Nekyia

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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Projeto de Conclusão de Curso em Design de Produto

Carlos Eduardo Hara Orientação: Cláudio Roberto y Goya Bauru, fevereiro de 2014



À minha família, todos os amigos e professores que contribuiram nessa aventura fantástica. Não seria a mesma coisa sem vocês, obrigado! Agradecimentos especiais a Ivy Kawakami por fotografar; Jade Kawakami e Nohele Albieri pela costura; Renan Martins por servir de modelo, além de emprestar o estúdio; e Lilian Hara pela revisão do texto, mesmo eu passando tudo de última hora.



Apresentação Não me lembro ao certo do primeiro contato que tive com os mitos. Talvez o livro sobre Grécia Antiga que ficava guardado no fundo da estante da sala, as histórias que minha batian contava ou, ainda, algum desenho dos anos 90. Mais tarde, porém, lembro-me da primeira vez que li Sandman, escrito por Neil Gaiman. A narrativa era uma mistura sombria de mistério e terror (pelo menos nos primeiros arcos), e soava como um segredo sendo contado tarde da noite. Repleta de personagens e referências mitológicas (que eu mal conhecia na época), acabou criando uma complexa mitologia própria costurada por fios oníricos. Desde então, li, de modo quase obsessivo, confesso, várias outras obras do autor, da qual destaco o romance Deuses Americanos, a coletânea de contos Fumaça e Espelhos e o livro mais recente, O Oceano no Fim do Caminho (este último é bem curtinho, bom para os não iniciados). Sua sensibilidade e profundo conhecimento do assunto despertaram meu interesse pelo estudo da crença. Apesar de seguir uma linha mais psicológica sobre os mitos do que propriamente literária, Gaiman foi a principal inspiração deste trabalho.

Ilustração por Yoshitaka Amano extraída da graphic novel “Sandman: Os Caçadores de Sonhos”.


Alguns Aspectos do Mito 13 Crença e Significado 16 Mitologia da Memória e do Esquecimento 18 A Linguagem dos Símbolos 22 Mitos Contemporâneos 26 Trajes Simbólicos


Criação do Traje 31 Sketch e Costura 39 Fotografia e Tratamento

Nekyia 59 Editorial

Palavras Finais 77 Conclusão 78 Bibliografia



“Perto da região cimeriana, numa caverna da montanha, fica a morada do Deus do Sono. Ali Febo não ousa entrar, nem ao se levantar, nem ao meiodia, nem quando se recolhe. Nuvens e sombras erguem-se do chão e a luz brilha fracamente. A ave da alvorada, de vermelha crista, jamais ali chama, em voz alta, Aurora, nem o vigilante cão ou solerte ganso perturbam o silêncio. Nem animal selvagem, nem o gado, nem um ramo movido pelo vento, nem o ruído da conversa humana afetam a quietude. O silêncio ali reina; do fundo do rochedo, contudo, corre o Rio Letes, e seu murmúrio convida ao sono. Junto à entrada da caverna, crescem abundantemente papoulas e outras plantas, de cuja a Noite extrai o sono, que espalha sobre a terra escurecida. Não há na mansão porta que gema nos gonzos, nem qualquer vigia; mas, no centro, um leito de negro ébano, adornado com plumas e cortinas negras. Ali o deus se recosta, com os membros relaxados pelo sono. Em torno dele, estão os sonhos, apresentando todos várias formas, tantas quantas hastes têm os trigais, quantas folhas tem a floresta, ou quantos grãos de areia têm as praias.” Thomas Bulfinch, em “As Alcíones”

Imagem: Shutterstock

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Alguns Aspectos do Mito


Crença e Significado O mito é um dos sinais mais fortes da presença humana no mundo. Os mitos explicam e recriam o universo e nos contam histórias que não são exatamente verdadeiras, mas também não são ficcionais. Talvez por isso o poeta português Fernando Pessoa tenha dito que “o mito é o nada que é tudo”. Por meio de símbolos, imagens e palavras, eles nos ajudam a conhecer a fundo 1

culturas distantes no tempo e no espaço.

Antes das religiões que conhecemos, nos tem-

mais do que isso, vivenciá-lo mais uma vez.

pos arcaicos da humanidade quando os mitos ainda eram vivos, todo o mundo era cercado

Psicologicamente, o homem antigo ignora a

de significado e mistério. Cada ser e objeto

irreversibilidade do tempo, libertando-se de

revelava uma história e, por isso, a natureza

seu peso, e transcendendo a consciência me-

era inteligível, conversando com o homem

diante a crença. Tal contato com o sagrado

através de sua própria linguagem.

traz sentido existencial a vida, pois passa a compreender todo o cosmo e seu papel den-

Essas histórias, hoje chamadas de mitos, se

tro dele. O mito, tomado como verdade ab-

passam num período primordial de criação,

soluta, torna-se modelo exemplar para todo

fora da realidade humana. Porém, é a intera-

comportamento e atividades do dia a dia.

