Revista Hypeness 2015

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SUMÁRIO

5 E se a água acabar? 6 Trending Topics 10 Artistas driblando a Ditadura 12 Escola 100% vegana 14 O cotidiano de grandes artistas 15 Book Smiles 16 Carta ao leitor

Frida Eterna

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Paraísos Aquáticos Viagens Literárias Breve relato da vida em 2034 Uma semana sem redes sociais

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Mãe cria boneca para sua filha

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Pelas lentes de um Iphone Na casa dos pais

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O pop não poupa ninguém

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Uma questão de identidade

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O saldo de David Violência Obstétrica

O Legado de Mujica

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Nação Rivotril O poder do musical Letras e quadrinhos

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REMETENTE

Carta ao leitor

(e ao internauta, ao telespectador, ao ouvinte...)

O

site Hypeness já possui um grqnde número de acessos por dia. Será que criar uma versão impressa dessas notícias do portal iria agradar o nosso público? Pois é, não custa tentar. E foi assim que chegamos a nossa primeira edição impressa, fruto de discussão em aulas, divergência de opiniões e um resultado final surpreendente. Trazer parte do conteúdo para essas páginas não foi algo fácil, adaptar, pesquisar o que seria viável e atrativo ao público que já nos acompanha e acredita nessa pegada descontraída e curiosa que levamos diariamente. Mas ao menos podemos proneter muito conteúdo interessante, inspirador e que te surpreenderá, daqueles textos que você têm vontade de passar adiante e comentar com um amigo ou colega de trabalho sabe? “Poxa, li na Hypeness uma matéria sobre o Mujica muito boa, tenho que te mostrar”. É pretencioso querer isso, mas admitimos que todo o trabalho desejava no fundo algo assim. Nada de lista de curiosidades, nada idêntico ao encontrado no mercado. Não imprimimos um site, imprimimos uma ideia. Nessa primeira edição, com erros e acertos, chamamos a Frida, o Mujica, ilhas, livros e filmes, pra te mostrar de tudo um pouco. E claro, fotografia, inspiração, polêmicas interessantes e atuais como o parto, a utilização exagerada de Rivotril no país, o David

veio dançar, nossas colunistas decidiram imaginar o mundo daqui alguns anos, temos quadrinhos também, que não podia ficar de fora já que a parte mais deliciosa de muitos jornais, já foi essa. Queremos mais amigos que leitores, queremos formar assuntos e conhecimento. São muitos desejos para poucas e recentes páginas. Leitor, tudo isso é pra desejar a você uma ótima leitura, com simplicidade no projeto gráfico, sensibilidade nas imagens e diagramação. O site ainda está no ar, e sempre irá estar, se a Web assim desejar. Unido agora ao site, com matérias inéditas, ou talvez mais aprofundadas do que as do próprio site. O conteúdo continua acessível, experimental, e é claro, esperamos críticas e sugestões, do fundo do seu coração. Queremos construir todos juntos a Hypeness impressa assim como construímos a online. Assim como construímos a maioria dos sites e portais da internet, hoje tão democrática. Aqui vai ter muita democracia também, e se reclamar vai ter duas! O pensamento jovem precisa de espaço, as ideias geniais precisam de espaço e nós precisamos de um mundo tão grande quanto a internet pra podermos ajudar a disseminas todas elas, pra que cheguem a tanta gente interessante e inovadora como você que está lendo essa carta e está além de tudo, nos apoiando não só na internet, mas agora nessa edição feita com tanto carinho <3

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E se a água acabar? Costumes mudarão radicalmente se ficarmos sem água BRUNA ZANATTA

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oi uma noite abafada. Acordei no meio dela, empapado de suor. Ao levantar de manhã, só queria poder tomar uma ducha. Mas, em São Paulo, essa comodidade se tornou um sonho. Apenas por desencargo de consciência, abri a torneira. Nem uma gota, nada. Vai ser mais um dia daqueles. Por termos dois banheiros, conseguimos separar as funções. O da entrada é para as necessidades básicas e a porta dele agora vive fechada, senão o cheiro contamina nosso direito de ir e vir dentro de casa. Descarga, uma vez a cada três ou mais dias. No final de semana passado uma amiga veio fazer uma visita e precisou ir até ali. Dei na mão dela um balde d’água e desejei boa sorte. É o tipo de intimidade que nunca imaginei ser necessário ter. Já o banheiro da suíte ficou para os procedimentos de limpeza a seco. Lenços umedecidos, álcool gel, enxaguante bucal. Na conta do mês, o gasto com esses itens quadruplicou. A louça não sai mais do armário, substituída por pratos e talheres de plástico. Que costumam ir direto para o lixo logo após o uso. Enquanto tomo café em um copo descartável, ligo o noticiário matinal. Escolas dispensando alunos devido à falta de água. Empresas demitindo funcionários e abandonando escritórios. Donos de lava-rápido, pet shops e tinturarias se unem em

protesto no centro da cidade. Mais um homicídio cometido entre vizinhos motivado pelo uso de uma mangueira. E o governador anuncia novos investimentos nas polícias para conter os anseios da população. Qualquer semelhança entre esses primeiros parágrafos e um futuro próximo pode não ser mera coincidência. Desde 2013 pelo menos, quem mora em São Paulo vem acompanhando diariamente as últimas novidades sobre os reservatórios de água. Virou uma pauta cotidiana, como assistir aos gols da rodada. A gente se acostumou a esse tipo de notícia. Por isso, nem faz muito sentido chamar de crise hídrica o que era uma tragédia anunciada. Não é que a gente não sabia que isso ia acontecer. O foco aqui é em São Paulo por ser onde fica a nossa base. Porém, sabemos que a escassez também vem atingindo outros estados por conjunções de fatores muito parecidos. A conta envolve questões ambientais, incompetência das autoridades responsáveis e uma cultura de desperdício nada sustentável. Basicamente, São Paulo foi construída em cima de uma volumosa bacia hidrográfica. As reformas urbanas que vieram com o crescimento econômico canalizaram e enterraram os rios embaixo de avenidas. Esses canais que a água procura, daí as enchentes. Porém, dois grandes rios continuam correndo a céu aberto no meio da cidade >>

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INOVAÇÃO

Helena tem consciência de que é preciso economizar água “Ou a gente muda, ou o planeta morre” Bem, o governo estadual torrou nas duas últimas décadas uma quantia substancial de dinheiro com esse objetivo. Quem passa pelo rio diariamente pode atestar se os investimentos deram retorno. Sabemos que a população aumentou em geral. E, quanto maior o número de pessoas, maior a necessidade de água e o esgoto gerado. A maneira míope como nos acostumamos a consumir esse bem vital não se sustentaria por muito tempo. Varrer calçada com mangueira, lavar o carro toda semana e tomar de dois a três banhos por dia são comportamentos que não têm mais espaço em um mundo de recursos naturais limitados. Como a inércia é uma característica humana nata, a população deveria ter sido estimulada por seus representantes a mudar esses costumes ambientalmente irresponsáveis. Isso muito antes de atingirmos o volume morto. Também sabemos que o planeta vem sofrendo um processo de mudanças climáticas, trazendo seca e altas temperaturas para a região sudeste como nunca antes na história. Não é de hoje que São Paulo

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deixou de ser a terra da garoa. Os responsáveis pelo fornecimento da água não realizaram um planejamento de longo prazo que oferecesse margens de segurança para períodos adversos como esse de agora. Em 2009, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente elaborou um documento com o auxílio de 200 especialistas prevendo um cenário pessimista para a bacia do Sistema Cantareira nos anos seguintes. O trabalho já propunha naquela época medidas para promover uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos. Segundo o Ministério Público, em 2012 a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) enviou um relatório à Bolsa de Nova York alertando seus acionistas sobre os riscos da estiagem impactar os investimentos. Porém, somente em março de 2014 o governo de São Paulo adotou o incentivo que está em vigor atualmente, dando descontos de até 30% na conta para os contribuintes que consumirem 20% menos de água. E somente agora, em janeiro de 2015, foi anunciada a criação de um comitê interdisciplinar para enfrentar a questão.

Para o mal ou para o bem, o ser humano nunca deixa de nos surpreender. No Hypeness a gente vive pesquisando iniciativas inovadoras no campo da sustentabilidade para servirem de inspiração (aqui, aqui e aqui tem exemplos). Dado o cenário crítico, traz esperança ver uma porção de ações nesse sentido brotando voluntariamente por aí. Desde pessoas relatando como estão economizando água das formas mais criativas possíveis, até grupos púbicos que promovem a construção colaborativa de cisternas caseiras. Agora que esgotamos um modelo e estamos todos juntos correndo com baldes atrás do prejuízo, talvez seja o momento para uma nova cultura florescer. Baseada na responsabilidade ambiental em vez da exploração até a última gota. Na comunicação transparente em vez da demagogia política. No coletivo em vez do individualismo. E no compartilhamento em vez da competição. Essas mudanças devem partir de todos nós, sem Deus dará. água não faltaria, São Paulo inteira sabe que o racionamento já é realidade. É só entrar nas redes sociais para encontrar novos relatos sobre a penúria. Dependendo do bairro, faz meses que a água tem horário certo para faltar todos os dias. E, apesar do pesar dos pesares, de fato eu e você podemos e devemos contribuir para reduzir danos. Não só a gente, como também as indústrias e o agronegócio, que são os maiores consumidores de água. Qualquer mudança no sentido de economizar recursos naturais como a água. O lado bom de não ter muita água para beber é que suas idas ao banheiro também vão ser mais espaçadas e, consequentemente, você dará menos descarga. Mas, né, não vai dar para evitar para sempre a ida ao trono. Para isso, temos a solução: baldes, muitos baldes. Nada de usar os baldes como pinicos (pelo menos por enquanto). Com eles, é possível armazenar água de chuva (aquelas que inundam a cidade, mas não enchem os reservatórios).


Construir uma nova caixa d’água é uma solução melhor do que captar e reutilizar o recurso através de uma cisterna? Ao mesmo tempo, gostaríamos também de saber das autoridades o que está sendo feito para sanar os vazamentos na rede de distribuição, onde mais de 30% da água tratada é desperdiçada antes de chegar às torneiras. Era bom ter visto isso aí antes de começar os cortes no fornecimento, não? Aumentar a eficiência é sempre melhor do que economizar na emergência. Alguém discorda? Para o mal ou para o bem, o ser humano nunca deixa de nos surpreender. No Hypeness a gente vive pesquisando iniciativas inovadoras no campo da sustentabilidade para servirem de inspiração (aqui, aqui e aqui tem exemplos). Dado o cenário crítico, traz esperança ver uma porção de ações nesse sentido brotando voluntariamente por aí. Desde pessoas relatando como estão economizando água das formas mais criativas possíveis, até grupos púbicos que promovem a construção colaborativa de cisternas caseiras. Agora que esgotamos um modelo e estamos todos juntos correndo com baldes atrás do prejuízo, talvez seja o momento para uma nova cultura florescer. Baseada na responsabilidade ambiental em vez da exploração até a última gota. Na comunicação transparente em vez da demagogia política. No coletivo em vez do individualismo. E no compartilhamento em vez da competição. Essas mudanças devem partir de todos nós, sem Deus dará. Ou a gente muda, ou o planeta segue sem a gente. Nos mercados, não haveria carne, pois, se não há água para você, imagine para o gado. Gastam-se 43 mil litros de água para produzir 1 kg de carne. Mas não é só ela que faltará. A Região Centro-Oeste do Brasil, maior produtor de grãos da América Latina em 2012, não conseguiria manter a produção. Afinal, no País, a agricultura e a agropecuária são, hoje, as maiores consumidoras de água, com mais de 70% do uso. Faltariam arroz, feijão, soja,

Só a Grande São Paulo consome atualmente 80,5 bilhões de litros por mês. A água que abastece a região virá de Santos, uma das grandes cidades do litoral que passarão a investir em dessalinização. O problema é que para obter 1 litro de água dessalinizada são necessários 4 litros de água do mar, a um custo de até US$ 0,90 o m³, segundo a International Desalination Association. Só São Paulo gastaria quase R$ 140 milhões em dessalinização por mês. Como resultado, a água custaria muito mais do que os R$ 3 por m³ de hoje. Mas há quem não concorde com esse cenário caótico. “A água só acaba se você acabar com o ciclo dela”, diz Antônio Félix Domingues, da Agência Nacional de Águas. “Tudo é questão de custo. Com dinheiro, você pode tornar até sua urina potável.” Mas, se ela acabasse, a água seria um bem disputado, motivo de guerras e de exclusão social. “Poucas pessoas teriam acesso, provavelmente as mais abastadas. A água po-

deria virar um elemento segregador”, diz Glauco Freitas, coordenador do Programa Água para a Vida, da ONG WWF-Brasil. A mais grave crise de abastecimento de água potável no estado de São Paulo e principalmente na Região Metropolitana, ainda não foi tratada com realismo por parte da mídia e das autoridades. Até agora o que se viu e ouviu sobre o nível dos reservatórios, não retrata a verdadeira “guerra civil” que se aproxima nos meses seguintes, garantem especialistas. E que ninguém se anime com a promessa da Sabesp de que ainda há uma terceira cota de 41 bilhões de litros do volume morto do Cantareira, cujo uso deve ser solicitado pelo governo paulista junto à ANA nos próximos dias. “Sabemos que 45% do Cantareira que não é captado é volume morto. A terceira cota restante não é toda ela captável. Teríamos com ela mais uns 10%. É absurdo o desperdício de água, é hora de acordar n

Até agora o que se viu sobre o nível dos reservatórios, não retrata a verdadeira “guerra civil” JULHO 2015

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TRENDING TOPICS EXPOSIÇÃO SOBRE JIMI HENDRIX CHEGA A SP Sediada num espaço dentro do Shopping JK Iguatemi, “Hear My Train Comin’: Hendrix Hits London” retrata um momento crucial na história do lendário artista do rock, um dos maiores guitarristas de todos os tempos. A mostra está dividida em 14 alas, passando pelos figurinos do músico e suas guitarras quebradas em shows, O período expositivo acaba no dia 31 de julho. Os ingressos serão vendidos de R$ 20 a R$ 50 sendo crianças até 12 anos e idosos acima dos 65 anos isentos.

A VIDA SECRETA DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Seu gato dorme o dia inteiro? Seu cachorro come e corre pela casa? Você tem certeza? Quando estão perto de nós, nossos pets têm um comportamento, mas e quando não estamos em casa, o que eles fazem? De um jeito muito divertido e criativo, é a essa pergunta que “Pets – A Vida Secreta dos Bichos”, a nova animação da Universal, responde. Dirigida por Chris Renaud, diretor de “Meu Malvado Favorito”, a produção tem previsão de estreia no Brasil para 2016, Será que o seu cão ou gato também faz isso quando você sai?

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BICICLETA ROMÂNTICA O velho e bom correio elegante continua sendo uma das melhores e mais eficazes opções para quem deseja enviar uma mensagem de amor. Por conta do Dia dos Namorados que está chegando, a startup OhBiKer lançou a ação OhBiker Elegante - Correio de biCHICleta, que enviará correio elegante gratuito para a pessoa amada durante o próximo dia 12 de junho. A entrega será feita de bicicleta.

MAPA MUNDIAL EM TEMPO REAL MOSTRA TRENS E ÔNIBUS A empresa alemã geOps e a Universidade de Freiburg desenvolveram um mapa interativo que mostra, em tempo real e simultaneamente, a movimentação de trens, metrôs e ônibus do mundo todo. No Brasil, a cidade de São Paulo é a única que contempla o serviço. A plataforma ganhou o nome de TRAVIC (Transit Visualization Client ou Cliente de Visualização de Trânsito, em tradução livre). Ela utiliza informações fornecidas por mais de 200 empresas de transporte público, entre as quais estão CPTM, o Metrô e a SPTrans. As posições não são totalmente precisas, mas o mapa aposta na visualização dinâmica e riqueza de dados. Quando você clica na rota de um ônibus ou trem, ele exibe todo o percurso e os horários de chegada em cada local. Este aplicativo é necessário principalmente em grandes capitais pois temos um grande volume de ônibus, trens e metrôs, que turitas e até mesmo usuários recentes não saberiam decifrar para onde vão. Confira em http://tracker.geops.ch/

QUANTAS BIKES CABEM NA VAGA DE CARRO? Todos nós sabemos que bicicletas poluem menos e que são meios de transporte mais saudáveis e práticos. Mas você sabe quantas bikes cabem no espaço de um carro? Os designers da agência inglesa Cyclehoop pensaram em uma forma pra lá de criativa de mostrar isso: um paraciclo em formato de carro que pode ser instalado em uma vaga de automóvel. O paraciclo suporta até 10 bicicletas, deixando claro que no espaço de um automóvel, cabem essas bikes. Elas bikes podem ser amarradas ao paraciclo com toda a segurança, já que a moldura de metal as protege do trânsito. Além disso, o paraciclo conta com uma bomba para encher pneus e espaço para publicidade.


