Revista O Dirigente Cristão

Page 1

O Dirigente Cristão Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul - ADCE Nº 169 - Ano XVIII - Novembro/ 2009 Cedida pelo Jornal Solidário

Impresso fechado. Pode ser aberto pelos Correios

Banco de Alimentos: a sociedade atuando no combate à fome

A ADCE-RS se despede de Dom Antônio do Carmo Cheuiche, seu fundador, registrando todo o respeito, a saudade e a gratidão por tudo o que fez, especialmente para os leigos dirigentes cristãos, não só de empresas, mas de diversas profissões, inclusive políticos. A ADCE-Serra homenageou Dom Antônio com missa em sua intenção.


Órgão Informativo da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul (ADCE-RS) Filiada à ADCE/UNIAPAC/Brasil

Edição:

Tiragem 3500 exemplares Circulação Bimestral - Distribuição Gratuita É permitida a reprodução total ou parcial das matérias aqui publicadas, desde que conservada a forma e citados a fonte e o autor. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.

ADCE Serra reúne novos dirigentes O 62º Encontro de Reflexão da ADCE Serra reuniu mais de 50 pessoas entre os dias 11 e 13 de setembro. De acordo com o presidente da associação, Luceval Delazzeri, inúmeros aspectos contribuíram para tornar-se um evento marcante. “Foi consenso do grupo que Deus foi o centro de todos os atos e que Ele é o nosso 1º sócio quando o assunto é harmonização dos ambientes de trabalho”, destacou.

s Schiavo Fotografia

Rua Jerusalém, 415 - CEP 91420-440 - Porto Alegre/RS Fone: (51) 3392.0055 Editor: Carlos Damo Reportagem e Diagramação: Cíntia Machado DRT/ RS14080 conexaocom@plugin.com.br

l

Comissões Alecio Ughini - Baptista Celiberto Carlos Egídio Lehnen - Cláudio O. Koehler Francisco Moesch - Gilberto Lehnen José Antonio Célia - José Juarez Pereira Luiz Arthur Giacobbo - Ricardo Jakubowski Rita Campos Daudt - Sergio Kaminski

Dirigentes Cristãos 2009 escolhidos As ADCE’s de Porto Alegre e da Serra já definiram seus Dirigentes Cristão do Ano. Na capital o nome selecionado foi o do Diretor de Empreendimentos da Braskem, Guilherme Guaragna. O jantar que marca a homenagem acontecerá dia 24 de novembro, às 19h, no Jockey Clube. Na serra o Dirigente Cristão do Ano é, na verdade, um casal: Roberto Vitório Boniatti e Maria Elena Manozzo Boniatti. Os agraciados são pessoas que se destacam por ideais humanitários.

ssoa Arquivo Pe

Sede Centro Arquidiocesano de Pastoral Praça Monsenhor Emílio Lotterman 96, conj 12 Bairro Floresta CEP 90560-050 Porto Alegre/RS Fones (51) 3332.0811 Fax: (51) 3222.8997 e-mail: adcepoa@tca.com.br Conselho Diretor José Antonio Célia (Porto Alegre) Carlos Egídio Lehnen (Porto Alegre) Luceval Delazzeri - Serra (Caxias do Sul) Euclides Sirena - Serra (Caxias do Sul) Sergio Ricci - Planalto Médio (Passo Fundo) Ubiratan Oro - Planalto Médio (P. Fundo) Vicente Borin (Santa Maria) Luiz Fernandes da R. Pohlmann (Santa Maria) Gilmar Vicente Lazzari - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul) Paulo Bohn - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul)

Conexão

Presidente Antonio D’Amico Vice Presidente Antonio Pires Clodoaldo Silveira Assessoria Doutrinária Pe. Sergio Mariucci - Pastor Carlos Dreher Monsenhor Urbano Zilles Editor In Memoriam Fulvio de Silveira Bastos

Seminário aborda o tema honestidade A ADCE Porto Alegre reuniu seus associados no sábado, 19 de setembro, em seminário que discutiu a honestidade. O tema central foi abordado por três diferentes aspectos: Mons. Urbano Zilles definiu o que é ser honesto; o vice-presidente do EMAUS e advogado Emerson Vidal, aplicou o tema honestidade à política; Guilherme Guaragna, diretor da Braskem, discorreu sobre a honestidade nos negócios.

