Dirigente Cristão dezembro 2015

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O Dirigente Cristão Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul Nº 197 - Ano XXIV - Dezembro/2015

4º FAS:

Fórum destaca a presença da luz na vida


O Dirigente Cristão Órgão Informativo da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa do Rio Grande do Sul (ADCE-RS) Filiada à ADCE/UNIAPAC/Brasil

Presidente Antonio D’Amico Vice Presidente Juarez Pereira Eduardo Albershein Dias Assessoria Doutrinária Pastor Carlos Dreher Pe. Martinho Lenz, SJ Editores In Memoriam Fulvio de Silveira Bastos Renato Cardoso

Sede Centro Arquidiocesano de Pastoral Praça Monsenhor Emílio Lotterman 96, conj 12 Bairro Floresta CEP 90560-050 Porto Alegre/RS Fones (51) 3332.0811 e-mail: adce@adcers.org.br Conselho Diretor Fernando Coronel (Porto Alegre) Renê Ferreira (Porto Alegre) Gabriel Mognaga - Serra (Caxias do Sul) Nilto Rech - Serra (Caxias do Sul) Sergio Ricci - Planalto Médio (Passo Fundo) Ubiratan Oro - Planalto Médio (P. Fundo) José Gonçalves de Lima (Santa Maria) Izair Antonio Pozzer (Santa Maria) Gaspar Biasibetti - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul) Dilmar Carvalho - Vale do Rio Pardo (Sta. C. do Sul) Comissões Alecio Ughini - Baptista Celiberto Carlos Egídio Lehnen - Luiz Roberto Ponte Francisco Moesch - Gilberto Lehnen José Antonio Célia - José Juarez Pereira Luiz Arthur Giacobbo - Ricardo Jakubowski Rita Campos Daudt - Sergio Kaminski

ico, Antônio D’Am ADCE/ presidente da Goron, RS e Tito Lívio Geelpa presidente do

Edição:

Rua Jerusalém, 415 - CEP 91420-440 - Porto Alegre/RS Fone: (51) 3392.0055 conexaocom@plugin.com.br Editor: Carlos Damo Reportagem: Carlos Damo e Cíntia Machado Projeto Gráfico e Diagramação: Cíntia Machado DRT/RS 14080 Tiragem 4500 exemplares Circulação Bimestral - Distribuição Gratuita É permitida a reprodução total ou parcial das matérias aqui publicadas, desde que conservada a forma e citados a fonte e o autor. As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.

ExpoFAS 2015


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Fórum que ilumina Edição de 2015 do FAS tem como destaque a luz e suas temáticas Fotos Celso Wichinieski

“A luz que ilumina a vida” foi tema especial da 5ª edição do FAS, ocorrida ao longo dos dias 10 e 11 de novembro, trazendo, como nos anos anteriores, cases estudos e tendências relacionados à sustentabilidade, além da conscientização, encorajamento e impulsionamento. A ExpoFAS e o PAS – Prêmio ADCE de Sustentabilidade, iniciados em 2014, tiveram continuidade em 2015. A ExpoFAS é uma feira que reúne empresas e start ups que tem a sustentabilidade incorporada a seu negócio, seja na forma de atuar, ou na criação dos produtos e serviços. O PAS, por sua vez, premia empresas que se destacaram no tema sustentabilidade.

Vencedores do PAS

EXPOFAS: EXPOSITORES ADCE/RS, Badesul, Ecomach, ESPM, +O2 Ecodesign, Plantário, PUCRS, Siloverde, Tria, VentiLumi PAS: PREMIADOS Catsul, Acotrali e Ecomach

Mais informações sobre palestrantes, palestras e expositores podem ser encontradas em www.fas-adce.com.br


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A sociedade iluminada Palestrante aborda o autoconhecimento como meio de tornar-se melhor como pessoa e enquanto sociedade

Psicólogo, teólogo e filósofo, Jorge Trevisol iniciou a primeira palestra do FAS de modo descontraído e inusitado: cantando. Acompanhado pelo violonista Rogério Basso, Trevisol utilizou a música para transmitir suas mensagens de modo criativo. Em sua palestra “A sociedade que ilumina”, o psicólogo fez uma análise profunda da natureza humana e de seus aspectos mais sensíveis. PROCESSO HUMANIZATÓRIO “Humano mesmo é aquele que, ao passar do processo da vida, vai internalizando experiências vividas por ele. Vai avolumando uma espécie de interioridade, que eu chamo de consciência, ou de alma, que me torna presente diante desse mistério e não faz eu me assustar diante dele, pois eu também sou mistério”. Esse seria o processo humanizatório, pois, para Trevisol, não basta nascer da raça humana para ser um humano, é necessário internalizar suas experiências e integrar em si mesmo suas vivências, mesmo aquelas que geram o lado mais difícil de sua personalidade, que ele chama de mistério. “Ou eu procuro esse mistério ardorosamente, internamente em meu ser, entro nele e me torno quem eu devo me tornar, ou esse mistério me assusta, me torna angustiado se eu ficar longe dele, mas particularmente quando eu estou longe de mim”, explica. “Nesse tempo a maior parte da humanidade vive em qualquer lugar, menos em si mesma”, defende. Seria esta a razão de a humanidade estar em uma época ruim: “a humanidade, como humanidade, como consciência intensa é ondular. Tem horas em que nós estamos num pico mais alto de humanidade. Houve tempos humanos que foram extremamente benditos, iluminados e também momentos em que nós batemos o nariz no fundo da piscina, talvez, esta seja a forma como estamos hoje.” Trevisol chama esse distanciamento de si mesmo de distração e define a distração como a doença

da época atual. Para ele, todas as doenças físicas e psíquicas seriam uma consequência, um sintoma do distanciamento. “Quando o processo humano acontece em mim e eu estou presente em mim, eu consigo decifrá-lo, transformá-lo e iluminá-lo, mas se ele passa por mim e eu não o integro na minha inteireza, ele se torna uma bolsa, um apêndice pendurado ao meu ser esperando um lugar na minha interioridade”. A vivência plena, ou seja, a interpretação do vivido, seja o que foi bom ou o que foi ruim, e a conferência de sentido àquilo, é o que tornaria o ser iluminado e capaz de iluminar. “Um ser humano iluminado é o que vê a dimensão do amor que tem, a fragilidade que possui e se torna quem é”, Trevisol. O tempo de contemplação seria um ponto importante, por ser o que vai conferir sentido ao vivido: “nós não entristecemos por coisas que fazemos, mas por coisas que fazemos correndo. A mulher, especialmente, precisa do momento de contemplação. O feminino, quando cria, se não comtempla, se esvazia. Por isso nesse tempo as pessoas vivem muito vazias, porque estamos no esquema criado do fazer, fazer, fazer e não temos tempo para contemplar”. CUIDADO! “Se você tem uma doença lá pelo 40 anos, cuidado que ela te leva”, destaca Trevisol. A doença é, segundo o psicólogo, um alerta de que algo no estilo de vida precisa ser mudado. O palestrante cita Carl e Stephanie Simonton, autores do livro, “Getting well again”, da década de 1970. Segundo os quais, “a maior parte das doenças têm começo cerca de 35 a 40 meses antes de se manifestarem. Quando, antes da doença, você se entristeceu, teve raiva, ou ânsia diante de um fato que não compreendeu e não suportou viver. Isto é, um fato vivido, sofrido, sem ter ganho significado te avisou que assim não dá”. Assim, é importante levar a sério a doença, identificar onde começou e reformular a forma de viver. AMOR E DESERTO Trevisol baseia-se em duas expressões da música “Balada de agosto”, do músico Zeca Baleiro: amor e deserto. “Deserto é a parte de mim que me incomoda, é aquilo que me faz ser tão controlador da vida, aquela parte de mim machucada”, define. “Amor é


