DIPLÔ POR CARLA SENA, ESTUDANTE DE ARQUITETURA E URBANISMO, NA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA COM ORIENTAÇÃO DA DRa. YARA REGINA OLIVEIRA
96
H O R I Z O N T A L
INTERVENÇÃO COLABORATIVA NO MERCADO SUL DE TAGUATINGA
horizontal’ ho.ri.zon.tal Numa das rodas de conversas, a palavra horizontalidade apareceu diversas vezes. Não no sentido restrito da palavra, mas sua forma de lidar com questões do espaço e suas contraposições. Horizontalidade como paradigma, reflexo do que vem acontecendo no território do Mercado Sul hoje. Um espaço sem barreiras, que de forma horizontal, foi sendo reconstruído, e nele são desenvolvidas relações sociais, afim de juntar pessoas que compartilhem experiências, novas formas de pensar e viver a cidade numa perspectiva que possa contribuir na construção de uma sociedade que contemplem as necessidades das pessoas. A primeira parte deste livro, reúne textos em uma elaboração teórica sobre os efeitos que a produção do espaço trouxe para a organização da vida humana nas cidades. O estudo constituiu uma investigação sobre o território do Mercado Sul de Taguatinga, a partir de um diagnóstico desenvolvido por meio de um processo colaborativo de pequena amostragem. A intenção projectual pretende fundamentar as propostas de intervenção, na âmbito, social, cultural, ambiental, baseadas em uma análise no território do Mercado Sul que em modo de resistência VIVE!
99
A MAIOR ATRAÇÃO DA CIDADE: AS PESSOAS A humanidade está sempre a falar de arquitetura. O que aconteceria se o espaço começasse a olhar para a humanidade?
KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre a cidade. São Paulo, GG, 2013
Invadiria o espaço-lixo o nosso corpo? Através das vibrações do telemóvel? Já o fez? Através de injeções de Botox? De colágeno? De implantes de silicone? Da lipoaspiração?
1
Será que a terapia genética anuncia uma modelação total de acordo com o espaço-lixo? Somos cada um de nós um estaleiro em miniatura? Será a humanidade a soma de 3 a 5 mil, milhões de atualizações individuais? Será por acaso o repertório de uma reconfiguração que facilitará a intromissão de uma nova espécie nessa esfera-lixo que ela própria criou? O cosmético é agora o novo cósmico...
CIDADE PELAS PESSOAS E PARA AS PESSOAS
índice diplo #1
o automóvel, o elevador e o ar condicionado do Big Bang arquitetônico as forças ingovernáveis do espaço urbano que condenou a ancestral condição artística e ideológica dos arquitetos.
a mordenização do espaço o impacto da revolução tecnológica ao urbanismo a golpes de martelo do barão Haussmann em Paris, ao flâneur, o detentor de todas as significações urbanas.
2
a cidade parque-temático da crise de identidade das cidades à periferia de Koolhaas, na total disneylandização urbana, passando pelas tecnologias que potencializaram o lugar das pessoas na rua.
duty-free e o espaço democrático dos despojos da modernização aos duty-frees e aeroportos, o capitalismo e a gentrificação.
a cidade como playground a retomada do protagonismo pedrestre através das figuras perambulantes.
MILTON SANTOS
REYN E BAH R AM
HÉLIO OITICICA NEIL SMITH
DAVID HARVEY
WEILAND
REM KOOLHAAS
ALDO VAN EYCK
DO AR O N LEO EVOL N BE
3
JAN GEHL
EL RAQUNIK ROL
FRANÇOISE CHOAY
WALTER BENJAMIN MARCOS ROSA
PA JACQOLA UES
I R E N R E V H EB F
LE
AUTORES DENTRO DESTE
GUY DEBORD
GUILHERME WISNIK
PAUL VIRILIO
PAU L
O FR EIRE
FRANCESCO CARERI
4
5
resumo_ parte um
6
Frente à condição urbana sempre mutável de nossas cidades, decorrente de truques monopolistas e de um modelo homogeneizador de políticas públicas opressoras que priorizam sobretudo o automóvel a vida entre edifícios ou espaços camarotizados que excluem a participação das pessoas na vida pública, isto é, o empobrecimento da experiência urbana pelo espetáculo.
In the face of the ever-changing urban condition of our cities, resulting from monopolistic tricks and a homogenizing model of oppressive public policies that prioritize, above all, the automobile, life between buildings or camarotized spaces that exclude people’s participation in public life, that is, Impoverishment of the urban experience by the spectacle.
Muito se fala do cenário atual e das experiências participativas nas cidades.
There is much talk about the current scenario and participatory experiences in cities.
Práticas que reinventam modos de resistência à negação da vida urbana, e partem do efêmero, ou da informalidade, afim da retomada do sentido de pertencimento a cidade.
Practices that reinvent ways of resistance to the negation of urban life, and start from the ephemeral, or simple informality, in order to retake the sense of belonging to the city.
É preciso investigar e compreender os espaços urbanos em conflito e o seu papel na dinâmica e interação da vida nas cidades.
It is necessary to investigate and understand the conflicting urban spaces and their role in the dynamics and interaction of city life.
Construindo uma sociedade, não de relações fluidas, mas uma sociedade que possa conviver, e ter liberdade de desempenhar, um papel de reconstrução da cidade, que sempre foi, das pessoas.
Building a society, not of fluid relations, but a society that can live, and be free to play, a role of rebuilding the city, which has always been of people.
1
texto da autora
2
tradução livre da autora
HORIZONTAL
Segundo enfatiza, David Harvey, Lefebvre estava certo ao insistir, que a revolução tem de ser urbana, no sentido mais amplo deste termo, ou nada mais. A liberdade de construir e reconstruir a cidade e a nós mesmos é, um dos mais preciosos e negligenciados direitos humanos.
PARTE UM
HARVEY, David. Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. Editora Martins Fontes - selo Martin. São Paulo:2014
7
o automóvel o elevador e o ar condicionado Através da aleatorização da circulação, do curto-circuito da distância, da artificialização dos interiores, da redução da massa, do estiramento das dimensões e da aceleração da construção, o elevador, a eletricidade, o ar condicionado, o aço e por fim, as novas infraestruturas formaram uma agregação de mutações que induziram outras espécies de arquitetura. 1
estabelecer relações com a cidade clássica. “A <<arte>> da arquitetura é inútil.” 6 Essa é crítica de Koolhaas a respeito das transformações da cidade, que passaram a ser uma acumulação de mistérios. Rem Koolhaas, constrói a teoria de
“Bigness” no livro “S, M, L, XL”, 7 e no quinto ponto, afirma que “A grandeza não é mais parte de qualquer tecido urbano, ela existe; quando muito, coexiste. O seu subtexto é que se lixe o
contexto”. 8 Neste trecho, a grandeza definida por Koolhaas, pode ser entendida em suma como sendo o crescimento massivo, a
É necessário fazermos uma viagem
dualidade público/privado, os grandes
século
edifícios, os condomínios fechados, os
XIV, para entendermos as condições
espaços gradeados e subjugados por
que definiriam a nossa contemporanei-
interesses patrimonialistas e privatistas.
no
8
Isso porque, a grandeza, é incapaz de
tempo
até
o
início
do
Concomitantemente
dade através do advento dos proces-
a
esta
sos de globalização e de mediatização
definição, a grandeza aqui, é acerca dos
cultural, que modificaram, portanto, o
grandes edifícios e arranha-céus, que
meio social e urbano.
competem com a cidade e se tornam a
Há deveras sentido na dicotomia en-
cidade. Usando um exemplo quase naïf, esses
dinossauros. Essa analogia 2 feita por
edifícios se tornam uma fusão de serviços
Koolhaas, trata da grandeza como sen-
de comunicação, apenas por sua escala.
do a arquitetura derradeira que está no
Por estarem ali também, como marcos
caminho da extinção.
na paisagem para seus transeuntes, que século
podem se orientar em seus percursos
19, aconteceram as descobertas concei-
apenas por localiza-los, dependendo da
tuais e tecnológicas estruturantes, que
perspectiva.
Sintomaticamente
no
condicionaram as relações espaciais e
Sendo assim, a grandeza aqui não faz
sociais, que desencadearam o denomi-
parte de um tecido urbano, mas partici-
nado BIG BANG arquitetônico. 3
pa da cidade distintamente.
Os efeitos dessas transformações afe-
Entretanto, esta definição de Koolhaas
taram poderosamente a organização da
não
vida humana. 4
que, não são todos os edifícios que
O automóvel revolucionou o conceito
pode
ser
generalizada
dado
podem ser definidos a partir de uma
de distância
visão catastrofista sobre estes, sendo
5 o elevador tornou irrelevante o concei-
apenas uma acumulação medíocre em
to do repertório clássico da arquitetura
um tecido urbano que não transmitem
no sentido de composição, escala, pro-
propósito algum. Ainda assim, existem
porção, isso através do uso de ligações
os edifícios que somam com o tecido urbano e tem o potencial de requalificar ou ativar um espaço, antes esquecido.
mecânicas ao invés de arquitetônicas.
ÃO
AÇ
R ST
ILU
tre o alpinista do monte Evereste e os
RA
TO
EM TA Y. DE N A ” O M NGR EN V R I E E ST S AM RZ HE R K A “T O W M CH DIO . S S Ó ” CO MA PIS LD U O E FE N EIN “S
D
U AA
O AUTOMÓVEL, O ELEVADOR E O AR CONDICIONADO
9
1
KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre a cidade. São Paulo, GG, 2013.
2
Ibidem
4
BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era da máquina. Editora Perspectiva. São Paulo, 2006.
5
BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo, Perspectiva, 1994.
6
KOOLHAAS. Op. Cit
7
KOOLHAAS, Rem;MAU, Bruce. “S, M, L, XL”, “BIGNESS” - MONACELLI PRESS, 1995.
8
KOOLHAAS. Op. Cit
3 Ibidem
a mordenização do espaço O impacto da revolução tecnológica, a partir do século 19, por meio do telégrafo, eletricidade, expansão das linhas férreas, indústrias químicas, biológicas e metalúrgicas, foram capazes de alterar os hábitos e costumes cotidianos tal como o ritmo e intensidade dos transportes, das comunicações e do trabalho. 1 Surgia, portanto, uma nova sociedade, advinda do novo cenário da construção civil e das grandes feiras mundiais com suas belas construções e exposições que celebravam o globalismo, o progresso econômico, científico e tecnológico.
10
Além de testar o uso de novos materiais para a concepção do espaço urbano que resultou numa nova sociedade, modificada com o advento do vidro e do aço. 2 Essa evolução na construção relativa aos novos materiais e tecnologias, atingiram o solo urbano, que passou a ter valor de mercado. As grandes cidades cresciam de forma desproporcional, desse modo, se intensificou os problemas sociais de habitação, tráfego, higiene e abriram novas possibilidades de escolha na ordenação de nosso destino coletivo. 3 Dessa forma, a urbanização tendia a fazer adaptações, uma urbanização com princípios de interesse, a arquitetura ficava na posição dos criadores de Frankenstein, 4 e definia novos espaços dando importância a outros pontos da cidade. A reforma haussmaniana, visava construir um urbanismo racionalista desconsiderando o aspecto histórico e visando apenas a técnica. David Harvey, coloca que Haussmann “entendeu claramente que sua missão era ajudar a resolver o
problema do capital e do desemprego por meio da urbanização”.
Desde os utopistas do século XIX,
5 Ao mes-
surgem inúmeras propostas na tentati-
mo tempo, contudo, preparou Paris para
va de transformação, para uma cidade
a modernidade, para a escala das mas-
capaz de resolver as aflições de seus
sas e para a euforia da vida metropoli-
cidadãos. O desfecho de Choay para
tana que vemos em muitas pinturas im-
o urbanismo, em seu livro <<O Urban-
pressionistas, com seus bulevares cheios
ismo>> 11 é de que não é possível su-
de gente, suas pontes metálicas, gares,
perar semelhante estados de coisas sem
trens e fumaças.
recorrer a um urbanismo menos teórico e
Segundo Neil Smith, 6 Baudelaire,
mais humano. Se por um lado as pessoas
Engels e Berman todos viam a Haussm-
eram antes, dependentes do espaço físi-
annização de Paris como um momento
co como meio de relação social, hoje ve-
definidor de uma modernidade capital-
mos diante da recriação de um espaço,
ista. 7 Modernidade plasmada na vida
o espaço reconfigurado onde as ruas e
e na imagem da própria cidade, que por
praças tornaram-se espaço das coisas e
isso mesmo pode ser considerada, se-
não das pessoas.
gundo a conhecida designação de Wal-
Como relata Guilherme Wisnik: “Não é o
ter Benjamin, como a capital do século
projeto exemplar de uma praça cívica que fará o povo se reunir, exercer a sua liberdade,discutir democraticamente as suas ideias e fazer valer a sua condição política e cidadã. Basta ver qual é o uso que têm lugares como a praça dos Três Poderes, em Brasília, e o Memorial da América Latina, em São Paulo. [...]. Sintomaticamente, essas praças se tornam lugares vazios ou residuais [..]” 12
XIX. 8 Para Lefebvre: a problemática urbana adveio do processo de industrialização, sendo o motor das transformações da sociedade que impôs à vida cotidiana contemporânea, a exacerbação das contradições no uso do espaço urbano. 9 Se trouxermos a explicação de Milton Santos sobre a forma de urbanização no Brasil,
10
historicamente falando,
ela é segregadora. Com a rápida modernização, mediatização do espaço, e a dificuldade de acompanhar o ritmo do crescimento e da densidade populacional houve um desbalanceamento no urbanismo o que se resultou em projetos de baixa qualidade, muita das vezes sem infraestrutura adequada, desprovidos de urbanidade e desarticulados muitas das vezes do tecido urbano consolidado. Levando a dispersão e segregação <<gentrificação>> onde, as pessoas de maior poder aquisitivo, moram em áreas que são determinadas pelo mercado onde recebem politicas públicas de infraestrutura adequada e os pobres comumente
nas
regiões
periféricas,
vivem uma falta de interesse dos governantes.
Com o fim do primeiro milênio, a vivência cotidiana imediatista, levou as cidades a uma distorção, reorganização e expansão do espaço. O todo e o real deixaram de existir em detrimento homem-máquina, e o espaço se rendia às novas tecnologias; aos engenheiros, empreiteiros, fabricantes; aos políticos, aos outros. Isto é, uma nova onda de modernização que engoliria os vestígios do passado e mudaria definitivamente a nossa relação com o urbano. 13 Em suma, o urbanismo é a tomada de posse do ambiente natural e humano pelo capitalismo que, ao desenvolver sua lógica de dominação absoluta, pode e deve agora refazer a totalidade do espaço como seu próprio cenário. 14 O cenário aberto ao efêmero, na qual, a sensibilidade em relação ao es-
A MORDENIZAÇÃO DO ESPAÇO paço, através de experiência participativa nas cidades, começava a existir, a princípio pelas práticas das errâncias urbanas,
exemplificada
aqui
pelo
histórico das erranciâs urbanas, com das figuras perambulantes, como reação aos processos de transformações no meio urbano e social. Cenário também do
flâneur. Em seu pequeno texto << Paris, capital do século XIX >> Walter Benjamin observa que, “Até 1870, as carruagens dominavam a rua. Era demasiado aper-
gens, que ofereciam abrigo do mau tem-
FL
por isso flanava-se sobretudo nas passa-
ÂN EU R
tado andar sobre as calçadas estreitas e
po e do trânsito”. 15 O flâneur era o observador da cidade e passeava devagar diante das vitrines, a partir das experiências ao perambular pela cidade, exprimia as transformações da citadina.
1 SEVCENKO, Nicolau. História da vida privada no Brasil. Vol. 3. Companhia das Letras. São Paulo, 1998. 2 HARVEY, David. Condição pós-moderna. Edições Loyola. São Paulo, 1989. 3 BANHAM, Reyner. Teoria e projeto na primeira era da máquina. Editora Perspectiva. São Paulo, 2006. 4 KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre cidade. São Paulo, GG, 2013. 5 BENEVOLO, Leonardo. História da arquitetura moderna. São Paulo. Perspectiva, 1994. 6 HARVEY, David. Paris, capital da modernidade. Editora Boitempo. São Paulo, 2014. 7 SMITH, Neil. The New Urban Frontier: Gentrification and the Revanchist City. London and New York, 1996. 8 NOVAES, adauto. Mutações: fontes passionais da violência. Sesc Edições. São Paulo, 2015. 9 LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. Centauro Editora. São Paulo, 2013. 10 SANTOS, Milton. A urbanização Brasileira. Editora EDUSP. Edição: 5ª. São Paulo, 2013. 11 CHOAY, Françoise. O urbanismo. 5ª ed. São Paulo. Perspectiva, 2003. 12 WISNIK, Guilherme. A pós-cidade. BAMBOO. São Paulo, nº 37, 2014. 13 KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre cidade. São Paulo. GG, 2013. 14 DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Tradução de Estela dos Santos Abreu, Rio de Janeiro. Contraponto, 1997. 15 BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte/São Paulo. Editora UFMG/Imesp. 2007 [1935].
