TOMÁS DE AQUINO - OS PRINCÍPIOS DA NATUREZA

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THOMAS AQUINATIS DE PRINCIPIIS NATURAE CAPUT I - QUID SINT MATERIA ET FORMA TOMÁS DE AQUINO OS PRINCÍPIOS DA NATUREZA CAPÍTULO 1 - O QUE SÃO MATÉRIA E FORMA?

Tradução de

Luciana Rohden da Silva* Thiago Soares Leite**

___________________________________________________________________________ ABSTRACT: It’s a translation from a short writing by Thomas Aquinas which was written around 1252-6 and, therefore, it belongs to the same period of writing of De ente et essentia. In the De principiis naturae, chapter 1, Aquinas introduces some notions like substantial being (esse) and accidental being, potency and act, matter, subject and form, generation and corruption. From these notions, the principles of nature are highlighted, namely: matter, form and privation. Key Words: Thomas Aquinas. Natural Philosophy. Medieval Philosophy.

RESUMO: Trata-se de uma tradução de um opúsculo de Tomás de Aquino, que foi escrito em cerca de 1252-6 e, portanto, pertence ao mesmo período de redação do De ente et essentia. No De principiis naturae, capítulo 1, Aquino apresenta algumas noções, como ser substancial e ser acidental, potência e ato, matéria, sujeito e forma, geração e corrupção. A partir dessas noções, os princípios da natureza, a saber, matéria, forma e privação, são postos em relevo. Palavras-chave: Tomás de Aquino. Filosofia Natural. Filosofia Medieval.

___________________________________________________________________________

*

Nota quod quoddam potest esse

Nota que certas coisas podem ser,

licet non sit, quoddam vero est. Illud

embora não sejam, outras, entretanto, são.

quod potest esse dicitur esse potentia;

Aquilo que pode ser é dito “ser em

illud quod iam est, dicitur esse actu. Sed

potência”; aquilo que já é é dito “ser em

duplex est esse: scilicet esse essentiale

ato”. Mas, há dois tipos de ser, a saber: o

rei, sive substantiale ut hominem esse, et

ser essencial ou substancial da coisa, tal

hoc est esse simpliciter. Est autem aliud

como “ser homem”, e isto é “ser em

esse accidentale, ut hominem esse

sentido absoluto”. Porém, outro é o ser

album, et hoc est esse aliquid. Ad

acidental, tal como “ser um homem

utrumque esse est aliquid in potentia.

branco”, e isto é “ser algo”. Para os dois

Aliquid enim est in potentia ut sit homo,

tipos de ser, há algo em potência. Pois

Doutoranda em Filosofia-PUCRS/CNPq. Contato: lucianarohden@yahoo.com.br. Doutorando em Filosofia-PUCRS/CNPq. Contato: thiagoleiteuerj@hotmail.com.

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Porto Alegre

No.1

Junho 2008

p. 125-129


Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Thomas Aquinatis De principiis naturae Caput I - Quid sint materia et forma

ut sperma et sanguis menstruus; aliquid

algo está em potência para ser um homem,

est in potentia ut sit album, ut homo.

por exemplo, o esperma e o sangue da menstruação; algo está em potência para ser branco, por exemplo, o homem.

Tam illud quod est in potentia ad

Tanto aquilo que está em potência para o

esse substantiale, quam illud quod est in

ser substancial quanto aquilo que está em

potentia ad esse accidentale, potest dici

potência para o ser acidental pode ser dito

materia, sicut sperma hominis, et homo

“matéria”, assim como o esperma, do

albedinis. Sed in hoc differt: quia

homem, e o homem, da brancura. Mas

materia quae est in potentia ad esse

nisto há diferença: que a matéria que está

substantiale, dicitur materia ex qua;

em potência para o ser substancial, diz-se

quae autem est in potentia ad esse

“matéria a partir da qual”; porém, a que

accidentale, dicitur materia in qua. Item,

está em potência para o ser acidental diz-

proprie loquendo, quod est in potentia

se

ad esse accidentale dicitur subiectum,

propriamente falando, o que está em

quod vero est in potentia ad esse

potência para o ser acidental chama-se

substantiale, dicitur proprie materia.

“sujeito”, entretanto, o que está em

“matéria

na

qual”.

Ademais,

potência para o ser substancial chama-se propriamente “matéria”. Quod autem illud quod est in

Há, porém, um indício por que aquilo que

potentia ad esse accidentale dicatur

é em potência para ser acidental seja

subiectum, signum est quia; dicuntur

chamado de “sujeito”; os acidentes são

esse accidentia in subiecto, non autem

ditos ser em um sujeito, não [se diz],

quod forma substantialis sit in subiecto.

porém, que a forma substancial seja em

Et secundum hoc differt materia a

um sujeito. E, segundo isso, a matéria

subiecto: quia subiectum est quod non

difere do sujeito, pois o sujeito não é o

habet esse ex eo quod advenit, sed per

que tem ser a partir daquilo que [lhe]

se habet esse completum, sicut homo

advém, mas tem o ser completo por si, tal

non habet esse ab albedine. Sed materia

qual o homem não tem ser a partir da

habet esse ex eo quod ei advenit, quia de

brancura. Mas a matéria tem ser a partir

se habet esse incompletum. Unde,

daquilo que a ela advém, porque, de si,

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simpliciter loquendo, forma dat esse

tem o ser incompleto. Donde, em sentido

materiae, sed subiectum accidenti, licet

estrito, a forma dá ser à matéria, mas o

aliquando unum sumatur pro altero

sujeito, ao acidente, embora, algumas

scilicet materia pro subiecto, et e

vezes, um seja tomado pelo outro, a saber,

converso.

a matéria pelo sujeito e vice-versa.

Sicut autem omne quod est in

Assim como, porém, de tudo isto

potentia potest dici materia, ita omne a

que está em potência pode ser dito

quo aliquid habet esse, quodcumque

“matéria”, assim também de tudo pelo que

esse

sive

algo tem ser, qualquer ser que for ou

accidentale, potest dici forma; sicut

substancial ou acidental, pode ser dito

homo cum sit potentia albus, fit actu

“forma”; assim como o homem, visto que

albus, per albedinem et sperma, cum sit

é branco em potência, torna-se branco em

potentia homo, fit actu homo per

ato pela brancura, e o esperma, visto que é

animam. Et quia forma facit esse in

homem em potência, torna-se homem em

actu, ideo forma dicitur esse actus. Quod

ato pela alma. E porque a forma faz o ser

autem facit actu esse substantiale, est

em ato, por isso a forma é dita ser “ato”.

forma substantialis, et quod facit actu

Porém, o que faz o ser substancial em ato

esse

é a “forma substancial”, e o que faz o ser

sit

sive

substantiale,

accidentale,

dicitur

forma

acidental em ato diz-se “forma acidental”.

accidentalis. Et quia generatio est motus ad

E porque a geração é o movimento

respondet

em direção à forma, aos dois tipos de

duplex generatio: formae substantiali

forma respondem dois tipos de geração: à

respondet generatio simpliciter; formae

forma substancial responde a geração em

vero accidentali generatio secundum

sentido absoluto; entretanto, à forma

quid. Quando enim introducitur forma

acidental,

a

substantialis,

aspecto”.

Pois,

formam,

duplici

formae

dicitur

aliquid

fieri

geração

“segundo

quando

a

um forma

simpliciter. Quando autem introducitur

substancial é introduzida, algo é dito

forma accidentalis, non dicitur aliquid

tornar-se em sentido absoluto. Porém,

fieri simpliciter, sed fieri hoc; sicut

quando a forma acidental é introduzida,

quando homo fit albus, non dicimus

algo não é dito tornar-se em sentido

simpliciter hominem fieri vel generari,

absoluto, mas tornar-se isto; assim como

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Thomas Aquinatis De principiis naturae Caput I - Quid sint materia et forma

sed fieri vel generari album. Et huic

quando o homem torna-se branco, não

duplici generationi respondet duplex

dizemos tornar-se ou gerar-se homem em

corruptio,

et

sentido absoluto, mas tornar-se ou gerar-

secundum quid. Generatio vero et

se branco. E a estes dois tipos de geração

corruptio simpliciter non sunt nisi in

respondem dois tipos de corrupção, a

genere substantiae; sed generatio et

saber, em sentido absoluto e “segundo um

corruptio secundum quid sunt in aliis

aspecto”. Entretanto, a geração e a

generibus.

corrupção

scilicet

Et

simpliciter,

quia

generatio

est

em

sentido

absoluto

não ser no

gênero

não

quaedam mutatio de non esse vel ente

ocorrem a

da

ad esse vel ens, e converso autem

substância; mas a geração e a corrupção

corruptio debet esse de esse ad non esse,

“segundo um aspecto” ocorrem nos outros

non ex quolibet non esse fit generatio,

gêneros. E porque a geração é uma certa

sed ex non ente quod est ens in potentia;

mudança do não-ser ou não-ente ao ser ou

sicut idolum ex cupro, ad quod idolum

ente e, ao contrário, porém, a corrupção

est (cuprum) in potentia, non in actu.

deve ser do ser ao não-ser, a geração não se produz a partir de todo e qualquer nãoser, mas a partir do não-ente que é ente em potência; assim como a estátua [é feita] a partir do cobre, para o qual a estátua está em potência (cobre), não em ato.

