Revista O Dirigente Cristão

Page 1

O Dirigente Cristão Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul - ADCE Nº 173 - Ano XIX - Agosto/ 2010 Conexão

Conexão

Doutrina Social da Igreja: Pe. Aloysio Bohnen apresenta principais aspectos

Modernização: secretário Fernando Schüler chama atenção para necessidade de reforma

Orientações e critérios para as próximas eleições

Impresso fechado. Pode ser aberto pelos Correios.


O Dirigente Cristão Órgão Informativo da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul (ADCE-RS) Filiada à ADCE/UNIAPAC/Brasil

Presidente Antonio D’Amico Vice Presidente Antonio Pires Clodoaldo Silveira Assessoria Doutrinária Pe. Federico Juarez - Pastor Carlos Dreher Monsenhor Urbano Zilles Editor In Memoriam Fulvio de Silveira Bastos Renato Cardoso

Santa Maria tem encontro de reflexão A ADCE-Santa Maria promoveu o XVII Encontro de Dirigentes Cristãos de Empresas. O encontro de reflexão aconteceu nos dias 25 e 26 de junho. A atividade, coordenada pelo associado Reni Antonio Rubin, contou com 65 pessoas, sendo 38 novos membros. De acordo com a organização, o evento ocorreu com muita serenidade, tranqüilidade, num clima de muita alegria.

Comissões Alecio Ughini - Baptista Celiberto Carlos Egídio Lehnen - Cláudio O. Koehler Francisco Moesch - Gilberto Lehnen José Antonio Célia - José Juarez Pereira Luiz Arthur Giacobbo - Ricardo Jakubowski Rita Campos Daudt - Sergio Kaminski

Edição:

Rua Jerusalém, 415 - CEP 91420-440 - Porto Alegre/RS Fone: (51) 3392.0055 Editor: Carlos Damo Reportagem e Diagramação: Cíntia Machado DRT/RS 14080 conexaocom@plugin.com.br Tiragem 3500 exemplares Circulação Bimestral - Distribuição Gratuita É permitida a reprodução total ou parcial das matérias aqui publicadas, desde que conservada a forma e citados a fonte e o autor. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.

ADCE-SP e PUC-SP lançam curso para dirigentes A ADCE-SP, em parceria com a Faculdade de Teologia da PUC-SP, lança nesse segundo semestre o curso “Sustentabilidade, Valores Cristãos e Gestão de Organizações”. Voltado para dirigentes de empresas, o objetivo é chamar a atenção desses para a responsabilidade que possuem na construção do bem comum, assim como instruí-los na definição de políticas, programas e estratégias que favoreçam o desenvolvimento do próprio empresário, de seus trabalhadores e da sociedade com a qual se relaciona. O curso terá duração total de 45 horas, as aulas ocorrerão nas terças-feiras, das 19h30min às 22h30min, com início em 10 de agosto. O investimento é de R$ 810,00. Informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3124 9600. As aulas serão ministradas no Campus Ipiranga da PUC-SP, localizado na Av. Nazaré, 993 – Ipiranga – São Paulo/SP.

Divulgação ADCE-Santa Maria

Sede Centro Arquidiocesano de Pastoral Praça Monsenhor Emílio Lotterman 96, conj 12 Bairro Floresta CEP 90560-050 Porto Alegre/RS Fones (51) 3332.0811 Fax: (51) 3222.8997 e-mail: adcepoa@tca.com.br Conselho Diretor José Antonio Célia (Porto Alegre) Carlos Egídio Lehnen (Porto Alegre) Luceval Delazzeri - Serra (Caxias do Sul) Fátima de Carvalho - Serra (Caxias do Sul) Sergio Ricci - Planalto Médio (Passo Fundo) Ubiratan Oro - Planalto Médio (P. Fundo) Vicente Borin (Santa Maria) Luiz Fernandes da R. Pohlmann (Santa Maria) Gilmar V. Lazzari - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul) Paulo Bohn - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul)