11
a cidade parque-temรกtico
12
Agora já podemos sair do cinema...
A cidade já não existe.
lixo pisado. Que alívio... está terminado. Está é a história da cidade.
silêncio é reforçado pelo vazio: a imagem mostra tendas vazias, alguns restos de
imagem, provavelmente queixando-se, mas infelizmente não o ouvimos. Agora o
entre eles. O centro esvazia-se; as últimas sombras saem do enquadramento da
observador já não registra apenas seres humanos, mas começa a notar os espaços
as mulheres, agora mudos, mas visivelmente agitados retrocedem aos tropeções: o
–– silêncio, um alívio abençoado –– e fazemos rodar o filme para trás. Os homens e
multidão agitada torna-se oceânica. As ondas rebentam. Agora cortamos o som
Animais berram. Estátuas caem. As mulheres gritam –– ameaçadas? Exaltadas? A
calma. As crianças correm como loucas por entre uma floresta de pernas e túnicas.
nosos são perseguidos (ou ajudados?) pela multidão. Os sacerdotes rezam e pedem
mercadorias? Anunciando futuros? Invocando deuses? Bolsas são roubadas, crimi-
e punhos, derrubando bancas, pisando animais.... As pessoas gritam. Vendendo
os postiços pingando cola, apinhando-se no centro da imagem, agitando varapaus
gesticulando, revirando os olhos, iniciando brigas, rindo, coçando as barbas, com
com trapos de cores vivas, peles e túnicas de seda entram na imagem a gritar,
Santa. Uma cena de mercado: da esquerda para a direita, figurantes vestidos
Imaginemos um filme de Hollywood sobre a bíblia. Uma cidade algures na terra
KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre a cidade. São Paulo, GG, 2013
A CIDADE PARQUE-TEMÁTICO
13
A CIDADE PARQUE-TEMÁTICO O que se entende deste epílogo de
lugar se torna um cenário de pouco interesse,
Koolhaas é que, quando deixamos de
um local de passagem. Visando melhorar
perceber as pessoas e olhamos só para
a qualidade urbana, gerando a valorização
a cidade, a preocupação com as massas,
resultando na gentrificação, com a expulsão
a cidade desaparece, a vida na cidade é
dos mais pobres das áreas de intervenção.
anulada. Representa o período de tran-
As propostas preservacionistas para os
sição do clássico para modernização, a
centros históricos só provocam uma mu-
cidade que perde a identidade tal como
seificação e patrimonialização e também o
um filme de Hollywood que pode pro-
surgimento da cidade-parque-temático e
duzir uma identidade todas as manhãs.
de uma Disneylandização urbana, exemplos
As pessoas são a identidade do lugar que habitam.
14
típicos da cidade-espetáculo.
2
Jacques,
observa que a espetacularização das cidades
No livro Cidades Para Pessoas, Jan Gehl
contemporâneas, está diretamente relaciona-
argumenta a importância da diversidade
do a uma diminuição da participação popu-
de atividades na dinâmica das cidades
lar, mas também da própria experiência física
que adotam um planejamento segre-
urbana enquanto pratica cotidiana, estética
gador que não oferece vida as ruas:
ou artística. 3
Ideologias dominantes de planejamento rejeitaram o espaço urbano e a vida na cidade, como inoportunos e desnecessários. O planejamento dedicou-se intensamente ao ideal de desenvolver, um cenário racional e simplificado para as atividades necessárias. O aumento do tráfego de automóveis tirou de cena a vida na cidade ou tornou completamente impossível os deslocamentos a pé. As funções comerciais e de serviços concentraram-se, principalmente, em grandes e fechados centros de compras. 1 A cidade contemporânea sofre uma crise de identidade; a crise da noção de cidade. Basta ver as eventuais tentativas de homogeneização do espaço promovidas sem a opinião pública, na qual propostas urbanísticas tecnocráticas, pensadas unicamente nos setores dominantes, e que não atendem democraticamente as demandas e necessidades reais de seus habitantes, são implementadas. O modelo homogeneizador contemporâneo, numa lógica de cidade neoliberal que exclui o habitante local, o pedestre, e dá lugar ao uso progressivo e massivo do automóvel, aos comércios, aos projetos de revitalização urbana, que apagam a memória local e o
Qual seria o antidoto ao espetáculo urbano? Jacques coloca << a participação, a experiência efetiva e a vivência dos espaços urbanos >>. O espaço está em constante transição que modificam os grandes setores da vida urbana. As novas tecnologias, ligadas ao ciberespaço também atuam no espaço como um caminho alternativo a espetacularização. 4
As novas tecnologias também poderiam ser usadas neste sentido – que seria o inverso de suas formas mais frequentes de utilização hoje, ligadas ao ciberespaço etc. –, ou seja, a partir da própria experiência física da cidade, potencializando esta experiência sensorial, provocando novos tipos de errâncias urbanas, outras maneiras de se errar pelas cidades e, sobretudo, mostrando novos caminhos alternativos à espetacularização urbana”. 5
A CIDADE PARQUE-TEMÁTICO
15
1 GELH, Jan. Cidade Para Pessoas. Perspectiva, São Paulo; 1ª edição, 2013 2 JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 093.07, Vitruvius, fev. 2008 <http://www. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/165>. 3 JACQUES, Paola Berenstein. Errâncias a arte de andar pela cidade. Breve histórico das errâncias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 053.04, Vitruvius, out. 2004 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.053/536>. 4 idem. 5 ibdem.
16
DUTY-FREE E O ESPAÇO DEMOCRÁTICO Essa frase de Koolhaas em Junkspace
Os atos de ocupação que proliferam
(espaço-lixo)1, se refere a modernização
pelo Brasil inteiro [...] de certa forma, eles
Desse modo, os duty-frees repre-
urbana, que tinha como programa ra-
encenam a nova sociedade que gostari-
sentam a nossa cidade hoje, tendo em
cional, partilhar as bênçãos da ciência,
am de criar, vivem a utopia que desejam
vista que os interesses das cidades estão
universalmente, e a preocupação com a
sem a deslocar para o horizonte distante
sendo reconstruídas em planos homoge-
massa nos impediu de ver a arquitetura
<<encenação e sonho compartilham da
neizadores onde edifícios históricos se
do povo. 2
mesma matéria espectral da utopia>>.
tornam condomínios da Disney, fechados
(Informação Verbal ) 7
que oferecem desde espaço gourmet a
Hodiernamente vemos áreas
mo na cidade. 10
configuradas, muita das vezes invisíveis
De modo geral, os interesses do
quadra de tênis, e os espaços públicos
aos olhos dos transeuntes, até alguém ir
capital não são criados a partir de in-
ficam cada vez mais sem vida pública.
lá e propor alguma alternativa que con-
teresses comuns ou da livre associação,
Esta reflexão nos leva ao termo, gentrifi-
figure aquele espaço como um lugar.
eles giram sob uma lógica em torno do
cação, um discurso corrente inserido so-
Normalmente, os moradores ou fre-
viário, politicas urbanas voltadas para o
bre espaços públicos. A definição clássi-
quentadores desse local, criam um ambi-
desenvolvimento econômico e geração
ca e estrita do termo, <<gentrificação>>,
ente heterogêneo, tanto de classes como
de empregos ou de políticas sociais,
foi inventado pela socióloga Ruth Glass,
de etnias, atividades, uma vida urbana
econômicas marginais, que acabam com
em Londres em 1964:
intensa. 3
os espaços verdes da cidade ou a cama-
“One by one, many of the working-class quarters of London have been invaded by the middle classes—upper and lower. Shabby, modest mews and cottages— two rooms up and two down—have been taken over, when their leases have expired, and have become elegant, expensive residences. Larger Victorian houses, downgraded in an earlier or recent period— which were used as lodging houses or were otherwise in multiple occupation— have been upgraded once again.... Once this process of “gentrification” starts in a district it goes on rapidly until all or most of the original working-class occupiers are displaced and the whole social character of the district is changed.” 11
A qualidade de vida em uma cidade é
rotização dos lugares de convivência. 8
definida por quem habita nela, a cidade
As cidades se tornam difíceis para
é as trocas diárias entre seus habitantes.
caminhar, permanecer, pro encontro,
4
sofremos com a falta de segurança todos
Quando se tem um espaço, cuja a
atividade exercida pelas pessoas como
os dias.
os movimentos populares, coletivos,
Alguns desses espaços, expandidos
pessoas que definem o espaço de uma
com a economia, são dependentes do in-
forma única, isso é algo que torna aquele
teresse do capital privado, que se dá em
espaço potencial para outras atividades.
função do empretenimento, 9 o consu-
5
mo e o entretenimento, o que intensifica Então, esse espaço é percebido, seja
pelo
capital
imobiliário,
a segregação social.
burocratas,
Contudo, esses locais se tornam um
funcionais, pragmáticos ou por algum
dia desnecessários e necessitam de pro-
truque monopolista, que tem como
gramas para sobreviver, logo esse es-
foco, o interesse, visando o lucro. Vis-
paço terá outra função, outro público.
to que o capital depende da inventivi-
Em vez de vida pública, espaço público.
dade de uma população para fazer algo
Usando uma analogia metafórica, po-
diferente que atraia uma classe, que nor-
demos dizer que os DUTY-FREES, são a
considerarmos o fato de que esta-
malmente são aquelas de classe média
sintomia da pós-cidade.
mos num país de mercado e cidades
que despreza as ruas em favor da sala de jantar e do quarto. 6 Como resposta, esse espaço é higienizado, antigos moradores ou frequentadores, são eliminadas e deslocados para outras áreas, com a especulação imobiliária, o espaço se torna agora impenetrável financeiramente para os que estes, os de menor poder aquisitivo podem pagar.
Localizados nos aeroportos, os duty-frees foram criados para um único objetivo: o consumo rápido e prazer instantâneo. Munidos por itens, associados ou não com as viagens, tanto do híper-local, no sentido que encontramos coisas que não encontraríamos em nenhum outro lugar, como do híper-global no sentido que estamos cercados de inúmeras opções de coisas que não encontramos nem mes-
Desse modo, entende-se que a gentrificação
é
algo
inexorável,
se
capitalistas . Ao que se trata a revitalização dos espaços Koolhaas diz que <<restaurar, reconfigurar, recombinar, renovar, reformar, rever, recuperar, redesenhar, retornar [...] refazer, respeitar, rentabilizar: os verbos que começam por [re] produzem espaço-lixo>>. 12 Isto é, qualquer projeto de requalificação urbana será acusado de projeto higienizador do local.
17
DUTY-FREE E O ESPAÇO DEMOCRÁTICO A gentrificação é a implicação econômica e ideológica no meio urbano, e seu grande problema é a presença ou não do estado para garantir que nesse processo de gentrificação o direito dos já estavam ali e são a identidade daquele lugar, seja respeitado. Seja por políticas públicas de regulação urbanística que visem fixar alugueis de quem já mora lá ou fazendo com que a heterogenia social e urbana exista no local. (Informação verbal) 13 O território urbano, hoje cada vez mais homogeneizador, produtor de desigualdade, que segrega e exclui a convivência social na urbe e o tempo-espaço das cidades, gera cada vez mais violência nas periferias e falta de identidade. Milton Santos ressalta o uso do território urbano 14 como sendo o próprio objeto de análise social. Neil
18
Smith
afirma
que
a
gentrificação
representa não apenas a ida de uma classe de renda mais alta a uma determinada região, mas, fundamentalmente, a ida do capital para esta região. A gentrificação, portanto, é consequência e reforçadora dessas reestruturações, é sua face física e um dos principais vetores de reestruturação urbana. 15 Dito isso, em meio ao caos urbano regido por essas forças ingovernáveis, o público faz eco pelo ideal aparentemente comum e autóctone do sonho coletivo de uma cidade feita << para pessoas >>, na intenção de se reverter as decisões homogenizadoras dos governates. Nesse contexto, Boes coloca a real vida humana como principal antídoto a segregação: Essa necessidade de se evitar
a alienação da existência individual e coletiva, o território é a fluidez da vida real humana, e de que hoje comporta << transporta >> as redes de regras e normas para o processo de reconstrução de estigmas. Isso é a análise separada da dualidade entre pobre e rico. A formação de que a Cidade sugere fronteiras de separação é rompida com a sua utilização por todas as “classes” no deslocamento integral, desde idas ao trabalho até o uso de parques, a mobilidade social é ampliada na Modernidade Tardia. 16
DUTY-FREE E O ESPAÇO DEMOCRÁTICO
19
1 KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre cidade. São Paulo, GG, 2013 2 HARVEY, David. Urban Revolution: An Interview With David Harvey. de maio. 17 3 Ibdem, 4 Ibdem, 5 Ibdem, 6 Ibdem
Brissenden, John, Lewis, Ed. New Left Project. Acesso em: 22
7 NETO, Moysés Pinto. Política no fim do mundo. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 08, página 42 - 51, 2015. Acesso em: 12 de abr. 2017 8 KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre cidade. São Paulo, GG, 2013 9 Idem 10 SMITH, Neil. The New Urban Frontier: Gentrification and the Revanchist City. London and New York, 1996. 11 Idem 12 KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre cidade. São Paulo, GG, 2013 13 PONTO DE VISTA: Minhocão. Direção de Ingrid Mabelle. Produção de Caroline Carvalho; Fábio Santana; Ingrid Mabelle. São Paulo: [s.n], 2015. Youtube. jan. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FZrgLzHoKeU>. Acesso em: 17 mar. 17. 14 SANTOS, Milton. O retorno do território. Território: globalização e fragmentação. São Paulo, Hucitec, 1998, p. 15. 15 AS FORÇAS QUE DISPUTAM O CENTRO DE SÃO PAULO: Entrevista com Ermínia Maricato. Produção e Edição de Sabrina Duran e Fabricio Muriana. Vinheta de Ivo Duran. Identidade Visual de Pedro Ishikawa. São Paulo: [s.n]. Youtube. set. 2013. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=NAlOMM0qovo>. Acesso em: 17 mar. 17. 16 BÖES, Guilherme Michelotto. Do pixo ao corpo nu. Errâncias nos espaços da cidade. Arquitextos, São Paulo, ano 17, n. 197.00, Vitruvius, out. 2016 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.197/6251>. Acesso em: 17 mar. 17
20
21
a cidade como playground
22
A CIDADE COMO PLAYGROUND “As figuras perambulantes descobrem no caminhar um componente onírico e surreal, e definem essa experiência como uma deambulação, uma espécie de escrita automática no espaço real, capaz de revelar as zonas inconscientes e o suprimido da cidade”. CARERI, Francesco. Walkscapes. O caminhar como prática estética. GG São Paulo, 2013.
