Ao infinito - o espaço das mulheres no espaço

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Texto e ilustrações por Carol D’Avila.


“Não deixe ninguém roubar de você sua imaginação, sua criatividade ou sua curiosidade. É o seu lugar no mundo, é a sua vida. Vá em frente e faça tudo o que puder com ela, e faça dela a vida que você quer viver.” — Mae Carol Jemison



Aos meus pais e familiares, que nunca deixaram de acreditar em mim e de estarem ao meu lado. Aos amigos e amigas, que moram perto e moram longe, que me ouviram e me apoiaram. Ă professora Denize, que me orientou, me guiou e acreditou em meu projeto.


SUMร RIO

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A histรณria da NASA

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Computadores humanas

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Apollo 11

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Mercury 13

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As astronautas russas

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As primeiras seis

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As outras primeiras

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Conte a sua histรณria



A HISTÓRIA DA NASA

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T

udo começou em 1915, quando a NASA, a agência estadunidense que cuida de assuntos relacionados à pesquisa e exploração do

espaço, ainda não existia como a conhecemos hoje, ela se chamava NACA e era responsável pela aeronáutica do país, fazendo testes com aeronaves e estudando novas tecnologias para elas. A NACA foi criada durante a época da Primeira Guerra Mundial, que aconteceu entre 1914 e 1918, e lá pelos anos 50 as coisas começaram a mudar. Em 1947 os Estados Unidos e a União Soviética iniciaram um conflito chamado de Guerra Fria, que levava esse nome porque eles não se enfrentaram diretamente, foi uma batalha ideológica onde as duas potências tentavam provar que uma era superior a outra. Dentre várias disputas, acontecia a Corrida Espacial, que foi a responsável pela transformação da NACA em NASA. E como isso aconteceu?

M ÍSES FAZIA QUAIS PA VIÉTICA? UNIÃO SO PARTE DA eorgia, crânia, G Rússia, U uiztão, q ia, Uzbe Bielorúss ão, a , Azerb ij Armênia istão, u g tão, Quir Cazaquis istão, n e , Turcom ia v á ld o M , o, Letônia Tajiquistã ia n ô e Est Lituânia

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E

m 4 de outubro de 1957 a União Soviética enviou para o espaço o primeiro satélite artificial do mundo, o chamado Sputnik 1.

Com esse acontecimento histórico, os Estados Unidos começaram a sentir medo de serem deixados para trás na Corrida Espacial, e assim decidiram que a agência que cuidava da aeronáutica poderia ser também responsável pelas pesquisas relacionadas ao espaço, robótica e satélites, então era criada a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (em inglês National Aeronautics and Space Administration), a conhecida NASA. Em 12 de abril de 1961 a União Soviética dava mais um importante passo na corrida: o astronauta russo Iuri Gagarin se tornava o primeiro ser humano a ser enviado para o espaço pela missão Vostok 1. Até aquele momento os Estados Unidos só haviam realizado missões com macacos, então, sentindo mais uma vez a pressão de serem ultrapassados, eles enviaram o astronauta Alan Shepard na missão Freedom 7 no dia 5 de maio de 1961, sendo ele o segundo ser humano no espaço e o primeiro americano. A partir daqui, as mulheres começam a fazer parte da história da pesquisa e da exploração do espaço, e nós vamos te contar como tudo aconteceu, desde as mulheres que viram a NASA nascer até as que lutaram e conquistaram o direito de serem astronautas também.

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COMPUTADORES HUMANAS

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KATHERINE JOHNSON

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DOROTHY VAUGHAN

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MARY JACKSON

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Quem eram as computadores humanas?

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ram chamadas de computadores as pessoas que tinham como função realizar cálculos, tanto homens quanto mulheres. Nos anos 30 foi criada

uma área dentro da NACA somente com mulheres cuja tarefa era fazer cálculos para os engenheiros. Eles mesmos faziam esses cálculos mas era uma tarefa demorada, e com a ajuda dessas funcionárias eles poderiam se dedicar aos trabalhos maiores, economizando bastante tempo. Durante a Segunda Guerra, muitos dos homens que trabalhavam na NACA foram recrutados pelo exército, e assim se fazia necessário um número maior de mulheres contribuindo. A funcionária Virginia Tucker teve como tarefa encontrar novas candidatas, e é dado a ela o crédito pelo grande crescimento no número de mulheres dentro da agência. Somente nos anos 40 a área que comportava as computadores na NACA decidiu contratar mulheres negras também, porém elas eram chamadas para ocuparem outras vagas e acabavam como computadores, já que essas áreas não aceitavam pessoas negras ainda.

