Laboratório de Intervenção Urbana

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TRABALHO DE FINAL DE GRADUAÇÃO

ORIENTADORA: ANA LUIZA MIRANDA

LABORATÓRIO DE INTERVENÇÃO URBANA

DISCENTE: CARLOS WILLIAM VIEIRA RODRIGUES

INTERVENÇÃO URBANA NA BAIXADA DA CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

CÓGIGO 4006639

NOVEMBRO|2017

CENTRO UNIVERSITARIO MOURA LACERDA


CONSTRUA VOCÊ MESM


MO UMA SITUAÇÃO SEM FUTUTO CONSTRUA VOCÊ MESMO UMA SITUAÇÃO SEM FUTURO


SUMÁRIO

06 INTRODUÇÃO 09 O CONCEITO DE LUGAR 14 O DISCURSO SITUACIONISTA DE CIDADE 17 A POSTURA SITUACIONISTA SOBRE A CIDADE 19 METODOLOGIAS DE INTERVENÇÃO - DO ESPAÇO PARA O LUGAR 24 CENTRO GEORGES POMPIDOU 28 THE CINEROLEUM 32 PLAYGROUND DE BERTELMANPLEIN 37 METODOLOGIA DE LEVANTAMENTO 41 OLUGAR


49 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 61 AS INTERVENÇOES NO LUGAR 87 BIBLIOGRAFIA



INTRODUÇÃO


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Esse trabalho tem por objetivo explorar a arquitetura e o urbanismo para provocar a participação e contribuir para a revolução da vida cotidiana, contra a alienação e a passividade da sociedade, empregando em conjunto as artes e as técnicas que concorram para a construção integral de um ambiente em ligação dinâmica com experiências de comportamento. Trata-se de um enfrentamento de processos hegemônicos de produção da cidade, que as concebe como uma máquina ou instrumento, onde qualquer tipo de obstáculo ao movimento é reduzido ao mínimo, em favor das relações de produção e mercado. Ecoando o pensamento de Massimo Cacciari, não habitamos lugares, mas espaços ou territórios, onde o desenraizamento é real. “Será possível viver sem lugar? Será possível habitar onde não existem lugares?” Estas e outras questões são levantadas por Cacciari:

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1 Cacciari, Massimo. A cidade, p.35

[...] O habitar não tem lugar lá onde se dorme e, por vezes, se come, onde se vê televisão e se diverte com o computador de casa; o lugar do habitar não é mero alojamento. Só uma cidade pode ser habitada; mas não é possível habitar a cidade se ela não dispuser de ser habitada, ou seja, se não “der” lugares. O lugar é o sitio onde paramos: é a pausa – é análogo ao silêncio de uma partitura. Não há música sem silêncio. O território pós-metropolitano ignora o silêncio numa partitura; não nos permite parar, “recolher-nos” no habitar. As distâncias são o seu inimigo. Cada lugar, no seu seio, parece destinado a encolher-se, a perder intensidade até se tornar em nada mais que lugar de passagem, um momento da “mobilização” universal.¹ Em confronto com a postura do planejamento de vertente racionalista funcionalista, estática e espetacularizadora e, a favor da dinâmica de criação de situações, na primeira metade do século XX o movimento Internacional Situacionista propõe um discurso de cidade contrária a lógica espetacularizadora, a favor da construção de situações. Este movimento tem como um dos seus mais representativos Guy-Ernest Debord, muito influenciado pelo movimento Dadaista e Surrealista. Motivado pelo conjunto de ideias e práticas desse discurso situacionistas que, como bem traduzido por Paola Berenstein, favorece a construção de situações espaciais e arquitetônicas, este trabalho buscará desenvolver uma proposta de intervenção urbana para a Baixada do centro de Ribeirão Preto. Nesse sentido, partindo


2 JACQUES, Paola Brenstein. Breve histórico da Internacional Situacinista - IS

de uma leitura espacial que identificará os típicos usuários locais, será proposto um equipamento público que potencialize as apropriações desses usuários de forma dinâmica, onde esses participam ativamente do processo de construção do lugar. Fazendo com que “os habitantes passem de simples expectadores a construtores, transformadores e “vivenciadores” de seus próprios lugares” ²(JACQUES, 2003), contrapondo-se, assim ao processos de espetacularização urbana.

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O CONCEITO DE

LUGAR


O texto “A Cidade” (2009) de Massimo Cacciari apresenta uma breve definição de Lugar, entendendo-o como “[...] o sítio onde paramos: é a pausa – é análogo ao silêncio de uma partitura. Não há música sem silêncio”. O lugar é colocado pelo autor como o meio pelo qual a cidade se dispõe de ser habitada. Ao longo do livro ele constrói um raciocínio que auxilia nesta compreensão ao colocar como raiz etimológica do que conhecemos hoje pelo termo “cidade” dois termos em alguma medida antagônicos: a polis, de origem grega e a civitas, de origem romana: 3 Cacciari, Massimo. A cidade, p.09

[...] Quando um grego fala de pólis, pretende-se, antes de mais, indicar a sede, a residência, o lugar em que um determinado génos, uma determinada estirpe, uma gente tem suas raízes. Em grego, o termo pólis remete de imediato para uma ideia forte de enraizamento. A pólis é o lugar onde determinada gente, específica no que toca a tradições e costumes, tem a sua sede, reside onde tem o seu próprio éthos. [...] ³ Esse significado não está presente no termo latino civitas, que se origina do termo civis, onde os cives formam um conjunto de pessoas que se reuniram para dar vida à cidade. [...] Para os romanos civitas é, desde sempre, aquilo que é produzido pela reunião de várias pessoas sob as mesmas leis para lá de qualquer especificidade étnica ou religiosa. [...] ⁴ Na civilização grega, a cidade é fundamentalmente formada de pessoas do mesmo génos, enquanto em Roma, a cidade é composta de pessoas de diferentes religiões, etnias etc., que concordam entre si em virtude da lei. O raciocínio construído, portando é que, historicamente, viemos construindo cidades que ora tendem a ser polis, ora tendem a ser civitas. Cacciari (2009, p.24) argumenta que o direito europeu, por exemplo, se desenvolveu a partir dessa ideia do direito romano, onde a cidade é concebida por pessoas que estão debaixo de uma mesma lei. A própria Igreja ocidental, diz Santo Agostinho, acolhe todos no seu seio independente das diferenças de etnia, línguas e costumes. Uma cidade feita de gente diferente, que vem de todos os lados, que fala todas as línguas, que tem todas as religiões, mas só uma lei, um único senado, um imperador, um lugar para negócios, onde as barreiras de espaço e tempo não existem. Pode-se fazer um paralelo desse ideal romano com o desejo de

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4 Cacciari, Massimo. A cidade, p.10


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estender o império através da mobilidade, materializando assim a disposição ao ilimitado e absoluto. Foi o que aconteceu entre os séculos XV e XX com a destruição a favor de uma “cidade instrumento”, por meio de um pensamento racionalista, de centro urbanos que impediam o movimento e serviam de obstáculos às dinâmicas de negócios característicos de um sistema capitalista. 5 Montaner, José Maria. A modernidade superada, ensaios sobrbre a arquitetura contemporânea, p.59

O mesmo acontece com o urbanismo racionalista. O instrumento do zoning baseia-se na divisão da complexidade da cidade em partes suscetíveis de tratamento genérico e independentes. Seguindo as premissas cartesianas, a cidade como problema é decomposta por zonas de maneira que funcione como uma máquina produtiva, dividida em partes monofuncionais conectadas por linhas de circulação. Assim, o delírio máximo do racionalismo induz à tentativa de planejamento da imensa complexidade da cidade mediante sua decomposição em estruturas formais e funcionais simples.⁵

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Antagonicamente, a polis é caracterizada por lugares simbólicos tradicionais, estáveis, com possibilidades de definição de lugares dentro do espaço. Talvez essa impossibilidade de encontrar lugares nesse espaço, que se reduz a uma discussão de espaço-tempo, a favor do mercado e do consumo, explique a persistência da aplicação de espaços fechados na vida contemporânea, não apenas no que se refere ao edifício, mas também aos bairros residenciais, aos condomínios fechados, aos parques de diversão, à cultura nos museus e teatros. Cacciari pontua: 6 Cacciari, Massimo. A cidade, p.51