ção dos entes sobrenaturais (deuses e outras divindades), bem como os ancestrais míticos

Em meios práticos, conhecer os mitos é saber

do homem nesse dado momento, que resul-

o segredo da origem das coisas. Eles conferem

tam no mundo como ele é. Acreditava-se que,

um poder mágico àqueles que recitam e dan-

ao contá-los e atualizá-los por meio de rituais,

çam no ritmo certo, podendo, por exemplo,

era possível ter acesso a esse estado sagrado e,

dominar e reproduzir animais e plantas.

1 CATÁLOGO Infantojuvenil Cosac Naify 2012.

13


Há uma imagem do deus Shiva rodeado por círculos de chamas, anéis de fogo. É a dança do mundo; o dançarino cuja dança é o universo. E nesta mão [direita], ele tem um tamborzinho que faz tic-tic-tic – é o tambor do tempo. É o tic-tac do tempo, que exclui a eternidade, e nós estamos fechados dentro dele. Na outra mão, há uma labareda que queima o véu do tempo e nos abre para a eternidade. E, no cabelo, ele tem uma caveira e uma lua 2

nova, a morte e o renascimento ao mesmo tempo, o momento do “vir-a-ser”.

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Imagem: Shutterstock. 2 O PODER do Mito. Direção: Bill Moyers. Produção: Apostrophe S Productions. In.: COLEÇÃO O Poder do Mito. Barueri: Log On, 2001. 4 DVDs, v. 2, cap. 3 (180 min), NTSC, color.


Recitando o mito de origem, obriga-se o arroz a crescer tão belo, vigoroso e abundante como era quando apareceu pela primeira vez. Não é com o fim de “instruí-lo” ou ensinar-lhe a maneira como deve comportar-se que o oficiante lembra o arroz o modo como foi criado. Ele o força magicamente a 3

retornar à origem, isto é, a reiterar sua criação exemplar.

Os mitos, a priori, não tem função de entre-

nascer mais uma vez da terra.

4

tenimento. Eles resolvem e exprimem questões essenciais a vida, do nascimento à mor-

A ioga e o budismo, apesar de não buscarem

te. Em alguns rituais de cura, por exemplo,

essa cura de mesma essência, mas uma liber-

é desenhada uma mandala representando a

tação espiritual, também lidam com a ques-

cosmogonia, ao mesmo tempo em que o fei-

tão do tempo por meio do karma. Com sua

ticeiro entoa cantos místicos: o enfermo é

técnica e filosofia contemplativa, percorre-se

envolvido por essa atmosfera e é projetado

o tempo ao inverso até atingir a ausência do

para fora do tempo profano, contemplando a

mesmo, a eternidade que precede qualquer

criação do mundo. O propósito desse tipo de

existência. Essa experiência transcendental

tratamento terapêutico com retorno a ori-

sobre aquilo que está além de nosso pensa-

gem não é exatamente “reparar”, mas fazer

mento apresenta-se de diversas formas, sendo

com que o doente, de uma forma simbólica,

o âmago de todas as mitologias.

nasça novamente. Na medicina tradicional indiana, isso fica ainda mais evidente quan-

Nas palavras de Joseph Campbell, o mito não

do anciãos, para rejuvenescer, são enterrados

é um fato, é uma metáfora; assim como vivê-

numa cova com formato de útero, a fim de

lo é participar de um poema.

3 ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2011, p. 19. 4 Ibid., p. 77. 5 CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 1990.

5

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Mitologia da Memória e do Esquecimento

Para entender as metáforas nos mitos, dentre

Essa narrativa, que possui diversas versões,

os muitos tipos existentes, como os escatoló-

faz claramente analogia entre esquecimento,

gicos (fim do mundo), de iniciação ou repro-

cativeiro e morte. Em outras palavras, a igno-

dução, talvez um dos mais didáticos seja o da

rância conduziu o mestre à condição huma-

memória e do esquecimento cunhado por

na. Quando é desperto, a sabedoria da Ioga

Mircea Eliade.

torna seu corpo “perfeito” novamente.

