594,937 CrĂ´nicas de Viagem
A decadência das pequenas cidades de interior têm algo de poético difícil de explicar. Uma mistura de cheiro de coisa velha com bolo recém saído do forno. Um pressentimento de desgraça envolto em perfume doce e suave.
Algo que oprime o corpo e faz a mente viajar.
Um quê de abandono, um gosto amargo na boa. Mas o dia está lindola fora. Sol alto, clima ameno, vento fresco de primavera. O que será? Talvez estejam impregnadas neste solo as centenas ou milhares de esperanças percidas ao longo do anos..
Mas nem tudo são ressentimentos e amarguras. Crianças ainda brincam, pássaros ainda cantam e, em diversos pontos do trajeto é possível ver o gado pastando calmamente no campo. Aparentimente, tudo vai bem no limite entre os estados Ignorância e Desespero da Republica Federativa do Brasil.
Uma placa na beira da estrada sinaliza que estamos em Charqueadas. Ao decorrer da viagem, torna-se impossível definir esses limites burocráticos pelo simples avistar da paisagem. São 13,15 hrs e, até agora, foram tão raras as aparições de pessoas ao longo do trajeto que, quando avisto alguma ao longe, acredito ser parte de um sonho perdido nos anos.
Violências, interrupções, bloqueios, desvios Vidas perdidas ainda vivas.