Dirigente cristão nov 14

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O Dirigente Cristão Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul Nº 192 - Ano XXIII - Dezembro/2014

Celso Wichinieski

4º FAS:

Fórum incentiva a transformação no mundo


O Dirigente Cristão Órgão Informativo da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul (ADCE-RS) Filiada à ADCE/UNIAPAC/Brasil

Presidente Antonio D’Amico Vice Presidente Juarez Pereira Eduardo Albershein Dias Assessoria Doutrinária Pastor Carlos Dreher Pe. Martinho Lenz, SJ Editores In Memoriam Fulvio de Silveira Bastos Renato Cardoso

Sede Centro Arquidiocesano de Pastoral Praça Monsenhor Emílio Lotterman 96, conj 12 Bairro Floresta CEP 90560-050 Porto Alegre/RS Fones (51) 3332.0811 e-mail: adce@adcers.org.br Conselho Diretor Fernando Coronel (Porto Alegre) Sérgio Kaminski (Porto Alegre) Milton José Cemin - Serra (Caxias do Sul) Jairo Antunes - Serra (Caxias do Sul) Sergio Ricci - Planalto Médio (Passo Fundo) Ubiratan Oro - Planalto Médio (P. Fundo) José Gonçalves de Lima (Santa Maria) Izair Antonio Pozzer (Santa Maria) Gaspar Biasibetti - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul) Dilmar Carvalho - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul) Comissões Alecio Ughini - Baptista Celiberto Carlos Egídio Lehnen - Luiz Roberto Ponte Francisco Moesch - Gilberto Lehnen José Antonio Célia - José Juarez Pereira Luiz Arthur Giacobbo - Ricardo Jakubowski Rita Campos Daudt - Sergio Kaminski

Edição:

Rua Jerusalém, 415 - CEP 91420-440 - Porto Alegre/RS Fone: (51) 3392.0055 conexaocom@plugin.com.br Editor: Carlos Damo Reportagem e Diagramação: Cíntia Machado DRT/RS 14080

Tiragem 4500 exemplares Circulação Bimestral - Distribuição Gratuita

É permitida a reprodução total ou parcial das matérias aqui publicadas, desde que conservada a forma e citados a fonte e o autor. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.

Sustentáveis transformações FAS chega a 4º edição incentivando a ação e a consciência individual e coletiva &REHUWXUD IRWRJUiÀFD GR )$6 &HOVR :LFKLQLHVNL


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Sustentáveis Transformações: a bandeira do 4º FAS norteou o fórum, que ao longo de seus dois dias de realização, 5 e 6 de novembro, trouxe temas como o capitalismo sustentável, a formação do ser humano, desde seu nascimento, passando pela educação e a realidade do ensino atual, além da representação simbólica do fogo como elemento da natureza. Os participantes destacaram o quanto é importante pensar a sustentabilidade como parte da vida cotidiana, tanto pessoal, quanto profissional. Questões como a forma de se transportar, de pensar o consumo e as relações. A sustentabilidade vai além de descartar o lixo corretamente ou de produ-

zir embalagens recicláveis, depende fortemente de um comportamento sustentável permanente que envolve, por exemplo, a substituição do transporte individual pelo coletivo ou não poluente. Depende de uma população menos consumista, que avalie a real necessidade de compra de um artigo ou de substituição de um equipamento, além da forma como os produtos são produzidos, dentro de padrões ambientais adequados ou por equipes que tem seus direitos trabalhistas reconhecidos. Da mesma forma, os processos empresariais e industriais afetam a realidade do planeta e das pessoas que nele vivem e devem dar atenção a questões éticas, trabalhistas, de produção, de descarte, entre outras.


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EXPOFAS E PAS A quarta edição do FAS trouxe novidades, uma delas, a ExpoFAS, que paralelamente Ă s palestras e painĂŠis, apresentou empresas, start up’s e instituiçþes responsĂĄveis por iniciativas voltadas Ă sustentabilidade. “A gente estĂĄ muito feliz de ter a oportunidade de falar sobre a PlantĂĄrio e tambĂŠm com a rotatividade de pessoas que estĂŁo passando por aqui, desde jovens estudantes, atĂŠ palestrantes, cristĂŁos e empresĂĄrios, falando sobre a participação de todos no empreendedorismo e na sustentabilidadeâ€?, diz George Haeffner, da PlantĂĄrio, projeto que produz um equipamento para fĂĄcil cultivo de plantas orgânicas em espaços pequenos, independentemente das condiçþes de luz e de forma automĂĄtica. A Instituição Educacional SĂŁo Judas Tadeu apresentou, na ExpoFAS, as iniciativas de seu NĂşcleo de Sustentabilidade e as açþes promovidas de forma integrada ao ensino. “Os visitantes estĂŁo se interes-

sando na sustentabilidade e nas iniciativas desenvolvidas, ĂŠ muito bomâ€? conta Cristiano Carvalho, representante da instituição. Outro expositor presente foi a Ventilumi, que desenvolve soluçþes focadas em otimizar construçþes de forma a aproveitar recursos como ar, ĂĄgua e luz, enquanto proporciona conforto tĂŠrmico e acĂşstico. “Achamos interessante a proposta de trabalhar a sustentabilidade, como nosso produto se encaixa na proposta, resolvemos participarâ€?, declara o diretor da empresa, Henrique Fetzner. Outra novidade foi o PAS – PrĂŞmio ADCE de Sustentabilidade, cada uma das Regionais da ADCE entregou o prĂŞmio para uma entidade de sua regiĂŁo, que se destacou atravĂŠs da ação sustentĂĄvel.

0DLV LQIRUPDo}HV VREUH SDOHVWUDQWHV SDOHV WUDV H H[SRVLWRUHV SRGHP VHU HQFRQWUDGDV HP ZZZ IDV DGFH FRP EU

ExpoFAS: Expositores

PAS: Vencedores

‡ ADCE ‡ &HQWUR 1DFLRQDO GH 7HFQRORJLDV /LPSDV 6(1$, ‡ &RQVHOKR 5HJLRQDO GH $GPLQLVWUDomR &5$56

‡ (FRIRJR ‡ (FRPDFK ‡ (FRWHOKDGR ‡ -XVWD 7UDPD ‡ 1HZ H ‡ 3ODQWiULR ‡ 3RO\XUWHFK ‡ 6mR -XGDV 7DGHX ‡ 6HQDQHOOD ‡ 9HQWL/XPL

Projeto “Fazendo a Lição de Casaâ€? 3DVVR )XQGR Eco Mach LTDA &D[LDV GR 6XO Artecola 1RYR +DPEXUJR Protetor das Ă guas 6DQWD &UX] 'R 6XO Transformando o desperdĂ­cio em BenefĂ­cio Social 3RUWR $OHJUH


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Capitalismo SustentĂĄvel Diversas visĂľes do capitalismo sustentĂĄvel foram contempladas no painel

Tantas vezes visto como vilĂŁo da sustentabilidade, seja no aspecto social, seja no ambiental, o capitalismo tem em sua origem uma face bastante positiva e favorĂĄvel ao desenvolvimento da humanidade. ApĂłs cerca de dois sĂŠculos de seu surgimento, o sistema tem sido alvo de importantes discussĂľes e jĂĄ aparecem propostas, ou mesmo açþes efetivas, para adaptĂĄ-lo Ă s necessidades de sustentabilidade que o mundo atual coloca. TrĂŞs visĂľes diferentes foram apresentadas no painel “Capitalismo SustentĂĄvel no Mundoâ€?, que contou com a participação do ex-ministro do Desenvolvimento Social do Chile, Bruno Baranda Ferran; do consultor em logĂ­stica e sustentabilidade Cristiano FaĂŠ Vallejo e do professor norte-americano de inovação Robert Kip Garland e foi mediado por Carlos Alexandre Netto, reitor da UFRGS. VISĂƒO NORTE-AMERICANA “A primeira coisa que eu acho fundamental nesse debate sobre sustentabilidade ĂŠ o jeito que ele ĂŠ apresentado, como um dilema: ĂŠ moralidade ou lucro, nĂŁo dĂĄ pra ter os dois. Para criar valor econĂ´mico vocĂŞ tem que ter um pouco de culpa dos impactos. Acho esse tipo de discurso pouco produtivo. É preciso fazer um reenquadramento do discurso e, para isso, temos que voltar no tempo e enxergar o capitalismo como consequĂŞncia inovadora da sustentabilidade. Ver como ele surgiu e que papel teve na criação de tudo, com o objetivo ďŹ nal que sempre foi melhorar as condiçþes do ser humanoâ€?, explica Kip Garland a respeito de seus estudos e visĂŁo. O professor retoma a trajetĂłria que a raça humana trilhou nos Ăşltimos 30 mil anos para garantir suas necessidades, construindo, dessa forma, sua histĂłria e desenvolvimento. Entre 30 mil e 10 mil anos atrĂĄs, a necessidade do ser humano era recur-

sos, no caso, alimentos. Por essa razĂŁo, era caçador e vivia em tribos, como nĂ´made. HĂĄ 10 mil anos, o homem começa, em algumas regiĂľes, a desenvolver as tĂŠcnicas de cultivo alimentar modernas e sua busca passa a ser por espaço. Com a conquista de territĂłrios, surgem tambĂŠm as noçþes de propriedade e as famĂ­lias. SĂł no sĂŠculo XIX iniciou o terceiro perĂ­odo, no qual houve especialização nas funçþes de produção e de administração do capital. AtĂŠ entĂŁo o prĂłprio empresĂĄrio cuidava de seus recursos e produzia conforme o que tinha; nesse momento, surge uma nova função proďŹ ssional, a do banqueiro. A conquista desse perĂ­odo ĂŠ o tempo, pois, com a especialização, as pessoas jĂĄ nĂŁo precisam mais fazer suas prĂłprias roupas e demais itens que necessitam, passam a comprar prontos. Nasce aĂ­ o capitalismo. “O capitalismo surgiu com o objeWLYR Ă€ QDO GH PHOKRUDU DV FRQGLo}HV GR VHU KXPDQRÂľ .LS *DUODQG Kip Garland entende que o ser humano construiu valor considerĂĄvel ao buscar satisfazer seus desejos. “Ele quer viver mais, quer comer melhor, quer ter ďŹ lhos mais felizes. É isso que a gente quer desde 30 mil anos atrĂĄs atĂŠ agora. A nossa possibilidade de conquistar essas metas principais do ser humano começa a saltar no sĂŠculo XIX. E aĂ­ a gente cria o grande dilema da sustentabilidade: crescimento. Vamos continuar a crescer ou vamos ser morais,


