, entre os quais é possível vislumbrar a zona arborizada no topo. A ideia de “muros” é transportada para a organização interna das habitações, altas e estreitas. Os níveis superiores de cada lote, voltados para a cidade, proporcionam uma vista abrangente sobre a mesma, a diferentes alturas.

PLANTA PISO TÉRREO TIPO

PLANTA PRIMEIRO ANDAR TIPO

PLANTA SEGUNDO ANDAR TIPO ELEMENTOS PRÉ-EXISTENTES NA ENVOLVENTE DA IMPLANTAÇÃO


MAQUETAS DO LOTEAMENTO COMPLETO E DE UM LOTE TIPO LEGENDA 1. GARAGEM 2. COZINHA 3. SALA DE JANTAR CORTE TIPO A-A’

4. SALA DE ESTAR 5. CASAS DE BANHO 6. QUARTOS

CORTE TIPO B-B’

6.

6.

5.

2.

3.

5.

6.

4.

1.

CADA LOTE TEM ACESSO POR DOIS NÍVEIS DIFERENTES

ESPAÇOS INTERNOS QUE CONSTITUEM UM LOTE TIPO HABITAÇÕES ALTAS E ESTREITAS TRANSPORTAM O CONCEITO DE “BARREIRA” DA ESCALA DO LOTEAMENTO PARA A ESCALA DO LOTE


Requalificação territorial em Braga: Pela encosta das Sete Fontes Atelier 2A de Território, EAUM - Trabalho de grupo com Adriana Gomes e Tânia Torre

ESTUDO DO TERRITÓRIO ENVOLVENTE UTILIZANDO A ARTICULAÇÃO ENTRE DESENHO, FOTOGRAFIA, CARTOGRAFIA E MAQUETAS

CORTES ESQUEMÁTICOS DE ESTUDO DA PERMEABILIDADE DO TERRITÓRIO

Junto ao Campus da Universidade do Minho, em Gualtar, Braga, um terreno de grandes proporções, delimitado por um muro e atravessado pelo rio Este, detinha um grande potencial não aproveitado. O estudo do espaço, concentrando a análise nos problemas de permeabilidade (de contacto, visual e do solo), revelava que se tratava de um fragmento isolado na cidade, representando um obstáculo para a acessibilidade ao polo universitário, uma barreira física, frequentemente saturada de água, drenada dos montes circundantes. A procura de uma estratégia de intervenção determinou que se interpretasse aquele território a uma escala mais afastada. A subida da encosta do Campus revelou um pormenor interessante: a montanha terminava numa área de interesse patrimonial, também ela desaproveitada e desconhecida para grande parte dos habitantes: as Sete Fontes. Desta forma, nasceu a ideia de trabalhar o percurso da água, unindo, através de espaços de diferente índole, o complexo do ponto mais alto ao terreno à cota baixa, atravessando o recinto universitário, ao longo da descida.


CONJUNTO PATRIMONIAL “AS SETE FONTES”

PLANO DA INTERVENÇÃO

INTERVENÇÃO À COTA BAIXA

ESQUEMAS PROJETUAIS CONSIDERANDO A TOPOGRAFIA LOCAL, AS CONSTRUÇÕES PRÉ-EXISTENTES E A RELAÇÃO ENTRE ESPAÇOS DE DIFERENTE ÍNDOLE


“Heart House” Concurso “House for Enjoying the Harsh Cold” 5th Lixil International University Architectual Competition Trabalho de grupo com Daniel Yoshida, Délio Lombardi, Bruna Murakami, Guilia Mutton e Hanae Oseki.