Conexão

O Dirigente Cristão


[O Dirigente Cristão] [3]

Dirigentes reuniram-se no México A Cidade do México abrigou entre os dias 30 de Setembro e 2 de Outubro o XXIII Congresso Mundial da Uniapac. O tema do encontro foi “Valores para a construção de um mundo melhor”. Esteve presente na abertura do evento, além das autoridades da Uniapac, a primeira dama, Margarita Zavala de Calderón, que inaugurou o congresso. Destacou-se ainda durante o encontro a presença do presidente mexicano, Felipe Calderón Hinojosa e do ex-presidente do FMI Michel Camdessus. Hinojosa é filho do fundador do USEM de Morelia, Michoacán

Tá na mesa reuniu inúmeros adeceanos A ADCE Serra promoveu no dia 17 de outubro o evento gastronômico beneficente tá na mesa com a ADCE. Jonas Rosa


[4] [O Dirigente Cristão]

Gerindo o combate a fome O Banco de Alimentos é mantido por empresas e conduzido como tal

Divulgação

O Banco de Alimentos completará em dezembro nove anos atuando no combate à fome. Nesse período espalhou-se pelo Rio Grande do Sul e atingiu também o Rio de Janeiro. A ADCE foi idealizadora do Banco de Alimentos do RS, o primeiro deles. Na época o então presidente da ADCE Brasil, Alberto Augusto Perazzo, trouxe de Lisboa, onde já existia entidade semelhante, um folder da mesma. Eduardo Albersheim Dias, primeiro a ocupar o cargo de presidente do Banco de Alimentos, conta que a partir daí ele e outros dois adeceanos, Celso Lehnen e Juarez Pereira, que sempre se incomodaram com o desperdício de alimentos, inspiraram-se e mobilizaram-se para criar o Banco de Alimentos do RS. Reunindo parceiros deram origem a ele.

Gestão do desperdício “A atividade do empresariado, principalmente cristão, tem papel importante no desenvolvimento do Banco de Alimentos”, coloca o atual presidente da unidade de Porto Alegre, Paulo Renê Bernhard. Ele explica que os empresários estão muito presentes na gestão dos Bancos de Alimentos e por isso a instituição funciona como uma empresa. Utiliza as ferramentas de gestão para mantê-la e viabilizá-la. “O Banco de Alimentos se orgulha de ser uma instituição que realmente presta serviço à sociedade.” Uma das ações foi estabelecer parcerias. “Temos no Banco de Alimentos uma extensão das faculdades de nutrição. De início trabalhávamos apenas com a Unisinos, agora com todas”, explica Bernhard, ressaltando que além dos núcleos das universidades, o Banco de AliCreche benefiaciada pelo Banco de Alimentos

mentos conta com suas próprias nutricionistas. “Temos muito cuidado com o alimento”, destaca. Até o início de outubro existiam dez Bancos no estado e um no RJ. O Banco de Alimentos de Porto Alegre foi o primeiro do Brasil e não tinha como meta criar outros, mas eles foram surgindo. Ainda em outubro as cidades de Venâncio Aires e Gravataí inauguraram seus bancos. Antes do final do ano Cruz Alta e Rio Grande se integrarão à rede e para 2010 as cidades de Bagé, Bento Gonçalves, Capão da Canoa, Novo Hamburgo e São Gabriel devem entrar. A metodologia do Banco de Alimentos permite que o mesmo seja implantado em cidades de qualquer porte. “Guaíba, Viamão e Imbé são cidades de pequeno porte que possuem Banco”, explica Bernhard. O Banco do Vale dos Sinos é um exemplo de alternativa de viabilização. As cidades de São Leopoldo, Esteio, Sapucaia e Portão uniram-se e criaram um só banco para as quatro cidades para baixar custos. Funcionamento O Banco de Alimentos conta com a atuação de voluntários para arrecadação. Aos sábados essas pessoas ficam na porta dos supermercados solicitando doa-