ESPORTE É COISA DE MENINA SIM SENHOR! Futebol, hockey, futebol americano, beisebol, softbol, basquete… só os meninos podem jogar? Para quebrar preconceitos e empoderar garotinhas de 4 a 5 anos, em Oklahoma, nos EUA, foi criado um time de softbol feminino inspirado na animação Frozen – mais especificamente, na princesa Elsa. Chamado de Freeze (Congelar, em português), o time foi clicado pela criativa fotógrafa Betsy Gregory, que vestiu as meninas de Elsa, enquanto seguravam tacos, capacetes e tinham as clássicas marcas de tinta no rosto: verdadeiras princesas guerreiras! “É empolgante, de verdade, para as meninas…’Eu posso estar bonita e ser durona ao mesmo tempo‘“, afirmou Betsy. Confira ensaio completo no link: http://bit.ly/1GWDNJu

LOCAÇÕES FAMOSAS Você já quis conhecer onde foram gravados os filmes de O Senhor dos Anéis? E Game of Thrones? Harry Potter? The Walking Dead? Esse grupo de amigas sim. Tanto que por dois anos elas estão rodando o mundo atrás das locações de filmes e seriados famosos. A iniciativa do grupo Fangirl Quest, que hoje roda muito além do Reino Unido. Siga as garotas em fangirlquest.com/

PAI DESENHA UM ANIMAL POR DIA

ARTE CLÁSSICA EM LOCAIS INUSITADOS

JANELAS DO MUNDO EM FOTOGRAFIA

Ter um filho pode mudar a rotina de uma pessoa. No caso do web designer Kyson Dana, o nascimento de seu primeiro filho, representou uma mudança de rumo na carreira e foi o ponto de partida para uma série de ilustrações. Inspirado em sites como o Type Fight, Kyson desafiou seu amigo Jeffrey Smith para um duelo de ilustrações no Instagram. O desafio envolvia desenhar um animal cujo nome começasse com uma letra do alfabeto por dia, em um duelo que durou 26 dias. As ilustrações teriam que ser postadas na rede social até a meia-noite com a hashtag #SketchAZduel. A conta do Instagram do ilustrador ganhou 1.500 novos seguidores. Confere lá: @kysondana

É inevitável ficar com um certa sensação de estranheza ao observar as obras criadas pelo artista e designer Alexey Kondakov. Com o auxílio das ferramentas do Photoshop, ele traz personagens de obras de arte clássicas para ambientes que fazem parte do nosso dia a dia. O ucraniano faz com que anjos querubins utilizem o transporte público para se locomover. Membros com vestimentas da nobreza saem de seus palácios para se sentar à mesa de um bar. Estes são apenas alguns exemplos de criações que confundem realidade e ficção na série intitulada “The Daily Life of Gods” (ou “A vida cotidiana dos deuses”). Aprecie: fb.com/alexey.kondakov.48

A arquitetura de uma cidade tem muito a dizer sobre a vida de seus habitante. Enquanto muita gente adora viajar por aí fotografando edifícios históricos ou mesmo casas tradicionais, alguns preferem se especializar em algum tipo de imagem. É o caso de Valentina, que busca recriar bandeiras de países no mundo real e do fotógrafo Jason Peterson, que registra o cotidiano das cidades por onde passa em preto e branco. Mas o fotógrafo português André Vicente Gonçalves foi um passo adiante ao transformar as janelas de diferentes cidades em uma série única e cheia de cores, que vai te inspirar a andar pelas ruas olhando para cima. Veja: fb.com/andrevgoncalves

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CULTURA

Artistas driblando a Ditadura Como grandes compositores disfarçavam em meio de suas canções protestos contra a censura da década de 70 “Hoje você é quem manda / Falou, tá falado / Não tem discussão / A minha gente hoje anda / Falando de lado / E olhando pro chão, viu / Você que inventou esse estado / E inventou de inventar / Toda a escuridão”. Quando o cantor e compositor Chico Buarque voltou para o Brasil em 1970, após passar um período exilado na Itália, ele se sentiu enganado. Enquanto que nas cartas que recebia era vendida a imagem de um país melhor, a realidade lhe trouxe o rígido governo de Emílio Médici, que escondia torturas e repressão com gols da Copa e slogans do tipo “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Chico decidiu escoar toda a sua angústia e frustração nos versos acima, que compõem a famosa música “Apesar de você”. Crente de que a canção seria vetada, o cantor se surpreendeu quando os censores acreditaram que os versos falavam de um simples desentendimento entre namorados e os liberaram. O compacto com as músicas “Desalento” e “Apesar” de você vendeu mais de 100 mil cópias e foi somente meses mais tarde, depois de ser publicada uma nota sobre a música em um jornal, que o governo sacou: o estado de que Chico falava era com “e” maiúsculo e a desavença era com Médici – em um interrogatório, contudo, o cantor bateu o pé ao ser questionado sobre quem era o “você” da canção. “É uma mulher muito mandona, muito autoritária”, teria dito. Se o primeiro período do regime militar, comandado pelo general Humberto de Alencar Castelo Branco, foi razoavelmente suportável para os artistas e também para os protestos, o bicho pegou com a vigência do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968. Pode-se dizer que, a partir dessa

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data, a censura estava oficializada e toda peça cultural deveria ser submetida ao crivo dos censores, o que amordaçou a produção intelectual e artística do Brasil. Em uma briga estilo Davi e Golias, a censura da Ditadura Militar cortou e vetou muitas canções, livros, filmes, novelas e peças de teatro, mas foi, nos termos de hoje, trollada mais vezes do que gostaria. Era na música que os protestos mais pungentes contra o regime estavam presentes. Na maioria das vezes, eles vinham mascarados por inversões, ironias, duplos sentidos e estratégias linguísticas que não raro passavam despercebidas pelo Departamento de Censura de Diversões Públicas (DCDP), mas nunca pelo público. Aos olhos dos censores, contudo, não era só o posicionamento contra o governo que chamava a atenção, mas também todo e qualquer termo ou situação que atentasse contra a moral e os bons costumes – o quão vago é isso? “Tudo que era negócio de cama, corno, seio, não podia falar. Passei quatro anos dessa maneira“, conta Odair José, famoso pelas músicas bregas. Canções como “O Motel” e “A Primeira Noite” foram censuradas justamente por “ofenderem a moral e os bons costumes”. Por outro lado, a famosa “Pare de Tomar a Pílula” foi liberada e os censores só voltaram atrás quando uma campanha nacional pelo controle de natalidade foi patrocinada pelo governo. Alguns censores incluíam nesse difuso balaio dos bons costumes o dialeto padrão. Prova disso é o compositor paulista Adoniran Barbosa, que usava em suas músicas a forma coloquial de falar, e teve várias de suas canções vetadas – até mesmo as que

não eram inéditas. O motivo? Palavras como “tauba” (tábua), “revorve” (revólver), “fumo” (fomos) e “artormove” (automóvel). Razões como “pésismo gosto” ou “gosto duvidável” também eram frequentemente usadas pelo DCDP para sustentar censuras. Quando Chico Buarque tapeou a censura com “Apesar de você”, ele despertou a ira dos censores, que passaram a vetar, sem mais nem menos, toda e qualquer canção cuja autoria era de Chico. Mas se eles achavam que dessa forma iriam barrar o cantor, estavam muito enganados. Em uma jogada pra lá de esperta, Chico usou um pseudônimo para driblar a implacável censura: Julinho da Adelaide. Foi assim que ele lançou o LP “Sinal Fechado” em 1974 e várias canções que se valiam de metáforas e dos artifícios já mencionados para se referir ao regime e lançar provocações. Uma delas foi “Jorge Maravilha”, cujo verso “Você não gosta de mim mas sua filha gosta” chegou a ser interpretado como pirraça ao então presidente Geisel, já que sua filha teria admitido gostar das músicas de Chico. Julinho chamou tanta atenção que Chico chegou a dar entrevista para o jornal Última Hora incorporando o personagem – vale a pena ler aqui o depoimento do jornalista e escritor Mário Prata sobre o episódio. E na falta de verso, o silêncio também poderia ser visto como ameaça. É o caso do álbum instrumental “Casa Forte”, lançado pelo compositor Edu Lobo, em 1971. Segundo o DCDP, se não há palavras, qualquer interpretação é possível e as faixas poderiam ser usadas como propaganda anti-regime.


Chico Buarque foi um cantor que enfrentou a época da Ditadura

Cálice talvez tenha sido seu maior hino contra a repressão da época que exilou tantos e torturou vários outros, dificultando a produção cultural da época JULHO 2015

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INOVAÇÃO

Crianças são educadas com muito além de matérias tradicionais, aprendem também a cultivar seu próprio alimento de maneira saudável

Escola 100% vegana Com hortas e muito trabalho em grupo, crianças adquirem bons habitos alimentares Os veganos que têm filhos geralmente se veem em um dilema: como transmitir aos pequenos o conceito de uma alimentação livre de crueldade animal? Nos Estados Unidos, um país onde o fast food tem enorme poder, eles ganharam um ótimo aliado nesse ensinamento: é a primeira escola 100% vegana do mundo. A MUSE School, em Calabasas, na Califórnia, é um projeto de ninguém menos que Suzy Amis Cameron, esposa do famoso diretor de cinema James Cameron. Incomodados com as poucas opções de ensino para seus filhos, o casal decidiu criar seu pró-

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prio centro de aprendizagem, que tem um foco específico na preservação ambiental. “Nós estamos gradualmente mudando para um menu baseado em vegetais porque nós nos consideramos uma escola ambiental. Você não pode dizer que é ambientalista se você continua a consumir animais“, explicou Cameron ao NPR. A instituição, que oferece ensino público e não tem fins lucrativos, conta com uma grande área onde frutas e vegetais são plantados e colhidos pelos próprios estudantes. Os alimentos que não são consumidos para a merenda são vendidos, também pelos pe-

quenos, em um mercado local. Dessa forma, além de aprenderem sobre a importância da alimentação saudável e do cuidado com o meio ambiente, os alunos têm uma prática sobre negócios, vendas e finanças. Para completar, a escola conta com painéis solares que abastecem mais de 90% da energia necessária para seu funcionamento. Cameron e a esposa decidiram mudar seus hábitos alimentares e se tornar veganos após assistir a um documentário chamado Forks Over Knives em 2012. No início, o foco principal da mudança era a saúde. Contudo, eles perceberam o quão relevante é a alimentação vegana para a preservação ambiental e agora querem levar o aprendizado até os 140 alunos da escola. “Uma pessoa qualquer diria vegan, mas nós dizemos alimentos integrais, orgânicos. A ideia é desenvolver crianças que não pensem como estranho ou exótico ou digno de um tapinha .


CULTURA

O cotidiano de grandes artistas Imagens que aproximam ícones culturais de nós, em sua intimidade John Lennon, Georgia O’Keeffe, Marcel Duchamp e Andy Warhol: quem os vê nas páginas das revistas ou nos livros de história dificilmente consegue enxergar esses grandes gênios da arte como pessoas comuns, que sentem fome, sede, têm amigos, um livro favorito e acordam de mau humor. Mas o livro Artists Unframed: Snapshots from the Archives of American Art (“Artistas Fora da Moldura: Momentos dos Arquivos da Arte Norte-Americana”) dá acesso aos bastidores e nos leva por um passeio na vida íntima desses artistas. A compilação foi feita por Merry Foresta, que sempre foi apaixonada por fotografias despretensiosas de momentos do dia a dia. Segundo ela, uma das maiores surpresas durante o trabalho foi descobrir o quão obcecada era a família de Jackson Pollock em registrar momentos banais – para nosso deleite, claro!

Pablo Picasso e sua filha, Maya, 1944

Yoko Ono, John Lennon e Andy Warhol, 1971

Diego Rivera e Frida Kahlo

Marcel Duchamp e Ray Duchamp, 1913

David Hockney, 1982

Ansel Adams, 1936 JULHO 2015

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INOVAÇÃO

Ideia criada pela FCB para o Smiles, programa de milhas da Gol, chamado de Trip Book, onde a história e o cenário do livro mudam de lugar da viagem

Trip Book Smiles

Um livro que a história acompanha o local onde a pessoa está, é a ideia inovadora criada pela FCB para o Smiles, programa de milhas da Gol

A

través de um equipamento exclusivo com tecnologia e-paper, o ebook identifica onde o leitor está, por meio de geolocalização, estando disponível em cidades como Nova York, Paris, Roma, Rio de Janeiro, Lisboa e Buenos Aires. Assim, a história escrita pelo renomado escritor Marcelo Rubens Paiva ganha novos rumos. A narrativa conta as aventuras de viagem de Theo e Maria Manoela, casal na faixa dos 40 anos de idade que mora em São Paulo e decide dar um tempo nas obrigações cotidianas. Juntos, eles fazem uma viagem para a mesma cidade onde passaram a primeira lua-de-mel, décadas antes,

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numa tentativa de reviver a paixão. A partir daí o destino do romance muda conforme a localização do leitor. A história e os personagens são os mesmos em qualquer lugar do mundo, mas são implementadas algumas referências das cidades onde o viajante se encontra, indicando alguns elementos como lojas, parques, ruas, museus, pontos turísticos, comida, restaurantes, costumes, língua e hotéis. O ebook, que é o primeiro do tipo lançado no Brasil, poderá ser baixado gratuitamente para tablets pelo aplicativo Trip Book Smiles para os sistemas iOS e Android. Juntos, eles fazem uma viagem para a mesma cidade onde passaram paixão.