ADCE-Serra festeja aniversário No ano em que completa 25 anos, a ADCE-Serra está organizando diversos eventos para a comemoração da data. O principal deles é uma festa que ocorrerá no dia 11 de setembro, sábado. Na ocasião será feito o lançamento oficial do site da regional. Outra atividade prevista é a prestação de homenagens para algumas personalidades relacionadas à entidade. O evento terá início com uma missa de ação de graças, seguida por recepção com jantar e música ao vivo. A missa está marcada para as 18h30min no Seminário Nossa Senhora Aparecida (Av. Afonso Gasperin, 780 Caxias do Sul/RS), a recepção será no Restaurante SICA (R. Italo Victor Bersani, 1134 - Caxias do Sul/RS). As comemorações do aniversário de duas décadas e meia iniciou com a promoção da palestra “Empreendedorismo e Sustentabilidade”, com o adeceano Guilherme Guaragna, no mês de maio.


[O Dirigente Cristão] [3]

Futuro positivo para o Brasil RS precisa passar por processo de modernização para acompanhar evolução do país Em 2030 o Brasil será a 8ª maior economia e o 5º maior mercado consumidor do mundo. O déficit habitacional estará próximo a zero e a expectativa de vida será de 78 anos. A sociedade será menos tradicional, mais rica, escolarizada e produtiva. São dados fornecidos por pesquisas e apresentados pelo Secretário da Justiça e do Desenvolvimento Social do RS, Fernando Schüler. “Mesmo com nosso sistema político, o cenário do Brasil é extremamente positivo”, afirma Schüler. O secretário, por um lado, aponta as previsões otimistas para o futuro do país e do estado, mas por outro, defende a necessidade de uma reforma política. “Nosso sistema é extremamente permissivo”, defende. “É preciso reformar sem medo de enfrentar polêmicas, porque as polêmicas precisam ser enfrentadas.”

O futuro Em poucos anos a configuração etária brasileira será diferente da atual. De acordo com dados do IBGE, hoje temos no Brasil mais de 50 milhões de pessoas com idade até 14 anos e menos de 15 milhões acima dos 65 anos. No

entanto, a população mais velha está aumentando e a mais nova diminuindo. Essa alteração no perfil da população traz consequ-

ências para a economia e um alerta para a previdência. “O Brasil vai passar por um momento muito bom nos próxi-


[4] [O Dirigente Cristão]

Conexão

mos 10, 20 anos porque o número de pessoas em idade produtiva vai crescer muito, mas temos de ficar de olho no futuro, já que depois disso a população maior será de idade mais avançada”, alerta Schüler. Nesse sentido, o secretário relembra as palavras da professora e economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ana Amélia Camarano: “Isso terá impacto direto na previdência social e no mercado de trabalho.

Fernando Luís Schüler Secretário da Justiça e do Desenvolvimento Social do RS. É graduado em História, pós-graduado em História do Brasil, mestre em Ciências Políticas e doutor em Filosofia pela UFRGS.

É preciso manter essa população ativa um maior número de anos. Tem-se que investir em saúde ocupacional e combater o preconceito com o trabalho de idosos”. “O cenário do Brasil é extremamente positivo, mesmo com nossos políticos, mesmo com nosso sistema político”.

Outro ponto que se destaca é o terceiro setor. De acordo com Schüler, as Organizações Não Governamentais (ONG’s) se multiplicaram muito nos últimos 25 anos. Atualmente a tendência da área é passar por um processo de profissionalização, com perspectivas de crescimento para os próximos anos.

Especificamente para o Rio Grande do Sul, o secretário afirma que se a redução da miséria mantiver o ritmo dos últimos anos, até 2030 a pobreza no estado vai cair de 18% para 4%. Mudança necessária Para acompanhar a evolução o RS precisa buscar o desenvolvimento. Schüler resume o quadro atual do governo gaúcho em alguns pontos: •  Orçamentos centralizados, falta de autonomia administrativa e financeira. •  Estabilidade no emprego generalizada. •  Sistema não meritocrático. •  Vulnerabilidade política nas funções técnicas. •  Instabilidade crônica e visão de curto prazo.