As nossas cidades são uma miscelânea que funde o elevado com o mesquinho, o público com o privado, o direito com o torcido, o saciado com o esfomeado, para fornecer um mosaico ininterrupto do permanente desconexo. KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre a cidade. São Paulo, GG, 2013
Como lido anteriormente, entende-se que as cidades são o produto de uma rápida expansão. Tantas delas com políticas públicas que excluem a vida das pessoas das ruas e tornam os espaços tediosos, além de criarem uma produção de parafernálias de ligação e parques temáticos. Nos dias atuais, enxergamos uma urgência da importância da diversidade de atividades na dinâmica das cidades. No ponto de vista sociológico, práticas alternativas urbanas são o antidoto que supera a segregação modernista. O corpo como resistência à negação da vida urbana. Segundo a qualidade de vida nas cidades Sennett apud Weiland 2 colocam que: <<A qualidade de vida numa cidade é boa quando seus habitantes são capazes de lidar com a complexidade.>> Por outro lado, a qualidade da vida nas cidades é ruim quando seus habitantes são capazes de lidar apenas com pessoas como eles mesmos. Deste modo, quanto mais heterogênea a cidade for menos segredada ela será. Ademais, a experiência urbana no sentido de pertencimento ao espaço urbano, abordados por Paola Berenstein Jacques em Corpografias Urbanas 3 permanece no próprio
corpo daquele que a experimenta. Que é o que ela chama de corpografia urbana 4 decorrente das errâncias urbanas. De acordo com a autora, os novos espaços públicos contemporâneos, cada vez mais pri-
manifestos. 8 Estes perambulantes podem ser vistos em três momentos de passagem da história da arte e do urbanismo, em uma mesma cidade, Paris.
vatizados ou não apropriados, nos levam a
Já mencionado anteriormente, o flâneur
repensar as relações entre urbanismo e corpo
benjaminiano, analisado nos anos 1930 e vis-
entre o corpo urbano e o corpo do cidadão.
to em Baudelaire, com o período das flanân-
Isto é, a pratica da corpografia 5 bem como
cias, criticava a primeira modernização das
experiência urbana, que acaba sendo o an-
cidades de meados e final do século XIX até
tidoto da espetacularização das cidades, na
início do século XX.
qual, quem pratica, utiliza o próprio corpo enquanto resistência. Em Walkscapes,
A paisagem onírica de Paris do flâneur é apagada com a modernização de Haussma-
6
Careri apresenta o
caminhar como uma prática urbana que nos permite habitar o mundo.
niana. 9 Para Walter Benjamim, o flâneur era a figura essencial do espectador urbano moderno, capaz de questionar a construção dos es-
“Modificando os significados do espaço atravessado, o percurso foi a primeira ação estética que penetrou os territórios do caos, construindo aí uma nova ordem sobre a qual se tem desenvolvido a arquitetura dos objetos situados.” CARERI, Francesco. Walkscapes. O caminhar como prática estética. GG São Paulo, 2013.
paços de forma crítica e relatar a transformação da paisagem contemporânea em espaço transitório, através de suas flanâncias urbanas, percorrendo os sentidos das cidades. 10 Já os espaços percorridos pelos dadaístas eram lugares banais da cidade, naturais e vazios. Que aconteciam por meio de ex-
A paisagem atual, seja a paisagem real ou
cursões urbanas, deambulações e derivas
onírica, faz parte da vida do homem citadi-
que atravessaram todo o século como forma
no que é incorporada na
de antiarte. As deambulân-
identidade da cidade como
cias dadaístas, fizeram parte
meio de pertencimento nas
das vanguardas modernas,
relações sociais, isto é, a
mas também criticou algu-
imagem da cidade definida
mas de suas ideias urbanísti-
no cotidiano dos habitantes que nela residem
cas do início dos CIAMs. 11
é modificada a partir de experiências e inter-
Hoje, vemos esses espaços considerados
pretações que o individuo tem com a cidade.
banais sendo privilegiados por movimentos,
Nessa perspectiva, ao longo da história
coletivos como forma de experimentar a ci-
do urbanismo, figuras perambulantes trans-
dade esquecida. Definido por Rosa 12 como
passaram o tempo contíguos ao contexto
“Espaços disponíveis, muitas vezes disfuncio-
histórico de reformas urbanas modernizado-
nais, são hoje, espaços de testes e zonas ex-
ras e segregadoras, em modo de resistência.
perimentais para o futuro da cidade”.
7
Se levarmos o carnaval de rua do Brasil para É nesse contexto que surgiram as errân-
além do trio elétrico, ele é um potencial cul-
cias urbanas na tentativa de critica as transfor-
tural e turístico extraordinário, e a tentativa
mações urbanas. Assim os errantes, aborda-
exitosa de exercício ao direito à cidade, visto
dos por Careri, com as caminhadas e o espaço
que muitas das vezes, acontece em lugares
urbano como palco de suas experiências e
esquecidos das cidades ou pouco convida-
23
nava o conjunto de <<Capas>> <<Tendas>>
Isto é, as pessoas estão cada vez mais
e <<Estandartes>> mas sobretudo <<Ca-
conscientes de que a rua é delas, e de que er-
pas>>, feitos de tecido ou qualquer outro
rar pela cidade é um enfrentamento proposi-
material encontrado no cotidiano os quais
tivo ao urbanismo moderno. E nós constroem
deveriam ser carregados ou vestidos em
entre si o sentimento de pertencimento a ci-
situações diversas de movimento corporal
dade. 13
para existirem como trabalhos. 18 Oiticica
Nas palavras de David Harvey, o direito
define o Parangolé como a emancipação do
à cidade não é um direito individual de ter
corpo, o corpo participaria da obra deixando
acesso aos recursos urbanos mas um direi-
de ser apenas expectador. pação do corpo,
to coletivo de é um direito de mudar a nós
o corpo participaria da obra deixando de ser
mesmos, mudando a cidade. 14
apenas expectador.
A proposta dos situacionistas 15 eram derivas, a arquitetura deveria se aproximar da natureza dos acontecimentos, os happenings. Como antidoto ao espetáculo, eram realizadas a construção de situações que eram feitas através da psicogeografia, que pretende
24
analisar os efeitos psíquicos que os contextos urbanos refletem no comportamento afetivo dos indivíduos. 16 Na década de 1930, Flávio de carvalho considerado
pioneiro
das
performances
no Brasil, influenciado nas performances dadaístas e surrealistas, experimentou sair andando pelo centro de São Paulo trajes de gala tropical em direção oposta de uma procissão religiosa na intenção de observar o efeito que o seu próprio ato ímpio causaria na fisionomia dos crentes, o que ocorreu foi uma revolta contra ele que fugiu e foi preso. A explicação dele para a polícia era de que aquilo era uma “experiência sobre a psicologia das multidões”. O jornal O Estado de São Paulo, no dia seguinte, apontou o ato como <<Uma experiência sobre a psicologia das multidões resultou em sério distúrbio>>. 17 A proposta do Parangolé de Hélio Oiticica aconteceu na mesma linha que as experiências de Carvalho, no sentido que ambas as experiências na analogia entre arte e vida cotidiana, passam tanto por questões corporais como urbanas.
CADA DIA” (20)
nismo pedestre.
SÃO O PÉ CALÇADO PRONTO PARA O DELIRIUM AMBULATORIUM RENOVADO A
desenvolver os Parangolés, termo que desig-
VÊ-SE Q ELAS NÃO SÃO BOBAGENS NEM TROUVAILLES SEM CONSEQUÊNCIA
dos da cidade é o que retomada o protago-
AS RUAS E AS BOBAGENS DO NOSSO DAYDREAM DIÁRIO SE ENRIQUECEM
Oiticica, a partir de 1964 começa a
“POETIZAR O URBANO
tivos, e esse acesso a esses lugares esqueci-
Em MITOS VADIOS 19 de 1978, apresentou uma de suas últimas derivas urbanas, e escreve na parte final do texto-release:
A CIDADE COMO PLAYGROUND
A CIDADE COMO PLAYGROUND
25
GUY DEBORD, THE NAKED CITY, 1957
A CIDADE COMO PLAYGROUND
OS PARANGOLÉS (1964) DE HÉLIO OITICICA
26
NILDO DA MANGUEIRA VESTE P15 PARANGOLÉ CAPA 12, EU INCORPORO A REVOLTA (1967) FOTO: CLAUDIO OITICICA.
A CIDADE COMO PLAYGROUND
CESAR OITICICA FILHO. HÉLIO OITICICA. PELÍCULA, 2013. DETALLE DE PAULO ROBERTO MARTINS Y JORGE SIRITO VIVES. PÚBLICA. PELÍCULA, 1968
CAETANO VELOSO VESTE O PARANGOLÉ DE HÉLIO OITICICA, 1968 FOTO: GERALDO VIOLA.
27
A CIDADE COMO PLAYGROUND Se trouxermos a explicação de Jacques 21
Podemos complementar este pensamento
sobre o texto de Oiticica:
com a frase de Jacques :
“Talvez a maior crítica dos errantes urbanos aos urbanistas modernos, tenha sido exatamente o que Oiticica resumiu de forma tão clara em “poetizar o urbano”. Os urbanistas teriam esquecido, diante de tantas preocupações funcionais e formais, deste potencial poético do urbano, algo tão simples, porém imprescindível, principalmente para os amantes de cidades”.
Os praticantes ordinários das cidades atualizam os projetos urbanos e o próprio urbanismo, através da prática, vivência ou experiência dos espaços urbanos. Os urbanistas indicam usos possíveis para o espaço projetado, mas são aqueles que o experimentam no cotidiano que os atualizam. São as apropriações e improvisações dos espaços que legitimam ou não aquilo que foi projetado, ou seja, são essas experiências do espaço pelos habitantes, passantes ou errantes que reinventam esses espaços no seu cotidi-
JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Breve histórico das errâncias urbanas. Arquitextos, São Paulo, 2015.
experiências vinculados as práticas das er-
ano. 24
28
Quanto a isso, o individuo <<ou praticantes
Em 1947, um playground serviu como
das cidades, por assim dizer>> no sentido de
experimento espacial em Berrelmanplein,
experiência corporal, se apropriam do espaço
Amsterdã. O arquiteto holandês Aldo van
urbano e dão vida e corpo para a cidade, por
Eyck constrói mais de 700 playgrounds em
percorre-los. 22 É o que vem acontecendo
pequenos terrenos urbanos não utilizados da
no Brasil e no mundo, definido por Rosa 23
cidade, afim de conceber esses espaços tem-
como praticas urbanas criativas:
porários como medida emergencial, de forma em oposição à concepção funcionalista.
Cada vez mais, as pessoas em todo o mundo estão envolvidas na melhoria dos ambientes urbanos em que vivem. Eles atuam em resposta a questões urgentes e necessidades convincentes como abrigo, segurança, emprego, saúde e educação. As iniciativas comunitárias indicam a capacidade dos cidadãos de apresentarem soluções para os desafios. Pela vida cotidiana, e usam a criatividade para transformar e multiplicar os recursos existentes. Hoje vemos movimentos sociais voltados para a questão urbana, uma explosão forte de ações táticas de alternativas urbanas que ativam espaços e instigam a uma sociedade mais democrática e participativa. São os coletivos, grafiteiros, skatistas, artistas que, ao propor para a cidade, uma nova forma de usar e reinventar o espaço, geram um impacto visível criando espaços coletivos de maneira coletiva na cidade. Espaços projetados que só existem por meio dos que habitam nele.
25 Tendo em vista a destruição que a 2º Guerra causou na cidade que estava em grande parte destruída, e sofria com a falta de habitação, de equipamentos de uso coletivo e serviços. Os desenhos dos playgrounds eram adaptados ao tecido urbano existente e mantido as found. O próprio READY-MADE urbano
dadaísta
propunha
intervenções
artísticas que aconteciam apenas no espaço real cotidiano. Segundo Rosa 26 , os playgrounds não eram apenas objetos a serem escalados, mas um lugar de encontro, um espaço lúdico para perceber o próprio cotidiano de forma nova, repropor a relação com a vizinhança, a partir de uma natureza intersticial comum. Os situacionistas já haviam proposto as derivas com sentido similar, a experimentação do comportamento da vida real que pode ser definida como “lúdico-construtivo” vinculado a realização de um modo alternativo de habitar a cidade.
Os espaços das cidades construídos como râncias urbanas, através da própria experiência ou prática da cidade, são uma expressão de um processo que tinham como finalidade responder os questionamentos a respeito do sentido das cidades. Cidades reabilitadas pelas ações dos artistas, poetas, filósofos, que veem a cidade como um campo de investigações artísticas aberto a outras possibilidades sensitivas às transformações contemporâneas enquanto sintomas característicos de uma sociedade em mutação. 27
A CIDADE COMO PLAYGROUND
29
A CIDADE COMO PLAYGROUND
PLAYGROUND NA LAURIERSTRAAT, AMSTERDÃ NOS ANOS 1960. UM DOS 700 QUE ALDO VAN EYCK PROJETOU PARA A CIDADE. (PHOTO: © ED SUISTER, COURTESY AMSTERDAM CITY ARCHIVES)
30
IMA DA AMS
PLAYGROUNDS DE PREVI, ALDO VAN EYCK, LIMA PERU, 1974
AGEM DE ANTES E DEPOIS DO PLAYGROUND NA CALÃ&#x2021;ADA CIDADE EM VAN BOETZELAERSTRAAT, STAATSLIEDENBUURT STERDAM-OUDWEST, 1961, 1964.
A CIDADE COMO PLAYGROUND
31
A CIDADE COMO PLAYGROUND
ALDO VAN EYCK, AMSTERDAM PLAYGROUND.
32
ALDO VAN EYCK SCHOOL
ALDO VAN EYCKâ&#x20AC;&#x2122;S PLAYGROUNDS IN THE IMAGE OF THE CHILD AHMED. PRINCETON UNIVERSITY SENIOR THESES, 2013
A CIDADE COMO PLAYGROUND 1 KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre cidade. São Paulo, GG, 2013 2 WEILAND. Ute. Handmade Urbanism. Berlin:Jovi, 2013 3 JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 093.07, Vitruvius, fev. 2008 <http://www. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/165>. Acesso em: 17. mar. 17 4 Ver Apologia da deriva de Paola Jacques. Segundo Jacques, corpografia urbana é um tipo de cartografia realizada pelo e no corpo, ou seja, a memória urbana inscrita no corpo, o registro de sua experiência da cidade, uma espécie de grafia urbana, da própria cidade vivida, que fica inscrita mas também configura o corpo de quem a experimenta. 5 A cidade é lida pelo corpo como conjunto de condições interativas e o corpo expressa a síntese dessa interação descrevendo em sua corporalidade, o que passamos a chamar de corpografia urbana. A corpografia é uma cartografia corporal (ou corpo-cartografia, daí corpografia), ou seja, parte da hipótese de que a experiência urbana fica inscrita, em diversas escalas de temporalidade, no próprio corpo daquele que a experimenta, e dessa forma também o define, mesmo que involuntariamente. 6 CARERI, Francesco. Walkscapes. O caminhar como prática estética.GG São Paulo, 2013. 7 JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 093.07, Vitruvius, fev. 2008 <http://www. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/165>. Acesso em: 17. mar. 17 8 Idem 9 NOVAES, adauto. Mutações: fontes passionais da violência. Sesc Edições. São Paulo, 2015. 10 Benjamin, Walter. Passagens. Belo Horizonte/São Paulo: Editora UFMG/Imesp, 2007 [1935]. 11 CARERI, Francesco. Walkscapes. O caminhar como prática estética.GG São Paulo, 2013. 12 ROSA, Marcos. Revisitando os playgrounds de Aldo van Eyck, 1947 | 2011. Arquiteturismo, São Paulo, ano 07, n. 074.02, Vitruvius, abr. 2013 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/07.074/4707>. Acesso em: 17. mar. 17 13 JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Breve histórico das errâncias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 053.04, Vitruvius, out. 2004 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.053/536>.
33
14 HARVEY, David. Cidades Rebeldes: Do direito à cidade a revolução urbana. São Paulo. Editora Martins Fontes, 2014 15 Ver Apologia da deriva de Paola Jacques. Os Situacionistas fundado por Guy Debord , é definido como o que se refere à teoria ou à prática de uma construção de situações. Individuo que se dedica a construir situações. 16 JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Breve histórico das errâncias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 053.04, Vitruvius, out. 2004 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.053/536>. 17 ANJOS, Moacir dos. As ruas e as bobagens: anotações sobre o delirium ambulatorium de Hélio Oiticica. ARS (São Paulo). 2012 http://www2.eca.usp.br/cap/ars20/v10n20a02.pdf> . Acesso em:19. mar. 17
<
18 Idem 19 Evento organizado pelo artista Ivald Granato em São Paulo, intitulado Mitos vadios. Reunindo criadores residentes do Rio de Janeiro, São Paulo e Buenos Aires, a intenção era protestar coletivamente contra a realização da I Bienal Latino-americana de São Paulo, então em curso na cidade e organizada sob o polêmico tema Mitos e magia, ficando a critério de cada um dos artistas os meios ou procedimentos a serem usados na manifestação. 20 OITICICA, Hélio. Eu em mitos vadios. Ivald Granato, 24 out. 1978. 21 JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Breve histórico das errâncias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 053.04, Vitruvius, out. 2004 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.053/536>. 22 JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 093.07, Vitruvius, fev. 2008 23 ROSA, Marcos. Revisitando os playgrounds de Aldo van Eyck, 1947 | 2011. Arquiteturismo, São Paulo, ano 07, n. 074.02, Vitruvius, abr. 2013 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/07.074/4707>. Acesso em: 17. mar. 17 24 JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Breve histórico das errâncias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 053.04, Vitruvius, out. 2004 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.053/536>. Acesso em: 17. mar. 17 25 ROSA, Marcos. Revisitando os playgrounds de Aldo van Eyck, 1947 | 2011. Arquiteturismo, São Paulo, ano 07, n. 074.02, Vitruvius, abr. 2013 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/07.074/4707>. Acesso em: 17. mar. 17 26
Idem
27 JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Breve histórico das errâncias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 053.04, Vitruvius, out. 2004 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.053/536>.
