Revista O Dirigente Cristão

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O Dirigente Cristão Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul - ADCE Nº 172 - Ano XIX - Junho/ 2010 Conexão

Divulgação Fundação Projeto Pescar

Empregabilidade: comunidades carentes recebem orientações

Transformando o futuro Conexão

Conexão

Conexão

Emilio Moriguchi: longevidade e alimentação

Projeto Pescar: adolescentes tem oportunidade de capacitação profissional

José Outeiral: família moderna

Wambert Di Lorenzo: subsidiariedade

Impresso fechado. Pode ser aberto pelos Correios.


Sede Centro Arquidiocesano de Pastoral Praça Monsenhor Emílio Lotterman 96, conj 12 Bairro Floresta CEP 90560-050 Porto Alegre/RS Fones (51) 3332.0811 Fax: (51) 3222.8997 e-mail: adcepoa@tca.com.br Conselho Diretor José Antonio Célia (Porto Alegre) Carlos Egídio Lehnen (Porto Alegre) Luceval Delazzeri - Serra (Caxias do Sul) Fátima de Carvalho - Serra (Caxias do Sul) Sergio Ricci - Planalto Médio (Passo Fundo) Ubiratan Oro - Planalto Médio (P. Fundo) Vicente Borin (Santa Maria) Luiz Fernandes da R. Pohlmann (Santa Maria) Gilmar V. Lazzari - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul) Paulo Bohn - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul) Comissões Alecio Ughini - Baptista Celiberto Carlos Egídio Lehnen - Cláudio O. Koehler Francisco Moesch - Gilberto Lehnen José Antonio Célia - José Juarez Pereira Luiz Arthur Giacobbo - Ricardo Jakubowski Rita Campos Daudt - Sergio Kaminski

Edição:

Rua Jerusalém, 415 - CEP 91420-440 - Porto Alegre/RS Fone: (51) 3392.0055 Editor: Carlos Damo Reportagem e Diagramação: Cíntia Machado DRT/RS 14080 conexaocom@plugin.com.br Tiragem 3500 exemplares Circulação Bimestral - Distribuição Gratuita É permitida a reprodução total ou parcial das matérias aqui publicadas, desde que conservada a forma e citados a fonte e o autor. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.

Severino Schiavo / Schiavo Fotografia s

Presidente Antonio D’Amico Vice Presidente Antonio Pires Clodoaldo Silveira Assessoria Doutrinária Pe. Federico Juarez - Pastor Carlos Dreher Monsenhor Urbano Zilles Editor In Memoriam Fulvio de Silveira Bastos Renato Cardoso

ADCE-Serra completa 25 anos Em 2010 a regional serrana da ADCE-RS completa 25 anos. Para comemorar a data a associação organizou palestra com Guillherme Guaragna, diretor da Braskem e também adeceano. Com o tema “Empreendedorismo e Sustentabilidade”, o encontro ocorreu na UCS Teatro, dia 4 de maio. A presidente da ADCE-Serra, Fátima de Carvalho, adianta que ao longo do ano haverá outras atividades comemorativas alusivas à data. O evento contou com a participação de cerca de 500 pessoas e para cada uma recolheu um quilo de alimento ou um agasalho. As doações foram repassadas à Fundação Caxias.

Caxias do Sul tem Curso de Empreendedorismo Cristão A ADCE-Serra em parceria com a Universidade de Caxias do Sul (UCS) ministrará o curso de Empreendedorismo Cristão. O objetivo é capacitar empreendedores e gestores de empresas e organizações sociais a utilizarem os valores éticos cristãos como base para uma vida profissional empreendedora. As aulas serão realizadas de 3 de agosto à 7 de dezembro, às terças-feiras, entre 19h40min e 22h30min, na Cidade Universitária da UCS, em Caxias do Sul. Entre os 14 temas abordados nas aulas estão o trabalho humano, a espiritualidade nas empresas e a cultura da paz. Coordenado pelo professor Jaime Lorandi, o curso tem carga horária de 60 horas. As inscrições ocorrem entre 29 de julho e 2 de agosto. O investimento é de R$ 608,00, podendo ser parcelado em até cinco vezes de R$ 126,40. A atividade é válida também como disciplina eletiva dos cursos de graduação da universidade.