Em uma lenda da idade média indiana, o mes-

Na Grécia, encontramos outro mito similar.

tre iogue Matsyendranâth se apaixona pela

A deusa Mnemósine, personificação da me-

rainha de Ceilão e permanece em seu palácio,

mória, é a mãe das Musas. Segundo o poeta

perdendo totalmente a memória e identida-

Hesíodo, ela sabe “tudo o que foi, tudo o que

de. Seu discípulo, Gorakhnâth, percebendo

é, tudo o que será”. Assim, possuído pelas

que seu mestre está condenado à morte, des-

Musas, o poeta é inspirado diretamente pelo

ce ao reino de Yama, examina o livro do des-

conhecimento das origens, tempo primordial

tino, e retira o nome de Matsyendranâth da

da criação. Em contraposto, os mortos be-

lista dos mortos. Em seguida, vai até ele sob

bem das águas do rio Letes, localizado dentro

a forma de uma bailarina e começa a dançar

dos domínios de Hades, a fim de caírem no

e entoar canções enigmáticas. Secretamente,

completo esquecimento e, então, reencar-

por meio de símbolos, Matsyendranâth vai

nar. Aqui, a deslembrança não é mais ligada à

recordando sua verdadeira identidade e reto-

morte, mas ao retorno a vida.

6

ma a imortalidade.

16

6 ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2011.


O que esse incidente sugere sobre a nossa compreensão de metáfora? Ele me fez refletir que metade da população mundial acha que as metáforas de suas tradições religiosas, por exemplo, são fatos. E a outra metade afirma que não são fatos de forma alguma. O resultado é que temos indivíduos que se consideram fiéis porque aceitam as metáforas como fatos, e outros se julgam ateus porque acham que as metáforas religiosas são mentiras.

7

Portanto, há duas ideias principais de memó-

do sono, irmão gêmeo de Tanatos, o deus da

ria: uma a que se refere aos eventos de criação,

morte. A relação de sono, morte e esquecimen-

e outra a eventos pessoais de vidas passadas.

to é clara em vários mitos. Na mitologia cristã,

Platão nada mais faz que reinterpretar esses

Jesus pede a seus discípulos que fizessem vigí-

conceitos ao dizer que aprender ou criar algo

lia para velar sua morte. Por vezes, no entanto,

é rememorá-lo do mundo das ideias. Ou seja,

eles não aguentam e acabam adormecendo. A

durante a vida, através de objetos físicos, va-

vigília é também uma prova iniciatória bastan-

mos recobrando a memória do conhecimento

te comum. Em certas tribos indígenas, garotos

original. A morte seria a volta ao mundo das

iniciados são proibidos de dormir durante três

ideias, bem como a reencarnação implica em

dias, ou que se deitem antes do amanhecer.

seu esquecimento completo.

Deste modo, vemos que o não dormir é mais do que uma prova física, mas estar consciente,

Ainda na mitologia grega, temos Hipnos, deus

8

transcender a própria condição humana.

Imagem: HODLER, Ferdinand. Noite. 1890. Óleo sobre tela, 116 x 239 cm. Kunstmuseum Bern, Berna. Wikimedia Commons. 7 A JORNADA do Herói. Direção: David Kennard e Janelle Balnicke. Produção: William Free. In.: COLEÇÃO O Poder do Mito. Barueri: Log On, 2001. 4 DVDs, v. 3, cap. 1 (60 min), NTSC, color. 8 ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2011.

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A Linguagem dos Símbolos É impossível compreender um mito como uma sequência contínua. Esta é a razão por que devemos estar conscientes de que se tentarmos ler um mito da mesma maneira que lemos uma novela ou um artigo de jornal, ou seja linha por linha, da esquerda para a direita, não poderemos chegar a entender o mito, porque temos de o apreender como uma totalidade e descobrir que o significado básico do mito não está ligado à sequência de acontecimentos, mas antes, se assim se pode dizer, a grupos de acontecimentos, ainda que tais acontecimentos ocorram em momentos diferentes da História. Portanto, temos de ler o mito mais ou menos como leríamos uma partitura musical, pondo de parte as frases musicais e tentando entender a página inteira, com a certeza de que o que está escrito na primeira frase musical da página só adquire significado se se considerar que faz parte e é uma parcela do que se encontra escrito na segunda, na terceira, na quarta e assim por diante. Ou seja, não só temos de ler da esquerda para a direita, mas simultaneamente na vertical, de cima para baixo. Temos de perceber que cada página é uma totalidade. E só considerando o mito como se fosse uma partitura orquestral, escrita frase por frase, é que o podemos entender como uma totalidade, e extrair o seu significado.

9

Ilustração por Mathew Borrett, “Exploring a Hypnagogic City”.