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Jorge Trevisol

a outra parte de mim. Pessoa muito amada! Agradece muito quem te amou na estrada, pois quem muito amado foi, facilmente ama depois, mas quem muito machucado foi, facilmente machuca depois”, conclui. Conforme o psicólogo, isso ocorre porque o comportamento humano é guiado pelas emoções e vivências acumuladas, não pela razão, assim, mesmo querendo amar, a pessoa machucada machuca. “O deserto é uma situação que precisa ser iluminada. Quando ele é muito grande, desespera”, explica. NOVA FASE DA HUMANIDADE “Quando a humanidade vai batendo o nariz no fundo da piscina, começam a surgir pessoas iluminadas”, coloca Trevisol, referindo-se à nova geração de crianças. Entretanto, o psicólogo acredita que as crianças de hoje ainda vão sofrer muito, porque os educadores são da velha geração e usam muito a cabeça invés do coração. “Os que serão realmente iluminados são os que serão cuidados por aqueles que estão nascendo agora. Nós teremos um tempo, daqui uns 100 anos, no topo de uma humanidade. Agora é uma época em que as sombras aparecem, tudo o que tá embaixo dos panos aparece: ou você mostra o seu deserto e começa a se curar, ou não dá mais pra fingir que bem está”, defende. CARAS Em geral, na faixa dos 10 aos 12 anos a criança começa a se transformar, enfrentar medos, cobranças que a mudam, a machucam. “Depois que você é ferido, começa a inventar uma cara para mostrar às pessoas, à mãe principalmente, deixa de se mostrar como é. Na psicologia, isso é chamado nascimento do ego”, explica Trevisol. Essa “cara” seria a forma como um indivíduo quer ser visto pelos outros, como ele se mostra para esconder suas fragilidades ou para fazer-se amado. O psicólogo defende que a maioria das pessoas não conhece a real personalidade das outras, um indivíduo só é realmente conhecido por aqueles com quem tem verdadeira intimidade. “O eu é uma coisa, o ego é outra. O deserto a gente não mostra, a gente mostra uma carinha de amor que aprendeu lá atrás”, elucida. “Às vezes eu ponho uma cara de sorridente, outros desenvolvem uma cara dura, outros, uma cara de triste/tímido, ou de estudioso, ou de trabalhador”, exemplifica. Essa fase dura alguns anos e ocorre na adolescência, um abismo entre o que o indivíduo foi antes da ferida e o que vai se tornar, uma fase em que ele não é compreendido pelos adultos, que usam a razão,

invés do coração. “Lá pelo fim da faculdade a gente inventa uma cara e é com aquela que fica. O problema é quando eu acredito muito nessa cara, porque daí eu acredito no ego e não me conheço”, coloca. SER QUEM É Desde cedo o homem é ensinado a ter coisas e na busca por ser quem o ensinaram a ser, acaba deixando de ser quem é. A mulher, por outro lado, na busca de sua emancipação enquanto gênero, incorporou-se ao mundo masculino agredindo sua essência. Ambos deixaram de ser quem são. Na mulher, a facilidade à tristeza é mais frequente e a depressão, recorrente. Ela fica presa ao passado, pois se apega ao que foi bom na infância e se culpa pelo que deu errado. O homem é, por natureza, mais ansioso, tem medo de se machucar e, por isso, foca-se no futuro, para preparar-se antecipadamente. “Um ser humano iluminado é alguém que desce e vê a dimensão do amor que tem, além da fragilidade que possui e na humildade se torna livremente quem ele é. Ao invés de lutar por uma imagem, que é própria de quem está machucado, eu busco a verdade, que é própria de quem se sente amado e aí eu curo a ferida da infância”, explica Trevisol. O psicólogo aponta a necessidade de entender os pais para se entender e se encontrar: “quando você fizer pazes com a mãe, você vai se tornar uma mulher mais serena e uma mãe mais tranquila. Quando nós homens fizermos pazes com nosso pai, vamos nos tornar homens mais seguros, menos medrosos e menos loucos, querendo mudar o mundo num dia só”. Trevisol salienta ainda: “Quando o teu pai, ou a tua mãe, te machucou, era o teu pai, ou mãe, do deserto. Quer se curar do seu pai e da sua mãe? Procura o jeito de amar deles. Eles também eram machucados. Nunca foi contra ti, aconteceu”.


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A presença da luz em nossa vida Painel destaca necessidade de estar iluminado no dia a dia para exercer papéis e trilhar o caminho certo

No painel, mediado pelo Vice-reitor da Ulbra, Ricardo Rieth, os participantes deram depoimentos sobre a presença da luz na vida de cada um. DEPOIMENTO DE UM CASAL O casal Dóris e Alfredo Bilo deu o testemunho da presença da luz na vida em família. Dóris iniciou contando que, ao revisitar o passado, ambos puderam identificar, de maneira muito clara, a força do Espírito Santo em sua caminhada. Contaram o seu afastamento da Igreja e das questões espitiruais, no início de suas vidas, quando priorizaram as atividades profissionais. Em certo momento um dos filhos correu sério risco de morte, em decorrência de um acidente automobilístico, o que provocou percepção da fragilidade da vida. “Foi quando olhei pra cima, lembrei de Deus e lhe pedi clemência. Pedi que não levasse nosso filho. Ao final de cinco dias, o menino saiu do coma e se recuperou. Somos eternamente gratos pela misericórdia de Deus para conosco”, contou Alfredo. “Fomos acolhidos e cuidados carinhosamente pelo Espírito Santo”, Dóris O casal relembrou, ainda, o nascimento do terceiro filho, que teve um desenvolvimento normal até os dois anos, quando passou a apresentar sinais de regressão. Após o processo de investigação, foram surpreendidos com o diagnóstico de uma doença degenerativa e irreversível, com baixíssima perspectiva de vida. Foram momentos em que dedicaram muito amor ao filho, mas também momentos de muita dor. Com a partida do filho, aos oito anos, a dor de Dóris aumentava a cada dia. “Uma mãe não sabe lidar com esta perda. Passados dois anos do

falecimento, eu já estava comprometendo o relacionamento familiar, nosso diálogo era truncado e deixávamos a desejar no plano espiritual”, desbafou Doris. Através da catequese dos outros filhos, o casal percebeu um chamado de Deus e entrou no movimento de espiritualidade conjugal Equipes de Nossa Senhora. Contam que ali aprenderam a conversar com Jesus. Na nova jornada,tornaram-se mais verdadeiros, passaram a perdoar e aprenderam a escutar e meditar a palavra de Deus, além de orar em conjunto diariamente. “Assim fomos acolhidos e cuidados carinhosamente pelo Espírito Santo. Atendemos a outro chado: o de servir”, explicou Dóris. DEPOIMENTO DE UM LEIGO O advogado Gustavo Marques, membro do Movimento de Emaús, acredita que só se pode viver plenamente a luz, quando ela é partilhada com os outros: “é oferecendo essa luz que vamos ter a oportunidade de receber uma luz ainda maior”. A forma de refletir e partilhar a luz seria levando amor, não amor sentimento, mas amor serviço. “Quando Cristo pergunta três vezes à Pedro, ‘Tu Me amas?’ Ele não está tratando de sentimento, mas de uma postura, quer saber se ele daria a vida por Cristo”, disse Marques. “A entrega ao próximo é a forma de vivermos essa luz, de devolvermos essa luz ao mundo”, Marques O serviço permanente, a doação, a entrega ao próximo seria a forma de viver a luz, de refletir e de devolver a luz ao mundo. Marques conta que, mesmo tendo exemplos mais impactantes a oferecer, prefere as pequenas ações do dia a dia. Dessa forma, conta que procura mostrar aos colegas de profissão e sócios ações relacionadas às atividades espirituais: encontros, retiros, palestras e participações em atividades do Emaús. Isso suscita nos mesmos algum interesse, uma vontade de conhecer, de saber um pouco mais. DEPOIMENTO DE UMA EMPRESÁRIA A empresária Gigi Cavlieri iniciou sua participação no 5º FAS com uma pergunta: “Como ser luz em uma época em que as pessoas estão cada vez mais ensimesmadas e individualistas?” Ela acredita