•  Corporações sindicais organizadas e ideologizadas. Para o secretário, a administração com chefias que mudam o tempo todo não dá certo. Um ponto no qual insiste bastante é o funcionalismo público. “Precisamos parar de contratar funcionários públicos. A estabilidade no emprego é necessária para um juiz, por exemplo, para que possa julgar livremente, mas por que profissionais como médico, motorista, secretária precisam ter estabilidade no emprego?”, questiona. “Estamos botando dinheiro em burocracia e deixando de atender os mais pobres.” Schüler exemplifica através de órgãos de assistência social como a Fundação de Proteção Especial (FPE) e a Fundação de Atendi-

mento Sócio-Educativo (FASE) que, se não tivessem custos mensais tão altos, poderiam atender até três vezes mais pessoas, como no caso da primeira. Para ele, o custo que o funcionalismo público gera poderia ser melhor aplicado em necessidades do estado e da sociedade. “Se pelo valor que atendo um eu poderia atender três, onde é que estão os outros dois? É nisso que precisamos pensar”, defende. O secretário alerta ainda para os dados trazidos pela revista Época do dia 10 de julho de 2010 sobre o ensino no Brasil. O estado não aparece na lista dos cinco melhores em ensino médio da rede estadual de ensino. A lista apresentada pela revista tem base em informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “O RS está muito mal em educação”, conclui.

Para Schüler, um governo contemporâneo deve ser/ter: 1. Enxuto; 2. Fundado no realismo e na responsabilidade fiscal; 3. Com alta capacidade de investimento; 4. Inteligente para gerar políticas públicas; 5. Focado na consecução de metas de longo prazo; 6. Com um sistema eficiente de contratualização, segurança jurídica, (PPPs, OS-OSCIPs, Contratos de Concessão, Agências Reguladoras, relações trabalhistas); 7. Cargos públicos apenas para Carreiras de Estado; 8. Nomeações políticas restritas a posições de núcleo estratégico; 9. Previdência pública: mais tempo de serviço, regime de capitalização (mecanismos assistenciais, como o BPC); 10. Capaz de eliminar a pobreza e oferecer oportunidades básicas para todos (o fim ético do Estado no século XXI);

Conexão

[O Dirigente Cristão] [5]

Cezar Saldanha

“Não há reformas que resolvam tudo de uma hora para outra.” Círculo vicioso Para o adeceano Cezar Saldanha, coordenador da especialização em Direito do Estado da UFRGS, o grande empecilho para uma transformação na política brasileira está na falta de lideranças. “Todos sabemos quais são os problemas e todos sabemos qual o caminho para a solução, mas ninguém faz nada. Não temos liderança e nem estrutura institucional no Brasil para resolver isso”, coloca. Saldanha acredita que reforma alguma pode trazer solução imediata: “a grande reforma seria sair do círculo vicioso. Eu diria que a primeira reforma necessária é restaurar uma chefia de estado que pense no futuro. Transformar a Presidência da República num órgão que pensa no Brasil e não nas próximas eleições”, defende o professor.


[6] [O Dirigente Cristão]

Doutrina Social da Igreja Pe. Aloysio Bohnen apresentou aos adeceanos os principais pontos da doutrina

Conexão

A fonte da Doutrina Social da Igreja é fazer o bem, fazer o que é certo, explica o Padre Aloysio Bohnen citando Kant: “o homem tem em seu interior o tribunal da consciência”. A Doutrina Social da Igreja é formada pelo conjunto de ensinamentos provenientes do Magistério da Igreja Católica que fazem parte de inúmeras encíclicas e pronunciamentos de papas. Originou-se nos primórdios do Cristianismo e foi bastante desenvolvida no século XIX, diante da nova realidade sócio-econômica e seus consequentes conflitos, tra-

zidos pela Revolução Industrial. Apesar da origem remota, apenas em 2004 a Doutrina Social Católica teve suas pilastras apresentadas de forma sistemática no documento Compêndio da Doutrina Social da Igreja, organizado pelo Pontifício Conselho da Justiça e da Paz. “Deus revela o homem ao homem, revelando-se ao homem” De acordo com o documento, o objetivo da igreja com a

