Tudo jรก foi dito
TUDO JÁ FOI DITO CEM VEZES tudo já foi dito cem vezes e muito melhor do que por mim só escrevo versos porque me diverte porque me diverte porque me diverte e vão tomar no cu. Boris Vian (1920 / 1959) Tradução: Fabrício Corsaletti
minibio eu sou apenas uma farpa pequena de finitude bem menos estropiada que a maioria desse rotundo e móvel mundo tudo que sei cabe no tempo de um orgasmo e o que eu não sei cabe também.
geração chupo pica peito picolé de pitanga até o palito de vez em quando ainda sinto o gosto pálido do tédio.
mesmo não estando lá está você no infinito da memória da banda larga, ou do bar a barba, o jeans claro sempre tão incertos ao lado dos instrumentos que você toca trompete e moças bonitas ambos de sopro e afeitos à fanfarra seja ilusão ou não da minha semiótica gostaria de ser um deles gozar na sua boca fazer música.
SP saudade no talo eu nem te conheรงo nรฃo tendo o tato na tela te leio e tanto o faรงo que teu lastro me chega feito vontade entre as tetas te abraรงo, te abraรงo.
para Allen Ginsberg ao chegar o fim de tudo no passaralho do universo não restarão as baratas nosso legado há de ser ereto caralhos e mais caralhos desenhados nas carteiras e em todo muro restritivo sobrará um simples falo uma fala, gesto subversivo na solidão de um banheiro desse mundo eternamente de cócoras sobrará um dedo em riste pra tudo que é triste e não dá prazer.
toda vez que o vejo lhe deito um poema na cara hoje me deitei com ele na cama pela primeira vez passei pelo sono procurando a conjuntura dentro do seu cheiro de macho doce e abobado não encontrei nada que pudesse ser tema a não ser que amei lhe apresentar aquela do Tim em inglês a não ser que lhe chuparia até desvirar o lado b mas isso já foi dito.
a água da bica ainda que turva pode voltar à nascente bota a saia rodada, menina balança o grelo na esquina porque esse caminho que fazemos no escuro não é coisa de minuto veja o poema leva o tempo duma vida tão dançada quanto doída feita de purpurina e assombro.
<rascunho> eu fui ao seu encontro com um vestido que mostrava todo meu colo, o que soou como provocação. na verdade, era o único que não precisava passar, mas adoro pensar que você pensou que era proposital. fui andando rápido, com as mãos geladas e as maçãs do rosto em brasa. você me beijou no meio da rua. depois sentamos num bar que tocava rock totalmente vazio. éramos só nós dois sentados numa mesa do canto. você me falou sobre as mulheres de sua vida. falava de um jeito tão bonito que eu me apaixonei por todas elas. você beijou meu pescoço. bagunçou meu cabelo. vi que não tinha volta. todo meu corpo, meus pelos, todas as bolinhas do meu vestido, queriam passar toda aquela noite ali. tudo queria virar uma estória na sua boca. desde então, só penso em ser sua. quase não trabalho. quase não leio. mas quando eu te encontrar de novo, o quase vai rolar ladeira abaixo.
Talking Heads Nietzsche, Freud bĂblia e o escambau ontem eu li de um tudo sĂł pensava no seu pau.
balĂŠ fiz uns versos pra vocĂŞ leia enquanto me espera pro cafĂŠ eles falam de sincronicidade palavra comprida de som macio cujo sentido a vida e o sono ignoram mas nossos corpos conhecem muito bem.
Paris monamú “O que você vive ninguém rouba… Não vá morrer sem experimentar a maravilha de trepar com amor.” Memórias de minhas putas tristes – Gabriel Garcia Márquez
a causa era justa feito o vestido: para evitar a marca no derrière tirou a calcinha e foi beijar a rua assim, sem barreira de renda acabou por trepar com a cidade sorvendo velho clichê com amor é um tanto melhor.
da segunda ontem te beijei como quem mata o tédio de todos os domingos de missa às pressas lambemos a ferida deixando à vista um buraco sem fim dentro dele nós e isso que chamam amor desligar a tv quando começa o fantástico.