Ad hoc ergo quod sit generatio,

Logo, para que haja a geração, três

tria requiruntur: scilicet ens potentia,

coisas são requeridas, a saber, o ente em

quod est materia; et non esse actu, quod

potência, que é a matéria; o não-ser em

est privatio; et id per quod fit actu,

ato, que é a privação; e isso pelo que se

scilicet forma. Sicut quando ex cupro fit

torna em ato, a saber, a forma. Assim

idolum, cuprum quod est potentia ad

como quando a partir do cobre é feita a

formam idoli, est materia; hoc autem

estátua, o cobre, que é a potência para a

quod est infiguratum sive indispositum,

forma da estátua, é a “matéria”; porém

dicitur privatio; figura autem a qua

isto que é desfigurado ou não-disposto é

dicitur idolum, est forma, non autem

dito “privação”; porém, a figura pela qual

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Thomas Aquinatis De principiis naturae Caput I - Quid sint materia et forma

substantialis quia cuprum ante adventum

é dita a estátua é a forma, não, porém, a

formae seu figurae habet esse in actu, et

substancial, porque o cobre, antes do

eius esse non dependet ab illa figura;

advento da forma ou da figura tem ser em

sed est forma accidentalis. Omnes enim

ato, e o seu ser não depende daquela

formae artificiales sunt accidentales. Ars

figura; mas trata-se de uma forma

enim non operatur nisi supra id quod

acidental. Pois todas as formas artificiais

iam constitutum est in esse perfecto a

são acidentais. A arte, pois, não opera

natura.

senão sobre aquilo que já foi constituído pela natureza no ser perfeito.

Referência AQUINATIS, T. “Quid sint materia et forma”. In: AQUINATIS, T. De principiis naturae. Disponível em <http://www.corpusthomisticum.org/opn.html>. Acesso em 01 maio 2008.

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TRADUÇÃO THOMAS AQUINATIS DE PRINCIPIIS NATURAE CAPUT II – QUOMODO SE HABEANT AD INVICEM MATERIA, FORMA ET PRIVATIO TOMÁS DE AQUINO OS PRINCÍPIOS DA NATUREZA CAPÍTULO 2 – DE QUE MODO MATÉRIA, FORMA E PRIVAÇÃO SE RELACIONAM RECIPROCAMENTE

Luciana Rohden da Silva* Thiago Soares Leite** ___________________________________________________________________________ RESUMO: Neste segundo capítulo (para o primeiro, cf. Intuitio, 1/1 (2008), p. 125-9), Tomás de Aquino ensina que há três princípios da natureza: matéria, forma e privação. Estes princípios estão divididos em dois grupos: um, a forma, é aquilo em direção ao que se dá a geração; os outros dois, a matéria e a privação, são aquilo a partir do que há a geração. Depois disso, Tomás de Aquino escreve sobre 1) as relações entre os princípios; 2) a distinção entre acidentes necessários e não-necessários; 3) a distinção entre privação e negação; 4) e, por fim, a definição de matéria primeira.

ABSTRACT: In this second chapter (for the first one, see Intuitio, 1/1 (2008), p. 125-9), Thomas Aquinas teaches that there are three principles of nature: matter, form and privation. These principles are divided in two groups: one, form, is that towards which generation is aimed; the other two, matter and privation, are that from which generation is. After that, Thomas Aquinas writes about 1) the relations among the principles; 2) the distinction between necessary and non-necessary accidents; 3) the distinction between privation and negation; 4) and finally the definition of prime matter.

PALAVRAS-CHAVE: Tomás de Aquino. Princípios da Natureza. Cosmologia Medieval.

KEY WORDS: Thomas Aquinas. Principles of Nature. Medieval Cosmology.

___________________________________________________________________________

Sunt igitur tria principia naturae,

Portanto, três são os princípios da

scilicet materia, forma et privatio; quorum

natureza, a saber: matéria, forma e

alterum, scilicet forma, est id ad quod est

privação; dentre os quais, o segundo, a

generatio; alia duo sunt ex parte eius ex

saber, a forma, é isso em direção a que se

quo est generatio. Unde materia et privatio

dá a geração; os outros dois são, em parte,

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ISSN 1983-4012

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V.1 - No.2

Novembro 2008

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Traduação - Thomas Aquinatis De principiis naturae Caput II – Quomodo se habeant ad invicem materia, forma et privatio

sunt idem subiecto, sed differunt ratione.

disso a partir do que se dá a geração.

Illud

est

Donde matéria e privação são o mesmo

infiguratum ante adventum formae; sed ex

pelo sujeito, mas diferem pela razão. Pois

alia ratione dicitur aes, et

alia

este mesmo que é bronze é desfigurado

infiguratum. Unde privatio dicitur esse

antes do advento da forma; mas diz-se

principium non per se, sed per accidens,

“bronze” a partir de uma razão e, a partir

quia scilicet concidit cum materia; sicut

de outra, “desfigurado”. Donde, a privação

dicimus quod hoc est per accidens:

é dita ser princípio não por si, mas por

medicus aedificat: non enim ex eo quod

acidente, a saber, porque coincide com a

medicus, sed ex eo quod aedificator, quod

matéria; assim como dizemos que isto é

concidit medico in uno subiecto.

por acidente: “o médico constrói”, pois não

enim

idem

quod

est

aes

ex

[constrói] a partir do que [é] médico, mas a partir do que é construtor, que coincide com médico em um único sujeito. Sed duplex est accidens: scilicet

Mas há dois tipos de acidente, a

necessarium, quod non separatur a re, ut

saber: necessário, que não é separado da

risibile hominis; et non necessarium, quod

coisa, tal como a capacidade de rir do

separatur, ut album ab homine. Unde, licet

homem; e não-necessário, que é separado,

privatio sit principium per accidens, non

tal como o branco, de homem. Donde,

sequitur quod non sit necessarium ad

ainda que a privação seja princípio por

generationem, quia materia a privatione

acidente, não se segue que não seja

non denudatur; inquantum enim est sub

necessária à geração, porque a matéria não

una forma, habet privationem alterius, et e

é despojada de privação; pois, enquanto

converso, sicut in igne est privatio aeris, et

está sob uma única forma, tem a privação

in aere privatio ignis.

de outro, e vice-versa, assim como no fogo há privação do ar e no ar, privação do fogo.

Et sciendum, quod cum generatio

E deve-se saber que, embora a

sit ex non esse, non dicimus quod negatio

geração seja a partir do não-ser, não

sit principium, sed privatio, quia negatio

dizemos que a negação seja princípio, mas

non determinat sibi subiectum. Non videt

a

enim potest dici etiam de non entibus, ut

determina a si um sujeito. Pois, “não vê”

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privação,

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porque

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a

negação

não

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Chimaera non videt; et iterum de entibus

pode ser dito também dos não-entes, tal

quae non nata sunt habere visum, sicut de

como [em] “a Quimera não vê”; e, por sua

lapidibus. Sed privatio non dicitur nisi de

vez, dos entes que, por natureza [nata sunt]

determinato subiecto, in quo scilicet natus

não possuem a visão, assim como das

est fieri habitus; sicut caecitas non dicitur

pedras. Mas, a privação não é dita senão do

nisi de his quae sunt nata videre. Et quia

sujeito determinado, a saber, no qual é nato

generatio non fit ex non ente simpliciter,

produzir-se o hábito, assim como a

sed ex non ente quod est in aliquo subiecto,

cegueira não é dita senão daqueles que, por

et non in quolibet, sed in determinato (non

natureza [nata sunt], vêem. E porque a

enim ex quolibet non igne fit ignis, sed ex

geração não acontece a partir do não-ente

tali non igne, circa quod nata sit fieri forma

em sentido absoluto, mas a partir do não-

ignis), ideo dicitur quod privatio est

ente que está em algum sujeito, não em

principium.

qualquer um, mas no determinado (pois não [é] a partir de qualquer não-fogo que o fogo se produz, mas a partir de tal nãofogo, acerca do qual é nato produzir a forma do fogo), por isso é dito que privação é princípio.

Sed in hoc differt ab aliis, quia alia

Mas, nisto difere dos outros, porque

sunt principia et in esse et in fieri. Ad hoc

os outros são princípios tanto no ser como

enim quod fiat idolum, oportet quod sit

no vir a ser. Pois, para isto que venha a ser

aes, et quod ultima sit figura idoli; et

estátua, é preciso que seja bronze [i.e., a

iterum, quando iam idolum est oportet haec

matéria] e que a última [i.e., a forma] seja

duo esse. Sed privatio est principium in

a figura da estátua; e, por sua vez, quando

fieri et non in esse: quia dum fit idolum,

já é estátua, é preciso haver esses dois.

oportet quod non sit idolum. Si enim esset,

Mas, a privação é princípio no vir-a-ser e

non fieret, quia quod fit non est, nisi in

não no ser: porque enquanto vem a ser

successivis. Sed ex quo iam idolum est,

estátua, é preciso que não seja estátua. Se,

non est ibi privatio idoli, quia affirmatio et

pois, fosse, não viria a ser, porque o que

negatio non sunt simul, similiter nec

vem a ser não é, senão posteriormente.

privatio et habitus. Item privatio est

Mas, a partir do que já é estátua, aí não há

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principium

per

accidens,

ut

supra

privação da estátua porque afirmação e

expositum est, alia duo sunt principia per

negação não existem simultaneamente; de

se.

modo

semelhante privação

e hábito.