A história e os personagens são os mesmos em qualquer lugar do mundo, mas são implementadas algumas referências das cidades onde o viajante se encontra, indicando alguns elementos como lojas, parques, ruas, museus, pontos turísticos, comida, restaurantes, costumes, língua e hotéis, o ebook, que é o primeiro do tipo lançado no Brasil, poderá ser baixado gratuitamente para tablets pelo aplicativo Trip Book Smiles para os sistemas iOS e Android. Neste momento o destino do romance muda conforme a localização do leitor. A história e os personagens são os mesmos em qualquer lugar do mundo, mas são implementadas algumas referências. n




FRIDA

PARA SEMPRE

PERSONALIDADES

Ap贸s mais de 60 anos de sua morte, a mexicana ainda permanece como exemplo ao feminismo moderno

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“Se existe vida após a morte, não esperem, porque eu não vou” Frida Kahlo

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Única e intensa, Frida Kahlo pode ser considerada uma mulher a frente de seu tempo e cheia de vida – mesmo com todas as dificuldades que precisou enfrentar, desde doenças a traições – e se tornou, ao longo dos anos e até depois de sua morte, um ícone das artes e do universo feminino. Em cartaz no MON (Museu Oscar Niemeyer), em Curitiba, a exposição “Frida Kahlo – As suas fotografias” reúne com exclusividade 240 fotos que revelam a intimidade da artista - desde a família, o fascínio por Diego Rivera, seu grande amor, até a luta política e a arte – revestida pela paixão pela vida. A exposição fica em cartaz até novembro e a entrada custa R$ 6. O acervo contêm fotos tiradas pela própria Frida, parentes e amigos fotógrafos, e reflete os interesses que a pintora teve desde sua infância e ao longo da vida. Se o que você está precisando é de uma ‘pitadinha’ de inspiração para seguir em frente ou apenas visitar a exposição, que tal conhecer um pouco mais sobre a vida – incrível – de Frida, que prometem fazer você se apaixonar por ela? A inspiração de Frida para suas pinturas e fotografias, vieram de suas angústias e dificuldades em lidar com sua própria condição. Quando criança, Frida contraiu poliomielite que deixou uma lesão no seu pé esquerdo, e ganhou o apelido de ‘Frida perna de pau’. Mais tarde, em 1925, a artista sofreu um acidente em que teve múltiplas fraturas e precisou fazer 35 cirurgias. Foi nesse período, em que ficou presa à sua cama e com problemas na coluna, que co-

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meçou a pintar e retratar suas angústias e frustrações em suas criações. A biógrafa Hayden Herrera, no livro “Frida – A Biografia”, cita uma fala da artista que demonstra a vontade de viver: heias de cores e ricas em elementos florais, as roupas de Frida Kahlo viraram tendência e ícones de estilo e até ganharam exposição e livro só para elas. Enquanto, na verdade, sua autenticidade era uma forma de esconder suas deficiências provocadas pelo acidente, em 1925, e pela poliomielite que teve quando pequena, que deixou sequelas em seu pé esquerdo. Seus sapatos, inclusive, eram adaptados exclusivamente para ela, com um salto maior do que o outro para nivelar sua altura. Seus ‘corpetes’, na verdade, eram coletes ortopédicos. Na maioria de suas obras, Frida se autorretratou: as angústias, as vivências, os medos e principalmente o amor incondicional que sentia pelo marido, o pintor e muralista mexicano mais importante do século 20 Diego Rivera, com quem se casou em 1929. Mesmo com uma relação complicada enquanto casal e rodeada de traições de ambas as partes, foi ele que ajudou Frida a revelar-se como artista. Após muitos altos e baixos na carreira e na vida com Diego Rivera, Frida sofreu três abortos, enquanto tinha a esperança de ser mãe e constituir uma família completa ao lado do marido. Com o tempo, Frida foi ficando mais sensível e seu estado de saúde também. Em 1950, em decorrência da poliomielite que teve na infância, os médicos diagnosticaram a amputação da de sua perna esquerda, o que a fez entrar

em depressão. Mesmo assim, a artista continuou a pintar: uma de suas últimas obras foi “Natureza Morta (Viva a Vida)”. Amigos de revolucionários da época, Frida e Diego chegaram a abrigar um dos ícones da revolução russa em casa: Leon Trotsky, sua mulher e netos foram acolhidos pelo casal. O que é menos sabido é que Trotsky e Frida tiveram um romance que durou quase um ano e havia recém terminado quando Rivera o descobriu. Eis uma evidência. Frida tinha um destino traçado: antes de começar sua carreira nas artes, ela cursava faculdade de medicina no México. Mas sua relação com as artes vinha desde pequena, quando, seu pai, Guillermo Kahlo, fazia pinturas autorais para passar o tempo. Na madrugada do dia 13 de julho de 1954, Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon foi encontrada morta dentro de casa. Ela tinha 47 anos. As últimas palavras foram encontradas em seu diário: “Espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais”. O caderno com diversas anotações secretas da artista virou livro. Em 2012, A Vogue México deixou de lado as modelos para sua capa de novembro e estampou a publicação com ninguém menos que a pintora Frida Kahlo (19071954). Quase 60 anos após a morte da artista mexicana, com imagem feita pelo fotógrafo Nickolas Muray, Frida estampa pela primeira vez a capa de uma revista de moda. Após a morte da pintora, Diego Rivera exigiu 15 anos de segredo para os pertences do casal


Frida passou por muitos sofrimentos em sua vida, e os retratou atráves da arte, de forma única e sensível, que divide opiniões sobre seu poder de choque JULHO 2015

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Sua relação difícil com Diego Riveras pode ter lhe causado tanto transtorno quanto o acidente que sofreu Única e intensa, Frida Kahlo pode ser considerada uma mulher a frente de seu tempo e cheia de vida – mesmo com todas as dificuldades que precisou enfrentar, desde doenças a traições – e se tornou, ao longo dos anos e até depois de sua morte, um ícone das artes e do universo feminino. Em cartaz no MON (Museu Oscar Niemeyer), em Curitiba, a exposição “Frida Kahlo – As suas fotografias” reúne com exclusividade 240 fotos que revelam a intimidade da artista - desde a família, o fascínio por Diego Rivera, seu grande amor, até a luta política e a arte – revestida pela paixão pela vida. A exposição fica em cartaz até novembro e a entrada custa R$ 6. O acervo contêm fotos tiradas pela própria Frida, parentes e amigos fotógrafos, e reflete os interesses que a pintora teve desde sua infância e ao longo da vida. Se o que você está precisando é de uma ‘pitadinha’ de inspiração para seguir em frente ou apenas visitar a exposição, que tal conhecer

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um pouco mais sobre a vida – incrível – de Frida, que prometem fazer você se apaixonar por ela? A inspiração de Frida para suas pinturas e fotografias, vieram de suas angústias e dificuldades em lidar com sua própria condição. Quando criança, Frida contraiu poliomielite que deixou uma lesão no seu pé esquerdo, e ganhou o apelido de ‘Frida perna de pau’. Mais tarde, em 1925, a artista sofreu um acidente em que teve múltiplas fraturas e precisou fazer 35 cirurgias. Foi nesse período, em que ficou presa à sua cama e com problemas na coluna, que começou a pintar e retratar suas angústias e frustrações em suas criações. A biógrafa Hayden Herrera, no livro “Frida – A Biografia”, cita uma fala da artista que demonstra a vontade de viver: heias de cores e ricas em elementos florais, as roupas de Frida Kahlo viraram tendência e ícones de estilo e até ganharam exposição e livro só para elas. Enquanto, na verdade,

sua autenticidade era uma forma de esconder suas deficiências provocadas pelo acidente, em 1925, e pela poliomielite que teve quando pequena, que deixou sequelas em seu pé esquerdo. Seus sapatos, inclusive, eram adaptados exclusivamente para ela, com um salto maior do que o outro para nivelar sua altura. Seus ‘corpetes’, na verdade, eram coletes ortopédicos. Na maioria de suas obras, Frida se autorretratou: as angústias, as vivências, os medos e principalmente o amor incondicional que sentia pelo marido, o pintor e muralista mexicano mais importante do século 20 Diego Rivera, com quem se casou em 1929. Mesmo com uma relação complicada enquanto casal e rodeada de traições de ambas as partes, foi ele que ajudou Frida a revelar-se como artista. Após muitos altos e baixos na carreira e na vida com Diego Rivera, Frida sofreu três abortos, enquanto tinha a esperança de ser mãe e constituir uma família com-


Mulher a frente de seu tempo e cheia de vida – mesmo com todas as dificuldades que precisou enfrentar, desde doenças a traições – e se tornou, ao longo dos anos e até depois de sua morte, um ícone das artes e do universo feminino. Em cartaz no MON (Museu Oscar Niemeyer), em Curitiba, a exposição “Frida Kahlo – As suas fotografias” reúne com exclusividade 240 fotos que revelam a intimidade da artista - desde a família, o fascínio por Diego Rivera, seu grande amor, até a luta política e a arte – revestida pela paixão pela vida. A exposição fica em cartaz até novembro e a entrada custa R$ 6. O acervo contêm fotos tiradas pela própria Frida, parentes e amigos fotógrafos, e reflete os interesses que a pintora teve desde sua infância e ao longo da vida. Se o que você está precisando é de uma ‘pitadinha’ de inspiração para seguir em frente ou apenas visitar a exposição, que tal conhecer um pouco mais sobre a vida – incrível – de Frida, que fará você se apaixonar por ela?

A inspiração de Frida para suas pinturas e fotografias, vieram de suas angústias e dificuldades em lidar com sua própria condição. Quando criança, Frida contraiu poliomielite que deixou uma lesão no seu pé esquerdo, e ganhou o apelido de ‘Frida perna de pau’. Mais tarde, em 1925, a artista sofreu um acidente em que teve múltiplas fraturas e precisou fazer 35 cirurgias. Foi nesse período, em que ficou presa à sua cama e com problemas na coluna, que começou a pintar e retratar suas angústias e frustrações em suas criações. A biógrafa Hayden Herrera, no livro “Frida – A Biografia”, cita uma fala da artista que demonstra a vontade de viver: heias de cores e ricas em elementos florais, as roupas de Frida Kahlo viraram tendência e ícones de estilo e até ganharam exposição e livro só para elas. Enquanto, na verdade, sua autenticidade era uma forma de esconder suas deficiências provocadas pelo acidente, em 1925, e pela poliomielite que teve quando pequena, que deixou sequelas em

seu pé esquerdo. Seus sapatos, inclusive, eram adaptados exclusivamente para ela, com um salto maior do que o outro para nivelar sua altura. Seus ‘corpetes’, na verdade, eram coletes ortopédicos. Na maioria de suas obras, Frida se autorretratou: as angústias, as vivências, os medos e principalmente o amor incondicional que sentia pelo marido, o pintor e muralista mexicano mais importante do século 20 Diego Rivera, com quem se casou em 1929. Mesmo com uma relação complicada enquanto casal e rodeada de traições de ambas as partes, foi ele que ajudou Frida a revelar-se como artista. Após muitos altos e baixos na carreira e na vida com Diego Rivera, Frida sofreu três abortos, enquanto tinha a esperança de ser mãe e constituir uma família completa ao lado do marido. Com o tempo, Frida foi ficando mais sensível e seu estado de saúde também. Em 1950, em decorrência da poliomielite que teve na infância, os médicos diagnosticaram a amputação da

O talento da pintora é inegável e muito saudado até hoje pela sua pátria mexicana que é conhecida mundialmente há décadas JULHO 2015

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Memória (O coração), 1937

Eu e meus papagaios, 1941

Duas Fridas, 1945

Pode ser considerada uma mulher a frente de seu tempo e cheia de vida – mesmo com todas as dificuldades que precisou enfrentar, desde doenças a traições – e se tornou, ao longo dos anos e até depois de sua morte, um ícone das artes e do universo feminino. Em cartaz no MON (Museu Oscar Niemeyer), em Curitiba, a exposição “Frida Kahlo – As suas fotografias” reúne com exclusividade 240 fotos que revelam a intimidade da artista - desde a família, o fascínio por Diego Rivera, seu grande amor, até a luta política e a arte – revestida pela paixão pela vida. A exposição fica em cartaz até novembro e a entrada custa R$ 6. O acervo contêm fotos tiradas pela própria Frida, parentes e amigos fotógrafos, e reflete os interesses que a pintora teve desde sua infância e ao longo da vida. Se o que você está precisando é de uma ‘pitadinha’ de inspiração para seguir em frente ou apenas visitar a exposição, que tal conhecer

um pouco mais sobre a vida – incrível – de Frida, que prometem fazer você se apaixonar por ela? A inspiração de Frida para suas pinturas e fotografias, vieram de suas angústias e dificuldades em lidar com sua própria condição. Quando criança, Frida contraiu poliomielite que deixou uma lesão no seu pé esquerdo, e ganhou o apelido de ‘Frida perna de pau’. Mais tarde, em 1925, a artista sofreu um acidente em que teve múltiplas fraturas e precisou fazer 35 cirurgias. Foi nesse período, em que ficou presa à sua cama e com problemas na coluna, que começou a pintar e retratar suas angústias e frustrações em suas criações. A biógrafa Hayden Herrera, no livro “Frida – A Biografia”, cita uma fala da artista que demonstra a vontade de viver: heias de cores e ricas em elementos florais, as roupas de Frida Kahlo viraram tendência e ícones de estilo e até ganharam exposição e livro só para elas. Enquanto, na verdade,

sua autenticidade era uma forma de esconder suas deficiências provocadas pelo acidente, em 1925, e pela poliomielite que teve quando pequena, que deixou sequelas em seu pé esquerdo. Seus sapatos, inclusive, eram adaptados exclusivamente para ela, com um salto maior do que o outro para nivelar sua altura. Seus ‘corpetes’, na verdade, eram coletes ortopédicos. Na maioria de suas obras, Frida se autorretratou: as angústias, as vivências, os medos e principalmente o amor incondicional que sentia pelo marido, o pintor e muralista mexicano mais importante do século 20 Diego Rivera, com quem se casou em 1929. Mesmo com uma relação complicada enquanto casal e rodeada de traições de ambas as partes, foi ele que ajudou Frida a revelar-se como artista. Após muitos altos e baixos na carreira e na vida com Diego Rivera, Frida sofreu três abortos, enquanto tinha a esperança de ser mãe e constituir uma família com-

Por Lisa Falzon, da Alemanha

Por Tascha Parkinson, dos Estados Unidos

Por Chris Rellas, do México

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PERSONALIDADES

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O LEGADO DE

PEPE MUJICA Os cinco anos em que esteve na presidência do país certamente transformaram a vida e a política uruguaia – além de inspirar o mundo

CAROLINA SANTOS

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onhecido por sua simplicidade, chegou a receber jornalistas com suas alpargatas, mas sem a dentadura, na companhia de sua cadelinha Manuela, também modesta com suas apenas três patas, mas esquecendo-se totalmente das papas na língua. Afinal, como ele mesmo diz no auge dos seus quase oitenta anos, “uma das vantagens de ser velho é dizer o que pensa”. E Pepe sempre disse o que pensava. Até mesmo quando ficou conhecido como o presidente mais pobre do mundo por viver com apenas 10% de seu salário e declarou que “as repúblicas não vieram ao mundo para estabelecer novas cortes, as repúblicas nasceram para dizer que todos somos iguais. E entre os iguais estão os governantes”. Para ele, não somos uns mais iguais que os outros. Quando questionado sobre sua pobreza, ele afirma: “Eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade.” A decisão de doar uma parcela significativa de seu salário se deve, em parte, ao fato de que, desde 2006, junto ao Movimento de Participação Popular (MPP), uma ala do partido Frente Ampla, Mujica e seus compañeros criaram o Fundo Raúl Sendic, uma iniciativa que empresta dinheiro a projetos cooperativos sem cobrar juros. O fundo é formado com o excedente dos salários dos políticos ligados ao MPP,

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incluindo grande parte do salário do ex-presidente. Mas Pepe deixa claro que os 10% que sobram de seu salário são tudo o que precisa. Para quem passou 14 anos preso, sendo boa parte desse tempo confinado em um poço, durante a ditadura militar uruguaia, lutando contra a possibilidade de enlouquecer, sua pequena chácara em Rincón del Cerro, a 20 minutos de Montevideo, parece mesmo um palácio. O poço não era o pior, mas sim o isolamento total do mundo. Na mesma condição que ele, viviam apenas outros oito presos, todos separados, sem saber o que ocorreu com os demais. Enquanto tentava se manter vivo e são, Pepe fez amizade com nove rãs e até mesmo observou que as formigas gritam quando chegamos pertinho para ouvir o que elas têm a dizer. A matéria Diez años de soledad (um jogo de palavras com o nome do livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez), publicada por Mario Benedetti no jornal El País, em 1983, conta a história destes nove presos, chamados de “os reféns”, em um momento em que Mujica era apenas mais um militante tupamaro. A matéria termina com um pedido, feito por Benedetti desde seu exílio na Espanha: “Não esqueçamos que, se os revolucionários triunfantes recebem honras e admiração, e até seus inimigos se obrigam a respeitá-los, os revolucionários derrotados merecem ao

menos ser considerados como seres humanos”. Sobre seu passado tupamaro, Pepe, que já se chamou Facundo e Ulpiano, não sente vergonha ou orgulho em dizer que talvez tenha tomado decisões que desembocaram em execuções. Eram, afinal, outros tempos. Em seu discurso de despedida, neste 27 de fevereiro de 2015, Mujica lembrou que a luta que se perde é a que se abandona. E ele nunca abandonou seus ideais. Não bastou o tempo de militância no Movimiento de Liberación Nacional-Tupamaros (MLN-T), ou o período em que foi detento no presídio que hoje, ironicamente, dá lugar ao suntuoso shopping Punta Carretas, em Montevideo, de onde participou da fugo presídio que hoje, ironicamente, dá lugar ao suntuoso shopping Punta Carretas, em Montevideo, de onde participou da fuga mais marcante dde onde participou da fuga mais marcante da história carcerária mundial, junto a outros 105 tupamaros e 5 presos comuns. A façanha entrou para o Guinness Boo. Não bastou o tempo de militância no Movimiento de Liberación Nacional-Tupamaros (MLN-T), ou o período em que foi detento no presídio que hoje, ironicamente, dá lugar ao suntuoso shopping Punta Carretas, em Montevideo, de onde participou da fugo presídio. O fundo é formado com o excedente dos salários dos políticos ligados ao MPP, incluindo parte do salário do ex-presidente. >>