[...] Esta necessidade de comunidades fechadas provavelmente responde a uma exigência profunda da nossa psique, uma vez que não e fácil viver na mobilização universal, viver numa métrica simplesmente temporal.⁶ Montaner em seu texto ‘Espaço e anti-espaço, lugar e não lugar na arquitetura moderna’ (2013) caracteriza a noção de Lugar, a partir da comparação oposta com a noção de Espaço. Embora na esfera da arquitetura, as duas definições se relacionem com o raciocíno de Cacciari sobre a cidade, que também busca fundamentação nas primeiras civilizações ocidentais. A concepção de espaço como infinito como continuum natural, receptáculo de todo criado visível, tem uma raiz ideal platônica. No diálogo Timeu, Platão fala do chora como espaço eterno e indestrutível, abstrato, cósmico, que dispõe tudo que existe em uma posição. Trata-se do terceiro componente básico da realidade, junto


7 Montaner, José Maria. A modernidade superada, ensaios sobrbre a arquitetura contemporânea, p.62

com o Ser e o Acontecer. Aristóteles em contrapartida, identifica na sua Física o conceito genérico de “espaço” com outro mais empírico e delimitado que é o de “lugar”, usando sempre a palavra topos. Ou seja, Aristóteles considera o espaço desde o ponto de vista do lugar. Cada corpo ocupa seu lugar concreto e o lugar é uma propriedade básica e física dos corpos. Se para Platão “as ideias não estão em um lugar”, para Aristóteles é o contrário: O lugar é algo diferente dos corpos e todo corpo sensível está em um lugar [...]. O lugar de uma coisa é sua forma e limite [...]. A forma é o limite de coisa enquanto que o lugar é o limite do corpo continente [...]. Assim como o recipiente é um lugar transportável, o lugar é um recipiente não transferível.⁷ A ideia de Lugar diferencia-se da ideia de espaço pela presença da experiência, já que Lugar está relacionado com a percepção de mundo e a experiência, a partir do corpo humano. Assim:

A dimensão do lugar na arquitetura moderna é deixada de lado quando para alguns mestres do movimento a sensibilidade pelo lugar torna-se irrelevante: todo objeto arquitetônico surge com uma autonomia indiscutível. Montaner coloca a Carta de Atenas como a máxima expressão dessa corrente racionalista que serviu de base para o urbanismo especulativo do capitalismo. 8 Montaner, José Maria. A modernidade superada, ensaios sobrbre a arquitetura contemporânea, p.33

[...] as vanguardas reforçam o processo de isolamento dos elementos fora do seu contexto usual. Mesmo um projeto teoricamente organicista de Le Corbusier, como a Capela de Ronchamp (1950-1955), mantém uma relação genérica e não empírica com o seu contexto.⁸

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Há, portanto, uma diferença clara entre os conceitos de espaço e de lugar. O primeiro tem uma condição ideal, teórica, genérica e indefinida; o segundo possui um caráter concreto, empírico, existencial, articulado, definido até os detalhes. O espaço moderno baseia-se em medidas, posições e relações: é quantitativo; desdobra-se mediante geometrias tridimensionais; é abstrato, lógico, científico e matemático; é uma construção mental. Ainda que o espaço fique sempre delimitado – como ocorre de forma tão perfeita no espaço tradicional do Panteão de Roma ou no espaço dinâmico do Guggenheim Museum de Nova York, projetado por Frank Lloyd Wright -, pela sua própria essência tende a ser infinito e ilimitado. O lugar pelo contrário, é definido por substantivos, pela qualidade das coisas e dos elementos, pelos valores simbólicos e históricos; é ambiental e, do ponto de vista fenomenológico, está relacionando com o corpo humano (MONTANER, 2013, p.33).


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A produção das vanguardas é adjetivada por Montaner (2013, p.29) como: “espaço livre, fluido, leve, continuo, aberto, infinito, secularizado, transparente, abstrato, indiferente, newtoniano, em total contraposição ao espaço tradicional, que é diferenciado, possui forma identificável, é descontinuo, delimitado, especifico, cartesiano e estático”, classificando esse último como “espaço-tempo” ou “antiespaço”.

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Com esses conceitos em mente, o presente trabalho pretende aplicar na espacialidade contemporânea a noção de “lugar” entendido como pontual, não racional, experimental, que contempla valores históricos, simbólicos e existenciais - em contraste com o pensamento moderno de planejamento de caráter racional, ainda aderido como principal modelo de configuração espacial das nossas cidades por corresponder a uma lógica capitalista.


O DISCURSO SITUACIONISTA DE CIDADE


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9 HOME, STEWART. Assalto à Cultura, p.48

Frente a esse urbanismo especulativo capitalista, que é resultado do pensamento moderno – em um congresso em 1956, em Alba, na Itália, que reuniu integrantes do Movimento Internacional por uma Bauhaus Imaginista, integrantes do extinto grupo COBRA e integrantes da Internacional Letrista, todos pertencentes a vanguarda europeia da primeira metade do século XX -, foi produzida uma resolução que afirmava:

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[...] a necessidade de uma construção integral do ambiente por um urbanismo unitário, que deve utilizar todas as artes e técnicas modernas; [...] inevitável superação de qualquer tentativa de renovação das artes dentro de seus limites tradicionais; [...] reconhecimento de uma interdependência essencial entre urbanismo unitário e um futuro estilo de vida [...] perspectiva de maior liberdade real e maior dominação da natureza [...] união de ação entre os que assinam para a base deste programa.⁹ Esses conceitos serão a plataforma teórica utilizada pela Internacional Situacionista, que foi formada no ano seguinte ao congresso (LIMA 2012 p. 129). Com sede em Paris e, tendo como seu principal líder teórico Guy-Ernest Debord, a Internacional Situacionista era formada basicamente por artistas que propõem: 10 LIMA, Rodrigo Nogueira. A situação construída, p.130

[...] a ‘supressão e realização da arte’, uma arte integral, dissolvida na vida cotidiana, onde o artista ou indivíduo faria da sua própria vida uma obra de arte. Essa arte deveria ser necessariamente coletiva e unitária, apropriando-se de todos os recursos tecnológicos para sua realização, sem deixar obras ou vestígios físicos.” ¹⁰ A principal plataforma de divulgação das ideias situacionistas era a Revista Internationnale Situationniste VERAS sintetiza, com clareza, o pensamento situacionista: Os Situacionistas priorizavam a construção de situações utilizando métodos extraídos das artes. Inicialmente eles constituíram uma organização política que criticava o capitalismo e suas consequências sobre os arranjos urbanos durante a reconstrução europeia, pós-Guerra Mundial. Por isso, lutavam conta a cultura do espetáculo, a alienação, a não participação e a passividade da sociedade. Segundo os Situacionistas, a automação do trabalho provocaria uma revolução, através da qual o ser humano seria libertado e se tornaria nômade, passando a viver à deriva. Por isso, a eficiência da cidade moderna deveria ser substituída por


11 VERAS, Adriana. Megaestrutra e Metrópole: Uma arqueologia do programa de Rem Koolhaas, p.134

mobilidade, desorientação, liberdade e exacerbação da interação social [...]¹¹

12 HERMANN, Carla Guimarães. A contribuição dos Situacionistas, p.6872

“Embora os situacionistas nunca tenham se dito marxistas, as discussões acerca do fetiche da mercadoria e a alienação dele decorrente fundamentaram boa parte de seus argumentos. Por outro lado, defendiam não só o fim do mercado como também do Estado, e eram adeptos a autogestão generalizada. A crítica se dá aos mecanismos apropriados pelo capitalismo para garantir as mudanças necessárias à sua reprodução ampliada, sem que nada mude expressivamente. Não basta chamar o homem de moderno e alienado: necessária é também a compreensão de como a alienação se dá nas diferentes esferas da vida do homem, reduzindo-o a mera mercadoria. A esses mecanismos e à alienação moderna completa Guy Debord dá o nome de espetáculo. O capitalismo enquanto conjunto e modo de vida levado pelo homem moderno, que não mais tem o domínio da sua própria vida.” ¹²

A postura dos situacionistas é de recusa à passividade e alienação colocada pelo capitalismo, onde o estilo internacional pode ser lido, nesse momento, como a materialização desse pensamento na arquitetura, com o objetivo de facilitar o movimento e às dinâmicas de troca. Segundo HERMANN:

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Mergulhando nesse pensamento, este trabalho se interessa pelas possibilidades de aplicar arte na vida cotidiana agindo contra a passividade da sociedade trazendo um novo olhar do usuário para a própria a cidade. criar uma arquitetura que por si mesma instigasse a criação de novas situações.