Igualmente, a privação é princípio por acidente, tal como acima foi exposto; os outros dois são princípios por si. Ex dictis igitur patet quod materia

Portanto, a partir do que foi dito, é

differt a forma et a privatione secundum

patente que a matéria difere da forma e da

rationem. Materia enim est id in quo

privação segundo a razão. Pois a matéria é

intelligitur forma et privatio: sicut in cupro

isso no qual se intelige a forma e a

intelligitur

infiguratum.

privação, assim como no cobre intelige-se

Quandoque quidem materia nominatur

a figura e o desfigurado. Com efeito, por

cum privatione, quandoque sine privatione:

vezes a matéria é nomeada com a privação,

sicut aes, cum sit materia idoli, non

por vezes, sem a privação, assim como o

importat privationem, quia ex hoc quod

bronze, embora seja a matéria da estátua,

dico aes, non intelligitur indispositum seu

não introduz a privação, porque a partir

infiguratum, sed farina, cum sit materia

disto que digo “bronze” não é inteligido

respectu panis, importat in se privationem

“não-disposto” ou “desfigurado”, mas a

formae panis, quia ex hoc quod dico

“farinha”, embora seja a matéria em

farinam,

sive

relação ao pão, introduz em si a privação

inordinatio opposita formae panis. Et quia

da forma do pão, porque a partir disto que

in generatione materia sive subiectum

digo “farinha” é significada a não-

permanet,

neque

disposição ou não-ordenação oposta à

compositum ex materia et privatione, ideo

forma do pão. E porque na geração a

materia quae non importat privationem, est

matéria ou o sujeito permanece, entretanto

permanens: quae autem importat, est

a privação não, e nem o composto de

transiens.

matéria e privação, por isso a matéria que

figura

et

significatur

privatio

indispositio

vero

non,

não introduz privação é a que permanece, porém a que introduz é transitória. Sed

quaedam

Mas, deve-se saber que uma certa

materia habet compositionem formae: sicut

matéria tem uma composição de forma,

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sciendum,

quod

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aes, cum sit materia respectu idoli, ipsum

assim como o bronze, embora seja matéria

tamen aes est compositum ex materia et

em relação à estátua, contudo o próprio

forma; et ideo aes non dicitur materia

bronze é composto a partir de matéria e

prima, quia habet materiam. Ipsa autem

forma; e, por isso, o bronze não é dito

materia quae intelligitur sine qualibet

“matéria primeira” porque tem matéria.

forma et privatione, sed subiecta formae et

Porém a própria matéria que é inteligida

privationi, dicitur materia prima, propter

sem qualquer forma e privação, mas [que

hoc quod ante ipsam non est alia materia.

está] sujeita à forma e à privação, é dita

Et hoc etiam dicitur yle.

matéria primeira por causa disto que antes dela não há outra matéria. E isto também é dito yle.

Et quia omnis definitio et omnis

E porque toda definição e todo

cognitio est per formam, ideo materia

conhecimento ocorre mediante a forma,

prima per se non potest cognosci vel

por isso a matéria primeira não pode ser

definiri sed per comparationem ut dicatur

conhecida ou definida por si, mas por

quod illud est materia prima, quod hoc

comparação, tal como é dito que aquilo é a

modo se habet ad omnes formas et

matéria primeira, que deste modo está ela

privationes

et

para todas as formas e para todas as

infiguratum. Et haec dicitur simpliciter

privações, assim como o bronze, para a

prima.

estátua e para o desfigurado. E esta é dita

sicut

aes

ad

idolum

absolutamente “primeira”. Potest etiam aliquid dici materia

“Matéria primeira” também pode

prima respectu alicuius generis, sicut aqua

ser dita algo em relação a algum gênero,

est materia liquabilium. Non tamen est

assim como a água é a matéria dos

prima simpliciter, quia est composita ex

líquidos.

materia et forma, unde habet materiam

absolutamente, porque é composta a partir

priorem.

de matéria e forma, donde [essa matéria

Contudo,

não

é

primeira

composta] ter uma matéria mais anterior. Et sciendum quod materia prima, et etiam

forma,

neque

primeira, e também a forma, não é gerada

corrumpitur, quia omnis generatio est ad

nem é corrompida porque toda geração é

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non

generatur

E, deve-se saber, que a matéria

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aliquid ex aliquo. Id autem ex quo est

em direção a algo a partir de algo. Porém,

generatio, est materia; id ad quod est

isso a partir do que há geração é a matéria;

forma.

forma

isso para o que é a forma. Portanto, se a

generaretur, materiae esset materia, et

matéria ou a forma fosse gerada, haveria

formae forma, in infinitum. Unde generatio

uma matéria da matéria e uma forma da

non est nisi compositi, proprie loquendo.

forma, ao infinito. Donde não há geração

Si

igitur

materia

vel

senão do composto, propriamente falando. Sciendum est etiam, quod materia

Deve-se saber também que a

prima dicitur una numero in omnibus. Sed

matéria primeira é dita numericamente una

unum numero dicitur duobus modis:

em todas as coisas. Mas, “numericamente

scilicet

formam

uno” é dito de dois modos, a saber: o que

determinatam in numero, sicut Socrates: et

tem forma numericamente determinada,

hoc modo materia prima non dicitur unum

assim como Sócrates: e, deste modo, a

numero, cum in se non habeat aliquam

matéria

formam. Dicitur etiam aliquid unum

“numericamente uno”, visto que, em si não

numero, quia est sine dispositionibus quae

tem alguma forma. Algo também é dito

faciunt differre secundum numerum: et hoc

“numericamente

modo dicitur materia prima unum numero,

disposições que fazem diferir segundo

quia

número, e, deste modo, a matéria prima é

quod

habet

intelligitur

unam

sine

omnibus

primeira

uno”

“numericamente

não

é

porque

uno”

dita

é

sem

dispositionibus a quibus est differentia in

dita

porque

é

numero.

inteligida sem todas as disposições pelas quais há a diferença em número.

Et sciendum quod licet materia non

E, deve-se saber, que, embora a

habeat in sua natura aliquam formam vel

matéria não possua, em sua natureza,

privationem, sicut in ratione aeris neque est

alguma forma ou alguma privação, assim

figuratum

tamen

como na razão do bronze não há o figurado

nunquam denudatur a forma et privatione:

nem o desfigurado. Contudo, [o bronze]

quandoque enim est sub una forma,

nunca está despojado de forma e privação:

quandoque sub alia. Sed per se nunquam

pois por vezes está sob uma única forma,

potest esse, quia cum in ratione sua non

outras vezes, sob outra. Mas, por si, nunca

habeat aliquam formam, non habet esse in

pode ser, porque como não tem alguma

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neque

infiguratum;

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actu, cum esse in actu non sit nisi a forma,

forma em sua razão, não tem ser em ato,

sed est solum in potentia. Et ideo quicquid

visto que não há ser em ato senão pela

est actu, non potest dici materia prima.

forma, mas é somente em potência. E, por isso, qualquer coisa que é em ato não pode ser dita “matéria primeira”.

Referência AQUINATIS,T. “Quomodo se habeant ad invicem materia, forma et privatio”. In: AQUINATIS, T. De principiis naturae. Disponível em http://www.corpusthomisticum.org/opn.html. Acesso em 01 maio 2008.

INTUITIO

ISSN 1983-4012

Porto Alegre

V.1 - No.2

Novembro 2008

pp. 329-335

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TRADUÇÃO THOMAS AQUINATIS DE PRINCIPIIS NATURAE CAPITA III – IV TOMÁS DE AQUINO OS PRINCÍPIOS DA NATUREZA CAPÍTULOS III - IV

Luciana Rohden da Silva* Thiago Soares Leite** ___________________________________________________________________________ RESUMO: No terceiro capítulo do De Principiis Naturae (para o primeiro capítulo, ver Intuitio, 1/1 (2008), p. 125-9; para o segundo, Intuitio 1/2 (2008), p. 329-35), Tomás ensina que há quatro tipos de causas, a saber, a eficiente, a material, a formal e a final; a diferença entre agente natural e agente voluntário; a diferença entre “princípio”, “causa” e “elemento”. No capítulo quatro, aprendemos a relação entre as causas; sobre a divisão de “necessidade” em “absoluta” e “condicional”; os dois tipos de “fim”.

ABSTRACT: In the third chapter of De Principiis Naturae (for the first one, see Intuitio, 1/1 (2008), p. 125-9; for the second chapter, see Intuitio 1/2 (2008), p. 329-35), Thomas teaches that there are four kinds of cause, namely, efficient, material, formal and final; the difference between natural and voluntary agents; the difference among “principle”, “cause” and “element”. In chapter four, we learn the relation between the causes; about the division of “necessity” into “absolute” and “conditional”; the two kinds of “end”.

PALAVRAS-CHAVE: Tomás de Aquino. Princípios da Natureza. Cosmologia Medieval.

KEY WORDS: Thomas Aquinas. Principles of Nature. Medieval Cosmology.

Caput III – Quod sunt quator generes

Capítulo III – Que quatro são os gêneros

causarum

de causas

Ex dictis igitur patet tria esse

Portanto, a partir do que foi dito, é

naturae principia scilicet materia, forma et

evidente serem três os princípios da

privatio. Sed haec non sunt sufficientia ad

natureza, a saber: matéria, forma e

generationem.

privação. Mas estes não são suficientes à

*

Doutoranda em Filosofia/PUCRS – Bolsista e pesquisadora/CNPq. Contato: lucianarohden@yahoo.com.br Doutorando em Filosofia/PUCRS – Bolsista e pesquisador/CNPq Contato: thiagoleiteuerj@hotmail.com

**

Intuitio

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Junho 2009

pp. 257-269


Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Tradução - Thomas Aquinatis, De principiis naturae Capita III – IV

geração. Quod enim est in potentia, non

Pois o que está em potência não

potest se reducere ad actum: sicut cuprum

pode, por si, passar a ato: assim como o

quod est potentia idolum, non facit se

cobre, que é estátua em potência, não

idolum, sed indiget operante, qui formam

produz por si a estatua, mas carece do

idoli extrahat de potentia in actum.

produtor, que extraia, da potência ao ato, a forma da estátua.