SISTEMA DE AQUECIMENTO DA COBERTURA COM O OBJETIVO DE DERRETER A NEVE

COLETOR DE ÁGUA

RESERVATÓRIO DE ÁGUA

O enunciado do concurso “House for Enjoying the Harsh Cold- 5th Lixil International University Architectual Competition” pressupunha a construção de uma casa nas planícies tranquilas de Taiki cho, uma região particularmente fria do Japão. A Heart House nasce da ideia de estabelecer um diálogo expressivo com a paisagem conservando o caráter intimista da casa tradicional japonesa, proporcionando uma experiência sensorial forte aos habitantes através de jogos de luz/sombra, aberto/fechado e quente/frio. O material escolhido foi a madeira, pelo contraste que a sua superfície cria com o branco da paisagem gelada em redor e pela sua versatilidade.

FILTRO E BOMBA

INTERIOR DA HEART HOUSE EM CORTE

OS QUATRO ALÇADOS DA HEART HOUSE

No interior da casa, a luz avermelhada de uma lareira cria um ambiente acolhedor: o lugar de reunião, o centro da casa é ali, onde o fogo quente arde durante o Inverno. Simultaneamente, ouve-se o som de água a cair: a neve acumulada no telhado derrete e escorre acompanhando a inclinação da cobertura que converge para um único lugar. Os restantes espaços desenvolvem-se em torno desses dois pontos: uma série de patamares sucedem-se até à cobertura, num jogo de níveis, cuja leitura nas fachadas cria o efeito de mosaicos em cada um dos alçados. Por vezes, uma abertura maior enquadra o horizonte com o bosque como plano de fundo, como se de um quadro se tratasse.


NEVE/CHUVA DETALHES DA COBERTURA

DETALHES DA PAREDE

DETALHES DOS VÃOS

PAREDE HIDRÁULICA

DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA

DETALHES DA PAREDE ADAPTÁVEL

SISTEMA DE RECOLHA E APROVEITAMENTO DE ÁGUAS PLUVIAIS E NEVE

JUNTAS DE AÇO, MADEIRA E BETÃO EXEMPLOS

AXONOMETRIA EXPLODIDA DA CASA COM DETALHES CONSTRUTIVOS

O último patamar foi pensado para albergar os quartos, onde as aberturas para o exterior são pequenos rasgos de luz na madeira, permitindo resguardar a privacidade dos ocupantes. O número de aberturas pode ser controlado, variando os níveis de luminosidade. Isso é conseguido através da retirada ou colocação de peças de madeira. O projeto é também resultado de preocupações ecológicas. Desta maneira, foi pensado para permitir a coleta de águas pluviais e de neve, utiliza painéis fotovoltaicos para suprir os gastos de energia, um sistema de aquecimento geotérmico e um sistema de ventilação cruzada natural.

ESPAÇOS INTERNOS DA HEART HOUSE


Campus Universitário da UNIFESP em Embu das Artes, São Paulo AUP0154, FAU-USP - trabalho a pares com Silvana Silva

Embu das Artes, uma pequena e pitoresca cidade a Sul de São Paulo, foi o local escolhido para a implantação de um novo Campus da UNIFESP, correspondendo o terreno de intervenção a um morro de declive acentuado. Esta intervenção tinha como objetivo dinamizar aquela região, beneficiando os seus habitantes e atraindo mais turistas.

Partindo destas premissas, o projeto divide o programa em patamares. Três grandes “braços” quebrados sobem a encosta, existindo, nas suas conexões, momentos de transição gradual. A unir as peças, existe um elemento de acesso direto, um eixo que recupera uma direção da cidade histórica e a remete para o topo do morro. A CIDADE DE EMBU DAS ARTES

ESQUEMA DE EIXOS PREDOMINANTES

ESQUEMA DE CIRCULAÇÕES

IMPLANTAÇÃO DO CAMPUS

PLANTA COTA 781

PLANTA COTA 796

PLANTA COTA 815


CORTE A-A’

À cota mais baixa, localizam-se os equipamentos de carácter cultural: o Museu, a Biblioteca, o Cinema e o Teatro, acessíveis para estudantes e toda a população de Embu. Todos os elementos seguem uma lógica de organização parecida, desenvolvendo-se em torno de alguns pátios que funcionam simultaneamente como pontos de transição e entrada de luz. Na cota alta, mais afastadas do ruído e em contacto direto com o espaço natural, localizam-se as salas de aula.

