Revista Effuse MAG

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effuseMAG Effuse MAG | Edição 1 | Ano 2015 | No. 0001

Identidades escondidas Bobbé e a realidade explicada em arte


Conteúdo 8 O incrível

Leland Bobbé

4 | Carta ao leitor

Effuse MAG em palavras

6 | Lorelay e Danilo

De tutoriais e maquiagem a

xxxxxxxxxx discussões de gênero

5 | Semana de Moda 11 | They`re burning! Porque Paris is Burning Marco Marco e a sua moda xxxxxxxxxx conversa com as queens


Carta ao LEITOR Escutar

alguém falando sobre drag queens não é comum. Quando a conversa conquista um lugar na roda de bate papos, o tom é, geralmente, de deboche e repleto de preconceitos. Entretanto, julgar quem fala com termos pejorativos sobre o assunto não é o correto, afinal, como esperar que as pessoas entendam um universo que não estão incluídas e também não é nem um pouco explorado? Com um novo olhar, a Effuse MAG irá inserir as drag queens da maneira correta dentro da sociedade, além de pretender despertar o interesse do público sobre o tema. Desbravaremos assuntos nunca trabalhados com um novo jeito de o observar, além de discutir diversas pautas que envolvem as queens sem o famoso preconceito por conta de sua

Semana de MODA

maneira de se vestir. Afinal, como disse Lorelay Fox, uma vlogueira drag queen cuja história você conhecerá nas próximas páginas: “Por que todo mundo tem muita dificuldade de aceitar que tudo isso aqui é só pano e maquiagem?” Definir o desconhecido commo bizarro é simples. Difícil mesmo é aceitar suas diferenças e conviver de maneira harmônica e sem preconceitos. Portanto, você está pronto para mergulhar em um universo em que não tem conhecimento? Se estiver, as próximas páginas estão te esperando para mostrar histórias incríveis. E se a resposta for negativa, o que vem a seguir te mostrará que você está errato. Boa leitura,

a n i l o Car e z e l l e B

Getty Images

Marco Marco e a moda consciente Estilista leva drag queens para a New York Fashion Week

glamour, o Gotham Hall Em uma passarela longilí- seu da cidade de Nova York pega

nea, o estilista Marco Marco tinha tudo para fazer apenas mais um desfile com as tendências da Primavera-Verão para 2016 na Semana de Moda de Nova York. Entretanto, quando as luzes se acendem e é dada a largada, é possível ver que a apresentação da Collection 4 não será esquecida pelos adoradores do estilista. Vestindo o que parecia ser uma roupa de ballet, o primeiro modelo não usa a passarela apenas um lugar para mostrar seu gingado, mas, também, para mostrar seus passos de dança. A partir daí, começa o show. Com drag queens que invadem a passarela com todo o

fogo. As modelos não mostram apenas o seu gingado, mas, também, toda a sua confiança de usarem lingeries em frente a um grande público e mostrarem, realmente, quem são. Aos gritos do público, elas riscam a passarela com perfeição em trajes que desafiam o socialmente aceito e impõe um novo jeito de se vestir, despido de padrões ou de formalidades e recheado de uma indestrutível personalidade. De mãos dadas com duas de suas principais modelos, Marco fecha o desfile mostrando para o que veio: inovar. O show teatral do estilista

não buscava apenas encher o Gothan Hall de um universo fashion das roupas de baixo, mas também fazer com que o público se conscientizasse sobre a crescente taxa de suicídio LGBT, que chegaram a 20%. Já entre a comunidade transgênica, as taxas chegam a alcançar números ainda maiores, com 41%. Pela quarta vez, Marco Marco soube trazer aquilo que há de mais novo na indústria da moda e aliá-lo a um novo modo de apresentar o seu trabalho. De quebra, o estilista também soube trazer uma atenção especial para um dado tão importante dentro da sociedade. No mundo da moda, ainda faltam muitos Corettis por aí.