Por causa do racismo e da segregação daquela época, as mulheres negras trabalhavam separadas das mulheres brancas, mesmo que elas exercessem as mesmas tarefas.

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Dentro dessa área segregada das computadores humanas negras, três mulheres se destacaram muito pelos seus incríveis trabalhos, e por lutarem para que elas e suas colegas não fossem vistas apenas como máquinas. Seus nomes são Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson.

Katherine Johnson Katherine nasceu em 25 de agosto de 1918, concluiu o ensino médio com 14 anos e se formou na faculdade com 18. Ela e seus três irmãos tiveram que morar há 200 km do lugar onde viviam, na Virginia Ocidental, para poderem estudar porque nenhuma escola aceitava alunos negros. Em 1953 ela entrou para a NASA para trabalhar como uma das computadores, e por ser muito dedicada logo já recebia tarefas maiores e mais importantes. Em 1962 a NASA enviava John Glenn para a órbita do espaço, naquela época os primeiros computadores da IBM começavam a chegar na agência, mas era uma tecnologia desconhecida e as pessoas não tinham certeza se poderiam confiar nos seus dados. John Glenn pediu para que Katherine conferisse a mão todos os cálculos da sua missão, e se ela dissesse que tudo estava certo ele então embarcaria. John colocou sua vida nas mãos da mulher que um dia foi “apenas” uma das computadores, e a missão foi um sucesso. Katherine foi também a primeira mulher da NASA a assinar e receber créditos em um relatório. Em 2015 ela recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade do presidente Barack Obama, e em 2017 a NASA construiu um prédio em sua homenagem. Katherine faleceu em fevereiro de 2020 aos 101 anos de idade.

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Mary Jackson Mary nasceu em 9 de abril de 1921, e aos 22 anos se formou com um diploma duplo em matemática e ciências físicas no Instituto Hampton, universidade americana historicamente negra. Em 1951, quando a agência espacial ainda era a NACA, Mary se tornou uma das computadores, e apenas dois anos depois ela foi convidada a trabalhar com os engenheiros do túnel de vento, área onde aconteciam testes com foguetes e aviões. Os engenheiros se impressionaram com o seu trabalho e a convenceram a fazer cursos que poderiam transformá-la em engenheira também, o que não seria fácil já que além de mulher ela também era negra, e teria que enfrentar a misoginia e o racismo para alcançar os seus objetivos. As aulas que ela deveria assistir para conseguir o título de engenheira aconteciam na Hampton High School, uma escola formada completamente por pessoas brancas. Seria um grande desafio para Mary fazer parte daquele ambiente, mas ela o aceitou e nunca desistiu: lutou nos tribunais para conquistar o direito de estudar e conseguiu uma permissão especial que a colocaria dentro da escola segregada. Em 1958, o ano em que a NACA se transformava na NASA, Mary conseguiu seu título de engenheira aerosespacial, um acontecimento raro e incrível para a época, pois era muito difícil que mulheres se tornassem engenheiras. Ela foi a primeira engenheira negra da história da NASA e esteve nesse cargo durante 20 anos, em 1979 foi para o departamento especializado em igualdade de oportunidades e ajudou mulheres, negros e outras minorias a crescerem nas suas áreas também. Mary faleceu em 11 de fevereiro de 2008 com 83 anos, e dedicou toda sua vida a lutar pelos direitos dos negros e das minorias.

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Dorothy Vaughan Dorothy nasceu em 20 de setembro de 1910, com 19 anos se formou em matemática e trabalhou como professora numa escola para alunos negros. Em 1943 ela entrou para a área das computadores humanas e, assim como Katherine e Mary, fez muito mais do que sua posição exigia. Apesar da área das computadores ser formada totalmente por mulheres e negras, ela era supervisionada e comandada por homens brancos. Seis anos após entrar para a NACA, Dorothy se tornou a primeira supervisora negra de uma ala na história da instituição e superou todas as expectativas. Quando os computadores da IBM começaram a chegar na agência Dorothy aprendeu sozinha como usá-los, porque assim ela poderia ensinar todas as outras mulheres também e ter certeza de que nenhuma delas perderia o seu emprego. Mesmo que fosse apenas supervisora, ela defendia suas funcionárias com muita determinação para garantir todos seus direitos, promoções e aumentos de salário. Dorothy foi supervisora até a transformação da NACA em NASA, quando a separação entre negros e brancos deixou de existir, e assim foi transferida para a nova divisão de análise e computação, onde todos os homens e mulheres trabalhavam juntos. Ela se tornou especialista na linguagem de programção dos computadores da IBM e participou de projetos importantíssimos na NASA. Dorothy se aposentou depois de 28 anos na agência e sempre incentivou mulheres a fazerem parte da ciência também. Ela faleceu em 10 de novembro de 2008 aos 98 anos de idade.