Em fundações sempre as melhores soluções Av. das Indústrias, 400 - Porto Alegre/RS - 51 3371.1022 - Anchieta - 90.200-290 - www.serki.com.br


Fotos: divulgação

Voluntários do Banco de Alimentos atuando no recolhimento e distribuição

ções, usando já conhecidos coletes azuis. Os alimentos coletados são recolhidos por cerca de 20 a 30 caminhões todos os sábados, segundo Bernhard, que explica que também os motoristas e todos os que trabalham na arrecadação são igualmente voluntários. “Hoje contamos com o poder público e conseguimos reunir todas as universidades, elas estão conosco, de mãos dadas”, orgulha-se o presidente do Banco de Alimentos do RS. Apenas em Porto Alegre já foram distribuídos 12 milhões de quilos de alimentos. Mensalmente são distribuidas 250 toneladas e 331 instituições são beneficiadas. “Criamos ainda o Clique Alimentos. A pessoa dá um clique e doa sem gastar nada”, conta Bernhard. A doação, patrocinada por empresa parceira, pode ser feita em www.cliquealimentos.com.br

Outros setores A partir da idéia do Banco de Alimentos surgiram outros seguindo a mesma lógica de recolher onde sobra e distribuir onde falta. A atuação dos Bancos Sociais é traduzida por sua bandeira: “transformando desperdício em benefício”. Porto Alegre tem hoje o Banco de Tecidos Humanos, também pioneiro no Brasil. O banco fica na Santa Casa e tem parceria com a TAM, para viabilizar a doação a outros estados. Outros que surgiram foram o Banco de Medicamentos, o Banco de Computadores, o Banco de Projetos Comunitários, que orienta pessoas sobre como utilizar recursos do governo para projetos comunitários. O Banco de Livros está arrecadando livros parados na estante,

inclusive os anteriores a reforma ortográfica. Os livros serão utilizados na montagem de bibliotecas em locais onde o estado não alcança. Veja detalhes em www. livroinedito.com.br Os bancos recebem os excedentes de quem não tem o que fazer com eles e os repassam a pessoas que utilizam, gerando renda, no caso da área têxtil, por exemplo, ou aplacando necessidade, como no caso dos alimentos. “Doar é algo que precisa ser admitido na nossa sociedade”, salienta Bernhard.


[6] [O Dirigente Cristão]

Do outro lado do mundo A política e os costumes de um dos principais personagens do mundo atual: a China

Conexão

Uma China diferente daquela vista todos os dias nos jornais foi apresentada pelo chinês Elio Lee em sua palestra na ADCE. Lee, que veio para o Brasil fugindo do comunismo e já habita o país há algumas décadas, mostrou o panorama político de seu país, além de trazer outras curiosidades. A China é um país muito antigo e já teve muito mais representatividade que hoje. De acordo com Lee, houve uma época em que o PIB do planeta era dividido igualmente entre Roma e China. Depois disso, Roma se fragmentou, dando origem a todas as civilizações ocidentais, enquanto a China continuou sendo o mesmo país. Lee conta que na época de Marco Pólo a China tinha cerca de 25 ou 30% do PIB mundial. Depois caiu para 20%; na época

de Mao Tse Tung estava em 1% e hoje aumentou para aproximadamente 4%. O período atual representa, portanto, uma retomada do crescimento. Um resgate daquilo que o país já teve. A política chinesa Irmão de deputado federal chinês, Lee tem assim uma fonte segura de conhecimento acerca da política daquele país. A partir daí, defende que o Partido Comunista chinês não constitui um monobloco, pois existem subgrupos, dentro do próprio partido – o que chama de pluripartidarismo. Lee conta que a meritocracia é a chave para entrar no partido, ou seja, bons contatos e suas capacidades reconhecidas. Os membros do Partido Comunista passam por um processo de capa-

