PSICODRAMA
O psicodrama é uma técnica psicoterápica desenvolvida pelo psiquiatra romeno Jacob Levy Moreno com a finalidade de propiciar uma ação dramática no indivíduo. Acredita-se que é através da dramatização que o indivíduo entrará em contato consigo mesmo, com suas estruturas e inter-relações.
Quem foi Moreno? Médico, psicólogo, filósofo e dramaturgo, Jacob Levy Moreno nasceu em Bucareste na Romênia, cresceu em Viena, e mais tarde naturalizou-se americano. Fez grandes contribuições ao campo da psicologia, sendo o criador do Psicodrama e da Sociometria. Era de família judia, seu pai Moreno Nissim Levi era comerciante e sua mãe Pauline Lancu, uma mulher cheia de sonhos e ideias, poliglota, e contadora de histórias. A religiosidade, a criatividade e a empatia serão marcas no desenvolvimento do trabalho de Moreno, que acreditava que o homem precisa tentar imitar as qualidades de deus para ser bom.
CONCEITOS
AQUI E AGORA “É uma folga, um lapso, um repouso, uma parada com identidade própria, não se comprometendo isoladamente com o passado, presente e futuro. [...] Compreender o presente é para o psicodrama, o primeiro passo para aprofundar a relação terapêutica”.
Quando “deixamos para depois”, ou pensamos muito no que “poderíamos ter feito” acabamos adoecendo. Assim sendo, aprender a agir no aqui e agora é fundamental à saúde do sujeito, e a dramatização torna possível esse aprendizado.
CRIATIVIDADE “É a parte tangível da espontaneidade”. “Possibilidade de modificar uma determinada situação ou estabelecer um novo modo de ação”. É o produto de um novo modo de agir perante as situações, ou seja, da espontaneidade. É por meio da espontaneidade que a criatividade surge.
COMO SE “Oportunidade de, através da dramatização, examinar experienciando o sentido profundo de papéis vivenciados ou fantasiados”.
É no como se que podemos experimentar, se colocar no lugar do outro e também dar vazão às próprias fantasias.
SER EM RELAÇÃO
“O homem moreniano é um ser social: nasce em sociedade e necessita dos outros para sobreviver”.
Característica comum às psicologias fenomenológicas, o homem é visto como relacional. É a partir do contato com o outro que formamos nossa própria identidade.
ENCONTRO “É um instante muito especial, que apaga tudo que está ao redor e fora do puro encontro entre os dois envolvidos”.
Encontro é um momento de empatia mútua, é o instante em que o fator tele se manifesta.
TELE “[...] consiste num conhecimento correto e sentimento real do outro”.
O fator tele é fundamental interpessoais pois trata-se recíproca, ou seja, entender entendido no que se refere à emoções.
nas relações da empatia o outro e ser sentimentos e
TRANSFERÊNCIA “É a patologia da tele – um fenômeno oposto. Ocorre quando o indivíduo projeta conflitos internos no outro e passa a vê-lo de modo distorcido”.
Se na tele a empatia ocorre nas duas direções e busca-se captar as emoções e sentimentos do outro, na transferência ela está ausente; o paciente não enxerga a si mesmo e acaba projetando seus conflitos no outro. Pode ser produto de conserva cultural.
CONSERVA CULTURAL “É a cristalização de um processo de criação ou de um ato criador”.
“São objetos materiais, comportamentos, usos e costumes que se mantém idênticos, imutáveis em dada cultura”.
A conserva cultural é um modo pronto, um final que deve servir apenas como exemplo para novas formas de atuação. Quando cristalizamos deixamos de agir criativamente e passamos a dar respostas condicionadas diante das situações vivenciadas.
ESPONTANEIDADE “Resposta inédita, renovadora ou transformadora de situações pré-estabelecidas”
Ligada intimamente ao conceito de adequação é o ato de responder bem às situações; não se anulando, mas também não fazendo qualquer coisa quando der vontade. Agir com espontaneidade é agir da sua maneira, no momento certo e na hora certa.
PAPEL “É a forma de funcionamento que o indivíduo assume no momento em que reage a uma situação específica, na qual outras pessoas e objetos estão envolvidos”
Os papéis são as formas como o indivíduo age consigo, com os outros e com o mundo.
MATRIZ DE IDENTIDADE
1° Universo da Criança A matriz de identidade é a placenta social da criança, o lócus em que ela mergulha suas raízes. [...] O mundo em torno dele é denominado 1° Universo e está dividido em dois tempos: 1° Tempo: Matriz de Identidade Total; É marcado pela Amnésia Infantil, pela Síndrome da Fome de Atos, pela intemporalidade e pela ausência de sonhos.
Diagrama da Matriz de Identidade Total O círculo grande representa o mundo infantil. Os círculos pequenos, dentro dele, representam objetos animados (pessoas e animais), e os quadrados, objetos inanimados. Eles sobrepõese para indicar que os indivíduos e os objetos ainda não são experimentados como unidades separadas, mas que se fundem em diversas configurações, à medida que entram na esfera de ação da criança.