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APOLLO 11

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m 21 de julho de 1969 Neil Armstrong se tornava o primeiro homem a pisar na lua através da missão Apollo 11, onde ele

partiu rumo ao espaço com os astronautas Michael Collins e Buzz Aldrin, e juntos eles realizaram a primeira alunissagem da história. O que pouquíssima gente sabe é que a missão só foi um sucesso graças aos trabalhos de uma mulher muito inteligente, integrante da equipe de programação que desenvolveu os softwares que foram usados na Apollo 11, e seu nome é Margaret Hamilton. Se não fosse por ela, a missão poderia ter sido mais uma grande tragédia. Nascida como Margaret Heafield em 17 de agosto de 1939 no estado de Indiana, nos Estados Unidos, ela se formou em matemática em 1958 e fez uma pós-graduação em metereologia no MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, até hoje um dos maiores centros de pesquisa e desenvolvimento no mundo. Ela deu aulas de matemática e francês por algum tempo mas logo decidiu fazer outra faculdade. Em pouco tempo ela foi convidada para trabalhar dentro do próprio MIT, e essa experiência deu a ela a oportunidade de trabalhar para a NASA. Margaret foi escalada para ocupar o cargo de diretora e supervisora da equipe de programação de softwares, a mesma equipe que foi responsável pelo programa que controlava os vôos e pousos de naves de missões importantes como as do programa Apollo e Skylap. Nessa época não existiam cursos especializados em ciência da computação, então os primeiros programadores precisavam aprender essas atividades por conta própria.

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MARGARET HAMILTON A mulher que levou o homem para a lua

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m 16 de julho de 1969 o foguete Saturn V foi lançado para o espaço com os astronautas a bordo, o módulo Eagle se soltaria

da nave e assim aconteceria o pouso no solo lunar, também chamado de alunissagem. O software que margaret desenvolveu tinha como função alertar sobre possíveis falhas durante a missão, e a equipe poderia ter o controle da situação. E assim aconteceu, um erro humano na lista de comandos deixou o sistema sobrecarregado e fez com que o alarme de emergência tocasse, mas ele foi ignorado quando os especialistas imaginaram que fosse alguma coisa aleatória, e esse pequeno erro poderia ter causado uma grande catástrofe que levaria a morte de todos os tripulantes da missão. Ao ser cancelado, o alarme tocou mais uma vez e a equipe percebeu que alguma coisa estava mesmo errada, e assim eles puderam contornar o problema. Se não fosse pelo software inteligente desenvolvido inteiramente por Margaret, a missão Apollo 11 seria marcada como mais um desastre na história da NASA. Podemos dizer então que o homem só pisou na lua graças aos trabalhos de uma mulher. Em 1972, Margaret foi co-fundadora da empresa High Order Software, e alguns anos depois fundou a Hamilton Technologies, onde ela trabalha até hoje. Em 2003 ela recebeu um prêmio da NASA pelas suas contribuições e em 2016 foi homenageada com a medalha presidencial das mãos do então presidente Barack Obama.

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MERCURY 13

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m 1961, época em que a NACA se transformava em NASA, outra mulher ganhava uma grande atenção também, seu nome era