18

9 LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e Significado. Lisboa: Edições 70, 1978.


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Ao comparar mitos de diferentes civilizações

os já citados Herói, Velho Sábio, Bruxa, etc;

ao longo da história, percebemos que há uma

porém os mais básicos são o Self (centro de-

similaridade entre eles, não apenas no tema,

terminante da personalidade e que abrange

mas também em suas estruturas e ideias ele-

consciência e inconsciência), Sombra (tudo

mentais. Campbell, por exemplo, chama de

aquilo que não queremos ser), Anima/Ani-

monomito ou “Jornada do Herói”, uma suces-

mus (figura feminina contida no homem, e

são de eventos na qual o personagem sai de

vice-versa) e Persona (máscara usada perante

seu mundo comum (aquilo que lhe é cotidia-

a sociedade).

no) para entrar numa aventura com diversas provações. Ao final da jornada, o herói retor-

Quando o arquétipo passa a ser percebido

na para casa espiritualmente diferente e salva/

pelo consciente chamamos seu conteúdo de

acorda aqueles que ficaram. Outro padrão re-

“símbolo”. A partir desse conceito, entende-

corrente é o Eterno Retorno, que consiste nos

mos que os mitos são formados por uma rede

ciclos infinitos, tais como criação e destruição

de diferentes símbolos, gerando diferentes

do universo, nascimento e morte dos seres.

narrativas, mas ainda semelhantes entre si. Símbolos são produzidos espontaneamente

Com base nesse acontecimento, Carl Gustav

e fazem a ponte entre o consciente e incons-

Jung propõe o inconsciente coletivo, uma

ciente, por isso não é possível visualizá-los

parte da psique humana relacionada ao pen-

nem compreendê-los por completo. Essa ca-

samento instintivo presente em todos nós.

racterística enigmática faz com que a lingua-

Este lado obscuro e inacessível da mente é

gem dos mitos, ao mesmo tempo que explica

formado por arquétipos, estruturas vazias e

o mundo, oculte parte de seu significado, for-

imutáveis que preenchemos conforme expe-

mando a base do mistério fundamental das

riências pessoais e cultura em que estamos

religiões. A realidade transcendental equiva-

inseridos. Há inúmeros arquétipos, como

le, deste modo, à imersão no inconsciente.

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Ilustração por J. H. Williams III em Sandman Overture 1 escrita por Gaiman. Nela, vemos Morpheus, personificação do sonho, em algumas de suas diversas formas, assim como cada pessoa (no caso, qualquer ser que sonha) cria um símbolo diferente para um mesmo arquétipo.

Para ficar mais claro como o símbolo é apre-

sempre foi dividida em consciente e incons-

sentado, peguemos o arquétipo da Grande

ciente. Houve uma ruptura durante a evolução

Mãe. Ele assume a forma de Ísis, deusa da

do homem que nos proporcionou a pensar ra-

fertilidade na mitologia egípcia; Gaia, como

cionalmente e refletir. Em várias culturas pri-

Mãe Terra, na grega; Nossa Senhora, santa na

mitivas, observa-se o que chamam de “perda

Igreja Católica. Todas estão associadas a uma

da alma”, representando essa dissociação da

mesma ideia, ainda que tenham particulari-

consciência. Desde então, nos distanciamos

dades diferentes. Hera, irmã e esposa de Zeus,

cada vez mais das camadas instintivas, cercan-

é retratada como uma deusa opressora, per-

do-as com fronteiras rígidas e, consequente-

sonalidade completamente oposta as citadas

mente, acumulando neuroses. Como efeito

anteriormente. A nível pessoal, é a nossa mãe

compensador, essa parte do inconsciente se

biológica, madrasta ou aquela que represente

expressa por meio de imagens simbólicas den-

10

isso para nós.

tro dos sonhos, onde a consciência não pode julgar, nem fazer compreensível. “Mitos são

É interessante mencionar que a psique nem

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sonhos públicos, sonhos são mitos privados”.

10 PSICOLOGIA. Mitos e Design. Curitiba: Anticast, 03 mar. 2011. Podcast. 11 SUKHAVATI: Uma Jornada Mística. Direção e produção: Maxine Harris e Joseph Campbell Foundation. In.: COLEÇÃO O Poder do Mito. Barueri: Log On, 2001. 4 DVDs, v. 4, cap. 1 (60 min), NTSC, color.

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Mitos Contemporâneos A medida que aumenta o conhecimento científico, diminui o grau de humanização do nosso mundo. O homem sente-se isolado no cosmos porque, já não estando envolvido com a natureza, perdeu a sua “identificação emocional inconsciente” com os fenômenos naturais. E os fenômenos naturais, por sua vez, perderam aos poucos as suas implicações simbólicas. O trovão já não é a voz de um deus irado, nem o raio o seu projétil vingador. Nenhum rio abriga mais um espírito, nenhuma árvore é o princípio de vida do homem, serpente alguma encarna a sabedoria e nenhuma caverna é habitada por demônios. Pedras, plantas e animais já não têm vozes para falar ao homem e o homem não se dirige mais a eles na presunção de que possam entendê-lo. Acabou-se o seu contato com a natureza, e com ele foi-se também a 12

profunda energia emocional que esta conexão simbólica alimentava.

