HUMOR DA VIDA PUBLICA
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FICHA CATALOGRÁFICA Rita de Cássia Barroso Alves Bibliotecária CRB3 - 755 R696h
Rodrigues, Jorge César Moreira Humor da vida pública / Jorge César Moreira Rodrigues. – PrintColor Gráfica e Editora Ltda: Fortaleza, 2018. 62p. : il. 1.
Humor 2. Crônicas I. Título CDD B869.7
7,5cm x 12,50cm
AGRADECIMENTOS Primeiramente, quero agradecer ao Carlos Weiber pelo trabalho estético desta nova edição. Agradeço ao Mateus de França pelas ilustrações das histórias e a Nádia Sousa por todo o trabalho na primeira edição. Minha profunda gratidão a todas as pessoas que ofereceram suas histórias para este livro, em especial a Ângela Moura, a Amanda, a Ana Cristina, ao Pádua, ao Daniel Malaquias, a Elenilse, a Elzimar, ao Francisco de Assis, ao Geraldo Mendes, ao Gerson Anderson, a Jacqueline, a Karine, a Maria da Conceição, a Edvânia, a Elzenir, a Lourdes, ao Mário Rubens, ao Marcos Xavier, a Pâmela Sousa, ao Paulo César, ao Pedro Manoel, a Rosa Castro, a Rosilane Castro, a Rosimare Castro, ao Tony Ramires e a Wanessa Araújo. Agradeço também ao Gabriel de Sousa pelas transcrições e por fim, aos escritores Lenildo Gomes, Miguel Leocádio Araújo e André Nogueira que fizeram a adaptação das histórias. Equipe Organizadora
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O Ceará se afirma cada vez mais como celeiro de boas histórias e muitas risadas. Sabendo disso, Jorge César viu que esta verve não pertence unicamente aos profissionais do humor. Eles, é verdade, difundem, através de seus shows e aparições em mídias, que a galera daqui se garante! Afinal, são mais de 130 humoristas que se revezam nos palcos todo santo dia, levando o público a gargalhar com os mais variados estilos de apresentações. E o povo? Ora mais! O povo tá com tudo e tá com a prosa! 4
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Todo cearense tem um causo na ponta da língua pra contar. Coisa vivida ou inventada. Não importa! O que importa é que o desfecho da história provoque riso. Gostei deste negócio de ouvir histórias contadas pelo povo de Fortaleza e depois convidar professores para adaptá-las. André Nogueira, Lenildo Gomes e Miguel Leocádio Araújo, passam para o leitor uma veracidade tão grande nas histórias, que parece a quem lê, ter visto isso acontecer. É tudo muito próximo do real no nosso dia-a-dia. As ilustrações do Mateus de França, aproximam ainda mais o leitor da visualização das histórias. Concluo usando palavras do idealizador desta obra, que diz em sua introdução: “O livro vincula-se à forma espontânea de fazer humor, sendo um instrumento importante para humoristas, pesquisadores, estudantes, entre outros.” Parabéns a todos os envolvidos neste projeto! Ao leitor: boas risadas! Jader Soares Presidente da Associação dos Humoristas Cearenses – ASSO-H Diretor do Museu do Humor Cearense e Teatro Chico Anysio
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8. INTRODUÇÃO 9. A INFORMAÇÃO 10. LÍNGUA NO ASFALTO 13. A AMEAÇA 15. A CADEIRA VAZIA 18. A DESPEDIDA 20. O BILHETE ÚNICO 22. NA ESCADA ROLANTE 23. DOIS BRAÇOS 24. O FILME DE TERROR 26. VIDA DE ESTUDANTE 27. O INVASOR 39. WANESSINHA, WANESSÃO 30. O DEFUNTO 32. A PEDRADA 34. O PROBLEMA FOI A FALTA D’AGUA 35. RENATA NO ESPELHO 36. A ABACATADA 38. DIA DE FESTA COM CELULAR 39. O RELACIONAMENTO 41. O AMANTE 43. A ATENDENTE 45. A ASSASSINA DE PINTOS 6
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47. CHÁ DE CAMA 48. O TAMANCO DE OSSO 50. OS ESPELHOS 51. CHEIRO DE DESINFETANTE 52. O TANQUE DO MEU PAI 53. CREME DE GALINHA 54. O ENCONTRO 57. MATEMÁTICA, FLORES E A DOR DE BARRIGA DO JUNINHO 58. MINI CURRÍCULOS 60. FICHA TÉCNICA 7
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A concepção deste livro parte de um compêndio de ideias bastante atreladas à vida em comunidade, suas impressões e visão de mundo. Neste caso, há uma admiração pelas histórias de humor e toda a sua atmosfera de características sociais, comportamentais, políticas, etc. Essas histórias trazem elementos interessantes para o registro físico, com suas conjunturas de tempo, seus costumes e suas trajetórias, além de reafirmar símbolos. É possível afirmar que, devido à crescente pobreza e as situações relacionadas à violência, o humor do Ceará, muito conhecido no país, perde espaço para as tensões referentes aos problemas sociais. Com intuito de promover a autoestima e o bem-estar dos habitantes da capital cearense, surgiu a ideia de registrar as características positivas da cidade pelo o que há de melhor no fortalezense: o senso de humor. Ao tratar sobre os aspectos cômicos, existe a intenção de apresentar o potencial narrativo dos moradores de Fortaleza, provavelmente desconhecido pelo restante da sociedade. Assim, durante 6 (seis) meses, foram coletas histórias dos habitantes de todas as regionais da referida cidade. Em conversa informal, as pessoas contribuíram com situações cômicas vivenciadas ou presenciadas por elas. Após as autorizações, as histórias foram gravadas e adaptadas para a linguagem escrita por profissionais qualificados. Ademais, as narrativas foram cuidadosamente selecionadas para dar espaço a um tipo de humor vindo do povo, 8
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onde a caricatura, a ironia e a construção do risível não depreciasse as minorias. Em resumo, o Humor da Vida Pública é um produto que contém a narrativas reais adaptadas para crônicas. Além de situações engraçadas, o material apresenta alguns pontos específicos da cidade de Fortaleza e as dificuldades cotidianas da população. Por fim, o livro vincula-se à forma espontânea de fazer humor, sendo um instrumento importante para humoristas, pesquisadores, estudantes, entre outros. Boa leitura!