MERCADO 34
SUL VIVE!
HORIZONTAL
35
PARTE DOIS
índice diplo #2
do telefone às tupperware parties das primeiras cenas de play it again sam! à descoberta do telefone que organizavam as tupperware parties, organizadas por donas de casa em seus chat rooms, nos subúrbios do pós-guerra americano, da década de 50.
a cidade é nossa! ocupe-a! 36
cenário a força coletiva que faz o mercado sul mudar de cenário.
instrumentos disponíveis. possibilidades de organização diretrizes de base ––códigos e leis –– que regem a nossa cidade e de alguma forma, se aplicam no Mercado Sul.
cidade pra quem?
panfleto
outros coletivos autogestionados
o que o mercado sul ainda quer?
movimentos autogestionados que resistem e questionam decisões tomadas, no contexto de políticas urbanas, conduzidas na direção de interesses do mercado imobiliário.
estudo de projeto para o mercado sul, em face de sua simbologia, afetividade e de seu significado cultural.
a cidade espontânea
costura estratégica
uma cidade cosmopolita que acontece todos os dias de forma intuitiva, plural e criativa.
diretrizes de projeto a partir da interpretação da qualidade e da paisagem urbana.
(–)
estratégias de ação
o fim da arte que aconteceu com uma travessia por uma autopista, e o caminhar como instrumento de estudo que resultou na descoberta do protagonista deste livro.
o mercado sul qual é o histórico do mercado sul? como surgiu o movimento cultural mercado sul vive?
memorial descritivo
resumo_ parte dois Nas últimas décadas, na frequência infrene da modernização
In recent decades, in the infamous frequency of economic and social
econômica e social das cidades, fomos submetidos a novas formas de
modernization of cities, we have been subjected to new forms of organ-
organização pertencentes ao estado, interesses da especulação imo-
ization belonging to the state, interests of real estate speculation and
biliária e empreiteiras.
contractors.
Fomos condicionados a acreditar numa única resposta certa e aceitar
We were conditioned to believe in a single right answer and to accept
que existem problemas maiores para serem resolvidos na gestão das ci-
that there are bigger problems to be solved in the management of the
dades do que arborizar uma rua ou colocar uma faixa de pedestres onde
cities than to afforest a street or put a pedestrian band where there is a
há um grande fluxo de travessias de pedestres ou aceitar a extinção das
great flow of crossings of pedestrians or accept the extinction of the free
feiras livres por mais shopping centers.
fairs for more malls
São posições como esta que nos levam a existir num mundo ditado por
These are positions that lead us to exist in a world dictated by others
outros e achar que para definir o mundo que nos cerca, seria tarefa para
and to think that in order to define the world around us, it would be a
terceiros.
task for others.
No âmbito da urbanização atual das cidades, desenvolvidas de forma pouco eficazes e pouco democráticas baseadas no neoliberalismo que nos ensina que devemos evitar nos intrometer na construção do mundo que nos cerca, porque existe uma “mão invisível”, o mercado, que assegura que chegaremos automaticamente ao “melhor dos mundos”. O que nos explicam, na impossibilidade de negar os absurdos, é que os outros caminhos são piores. Mesmo assim, no tecido urbano das cidades hoje é frequente vermos cidades complexas e violentas, a existência de vazios ur-
In the context of the current urbanization of cities, developed in an ineffective and undemocratic way based on neoliberalism, which teaches us that we must avoid intruding on the construction of the world around us, because there is an “invisible hand”, the market, which ensures that we will arrive automatically to the “best of worlds”. What they explain to us, in the impossibility of denying the absurd, is that the other ways are worse. Even so, in the urban fabric of cities today we often see complex and
banos, edificações abandonadas, poluição, congestionamentos, periferias
violent cities, the existence of urban voids, abandoned buildings, pollu-
maltratadas e ruas ociosas. Em geral ocasionados pela crise econômica,
tion, congestion, battered peripheries and idle streets. In general caused
especulação imobiliária, desindustrialização entre outros.
by economic crisis, real estate speculation, deindustrialization etc.
Nesse contexto, a parte II desde trabalho, propõe o estudo de caso sobre a ocupação Mercado Sul Vive, localizada na cidade de Taguatinga (Distrito Federal), ocupação que acontece na periferia, com um poder local símbolo de contraposição à organização hegemônica do espaço urbano do DF. O território do Mercado Sul nos conta a história de uma construção coletiva que resistiu autogestionada no decorrer de quase 6 décadas. Este trabalho pretende ser uma contribuição para o sonho coletivo da comuni-
In this context, part II, since work, proposes the case study on the occupation of Mercado Sul Vive, located in the city of Taguatinga (Federal District), an occupation that happens in the periphery, with a local power symbol of opposition to the hegemonic organization of urban space of DF. The territory of the Mercado Sul tells us the story of a collective construction that resisted self-managed over the course of almost six decades. This work intends to be a contribution to the collective dream of
dade do Mercado Sul. No projeto de diplomação II, forão realizados encon-
the community of the Mercado Sul. In the final project will be held project
tros projetuais afim de melhor definir o projeto arquitetônico/urbanístico.
meetings in order to better define the architectural / urban design.
1
texto da autora
2
tradução livre da autora
37
38 “As cidades são capazes de proporcionar algo para cada um de seus habitantes, só porque, e só quando, são criadas para todos”
Jane Jacobs
39
40
41
do telefone às tupperware parties
como a anulação da vida nas cidades, 4 mas
vez, o zomba perguntando se ele gostaria que
o que vemos nos dias atuais, é um espaço em
ela anotasse o número da cabine telefônica da
pleno processo de transformação, o próprio
esquina, porque ele iria passar por lá.
espaço nos oferece a possibilidade do encon-
Este argumento, nos refere a ideia de que a
tro.
maioria das pessoas, forçadas a elaborar um roteiro para se encontrarem umas com as out-
Com a virtualização do espaço urbano a
ras cotidianamente, eram assim, dependentes
partir dos anos 80, vemos que as cidades e
do espaço físico para se relacionarem. Isto é,
as relações sociais ganham um novo contexto
carregar de um lado para o outro, suas agen-
analítico, indicando um novo começo.
das telefônicas lotadas de números, comprar
O advento das novas mídias eletrônicas,
fichas para fazer ligações nos orelhões era co-
definidas como o conjunto de meios de comu-
mum. E, desmarcar compromissos, era muita
nicação social ou de massa, como a imprensa
das vezes inviável.
<<jornais, revistas, livros>>, meios eletrônicos,
Mas, o que facilitaria a vida de Dick Chistie?
<<rádio e televisão>>, além de outras tecnolo-
Exatamente, um celular. Com um celular, não
gias, como a Internet, pode ser considerada
seriam necessários tantos números, os deslo-
uma extensão do homem, que transforma ma-
camentos de um lugar para o outro poderiam
neira de viver de forma profunda e inevitável.
ser feitos sem dubitações e, a qualquer mo-
- texto da autora:
mento, as pessoas podem se comunicar, marcar e desmarcar encontros. Como explica Ruy
Jan Gehl 5 coloca o impacto das mídias eletrônicas como uma possibilidade de um contato amplo e fácil das pessoas com o mundo todo, uma vez que, as mídias eletrônicas estimulam a ocupação dos espaços pelas pessoas que desempenhando um papel ativo na cidade. Dessa forma, a experiência urbana na cidade não é substituída pelo advento das tecnologias na verdade atua como um motor que atualiza as experiências no espaço urbano e favorece a mobilidade, vindo contrario ao sedentarismo e o isolamento. O caso recente das Tupperware Parties, que apostaram em 2011, nas mídias sociais como meio de estratégia para << refazer >> a imagem
Tinoco:
da empresa. São consideradas a forma de re-
Allen, deixa uma mensagem na secretária
“O telefone operou a primeira grande modificação nesta estruturação geográfica do es-
porque, os Tupperware, eram um símbolo do
eletrônica de seu amigo, convidando-o para visita-lo com sua namorada em seu aparta-
paço humano. Uma segunda adveio do celular
mento. Provavelmente, apenas depois de al-
e da combinação destes dispositivos com re-
gumas horas, esse amigo ouviu a mensagem
des sociais e outras plataformas internáuticas.
que foi deixada em sua secretária eletrônica e
Se no primeiro caso ainda existia uma relação
foi ao encontro de Allan. Em meio a uma época
de dependência com o espaço físico, na segun-
em que os serviços de telecomunicação se re-
da não: o espaço urbano desprende-se e isso
sumiam em apenas um dispositivo: o telefone.
é por demais evidente na forma como os mais
adquiridos apenas nas tupperware parties,
Era de suma importância que a comunicação
novos saem à noite.” 1
organizadas por donas de casas em seus chat
Nas primeiras cenas de Play It Again Sam!
42
finalmente em casa. Sua namorada, por sua
(1972), Allan Felix, protagonizado por Woody
entre as pessoas fosse bem resolvidas, como por exemplo, o local de encontro e a hora, tinham de ser estipulados previamente e ser sobre modo, precisos. Qualquer mudança de planos, tornava um encontro um completo desastre, uma vez que, não era possível contatar a outra parte interessada em tempo útil. Na
Um dos grandes pensadores do século 20, Marshall McLuhan 2 defendia que a história e o desenvolvimento do homem podem ser analisados sob o ponto de vista da evolução da comunicação e da mídia ao longo dos séculos. No livro O Espaço Crítico, Paul Virilio 3 par-
longa-metragem, seu amigo, Dick Christie, in-
te do pensamento de que as transformações
terpretado por Tony Roberts, um homem de
no meio urbano a partir das novas tecnologias,
negócios, aparece diversas vezes falando ao
apagaram a face a face humano e a confron-
telefone contatando os colegas de escritório
tação de ruas e avenidas. O contato urbano
para se caso alguém quiser falar com ele, ele
tomaria uma outra direção com o passar do
estaria em tal número por um tempo e mais
tempo, em detrimento ao aumento da relação
tarde, numa determinada hora, estará em
entre homem-máquina, causando uma di-
um número diferente por 15 minutos e depois,
minuição da necessidade de encontro pres-
se não estivesse nesses outros dois números, estaria em um terceiro número, e mais tarde, poderiam ligar em tal número que ele estaria
encial e o espaço urbano perderia o sentido histórico de lugar de encontro. Virilio leva a virtualização do espaço urbano
des sociais antes do Facebook e Twitter. Isso american way of life e revelam imagens pitorescas da domesticidade suburbana dos anos 50. A priori, a forma de obtenção dos recipientes eram nas magazines americanas, mas foram retirados do mercado para que fossem
rooms nos subúrbios do pós-guerra americanos da década de 50. Diante da metáfora do espaço público aplicada ao espaço virtual pode se dizer que o encontro social real agora foi substituído por um host virtual, cria-se uma nova vizinhança no ambiente virtual e a exclusão da necessidade do encontro no espaço e a do corpo físico. Nos dias de hoje, com todos os avanços das telecomunicações, que permitem modos de vida, trabalho e relacionamento desvinculados da condição de proximidade física. 6
DO TELEFONE ÀS TUPPERWARE PARTIES
43
- trechos do filme: “play it again sam !” (1972)
1. TINOCO. Ruy. A virtualização do espaço. 2012. Disponível citacoes-internet/>. Acesso em: 29 fev. 2017.
em:<http://www.estudoadministracao.com.br/ler/16-11-2014-como-fazer-
2. ele ganhou um seguimento mundial por suas brilhantes e frequentemente desconcertantes teorias sobre o impacto da mídia no homem. MCLUHAN, Marshall. The Playboy Interview: Marshall McLuhan. Playboy Magazine, March 1969. Disponível em: <www.nomads.usp. br/leuphana/mcluhan_the_playboy_interview.pdf>. Acesso: 30 junho 2014. 3. VIRILIO, Paul. O Espaço Crítico. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2014.p.12 4. Idem 5. GELH, Jan. Cidade Para Pessoas. Perspectiva, São Paulo; 1ª edição, 2013 6. ASSIS, Ana Paula. Das Tupperware Parties às cidades recipiente. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 04, página 45 - 47, 2011.
DO TELEFONE Ã&#x20AC;S TUPPERWARE PARTIES
44
a cidade é nossa! ocupe-a! Na intenção de reenvolver as pessoas no espaço público, movimentos sociais urbanos que defendem o direito à cidade, em resposta aos absurdos das cidades, afim de questionar o real uso do espaço, promovem iniciativas com a intenção de transformam a dinâmica das cidades. Também com movimentos que reivindicam áreas verdes, o transporte público gratuito, o ciclismo seguro e democrático, o direito à moradia, os espaços abandonados, além de denunciar a injustiça social no uso e vida das grandes cidades em que os interesses individuais e privados se sobrepõem aos interesses públicos e coletivos, frente a concepção de um território urbano, que visa megaprojetos além da opinião de interesse público. O direito à cidade, primeiramente proposto por Lefèbvre nos anos 1960, enfatiza o entendimento da cidade como uma obra social coletiva, na qual seu valor de uso deve estar acima do valor de troca, uma utopia a ser construída e conquistada pelas lutas populares, visando o direito coletivo de criação e a plena fruição do espaço social. 1 No Brasil, o direito à cidade é definido pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado por lei posterior chamada de <<Estatuto da Cidade>> 2 Está cada vez sendo defendido, por grupos de movimentos sociais que levantam coletivamente,questionamentos sobre a uso das cidades, que discutem em dimensão pública na sua espacialidade. Raquel Rolnik defende a cidade como sendo uma obra coletiva e destaca que, toda cidade possui uma dimensão política relacionada à gestão pública de vida coletiva [...] e uma dimensão mercantil, vinculada à gestão da produção coletiva. 3 É importante temos a noção de cidadania no ponto de vista de pertencimento e partici-
pação ativa dos moradores da cidade. Rolnik, ainda coloca que cidades em certo momento histórico, começaram, sobretudo a se organizarem em função do interesse mercantil e passaram a ter um valor de troca que supera o seu valor de uso. O espaço onde existe um grande acumulo de trocas, conflitos e interações, é palco e catalisador oportuno para intervenções e reinvenções. Todavia, ter acesso aos espaços públicos requer luta. Reivindicar um espaço da cidade negligenciado não pode assumir o sentido de ex-
presidência da república. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/leis_2001/l10257.htm Acesso em: 14 de maio de 2017 3. ROLNIK, Raquel. O que é a cidade?. São Paulo, Brasiliense, 1988. 4. FOLHA ON LINE. São Paulo. Ex-colunistas. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/colunas/guilhermewisnik/2016/06/1780988-posse-ou-uso-dacidade.shtml>. Acesso em: 14 mai. 2017. 5. NEGRI, Antonio; HARDT, Michael. Commonwealth. Cambridge: The Belknap Press of Harvard University Press, 2009. 6. Idem 7. Ibdem
propriação, uma vez que, ocupado por uma pessoa ou grupos que defendem o direito à cidade, tornando próprios certos espaços através da ocupação provisória conseguem melhor adequá-los a certas finalidades a partir do uso, através de práticas coletivas, compartilhadas, autogestionárias e com frequência fortemente políticas. 4 Na intenção de melhorar a qualidade na vida das cidades, os commons, conceito recorrente do comum constitui na ideia de que o nosso mundo atual, a produção da riqueza e a vida social, dependem, em grande medida, da comunicação, cooperação, dos afetos da criatividade coletiva. 5 Estes comportamentos ligados a um lugar tanto físico como simbólico que torna possível os commons existirem, que são os lugares de recursos compartilhados, gerados pela participação de muitos e que constituem o tecido produtivo essencial da metrópole contemporânea. 6 Em suma, o ato commoning torna-se um exercício coletivo, pelo qual tais espaços podem ser repensados e finalmente, reinventados, pela democracia direta, auto-organização e verdadeira participação, que não é consultiva, mas a conjunta, processual e interativa. 7 1. LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade/ Henri Lefebvre; TraduçãoRubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2001. 2. é uma garantia que todo brasileiro tem de usufruir da estrutura e dos espaços públicos de sua cidade, com igualdade de utilização. Ver em Palácio do planalto
45
outros coletivos autogestionados O Brasil conta com movimentos que se configuram como forma de ocupação coletiva
autogestionada.