Elio Lee Nasceu em Shangai, na China e está no Brasil desde os 11 anos de idade. Veio para cá fugindo do comunismo. É formado em Química pela USP e em Economia de Empresas pela FGV/ SP. Já trabalhou em empresas como Petrobras e Avipal, é palestrante em economia mundial e consultor de investimentos.

citação. Antes de assumir qualquer cargo, estudam em escola específica que os treina e só então passam a exercer atividades, inicialmente fiscalizadas. O crescimento dentro do partido também é resultado da meritocracia: os melhores passam a atingir melhores postos. “A China é uma nação de meritocracia. O concurso lá existe há dois mil anos: a meritocracia faz parte da cultura”, defende Lee. O Chinês não acha que está crescendo, mas que está resgatando o seu passado. Nós sempre fomos uma nação desenvolvida. Na China os cidadãos são incentivados a buscar seu próprio crescimento, conta. Lá não existem programas de doações em dinheiro como o programa brasileiro Bolsa Família, por exemplo. “A China ensina a pescar, não dá o peixe”, esclarece. Para Lee, a força de seu país está em seu governante e na continuidade do governo. “Uma nação não é nada senão o seu dirigente. A Coréia do Norte e a Coréia do Sul têm a mesma língua, a mesma cultura, o mesmo passado, mas os dirigentes são diferentes e isso muda tudo. O mesmo aconte-


Tibete O Tibete é uma região muito importante para a China e é reivindicada também por Taiwan. “O Tibete representa água e por isso a China não vai abrir mão”, explica Lee. Durante o inverno a região fica coberta de neve e no verão alimenta os rios, sendo responsável por alta parcela da água disponível no território chinês. A província tibetana oferece ainda outra benefício a esse país, uma vez que serve como proteção na disputa de fronteiras com a Índia.

Tai Chi Chuan Elio Lee também dá aulas de Tai Chi Chuan, ou Taijiquan, conforme a grafia original. As aulas acontecem de segunda a sexta-feira no Parcão, em Porto Alegre, há cinco anos e são gratuitas. Inicialmente faz uma sessão para si e em seguida, às 8h30min para o público. “É um grande legado que eu quero repassar para o Brasil”, explica.

sxc.hu

Curiosidades * Na China não existem disputas motivadas por valores espirituais, as pendências acontecem no campo político. * A escrita vertical decorre da base empregada em sua origem: os bambus. Os símbolos do alfabeto chinês vieram de objetos, por exemplo, sol e lua são representados por desenhos que lembram seus formatos. Os símbolos das palavras abstratas vêm também de idéias abstratas, a representação da palavra boa, por exemplo, vem da soma de duas outras: mulher e filho. * O número de mulheres que trabalha na China é alto. Comparável com a situação do RS, onde a disputa entre mulheres e homens no mercado de trabalho é equilibrada. * A China tem milhares de provérbios e através deles expressa sua cultura. Dois exemplos: “Mata um, educa mil” e “Mate a

Muralha da China

galinha sempre aproveitando para mostrar pro macaco”. * A cultura chinesa leva às crianças desde cedo ensinamentos como estratégia, aliança, traição. Arquivo Pessoal

ceu com a Alemanha Oriental e a Ocidental”, exemplifica. A possibilidade de falta de um governante adequado é, para Lee, a maior ameaça à China. Esse, segundo ele, é o problema da Coréia do Norte e também dos estados brasileiros com exceção de SP. “O estado de São Paulo é diferente dos demais porque desde o governo Covas mantém o mesmo partido no governo. Aqui no RS, a cada mandato troca-se o partido.” Os exemplos reforçam mais uma vez a idéia de continuísmo, que para ele é essencial. Sobre o regime de governo chinês, Lee trás uma visão diferente da corrente. Para ele, lá existe a democracia da minoria, ou seja, haveria democracia dentro do grupo formado pelos integrantes do Partido Comunista. O palestrante reforçou sua idéia explicando que a democracia que existe hoje no mundo é bem diferente daquela que surgiu na Grécia.