O ex-presidente do Uruguai sempre manteve uma vida simples afastado da cidade, mesmo eleito, em uma fazenda com sua esposa e seu fusca azul Pepe fugiu e continuou fugindo para não se tornar um político que investe apenas em suas próprias opiniões. Tanto é que declarou diversas vezes nunca ter experimentado maconha, mas aprovou a liberação de seu uso no país, citando Einstein, que dizia que “não há maior absurdo que pretender mudar os resultados repetindo sempre a mesma fórmula”. E, mudando a fórmula, promete lidar com o narcotráfico no país. Durante o governo de Mujica, o Estado assumiu a regulação estatal da produção, venda, distribuição e consumo de maconha, em dezembro de 2013. Foram estabelecidos limites para cultivo e venda de maconha, bem como registros de consumidores e clubes de fumadores. A nova lei tornou o Uruguai o primeiro país do mundo com um regulamento tão abrangente. Talvez por isso o ex-tupamaro tenha sido considerado pela revista americana Foreign Policy como um dos 100 pensadores mais importantes de 2013, ao redefinir o papel da esquerda no mundo. No mesmo ano, o Uruguai foi eleito pela revista britânica The Economist como o “país do ano”.Engenheiros do Hawaii deveriam mudar o nome de sua música para “O Pepe é pop”. Enquanto não o fazem,

Agarrate Catalina, a murga¹ de maior sucesso no carnaval uruguaio, já lhe dedicou mais de uma canção. Para se ter uma ideia da importância, é praticamente como se a Beija-Flor entrasse na Sapucaí com um samba enredo falando sobre a presidência e um carro alegórico cheio de dilmetes. Mas não é preciso muita atenção para ver que o sucesso das medidas criadas por Mujica vai além do carnaval e já está ganhando o mundo: a exemplo do país, a Comissão de Drogas da África do Oeste declarou que a descriminalização destas deve ser um assunto de saúde pública, enquanto o Ministério de Justiça da Jamaica aprovou a descriminalização do uso religioso, científico e medicinal da maconha. A Comunidade dos Países do Caribe não ficou atrás e concordou em criar uma comissão para revisar a política de repressão às drogas na região e realizar as reformas que forem necessárias. [Fonte: Carta Capital]. Mesmo assim, as ideias de Mujica não são unanimidade dentro do país. Em julho do ano passado, uma pesquisa divulgada pelo instituto Cifra mostrou que 64% dos uruguaios é contra a lei da regulamentação da maconha, a maioria por teorias conservadoras. Entre eles, até mesmo alguns usuários

se mostram contrários devido ao excesso de regulamentação: para consumir a planta legalmente no país, eles deverão ser cadastrados como usuários, tendo direito a comprar até 40 gramas mensais de maconha em farmácias, plantar até seis pés de cannabis para consumo próprio, ou fazer parte de clubes com uma quantidade de sócios que pode variar entre 15 e 45 pessoas. Contudo, ainda há muito medo sobre o que acontecerá com quem for cadastrado como consumidor, o que é acentuado com a recente troca do governo. Tabaré Vázquez, o presidente eleito, é sucessor e antecessor de Mujica. Também membro da Frente Ampla, foi o primeiro presidente de esquerda a encarar a presidência do nosso vizinho de apenas 3,5 milhões de habitantes. Apesar disso, não compartilha exatamente os mesmos ideais de Pepe. É o que acontece no caso do aborto: um projeto de lei semelhante ao que vigora hoje no país havia sido vetado por Tabaré enquanto este era presidente. Mesmo assim, Vázquez terminou seu mandato com 70% de aprovação. o vizinho de apenas 3,5 milhões de habitantes. Apesar disso, não compartilha exatamente os mesmos ideais de Pepe. É o que acontece no caso do aborto: um projeto de lei.

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Gravidez até a 12ª semana de gestação. Antes de partir para o procedimento, porém, deverão passar por acompanhamento médico e psicológico e terão a opção de desistir da decisão a qualquer momento. Para o ex-presidente uruguaio, a conquista é uma forma de poupar vidas. Antes da lei que permitia o aborto ser promulgada, cerca de 33 mil procedimentos do gênero eram realizados anualmente no país. Mas, no primeiro ano em que a lei esteve em vigor, este número caiu consideravelmente: 6.676 abortos legais foram realizados de forma segura, sendo que apenas 0,007% destes apresentou algum tipo de complicação leve. No mesmo ano, houve apenas uma vítima fatal em casos de interrupção de gravidez: uma mulher que realizou o procedimento de maneira clandestina, com a ajuda de uma agulha de tricô – o que mostra que, apesar da legalização, abortos clandestinos continuam ocorrendo na banda oriental. Pepe, pessoalmente, afirma ser contra o aborto, mas o considera um problema de saúde pública, como conta na entrevista

abaixo, em que fala, entre outros assuntos, sobre a legalização da maconha e a acolhida a presos de Guantánamo, enquanto critica fortemente as políticas dos Estados Unidos. Outra das conquistas do ex-presidente foi a legalização do casamento gay nos pampas uruguaios. Mas, exibindo seus cabelos brancos, ri ao ser perguntado sobre suas ideias modernas: “O casamento homossexual é mais velho que o mundo. Tivemos Julio Cesar, Alexandre O Grande. Dizer que é moderno, por favor, é mais antigo do que nós todos. É um dado de realidade objetiva, existe. Para nós, não legalizar seria torturar as pessoas inutilmente.”, disse em entrevista ao jornal O Globo. Mesmo quem é contra as medidas criadas pelo governo há que se render aos dados: nos últimos anos o país do Maracanazo viu uma queda nas taxas de pobreza em zonas rurais e pode orgulhar-se de que seu país fosse a nação latino-americana com menos menores em situação de indigência. Subiram os salários e os abonos, enquanto

1 - Campanhas jovens apoiaram a liberação da maconha no país 2 - Mujica esteve ao lado de grandes autoridades, como Obama 3 - Rodeado de presidentes, destacava-se por sua simpicidade 4 - Ele esteve com o Papa em 2014 5 - A felicidade brilha em Pepe

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o nível de desemprego se tornou o menor da história do país que já foi conhecido como a Suíça da América Latina. No Uruguai não existe reeleição e, apesar dos progressos, Mujica deixou a presidência, mas seguirá no poder. Foi o senador mais votado nas últimas eleições, cargo que Pepe continuará exercendo sem nenhuma gravata, com o mate debaixo do braço e as respostas mais improváveis na ponta da língua. ¹ Murga é uma manifestação cultural surgida na Espanha, misturando teatro e música. Atualmente, é mais popular em países latino-americanos, especialmente na Argentina e no Uruguai, onde costuma embalar o carnaval, que se estende por todo o mês de fevereiro. Julio Cesar, Alexandre O Grande. Dizer que é moderno, por favor, é mais antigo do que nós todos. É um daalmente, é mais popular em países latino-americanos, especialmente na Argentina e no Urudo de realidade objetiva, existe. Para nós, não legalizar seripecialmente na Argentina e no orturar as pessoas inutilmente”. n



NOTÍCIAS

Mãe cria boneca para sua filha Como a iniciativa de Angelica Sweeting ajudou sua filha e outras meninas no empoderamento, muito além de seus cabelos

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uando crianças, meninas prontamente são apresentadas a boneca Barbie, uma norte-americana loira, de olhos azuis, rica e esbelta. E assim crescem com apego pelo brinquedo, muitas vezes junto com o desejo de se tornarem algo parecido com o que ela é. Cansada de procurar por uma boneca semelhante à filha negra, Angelica Sweeting acabou criando a própria, com cachos e pele escura. Aos 27 anos e mãe de duas filhas, a empresária, que vive em Miami, na

Flórida, investiu numa ideia que partiu inicialmente de uma frustração, ao notar que Sophia, uma de suas meninas, começava a se questionar sobre seu tom de pele, suas características faciais, ou o fato de o cabelo não ser liso e comprido, o que a deixava infeliz com a própria imagem. Pró-ativa, a mãe tratou de resolver o problema não só dela, mas de muitas outras garotinhas que passam pelos mesmos dilemas enquanto crescem. A ideia se expandiu e foi parar no Kickstarter, onde

Angelica busca por financiamento coletivo para criar e vender mais unidades de sua boneca. Em poucos dias, o produto se espalhou nas redes sociais e ganhou até hashtag, #‎imnaturallyperfect, o que gerou ainda mais atenção para o brinquedo e excedeu o valor desejado na campanha, que era de 25 mil dólares. Até o momento, foram conquistados mais de 30 mil para a produção de novas bonecas. Te cuida, Barbie! Se não há muitas opções no mercado, o jeito é criar uma solução. Assim nasceu a marca Naturally Perfect Dolls (“Bonecas Naturalmente Perfeitas”), com um primeiro modelo próprio de boneca negra, chamada de Angelica, feita com cabelo natural, que pode ser lavado, enrolado e penteado de várias maneiras, olhos castanhos e lábios carnudos. Além de ser um brinquedo, acaba empoderando várias meninas a se sentirem confiantes, representadas e lindas do jeito que são.

Com a falta de bonecas semelhantes a filha no mercado, a mãe não mediu esforços para incluir a aparência da filha nos brinquedos e ultrapassando os “estereótipos”

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GALERIA

Pelas lentes de um iPhone

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que faz um bom fotógrafo: a câmera, a técnica, a criatividade ou o momento? As três últimas opções podem funcionar de forma sincronizada na receita, mas será que uma câmera poderosa é realmente indispensável? Estas fotos provam que não. As imagens que você vê abaixo são as ganhadoras do iPhone Photography Awards, que elege as melhores fotografias que foram tiradas com nada mais que um iPhone. A premiação já está em seu oitavo ano e aceita qualquer imagem tirada com iPod, iPhone ou iPad. As regras proíbem qualquer alteração no Photoshop ou em programa de edição de imagens no desktop, mas o uso de apps para melhorar as imagens é permitido. Entregue uma câmera não tão poderosa quanto a de um smartphone da Apple à pessoa certa e com técnica, criatividade e, claro, uma ajudinha da sorte (leia-se: luz, timing e personagens), ela irá lhe devolver fotos incríveis como essas que você vê nesta página. A premiação já está em seu oitavo ano e aceita qualquer imagem tirada com iPod, iPhone ou iPad.

Fotógrafo do Ano – Primeiro Lugar – Julio Lucas

Categoria Outros – Primeiro Lugar – Terry Vital

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Categoria Notícias/Eventos – Gerard Collett

Categoria Flores – Jenny Andersonl


Fotógrafo do Ano – Segundo Lugar – Jose Luis Fernandez

Fotógrafo do Ano – Terceiro Lugar – Jill Missner

Categoria Animais – Primeiro Lugar – Michael O’Neal

Categoria Arquitetura – Primeiro Lugar – Yilang Peng

Categoria Estações do Ano – Primeiro Lugar – Coco Liu

Categoria Árvores – Primeiro Lugar – Aaron Pike JULHO 2015

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GALERIA

Na casa dos pais

Série fotográfica retrata a relação familiar de astros do rock nos anos de auge do sucesso e da fama, na lendária década de 1970

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onhece aquela história de que, para os pais, os filhos nunca crescem? Talvez você nunca tenha parado para pensar nisso, mas para os pais de grandes astros do rock, a sensação é exatamente a mesma. Em 1971, Elton John, Frank Zappa, Eric Clapton e Donovan estavam no topo das paradas, falando sobre amor livre, drogas, a vida e tudo mais. Mas enquanto que o mundo os encarava como gênios da música e tinha suas ideias muitas

vezes como revolucionárias, para seus pais eles ainda eram os filhotes que mal haviam saído de casa. John Olson, repórter fotográfico da antiga revista LIFE, decidiu mostrar essa relação e viajou a Europa e a América do Norte atrás desses astros e de suas famílias. O resultado são essas interessantes imagens que, mais de 40 anos depois, mostram não apenas relação familiar desses músicos, mas também o peculiar estilo das casas da época.

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1.Elton John com os pais Sheila e Stanley. No ano da foto lançou o single “Your Song” 2.Richie Havens, com os pais, nos Estados Unidos. Tocou no Woodstok em 1969 3.Donovan, com os pais, na Inglaterra. Colaborou com músicas para os Beatles.

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Eric Clapton foi criado pelos avós, Rose e Jack Clap, na Inglaterra. Na época da foto havia recém lançado o primeiro disco solo, batizado com seu nome JULHO 2015

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VIAGEM

Paraísos Aquáticos Cinco ilhas para visitar antes que sumam do mapa Com o nível do mar cada vez mais alto, algumas ilhas do Pacífico Sul estão desaparecendo. Estudos apontam que os arquipélagos podem sumir até o final do século. As marés altas provocam estragos na região, inundando casas, es-

palhando lixo e provocando queda das árvores. O motivo de tudo isso chama-se aquecimento global, pois as geleiras estão derretendo e elevando o nível da água, que pode subir 59 centímetros até 2100. Ilhas do Oceano Índico também

sofrem com o mesmo problema, sendo que em 2010 uma ilha no Golfo de Bengala desapareceu sem deixar lembranças. Se ainda queremos conhecer estequeremos conhecer estes lugares, é melhor corrermos contra o tempo.

1. Maldivas Destino turístico, o arquipélago pode desaparecer em até 100 anos. Isso porque o nível do mar de 80% de seu território, formado por mais de 1000 ilhas, está a apenas um metro do solo. O governo da capital Malé já está tomando providências para transferir os habitantes da segunda ilha mais populosa do mundo para a Austrália, Sri Lanka e Índia.

2. Tuvalu Entre o Havaí e a Austrália, as nove ilhas de Tuvalu estão, assim como as Maldivas, a apenas um metro acima do nível do mar. Com inundações constantes e agricultura prejudicada, a população do quarto menor país do mundo oferecido pela Nova Zelândia.

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3. Grande Barreira de Corais Formada por mais de 600 ilhas, 300 atóis e aproximadamente 3 mil recifes, o rico ecossistema da Grande Barreira de Corais torna o paraíso ainda mais completo. Pertencente ao estado de Queensland, na Austrália, a ilha sofre não só com o aumento no nível do mar, como com a poluição e o aquecimento que estão matando os corais.

4. Seychelles O arquipélago composto por 115 ilhas já está com 50% de seu território protegido por leis ambientais, a fim de manter a fauna e a flora preservadas. Apesar de estar com o mesmo problema das demais ilhas, Seychelles tem focado no turismo sustentável para tentar sobreviver por mais tempo.

5. Kiribati Kiribati tem 33 ilhas paradisíacas em seu território que em pouco tempo serão engolidas pelo mar. A agricultura do local já está improdutiva devido a salinização do solo; o governo já está tomando medidas para transferir a população para a ilha vizinha.

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CULTURA

Viagens Literárias

Obras que inspiram fazer as malas e desbravar o mundo

Os livros são verdadeiros companheiros na hora de viajar, seja pra passar o tempo, como guia ou até mesmo servindo como a própria viagem, feita diretamente da nossa cabeça para o universo da história que estamos lendo. Seja para espantar o tédio, saber mais sobre um determinado assunto ou se guiar

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por aí, eles são a companhia perfeita para todo o viajante que se preze. Lugares incríveis pelo mundo, tecnologias inovadoras. Já mostramos aqui 10 filmes imperdíveis para quem está sempre pensando na próxima viagem; agora é a vez dos 10 livros sobre viagens que você não vai querer perder. Desde clássicos como Cem Anos

de Solidão, os que são leitura obrigatória, como os da autora Jan Morris, e até as histórias mais improváveis e malucas, como no livro de Michael Paterniti. Você certamente encontrará um enredo para chamar de seu, até que lancem um novo recheado de novas aventuras. Aproveite e planeje seu próximo rumo.

Cem dias entre céu e mar, de Amyr Klink

Conduzindo o Sr. Albert, de Michael Paterniti

Um dos velejadores mais famosos do Brasil, Amyr Klink relata a primeira travessia do Atlântico Sul em barco a remo realizada em 1984, partindo da Namíbia e desembarcando na Bahia. O livro detalha desde as preparações para a viagem até o fim da jornada. O autor já registrou em outros diversos livros suas aventuras pelos mares do mundo.