CORTE B-B’

CORTE C-C’

CORTE D-D’ MAQUETAS DE ESTUDO DO CAMPUS UNIVERSITÁRIO


O Castelo de Cima de Tânger entre Quatrocentos e Seiscentos: de Paço a Cidadela Tese de Mestrado - Cultura Arquitetónica, EAUM

MURALHA SUL VISÍVEL A PARTIR DE UM TERRAÇO DA MEDINA DE TÂNGER

MURALHA SUDOESTE VISÍVEL A PARTIR DA RUE DE LA KASBAH

O Castelo que foi objeto de estudo da dissertação localiza-se em Tânger, Marrocos, cidade que pertenceu ao reino de Portugal durante quase dois séculos, desde a sua conquista em 1471 à sua entrega a Inglaterra em 1661, inserindo-se no conjunto de praças-fortes ocupadas no Norte de África, durante o período de expansão marítima territorial. O “Castelo de Cima” constituía um elemento fundamental para a salvaguarda da urbe, desde a zona mais alta, a antiga implantação da alcáçova islâmica.

ALÇADO INTERIOR DA MURALHA NORTE

Hoje em dia, parcos vestígios do castelo português sobrevivem. O preenchimento de todo o conjunto amuralhado, incorporando pré-existências nas novas construções, culminou na descaracterização da fortificação. Este fenómeno motivou a vontade de recuperar a memória do importante reduto.

Para tal, o estudo teve de se centrar na análise de documentação antiga, mapas e gravuras desde o século X até à atualidade, cruzando-se referências de diversos tempos e confrontando-as com as ruínas remanescentes. Identificaram-se dois momentos principais: o Tardo-Medieval e o Moderno, destacando-se ainda uma subfase autónoma no primeiro momento. ORTOFOTOMAPA DA ÁREA NOROESTE DA MEDINA DE TÂNGER, 2018

GRAVURA “TINGIS LUSITANIS TANGIARA” DE BRAUN, SÉC. XVI

A PRETO ESTÃO ASSINALADOS VESTÍGIOS DO CASTELO NA CIDADE ATUAL E A VERMELHO ALINHAMENTOS URBANOS QUE SUGEREM PODER TRATAR-SE DE ESTRUTURAS PERTENCENTES AO CASTELO DE CIMA

PÁGINA DO “LIVRO DAS MEDIDAS DE ARZILA, ALCÁCER, CEUTA E TÂNGER POR MESTRE BOYTAC E BASTIÃO LUIZ EM 1514”

“HISTORIA DE TANGER (...)” DE D. FERNANDO DE MENEZES, CONDE DA ERICEIRA

GRAVURA “A MAPP OF THE CITTY OF TANGIER WITH THE STRAITS OF GIBRALTAR” DE HOLLAR, SÉC. XVII


1ª FASE: TARDO-MEDIEVAL Após 1471 as fontes exprimem, no topo da colina Noroeste, um cenário fortificado constituído por um edifício de cariz nobre e uma cerca. O Paço era o elemento que mais se destacava, localizado no vértice Sudeste do complexo. Para a reconstituição da sua imagem, a diversidade de caracterizações implicava a análise de elementos genéricos comuns. Consideram-se duas hipóteses possíveis de conformação do Paço. 1ª HIPÓTESE

2ª HIPÓTESE

Quanto à cerca, esta seria constituída por quatro frentes: a Este e a Sul tramos que se prolongavam a partir do Paço, e a Oeste e a Norte muralhas que correspondiam às fronteiras da própria praça, pontuadas por vários torreões de perfil quadrangular e semicircular, dos quais sobrevive um na atualidade. Uma “Torre do Sino” ocuparia o vértice Noroeste da cerca, no ponto mais alto e na muralha Norte localizar-se-ia a única saída do Castelo para o exterior, uma porta em cotovelo designada de “Porta da Traição”. O acesso à fortificação desde a cidade seria feito a partir da frente Este.