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parar de crescer e cuidar? Esse ĂŠ o falso dilema que estĂĄ criado ao redor da sustentabilidade porque nĂŁo contempla a inovação que ĂŠ unir os doisâ€?, defende. O modelo criado no sĂŠculo XIX, segundo Kip Garland, ĂŠ composto por quatro pilares – consumo, produção, comunicação e distribuição – que sĂŁo sustentados por dois grandes recursos, energia e capital. Na ĂŠpoca, a energia era encarada como um recurso barato e inesgotĂĄvel. Hoje em dia, estarĂ­amos em um momento de transição para um quarto perĂ­odo, em que a mudança seria, basicamente, quanto Ă perspectiva. “Capitalismo foi inventado como mecanismo fundamental de crescimento por inovaçãoâ€?, explica Kip Garland, indicando a origem positiva de tal sistema. Ele aborda um artigo de Clayton Christensen, publicado no Harward Business Review, sob o tĂ­tulo The Capitalist’s Dilemma, para ilustrar o momento de transição e as necessidades de mudança no capitalismo: “ele fala que nosso problema com capitalismo estĂĄ em uma premissa falsa sobre o capital: fazem-nos acreditar que hĂĄ uma escassez de capital e nĂłs precisamos guardĂĄ-lo. Isso estĂĄ erradoâ€?, coloca. O problema do capitalismo seria o fato de o capital estar parado na mĂŁo de ďŹ nancistas que preferem investi-lo em operaçþes ďŹ nanceiras de resultado rĂĄpido a aplicĂĄ-lo na inovação, na busca de soluçþes para os grandes problemas do mundo. Christensen, em seu artigo, sugere quatro formas para transformar o capital em aliado da sustentabilidade. Kip Garland entende que a inovação tem papel fundamental no novo modelo e indica a necessidade de uma grande mudança no padrĂŁo de consumo, em que recursos naturais sĂŁo aplicados na produção de bens que sĂŁo pouco aproveitados. “NĂŁo ĂŠ sĂł reduzir embalagem, usar plĂĄstico verde, ĂŠ repensar nosso modelo de consumo. Hoje em dia nĂłs estamos con-

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templando um mundo em que eu possuo as coisas. Precisamos passar a possuir pra consumo coletivo. Inovação nos modelos de negĂłcios ĂŠ o Ăşnico jeito de entrarmos nessa quarta ĂŠpoca em que a perspectiva vai ser o meio ativoâ€?, defende. VISĂƒO LATINO-AMERICANA “Ainda que todos os indicadores relacionados Ă desigualdade e ao emprego tenham melhorado na AmĂŠrica Latina, estamos em um momento muito difĂ­cil, com muitas necessidades para enfrentar. Justamente por essa carĂŞncia, o investimento e o empreendimento se apresentam como grandes oportunidades. NĂŁo apenas para enfrentar os desaďŹ os e prover bens e serviços a uma sociedade que estĂĄ demandando cada vez maiores medidas para prover e criar infraestruturas suďŹ cientes, mas fundamentalmente para responder aos desaďŹ os sociais e ao combate Ă pobreza, que ĂŠ essencialâ€?, defende FerrĂĄn, ao abordar sua visĂŁo sobre capitalismo sustentĂĄvel. ´´+RMH VmR YDULiYHLV HPRFLRQDLV KXPDQDV SHVVRDLV DV TXH WrP WLGR PDLRU SUHSRQGHUkQFLDÂľ )HUUiQ Alguns dos desaďŹ os apontados pelo ex-ministro chileno sĂŁo mudanças climĂĄticas que afetam o desenvolvimento de comunidades; escassez de ĂĄgua para grande parte da indĂşstria agrĂ­cola; restriçþes de acesso Ă energia; incidĂŞncia de desemprego ainda alta entra famĂ­lias mais pobres, entre outros. Se, por um lado, o investimento ĂŠ visto por FerrĂĄn como ferramenta importante para atender Ă s necessidades sociais, por outro, o desenvolvimento econĂ´mico tem encontrado obstĂĄculos na falta de

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conďŹ ança da sociedade em empresas e lideranças polĂ­ticas. “Os governos respondem com mais regulação e mais rigidez que nĂŁo ajudam no ajuste, invĂŠs de enfrentar esse desaďŹ o abrindo oportunidades Ă sociedade e aos empreendedoresâ€?, analisa. FerrĂĄn indica trĂŞs passos para a retomada da conďŹ ança por parte das empresas. O primeiro deles seria o respeito Ă s comunidades, que poderia iniciar atravĂŠs do diĂĄlogo com as mesmas. O segundo, o desenvolvimento de estratĂŠgias de valor compartilhado, em que o investidor ou empreendedor deďŹ niria metas junto com a comunidade. O terceiro seria o cumprimento dos pactos deďŹ nidos. FerrĂĄn destaca a importância da retomada dos valores e da ĂŠtica no exercĂ­cio da liderança e indica a existĂŞncia de uma mudança cultural, de um novo paradigma, que precisa ser compreendida pelos lĂ­deres. “Hoje sĂŁo variĂĄveis emocionais, humanas, pessoais as que tĂŞm tido maior preponderância e estĂŁo criando obstĂĄculos para muitos projetos de investimentos. JĂĄ nĂŁo sĂŁo as ďŹ nanças, jĂĄ nĂŁo sĂŁo as variĂĄveis tĂŠcnicas as diďŹ culdades que alguns projetos e investimentos estĂŁo tendo,â€? alerta. VISĂƒO EUROPEIA Vallejo aponta uma mudança de paradigma na questĂŁo da utilização de recursos e manejo de resĂ­duos ao apresentar o modelo econĂ´mico adotado pela Europa, que visa menor impacto ambiental. “Enquanto aqui no Brasil nĂłs começamos a falar em PolĂ­tica Nacional de ResĂ­duos SĂłlidos e em reduzir resĂ­duos, mas continuamos com o sistema econĂ´mico baseado na economia linear, na Europa, a comunidade econĂ´mica adotou recentemente, e preconiza para todos os paĂ­ses, a economia circular. Esse modelo pretende fazer um corte nesse raciocĂ­-

nio de que para continuarmos a crescer nĂłs vamos ter que continuar absorvendo a mesma quantidade de matĂŠria primaâ€?, explica. ´$ HFRQRPLD FLUFXODU YDL SURSRUFLRQDU D UHFXSHUDomR GR SODQHWD H PDLRU SDUFLP{QLD QD UHWLUDGD GH UHFXUVRV QDWXUDLVÂľ 9DOOHMR Tal modelo de produção prevĂŞ aumento no ciclo de vida dos produtos e reaproveitamento das matĂŠrias primas em outros produtos. Um ponto importante na economia circular ĂŠ a preocupação em produzir mercadorias que possam ser desmontadas adequadamente para serem incluĂ­dos em outros sistemas produtivos com mais facilidade. “Isso vai proporcionar, nĂŁo sĂł a recuperação do planeta e maior parcimĂ´nia e calma na retirada de recursos naturais, mas vai ajudar tambĂŠm na recuperação das cadeias de suprimentos como um todo, que estĂŁo perdendo valor absurdamenteâ€?, coloca Vallejo. Um exemplo, dado por Vallejo, de aumento no tempo de utilização ĂŠ o de uma empresa que passou a vender tratores reformados com garantia de zero. Outro exemplo, que, dessa vez, ilustra a utilização da matĂŠria prima em outros ciclos, ĂŠ o emprego de resĂ­duos tĂŞxteis, provenientes de roupas, no isolamento tĂŠrmico de paredes. O Fairphone ĂŠ outra importante iniciativa em termos de sustentabilidade. Trata-se de um smartphone produzido com matĂŠrias primas certiďŹ cadas, prĂĄticas de trabalho adequadas e estĂĄ inserido no modelo de economia circular, pois qualquer peça pode ser trocada, por ter estragado ou estar desatualizada, desde a tela atĂŠ o processador. O preço ĂŠ tambĂŠm bastante inferior Ă mĂŠdia.