doutrina social, não é entrar em questões técnicas, nem instituir ou propor sistemas ou modelos de organização social, uma vez que “isto não faz parte da missão que Cristo lhe confiou”. A igreja entende, entretanto, que não pode ficar indiferente às vicissitudes sociais e que Compete a ela “anunciar sempre e por toda a parte os princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se a respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos fundamentais da pessoa humana ou a salvação das almas”. Pe. Aloysio Bohnen Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Gregoriana, Pe. Aloysio Bohnen já foi reitor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos e ocupa hoje em dia o cargo de vice-reitor da mesma instituição. Foi também vice-presidente do Conselho Superior do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP) até o ano de 2008. Em 2001, Bohnen foi homenageado pela ADCE com o prêmio Dirigente Cristão do ano.


[O Dirigente Cristão] [7]

Objeto e conteúdo O objeto da Doutrina Social da Igreja está intimamente ligado à verdade, entretanto, de acordo com Bohnen, para entender o que é a verdade é necessário entrar na filosofia. “Vou gerando o mundo em mim pelo fato, olfato... e esse mundo que há em mim, em confronto com os fatos, é que vai me dizer se é verdadeiro ou não. A verdade é a conformidade da mente com a realidade”, explica. Princípios Os princípios são aqueles elementos que devemos ter, como ética e moral. “Os valores fazem parte do homem, se confundem com a própria essência do ser”, coloca Bohnen. Fim da DSI A Doutrina Social da Igreja gira em torno do ser humano, ele é a base da reflexão. “Se o homem fosse constitutivamente social, perderia valor a sua consciência individual. O indivíduo é responsável pelos seus atos, portanto não pode jogar essa responsabilidade no coletivo. Assim, seres humanos são socialmente e indiscutivelmente sociais, mas não constitutivamente, pois o homem é necessário para o exercício de sua liberdade”, explica Bohnen.

Potência X Ato De acordo com Bohnen, potência é aquilo que não existe, mas pode existir e ato (de atual) é aquilo que existe. “O termo atual pode ser considerado eterno. Deus é ato puro e Cristo é Deus porque também é ato puro, se fosse potencial já não seria puro. Potência é aquilo que pode ser, mas se pode ser não é. Assim, Deus é ato puro e não pode ser potência, porque se é potência não é Deus. O ser humano é potência, então potencialmente nós podemos ser tudo. O homem cristão, quando pensa e age como cristão, pensa e atua como Deus, nossos atos se tornam divinos. Nós produzimos atos em Cristo, portanto eternos e Cristo pratica atos em nós como homem”, elucida. “É uma grande alegria todos estarmos aqui e procurarmos sermos eternos, porque juntos somos atuais.” Bohnen atribui o desenvolvimento da humanidade à ligação existente entre as sucessivas gerações e à transmissão de conhecimentos entre elas. “Estamos aqui comendo em pratos, tomando em copos, falando em alto falantes, usando óculos graças ao desenvolvimento e tudo isso é trabalho da humanidade inteira. Levamos séculos, milênios para chegar onde estamos. Isso é fantástico! Nós somos o que somos porque somos seres históricos”, defende Bohnen.

www.sxc.hu

Para o Pe. Aloysio Bohnen, a função do magistério da Igreja é a de ensinar. Ele apresenta os principais pontos da Doutrina Social da Igreja Católica, esclarecendo seu objeto, princípios e fim.


[8] [O Dirigente Cristão]

Justiça mais produtiva do Brasil O Tribunal de Justiça do RS é o que tem os melhores índices de desempenho do país

Conexão

Porto Alegre é a capital brasileira que mais confia na justiça, segundo pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Está no Rio Grande do Sul também o judiciário mais produtivo do país, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Apesar dos dados positivos, o presidente do Tribunal de Justiça gaúcho, desembargador Leo Lima, reconhece a lentidão da justiça, mas alega que se não somos um país de primeiro mundo, não se pode esperar que o judiciário seja de primeiro mundo.