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Alfredo Bilo, Dóris Bilo, Dom Zeno Hastenteufel, Gustavo Marques, Gigi Cavalieri

Ricardo Rieth

que é preciso ser testemunho, encontrar o caminho para realmente abraçar as pessoas, na família, no trabalho, na vida e em todos momentos. “Existem empresas com luz própria que iluminam outras”, Gigi A empresária mostrou preocupação com o rumo que os jovens estão dando às suas vidas: “este vazio, em todos os sentidos, que vem avançando sobre a juventude tem uma responsabilidade inicial que é nossa, ou por super proteção, ou por abandono. A ausência da mãe em casa deixou um buraco negro enorme. Não há mais quem passe os valores, quem transmita os princípios”. Em relação à situação nas empresas, Gigi defende que é preciso irradiar e aplicar no dia a dia da gestão empresarial a luz que vem dos princípios e valores cristãos, como a subsidiariedade, a liberdade, o amor, a sustentabilidade e ter a noção de que os empresários são co-criadores. Para ela existem empresas com luz própria que iluminam outras. DEPOIMENTO DE UM RELIGIOSO Para o Bispo de Novo Hamburgo, Dom Zeno Hastenteufel, a resposta à pergunta “o que eu vou ser?”, deveria ser dada pela vocação, mas os jovens de hoje não dão importância para esta palavra e pensam somente em profissão. Dom Zeno contou que em sua criação a convivência em família era acompanhada por uma forte espiritualidade e que sempre teve Deus como o criador. Explica que desde pequeno teve a certeza

de que Deus tinha um propósito para ele e que com sete anos sabia que seria padre, as razões para a decisão se modificaram com o passar do tempo, mas a certeza permanecia. “O jovem que quer ser feliz, precisa descobrir sua vocação e segui-la com intensidade”, Dom Zeno Segundo o Bispo, os anos de escola jamais abalaram sua fé, compartilhada com os colegas, com a família e com a comunidade. Já no seminário, seu desejo estava mais claro, queria ser padre em paróquia, ficar perto do povo e levar luz a todos que lhe seriam confiados. Nesta época, acompanhava alguns jovens colegas que nutriam certa dúvida a respeito do que fazer. Ao final do seminário, viu alguns desistirem do sacerdócio, por não conseguirem fazer uma opção. Após trinta anos de sacerdócio, Dom Zeno guarda uma certeza: o jovem que quer ser feliz, precisa descobrir sua vocação e segui-la com intensidade.


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Wambert di Lorenzo

Universalidade dos bens Wambert aborda a contradição de que o ser humano precisa consumir para existir, mas o consumo pode levar à sua extinção

O professor Wambert Di Lorenzo lembra uma citação de Anna Arendt, na qual ela diz que a condição humana do trabalho é a própria vida. “O ser humano recebe do planeta condições para a vida. Na tarefa de agir sobre o planeta, ao usufruir de tais condições, ao trabalhar para seu uso, ele as altera, mudando o planeta que recebeu. Encontrar o equilíbrio sobre isto é a sustentabilidade”, explica. O ser humano é parte da natureza, do mundo, da terra, não é visitante. Se quiser levar a vida humana para outros planetas, necessariamente precisará reproduzir lá, exportar para lá as condições que tem aqui. E isto dá a dimensão da mundanidade do homem. O homem é do mundo. Anna Arendt distingue o homo faber, aquele que trabalha, trabalho com as mãos, do animal laborans, aquele que apenas vive. Para o homo faber os fins justificam, produzem e organizam os meios. Na sociedade de consumo, as empresas produzem pensando nos fins, no produto final. Mas nem tudo que o homem usa ele consome. O consumo está ligado a destruição, o uso não. Pode-se usar sem destruir. Entretanto, o uso também pode desgastar a durabilidade. É o caso de bens duráveis. Como consumidor o homem adotou o “relativis“A consciência ecológica que o Papa Francisco prega precisa de luz, para isso o homem precisa mergulhar em si mesmo, se reencontrar e encontrar Deus”, Wambert

como se esta fosse uma segunda natureza sua. Provoca o distanciamento do homem de sua condição humana, inconsciente das próprias necessidades e reduz a felicidade ao prazer, tanto sensorial como anímico. CONSCIÊNCIA MORAL Neste estado em que as coisas estão, onde o homem para viver destrói as próprias condições de vida, precisamos da LUZ da consciência moral. “A consciência ecológica que o Papa Francisco prega precisa de LUZ, e para isto o homem precisa mergulhar em si mesmo, para encontrar esta LUZ e reencontrar Deus, e fazer a conversão ecológica”, disse Wambert. O Papa Francisco prega a ecologia integral e afirma que vivemos uma ecologia superficial, onde as pessoas atuam de forma insuficiente e se contentam com isto. O consumo consciente requer a conversão integral e sobriedade. A UNIVERSALIDADE DOS BENS

mo prático”, expressão usada pelo Papa Francisco, na Encíclica Laudato Sí, achando que qualquer visão de justo ou injusto, certo ou errado é válida. Isto aumenta a voracidade do consumo. A sociedade de consumo opera a desintegração do ser humano e o transforma em consumidor,

A universalidade dos bens tem como causa o fato da herança comum. É um direito natural, originário, prioritário e limitado. Não se opõe à propriedade privada, mas propõe que seja acessível a todos e exclui formas de domínio comum e promíscuo.


José Nosvitz

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A novidade do compartilhamento Nosvitz apresenta um meio que já está sendo praticado para que mais pessoas tenham acesso a bens

Em sua palestra “Capitalismo sustentável: universalidade dos bens e partilha”, o professor José Nosvitz, abordou a economia de compartilhamento, segundo ele, uma novidade trazida pelas gerações mais recentes. Nosvitz atua nas áreas de direito e economia. “Nós conseguiríamos viver em um modelo em que todos nós seguíssemos um estilo de vida de um americano de classe média?”, questiona o professor, imediatamente trazendo a resposta: “Não. Não há recursos no planeta para isso, hoje já nos falta água”, coloca. Nosvitz aponta para a necessidade de tornar o regime capitalista mais humano e de garantir que as próximas gerações tenham garantidos os recursos naturais e financeiros que precisarão para viver. “Não é uma preocupação nossa, não pensamos sobre a próximas gerações, no máximo nos preocupamos com a educação dos nossos filhos. Essa é uma preocupação muito recente”, alerta. “Antigamente as coisas não eram trocadas com tanta frequência. Hoje o descarte na nossa sociedade é muito rápido”, complementa. DESTINAÇÃO UNIVERSAL DOS BENS O princípio da destinação universal dos bens diz que o planeta e tudo o que há nele deve beneficiar a todos os homens. “Não somos donos de nada, somos somente administradores desse período, porque temos um tempo de passagem”, lembra Nosvitz. Tanto o regime capitalista quanto a Doutrina Social Cristã (DSC) visam o bem estar do ser humano. O professor esclarece que a DSC não é contra a propriedade privada, apenas coloca limites a ela. Essa doutrina entende que a propriedade privada assegura um meio necessário de gerar autonomia individual e familiar, é uma prolongação da liberdade humana e estimula responsabilidade. A necessidade de responsabilidade sobre a propriedade apa-

rece porque o uso desse bem, se ocorrer de forma indiscriminada, pode afetar às outras pessoas. Por outro lado, a DSC entende, também, que a propriedade precisa servir ao bem comum. “Uma das tragédias da sociedade brasileira é a coisa pública. Se é publico não é de ninguém, ninguém zela. Cuidamos muito mais das nossas casas do que das calçadas. A rua é um problema de todos e se é de todos, não é de ninguém”, defende. COMPARTILHAMENTO “Se não tem espaço e recurso para todos, como fazer a destinação universal dos bens?”, Nosvitz