A “PORTA DA TRAIÇÃO” NO MAPA “KRIGSARKIVET 0406:07:009:001” E NA VISTA “A PROSPECT OF TANGIER AND THE MOLE BEFORE IT WAS DEMOLISHED”

RECONSTITUIÇÃO HIPOTÉTICA DO PAÇO DE ACORDO COM A PRIMEIRA HIPÓTESE

RECONSTITUIÇÃO HIPOTÉTICA DO PAÇO DE ACORDO COM A SEGUNDA HIPÓTESE

RECONSTITUIÇÃO HIPOTÉTICA DA “PORTA DA TRAIÇÃO”


SUBFASE: MANUELINA Ainda durante esta fase, os avanços da tecnologia bélica que se disseminavam pela Europa e a progressiva adoção de armamento pirobalístico fomentaram a atualização dos sistemas defensivos. Em Tânger, entre outras medidas, ocorre o reforço do setor Oeste do Castelo de Cima, no reinado de D. Manuel. Destacando-se assim uma subfase Manuelina. É adicionada uma plataforma de artilharia com bombardeiras, ladeada por duas estruturas projetadas: a “Torre dos Biscaínhos” e um baluarte em cunha assente num alambor trapezoidal, possivelmente o “Baluarte dos Fidalgos”, que subsiste na atualidade. Constituíam claramente construções experimentais, características do período de Transição, durante o qual Diogo Boitac traça um plano de reforço defensivo em Tânger, construído pelo mestre biscainho Francisco Danzillo. O cubelo central é adaptado a Torre do Sino. “(…) E esta nam vinha no regimento (…)

tem o pedaço da chapa que estaua per fazer a par da tore do syno de comprido b braças e mea e d’alto tiramdolhe o remate e que não he tão alto como a outra R palmos e he de groso quatro palmos tres polegadas e mea em que monta / Sam trinta e nove e mea. /Item, a contrachapa tem de comprido as mesmas b braças e meia e dalto vimte palmos metemdo nisto alambor que esta apegado a tore dos bizcainhos e de grosura as quatro palmos tres polegadas e mea em que monta dez e nove [braças] cinquoemta e dous palmos e meo / Esta contrachapa tem menos hua braça na altura do que hera hordenado nem leuão sylhares por baixo porque esta sobre penedos (…).”

ADIÇÃO DE UMA PLATAFORMA DE ARTILHARIA À CERCA INICIAL, VISÍVEL NO MAPA “KRIGSARKIVET 0406:07:009:001” E NA VISTA “A MAPP OF THE CITTY OF TANGIER WITH THE STRAITS OF GIBRALTAR” DE HOLLAR.

Livro das medidas de Arzila, Alcácer, Ceuta e Tânger, feitas por mestre Boytac e Bastião Luiz em 1514 , fl. 54, 54v

PLATAFORMA DE ARTILHARIA LADEADA POR DOIS BALUARTES NOS MAPAS “PLANTA DE TANGERE” DE 1655 E “DESCRIPTION OF TANGIER” DE 1664 SOBREPOSTA À CARTOGRAFIA ATUAL.

LIMITE INTERNO DA PLATAFORMA DE ARTILHARIA VISÍVEL NA ATUALIDADE ADIÇÃO DE UM BALUARTE EM CUNHA NO SETOR OESTE

1509 – Diogo Boitac é enviado a Tânger onde traça um plano de reforço defensivo; 1511 - Francisco Danzillo é responsável pela execução do plano;

BALUARTE EM CUNHA NA ATUALIDADE

RECONSTITUIÇÃO HIPOTÉTICA DA PLATAFORMA DE ARTILHARIA MANUELINA

1514 – Diogo Boitac e Bastião Luiz fazem o registo e medição das obras - “Livro das medidas de Arzila, Alcácer, Ceuta e Tânger, feitas por mestre Boytac e Bastião Luiz em 1514”.