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A INFORMACAO História: Rosilane Castro de Souza Adaptação: André Nogueira Dona Rosa, minha mãe, é uma senhora muito comunicativa. Sempre com seus vestidos floridos, costumava sentar em um pedaço de tronco de árvore diante da nossa casa, sempre às cinco da tarde, com o intuito de ajudar as pessoas na rua com informações. Outro dia, estava na janela de casa quando vejo minha mãe ensinando o endereço de um local para uma recém-moradora do bairro. Essa estava à procura de alguém que trabalhasse com restauração de móveis. — Tem o Wanderley na Avenida J!, disse a minha mãe. — Eu já fui lá, Dona Rosa, mas ele está com muito serviço, não dá certo! — Pronto, me lembrei de outro! Tem aqui…. Aqui na rua 56…. É pertinho! Dobra à direita e vai direto, aí você toca a campainha de uma casa que tem placa xereque. Minutos depois a moradora volta para o local onde minha mãe estava. Em seguida, fala para ela sobre um certo constrangimento: — Uma senhora da rua 56 mandou eu tomar vergonha na cara e procurar o que fazer. Apenas perguntei onde ficava a xereque. — Pois minha filha, essa senhora está doida. Onde já se viu? Fui ontem lá na 56 e vi uma casa 10
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com uma placa bem grande escrita: xereque. Tinha quase certeza de que a palavra não era essa. Minha mãe é semianalfabeta. Mas me surpreendia a sua capacidade de inventar léxicos próprios quando não conseguia pronunciar uma determinada palavra. O nome do meu sobrinho, por exemplo, se chamava Cleanderson. Minha mãe o chamava de Creando. Estômago era estrombo, identidade era tidade, entre outros vocábulos inventados. Assim, me intrometi na conversa e perguntei: — Qual é o serviço que a xereque oferece? — Minha filha, lá o povo faz de tudo. Por isso, indiquei pra essa moça. Mas lá o serviço é... Aquele negócio de… Uma pessoa faz um negócio… Uma cópia parecida com outra; uma coisa parecida com a outra... — É xerox, mãe. — Pra mim, xereque ou xerox é tudo a mesma coisa, disse minha mãe com certa naturalidade. 11
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LINGUA NO ASFALTO História: Mário Rubens Sousa de Sales Adaptação: Miguel Leocádio Araújo Vizinha chata é dose: reclama, fala, manda indiretas. É sempre ranzinza, incomodada, faladeira. No dia em que derramaram um resto de tinta branca na beira da calçada, na coxia da rua, escorrendo livremente em frente a várias casas, pelos pedaços de calçada, ela não cabia em si de tanta vontade de falar mal da vizinhança. Amarga era, mais amarga ficou. Uma moça, calminha e de olhos vivos, varria sua parte da calçada, lavava sua branquidão incômoda e teve que ouvir: ― Você aí devia era limpar a minha parte da calçada também, porque sujeira quem traz tem que levar embora, viu. A moça parou e olhou a infame vizinha. Inflou as narinas. Disparou: ― Olhe aqui, queridinha! Já que você tem essa língua afiada e grande, por que você não passa essa língua aí na pista todinha? Você vai poder limpar a tua frente todinha! Aí pronto, vai ficar perfeito! Porque calçada bem limpa é a que é lavada com saliva de cobra. Todo mundo sabe disso.
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A AMEACA História: Rosa Ângela Alves de Moura Adaptação: André Nogueira Por uma destas coincidências engraçadas, certa vez, um amigo do curso de Licenciatura em Teatro, muito conhecido por não controlar suas manias de perseguição e por sua escassa habilidade cibernética, entrou no laboratório de informática da faculdade. Mas antes de sua entrada, já percebia sua aproximação pelos vidros embaçados da janela. A silhueta do cabelo era singularmente desgrenhada – refiro-me aos poucos tufos que se
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seguravam em algumas regiões da cabeça, sem falar na forma de andar encurvada e nos pigarros constantes. Ao entrar no espaço, o antivírus do meu computador, onde fazia uma pesquisa na internet, exclamou a seguinte frase: — Uma ameaça foi detectada. Ao ouvir aquela afirmação, meu amigo se sentiu profundamente ofendido e esbravejou: — Não seja por isso: Já que sou uma ameaça, me retiro agora mesmo! Saiu da sala e fechou a porta com muita força. Após um grande barulho de gargalhadas dos presentes no laboratório, abriu a porta outra vez e falou em um tom imperativo: — Vou ficar nesta sala, mesmo sendo uma ameaça. Sei que não sou querido, mas existem pessoas nesse local com energia mais negativa do que a minha e que nunca foram detectadas. Fiquei nervosa. Sabia que estava se referindo a mim, pois o som do antivírus saiu do meu computador. O volume do aparelho travou e tentei reiniciá-lo várias vezes, mas a ameaça continuou sendo detectada. Desta forma, me senti diversas vezes ameaçada pelo olhar fulminante que meu amigo lançava em minha direção.
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A CADEIRA VAZIA História: Rosimare Castro de Souza Adaptação: André Nogueira As horas durante o meu serviço parecem transcorrer com lentidão. Fico ansiosa para me sentar em algum local quando o expediente chega ao fim. Sim, me sentar! Sou zeladora e trabalho o dia todo em pé. O que mais tenho vontade, após um longo dia de serviço, é soltar a vassoura e sentar em uma cadeira bem confortável. Antes de me acomodar em qualquer cadeira, preciso encarar um ônibus superlotado até minha casa. O Expedicionário José Walter, ônibus do bairro onde moro, chega na parada tão lotado que, uma vez, após entrar no transporte, tirei um dos pés do chão para me movimentar e não consegui mais colocá-lo em um local plano e vazio. Certo dia, no mesmo transporte sem espaço, 15
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fiquei observando as pessoas que estavam sentadas para ver quem esvaziava uma das cadeiras. Após alguns minutos de observação, um dos passageiros deu o sinal para descer do ônibus. Em seguida, corri em direção à cadeira recém-desocupada. Contudo, antes de chegar ao assento, uma senhora que estava sentada atrás do local almejado, se levantou e colocou uma bolsa sobre a cadeira vazia. Sem pensar duas vezes, retirei a bolsa, devolvi a ela e me sentei. Ela, por sua vez, olhou para mim e disse: — Eu iria me sentar aí! — A senhora não estava sentada?!, perguntei a ela. — Sim, estava!, respondeu. — “Por que a senhora, que já estava sentada, deseja ocupar a cadeira onde me sentei?” perguntei sem entender a atitude. — Minha amiga aqui – apontou para uma mulher aparentemente saudável e que estava sentada em sua antiga cadeira – está sentindo dores nas costas e não pode ficar muito tempo em pé. Então resolvi oferecer a minha cadeira para ela e agora desejo me sentar neste local”, apontou para o assento onde estava. Sem hesitar, indaguei: — Me deixa ver se entendi: A sua amiga está com dores nas costas, a senhora disponibilizou sua cadeira para ela e ficará em pé até descer do ônibus? Porque, infelizmente, não oferecerei para senhora este local onde estou! Bastante chateada, a senhora refutou: — Minha amiga sente dores nas costas e tive que oferecer o meu assento. Ademais, eu vi primeiro a cadeira vazia antes de você se sentar! 16
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Então respondi: — Senhora, não me interessa se viu primeiro ou por último. Também quero dizer que sinto dores, veja só – apontei para os meus pés – Sinto dores nos pés, não sou sua amiga, mas mereço essa cadeira. Após uma rabissaca da senhora, e várias risadas dos demais companheiros de viagem, tentei cochilar no concorrido assento. Tempos depois, já estava cochilando, quando a mesma senhora começou a murmurar. Os ruídos eram tão altos, que me levantei da cadeira, pedi para ela se aproximar e disse com muita amabilidade: — A senhora, por favor, poderia ficar em silêncio? Ainda falta muito tempo para chegar ao meu destino e desejo ir dormindo até lá, retornei ao local e voltei a cochilar.