“Se não tem espaço e recurso para todos, como fazer a destinação universal dos bens?”, questiona Nosvitz. “O mal está no apego desmedido às riquezas. A Geração Y veio mudar isso, ela vem com uma outra forma de pensar, vem caminhando no sentido da DSC. As riquezas existem para serem partilhadas”, explica o professor. O compartilhamento já é uma realidade: um bem passa a ser desfrutado por inúmeras pessoas. “O objetivo não é ser dono de algo, mas poder usufruir desse bem. Se eu utilizo carro 1h por dia, ele fica parado por 23h”, exemplifica Nosvitz. Aplicativos e redes sociais já auxiliam no compartilhamento de residências, carros, bicicletas, livros, entre outros. Essa iniciativa traz benefícios com redução dos custos de manutenção; aumento da renda livre para utilização em outros bens; proporciona que mais pessoas se conheçam e confiem umas nas outras.


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A luz como parte da vida Especialistas de diversas áreas relacionam a luz com a vida no painel que abordou o tema especial do 5º FAS

O painel luz é vida levantou a reflexão sobre a presença da luz na vida, sob diferentes aspectos. O cardiologista Fernando Lucchese apontou importâncias para o homem; o físico Moacir de Araújo Lima a relacionou com a origem e existência do mundo; já o padre Erico Hammes abordou a analogia com Deus. A mesa foi mediada pelo reitor da PUCRS, Joaquim Clotet. PRESENÇA E FALTA DA LUZ Lucchese inicia sua palestra lembrando que a importância da luz começa na própria alimentação, com o fenômeno da fotossíntese, essencial para o desenvolvimento das plantas; cita também a utilização da fototerapia para tratamento da icterícia, doença muito comum em recém nascidos; e enfatiza as consequências, positivas e negativas da ação do sol. A falta de sol pode causar doenças como o raquitismo, em crianças; a osteoporose, em adultos; fraqueza muscular; maior risco de câncer de cólon, mama e próstata; maior risco cardiovascular; dia-

betes e Alzheimer. “Estudos mostram que o tempo prolongado de hipovitaminose D conduz mais facilmente ao Alzheimer, não sabemos ainda porque, mas o risco dobra”, explica o cardiologista. No RS cerca de 90% dos pacientes tem níveis baixos de vitamina D e necessitam ingerir suplemento farmacológico, conforme quantidade indicada pelo médico. Os fatores que levam à deficiência podem ser climáticos, mas também o estilo de vida indoor que marca o século XXI. “Países com baixa incidência de luz solar possuem índices de depressão mais elevado”, Lucchese. A incidência dos raios ultravioleta – UVA e UVB - tem consequências boas e ruins para a saúde. O UVB atinge a pele nas suas camadas mais superficiais e ajuda a baixar o colesterol. Essa é uma das vantagens do sol sobre a doença cardiovascular. O UVA tem uma penetração mais profunda na pele. “A exposição aos raios UVA ativam o envio de oxido nítrico da pele para o sangue, dilatando os vasos sanguíneos. Isso baixa a pressão arterial, diminui o risco de infarto e de AVC”, explica o médico. Entretanto, esse tipo de raio pode ser muito nocivo, pois produz o melanoma, o tipo de câncer mais comum no Brasil, especialmente nos estados do sul. É um câncer muito agressivo, não tem tratamento nos estágios mais avançados, mas pode ser tratado quando detectado cedo, por isso, conforme alerta o médico, o checkup de pele deve ser feito anualmente e deve-se evitar o sol entre 10h e 15h (horário solar).

Joaquim Clotet, Fernando Lucchese, Moacir Araújo Lima, Pe. Erico Hammes


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“A falta de luz solar altera a produção de serotonina, dopamina e melatonina. Os dois primeiros são os grandes hormônios do humor”, explica Lucchese, que alerta para a ocorrência de alterações de humor, diminuição de energia e distúrbios de sono. “Países com baixa incidência de luz solar possuem índices de depressão mais elevado. O isolamento social associado à depressão acarreta no aumento de ocorrências de suicídios”, conta. A LUZ E O UNIVERSO Utilizando teorias da física, Lima defende a ideia de que o universo é feito de luz e foi criado por uma inteligência. “A mais atualizada teoria da física, que é a teoria da Super Corda, afirma que tudo que existe no universo resulta da vibração de pequeníssimos e invisíveis filetes de energia eletromagnética que ao vibrar, produzem a matéria e todas suas características. Energia eletromagnética significa exatamente luz”, coloca. “A teoria da Super Corda aÀrma que tudo que existe no universo resulta da vibração de pequeníssimos e invisíveis Àletes de energia eletromagnética, luz”, Lima. Para o físico, as composições que geraram o universo e a vida são tão precisas que não podem ter sido criadas ao acaso: “Para que o universo exista tal qual nós o entendemos, são necessárias cerca de 12 constantes físicas, calculadas até 13, 14, 15

decimais. Uma mudança em um decimal, de uma dessas constantes e o universo não existiria como nós o percebemos. A probabilidade de que essas constantes físicas tenham surgido ao acaso é de 1 sobre 10 elevado a 200”. Conforme Lima, a possibilidade da vida ter acontecido ao acaso é ainda menor: “para que uma simples célula viva pudesse existir, a probabilidade disso acontecer ao acaso é de 1 sobre 10 elevado a 1000, o que nos leva cada vez mais a acreditar em um universo causal, ao invés de um universo casual”. A LUZ EM DEUS O padre Erico Hammes fez uma série de associações, relacionando a luz com a física, o divino, a filosofia, a bíblia, a teologia, a liturgia, a tradição mística, entre outros, para salientar a presença da mesma. “Também existe o contraditório, que é o mal que pode se disfarçar em luz”, lembra. Na teologia, esse mal seria o demônio, mas o mal disfarçado de luz existiria também no conjunto da sociedade. “A metade dos brasileiros acha que bandido bom é bandido morto. Se isso é verdade, o Brasil é um país homicida, é um país que mata, destrói e a prova é que nós matamos quase 59 mil pessoas por ano, por assassinato direto e isso é um contrário a luz. Isso prova que nós somos um país tenebroso, perigoso. É muito perigoso viver no Brasil. Depende de nós transformarmos essa realidade para que tenhamos uma realidade divina”, ilustra o padre. “O Brasil é um país homicida, nós matamos quase 59 mil pessoas por ano”, Hammes. Usando a metáfora da luz em teologia, Hammes declara: “se nós tomarmos Deus como uma constância, então a nossa própria vida se ilumina, se condiciona e se qualifica de modo distinto, passando por situações de doença, de saúde, felicidade e de necessidade”. O padre entende, ainda, que os indivíduos, não funcionam, nem tem identidade isoladamente. “É quando eles estão projetados em conjunto que eles começam a criar figuras e configurações. Portanto na relacionalidade ao mistério de Deus é que nós podemos compreender-nos mais profundamente”, defende. Baseando-se na oração de São Francisco, o padre deixa uma mensagem, que é também um conselho: “onde houver treva que eu leve a luz, que nós levemos a luz”.