De acordo com ele, não há verba para alcançar tal status. “Estamos desenvolvendo um planejamento estratégico de longo prazo, baseado no PGQP, para que o mesmo ultrapasse o período de minha gestão e gere um trabalho contínuo. Além disso, procuramos soluções internas, caseiras para agilizar os processos”, expõe Lima. Para justificar a lentidão o desembargador chama atenção para dois pontos. O primeiro é a incompatibilidade da carga de trabalho com o número de servidores. Considerando os dados

Judiciário gaúcho em 2009 Recursos humanos •  683 juízes •  Cerca de 8 mil servidores Atendimento •  496 municípios •  164 comarcas Processos julgados: •  608.665 - 2º grau •  1.275.649 - 1º grau Total de processos no RS: •  3.322.443 (dados estatísticos referentes ao ano de 2009) Desembargador Leo Lima

estatísticos de 2009, há no judiciário estadual 683 juízes, para essa ocupação, Lima aponta uma defasagem de 183 cargos. Para o total de oito mil servidores, aponta defasagem de 1500 cargos. Essas vagas não podem ser preenchidas em função da lei de responsabilidade fiscal. O presidente do TJ RS explica que esse contexto é dos melhores em âmbito nacional. “O judiciário tem sido muitas vezes mal interpretado. Eu prefiro que essa má interpretação seja apenas uma deficiência humana e não por maldade.” O outro ponto ao qual Lima atribui a lentidão da justiça são as inúmeras estratégias que envolvem o desenrolar de um processo. “Nosso instrumento de trabalho é o processo e ele é emperrado, demorado, não podemos desrespeitar a lei, temos de segui-la, assim a morosidade não é do judiciário”, explica. De acordo com o CNJ, o Tribunal de Justiça do RS é o que tem o menor gasto por novo processo, a menor correlação servidor/magistrado, a menor taxa de congestionamento e o que tem a maior taxa de produtividade.


[O Dirigente Cristão] [9]

Espiritualidade nas empresas A vida tumultuada e apressada traz novas necessidades ao trabalhador O empresário e teólogo Roberto Kerber resolveu juntar duas áreas que, de acordo com percepção do próprio, criam uma associação estranha para muitos. Trata-se da espiritualidade no meio empresarial. Por muitos anos atuou como empresário e mais recentemente ingressou na teologia. Lança agora um livro, com origem em seu trabalho de

conclusão da faculdade de teologia, no qual uniu um meio ao outro. Na obra “Espiritualidade nas empresas”, trabalha algumas questões como o que é espiritualidade, para que ela serve, qual seu valor para as lideranças e quem deve cuidar da espiritualidade nas empresas.

Conexão

Será que o ambiente na empresa está adequado? Hoje se vive em uma panela de pressão.

Roberto Kerber Empresário, consultor e diácono. Seu livro “Espiritualidade nas empresas”, foi publicado pela Editora Age, em 2009.

Kerber conta que há empresas que já estão buscando formas de trabalhar a espiritualidade de seus colaboradores. “Não consegui descobrir o porquê disso ainda. Talvez as empresas estejam percebendo que é necessário. Há uns anos atrás o trabalhador parava para almoçar, ia para casa fazer a refeição com a família. Hoje em dia reunir a família mesmo para um almoço de domingo é muito difícil. Fica-se 8h na empresa e mais umas 3h em deslocamento. A pressão no mundo está muito grande”, explica. Nesse contexto, encontra-se nas empresas pessoas tomando ansiolíticos, fumando, até mesmo tornando-se alcoólatras ou cheirando pó no banheiro antes de

reuniões. Talvez essa seja a razão para que gestores de recursos humanos estejam desenvolvendo ações para desenvolver a espiritualidade em suas equipes. Kerber cita casos como o de uma empresa gaúcha que fecha para o pessoal ir à missa, outra presente no RS e SC que para por 15 minutos todos os dias para refletirem sobre um salmo. Ele lembra ainda o caso de uma companhia que resolveu levar uma vez por mês uma forma de espiritualidade diferente para seus colaboradores conhecerem. O teólogo salienta, entretanto, que nem todos os trabalhos que levam a espiritualidade às empresas são feitos de forma adequada, como o último exemplo citado, que recebeu crítica de Kerber. Para ele, esse tipo de trabalho deveria ter orientação da teologia. “As vezes pensamos que estamos ajudando e não estamos, precisamos tomar esse cuidado”, coloca. Outro ponto importante para ele é que a espiritualidade deve ser desenvolvida interiormente e não por aparência ou modismo. “Quando se batiza um filho, quando se resolve casar na igreja, deve-se fazer isso por algum motivo. Ir à igreja só por ir não tem sentido. A igreja precisa de qualidade, não de quantidade”, expõe Kerber.