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A felicidade e a mudança Pradero vê a felicidade das pessoas como elemento essencial para a mudança no mundo

A razĂŁo para que tantos modelos econĂ´micos nĂŁo tenham dado certo estĂĄ na implementação dos mesmos. Capitalismo, comunismo, liberalismo fracassaram porque as pessoas, ao colocĂĄ-los em prĂĄtica, fracassaram. É o que acredita JosĂŠ IgnĂĄcio Rivero Pradera, especialista em transformaçþes de pessoas e redes comerciais. “O capitalismo sustentĂĄvel ĂŠ um modelo que propĂľe coisas muito positivas, que, sem dĂşvidas, sĂŁo importantesâ€?, aponta o palestrante, ao alertar sobre a necessidade de mudança: “se lutarmos para mudar o mundo, talvez nĂŁo consigamos, mas se nĂŁo lutarmos, estamos perdidosâ€?. Para que o novo modelo dĂŞ certo, entretanto, ĂŠ fundamental que seja prĂĄtico para nĂŁo haver problemas na hora da execução. Outro ponto essencial para Pradero ĂŠ a pessoa: “o Ăşnico que ĂŠ capaz de transformar o mundo ĂŠ a pessoa, logo, temos que trabalhar na origem. Temos que trabalhar em tudo aquilo que estĂĄ construindo pessoas impotentes para fazer a mudança. Trata-se de trabalhar em todo ciclo vital da pessoaâ€?. A PESSOA “Precisamos criar pessoas felizes, que queiram viver, que queiram manter o mundo no seu entorno, para criar um mundo sustentĂĄvel e felizâ€?, aďŹ rma. Para Pradero, um dos fatores que estaria destruindo a humanidade ĂŠ a destruição da famĂ­lia. Ele acredita que em muitos paĂ­ses pais e ďŹ lhos afastam-se cedo e pouco convivem. Isso estaria eliminando a base, a origem da pessoa. TambĂŠm as universidades deveriam, em sua visĂŁo, trabalhar a formação do aluno de forma mais abrangente, ultrapassando os conhecimentos tĂŠcnicos e voltando-se, ainda, a questĂľes como ĂŠtica, que inuenciam na formação geral da pessoa. Pradero indica outros temas que inuenciam as pessoas, como economia, ambiente de trabalho, meio ambiente, cultura, polĂ­tica, atividade fĂ­sica.

Alguns dos pontos essenciais para que uma pessoa possa alcançar a felicidade seriam um salĂĄrio adequado e a realização dos sonhos. “NinguĂŠm ĂŠ feliz por ter um bom salĂĄrio. Mas um salĂĄrio que me permita levar uma vida digna ĂŠ muito importanteâ€?, ressalta. Conseguir realizar seus sonhos e ver as pessoas em volta realizando os seus, seria outro requisito bĂĄsico para a felicidade. No ambiente de trabalho, algumas pessoas motivam-se com a possibilidade de aprender algo; outras, com a chance de trabalhar com pessoas que admiram; hĂĄ tambĂŠm aquelas que valorizam a oportunidade de conciliar vida pessoal e proďŹ ssional. Essa conciliação seria, para Pradero, altamente positiva para a pessoa e para a empresa, pois proporciona o desenvolvimento pessoal que, consequentemente, enriquece o trabalho. O EMPRESĂ RIO Mesmo os executivos nĂŁo sĂŁo felizes, na concepção de Pradero, apesar de ocuparem cargos disputados e atuarem em grandes empresas. Passam a vida trabalhando, dia e noite, alĂŠm dos ďŹ nais de semana e acabam por afastar-se da famĂ­lia, dos amigos e daquilo que gostam. “Aquilo que nĂŁo se pode comprar com dinheiro ĂŠ muito caro e essas sĂŁo as coisas importantesâ€?, alerta ao referir-se Ă s questĂľes nĂŁo materiais.

´6H OXWDUPRV SDUD PXGDU R PXQGR WDOYH] QmR FRQVLJDPRV PDV VH QmR OXWDUPRV HVWDPRV SHUGLGRVÂľ 3UDGHUR “Por que tem que ser maior o PIB do Brasil no ano que vem? O que traria de valor ao Brasil? NĂŁo seria mais correto haver uma transformação de alguns segmentos? NĂŁo seria mais correto ser mais eďŹ ciente?â€?, questiona Pradero, ao propor uma reexĂŁo. “Por que sempre crescer? O que eu devo querer ĂŠ que minha empresa valha mais e a conta de resultados ser melhor nĂŁo quer dizer que a empresa vale maisâ€?, provoca. O AMBIENTE DE TRABALHO “Eu acredito que o mundo do trabalho tem muito o que falar sobre a transformação da humanidade, da transformação do mundo. Eu acredito que a maioria dos empresĂĄrios, e tambĂŠm dos sindicalis-


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tas, nĂŁo estĂŁo preocupados se as pessoas que trabalham ali estĂŁo felizesâ€?, declara o palestrante. O papel de um lĂ­der, seja em escola, empresa, ONG, ou qualquer outro tipo de instituição, ĂŠ ajudar, ĂŠ desenvolver pessoas, acredita Pradero: â€œĂŠ impossĂ­vel mudar o mundo todo, mas ĂŠ possĂ­vel mudar a gestĂŁo das pessoas no trabalho, para que sejam felizesâ€?. Cada pessoa deve fazer a sua parte em sua ĂĄrea de atuação, acredita o palestrante e nĂŁo esperar que governos e polĂ­ticos o façam. “Cada um naquilo que faz. Se eu trabalho na educação, na escola, tenho que trabalhar na escola. Talvez nĂŁo possa mudar toda a escola, mas tenho que mudar a minha classe, tenho que ser uma referĂŞncia diferenteâ€?, defende “Mas por que eu devo fazer as pessoas felizes na minha empresa? HĂĄ alguma lei que diga isso? Existem dois motivos para que vocĂŞ faça as pessoas felizes na sua empresa. O primeiro e mais importante: porque ele ĂŠ seu prĂłximo e devemos fazer o prĂłximo feliz. O segundo: porque pessoas felizes

produzem mais. Sim, pessoas produzem mais sĂł por serem felizes, em todos os trabalhosâ€?, argumenta. Para Pradero, uma pessoa feliz gera resultados positivos, melhora fatores como o relacionamento com clientes, que ďŹ cam mais satisfeitos; melhora a produtividade e reduz despesas. ´3UHFLVDPRV FULDU SHVVRDV IHOL]HV TXH TXHLUDP YLYHU TXH TXHLUDP PDQWHU R PXQGR QR VHX HQWRUQR SDUD FULDU XP PXQGR VXVWHQWiYHO H IHOL]Âľ 3UDGHUR “Desenvolver pessoas de sucesso, felizes e comprometidas no mundo do trabalho, que sejam capazes de conciliar sua vida pessoal. Investir neste tipo de pessoa ĂŠ rentĂĄvel para uma empresa, para uma organização a curto, mĂŠdio e longo prazo. PorĂŠm, o mais importante ĂŠ que estamos desenvolvendo pessoas capazes de mudar o mundoâ€?, ďŹ naliza.


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Transformação empresarial Sergio Cavalieri indica necessidade de modernização no modelo de gestão empresarial

Se por um lado as empresas sĂŁo importantes para o desenvolvimento econĂ´mico e, portanto, para a sociedade como um todo, por outro, elas estĂŁo com baixos Ă­ndices de aprovação. Essa foi a reexĂŁo proposta pelo empresĂĄrio e presidente da Uniapac Latino-americana, Sergio Cavalieri, na palestra mĂĄster “A Sociedade que Transformaâ€?. “Temos aqui, evidentemente, um grande paradigma, porque, se a empresa ĂŠ uma entidade tĂŁo importante e de repente ĂŠ tĂŁo mal avaliada pela população, alguma coisa estĂĄ errada. O que estĂĄ acontecendo?â€?, questiona. NECESSIDADE DE MUDANÇA Cavalieri demostra que depois da Revolução Industrial, a vida em sociedade teve melhorias em diversos setores. Do ano zero atĂŠ cerca de 1750, a renda per capita sempre esteve em torno de U$ 500,00, passa entĂŁo a aumentar rapidamente e, em 2010, chega a U$ 7600,00 per capita, conforme dados da University of Groningen. A pobreza extrema ĂŠ outro Ă­ndice que caiu consideravelmente nos Ăşltimos 200 anos: em 1800 cerca de 80% da população vivia com menos de U$ 1,00 por dia, em 2010, esse percentual havia reduzido para cerca de 15%, conforme a American Economic Association. O analfabetismo caiu de 90%, no sĂŠculo XIX para 15%, hoje em dia, conforme a Unesco. TambĂŠm a expectativa de vida teve aumento expressivo, passando de 30 anos para 71, nos dias atuais. ´$V HPSUHVDV QmR DFRPSDQKDUDP R GHVHQYROYLPHQWR 1yV HPSUHHQGHGRUHV WHPRV TXH HQWHQGHU HVVH QRYR PXQGRÂľ &DYDOLHUL “SĂŁo efeitos impressionantes que o capitalismo possibilitou. A Ăşnica forma que temos de tirar as pessoas da pobreza ĂŠ atravĂŠs do trabalho, mas serĂĄ

6HUJLR &DYDOLHUL

que estamos cumprindo nosso papel como empresĂĄrios?â€?, reete. Alguns dos fatores problemĂĄticos no meio empresarial seriam a participação no desvio de verbas pĂşblicas; condiçþes de trabalho inadequadas para os funcionĂĄrios; alĂŠm do alto nĂ­vel de consumo de recursos naturais. “A população de hoje jĂĄ extrai do planeta mais do que ele ĂŠ capaz de repor e temos que lembrar que grande fatia da população mundial nĂŁo tem acesso, nem mesmo, Ă s condiçþes necessĂĄrias para a vida dignaâ€?, avalia Cavalieri. Pesquisas realizadas nos EUA indicam que a conďŹ ança nas grandes empresas era de apenas 19% em 2011 (dados: Gallup); que 72% dos investidores acreditam que mĂĄs prĂĄticas sĂŁo comuns nas empresas (dados: Roper) e que 79% das pessoas acreditam que as empresas se preocupam muito com o lucro e pouco com trabalhadores, consumidores e meio ambiente (dados: Yankelovich). “Essa ĂŠ a imagem que a população tem das empresas. Algo nĂŁo estamos fazendo bem: precisamos descobrir os motivos e corrigir o rumoâ€?, argumenta Cavalieri. A EMPRESA E O MUNDO ATUAL “Certamente a mĂĄ avaliação que nĂłs temos vem do patrulhamento que a sociedade exerce em cima de tudo. HĂĄ menos de trĂŞs dĂŠcadas, nĂłs empresĂĄrios produzĂ­amos qualquer produto e jogĂĄvamos no mercado sem informar data de validade, conteĂşdo, trocando preço do produto a qualquer hora e o consumidor compravaâ€?, coloca Cavalieri. De lĂĄ para cĂĄ, a sociedade mudou, surgiram sistemas de regulamentação e ďŹ scalização, ferramentas de transparĂŞncia, a internet passou a permitir comunicação