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Encíclica Laudato Sí Padre Josafá apresenta a primeira encíclica exclusivamente sócio-ambiental, de autoria do Papa Francisco

Quando o Papa Francisco anunciou a Encíclica Laudato Sí, o mundo comemorou um documento que aborda a questão sócio-ambiental com profundidade. O Padre Josafá Siqueira, biólogo e Reitor da PUC-RIO, foi o convidado para expor no 5º FAS alguns aspectos desta encíclica. Três aspectos principais foram destacados como novidade: a primeira encíclica com enfoque ecológico; a convergência nas preocupações entre a ciência, a sociedade e a Igreja; e a visão integradora entre as questões sociais e ambientais, chamada de ecologia integral. A CASA COMUM A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento global, ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam. As mudanças climáticas são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade. Os impactos das mudanças climáticas mais sérios recairão, nas próximas décadas, sobre os países em vias de desenvolvimento. Muitos pobres vivem em lugares particularmente afetados por fenômenos relacionados com o aquecimento, e os seus meios de subsistência dependem fortemente das reservas naturais e dos chamados serviços dos ecossistemas. Estes problemas estão intimamente ligados à cultura do descarte, onde as coisas se convertem rapidamente em lixo, o que tanto afeta os seres humanos. Padre Josafá Siqueira chamou atenção especial para a “questão da água”, que deverá ser a principal causa de conflitos deste século.

A água tem esgotamento em alguns lugares e desperdício em outros. E a má qualidade da água tem implicação direta em pobreza, doenças e contaminações. Outro ponto destacado foi a perda da biodiversidade, com extinção de florestas e ecosistemas inteiros. Tudo isto deve ser somado a deterioração da qualidade de vida humana e degradação social, com o crescimento descontrolado das grandes cidades, gerando periferias aglomeradas de dasassistidos. Este crescimento não significou mais qualidade de vida. A internet facilitou a comunicação, mas não diminuiu o isolamento humano. A CRIAÇÃO NA PERSPECTIVA DA FÉ “Na tradição judaico-cristã, dizer ‘criação’ é mais do que dizer natureza, porque tem a ver com um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado. Se é verdade que nós, cristãos, algumas vezes interpretamos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos decidamente rejeitar que do fato de ser criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre todas as criaturas. É importante ler os textos bíblicos no seu contexto, com uma justa hermenêutica, e lembrar que nos convidam a cultivar e guardar o jardim do mundo. Estas afirmativas na encíclica são de extrema importância, pois precisamos perceber a raíz humana na crise ecológica”, disse o Pe. Siqueira. “A terra é um empréstimo que cada geração recebe e deve transmitir à geração futura”, Pe. Josafá A Laudato Sí também trás críticas ao consumo exagerado: “Sabemos que é insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem cada vez mais, enquanto outros ainda não podem viver de acordo com a sua dignidade humana. Chegou a hora de aceitar um certo decréscimo do consumo em algumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saudável em outras partes”. O documento da Igreja também faz referência ao pouco avanço gerado pelas cúpulas mundiais, que não corresponderam as expectativas, e chama atenção que é preciso ter uma visão sistêmica de mundo: a ecologia integral, onde tudo está intimamente relacionado.


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A JUSTIÇA INTERGENERACIONAL “A terra que recebemos pertence também àqueles que hão de vir. É um empréstimo que cada geração recebe e deve transmitir à geração futura.” Este alerta, em especial, nos diz que temos que deixar um planeta habitável para quem vai nos suceder. “É preciso ter visão sistêmica do mundo: a ecologia integral, em que tudo está intimamente relacionado”, Pe. Josafá O Reitor elencou o movimento ecológico mundial como uma grande ação que já percorreu um longo caminho, enriquecido pelo esforço de muitas organizações da sociedade civil. Graças a tanta dedicação, as questões ambientais têm estado cada vez mais presentes na agenda pública e tornaram-se um convite permanente a pensar a longo prazo. A gravidade da crise ecológica, obriga-nos a pensar no bem comum e a prosseguir pelo caminho do diálogo com as ciências, com as religiões e com os movimentos ecologistas.

Também foi lembrado pelo Pe. Siqueira que a educação na responsabilidade ambiental pode incentivar comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado com o meio ambiente. “É um regresso à simplicidade que nos permite parar para saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida nos oferece sem nos apegarmos ao que temos nem entristecermos por aquilo que não possuimos. É possível necessitar de pouco e viver muito, sobretudo quando somos capazes de dar espaço a outros prazeres, nos encontros fraternos, na música e na arte, no contato com a natureza, na oração. A felicidade exige saber limitar algumas necessidades que nos entorpecem, permanecendo assim disponíveis para as múltiplas posssibilidades que a vida nos oferece Por último, o Pe. Josafá Siqueira alertou que a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior, pessoal e comunitária. “Esta conversão comporta várias atitudes: gratidão e gratuidade; consciência amorosa de não estar separado das outras criaturas, mas de formar com os outros seres do universo uma estupenda comunhão universal; ajuda a desenvolver a criatividade e o entusiasmo para resolver os dramas do mundo”.


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O mundo líquido e a religião Leandro Karnal analisa as características da sociedade moderna e sua relação com a espiritualidade

“O maior desafio dos religiosos hoje é cristianizar os cristãos”, afirmou o historiador Leandro Karnal ao final de sua palestra, na qual desenvolveu o conceito de mundo líquido, adotado do sociólogo Zygmunt Bauman e apresentou o perfil religioso nesse mundo líquido. MUNDO LÍQUIDO A expressão mundo líquido vem de uma metáfora utilizada por Bauman e adotada por Karnal para descrever o mundo atual, caracterizado pela falta de certezas, dependente da tecnologia, com valores relativizados e fronteiras dissolvidas, sejam fronteiras de idade, de tratamento ou de gênero. “É melhor criar os filhos com grande clareza de princípios, ou é melhor criar os filhos em uma escola um pouco mais construtivista e um pouco mais livre? São dúvidas que nós temos que nossos avós não tiveram”, exemplifica. O mundo líquido, conforme Karnal, tem características como a diluição da autoridade, a existência do individualismo, a obrigatoriedade da felicidade e o uso abusivo de remédios. A forma de comunicação também mudou, o português está passando por uma simplificação, uma mudança estrutural que dá mais velocidade à linguagem. Textos sintéticos e imagens são mais efetivos, orações longas não são compreendidas. Nesse

mundo líquido, registrar fotograficamente a experiência faz parte da vivência. “Essas transformações são tão rápidas, tão agitadas, tão volumosas que nós perdemos a referência”, coloca. Para Karnal, tantas mudanças têm a ver com a internet e a abundância de informações disponíveis, mas, por outro lado, tais informações não estão sendo absorvidas adequadamente. “A informação é extraordinariamente grande, mas isso não é formação. As pessoas estão confundindo as duas coisas. Temos um imenso alargamento de fontes e uma menor relevância dessas fontes. Não somos mais sábios do que éramos há 50 anos”, explica. Em meio a essa realidade, o historiador acredita que as escolas não se atualizaram: “as escolas são arcaicas, ainda acham que o importante é a transmissão do conhecimento, quando na verdade o desafio hoje é a retenção e a formação do conhecimento”. A RELIGIÃO HOJE Todas essas mudanças atingem também a área religiosa. Karnal indica uma grande mudança no perfil religioso dos dias atuais. A subjetividade do mundo líquido submete a religião a uma customização, na qual um indivíduo considera-se católico, conforme exemplifica o historiador, mas não concorda plenamente com os preceitos de tal tradição. “O Deus do século XXI é o Deus mais pessoal e subjetivo. É o meu Deus, não é o nosso. É o menos autoritário e menos exigente. Ninguém acredita que será condenado”, define. Karnal indica, ainda, que atualmente as pessoas incorporam panteísmo e animismo panteísta às religiões cristãs, além de infantilizá-las. A mensagem religiosa ganha aspecto de propaganda: “É muito mais importante que eu manifeste na camiseta, no carro, no adesivo, do que eu viva qualquer preceito evangélico. Aquele carro que tem o adesivo também fura o sinal vermelho”, destaca. Outras características seriam que os religiosos de hoje incorporam elementos de outras religiões em