[8] [O Dirigente Cristão]

O futuro chegou Aquela velha máxima que dizia que o Brasil era o país do futuro, finalmente faz sentido, as expectativas tornaram-se realidade. De acordo com o doutor em Economia André Azevedo, o país passou pela atual crise econômica muito mais forte do que pelas crises anteriores. Prova disso, é que foi dos últimos a entrar na crise e dos primeiros a sair da mesma. A crise A crise financeira mundial originou-se no mercado imobiliário subpprime norte-americano e em função da globalização da economia ganhou dimensões internacionais. Conforme Azevedo, a área imobiliária trazia então características que facilitaram a ocorrência da crise: taxas de juros muito baixas durante muito tempo, incentivando o consumo em um país onde ele já é naturalmente alto; falta de regulação adequada nos bancos. Azevedo explica que os bancos faziam empréstimos com o dinheiro das hipotecas do tipo subprime e transformavam o crédito em títulos, que eram revendidos para outros bancos, frequentemente de outros países. Por isso a crise se disseminou. Recentemente os EUA se viram obrigados a aumentar a taxa de juros para combater a

inflação, passando de 1% para 5% em menos de um ano. Boa parte dos empréstimos subprime eram de juros flutuantes. Assim, ao aumentar os juros a hipoteca aumentou e consequentemente a inadimplência. “Os bancos também não puderam mais honrar os títulos repassados e ficaram com muitos ativos podres em sua carteira, ou seja, tinham o direito de resgatá-los, mas não o conseguiam fazer”, explica o professor. A partir daí a crise desencadeou. Os bancos deixaram de emprestar uns para os outros, provocando o engessamento do consumo e dos investimentos. A crise mostrou-se na economia real, começou a afetar o crescimento, depois a produção, entrando então em uma espiral recessiva, de acordo com Azevedo. O momento atual Hoje em dia tanto o PIB mundial, quanto o comércio internacional demonstram evolução negativa em termos globais. De acordo com Azevedo, desde 2000 até 2008, ambos os indicadores cresciam. Devido à crise internacional a previsão para este ano é que o primeiro caia 1,3% e o segundo 11%. Trata-se da maior queda do comércio internacional e a segunda maior do PIB desde o final da II Guerra Mundial.

Arquivo Pessoal

A evolução da economia brasileira tornou o país mais forte para reagir à crise

André Azevedo Mestre em Economia pela UFRGS e doutor, também em Economia, pela University of Sussex. Atua como Consultor Econômico da Federasul e Coordenador de Pós-Graduação na Unisinos.

Ao analisar, entretanto, a situação dos países do BRIC e a dos países desenvolvidos separadamente, nota-se que o primeiro grupo apresenta situação mais favorável, com quedas menores nos índices. “Todos estão piorando, só que uns mais que os outros. EUA, Canadá, UE e Japão apresentam situação de queda maior, porque foram os bancos dessas