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Valores

ReferĂŞncias

Dignidade da pessoa humana 5HVSHLWR j SHVVRD H IRUQHFLPHQWR GH FRQGLo}HV GH WUDEDOKR GLJQDV

Livro 5HQWDELOLGDGH GRV 9DORUHV (GLWRUD 8QLDSDF

Bem comum &RQWULEXLomR QD JHUDomR GH FRQGLo}HV GLJQDV GH YLGD SDUD DV SHVVRDV

Curso (PSUHVD FRP 9DORUHV ,QVFULo}HV ZZZ DGFHUV RUJ EU

Universalidade dos bens 2V EHQV WrP TXH HVWDU D VHUYLoR GRV VH UHV KXPDQRV GDV SHVVRDV Solidariedade )UDWHUQLGDGH IRUPDomR GH XP DPELHQ WH GH WUDEDOKR VDXGiYHO RQGH D GLJQL GDGH GR VHU KXPDQR VHMD UHVSHLWDGD RQGH H[LVWD D YHUGDGH D WUDQVSDUrQFLD H D MXVWLoD Subsidiariedade 5HVJDWH GH WRGR SRWHQFLDO KXPDQR LQ FHQWLYR D FDSDFLWDomR GD SHVVRD SDUD TXH SRVVD SRU VL Vy GHVHQYROYHU WRGR R SRWHQFLDO TXH WHP GHQWUR GH VL Participação 3URWDJRQLVPR GR HPSUHViULR SDUD TXH R PXQGR DOFDQFH XPD VLWXDomR PHOKRU

rĂĄpida e direta, o acesso a informação aumentou e diante desse panorama as empresas sĂŁo cobradas para que atuem de forma ĂŠtica e consciente, respeitando questĂľes sociais e ambientais. “As empresas nĂŁo acompanharam o desenvolvimento. NĂłs, empreendedores, temos que entender esse novo mundo. Aquele organograma antigo, todo hierarquizado, nĂŁo funciona mais, a comunicação precisa ser mais ĂĄgil, o ambiente ĂŠ instĂĄvel. A empresa ĂŠ uma sociedade viva, ela interage com a sociedade e tem que responder Ă s novas demandas, que mudam a cada momentoâ€?, argumenta Cavalieri, que, por outro lado, entende que os prĂłprios administradores nĂŁo foram preparados para tal cenĂĄrio: “nĂŁo fomos treinados para esse novo mundo. Aprendemos que tĂ­nhamos que dar lucro, fazer a empresa crescer e remeter o lucro para os acionistasâ€?.

VALORES NA GESTĂƒO “Cito aqui dois aspectos fundamentais para o novo mundo em que vivemos, inovação e valores. Vou me concentrar no segundo, pois acredito que as universidades, centros de tecnologia e a prĂłpria inteligĂŞncia humana irĂŁo se encarregar do primeiroâ€?, coloca Cavalieri, que explica o trabalho desenvolvido pela ADCE e pela Uniapac para formar dirigentes e orientar a gestĂŁo a partir de valores. Uma das iniciativas ĂŠ o livro “Rentabilidade dos Valoresâ€?, editado pela Uniapac, que apresenta um modelo de gestĂŁo baseado na RSE e em valores, sendo eles: dignidade da pessoa humana; bem comum; universalidade dos bens; solidariedade; subsidiariedade; participação. Outra iniciativa, que surgiu de uma parceria entre a ADCE/Brasil e a ConferĂŞncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ĂŠ o programa “Empresa com Valoresâ€?, em que sĂŁo formados Grupos de ReexĂŁo e VivĂŞncia (GRV). Os grupos sĂŁo auto gerenciados, possuem de 8 a 10 integrantes, um facilitador e participam de 10 reuniĂľes, de 1h30min cada. “NĂŁo sĂŁo manuais de administração, trata de grandes orientaçþes que temos que seguir se quisermos construir um mundo melhor e termos empresas sustentĂĄveis e de sucessoâ€?, explica o palestrante sobre as ferramentas apresentadas. “Nesse novo capitalismo, o capitalismo solidĂĄrio, consciente, nĂłs, como empresĂĄrios, temos que produzir bons produtos e bons serviços, que atendam Ă s necessidades da comunidade. Temos que gerar bons empregos, que sejam bem remunerados e temos que criar riqueza, mas de forma sustentĂĄvel. Depois distribuir essa riqueza, para que o mundo seja mais justo e fraterno. Quando fazemos isso, as empresas sĂŁo mais competitivas, plenamente humanas e socialmente responsĂĄveis. Existe uma recompensa natural da nova sociedade, que reconhece a atuaçãoâ€?, ďŹ naliza.


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Foco no ser humano Agente central da transformação, o ser humano ganhou atenção especial durante o 4º FAS

A pessoa foi o ponto central das exposiçþes do painel “Transformando o Ser Humanoâ€?, que contou com a participação da psicĂłloga Paula Sarmento Leite e do ďŹ lĂłsofo Luciano de Jesus, tendo mediação do adeceano Ubiratan Oro. Paula aborda a fase no nascimento, os momentos que o antecedem e que o seguem, indicando a inuĂŞncia que tal perĂ­odo exerce sobre o adulto. JĂĄ Luciano, analisa a histĂłria da humanidade e indica a ausĂŞncia de mudanças signiďŹ cativas na natureza humana ao longo dos sĂŠculos. A INFLUĂŠNCIA DO NASCIMENTO A natureza de cada pessoa sofre grande inuĂŞncia do momento em que ela nasce. “Todos os aspectos, saudĂĄveis ou nĂŁo, do funcionamento de um ser humano tem como alicerce o inĂ­cio do seu desenvolvimento primitivo, do seu nascimento psĂ­quicoâ€?, explica a psicĂłloga. Nesse sentido, Paula acredita que, ao trabalhar-se a questĂŁo da sustentabilidade, ĂŠ importante pensar tambĂŠm na ideia de prevenção, desenvolvendo projetos que contemplem a fase de inĂ­cio da vida. O momento da gestação ĂŠ extremamente importante, ĂŠ preciso que a mente da mulher prepare-se para receber aquela nova existĂŞncia. Estudos indicam que o feto possui diversas competĂŞncias, como escutar, reconhecer a voz da mĂŁe, sentir alguns sabores. “NĂłs temos registros, na vida adulta, dessa fase, normalmente, a partir de sensaçþes, de angĂşstias que a gente nĂŁo sabe dar o nome, de sentimentos que a gente nĂŁo consegue reconhecer exatamente quais sĂŁoâ€?, explica Paula. O momento do nas-

cimento ĂŠ uma ruptura forte para o bebĂŞ, no qual a mĂŁe exerce função essencial: â€œĂŠ preciso que se reconstrua aquela mesma sensação de segurança que ele tinha no ambiente uterinoâ€?, coloca. ´7RGRV RV DVSHFWRV VDXGiYHLV RX QmR GR IXQFLRQDPHQWR GH XP VHU KXPDQR WHP FRPR DOLFHUFH R LQtFLR GR VHX GHVHQYROYLPHQWRÂľ 3DXOD Conforme a psicĂłloga, essa fase deďŹ ne a capacidade de cuidar e de se relacionar que a pessoa terĂĄ, no que diz respeito ao outros e, tambĂŠm, ao ambiente. “A capacidade de cuidar ĂŠ transmitida na base dessa primeira relação primordial para a constituição da existĂŞncia de um sujeito psĂ­quico, que ĂŠ a relação da mĂŁe com o bebĂŞâ€?, indica Paula. O grande nĂşmero de cesarianas eletivas realizadas pode ser um fator determinante para o perďŹ l das prĂłximas geraçþes, que, em grande parte, nasceu atravĂŠs desse tipo de parto, pois, conforme explica a psicĂłloga, entre outros fatores, o bebĂŞ determina o momento do prĂłprio nascimento. “Isso facilita muito no desenvolvimento posterior, porque ele se sente participante de forma bastante importante desse processo. EntĂŁo ĂŠ interessante a gente pensar que tipo de indivĂ­duos nĂłs vamos ter em relação a essa possibilidade ativa de transformar o mundoâ€?, alerta. Nos primeiros dias apĂłs o nascimento, ĂŠ importante que a mĂŁe se adapte ao bebĂŞ para suprir todas as suas necessidades, como fome, sede, frio, jĂĄ que ele mesmo nĂŁo consegue, ainda, identiďŹ cĂĄ-las. Aos poucos, essa depen-


dĂŞncia vai diminuindo e o bebĂŞ passa a se descobrir atravĂŠs das brincadeiras com a mĂŁe, do toque e da primeira visĂŁo que ele tem de si mesmo, reetido nos olhos da mĂŁe. Esse ĂŠ um momento complexo para a mulher, mas ao mesmo tempo ĂŠ inerente Ă prĂłpria maternidade e toda a famĂ­lia deve participar, adaptar-se e apoiar. “Quando esse processo nĂŁo acontece, surgirĂŁo adultos com sensaçþes de superďŹ cialidade, de infelicidade que nĂŁo termina nunca, de angĂşstia. Isso acontece porque essa pessoa ainda nĂŁo existe do ponto de vista psĂ­quico, ainda nĂŁo existe uma noção de existĂŞncia.â€?, explica Paula.