colchão no chão (pernas pro alto) não tem culpa ou luz estamos nus também no coração as pernas tão em curto (com você é sempre a última vez) não tendo o rádio sou toda tua onda sonora ~~that you gimme no that you gimme no~~ tem desfaçatez e me pergunta se é a do Erasure ou a versão do Wheatus só mente enquanto canto me acompanha em toda música.
na natureza o equilíbrio também é uma espécie de morte o ferro da maçaneta fria que abre a porta da tua sala faz meio círculo de fogo no meu baixo ventre você que só fala do homem do mar eu que moro sob a tua calça lenta será que lateja quando um líquido quente se mistura a um frio os dois morrem não demora que escorre em mim o tempo a temperatura sonhei que te alisava os cabelos e tudo mais eram amenidades.
te chamo lume porque tem pressa e deixa em mim cheiro de amendoeira te odeio um trago porque no amor não demora embora não saiba o que é bojo peço ao asfalto que me livre do teu ventre, da tua lira ou que me foda forte e vire estrela poeira na minha sola.
passar a noite num motel que de tĂŁo barato hĂĄ que se forjar a meia-luz deixando a porta do banheiro aberta e pensar que a vida de qualquer pessoa daria um filme.
tua vontade é azul escuro por isso te adentro como quem pisa numa poça no chão da noite de chuva com a cabeça reverente como se fosses o Mar Báltico um filme de pirata.
copo d'água senha de wi-fi e gozada na cara não se nega a ninguém.
São Cristovão o que para o povo na rampa o que para o povo na rampa pro trem tem motivo é o púbis da trava sobressai tão telúrica marca marca texto da hora do rush rosa flúor seu short de lycra se destaca do tédio que passa ela para a rampa pro trem.
god only nows a blusa verde botada pra ir ao teu encontro foi desbotada na volta da praia revelando meus peitos a um julho que tragou toda a cor pra si alguns janeiros depois passada a onda surf wear cá está a blusa na caixa de doação pros desabrigados da última enchente isso que chamam acaso na vida se por surfista por vistas e vestes pelos jacarés e tsunamis ou ouvindo Beach Boys na internet.
waldeinsamkeit a última vez que limpei as lentes dos óculos preferidos a vista que economizei no sono de toda a vida a melhor noite de amor no chão frio o poema inédito cor-de-laranja meu único livro do Goethe sozinho na recepção do Plus Hostel ficou tudo em Berlim .
divagações sobre um dia de chuva 1. fora da área de cobertura meu culote cu + lote cu e um lote a mais molhado 2. o sol nasce pra todos a chuva e os juros também chuva + juros churos de doce de leite pra todos meu primeiro amor dizia: “ela não se dá com os dígrafos”. 3. quando eu morrer e for pro céu serei recepcionada por todos meus guarda-chuvas eles estarão me esperando aquele que eu comprei em Londres o que me roubaram na faculdade o que esqueci na casa de alguém que não podia ver mais todos me inquirirão e me contarão o quanto sofreram com meu abandono.
poesia portátil na praça Saens Pena abro o arquivo mp3 pra ouvir seu gemido alto ao pé do fone do meu ouvido eu penso estar naquele lugar onde poetas da Tijuca prostravam-se só pra ver o poema tomar corpo sem qualquer esforço.
qual a relação entre drama e nomes compostos? ela é curiosa e tem brincos grandes por isso me prendo às pedras às pernas das suas perguntas mas é bom falar que prefiro sem filtro e sem moldura eu vou pedir que na próxima não me venha com adereços tipo xaradas, calcinha de cóton não, o copo de chopp deixa e é claro, a falta de chão e luz.
o amor é tudo que disseram que não era eu poderia viver de vender você comercializar seu cheiro em vidros te pôr sou abnegado embora não pareça eu poderia levar o sustagem das crianças inventando nomes melhores pra esses esmaltes que você usa mas veja só que fim em breve devo perder o emprego por nem abrir mais e-mail por não ter outro meio de gastar o expediente sem ser com poemas vis que ninguém nunca vai ler.
para Elisa no dia em que eu me apaixonei ela tinha Zaratustra e maresia nas mãos nunca passei da orelha do Dalton Trumbo que ela me deu também não consegui fazê-la amar poesia além-Pessoa na noite em que ela chorou ao me ler desconfio ter reduzido em 2 anos minha expectativa de vida nossas melhores fodas foram forra a recaída, na época Guerra e Paz talvez seja essa debilidade do mundo a mesma que fez vista grossa para as odes, agora gloriosas e póstumas, de Keats deixei o Poe na sua portaria ontem e isso é tão bonito quanto Nietzsche de biquíni no Posto 8.