Youtube em AÇÃO

Youtube em AÇÃO Instagram

Os tutoriais de maquiagem (e vida) de Lorelay Quando o Youtube abre espaço para uma reflexão necessária

Danilo Dabague tinha ape-

nas 16 anos quando se vestiu, pela primeira vez, como uma mulher. Sem pretensão de se tornar uma drag queen, o jovem do interior de São Paulo não imaginava que se identificaria tanto com aquela aparência. Hoje em dia, ele não atende apenas por seu nome de batismo, mas, também, pelo nome que veio junto com sua escolha pessoal: Lorelay Fox, que surgiu por conta da união do nome de uma das personagens de seu seriado favorito unido ao sobrenome de sua cantora predileta. Foi só dez anos depois da decisão que mudou a sua vida que ela resolveu compartilhar com o mundo, as suas

experiências e conhecimentos sobre o mundo drag e LGBT em um canal do Youtube que deu à ela, o seu terceiro nome: Para Tudo. Com uma voz suave e doce, Lorelay cativa e chama seus internautas para um debate que varia desde qual a paleta de sombras é melhor para fazer aquela maquiagem maravi-

lhosa até a difícil discussão sobre gênero. No entanto, apesar de colocar grandes questões do universo gay em pauta, ela não se cansa de afirmar que qualquer um pode se classificar como uma drag queen, independentemente de sua opção sexual. “A drag queen não é uma expressão de gênero. Instagram

É uma expressão completamente artística”, explica. “O primeiro passo para você ser uma drag queen é acreditar na liberdade de expressão. Não importa se você é homem, mulher, hetero, gay… Você tem o direito de se vestir como você quiser”, finaliza.

“Se você ficar muito confuso, Pensa assim: É tudo gente!” Muito além das discussões, o canal de Danilo e Lorelay serve como um alívio para jovens que estão lidando com o descobrimento da sexualidade e o autoconhecimento. Gay, o publicitário não se prende apenas a discussões do universo drag e também fala sobre suas próprias experiências. No video Sair

do Armário, por exemplo, é doce escutar a voz suave de Lorelay explicar que não há nada de errado com você. “Não existe nada errado em ser quem você é”, afirma. “Se alguém não te aceita com a condição de amar que você nasceu, o problema está nesta pessoa”, conclui. Além Para Tudo, que já reúne mais de 60 mil inscritos e videos com mais de um milhão de visualizações, Danilo agora, também, dá palestras pelo Brasil. Emocionado com a oportunidade de conseguir carregar ao redor do País uma discussão tão importante como a de gênero, ele não esconde que é uma felicidade extrema ver como o mundo anseia por um conhecimento que, antigamente, não era considerado necessário. Com muita clareza e calma, Instagram

Instagram

Danilo aproxima até os mais leigos os assuntos que requerem uma reflexão mais aprofundada. Discutir gênero não é fácil, mas na voz e simplicidade de Lorelay tudo se torna mais dinâmico em um debate que, antes de presar floreios, discute de maneira descomplicada e divertida: “Se você fica muito confuso, pensa assim: É tudo gente!” Instagram


Especial

Especial: FOTOGRAFIA

Fotógrafo que tira sua ins-

O incrível e incomparável

Leland Bobbé

Em série fotográfica emocionante, ele dá uma aula sobre gênero (em número e grau)

piração de um “estado de espírito influenciado por rock ‘n’ roll, Miles Davis e ótimos filmes”, como ele mesmo colocou em seu website, Leland Bobbé poderia ser considerado apenas mais um profissional da arte fotográfica. No entanto, ao invés de dedicar sua carreira à modelos magérrimas que estrelam as mais diversas capas de revista e anúncios publicitários, ele resolveu explorar um universo pouco explorado e que vive uma realidade cercada de preconceitos: as drag queens. Em uma série fotográfica intitulada de Half-Drag, Bobbé retrata a realidade das diversas “queens” com as quais trabalhou: mostrar como suas duas identidades podem funcionar em conjunto, sem que uma interfira na performance da outra. Foram mais de 20 homens clicados em seus “eus” que não são vistos no dia a dia e permanecem em segredo por medo de julgamentos externos. Despidos do medo e da vergonha, confiaram ao mundo seus segredos. “Eu vi uma foto de corpo in-

Miss Fame

teiro de um dos performances homens no Facebook em que ele aparecia meio homem e meio mulher. Então, eu perguntei a ele se ele gostaria de fazer um clique apenas de seu rosto com o mesmo propósito. Eu gostei do resultado e o deixei em banho-maria. Alguns meses depois, eu estava em uma festa e apenas drag queens estavam servindo a comida.