Forma etiam non extraheret se de

Além disso, a forma não se

potentia in actum (et loquor de forma

extrairia da potência ao ato (e falo sobre a

generati, quam diximus esse terminum

forma

generationis); forma enim non est nisi in

dissemos ser o término da geração), pois a

facto esse: quod autem operatur est in fieri,

forma não existe senão no fato de ser;

idest dum res fit.

porém, o que é produzido está no vir-a-ser,

das

[coisas]

geradas,

a

qual

isto é, enquanto a coisa é produzida. Oportet ergo praeter materiam et

Logo, é preciso, além de matéria e

formam esse aliquod principium quod agat,

forma, haver algum princípio que aja, e

et hoc dicitur esse efficiens, vel movens,

isto é dito ser “eficiente” ou “movente” ou

vel agens, vel unde est principium motus.

“agente” ou “donde é o princípio de movimento”.

Et quia, ut dicit Aristoteles in

E porque, tal como diz Aristóteles

secundo Metaph., omne quod agit, non agit

no segundo livro da Metafísica, tudo que

nisi intendendo aliquid, oportet esse aliud

age não age a não ser que pretenda algo, é

quartum, id scilicet quod intenditur ab

preciso haver um quarto [princípio], a

operante: et hoc dicitur finis.

saber, isso que é pretendido pelo produtor: e isto é dito “fim”.

Et sciendum, quod omne agens tam

E deve-se saber que todo agente,

naturale quam voluntarium intendit finem,

seja natural seja voluntário, pretende o fim;

non tamen sequitur quod omne agens

contudo, não se segue que todo agente

cognoscat finem, vel deliberet de fine.

conheça o fim ou delibere sobre o fim. Pois

Cognoscere enim finem est necessarium in

conhecer o fim é necessário nestes dentre

his quorum actiones non sunt determinatae,

os quais as ações não são determinadas,

sed se habent ad opposita, sicut se habent

mas têm, por si, os opostos, assim como os

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Tradução - Thomas Aquinatis, De principiis naturae Capita III – IV

agentia voluntaria; et ideo oportet quod

agentes voluntários [as] têm por si, e, por

cognoscant finem per quem suas actiones

isso, é preciso que conheçam o fim pelo

determinent. Sed in agentibus naturalibus

qual determinem suas ações. Mas, nos

sunt actiones determinatae: unde non est

agentes

necessarium eligere ea quae sunt ad finem.

determinadas: donde não é necessário

Et ponit exemplum Avicenna de citharaedo

escolher, porque são [determinadas] ao

quem non oportet de qualibet percussione

fim. E Avicena apresenta o exemplo do

chordarum deliberare, cum percussiones

citaredo, que não precisa deliberar sobre

sint determinatae apud ipsum; alioquin

qualquer toque das cordas, visto que os

esset inter percussiones mora, quod esset

toques estão determinados para ele; de

absonum. Magis autem videtur de operante

outro modo, haveria demora entre os

voluntarie quod deliberet, quam de agente

toques, o que seria desarmônico. Porém,

naturali. Et ita patet per locum a maiori,

parece mais [próprio] do voluntariamente

quod possibile est agens naturale sine

produtor deliberar do que do agente

deliberatione intendere finem: et hoc

natural. E assim, é evidente, pelo que

intendere nihil aliud erat quam habere

ensinou Avicena [i.e., o agente voluntário

naturalem inclinationem ad aliquid.

(o citaredo) poder agir sem deliberação],

naturais,

as

ações

são

ser possível o agente natural pretender o fim sem deliberação, e este “pretender” nada mais era do que ter uma inclinação natural a algo. Ex dictis ergo patet, quod sunt quatuor

causae:

materialis,

evidente que quatro são as causas, a saber:

efficiens, formalis et finalis. Licet autem

material, eficiente, formal e final. Porém,

principium

dicantur

ainda que “princípio” e “causa” sejam

quinto

ditos conversivelmente, tal como está dito

Metaph., tamen Aristoteles in Lib. Physic.,

no quinto livro da Metafísica, contudo,

ponit quatuor causas et tria principia.

Aristóteles apresenta, nos livros da Física,

Causas autem accipit tam pro extrinsecis

quatro causas e três princípios. Porém,

quam pro intrinsecis. Materia et forma

considera as causas tanto como extrínsecas

dicuntur intrinsecae rei, eo quod sunt

quanto como intrínsecas. Matéria e forma

partes constituentes rem; efficiens et finalis

são ditas intrínsecas à coisa, porque são

convertibiliter,

Intuitio

scilicet

Logo, a partir do que foi dito, é

et

causa

ut

dicitur

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in

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Tradução - Thomas Aquinatis, De principiis naturae Capita III – IV

dicuntur extrinsecae, quia sunt extra rem.

partes constituintes da coisa; a eficiente e a

Sed

causas

final são ditas extrínsecas, porque são

intrinsecas. Privatio autem non nominatur

exteriores à coisa. Mas ele considera os

inter causas, quia est principium per

princípios

accidens, ut dictum est. Et cum dicimus

intrínsecas. Porém, a privação não é

quatuor causas, intelligimus de causis per

nomeada entre as causas porque é princípio

se, ad quas tamen causae per accidens

por acidente, tal como foi dito. E, quando

reducuntur, quia omne quod est per

dizemos “quatro causas”, entendemos as

accidens, reducitur ad id quod est per se.

causas por si, às quais, contudo, as causas

principia

accipit

solum

somente

[como]

causas

por acidente são reduzidas, porque tudo que é por acidente é reduzido a isso que é por si. Sed licet principia ponat Aristoteles

Mas, embora Aristóteles apresente

pro causis intrinsecis in primo Physic.,

os princípios como causas intrínsecas no

tamen, ut dicitur in undecimo Metaph.,

primeiro livro da Física, contudo, tal como

principium

causis

está dito no livro onze da Metafísica,

extrinsecis, elementum de causis quae sunt

“princípio” é dito propriamente das causas

partes rei, idest de causis intrinsecis, causa

extrínsecas, “elemento”, das causas que

dicitur de utrisque. Tamen aliquando unum

são partes da coisa, i.e., das causas

ponitur pro altero. Omnis enim causa

intrínsecas; de ambas, é dito “causa”.

potest dici principium, et omne principium

Contudo,

causa.

apresentado pelo outro, pois toda causa

dicitur

proprie

de

às

vezes,

um

[termo]

é

pode ser dita “princípio”, e todo princípio, “causa”. Sed tamen causa videtur addere

Mas, não obstante, “causa” parece

supra principium communiter dictum, quia

acrescentar

id quod est primum, sive consequatur esse

comumente dito

posterius sive non, potest dici principium,

primeiro, seguindo-se [a ele] ou não um ser

sicut faber dicitur principium cultelli, ut ex

posterior, pode ser dito “princípio”, assim

eius operatione est esse cultelli. Sed

como o ferreiro é dito princípio da faca, de

quando aliquid movetur de nigredine ad

maneira que, a partir de sua produção, há o

albedinem,

ser da faca. Mas, quando algo é movido da

Intuitio

dicitur

quod

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nigrum

est

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[algo]

a

“princípio”

porque isso

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que é

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Tradução - Thomas Aquinatis, De principiis naturae Capita III – IV

principium illius motus; et universaliter

negrura à brancura, é dito que o negro é

omne id a quo incipit esse motus dicitur

princípio

principium: tamen nigredo non est id ex

universalmente, tudo isso pelo que inicia o

quo consequatur esse albedo.

ser do movimento é dito “princípio”,

desse

movimento;

e,

contudo, a negrura não é isso a partir do que se segue o ser branco. Sed causa solum dicitur de illo

Mas “causa” somente é dita desse

primo ex quo consequitur esse posterioris:

primeiro a partir do qual se segue o ser do

unde dicitur quod causa est ex cuius esse

posterior: donde é dito que “causa” é

sequitur aliud. Et ideo illud primum a quo

[aquilo] a partir do qual se segue outro ser.

incipit esse motus, non potest dici causa

E, por isso, aquele primeiro pelo qual

per se etsi dicatur principium: et propter

inicia o ser do movimento não pode, por si,

hoc privatio ponitur inter principia, et non

ser dito “causa”, ainda que seja dito

inter causas, quia privatio est id a quo

“princípio”: e, devido a isto, a privação é

incipit generatio. Sed potest etiam dici

apresentada entre os princípios, e não entre

causa per accidens, inquantum concidit

as causas, porque a privação é isso pelo

materiae, ut supra expositum est.

que a geração inicia. Mas [a privação] também pode, por acidente, ser dita “causa”, na medida em que coincide com a matéria, tal como foi exposto acima.