Jerrie Cobb. Nascida Geraldyn Cobb, em 5 de março de 1931 no estado de Oklahoma, nos Estados Unidos, ela era uma dedicada piloto de avião e colecionava muitos recordes em velocidade, altitude e distância. Jerrie foi considerada um dos 100 jovens mais influentes da década de 60 pela revista LIFE, e seu maior sonho era poder viajar para o espaço. O machismo intenso da época impedia que Jerrie realizasse seu sonho, pois para se tornar astronauta era necessário ser piloto militar, e esse era um cargo que somente homens poderiam ocupar. Isso não fez com que Jerrie desistisse de seu sonho, ela lutou muito para que mulheres tivessem o direito de participarem de viagens para o espaço também, e após questionar essas regras foi decidido que se mulheres comprovassem resistências físicas e psicológicas, passando pelos mesmos testes dos homens, essa chance seria concedida a elas. Jerrie foi a primeira aprovada, passando por testes pesados que incluiam jatos de água fria nos ouvidos e tubos que desciam pela garganta para testar o ácido estomacal. Outras doze mulheres foram aprovadas também com resultados ainda maiores que os dos homens, e assim foi criado o programa espacial feminino Mercury 13. Apesar de terem mostrado um desempenho incrível, nenhuma das treze mulheres chegou a viajar para o espaço, Jerrie foi transferida para outra área na NASA e assistiu uma mulher russa receber o título que deveria ter sido seu, o de primeira mulher no espaço. Jerrie faleceu em 18 de março de 2019, e até hoje seu nome é reconhecido como um dos mais importantes na luta pela igualdade de gênero.

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JERRIE COBB A astronauta que nรฃo foi pro espaรงo

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Quem foram as outras mulheres do mercury 13? 30

IRENE LEVERTON

JANE HART

MYRTLE CAGLE

WALLY FUNK

GENE NORA JESSEN

JERRI SLOAN


BERNICE STEADMAN

SARAH GORELICK

RHEA HURRLE

MARION DIETRICH

JAN DIETRICH

JEAN HIXSON

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AS ASTRONAUTAS RUSSAS

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o comecinho da corrida espacial, Jerrie Cobb lutava para que ela e as outras doze mulheres

americanas do Mercury 13 pudessem participar de atividades espaciais, no entanto, mais uma vez a União Soviética deu um passo à frente dos Estados Unidos e levou também o título da primeira mulher no mundo a embarcar para o espaço, numa tentativa de provar suas capacidades científicas e tecnológicas. Em 16 de junho de 1963, a russa Valentina Tereshkova foi enviada através da espaçonave Vostok 6 para uma missão espacial com duração de três dias. Daqui em diante, as mulheres finalmente tiveram sua chance de começar a fazer história para além do planeta terra.

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VALENTINA TERESHKOVA V

alentina Vladmirovna Tereshkova foi a primeira mulher a viajar para o espaço. A cosmonauta, termo mais usado na Rússia para se referir

a astronautas, nasceu em 6 de março de 1937 na vila de Maslennikovo, na Rússia. Ela se candidatou para o programa espacial pouco tempo depois do também russo Iuri Gagarin ter se tornado o primeiro homem no espaço, e se destacava por suas posições políticas porque eles buscavam alguém que seguisse a linha ideológica do governo. Valentina tinha experiência em salto de paraquedas, já tendo realizado 126 saltos até o momento, e depois de 18 meses de testes com mais quatro mulheres ela foi selecionada junto com outra candidata. Valentina Ponomaryova foi a segunda finalista e o objetivo era que cada uma das mulheres pilotasse uma espaçonave diferente, mas ela tinha fortes opiniões feministas que incomodavam os líderes do programa espacial, então foi substituída por um homem. Em 1963, Valentina Tereshkova partia para sua missão através da Vostok 6, dando 48 voltas no mundo em 71 horas. Ao retornar ela foi homenageada como heroína da União Soviética, recebeu várias medalhas importantes e teve um asteróide batizado com seu nome. Hoje ela trabalha com política na Rússia.

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SVETLANA SAVITSKAYA E

m 1982, 19 anos depois da missão que levava a primeira mulher para o espaço, a também russa Svetlana Yevgenyevna Savitskaya se

tornava a segunda mulher cosmonauta e, além disso, a primeira mulher a andar na lua e a primeira a fazer duas viagens espaciais. Svetlana nasceu em 8 de agosto de 1948 em Moscou, na Rússia Aos 22 anos ela já havia completado mais de 400 saltos de paraquedas, e aos 24 recebeu seu diploma em engenharia. Após se formar ela se candidatou como piloto de testes, e então se qualificou para poder pilotar vários tipos de aeronaves. Com 17 anos Svetlana já havia batido vários recordes em velocidade e altitude, tudo isso enquanto praticava saltos de paraquedas. Svetlana entrou para o programa espacial soviético em 1980 e apenas dois anos depois, em 19 de agosto, ela se tornava a segunda mulher a embarcar para o espaço na missão Soyuz T-7. Em 25 de julho de 1984 ela embarcava na sua segunda viagem na missão Soyuz T-12, e além de receber o título de segunda mulher no espaço, também se tornou a primeira mulher a pisar na lua, e a primeira mulher viajar duas vezes para o espaço. Quando retornou, Svetlana trabalhou para a companhia russa Energia, uma grande produtora de naves, mísseis e foguetes, com um cargo executivo. Em 1989, assim como Valentina, ela decidiu entrar para a política.