Novos dirigentes cristãos associam-se à ADCE A 63ª edição do Encontro de Reflexão da ADCE-Serra, ocorrida nos dias 11, 12 e 13 de junho trouxe 26 novos associados à instituição. A presidente da regional, Fátima de Carvalho, destacou a espiritualidade, a partilha e as novas amizades como marcantes no evento. O novo adeceano Neimar Tonin, sócio-diretor da Basfix, vê o encontro como uma oportunidade para rever muitos conceitos e valores que com o passar do tempo acabam sendo deixados de lado.

avo Fotografias

Órgão Informativo da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul (ADCE-RS) Filiada à ADCE/UNIAPAC/Brasil

Severino Schiavo / Schi

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Um genoma, um atributo O Homo Sapiens teve origem no continente africano. De lá partiram dois grupos em busca de comida. Um deles foi para a região onde hoje é a Europa e outro para a Ásia. Esses grupos originaram respectivamente os povos caucasiano e asiático. Cada um desenvolveu um tipo de alimentação diferente. Na Europa vivia-se da caça, fazia-se, portanto, bastante atividade física. A alimentação consistia principalmente em carnes e castanhas. Na Ásia a base da dieta era vegetal, comiase muitos grãos e eventualmente carnes. Cada um desses povos desenvolveu genomas bastante diferentes entre si, que determinam inclusive as características físicas e geram necessidades alimentares próprias. Na época, comia-se apenas quando a fome aparecia. Com a revolução industrial os hábitos mudaram totalmente: o homem tornou-se mais sedentário e passou a comer três vezes ao dia. Os três genomas originados na separação dos três grupos – asiáticos, caucasianos e africanos – são, entretanto, os mesmos. Estabilizaram-se há cerca de 20 milhões de anos e levarão outros milhões de anos para mudarem. Isso significa que não estamos vivendo e nos alimentando de acordo com nossas necessidades, é o que explica

o médico Emilio Moriguchi, MD e PHD, um dos coordenadores do Centro de Geriatria & Gerontologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A cultura do fast food, por exemplo, causou grande impacto no mundo. Moriguchi conta que em 2000 as projeções indicavam que até 2010 os índices de diabetes aumentariam cerca de 25% nos EUA e Europa, 30% na Oceania, 44% na América Latina e 60% na Ásia e África. Os povos dessas duas últimas localidades têm o genoma menos preparado para a ingestão de gordura e por isso o aumento seria maior. Ao “A mudança de hábitos alimentares sem considerar o genoma pode ser catastrófica” chegar em 2010 o aumento efetivo dos índices foi maior que o calculado em todo o planeta. O desenvolvimento mundial trouxe hábitos aos quais o organismo humano não está preparado. A evolução tecnológica impôs um ritmo de vida que não é acompanhado pela natureza humana. “Temos que escolher produtos que não façam mal para a gente: quanto mais natural, melhor”, recomenda Moriguchi.

sxc.hu

A alimentação correta é determinada pelo genoma da cada povo

Alguns dados: •  Consumimos o dobro do colesterol que o organismo está preparado, 30% das crianças já nascem com algum nível do mesmo e pela primeira vez na história as mulheres estão começando a ter colesterol mais alto. •  A gordura trans, invenção do homem, aumenta o colesterol ruim e diminui o bom. Ela se acumula a cada dia no organismo e a ingestão de 2g diárias aumenta significativamente o risco de infarto. •  Vacas são alimentadas com ração a base de grãos para produzir mais, entretanto seu genoma não está preparado para essa alimentação, aumentando em 60% a gordura trans no leite (leite desnatado não tem).


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Pescando caminhos de futuro Projeto Pescar trabalha para preparar jovens carentes para o mercado de trabalho

Adolescentes em atividades dos cursos do Projeto Pescar

realizado outro tipo de curso de capacitação profissional e com interesse efetivo em participar do programa. O gerente geral de desenvolvimento do Projeto Pescar, Ézio Rezende, explica que, entre aqueles que estão dentro do perfil do participante, a seleção sempre privilegia os adolescentes com maior vulnerabilidade econômica e social. “Temos que reunir todos os setores da sociedade para resolver os problemas da mesma, pois eles são muito complexos.” Ézio Rezende