bon iver vivo tomando cafĂŠ e coragem pra levantar de vez dessa sua cama de nuvem me molho diga ao ar condicionado que fico.
festa fosse fome fosse fole fosse folk fosse fone nĂŁo me faltaria doce falo cheiro fogo dengo forte foi simbora pra ser fonte minha folia fez-se foto foco longe virou foice flor no peito forasteiro fĂłssil bom.
que os direitos sejam iguais no salรกrio no papel e continuem caducos no naufrรกgio no motel a conta, por favor.
para Mercúrio te passo no joelho esfolado de aventura você chega assim freada de avião não me faço de rogada nem de retrógrada faço um poemeta pra você mercúrio que inventou o vermelho do magenta primário me tirou do armário e me fez pequenina pra tanto sistema galáxia, estrela cometa em mim solene engano maroto planeta deixe aberta a porta da casa do capeta me mantenha febril alheia ao débil mundo conserve minhas veias saltadas e exaustas entrelinhas de verso.
ode ao marinheiro eu carregava livros seus na mochila no celular guardava tantas mensagens ele pudesse suportar e quando você ligava eu apagava os outros números pra que você reinasse soberano nas chamadas atendidas ou não você era meu refrão-chiclete e se o ecad fosse honesto todas as canções de amor seriam suas eu vivia com medo de ter um troço na rua cair no chão eu me rasgo fácil, você sabe e se me levassem pro hospital à revelia e não me costurassem com direito? poderia escapar um pouco de você de dentro de mim mas eu me enganava o esvaziamento nunca foi agudo, é crônico quando vi você tinha ido embora sozinho sem que eu percebesse como a gata malandra que sai de mansinho na bruma da manhã e não esquece a calcinha pra lembrar seu cheiro deixando apenas a tristeza de um néon aceso ao meio dia.
achados e perdidos no início a tarde foi boa o crepúsculo intenso à noite riam à toa o alvor também fora denso no deck tiraram a roupa a figura do mestre era puro encantamento sussurros dançavam no céu da boca até a petite mort arrebatar o momento após os delírios cessou a conversa um silêncio sepulcral tolheu a poesia numa peremptória agonia ela viu-se imersa sentia pressa de acordar em outro dia no platônico amor fez-se um vinco do tesão só restou a saudade do brinco.
ela tatuou nos peitos o deserto do Atacama como pode como pĂ´de fazer isso comigo? ainda teve o desplante de postar no Facebook e receber muitos likes eu chorei um oceano porque nunca mais veria o rosinha do bico que agora dĂĄ lugar a um imenso cĂŠu azul.
deselogio ao pelo menos e no entanto queria ser a dileta moça da previdência ou precisar de uma lâmina velha forjada pra te raspar às pressas pra um dia de praia ou amor mas se o clima tempo erra, a conclusão nunca se encerra e a onda boa te leva quando te pega/te deixa de calça arriada?
se o vinho se derrama sobre a cama se der ama sobre a poรงa se der lama lamba a moรงa se nรฃo der lave a louรงa se nem isso deus te ouรงa pessoalmente.
Google Maps do cabaço no Morro do Castro um lastro numa cama pouca de Copacabana num cafofo bom de Botafogo no cemitério do Caju fica cica uma parte de mim no Canecão na palma da mão de alguém sempre tem na ponta do dedo no gatilho também naquele canto 232 praça XV cada banco e lugar guarda um tipo de virgindade meu ou de alguém que se deu pela primeira vez a alguma coisa.