[10] [O Dirigente Cristão]

O evangelho na educação A igreja busca através das pastorais da educação aprofundar a formação do aluno

Conexão

“Pastoral da educação é o esforço sistemático e orgânico que o povo de Deus faz para refletir e por em prática a mensagem evangélica na educação. Visa proclamar e construir o Reino de Deus no mundo da educação”. Essa é a definição dada pelo Padre Marcos Sandrini, diretor da Faculdade Salesiana Dom Bosco.

“Nós que somos da igreja temos que nos organizar para ser uma presença na escola”, coloca Pe. Marcos revelando os números da educação no estado. O RS tem 87% dos alunos nas escolas estaduais, 10% nas escolas privadas e 3% nas escolas confessionais (católicas). Todos os dias vão à escola 2.860.515 alunos. “A tarefa da pastoral da educação é mobilizar todo esse movimento, ter presença no mundo da escola. Nós hoje ainda somos bem vindos nesse ambiente”, explica. A grande tarefa de uma escola é abrir as pessoas para aprofundar mais a sua vida. Nem que seja um ateu, mas que ele tenha raízes na sua vida.

Pe. Marcos Sandrini É mestre em Teologia Pastoral e Doutor em Educação. Dirige a Faculdade Salesiana Dom Bosco.

É papel da pastoral na escola a preocupação de que o aluno tenha uma educação mais globalizada, tendo além das aulas normais, aulas de música, teatro, um pátio para brincar, entre outras atividades que ampliem a aprendizagem. Pe. Marcos defende a pluralidade na escola. Para ele o estado não deve estar sozinho. Entende que não adianta garantir a pluralidade de escolas se a maioria dos alunos só pode ir para as públicas em função de condições financeiras. Acredita, contudo, que

através das pastorais é possível levar a educação global também às escolas públicas. Educação no Brasil “No Brasil não houve política de estado adequada para a educação. Estamos esperando um grande estadista que coloque a educação como prioridade”, explica. Para Pe. Marcos, o grande gargalo está no ensino fundamental, por ser a etapa mais importante, a que dá fundamentos, defende que o ensino médio não tem objetivo, não serve nem para passar no vestibular. Educação hoje A educação infantil acontece atualmente de forma muito diferente do que há algumas décadas. Espera-se que a escola dê a educação e o conhecimento. Pe. Marcos acredita que, embora não seja possível fazer tudo, é possível sim fazer alguma coisa. “A escola não é responsável pela forma como o aluno entra, mas é responsável pela forma como o aluno sai e, sobretudo as escolas católicas, devem fazer algo pela educação”, explica. A respeito da falta de limites das crianças e adolescentes na atualidade, lembra: “o educando pode ser mal educado comigo, mas eu não posso fazer isso, eu sou o educador dele”.


[O Dirigente Cristão] [11]

Orientações e critérios para as próximas eleições O Brasil está vivendo um momento peculiar – oportunidades e dificuldades – na sua história. De um lado, por seu crescimento interno e pelo seu destaque no cenário internacional, por outro pela continuidade de desigualdades sociais perversas, e pela corrupção que corrói e abrange todas as estruturas e instituições, prejudicando seriamente a credibilidade da classe política. A Igreja, comprometida com o bem comum e a defesa irrestrita da dignidade e dos direitos humanos, apóia as iniciativas que contribuam para garanti-los a todos e denuncia distorções inaceitáveis presentes em vários programas, que como veremos ferem os princípios que norteiam a doutrina social cristã. O que está em jogo é uma visão da pessoa humana e da sociedade, solidária com a dignidade de todos, a favor da vida e aberta ao transcendente. Para iluminar este processo eleitoral, a comunidade eclesial – que pela sua universalidade não pode se identificar com interesses particulares, partidários ou de determinado candidato/a – busca oferecer critérios de escolha e discernimento para as pessoas de boa vontade e cidadãos responsáveis. Também deseja que sejam votados candidatos coerentes com a defesa dos princípios éticos e cristãos. Em consonância com estes mesmos princípios apresentamos as seguintes orientações e critérios: Antes de tudo, é necessário “valorizar o voto” que decide a vida pública do nosso País e dos nossos Estados nos próximos anos. O meu voto é precioso! Não se compra! Nele se manifesta a minha liberdade e a minha decisão. Recentemente obtivemos a vitória do projeto de lei denominado “Ficha