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Leandro Karnal

sua crença; são individualistas e rezam apenas por si e sua família; valorizam cultos animados e cheios de energia; justificam com sua fé qualquer acontecimento negativo. “Faz sucesso o representante religioso que fale de cura e prosperidade, que não traga as pessoas à dimensão trágica da existência. Aquele representante que fale muito em compromissos e obrigações perde público. Temos em tudo, inclusive na lei, o destaque aos meus direitos e não aos meus deveres”, descreve o historiador. “O maior desaÀo dos religiosos hoje é cristianizar os cristãos”, Karnal. “Acima de tudo, há uma ideia, até um pouco perversa, de que doença é fruto de pessimismo e amargura, enquanto o otimismo cura tudo”, coloca. Karnal defende que a fé atual é muito midiática, tanto na realização de cerimônias, como na existência, em quantidade, de emissoras religiosas de rádio e televisão. O historiador destaca a exclusão da ideia de dor e apresenta o conceito de teologia da prosperidade,

segundo a qual, Deus quer que, além de bem estar e saúde, as pessoas tenham progresso material. Mesmo com tantas mudanças, no mundo líquido as mensagens religiosas continuam fazendo sucesso: “há mais gente religiosa em 2015, do que havia em 1980. Ainda existem problemas estruturais, sociais, culturais e econômicos, logo, o discurso religioso continua muito significativo nesse vazio contemporâneo. Em 1968 as jovens queriam sair de casa e levar uma vida hippie, em 2015 elas têm o mesmo sonho da avó. Somos notavelmente mais conservadores do que há 50 anos”. Diante das características da fé atual, Karnal levanta a hipótese de uma forma sofisticada de ateísmo religioso, uma vez que ela não compreende entrega a um plano maior, mas favorece o indivíduo, por isso, o historiador coloca a cristianização dos próprios cristãos como o maior desafio dos religiosos hoje. “Como enfrentar um ambiente que formalmente é religioso e na prática é completamente egoísta, voltado para si e totalmente alheio a quaisquer desafios religiosos possíveis? Como falar de Deus pra quem tem Deus no carro, na casa, na camiseta, mas não tem no coração e na atitude? Esse é o desafio contemporâneo do mundo líquido”, conclui.


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O ser humano e a sabedoria Representantes de diferentes religiões apresentam seus pontos de vista sobre a sabedoria

O painel “Sofia – O ser humano e a sabedoria” reuniu o Pastor Eduardo Bortolossi e o Lama Padma Samten, com mediação do Reitor da UFRGS, Carlos Alexandre Netto. A SABEDORIA BUDISTA Lama Padma Samten defende o conceito de bolhas de realidade, segundo o qual, as pessoas vivem dentro de bolhas, acreditando em uma realidade restrita. “A gente nem vê as bolhas, a gente simplesmente vive ali dentro e pensa, eu sou tal coisa. A gente cria realidades e fica preso a elas. As pessoas são capazes de matar ou morrer dentro das suas visões de mundo”, explica. Cientistas e antropólogos correm o risco de submeter seu estudo à visão distorcida pelas bolhas. “Se os antropólogos tiverem uma visão eurocêntrica, vão olhar outros povos como inferiores, mas se nós olharmos povos nativos que ainda representam culturas vivas no nosso país, vamos ver que eles têm uma cultura de 15 mil anos que não colocaria em risco o planeta. Talvez a cultura deles termine herdando o planeta novamente”, exemplifica o lama. O exemplo destaque da vivência em bolhas colocado pelo lama diz respeito à sustentabilidade: “Acho comovente que nós estejamos dentro de bolhas de realidade hoje, que estão destruindo o planeta, talvez de uma forma irreversível. Um levan-

tamento da National Geographic indica que se nós queimarmos as reservas de petróleo já descobertas, o planeta se tornará inabitável”. O lama defende também que a bolha de realidade coloca a economia como sustentação do mundo, mas que o que verdadeiramente sustenta o mundo é a compaixão, conforme acredita Dalai Lama. “Se falhar a economia, a solidariedade surge imediatamente. Nós estabelecemos um tecido social a partir da solidariedade. Para nós [budistas] não é possível olhar para as outras pessoas e imaginar que estamos separados. A espiritualidade é isso, nós transcendemos nossas regras de jogo e somos capazes de ultrapassar nossas bolhas de realidade”, coloca. “Na bolha em que estamos, quem está pobre está mal e quem está lá em cima também. O jogo não vai produzir a felicidade, ela vem de uma dimensão interna. Quanto mais acelerados nós estivermos dentro das bolhas executando nossas identidades de relação, identidades artificiais, mais distanciados nós estaremos do mundo espiritual”, defende. O lama explica que na visão budista existem diversos níveis espirituais, em que a percepção da vida vai evoluindo. A partir desse conhecimento, surgem as cinco sabedorias que o budismo transmite por meio de bandeiras tibetanas. A FAMÍLIA E A SABEDORIA O Pastor Eduardo Bortolossi acredita que o alcance da sabedoria está muito ligado à cultura e baseia-se em ideias do antropólogo Alfred Kroeber ao citar que a cultura influi no comportamento humano mais do que a herança genética e que o lugar em que uma pessoa cresce e habita também afeta a cultura. O pastor destacou em sua palestra uma pesquisa realizada por um programa dos EUA, com a participação da pedagoga Cris Poli, na qual foram identificadas as 10 principais faltas existentes nas famílias brasileiras hoje. “A nossa crise não é apenas econômica e política, é uma crise cultural, moral e familiar”, defende.


Pastor Eduardo Bortolossi, Carlos Alexandre Netto, Lama Padma Samten

5 SABEDORIAS DO BUDISMO Sabedoria do espelho: o mundo é um espelho que reÁete a mente das pessoas. A partir dessa consciência, torna-se possível compreender que os erros cometidos são resultado das bolhas em que se habita. Assim, brota a compaixão, o amor e com eles a capacidade de ver o lado positivo das pessoas e ajudá-las. Sabedoria da igualdade: O que acontece com um Àlho, acontece conosco. O que acontece com um rio, acontece conosco. O que acontece com uma criança na rua, acontece conosco. Quando se é capaz de ultrapassar a limitação da bolha e acolher os outros, surge um sorriso, uma energia interna que se amplia. Sabedoria Primordial: Vem do silêncio e, por isso, a meditação é adotada no budismo. O silêncio mais profundo signiÀca ultrapassar a bolha, ultrapassar o que se sabe. O que se sabe é um tipo de ruído, que perturba a capacidade de ver adiante do que se sabe. Sabedoria da ação no mundo: agir de forma a gerar coisas positivas e não agir de forma a gerar sofrimento. Sabedoria darmata: Aquilo que se pode ver quando se está com a visão pura, quando se ultrapassa as visões das bolhas, das limitações.