INCORPORAÇÃO DE DOIS CUBELOS DA MURALHA INICIAL NA ESTRUTURA DO BALUARTE-TORRE NOROESTE


2ª FASE: MODERNA A segunda fase do Castelo surge num momento específico da história da política expansionista portuguesa. Perante a perda de Santa Cruz do Cabo de Guer, em 1541, D. João III decide manter apenas três praças no Norte de África: Ceuta, Mazagão e Tânger, que manda refortificar. Em 1549, o mestre Miguel de Arruda dirige-se à cidade e em 1558 são enviados os engenheiros Diogo Telles e Isidoro de Almeida, ano em que o mestre-de-obras André Rodrigues executa uma traça com o projeto inicial, hoje desaparecida. Um ano mais tarde, Jorge Gomes, elabora um “modelo” da praça, também perdido. É a partir de 1564 que se executa grande parte da empreitada. Neste tempo, são enviados a Tânger os italianos Tommaso Benedetto de Pésaro e o seu irmão Doutor Benedetto, estendendo-se os trabalhos até pelo menos meados de 1566. “(…) e por me pareçer seruiço de vossa alteza, (…) lhe fiz a traça da maneira que vosa alteza vera que pareçe ir bem decrarada, (…) e parece que fortificando se da maneira que uai na traça sera pera de todo ficar em sobre feição, espicialmente o castello uelho, porque lhe fiqua a cidade tam sogeita e tamto debaixo dartelharia que parece que os immiguos ha não quererão cometer uendo a pouqua esperança que terão de tomar o dito castello, (…).” Carta de André Rodrigues a D. Catarina, Tânger - 19 de Julho de 1558

ADIÇÃO DE 3 BALUARTES EM CUNHA AO PERÍMETRO INICIAL, VISÍVEL NO MAPA “KRIGSARKIVET 0406:07:009:001”

“(…) e quoanto ao que toca a forteficasam de fora eu tenho mandado uir a Mim os Italliannos para com elles me acabar de ResoLuer com toda a breuidade posiuel e em deligençia determino mandar hum dos ditos Italliannos a esa Cidade para melhor poderdes efectuar a dita forteficasão (…).”

Carta do Cardeal Regente a Lourenço Pires de Távora, Almeirim, 4 de Janeiro de 1565

O CASTELO DE CIMA DE TÂNGER APÓS A ADIÇÃO DE UM QUARTO BALUARTE, NA MURALHA NORTE, JÁ NO SÉCULO XVII VISÍVEL NO “A MAPP OF THE CITTY OF TANGIER WITH THE STRAITS OF GIBRALTAR” DE HOLLAR.

RECONSTITUIÇÃO HIPOTÉTICA DO CASTELO DURANTE A SEGUNDA RECONSTITUIÇÃO HIPOTÉTICA DO CASTELO DURANTE A SEGUNDA FASE DE ACORDO COM A PRIMEIRA HIPÓTESE FASE DE ACORDO COM A SEGUNDA HIPÓTESE

As prolongadas obras desenvolveram-se em torno da fortificação anterior, transformando-a numa Cidadela. Foram adicionados 3 baluartes de grande escala: o de “S. João”, o “da Conceição” e o “do Espírito Santo”, compondo os vértices Nordeste, Sudeste e Sudoeste respetivamente. As cortinas Nascente e Sul são reforçadas com um novo muro, externo ao anterior e os setores Oeste e Norte permaneceriam praticamente inalterados. Considerando a primeira hipótese, a estrutura do edifício nobre não seria alterada. Considerando a segunda, apesar do avanço da muralha, a torre Norte, mais pronunciada, seria derrubada. Durante esta fase foi ainda acrescentado um baluarte a Norte, que subsiste na atualidade. Além deste, é possível observar hoje em dia apenas parte da cortina Sul, com cordão e canhoneiras e vestígios da face do Baluarte do Espírito Santo.