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A DESPEDIDA História: Rosilane Castro de Souza Adaptação: André Nogueira Foi uma amiga, a autora da seguinte mensagem no facebook: Amanhã, às 8h, será a despedida do Fabiano, e como não sabemos se vamos encontrá-lo do outro lado do mundo, peço que venham se despedir dele na rua 45, Casa 830, Bonsucesso. — Era o fim: ele morreu. Como isso aconteceu? disse comigo mesma. Já era tarde da noite quando li a mensagem. Mesmo assim liguei diversas vezes para a amiga que postou o convite, mas ela não atendeu. Passei a madrugada sem dormir. Só sabia chorar. Lem18
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brei de todos os momentos que passei com aquele amigo. Era uma pessoa maravilhosa; um ser humano agradável. Assim que o dia amanheceu, comecei a me vestir toda de preto para encontrá-lo pela última vez. Enquanto me vestia, pensei: — O corpo, provavelmente chegará nesse horário que está no convite. Quero chegar exatamente na hora marcada. Deste modo, coloquei o terço na mão e fui até o local descrito na mensagem. Quando cheguei em frente ao endereço, vi um amontoado de carros estacionados e um profundo silêncio. De longe dava para perceber várias pessoas dentro da casa. Imaginei que aquele era o momento de encomendar a alma à Deus. Fiquei tão emocionada que já entrei no espaço chorando sem a menor discrição. Ao chegar no meio da sala daquele lugar, vi o Fabiano em pé, de malas prontas, fazendo um discurso de despedida. Ele iria embora para o exterior. Para o constrangimento não ser tão grande, fui até o local onde estava e o abracei. Ele, com uma cara de assustado, perguntou: — O que houve? Por que você está tão emocionada? — Não foi nada. Estava morrendo de saudade e agora terei mais ainda. — Nossa, como você é sensível e carinhosa! Faz menos de três dias que a gente se encontrou no centro da cidade. Minutos depois fui interagir com as demais pessoas do local. Mas não tinha ânimo para conversar com ninguém. Estava extremamente envergonhada. Todos estavam alegres e com roupas esportivas, exceto eu, que estava com o rosto banhado em lágrimas e vestida como a Perpétua, a irmã da Tieta do Agreste. 19
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O BILHETE UNICO História: Rosilane Castro de Souza Adaptação: André Nogueira Perdi o meu bilhete único: um cartão utilizado nos transportes coletivos de Fortaleza que serve para fazer integração entre vários transportes, em qualquer sentido, em um período de duas horas, caso tenha crédito. Lembro-me que certo dia, antes de perceber a perda do cartão, entrei no coletivo Expedicionários José Walter, ônibus do bairro onde moro. A viagem era até ao centro da cidade, ou seja, longa. Quando estava próxima ao local onde iria ficar, peguei o cartão, encostei-o no validador instalado junto à catraca, esperei a luz verde e o sinal sonoro (bip). Todavia, apareceu uma luz vermelha e a seguinte mensagem na máquina: cartão inválido. Depois de três tentativas, entreguei o cartão para o cobrador, funcionário encarregado de fazer a cobrança das tarifas nos ônibus, que não quis recebê-lo e me disse: — Senhora, não dá certo, o validador não aceita. — Como é que não aceita?! Falei em um tom imperativo. — Esse cartão foi invalidado. Deste modo, não é possível passar na máquina! – reafirmou o cobrador sobre a impossibilidade de pagar o transporte com o bilhete. — Como é que não dá certo, meu senhor?! Acabei de passar em um outro ônibus e o cartão 20
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não acusou nenhum problema – menti descaradamente, pois só pego um ônibus para ir ao centro. — Senhora, repito, não dá certo — Meu Senhor, ontem mesmo coloquei crédito nesse cartão e não vou pagar a passagem em espécie de jeito nenhum. Farei o seguinte: descerei no final da linha desse transporte, chamarei o fiscal e falarei sobre o constrangimento que você me fez passar ao recusar o meu bilhete único. Também farei uma reclamação para os seus chefes. Em seguida, o cobrador falou: — Pode reclamar, senhora! Mas a máquina validadora não aceita o cartão de crédito da Caixa Econômica. Aqui só aceita Bilhete Único mesmo. 21
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NA ESCADA ROLANTE História: Elenilse Pereira Rocha Adaptação: Lenildo Gomes O Caio, meu namorado, costuma atrasar nos encontros. Geralmente marco no Shopping, porque aproveito para passear, olhar as vitrines. Daí nesse dia ele resolveu chegar na hora marcada. Eu caprichei, pus minha melhor roupa. Era aniversário de namoro. O Caio ligou, eu tava no piso superior e fui logo encontrá-lo, ansiosa pelo comentário dele. De cima vi o Caio andando no piso de baixo. Corri para a escada rolante. Desci, chamei: “Caaaaiooooo!!!” Ele se virou. Eu saí da escada apressada. O susto a seguir foi grande. Notei que tava só de calcinha. A saia ficou presa e rasgou na hora da descida. Caio riu.Depois foi delicado e disse que havia adorado a minha calcinha nova. Ele e o resto do shopping. 22
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DOIS BRACOS História: Jacqueline Rodrigues Adaptação: Lenildo Gomes Vida de professora não é fácil. O Gabriel era um aluno que nunca trazia as tarefas feitas de casa. Eu pressionava e ele nada. Um dia, um bilhete na agenda veio sem a assinatura da mãe. “Gabriel, por que sua mãe não assinou a agenda? ” “Tia, ela não tem um braço”. Fiquei chocada. “Mas ela não pode assinar com o outro? ” “Tia, ela perdeu os dois braços num acidente” Mais chocada ainda. Imaginei a vida difícil do menino e resolvi dar mais atenção a ele. Eis que um belo dia chega uma senhora e se dirige a mim. “Oi, eu gostaria de falar com a professora do… do Gabriel” “Pronto, sou eu!” “Quem é a senhora? ” “Eu sou a mãe dele! ” “Como, a senhora é a mãe dele?” “Sim, sou” …“A SENHORA É A MÃE DELE?!” “Sou! Algum problema?” “Porque eu mando tanto recado pra senhora assinar na agenda dele e ele me falou que a senhora não tinha os dois braços (muitos risos). E eu tô… Eu não sei o que lhe dizer…” “Pois mulher, chegar em casa vou mostrar pra ele que eu tenho os dois braços sim, pode deixar” Rimos muito. Gabriel finalmente iria conhecer os braços da mãe.
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O FILME DE TERROR História: Daniel Malaquias de Vasconcelos Adaptação: André Nogueira Quando era criança, meus amigos e eu tínhamos o costume de assistir televisão na casa do vizinho. A TV possuía uma película Tele Color, muito utilizada em aparelhos preto e branco daquela época. Por isso, sempre assistíamos filmes na casa daquele senhor, que oferecia de bom grado a oportunidade de ficarmos em frente à única televisão do bairro supostamente colorida. Certo dia, por volta das dez horas da noite, o vizinho permitiu que assistíssemos um filme de terror. Ficamos surpresos com a permissão, mas era a primeira vez que seria exibido na TV o filme O Exorcista. Não poderíamos perder essa oportunidade. Em poucos minutos, em uma sala que só contava com a luz do televisor, todos os garotos da rua estavam sentados em um sofá velho, bem como em banquinhos de madeira; cada um com um saco de pipoca doce e uma garrafa de Mirinda, prontos para prestigiar a obra cinematográfica de William Friedkin. Depois de alguns minutos de filme, os garotos já estavam com os rostos cheios de tensão; alguns roendo as unhas e outros batendo um dos pés de forma descompassada. Era o momento de uma das cenas mais aterrorizantes. A menina do filme, que estava possuída por um demônio, havia começado a murmurar sons incompreensíveis em um tom estranhamente gutural e a engatilhar em direção a uma cama, com o rosto cheio de sangue. De repente, a cabeça da menina virou-se 24
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lentamente para trás, sobre um tronco imóvel, girando monstruosamente, até que por fim pareceu ficar virada para as costas imóvel. O padre do longa-metragem perguntou: — Olá diabo, como se sente? Nesse momento, o vizinho lançou uma bacia de alumínio no chão. O barulho foi tão grande que não ficou uma criança na sala. A correria foi imensa. Havia, no meio daquela confusão, gritos, choros, calafrios, falta de ar e quase desmaios. Tempos depois, descobrimos que tudo aquilo não passava de algo combinado por nossos pais. Todos sabiam que tínhamos interesse em assistir aquele filme horripilante. Só não esperavam que a nossa reação diante da pegadinha fosse perturbadora e que encontrariam, no dia seguinte, nossas calças manchadas. 25