Elementum vero non dicitur proprie

Todavia, “elemento” não é dito

nisi de causis ex quibus est compositio rei,

propriamente senão das causas a partir das

quae proprie sunt materiales. Et iterum non

quais há a composição da coisa, as quais

de qualibet causa materiali, sed de illa ex

são propriamente materiais. E, novamente,

qua est prima compositio: sicut nec

não de qualquer causa material, mas da

membra elementa sunt hominis, quia

aquela a partir da qual há a primeira

membra etiam sunt composita ex aliis; sed

composição: assim como os membros não

dicimus quod terra et aqua sunt elementa,

são elementos dos homens, porque os

quia haec non componuntur ex aliis

membros também são compostos a partir

corporibus,

prima

de outras coisas. Mas dizemos que terra e

compositio corporum naturalium. Unde

água são elementos porque estas não são

Aristoteles in quinto Metaph. dicit quod

compostas a partir de outros corpos, mas, a

Intuitio

sed

ex

ipsis

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est

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Tradução - Thomas Aquinatis, De principiis naturae Capita III – IV

elementum est id ex quo componitur res

partir delas, há a primeira composição dos

primo, et est in ea, et non dividitur

corpos naturais. Donde Aristóteles diz, no

secundum formam.

quinto livro da Metafísica, que “elemento” é isso a partir do que a coisa é primeiramente composta, e está nela, e não é dividida segundo a forma.

Expositio primae particulae, ex quo

A exposição da primeira parte, “a

componitur res primo, patet per ea quae

partir do que a coisa é primeiramente

diximus.

composta”, é evidente pelo que dissemos.

Secunda particula, scilicet et est in

A segunda parte, a saber, “e está

ea, ponitur ad differentiam illius materiae

nela”, é apresentada pela diferença daquela

quae ex toto corrumpitur per generationem:

matéria que, de todo, é corrompida pela

sicut panis est materia sanguinis, sed non

geração: assim como o pão é a matéria do

generatur sanguis nisi corrumpatur panis;

sangue, mas o sangue não é gerado a não

unde panis non remanet in sanguine: unde

ser que o pão seja corrompido; donde o

non potest dici panis elementum sanguinis.

pão não permanecer no sangue: donde o

Sed elementa oportet aliquo modo manere,

pão não pode ser dito elemento do sangue.

cum non corrumpantur, ut dicitur in libro

Mas,

de Gener.

permaneçam de algum modo, visto que não

é

preciso

que

os

elementos

são corrompidos, tal como está dito no livro Sobre a Geração e a Corrupção. Tertia particula, scilicet et non

A terceira parte, a saber, “e não é

dividitur secundum formam, ponitur ad

dividida segundo a forma”, é apresentada

differentiam eorum scilicet quae habent

pela diferença deles, a saber, os quais têm

partes diversas in forma, idest in specie,

partes diversas na forma, i.e., na espécie:

sicut manus, cuius partes sunt caro et ossa,

assim como a mão, cujas partes são a carne

quae differunt secundum speciem. Sed

e os ossos, os quais diferem segundo a

elementum non dividitur in partes diversas

espécie. Mas, o elemento não é dividido

secundum speciem, sicut aqua, cuius

em distintas partes segundo a espécie,

quaelibet pars est aqua. Non enim oportet

assim como a água, da qual qualquer parte

ad

dividatur

é água. Pois, não é preciso ao ser do

secundum quantitatem, sed sufficit si non

elemento que [o elemento] não seja

esse

elementi

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ut

non

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dividatur secundum speciem: et si etiam

dividido segundo a quantidade, mas é

non dividatur, dicitur elementum, sicut

suficiente que não seja dividido segundo a

litterae dicuntur elementa dictionum.

espécie; e, se também não é [assim] dividido, é dito “elemento”, assim como as letras são ditas elementos das palavras.

principium

Portanto, é evidente que, de certo

quodam modo in plus habet se quam causa;

modo, “princípio” está em mais [coisas] do

et causa in plus quam elementum. Et hoc

que “causa”; e “causa”, em mais [coisas]

est quod dicit Commentator in quinto

do que “elemento”. E isso é o que diz o

Metaph.

Comentador no quinto livro da Metafísica.

Caput IV – De concidentia et de

Capítulo IV – Da coincidência e da

prioritate causarum

prioridade das causas

Patet

igitur

quod

Viso igitur quod quatuor sunt

Portanto, visto que quatro são os

causarum genera, sciendum est quod non

gêneros das causas, deve-se saber que não

est impossibile quod idem habeat plures

é impossível que a mesma [coisas] tenha

causas: ut idolum cuius causa est cuprum

várias causas: tal como a estátua, cuja

et artifex, sed artifex ut efficiens, cuprum

causa é o cobre e o artífice, mas o artífice

ut materia. Non autem est impossibile ut

como [a causa] eficiente, o cobre como a

idem

sicut

material. Porém, não é impossível que a

gubernator est causa salutis navis et

mesma [coisa] seja causa dos contrários:

submersionis, sed huius per absentiam,

assim como o capitão é causa da salvação e

illius quidem per praesentiam.

do naufrágio do navio, mas deste, pela

sit

causa

contrariorum:

ausência,

daquele,

com

efeito,

pela

presença. Sciendum est etiam quod possibile

Deve-se saber também que é

est ut aliquid idem sit causa et causatum

possível que algo mesmo seja causa e

respectu eiusdem, sed diversimode: ut

causado em relação ao mesmo, mas de

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deambulatio est causa sanitatis ut efficiens,

modo diverso: tal como o passeio é causa

sed sanitas est causa deambulationis ut

eficiente da saúde, mas a saúde é causa

finis: deambulatio enim est aliquando

final do passeio, pois o passeio é, às vezes,

propter sanitatem. Et etiam corpus est

por causa da saúde. E também o corpo é

materia animae, anima vero est forma

matéria da alma, todavia, a alma é forma

corporis.

do corpo. causa

Ora, o eficiente é dito causa em

respectu finis, cum finis non sit in actu nisi

relação ao fim, ainda que o fim não seja

per operationem agentis: sed finis dicitur

em ato senão pela operação do agente. Mas

causa efficientis, cum non operetur nisi per

o fim é dito causa do eficiente, visto que

intentionem finis. Unde efficiens est causa

[esse] não operaria senão pela intenção do

illius quod est finis: ut sit sanitas; non

fim, donde o eficiente é causa disso que é o

tamen facit finem esse finem, et ita non est

fim: que seja a saúde. Contudo, [o

causa causalitatis finis, idest non facit

eficiente] não faz o fim ser fim e, assim,

finem esse finalem: sicut medicus facit

não é a causa da causalidade do fim, i.e.,

sanitatem esse in actu, non tamen facit

não faz o fim ser a [causa] final: assim

quod sanitas sit finis.

como o médico faz a saúde ser em ato,

Efficiens

enim

dicitur

contudo, não faz que a saúde seja o fim. Finis autem non est causa illius

Porém, o fim não é causa disso que

quod est efficiens, sed est causa ut

é eficiente, mas é causa que o eficiente seja

efficiens sit efficiens: sanitas enim non

eficiente: pois a saúde não faz o médico ser

facit medicum esse medicum (et dico

médico (e digo a saúde que é produzida

sanitatem quae fit operante medico), sed

pelo médico na medida em que a produz),

facit ut medicus sit efficiens. Unde finis est

mas faz com que o médico seja eficiente.

causa causalitatis efficientis, quia facit

Donde o fim é causa da causalidade do

efficiens esse efficiens: similiter facit

eficiente porque faz o eficiente ser

materiam esse materiam, et formam esse

eficiente: de modo semelhante, faz a

formam,

suscipiat

matéria ser matéria e a forma ser forma,

formam nisi per finem, et forma non

ainda que a matéria não receba a forma

perficiat materiam nisi per finem. Unde

senão pelo fim, e a forma não aperfeiçoe a

dicitur quod finis est causa causarum, quia

matéria senão pelo fim. Donde é dito que o

est causa causalitatis in omnibus causis.

fim é a causa das causas, porque é causa da

cum

Intuitio

materia

non

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causalidade em todas as causas. Materia enim dicitur causa formae,

Pois a matéria é dita causa da forma

inquantum forma non est nisi in materia; et

na medida em que a forma não é senão na

similiter

materiae,

matéria; e, de modo semelhante, a forma é

inquantum materia non habet esse in actu

causa da matéria, na medida em que a

nisi per formam. Materia enim et forma

matéria não tem ser em ato senão pela

dicuntur relative ad invicem, ut dicitur in

forma. Pois a matéria e a forma são ditas

secundo physicorum. Dicuntur enim ad

relativamente entre si, tal como está dito

compositum sicut partes ad totum, et

no segundo livro da Física, pois são ditas

simplex ad compositum.

em relação ao composto assim como as

forma

est

causa

partes, ao todo, e o simples, ao composto. Sed quia omnis causa, inquantum

Mas porque toda causa é, na

est causa, naturaliter prior est causato,

medida em que é causa, naturalmente

sciendum quod prius dicitur duobus modis,

anterior ao causado, deve-se saber que

ut dicit Aristoteles in decimosexto de

“anterior” é dito de dois modos, tal como

Animal.; per quorum diversitatem potest

diz Aristóteles no livro XVI Sobre os

aliquid dici prius et posterius respectu

Animais; pela diversidade desses modos,

eiusdem, et causa et causatum.

tanto a causa quanto o causado podem ser ditos algo “anterior” e “posterior” com relação ao mesmo.

Dicitur enim aliquid prius

Pois algo é dito anterior a outro

altero generatione et tempore, et iterum in

pela geração e pelo tempo, e, por sua vez,

substantia et complemento. Cum ergo

na substância e na complementação. Logo,

naturae operatio procedat ab imperfecto ad

visto que a operação da natureza procede

perfectum, et ab incompleto ad completum,

do imperfeito ao perfeito e do incompleto

imperfectum est prius perfecto, secundum

ao completo, o imperfeito é anterior ao

generationem et tempus, sed perfectum est

perfeito segundo a geração e o tempo, mas

prius in complemento: sicut potest dici

o perfeito é anterior na complementação:

quod vir est ante puerum in substantia et

assim como pode ser dito que o varão está

complemento, sed puer est ante virum

antes da criança na substância e na

generatione et tempore.

complementação, mas a criança está antes do varão pela geração e pelo tempo.

