O passaporte do financiamento Por Carolina Goyer Teixeira Que o governo brasileiro vem enviando dinheiro em forma de financiamento para diversos países com os quais fecha acordos, poucos cidadãos sabem. O que realmente surpreende, porém, são os valores de tais transações. Analisemos as cifras emprestadas no ano de 2012: Luciene Machado, superintendente de Comércio Exterior do BNDES, em entrevista à Agência Brasil, disse que o país deveria “terminar o ano com mais ou menos US$ 1,5 bilhão” desembolsado para o “apoio de exportações ligadas a projetos de infraestrutura no exterior”. O 1 bilhão e meio de dólares previstos pela superintendente transformou-se em US$ 2,17 bilhões, como divulgado pelo jornal Folha de São Paulo no ultimo mês. Com as quantias liberadas para Cuba e Angola, a Argentina acabou sendo desbancada pelo país africano, que tornou-se o principal receptor de recursos públicos brasileiros. Digo públicos, pois toda a verba em questão é liberada através do Banco Nacional de Desenvolvimento, o BNDES. O que levou a Folha de S. Paulo a publicar tais dados foi a recente decisão do ministro da Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Fernando Pimentel, de tornar secretos e invioláveis, até 2027, os documentos que tratam do financiamento cedido pelo governo aos dois países. Segundo o ministério, tal proteção a estes documentos deve-se ao fato de que contêm informações estratégicas sobre as transações. Ora, em tempos de Lei de Acesso à Informação o ministério do Desenvolvimento impede que nós, cidadãos pagantes da dívida pública e reais financiadores de todas as transações que envolvam o governo brasileiro, tenhamos conhecimento do que está sendo feito e para onde estão indo os valores que entregamos ano a ano aos cofres públicos sob a máscara de impostos e arrecadações? As estratégias devem ser transformadas em conhecimento geral, de acesso público, assim como tantos outros documentos que seguem a Lei de Acesso recém aprovada. O povo que trabalha para pagar suas contas e sofre com a enxurrada de cobranças municipais, estaduais e federais, não pode fechar os olhos sem questionar o que está sendo feito com o dinheiro que entrega aos cofres. Enquanto no território nacional houver fome, insegurança, desigualdade e problemas de infraestrutura, a população deve rebelar-se contra o envio de verbas para o exterior, que visa apenas o
aquecimento de alguns setores do mercado interno, sem gerar melhor qualidade de vida.