1541 - Perda de Santa Cruz do Cabo de Guer. Portugal decide manter apenas as praças Ceuta, Mazagão e Tânger, apostando tudo na sua refortificação, abandonando as restantes; 1549 - O mestre Miguel de Arruda é enviado a Tânger; 1558 - Os arquitetos régios Diogo Telles e Isidoro de Almeida são enviados à cidade. Além deles, também Cristóvão da Cunha e o seu irmão Vasco da Cunha se encontravam em Tânger; 1558 - Realização da “traça” da cidade pelo mestre-de-obras André Rodrigues; 1559 - Realização do “modelo” da cidade pelo mestre-de-obras Jorge Gomes;

MURALHA SUL E BALUARTE DO ESPÍRITO SANTO NA ATUALIDADE

1565 - Os italianos Tommaso Benedetto de Pésaro e o seu irmão Doutor Benedetto são enviados à praça.


1ª FASE: TARDO-MEDIEVAL

SUBFASE: MANUELINA

Após a intervenção Manuelina, a frente Na fase Tardo-medieval, as muralhas altas do perímetro, repletas de seteiras e possivelmente Oeste passa a albergar bombardas, cuja desmultiplitroneiras, permitiriam resistir eficazmente a ataques cação de linhas de tiro, impedia a aproximação inimiinimigos, contudo apenas num primeiro momento. ga e flanqueava as cortinas adjacentes. Os disparos a partir dos torreões permitiam o tiro cruzado, em complemento ao frontal.

2ª FASE: MODERNA

Com o advento da segunda fase, o Castelo passa a contar com dois níveis de tiro, das casamatas dos baluartes saíam disparos rasantes sobre os terraplenos e ao nível superior a cortina Sul é reforçada com canhoneiras. Os baluartes eram dimensionados de forma a permitir uma mútua proteção, em que o cruzamento de fogos anulasse ângulos mortos, sendo exceção o Baluarte da Conceição, talvez pelo facto de albergar em si o Paço.

NÍVEL INFERIOR ESPECULAÇÃO DO ALCANCE DE TIRO A PARTIR DO CASTELO DE CIMA DURANTE A SEGUNDA FASE ESPECULAÇÃO DO ALCANCE DE TIRO A PARTIR DO CASTELO DE CIMA DURANTE A PRIMEIRA FASE

ESPECULAÇÃO DO ALCANCE DE TIRO A PARTIR DO CASTELO DE CIMA APÓS A SUBFASE MANUELINA

MURALHA SUDOESTE REPLETA DE SETEIRAS VISÍVEL NA “PROSPECT OF TANGIER FROM THE S. WEST” DE HOLLAR

ALÇADO EXTERNO DA PLATAFORMA DE ARTILHARIA DO SETOR OESTE DO CASTELO, COM SETEIRAS E BOMBARDEIRAS, NA VISTA “PROSPECT OF THE WEST FRONT OF TANGIER CASTLE” DE HOLLAR

NÍVEL SUPERIOR


1ª FASE: TARDO-MEDIEVAL A cerca possuía algumas torres de base semicircular como as da muralha de atalho português, mas a maioria dos tramos apresentava torreões tetragonais, tipologia que existiria na cidade islâmica. A designação da fortificação, em meados do século XVI, enquanto “castelo amtiguo dos mouros”, levanta a possibilidade desses setores possuírem uma origem árabe. Quanto ao edifício, para ambas as hipóteses reconhece-se um aspeto compacto e intangível, comum a vários paços portugueses. Apesar disso, não se descarta a possibilidade do de Tânger ser constituído por parcelas de vários tempos, ou inclusivamente conter uma base islâmica.