Com a racionalidade necessária para o desen-

século XIX. Em 1890, o xintoísmo foi adotado

volvimento científico e tecnológico, o homem

como religião de estado, sendo incluído no

se afasta cada vez mais de seu espírito. De

sistema educacional. Por consequência, acre-

modo geral, as grandes religiões não se atuali-

ditava-se que o imperador tinha ascendência

zaram, tornando-se antiquadas ao pensamen-

divina e que os japoneses eram superiores aos

to atual. Mais do que isso: longe de buscar

outros povos, fator decisivo para o país iniciar

alguma experiência sagrada, são usadas como

a Segunda Guerra Mundial. Apenas em 1946,

instrumentos econômicos, políticos e morais.

o imperador abdicou de sua condição divina. Hoje, o xintoísmo não tem mais nenhuma li-

Um dos maiores exemplos aconteceu no Ja-

gação política e a adoração aos deuses voltou

pão, com o crescente nacionalismo a partir do

a ser sua principal finalidade.

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12 JUNG, Carl G. O Homem e Seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. 13 BULLEN, Matthew. Guia Visual da Mitologia no Mundo. São Paulo: Ed. Abril, 2010.


Raijin, à esquerda, deus dos trovões, raios e tempestades no xintoísmo, e Fujin, deus dos ventos. Cada qual portando suas ferramentas: os tambores e o saco de ventos, respectivamente.

No cotidiano, vivemos um tempo heterogê-

Desta visão, podemos dizer que escritores,

neo, na qual o tempo profano, vazio e repe-

músicos, designers, artistas em geral que tra-

titivo, é contraposto ao sagrado em datas e

balham diretamente com o sensível, fazem o

ocasiões especiais. Para quem é crente, isso

papel de xamãs modernos. Manipulando sím-

fica mais evidente, pois o ano é marcado por

bolos por meio de palavras, imagens e sons,

diversos referenciais religiosos conforme seu

nos contam sobre suas crenças e experiências

axis mundi, eixo que organiza o tempo e es-

pessoais, alterando a percepção consciente. É

paço. Comumente, porém, fazemos planos e

claro que não podemos comparar a força de

comemoramos o ano novo como se iniciasse

um mito central a nenhuma arte ou tipo de

uma nova época, mesmo sendo este mais um

jogo. Sua total imersão se deve ao fato de que,

dia como outro qualquer; vestimos branco

antigamente, acreditava-se verdadeiramente,

e pulamos ondas, mas o universo é alheio a

vivia-se o mito a todo tempo, não simples-

tudo isso. Vemos assim, que o significado não

mente como uma forma de consumo.

está nos períodos, nem objetos, nós é que da14

mos sentido a eles.

Imagem: SOTATSU, Tawaraya. Deuses do Trovão e do Vento. Século 17. Folhas de ouro e tinta sobre papel, par de painéis dobráveis, 169,8 x 154,5 cm (cada). Kennin-ji, Quioto. Wikimedia Commons. 14 PONDÉ, Luiz Felipe. Tempo Sagrado, Tempo Profano. Disponível em: <http://www.cpflcultura.com.br/2009/07/10/ integra-tempo-sagrado-tempo-profano-luiz-felipe-ponde>. Acesso em: 30 jul. 2013.

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Mas a “saída do Tempo” produzida pela leitura – particularmente pela leitura de romances – é o que mais aproxima a função da literatura da das mitologias. O tempo que se “vive” ao ler um romance não é, evidentemente, o tempo que o membro de uma sociedade tradicional reintegra, ao escutar um mito. Em ambos os casos, porém, há uma “saída” do tempo histórico e pessoal, e o mergulho num tempo fabuloso, trans-histórico. O leitor é confrontado com um tempo estranho, imaginário, cujos ritmos variam indefinidamente, pois cada narrativa tem seu próprio tempo, específico e exclusivo. O romance não tem acesso ao tempo primordial dos mitos; mas, na medida em que conta uma história verossímil, o romancista utiliza um tempo aparentemente histórico e, não obstante, condensado ou dilatado, um tempo que dispõe, portanto, de todas as liberdades dos mundos imaginários. De modo ainda mais intenso que nas outras artes, sentimos na literatura uma revolta contra o tempo histórico, o desejo de atingir outros ritmos temporais além daquele em que somos obrigados a viver e a trabalhar. Perguntamo-nos se esse anseio de transcender o nosso próprio tempo e histórico, e de mergulhar num tempo “estranho”, seja ele extático ou imaginário, será jamais extirpado. Enquanto substituir esse anseio, pode-se dizer que o homem moderno ainda conserva pelo menos alguns resíduos de um “comportamento mitológico”. Os traços de tal comportamento mitológico revelamse igualmente no desejo de reencontrar a intensidade com que se viveu, ou conheceu, alguma coisa pela primeira vez; de recuperar o passado longín15

quo, a época beatífica do “princípio”.