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A BUSCA DE SENTIDO Para Jesus, o ser humano nĂŁo mudou, ĂŠ ainda muito parecido com aquele que viveu hĂĄ sĂŠculos atrĂĄs. Baseando-se em teorias de Vitor Frankl, atribui tal ausĂŞncia de mudanças ao vazio existencial, que, para ele, ĂŠ o grande problema do nosso tempo. O ďŹ lĂłsofo conta que, certa vez, quando dava aulas para turmas de ensino mĂŠdio, leu para seus alunos um texto proferido por SĂłcrates, no sĂŠculo V A.C., sobre a adolescĂŞncia. O grupo julgou que o material tivesse sido escrito pela diretora da escola, tal a similaridade com as caracterĂ­sticas dos adolescentes da ĂŠpoca. “Quando a gente tem ideia de que o ser humano ĂŠ muito diferente de outros tempos, a gente deveria pensar um pouco nisso. A gente tem a tendĂŞncia de considerar os seres humanos de outras ĂŠpocas como menos evoluĂ­dos ou como ingĂŞnuos. É interessante como a gente funciona: ingĂŞnuos sĂŁo sempre os outros, assim como os outros sĂŁo conservadores, cabeça fechada; nĂŁo sĂŁo progressistas e cabeças abertas como nĂłsâ€?, analisa. ´$ JHQWH WHP D WHQGrQFLD GH FRQVLGHUDU RV VHUHV KXPDQRV GH RXWUDV pSRFDV FRPR PHQRV HYROXtGRV RX FRPR LQJrQXRVÂľ -HVXV Segundo Vitor Frankl, a chave interpretativa para o ser humano ĂŠ a vontade de sentido. Tal ideia era cultivada por ele desde a juventude e foi aprofundada no perĂ­odo em que viveu em um campo de concentração, em Auschvtz, durante a II Guerra Mundial. “O que faz um ser humano resistir a todo esse repuxo de dor, de sofrimento e continuar dizendo sim Ă vida ĂŠ a teimosa vontade de fazer com que a vida tenha sentido. O sentido da vida nĂŁo pode depender de morrer ou nĂŁo, nĂłs precisamos viver conďŹ gurando nossa vida de modo que tenha sentidoâ€?,

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explica Jesus, a partir das teorias de Frankl, o qual publicou um livro que, em diversos paĂ­ses, recebeu, na tradução, tĂ­tulos como “Em busca de sentidoâ€? e “O homem em busca de sentidoâ€?. O livro, de psicologia, tornou-se um best seller. O autor atribuiu o fato ao signiďŹ cado do tĂ­tulo, Ă necessidade que as pessoas tĂŞm em encontrar sentido para a vida. “Elizabeth Lucas, uma logoterapeuta vienense, diz que nĂłs encontramos o sentido da vida quando equilibramos possibilidades e necessidades. Ela diz que as pessoas que mais tem diďŹ culdade de encontrarem sentido em suas vidas, na Europa, sĂŁo as mulheres jovens e ricas, ou seja, aquelas pessoas que tem mais possibilidades e nĂŁo tem necessidadesâ€?, acrescenta Jesus, recorrendo Ă outra teĂłrica. “Frankl diz que hĂĄ trĂŞs maneiras de descobrir sentido na vida, atravĂŠs dos valores criativos, quando construĂ­mos algo que enche nossa vida de sentido; dos valores vivenciais, aqueles que o mundo nos proporciona, como amor, arte, esporte; dos valores atitudinais, a atitude diante da vidaâ€?, explica Jesus.


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Todos transformando

disciplina na pĂłs-graduação de GestĂŁo Ambiental e Competividade e, em 1998, na graduação, no curso de administração. Hoje a nossa luta ĂŠ como transformar isso em temas transversais,â€? explica.

Quatro setores da sociedade trazem cases de sustentabilidade que demonstram o poder da transformação

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Para alcançar a transformação ĂŠ necessĂĄria a participação da sociedade como um todo, agindo e pensando de modo sustentĂĄvel. O painel “Praticando a Transformação para a Sustentabilidadeâ€? mostrou cases de como a sustentabilidade ĂŠ desenvolvida em quatro setores: ensino superior, por Luis Felipe Machado; indĂşstria, por Gustavo Fiorese; terceiro setor, por Ézio Rezende e gestĂŁo pĂşblica, por Beth Colombo. A mesa foi mediada por Claudia Stadtlober, presidente do Conselho Regional de Administração (CRARS). ENSINO SUPERIOR “Hoje nĂłs temos alunos do sĂŠculo XXI, professores do sĂŠculo XX e a escola ainda no formato do sĂŠculo XIXâ€?, coloca Luis Felipe Machado, professor da escola de administração da UFRGS, mas ele ĂŠ otimista: “na verdade tem muita coisa mudando, eu vejo isso como um desaďŹ o e vejo muitas coisas boas acontecendoâ€?. As mudanças decorrem, acredita Machado, da tecnologia, do perďŹ l do aluno atual, que ĂŠ nativo digital e tambĂŠm da preocupação com a sustentabilidade. “NĂłs passamos do modelo do um pra um, do professor conversando com o aluno, pra um sistema que hoje ĂŠ de um para muitosâ€?, explica Machado, que coloca como exemplos ferramentas como o ensino Ă distância, plataformas de aprendizado e vĂ­deos na internet. “A aprendizagem vai sendo cada vez menos dependente do professor e muito mais o professor vai ser aquele que estimula o aluno a aprender. O nosso desaďŹ o ĂŠ de desenvolver lĂ­deres para o sĂŠculo XXI, formar pessoas que queiram mudar o mundoâ€?, esclarece. Nesse ponto o professor destaca a sustentabilidade como uma oportunidade e a diďŹ culdade que se tem em vĂŞ-la como tal. “Hoje todos os cursos precisam falar de sustentabilidade. Isso ĂŠ uma deďŹ nição do MEC, mas muito antes disso, em 1996, nĂłs tĂ­nhamos criado uma

A UFRGS possui duas linhas de pesquisa na ĂĄrea de sustentabilidade, uma voltada Ă gestĂŁo de cadeia de suprimentos sustentĂĄveis e outra, Ă educação para sustentabilidade. Esses nĂşcleos lançaram trĂŞs livros nos Ăşltimos anos, voltados para a comunidade em geral e para professores do ensino mĂŠdio. A UFRGS identiďŹ cou em pesquisas que a questĂŁo da sustentabilidade nos cursos de administração restringe-se muito a um foco tĂŠcnico e econĂ´mico. Pesquisas identiďŹ caram tambĂŠm diďŹ culdade em visualizar a prĂĄtica da sustentabilidade. Diante desses dados a universidade desenvolveu programas que envolvem atividades como passeios em ItapuĂŁ e passeios de bicicleta, participação em uma gincana que envolveu recolhimento de lixo e triagem, mostrando que frequentemente se joga fora produtos que estĂŁo ainda em bom estado. Foi criada tambĂŠm uma incubadora virtual que selecionou quatro empresas, tendo como um dos critĂŠrios de escolha o potencial que o negĂłcio possuĂ­a para ajudar a melhorar o mundo. “Todas essas preocupaçþes aĂ­ sĂŁo para tentar mostrar que sustentabilidade tem a ver com todas as coisas que a gente faz e que a gente pode fazerâ€?, conta Machado. INDĂšSTRIA

A Proamb trouxe ao Rio Grande do Sul uma atividade pioneira, a eliminação de resĂ­duos industriais perigosos atravĂŠs da transformação dos mesmos em combustĂ­vel para fornos de produção de cimento. “AtĂŠ quatro ou cinco anos atrĂĄs esses resĂ­duos eram totalmente dispostos em aterro, permanecendo pela eternidade. Hoje a gente tem a eliminação tĂŠrmica 100% segura e eďŹ ciente desse resĂ­duo, essa ĂŠ a nossa grande atividadeâ€?, explica Gustavo Fiorese, engenheiro quĂ­mico, supervisor da unidade de coprocessamento da Fundação Proamb. O combustĂ­vel gerado pelo coprocesamento dos resĂ­duos susbtitui atĂŠ 30% do coque de petrĂłleo,


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recurso nĂŁo renovĂĄvel utilizado como combustĂ­vel principal para os fornos utilizados na produção de cimento. “A gente deixa de consumir um recurso nĂŁo renovĂĄvel, destrĂłi termicamente resĂ­duos e nĂŁo gera passivos ambientais. Por isso que essa tĂŠcnica ĂŠ tĂŁo sustentĂĄvelâ€?, coloca. ´$ JHQWH GHL[D GH FRQVXPLU XP UHFXUVR QmR UHQRYiYHO GHVWUyL WHUPLFDPHQWH UHVtGXRV H QmR JHUD SDVVLYRV DPELHQWDLVÂľ )LRUHVH NĂŁo ĂŠ qualquer resĂ­duo que pode ser incluĂ­do nesse processo, o papel da PROAMB ĂŠ identiďŹ car aqueles que tenham potencial energĂŠtico e estejam dentro dos padrĂľes deďŹ nidos pela lei e, entĂŁo, preparĂĄ-los para a destruição tĂŠrmica, que ocorre em uma indĂşstria produtora de cimento parceira. O combustĂ­vel produzido ĂŠ chamado blend, pois ĂŠ resultado de uma mistura de diferentes resĂ­duos perigosos, como borra de tintas, borra de solvente, resĂ­duos tĂŞxteis contaminados, madeiras contaminadas, plĂĄsticos contaminados e outros materiais com grau de contaminação acentuado. NĂŁo podem ser empregados nessa tĂŠcnica resĂ­duos com potencial contaminante extremamente elevado, como hospitalares, municipais, explosivos, radioativos, pesticidas, materiais com alto teor de cloro e metais pesados, ou materiais de baixo poder calorĂ­ďŹ co.