[O Dirigente Cristão] [9]

localidades os afetados”, esclarece o economista. Os países do BRIC caem apenas 6,4% no comércio internacional, enquanto esse índice fica em 13,5% para os desenvolvidos. Em relação ao PIB acontece o mesmo, os países emergentes não caem tanto e os desenvolvidos apresentam sua maior queda desde o pós-guerra: 4%. A situação do Brasil O Brasil aparece em condição positiva perante a realidade mundial. Azevedo explica que o país foi dos últimos a entrar na crise e dos primeiros a sair. “Nosso crescimento negativo durou apenas dois trimestres, enquanto os EUA e a Europa estão há quatro nessa situação”, salienta, informando que a previsão para esse trimestre é de crescimento ainda maior da economia brasileira, de 2,5 a 3%. Entre os fatores que fizeram com que o Brasil se saísse melhor nessa crise está, de acordo com o economista, a diversificação das exportações. Até 2002 metade do que se exportava tinha como destino EUA e UE, em 2009 esse índice caiu para 32% com o aumentou das exportações para os países emergentes. “Desde o ano passado a China é o país que mais consome do Brasil. Já não dependemos mais tanto dos países desenvolvidos”, esclarece. Outro ponto é que pela primeira vez desde sua independência o Brasil é credor. “As nossas reservas internacionais são maiores do que a dívida externa

e o índice de inadimplência é baixíssimo, ou seja, atrai investimentos”, explica Azevedo. Determinante para a resistência à crise é também a alteração no regime de câmbio, atualmente flutuante, que amortece os efeitos. Cenário econômico brasileiro A taxa Selic despencou 5% de janeiro para cá, de 13,75% a.a. para 8,75% a.a.. “Temos a menor taxa real de juros da nossa história, em torno de 4% ao ano, mas ela ainda é a segunda maior do mundo. Muitos países já estão com a taxa próxima do zero”, explica o economista. A mudança da política cambial libertou a política monetária para atuar no que, de acordo com Azevedo, é o que realmente importa: controlar a inflação e maximizar o crescimento. Os juros baixaram; os impostos foram reduzidos e os gastos do governo aumentaram drasticamente. “Em termos quantitativos nosso déficit é muito baixo comparado com o mundo. O problema é a qualidade do nosso gasto”, coloca o economista. Esse aumento de gastos está divido em três frentes, em números proximados: gastos com pessoal, de 59,6 para 72,2

bilhões; custeio, de 40 para 49 bilhões; investimento, de 9,9 para 12 bilhões. “O que menos aumentou é o que mais deveria ter aumentado, os investimentos”, argumenta Azevedo. “Gastos com investimentos são bons porque aumentam a competitividade e podem ser reduzidos em caso de crise. Gastos com pessoal não podem ser cancelados”, completa. Depois da crise todas as moedas se valorizaram em relação ao dólar, segundo o economista, a tendência é o processo continuar. Em termos de comércio exterior, o Brasil é o 22º maior exportador do mundo e o 24º maior importador. O país perdeu espaço: as exportações caíram em 25% e as importações em 31%. “Nossos principais produtos de exportação estão caindo mais. É a Ásia que está segurando as exportações brasileiras atualmente”, alerta Azevedo. De acordo com as projeções, pode-se esperar estabilidade na economia para esse ano e retomada do crescimento para o ano que vem. A balança comercial de 2009 ficará parecida com a de 2008. Para 2010 deve diminuir um pouco em função do aumento das importações.


[10] [O Dirigente Cristão]

Nova ordem social ADCE-SP e CNBB promoveram congresso abordando o tema em outubro A ADCE-SP e a CNBB promoveram o simpósio A Pessoa, Solidariedade e o Bem Comum O desafio de construir uma nova ordem social, nos dias 24 e 25 A abertura ao diálogo entre a Igreja e os Empresários 1. Memória A ADCE tem feito, na primeira década deste século e milênio), grande esforço em manter o diálogo com os bispos, visando, assim, caminhar em sintonia com as diretrizes da Igreja e seus pastores. Ao longo desses anos, viveu-se uma virtude indispensável para o amadurecimento da prática do diálogo: a perseverança e a devida dose de paciência. A bem da verdade, a perseverança foi praticada principalmente por parte dos empresários da ADCE e sua diretoria. Essa experiência teve início num tempo de dificuldades, onde havia reservas de ambas as partes (bispos e empresários). Tais reservas estão hoje superadas, podendo-se afirmar que o terreno está pronto para urna cooperação e um relacionamento bem mais estreitos. Assim, há um grande avanço, mas é necessário que os empresários cada vez mais se sintam parte da Igreja, partilhando suas alegrias, dificuldades, projetos e sonhos. Certamente a igreja, em sua estrutura hierárquica, também deverá crescer mais no acolhimento aos empresários, que são seus filhos e como tal devem ser amados. Olhando para trás, expressamos gratidão por aqueles empresários que sustentaram o sonho da ADCE e se esforçaram para construir esse diálogo quando ele parecia ainda tão difícil. A Igreja de São Paulo teve em Dom Paulo