10 PRINCIPAIS FALTAS NAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS Educação: Pais transferem a responsabilidade pela educação à escola, à igreja ou a qualquer entidade onde os Àlhos passam boa parte do tempo. Organização: Não existe organização, seja de objetos ou de rotinas. Respeito: As crianças estão crescendo sem um senso de respeito ao ser humano e às autoridades. Isso tem início com a falta de respeito entre os próprios pais. Cumplicidade: Não há parceria, prevalece o individualismo. Cada um assiste à sua TV, passa o tempo no seu celular e ninguém faz nada mais em conjunto. Crescimento: o amadurecimento é nulo, não há nenhum envolvimento mental e emocional. Autonomia: Filhos dependentes dos pais, não aprendem a resolver seus próprios problemas. Disciplina: Não há correção de problemas e valores Falta de tempo de qualidade: Às vezes há quantidade, mas falta qualidade. Essa falta de investimento gera desconhecimento. Falta de incentivo: O que existe é ameaça. A criança é castigada por uma reprovação e não recebe incentivo contínuo. Falta de elogio: Super valorização do que é negativo e desvalorização do que é positivo.


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A sociedade moderna Dom Dadeus faz análise histórica ao abordar o tema “a sociedade moderna: das trevas para a luz”

Dom Dadeus Grings, arcebispo emérito de porto Alegre, iniciou situando que o único tempo que temos é o “agora”. O passado já foi, o futuro ainda não é, mas o agora é. Só temos o tempo presente. A modernidade é racionalista. Somos mais filhos da cultura que da natureza. Somos moldados de acordo com o nosso tempo. Mas há outras dimensões além da razão. O século XX e o início do século XXI é o tempo do sentimento, do existencialismo, é a existência que se proclama, e não mais a razão. É outra dimensão de perceber a verdade, a realidade. Os cristãos apelam para a fé e a razão. O Papa João Paulo II disse: “fé e razão são as duas asas que nos levam a Deus”. A fé é uma revelação divina onde Deus nos fala. E a razão Deus nos deu para perceber as coisas. “O Tempo tem o peso da eternidade”, São Paulo Descartes, a partir de sua filosofia, observando a realidade de fora, olhou pra dentro do ser e concluiu: “penso, logo sou”. É a autosuficiência. Nietzsche diz que isto não tem muito valor, o que conta é a vontade. Eu sou porque quero. A vontade tem mais valor, eu me decido. Dom Dadeus Grings observa que o ser humano se faz. Em idade adulta ele é o resultado de uma

construção. E a partir de sua razão ele se organiza. Em princípio pela Teocracia. A partir de Deus. Os reis e imperadores se diziam divinos, se diziam Deus. Posteriormente pela Democracia. A partir do povo. O poder vem do povo. E há a separação entre Igreja e Estado. Dom Dadeus Grings também aborda o tempo, que é percebido pela humanidade: tudo envelhece, tudo se estraga e acaba. O que entra no tempo vai acabar com o tempo. Até que Deus se fez tempo. É o mistério da encarnação. Deus entra na história e a partir daí tempo é graça. É uma chance que nós temos. Estamos aqui por termos tempo. E saber viver é uma riqueza estraordinária. São Paulo afirmou que o tempo tem o peso da eternidade, nós o acumulamos em nós. Em relação a luz, o Arcebispo disse que a sabedoria de Deus fez com que a luz exista, mas que nós não a vemos. O que vemos são os objetos iluminados pela luz. Se víssemos a luz, não veríamos mais nada. Por isto, no primeiro dia, Deus criou a luz, que nos faz ver. Por isto a luz tem também o sentido divino, no Evengelho de São Lucas diz que Maria deu à Luz seu filho. Quando Jesus nasce, no Evangelho de Matheus está registrado que uma grande luz brilhou. Posteriormente, quando Cristo inicia sua vida pública de pregação, ele registra que surgiu uma grande luz.


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Oportunidades para mudar A unidade do Projeto Pescar na Paróquia São José trouxe um novo modelo para investir em Responsabilidade Social

Além de oportunizar conhecimento sobre sustentabilidade, como é feito no FAS e em outras iniciativas, a ADCE/RS preocupa-se em fazer algo prático. Nesse sentido, a Regional Serra, criou, em 2012, a unidade do Projeto Pescar da Paróquia São José, em Caxias do Sul. Dirigido pelo adeceano Agenor Fortuna, o projeto tem a participação de diversos voluntários e patrocínio de mais de 20 empresas. “Implantamos uma unidade inovadora em uma Paróquia, aproveitando espaços de formação que estavam ociosos”, coloca Fortuna. O projeto Pescar é uma franquia social, normalmente implementada por uma empresa individualmente. Seu objetivo é formar, social e profissionalmente, jovens em situação de vulnerabilidade e todo o know-how é fornecido pela Fundação Pescar. O currículo é

Agenor Fortuna

40% profissionalizante e 60% voltado à formação da cidadania. No caso da unidade da Paróquia São José, a formação é em produção mecânica e o investimento torna-se bastante acessível por parte das empresas interessadas, pelo fato de haver um grupo mantenedor. “Aqui está um belo exemplo, barato, de investir em responsabilidade social. Todas as empresas apoiadoras recebem um selo atestando sua participação”, explica Fortuna. “Na escola fiquei sabendo do projeto por uma amiga. No começo ninguém se conhecia, era estranho, a gente brigava. Eu pensava que ia ser um curso normal, mas a gente foi formando uma família. O Projeto Pescar transforma vida, sinceramente, transforma, porque a minha vida transformou muito”, declara Renata, uma das participantes do projeto, que conseguiu passar em quinto lugar para o curso de nutrição da Faculdade de Serra Gaúcha. Liliane, outra participante, sempre quis estudar e tornar-se psicóloga, mas a família não tinha condições de investir em seus estudos. Ela entrou para o projeto, fez estágios e hoje está empregada. Todos os participantes do projeto, na unidade, tornaram-se menores aprendiz e muitos estão na faculdade. Cerca de 80 jovens forma formados até o momento. “A partir de 2016 estaremos com duas turmas de 20 jovens lá na Paróquia São José e outras paróquias estão implantando unidades do Projeto Pescar também”, conta Fortuna.

Renata e Liliana

Para conhecer mais sobre o Projeto Pescar: www.projetopescar.org.br


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O papel dos pequenos O pequenos negócios precisam desenvolver representatividade econômica e sustentável

No Sebrae Mato Grosso está instalado o Centro de Referência Sebrae de Sustentabilidade (CSS), que fica em Cuiabá, porém, possui gestão altamente participativa, contando com a atuação de técnicos de todo o Brasil. José Guilherme Ribeiro, Superintendente do Sebrae naquele estado, apresentou a iniciativa, no 5º FAS, ressaltando a necessidade da implementação de práticas sustentáveis nas micro e pequenas empresas, foco da atuação da instituição. “Nós vemos, normalmente, as grandes empresas falando em sustentabilidade, mas temos uma responsabilidade muito grande em transformar as 10,4 milhões de empresas de micro e pequeno porte para que efetivamente implementem a sustentabilidade na sua vida diária e também com seus colaboradores”, explica Ribeiro. Segundo dados trazidos pelo superintendente, a participação no PIB das micro e pequenas empresas no Brasil fica muito abaixo da participação desse setor no PIB de países europeus, entretanto, o percentual de micro e pequenas empresas existentes está na mesma faixa tanto lá como aqui e a capacidade de geração de emprego é parecida. “Há muito o que agregar em nível econômico nas micro e pequenas empresas, no que tange a tecnologia e principalmente os mercados. A participação do setor no PIB, em 2015, no Brasil é de 27%”, coloca Ribeiro. A projeção de crescimento é otimista, particularmente, para os MEI – Micro Empreendedores Individuais.