Essa história é muito doida. O autor, um jovem jornalista, decidiu procurar o patologista Thomas Harvey, de 84 anos, que é simplesmente o suposto autor da façanha histórica: o roubo do cérebro de Einstein após sua morte. Para apurar o que de fato acontecera, o livro descreve a viagem, feita de costa a costa dos Estados Unidos.

A Praia, de Alex Garland

Cem anos de solidão, de Gabriel G. Marquez

O romance, mais famoso ainda em sua adaptação para cinema – recomendada aqui -, conta a busca de um mochileiro britânico pelo paraíso na Terra, o que inspirou toda uma geração de estudantes a cair de cabeça no Extremo Oriente, colaborando para que o destino se consolidasse como um símbolo do escapismo.

Um dos grandes clássicos da literatura, pelo qual o autor recebeu prêmio Nobel da categoria, se passa na pequenina cidade fictícia de Macondo, onde é traçada toda uma história em volta da família Buendía, a estirpe dos solitários para a qual não será dada uma segunda oportunidade sobre a terra. O vilarejo é baseado na terra natal do escritor.


Viajando com Charley, de John Steinbeck

Um ano na Provence, de Peter Mayle

Em 1960, o autor e seu poodle francês Charley partem de caminhão a uma turnê pelo Estados Unidos. O resultado é o livro que conta todos os detalhes, paisagens e pessoas que ele encontrou ao longo do caminho, revelando acontecimentos sombrios e atitudes que revelam o quanto a América mudou nas últimos cinco décadas.

Considerada uma das mais divertidas, adoradas e bem-sucedidas obras do gênero já publicadas, o livro venceu o prêmio Melhor Livro de Viagem do British Book Awards e conta aquela velha história: largar tudo e recomeçar a vida em um lugar distante, mais precisamente, numa casal rural no sul da França. A história real do autor inglês.

Pé na Estrada, de Jack Kerouac Este livro é uma verdadeira bíblia para aqueles que sonham em botar o pé na estrada e não tirá-lo nunca mais. A obra reúne uma série de viagens feitas por amigos do autor, transportando o leitor de Nova York a Denver, para São Francisco e Los Angeles, com histórias embaladas por jazz, poesia e drogas. Além de ser um dos mais importantes livros do autor, é um dos principais representantes do movimento Beat.

Veneza, de Jan Morris

Viagem por África, de Paul Theroux

Grave este nome, pois Jan Morris é atualmente a autora viva mais importante no que diz respeito a literatura de viagens. O livro já é um clássico, mesmo que publicado há meio século atrás e é um aclamado registro histórico e observador sobre Veneza. Só para deixar um gostinho curioso, com ele é possível entender tantos gatos.

O diário de viagem de 600 páginas do autor viajante é um mix de humor negro, sarcasmo e crítica social em relação aos ex-colonizadores que tentaram passar a sua cultura às ex-colônias, mas que no fundo nunca tentaram nem se interessaram por compreender os povos e os costumes riquíssimos dos nativos destes países.

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OPINIÃO

Breve relato do futuro:

como será a vida em 2034 São Paulo, 06 de novembro de 2034.

A tradutora

Sempre ouvi dizer que a vida passava rápido, mas confesso que ela superou Jaqueline minha expectativas. Parece ontem que Barbosa, vivíamos sem smartphone, que doenças de 24 anos, decidiu como Alzheimer eram um mistério e que a acabar com algo que impressora 3D era um objeto de luxo apenas para os mais privilegiados. Hoje estaos perseguia desde mos num momento em que a tecnologia se 2009: a insatisfação mostra completamente integrada ao nosso profissional. cotidiano. Não existe mais distinção entre as nossas mobílias e gadgets, todos são integrados e reconfiguráveis. Além disso, eles foram pensados modularmente, ou seja, dependendo da ocasião, nossos móveis transformam-se e misturam-se com aparelhos eletrônicos, “Coisas que pareciam complexas, tudo em nome do real hoje fazem parte da realidade aproveitamento de e da otimizada maioria das pessoas.” espaço ção do tempo de manipulação. Coisas que no passado pareciam super complexas, hoje fazem parte da realidade da maioria das pessoas. Um exemplo são os sistemas de iluminação inteligentes, que de acordo com a música tocada no apartamento ou com os movimentos da casa, mudam a intensidade da iluminação, apenas se baseando numa análise de dados que identifica quais ocasiões combinam mais com cada tipo de iluminação. Outra coisa boa que surgiu na nossa vida foram embalagens que aumentam o tempo de duração dos produtos na geladeira. Hoje em dia a gente não se depara mais com aquele pé de brócolis estragando ou aqueles tomates que compramos em excesso. Tudo dura muito mais. Por falar em comida, depois de passarmos anos pensando em como otimizar a

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agricultura, hoje em dia conseguimos ter acesso a alimentos de alta qualidade sem agrotóxicos. Já existem várias fazendas de LED high tech espalhadas pelo mundo, capazes de produzir toneladas de comida por dia, gastando menos água e sem precisar de insumos químicos. Outro grande aspecto que se mostra totalmente integrado à nossa rotina são as ferramentas DIY (Do It Yourself), onde muitas coisas que precisávamos fazer ou comprar pronto (deixando tudo mais caro e pouco sustentável) agora são acessíveis através de kits e ferramentas tecnológicas que derrubam a barreira da indústria com os produtos. Essa revolução surgiu com o advento das impressoras 3D, que são capazes de criar tudo o que queremos on-demand. Hoje em dia, construímos tudo com essas impressoras, até mesmo casas casas que ficam prontas em 24h. Essas mudanças chegaram na indústria também: com a capacidade de substituir uma peça em metal ou cerâmica na hora com impressoras 3D, o processo de produção ficou muito mais eficiente. Hoje em dia nas fábricas, equipamentos e pessoas estão completamente conectadas através da internet industrial, que integra toda a cadeia produtiva, trazendo soluções antes mesmo dos problemas acontecerem. Se no passado as formas de conseguir energia eram caras e pouco acessíveis, hoje em dia a nossa energia é produzia de diversos tipos. Ela vem do petróleo, do sol, do mar, do lixo, se tornando muito mais acessível à população do mundo todo. Nossa vida melhorou muito também na área da saúde. Através da tecnologia de mapeamento de sinais do cérebro, vários mistérios sobre o corpo humano foram solucionados, permitindo a criação de soluções mais eficazes para problemas de saúde.


Uma semana

sem redes sociais Eu tinha um voo longo pela frente e passaria praticamente o dia inteiro dentro de aviões. Ou pelo menos estes eram os meus planos quando acordei, às 5 da manhã. Mas a chegada ao aeroporto já indicava que algo estava errado: praticamente todos os voos atrasados… Com o meu não foi diferente: um atraso de uma hora e meia se anunciou no alto-falante, enquanto eu já bolava uma frase sarcástica para publicar no Twitter. Não publiquei. Minha jornada longe das redes sociais estava apenas começando. As poucas horas de sono não deixaram que eu me distraísse lendo o livro que carregava comigo na mochila, como meu namorado fazia. Na falta de algo melhor para passar o tempo, pego o computador e começo a trabalhar em pleno aeroporto, já imaginando que o atraso do voo acarretaria na perda da minha conexão – o que, de fato, aconteceu. Na noite anterior eu já havia feito logout em todos os aplicativos de redes sociais no meu celular, que não eram poucos. Contei 12, no total. O número elevado não era por acaso: uma das primeiras coisas que faço ao acordar é pegar o celular, que dorme estrategicamente posicionado ao lado de meu travesseiro. Nos próximos dias eu tomaria café da manhã sozinha, sem invadir a rotina de meus amigos observando fotos publicadas no Instagram, abandonaria o meu já quase esquecido Facebook e teria que ler notícias em sites, já que o Twitter também estava proibido. Minhas fotos não seriam mais sincronizadas automaticamente com minha conta do Google Plus, o que significava permanecer alguns dias sem backup. Descobrir novos lugares com a ajuda do Foursquare ou do Yelp, nem pensar. Enquanto isso, o meu Youtube também permaneceria calado.

Depois de perder o voo, só consegui outro para a noite seguinte, o que faria com A pesquisadora que eu passasse um dia e meio em um hotel no meio do nada e acabasse perdendo Mariana alguns compromissos que já estavam marDutra, cados para minha volta ao Brasil. Me con32 anos, atua na área trolei novamente para não xingar muito no Twitter porque, afinal, isso era uma put* de curadoria, criação falta de sacanagem, como já diriam os fãs e pesquisa de conteúdo Restart. Eu havia decidido: iria aproveido para diversos sites, tar a situação para descansar um pouco e blogs e redes sociais. não deixaria o forninho cair. Mas a verdade é que eu estava me sentindo mais ou menos como os grafites do artista IHeart. À noite, desprovidos de Youtube, meu namorado decidiu procurar algo para vermos na televisão do hotel e o único que posso dizer é: não tentem isso em casa. Como usamos a internet para “Eu sabia que a minha experiência sem p r a t i c a m e n - redes sociais ia ser difícil, mas não te tudo, nem imaginava o quanto.” sequer temos televisão em nosso apartamento e ter que se contentar com uma programação limitada foi uma experiência bem estranha e que teve seu lado bom: acabei dormindo cedo, como raras vezes fazia. O lado ruim foi acordar às 8 da manhã, praticamente com o celular na mão. Li meus e-mails e já não tinha mais nada para fazer naquele aparelho. Minha bateria estava começando a durar quase um dia inteiro. Durante o dia, confesso: entrei duas vezes no Youtube sem nem perceber enquanto pesquisava sobre a vida de Mujica para outra matéria que estava escrevendo para o Hypeness. Também acabei me rendendo por alguns segundos ao Instagram para terminar um post que já estava programado para a última semana.

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O pop não poupa ninguém Fotógrafo se inspira na cultura pop e retrata Síndrome de Down como você nunca viu

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ichael é um norte-americano de 50 anos que tem Síndrome de Down. Desde pequeno ele teve que se acostumar com os olhares curiosos e maldosos das outras pessoas. Quando tinha 12 anos, Michael foi à Disney com sua irmã e com o fotógrafo Rick Ashley (não confundir com Rick Astley), seu cunhado. Ao perceber como os olhares incomodavam o garoto, Ashley teve a

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ideia de lhe comprar óculos, um boné e um cachimbo e disse ao garoto que ele se parecia com o General Douglas MacArthur, um grande herói da Guerra da Secessão. Michael gostou da ideia e saiu pelo parque acenando e arrancando sorrisos. Este foi apenas o começo de uma grande amizade. Durante todos esses anos, Ashley tem tirado fotos informais do cunhado, que sempre se mostrou brincalhão

e divertido. Desde 2009, contudo, o fotógrafo decidiu fazer um ensaio de verdade com Michael, inspirando-se na cultura pop. O resultado são essas fotos incríveis, que mostram um Michael bem-humorado e espirituoso, que adora incorporar personagens, como o Super Homem e Sherlock Holmes. Segundo Ashley, a figura pode ser vista em diversos quadros renascentistas, mas não na arte contemporânea.


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“Eu era o ‘avô’ do programa de drones. Joguei golf com presidentes. Estive na Casa Branca, andei pelo Pentágono e já trabalhei extensivamente na CIA“ Bobbi, 83 anos

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Uma questão de identidade Embora muito se fale sobre gays, lésbicas e bissexuais, transgêneros parecem ficar em segundo plano

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uando um assunto é debatido, analisado e percebido a partir de diversos ângulos, é muito mais fácil compreendê-lo. A discussão sobre o movimento LGBT está bem mais frequente nos últimos anos e a causa tem conquistado apoio de partes relevantes na política ocidental. Contudo, embora muito se fale sobre gays, lésbicas e bissexuais, o “T” parece ficar em segundo plano. Entender a transgeneridade é um passo importante para respeitar essas pessoas, que na maioria das vezes vivem à margem. E para isso, visibilidade é fundamental. A fotógrafa norte-americana Jess T. Dugan tomou uma iniciativa importante ao escolher criar uma série de retratos e entrevistas com transexuais. E foi além: em uma sociedade que cultua a juventude, Jess decidiu manter seu foco em pessoas transgêneras com mais de 50 anos. O projeto, intitulado “To Survive on This Shore” (“Sobreviver nesta Costa”, em português), foi desenvolvido em parceria

com Vanesa Fabbre, professora na área de assistência social na Washington University, que desenvolveu uma tese sobre o assunto, e que é parceira de Jess. Estima-se que cerca da metade da população de pessoas transgêneras dos Estados Unidos tenham mais de 50 anos, mas elas não têm visibilidade. Com retratos poderosos e entrevistas tocantes, esta série faz um incrível trabalho ao compartilhar a vida, sonhos e lutas dessas pessoas. “Eu queria fazer retratos de pessoas transgêneras e com variação de gênero mais velhas, um grupo que raramente é visto, a fim de compartilhar suas histórias e estimular o diálogo e a compreensão“, afirmou a fotógrafa em entrevista ao Fusion. As pessoas que participam do projeto vêm de variados backgrounds sociais e, nos retratos, todas mantêm o olhar fixo na câmera. Segundo Jess, esta é uma forma de proporcionar uma interação maior e mais significativa entre o retrato e quem o enxerga.

A fotógrafa Jess Dugan explora gênero e sexualidade

“Não foi fácil para a minha família, mas não podia mais me esconder de quem eu realmente sou” Liza, 59 anos

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“Eu era uma moça, mas sempre senti algo de estranho comigo. Hoje me formei padre e não me sinto mais preso” John, 57 anos

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1. Helena, 63 anos, empresária. Natural de Chigago. 2. Alexis, 64 anos, assistente social. Natural de San Francisco. 3. Michele-Marie, 62 anos, professora. Natural de Williamsburg. 4. Stephanie, 64 anos. Cabelereira. Natural de Saint Louis

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To survive on this shore, ou Sobreviver nesta Costa, é um projeto independente que reúne retratos de pessoas trangêneras em idade avançada. As fotografias foram feitas no mês de fevereiro de 2015, em

diversos lugares dos Estados Unidos. As entrevistas, em inglês, estão disponíveis no site do projeto. Você pode acessar o endereço http://fusion.net/ e conferir o resultado do ensaio na íntegra. n

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ENTREVISTA

O salto de David MARIANA RIBEIRO

De Cabo Frio, no RJ, o menino hoje estuda no Ballet Bolshoi da RĂşssia

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o ano de 2010, quando o bailarino brasileiro David Motta Soares chegou em Moscou para estudar na Escola do Teatro Bolshoi, vivenciou semanas de muitas dificuldades. Isso porque, aos 13 anos, sem saber falar inglês ou russo, estava sozinho em recesso das aulas da renomada companhia de dança.. Hoje, aos 18 anos, o adolescente se tornou o primeiro brasileiro a concluir os estudos na sede do Bolshoi e até recebeu um convite para atuar na companhia a partir de setembro. Outros três brasileiros, formados na filial do Brasil, também são integrantes do corpo de baile. David, natural de Cabo Frio, Rio de Janeiro, é filho de um guarda municipal e de uma auxiliar de serviços gerais. Sua carreira teve início por acaso, ao acompanhar a prima em uma aula de dança. Quando um olheiro assistiu a uma de suas apresentações, registrada em vídeo, se surpreendeu com seu trabalho. Com isso, o jovem participou de um curso de verão no Bolshoi de Nova York e foi convidado a se mudar para Moscou. Hypeness - Quais as dificuldades que você passou ao chegar a Mosco e encarar uma nova cultura, uma nova língua e uma nova escola? David Motta Soares - Quando comecei ainda era um menininho que aprendia seus primeiros passos de balé. Isso era por volta de 2007. Ficar longe da família, a dificuldade de aprender uma nova língua e de estar num lugar sem conhecidos, tudo isso foi bem complicado. Ainda mais no início, quando tudo era novo. No início bate um desespero e a gente acha que não vai conseguir. O russo é um idioma muito difícil e complexo, de cara assusta. Para mim, que saí do interior do Rio de Janeiro e não falava nem o inglês direito foi um desafio ainda maior. Estar longe da família também foi outro desafio e obstáculo a ser vencido. Smpre fui muito próximo dos meus pais e, na distância que eu tava

era imposs´´ivel ficar ligando toda hora, até porque tinha muita responsabilidade envolvida, não podia deixar passar a oportunidade. Com o passar do tempo fui me familiarizand com a língua, a cultura, as pessoas. Meus colegas na escola de início também não sabiam muito como se comunicar, mas aos poucos fomos nos aproximando e hoje posso dizer que fiz grandes amigos aqui na Rússia.