Responsabilidade Social Rezende defende que a preocupação com as questões sociais e ambientais não é somente uma questão de caridade, mas de sobrevivência. “A inter-relação que possuímos é orgânica e traz conseqüências para o dia a dia. É essencial incluirmos o meio ambiente e o social como desafios nas nossas vidas, enquanto pessoas e enquanto empresas”, coloca. Uma pessoa em situação de pobreza absoluta, que não tem condições para viver, perde qualquer tipo de valor. É o caso de crianças de rua que fumam, como cita Rezende: “para elas tanto Fotos: Divulgação Fundação Projeto Pescar

“Se quiseres matar a fome de alguém, dá-lhe um peixe; mas se quiseres que nunca mais passe fome, ensine-o a pescar”, Lao Tsé. O provérbio chinês inspirou o nome e a metodologia do projeto que há 34 anos visa oportunizar caminhos diferentes a jovens em situação de vulnerabilidade social. O Projeto Pescar teve origem em uma época em que ainda não se falava em responsabilidade social. O empresário Geraldo Tollens Link acreditava que devia fazer sua parte para resolver os problemas da sociedade e montou em sua empresa uma escolhinha para jovens pobres da comunidade. A primeira turma preparou, em 1976, 15 jovens para o mercado de trabalho. O projeto desenvolveu-se dando origem à primeira franquia social brasileira. Hoje uma empresa pode adquirir a franquia e através dos cursos oferecidos, capacitar adolescentes em estado de vulnerabilidade social, facilitando sua entrada no mercado de trabalho. O programa atende a jovens de 16 a 19 anos, com renda familiar per capita de até meio salário mínimo, fora do mercado de trabalho, que não tenham


são As minhas dificuldades são muitas. Meus pais não separados e eles não gos tam de mim só porque eu ro trabalho. Me mandaram embora de casa. Eu que . Esmostrar que posso aprender alguma coisa ainda itos tou morando com a minha avó, mas ela tem mu s que problemas. É a água que não tem , a luz que ele ida e rem cor tar e, às vezes, nós ficamos até sem com eu eu quero ajudá-la . Os vizinhos ficam falando que isso não ajudo em casa e ficam jogando na cara. Por mu eu quero aprender uma profissão. Esse curso iria us dar a minha vida, eu iria fazer as pazes com me pais e eles ficariam muito orgulhosos de mim. Redação de um candidato ao programa

Linha do tempo: •  1976: procurando fazer a sua parte, o empresário Geraldo Tollens Link deu início ao Projeto Pescar, em Porto Alegre, no RS. Apesar do estranhamento causado pela ideia, já que na época iniciativas sociais não eram comuns, implantou o programa em sua empresa, formando 15 jovens na primeira turma. •  1988: outra empresa interessa-se pelo projeto e pede ajuda para implantá-lo na sua organização. A partir de então, para manter a mesma qualidade em todas as unidades, é criada a primeira franquia social do Brasil. •  1995: é instituída a Fundação Projeto Pescar, conseqüência do aumento da procura das empresas pela Tecnologia Social Pescar, uma vez que viram na mesma uma alternativa de baixo custo para exercer seu papel social, com resultados já mensurados e com processo de implantação sistematizado. •  2010: atualmente o Projeto Pescar possui 111 unidades distribuídas em 10 estados brasileiros e Distrito Federal. A fórmula foi ainda levada para a Argentina, onde há oito unidades e para o Paraguai, com uma unidade. A Fundação recebeu inúmeros prêmios e é certificadora do Programa Jovem Aprendiz.


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faz, vivem na rua, não tem nem o que comer, se o cigarro fará mal, não faz diferença. O que leva a reflexão: se eu como cidadão não consigo mais valorizar a minha vida como importante, como vou valorizar a vida do outro?”. “O Projeto Pescar é um espaço para fazer a revolução do bem dentro da própria empresa.” Ézio Rezende