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VIDA DE ESTUDANTE História: Elzimar Bezerra Herculano Adaptação: Lenildo Gomes Pegar ônibus com os amigos depois da escola era sempre muito divertido. Eu estudava no Colégio Joaquim Nogueira, fazia o segundo ano do Ensino Médio e todos os dias esperava o ônibus Antônio Bezerra – Papicu. Nesse dia, a conversa tava tão boa que perdi a noção na hora que o busão chegou. Corri para não perder, coloquei os pés para subir e o apressado do motorista fechou a porta. Entrou a cabeça e parte do corpo, mas os pés ficaram de fora. “Ei motorista, abre a porta, meus pés ficaram presos”. Risada geral: o motorista, os passageiros e os meus amigos que ficaram na parada. Vida de estudante é complicada. 26
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O INVASOR História: Tony Ramires Aguiar Nunes Adaptação: André Nogueira As notícias sobre o Jardim Iracema estão cada vez piores. O bairro acumula histórias sobre assassinatos, assaltos nas esquinas, roubos de domicílios... Certa noite minha mãe se levantou de madrugada e viu um sujeito descendo de um muro localizado em frente à nossa casa. Isso deixou todos os familiares aflitos. No dia seguinte, ou melhor, na madrugada posterior, aconteceu o pior: Minha irmã mais nova se levantou aos gritos, dizendo: — Socorro, pelo amor de Deus, tem um homem arrancando o portão daqui de casa. Acordei atordoado, esqueci o que estava sonhando, saí correndo do quarto, fui até a cozinha pegar uma faca e gritei: — Peraí seu fí duma égua. Peraí que eu vou enfiar essa faca no seu bucho, seu cachorro safado. Minha mãe, que nesse momento estava no banheiro fazendo suas necessidades do terceiro turno, saiu do local subindo as calças e sem finalizar o serviço. Já o meu pai, acordou passando mal e sem saber o que estava acontecendo, gritou: — Desse jeito vocês vão me matar. Acalmem-se! Acalmem-se! Todavia ninguém se acalmou. Abri a porta da sala e corri de um lado para o outro gritando a seguinte frase: — Venha, seu cabra infeliz. Quero ver se você se garante com uma faca no bucho. Por coincidência, havia um catador de lixo 27
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em frente ao portão da minha casa. O catador, ao se deparar com a gritaria e com a frase dita por mim, pegou o carrinho de reciclagem, saiu correndo e disse: — Pelo amor de Deus, eu só estava catando o lixo. Nesse exato momento, todos os vizinhos começaram a sair de suas casas para verificar o motivo de tanto escândalo. Após dez minutos de muita confusão, descobrimos onde estava o homem que arrancava o portão: nos sonhos da minha irmã. O constrangimento foi enorme, não somente por causa do pseudo - invasor, mas pelo desconforto de revelar para todos os vizinhos o meu hábito de dormir pelado. 28
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WANESSINHA, WANESSAO História: Wanessa Araújo Tavares Adaptação: Miguel Leocádio Araújo Wanessa era estudante de teatro. Jeitão livre, porte alto, modos arrojados, ar desafiador. Amigos, só homens, também estudantes de teatro, desses que veem na vida o palco principal para representar qualquer ficção posta pelo acaso. Quando ela ficou gripada, a voz enrouqueceu, masculinizou-se. Prato cheio para os amigos com sanha de interpretar.O boato é criado: Wanessinha era travesti em processo de redesignação sexual e mudança de voz acompanhadas por profissionais, verdadeiros artistas da transformação dos corpos e das vozes. Os funcionários, que já tinham olho grande para a antes Wanessinha, agora diante de um enigma, não sabiam mais de que modo olhá-la. Ouviu-se alguém dizer: Wanessão! Acreditaram nas vozes sorrateiras dos colegas ficcionistas da moça. Distribuíram o número de telefone de Wanessa. Mas só mesmo um deles ligou para confirmar, admirado, a voz grossa, com a qual ele vibrou silenciosamente, o lábio inferior trêmulo de ansiedade. “Alô? Alô?” – repetia a voz rouca, enquanto o pacato funcionário da universidade tinha uma polução ao sonhar tocar aquele corpo novo.
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O DEFUNTO História: Geraldo Mendes Adaptação: André Nogueira Em fevereiro de 1984, enquanto via pela televisão a Mangueira entrar de forma apoteótica na Sapucaí, o velho Fabrício, um vizinho meu do bairro, se embriagava em casa como aqueles adolescentes que bebem vinho na Praça Verde do Dragão do Mar – Praia de Iracema. A família do velho havia saído de casa para comemorar o Carnaval em Recife. Após uma cansativa viagem na quarta-feira de cinzas, os familiares chegaram em casa e a 30
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encontraram fechada. Chamaram, chamaram... Ninguém abriu a porta. Um dos filhos do Senhor Fabrício escalou o muro da casa, pulou para a área de serviço e encontrou o pai estirado no chão. Antes de abrir a porta para os demais membros da família, o filho anunciava a morte do pai aos gritos. Em seguida, todos entraram e colocaram o velho em cima de uma mesa. Após o aperreio que estampava o rosto de cada parente e as lágrimas que umedeciam os olhos, arranjaram os elementos necessários para aquela Quarta-Feira de Cinzas tão fúnebre: velas, algodão, flores... Puseram um pano em cima do defunto e uma xícara de sal em baixo (dizem que se colocar sal debaixo do defunto, ele para de inchar). Posteriormente, ligaram para a funerária, encomendaram o caixão e começaram a rezar um terço. Reza vai, reza vem.... Nesse momento, espreitava o velório pelas venezianas de uma porta que possuía duas partes, onde uma delas estava emperrada. Em seguida, fui convidado para participar da cerimônia. Entrei de lado porque sou meio gordinho e a parte da porta que abria era muito estreita. De repente, o morto deu um forte espirro, se ergueu e vociferou: — Ah, cês vão enterrar eu!? Vão enterrar o diabo, o satanás, que eu tô é vivo! Todos os presentes correram desesperadamente e eu fui um dos primeiros. Não sei como passei por aquela maldita porta que só abria uma das partes. Também me lembro perfeitamente que passaram três pessoas, de uma só vez, pelo mesmo espaço. Apenas uma pessoa não correu: a viúva. Isso que era compreensível. A pobre mulher dependia de muletas. 31
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A PEDRADA História: Karine Silva de Abreu Adaptação: André Nogueira Era hora do almoço quando a vinheta da TV anunciava a abertura de mais um jornal policial. Ficava ansiosa pelas narrativas de crimes que eram exibidas: um flagrante de assalto, um acidente, um assassinato.... Assistia vários programas desse tipo durante todo o dia. O meu favorito era o programa do Mão Branca, onde o repórter utilizava somente uma câmera, um microfone e uma mão coberta por uma luva branca para narrar os mais hediondos crimes com uma voz grave. Ao ser bombardeada por inúmeras notícias horríveis, comecei a me sentir insegura. Assim, passei a não sair de casa à noite, a não fazer compras no supermercado e a não visitar meus familiares. A situação estava ficando tão grave que fui passar algumas semanas com os meus parentes em Campinas – SP, para promover a melhora da minha situação interna. Meses depois, após voltar de São Paulo, ainda estava obcecada por noticiais de crimes na capital cearense. Contudo, estava menos insegura e já conseguia sair de casa para realizar as tarefas cotidianas. Certo dia, fui ao Mercado São Sebastião comprar frutas e alguns utensílios de casa. De repente, vi uma multidão se aglomerando em um determi32
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nado local do mercado. Procurei não me importar; não podia ser algo sério. Assim, continuei a seleção dos alimentos, mesmo com minha mente dizendo que ali havia um crime. Mais ou menos vinte minutos depois, escutei: — Mataram! Mataram! Mataram com uma pedra! Mataram! Não pensei duas vezes: Corri para o meio da multidão em busca de informações sobre o crime. Minha intuição nunca falhou. Tinha experiência em mais de cinco programas policiais. Já estava me preparando para repassar a seguinte notícia: O rapaz morreu enquanto vinha fazer compras no mercado. Alguns bandidos lançaram várias pedras pela janela de um prédio próximo à feira. Cinco delas atingiram a cabeça do rapaz. Até o momento ninguém foi preso. Posteriormente, ouvi uma nova frase: — Mataram e foi com uma pedra besta! Comecei a ficar nervosa. A multidão impedia que eu chegasse perto do rapaz estirado no chão. O desespero foi tão grande que gritei para as pessoas: — Saiam da frente, saiam da frente! Eu quero ver! Saiam da frente! — Calma, querida, já mataram! Disse uma senhora com uma cara apática. Ao chegar no centro da multidão, vi um homem segurando um galeto e sendo fotografado. Também observei várias pessoas com cartelas e canetas nas mãos, bem como um senhor muito gordo, que guardava bolinhas numeradas em um globo e dizia com ar de consolador: — Infelizmente, ele matou. Esse rapaz aqui matou com o craque, a pedra 10.