A POSTURA SITUACIONISTA SOBRE A CIDADE


“Uma nova força humana, que a estrutura existente não poderá dominar, cresce dia a dia como o irresistível desenvolvimento técnico e a insatisfação de seus usos possíveis em nossa vida social carente de sentido” São com essas palavras que se inicia o manifesto situacionista. É notável a preocupação em atacar qualquer estrutura de alienação vigente no momento, o que coloca em pauta não só a cultura moderna, mas também a economia, o progresso, a democracia, como sinônimos do capitalismo. Para alavancar esse objetivo, os situacionistas propunham uma organização autônoma dos produtores de uma nova cultura, independente das organizações políticas e sindicais existentes, onde por meio da “arte de viver”, que deveria estar diretamente relacionada à arquitetura e ao urbanismo no propósito da construção de situações, que “[...] os habitantes passem de simples expectadores a construtores, transformadores e ‘vivenciadores de seus próprios espaços”, impedindo, assim qualquer tipo de espetacularização urbana.

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E importante ressaltar, então que a postura “contracultura” dos situacionistas merece destaque pelo seu caráter político, além de artístico. Eles acreditavam no fim de uma instituição reguladora e, por meio de frases pintadas em muros de igrejas e panfletos,


METODOLOGIAS DE INTERVENÇÃO - DO ESPAÇO PARA O LUGAR


Como afirma JACQUES (2003), talvez seja exagerado falar em uma verdadeira teoria urbana situacionista. Mas a crítica urbana situacionista teve efetivamente uma base teórica, sobretudo de observação e experiência da cidade existente. Pode-se considerar a reunião das ideias, procedimentos e práticas urbanas situacionistas, como um pensamento singular e inovador, que poderia ainda hoje inspirar novas experiências, interessantes e originais, de apreensão do espaço urbano. Mas é importante repetir: não existiu de fato um modelo de espaço urbano situacionista, apesar da tentativa contestada de Constant, com a Nova Babilônia; o que existiu, foi um uso, ou apropriação situacionista do espaço urbano. Assim como não existiu uma forma situacionista material de cidade, mas sim uma forma situacionista de viver, ou experimentar, a cidade. Quando os habitantes passassem de simples espectadores a construtores, transformadores e “vivenciadores” de seus próprios espaços, isso sim impediria qualquer tipo de espetacularização urbana.

13 JACQUES, Paola Berenstein. Breve histórico da Internacional Situacionista.

O grupo dos Situacionistas constitui uma das principais influencias na concepção do Fun Place. Price manteve contato com um dos Situacionistas, o pintor e teorista Constant Nieuwenhuys, criador da New Babylon e idealizador do homem nômade e emancipado.[...]¹³

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Sobre as influências desse pensamento reproduzidas materialmente o autor continua:


FUN PALACE CEDRIC PRICE 1960 LONDRES, INGLATERRA


Projetado para servir a uma sociedade do lazer, o Fun Palace foi projetado como um laboratório de diversão que agregava uma gama de atividades como dança, música, teatro e contemplação, que vinculado a novas tecnologias de transporte como trens, dirigíveis, carros e metros permitia o fácil acesso a estrutura. De acordo com Adriana Veras: [...] o Fun Place buscava dar conta do ‘nova sociedade do lazer’. Cedric Price desafiou a tradição arquitetônica consolidada por meio de inserção de ideias sistematizadas que rompiam com noções Preexistentes. Entretanto, seu método não implicava em construçoes utópicas ou monumentais, pois em seus projetos, Price instroduzia noções não arquitetônicas da arquitetura contemporânea (ISOZAKI 2003, p. 26), privilegiando a articulação entre itens do programa submetendo a arquitetura aos eventos a aos sistemas mecânicos.¹⁴

14 VERAS, Adriana. Megaestrutra e Metrópole: Uma arqueologia do programa de Rem Koolhaas, p.149

Na chegada, monitores informam imediatamente o que está acontecendo. A partir dai, rampas, elevadores e escadas rolantes conduzem as pessoas de acordo com os seus interesses. Ao adentrar o edifício do Fun Place, o indivíduo se depara com muitas possibilidades a serem exploradas. Todas são apresentadas de uma só vez, pela visibilidade que se tem do conjunto de interior do edifício, além de referidos monitores disponibilizados nas entradas. Sua estrutura de aço conta com guindastes que se movem sobre trilhos, paredes pré-fabricadas, plataformas, pisos, escadas e módulos de teto que podem ser removidos e montados por guindastes.¹⁴ O grupo Nomads traduz o material de marketing do projeto: "escolha o que você quer fazer - ou preste atenção quando outra pessoa o fizer. Aprenda como segurar ferramentas, pintura, bebês, maquinaria, ou apenas escute sua melodia favorita. Dance, converse ou eleve-se até onde você pode ver como os povos fazem o trabalho das coisas. Sente-se para fora sobre o espaço com uma bebida e ajuste-se dentro do que está acontecendo em outra parte na cidade.

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O edifício é uma estrutura aberta que pode ser acessada por qualquer lugar, não há entradas específicas. VERAS descreve que:


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15 Nomads.usp.br/pesquisas/cultur a_digital/complexidade/CASOS/

Tente começar um motim ou iniciar uma pintura - ou apenas deite-se, relaxe e olhe fixamente para céu".¹⁵

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O Fun Place não foi construído, mas a sua utopia inspirou Richard Rogers e Renzo Piano na criação de espaços flexíveis do Centre Georges Pompidou, inaugurado em 1977, em Paris, cujo programa era a democratização da cultura. O Fun Place também exerceu particular influência sobre o Archigram, como pode ser visto na Plug in e na Instant City que além de uma ideologia, representam a supremacia da tecnologia sobre a forma do edifício.

Fonte: http://www.worldarchitecturenew s.com/news_images/21461_1_fu npalace.jpg


RICHARD ROGERS & RENZO PIANO CENTRO GEORGES POMPIDOU

PARIS, FRANCA

CENTRO GEORGES POMPIDOU

RICHARD ROGERS & RENZO PIANO


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O edifício se localiza na cidade de Paris, França no bairro de Beaubourg no departamento de Seine-et-Marne e na região de Lle-de-France. O lote do edifício coincide com a quadra visto que sua implantação ocupa todo o espaço da quadra. As edificações do entorno tem o gabarito inferior ao gabarito do museu. A edificação se implanta de margeando a rua Beaubourg liberando o espaço inferior da quadra para uma praça publica por onde acontece o acesso, sendo a vegetação inserida no espaço publico contornando duas laterais da quadra. Em sua fachada, foram instalados grandes painéis eletrônicos, que disponibilizam informações sobre eventos culturais parisienses e, ao mesmo tempo, mostram o movimento das pessoas no interior da arquitetura.

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O edifício construído apresenta-se como um grande sólido retangular, composto por cinco pavimentos acima do nível da rua e quatro níveis de subsolo. O edifício construído apresenta-se como um grande sólido retangular, composto por cinco pavimentos acima do nível da rua e quatro níveis de subsolo. O Centro é composto de uma estrutura mista: base em concreto e níveis superiores em Aço. Na estrutura de aço, foram acopladas tubulações aparentes que ocupam três dos sete metros do pé-direito. Os arquitetos utilizaram as cores primárias para os tubos referentes à climatização, água, eletricidade e circulação de pessoas, o que torna a arquitetura do centro altamente contrastante com a do entorno histórico. O motivo pelo qual os dispositivos técnicos se encontravam expostos na periferia é manter a flexibilidade espacial interna, utilizando assim de uma solução estrutural como a de um exoesqueleto. Em sua fachada, foram instalados grandes painéis eletrônicos, que disponibilizam informações sobre eventos culturais parisienses e, ao mesmo tempo, mostram o movimento das pessoas no interior da arquitetura.