Currículo “Oportunidades que transformam vidas”, o slogan do projeto, resume brevemente a missão da fundação. Os cursos do Projeto Pescar visam preparar os jovens enquanto pessoas, cidadãos e profissionais. O desenvolvimento

pessoal e da cidadania representa 60% do currículo, os outros 40% voltam-se a formação profissional específica. “De maneira simples, mas sistematizada, conseguimos fazer com que esse jovem possa se ver de forma um pouco melhor e sinta-se capaz de conquistar coisas melhores”, explica Rezende. Trata-se de uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional que de outra forma esses adolescentes poderiam não ter, já que a própria família não consegue oferecer tais condições. Por outro lado, a carência de profissionais qualificados no Brasil é muito alta e o projeto colabora nesse aspecto também. Ao depararem-se com uma oportunidade de outra vida os adolescentes agarram e se desen-

volvem. De outra forma, muitas vezes acabam envolvendo-se com o tráfico de drogas e com a violência. Rezende cita o exemplo de um jovem que era problemático em sua comunidade e ainda assim foi selecionado para o programa. Esse menino não apenas foi contratado pela empresa, como também promovido diversas vezes. Não há obrigatoriedade, assim como também não há impedimento de que os egressos do projeto sejam contratados pela própria empresa ou organizações ligadas a ela, como os fornecedores. O objetivo do programa é preparar os jovens para o mercado de trabalho como um todo. Participantes do Projeto Pescar em atividades dos cursos


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O franqueado O empresário Rubens Hemb, franqueado do Projeto Pescar através do Laboratório Weinmann e presidente da Fundação Projeto Pescar entre 2007 e 2009, esclarece sobre a participação das empresas no programa.

Por que se franqueou? O Laboratório Weinmann tem a franquia desde 1999. Na época estávamos buscando fazer algo mais pela sociedade, queríamos realmente fazer diferença. Já conhecia uma das unidades porque o Weinmann fazia os exames quando os meninos entravam. Víamos que os resultados se estendiam pelas famílias dos egressos. Já naquela época o programa era testado e aprovado.

Como é participar do Projeto Pescar?

Há incomodações com os adolescentes?

Quando se entra no Pescar, é como se a empresa estivesse iniciando um projeto próprio, pois ela faz o investimento e vê o retorno. Isso se encaixa muito no perfil do empresário: gosta de investir, mas gosta de ver resultados. Há envolvimento do meio interno (empresa) e do meio externo (fornecedores, etc), é muito bom. O mais importante é que o meio interno acaba se tornando muito orgulhoso, pelos resultados do programa e pela empresa. Os fornecedores e até a própria empresa acabam empregando muitos meninos e meninas, porque o grande diferencial do Pescar é que trabalha o comportamental.

Essa pergunta sempre vem. Isso não acontece! Ninguém que implantou uma unidade trouxe esse problema e ninguém desistiu por isso. Claro, já houve casos de desligamento como em qualquer escola. Os participantes têm mínima estrutura familiar e referências.

“Só o prazer de saber que a gente está conseguindo interferir positivamente em um grupo social já é muito bom.” Rubens Hemb

Percentual de egressos incorporados ao mercado de trabalho

Rubens Hemb, diretor-presidente do Weinmann


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Pela redução do desemprego Parceria visa preparar profissionais de comunidades pobres para mercado de trabalho Buscando contribuir para a redução do desemprego, a ADCE e a Arquidiocese de Porto Alegre uniram-se para a colocação em prática do Projeto Empregabilidade. A ideia é levar orientações práticas para comunidades carentes, tornando os profissionais mais seguros e mais preparados para retornarem e se manterem no mercado de trabalho.

Vicente Medeiros

“Muitas pessoas não conquistam espaço no mercado de trabalho por cometerem erros básicos na hora da entrevista” Flávio Nascente dos Santos

“Trata-se de uma parceria dentro da igreja que vai extrapolar seus muros e atingir a sociedade”, coloca o presidente da ADCE-POA, José Antonio Célia. O projeto se dará através de palestras voltadas tanto para os desempregados, quanto para os trabalhadores ativos. O palestrante do projeto, Flávio Nascente dos Santos, adeceano que atua com terceirização de mão de obra na AST Facilities, explica que uma vez por mês será realizada uma palestra, sempre em uma paróquia diferente, visando preparar melhor os candidatos a empregos em suas buscas e instruir os trabalhadores já empregados na ma-