Hypeness- Como é sua rotina de aulas e ensaios na Academia?

convivendo de perto com ela. É muito louco isso de ter um ídolo, algu´´em que você admira e de repente os caminhos da vida te colocam lá, do lado da pessoa, dividindo o palco. Confesso que a primeira vez que contracenei com ela tive que segurar o choro, pois foi muita emoção. Além dela, outros grandes profissionais também marcaram muito. Pude fazer uma aula com a renomada Pina Bausch logo uando entrei na Escola Tetro Bolshoi. Infelizmente ela não está mais aqui, mas o legado que deixou e o carinho com que pude conviver com ela ficarão marcados para sempre. Ela foi uma bailarina excepcional e que serviu e servirá de exemplo, tenho certeza disso.

David Motta Soares - É uma rotina muito puxada, minhas aulas começam às 9h da manhã e só terminam às 18h20 da tarde. Temos um intervalo para almoço Hypeness - Qual foi a sensação de e alongamentos, mas tudo dentro da dançar no palco do Teatro Bolshoi? Academia. Meu dia todo se resume a estar E de saber que estava sendo filmado disponível na Academia. E é bom isso, para todo o mundo? porque quando estou lá estou em contato com outros bailarinos, outros profissionais David Motta Soares - Foi uma emoção e os professores. É bem cansativo, pois enorme, um prazer gigantesco poder essa rotina é diária. Temos somente um dançar em um dos palcos mais desejados dia da semana em que podemos descansar do mundo. Eu fiquei muito nervoso, e tirar uma folga. O mas sabia que tinha corpo sente falta se fico “No início foi muito me preparado bem muito tempo sem me difícil, mas sei que fiz e ensaiado bastante exercitar, me alongar. a coisa certa quando e fiquei um pouco aceitei encarar o A dança já faz parte de mais tranquilo. Pra desafio” mim.Mas vale a pena falar a verdade, eu não todo esforço e trabalho sabia que seria filmado porque estou fazendo o que amo e estou pra todo o mundo, eu só fiquei sabendo onde eu sonho estar. que fui filmado pra todo o mundo depois do espetáculo! Quando a gente está lá Hypeness - Conte-nos como é ter dentro é tudo muito rígido. Não temos contato com grandes nomes do muito contato com o que acontece lá fora, balé internacional, como Natalia principalmente no dia do espetáculo. A concentração exigida não permite muita Osipova? emoção, então temos que abstrair o fato Nossa, isso é uma de ser uma apresentação para um grande David Motta Soares emoção que é inexplicável, passar ao público, caso contrário se enlouquece. lado dela [Natalia Osipova] e de poder dividir o palco com ela, é uma coisa que Hypeness - Você enfrentou muitas eu não imaginava quando comecei o dificuldades financeiras para balé. A Natalia Osipovaé uma grande e poder estar na famosa Academia escelente bailarina e quando comecei no Coreográfica do Bolshoi? Como foi a bnunca pude imaginar que um dia estaria batalha por patrocínios? JULHO 2015

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ENTREVISTA David Motta Soares - Nossa, foi uma batalha difícil! Pagar a passagem, a alimentação. lado também acharia arriscado. Desde a primeira coreografia, em fazia o papel de um soldadinho, sempre me senti à vontade com os palcos, e com o público. Mas ainda me sentia receoso de buscar alguém que ajudasse financeiramente a bancar o meu sonho.

especial foi decisivo para que você chegasse até aqui? Davi Motta Soares - As professoras,

coreógrafas e diretoras de balé, Regina e Ofélia Corvello, foram as primeiras a acreditar no talento do garoto. Havia quem desencorajava, quem dizia que todo trabalho investido nele seria em vão, mas as duas acreditaram naquele diamante que pedia uma lapidação para mostrar Hypeness - Quais foram as pessoas seu brilho oculto. Chegaram até a contrair que mais o ajudaram a realizar seu dívidas para não desviar o menino de seu rumo artístico e possibilitar-lhe condições sonho? de crescer em termos de técnica do balé clássico. A estrada de David na dança foi Olha, é gente, David Motta Soares viu?! Vamos lá: Regina Corvello e Ofélia marcada por percalços, mas, felizmente, Corvello; o “Quarteto Fantástico”, um ele conseguiu superá-los. Em 2008, foi grupo que se mobilizou para conseguir selecionado para participar do Youth America Grand auxílio financeiro entre Washington, “Vale a pena todo Prix (YAGP), uma o esforço e trabalho grande competição Rio de Janeiro e que Brasília, que conta porque estou fazendo o internacional com Fernanda van der que amo e estou onde acontece anualmente eu sonho estar” em Nova York. No Lan, Cibele Rocha, ano seguinte, 2009, Sílvia Lopes e Paula Sanches; Vânia Silva; dra. Norma Sueli; também foi selecionado, mas devido a Beatriz e Paulo Gomes; Ana Luíza Godoy; problemas com o visto, não conseguiu Christine Valoussiere de Castro; Darlan embarcar para os Estados Unidos para Morais Junior; Marcos Delorenzo; Miguel as finais em 2010. Porém, semanas após Griesbach de Pereira Franco; a construtora o desapontamento inicial, uma grata Ipê-Omni; Bancorbrás; Ministério das surpresa: olheiros do Bolshoi na Rússia Relações Exteriores; Embaixada do Brasil assistiram ao vídeo de David na seletiva em Moscou; Encantos do Ballet; Mônica para o YAGP e ofereceram-lhe bolsa para Berardinelli; Regina Maura; João Carlos estudar no curso intensivo de verão que o Corrêa; Fábio Marçal; Professor Roberto Bolshoi realizava em julho daquele ano. A Ferreira; Mihail Ivanov; Dr. Luiz Carlos de partir daí, David deslanchou. Conseguiu o Oliveira; Rosa Coimbra; Eliane Fontenelle; tão almejado (e disputadíssimo) convite Juliana Abdala; Maria Angélia Pedrosa; para estudar na Academia Coreográfica Maria Carvalho; Ayala Kalnicki Band; do Bolshoi, na Rússia, onde está até hoje. Maria Eugenia Farre; Erica Miura; Renata O feito é tão grande que o jovem é o único Sanches; Ana Cristina Garcia; Solange brasileiro estudando na Academia, onde Moraes Rego; Vera Sanches; Marcia Cota; aprende com mestres renomados do Lions Clube de Cabo Frio; Studio Zen... mundo da dança que formaram grandes Enfim, a lista é imensa, gostaria de citar nomes do balé internacional. David, todos, mas infelizmente, não é possível. inclusive, já participou de espetáculos com a companhia e um deles, Coppélia, teve Hypeness - Mas antes de você ser transmissão mundial pela rede de cinemas famoso e ter conquistado todas Kinoplex. Conseguiu o tão almejado essas pessoas, alguém ou alguéns em convite para estudar na Academia.

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Hypeness – E como as pessoas reagem à ideia de você sair do Brasil e estar na Rússia? Davi Motta Soares - As pessoas reagem de diferentes maneiras. Muitas pessoas não entendem quando dizemos que vivemos sem dinheiro, como por exemplo, o Dr. José Marcos (pai do Natale), que até hoje insiste para comprarmos uma máquina fotográfica. Mas a maioria das pessoas admira a ideia e a coragem que tivemos de escolher este caminho. Elas não entendem em um primeiro momento, mas ficam curiosas e, depois de infinitas perguntas, ficam surpresas de como é possível viver desse jeito. No fim, sempre oferecem ajuda de alguma forma (algumas vezes, dinheiro!) e nos motivam a continuar.

Hypeness – Qual foi o momento em que decidiu que queria seguir carreira em outro continente? Você se arrepende de alguma coisa? David Motta Soares - Foram momentos diferentes. Durante muitos anos, eu estive desiludido com os hábitos conservadores e consumeristas da nossa sociedade e, inspirado muito por Gandhi e Patch Adams, sonhava em espalhar amor pelo mundo. Eu não sabia como ou de que forma poderia fazer isso. Eu pensei em viver sem dinheiro pela primeira vez depois de ler os livros “Sacred Economics”, de Charles Eisenstein, e “The Moneyless Man”, de Mark Boyle. Mas quando eu decidi que realmente iria fazer isto, foi com base em uma observação principal: a maioria do sofrimento e destruição no mundo – fazendas industriais, destruição de florestas, extinção de espécies, esgotamento de recursos naturais, pobreza, fome, extermínio de populações indígenas e suas culturas – eram sintomas de um problema muito maior. Somente alguém completamente sem consciência da sua própria conexão com o resto da vida neste planeta poderia se comportar da maneira


sou jovem, tenho só 18 anos. Mas sei que se esperasse mais eu poderia me arrepender e a oportnunidade ia passar. Estou no caminho certo.

Hypeness – Encara essa aventura no exterior como uma experiência ou como um modo de vida? David Motta Soares - Talvez um pouco dos dois. Uma experiência que estamos vivendo agora mas que, sem dúvida, pode ser a base para um modo de vida, com ou sem dinheiro. Não ter dinheiro significa simplesmente viver a vida. Tem sido um grande aprendizado para vivermos o momento presente e o momento presente é libertador. As únicas preocupações que temos que ter (na maior parte do tempo) são extremamente simples: comida e abrigo. E ambas acontecem no presente. Assim nossa mente não oscila entre o passado e o futuro. Com o passar do tempo, nós temos cada vez mais nos entregado ao fluxo orgânico da vida. Nós percebemos que todos os dias conseguimos aquilo que precisamos e com essa experiência sendo repetida diariamente, nós nos preocupamos cada vez menos com o dia seguinte. O nosso subconsciente percebe que, no fim, tudo vai dar certo, de alguma forma ou de outra. E uma outra coisa muito importante é aceitar aquilo que a vida nos oferece e entender que tudo aquilo que temos é o que precisamos para aquele momento. Hypeness - O que foi mais desafiador até agora? Davi Motta Soares - No meu ponto de vista, o significado equivocado do ‘ser’ é a raiz da maioria das nossas atuais crises pessoais, sociais e ecológicas. E o dinheiro é instrumental para manter e afirmar esta ilusão. A cultura moderna tem desenvolvido e encorajado um sentido do ‘ser’ que, de maneira implícita, nega nossas conexões integrais e interdependentes com o todo e o resultado disso nunca foi tão claro: desmatamento,

desertificação, extinção das espécies, poluição da água e do ar; aumento nos índices de câncer, asma, diabetes, doenças do coração e obesidade; aumento nos índices de suicídio, depressão, uso de drogas e violência; culto a celebridades, obsessão a beleza física e medo da morte. Tudo isso é extremamente doentio e acreditamos vir diretamente de pessoas que estão perdidas no seu auto-entendimento, desconectadas da Natureza, de suas comunidades e de suas fontes de conhecimento e sendo terrivelmente mal conduzidas sobre o seu lugar no mundo.

momentos inesquecíveis e fiz amigos para a vida toda. Tudo é aprendizado. n

Hypeness – Quais são seus planos para os próximos anos de estudo no Bolshoi?

David em sua primeira apresentação oficial pela Academia Bolshoi, no espetáculo Coppélia..

David Motta Soares - A redução da vida a um estado vazio de preocupação financeira é somente possível através do uso de algo abstrato e sem significado como dinheiro. O dinheiro torna a vida tão fácil porque não temos que pensar. Não precisamos questionar de onde vem os milhares de iPods que são consumidos diariamente ou como é possível encontrar morangos no supermercado em qualquer época do ano. Mas a nossa vida é a nossa mensagem. Nós estávamos cansados de falar ou de simplesmente ouvir as pessoas falando em mudança e revolução. Também aprendemos a ter paciência para entender que as coisas vêm no momento certo. Sem dinheiro nós não podemos comprar nada, então temos que ter paciência e acreditar que as coisas vão acontecer no momento que devem acontecer. Nós queríamos viver aquilo que acreditávamos. Assim como Gandhi, acreditamos que o exemplo e a educação são as melhores formas de transformação. Existe um grande abismo entre as pessoas. As pessoas são tão manipuladas que não percebem que os seus hábitos diários e tudo aquilo que elas consomem faz com que, na realidade, estejam estimulando aquilo que estão mais criticando. Aqui já passei por muitos

Com as professoras brasileiras Regina e Ofélia Corvello, as primeiras mestras.do bailarino. A Escola de Teatro Bolshoi foi fundada em Moscou, em 1773. A sede brasileira, em Joinville, é a única fora da Rússia. Hoje, o projeto está em pleno desenvolvimento e anualmente novos talentos são descobertos.

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COMPORTAMENTO

Ensaio sensível tatua temporariamente o que a mãe sofreu durante o parto, e alerta para os cuidados necessários desde o Pré-Natal

Violência Obstétrica As terríveis consequências da epidemia de cesarianas pré-agendadas no Brasil ANA CAROLINA LISBOA

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la empurrou a cabeça da bebê de volta para dentro. Eu dizia para ela parar porque a cabeça já tinha coroado. Ela me disse que eram normas do hospital, e eu não entendia o que ela queria dizer com aquilo.” Esse é um dos relatos estampados na pele de mulheres que sofreram algum tipo de violência no atendimento ao parto. Ainda assim, com tantos relatos de partos traumáticos por cesárea, o Brasil é campeão mundial em partos feitos dessa forma. A recomendação da Organização Mundial de Saúde é para que um país realize até 15% dos seus partos através do procedimento. No Brasil, esse número gira em torno de 52%. E, se considerarmos apenas a rede privada, chega a 88% dos nascimentos. Os dados são da pesquisa Nascer no Brasil, conduzida pela Fiocruz em parceria com outras instituições científicas e divulgada no ano passado. Eles contrastam com outra revelação

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do mesmo estudo, de que quase 70% das brasileiras desejam um parto normal quando estão no início da gravidez. O que acontece entre o desejo da mãe por um método e a realização do parto por outro? A cesariana, como você sabe, é uma intervenção cirúrgica no útero para extrair o feto. É uma técnica que salva vidas todos os dias e seu desenvolvimento foi uma grande conquista da medicina. Originalmente, a cesárea deveria ser indicada apenas em situações delicadas, onde o risco para a mãe ou bebê não permitisse deixar a natureza agir por si. E, de preferência, a decisão pela cirurgia deveria ser tomada já com o trabalho de parto iniciado. Mas o que estamos vivendo no Brasil é uma epidemia de cesarianas pré-agendadas. E o resultado é uma população de bebês nascidos antes da hora com todas as complicações que a prematuridade oferece, assim como um grande número de mães frustradas com a experiência do parto. Hoje, a cultura da


Antes de tudo, vale explicar a diferença entre os métodos: “O parto normal é por via vaginal, mas pode ser ‘anormal’. O parto natural não tem nenhuma intervenção médica, mas não é necessariamente humanizado. Já o parto humanizado não tem tempo para acabar e respeita o tempo da mãe e do bebê”, como afirma a enfermeira obstetra Mayra Calvette. A cesariana, como você sabe, é uma intervenção cirúrgica no útero para extrair o feto. É uma técnica que salva vidas todos os dias e seu desenvolvimento foi uma grande conquista da medicina. Originalmente, a cesárea deveria ser indicada apenas em situações delicadas, onde o risco para a mãe ou bebê não permitisse deixar a natureza agir por si. E, de preferência, a decisão pela cirurgia deveria ser tomada já com o trabalho de parto iniciado. Mas o que estamos vivendo no Brasil é uma epidemia de cesarianas pré-agendadas. E o resultado é uma população de bebês nascidos antes da hora com todas as complicações que a prematuridade oferece, assim como um grande número de mães frustradas com a experiência do parto. Hoje, a cultura da cesariana como primeira opção predomina no sistema de saúde brasileiro. Como aponta a médica obstetra Fernanda Macêdo no documentário “O Renascimento do Parto“, “o parto passou a ser um procedimento cirúrgico ao invés de um evento fisiológico. Todos encaram o parto como um ato cirúrgico: o médico, o paciente, o hospital”. Nessa história não tem lobo mau: são interesses que se entrelaçam e se realimentam continuamente. Para os hospitais, a imprevisibilidade dos partos normais é mais complexa de administrar e, portanto, menos interessante de atender. Na cesariana é possível estimar quanto tempo levará até a sala de cirurgia ser liberada para outro procedimento. Assim, é possível delimitar o número de nascimentos que vão acontecer em cada turno do expediente. Os médicos, mesmo sabendo que o parto normal é seguro

e bom para mãe e filho, se acostumaram a recomendar a cesárea já desde o pré-natal. Porque a responsabilidade de ter duas vidas na mão por um longo período é gigante. Porque é preciso estar disponível 24 horas por dia, especialmente quando a gestante entra no 9o mês. Porque o valor que o plano de saúde paga pelo parto natural é irrisório. E talvez, principalmente, porque na universidade aprenderam a realizar partos de uma maneira invasiva e ultrapassada e, frente a essa opção, consideram a cesariana menos arriscada. Como nos contou a médica obstetra Juliana Giordano Sandler, “O parto normal tradicional ensinado ainda hoje nas universidades e residências não tem mais embasamento científico. É um parto normal altamente intervencionista, sem acolhimento, feito com a mulher deitada e cheio de gente na sala. A gestante pode sair dessa experiência com uma visão bem negativa. É a chamada violência obstétrica”.