Ilustração por Kent Williams extraída da graphic novel “The Fountain”, por Darren Aronofsky.

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15 ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2011.


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Trajes Simbólicos

Assim como os mitos, as roupas são um im-

breza que, por sua vez, buscava novos modos

portante reflexo cultural, assumindo diferen-

para se diferenciar (moda, do francês, mode).

tes formas, funções e significados. As primei-

Nos dias atuais, contudo, a roupa deixou de

ras vestes surgiram há cerca de 170 mil anos,

definir apenas a classe, para definir o indiví-

feitas com peles de animais, basicamente para

duo na sociedade. Por meio de símbolos semi-

proteger o corpo do frio; as agulhas mais an-

óticos, expõe, de maneira indireta, a ideologia

tigas já encontradas, por sua vez, datam de

daquele que a veste ou, pelo menos, a imagem

61 mil anos atrás. Desde então, o modo de

que quer projetar (persona).

16

vestir evoluiu, sendo característica marcante de muitas civilizações, como o quíton (túnica

No entanto, os trajes simbólicos de caráter

drapeada) na Grécia Antiga, ou o chanti e ca-

religioso, no sentido junguiano, conversam

lasires (espécie de tanga e vestido, respectiva-

com o próprio indivíduo de maneira profun-

mente) no Egito.

da, e menos para um “público”. Não se usa para ostentar, nem passar uma mensagem, o

Com o decorrer do tempo, a distinção social

traje intensifica a natureza de seu possessor,

foi se tornando uma de suas principais finali-

pois faz parte da mitologia de que acredita.

dades. Na China, por exemplo, no ano de 300

Um padre não deixa de ser padre quando

a.C., houve um decreto pelo qual todos deve-

está sem sua batina, mas ela lhe dá um “po-

riam usar apenas as roupas de sua determi-

der místico”, por assim dizer. No Candomblé,

nada classe social; já no Império Bizantino, a

ao incorporar um orixá, o feiticeiro veste o

cor púrpura era exclusividade da realeza. Pelo

traje referente ao deus africano (Ogum, por

mesmo motivo, se deu o advento da moda,

exemplo, usa uma armadura), simbolizando

no fim da Idade Média. Com sua ascensão, a

que, a partir daquele momento, ele é a divin-

burguesia começou a “imitar” os trajes da no-

dade na Terra.

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16 LAVER, James. A Roupa e a Moda. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.


Feiticeiro dos Camarões usando uma máscara de leão. Ele não finge ser um leão; está convencido de que é um leão. Como o congolês e sua máscara de pássaro ele partilha uma “identidade psíquica” com o animal – identidade existente no reino do mito e do simbolismo. O homem “racional” moderno tentou livrar-se deste tipo de associação psíquica (que no entanto subsiste no seu inconsciente); para ele, uma espada é uma espada e um leão é apenas o que o dicionário define.

17

Esse simbolismo também pode aparecer de

dos rituais xintoístas, na qual cada ator usa

outras formas nos trajes, por meio de estam-

a fantasia e maquiagem alusiva ao arquétipo

pas e adornos, por exemplo. Os axantes, povo

que vai representar no mito a ser encenado

ganês, usam o adinkra (“adeus”, em twi), tan-

(herói, demônio, raposa, etc). O conjunto de

to no vestuário cerimonial, quanto na deco-

fantasias, cenários, danças e cantorias criam

ração das casas; os ideogramas revelam his-

uma atmosfera simbólica, envolvendo o es-

18

tórias e crenças de sua cultura. As peças de

pectador numa experiência mista de entrete-

teatro tradicionais japonesas são derivadas

nimento e religião.

17/imagem JUNG, Carl G. O Homem e Seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. 18 ZEIGER, Claudio. Duafe - Simbologia Adinkra. Afro & África. Disponível em: <http://claudio-zeiger.blogspot.com.br/2012/02/duafe-simbologia-adinkra.html>. Acesso em: 22 jul. 2013.