Flávio Nascente dos Santos e José Antonio Célia

nutenção de uma postura adequada, evitando possíveis demissões. O programa As exposições trarão informações como as etapas para conquista de um trabalho, preparação do currículo, preparação para entrevista e apresentação pessoal. “Quando tu empregas uma pessoa tu devolves a dignidade a ela”, coloca Célia. “Mas a pessoa não se dá conta que ela é a responsável por sua dignidade”, completa Nascente, lembrando que o trabalhador precisa ter atitudes determinadas para se colocar e se manter no mercado. “É possível buscar aperfeiçoamento através de cursos ofertados pelo governo, o cidadão precisa fazer acontecer”, defende. Nascente indica que a primeira razão de demissões é o atraso e a segunda a dissonância entre as capacidades do profissional e aquilo que foi dito na seleção. Outros pontos desfavorecem o trabalhador, de acordo com o dirigente, são ações como entrar em redes sociais durante o expediente, não saber trabalhar em equipe, não ter flexibilidade e faltar. De acordo com pesquisa recente divulgada pela prefeitura de Porto Alegre, em março de 2010 a capital estava com 63 mil desempregados.


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Contemporaneidade e as relações As alterações da sociedade refletiram nas famílias e fragilizaram os vínculos

Conexão

As crianças e adolescentes são, no cenário atual, grandes vítimas da violência. Tal fato é indicado pelos índices do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostram que as três primeiras causas de mortes de jovens no Brasil são respectivamente o homicídio, acidentes que em geral envolvem ingestão de substâncias psicoativas e o suicídio. As doenças orgânicas são a quarta causa. O psiquiatra José Outeiral conta que o principal assunto tratado por profissionais de sua área em escolas é a violência. Nesse sentido, o médico analisa a grande transformação que vem

atingindo as famílias e também os conceitos de criança e adolescente nas últimas décadas. As famílias estão em readaptação e a ausência de autoridade, tal como a falta de atenção às crianças geradas por esse cenário são algumas das causas da violência. Convivência familiar Até 1950 a maior parte das famílias vivia em cidades pequenas, os familiares moravam próximos uns dos outros e toda a comunidade local se conhecia. Dessa época para cá houve forte migração para as grandes cidades, que já abrigam mais de 80% da sociedade. “Hoje há o desamparo, o isolamento. Nós não cumprimentamos o vizinho, não colocamos a cadeira na rua para conversar”, explica Outeiral. “Nós vemos e ouvimos as crianças e adolescentes, mas olhamos e escutamos muito pouco.”

José Outeiral Psiquiatra especializado no atendimento de famílias, crianças e adolescentes.

Com a mudança de ambiente, a partir do final dos anos 1960, as crianças passam a chamar os adultos com os quais convivem de tio e tia, independentemente de existir vínculo familiar. Tratase de uma tentativa, por parte dos pequenos, de cerzir o velho

tecido familiar amplo, elucida o psiquiatra, lembrando ainda que é comum o ato falho de crianças chamarem a professora de mãe. Além das mudanças promovidas pelo ambiente, os hábitos da sociedade também trazem alterações às famílias que carregam características cada vez mais diferenciadas entre um núcleo e outro. Há hoje em dia famílias com configurações diferentes daquela tida como tradicional, como as formadas por homossexuais, outras com duas mães e um pai ou com pais morando em casas diferentes. Dados do IBGE indicam ainda o alto índice de abandono por parte do pai, que em um terço das famílias brasileiras não está presente e não reconhece o filho. Gerações invertidas A infância atualmente dura cada vez menos, cedendo lugar à adolescência, que segundo defende Outeiral, inicia antes dos 10 anos. Tal fato é estimulado pela indústria que oferece artigos como sutians com enchimento para meninas de cinco anos. Por outro lado, cresce o número de adultos que se escusam de suas responsabilidades e comportamse como crianças e adolescentes. “Pessoas são descartáveis e as relações fugazes, nesse sentido as coisas vão muito mal”, finaliza.


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O princípio da subsidiariedade Obra de Wambert di Lorenzo aborda a dignidade da pessoa humana e seus princípios consegue nada sozinho. Só é possível ser feliz em comunidade, a felicidade depende de cada um, é de cada um, mas é solidária. O homem, como disse Aristóteles, é um animal social.