José Guilherme Ribeiro

“Criamos o CSS no Sistema Sebrae, para que pudéssemos oferecer boas soluções, soluções estas, que já foram desenvolvidas, mas que temos que multiplicar, precisamos disseminar as boas práticas”, explica. O uso intensivo da água aparece em diversos setores entre as pequenas empresas, especialmente em segmentos como pequenas propriedades rurais, bares e restaurantes, oficinas mecânicas, meios de hospedagem, entre outros. O Sebrae está capacitando agentes de desenvolvimento que irão orientar os governos municipais na implementação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, assim como nos bons princípios da sustentabilidade. “Há muito o que agregar em nível econômico nas micro e pequenas empresas, no que tange a tecnologia e principalmente os mercados”, Ribeiro “Desenvolvimento sustentável acontece localmente, acontece na minha casa, na sua, no prédio, no bairro, na cidade, enfim, acontece no extrato menor da sociedade. Se nós mudarmos as nossas atitudes, fizermos a nossa parte, estaremos contribuindo com o desenvolvimento sustentável e dando o exemplo”, estimula Ribeiro.


Tempo de transformação Sergio Cavalieri apresenta iniciativas de setores diversos, demostrando o perÀl da época atual

O presidente da Uniapac Latino-americana e da ADCE Brasil, Sérgio Cavalieri, alertou para o momento de transição em que o mundo se enquadra e destacou a importância da contribuição da Uniapac e das ADCE’s nessa etapa. “Estamos deixando a era industrial e entrando em uma era de conhecimento. Não sabemos ainda muito bem como o mundo vai funcionar”, enfatiza e, posteriormente complementa “temos o compromisso de ajudar nesse processo da humanidade porque temos os ensinamentos da DSC, os valores cristãos que são valores humanos indispensáveis para esse momento de muita incerteza, pois são um porto seguro, em que nós podemos confiar e devemos seguir”. Cavalieri apresenta as iniciativas da ONU e do Vaticano para essa época de transformação. “Laudato Sí é uma encíclica revolucionária para o mundo, o papa está falando de uma nova maneira de vida, da necessidade urgente de uma mudança radical no comportamento da humanidade”, defende, referindo-se à encíclica criada por Papa Franscisco. O documento aborda a questão da sustentabilidade, porém de forma bastante abrangente, defendendo uma transformação completa e profunda, o papa vai além da tradicional ecologia ambiental e coloca o conceito de ecologia humana. “Temos que prestar atenção porque é uma visão profética que o papa está trazendo, que altera a nossa forma de viver. O modelo que temos hoje não é condizente com o fu-

Sérgio Cavalieri

turo que precisamos, com o futuro das pessoas que virão habitar esse planeta daqui a 10, 20, 30 anos”, coloca Cavalieri. “Estamos deixando a era industrial e entrando em uma era de conhecimento”, Cavalieri. Em 2015 conclui-se o prazo dos objetivos estabelecidos pela ONU em 2000. O ano atual marca o momento do lançamento de novos objetivos, que consideram os próximos 15 anos. São, no total, 17 ODS’s, ou Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, propostos para os 190 países signatários do documento, que assumem o compromisso de atingi-los até 2030. “Até lá não teremos pessoas pobres, excluídas ou miseráveis, todos estarão incluídos. É um desafio bastante grande”, elucida. A Confederação Nacional da Indústrias (CNI), tornou-se signatária do pacto, sendo Sérgio Cavalieri um dos representantes desse compromisso. Através do programa Empresa com Valores, a ADCE Brasil, em parceria com a CNBB, tem procurado participar da transformação pela qual o mundo passa, preparando empresas para absorver em sua gestão os valores da DSC e, aliadas ao governo e à sociedade, trabalharem pelo bem comum.


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Luceval Dellazeri, em Caxias do Sul

Jantar marca a entrega do Prêmio Dirigente Cristão e posse de nova diretoria, na Serra

Fotos Jonas Rosa

Em 13 de novembro, foi entregue pela 21ª vez o título de Dirigente Cristão do Ano, pela ADCE Caxias do Sul, que nesta edição vai para o empresário Luceval Delazzeri, coordenador de projetos como Tá na Mesa com a ADCE e Mão Amiga Gourmet. Para Delazzeri, esta homenagem é mais voltada para a causa que defende do que propriamente um reconhecimento pelas suas virtudes pessoais. “Adotei por íntima convicção que é uma obrigação de todo gestor empresarial harmonizar ambientes de trabalho e promover a solidariedade, de maneira organizada e conjunta, para não cometermos o erro de trabalharmos isolados. Quando nos movimentamos, a providência age em nosso favor”, disse.

Durante o evento, houve a posse da Diretoria da ADCE Caxias do Sul, Gestão 2016. O atual vice-presidente, Gabriel Francisco Mognaga, assumiu o cargo de presidente, hoje ocupado por Nilto Rech. Mognaga agradeceu aos companheiros de entidade e familiares pelo apoio incondicional e ajuda durante sua jornada, salientando sua história na ADCE e a caminhada que inicia como presidente. “A ADCE tem como alicerce a DSC. Meu desejo é que todos possam seguir seus princípios e valores, para reacender a chama da fé diariamente em busca de uma sociedade mais humana e mais solidária”, afirmou. “É obrigação de todo gestor harmonizar ambientes de trabalho e promover a solidariedade”, Dellazeri O empresário Juarez Fochesatto foi empossado como vice-presidente e Nilto Rech assumiu a presidência do Conselho Consultivo. Ao despedir-se de seu cargo, Rech agradeceu o apoio dos colegas de diretoria e conselho, citando ações como a mudança do estatuto da entidade e colocou-se à disposição para desenvolvimento e suporte de todas as atividades planejadas para 2016.


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Joaquim Clotet, em Porto Alegre

Reitor da PUCRS é homenageado com o Prêmio Dirigente Cristão pela ADCE Porto Alegre

Fotos Celso Wichinieski

Joaquim Clotet, Reitor da PUCRS, foi o escolhido para receber o título de Dirigente Cristão do Ano 2015, pela ADCE Porto Alegre, em reconhecimento ao seu trabalho à frente da Universidade, onde o incentivo à pesquisa, ao empreendedorismo, aliado ao avanço tecnológico, permitiu a criação de um dos mais modernos parques de inovação do país, o TECNOPUC. Doutor em Filosofia e Letras, com destacada atuação nas áreas de Ética e Bioética, Clotet assumiu a reitoria da entidade em 2004, dando sequência ao processo de modernização que vinha sendo implantado.

A PUCRS já diplomou mais de 165.000 profissionais, e a outorga do título de Dirigente Cristão do Ano ao seu Reitor também é uma distinção a todos que ajudaram a construir essa história de sucesso. A cerimônia de premiação foi realizada no dia 25 de novembro, no campus da universidade, e foi precedida por uma missa oficiada por Dom Dadeus Grings, Arcebispo Emérito de Porto Alegre. “Educar é incentivar para justiça, solidariedade, responsabilidade social e voluntariado”, Clotet Clotet agradeceu a honraria recebida e propôs: “Convido-os a pensar em nossa responsabilidade como dirigentes, o que também significa sermos educadores daqueles que trabalham conosco. Educar é incentivar para justiça, solidariedade, responsabilidade social e voluntariado. Educar nesses valores é uma forma de testemunhar a fé.” Renê Ferreira, presidente da ADCE POA, destacou a atuação do Reitor e lembrou que a PUCRS tem enorme participação no desenvolvimento e geração de conhecimento para o povo gaúcho.



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