2ª FASE: MODERNA

“Este muro he antre o castello [islâmico, pré-português] e há torre que se chama a torre de Gil hayre em que ha cinquo cubelos.” ZURARA, Gomes Eanes de - Crónica do Conde D. Duarte de Meneses “(…) desta forteficação asy da cidade como do castelo amtiguo dos mouros (…).”

Carta de Cristóvão da Cunha a D. Catarina a 12 de Julho de 1558

PAÇO DOS DUQUES DE BRAGANÇA PAÇO DOS DUQUES DE BRA- PAÇO DOS CONDES DE OURÉM EM BARCELOS NO “LIVRO DAS GANÇA EM GUIMARÃES, FORTALEZAS” ANOS 30.

Para a construção da Cidadela foram enviados os melhores especialistas do seu tempo, cujas trajetórias profissionais se cruzam no contexto de outros grandes projetos nacionais, nos quais se reconhecem princípios utilizados no Castelo de Cima. Não obstante, a experiência em Tânger constituiu claramente, ela própria, uma referência para obras posteriores, como é exemplo o Forte de Jesus de Mombaça. Apesar de imprimir as opções tipo-morfológicas da época, claramente Maneirista, destacava-se, no panorama arquitetónico nacional, pela enorme escala, pela implantação à cota alta enquanto a maioria se localizava à cota do mar, e era a única cuja planta antropomórfica não resultava de um projeto de raiz, mas da adição de elementos a uma estrutura consolidada anterior.

FORTE DE JESUS DE MOMBAÇA, 1593-96 APRESENTA VÁRIAS SEMELHANÇAS COM O CASTELO DE CIMA DE TÂNGER, NOMEADAMENTE A FORMA ANTROPOMÓRFICA. SABE-SE QUE O AUTOR DO SEU PLANO, GIOVANNI BATTISTA CAIRATI, TERÁ ESTADO EM TÂNGER EM 1581.

FORTIFICAÇÃO DE CEUTA, PLANO ELABORADO POR BENEDETTO DA RAVENA EM 1541, OBRAS DIRIGIDAS POR MIGUEL DE ARRUDA; CIDADELA DE MAZAGÃO, TRAÇADA POR BENEDETTO DA RAVENA; FORTE DE SÃO JULIÃO DA BARRA, TRAÇADO POR MIGUEL DE ARRUDA, PARTICIPANDO NA EXECUÇÃO ISIDORO DE ALMEIDA; FORTE DE SÃO BRÁS DE PONTA DELGADA, PLANO ELABORADO POR ISIDORO DE ALMEIDA EM 1552, TENDO PARTICIPADO NA CONSTRUÇÃO, UMA DÉCADA MAIS TARDE, TOMMASO BENEDETTO DE PÉSARO.

Durante a prospeção no local identificaram-se e catalogaram-se ainda alguns elementos, provenientes do período inglês, como um portal que teria pertencido a uma segunda linha fortificada, que unificaria o setor Norte da praça, os dois Castelos e o espaço compreendido entre ambos, isolando a área administrativa e militar.

IDENTIFICAÇÃO NA CARTOGRAFIA ATUAL DE DOIS PORTAIS INGLESES

LEVANTAMENTO MÉTRICO DOS DOIS PORTAIS INGLESES

O Castelo revelou-se um organismo em permanente evolução, acompanhando eficazmente os avanços da Arte da Guerra e condensando em si os três principais momentos de construção militar portuguesa em Marrocos: Tardo-medieval, Transição e Modernidade. A Medina atual apresenta-se como uma conjugação de estratos de tempos diversos. Com esta tese pretendeu-se recuperar a memória de uma parte importante do estrato lusitano, alertando para a importância patrimonial do Castelo e avançando um passo no sentido da compreensão da história comum de Portugal e Marrocos, funcionando como um ponto de partida para outros estudos.



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