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rebus

Mas, embora o imperfeito seja, nas

sit

prius

coisas que podem ser geradas, anterior ao

prior

actu,

perfeito, e a potência, anterior ao ato,

considerando in aliquo eodem quod prius

considerando, nessas mesmas coisas, que o

est imperfectum quam perfectum, et in

imperfeito está antes do perfeito, e [o que

potentia quam in actu, simpliciter tamen

está] em potência, antes do que [está] em

loquendo, oportet actum et perfectum prius

ato; não obstante, falando em sentido

esse: quia quod reducit potentiam ad

absoluto, é preciso o ato e o perfeito serem

actum,

anteriores: porque o que leva a potência ao

Sed generabilibus perfecto,

et

actu

licet

in

imperfectum potentia

est,

et

quod

perficit

ato está em ato, e o que aperfeiçoa o

imperfectum, perfectum est.

imperfeito é perfeito. Materia quidem est prior forma

Com efeito, a matéria é anterior à

generatione et tempore: prius enim est cui

forma pela geração e pelo tempo: pois

advenit, quam quod advenit. Forma vero

antes existe ao que advém, depois, o que

est prior materia perfectione, quia materia

advém. Não obstante, a forma é anterior à

non habet esse completum nisi per

matéria pela perfeição, porque a matéria

formam. Similiter efficiens prior est fine

não tem o ser completo senão pela forma.

generatione et tempore, cum ab efficiente

De modo semelhante, o eficiente é anterior

fiat motus ad finem; sed finis est prior

ao fim pela geração e pelo tempo, visto

efficiente inquantum est efficiens, in

que, pelo eficiente, realiza-se o movimento

substantia et complemento, cum actio

ao fim; mas o fim é anterior ao eficiente,

efficientis non compleatur nisi per finem.

na medida em que é eficiente, na

Igitur istae duae causae, scilicet materia et

substância e na complementação, visto que

efficiens, sunt prius per viam generationis;

a ação do eficiente não se completa senão

sed forma et finis sunt prius per viam

pelo fim. Portanto, estas duas causas, a

perfectionis.

saber, a material e a eficiente, são anteriores pela via da geração; mas a formal e a final são anteriores pela via da perfeição. Et notandum quod duplex

E deve-se notar que há dois tipos de

est necessitas: scilicet necessitas absoluta

necessidade,

et necessitas conditionalis.

absoluta e a necessidade condicional.

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a

saber:

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a

necessidade

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Tradução - Thomas Aquinatis, De principiis naturae Capita III – IV

Necessitas quidem absoluta est

Com efeito, a necessidade absoluta

quae procedit a causis prioribus in viam

é a que procede das causas anteriores pela

generationis, quae sunt materia et efficiens:

via da geração, que são [as causas]

sicut necessitas mortis quae provenit ex

material

materia et ex dispositione contrariorum

necessidade da morte que provém da

componentium; et haec dicitur absoluta

matéria e da disposição dos componentes

quia non habet impedimentum. Haec etiam

contrários; e esta é dita “absoluta” porque

dicitur necessitas materiae.

não tem impedimentos. Esta também é dita

e

eficiente:

assim

como

a

“necessidade da matéria”. Necessitas

autem

Porém, a necessidade condicional

conditionalis in

procede das causas posteriores na geração,

generatione, scilicet a forma et fine: sicut

a saber, da formal e da final: assim como

dicimus

esse

dizemos que é necessário haver concepção

conceptionem, si debeat generari homo; et

caso um homem deva ser gerado; e esta é

ista est conditionalis, quia hanc mulierem

“condicional” porque não é necessário, em

concipere non est necessarium simpliciter,

sentido absoluto, esta mulher conceber,

sed sub conditione, si debeat generari

mas sob condição, caso deva ser gerado

homo. Et haec dicitur necessitas finis.

um homem. E esta é dita “necessidade do

procedit

a

causis

quod

posterioribus

necessarium

est

fim”. Et est sciendum quod tres causae

E deve-se saber que três causas

possunt incidere in unum, scilicet forma,

podem sobrevir a um único [sujeito], a

finis, et efficiens: sicut patet in generatione

saber, a formal, a final e a eficiente: assim

ignis. Ignis enim generat ignem, ergo ignis

como é evidente na geração do fogo. Pois o

est causa efficiens inquantum generat; et

fogo gera o fogo, logo o fogo é causa

iterum ignis est forma inquantum facit esse

eficiente na medida em que gera; e,

actu quod prius erat potentia; et iterum est,

novamente, o fogo é [causa] formal na

finis inquantum est intentum ab agente et

medida em que faz ser em ato o que antes

inquantum

estava em potência; novamente, é [causa]

terminantur

ad

ipsum

final na medida em que foi pretendido pelo

operationes ipsius agentis.

agente e na medida em que as operações do próprio agente concluem-se no próprio. Sed duplex est finis, scilicet finis

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Mas, há dois tipos de fim, a saber, o

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generationis, et finis rei generatae: sicut

fim da geração e o fim da coisa gerada:

patet in generatione cultelli. Forma enim

assim como é evidente na geração da faca.

cultelli est finis generationis; sed incidere,

Pois a forma da faca é o fim da geração;

quod est operatio cultelli, est finis ipsius

mas o cortar, que é a operação da faca, é o

generati, scilicet cultelli. Finis autem

fim do próprio gerado, a saber, a faca.

generationis concidit ex duabus dictis

Porém, o fim da geração às vezes coincide

causis

fit

com duas das causas ditas, a saber, quando

generatio a simili in specie, sicut homo

a geração é feita pelo semelhante na

generat hominem, et oliva olivam: quod

espécie: assim como o homem gera o

non potest intelligi de fine rei generatae.

homem, e a oliveira, a oliveira, o que não

aliquando,

scilicet

quando

pode ser entendido do fim da coisa gerada. Sciendum autem quod finis incidit

Porém, deve-se saber que o fim

cum forma in idem numero, quia illud

coincide com a forma no numericamente o

idem in numero quod est forma generati est

mesmo porque este numericamente o

finis generationis. Sed cum efficiente non

mesmo, que é a forma da [coisa] gerada, é

incidit in idem numero, sed in idem specie.

o fim da geração. Mas, com o eficiente,

Impossibile est enim ut faciens et factum

não coincide no numericamente o mesmo,

sint idem numero, sed possunt esse idem

mas na mesma espécie. Pois é impossível

specie: ut quando homo generat hominem,

que o produtor e o produzido sejam

homo generans et generatus sunt diversa in

numericamente o mesmo, mas podem ser o

numero sed idem in specie.

mesmo pela espécie: tal como quando o homem gera o homem, o homem que gera e o que é gerado são numericamente distintos, mas [são] o mesmo em espécie.

Materia autem non concidit cum

Porém, a [causa] material não

aliis, quia materia, ex eo quod est ens in

coincide com as outras [causas] porque a

potentia, habet rationem imperfecti, sed

matéria, a partir disso que é ente em

aliae causae cum sint actu, habent rationem

potência, tem a razão do imperfeito, mas as

perfecti; perfectum autem et imperfectum

outras causas, visto que são em ato, têm a

non concidunt in idem.

razão do perfeito; porém, o perfeito e o imperfeito não coincidem no mesmo.

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Tradução - Thomas Aquinatis, De principiis naturae Capita III – IV

Referência AQUINATIS, T. "Quod sunt quatuor generes causarum"; "De concidentia et de prioritate causarum". In: AQUINATIS, T. De principiis naturae. Disponível em http://www.corpusthomisticum.org/opn.html. Acesso em 01 maio 2008.

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TRADUÇÃO THOMAS AQUINATIS DE PRINCIPIIS NATURAE CAPITA V - VI TOMÁS DE AQUINO OS PRINCÍPIOS DA NATUREZA CAPÍTULOS V - VI

Luciana Rohden da Silva* Thiago Soares Leite** ___________________________________________________________________________ RESUMO: Com estes dois capítulos, concluímos a tradução do opúsculo De Principiis Naturae, de Tomás de Aquino (para o primeiro capítulo, ver Intuitio, 1/1 (2008), p. 125-9; para o segundo, Intuitio 1/2 (2008), p. 329-35; para os capítulos três e quatro, ver esta edição de Intuitio). O quinto capítulo é dedicado aos muitos modos nos quais cada uma dessas causas pode ser dividida. Finalmente, o sexto capítulo trata da predicação equívoca, unívoca e análoga.

ABSTRACT: With these two chapters, we finish the translation of Thomas Aquinas’ De Principiis Naturae (for the first one, see Intuitio, 1/1 (2008), p. 125-9; for the second chapter, see Intuitio 1/2 (2008), p. 329-35; for chapters three and four, see this number of Intuitio). The fifth chapter is dedicated to many modes into which each of those causes can be divided. Finally, the sixth chapter deals with equivocal, univocal and analogical predication.

PALAVRAS-CHAVE: Tomás de Aquino. Princípios da Natureza. Cosmologia Medieval.

KEY WORDS: Thomas Aquinas. Principles of Nature. Medieval Cosmology.