A PROAMB nasceu em 1991 como um aterro industrial, instituĂ­da por 31 empresas da serra gaĂşcha. Hoje em dia ela ĂŠ formada por cinco unidades. AlĂŠm do aterro, foi criada uma unidade de assessoria ambiental, outra de educação e a unidade de processamento de resĂ­duos, onde ĂŠ produzido o blend. A PROAMB tornou-se, ainda, proprietĂĄria da FIEMA Brasil, uma feira de tecnologia ambiental. TERCEIRO SETOR HĂĄ 38 anos a Fundação Projeto Pescar atua na formação de jovens em situação de vulnerabilidade. “A nossa grande inspiração ĂŠ, deďŹ nitivamente, construir uma sociedade mais solidĂĄria, mas nĂŁo sĂł isso, com pessoas e organizaçþes transformadoras, ou seja, que a gente possa ir alĂŠm de dar o peixe. O peixe ĂŠ muito importante em vĂĄrios momentos, com barriga vazia a gente nĂŁo vai adiante, mas a gente precisa ter outras razĂľes para ir e conseguir dar outros passosâ€?, explica Ézio Rezende, Superintendente da fundação. A instituição oferece cursos socioproďŹ ssionalizantes que sĂŁo desenvolvidos em parceria com empresas, que disponibilizam recursos materiais e pessoas para atuarem no processo. O currĂ­culo do curso inclui desenvolvimento pessoal, da autoestima, capacidade de relacionamento, tecnologias de comunicação e de sustentabilidade. Tais questĂľes, ligadas Ă cidadania, representam 60% do currĂ­culo,


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)$6 75$16)250$dÂŽ2 os outros 40% representam a parte tĂŠcnica da proďŹ ssionalização. Um exemplo mais recente inspira outro formato de desenvolvimento dos cursos, com a parceria de um grupo de empresas, invĂŠs de uma: “temos uma experiĂŞncia muito interessante, que ĂŠ com a ParĂłquia SĂŁo JosĂŠ, em Caxias do Sul. A ParĂłquia disponibilizou o espaço fĂ­sico, ela estĂĄ na regiĂŁo de um parque industrial e o conjunto de empresas fez um consĂłrcio. Na estrutura da parĂłquia nĂłs estamos desenvolvendo os jovens, desenvolvendo a cidadania e preparando proďŹ ssionais para o futuroâ€?, conta.

Canoas aderiu, em 2012, ao Programa Cidades SustentĂĄveis, como cidade de mĂŠdio porte. “O nosso plano de metas tinha tudo a ver com o que vinham falando em relação a questĂŁo da sustentabilidade, entĂŁo nĂłs aderimosâ€?, conta. Para que uma cidade faça parte do programa ĂŠ preciso aderir a doze indicadores. Outras iniciativas permitem a ďŹ scalização e participação por parte da população, como o ObservatĂłrio Virtual, um site para controle, das açþes da prefeitura e o Congresso da Cidade, realizado em 2011, com 4 mil participantes, para planejar a cidade de 2011 a 2021.

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“Esse desaďŹ o de sustentabilidade e transformação precisa de diretrizes, eu acredito que nĂłs temos uma diretriz jĂĄ na nossa frente, hĂĄ mais de 2mil anos. Essa diretriz diz o seguinte, ‘amai o prĂłximo como a si mesmo’â€?, defende Rezende. “No momento que a gente começar a entender que o prĂłximo nĂŁo ĂŠ sĂł o meu ďŹ lho, a minha famĂ­lia, mas ĂŠ aquele vizinho, o cara do trânsito, a empresa, o setor pĂşblico, que o prĂłximo ĂŠ quem ĂŠ prĂłximo e começar a fazer esforço de amar, teremos um cidadĂŁos que vĂŁo cuidar mais. Eu tenho certeza que se nĂłs começarmos a exercitar essa postura, a gente muda e a gente consegue colocar em prĂĄtica essas atividades que o futuro estĂĄ nos cobrandoâ€?, completa. GESTĂƒO PĂšBLICA Beth Colombo, vice-prefeita de Canoas, na regiĂŁo metropolitana de Porto Alegre, apresentou as açþes do municĂ­pio no sentido de tornĂĄ-lo mais sustentĂĄvel. “De 2009 a 2014, jĂĄ construĂ­mos um novo tempo para o nosso cidadĂŁo: cidade menos poluĂ­da, mais acolhedora, mais sustentĂĄvel, mas ainda temos muito o que fazerâ€?, declara Beth.

Na ĂĄrea social e de saĂşde foi implementado o programa Nascer Canoas, que oportuniza a gestante acompanhamento durante a gestação e no momento do nascimento. “Ela tem o direito a todo o prĂŠ-natal. Ao nascer, o bebĂŞ recebe um enxoval de roupas e de material de higiene, tem direito a sair do hospital com todos os testes feitos, vacina e certidĂŁo de nascimentoâ€?, explica Beth. Foram criados, na cidade, quatro Ecopontos na tentativa de acabar com os lixĂľes, que jĂĄ foram reduzidos de 98 para 30. Os Ecopontos sĂŁo locais para entrega restos de obra e outros entulhos que a população descarta atravĂŠs do trabalho de carroceiros. Para estimular o descarte apenas em locais adequados, os carroceiros sĂŁo cadastrados e tem direito a sextas bĂĄsicas mensais. Foram criados, ainda quatro parques, um deles com jardim botânico; a BR 116 estĂĄ sendo revitalizada e um aeromĂłvel de cinco quilĂ´metros jĂĄ tem construção marcada. Existe, ainda, um projeto para rebaixamento de um trecho do Trensurb, com objetivo de reuniďŹ car o centro da cidade, que desde a contrução do trem, ĂŠ dividido pelo mesmo.


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Pensamento no todo social Lamaison defende a necessidade de que o ser humano desenvolva a si prĂłprio para transformar

Para transformar o mundo, ĂŠ preciso, em primeiro lugar, que cada um busque seu prĂłprio desenvolvimento, transforme a si mesmo. É preciso que os diferentes setores da sociedade dialoguem e deixem de priorizar os interesses particulares a qualquer custo, passando a buscar os interesses do todo. Essas sĂŁo as ideias defendidas por Adroaldo Lamaison, conferencista, diretor da Lamaison Training, Consultoria e Desenvolvimento, em sua palestra “A Sociedade Moderna em Transformação. O QUE PRECISA SER TRANSFORMADO “Hoje existe uma felicidade de aparĂŞncia. A modernidade vendeu a ideia que a ciĂŞncia e o progresso iam resolver nossos problemas e trazer a felicidade para o homem. Nos Ăşltimos 50 anos houve um grande progresso cientĂ­ďŹ co, tecnolĂłgico e material. A pergunta ĂŠ: o ser humano cresceu e evoluiu no mesmo ritmo?â€?, provoca Lamaison. Para ele, as pessoas estĂŁo mais infelizes, frias, individualistas, raivosas, inquietas e ansiosas e isso provoca reexos no planeta, como a destruição da natureza, os problemas de saĂşde e diďŹ culdades de relacionamento. ´1mR WHP FRPR SHQVDU HP XPD VRFLHGDGH QRYD VH FDGD XP GH QyV QmR WLYHU R HVStULWR GH SHQVDU QR WRGRÂľ /DPDLVRQ

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“As pessoas estĂŁo cheias de coisas, mas vazias de amor e de vida, a felicidade estĂĄ no mundo materialâ€?, deďŹ ne. Defende, ainda, que os pilares da sociedade – famĂ­lia, escola, religiĂŁo e governo – estĂŁo em crise. O mercado, para Lamaison, estĂĄ ganhando mais importância do que a pessoa. Ele destaca a dualidade presente no capitalismo, em que o que ĂŠ um problema para muitos, ĂŠ oportunidade para poucos. “Nos Ăşltimos anos, cresceu a incidĂŞncia de diabetes. Isso ĂŠ um problema, mas para os laboratĂłrios ĂŠ lucro, ĂŠ oportunidade de negĂłcio, eles querem vender remĂŠdioâ€?, exempliďŹ ca. Dessa forma, o jogo de interesses prejudica o alcance de uma sociedade melhor. COMO TRANSFORMAR “NĂŁo hĂĄ como pensar em uma sociedade nova se cada um de nĂłs nĂŁo tiver o espĂ­rito de pensar no todo. O homem precisa mudarâ€?, defende Lamaison. Cada pessoa deve mudar a si mesmo, se educar, dar exemplo, para poder transformar. “As pessoas precisam aprender a amar, valorizar e pensar no outro. Temos que olhar para as outras religiĂľes, para os que pensam diferente, para todos os seguimentosâ€?, defende. Para o palestrante, o começo seria em casa, dando atenção Ă famĂ­lia e provendo boa educação aos ďŹ lhos e tambĂŠm na empresa: “o lĂ­der tem que ter uma visĂŁo holĂ­stica do ser humano. Temos que transformar nossas empresas em uma escolaâ€?, coloca.