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O mestre Don Juan leva Castaneda para as regiões incultas e solitárias da natureza. Na penumbra da noite, Castaneda pensa ver a forma escura de um animal moribundo. Terrivelmente assustado, ele quer fugir, mas depois olha com mais atenção e percebe que se trata apenas de um galho sem vida. Mais tarde, Don Juan diz: “O que você fez não é nenhum triunfo... Você desperdiçou um belo poder, um poder que soprou vida naquele galho morto... Aquele galho era um animal de verdade e estava vivo no momento em que o poder o tocou. Como o que o mantinha vivo era o poder, o truque era, como no sonho, sustentar a visão”. Marie-Louise von Franz (“Psicoterapia”) em referência ao livro de Carlos Castaneda, “Viagem a Ixtlan”

Imagem: flickr.com/alexbowler

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Criação do Traje


Sketch e Costura Ao longo da pesquisa, me deparei com diversas formas de arte ligadas aos seus mitos; em geral, esculturas, pinturas e monumentos, a maioria representações de deuses e outras divindades. Entretanto, foi o uso de máscaras, trajes e adornos que achei mais adequado para usar como base neste trabalho. Primeiramente, por ser mais acessível, mas os conceitos de incorporação do vestir, do movimento do corpo e tecido como forma de expressão foram decisivos na escolha. Eles traduzem uma experiência mais pessoal e menos de adoração. Decidi, assim, fazer uma espécie de capa como elemento principal do traje, inspirada por diversos personagens como o casaco do próprio Morpheus, na qual a base revela chamas e rostos de sonhadores, ou o manto enfeitiçado do Garoto Azul (Fábulas). Afinal, uma capa longa daria o ar místico necessário, além do movimento e dobras proporcionarem uma figura mais dramática. A seguir, coloquei os esboços e anotações que passei para minha amiga Jade, com ajuda da Nohele, costurarem. Há também algumas fotos que ela tirou mostrando os testes de modelagem com a tela de algodão e o modelo Renan, bem como a versão final da capa. O processo de costura e ajustes demorou um mês.

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A parte mais complicada da roupa! Não sei exatamente como vai ser aqui... talvez essa ponta esquerda possa ser bem comprida, assim como a direita, dando a volta no pescoço para formar a gola. Podia ter alguma fita nessas pontas para amarrá-las, talvez.

A intersecção das duas partes é mais ou menos na altura da cintura da calça.

Deixar arrastando no chão, mas não muito; imagino uns 30 cm a mais no comprimento.

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Mangas justas e compridas, chegando perto dos dedos.

A ideia é que tivesse mais volume, como no primeiro sketch. Aqui, tentei deixar o desenho mais didático, sem tanta firula.


Cintura justa e alta, cobrindo o umbigo.

Um pouco mais larga nas coxas.

Vai estreitando...

No primeiro sketch, eu tinha desenhado ela folgada demais, deixei um pouco mais justa. Não precisa ficar super amassada, acho que ficando um pouco mais comprida do que o normal já vai dar o caímento ideal.

... ficando justa nas pernas. Acaba perto dos dedos, 2/3 do pé. Não precisa ter nenhum solado duro, só tecido mesmo.

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Fotografia e Tratamento Com o traje pronto, prossegui para fotografar. Nessa parte, tive ajuda da Ivy para bater as fotos, e do Renan, como dito anteriormente, servindo de modelo, além de emprestar o estúdio em que trabalha. Separei algumas referências de poses que havia imaginado a fim de formar uma sequência no final e, num domingo de manhã, partimos para o estúdio. A sessão durou aproximadamente 10 horas contando com intervalos, almoço e transporte. Ao todo, foram batidas mais de 170 fotos em diversas poses. Por fim, selecionei seis para tratar e produzir o ensaio (a sétima que aparece ao final não estava prevista e recebeu um tratamento mais sutil). A próxima etapa era criar o simbolismo por meio de fotomanipulação. A príncípio, pensava em tentar criar o mesmo tipo de simbolismo junguiano, mas percebi que qualquer método consciente a fim de gerar significado a partir de uma sequência de fotos já tiradas seria um tanto quanto falso. Por este motivo, pensei em algo que se aproximasse de um mito, aproveitando algumas teorias de Campbell e outras de Jung, para compor um editorial que fizesse sentido quando disposto lado a lado, ao mesmo tempo que conversasse com o todo o conceito abordado. Explicarei mais a ideia no próximo capítulo. Para as fotomanipulações que lembram o efeito de dupla exposição, utilizei fotografias pessoais e de banco de imagens montadas no programa gráfico Adobe Photoshop CC.

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There is a pleasure in the pathless woods, There is a rapture on the lonely shore, There is society, where none intrudes, By the deep sea, and music in its roar: I love not man the less, but Nature more, From these our interviews, in which I steal From all I may be, or have been before, To mingle with the Universe, and feel What I can ne’er express, yet cannot all conceal. Lord Byron, em “Childe Harold’s Pilgrimage”

Imagem: FRIEDRICH, Caspar David. O Andarilho Sobre o Mar de Neblina. 1817-1818. Óleo sobre tela, 94,8 x 74,8 cm. Hamburger Kunsthalle, Hamburgo. Wikimedia Commons.