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O PROBLEMA FOI A FALTA D AGUA História: Ana Cristina de Assis Adaptação: Lenildo Gomes Pizza no Dragão do Mar, afetos mil e o motel óbvio depois do quarto chopp. Eu por cima, ele por cima, e bateu o efeito do queijo duvidoso. Corri para o banheiro e na hora de finalizar tudo e voltar para o paraíso (naquele momento seriamente ameaçado, posso afirmar), apertei o botão da descarga e percebi o nível da tragédia. Fone quebrado e a ida constrangedora até a recepção. “Moça, tá faltando água no quarto?” “Ah moço, infelizmente a bomba do poço quebrou e não tem nos quartos. Se incomoda em levar um baldezinho?” Pois é. Foi triste. O constrangimento, o asseio simplório e a volta pra casa em condições deploráveis de vergonha e tesão acumulado. O motel não existe mais, virou estacionamento. Sempre que passo em frente me lembro de tudo. Acho que não falta mais água por lá. 34
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RENATA NO ESPELHO História: Maria Edvânia Neves Barros Adaptação: Miguel Leocádio Araújo Na boca da noite, Renata estava sentada na calçada de casa. De camiseta preta, escondendo os seios pequenos, sozinha, sonhadora, ela esperava o tempo passar. Do outro lado da rua, abre-se uma porta, sai uma travesti alta, de camiseta preta e salto, escondendo os seios grandes, que seriam mostrados só mais tarde. Marchou feito uma atleta pela calçada com suas pernas fortes, atravessou a rua, olhou a outra sentada. ― E aí, bicha? Tudo bom, bonita? Como é que tá a maquiagem, mona? Tá borrada? ― ... ― Tá borrada né? ― Não tá! Tá ótima, mulher! Você é nova aqui, perguntou enquanto via a mulher quase gigante ajeitar os cabelos: ― Cheguei ontem. Como é o seu nome? ― Renata. ― E eu sou Renatinha de Pistola. Riram juntas.
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A ABACATADA História: Rosimare Castro de Souza Adaptação: André Nogueira Esperávamos ansiosamente a nossa mãe chegar do trabalho para que preparasse o jantar. A recém-viúva preparava quase sempre a mesma coisa para os sete filhos: pedaços de pão e vitamina de abacate ou abacatada, como se costuma falar em Fortaleza. Na verdade, era abacanágua, pois havia mais água do que abacate. Certa vez, quando meus irmãos e eu estávamos na cozinha, me ofereci para ajudar a mãe na realização do jantar. Comecei a retirar a carne do abacate com uma colher, depositando o con-
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teúdo dentro do copo do liquidificador. A mãe, supercontroladora, olhou para mim e disse: — Vou ali. Não mexe mais nesse abacate não, nega! E foi buscar água na vizinha. Sem me importar com a advertência que recebi, continuei colocando o abacate dentro do liquidificador. Ao perceber que minha mãe estava se aproximando, soltei a colher dentro do eletrodoméstico e corri para evitar uma bronca. Quando chegou na cozinha, a mãe colocou a água no liquidificador, sem olhar o que havia dentro, fechou com a tampa e resolveu ligá-lo na tomada. Quando ela apertou o botão, o aparelho explodiu e deixou toda a cozinha suja com uma gororoba verde. No mesmo instante, todos saíram correndo da cozinha, exceto eu. Permaneci quieta e dissimulada próxima ao local da explosão. Minha mãe, furiosa, começou a interrogar a todos. Dos sete, um tinha culpa. Como todos os outros estavam nervosos e na defensiva e eu era a única pessoa tranquila naquele momento (ninguém me viu colocando a colher no liquidificador), logo escapei de uma possível punição da minha mãe (leia-se chinelada no traseiro). Anos depois, quando já estava com mais de trinta anos, com três filhos e com dois empregos, fui passar um final de semana na casa da minha mãe. Em um determinado momento, comecei a relembrar os momentos da infância: a vizinha e seus pasteis de vento, o cachorro que se chamava Laique, as travessuras dentro de casa.... Nesse momento, confessei a ela que coloquei a colher dentro do liquidificador naquela época. Furiosa, fez a mesma cara de décadas atrás, um discurso vociferado e ainda me puniu com uma chinelada. Acredita?! 37
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DIA DE FESTA COM CELULAR História: Marcos Antônio Xavier de Lima Adaptação: Miguel Leocádio Araújo Na porta de um buffet na Maraponga: ― Boa noite, meu nome está na lista de convidados. Cláudio... Dá pra olhar aí? Depois de 3 minutos: ― Não tem esse nome aqui não. Os dois rapazes com ar de convidados atrasados se olharam, já nervosos. ― Dá pra olhar de novo? O recepcionista olhou toda a lista. Não tinha nenhum Cláudio. Com nenhum sobrenome. ― Mas eu sou convidado da noiva, a Meire! Chama a Meire aí, por favor. Faça essa caridade aí pro seu amigo... ― Olha, o nome da noiva é Fátima. Não é Meire. Aflito, Cláudio ligou para Meire, que atendeu nervosa com seu casamento, que seria no dia seguinte, na mesma hora no mesmo local. 38
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O RELACIONAMENTO História: Rosa Castro de Souza Adaptação: André Nogueira Minha irmã estava desesperada por um novo marido. Desde que o meu ex-cunhado trocou ela, uma senhora de 50 anos, por duas de 25, sua meta de vida era mostrar para as outras irmãs que estava bem e que o antigo relacionamento não a incomodava. Após a separação, ela adotou posturas bem radicais: entrou para academia, tingiu o cabelo de louro e fez três plásticas (uma no rosto e duas na barriga). Uma das plásticas se chama lipo, um negócio que o médico coloca no abdômen para sugar a gordura. Também mudou o nome: Antes era Otília, agora se chama Katiane (segundo ela, Katiane soa mais jovem). Contudo, apesar de tantas mudanças, Katiane não conseguiu um relacionamento para
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competir com o ex-marido. Tentou de tudo: festas em casas de show como o Brisa do Lago e o Kukukaya, bate-papo na internet, aplicativos no celular... E nada. Nenhum rapaz interessado. Certa vez, em uma das suas tentativas de arrumar um marido, minha irmã conseguiu um encontro com um jovem de 25 anos. Era justamente o que queria: moreno com cavanhaque, marombado e de gel no cabelo. Não sei dizer o que aconteceu durante o encontro, mas minha irmã, posteriormente, começou a levá-lo para todos os lugares (restaurantes, shopping, eventos de família...), como uma espécie de acompanhante. O relacionamento durou cerca de sete anos. Diziam as más línguas que ela pagava para o rapaz a academia, os restaurantes mais caros, as roupas de marca, o boleto do cartão de crédito.... Já não me preocupava tanto com ela. Pensei que realmente estava satisfeita, até que um dia veio à minha casa e disse: — Ele me deixou. — Vocês pareciam tão felizes – foi a primeira frase que me veio à cabeça. — Sete anos e nem um beijo. Da última vez que tentei agarrá-lo, ele saiu gritando: Sai, sai, sai, confessou aos prantos. Todavia, o motivo da separação não eram as investidas sexuais da minha irmã. Ele a deixou por outra mulher. Otília, ou melhor, Katiane, colocou na cabeça que a rival era nada mais nada menos que a Solange, a cantora do Aviões do Forró. — Eu a vi com ele, juro. Mas ela não perde por esperar: vou procurar os jornais e a televisão para desmascarar aquela bandida. Onde já se viu uma velha daquela fica com um rapaz tão novinho? disse minha irmã no seu quinquagésimo ano de vida. 40