Caput V – De modis quibus singulae

Capítulo V – Dos modos pelos quais

causae accipi possunt

cada causa pode ser considerada

Viso igitur quod sint quatuor causae,

materialis,

causas, a saber, eficiente, material, formal

formalis et finalis, sciendum est quod

e final, deve-se saber que qualquer uma

*

scilicet

efficiens,

Portanto, visto que quatro são as

Doutoranda em Filosofia/PUCRS – Bolsista e pesquisadora/CNPq. Contato: lucianarohden@yahoo.com.br Doutorando em Filosofia/PUCRS – Bolsista e pesquisador/CNPq. Contato: thiagoleiteuerj@hotmail.com

**

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dividitur

destas causas é dividida em muitos modos,

multis modis. Dicitur enim aliquid causa

pois algo é dito “causa” primeiramente e

per prius, et aliquid per posterius, sicut

algo,

dicimus quod ars et medicus sunt causa

como dizemos que a arte e o médico são

sanitatis: sed ars est causa per prius, et

causas

medicus per posterius; et similiter in causa

primeiramente

formali, et in aliis causis. Et nota quod

posteriormente; e, de modo semelhante, em

semper debemus reducere quaestionem ad

relação à causa formal e às demais causas.

primam causam, ut si quaeratur: quare est

E nota que sempre devemos reduzir a

iste sanus? Dicendum est: quia medicus

questão à causa primeira, tal como se fosse

sanavit et iterum, quare medicus sanavit

perguntado: “por que ele é saudável?”.

propter artem sanandi quam habet.

Deve-se dizer: “porque o médico [o]

quaelibet

istarum

causarum

[“causa”]

da

posteriormente,

saúde.

assim

Mas

a

arte

e

o

medico,

causa,

é

curou”, e, novamente, “por que o médico [o] curou?”, “por causa da arte de curar que ele tem”. Sciendum est quod idem est dictu

Deve-se saber que dizer “causa

causa propinqua quod causa posterior, et

próxima” é o mesmo que dizer “causa

causa remota quod causa prior. Unde istae

posterior”, e “causa remota”, que “causa

duae divisiones causarum: alia per prius,

anterior”. Donde, estas duas divisões, a

alia per posterius; et causarum alia remota,

saber, entre causa anterior e posterior e

alia propinqua, idem significant.

entre causa remota e próxima, significarem o mesmo.

Hoc autem observandum est, quod

Porém,

deve-se

observar

isto:

semper illud quod universalius est, causa

sempre aquilo que é mais universal é dito

remota dicitur, quod autem specialius,

“causa remota”, e, o que [é] mais

causa propinqua: sicut dicimus quod forma

específico, “causa próxima”: assim como

hominis

definitio,

dizemos que a forma próxima de homem é

scilicet animal rationale mortale, sed

sua definição, a saber, animal racional

animal est magis remota, et iterum

mortal; mas “animal” é mais remota, e,

substantia remotior est. Omnia enim

novamente, “substância” é a mais remota.

superiora sunt formae inferiorum. Et

Pois, todas as coisas superiores são formas

propinqua

Intuitio

est

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sua

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similiter

materia

idoli

propinqua

est

das inferiores. E, de modo semelhante, a

cuprum, sed remota est metallum, et iterum

matéria próxima da estátua é o cobre, mas

remotius corpus.

a remota é “metal”, e, novamente, a mais remota, “corpo”.

Item causarum alia est per se, alia

Igualmente, algumas das causas são

per accidens. Causa per se dicitur causa

por si, outras, por acidente. É dita “causa

alicuius rei inquantum huiusmodi, sicut

por si” a causa de alguma coisa enquanto

aedificator est causa domus, et lignum

tal: assim como o construtor é causa da

materia scamni. Causa per accidens est illa

casa, e a madeira, matéria do banco. É

quae accidit causae per se, sicut cum

“causa por acidente” aquela que acontece

dicimus

aedificat.

[junto] à causa por si: assim como quando

causa

dizemos “o gramático constrói”. Pois, o

aedificationis per accidens, non enim

gramático é dito causa por acidente da

inquantum grammaticus, sed inquantum

construção, pois não [constrói] enquanto

accidit aedificatori. Et similiter est in aliis

gramático, mas enquanto acontece-lhe [ser]

causis.

construtor. E, de modo semelhante, é nas

Grammaticus

grammaticus enim

dicitur

demais causas. Item

causarum

quaedam

est

Igualmente,

certas

causas

são

simplex, et quaedam composita. Simplex

simples, outras, compostas. É dita “causa

causa dicitur quando solum dicitur causa

simples” somente quando a causa é dita

illud quod per se est causa, vel etiam solum

daquilo que é causa por si ou somente

illud quod est per accidens: sicut si

daquilo que é [causa] por acidente: assim

dicamus aedificatorem esse causam domus,

como se disséssemos ser o construtor causa

et similiter si dicamus medicum esse

da casa, e, de modo semelhante, se

causam domus. Composita autem dicitur

disséssemos ser o médico causa da casa.

quando utrumque dicitur causa, ut si

Porém, é dita “composta” quando a causa é

dicamus: aedificator medicus est causa

dita de ambos: tal como se disséssemos “o

domus.

construtor médico é causa da casa”. Potest etiam dici causa simplex,

“Causa simples” também pode ser

secundum quod exponit Avicenna, illud

dita, segundo o que expõe Avicena, aquilo

quod sine adiunctione alterius est causa,

que, sem o acréscimo de outro, é causa:

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sicut cuprum idoli, sine adiunctione enim

assim como o cobre da estátua, pois, sem o

alterius materiae ex cupro fit idolum; et

acréscimo de outra matéria, a estátua é

sicut dicitur quod medicus facit sanitatem,

feita do cobre; e assim como é dito que o

vel quod ignis calefacit. Composita autem

médico produz a saúde ou que o fogo

causa est, quando oportet plura advenire ad

aquece. Porém, a causa é composta quando

hoc quod sit causa: sicut unus homo non

é preciso sobrevir muitas coisas para isto

est causa motus navis, sed multi; et sicut

que venha a ser causa: assim como um

unus lapis non est materia domus, sed

único homem não é causa do movimento

multi.

do navio, mas muitos; e assim como uma única pedra não é matéria da casa, mas muitas. Item causarum quaedam est actu,

Igualmente, certas causas estão em

quaedam potentia. Causa in actu est quae

ato, outras, em potência. “Causa em ato” é

actu causat rem, sicut aedificator cum

a que causa a coisa em ato: assim como o

aedificat, vel cuprum cum ex eo est

construtor quando constrói ou o cobre

idolum. Causa autem in potentia est quae

quando, a partir dele, há estátua. Porém,

licet non causet rem in actu, tamen potest

“causa em potência” é a que, embora não

causare: ut aedificator, dum non aedificat.

cause a coisa em ato, contudo pode causála: tal como o construtor, enquanto não constrói.

Et sciendum quod loquendo de

E deve-se saber que, falando das

causis in actu, necessarium est causam et

causas em ato, é necessário causa e

causatum simul esse, ita quod si unum sit,

causado serem simultâneos, de tal sorte

et alterum. Si enim est aedificator in actu,

que, se há um, também, o outro. Pois, se o

oportet quod aedificet; et si sit aedificatio

construtor está em ato, é preciso que

in actu, oportet quod sit aedificator in actu.

construa; e se a construção está em ato, é

Sed hoc non est necessarium in causis quae

preciso que o construtor esteja em ato. Mas

sunt solum in potentia.

isto não é necessário nas causas que estão somente em potência.

Sciendum est autem quod causa universalis comparatur causato universali,

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Porém, deve-se saber que “causa universal”

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é

comparada

a

“causado

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causa vero singularis comparatur causato

universal”; todavia, “causa singular” é

singulari: sicut dicimus quod aedificator

comparada a “causado singular”: assim

est causa domus, et hic aedificator huius

como dizemos que o construtor é causa da

domus.

casa, e este construtor, desta casa. Portanto, visto que quatro são as

Viso igitur quod sint quatuor materialis,

causas, a saber, eficiente, material, formal

formalis et finalis, sciendum est quod

e final, deve-se saber que qualquer uma

quaelibet

dividitur

destas causas é dividida em muitos modos,

multis modis. Dicitur enim aliquid causa

pois algo é dito “causa” primeiramente e

per prius, et aliquid per posterius, sicut

algo,

dicimus quod ars et medicus sunt causa

como dizemos que a arte e o médico são

sanitatis: sed ars est causa per prius, et

causas

medicus per posterius; et similiter in causa

primeiramente

formali, et in aliis causis. Et nota quod

posteriormente; e, de modo semelhante, em

semper debemus reducere quaestionem ad

relação à causa formal e às demais causas.

primam causam, ut si quaeratur: quare est

E nota que sempre devemos reduzir a

iste sanus? Dicendum est: quia medicus

questão à causa primeira, tal como se fosse

sanavit et iterum, quare medicus sanavit

perguntado: “por que ele é saudável?”.

propter artem sanandi quam habet.

Deve-se dizer: “porque o médico [o]

causae,

scilicet

efficiens,

istarum

causarum

[“causa”]

da

posteriormente,

saúde. causa,

assim

Mas

a

arte

é

e

o

medico,

curou”, e, novamente, “por que o médico [o] curou?”, “por causa da arte de curar que ele tem”. Sciendum est quod idem est dictu

Deve-se saber que dizer “causa

causa propinqua quod causa posterior, et

próxima” é o mesmo que dizer “causa

causa remota quod causa prior. Unde istae

posterior”, e “causa remota”, que “causa

duae divisiones causarum: alia per prius,

anterior”. Donde, estas duas divisões, a

alia per posterius; et causarum alia remota,

saber, entre causa anterior e posterior e

alia propinqua, idem significant.

entre causa remota e próxima, significarem o mesmo.