O
OCUPE
ESTELITA em Recife, busca manifestação em prol do CAIS JOSÉ ESTELITA ameaçado pelo projeto intitulado “Novo Recife” a proposta do #OCUPEESTELITA é chamar a atenção para a área e principalmente reforçar que existem muitas
46
co de Brasília - a Vila Cultural (ou Vila das Nações) é um dos refúgios da capital. Instalada nesse mesmo local desde o nascimento da cidade, é vizinha a outras vilas de acampamentos pioneiros - Vila Telebrasília e Vila Saturnino de Brito. Ainda pequena se comparada a estas, há 15 anos abriga a sede de coletivos relacionados à cultura popular. O Movimento DULCINAVIVE em Brasília, luta para que Conic mantenha-se como um ponto de cultura, e consiste na realização de eventos culturais no Complexo Cultural da Fundação Brasileira de Teatro e suas áreas comuns situados no Setor de Diversões Sul, com a finalidade de recuperar e revitalizar todos os seus espaços, como o Teatro Dulcina e a Sala
possibilidades de ativá-la; a mobilização agregou ao redor do Cais possibilidades de resistência e de sonhos e uma pluralidade de pautas e desejos comuns.
Conchita de Moraes, patrimônios imateriais e históricos da cultura do Distrito Federal e do Brasil.
O ESPAÇO COMUM LUIS ESTRELO é um centro cultural autogestionado, inaugurado em 26 de outubro de 2013 , resultado da ocupação de um casarão tombado pelo patrimônio histórico do município situado na Santa Efigênia em Belo Horizonte. Que por cerca de 20 anos se encontrava abandonado e que, com a iniciativa de artistas, produtores culturais, moradores, hoje é ocupado com novas formas e ritmos, oferece pra cidade uma maneira alternativa de gestão e fomenta cultura.
A OCUPAÇÃO MARINA CRIOULA organizada pelo Movimento Nacional de Luta Pela Moradia. Localizado na Rua Gamboa nº 120, região histórica do Rio de Janeiro. Foi porta de entrada de negros escravizados. O nome da Ocupação faz homenagem a Marianna Crioula, importante símbolo da resistência dos negros contra a escravidão. Hoje, é um polo de resistência, debates, conversas com a participação efetiva da comunidade, que desde 2007 vem lutando contra os
A VILA CULTURAL 813 em Brasília, assim como a Ocupação Cultual Mercado Sul Vive, em Taguatinga dispõe de ações e iniciativas na intenção de difundir saberes e cultura. Faz parte de uma mobilização maior que busca ocupar e viver os espaços de uma Brasília que, aos poucos, vem perdendo o estigma de cidade-modernista-fantasma. Inserida dentro dos limites da área tombada, denominada Conjunto Urbanísti-
projetos de intervenção segregatórios. O financiamento existe e são mais de 40 famílias, que permanecem no local e lutam para a consolidação da ocupação em termos de infraestrutura e etc.
facebook: MovimentoOcupeEstelita espaçoluizestrela vilacultural813sul dulcinavive pelamoradia.wordpress.com/ tag/ocupacao-mariana-crioula/
a cidade espontânea O Ao longo do período que antecedia a inauguração da nova capital, não havia entre seus idealizadores, a intenção de se construir as cidades-satélites. Isso só deveria acontecer após a conclusão do Plano Piloto. Porém, devido à necessidade de suprir a população, que chegava ao canteiro de obras, dos serviços básicos a sua sobrevivência, foi admitida a implantação de um assentamento, de caráter provisório, que deveria ser desativado após a inauguração da cidade. 1 A Cidade Livre (Núcleo Bandeirante), principal núcleo urbano antes da construção de Brasília, desponta e acaba sendo o maior aglomerado do Distrito Federal. Tinha como função básica prover de serviços e do comércio em geral, toda a população do Distrito Federal. No final dos anos 50, o cenário socioespacial era composto por uma proliferação de favelas, denominadas de invasões pelas autoridades governamentais, as quais se localizavam, de uma maneira geral, próximas à Cidade Livre. 2 A administração local, representada pela NOVACAP, teve que rever sua posição quanto à implantação precoce das cidades satélites antes da conclusão do Plano Piloto, sendo obrigada a encontrar soluções imediatas que pudessem fazer frente a este grave problema social. Dentro deste contexto de pressão popular e improvisação foi criada a cidade de Taguatinga. 3 A ocupação deu origem a um modelo baseado na criação de núcleos urbanos periféricos, se iniciou a partir da criação de Taguatinga, sendo a primeira cidade-satélite de Brasília. Na quinta-feira, 5 de junho de 1958 foi inaugurada Taguatinga, que nasceu produto da vontade desbravadora de
um grupo notável de pioneiros. 4 Sendo considerada um caso típico de geração espontânea. Veio a luz por conta própria, indepen dente de elaboração, de exame laboratorial, sem consultar a quem e por que ou sim ou não de sua conveniência. Explodiu, naturalmente, num processo genético do nada para o todo, em ritmo espantoso e célere. Taguatinga consolidou-se e hoje, com cerca de 221.909, é uma das regiões mais ricas do Distrito Federal, sendo hoje é considerada a capital econômica do Distrito Federal. Desenvolveu-se especialmente em função do comércio e dos empregos que sua população obtinha em Brasília. É formada por setores de quadras residenciais, comerciais e industriais. Dividida em três áreas (Taguatinga Norte, Taguatinga Centro e Taguatinga Sul). 1.BRANDÃO, CIDADES INTELIGENTES E DIREITO À CIDADE: a atuação das tecnologia da informação e comunicação na produção de duas perspectivas antagônicas de espaço urbano. O caso da Ocupação cultural Mercado Sul Vive, Taguatinga, Distrito Federal. 2016. 229 f. Dissertação (Programa de pós-graduação em comunicação) -Faculdade de Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília, 2016. 2.Idem 3. Ibdem 4.JÚNIOR, Alberto Bahouth. Taguatinga Pioneiros e Precursores. Brasília: Editora HP Mendes, 1978.
imagens na sequência 1 centro de taguatinga / acervo público do df 2 praça do relógio / acervo público do df 3 taguatinga / acervo público do df 4 taguatinga / acervo público do df
47
Segundo Careri 1 entende-se portanto que o caminhar revela-se útil à arquitetura como instrumento cognitivo e projetual, como meio de se reconhecer dentro do caos das periferias, uma geografia e como meio através do qual, inventar novas modalidades de intervenção nos espaços públicos metropolitanos, para pesquisa-los, para torna-los visíveis.
O caminhar foi o instrumento para a escolha do local de estudo para a realização deste trabalho. O percurso aconteceu a partir da QNF ao TAGUACENTER. Encontrou-se espaços potenciais, e vazios, na qual, através de um mapa como instrumento expressivo, os espaços foram revelados. Dentre eles os que podem ser chamados de travessões.
Segundo o Plano Diretor Local de Taguatinga 2 as diretrizes para as áreas identificadas nos interiores da malha urbana de Taguatinga, que necessitam de intervenções e são objetos de projetos urbanísticos especiais. Se referem as tantas passagens ou travessões de pedestres encontradas no percurso localizadas nas quadras QNA, QND, QNG, QSA e QSD.
Vimos até então, figuras que usaram o caminhar como forma de ativar outros modos de vida nas cidades. O cortejo errante, coletivos autogestionados, protagonismo pedestre, passeios urbanos em trajes de gala tropical e Parangolés.
3. CARERI, Francesco. Walkscapes. O caminhar como prática estética.GG São Paulo, 2013. 2. Plano Diretor Local. Disponível em: http://www.segeth.df.gov. br/images/pdl/taguatinga/lei_complementar_90.pdf 1. CARERI, Francesco. Walkscapes. O caminhar como prática estética. GG São Paulo, 2013.
Taguatinga seria então uma cidade de
O que nos leva a uma conclusão de que as passagens de pedestres das quadras citadas são, de certa forma, um dos poucos espaços públicos de Taguatinga que onde deveriam ter equipamentos de lazer mobiliário urbano o que se vê são espaços esquecidos, e isso é reflexo da própria falta da esfera pública e cultura pública.
Tomando como exemplo o relato de viagem em uma autopista de New Jersey Turnpike, por Tony Smith, experiência que traria uma polêmica entre os críticos modernistas e os artistas minimalistas. Smith atravessa, qual uma censura vazia, os espaços marginais da periferia estadunidense e define a experiência numa espécie de êxtase inefável. Tais experiências levariam a arte para fora das galerias e reconquistariam a experiência do espaço vivido e as grandes dimensões da land art << paisagem >> 3
A polêmica surge e uma das questões sobre a natureza estética do percurso. A estrada é vista por Tony Smith como sinal e como objeto sobre o que acontece o atravessamento; outra é o próprio atravessamento como experiência.
e v a tr
Mas a frente, o Mercado Sul revela-se de forma quase que espontânea, como um convite a atravessa-lo por entre suas ruas estreitas que nos surpreende a cada janela.
48
(–)
? s e ssõ
QUAIS SÃO OS LUGARES POTENCIAIS DE TAGUATINGA?
MAPA LUDENS
SETORES
VEGETAÇÃO
0 100 200
METRÔ VIA EXPRESSA RUA
SETOR M NORTE
SETOR L NORTE
400
N
SETOR F NORTE
SETOR F NORTE
SETOR QI
600
+
SETOR C NORTE
+
+
+ + +
+
+
+
+ +
+
+
+
+
++
QSD
++
PARQUE BOCA DA MATA
MERCADO SUL
+
+
+ CENTRO
+
PRAÇA + DO DI
+
+ +
SETOR C SUL
+
+ PRAÇA BICALHO
+
++
+
SETOR G NORTE
+ +
+ TAGUACENTER
+
+CNF
ELMO SEREJO
SETOR DE INDUSTRIAS GRÁFICAS
SETOR J NORTE
SETOR H NORTE
+
+
+
+
QSE
+
++
+
+ +
+ +
SETOR G SUL
QSF +
COLÔNIA AGRICOLA SAMAMBAIA
VILA AREAL
PARQUE AREAL
EPTG
(-)
49
o mercado sul O Mercado Sul descende de um processo histórico de segregação sócio-espacial inaugurado com a construção de Brasília e que, por isso, está diretamente relacionada à luta por moradia e transporte público. Foi a terceira construção material e imaterial de Taguatinga. Atualmente a Ocupação Mercado Sul Vive enfrenta problemas relativos à regularização fundiária. Construído na década de 50, surgiu em uma cidade feita para e por trabalhadores recém-chegados à região
50
para a construção da capital e que, movidos pelo sonho de uma vida melhor, mudaram-se para o Planalto Central, não encontrando abrigo na anunciada “modernidade” que ajudavam a edificar com seu suor. Na década de 60 se caracterizava como centro e distribuidor comercial de extrema relevância histórica para Brasília, com um grande fluxo de pessoas, vendas de produtos típicos do Brasil, uma miscelânea de pessoas, cultura, um ponto de encontro, troca, passagem e de permanência. Nas décadas de 70 e 80, o que era uma feira em decadência virou reduto da boêmia underground de Taguatinga. Ao lado do Mercado Sul funcionou o famoso e extinto Clube dos 200, por onde passou o Sarro Disco Show e as principais bandas de baile de Brasília. Os dois locais mantinham um diálogo direto, quem ia para o Clube terminava a noite nos bares e casas de prostituição do Mercado Sul. Para muitos, esses 20 anos de vida marginal foram a face decadente do local. Esse movimento já marcava o que era o início da ocupação cultural. Em meio à boêmia estavam poetas, músicos e uma série de artistas e pensadores que caminhavam na contramão do sistema cada vez
mais capitalista que banhava a Capital. A partir dos anos 90, o ressoar da viola começa a sintonizar outros agentes de mudança para a real revitalização do Mercado Sul. Hoje, ele é uma vila cultural, também conhecido como Beco ou Beco da Cultura. A chegada da família de “Seu Dico”, luthier (fabricante artesanal) de violas, iniciou uma fértil ocupação artística integrada à chegada de antigos e novos moradores e trabalhadores. Seu Dico, filho e neto estão lá até hoje, mantendo a tradição da luthieria. Outro importante marco nos anos 2000 foi o Cineclube Motirõ. Durante 5 anos, o projeto consagrou o caráter comunitário e autônomo do Beco, em especial com as novas gerações. Foram realizadas oficinas e vivências, além da cozinha comunitária e do acervo livre de livros e filmes. Nos anos 2000, o mestre mamulengueiro Chico Simões leva para o Beco a sede do Teatro de Mamulengo Invenção Brasileira. Anos depois, a sede vira Ponto de Cultura, espalhando sementes e chamando cada vez mais artistas, produtores e agitadores culturais, como a Oficina Memulengo Gentil, do Moisés. O mestre artesão Virgílio Mota, da Tempo Eco Arte, resume: “Eu costumo dizer que aqui é uma universidade, apesar de eu ser avesso à escola. Mas aqui é uma escola de primeira instância. Eu não trocaria uma mansão no Lago Sul pela minha loja aqui no Beco.” Da cozinha comunitária do Motirõ, veio o Caferó, mais tarde Cio da Terra, onde eram produzidos e vendidos alimentos integrais e artesanais, como os deliciosos “pães da Elaine”. Foi um tempo fábrica e depois café. 1 1. mercadosul.org
O MERCADO SUL
1950
1960
Mercado Construção Cerrado
1970
Centro comercial Decadência Boemia Distribuidor Baixo meretrício
1980
Underground Clube dos 200
1990
2000
Seu João (Mestre Dico) Movimento Cultural Popular
2010
Pequenos oficios Beco da Cultura / Mercado Sul Mestre Virgílio e Espaço Cultural Mercado Sul TempoEcoArte Amplia o mov. cultural. Ponto de Cultura Movimentos culturais e sociais
MERCADO SUL TRABALHADORES/ COMÉRCIO espaço de compartilhar
comércio
bicicentro
cultura brasileira
ecofeira
espaço de esperiências
MOVIMENTO C U LT U R A L
no mercado sul tem, costureira, serralheria, borracheiro, marcenaria, padaria,ecofeira, salão, elêtrica, entre outros.
instituto de invenção brasileira, tempo eco arte, ollytoys,chico simões, camaleão, famaliá entre outros.
palco trabalho
OCUPAÇÃO MERCADO SUL VIVE!
feira
dança
crianças espetáculo
assembleias criação
escola
santuário
coletivo
trocas cultivo
produção
aprendizagem
conexões
são 8 lojas de pequenos especuladores, ocupada pelo movimentoe conta com a ecofeira, bicicentro e loja multiuso.