de setembro, em São Paulo-SP. A ADCE-RS esteve representada pelo seu presidente Antônio D’amico, e ainda pelo adeceano Jaime Lorandi, de Caxias do

Sul, que palestrou no evento. A ADCE-RS destaca a palestra do bispo auxiliar de São Paulo, Dom Pedro Luiz Sringhini, apresentada em artigo abaixo:

Evariste Arns (1970-1998) um dos iniciadores do diálogo. Foi seguido por Dom Cláudio Hummes (19982006), um grande entusiasta dessa causa e que foi responsável pelo envolvimento da CNBB no processo. Dom Odilo Pedro Scherer segue o mesmo caminho e tem estimulado a continuação do diálogo, participando, na medida do possível dos encontros.

A comissão 'Vida e Família' trata questões da bioética e defesa da vida humana, da dignidade inviolável da pessoa humana, a importância da família, os valores morais perenes e indispensáveis na vida da sociedade.

2. Instâncias de diálogo na Igreja no Brasil - CNBB Na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, além da Comissão Episcopal de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, a quem organicamente está ligada essa experiência, há um empenho da Comissão para a Cultura, Educação e Comunicação Social. Pelos valores que prega, a ADCE tem também afinidade com a Comissão da Vida e da Família. Ao todo, na CNBB são dez as comissões episcopais de pastoral. A comissão da Caridade, Justiça e Paz propõe-se como expressão da solicitude da Igreja para com os pobres. Aborda a questão do trabalho, da política, da promoção humana e justiça social, à luz da evangélica opção pelos pobres, tendo presente o princípio de subsidiariedade (cf. Encíclica Caritas in Veritate 57-58); A comissão para Educação, Comunicação e Cultura quer ser uma instância de evangelização a partir do mundo da educação e de um novo processo educacional, com o comprometimento dos meios de comunicação, a exemplo de Cristo, Mestre perfeito da comunicação, que anunciou o Reino de Deus a partir da cultura de sua época;

3. A compreensão do diálogo O diálogo entre Igreja e empresários pode ser entendido tendo em mente os seguintes sujeitos (protagonistas): bispos empresários cristãos - os demais empresários - os católicos das comunidades eclesiais, os cristãos engajados na transformação da sociedade, como os agentes das pastorais sociais. O Papa Bento menciona: "nós, as autoridades políticas e os operadores econômicos" (Caritas in Veritate, n. 78). Nos encontros, bem como nos propósitos para o dia a dia, ressalta-se a central idade da Palavra de Deus no Evangelho de Jesus Cristo e da Doutrina Social da Igreja "Vós sois o sal da terra; vós sois a luz do mundo". 4. Os recentes Documentos da Igreja É de se ressaltar, com alegria, a colaboração que a ADCE deu para a Campanha da Fraternidade 20 I O, na pessoa do Dr. Carlos Camargo, que teve participação em uma das revisões do textobase. O tema da CF 2010 é "Economia e Vida' e foi organizada pelo CONIC: Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil. Hoje, há um instrumento novo de grande importância e utilidade para o crescimento do diálogo: a