Conexão

O princípio da subsidiariedade é um saber prático que vai dizer quando, quem e com que intensidade se deve ajudar uma pessoa humana a atingir sua dignidade. Não pode, por exemplo, uma ordem maior fazer o que está ao alcance da ordem menor, mas é dever da ordem maior auxiliar a ordem menor naquilo que ela não consegue fazer sozinha. A ordem maior, no caso, pode ser uma família, enquanto a menor, um integrante da mesma, ou ordem maior poderia ser a comunidade, enquanto a menor, uma família. Até onde a ordem maior pode ir é uma questão variável, definida de acordo com cada caso. Há subsidiariedade doméstica, social e política. A auto-suficiência é impossível ao ser humano, ela só ocorre na vida comunitária. De acordo com Aristóteles, a família é uma comunidade formada pela natureza para satisfazer as necessidades diárias; a aldeia é uma comunidade formada pelas famílias para satisfação das carências que vão além das necessidades diárias; a cidade é uma comunidade completa, formada por várias aldeias e que atinge o máximo de autosuficiência. É necessário pedir ajuda, da mesma forma que é necessário ajudar: a solidariedade é uma via de mão dupla, ninguém

“A subsidiariedade no fundo é um princípio ético. Meio termo entre o excesso e a falta.” O princípio da subsidiariedade é um ponto tratado no livro “Teoria do Estado de Solidariedade: Da dignidade da Pessoa Humana aos seus Princípios Corolários”, do professor Wambert Di Lorenzo, publicado pela editora Elsevier. De acordo com o autor, a subsidiariedade, forma juntamente com o bem comum e a solidariedade, os princípios que decorrem da dignidade da pessoa humana. Pessoa humana, segundo explica, não se trata de um pleonasmo, já que pessoa refere-se ao indivíduo e humana ao gênero. “Quando chamo alguém de pessoa estou reconhecendo nele uma dignidade”, constata. A partir da dignidade e seus princípios, traça fundamentos para um modelo de estado pós-social, que tem como fim o ser humano integral, considerado na sua dimensão mais ampla e não reduzido ao consumo de bens e de serviços.

Wambert Gomes Di Lorenzo Advogado, Lorenzo possui mestrado e doutorado em Direito. Leciona nas disciplinas de Filosofia do Direito e Direito Administrativo na PUCRS. É presidente do Instituto Jacques Maritain do RS e também da Fundação de Desenvolvimento e Recursos Humanos do RS (FDRH). O adeceano, que possui diversos livros publicados, é, ainda, sócio no escritório SNS & Lorenzo Advogados.


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Rumo à Terra Santa Peregrinação à Terra Santa visitará locais que marcaram episódios da vida de Jesus dos Apóstolos como Jope. A rota segue pela Costa do Mar Mediterrâneo rumo à Cesárea Marítima, antiga capital dos governadores romanos e depois vai ao Mosteiro de Stela Maris, localizado no Monte Carmelo. “Cada lugar uma emoção, uma volta ao passado” Nos dias subsequentes o grupo visitará as cidades de Nazaré e Tiberíades, parando em locais que remetem à vida de Jesus como Cana da Galiléia, Cafarnaum, Casa de Pedro, Tabgha - o

local em que ocorreu o milagre da Multiplicação dos Pães e Peixes e Monte das Bem Aventuranças. Está previsto ainda um passeio de barco pelo Mar da Galileia. De acordo com a agência de viagens, em Jerusalém, todos os passos de Jesus serão lembrados e os lugares santos, visitado, tais como: Monte das Oliveiras, Capela de Dominus Flevit, Gruta do Pai Nosso, Horto de Getsemani, Basílica da Agonia, Gruta da Traição, Cidade Antiga, Igreja de Sant’Ana e Piscina Probática. Na Capela da Flagelação terá início o caminho da Via Sacra, terminando no Santo Sepulcro. fotos: sxc.hu

A viagem dos adeceanos à Terra Santa terá como guia espiritual o Padre Federico Juarez, um dos assessores doutrinários da ADCE. Com previsão para maio do próximo ano, a viagem está sendo organizada junto à agência de viagens Tripsul Turismo. Poderão participar adeceanos, familiares, amigos. A chegada a Israel será pelo aeroporto Bem Gurion, com parada inicial em Tel Aviv. Embora o roteiro ainda não esteja bem definido, já se pode adiantar algumas atividades. Ainda em Tel Aviv, um city tour panorâmico visitará o bairro de Jaffa, citado no Ato

Rua da cidade de Jerusalém

Quarta estação da Via Dolorosa, caminho percorrido por Jesus com a cruz antes de ser crucificado


ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


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