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Uma releitura na educação Três cases de projetos que buscam reformar e renovar o ensino escolar no Brasil

Criatividade e vontade de mudar podem transformar o sistema educacional e, consequentemente, transformar as pessoas. Tendo como base suas prĂłprias experiĂŞncias de vida, Luciana Maria Allan, Bruno Bittencourt e Paulo Ardenghi, protagonizam iniciativas que visam grandes mudanças na formação escolar de crianças e adolescentes. Seus cases foram apresentados no painel “Educação Transformadora na PrĂĄticaâ€?. INSTITUTO CRESCER Quando criança, uma aluna inquieta e questionadora, expulsa de vĂĄrias escolas. Depois de adulta, uma professora que teve a oportunidade de fazer diferente e atrair o interesse dos alunos para as aulas. Essa trajetĂłria mostrou a Luciana Allan, doutora em educação, que a escola e o modelo de educação formal devem ser diferentes. Hoje ela trabalha na formação de professores, no Instituto Crescer, com programas voltados, sobretudo, para o uso da tecnologia. “Se o processo educacional jĂĄ era difĂ­cil na minha ĂŠpoca, ele se tornou ainda mais difĂ­cil hoje, por conta de uma mudança que nĂłs estamos vivenciando na sociedade, com a chegada da internet. O mundo ĂŠ outro. NĂŁo tem mais sentido ensinar tudo a todos. Hoje, que cada dia nĂłs temos uma descoberta, que um conceito que hoje ĂŠ tido como verdadeiro, amanhĂŁ jĂĄ nĂŁo ĂŠ maisâ€?, defende.

´&DGD YH] PDLV D JHQWH SUHFLVD WLUDU R IRFR GR FRQWH~GR H IRFDU QR GHVHQYROYLPHQWR GDV FRPSHWrQFLDVÂľ /XFLDQD Para Luciana, a escola nĂŁo deve preparar para o vestibular e sim formar para a vida. “Cada vez mais a gente precisa tirar o foco do conteĂşdo e focar no desenvolvimento das competĂŞncias bĂĄsicas, complementares, leitura, escrita, raciocĂ­nio lĂłgico, busca de informação, relacionamento, criatividade, inovação, ĂŠtica, tudo isso tem que ser trabalhadoâ€?, coloca. Ela acredita na aproximação do professor com os alunos, na aprendizagem personalizada e colaborativa. Defende a elaboração de propostas de trabalho claras, com deďŹ nição de objetivos e tempo e que sejam desaďŹ adoras, para que o aluno se envolva. “NĂŁo dĂĄ mais para a gente pactuar com esses dados horrorosos que temos em educaçãoâ€?, argumenta Luciana. “Somente com um novo olhar, com conhecimento tĂŠcnico, muita criatividade, muita coragem para ousar, ĂŠ que a gente vai conseguir reverter os resultados educacionaisâ€?, ďŹ naliza. ESCOLA CONVEXO Bruno Bittencout formou-se hĂĄ pouco tempo em administração e, percebendo as grandes desigualdades a sua volta, resolveu aplicar o conhecimento proďŹ ssional para melhorar a vida das pessoas. Ele notou que, enquanto seguia uma vida que era considerada normal, com colĂŠgio, vestibular, faculdade, estĂĄgio, outras pessoas viviam realidades muito diferentes com gravidez na adolescĂŞncia, subemprego, trĂĄďŹ co e nĂŁo tinham oportunidades. Acreditando que a solução para mudar esse panorama ĂŠ a educação, fundou a Escola Convexo, juntamente com a Onilia Araujo, que, diferente dele, nasceu pobre, passou por diďŹ culdades, mas conseguiu mudar sua trajetĂłria justamente com a educação. A Escola Convexo acontece na escola Estadual Nehyta Ramos, localizada no bairro BelĂŠm Novo,


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na zona rural de Porto Alegre. Ela ocorre no turno inverso, com o objetivo de potencializar lideranças e transformar realidades. “As crianças aprendem empreendendo. A ideia ĂŠ que elas consigam aprender os conteĂşdos de portuguĂŞs, matemĂĄtica, comunicação e lĂłgica montando negĂłcios e resolvendo problemas. Assim, vĂŁo conseguindo aprender o sentido daquilo que estĂŁo fazendoâ€?, explica. ´$V FULDQoDV DSUHQGHP HPSUHHQGHQGR $VVLP YmR FRQVHJXLQGR DSUHQGHU R VHQWLGR GDTXLOR TXH HVWmR ID]HQGRÂľ %LWWHQFRXUW Os alunos identiďŹ caram necessidades e oportunidades na comunidade, ďŹ zeram o protĂłtipo e montaram a “2 em 1â€?, para vender roupas e comida, itens que antes precisavam ser comprados fora da comunidade. “Eu começo lĂĄ do micro, trabalhando a educação, o desenvolvimento da criança dentro de sala de aula, começo a envolver os professores em outro formato de educação, no qual conseguem encontrar sentido naquilo que estĂŁo ensinando, começo a envolver os pais, que passam a gerar renda e desenvolvimento, a oferecer produtos e serviços que a comunidade nĂŁo tinha antesâ€?, explica Bittencourt. PROJETO USINA Em busca da felicidade, Paulo Ardenghi, desenvolveu o projeto Usina – LaboratĂłrio de Aprendizagem Criativa, na Secretaria Municipal de Educação (Smed), de Porto Alegre. Atuando na ĂĄrea jurĂ­dica

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da Smed, ele nĂŁo estava feliz com a atividade e procurava satisfação proďŹ ssional, por outro lado, via a necessidade de um ambiente escolar que estimulasse tanto alunos, quanto professores, tornando o aprendizado mais eďŹ ciente. ´8PD VRFLHGDGH VXVWHQWiYHO Vy YDL VHU FRQVWUXtGD TXDQGR QyV FRPHoDUPRV D SHQVDU D IHOLFLGDGH Âľ $UGHQJKL “Fomos treinados a encarar o trabalho como algo infeliz, algo que a gente quer que acabe logo; como as minhas aulas de matemĂĄtica e quĂ­mica, eu ďŹ cava torcendo para acabarem e eu nĂŁo entendia porque eu tinha que torcer para algo que me disseram que era bom acabarâ€?, reete, referindo-se, por Ăşltimo, a seu perĂ­odo escolar. Quando os proďŹ ssionais infelizes sĂŁo os professores, eles transmitem isso aos alunos. Um grupo de voluntĂĄrios montou e decorou uma sala de aula na Usina do GasĂ´metro, reaproveitando material que seria descartado, para a realização do laboratĂłrio. “Trinta professores da rede municipal foram selecionados para participar do projeto, que traz oito tendĂŞncias contemporâneas de educação. Eles estĂŁo divididos em trios e foram desaďŹ ados a aplicar, dez projetos inovadores. Tudo isso estĂĄ sendo ďŹ lmado e vai ser distribuĂ­do para todas as escolas de ensino infantil e fundamental do municĂ­pioâ€?, explica. “Uma sociedade sustentĂĄvel sĂł vai ser construĂ­da quando nĂłs começarmos a pensar individualmente e coletivamente a felicidade e compreendermos o que ĂŠ ser feliz para nĂłsâ€?, acredita Ardenghi.


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Por uma nova educação Gandin propþe planejamento para realização de mudanças profundas no modelo educacional

â€œĂ‰ perder tempo pensar que a escola atual possa ajudar na sustentabilidade. Pelo contrĂĄrio, ela faz uma reprodução social do consumismo, do egoĂ­smo, reprodução do ambiente social em que o dinheiro vale tudo e o resto nĂŁo vale nada. É isso que a escola faz hoje, tanto a pĂşblica quanto a privadaâ€?, defende Danilo Gandin, ďŹ lĂłsofo, educador e mestre em planejamento. Para ele a escola precisa passar por uma reforma profunda e somente depois disso, seria capaz de formar pessoas conscientes e sustentĂĄveis. Gandin ĂŠ adepto de Paulo Freire e acredita que a educação e a conscientização ocorrem de forma mĂştua, atravĂŠs do relacionamento interpessoal, mediado pela cultura e pela natureza. Ao abrir horizontes, invĂŠs de colocar limites, a educação seria mais eďŹ ciente. “Se vocĂŞ pensa no educar, vocĂŞ age assim: quando o ďŹ lho quer dirigir antes dos 18, vocĂŞ proĂ­be, mas se vocĂŞ trabalha com educar-se, quando o seu ďŹ lho chega aos 16, ele nem sonha em lhe pedir o carro emprestadoâ€?, exempliďŹ ca. ´$ HVFROD QmR FRQVHJXH HQVLQDU D OHU H D HVFUHYHU SRUTXH QmR WHP XP SURMHWR HGXFDWLYR QHVVH SDtVÂľ *DQGLQ Saber para onde se quer ir e planejar, para Gandin, sĂŁo pontos essenciais para a mudança na edu-

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cação: “a escola nĂŁo consegue ensinar a ler e a escrever, porque nĂŁo tem um projeto educativo nesse paĂ­s. EntĂŁo nĂłs temos que fazer uma transformação completa nessa escolaâ€?. Para o educador, a escola ĂŠ um reexo da sociedade em que estĂĄ inserida e esta seria uma razĂŁo para a necessidade de revisĂŁo do modelo seguido, jĂĄ que a sociedade existente hĂĄ algumas dĂŠcadas era bastante diferente da de hoje e a hierarquia de valores tambĂŠm estĂĄ mudando. “Hoje a sociedade ĂŠ conitiva, ĂŠ preciso ter uma escola com ‘penso’, isto ĂŠ, uma escola capaz de pensar um projeto polĂ­tico. Ela nĂŁo estĂĄ sendo capaz disso, embora haja esforços. VocĂŞ pode reproduzir consumismo, pode reproduzir egoĂ­smo, mas tambĂŠm pode reproduzir pensamentos sobre a sustentabilidade, porque isso jĂĄ estĂĄ na nossa sociedadeâ€?. Gandin cita duas mudanças que sugere em seu livro “Medidas essenciais para a escola hojeâ€?. A primeira seria a alteração do conteĂşdo, inserindo conhecimentos necessĂĄrios para o dia a dia, para a vida, como a prĂłpria sustentabilidade e retirando aspectos nĂŁo utilizados pelas pessoas em geral. “Tem que estudar matemĂĄtica, fĂ­sica, quĂ­mica, biologia, para passar no vestibular. É ridĂ­culo um menino estudar quĂ­mica se sĂł compreende na hora que ele vai fazer vestibularâ€?, defende. A segunda seria a eliminação das notas, processo que atrapalharia o relacionamento e o aprendizado.