Trocamos contatos e, algum tempo depois, eu pedi para as ‘queens’ para virem até o estúdio fazer a mesma foto que havia ficado em banho-maria, metade homem e metade mulher, para mostrar a real diferença entre os dois lados. O resultado foi tão brilhante que eu resolvi continuá-lo como um projeto maior”, contou Bobbé ao website Lost at E Minor.

Honey Davenport


Especial: FOTOGRAFIA

Heidi Glüm Certíssimo do potencial de suas fotos, o fotógrafo “quebrou a internet” com um trabalho jamais dantes visto e que requer não apenas coragem do profissional em pedir para que elas mostrassem sua intimidade, mas, também, das próprias modelos em expor algo que, muitas vezes, foi mantido em segredo por anos a fio.

“O resultado foi tão brilhante que eu resolvi continuá-lo como um projeto maior” Para Bobbé, uma das partes mais incríveis de seu trabalho foi acompanhar a transformação daqueles homens em drag queens. Segundo

ele, enquanto o ensaio fotográfico durou 45 minutos, a preparação –levando em conta cabelo e maquiagem – chegava a até 2h. É incrível observar como os dois lados se completam de uma maneira que, realmente, parecem pertencer a mesma pessoa. “Com o poder da maquiagem e do cabelo, estes homens são capazes de se transformarem completa-

mente e encontrar seu lado feminino, enquanto ainda mostram o lado masculino”, explicou o fotógrafo à Vogue Italiana. Ao Lost at E Minor, Bobbé não negou que realmente tem alguns favoritos quando vai falar sobre a sua série fotográfica. Para ele, Miss Fame, Heidi Glüm e Vivienne Pinay ocupam as primeiras posições em seu coração. Questionado sobre o seu objetivo com o projeto, o fotógrafo revela que ganhar muito dinheiro com este trabalho nunca foi o seu principal alvo, mas, sim, discutir um pouco de gênero. “Quis explorar a travessia entre homens e mulheres para destruir as barreiras físicas que os separam”, concluiu o fotógrafo. 1990

Vivienne Pinay

They`re BURNING!

A Nova York escondida de 1990

Jennie Livingston e as minorias como protagonistas da história

Ambientado

na Nova York 1990, Paris is Burning retrata um cenário pouco explorado pelos americanos: a cultura dos bailes das minorias LGBT, envolvendo gays, transgêneros, latinos e negros. “Eu me lembro do meu pai me dizendo: ‘Você tem três coisas contra você neste mundo. Todo homem negro também tem e eles são apenas negros e homens. Mas você é negro, homem e gay, você vai sofrer muito. Terá que ser mais forte do que jamais imaginou’”, com este pensamento, o filme se desdobra dentro da casa de apresentações em que estas minorias se reúnem para poder, finalmente, ser eles mesmos.

Jennie Livingston, apesar de ter recebido muitas críticas e ter sido acusado de exploração para conseguir acesso às casas, também foi aclamado por todos aqueles que sentiram-se contemplados e compreendidos por cenas que relembram um cotidiano tão cheio de preconceitos. Em RuPaul’s Drag Race, seriado americano sobre uma competição de beleza, o documentário é citado diversas vezes por representar a cultura drag que é pouco explorada tanto nos Estados Unidos quanto no mundo. Deixar o óbvio e o seguro de lado foi a jogada certa para o sucesso do diretor. Afinal, de mais do mesmo, não vive ninguém.

«Quando alguém é rejeitado por sua mãe, pai e família, quando saem pelo mundo, eles procuram. Procuram por alguém para preencher o vazio.» (Peper LaBeija)



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