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ASSEMBLE STUDIO THE CINEROLEUM

THE CINEROLEUM THE CINEROLEUM THE CINEROLEUM

THE CINEROLEUM

ASSEMBLE STUDIO


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O Cineroleum tem como propósito a transformação de um posto de gasolina na avenida Clerkenwell, Londres, em cinema. O projeto foi um experimento para que fosse replicado em outros postos vazios do Reino Unido. Esse equipamento foi construído por uma equipe de mais de cem voluntários, aprendendo e experimentando juntos, auxiliados por manuais de instruções, escritos durante o processo de prototipagem. Os materiais usados no projeto são bastante adaptáveis. Elementos clássicos foram recriados para o ambiente na estrada usando materiais industriais, recuperados ou doados. Os assentos foram feitos a partir de tábuas de andaimes, o hall de entrada foi finalizado com fórmica de cadeiras escolares e mesas e o auditório foi fechado por uma cortina costurada à mão.

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Fonte: http://assemblestudio.co.uk/wp-c ontent/uploads/2012/08/Cinerole um_Zander-Olsen_0011.jpg

Fonte: http://assemblestudio.co.uk/wp-c ontent/uploads/2012/08/front-1.jp g



Fonte: http://assemblestudio.co.uk/wp-content/uploads/2012/08/transformation.jpg


ALDO VAN EYCK PLAYGROUND

DE BERTELMANPLEIN

MSTERDÃ | 1945

1918 - 1999

PLAYGROUNDS DE BERTELMANPLEIN

ALDO VAN EYCK


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Construídos após a segunda guerra mundial, em um contexto onde as cidades europeias estavam em ruínas, os playgrounds de Aldo Van Eyck eram construídos em terrenos sem uso. A arquitetura de reconstrução desses países era de caráter racional e funcional e, portanto, produziam espaços monótonos. OUDENAMPSEN descreve essa ideia, por meio do panorama holandês: [...]Em Amsterdam, Cornelis van Eesterem, presidente do CIAM durante muito tempo, estava disposto a executar o Plano Geral de Ampliação (Algemeen Uitbreidingsplan – AUP), de 1934 – um dos primeiros Planos Diretores modernos –, baseado em exaustivas predições estatísticas do desenvolvimento demográfico e do transporte. O seu plano adotava o ideal funcionalista, que estabelecia a separação entre habitação, tráfego, espaços de trabalho e de lazer, planejados de maneira integral [...].¹⁶ Essa configuração parecia viável, principalmente quando se leva em consideração a condição econômica e social holandesa. OUDENAMPSEN contextualiza:

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[...] a oferta de habitações havia diminuído de maneira dramática tanto em quantidade quanto em qualidade, fato que, combinado com uma infraestrutura pouco funcional, colocava os urbanistas diante de uma situação clara de emergência. Além do mais, esse desolador contexto urbano foi desafiado, quase que imediatamente, pelo pico de natalidade causado pelo baby boom do pós-guerra, uma vez que não havia espaços disponíveis para as crianças, nem dentro e nem fora das casas [...].¹⁶ 16 OUDENAMPSEN, Merijin. A cidade como playground.

No entanto, a partir da década de 1960, a cidade inteira começou a arruinar-se, devido ao aumento do tráfego de veículos. Novamente os urbanistas lançam novos projetos que visavam, principalmente, o sistema de transporte por meio de metrôs e rodovias. Mas estas propostas geraram protestos contrários e conseguiram anular esses projetos. Aldo Van Eyck, que trabalhava para o departamento Urbanístico de Amsterdã, por meio da concepção de espaço urbano que “[...] desenvolveu através dos playgrounds fez com que […] se convertesse em um dos críticos mais severos da tendência funcionalista.”¹⁶ Os playgrounds de Van Eyck, inicialmente construídos em terrenos sem uso. Um de seus experimentos foi o primeiro playground para Bertelmanplein. O projeto foi constituído, inicialmente, por uma caixa de areia redonda, com borda larga, em concreto. Dentro da caixa foram colocadas quatro pedras redondas e do lado de fora


uma estrutura de barras de ferro. OUDENAMPSEN (2011) fala sobre resultado do projeto e sobre o pensamento projetual de Van Eyck: [...] Esse playground foi um êxito. Numerosos projetos se seguiram e, em função da localização de cada um, Van Eyck desenvolveu uma grande variedade de composições. Para ele, os playgrounds constituíam uma oportunidade de colocar à prova suas ideias sobre arquitetura, imaginação e relatividade. Relatividade no sentido de que as conexões entre os elementos estavam determinadas por suas relações mútuas mais do que por um princípio ordenador de hierarquia central. Como resultado, a realidade já não estava dominada por um centro permanente. Ao contrário, todos os elementos eram equivalentes e os playgrounds, exercícios de composição não hierárquica dos espaços. Devido à utilização de elementos como bancos, árvores, tubos e quadros de diferentes cores, as delgadas barras metálicas tinham o mesmo status e a mesma presença enfática que a grande caixa de areia. [...] ¹⁷

Merijn Oudenampsen ainda ressalta o caráter modular dos elementos como caixas de areia, barras, pedras, escorregadores, gaiolas, que recombinados formavam diferentes composições, ainda assim sem a pretensão da repetição monótona moderna e a interação com o tecido urbano ao redor: 17 OUDENAMPSEN, Merijin. A cidade como playground.

[...] Por mais que espaço e tempo sejam importantes, lugar e ocasião importam mais. Pois na mente do homem, o espaço é o lugar e o tempo é a ocasião”. Como as pessoas podem fazer do espaço algo próprio e criar um “sentido de lugar” subjetivo? Como podem se sentir em casa na cidade moderna, essa máquina de racionalização massiva? O playground, espaço intermediário entre o público e o privado, era “lugar” e “ocasião” combinados.¹⁷ O seu desenho sempre buscava uma interação com o tecido urbano

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Com isso, é possível perceber que uma das características do pensamento arquitetônico de Van Eyck era a de não propor uma ordem hierárquica espacial, onde um elemento se destaque e crie um marco ou uma centralidade. Pelo contrário, esses elementos são implantados de forma anárquica entendendo anárquico, não no sentido vulgar da palavra, mas como o lugar que todas as forças têm o mesmo potencial e onde o valor de cada coisa será determinado pela vontade de cada indivíduo. Esse desejo de promover a apropriação individual pode ser percebido, também, no desenho dos aparelhos deixando as interpretações em aberto.


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ao redor, o que justifica a simplicidade da composição e abre a possibilidade do encontro, da reinvenção do cotidiano, de novas experiências na vizinhança.

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18 OUDENAMPSEN, Merijin. A cidade como playground.

Imagem: Equipamentos instalados nos playgounds. fonte: http://piseagrama.org/wp-content /uploads/2015/06/Imagem-digital izada_2b.jp

Seus espaços foram criados pela circunstância, apropriação e utilização temporárias, por instantes e situações, um conceito que tangencia a Teoria dos Momentos, de Henri Lefebvre, na qual a cidade é definida como uma estrutura aberta a diferentes temporalidades que constantemente estabelecem novos códigos no espaço físico. Essa noção de cidade como estrutura aberta indica uma rede de terrenos a serem reprogramados, mudando sua vocação no mesmo instante e adicionando significado com base no conceito de ‘lugar’.


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Imagem: VisĂŁo aĂŠrea de um playground.. fonte: fonte: http://piseagrama.org/wp-content /uploads/2015/06/Imagem-digital izada_2b.jpg


METODOLOGIA DE LEVANTAMENTO


19 LIMA, Rodrigo Nogueira. A situação construída, p.230

Segundo os situacionistas para promover a desejada transformação, era necessário compreender o cenário material da vida, isto é, a cidade, relacionando-a com os comportamentos que ela provoca e que a alteram. Foi assim que se aplicaram os estudos da psicogeografia que estuda os efeitos do meio geográfico sobre o comportamento afetivo dos indivíduo. A psicogeografia se caracterizava como um procedimento situacionista, tendo como o seu exercício prático ou técnico a deriva. ¹⁹ A deriva seria uma apropriação do espaço urbano pelo pedestre através da ação do andar sem rumo. Logo, a deriva é fruto da revisão crítica das incursões e deambulações, do Dadá e do surrealismo.²⁰

Esse mapa se tornou um ícone situacionista pelo fato de ser a melhor representação do exercício da deriva, da psicogeografia e da ideia de urbanismo unitário. Segundo JACQUES: 20 JACQUES, Paola Berenstein. Breve histórico da Internacional Situacionista.