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O AMANTE História: Maria de Lourdes Pereira Adaptação: André Nogueira Hoje em dia é muito difícil arrumar um namorado. Haviam rapazes aqui perto da minha casa com os quais saía de vez em quando, mas nenhum possuía a coragem de chegar até mim e dizer que queria um relacionamento sério. Certo dia, porém, um desses rapazes me convidou para jantar em um restaurante e dormir em sua residência. Aceitei na hora. Era a primeira vez que teria um jantar onde a sobremesa duraria a noite toda. Ao chegar no restaurante, o meu amante tratou de fazer várias perguntas que demostravam atenção e afeto: — O que é que você quer comer? Carnes? Frutos do mar? 41
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Ele escolheu uma mesa perto de uma bela paisagem e, em seguida, começamos a conversar. Dentre o bate-papo, surgiu a história de um conhecido nosso, onde a esposa o abandonou para viver um romance lésbico. O meu amante expressou uma opinião extremamente preconceituosa, dizendo que isso era uma imoralidade e não admitia que uma mulher largasse um homem para ficar com outra mulher... Em seguida, após saborear uma deliciosa lagosta, falei: — Eu acho que a mulher deve escolher quem a faça feliz, independentemente de ser homem ou mulher. Após a minha opinião, o rapaz mudou o semblante. Parecia chateado. Não falava quase nada, respondia as minhas perguntas com monossílabos e dava total atenção ao celular. Posteriormente, fui dormir em sua casa, conforme combinado. Ao chegar na residência, ele armou uma rede no canto quarto e se deitou. Em seguida, me deitei na cama e esperei que viesse me seduzir. Esperei dez, vinte minutos, uma hora e nada. Após a longa espera, dormi. Por volta das três e meia da madrugada, me despertei e fiquei pensando: — Isso não pode estar acontecendo. Tudo por causa da minha opinião sobre a lésbica? Não vou mudar meu posicionamento para agradá-lo. Mas não vim aqui para dormir. Em seguida, fui até a rede onde ele estava deitado e passei a mão em seu rosto, toda sensual. O amante tomou um susto, saltou da rede, caiu no chão e começou a passar mal. Corri desesperada em busca de ajuda. Tempos depois, as coisas começaram a melhorar: o enfermeiro aqui do hospital onde o levei acabou de me passar o whatsapp. 42
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A ATENDENTE História: Antônio de Pádua Duarte Matos Adaptação: André Nogueira Depois de cinco anos trabalhando como recepcionista e telefonista na mesma empresa, Mara se tornou uma pessoa mais bonita, feliz, eficiente e gentil com todos que atuavam na instituição. Mas isso tudo ocorria no antônimo. A atendente tinha um cabelo com a raiz preta e o restante era loiro ressecado, geralmente acompanhado de uma tiara encardida. Usava sempre um jaleco cinza, uma calça bege e, quando se sentava, era possível visualizar a cinta que prendia a barriga alimentada de biscoito recheado. Para suportar o tédio do trabalho, Mara buscava refúgio na leitura de revistas de fofoca. Observava que ela fazia leituras em voz alta sobre os casos de separação e morte dos artistas, pois não 43
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tinha amigos na empresa para compartilhar seus pequenos prazeres. Sobre o seu trabalho de recepcionar as pessoas e atender ao telefone, estava longe de ser adequado. Era sempre apática e antipática. A resposta era a mesma para todas as perguntas: — Não sei essa informação, senhor. Volte ou ligue mais tarde. O mais tarde era uma grande ilusão, mas a arrogância da atendente era bem real. Nunca olhava para os colegas de trabalhos. Sempre se referia a eles como funcionários. Era autoritária com a faxineira e tratava a todos com desdém e palavras ásperas. Certo dia, em sua rotina de mau atendimento, ela atendeu o telefone e disse: — Só um momento. Após terminar de ler a notícia sobre a separação de um casal famoso em sua revista favorita, a atendente colocou o telefone no ouvido. Ao escutar o barulho, a pessoa do outro lado da linha falou: — Diga. — Quem tem que dizer algo é você, minha filha. Fale logo o que deseja? — Gostaria de falar com o gerente, Diogo. — E quem deseja? — Selena Queiroz, a dona dessa empresa que você trabalha. Acredito que os dias da telefonista na empresa ficaram contados depois desse episódio.... Mas nem sei porque estou contando essa história. Ah, lembrei: faz uma hora que me encontro no telefone para me desfazer de um serviço de internet e uma pessoa do call-center chamada Mara transferiu a ligação para o setor de cancelamento. 44
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A ASSASSINA DE PINTOS História: Gerson Anderson Cândido Sousa Adaptação: André Nogueira Certa vez minha mãe resolveu criar pintos. Uma ninhada de mais ou menos vinte avezinhas. Acidentalmente, ela dizimou todos. O primeiro foi morto de maneira fatal: Após saborear uma melancia no quintal lá de casa, distraidamente, lançou a casca sobre a cabeça de um dos pintinhos. Tempos depois, durante um grande temporal, a querida progenitora resolveu colocar todos os animais do quintal para dentro de casa. Alguns pintos estavam saltitantes na borda de um reservatório de água daquele local. Ao colocá-los às pressas na aba do vestido, minha mãe lançou, sem perceber, três pintinhos para dentro desse reservatório. No outro dia, notou que haviam três franguinhos mortos na superfície do recipiente. 45
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Nesse mesmo dia, também notou que alguns dos pintinhos não foram resgatados do temporal e estavam encharcados. Imediatamente os colocou perto do fogão à lenha para que se secassem. Dois dos pintos foram em direção ao fogo e morreram queimados. Em uma das noites daquele mesmo período, preocupada com os pintinhos que haviam restado, minha mãe foi até um galinheiro de palha improvisado na varanda da casa para verificar a quantidade. Nessa época não havia energia elétrica. Ela levou uma lamparina para fazer a averiguação. Ao tropeçar em um objeto não identificado, derrubou a lamparina em cima do galinheiro. Antes de conseguir apagar o fogo, já havia matado mais de dois pintinhos. Confesso que não sou muito bom em cálculos matemáticos, contudo me lembro bem que restaram uns três ou quatro daqueles bichinhos, o qual o meu cachorro matou um posteriormente. O restante dos pintos desapareceu de forma misteriosa. Acho que suspeitaram do grande risco que era viver naquela casa e resolveram se livrar dos perigos, principalmente daquele que atendia por mãe.