[O Dirigente Cristão] [11]

nova Carta Encíclica de Bento XVI, Caritas in Veritate, que reflete sobre a vida da empresa e o papel do empresário, no contexto em que propõe um ordenamento econômico mundial justo e humano e um modelo de desenvolvimento baseado na solidariedade e na defesa da vida do ser humano e do meio ambiente. Outros documentos: Deus Caritas est (2005); Documento de Aparecida (2007); Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil - CNBB (20082010); Mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global Profecia da Terra, elaborado pela Comissão espiscopal de pastoral para o serviço da Caridade, Justiça e Paz (2009) . 5. Atuais desafios e compromissos comuns: - o mundo do trabalho e as relações sociais daí decorrentes: a economia, a empresa. Destaquem-se iniciativa de projetos sociais com crianças, adolescentes e jovens carentes, especialmente qualificação profissional: - nova ordem econômica em que a economia esteja em função do ser humano e não do lucro. O Papa Bento afirma que é necessário "fundar um verdadeiro humanismo ... um humanismo

cristão" (CIV n. 78). O modelo econômico atual empobrece o povo e degrada o meio ambiente; - nova ordem ambiental a partir da qual se possa reconciliar economia e ecologia; novo parâmetro civilizatório capaz de superar o consumismo e a degradação ambiental. Como entender as mudanças climáticas, fruto da ação humana e do aquecimento global? Cabe referência à futura CF 2011: 'Fraternidade e a Vida no Planeta': - ética nas relações entre os seres humanos e na vida social. Ética na política: como vencer a chaga da corrupção e da impunidade, que gera sempre mais desigualdade e violência? A encíclica Caritas in Veritate se refere à ética na empresa, isto é, ao "modo de conceber a empresa" segundo a "responsabilidade social" e "parâmetros éticos" (n. 40). Investir não é apenas um fato técnico mas humano e ético (idem). "Hoje fala-se muito de ética no campo econômico, financeiro, empresarial" (n. 45); "novas formas de empresa" (n. 46) "capazes de conceber o lucro como um instrumento de humanização do mercado e da sociedade" (n. 47); - diálogo fé e razão e busca de solução a partir da mística e espiritual idade. "O desenvolvimento implica atenção à vida espiritual" (CIV 79); 6. Responsabilidade Social: - compromisso com a justiça, cidadania, ética, acabar com a corrupção; superação da violência e construção de uma cultura de paz (CF 2009); - Economia de comunhão (Movimento dos Focolares: Chiara Lubi-

ch). Trata-se da criação ou da reestruturação de empresas, pequenas ou grandes, entendidas como comunidade de pessoas, cujos proprietários livremente distribuem os lucros de acordo com novo critério, respondendo a três finalidades: I) consolidação da empresa com justos salários e respeito às leis vigentes; 2) ajuda aos necessitados e criação de postos de trabalho; 3) sustento a estruturas aptas para formar pessoas capazes de viver a cultura da solidariedade, a cultura da partilha. João Paulo II usou pela primeira vez esta expressão em outubro de 1992, em Santo Domingo. - Economia solidária. "Apóiemse as diferentes iniciativas de economia solidária, como alternativas de trabalho e renda, consumo solidário, segurança alimentar, cuidado com o meio ambiente, formas de finanças solidárias, trabalho coletivo e busca do desenvolvimento local sustentável e solidário" (DGAE 190). A CF 2010 vai abordar o tema 'Economia e Vida'. Considerar aqui o trabalho da Cáritas (nacional, diocesana, etc ... ). A Cáritas é citada na encíclica DCE 31; e nas diretrizes da CNBB - DGAE 182. Destaque-se aqui a necessidade da geração de postos de trabalho: - Voluntariado. "Tal empenho generalizado constitui, para os jovens, uma escola de vida que educa para a solidariedade e a disponibilidade a darem não simplesmente qualquer coisa, mas darem-se a si próprios" (DCE 30; DGAE 185);



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.