“Ele é composto por vários recortes do mapa de Paris em preto e branco, que são as unidades de ambiência, e setas vermelhas que indicam as ligações possíveis entre essas diferentes unidades. As unidades estão colocadas no mapa de forma aparentemente aleatória, pois não correspondem à sua localização no mapa da cidade real, mas demonstram uma organização afetiva desses espaços ditada pela experiência da deriva. As setas representam e essas possibilidades de deriva” ²⁰ É fundado nesse discurso de apropriação do lugar que este trabalho pretende mergulhar na Baixada do Centro de Ribeirão Preto, buscando a percepção de ambiências e comportamentos que auxiliem na potencialização do que já existe e na ativação de novas possibilidades de apropriação deste lugar.

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O exercício da deriva consistia em caminhar pela cidade, principalmente pelos espaços públicos, sem o objetivo de chegar a lugar algum. O principal interesse estava em identificar os diversos comportamentos afetivos que a passagem de diferentes ambiências provocavam no pedestre e cartografá-las. A psicogeografia caracterizava-se como uma geografia afetiva, identificando na cidade diferentes ambiências de atração e repulsão, alegria e tristeza, euforia e monotonia. O mapa afetivo mais famoso produzido pelos situacionistas é “A Cidade Nua, ilustrações de hipóteses de placas giratórias”, assinado Debord, em 1957.


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O LUGAR


Antes da aplicação da metodologia situacionista de análise do espaço, propõe-se aqui uma abordagem do conteúdo físico e histórico da formação do lugar de estudo, a Baixada do centro de Ribeirão Preto Formação inicial da “Baixada” (1863 – 1929) A cidade de Ribeirão Preto fundada no final do século XIX, torna-se um importante centro urbano, a partir de 1870, com o início das plantações de café e a consequente implantação de infraestrutura, que viabilizou o escoamento de sua intensa produção cafeeira. No entanto, mesmo com a presença da estrada de ferro na cidade, desde 1883, foi em 1885, com a relocação da estação – antes implantada provisoriamente no bairro, hoje, denominado Vila Virgínia – para a Rua do Comércio (atual Rua General Osório), que a estrada de ferro passa a atuar como estrutura fundamental na condição paisagística da atual “Baixada”. Alguns dos resultados dessa implantação, por exemplo, foram obras de drenagem e retificação do córrego Ribeirão Preto, a construção da praça Francisco Schmidt e a constituição da Av. Jerônimo Gonçalves e Rua José Bonifácio.

21 SILVA, Eder Donizete. A história contada através da arquitetura de uma rua, p.59.

[...] seguramente que este período foi o de maior importância na constituição espacial da Rua José Bonifácio, pois os edifícios de maior importância foram construídos e a rua tomou sua forma urbana, elegendo sua principal característica e determinando sua vocação: o comércio. ²¹ Por meio dos retirantes mineiros ou do interior paulista, a arquitetura da primeira parte desse período tem essa fonte de influência, com pouco o que dizer com relação a fachada. Assim são implantados os comércios de bens de consumo, muitas vezes, como já dito, com

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A presença da estação motivou um intenso fluxo de pessoas e mercadorias, estimulando um progressivo crescimento das atividades comerciais do centro. Nesse período a baixada desenvolvia um importante papel econômico voltado ao comércio. Essa área se tornou atrativa para o desenvolvimento de atividades relacionadas ao sistema da estrada de ferro. Depósitos para a comercialização e negociação de verduras, algodão e café. Hotéis e hospedarias para acomodação de viajantes. Armazéns e empórios, geralmente de propriedade de imigrantes, que muitas vezes abrigava, também, a residência do proprietário no mesmo edifício. A respeito da rua José Bonifácio, localizada na baixada, SILVA afirma:


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uma parcela da construção destinada à família do proprietário. Em uma segunda fase os edifícios começam a ser mais ornamentados, em estilo eclético ou Art Nouveau (SILVA 1998, p.155). Os usos também são ampliados por pensões, hospedarias, hotéis, armazéns, casa mais elaboradas arquitetonicamente, que atendem as novas camadas sociais que surgiam. Estruturas representativas da baixada são constituídas nesse período, como mercado municipal - elemento que potencializa a configuração de um comércio popular para a área – a Indústria Antártica, em 1911 e, em 1914 a Cervejaria Paulista, que compõe um quadro social composto por operários e atividades que atendiam a necessidade desses sujeitos.

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Dentro desse período a espacialidade da baixada é praticamente concluída com a configuração de suas ruas e quadras similar a configuração que encontramos atualmente. A sistematização de mapas a seguir demonstra isso.

22 SILVA, Eder Donizete. A história contada através da arquitetura de uma rua, p.126. 23 CALIL JUNIOR, Ozório. O centro de Ribeirão Preto: os processos de expansão e setorização, P.86

Colaboração econômica indústrial em meio a crise (1929 – 1960) Mesmo com a crise do café, em 1929, Ribeirão Preto conseguiu se manter como uma das regiões mais produtivas do Estado de São Paulo. A ampliação de uma agricultura diversificada e o direcionamento do capital acumulado para o setor industrial e da construção civil diminuíram a intensidade do impacto da crise. Essa mudança da economia reflete as atividades urbanas, com o aumento da população e o aumento de empregos na área urbana, graças a estabilidade financeira da cidade perante uma crise nacional.²² Nesta época acontece a setorização do que antes era conhecida como toda a área comercial de Ribeirão Preto. CALIL identifica dois vetores: O setor da Praça XV de novembro e o setor da Estação Mogiana (Baixada), que se caracterizaram por seus usos específicos. Enquanto o setor da praça era considerado o setor nobre, que abrigava a administração municipal, o judiciário, os teatros, a sede dos clubes, e a burguesia agrária e comercial, os locais próximos à estação abrigavam indústrias, hotéis, pensões, comércio atacadista, depósitos, armazéns, e outras atividades ligadas ao transporte ferroviário.² Essa diferenciação espacial faz com que o setor da “Baixada” tenha pouco crescimento quando comparado ao setor da praça, que recebeu obras como a do quarteirão paulista e do edifício


Diederichsen, graças ao interesse do capital privado em áreas de concentração da elite. A área da estação, por sua vez, que tinha alguns estabelecimentos bastante relacionados com a economia cafeeira, teve algumas de suas atividades comerciais extintas, porém muitos mudaram ou diversificaram suas atividades. Além do potencial comercial que foi estabelecido no período anterior e a sua afirmação como caráter popular, que acontece no período pós 1929, as então recentes atividades industriais também ajudaram na estabilidade econômica. LANZA exibe esse cenário: 24 LANZA, André Luiz. Café, imigrantes e empresas no nordeste de São Paulo, p.583

[...] a empresa Companhia Electro-Metallurgica Brasileira do engenheiro Flávio de Mendonça Uchoa, uma das maiores da cidade em 1928. A indústria dedicava-se à fabricação de ferro e aço fundido, laminado, forjado, estampado, possuía um capital investido de 6.000:000$000 (seis mil contos de réis) e empregava 100 operários. Outra empresa que se destacava naquele ano era a Companhia Cervejaria Paulista, com um capital de 3.000:000$000 (três mil contos de réis) e com 205 operários trabalhando na produção de cerveja de baixa fermentação, gasosas e guaraná. [...] ²⁴

No que se refere às características estilísticas dos edifícios, se as primeiras edificações da baixada como reflexo a cultura mineira ou foram concebidas pelos partidos estilísticos do Ecletismo e do Art Nouveu, após 1930, o estilo Art Déco surge como alternativa para as atividades comerciais e industriais em ascensão. Analisando a Rua José Bonifácio Eder Donizete da Silva caracteriza: 25 SILVA, Eder Donizete. A história contada através da arquitetura de uma rua, p.196.

Após 1930, as construções da rua passam por uma série de transformações para acomodas as novas necessidades urbanas, especialmente a falta de moradia, mas também ocorre a ascensão de algumas atividades comerciais entre elas pequenas indústrias. Seus proprietários apresentam-se como destaque, alguns deles continuam a utilizar o Ecletismo e o Art Nouveu, mas outros procuram um novo estilo representativo de suas conquistas, o Art Déco. Este novo estilo foi o preferido das novas classes comerciais e industriais que se afirmaram após a crise de 1929, e junto com os estilos anteriores acumularam uma arquitetura complexa e variada na rua José Bonifácio. ²⁵

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As cervejarias Companhia Antarctica e Companhia Cervejaria Paulista, que tinham sido implantadas até 1913, continuaram existindo e, em 1928, diversificaram sua produção com licores, gasosas, xaropes, vinhos, vinagres e guaranás além da cerveja.