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Caput

VI

De

convenientia

et

differentia principiorum

Capítulo VI – Da concordância e da diferença dos princípios

Sciendum est etiam quod loquendo

Deve-se saber também que, falando

de principiis intrinsecis, scilicet materia et

dos princípios intrínsecos, a saber, matéria

forma,

e forma, há a concordância e a diferença

secundum

convenientiam est

dos princípios segundo a concordância e a

convenientia et differentia principiorum:

diferença do que é principiado, pois alguns

quaedam enim sunt idem numero, sicut

são numericamente o mesmo: assim como

Socrates et hic homo demonstrato Socrate;

Sócrates e “este homem” indicado de

quaedam sunt diversa numero et sunt idem

Sócrates.

in specie, ut Socrates et Plato, qui, licet

distintos, mas são o mesmo na espécie: tal

conveniant in specie humana, tamen

como Sócrates e Platão, que, embora

differunt

autem

concordem na espécie humana, contudo

differunt specie, sed sunt idem genere,

diferem numericamente. Porém, outros

sicut homo et asinus conveniunt in genere

ainda diferem pela espécie, mas são o

animalis; quaedam autem sunt diversa in

mesmo pelo gênero: assim como “homem”

genere, sed sunt idem solum secundum

e “asno” concordam no gênero “animal”.

analogiam, sicut substantia et quantitas,

Porém, outros mais são distintos no

quae non conveniunt in aliquo genere, sed

gênero, mas são o mesmo apenas segundo

conveniunt solum secundum analogiam:

a analogia: assim como a substância e a

conveniunt enim in eo solum quod est ens.

quantidade, que não concordam em gênero

Ens autem non est genus, quia non

algum, mas concordam apenas segundo a

praedicatur univoce, sed analogice.

analogia, pois concordam apenas nisto que

principiatorum

et

numero.

differentiam

Quaedam

Outros

são

numericamente

é ente. Porém, “ente” não é gênero porque não

é

predicado

univocamente,

mas

analogamente. Ad huius intelligentiam sciendum

Para o entendimento disto, deve-se

est, quod tripliciter aliquid praedicatur de

saber que, de muitas coisas, algo é

pluribus: univoce, aequivoce et analogice.

predicado

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de

três

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modos:

unívoca,

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equivoca e analogamente. quod

É predicado univocamente o que é

praedicatur secundum idem nomen et

predicado segundo o mesmo nome e

secundum

idest

segundo a mesma razão, i.e., [segundo a

definitionem, sicut animal praedicatur de

mesma] definição: assim como “animal” é

homine et de asino. Utrumque enim dicitur

predicado de “homem” e de “asno”, pois

animal, et utrumque est substantia animata

“animal” é dito de ambos, e [em] ambos

sensibilis, quod est definitio animalis.

está a substância sensível animada, que é a

Univoce

praedicatur

rationem

eamdem,

definição de animal. quod

É predicado equivocamente o que é

praedicatur de aliquibus secundum idem

predicado de algumas coisas segundo o

nomen, et secundum diversam rationem:

mesmo

sicut canis dicitur de latrabili et de caelesti,

distintas: assim como “cão” é dito do que

quae conveniunt solum in nomine, et non

ladra e do celeste, os quais concordam

in definitione sive significatione: id enim

somente no nome, mas não na definição ou

quod significatur per nomen, est definitio,

significação, pois isso que é significado

sicut dicitur in quarto Metaph.

pelo nome é a definição, assim como está

Aequivoce

praedicatur,

nome,

mas

segundo

razões

dito no quarto livro da Metafísica. Analogice dicitur praedicari, quod

É

dito

“ser

predicado

praedicatur de pluribus quorum rationes

analogamente” o que é predicado de

diversae sunt sed attribuuntur uni alicui

muitas coisas, dentre as quais as razões são

eidem: sicut sanum dicitur de corpore

distintas, mas são atribuídas a um único

animalis et de urina et de potione, sed non

algo idêntico: assim como “saudável” é

ex toto idem significat in omnibus. Dicitur

dito do corpo do animal, da urina e da

enim de urina ut de signo sanitatis, de

poção, mas não significa inteiramente o

corpore ut de subiecto, de potione ut de

mesmo em todos, pois é dito da urina tal

causa; sed tamen omnes istae rationes

como do sinal da saúde, do corpo, tal como

attribuuntur uni fini, scilicet sanitati.

do sujeito, da bebida, tal como da causa; mas, não obstante, todas estas razões são atribuídas a um único fim, a saber, à saúde.

Aliquando enim ea quae conveniunt

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Pois,

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às

vezes,

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aqueles

que

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Luciana Rohden da Silva e Thiago Soares Leite Tradução - Thomas Aquinatis, De principiis naturae Capita V -VI

secundum analogiam, id est in proportione

concordam segundo a analogia, i.e., em

vel

uma proporção ou em uma comparação ou

comparatione

vel

convenientia, in

em uma concordância, são atribuídos a um

praedicto exemplo; aliquando uni agenti,

único fim, assim como é evidente no

sicut medicus dicitur et de eo qui operatur

exemplo antes citado; às vezes, a um único

per artem et de eo qui operatur sine arte, ut

agente, assim como “médico” é dito tanto

vetula, et etiam de instrumentis, sed per

daquilo que opera por arte quanto daquilo

attributionem ad unum agens, quod est

que

medicina;

per

curandeira, e também dos instrumentos, e

attributionem ad unum subiectum, sicut

[ambos] por atribuição a um único agente,

ens dicitur de substantia, de qualitate et

que é a medicina; porém, às vezes, por

quantitate et aliis praedicamentis. Non

atribuição a um único sujeito: assim como

enim ex toto est eadem ratio qua substantia

“ente” é dito da substância, da qualidade,

est ens, et quantitas, et alia, sed omnia

da quantidade e das outras categorias. Pois,

dicuntur

a razão não é inteiramente a mesma pela

attribuuntur

uni

fini,

sicut

aliquando

ex

eo

quod

patet

autem

attribuuntur

substantiae, quod est subiectum aliorum.

opera

sem

arte:

tal

como

da

qual a substância é ente, e a quantidade, e as outras [categorias], mas todas são ditas [entes] a partir disso, porque são atribuídas à substância, que é o sujeito das outras [categorias].

Et ideo ens dicitur per prius de

E,

por

isso, da

“ente”

é

dito

substância

e

substantia, et per posterius de aliis. Et ideo

primeiramente

ens non est genus substantiae et quantitatis,

posteriormente das outras [categorias]. E,

quia nullum genus praedicatur per prius et

por isso, “ente” não é gênero da substância

posterius de suis speciebus, sed praedicatur

e da quantidade, porque nenhum gênero é

analogice. Et hoc est quod diximus quod

predicado primeiramente e posteriormente

substantia et quantitas differunt genere, sed

de suas espécies, mas [“ente”] é predicado

sunt idem analogia.

analogamente. E isto é o porquê dissemos que a substância e a quantidade diferem pelo gênero, mas são as mesmas pela analogia.

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idem

Portanto, dentre aqueles que são

numero, forma et materia sunt idem

numericamente o mesmo, forma e matéria

numero, ut Tullii et Ciceronis. Eorum

são numericamente as mesmas, tal como

autem quae sunt idem in specie diversa

[as] de Túlio e de Cícero. Porém, dentre

numero, etiam materia et forma non est

aqueles que são os mesmos na espécie,

eadem numero, sed specie, sicut Socratis et

[mas] numericamente distintos, também

Platonis. Et similiter eorum quae sunt idem

matéria e forma não são numericamente as

genere, et principia sunt idem genere: ut

mesmas, mas, pela espécie, assim como

anima et corpus asini et equi differunt

[as] de Sócrates e de Platão. E, de modo

specie, sed sunt idem genere. Et similiter

semelhante, dentre aqueles que são os

eorum

secundum

mesmos pelo gênero, também os princípios

analogiam tantum, principia sunt eadem

são os mesmos pelo gênero: tal como a

secundum

sive

alma e o corpo do asno e do cavalo diferem

proportionem. Materia enim et forma et

pela espécie, mas são os mesmos pelo

privatio, sive potentia et actus, sunt

gênero. E, de modo semelhante, dentre

principia substantiae et aliorum generum.

aqueles que concordam apenas segundo a

Eorum

igitur

quae

quae

conveniunt

analogiam

sunt

tantum,

analogia, os princípios são os mesmos apenas segundo a analogia ou a proporção, pois matéria, forma e privação, ou potência e ato, são princípios da substância e dos outros gêneros. Tamen

materia

et

Contudo, a matéria da substância e

quantitatis, et similiter forma et privatio

[a] da quantidade diferem pelo gênero, e,

differunt genere, sed conveniunt solum

de modo semelhante, a forma e a privação,

secundum proportionem in hoc quod, sicut

mas concordam somente segundo uma

se habet materia substantiae ad substantiam

proporção nisto que, assim como a matéria

in ratione materiae, ita se habet materia

da substância está para a substância na

quantitatis ad quantitatem. Sicut tamen

razão da matéria, também a matéria da

substantia

est

quantidade

principia

substantiae

causa

substantiae

ceterorum, sunt

ita

principia

para

a

quantidade.

Contundo, assim como a substância é causa das demais coisas, também os

omnium aliorum.

Intuitio

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princípios da substância são princípios de todos os outros.

Referência AQUINATIS, T. "De modis quibus singulae causae accipi possunt"; "De convenentia et differentia principiorum". In: AQUINATIS, T. De principiis naturae. Disponível em http://www.corpusthomisticum.org/opn.html. Acesso em 01 maio 2008.

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