coragem. foi a primeira coisa que pensei em te dizer, garotinha. nessa sexta de atmosfera instável no peito, boto Joplin na vitrola e te encontro no elevador. você está só de calcinha e com uma pequena pá de areia nas mãos pra conseguir alcançar o botão do 12º andar. você tem apenas 5 anos e já não quer andar assim... te digo: não tenha vergonha. olha, isso que você guarda entre as pernas, o que a sua mãe chama de xereca, tem outros nomes, sabe. e, eu prevejo, você vai aprender a gostar de todos. uns menos, outros mais. você vai amar todas as palavras, porque todas são lindas. e, convenhamos, é muito estranho existir uma coisa que não pode ser dita, não é mesmo? você vai reler a sua mãe quando estiver adulta e odiará todas as rugas novas que o tempo rabiscar em seu rosto. sempre que te cair um dente ou uma esperança, você vai morrer um pouco. ah, e você vai amar. amar muito. você vai dançar na sarjeta, garotinha. os cachorros vão lamber suas feridas e você vai gostar disso. você vai ser amada, muito amada. apreciará pontos de umbanda e dirá aos nove ventos que sua religião é tentar não ser filha da puta com os outros. isso é bom. mas troque "filha da puta" por "mequetrefe". apesar de toda boa intenção de seu pequeno corpo, você fará gente sofrer. assinale no quadradinho lá embaixo. isso serve pra sua falta de talento pra música também. se conforme apenas com isso. hoje, te pego pela mão e digo, não fuja. em caso de emergência, mantenha sua pá de areia à vista, não se esqueça dela. alcance as estrelas, umas bem quentinhas, nem que sejam as forjadas no aço frio do elevador. cave mais fundo que puder, garotinha. coragem.
da vida saber que ao contrário de Da Vinci seu sketchbook não repousará sob um vidro diferentemente de Victoria e Albert seu nome não batizará um acervo concorrido mas enquanto se lembra da casquinha de cola que você tirava com cuidado do dedo no instante em que se assombra com fotos antigas de mulheres e seus maiôs severos quando aumenta a família de cicatrizes num tombo durante um porre se ouve “eu te amo” ou “me fode com força” será você seu próprio museu ninguém saberá de tudo que você chorou de todos os odores que exalou das pragas que rogou ninguém saberá só você e o seu museu secreto.
FYI no futuro não haverá escritos a serem lidos devassarão meu e-mail coisa tão obsoleta quanto eu encontrarão na pasta das enviadas cartas de Beauvoir para Algren na entrada algumas respostas cheias de Sds Att Vtnc Pqp sou do tempo em que se abrevia Abs.
um encontro de quatro horas bar, livraria, igreja, seu colchão olho pra foto agora estou tão radiante ao seu lado não sei se é a cana de ontem não sei se é a ressaca de hoje pareço quadro de Chagall eu flutuo mostrando os dentes só sei que não gosto de você eu gosto de mim ao seu lado.
7 graus na cama nossos rostos se enfrentam eu percebo uma coisa diferente nos seus olhos eles parecem mais antigos que o resto de você são olhos que conhecem todos os mistérios do mundo eles me decoram por dentro ao mesmo tempo, são olhos de coroinha é um olhar meninil, afoito desbaratado por uma grande novidade há tanta força ali, nas janelas da sua alma que, ao me virar, nem sinto sua barba esfoliando meu ombro fico um tempo sorumbática sob o suntuoso impacto cheia dos olhos seus parece a primeira vez que usei óculos quando eu chorei de estranhamento ao enxergar novamente me vejo tão outra diante dessa visão eu em você, você em mim depois de tudo, colocamos as lentes de contato e damos cabo da caótica vista do quarto.
a mulher de quadril largo em tempos mais antigos era aquela cobiçada pela confortável bacia de parideira hoje é quem com justeza ocupa pouco mais da metade de um banco de dois lugares com um rabo de sereia a guardar pra si todos os olhos embora Vinícius tivesse certeza ser a guitarra o feminino em forma sua curva bem vinda, galega se encaixa no colo feito viola.
as mina nas esquina virtual finge que não mas gostam de ser tipo Zooey Deschanel (que hell) “ah seu pudesse me parecer com quem sou fosse invenção minha o cabelo da Bardot” mas a face linda blasé da Charlotte Gainsbourg se igual vou fazer mas que cara de cu.
ela sente pena de dedicatĂłria sem livro de beijo sem crivo do grelo nĂŁo chupado no olhar do cavalo (diz que ele tem pena da gente) de almas penadas ela sente pena e mais nada.
a coisa mais bonita do ano ainda sĂŁo seus olhos deitados sobre as minhas ancas.