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Com respeito aos usos na baixada, visto não ser favorecido pelo interesse do capital privado, devido ao processo de diferenciação espacial, como já mencionado e, uma crise no setor habitacional de pessoas vindas do campo, SILVA (1998, p.178) relata que as edificações passam por transformações, principalmente as destinadas à hospedagem, pois não tiveram a mesma procura por parte de viajantes em busca do Eldorado do café. A partir deste período, passam a ter como clientes uma população empobrecida, vinda, na maioria, do campo, à procura de novas oportunidades de trabalho, sem recursos e nem local para morar.

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Popularização da área central (1960 – 2004) A partir da década de 1960 é possível perceber uma expansão e popularização de toda a área central. O que caracteriza esse período foi o crescimento econômico resultante da produção agrícola, estimulado pelo Programa Nacional de Incentivo ao Álcool. Com o grande número de novos loteamentos para as camadas de alta renda, na direção do vetor sul do município, o comércio, bancos e serviços de luxo deslocam-se no mesmo sentido, configurando novos eixos de centralidade. Nesta mesma década, a área da Estação sofre grande impacto com a transferência do transporte de passageiros para a nova Estação, implantada no vetor leste do município, fora da área urbana. Como isso, diversas atividades que mantinham vínculos com o transporte ferroviário se transferiram para essa região, assim como outras atividades que geravam intenso transporte de mercadorias, com intenção de facilitar esse fluxo. Essas transformações só foram possíveis pelo grande investimento do Estado de São Paulo em obras rodoviárias em direção ao interior. Outro elemento importante na construção de uma nova configuração urbana na área em estudo, que também viabilizou-se pelo investimento estadual em obras rodoviárias, foi a implantação do Terminal Rodoviário, em 1976, na Avenida Jerônimo Gonçalves. Inaugurado como o maior e mais moderno terminal rodoviário do interior do Brasil, esse novo edifício traz uma transformação significativa no seu entorno imediato, abrangendo a Baixada, que passa a ser, gradativamente ocupada por pequenos hotéis, bares populares, atraindo algumas territorialidades alternativas como prostituição e pequenos comércios de entorpecentes. Esse processo acentua a apropriação desse espaço pela crescente população de baixa renda à procura de aluguéis baratos, contribuindo para a formação de alguns cortiços. Segundo AnaLuisa Miranda:


26 MIRANDA, Ana Luisa. O uso do território pelos homens lentos: a experiência dos camelôs no centro de Ribeirão Preto, p. 61.

A refuncionalização dessa área [...], constitui uma intensa mudança de uso, efetivando a apropriação residencial – sobretudo dos antigos casarões – pela população de baixa renda e desenrolando, com isso, um processo de encortiçamento. Quanto ao comércio estabelecido no térreo dos casarões -, afirma-se a tendência popular. Nessa área, também ocorre a apropriação por pequenos hotéis e casas de prostituição e suas ruas contíguas funcionam, até os dias de hoje, como lugar de exercício dessa prática.²⁶ A implantação do Terminal Urbano de Transporte Coletivo Antônio Achê, em 1982, ao lado do mercado municipal, aumentou ainda mais o fluxo de pessoas. Sobre esse cenário SILVA descreve:

27 SILVA, Eder Donizete. A história contada através da arquitetura de uma rua, p.224.

Tratando-se dos usos, nos anos de 1970 se concretiza uma tendência que já tinha se lançado nos anos anteriores. O caráter econômico comercial ainda é predominante, porém a prestação de serviços e o comércio especializado em motocicletas ganham importância. Porém, esse tipo de uso traz impactos negativos nas edificações. Segundo SILVA (1998, p. 121) as alterações nos edifícios para se adaptar a esses novos usos danificam e descaracterizam ainda mais os edifícios históricos, com reformas internas e externas ou impulsionam um processo de demolições que provocam a perda da representatividade da arquitetura dos períodos anteriores. A criação do Calçadão, em 1990, também configura um marco na paisagem da área central e, segundo Ozório Calil Junior (2003, p.154), foi uma tentativa frustrada do governo municipal de reverter o processo de popularização da área: Os comerciantes do centro, impressionados com as mudanças que

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Todos esses fatores aliados a própria história do usos, mudanças e adaptações sofridas pelos prédios da rua, acarretaram uma característica marcante no atual aspecto do local, a utilização diurna e noturna. A diurna incrementada por uma vida corrida agitada, pela grande quantidade de pessoas que compram ou apenas passam pela rua, utilizando o Terminal Urbano e a Estação Rodoviária. A noturna, caracterizada pela prostituição, pela marginalidade, aliada agora á atividade homossexual, os travestis, que passam a dominar toda a extensão da rua (José Bonifácio), não só apenas no período noturno, mas também nos finais de semana, no Sábado à tarde e Domingo, utilizando-se dos hotéis, pensões, hospedarias e sobrados para praticarem suas atividades.²⁷


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ele vinha sofrendo e consequentemente, a perda de seu prestigio, fizeram gestões junto ao Governo Municipal para que desenvolvesse alguma ação para tentar reverter esse processo. Assim no início dos anos 90, foi implantado o calçadão [...] Essa intervenção que se restringiu a um projeto pontual, visando apenas criar maior espaço de circulação de pedestre, veio agravar os problemas de circulação de veículos no centro e, por outro lado, não conseguiu reverter o processo de popularização do centro.

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Esse processo de degradação da paisagem não se dá especificamente devido às novas estruturas ali implantadas, mas sobretudo pelo desinteresse da elite por essa área, já que essa população de média e alta renda passa a localizar-se no centro expandido e nos novos loteamentos fora da área central. Com isso, há desinteresse do setor imobiliário e ausência de investimentos pelo poder público local nesta área da cidade. Assim, é possível perceber uma popularização da área central como um todo, característica que perdura até os dias atuais. Retomada Cultural (2004 – 2017) Entramos, portanto, nesse período como uma configuração espacial da “baixada” bastante estigmatizada pela população em contraste com sua importância social e econômica nas primeiras décadas, desde a sua formação. Isso acontece porque a cidade contemporânea apresenta-se como um espaço-mercadoria desenhado para o consumo, atingindo diretamente a configuração do espaço público. Nesse processo ruas e praças também são mercantilizados. A formação dos chamados novos centros criados pela elite, tendem a substituir os centros tradicionais, oferecendo melhor acessibilidade por se localizar nas áreas, onde essa população se encontra. Esses novos centros reúnem, segundo Flavio Villaça (2003), grandes escritórios, profissionais liberais, estabelecimentos de diversão e shopping centers. Esse centro é a maior concentração – na verdade, a única concentração – de empregos, comércio e serviços das classes sociais mais abastadas. Enquanto isso, atendendo às camadas populares, o velho centro é negligenciado pelo Estado. Nos mapas de uso e ocupação gerados é possível confirmar esse posicionamento. Analisando o gabarito, por exemplo, entende-se que a área tem poucos edifícios verticais o que aponta falta de interesse do capital quando comparado ao vetor sul da própria área central dotada de infraestruturas semelhantes. O mapa de ocupação dá uma perspectiva da potencialidade comercial presente destinada a usuários específicos.