Limpa” que por decisão do TSE se aplicará nestas eleições. Cabe agora vigiar e cuidar para eliminar do pleito aqueles candidatos corruptos que contaminam o cenário político e destroem a democracia. 1. O primeiro critério para votar em um candidato é a defesa da dignidade da Pessoa Humana e da Vida em todas as suas manifestações, desde a sua concepção até o seu fim natural com a morte. Rejeitamos veementemente toda forma de violência, bem como qualquer tipo de aborto, de exploração e mercado de menores, de eutanásia e qualquer forma de manipulação genética. 2. O segundo critério é a defesa da Família na qual a pessoa cresce e se realiza. Por isso devem ser votados aqueles candidatos que incentivam, com propostas concretas, o desenvolvimento da família segundo o plano de Deus. Opõemse ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, à adoção de crianças por casais homoafetivos, à legalização da prostituição, das drogas e ao tráfico de mulheres. 3. O terceiro critério é a liberdade de Educação pela qual os pais têm o direito de educar os filhos segundo a visão de vida que eles julguem mais adequada. Isso comporta uma luta pela qualidade da escola pública e pela defesa da escola particular, defendendo o ensino religioso confessional e plural, de acordo com o princípio constitucional da liberdade religiosa, reconhecido também no recente Acordo entre Brasil e Santa Sé. 4. O quarto critério é o princípio da solidariedade, segundo o qual o Estado e as famílias devem ter uma particular atenção preferencial pelos pobres, àqueles que são excluídos e marginalizados. Deve-se garantir uma cidadania

plena para todos/as, assegurando o pleno exercício dos direitos sociais: trabalho, moradia, saúde, educação e segurança. 5. O quinto critério é o princípio de subsidiariedade, ou seja, haja autonomia e ação direta participativa dos grupos, associações e famílias fazendo o que podem realizar, sem interferências ou intromissões do Estado. Este deve apoiar e subsidiar, nunca abafar ou sufocar as liberdades e a criatividade das pessoas. Assim elas poderão exercer uma cidadania ativa e gestora. 6. Enfim, diante de uma situação de violência generalizada, os candidatos devem, de forma concreta e decidida, comprometer-se na construção de uma Cultura da Paz em todos os níveis, particularmente na educação e na defesa da infância e da adolescência. Do ponto de vista prático nas paróquias e em nossas associações e movimentos, se dê grande importância a este momento eleitoral e se realizem debates sempre com vários candidatos de vários partidos, em vista da realização do bem comum. Durante os eventos promovidos pela diocese ou pelas paróquias nunca devem aparecer faixas, cartazes ou outro tipo de sinais que identifiquem e apóiem os candidatos. O trabalho político, ao qual todos somos chamados, cada um segundo a sua maneira de ser, é uma forma de mostrar a incidência do Evangelho na vida concreta, visando à construção de uma sociedade justa, fraterna e equitativa. Em conseqüência haverá uma esperança real para tantas pessoas céticas, desnorteadas e confusas com a política atual. É uma grande oportunidade que os católicos e todas as pessoas de boa vontade não podem perder.

Os bispos do Estado do Rio de Janeiro, Regional LESTE 1 da CNBB

Niterói, RJ, e ex Assessor Doutrinário da ADCE/RS Este material foi enviado por Dom Roberto Paz, Bispo Coadjutor de



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.