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Nekyia


Editorial

O mito da Nekyia encontra-se em toda a Antiguidade e praticamente no mundo todo. Expressa o mecanismo da introversão da mente, do consciente 11

em direção às camadas mais profundas da psique inconsciente.

A Nekyia ou “jornada marítima noturna” é simbolizada pelo nascer e pôr do sol, vida e morte. É a queda no abismo escuro, uma jornada interna que fazemos rumo ao processo de individuação em busca do eu completo, o casamento do consciente e insconsciente. Associando este conceito à experienciação do sagrado, o retorno ao tempo primordial, utilizei a estrutura do monomito como inspiração e dividi o ensaio em 7 partes: primeiro, o mundo comum, nosso cotidiano; segundo, o chamado em direção ao desconhecido; terceiro, o cruzamento do portal; quarto, a tempestade, a imersão nas águas do inconsciente; quinto, o renascimento/nascimento; sexto, a iluminação/eternidade; e sétimo, o retorno.

11 JUNG, Carl G. Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis: Vozes, 2001.

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Vocês querem domar tudo, mas, se ficassem quietos e sentissem por um momento, saberiam que tudo anseia por ser selvagem. Jim Dodge, em “Fup”

Imagem: flickr.com/68438546@N05 (Phoebe Autry)

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Palavras Finais


Conclusão

Então, ele percebeu: “Na verdade, eu sou essa criação, pois eu a expeli de mim mesmo”. Dessa forma, ele se tornou essa criação e aquele que sabe disso se torna, nessa criação, um criador.

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Este trabalho foi resultado de muitas boas conversas, viagens, trilhas, livros, filmes, músicas. Experiências que vivi principalmente na época da faculdade. Durante esse tempo pesquisando e criando, percebi o poder das histórias e como gosto de lê-las e ouví-las. Num mundo com cada vez mais informação e menos significado, elas fazem sentido para mim.

12 O PODER do Mito. Direção: Bill Moyers. Produção: Apostrophe S Productions. In.: COLEÇÃO O Poder do Mito. Barueri: Log On, 2001. 4 DVDs, v. 1, cap. 2 (180 min), NTSC, color.

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Bibliografia ARCHIVE for Research in Archetypal Symbolism. The Book of Symbols. Colônia: Taschen, 2010. ARONOFSKY, Darren. The Fountain. Vertigo: Nova Iorque, 2005. BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. BULLEN, Matthew. Guia Visual da Mitologia no Mundo. São Paulo: Ed. Abril, 2010. BYRON, George Gordon. Childe Harold’s Pilgrimage. Domínio público. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=23377> Acesso em: 19 jul. 2013. CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 1990. CATÁLOGO Infantojuvenil Cosac Naify 2012. COLEÇÃO O Poder do Mito. Barueri: Log On, 2001. 4 DVDs (480 min), NTSC, color. CASTANEDA, Carlos. Viagem a Ixtlan. Rio de Janeiro: Record, 1972. DODGE, Jim. Fup. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 2011. GAIMAN, Neil. Deuses Americanos. São Paulo: Conrad, 2011. GAIMAN, Neil. Fumaça e Espelhos. São Paulo: Via Lettera, 2002.

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GAIMAN, Neil. O Oceano no Fim do Caminho. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013. GAIMAN, Neil; AMANO, Y. Sandman: Os Caçadores de Sonhos. São Paulo: Conrad, 2001. GAIMAN, Neil; WILLIAMS III, J. H. The Sandman: Overture 1. Nova Iorque: Vertigo, 2013. HYDE, M.; MCGUINNESS, M. Entendendo Jung: Um Guia Ilustrado. São Paulo: Leya, 2012. JUNG, Carl G. Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis: Vozes, 2001. JUNG, Carl G. O Homem e Seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. LAVER, James. A Roupa e a Moda. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e Significado. Lisboa: Edições 70, 1978. PONDÉ, Luiz Felipe. Tempo Sagrado, Tempo Profano. Disponível em: <http:// www.cpflcultura.com.br/2009/07/10/integra-tempo-sagrado-tempo-profanoluiz-felipe-ponde>. Acesso em: 30 jul. 2013. PSICOLOGIA. Mitos e Design. Curitiba: Anticast, 03 mar. 2011. Podcast. VON FRANZ, Marie-Louise. Psicoterapia. São Paulo: Paulus, 1999. ZEIGER, Claudio. Duafe: Simbologia Adinkra. Afro & África. Disponível em: <http://claudio-zeiger.blogspot.com.br/2012/02/duafe-simbologia-adinkra. html>. Acesso em: 22 jul. 2013.

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No one realizes how beautiful it is to travel until he comes home and rests his head on his old, familiar pillow. Lin Yutang




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