1° Universo da Criança 2° Tempo: Matriz de Identidade Total Diferenciada (ou de Realidade Total); Aqui os objetos, animais, pessoas e a própria criança passam a diferenciar-se, ocorre um decrécimo na fome de atos e surgem os primeiros registros oníricos, porém ainda não existe diferença entre o real e o imaginado, entre o animado e o inanimado.
Diagrama da Matriz de Identidade Total Diferenciada Aqui, indivíduos (círculos) e objetos (quadrados) estão separados para indicar que já são diferenciados como unidades que atuam separadamente. Os tracejados representam aquilo que é imaginado, porém todos estão incluídos no círculo grande porque a criança lhes atribui o mesmo grau de realidade.
2° Universo da Criança O início do segundo universo é marcado pela brecha entre a fantasia e a realidade. Formam-se dois conjuntos de processos de aquecimento: um, de atos de realidade, e outro, de atos de fantasias.
A partir desse momento o indivíduo começa a desenvolver dois novos conjuntos de papéis: sociais e psicodramáticos.
Matriz da Brecha entre Fantasia e Realidade O cĂrculo A representa o mundo da realidade total, os dois cĂrculos inferiores representam o mundo da fantasia (C) e o mundo da realidade (B).
Fases da Matriz de Identidade Além de Moreno, temos um avanço importante no desenvolvimento teórico do estudo das fases da Matriz de Identidade no trabalho de José Fonseca Filho. Abaixo vemos uma breve comparação entre as fases descritas por ambos:
PAPÉIS
Tipos de Papéis Moreno classifica em três categorias os papéis que desempenhamos:
Papéis Psicossomáticos Os primeiros dentre os “papéis precursores do ego” expressam a dimensão fisiológica do eu. São exemplos deste tipo de papel o do indivíduo que come e o papel sexual.
Tipos de Papéis Os Papéis Sociais e Psicodramáticos surgem após a brecha entre fantasia e realidade. Vale lembrar que neste período a imaginação não perde sua função mas tem seu âmbito delimitado. Os papéis psicodramáticos correspondem à dimensão mais individual da vida psíquica, e os papéis sociais à interação social.
Fases de um Papel
O processo de adoção de um novo papel pelo indivíduo passa por três fases distintas: 1. Role-taking: adoção do papel que consiste apenas em imitá-lo, a partir dos modelos disponíveis; 2. Role-playing: jogar com o papel explorando simbolicamente suas possibilidades de representação; 3. Role-creating: desempenho do papel de forma espontânea e criativa.
CLUSTERS
CLUSTERS Para Moreno os papéis desempenhados pelo indivíduo não são exercidos isolados, mas se agrupam em torno de padrões semelhantes formando “cachos de papéis” (efeito cluster) , que são precursores do ego. Dalmiro M. Bustos, baseado nesse efeito desenvolve a Teoria dos Clusters, na qual busca compreender a dinâmica interna desses papéis com base na sua interação. Ele classificou em três tipos de cluster os modelos relacionais existentes ao longo da vida.
CLUSTER 1 / MATERNO
“É o primeiro vínculo e sua dinâmica baseia-se em dependência, passividade e incorporação”. Nas experiências desta fase que aprende-se a receber, aceitar e conviver com a vulnerabilidade. O cluster materno também propicia ao indivíduo a vivência do prazer.
CLUSTER 2 / PATERNO À medida que a criança se desenvolve, vai percebendo que o pai não é apenas pano de fundo no contexto familiar, mas um grande representante. Aqui é onde começa a caminhada rumo à autonomia. O pai estimula a coragem, a ousadia, a autonomia, bem como o respeito à autoridade e a ordem. A criança aprende a reconhecer suas necessidades e buscar satisfazê-las (ou administrá-las).
CLUSTER 3 / FRATERNO Diferente das relações estabelecidas nos clusters 1 e 2, no cluster 3 elas possuem simetria; a criança está em meio aos seus pares. As dinâmicas aqui baseian-se em competir, compartilhar ou rivalizar. A negociação é essencialmente do cluster 3.
CLUSTER 4 / EU COMIGO MESMO A partir da Teoria dos Clusters de Bustos, Joceli Drummond criou o conceito do Cluster 4. Para este, dos clusters trabalhados cria-se um espaço de consciência, que vai se percebendo internamente e interagindo nas relações.
FOTOBIOGRAFIA
Os pais de Moreno: Pauline Lancu e Moreno Nissim Levi.
Quando tinha cinco anos (1895) a família mudou-se de Bucareste para Viena. Foi neste local que vivenciou a ‘brincadeira de ser deus’ (godplayer). Nesta brincadeira, em que ele e várias outras crianças jogavam ser deus e os anjos, Moreno estava sentado no “trono de deus”, uma cadeira em cima de caixotes empilhados sobre uma mesa, e um dos “anjos” solicitou-lhe que voasse. Ele atendeu e acabou caindo no chão fraturando o braço direito.
Durante a adolescência, enquanto morava sozinho em Viena, teve contato com a obra de importantes filósofos como Agostinho, Pascal, Spinoza, Kant, Hegel, Marx, Nietzsche, etc. Pouco tempo depois Moreno tornara-se rebelde, deixara a barba crescer e vivia uma vida errante e boêmia. A aparência e o comportamento empático do jovem Moreno lhe davam um aspecto paternal e terno que o tornaram famoso na cidade, onde começou a ser procurado por pessoas com problemas.