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CHA DE CAMA História: Pedro Manoel Lima Adaptação: Miguel Leocádio Araújo Na sofreguidão contida da cama de cima do beliche da casa de praia do Cumbuco, eles transavam no escurinho, já tarde, com todo cuidado, com toda calma. Não era um estilo de sexo, era medo de acordar os outros no mesmo quarto. Fim de semana em casa de praia com muita gente é um problema... Entre beijos, mordidas, lambidas e apertos, faltava a camisinha. Uma mão se estende para a mochila pendurada no armador e pega a primeira embalagem de plástico tateada. A mão nervosa abre o saco e dali sai um cheiro forte e novo de erva doce, que entrou pelas narinas dos habitantes da noite como um convite à calma. Todos acordaram. E o sexo não foi mais feito nessa noite. O cheio da erva doce na noite enjoa. 47
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O TAMANCO DE OSSO História: Rosimare Castro de Souza Adaptação: André Nogueira Sempre fui muito festiva. Quando era adolescente, adorava frequentar um clube que havia no bairro José Walter. Contudo, os meus pais só permitiam que eu fosse a esse local caso minha irmã mais velha me acompanhasse. Essa, por sua vez, sempre se negava a ser minha acompanhante/fiscal. Certo dia, um carro de som passou na rua da minha casa e anunciou uma grande festa que iria acontecer naquele clube. Após escutar as boas novas, corri para perto da minha irmã mais velha e pedi para ela me acompanhar. Ela, como de costume, se negou. Então insisti, implorei, chorei.... Até que ela cedeu, mas colocou a seguinte condição: — Se você quiser que eu te leve à festa, terá que pegar escondido o tamanco de osso da mãe para eu calçar. Era um pedido audacioso. Todos dentro de 48
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casa sabiam o quanto minha mãe amava aquele pesado tamanco e que não podíamos nem chegar perto para apreciá-lo. Contudo, sem pensar duas vezes, realizei o pedido. Ao anoitecer, já quase pronta para ir à festa, esperei minha mãe se distrair, entrei sorrateiramente no quarto dos meus pais, coloquei o tamanco dentro de um saco de lixo, para não levantar suspeitas e saí de casa. Minha irmã já estava do lado de fora, toda produzida e à espera do calçado. Minutos depois já estávamos a caminho da festa. Antes de cruzar a pista que leva ao clube, observei que havia muita gente do lado de fora, vários carros em movimento e pessoas esperando uma brecha para atravessar. Neste momento, minha irmã encontrou uma amiga e começou a conversar. Posteriormente, sem paciência de esperar para atravessar, minha irmã e uma amiga correram diante dos carros. Todavia, na contramão, vinha um carro em alta velocidade. As duas saltaram para o outro lado da pista, mas o pior aconteceu.... Minhas pernas tremeram quando vi aquelas preciosidades esmagadas no chão. Por conseguinte, gritei: — Ai, Meu Deus: Quebrou os tamancos de osso da mãe. Ao desviar do possível atropelamento, minha irmã deixou os tamancos na pista. O carro que vinha em alta velocidade, passou por cima dos tamancos e os deixou em pedaços. Devido a minha reação, todos que estavam na rua caíram na gargalhada. Minha irmã, muito envergonhada (não sei se por causa do grito ou da revelação sobre a dona do tamanco), recolheu os restos do calçado, retornou para lado da pista onde estava e me puxou pelo braço até chegar ao portão da nossa casa. 49
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OS ESPELHOS História: Amanda Castro de Oliveira Adaptação: Lenildo Gomes Era uma dessas lojas de modinha ou algo assim. Minha mãe era meio sem noção e louca por espelhos. A tal loja, lógico, era uma espécie paraíso para ela: espelhos por todos os lados, muitos mesmo. Então ela me chamou para pedir opinião sobre o vestido azul marinho e do nada viu a minha tia mais nova passando no corredor. “Ei, olha a tua tia ali menina, chama ela, vai rápido”. Daí eu me pus a procurar, procurar, procurar e nada. “Tô achando não, mãe”. Olhamos em volta, olhamos e nada. Depois de um tempo, a mãe descobriu que a pessoa que ela viu e achou que era a minha tia era o reflexo dela no espelho. Mais jovem, claro. Minha mãe era louca por espelhos e meio sem noção.
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CHEIRO DE DESINFETANTE História: Francisco de Assis Costa de Oliveira Adaptação: Lenildo Gomes O meu irmão costuma passar horas no banheiro. Eu costumo precisar do banheiro sempre pela manhã. É rotina mesmo. Acordo e vou lá. Naquele domingo, depois do tradicional pão com café no desjejum bateu a inevitável vontade. Vou tranquilamente e, para minha surpresa, descubro que o João tava no sanitário. Pequeno pânico inicial que na sequência se tornou um pânico gigantesco. A vontade ficou tão grande que começou a causar arrepios. Bateu! No desespero, olhei pela casa, procurei uma saída quando, do nada, me deparei com uma pequena caixa de papelão. Pensei, uma, duas, três vezes e foi nela mesmo. No meu quarto, não só defequei como mijei na caixa. Uma vergonha! Depois, cinicamente, dobrei a caixa, passei pano no chão com desinfetante (sim, o xixi vazou da caixa) e levei o produto todo embalado para fora de casa. Atravessei a rua e coloquei num canto de um poste que já continha bastante lixo. Olhei para os lados, voltei cabisbaixo e, vejam só, meu irmão saiu do banheiro e perguntou sobre o cheiro de desinfetante espalhado pela casa. Só rindo mesmo. 51
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O TANQUE DO MEU PAI História: Maria Elzenir Bezerra Herculano Adaptação: Lenildo Gomes Meu pai é um sujeito muito bacana e sempre fez de tudo para agradar os filhos. Uma vez colocou na cabeça que iria construir um tanque no quintal pra gente tomar banho. E assim foi. No dia da inauguração eu e meu irmão nos olhamos meio desconfiados. Tava estranho o tanque que meu pai resolveu chamar de piscina. Muito estranho, mesmo! Mas ele tava feliz e lá fomos nós, sunga, biquíni e tudo mais. Água até o talo, da torneira e da chuva que resolveu deixar tudo mais divertido. Ou, quase. Pouco tempo depois da farra aquática iniciada, o tanque não suportou, rachou, partiu ao meio… Quase uma explosão!!! Água para todos os lados, o tanque partido e meu pai chegando desesperado no quintal. Eu e meu irmão naufragando e rindo ao mesmo tempo. O tanque do meu pai durou 20 minutos, ou menos. Ele, imbatível, prometeu fazer outro. Ainda bem que nunca fez. 52
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CREME DE GALINHA História: Maria da Conceição de S. Santos Adaptação: Lenildo Gomes Os cachorros lá de casa costumam comer as sobras de comida das festas que eu vou. Já estão acostumados. No aniversário da Rejane eu comecei a visualizar o jantar da bicharada a partir de um prato básico deixado em cima da mesa: arroz, farofa e creme de galinha. Eles adoram! Só não contava com um detalhe essencial: o prato tinha dona. Na hora que comecei a recolher ela chegou de mansinho e reclamou para si a propriedade da comida. “Desculpa, eu ía levar para os meus cachorros”. Ela riu em alto e bom som. “Também ía fazer o mesmo. Os lá de casa amam creme de galinha”. Falamos ao mesmo tempo: “e eu também”. Os cães puxam aos seus donos.