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SVETLANA

VALENTINA 38


AS PRIMEIRAS SEIS

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QUEM FORAM AS PRIMEIRAS

SEIS ASTRONAUTAS? RHEA SEDDON

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SALLY RIDE

KATHRYN SULLIVAN JUDITH RESNIK

SHANNON LUCID ANNA FISHER


THE FIRST SIX

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uando pensamos em astronautas, muitas vezes a imagem que vem em nossa mente é de um homem dentro de um traje

branco com um capacete, mas a verdade é que mulheres astronautas existem há muitos anos também, mulheres que bateram recordes e fizeram coisas tão incríveis quanto os homens, e poucas vezes nós vimos os seus rostos ou ouvimos falar de suas histórias. O primeiro grupo de astronautas formado completamente por mulheres, o Mercury 13, foi anunciado em 1961, e nenhuma das treze participantes que foram escolhidas para o projeto chegou a embarcar em alguma missão espacial. Somente em 1979, dezoito anos depois, a NASA decidiu criar um novo grupo onde as mulheres selecionadas finalmente participariam de viagens para o espaço. Entre mais de mil canditadas, seis delas foram escolhidas para fazerem parte do primeiro grupo de mulheres astronautas, seus nomes são Sally Ride, Anna Fisher, Judith Resnik, Kathryn Sullivan, Shannon Lucid e Rhea Seddon, e elas são chamadas de “the first six”, ou “as primeiras seis”.

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SALLY RIDE


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ally Kristen Ride nasceu em 26 de maio de 1961 em Los Angeles, ela foi a primeira norte-americana a viajar para o espaço e a terceira

mulher depois das russas Valentina e Svetlana. Em 1973 ela se formou na Universidade de Stanford se especializando em física e inglês, e em 1978 ela completou seu doutorado em física. No mesmo ano de seu doutorado ela foi selecionada como candidata a astronauta pela NASA junto com outras mil pessoas, e em 1979 ela passou por vários testes e treinamentos que a fariam especialista de missões, o título que a levaria para o espaço no futuro. Suas duas primeiras missões, STS-7 e STS 41-G, em 1983 e 1984, foram a bordo do ônibus espacial Challenger. Em 1986 aconteceu um grande acidente onde o ônibus espacial explodiu na sua decolagem, e Sally foi recrutada para o grupo que investigaria as causas desse explosão. Em 2003 outro acidente aconteceu com o ônibus espacial Columbia, e Sally foi a única pessoa a ajudar nas investigações de ambos os acidentes. Sally se aposentou da NASA em 1986 depois de liderar uma equipe de estudos que elaborou um relatório aconselhando sobre o futuro do programa espacial, e três anos depois ela se tornou professora de física e diretora do Instituto Espacial da Califórnia. Em 2001 ela fundou a Sally Ride Science, uma institução que desenvolvia

programas

incentivando

mulheres e meninas a participarem da ciência também. Sally faleceu em 23 de julho de 2012 em decorrência de um câncer no pâncreas.

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ANNA FISHER A

nna Lee Fisher nasceu em 24 de agosto de 1949 em Nova York, e é conhecida como a primeira mãe a viajar para o espaço! Quando

a NASA deu a ela a chance de fazer sua primeira viagem espacial ela estava grávida de oito meses e meio, e isso não a impediu de aceitar imediatamente a oportunidade. Anna se formou em química em 1971 e em 1976 concluiu seu doutorado em medicina. Ela ajudou em pesquisas e trabalhou em vários hospitais até a NASA abrir vagas para futuros astronautas em 1977. Anna e seu marido, que também era médico de emergência, se candidataram, mas ele só foi chamado dois anos depois dela. Em 1979 ela passou por vários testes e ajudou em diversos projetos e missões, e cinco anos depois Anna deixava sua pequena filha Kristin aos cuidados do pai para embarcar na sua primeira missão a bordo do ônibus espacial Discovery. Ela trabalhou em áreas de apoio e treinamento, tirou uma licença de sete anos para se dedicar a família e em 1996 retornou como chefe da Estação Espacial, coordenando operações e supervisionando astronautas. Anna se aposentou aos 67 anos como uma dos astronautas que mais contribuiram para a NASA, mas nos dias de hoje ainda participa de palestras e debates sobre a participação das mulheres nas áreas de ciência e tecnologia.