51
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
52
FERNANDO’S BAR, 1983 (MERCADO SUL) FOTO: IVALDO CAVALCANTE GUARDA, MERCADO SUL, 1978 FOTO: IVALDO CAVALCANTE
FERNANDO’S BAR, 1983 (MERCADO SUL) FOTO: IVALDO CAVALCANTE
O MERCADO SUL
KIKO, BETO, TIM, 1979
O MERCADO SUL
53
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
O MERCADO SUL
54
O MERCADO SUL
55
56
DO TELEFONE Ã&#x20AC;S TUPPERWARE PARTIES
57
58
59
60
61
cenário
62
Quando ocupado em 2015, depois de quase 10 anos acuado pelo avanço especulativo que levou a lojas abandonadas, espaços ociosos que ameaçavam a segurança e a saúde física, social, ambiental e cultural do lugar. Em um processo de retomada da cidade ocupando na resistência autogestionada, sem ajuda do poder público, juntam ideias por meio movimentações e articulações preparatórias para o processo de ocupação das 8 lojas que aconteceu na madrugada do dia 6 para o dia 7 de fevereiro. 1 Assim surgia a Ocupação Mercado Sul vive (MSV) as 8 lojas foram reabertas para atividades culturais e educativas com intuito de fortalecimento como pessoa grupo e comunidade. Desde o primeiro dia, uma série de atividades percorrem a ocupação, como mamulengo, oficina de bonecos de espuma, oficina de crochê, shows, grafite, cineclube e bazar. Já passaram por lá grupos como Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro, Mambembrincantes, Ventoinha de Canudos, MoverMents, entre outros. 2 situação fundiária
O Mercado Sul agora passa a contracenar com uma cidade muito distinta da que existia; Hoje, luta pela reintegração de posse das lojas ocupadas e ressignificadas, problemas relativos regularização fundiária dos lotes. Sendo assim, vários conceitos aparecem para serem discutidos. Além de ter articulam com outros movimentos parceiros e com mais experiência de ação, como o Movimento Passe Livre (MPL) e Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem-Teto (MTST).O MSV tem apoio de entidades como o SENAI E FUBES, governamental como o Ministério da Cultura e de ocupações e coletivos como VERaCIDADE, DULCINAVIVE, Espaço Comum Luiz Estrelo. 3 Ele se tornou não apenas um aglomerado de pessoas.... e também que num dinamismo cultural que espontânea-
mente o torna referência de urbanidade, na contramão da cidade-empresa neoliberal que se tornou hegemônica desde então. O Mercado Sul Vive é uma ocupação pelo direito à cidade, justamente porque, ao criar outras lógicas e práticas cotidianas, submetem o espaço urbano a outros processos de valorização, que se contrapõem à vinculação promovida pela troca informacional existente no individualismo do consumo capitalista, presente nas sociedades midiatizadas contemporâneas. Cada dia que passa, a ocupação Mercado Sul VIVE! toma um passo a frente na luta pelo direito à cidade. Em na nota técnica de 02/2015 (01551.000161/2015-14 de 24 de fevereiro de 2015), a superintendência do IPHAN/DF, considera a manutenção do espaço apropriado por grupos de praticantes de atividades culturais como de grande valia para o exercício da cidadania. 4 O Governo do Distrito Federal mostrou apoio à ocupação no documento do Processo no 360.000.062/2015, onde declara que “considera desapropriar a área para transformá-la num pólo de atividade cultural em Taguatinga”. 5 No oficio assinado pelos secretários da Secult e Seris 5 se reconhece a legitimidade e o protagonismo do movimento MSV e da comunidade na luta pelo direito à cidade e aponta para a necessidade de ampliar e dinamizar a aplicação do Estatuto da Cidade: “o trabalho realizado por diversos coletivos no espaço, revela uma compreensão do que há de mais contemporâneo na concepção de cultura no mundo atualmente”. O documento ainda destaca o interesse público e a “preocupação do impacto social que uma medida de reintegração possa gerar”. 6 1-4. http://www.mercadosul.org 5-6. http://www.mercadosul.org/governo-do-distrito-federal-oficializa-a-ocupacao-cultural-mercado-sul-vive-interesse-em-desapropriar-area/ LINK PARA O OFÍCIO DIGITALIZADO: http:// www.mercadosul.org/wp-content/uploads/2016/09/OficioSecult.pdf
utilidade pública O que coletivo Mercado Sul Vive! busca desenvolver o princípio da horizontalidade, da vida em comunidade, com a ativação da atividade cultural no espaço, espaço político de discursão e reflexão, como forma de transformação
da
sociedade,
conjunta-
mente, preservar e conservar a memória da cultural popular, que o Mercado Sul tem
LUTHIER
alcançado com as iniciativas culturais que ocorreram a partir dos anos 90.
COMUNICAÇÃO ARTESANATO
As atividades que já aconteceram no mercado sul desde então foram: festas juninas,
LANTERNAGEM E PINTURA
PADARIA
ecofeiras, exibições de filmes, oficinas, conELETRÔNICA
trapartidas do fundo de apoio à cultura, recebe espetáculos, apresentações musicais,
IMPRESSORA CARTUCHO
ATELIÊ DE COSTURA
eventos de outros coletivos, eventos de
SALÃO DE BELEZA
DEPÓSITO
REUNIÕES
BICICENTRO
gestantes, vídeos produzidos, lançamento
ARTE EM MADEIRA
de livros, rodas de capoeira, samba de roda e jongo, saraus, lançamento de CD, lança-
63
IGREJA
música, rodas de prosa e palestras, programas de rádio, vivêcias musicais, rodas de
VIDRAÇARIA
FAIXAS E PLACAS
IGREJA
mento de filme.
SERRALHERIA SALÃO DE BELEZA RECICLAGEM
BORRACHARIA
AUTO ELÉTRICA
ECOLOJA
COMEDORIA
imagem 1 mapa de atividades feito pela autora
3,32 m
64
instrumentos disponíveis. possibilidades de organização
É essencial reforçarmos a importância do conhecimento das diretrizes de base <<códigos e leis >> que regem a nossa cidade para entender como eles podem ser ativados na hora de pensar em uma solução para cidades que funcionem para todos. Desse modo, para um melhor entendimento dos instrumentos responsáveis por estabelecer os direitos e deveres e como eles se aplicam na comunidade, foi realizada uma pesquisa de instrumentos que de alguma forma se aplicam na Ocupação Mercado Sul Vive, considerando o funcionamento dessas ferramentas, seus processos de criação e consolidação e limites de atuação. Contudo, fatores dificultam que esses instrumentos sejam colocados em prática, seja pelos gestores públicos, fiscais
verbal)
e até mesmo a população. Ainda sim é notável a presença da gestão pública das cidades para se adequar às demandas de coletivos culturais e de artistas, que por sua vez, também se articulam melhor na formulação de suas demandas. É o caso da Lei das Vilas Culturais do DF, aprovada desde 2012 que reconhece espaços que desenvolvem cultura com uma série de pontos. No objetivo de criar mecanismos para subsidiar e dar apoio para espaços que tem uma complexidade cultural e uma serie de grupos, coletivos. A ocupação Mercado Sul Vive foi convidada e está trabalhando para que essa lei seja regulamentada e passa por um clico de debates que visam a reformulação e
ART. 5º Lei municipal específica para área
construção de novos resultados com base nas necessidades das manifestações culturais. Os debates acontecem em várias cidades do DF, da lei das vilas culturais. A lei considera Vila Cultural, núcleos culturais, geridos pelas próprias comunidades, em parceria com o Poder Público, que funcionam como ambientes de produção e fruição cultural e artística. Os elementos a seguir fazem parte da bandeira dos moradores da vila cultural para o reconhecimento e regularização do território do Mercado Sul. (informação
predial e territorial urbana (IPTU) progres-
O ESTATUTO DA CIDADE REGIMENTO QUE GARANTE QUE VISA A GARANTIR O DIREITO DA CIDADE COMO UM DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DE PESSOA HUMANA, PARA QUE TODOS TENHA ACESSO ÀS OPORTUNIDADES QUE A VIDA URBANA OFERECE. ELE DEMONSTRA QUE, A ÁREA OU CONSTRUÇÃO URBANA QUE NÃO CUMPRE SUA FUNÇÃO SOCIAL, DEVE SER REORDENADA AO COLETIVO, AO BEM COMUM DA CIDADE. AFINAL, A QUEM DEVE SERVIR OS BAIRROS E A PRÓPRIA CIDADE? VEJA-SE AS SEÇÕES A SEGUIR: SEÇÃO II DO PARCELAMENTO, EDIFICAÇÃO OU UTILIZAÇÃO COMPULSÓRIOS: incluída no plano diretor poderá determinar o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsória do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para implementação da referida obrigação. SEÇÃO III DO IPTU PROGRESSIVO NO TEMPO ART. 7º Em caso de descumprimento das condições e dos prazos previstos na forma do caput do art. 5o desta Lei, ou não sendo cumpridas as etapas previstas no § 5º do ART. 5º desta Lei, o Município procederá à aplicação do imposto sobre a propriedade sivo no tempo, mediante a majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos. SEÇÃO IV DA DESAPROPRIAÇÃO COM PAGAMENTO EM TÍTULOS ART. 8º Decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do
65
INSTRUMENTOS DISPONÍVEIS. POSSIBILIDADES DE ORGANIZAÇÃO imóvel, com pagamento em títulos da dívida
66
CONTEMPLA AS SINGULARIDADES E AS
pública.
SEÇÃO XI DA TRANSFERÊNCIA DO DIREITO
IDENTIDADES DOS TERRITÓRIOS DO DF
SEÇÃO V DA USUCAPIÃO ESPECIAL DE
DE CONSTRUIR
E ENFRENTA OS DESAFIOS DE MANEIRA
IMÓVEL URBANO
ART. 35º Lei municipal, baseada no plano
PRAGMÁTICA, INOVADORA E OUSADA.
ART. 9º Aquele que possuir como sua área
diretor, poderá autorizar o pro- prietário de
CONFORME PRECEITUA O REFERIDO
ou edificação urbana de até duzentos e
imóvel urbano, privado ou público, a exercer
PLANO DE CULTURA, DESTACA-SE O QUE
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos,
em outro local, ou alienar, mediante escritu-
SE ACHA IMPORTANTE AO PRESENTE ES-
ininterruptamente e sem oposição, utilizan-
ra pública, o direito de construir previsto no
TUDO:
do-a para sua moradia ou de sua família,
plano diretor ou em legislação urbanística
2.1.2 Criar políticas de transmissão dos
adquirir- lhe-á o domínio, desde que não seja
dele decorrente, quando o referido imóvel
saberes e fazeres das culturas populares
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
for considerado necessário para fins de:
e tradicionais, por meio de mecanismos
ART. 10º
I – implantação de equipamentos urbanos e
como
duzentos e cinqüenta metros quadrados,
comunitários;
mestres populares, leis especificas, bolsas
ocupadas por população de baixa renda
II – preservação, quando o imóvel for con-
de auxilio, integração com o sistema de en-
para sua moradia, por cinco anos, ininter-
siderado de interesse his- tórico, ambiental,
sino formal, criação de instituições públicas
ruptamente e sem oposição, onde não for
paisagístico, social ou cultural;
de educação e cultura que valorizem esses
possível identi- ficar os terrenos ocupados
III – servir a programas de regularização
saberes e fazeres, criação de oficinas e es-
por cada possuidor, são susceptíveis de
fundiária, urbanização de áreas ocupadas
colas itinerantes, estudos e sistematização
serem usucapidas coletivamente, desde que
por população de baixa renda e habitação
de pedagogias e dinamização e circulação
os possuidores não sejam proprietários de
de interesse social.
dos seus saberes no contexto em que atuam.
As áreas urbanas com mais de
outro imóvel urbano ou rural.
o
reconhecimento
formal
dos
2.1.3 Reconhecer a atividade profissional SEÇÃO XII DO ESTUDO DE IMPACTO DE
dos mestres de ofícios por meio do titulo de
SEÇÃO VI DA CONCESSÃO DE USO ESPE-
VIZINHANÇA
“notório saber”.
CIAL PARA FINS DE MORADIA
ART. 36º Lei municipal definirá os empreen-
2.1.6 Apoiar o mapeamento, documentação
VETADO
dimentos e atividades privados ou públi-
e preservação das terras das comunidades
cos em área urbana que dependerão de
quilombolas, indígenas e outras comuni-
SEÇÃO VII DO DIREITO DE SUPERFÍCIE
elaboração de estudo prévio de impacto de
dades tradicionais, com especial atenção
ART. 21º O proprietário urbano poderá con-
vizinhança (EIV) para obter as licenças ou
para sítios de valor simbólico e histórico.
ceder a outrem o direito de superfície do seu
autorizações de construção, ampliação ou
2.1.7 Mapear, preservar, restaurar e di-
terreno, por tempo determinado ou indeter-
funcionamento a cargo do Poder Público mu-
fundir os acervos históricos das culturas
minado, medi- ante escritura pública regis-
nicipal.
afro-brasileira, indígenas e de outros povos
trada no cartório de registro de imóveis.
ART. 37º O EIV será executado de forma a
e comunidades tradicionais, valorizando tan-
contemplar os efeitos positivos e negativos
to sua tradição oral quanto sua expressão
SEÇÃO VIII DO DIREITO DE PREEMPÇÃO
do empreendimento ou atividade quanto à
escrita nos seus idiomas e dialetos e na lín-
ART. 25º O direito de preempção confere
qualidade de vida da população residente na
gua portuguesa.
ao Poder Público municipal preferência
área e suas proximidades [...]
2.1.8
para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares.
Promover
experiências
e
o
intercambio
ações
coletivas
de entre
O PLANO DE CULTURA DO DISTRITO
diferentes segmentos da população, grupos
FEDERAL É A LEI QUE ESTABELECE OS
de identidade e expressões culturais.
SEÇÃO IX DDA OUTORGA ONEROSA DO DI-
OBJETIVOS. AS DIRETRIZES, AS ESTRATÉ-
2.4.5 Estimular a compreensão dos museus,
REITO DE CONSTRUIR
GIAS E AS AÇÕES PRIORITÁRIAS PARA A
centros culturais e espaços de memoria
ART. 28º O plano diretor poderá fixar áreas
POLÍTICA CULTURAL DO DF NOS PRÓXI-
como articuladores do ambiente urbano, da
nas quais o direito de construir poderá ser
MOS 10 ANOS.
história da cidade e de seus estabelecimen-
exercido acima do coeficiente de aproveita-
É UM DOCUMENTO QUE DIALOGA COM
mento básico adotado, mediante contrapar-
AS DINÂMICAS LOCAIS DE PRODUÇÃO
tida a ser prestada pelo beneficiário.
E CONSUMO CULTURAL E ARTÍSTICO,
tos humanos como fenômeno cultural.
INSTRUMENTOS DISPONÍVEIS. POSSIBILIDADES DE ORGANIZAÇÃO NO PLANO DIRETOR LOCAL 5 NO AR-
e demais espaços destinados às manifes-
TIGO 4º DO PLANO DIRETOR LOCAL DE
tações artístico-culturais, bem como os
TAGUATINGA ESTABELECE AS SEGUINTES
conjuntos urbanos que representam esse
ESTRATÉGIAS:
patrimônio;
II – Estímulo à implantação de atividades de
ART. 11º São diretrizes para a preservação
desenvolvimento econômico, social e cultural
do patrimônio cultural do Distrito Federal:
no núcleo urbano e na região;
IV–
revitalizar
áreas
degradadas
de
interesse cultural; O PDOT 6 É O INSTRUMENTO BÁSICO DA
V– associar o desenvolvimento de projetos
POLÍTICA TERRITORIAL E DE ORIENTAÇÃO
turísticos, de lazer, cultura e educação à
AOS AGENTES PÚBLICOSE PRIVADOS QUE
preservação do patrimônio cultural;
ATUAM NA PRODUÇÃO E GESTÃO DAS LO-
VIII – unificar os acervos relativos à memória
CALIDADES URBANAS, DE EXPANSÃO UR-
do planejamento e construção de Brasília e
BANA E RURAL DO TERRITÓRIO DO DISTRI-
das demais cidades do Distrito Federal.
TO FEDERAL. O INTUITO DO COLETIVO MERCADO
No CAPÍTULO VIII ART 52º a respeito dos
SUL VIVE É PRESERVAR O MERCADO SUL
equipamentos regionais:
COMO LUGAR HISTÓRICO DE TAGUATIN-
ART. 52º
GA (E DO DF) TANTO EM SUA DIMENSÃO
regionais os estabelecimentos em que são
ARQUITETÔNICA, QUANTO NA ESCALA
prestados os serviços das áreas temáti-
HUMANA, COM AS VIDAS VIVIDAS E A CUL-
cas de educação, segurança pública, saúde,
TURA QUE AFLORA HÁ DÉCADAS NESTE
transporte, abastecimento e cultura.
LUGAR. ATRAVÉS DE INICIATIVAS CUL-
§ 1º Os equipamentos tratados neste
TURAIS E COLETIVAS O DESAFIO É:
capítulo foram definidos em função de sua
CONSEGUIR RECONHECIMENTO DO MER-
abrangência regional, caracterizados pelo
CADO SUL/BECO DA CULTURA COMO
porte e especialidade e por suas implicações
PATRIMÔNIO IMATERIAL CULTURAL DO
na definição da estrutura do território.
DF (FORMAÇÃO IMEDIATA DE EQUIPE DA
§ 2º Reconhecem-se como equipamentos re-
SECULT/GDF E IPHAN PARA INÍCIO DOS ES-
gionais, no mínimo, os seguintes estabeleci-
TUDOS E TRABALHOS NA ÁREA);
mentos, conforme área temática:
RECONHECIMENTO
DO
PROJETO
UR-
Consideram-se equipamentos
VII – cultura: teatros, centros culturais, casas
BANÍSTICO PARA REVITALIZAÇÃO E ADE-
de cultura, bibliotecas, museus e cinemas.