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O ENCONTRO História: Pâmela Sousa Adaptação: André Nogueira Era para ser um encontro de Internet. Algo simples, do tipo, bate-papo, mostra foto e marca para se ver. Tudo bem que eu morava em Fortaleza e ela no Rio, mas e daí? Ponte aérea existe pra isso, né?! Foram três meses de conversa, e dá-lhe mensagens, áudios, fotos, vídeos pelo whatsapp. Nem é preciso falar que rolava uns nudes de todos os tipos e ótimas conversas de madrugada. Um negócio que estava dando certo. Eu esqueceria minha ex e ela ganharia uma pessoa incrível (sou modesta). O mês de março chegou e tive a ideia de convencê-la a vir passar o aniversário dela em Fortaleza. Sim, a carioca era pisciana (fujam). Fui buscá-la no aeroporto e veio a primeira estupidez de uma série ilimitada em um período de cinco dias. – Nossa, a água aqui é muito cara. Vem de um carro-pipa? Se eu soubesse teria colocado água do Rio de Janeiro na mala. Ouvi a baboseira e soltei um risinho amarelo. Dentro do táxi, a caminho da pousada, a mania mais terrível que 54
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uma pessoa pode ter ela apresentou: os dedos e olhos colados no celular. Tudo bem, era aniversário dela... Vou relevar. Já na pousada, a vontade de experimentar o beijo, saber se a gata tinha pegada e tal... Tinha pegada, cheirava bem, mas a língua que podia ser usada para outras coisas, ela preferiu usá-la para falar asneiras. Mentalmente, eu tentava me convencer que valeu a pena o dinheiro gasto na pousada, no táxi e no presente lindo que eu havia comprado. Sim, sou taurina, dou importância à grana, mas quem não dá, não é mesmo?! Bom, sábado de sol, dia de ir à Praia do Futuro... Tomo café da manhã e descubro que me alimento de forma equivocada: – Primeiro, a fruta, depois, o café e etc. Vocês chamam isso de tapioca, lá no Rio o nome disso é... Poxa, você não trouxe bolsa de praia? E agora? Naquela primeira manhã eu já estava desejando a morte dela e passei a odiar o Rio a cada palavra dita com aquele sotaque. Nunca havia desejado tanto o sumiço de alguém. Propositalmente, fui à praia sem biquíni e com uma camisa preta do The Smiths. Levei-a a uma barraca onde só rolava rock e MPB, ou seja, música boa. Forró? Sertanejo? Nem pensar! Vou mostrar a ela todos os equipamentos culturais da cidade e fazer com que esta criatura deseje voltar o mais rápido possível para a cidade maravilhosa. Enquanto caminhávamos pelo calçadão da Praia de Iracema, em uma tentativa inútil de tornar o passeio menos indesejado, puxei conversa e comecei a apresentar a cidade, o que algumas coisas significavam... Porém a cola que existia entre os dedos dela e o celular foram infinitamente mais atraentes. É verdade que não expressei por meio de palavrões a repulsa que eu estava sentindo naque-
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les dias, mas sabe aqueles balõezinhos que aparecem em cima da cabeça de personagens de história em quadrinhos? Pois é, na minha haviam vários. A gota d’água foi no penúltimo dia. Estávamos caminhando na Beira-Mar, passamos em frente ao Jardim Japonês e perguntei se ela queria conhecer, tirar foto, essas coisas que turistas gostam. – Pra quê, se no Rio de Janeiro tem a Floresta da Tijuca? Naquele momento contei dez Mississipis, nove Mississipis... trezentos Mississipis... – Quer saber? Vamos para a pousada, trocar de roupa e vou levar você a uma casa de humor. Levei a carioca para ouvir as mesmas piadas bobas, machistas e preconceituosas que costumam contar por aqui. Pedi duas torres de chopes (fiz ela beber a torre quase toda), comprei camarão, pizza, fiz selfies, falei de coisas banais, como a separação de artistas... Meu pensamento era um só: amanhã ela volta para o Rio, pelo menos um bom sexo eu faço questão. E assim aconteceu. Um sexo incrível! Até de conchinha dormimos. Dia da partida. Era chegada a hora de despachar aquela mala para o Rio. Mal conseguia me conter de ansiedade. Chegamos no aeroporto. Faltava uma hora para o voo sair. De repente, um desastre aconteceu: A companhia aérea não permitiu o embarque da carioca para sua terra natal. Nem sei como descrever o meu desespero. Enquanto ela berrava e se descabelava, eu só desejava sair daquele aeroporto e respirar ar puro. Só podia ser castigo. Deve ser praga da minha ex. Fui para a entrada do aeroporto fumar e até hoje ainda penso em processar a companhia aérea pelas vinte e quatro horas que ainda tive que suportar aquela garota.
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MATEMATICA, FLORES E A DOR DE BARRIGA DO JUNINHO História: Paulo César Silva dos Santos Adaptação: Lenildo Gomes Estudar matemática nem sempre foi fácil mesmo. Nesse dia, não tive com quem deixar o Juninho e foi o jeito levá-lo para a UFC junto comigo. Tinha grupo de estudos. Mal começou e o menino sentiu dor de barriga. Só ouvia ele dizendo baixinho: “pai, pai…” Corri para o banheiro! Tudo tranquilo, exceto por um detalhe, faltava água e papel higiênico. Olho para todos os lados, comecei a ficar nervoso e a solução não foi, digamos assim, a melhor possível. Havia um jarro com um arranjo de flores e água. Então, tinha que escolher entre as flores e a limpeza do Juninho. Não tive dúvidas. “Pai, pai, a flor vai morrer sem água? ”
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MINI CURRICULOS Mateus de França: É ilustrador/ músico de Fortaleza. Estudou artes gráficas, arte urbana e fotografia no porto Iracema das Artes e hoje estuda no Curso Técnico em Música do IFCE. Já fez trabalhos de ilustração para bandas independentes, tanto em Fortaleza quanto do Rio de Janeiro. Além de trabalhos em artes visuais também faz shows nos diversos espaços da capital cearense. Miguel Leocádio Araújo: É professor de Língua Portuguesa na UECE. Escreve contos, poemas, crônicas, frases que não encontram lugar certo e guarda-os. Trabalha como revisor de textos e supervisor editorial. Traduz do alemão e do francês. É mestre em Letras, com dissertação sobre Clarice Lispector, e tem publicado artigos acadêmicos sobre literatura e ensino de língua portuguesa. Nádia Sousa: É produtora cultural desde 95. Também é professora/orientadora de cursos de produção e gestão cultural. Graduada em Letras pela UECE, tem especialização em teorias da comunicação e da imagem (UFC). Atualmente dirige a Mercúrio - Gestão, Produção e Ações Colaborativas e coordena projetos culturais na área de Humor, Teatro, Dança, Fotografia, Áudio Visual e Literatura.
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Lenildo Gomes: É escritor e gestor Cultural. Mestre em Sociologia pela UFC; Formação em Dramaturgia pelo IACC; Pesquisador em audiovisual e música; Professor Universitário e Oficineiro de cursos de formação na área de Linguagem Audiovisual, Roteiro, Cinema e Educação. Atualmente é Coordenador de Conhecimento e Formação Cultural da Secretaria de Cultura do Ceará. Jorge Cesar: É pesquisador, escritor e graduando do curso de Licenciatura em Teatro do IFCE. Atuou em vários espetáculos tais como: Saga Nordestina, Os Títeres de Cachamorra, O Conto do Vigário e Fabulosa. Também participou de tele aulas para a TV Cultura. André Nogueira: É escritor, professor, ator e produtor cultural. Graduado nos cursos de Licenciatura em Teatro (IFCE) e em Letras Português e Espanhol (UFC). Possui experiências nas áreas de Produção e Gestão Cultural, Humor, Elaboração e Avaliação de Projetos Culturais, Teatro, Canto, Dança, Apresentação de Eventos, Espanhol, Literatura, Dramaturgia e Educação. Carlos Weiber: Designer gráfico e ilustrador, largou tudo pra cuidar de seus três gatos: Elza, Edgar e Elvis. Atualmente espera o cometa que extinguirá a humanidade. 59
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FICHA TECNICA Título do livro: Humor da Vida Pública Idealizador do Projeto: Jorge Cesar Moreira Rodrigues Equipe organizadora: André Nogueira e Jorge Cesar Produção do Projeto: Mercúrio - Gestão, Produção e Ações Colaborativas Coordenação Geral do Projeto: Nádia Sousa Supervisão Editorial: André Nogueira e Nádia Sousa Pesquisa de Campo: Jorge Cesar Moreira Rodrigues Autores das Histórias: Amanda Castro de Oliveira, Ana Cristina de Assis, Rosa Ângela Alves de Moura, Antônio de Pádua Duarte Matos, Daniel Malaquias de Vasconcelos, Elenilse Pereira Rocha, Elzimar Bezerra Herculano, Francisco de Assis Costa de Oliveira, Geraldo Mendes, Gerson Anderson Cândido Sousa, Jacqueline Rodrigues, Karine Silva de Abreu, Maria da Conceição de S. Santos, Maria Edvânia Neves Barros, Maria Elzenir Bezerra Herculano, Maria de Lourdes Pereira, Mário Rubens Silva de
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Sales, Marcos Antônio Xavier de Lima, Pâmela Sousa, Paulo César Silva dos Santos, Pedro Manoel Lima, Rosa Castro de Souza, Rosilane Castro de Souza, Rosimare Castro de Souza, Tony Ramires Aguiar Nunes e Wanessa Araújo Tavares. Transcrição das Histórias: Gabriel de Sousa Adaptadores das Histórias: André Nogueira, Lenildo Gomes e Miguel Leocádio Araújo Ilustrações das histórias: Mateus de França Local da Publicação: Fortaleza - Ceará Projeto gráfico e Diagramação: Carlos Weiber Edição: 2ª / 2018 Páginas: 62 Coloração: Colorido ISBN: 978-85-61315-28-3
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