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JUDITH RESNIK


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udith Arlene Resnik foi a segunda mulher norte-americana a viajar para o espaço, e uma das sete tripulantes da missão 51-L no ônibus

espacial Challenger, que explodiu logo após sua decolagem, em 1988. Ela nasceu em 5 de abril de 1949 em Ohio, nos Estados Unidos, e era de uma família de judeus. Desde criança Judith era muito dedicada aos estudos e se dava muito bem com as áreas da ciência e da matemática, em 1970 ela se formou em engenharia mecânica e em 1978, um ano depois de completar seu doutorado, ela foi selecionada pela NASA para o grupo de mulheres astronautas. Depois de passar por um ano de treinamentos ela contribuiu em vários projetos importantes do Orbiter, um “compartimento” que carrega todas as funções vitais de um ônibus espacial, e também ajudou a desenvolver um braço mecânico que move objetos fora de uma espaçonave. Sua primeira missão, a STS-41-D, foi a bordo do ônibus espacial Discovery em 1984, e logo foi escalada para a equipe que embarcaria em missão no ônibus espacial Challenger, em 1986. A equipe era formada por mais seis pessoas, incluindo a professora Christa McAullife, a primeira pessoa que não era astronauta de formação a participar de uma missão em um ônibus. Judith teria como função fotografar o cometa Halley, mas um vazamento de hidrogênio fez com que o ônibus explodisse no ar segundos depois de ser lançado, e infelizmente toda a tripulação acabou morrendo naquele acidente, que é considerado um dos maiores desastres da história.

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KATHRYN SULLIVAN K

athryn Dwyer Sullivan foi a primeira mulher a flutuar espaço, e também parte importante no desenvolvimento do Telescópio Hubble,

um telescópio que revolucionou a astronomia capaz de explorar as profundezas do universo. Ela nasceu em 3 de outubro de 1951 em Nova Jersey, nos Estados Unidos, se formou em geociências em 1973 e fez um doutorado em geologia em 1973. Kathryn é apaixonada pelos estudos da terra e seu sonho era poder viajar para vários lugares e explorar o mundo. Durante seu doutorado ela se especializou em oceanografia e participou de várias pesquisas sobre as características do fundo do mar. Em 1978 ela se candidatou para uma vaga de astronauta na NASA, e em 5 de outubro de 1984 ela embarcava na sua primeira missão a bordo do ônibus espacial Challenger. Junto com o astronauta David Leetsma eles performaram uma caminhada espacial que durou 3 horas e meia, tornando Kathryn a primeira mulher americana a realizar atividades fora da nave. Ela participou de mais duas missões, em 1990 embarcou no ônibus espacial Discovery e ajudou a implantar o Telescópio Hubble na órbita da terra, e em 1992 foi comandante de carga útil no Spacelab, um laboratório enviado em viagens espaciais. Em 1993 Kathryn deixou a NASA para se tornar cientista chefe numa agência parceira, a NOAA, que tem estudos focados no oceano e atmosfera terrestre.

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SHANNON LUCID


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hannon Wells Lucid é veterana de cinco missões espaciais, e recordis-

ta feminina de maior tempo no espaço. Filha de pais missionários, ela nasceu em Xangai, na China, em 14 de janeiro de 1943. Quando ela ainda era recém nascida, ela passou vários meses como prisioneira de guerra com seus pais em um campo japonês durante a segunda guerra. Em 1963 ela recebeu seu diploma em química, e em 1970 e 1973 completou seu mestrado e seu PHD. Enquanto estava na universidade ela trabalhou por várias áreas, como professora e técnica de laboratório. Em 1978 ela foi selecionada pela NASA como uma das seis candidatas a astronautas, e em 17 de junho de 1985 fez seu primeiro vôo ao espaço a bordo do ônibus espacial Discovery, onde ela ajudou a implantar satélites de comunicação. Shannon embarcou em mais quatro missões, nos anos de 1989, 1991, 1993 e 1996. A missão STS-58 no ônibus Columbia bateu um recorde, completando 14 dias de duração. Em 1996 ela embarcou em uma missão na MIR, a estação espacial russa que flutuava na órbita da terra, sendo a única mulher a participar de uma missão nessa estação espacial. Shannon é recordista entre as mulheres astronautas com o maior tempo no espaço, registrando 223 dias em missões. Em 2002 ela foi nomeada cientista-chefe da NASA e em 2003 se aposentou da agência. Em 1996 ela recebeu a Congressional Space Medal of Honor, uma honraria dada a um grupo seleto de astronautas, sendo a primeira mulher a recebê-la, e em 2014 foi incluída no hall da fama dos astronautas dos Estados Unidos.