“O parto passa a ser um procedimento cirúrgico ao invés de um evento fisiológico” E, de preferência, a decisão pela cirurgia deveria ser tomada já com o trabalho de parto iniciado. Mas o que estamos vivendo no Brasil é uma epidemia de cesarianas pré-agendadas. E o resultado é uma população de bebês nascidos antes da hora com todas as complicações que a prematuridade oferece, assim como um grande número de mães frustradas com a experiência do parto. Hoje, a cultura da cesariana como primeira opção predomina no sistema de saúde brasileiro. Para os hospitais, a imprevisibilidade dos partos normais é mais complexa de administrar e, portanto, menos interessante de atender. Na cesariana é possível estimar

quanto tempo levará até a sala de cirurgia ser liberada para outro procedimento. Todos encaram o parto como um ato cirúrgico: o médico, o paciente, o hospital”. Nessa história não tem lobo mau: são interesses que se entrelaçam e se realimentam continuamente. O parto natural não tem nenhuma intervenção médica, mas não é necessariamente humanizado. Porque o valor que o plano de saúde paga pelo parto natural é irrisório. E talvez, principalmente, porque na universidade aprenderam a realizar partos de uma maneira invasiva e ultrapassada e, frente a essa opção, consideram a cesariana menos arriscada. Porque é preciso estar disponível 24 horas por dia, especialmente quando a gestante entra no 9o mês. Porque o valor que o plano de saúde paga pelo parto natural é irrisório. E talvez, principalmente, porque na universidade aprenderam a realizar partos de uma maneira invasiva e ultrapassada e, frente a essa opção, consideram a cesariana menos arriscada. É um parto normal altamente intervencionista, sem acolhimento, feito com a mulher deitada e cheio de gente na sala. A gestante pode sair dessa experiência com uma visão bem negativa. É a chamada violência obstétrica”. E, de preferência, a decisão pela cirurgia deveria ser tomada já com o trabalho de parto iniciado. Mas o que estamos vivendo no Brasil é uma epidemia de cesarianas pré-agendadas. Claro que existem mulheres que por opção própria desejam fazer a cesariana e não cabe à gente julgar suas motivações. E existem também casos nos quais a mulher precisa optar por esse método por questões de saúde da mãe e do bebê. Mas existe também a crença popular de que a cesárea é um método mais seguro. Após ouvir recusas do seu médico e do hospital para realizar o parto natural humanizado, a saída era fazer em casa ou em outra cidade. Adelita conseguiu dar à luz com um profissional e um hospital que respeitaram sua escolha.

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COMPORTAMENTO

O parto normal é intervencionista e a mãe pode sair dessa experiência com uma visão negativa. A cesariana é uma cirurgia que extrai o feto do útero

Como denunciar a violência obstétrica? t Levante toda a documentação possível que exista: cartão de gestante, exames, guia de internação, contrato com hospital e recibos de pagamento, plano de parto, termos de consentimento “esclarecido”, recibo de taxa de acompanhante e, principalmente, cópia integral do prontuário da mãe e do bebê (estes documentos pertencem a mãe e o hospital é obrigado a fornecer, sem nenhum custo).

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tEscreva um relato do que aconteceu, detalhando a violência sofrida e como se sentiu. tProtocole uma cópia de seu relato junto à ouvidoria do Hospital, com cópia para a Diretoria Clínica, se o parto foi pelo SUS. Envie também a denúncia para as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde e para o Ministério da Saúde.

tExiste ainda a possibilidade de uma representação administrativa junto ao CRM contra o médico e a equipe. E também a possibilidade de mover uma ação judicial contra os profissionais e hospital. tPara isso sugerimos o apoio de um advogado. Se você não possui condições de pagar um advogado, procure a defensoria pública da sua cidade.


Parto Humanizado Quem deseja viver a experiência do parto natural sem passar por esse método arcaico e intrusivo têm buscado a alternativa do parto humanizado. Nesse formato não existe uma receita, e sim um princípio: respeitar as necessidades e escolhas da mulher e também o tempo do bebê. Massagens, respirações, acupuntura e outras técnicas ajudam a dar conforto para a grávida. A anestesia pode ser usada, mas somente se ela solicitar. Ao nascer, o bebê é recebido em um ambiente aquecido, escuro, com a menor quantidade de pessoas e estímulos sensoriais para não agredi-lo. E é imediatamente colocado em contato com a mãe. O contrário do que muitos imaginam, parto humanizado não quer dizer domiciliar. A mulher é quem escolhe o local onde se sente mais segura. Pode ser em casa, pode ser em uma casa de parto e pode sim ser em um hospital capacitado para isso. Dentro de casa, o parto só será realizado se a gravidez for de baixo risco e tudo correr bem durante o processo. Ao primei-

ro sinal de que uma intervenção é necessária, a gestante é transferida para o hospital e o médico entra em ação. A psicóloga Adelita Monteiro conhece bem os diferentes lados dessa realidade. Ela sempre quis ter filhos de parto natural e assim foi em sua primeira gravidez. Porém, a experiência envolveu rompimento da bolsa com agulha, troca de turno de funcionários durante o trabalho de parto, uso de ocitocina sintética, episiotomia, sucção a vácuo e uma lesão no cóccix cujas dores permaneceram por meses. “No primeiro parto, tive direito a todas as intervenções possíveis. Devido à anestesia, eu não sabia o que estava sendo feito com meu corpo. No dia seguinte me senti destruída, deprimida, com uma sensação de derrota. Senti que um trem tinha passado por cima de mim.” , relata ela. Ao engravidar novamente, Adelita não quis repetir a dose. Após ouvir recusas do seu médico e do hospital para realizar o parto natural humanizado, a saída era fazer em casa ou em outra cidade. Adelita optou pela segunda alternativa, e deu à luz com um profissional e um hospital que res-

Ao contrário do que pensam, o parto humanizado não quer dizer domiciliar, a mulher é quem escolhe

respeitaram sua escolha: “Foi maravilhoso. Quando acabou eu saí andando, fui tomar banho. Me senti poderosa e radiante de alegria. Meu segundo filho nasceu em um ambiente íntimo e tranquilo, apenas com pessoas de confiança ao redor”. Claro que existem mulheres que por opção própria desejam fazer a cesariana e não cabe à gente julgar suas motivações. E existem também casos nos quais a mulher precisa optar por esse método por questões de saúde da mãe e do bebê. Mas existe também a crença popular de que a cesárea é um método mais seguro. O mito é transmitido no boca a boca e também alimentado nos consultórios durante o pré-natal. Às vezes de forma muito sutil, como através de comentários sobre o bebê ser muito grande para passar, a idade ou o peso da mulher ser elevado e por aí vai, minando a confiança da gestante no parto natural. É essa teia emaranhada de opiniões, interesses e tabus que ocasiona a contradição entre o desejo predominante das mulheres por um método e a prática quase hegemônica de outro. Para tentar estancar a epidemia, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicou no último dia 7 de janeiro uma resolução que busca estimular o parto normal na rede privada. Agora as mulheres vão poder solicitar previamente os percentuais de partos normais e de cesarianas do médico e do hospital. O plano de saúde será obrigado a repassar essas informações para que a gestante possa fazer a melhor escolha. E os médicos e hospitais só vão receber pelos atendimentos se preencherem um relatório completo dos procedimentos adotados desde que a mulher entrou em trabalho de parto. As medidas começam a valer em seis meses. Como aponta Julia, “Quanto mais pacientes tiverem uma experiência positiva de parto normal, isso vai se tornando cultural e as pessoas se conscientizam de que é a melhor escolha a fazer.Poderá ser solicitado os percentuais de partos. n

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COMPORTAMENTO

Nação Rivotril

Como um tarja preta, vendido apenas com retenção de receita, está entre os medicamentos mais vendidos do Brasil BRUNA ZANATTA

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ançado no Brasil em 1973 para amenizar os efeitos da epilepsia, o Rivotril passou a ser usado como tranquilizante por apresentar muitos benefícios em relação aos medicamentos usados na época. Em pouco tempo virou o queridinho das farmácias e já esteve em segundo lugar na lista dos remédios mais vendidos do país. Entre agosto de 2011 e agosto de 2012, o medicamento foi o 8º mais consumido em todo o Brasil. No ano seguinte, o seu consumo ultrapassou os 13,8 milhões de caixas. Não é por acaso que o medicamento virou febre entre executivos. Com uma vida agitada, é preciso esquecer os problemas de alguma maneira – e o Rivotril promete a paz em forma de pílulas ou gotas. Afinal, a droga faz parte da classe dos benzodiazepínicos: são medicamentos que afetam a mente e o humor de quem os consome, deixando essas pessoas mais calmas. Por essa qualidade, os “benzos” costumam ser indicados em casos de síndrome do pânico, ansiedade ou distúrbios do sono. Mas os médicos vão além: uma busca rápida na internet mostra que até mesmo dentistas e ginecologistas estão receitando o fármaco, que deveria ser de uso controlado. Em alguns casos os próprios farmacêuticos encontram uma maneira de vender o medicamento para pacientes que não possuem a receita. Foi o que aconteceu com *Luísa, que começou a tomar Rivotril por orientação médica. “Depois que ele diminuiu a dosagem, eu conseguia com o farmacêutico mais caixas e pegava mais receitas com a secretária. Teve épocas que tomava 2 ou até 4 (comprimidos) de 2 mg por dia. Não percebi que era dependência, pois fazia tudo normal. E não tinha sono como todos têm, pelo contrário, ficava ligada… Era como um propulsor”, diz ela, que tomou o medicamento por mais de 3 anos. A dependência é justamente o maior risco do uso contínuo do remédio. A própria bula do medicamento alerta para esse fato, informando que “o uso de benzodiazepínicos pode levar ao desenvolvimento de dependência física e psíquica. O risco de dependência aumenta com a dose, tratamentos prolongados e em pacientes com história de abuso de álcool ou drogas”. Ou seja, a dependência pode ocorrer mesmo em pacientes que utilizam o remédio sob orientação médica e costuma ser acompanhada de crises de abstinência que podem se tornar verdadeiros pesade-

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los, incluindo psicoses, distúrbios do sono e ansiedade extrema. Parece irônico que as pessoas recorram a um remédio justamente para evitar este tipo de sintoma e vejam seus problemas agravados ao deixar o medicamento. Especialistas concordam que não há doses seguras contra a dependência. “Comecei a tomar o Rivotril por indicação médica, inicialmente contra crises de pânico, fobia social e insônia aliado ao uso de fluoxetina contra depressão. No início foi ótimo, como tinha dificuldade de fazer provas e ir à faculdade, o medicamento me tranquilizava. O que era para ser de maneira esporádica passou a ser frequente, passei a tomar o Rivotril para insônia antes mesmo de tentar dormir. Após o uso excessivo e diante de uma crise no final de um semestre acabei sendo internado em uma clínica por uma semana. Lembro-me de ver um médico internado em crise de abstinência ingerir quase o triplo da quantidade que tomava para dormir e continuar de pé!”, conta Alexandre, que acrescenta que teve acompanhamento psiquiátrico durante todo o tempo e, após a internação, encontrou na terapia cognitiva um aliado contra as crises de pânico e a insônia.Mas o caso de Alexandre não é incomum. A reportagem Receita Perigosa, veiculada pela Rede Record, mostra que casos como este são cada vez mais frequentes: “O sucesso do Rivotril é decorrência do aumento dos casos de transtornos psiquiátricos e do perfil do nosso produto: ele é seguro, eficaz e muito barato”, conta Carlos Simões, gerente da área de produtos de neurociência e dermatologia da Roche, laboratório responsável pela produção do fármaco, em entrevista à Revista Época. Talvez por isso o remédio tenha figurado no topo do ranking dos medicamentos mais prescritos entre fevereiro de 2013 e fevereiro de 2014. Não somos realmente capazes de lidar com nossos problemas de outra maneira e precisamos consumir. Ees surgiram na década de 1950, e logo viraram os substitutos para os barbitúricos, como o Gardenal. Os barbitúricos têm indicação semelhante à dos benzo. Mas são mais perigosos: a linha entre a dosagem indicada para o tratamento e aquela considerada tóxica é muito tênue. Quem sabe não aprenderíamos a lidar melhor com nossas próprias angústias se resolvessemos elas de outra maneira?


O consumo excessivo de um tarja preta num extenso territ贸rio nacional alerta especialistas sobre poss铆veis futuros efeitos colaterais perigosos JULHO 2015

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a felicidade em formato de pílulas? É claro que não se podem ignorar as estatísticas: um em cada três moradores de regiões metropolitanas apresenta distúrbios decorrentes de ansiedade, enquanto cerca de 15% a 27% da população adulta apresenta problemas de sono (Fonte: Veja Rio). O Rivotril pode ser a solução em casos mais extremos, mas um medicamento que apresenta altos índices de dependência e efeitos colaterais que incluem depressão, alucinações, amnésia, tentativas de suicídio e dificuldades para articular a fala, não deveria ser a primeira opção nestes casos. Com a popularização, o remédio hoje é usado como um elixir capaz de curar qualquer problema do dia-a-dia, mas não é o que deveria ocorrer. Quem sabe não aprenderíamos a lidar melhor com nossas próprias angústias caso precisássemos resolvê-las de outras maneiras? Ou isso, ou nos acostumamos a conviver com os efeitos colaterais de uma sociedade incapaz de resolver seus próprios dilemas. É isso, afinal, que queremos? Justamente por trazer essa calma toda, o Rivotril não é recomendado a qualquer um. Seu consumo por profissionais que têm de se manter ágeis e em estado de alerta - como pilotos de avião e operadores de máquinas, por exemplo - é desaconselhado por médicos. “O Rivotril dá a falsa impressão de que a pessoa produz mais, mas a verdade é que o remédio só deixa mais calmo”, diz José Carlos Galduroz, psiquiatra da Unifesp. Não é só com o Rivotril que isso acontece. Os calmantes da família dele - os chamados benzodiazepínicos - têm o mesmo papel. São remédios como Lexotan, Diazepam e Lorax. Em parte, o Rivotril ficou famoso ao pegar carona na onda dos “benzo”. Eles surgiram na década de 1950, e logo viraram os substitutos para os barbitúricos, como o Gardenal. Os barbitúricos têm indicação semelhante à dos benzo. Mas são mais perigosos: a linha entre a dosagem indicada para o tratamento e aquela considerada tóxica é muito tênue. A mais famosa vítima dos excessos de barbi-

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túricos foi Marylin Monroe (embora haja dúvidas sobre o envenenamento acidental da atriz). Quando surgiram os benzodiazepínicos, o mundo achou um combate mais seguro à ansiedade. “Uma overdose de remédios como o Rivotril é praticamente impossível”, diz Saadeh, da USP. É verdade, o Rivotril tem berço, vem de uma família benquista pelos médicos. Isso já garante uma popularidade. Mas ele tem uma vantagem extra em relação aos parentes. É o que os médicos chamam de meia-vida. “A meia-vida do Rivotril é uma das mais confortáveis para o paciente, porque fica no meio-termo em relação aos outros remédios para a ansiedade e facilita a adaptação”, diz Saadeh. Na prática, esse meio-termo significa que o efeito do Rivotril não termina nem cedo demais - o que poderia fazer o paciente acordar de uma noite de sono já ansioso - nem tarde

demais - o que não prolonga a sedação por um período maior que o desejado. No Brasil, o Rivotril tem ainda outra vantagem. Repare: somos os maiores consumidores mundiais do remédio, mas estamos apenas na 51ª colocação na lista global de consumo de benzodiazepínicos. Ou seja: o mundo consome muitos benzo, nós consumimos muito Rivotril. Por quê? Por causa do preço. Uma caixa de Rivotril com 30 comprimidos (considerando a versão de 0,5 miligrama) custa em torno de R$ 8. O principal concorrente, o Frontal, da Pfizer, custa cerca de R$ 29. Livrar-se do Rivotril é duro porque é preciso enfrentar todos os fantasmas de que o paciente queria se livrar quando buscou o remédio. O verdadeiro adeus é o momento em que se aprende a lidar com a ansiedade. Sozinho. Talvez com uma passadinha rápida na praia. Pensando no namorado.n



CINEMA

Estreias para o segundo semestre Maze Runner: Prova de Fogo Aventura, Ficção Científica 18 de setembro de 2015

Maze Runner: The Scorch Trials (Maze Runner: Prova de Fogo) é a sequência de Maze Runner: Correr ou Morrer, uma adaptação americana de ação, ficção científica e mistério, baseada no segundo livro da série escrita por James Dashner. Com direção de Wes Ball e roteiro de T.S. Nowlin, o elenco tem como destaque Dylan O’Brien, Ki Hong Lee, Thomas Brodie-Sangster, Kaya Scodelario, Patricia Clarkson, Aidan Gillen, Jacob Lofland, Rosa Salazar e Giancarlo Esposito. O filme será lançado em 18 de setembro de 2015 nos Estados Unidos. Já no Brasil e em Portugal, o lançamento acontecerá no dia 17 de setembro de 2015. Em julho de 2014, Wes Ball anunciou na Comic-Con International que iriam começar a filmar no segundo semestre de 2014.