No entanto, na contramão desse processo, muito recentemente, observa-se uma subversão desta lógica, pela iniciativa da sociedade civil, sobretudo em grandes e médias cidades. Segundo observa Raquel Rolnik: 28 ROLNIK, Raquel. Um novo lugar para o velho Centro

Recentemente tenho observado que vem se desenvolvendo em São Paulo uma nova cultura do uso dos espaços públicos da cidade. Depois de um intenso período de valorização do uso dos espaços fechados, que começou com a construção de shoppings, nos anos 1970 e viveu sua explosão nos anos 1980 e 1990, parece haver agora alguns sinais de um movimento no sentido oposto, de retomada de uso mais permanente das ruas, praças e calçadas da cidade. [...] Também percebo que existe uma movimentação no sentido de promoção de atividades e eventos nas ruas, como a festa junina colaborativa no Minhocão, os saraus em ocupações no centro ou em frente a prédios públicos, as atividades promovidas pelo pessoal do movimento Baixo Centro. [...] Todos estes exemplos que eu dei sinalizam para uma possível mudança de cultura – ou pelo menos para o desejo de mudança – que valoriza a ideia do convívio, do compartilhamento do espaço público, do uso destes lugares para algo mais do que a circulação.²⁸

Este prédio localizado na Rua José Bonifácio, que originalmente abrigava a organização sindical dos trabalhadores, atualmente é sede da Associação Amigos do Memorial da Classe Operária. Essa associação é “uma organização com o objetivo de fomentar a cultura, sediar eventos de interesse social e preservar a memória, sempre em busca de uma sociedade mais justa e democrática” (ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ECOLÓGICA PAU BRASIL, 2016) Por meio do programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo (PROAC), que tinha como intuito promover a ampliação e a diversificação da produção artística, criar novos espaços, preservar o patrimônio histórico e aumentar as formas de circulação de bens culturais em todo o Estado, foi possível, em 2015 a execução o desenvolvimento do Projeto Baixada Cultural, que por 9 meses executaram atividades de cunho cultural, tendo em vista a valorização local e a potencialização cultural já existente na região, graças às atividades desenvolvidas pela associação.

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Ocupação similar pode ser notada na “baixada” do centro de Ribeirão Preto estimulada, principalmente pela ação da sociedade civil. Um dos marcos desse novo processo foi a reforma e ativação do prédio da União Geral dos Trabalhadores, que em 2004 passa a abrigar o Memorial da Classe Operária - UGT.


CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA


Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirao Preto. Elaboração: Carlos William Vieira Rodrigues


Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirao Preto. Elaboração: Carlos William Vieira Rodrigues


OCUPAÇÃO POR PESSOAS NO PERIODO NOTURNO


CONSUMIDORES DE ATRAÇÃO

GUARDA DE CARROS

PROSTITUTAS

MORADORES DE RUA

USUARIOS DE PONTO DE ONIBUS

LEGENDA

IDENTIFICAÇÃO E OCUPAÇÃO DE USUARIOS NO PERIODO NOTURNO


CONSUMIDORES DO RESTAURANTE POPULAR

VENDEDORES AMBULANTES

PROSTITUTAS

MORADORES DE RUA

USUARIOS DE PONTO DE ONIBUS

LEGENDA

IDENTIFICAÇÃO E OCUPAÇÃO DE USUARIOS NO PERIODO DIURNO


OCUPAÇÃO POR PESSOAS NO PERIODO DIUNO


Mapa de ocupação da baixada 2016 Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Elaboração: Carlos WILLIAM Vieira Rodrigues Embora seja situada numa região central, pode se observar à partir do mapa que essa é um local pouco verticalizado, como consequência, de pouca densidade. A explicação a isso se talvez se dá ao desinteresse imobiliário nessa região graças a sua estigmatização por parte da população. Alguns traços de edificações verticais se dá as margens onde a ambiência da baixada já é mais dissolvida, no sentido praça XV. Mapa de uso da baixada 2016 Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Elaboração: Carlos William Vieira Rodrigues É notável a predominância do uso comercial, mais especificamente o comercio popular de funcionamento diurno. Essas características do uso comercial atrai uma grande quantidade de consumidores durante o horário comercial o que torna o lugar densamente ocupado por pedestres. Porém, durante a noite o esvaziamento também é uma consequência desse tipo especifico de uso, o que muitas vezes contribui para a sensação de insegurança local.

Identificação e ocupação de usuários no peírodo diurno 2017 Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Elaboração: Carlos William Vieira Rodrigues Esses dois mapas quantificam e identificam graficamente a ocupação do espaço público pela população no período diurno movidos principalmente pelo uso comercial existente no lugar. A área do calçadão é onde se pode observar a máxima dessa ocupação. Alguns usuários característicos, que fogem um pouco da lógica de simples consumidores foram destacados: prostitutas, usuários de ponto de ônibus, moradores de rua, vendedores ambulantes e consumidores do restaurante popular. Embora não sejam a maioria, esses são típicos usuários do lugar no período diurno. Ocupação por pessoas no período noturno 2017 Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Elaboração: Carlos William Vieira Rodrigues

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Ocupação por pessoas no período diurno 2017 Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Elaboração: Carlos Wiliam Vieira Rodrigues


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IDENTIFICAÇÃO E OCUPAÇÃO DE USUARIOS NO PERIODO NOTURNO 2017 Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Elaboração: Carlos WILLIAM Vieira Rodrigues Esses dois mapas quantificam e identificam graficamente a ocupação do espaço público pela população no período noturno, movidos principalmente pela busca de entretenimento. Visto que a maioria unidades comercias não estão mais funcionando nesse horário, levando assim ao desaparecimento dos seus consumidores. No mesmo local surge uma outra lógica espacial de ocupação, agora voltada ao entretenimento noturno. Alguns usuários característicos foram destacados: prostitutas, usuários de ponto de ônibus, moradores de rua, guardas de carro, consumidores de atrações noturnas.


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MAPA SINTESE MAPA SINTESE EIXOESPECIALIZADO DE COMERCIO ESPECIALIZADO EM PRINCIPAL EIXOPRINCIPAL DE COMERCIO EM PEÇAS AUTOMOTIVAS PEÇAS AUTOMOTIVAS PRINCIPAL EIXOE AREAS PRINCIPAL EIXOE AREAS DE PONTOS DE DE PONTOS DE PROSTITUIÇÃO PROSTITUIÇÃO EIXO COMERCIAL PRINCIPAL EIXOPRINCIPAL COMERCIAL EDIFICAÇOES COM ATIVIDADES CULTURAIS EDIFICAÇOES COM ATIVIDADES CULTURAIS EDIFICAÇÕES ABANDONADAS EDIFICAÇÕES ABANDONADAS OU DE BAIXA OU DE BAIXA MANUTENÇÃO MANUTENÇÃO TERRENOS ESUBUTILIZADOS EDIFICAÇOES SUBUTILIZADOS TERRENOS E EDIFICAÇOES EDIFICAÇÕES INTERESSE HISTÓRICO EDIFICAÇÕES COM INTERESSECOM HISTÓRICO EQUIPAMENTOSEQUIPAMENTOS RESPONSAVEIS RESPONSAVEIS POR INTENSO POR INTENSO FLUXO DIARIO DE PESSOAS FLUXO DIARIO DE PESSOAS


AS INTERVENÇOES NO LUGAR


Sendo a área de estudo situada em uma localidade central, que desfruta de uma generosa infraestrutura subutilizada devido o desinteres público e privado, o projeto a seguir tem por objetivo promover a ocupação da baixada de Ribeirão Preto por meio da dinâmica de uso do lugar a partir de estruturas dinâmicas e abstratas implantadas por toda extensão da baixada que favoreça novas formas de ocupação não deixando porém de fortalecer o vinculo dos usuários pré existentes com o lugar. Essas estrutras suporte para ocupações - idealizada predominantemente em estrutura metalica - se apropriará de lotes, da calçada, de edificaçoes subutilizados, atuando como estrutura parasitas. O esquema a seguir localiza os pontos de intervenção na Baixada.

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PONTOS DE INTERVENÇÃO


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Materialidade Uso de materiais que favoreçam a dinâmica e a adaptabilidade da estrutura segundo as necessidades da sociedade civil. Como facilitador para concepção de projeto, foi cirada uma paleta de materialidades que podem sem aplicadas. essa paleta esta organizada em materiais que atuarão com linha e outros que atuarão com planos

LINHAS

PLANOS PAINEIS MADEIRA

TELAS PLASTICO

OSB ESPESSURA: 9,5MM 11,1MM 15,1MM

VIGA METALICAPERFIL I

VIGA METALICAPERFIL U

PAINEL LAMINADO COM FORMICA

METALON

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OUTROS

ANDAIME DESCRIÇÃO: Tubos de aço galvanizado com diâmetro externo de HORIZONTAIS POSTES

TELA TAPUME NORTENE

METAL POLICARBONATO ALVEOLAR

DIAGONAIS

PISOS SISTEMA DE ENCAIXE POR

TELA PLASTICA

TELA METALICA

ACRILICO

PAINEL METALICO MICROPER-

ESPELHO

PAINEL METALICO MICROPER-


OBJETO 01 E O CORTIÇO

O objeto 01 está localizado na rua Visconde do Rio Branco na altura do número 295. O lugar possui um terreno baldio murado com mais de 2000m², vizinho de um edifício apropriado por pessoas sem moradia que o transformaram em um cortiço. O objeto é desenvolvido assim como parasita desse edifício-cortiço sobre a área do terreno baldio. Dos 1900 m² total do terreno, a intervenção ocupará 663 m². O restante da área será designado para um edifício vertical onde serão remanejamentos os estacionamentos que ocupavam as atuais áreas de intervenção. A estrutura metálica, medindo 26,00m x 11,00m divididas em três níveis, é um objeto suporte pronta para ser apropriado e alterado de acordo com as necessidades dos usuários que se interessarem pela sua configuração.