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lém de ser uma das seis mulheres a integrar o primeiro grupo feminino de astronautas da NASA, Margaret Rhea Seddon também

foi uma das seis únicas mulheres numa sala de cem alunos na faculdade de medicina onde estudou, e a primeira mulher a ser aceita no programa de residencia em cirurgia geral. Ela nasceu em 8 de novembro de 1947 no estado do Tennessee, nos Estados Unidos, em 1970 se formou em fisiologia e em 1973 completou seu doutorado em medicina. Depois do seu doutorado, Rhea iniciou sua residência em cirurgia geral que durou 3 anos, sendo a única mulher naquela época num programa de residência cirúrgica de um hospital particular. Nesse mesmo tempo ela fez estágios e trabalhou por vários hospitais nos Estados Unidos. Em 1978 ela foi selecionada como candidata pela NASA, e no ano seguinte conseguiu seu título de astronauta, trabalhando por várias áreas da agência. Ela contou que a primeira tarefa do grupo das seis mulheres foi desenvolver uma forma de fazer xixi no traje de astronauta, já que ele era pensado apenas para o corpo e necessidade dos homens. Rhea realizou três missões, em 1985, 1991 e 1993. Ela foi escalada para a missão de 1986, onde o ônibus Challenger explodiu, mas uma mudança na agenda a tirou da equipe. Ela trabalhou na NASA por 19 anos e em 1997 se aposentou das missões, retornou ao Tennessee e trabalhou como diretora médica assistente, mas continuou contribuindo em pesquisas e experimentos da NASA. Hoje Rhea leva seu conhecimento e experiências aos jovens, e continua defendendo a educação em ciência e tecnologia.

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RHEA SEDDON


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ntes de tudo, esse livro fala sobre representatividade. É muito importante relembrar os nomes e contar as histórias de

mulheres tão incríveis e que contribuiram tanto para a ciência, ainda mais mulheres de outras etnias, raças e ascendências, principalmente porque elas fizeram a diferença e se mostraram grandes numa época em que existia um preconceito muito maior do que nos dias de hoje. Além de enfrentar a misoginia (o ato de diminuir, menosprezar, e até mesmo agredir mulheres pelo simples fato de elas serem mulheres) elas também venciam preconceitos dentro da área da ciência e tecnologia, que até hoje é composta em sua maioria por homens. Você já conheceu as histórias das primeiras mulheres negras dentro da NASA, agora vamos te contar um pouco sobre a primeira astronauta negra, a primeira japonesa e a primeira indiana.

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MAE JEMISON


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ae Carol Jemison nasceu em 17 de outubro de 1956 no estado de Alabama, nos Estados Unidos, e é conhecida por ser a primeira

mulher negra a ter viajado para o espaço. Além de ex-astronauta ela também é médica e engenheira, e ajudou em pesquisas para a vacina da hepatite B. Mae se formou em engenharia química em 1977 na Universidade de Stanford, uma das instituições mais prestigiadas e seletivas do mundo. Enquanto estava na universidade, ela aproveitou para participar de atividades como teatro e dança, foi líder da União dos Estudantes negros e teve oportunidades para estudar no Kenya e em Cuba. Depois de receber seu diploma, Mae trabalhou como voluntária para as Forças da Paz na Tailândia, Serra Leoa e Libéria e além do trabalho de campo, escreveu manuais de auto cuidado e saúde pública, ajudou a desenvolver vacinas e aprendeu três idiomas: russo, japonês e suaili. Quando voltou para os EUA em 1985 ela se inscreveu no programa de astronautas da NASA, que acabou sendo adiado por conta do acidente com o ônibus espacial Challenger. Um ano depois ela estava entre 15 selecionados de dois mil inscritos no programa, e depois de passar por treinamentos ela se tornava a primeira mulher negra a viajar para o espaço, a bordo do ônibus espacial Endeavour no dia 4 de julho de 1992. Os anos de Mae na universidade não foram fáceis. Apesar de ela ter estudado numa escola com muita diversidade, quando chegou no ensino superior ela não era apenas uma das poucas mulheres presentes ali, era também a única mulher negra. Mesmo que se esforçasse para interagir ela era sempre excluída dos grupos por causa da sua cor, aparência e por ser mulher. Ainda enfrentando o racismo e a misoginia, Mae não desistiu de correr atrás de seus sonhos. Em 1993 ela se desligou da NASA e hoje lidera programas que tem o objetivo de levar a ciência para crianças e enviar humanos para além do sistema solar nos próximos cem anos.