QUAÇÃO DE USO PARA FINALIDADES;
NO ART. 53º São diretrizes setoriais para
ART. 9º
o provimento de equipamentos regionais no
Integram o patrimônio cultural do
Distrito Federal os bens de natureza materi-
território do Distrito Federal:
al e imaterial, considerados individualmente
X – promover parcerias público-privadas
ou em conjunto, portadores de referência à
na implantação, recuperação, revitalização,
identidade, à ação e à memória dos diferentes
otimização, manutenção e gestão dos equi-
grupos da sociedade.
pamentos regionais;
ART. 10º Para efeito desta Lei Complementar, entendem-se por:
I – patrimônio material: todas as expressões e transformações de cunho histórico, artístico, arquitetônico, arqueológico, paisagístico, urbanístico, cientifico e ecológico, incluídas as obras, objetos, documentos, edificações
67
panfleto PATRIMÔNIO CULTURAL DE TAGUATINGA
BICICENTRO
O intuito do mercado sul é preservar esse
A proposta de Ocupação do BiciCentro
lugar histórico de Taguatinga (e do DF) tanto
consiste em um espaço dedicado à
em sua dimensão arquitetônica, quanto na
Mobilidade Urbana, pensar a cidade den-
escala humana, com as vidas vividas aqui
tro da rota da bicicleta. Tem como principal
e a cultura que aflora há décadas desse
objetivo atender a Comunidade do Mercado
lugar. Aqui se constroem violas, vídeos,
Sul com atividades relacionadas a bicicleta
mamulengos, artesanatos e instrumentos
e ações colaborativas, dentro da proposta
com papelão e saco de cimento. Aqui, o beco
de Ocupação do Movimento <<Mercado Sul
O Estatuto da Cidade entende que a área
vira palco, roda de capoeira, escola, ecofei-
Vive>> e Movimento Passe Livre (MPL), pau-
ou construção urbana que não cumpre sua
ra, vira comunidade, santuário, espaço de
tando conceitos como Mobilidade Urbana e
função social deve ser reordenada ao coleti-
produção e aprendizagem. Daqui surgiram
Direito à Cidade.
vo, ao bem comum da cidade. Afinal, a quem
inúmeras iniciativas culturais e coletivas….
deve servir os bairros e a própria cidade?
Com esse movimento, pretendemos dig-
Assim, não podemos deixar de concluir
nificar a morada e o trabalho dos que aqui
que a situação que hoje vivenciamos viola
residem, fortalecer as ações que já são
nossos direitos e que devemos nos manter
realizadas, expandi-las e enraiza-las, assim
firmes em sua defesa.
como servir de meio e apoio para novas
O DIREITO À MORADIA
ações e iniciativas criando um centro de
O DIREITO À CIDADE Segundo Henri Léfebvre, consiste no “direito à vida urbana, transformada e renovada, considerando um contexto em que as classes populares possam se tornar agentes dessa modificação. Léfebvre parte do conceito de “habitar” como ponto de partida.
ESTATUTO DA CIDADE
68
O direito à moradia é garantido na constituição Federal Brasileira desde 1988. Não é apenas um teto e quatro paredes. É muito
difusão e criação cultural de Taguatinga.
DIY “FAÇA VOCÊ MESMO”
Antes concentrados num só conceito o da bricolagem os termos se referem à construção de projetos por conta própria e com base na experimentação. No contexto do urbanismo, refere-se a um modelo de ação exercido pela sociedade civil com o objetivo de recuperar
BECOMPOSTO
e requalificar espaços públicos no seu
O projeto Becomposto foca em tecnologias
bairro, comunidade ou região, sem buscar
mais: É aquela com condição de salubridade,
e diálogos que permitam construir essas
um apoio profissional, apenas utilizando
de segurança e com um tamanho mínimo
relações de harmonia no contexto da comu-
ferramentas, instrumentos e materiais e
para que possa ser considerada habitável.
nidade do Mercado SuL. A proposta, que
tendo como base a ação colaborativa.
Deve ser dotada das instalações sanitárias
começou a ser colocada em prática a partir
adequadas, atendida pelos serviços públi-
do início de 2016, se soma a diferentes
cos essenciais, entre os quais água, esgoto,
iniciativas pré-existentes de moradores que
energia elétrica, iluminação pública, coleta
cultivam plantas (comestíveis, medicinais e/
de lixo, pavimentação e transporte coleti-
ou ornamentais) e realizam algum tipo de
vo, e com acesso aos equipamentos sociais
aproveitamento de resíduos urbanos.
e comunitários básicos (postos de saúde, praças de lazer, escolas públicas, etc.).
CEITOS USADOS NA OCUPAÇÃO MERCADO SUL VIVE. TERMOS ÚTEIS PARA ENTENDER MELHOR A APROPRIAÇÃO FEITA NO TERRITÓRIO.
O conceito recorrente do comum se elabora sobre a ideia de que, em nosso mundo atual, a produção da riqueza e a
ECOFEIRA
vida social dependem, em grande medi-
É um espaço comunitário de exposição,
da, da comunicação, da cooperação, dos
troca e venda de produtos e serviços que
afetos e da criatividade coletiva (Negri e
seguem princípios ecológicos. Surgiu a par-
Hardt). O comum compreenderia, então, os
tir da atuação da Oficina Tempo Eco Arte.
ambientes de recursos compartilhados,
Reúne artesãos e artistas que trabalham
que são gerados pela participação de
com economia solidária, sustentabilidade
muitos e que constituem o tecido produtivo
e reutilização de resíduos sólidos ou mate-
essencial da metrópole contemporânea.
riais orgânicos. A feira é também um lugar
* COM ESTE INFOGRÁFICO PODEMOS COMPEENDER OS CON-
O COMUM
de convívio, diálogo, pesquisa, comunicação livre, reflexão, provocação e arte.
Quando falamos no Mercado Sul, falamos de um espaço de constante aprendizado, onde
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
o que o mercado sul ainda quer? são estimulados e reforçados os sentimentos e princípios de cooperação, horizontalidade e laços comunitários. Em sua trajetória, tecida por muitas mãos e um processo de construção contínua, entende-se que a cidade deve estar de acordo com a força coletiva que a construiu e segue construindo, e de que, deve servir ao bem comum, ser inclusiva e participativa. Um verdadeiro encontro de fazeres e conhecimentos de distintas matrizes que constroem um sentimento de partilha de destino genuíno de uma comunidade. Vivem o cotidiano carregando as origens da cultura popular brasileira e suas fontes de compreender o que é a vida em sociedade, como os modos das comunidades de Quilombos e povos indígenas, como também os ribeirinhos. Em face de sua simbologia, afetividade e de seu significado cultural, a intenção da intervenção, é amplificar o potencial cultural, coletivo e sua capacidade multiforme, sem a intenção de suprimir o processo de construção contínua que aflora há décadas. Para que, este espaço já ativado por mãos coletivas, possa ainda mais ser entendido como um centro de difusão e criação cultural de Taguatinga.
69
MG
Este capitulo, consiste nas reflexões e con-
BA
líbano
CE
PB
costura estratégica
PA
e cruzamento dos vários mapeamentos,
GO
DF
clusões a partir do levantamento de dados apontando uma interpretação da autora te de intervenção e transformação da área
origem
itália
com delimitação das intenções e horizon<<objetivos e princípios>> que consistem na formulação de diretrizes urbanísticas de acordo com objetivos definidos a partir da
gina>>. Os instrumentos de estudos utilizados se deram por meio de numerosas visitas, fotografias e conversas com os moradores, membros do coletivo e movimento Mercado Sul Vive. A participação da comunidade é a parte essencial desse processo, tanto na tomada de decisões que podem modificar o meio em que vivem e a qualidade de vida, como também possibilitou um melhor entendimento sobre as dinâmicas e apropriações a partir dos usos dos blocos do Mercado Sul. A intervenção se baseia em um programa que sirva para potencializar o cotidiano intrínseco de ligação social cultural existente, preservando sua história e memória.
tempo no mercado sul 1-32 anos
<<sintetizado em infográfico na próxima pa-
idade 14-66 anos
70
288 fotos
cesso participativo de pequena amostragem
30 entrevistados
tir da experiência empírica no local e, do pro-
8 visitas
tervenção no Mercado Sul Vive se deu a par-
O PROCESSO PARTICIPATIVO DE PEQUENA AMOSTRAGEM
O método de realização do programa de in-
Sul. (todas as informações coletadas são dos mesmos)
público e social.
este processo só foi possivel com base na participação dos moradores e trabalhadores do Mercado
leitura da cidade, como sendo de interesse
ESPAÇO DE CONFLITOS
UNIÃO
INSERÇÃO NO CONTEXTO URBANO
DIVERSIDADE DE USOS
INTERVENÇÃO NEGATIVA DO ESTADO
LEVANTAMENTO ESTRUTURAL
HISTÓRICO + CONTEXTO URBANO
FALTA DE ACESSIBILIDADE
PRODUÇÃO DE CULTURA POPULAR
SITUAÇÃO FUNDIÁRIA
HISTÓRICO + CONTEXTO URBANO
RESISTÊNCIA
INTRUMENTOS POSSÍVEIS
VIZINHANÇA
DIREITO À CIDADE
SEGURANÇA
VIDA EM COMUNIDADE
INSERÇÃO NO TERRITÓRIO
COLETAR
+ POTÊNCIAIS + CONTEÚDO A
FALTA DE INFRAESTRUTURA
ABANDONO DO ESTADO
UTILIDADE PÚBLICA DO ESPAÇO
ASPECTOS POLÍTICOS E SOCIOCULTURAIS
INTRUMENTOS POSSÍVEIS
PROBLEMAS
COSTURA ESTRATÉGICA
71
COSTURA ESTRATÉGICA * O MERCADO SUL FOI SE TRANSFORMANDO COM O TEMPO. HOJE, EXISTEM DIFERENTES TIPOLOGIAS NO TERRITÓRIO QUE CHEGAM ATÉ 2 PAVIMENTOS.
loja + 2 pavimentos box + moradia
moradia térreo + 2
72
moradia térreo+1
loja + moradia
loja + 1
COSTURA ESTRATÉGICA * COM ESTE DADOS COLETADOS PELO GRUPO CASAS - CENTRO DE AÇÃO SOCIAL EM ARQUITETURA SUSTENTÁVEL (FAU - UnB) ATRAVÉS DO RELATÓRIO DE DIAGNÓSTICO E DIRETRIZES PARA A REVITALIZAÇÃO “MERCADO SUL VIVE”: UM CAMINHO DE LUTA PARA A REVITALIZAÇÃO POR MEIO DA RESSIGNIFICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. ALGUNS ASPECTOS ANALISADOS NO TERRITÓRIO DO MERCADO SUL PODEMOS COMPEENDERASPECTOS ÚTEIS PARA ENTENDER MELHOR COMO O TERRITÓRIO DO MERCADO SUL É UTILIZADO
4%
OUTRO
4% OCUPADO
MISTO
MORADIA
ALUGADO
91%
REVITALIZAR
LOJA
62%
64%
68%
MISTO
36%
APENAS MORADIA
NS/NR OUTRO
MORADIA
PRÓPRIO
5%
LOJA
33%
MISTO
OUTRO
NÃO REVITALIZAR
MERCADO SUL COMO RENDA
7%
MERCADO SUL COMO METADE DA RENDA
MERCADO SUL COMO MAIS DA METADE DA RENDA
9%
NENHUMA RENDA PELO MERCADO SUL
30% PESSOAS POR BOX
30% PESSOAS POR BOX
20% PESSOAS POR BOX
7%
10% PESSOAS POR BOX
10% PESSOAS POR BOX
73
estratégias de ação
* COM ESTE MAPA DE PERCURSO DE ATIVIDADES CULTURAIS EM TAGUATINGA PODEMOS COMPEENDER MELHOR COMO O TERRITÓRIO DO MERCADO SUL SE INSERE NA CIDADE DE TAGUATINGA.
Taguatinga é lugar de espaços e ações culturais. O mercado sul com o passar dos anos, perdeu as características de mercado e se transformou em um grande ponto de cultura do DF. Alguns de seus agentes atuantes dentro desse espaço são: MERCADO SUL CIA. CARROÇA DE MAMULENGOS
CENTRO DE TAGUATINGA DINORÁ COUTO CANÇADO
ECOFEIRA DO MERCADO SUL
MAMULENGO PRESEPADA
TEATRO DA PRAÇA
74
BIBLIOTECA PÚBLICA BRAILLE DORINA NOWILL
CONSERVATÓRIO DE MÚSICA E ARTES DE BRASÍLIA
TEATRO SESC PAULO AUTRAN ASSOCIAÇÃO CULTURAL TRIBO DAS ARTES
CENTRO CULTURAL SESI TAGUATINGA
A CIA CARROÇA DE MAMULENGOS
MAMULENGO PRESEPADA
ECOFEIRA
é uma trupe itinerante que, há 40 anos,
Grupo teatral brasiliense com 35 anos de
A EcoFeira do Mercado Sul é um espaço
viaja o Brasil apresentando sua arte.
mamulengo, diversos prêmios e viagens por
comunitário de exposição, troca e venda
Formada por brincantes, atores, músi-
25 países, atuante na formação de novos
de produtos e serviços que seguem princí-
cos, bonequeiros, contadores de historias
brincastes e na proposição de políticas
pios ecológicos.Reúne artesãos e artistas
e palhaços, a família Gomide já alcança sua
públicas e leis de apoio aos mestres das
que trabalham com economia solidária,
terceira geração. Pais, mães, filhos, netas,
culturas populares brasileiras. No momento
sustentabilidade e reutilização de resídu-
noras e genros vivem o desenvolvimento de
atua na criação da Vila Mamulengo centro
os sólidos ou materiais orgânicos. A feira
uma arte que dialoga com a cultura popular
de pesquisas e práticas sobre mamulengos
é também um lugar de convívio, diálogo,
do Brasil e do mundo.
e outras brincadeiras brasileiras.
pesquisa, comunicação livre, reflexão, provocação e arte. 1 http://mapa.cultura.df.gov.br
MERCADO SUL
75
250m
500m
1km base google maps - editado pelo autor
0
MAPA DE LOCALIZAÇÃO
N
N 200 m
INDUSTRIAL
SERVIÇOS
INSTITUCIONAL
HOSPITALAR
COMERCIAL
RESIDENCIAL
USO MISTO
LEGENDA - MAPA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
76
N 200 m
VIA EXPRESSA
VIA LOCAL
VIA COLETORA
VIA ARTERIAL
LEGENDA - MAPA HIERARQUIA VIÁRIA
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
77
N 200 m
BMB
HC
L
J
cor 1
CL
CL
CL
CL
CL
CL
CL
CL
CL
LEGENDA - MAPA DE CHEIOS E VAZIOS
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
78
N 200 m
BMB
HC
L
J
CL
CL
CL
CL
CL
CL
CL
CL
CL
RAIO 3000M ENS. MÉDIO
RAIO 300M ENS. PRIMÁRIO
RAIO 1500M ENS. FUNDAMENTAL
RAIO 1600M HOSPITAL
RAIO 1600M FACULDADE
LEGENDA - RAIO DE INFLUÊNCIA
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
79
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO mapas na sequência
zas e/ou negras, que confirmam o problema
mapa 1 - Conclui-se com o mapa de uso do
de saneamento
solo que o uso predominante no entorno é o
As calhas foram projetadas de forma a
uso residêncial. Mas que por conta das ave-
liberarem parte da água recolhida pela calha
nidas samdú, comercial seu uso comercial é
central, em calhas que passavam interna-
muito significativo.
mente por algumas lojas, porém com o uso e intervenções ao longo do tempo, essas calhas
mapa 2 - No mapa de hierarquia viária
foram entrando em desuso ou sendo fecha-
vê-se que quem é priorizado é o carro O nu-
das/desativadas.
mero de ciclovias é quase inexistente mapa 3 - No mapa de cheios e vazios podemos perceber uma densa ocupação desta região, que foi feita sem muitos locais permeáveis ou destinados a drenagem. Devemos considerar que além das áreas marcadas no mapa como ocupadas por edificações, ainda existem várias áreas pavimentadas que tornam-se impermeáveis na localidade.