Para a fundação foi concebido um radier por toda extensão de área onde a malha metálica será repousada. A qualidade do piso da calçada nesse trecho é a mesma para dentro da quadra com o objetivo de não diferenciar o limite tradicional de calçada e lote . As palavras usadas para qualificar minimamente a possível ocupação são: ABRIGAR -RECOLHER – PROTEGER - REFUGIAR Endereço: Rua Visconde do Rio Branco

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Alguns planos serão aplicados na malha metálica, porém estes não pretendem limitar as possiblidades de ocupação, apenas estimulas. Eles podem ser retirados e relocados. Essa materialidade está especificada na tabela de materialidade anexa no caderno.



AR IN HO M SA LD AN HA RU A

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PLANTA DE SITUAÇÃO


IMPLANTAÇÃO

ELEVAÇÃO


OBJETO 02

E O ARMAZÉM BAIXADA

Endereço: Avenida Francisco Junqueira

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A intervenção composta de vários objetos deseja potencializar um caráter cultural que vem surgindo na Baixada alavancado por casas como Armazém Baixada e UGT. Ocupando um terreno de 3,800 m² onde funcionava um estacionamento que dá acesso à Avenida Jerônimo Gonçalves e a Rua Duque de Caxias, o objetivo das estruturas é criar situações sobre as quais as pessoas possam se apropriar e modificar as dinâmicas do espaço tradicional. Objetos que favoreçam as circunstâncias as temporalidades as ocasiões. A materialidade dos objetos será na maioria metálica. Para a fundação foi concebido um radier por toda extensão de área onde as estruturas metálicas serão repousadas As palavras usadas para qualificar minimamente a possível ocupação são: CONVIVER – CONVERSAR – COEXISTIR - FESTEJAR



PAGINAÇÃO DE PISO

IMPLANTAÇAO


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OBJETO 03 O MIRANTE

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O projeto do objeto 03 está localizado na esquina das ruas São Sebastião e Saldanha Marinho. Nessa esquina se encontra quatro edifícios interesse histórico que configuram um ponto na paisagem característico da cidade. Na configuração tradicional espacial, muitas vezes esses elementos passam desapercebidos. Como resposta a essa condição, a objeto de intervenção tem por objetivo quebrar essa lógica por elevar o olha do pedestre a um nível onde ele possa contemplar esses elementos a partir de uma outra perspectiva. Com a preocupação de dinamizar a lógica racional da espacialidade existente, o acesso do objeto é implantado entre a rua e a calçada e sua plataforma de observação apoiada sobre um dos edifícios de interesse histórico. A materialidade pensada na concepção da intervenção é estrutura metálica para as linhas horizontais e verticais do objeto. Para os planos pisos metálicos micro perfurados. As palavras usadas para qualificar minimamente a possível ocupação são: EXPECTAR – MEMORAR – PENSAR - RESSUSCITAR

Endereço: Rua Saldanha Marinho



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D

P.073

D

IMPLANTAÇAO

ELEVAÇÃO - RUA SÃO SEBASTIÃO


OBJETO 04 A RAMPA-ESCADA

Endereço: Rua Saldanha Marinho

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A intervenção está localizada em uma quadra entre a Rua Amador Bueno e Rua Saldanha Marinho. No atual terreno encontra-se um estacionamento que atravessa a quadra dando acesso para as duas ruas, numa diferença de nível de 6 metros. O objeto inserido aproveita essa configuração pré-existente de nível e acesso para favorecer uma dinâmicas de circulação da cidade que ultrapasse o limite periférico de circulação da quadra. O objeto é composto plataformas metálicas sobrepostas distribuídas por toda extensão do terreno. Através do desenho, o objeto permite a travessia da quadra em rampa ou em escada. Graças a distância entre os pisos, a intervenção não serve somente para circulação, juntamente com o recuo do objeto da linha do limite do lote, existe a possibilidade de usar esse espaço para apresentações em público como teatros, danças, projeção de vídeos que pode sem reproduzidos nos prédios vizinhos. As palavras usadas para qualificar minimamente a possível ocupação são: COMUNICAÇÃO – LIGAÇÃO – CORTAR - ENCONTRAR



IMPLANTAÇAO

ELEVAÇÃO


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OBJETO 05

E O RESTAURANTE POPULAR

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O objeto 05 está localizado na esquina da Rua Saldanha Marinho com a Rua Florêncio de Abreu. O lugar conta com um restaurante popular que funciona durante um horário especifico. A partir das 11 horas da manhã, durante toda a semana, uma fila extensa de clientes do restaurante popular se forma na calçada dobrando a esquina. O objeto implantado tenta se adequar a essa lógica. Postes são colocados em serie por meio de um trilho na rua. Esses postes podem girar e correr por esse trilho recolhendo ou estendendo a área sombreada que se forma durante as 11 horas. Acoplado a esses postes, pontos de iluminação á bateria são inseridos nos objetos para dinamizar o tempo de atuação desses objetos na cidade, criando uma espécie de praça a noite nesse trecho. Para que o objeto consiga ser leve o suficiente para correr entre os trilhos de acordo com a necessidade dos usuários, a materialidade do objeto foi pensada em metalão nas dimensões especificadas em projeto. As palavras usadas para qualificar minimamente a possível ocupação são: AGUARDAR – ESPERAR - EXPECTAR

Endereço: Rua Visconde do Rio Branco



ELEVAÇÃO FRONTAL DA SEÇÃO

ELEVAÇAO LATERAL

PLANTA DA SECÃO

CORTE LATERAL

CORTE FRONTAL


ELEVAÇÃO - RUA FLORENCIO DE ABREU

ELEVAÇÃO - RUA SALDANHA MARINHO


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OBJETO 06

O MERCADO MUNICIPAL E O CENTRO POPULAR DE COMPRAS

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No espaço que existe entre o Mercado Municipal e o Centro Popular de Compras, que dá acesso à Rua José Bonifácio e a Avenida Jerônimo Gonçalves, vendedores ambulantes se acomodam nas áreas sombreadas pelo edifício sobre esse espaço comercializar produtos. Para favorecer a dinâmica de sombra do lugar, o objeto proposto atua com extensor da mancha de sombra ampliando assim as áreas ocupação dos vendedores ambulantes. O objeto de estrutura metálica será apoiado nos dois edifícios laterais por cabos de aço para que interfira minimamente na circulação. As palavras usadas para qualificar minimamente a possível ocupação são: TROCAR – BARGANHAR - ESCAMBAR

Endereço: Avenida Francisco Junqueira



IMPLANTAÇÃO

ESTRUTURA DO OBJETO


OBJETO 07 E AS ESQUINAS

Após um levantamento de ocupação por pessoas no horário diurno e noturno foi possível compreender uma dinâmica de uso das esquinas por determinados usuários, como comerciantes de frutas e prostitutas. O objeto 07 surge como apoio a essas atividades sendo pontado nas esquinas da Rua Saldanha Marinho, Rua José Bonifácio e Avenida Francisco Junqueira onde se observa a existência desses usuários. O objeto metálico tubular contem ponto de iluminação que pode ser acionado pelo usuário, o que faz com que a dinâmica de uso do objeto possa se estender em horários noturnos. As palavras usadas para qualificar minimamente a possível ocupação são: PARAR – PONTUAR – MARCAR

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PONTOS DE IMPLANTAÇÃO

ELEVAÇÃO LATERAL

PLANTA


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LABORATÓRIO DE INTERVENÇÃO URBANA

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