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ConsciĂŞncia e energia Benatti aborda consciĂŞnca no consumo, energia, alĂŠm de alertar para o desperdĂ­cio

“Eu gostaria de lançar essa ideia de que ĂŠ rico quem sabe que tem o bastanteâ€?, sugere Antonio Benatti, PhD em FĂ­sica, em sua palestra “Consumo Consciente e Energia SustentĂĄvelâ€?. Ele sugere que cada pessoa faça um levantamento do que ĂŠ o bastante para si, essa seria uma forma de desenvolver e senso crĂ­tico e, entĂŁo, colocar limite ao consumismo. “Uma coisa muito curiosa ĂŠ que sempre o sujeito estĂĄ precisando de alguma coisa. Relaxe! VocĂŞ jĂĄ tem o suďŹ cienteâ€?, lembra Benatti, que atribui a grande diďŹ culdade em impor limite ao consumo ao fato de que comprar proporciona prazer. “A sociedade seria diferente se tivĂŠssemos uma dimensĂŁo do que ĂŠ suďŹ cienteâ€?, aďŹ rma. ´8PD FRLVD PXLWR FXULRVD p TXH VHPSUH R VXMHLWR HVWi SUHFLVDQGR GH DOJXPD FRLVDÂľ %HQDWWL O palestrante alerta para os altos nĂ­veis de desperdĂ­cio: 73,5 milhĂľes de toneladas de grĂŁos, frutas e carne vĂŁo para o lixo por ano no Brasil. “Pensa bem! SĂŁo 200 mil toneladas por dia, 15 mil caminhĂľesâ€?, adverte. Um terço do valor bruto da produção agropecuĂĄria brasileira de 2012 foi para o lixo: R$ 105 bilhĂľes. Ao desperdiçar alimentos, recursos essenciais, como a ĂĄgua sĂŁo perdidos tambĂŠm: “Um tomate

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toma 13 L de ĂĄgua; uma xĂ­cara de cafĂŠ, 140 L e um hambĂşrguer, 2400 L. Imagine entĂŁo o que acontece se a gente desperdiça alimentos.â€?, informa. “Muitas vezes quando pensamos em desperdĂ­cio imaginamos que ele esteja em paĂ­ses muito pobres, porĂŠm o desperdĂ­cio assume nĂ­veis mais altos quanto mais rica for a sociedade e quanto maior for a produção de alimentosâ€? coloca Benatti. Ele explica que as tecnologias voltadas ao aumento da produção de alimentos nĂŁo consideram a quantidade efetivamente aproveitada, o que contribui para o desperdĂ­cio. ENERGIAS CRIATIVAS Sobre Ă s energias consideradas mais sustentĂĄveis, Benatti explica que todas tĂŞm aspectos negativos: a solar tem sua produção interrompida Ă noite e em perĂ­odos de pouco sol; a energia eĂłlica gera poluição sonora, prejudicando a orientação dos pĂĄssaros, que se perdem, durante os uxos migratĂłrios e outras vezes se chocam contra os cata-ventos; a energia das marĂŠs depende de variação de altitude de cinco metros ao longo do dia para sua geração; o biogĂĄs ĂŠ difĂ­cil de ser armazenado e os biocombustĂ­veis ocupam terras destinadas Ă produção de alimentos. “EntĂŁo o jeito ĂŠ a gente economizarâ€?, conclui Benatti, “hĂĄ tambĂŠm imensas esperanças no esforço criativo do mundoâ€?, lembra ele, que dĂĄ alguns exemplos de iniciativas inovadoras, como o de um hotel que oferece refeiçþes de graça para quem estiver disposto a gerar 10 Wh de eletricidade pedalando ou o de um bar que capta energia produzida pela dança.


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A importância do elemento fogo Depois da ågua, da terra e o do ar, o FAS fecha o ciclo de quatro elementos ao abordar o fogo

O elemento fogo, tema especial do 4Âş FAS, foi abordado, sob diferentes aspectos, no painel “Fogo, Energia que ĂŠ Vida para o Homemâ€?. O mĂŠdico Fernando Lucchese, o bispo Dom Roberto Paz e o ďŹ lĂłsofo e advogado Draiton Gonzaga realizaram reexĂľes mediadas pelo teĂłlogo Valter Kuchenbecker. O FOGO E O HOMEM “O fogo salvou a humanidade, que poderia ter sido dizimada se ele nĂŁo tivesse sido descobertoâ€?, coloca Fernando Lucchese. O aquecimento proporcionado pela descoberta desse elemento garantiu a sobrevivĂŞncia do homem em locais muito frios, como a Ă sia. TambĂŠm a evolução do cĂŠrebro humano tem ligação direta com o surgimento do fogo, uma vez que o cozimento dos alimentos mudou a nutrição, pois as proteĂ­nas sĂŁo processadas de forma diferente no alimento cru e no cozido. “A descoberta do fogo, fez com que nĂłs absorvĂŞssemos melhor a proteĂ­na e melhorĂĄssemos a proteinização do cĂŠrebro humanoâ€?, explica o mĂŠdico. ´2 IRJR VDOYRX D KXPDQLGDGH TXH SRGHULD WHU VLGR GL]LPDGD VH HOH QmR WLYHVVH VLGR GHVFREHUWRÂľ /XFFKHVH

Lucchese destaca, ainda, a importância do conhecimento das potencialidades do calor e do frio, que permitiu avanços importantes na ciĂŞncia, como as tĂŠcnicas que permitem a parada artiďŹ cial do coração ou do cĂŠrebro para a realização de cirurgias, situaçþes em que o esfriamento ĂŠ utilizado para a conservação de energia dentro das cĂŠlulas. O mĂŠdico lembrou, tambĂŠm, que mortes por hipotermia ainda sĂŁo frequentes, mas que, por outro lado, o fogo pode ser perigoso, causando incĂŞndios e queimaduras. O FOGO E O MUNDO O ďŹ lĂłsofo Draiton Gonzaga inspirou-se nas teorias de HerĂĄclito de Éfeso, ďŹ lĂłsofo prĂŠ-socrĂĄtico, conhecido por suas reexĂľes sobre o logos, que tem como uma de suas representaçþes o fogo. A partir daĂ­, Gonzaga retoma a histĂłria do pensamento ocidental dividida em trĂŞs momentos: “o primeiro momento vou chamar de momento do objeto, o segundo, vou chamar de momento do sujeito e o terceiro, momento da intersubjetividadeâ€?, expĂľe. É essa segunda etapa, da subjetividade, que explica ďŹ losoďŹ camente o comportamento atual do ser humano e, inclusive, os problemas relativos Ă sus-


Em pé: Dom Roberto Sentados: Draiton Gonzaga, Fernando Lucchese, Valter Kuchenbecker

tentabilidade. Nesse momento o foco sai do objeto e passa para o ser humano, é o antropocentrismo. “Esse enaltecimento do ser humano fará com que ele exclua tudo o que não seja gerado por ele mesmo. Isso tem consequências sérias para ecologia, para sustentabilidade, para a nossa visão de mundo”, explica Gonzaga. “A descoberta da subjetividade é algo muito rico na história da humanidade, agora, essa apoteose do sujeito é altamente nefasta, para as relações inter-humanas, intersubjetivas e para a relação com a natureza”, completa. “Quando o sujeito se torna absoluto, tudo que está em torno dele, é mero instrumento da auto realização”, Gonzaga “Quando o sujeito se torna absoluto, tudo que está em torno dele, seja a natureza, sejam os outros, é mero instrumento da auto realização e isso é altamente nefasto”, explica Gonzaga, sobre o terceiro momento. “Se nós não mudarmos a perspectiva, isto é, uma descentralização do sujeito, nós iremos, para o abismo”, alerta.

O FOGO E DEUS Dom Roberto Paz retoma trecho da bíblia, de um livro e ações da Igreja que transmitem mensagens através da simbologia do fogo e, a partir delas, busca transmitir mensagens sobre a necessidade de que os cristãos assumam um compromisso com as transformações e a sustentabilidade. “Nós temos que enxergar o Deus da natureza, é necessário regatar esse olhar, de reverência com Deus e com as criaturas”, Dom Roberto “Nós temos que enxergar o Deus da natureza, é necessário regatar esse olhar, de reverência com Deus e com as criaturas”, estimula Dom Roberto. O religioso destaca a necessidade de reduzir gastos com energia, consumo e pegada ecológica. Propõe o investimento em energias alternativas e renováveis. Defende a implementação de um novo padrão de crescimento eco suficiente e eco eficiente. Alerta para a necessidade de preservar recursos como a energia e a água e de garanti-los aos mais pobres.



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