Em 1909 (20) – Ingressou no curso de Medicina da Universidade de Viena. Neste período interessou-se pelo teatro do improviso, sendo um dos seus passatempos preferidos contar histórias e fazer brincadeiras de improviso com as crianças no parque Aungarten. Acreditava que este seria um meio de ajudá-las a manter sua criatividade e espontaneidade. Foi observando estas brincadeiras, que chegou à hipótese de que as patologias psíquicas poderiam ser controladas através de sua representação em vez de serem reprimidas ou “resolvidas”.
Entre 1914 e 1918 (25 - 29) cuidou, como oficial médico de um campo de refugiados nos arredores de Viena, onde uma vida comunitária se desenvolveu. Através desta experiência, observando as forças de atração e repulsão dentro do grupo surgiu a ideia de planejamento sociométrico e da busca de parâmetros de objetividade científica nas Ciências Sociais. Recebeu seu diploma de Doutor em Medicina em 1917 (28).
Desde sua formação até 1920 (28 - 31) colaborou (como editor) com a Daimon Magazine, importante revista existencialista e expressionista. Também entre 1919 a 1925 (30 - 36) trabalhou como médico em Kottingbrunn, e depois como administrador de saúde pública em Vöslau. Em 1921 (32) criou o Teatro da Espontaneidade, que consistia em apresentações de improviso e interação com a plateia. Mais tarde criou também o Jornal Vivo, onde ele e um grupo de atores dramatizavam as notícias dos jornais diários.
Ao trabalhar com pacientes do hospital psiquiátrico usando o Teatro da Espontaneidade, criou o “Teatro Terapêutico”, que depois passou a ser chamado de Psicodrama Terapêutico.
Define-se a primeira sessão psicodramática como sendo o evento em 1º de abril de 1921 no Komödienhause em Viena. Moreno não aceitava dinheiro de seus pacientes, e ironicamente, o anonimato lhe rendeu a fama de Wunderdoktor (Doutor Prodígio).
O clima antissemita crescia em Viena e seu trabalho já vinha despertando inveja, teve então a intuição de sair da Europa; em 1925 (36) emigrou para os EUA. Trabalhou no Hospital Monte Sinai em Nova Iorque, onde produziu e desenvolveu vários testes sociométricos com crianças. Posteriormente levou o psicodrama para o Plymouth Institute. Em 1931 (42) introduziu o termo Psicoterapia de Grupo.
Em 1936 (47) fundou o Beacon Hill Sanatorium e uma escola em Beacon. Nesta época Moreno recebeu importante apoio moral e financeiro de seu irmão William, que havia chegado ao país anos antes e era um empresário bem sucedido. Foi com o apoio deste que abriu em 1942 um teatro de psicodrama em Nova Iorque e uma editora, a Beacon House, para publicar seus trabalhos. Suas primeiras publicações foram as revistas Sociometry e The Words of Father.
Em 1926 (37) casou-se com Beatrice Beecher, mas acabou se divorciando. Em 1938 (49) casou-se novamente, desta vez com Florence Bridge, com quem teve uma filha, Regina (1939). O casamento também não durou, e em 1941 (52) conheceu Celine Zerka Toeman que foi sua companheira até o fim da vida; casaram-se em 1949 e tiveram um filho, Jonathan, em 1952.
Acompanhado por Zerka, Moreno viajou o mundo divulgando suas ideias e métodos terapêuticos. Ela tornou-se uma talentosa psicodramatista, pesquisadora sociométrica, escritora, editora e professora. Foi a maior responsável pela sistematização da obra de Moreno nos EUA, sua divulgação pelo mundo e (após a morte do cônjuge) continuação.
Moreno morreu em Beacon, em 1974 e pediu para que em sua lápide fossem postos os seguintes dizeres:
“Aqui jaz aquele que abriu as portas da Psiquiatria à alegria”.
APRESENTADO POR: CARLITOS STRAPAZOLI JOANA MÜLLER KARINE VALDRICH FERREIRA RAFAEL SEGATTI UNIDADE DE APRENDIZAGEM: PSICODRAMA
FACILITADORA: LILIAN MACIEJESCKI
PALHOÇA 2015
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUSTOS, Dalmiro M. O Psicodrama. Editora Agora, 1992. MACIEJESCKI, Lilian. Intervenções Psicoterapêuticas com Base nas Psicologias Fenomenológicas I. Florianópolis: [Material didático não publicado], 2015. MORENO, Jacob Levy. Psicodrama. Editora Cultrix, 1978 POTENCIAR CONSULTORES ASSOCIADOS. Coaching com Psicodrama. São Paulo: Potenciar Consultores Associados, [200?]. PSICOLOGADO. Uma Compreensão sobre o Psicodrama. 2015. Disponível em: <https://psicologado.com/abordagens/ psicodrama/uma-compreensao-sobre-o-psicodrama>. Acesso em: 02 maio 2015.