Quarteto Fantástico Ação, Aventura, Fantasia 7 de agosto de 2015

Em agosto de 2009, a 20th Century Fox anunciou um reboot da franquia Quarteto Fantástico filme. Akiva Goldsman foi anexado como produtor e Michael Green foi contratado para escrever o roteiro.Em julho de 2012, Josh Trank foi contratado para dirigir e Jeremy Slater foi contratado como roteirista.Em fevereiro de 2013, Matthew Vaughn foi anexado como produtor e Seth Grahame-Smith foi contratado para polir o script.Em outubro, Simon Kinberg foi contratado para co-escrever e produzir o filme. Kinberg disse que o filme é uma celebração de todos as histórias em quadrinhos da equipe e sua inspiração por sua história. Ele acrescentou que Trank teve

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uma visão para o filme a ser mais fundamentada, mais caráter dirigido, mais emocional, e um pouco mais dramático em comparação com os filmes lançados anteriormente.Segundo o consultor da 20th Century Fox para seus filmes da Marvel Comics com base, Mark Millar, que terá lugar no mesmo universo como um filme da série X-Men.No entanto, Kinberg contradisse sua declaração. Kinberg terminou reescrevendo o roteiro e elenco para os papéis de Reed Richards e Sue Storm começou. Kit Harington e Jack O’Connell foram testados para o papel de Reed Richards, enquanto Kate Mara, Margot Robbie e Emmy Rossum foram testados para Susan Storm.


Peter Pan

Fantasia 8 de outubro de 2015 A trama acompanhará um órfão que é levado a Terra do Nunca e acaba se tornando um herói aos nativos e lidera uma

revolução contra os piratas do mal. No longa, o Barba Negra (Hugh Jackman) entra no lugar do antagonista, deixando o Capitão Gancho (Garret Hedlund) como um dos aliados de Peter Pan (Levi Miller). Ryan Gosling foi contactado para interpretar o Gancho mas recusou a oferta.

Jogos Vorazes: A Esperança Aventura, Drama, Ficção Científica 20 de novembro de 2015

A nação de Panem está em plena guerra e Katniss (Jennifer Lawrence) decide montar uma resistência com um grupo de amigos próximos, incluindo Gale (Liam Hemsworth), Finnick (Sam Clafin) e Peeta (Josh Hutcherson), para tirar o Presidente Snow (Donald Sutherland) do poder. Eles arriscam suas vidas em uma missão para assinar o ditador, que fica cada vez mais obcecado em acabar com Katniss. Inicialmente o título seria Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 2, porém a Paris Filmes decidiu alterar para Jogos Vorazes: A Esperança - O Final. Ele é baseado na franquia literária escrita por Suzanne Collins. A produtora optou por dividir o terceiro livro em dois filmes, como o de Harry Potter e outros.

Star Wars - O despertar da Força Aventura, Fantasia, Ficção Científica 17 de dezembro de 2015 Star Wars - O Despertar da Força (Star Wars - The Force Awakens) é o título do Episódio VII da saga cinematográfica criada por George Lucas. A trama de Star Wars - O Despertar da Força se passa cerca de 30 anos depois do fim de O Retorno de Jedi. O elenco principal inclui John Boyega, Daisy Ridley, Adam Driver, Oscar Isaac, Andy Serkis, Domhnall Gleeson, e Max von Sydow, com Harrison Ford, Carrie Fisher, Mark Hamill, Anthony Daniels, Peter Mayhew e Kenny Baker reprisando seus papéis dos filmes anteriores. Além

disso, entra no elenco Lupita Nyong’o, entre outros. O filme tem direção de J. J.Abrams e a volta de John Williams na trilha sonora. É o primeiro filme de Star Wars produzido após a venda da LucasFilm para a Walt Disney. Em maio de 2013, a empresa confirmou que a produção do Episódio VII ocorreria no Reino Unido. Representantes da Lucasfilm reuniram-se com o Chanceler do Tesouro, George Osborne para ele aprovar a produção do filme no Reino Unido. Em 2014 os galpões Bad Roboto foram convertidos para produção.

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CINEMA

O PODER DO MUSICAL 50 anos de Noviça CAROLINA SANTOS As montanhas ganharam vida com o som da música há exatas cinco décadas. Foi quando “A Noviça Rebelde”, musical de Robert Wise com Julie Andrews e Christopher Plummer, teve sua estreia em Nova York. Adaptação do musical da Broadway de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, que por sua vez dramatizou a história real da família Von Trapp, o filme foi inicialmente ignorado pela crítica, que depois o reconheceu como um dos grandes musicais da história, e abraçado pelo público: foi o filme que tirou “E o Vento Levou” do topo da lista das maiores bilheterias de todos os tempos, onde encontrava-se por quase trinta anos. maram a vida e a política uruguaia – além de inspirar o mundo.

Christopher Plummer e Julie Andrews formaram o casal da trama dirigida por Robert Wise

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CINEMA

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estes cinquenta anos, a influência de “A Noviça Rebelde” na cultura pop foi palpável. Não que os cinemas tenham sido invadidos por produções com freiras cantoras – “The Singing Nun”, lançado no ano seguinte com Debby Reynolds, foi um fracasso retumbante. Mas as canções do musical, traduzidas para o cinema, se tornaram o motor do sucesso do longa. A maior prova aconteceu no palco da última cerimônia do Oscar, quando Lady Gaga, despida de sua figura extravagante e armada apenas com sua voz, liderou a homenagem da Academia ao filme --interpretando trechos de clássicos imortalizados no filme, como “The Sound of Music” e “Edelweiss”--, arrancou aplausos emocionados e, ao final, ganhou um abraço sincero da própria Julie Andrews. Ah, Julie Andrews.... Poucas vezes personagem e atriz combinaram tão bem. Embora ela fosse a primeira escolha de Robert Wise, o estúdio não estava tão certo, mirando em outras artistas como Grace Kelly e Shirley Jones. ”Mary Poppins” ainda não havia sido lançado quando a produção de “Noviça” começou, e Wise, ao lado do roteirista Ernest Lehman, assistiram a trechos do filme na Disney: bastaram alguns minutos para o diretor saber não só que havia encontrado sua estrela, como ela seria uma das maiores do mundo assim que “Poppins” chegasse aos cinemas. E Julie Andrews foi grande, teve uma carreira brilhante, mas sua carreira nunca repetiu o auge de “A Noviça Rebelde”. Embora tenha estourado no cinema, “A Noviça Rebelde” teve sua aura pop amplificada nos palcos. A produção original de 1959 na Broadway é montada até hoje, com um primeiro revival em Londres em 1981, seguido por um na Broadway em 1998 e um segundo na capital inglesa em 2006 – que terminou contratando uma desconhecida como protagonista, depois que negociações com Scarlett Johansson não tiveram sucesso. Além disso, “A Noviça Rebelde” já teve diferentes montagens por todo o

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mundo, inclusive no Brasil, com Kiara Sasso e Herson Capri, em 2008 no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em 1992, “Mudança de Hábito” se tornou o primeiro sucesso no cinema misturando freiras e música – embora de forma radicalmente diferente que “A Noviça Rebelde”. Whoopi Goldberg interpreta uma golpista que, para fugir de trambiqueiros que querem matá-la, refugia-se num convento em Nova York. Sua chegada balança a estrutura hierárquica do lugar, já que ela assume o coral das freiras e cria um grupo vocal, retrabalhando sucessos soul como canções gospel. O sucesso foi tamanho que Whoopi se viu na posicão de maior estrela do cinema por um par de anos, protagonizando uma continuação feita a toque de caixa e lançada no ano seguinte. Curiosamente, “Mudança de Hábito” fez o caminho inverso de “A Noviça Rebelde” e, agora, é um sucesso nos palcos. Não que “A Noviça Rebelde” fosse um musical em sua concepção. A família Von Trapp verdadeira fugiu da Europa para os Estados Unidos no auge da Segunda Guerra Mundial, e Maria, a matriarca que deixou o convento para se casar com um nobre, publicou sua história em 1949. “A Família Trapp” foi o primeiro filme baseado em sua história, uma produção alemã de 1956 que teve uma continuação dois anos depois. A versão de Robert Wise com Julie Andrews é inspirada na vida de Maria, mas toma diversas liberdades, alterando a cronologia dos fatos e criando uma história de amor poderosa que, segundo a própria Von Trapp, era mais conveniência que um sentimento real. A trama, porém, tem o mesmo DNA. Maria é uma noviça que passa a ser governanta da mansão de um nobre, o barão Georg Von Trapp. A educação dos sete filhos do barão, que então era viúvo, se torna leve quando Maria descobre a vocação natural de todos para a música – transformados em um grupo vocal, eles usam o poder da música para fugir dos nazistas.

Foto: Divulgação/ 20th Century Fox

Uma das cenas do longa com o elenco infantil Foto: Divulgação/ 20th Century Fox

Julie Andrews gravou o filme aos 20 anos Foto: Divulgação/ 20th Century Fox

Atores na premiere do musical na época


Quando começou a produção de seu “A Noviça Rebelde”, Wise conversou com Maria e deixou claro que não se tratava de um documentário, e sim uma dramatização de sua história de vida. Não que “A Noviça Rebelde” fosse um musical em sua concepção. A família Von Trapp verdadeira fugiu da Europa para os Estados Unidos no auge da Segunda Guerra Mundial, e Maria, a matriarca que deixou o convento para se casar com um nobre, publicou sua história em 1949. “A Família Trapp” foi o primeiro filme baseado em sua história, uma produção alemã de 1956 que teve uma continuação dois anos depois. A versão de Robert Wise com Julie Andrews é inspirada na vida de Maria, mas toma diversas liberdades, alterando a cronologia dos fatos e criando uma história de amor poderosa que, segundo a própria Von Trapp, era mais conveniência que um sentimento real. A trama, porém, tem o mesmo DNA. Maria é uma noviça que passa a ser governanta da mansão de um nobre, o barão Georg Von Trapp. A educação dos sete filhos

do barão, que então era viúvo, se torna leve quando Maria descobre a vocação natural de todos para a música – transformados em um grupo vocal, eles usam o poder da música para fugir dos nazistas. Embora tenha estourado no cinema, “A Noviça Rebelde” teve sua aura pop amplificada nos palcos. A produção original de 1959 na Broadway é montada até hoje, com um primeiro revival em Londres em 1981, seguido por um na Broadway em 1998 e um segundo na capital inglesa em 2006 – que terminou contratando uma desconhecida como protagonista, depois que negociações com Scarlett Johansson não tiveram sucesso. Além disso, “A Noviça Rebelde” já teve diferentes montagens por todo o mundo, inclusive no Brasil, com Kiara Sasso e Herson Capri, em 2008 no Rio de Janeiro e em São Paulo. Em 1992, “Mudança de Hábito” se tornou o primeiro sucesso no cinema misturando freiras e música – embora de forma radicalmente diferente que “A Noviça Rebelde”. Whoopi Goldberg interpreta uma golpista que, para fugir de trambiqueiros que querem matá-la, refugia-se num con-

vento em Nova York. Sua chegada balança a estrutura hierárquica do lugar, já que ela assume o coral das freiras e cria um grupo vocal, retrabalhando sucessos soul como canções gospel. Nestes cinquenta anos, a influência de “A Noviça Rebelde” na cultura pop foi palpável. Não que os cinemas tenham sido invadidos por produções com freiras cantoras – “The Singing Nun”, lançado no ano seguinte com Debby Reynolds, foi um fracasso retumbante. Mas as canções do musical, traduzidas para o cinema, se tornaram o motor do sucesso do longa. A maior prova aconteceu no palco da última cerimônia do Oscar, quando Lady Gaga, despida de sua figura extravagante e armada apenas com sua voz, liderou a homenagem da Academia ao filme --interpretando trechos de clássicos imortalizados no filme, como “The Sound of Music” e “Edelweiss”--, arrancou aplausos emocionados e, ao final, ganhou um abraço sincero da própria Julie Andrews. Poucas vezes personagem e atriz combinaram tão bem. Embora ela fosse a primeira escolha de Robert Wise, o estúdio não estava tão certo.

Foto: Divulgação

UMA ATRIZ COMPLETA Nascida numa pequena cidade às margens do Rio Tâmisa, na Inglaterra, Julie Andrews já era uma estrela da Broadway — depois de sua atuação em “My fair lady” — quando foi convidada a protagonizar três filmes seguidos: “Mary Poppins” (que lhe rendeu um Oscar), “A americanização de Emily” e “A noviça rebelde”. Não demorou para ela se tornar a estrela de cinema mais bem-sucedida da segunda metade dos anos 1960. ontratando uma desconhecida como protagonista, depois que negociações com Scarlett Johansson não tiveram sucesso. Além

disso, “A Noviça Rebelde” já teve diferentes montagens por todo o mundo, inclusive no BrasiApesar da enxurrada de críticas negativas que recebeu, a versão cinematográfica da história (verídica) de amor entre um capitão Whoopi Goldberg interpreta uma golpista que, para fugir de trambiqueiros que querem matá-la, refugia-se viúvo e a noviça que contratou como governanta para cuidar de seus filhos passou quatro anos e meio em cartaz nos Estados Unidos. Ela diz “um dos últimos, senão o último, grande musical artesanal de Hollywood”.

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MÚSICA

Letras e quadrinhos Músicas famosas são transformadas histórias

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e músicas são histórias, por que não ilustrá-las? O artista mexicano Pablo Stanley fez um trabalho incrível ao transformar duas músicas pra lá de famosas em histórias em quadrinho. Imagine, de John Lennon e Don’t Stop Me Now, de Freddy Mercury, canções que deixaram sua marca, foram colocadas no papel e, de uma vez por todas, tomaram forma. Lennon e Yoko Ono, produziram

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a canção e o álbum do mesmo nome Imagine (álbum) com Phil Spector. A gravação começou no estúdio na casa de Lennon no Parque Tittenhurst, na Inglaterra, em maio de 1971, e a edição dos acréscimos finais (de instrumentos ou voz) aconteceu no Record Plant na cidade de Nova York, durante julho. Um mês após o lançamento do LP em setembro, Lennon lançou “Imagine” como single nos

Estados Unidos; a canção alcançou a terceira posição da Billboard Hot 100, das 100 músicas mais tocadas e o LP alcançou o primeiro lugar das paradas no Reino Unido em novembro, mais tarde se tornou o álbum mais bem sucedido comercialmente. A canção já vendeu desde então mais de 1,6 milhões de cópias no Reino Unido, e alcançou o primeiro lugar após a morte de John Lennon em dezembro de 1980.


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