80
mapa de danos (próxima página) A pavimentação é irregular dificultando a acessibilidade do local. O mercado apresenta problemas de infraestrutura. Neste sentido, aspectos relacionados à drenagem das águas pluviais. A Respeito do conforto amiental urbano Conforto Ambiental, o local não possuí muita ventilação por conta fachadas lestes onde a predominância dos ventos oriundos é alta. E a falta de vegetação não proporcionar sombras além de as ruas não serem bem ventiladas. No interior das lojas a sensação é de maior desconforto por conta da telha de amianto, o pé direito rebaixado em relação à marquise bem como a pequena quantidade de aberturas contribuem para a sensação de calor dentro destes ambientes. Entre os pontos críticos percebidos no Mercado Sul estão: a pavimentação irregular, a falta de acessibilidade, pouca iluminação pública, principalmente dentro dos becos, o lixo, problemas com a drenagem e esgoto a céu aberto. Na mesma região onde as águas da chuva se encontram, há um ponto onde há certa preocupação, pois acumula águas cin-
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
MERCADO SUL
81 MAPA DE LOCAÇÃO 0
100m
15m
N
base google maps - editado pelo autor
FACHADA VOLTADA PARA SAMDU (BECO DA CULTURA)
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
MAPA DE DANOS
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
82
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
83
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
84
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
85
86
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
87
o
b
88
j
e t o s
89
ISAÍAS
ARTUR
90
VINCE
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
ELI MAGNUS
PROTAGONISTAS
VIRGÍLIO
CAROLINE
91
ABDER
FARID ANTÔNIO
CONVIVÊNCIA DEMOCRÁTICA
ESPAÇO HORIZONTAL
COMUM
92 BECOMPOSTO
ESPAÇO COM UMA DE USOS DINÂ
SOMOS OS OLHOS DAS RUAS
OLHAR NO OLHO DO OUTRO
ILUSTRAÇÃO DA AUTORA
ESPAÇO TRADICIONAL
A PROPOSTA ÂMICOS
ESPAÇO + PERMEÁVEL
Centre Village
AS CIDADES SÃO DAS PESSOAS melhor qualidade de vida
93
03
02
01
0 10
St. B Sul Qsb 11
15
St. B Sul Qsb 12 Qsb Ae
planta de situação mercado sul - blocos
St. C Sul Qsc 24 CSC 11
AV. SAMDU SUL
94
St. C Sul Qsc 23 CSC 9
30
50
St. B Sul Csb 07 Csb 06
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
18m
S
S
5m
1m
PLANTA ORIGINAL TÉRREO
18m
S
S
95
5m
1m
PLANTA ORIGINAL MEZANINO
9m
5m
1m
PLANTA ATUAL
PLANTA ORIGINAL BOX
Intervenção colaborativa no mercado sul de taguatinga
2/2017 texto, fotos e projeto gráfico carla sena orientadora Drª yara regina oliveira agradecimentos
fontes nexa bold / courier / helvetica & teX Gryre Adventor papel polén 70g craft 200g
follow my steps @ccarlasena @zonzoescapes
96
Deus ao coletivo e ocupação mercado sul vive gabriel lola lucas mãe e pai maurício yara
DIPLO #1 #2 POR CARLA SENA, ESTUDANTE DE ARQUITETURA E URBANISMO, NA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA COM ORIENTAÇÃO DA DRa. YARA REGINA OLIVEIRA
97
Abder Paz é morador, artista e membro do coletivo Mercado Sul
ENTREVISTA
VIVE!
CARLA SENA Que espaço público queremos?
hece seu vizinho do lado, tem uma série de fatores que fazem com que as pessoas
ABDER PAZ
Primeiro
eu
acho
que
sejam mais individuais.
construímos um modelo de sociedade que fez com que as pessoas perdessem a ci-
C Cada um na sua bolha, né?
dade, a rua, essa política neoliberal
130
capitalista ela fez com que a cidade de
A
alguma forma não seja nossa. Não é mais
vidualismo tomando conta da sociedade
nossa porque a gente perdeu primeiro a
como
coragem de estar na rua porque há uma
o espaço público que queremos é o es-
cultura do medo, de que a rua é mui-
paço para as pessoas, um espaço que as
to perigosa então o que a gente tem
pessoas
hoje
de
blico onde as pessoas possam estar a
pensar espaço de convivência são todos
vontade de construir suas festas, seus
espaços privados, são raros os espaços
trabalhos comunitários, suas relações
públicos.
a partir do vinculo que está ligado a
Uma prova disso, são os teatros hoje no
informalidade porque a gente compreende
DF, a maioria deles estão todos fecha-
que
dos. Então, isso é um sintoma de que
ser repassado, trocado. O conhecimen-
alguma coisa está errada porque as pes-
to não tem valor, não tem preço apesar
soas não estão na rua. Apesar de eu não
da academia por exemplo, colocar ele
ser tão velho, eu venho de um lugar que
com valor assim, mas o conhecimento a
a gente cresceu na rua, estar na rua era
gente sabe que ele vai se dar também na
uma prática das crianças.
informalidade, nesse tipo de relações
de
espaço
de
lazer,
espaços
É! Há um processo por fora do indi-
um
o
todo.
fiquem
Então,
na
rua,
conhecimento
é
eu
um
imagino
espaço
algo
que
que
pú-
deve
na relação comunitária, na relação de vizinho, na relação da família, são es-
C Onde?
tes tipos de coisas que vão construir alguma
pessoas melhores. Então temos aí, um
forma isso era o que nós conseguimos,
desafio e um paradoxo, ao mesmo tempo
a gente tinha o espaço da rua e hoje
que as pessoas tem estado mais doen-
as pessoas principalmente os centros,
tes, cansadas, irritadas, individuais
como
Taguatinga,
a gente percebe que os espaços estão
os vizinhos não falam mais com vizinhos
cada vez mais abandonados, então tem um
você mora em apartamento você não con-
paradoxo ai de que as coisas não estão
A
QNL,
é
Taguatinga
Brasília,
Norte,
como
é
de
funcionando, é visível que as coisas
elementos simbólicos que tornam aque-
não estão funcionando.
le espetáculo. Quando a gente fala de cultura, estamos falando por exemplo do biscoito que a nossa vó fazia, porque se eu paro de fazer o biscoito, aquele biscoito morre, por isso ele é cultura, a sua vó, a minha mãe aprenderam a fazer “o” biscoito. Então, a partir dai vai se reproduzindo, reproduzindo e reproduzindo. C Então a arte é uma forma de protesto... A Arte em si é um protesto, ela é uma contracultura, uma infestação que de alguma forma vai contra esse modelo do capital, esse modelo de sociedade que vivemos, do ponto de vista, da cultura de base, as comunidades. É esse tipo de referencia que a gente
C Qual
a
importância
da
arte
e
dos
faz, então ela em si, já é um protes-
movimentos sociais ou outras formas de
to, um ato politico.
protestos criativos?
Aqui
no
mercado
sul
principalmente
porque o mercado sul de alguma forA Os movimentos de cultura popular são
ma tenta fazer essa interface muito
em si movimentos de luta. Cultura aqui
claramente.
não a do espetáculo, muitas das vezes quando
pensamos
espetáculo,
no
em
arte
quadro,
pensamos na
música.
no A
gente tá falando de aspecto cultural
C
Como
é
o
desenvolvimento
das
atividades culturais?
que práticas seculares e ancestrais de manifestações culturais. O mamulengo o
A
teatro de boneco, por exemplo, tem mui-
volvemos
to no Mercado Sul e no DF, a gente tá
é
falando
discursão,
que
é
de o
uma
acumulo
manifestação histórico
cultural de
vários
A
atividade é
cultural
politica,
construído
espaços
reflexão,
que mas
desentambém
políticos
pensando
que
de a
perspectiva de transformação da so-
131
ciedade como um todo, ela é nosso hori-
C
zonte, nós não estamos aqui simplesmente
Mercado Sul Vive?
Como
começou
a
Ocupação
Cultural
para vender espetáculos, shows estamos aqui pra construir uma realidade melhor,
A Como já conversamos, o Mercado Sul é
em geral, nossa pauta é especifica no
uma pluralidade de coisas que além da
sentido dos espaços, da manutenção e
Ocupação Cultural que ocupam as 8 lojas
sustentabilidade dos grupos,mas ela é
existe uma série de movimentos culturais
fundamentalmente
transformação
que atuam aqui e não fazem parte da
sociedade como um todo senão não faz
ocupação. Essa loja que estamos agora,
sentido, porque a discursão primordial
é do Instituto de Invenção Brasileira.
aqui é essa de que a sociedade precisa
Então assim, a Ocupação Cultural Merca-
ser
que
do Sul Vive nasce na numa perspectiva
percebemos que o capital e esse modelo
de que os grupos que estavam atuando
de sociedade que criamos ele é muito
aqui no Mercado Sul, tinham carência de
problemático.
espaço
transformada,
pela
na
perspectiva
e não esta mais comportando o
espaço que tínhamos alugado ou comprado, então, um grupo de pessoas começou a estudar o direito à cidade, que é
132
uma
lei
que
diz
que
não
cumpre
que a
as
propriedades
função
social,
de-
vem ser desapropriadas. Então, a partir dessa
ideia,
pensamos...
Temos
vári-
as lojas aqui que estão sendo frutos de especulação imobiliária
porque os
donos das lojas que deixaram abandonadas, são uma pequena especulação imobiliária...Visto isso, veio a ideia de reconstrução desse espaço, porque uma loja abandonada cria um problema social muito grande, porque primeiro ela fica abandonada, suja, feia e isso acaba afastando as pessoas, e começa ter uma séria de fatores como crime, tráfico, e o estado se omite. Então, ocupamos as 8 lojas a 2 anos e meio atrás, pensamos em como reconstruir esse espaço, pensando na perspectiva de um espaço que seja uma ocupação cultural mas que
também seja de moradia, porque não se
acreditam que é possível gerir um espaço
pode fazer cultura se você não tem onde
sem chefe foi criado nas nossas cabeças
mora, o que comer você não pode pro-
que é isso. Então viemos com esse de-
duzir cultura, apesar de que em vários
safio, um paradigma que tentamos vencer
lugares pessoas produzem sem isso, mas
e trabalhar a partir disso. Nós achamos
se a gente entende que a cultura é a
que
cultura que vem do latim que é a cultu-
democracia é essa que pra um deputado
ra do cultivo, a cultura do latim sig-
ser eleito gasta-se 300 mil reais para
nifica cultivar, que é diferente da do
ser eleito? Isso não é democracia, isso
grego que significa ser sábio, ser culto
é o capital interagindo dizendo para
ter conhecimento. Então nesse ponto de
nós que estamos vivendo uma democracia,
vista da cultura do cultivo, percebemos
nós não temos participação social, nós
que criar condições melhores para que
não participamos das decisões dos es-
as pessoas vivam, existam, produzam seu
paços que nós vivemos, dos discursões
trabalho, no que gostam, no espaço que
das administrações, da saúde. Nós não
gostam, da maneira que gostam, sempre
participamos de nada, votamos em al-
respeitando princípios de horizontali-
guém e dizemos: vai lá e faz! E isso
dade que é nosso grande desafio.
não é horizontal, é totalmente verti-
vivemos
uma
democracia,
mas
que
cal. Horizontalidade é pensar que todas as pessoas precisam ter espaços de fala para que a construção social seja feita a partir de uma perspectiva em que todas as pessoas tem direito de opinar e precisam opinar para construir uma sociedade que contemplem as necessidades das pessoas.
C Então no mercado sul é feito essa experiência horizontal.... A Sim, tudo aqui tudo é decidido em assembleias, as assembleias populares C Explica essa horizontalidade...
em busca de consenso, mas compreendendo que o consenso não é só quem tem mais
A É a democracia direta, é saber que todas as pessoas têm que ter o poder de
decidir
coisas.
As
pessoas
não
votas
ganha,
é
conseguir
estabelecer
acordos que contemplam as falas e necessidades que as pessoas tem.
133
C A
gestão
é
feita
a
partir
das
assembleias populares? A Isso,
nós
constituímos
uma
assem-
bleia, e essa assembleia ela é a estância máxima deliberativa do movimento. Todas as decisões são tomadas a partir dessas assembleias, dos consensos, tudo é decidido a partir disso. Não existem representantes que falam pelo movimento algumas pessoas com mais facilidade de fala vão conseguir falar em determinados momentos, isso tudo é rotativo para que não personalize muito. É importante essa rotatividade para que as pessoas assumam esse papel e possam falar pelo movimento e consiga provocar as demandas
134
tudo
isso
é
decidido
nas
assem-
bleias, que é um espaço mais horizontal possível. C Existe
alguma
coisa
que
poderia
com o poder público?
Existe
maneira e perspectiva que não concordamos e achamos que devem ser mudadas. Temos um desafio, mas que, como estamos num espaço que é de propriedade privada, na desapropriação desses espaços, precisamos que o estado desaproprie essas lojas. Então, buscamos essa interface. C Como é construir uma cidade melhor? A
Seria
um
a
cidade
que
as
pessoas
pudessem ter poder sobre ela e poder decidi sobre as coisas que estão acon-
facilitar/tornar mais fácil o dialogo
A
de poder estão muito enraizadas de uma
uma
interface
tecendo no dia-dia. Ter a rua de volta, perdemos a rua, a praça. A rua é dos carros, das lojas, empresas...a rua é uma série de fatores que não domina-
de
diálo-
go, existe uma série de provocações, hoje o mercado sul por exemplo, está tentando fazer um processo de regulamentação de uma lei, a Lei das vilas Culturais tem um processo administrativo correndo pelo GDF,para que a gente possa, de alguma forma, trabalhar para que a lei aconteça. A interface acontece, ela existe, só que pensando localmente, se pensarmos no macro, esse diálogo é muito difícil e complexo. As estruturas
mos mais. Então assim, a cidade ideal é a cidade para as pessoas, que possamos ter segurança diálogo, ter escolas sem grades, criamos escolas que são presídios, tem arame farpado em volta das escolas... que lugar é esse que eu vou
levar
as
crianças,
ou
jovens?
A
cidade ideal é utópica mas temos trabalhado todos os dias para chegar nesse lugar C Como você enxerga o Mercado Sul e a ocupação Mercado Sul Vive?
desapropriação definitiva das lojas? A O mercado sul eu enxergo, de uma maneira muito positiva, eu acho que ele
A Manteríamos as atividades funcionando
é uma ilha dentro do distrito federal,
como
ele é um espaço de resistência, de luta
avançaríamos no sentido de fazer refor-
como vários outros espaços no DF, de
mas estruturais, melhorar os espaços, o
uma comunidade que sofre uma opressão
espaço tem condições precárias ainda.
estão.
Com
a
desapropriação
muito grande, social, racial. E a ocupação Mercado Sul Vive é o pro-
C
cesso de luta e amadurecimento desse
serve como um motor para estes outros
movimento cultural que está no mercado
movimentos que vem acontecendo no DF
sul há muitos anos e que de alguma forma
como o Dulcina Vive?
Você
acha
que
o
Mercado
Sul
Vive
tem tentado contribuir para uma socieA Claro! O próprio Dulcina Vive é um
dade melhor
parceiro nosso, tanto que a ocupação C Como o Mercado Sul Vive contribui
se chama Dulcina Vive....então de cer-
para a cidade?
ta forma dialogamos muito no começo da ocupação, eles vieram muito pra á antes
A
Como
tem
contribuído,
espaços
de começarem a ocupação lá no Dulcina
de pensamento, diálogo, as portas es-
de alguma forma é um grande parceiro, e
tão sempre abertas, fazendo atores da
tem reverberado naturalmente esse pro-
cultura
cul-
cesso de troca que alguns grupos tem se
turas tradicionais, para estar comuni-
inspirado no processo que fazemos e nós
cando
nos inspiramos em outros grupos.
popular
com
a
com
brasileira,
comunidade
como
de
um
todo
na perspectiva também de dar suporte e discutindo políticas públicas, também é
C Que outros movimentos/coletivos são
uma perspectiva que o mercado sul atua
paralelos com o mercado sul?
a vários anos, de como a gente vai ter que de alguma forma vencer umas quedas
A O Dulcina Vive, o Ocupe Estelita no
de braços sobre direitos, como esses
Recife, Ocupação Estrela em Belo Hori-
direitos são difíceis e outros grupos
zonte, tem vários grupos por exemplo
tem apoiado nesse sentido. O mercado
que fazem jornada de agroecológica que
sul não é uma formula mágica para uma
é na terra vista no sul da Bahia que
sociedade melhor mas é uma possibili-
temos feito bastante trocas, tem a rede
dade.
mocambos que tá ligado na casa de cultura… no DF, a Família Hip-hop, casa Fri-
C
O
que
aconteceria
se
houvesse
a
da, Circo inventado, Seu Estrelo
são
grupos que somos parceiros, quando podemos vamos lá ou eles vem aqui trazer espetáculo, trocas.
135