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KALPANA CHAWLA C

onhecida por ser a primeira mulher indiana a se tornar astronauta, Kalpana Chawla nasceu em 17 de março de 1972 na cidade de

Karnal, no estado de Haryana, na India. Ela se formou em engenharia aeronáutica em 1982 e então se mudou para os Estados Unidos para crescer nos estudos. Em 1984 ela completou seu mestrado em engenharia aeroespacial e em 1988 recebeu seu título de Ph.D na mesma área. Kalpana tinha uma licença de instrutor de vôo com qualificação para vários tipos de aviões e planadores, e ela gostava muito de fazer acrobacias no ar e voar com trens de pouso. Ela começou a trabalhar no Centro de Pesquisa Ames da NASA no mesmo ano de seu Ph.D e em 1995 foi apresentada pela NASA como candidata a astronauta no 15º Grupo de Astronautas. Depois completar um ano de treinamento, Kalpana foi colocada como a representante da tripulação, e no ano seguinte se tornou principal operadora de braço robótico e especialista da missão STS-87, que aconteceu do dia 19 de novembro ao dia 5 de dezembro de 1997. Kalpana participou de duas missões, sua segunda viagem foi a STS-107, também a bordo do ônibus espacial Columbia, que aconteceu entre 16 de janeiro e 1º de fevereiro de 2003. A equipe, composta por Kalpana Chawla, Rick Husband, Willie McCool, David Brown, Michael Anderson, Laurel Clark e Ilan Ramon realizou 80 experimentos com sucesso, mas ao retornar para a terra acontecia um dos maiores acidentes da história, quando a temperatura da nave começou a aumentar e uma placa de proteção térmica acabou se soltando, iinfelizmente o ônibus espacial se desfez no ar matando toda a tripulação. Em setembro de 2020 uma espaçonave foi batizada com seu nome, em homenagem a suas grandes contribuições para a ciência.

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CHIAKI MUKAI C

hiaki Mukai nasceu em Tatebayashi, no Japão, no dia 6 de maio de 1952, ela foi a primeira mulher japonesa a viajar para o espaço. Sen-

do uma mulher jovem num país e numa época que valorizavam tanto a imagem da mulher esposa, dedicada ao lar e aos filhos, ela superou todas as expectativas se tornando uma cirurgiã dedicada e astronauta pela NASA. Ela fez seu doutorado em medicina em 1977 pela Universidade de Keio, no Japão, trabalhou alguns anos como cirurgiã e em 1989 recebeu seu certificado de cirurgiã cardiovascular pela Sociedade Cirúrgica do Japão. Enquanto trabalhava, ela teve a oportunidade de contribuir em pesquisas científicas e de antigravidade na Agência Nacional de Desenvolvimento Espacial do Japão. Em 1985 Chiaki foi selecionada com mais dois candidatos para participar de uma missão no Spacelab, um laboratório enviado em viagens espaciais, na órbita da terra. Essa missão era uma parceria entre a agência japonesa e a NASA, então ela embarcou rumo ao espaço a bordo do ônibus espacial Columbia em 8 de julho de 1994 e lá conduziu 82 experimentos sobre microgravidade e a vida no espaço. Em 29 de outubro de 1998 ela participou de outra missão a bordo do ônibus espacial Discovery, e nesse momento Chiaki se tornava, além da primeira mulher japonesa astronauta, o primeiro cidadão japonês a fazer duas viagens espaciais. Chiaki recebeu muitas honrarias e homenagens pelos seus serviços e heroísmo, prêmios da Sociedade Japonesa de Mulheres Cientistas, da Agência Nacional de Desenvolvimento Espacial do Japão, o “Reconhecimento Especial” do congresso dos Estados Unidos e uma menção do Primeiro Ministro por contribuições á igualdade de gênero.

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CHIAKI

MAE

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KALPANA

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VOCÊ TAMBÉM PODE SER ASTRONAUTA


se desenhe ao lado e conte um pouco sobre a sua histĂłria e tudo aquilo que vocĂŞ quer fazer!

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