Edição n.º 6.316 | 6 de Julho de 2012
Ao balcão do Quinzena
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ÚLTIMA
A Câmara de Santarém é pioneira na adesão ao canal ‘MEO Autarquias’
Espero que a programação tenha algum interesse porque ultimamente a política local parece uma novela mexicana com a incerteza de quem é que, afinal, governa a Câmara…
Agora, é caso para dizer: “O lugar é MEO!”
Carolina Floare, actriz de Santarém distinguida no Brasil
“Todas as artes atingem o seu clímax no palco” Carolina Ferreira, nasceu em Santarém, em Novembro de 1981. Formada em Direito, chegou a trabalhar como jurista, mas abraçou o teatro e a dança, com o nome artístico de Carolina Floare. Emigrada no Brasil, ganhou, recentemente, o prémio de melhor actriz no festival de teatro do Rio de Janeiro, apontado como um dos maiores do mundo. Numa das próximas edições contaremos a sua história de vida. Como é que alguém que se formou em Direito opta por um percurso fora dos tribunais e abraça o teatro e a dança? Na verdade, a pergunta é ao contrário: como é que alguém que sempre quis teatro e dança opta por se formar em Direito? Mas isso é uma longa história. Foi uma opção da razão. Há uma diferença muito nítida para mim entre gostar e ser apaixonada. Sempre gostei de muitas coisas, de ciências e de letras, e sempre fui muito boa em quase tudo. Gostava de estudar, gostava de Direito e gostei de trabalhar como jurista por alguns anos em Lisboa. O problema era só um: eu não era apaixonada por nada disso. Tudo aquilo era um meio e não um fim. Tudo aquilo servia para, não era. De forma que houve um dia em que não aguentei mais e precisei ir viver… apaixonada. Mas nunca me iludi nem iludi os outros: sempre soube e sempre disse que, um dia, isso ia acontecer e que esse dia ia ser o tempo certo. Hoje, chego à conclusão que tanto o curso de Direito quanto os anos de trabalho como jurista foram excelentes “conservatórios” de construção e entendimento de personagens. O que lhe agrada mais, o teatro ou a dança? Amo os dois. Sempre fiz teatro na dança e, de certa maneira, sempre faço dança no teatro. A dança, por si só, sempre foi algo mais urgente na minha vida, comecei muito pequena e nunca parei de fazer, nem que fosse em casa. Assim como escrever, tocar um instrumento… Mas não tenho dúvidas de que, para mim, todas as artes atingem seu clímax no palco de um teatro, onde me sinto, enfim, comple-
sa! Ou não! Como diz Hamlet, meu último personagem, “tudo acontece como tem de acontecer”. Mas pensando na história recente, concerteza mudaria o dia em que se decidiu ir em frente com uma guerra colonial. ...e do Brasil? A eleição de cada um dos políticos impostores e corruptos. O que mais aprecia nas pessoas? A autenticidade. ...e o que mais detesta nelas? A falsidade. Se os sete pecados mortais fossem oito, qual seria o oitavo? Parece que eles já Carolina Floare chegou ao teatro após ter sido jurista são 14, pois o Vaticano decidiu criar mais uns quantos para a nova era... ta e livre. Minha postura artística é Mas – provavelmente por falta de totalmente de fusão, mas sou, essenconveniência para a Igreja – ainda não cialmente, uma actriz. criaram o pecado do preconceito. Acompanha a actualidade polítiAcordo ortográfico. Sim ou não? ca e social de Portugal? Sinceramente, não vejo a necessidaNão diariamente, mas de forma gede dessa imposição. ral sim. Confesso que sou distraída com essa parte da vida e, na maioria Se a sua vida desse um livro que das vezes, preciso que a informação título lhe daria? venha até mim. É um ponto que preci‘Motor Paixão’. so trabalhar. O que acha da redução ou mesmo da eliminação dos apoios estatais à cultura em Portugal? Acho previsível. É o curso normal de qualquer crise. A pirâmide das necessidades infelizmente não pode ter, na sua base, a arte e a cultura, pois, antes disso, é preciso garantir comida e saúde. O alimento e a saúde do espírito vêm depois. É triste quando podemos apenas sobreviver.
O livro da sua vida? ‘A Insustentável Leveza do Ser’, de Milan Kundera.
Se lhe fosse dada a possibilidade de viajar no tempo, que facto da história de Portugal modificaria? A resposta imediata é: ah, tanta coi-
Prato Favorito? Magusto com bacalhau assado e batata a murro, regado com muito azeite do bom.
Uma viagem memorável? Minha primeira viagem de carro sozinha e a descoberta da solidão como conexão máxima comigo mesma. Música preferida? Amália Rodrigues.
PONTO FINAL “Os Grandes Portugueses” foi um programa da RTP1 (em 2007) que nos convidava a eleger as personalidades que mais se destacaram no País. Oliveira Salazar foi o mais votado, com 41 por cento dos votos. Álvaro Cunhal, Aristides de Sousa Mendes, D. Afonso Henriques, Luís de Camões, D. João II, Infante D. Henrique, Fernando Pessoa, Marquês de Pombal e Vasco da Gama, por esta ordem, constituíram o ‘top 10’ da escolha dos portugueses que remeteram Salgueiro Maia para o 11.º lugar. Numa lista que não devemos, nem podemos, levar a sério, Mário Soares aparecia logo atrás, seguido dos ícones Amália Rodrigues (14.ª) e Eusébio (15.º). Os quase 160 mil portugueses que votaram colocaram Pinto da Costa (17.º) à frente de Eça de Queirós (22.º), Fernando Nobre (25.º) à frente de Humberto Delgado (28.º) e Florbela Espanca (34.ª). Elegeram José Sócrates (48.º) e Alberto João Jardim (52.º) à frente de Cristiano Ronaldo (69.º), Gago Coutinho (75.º), Gil Vicente (83.º), Almeida Garrett (96.º) e Maria João Pires (100.ª). A Galeria 102 – Correio do Ribatejo decidiu que seria de bom-tom recordarmos quem, na verdade, foi importante para a História de Portugal, num País onde os ídolos nascem e crescem como cogumelos no campo. No mês de nascimento de Fernando Salgueiro Maia, o Correio do Ribatejo recorda o herói que mudou Portugal e que muitos, escandalosamente, ainda desconhecem. A exposição “Somos todos Capitães: Páginas de Vida” visa enaltecer o Homem de Abril que nasceu a 1 de Julho, em Castelo de Vide e permanecerá patente até final do mês. Portugal já devia ter um Museu dedicado ao Capitão de Abril para que as suas memórias não se dissipem em cada sopro adamastor dado na nossa História. O colonista Nuno Domingos, na edição de 22 de Junho, dava conta que a guia (militar) do Castelo de São João Batista, Regimento de Guarnição n.º 1, na Terceira, Açores – para onde Salgueiro Maia foi mandado ‘cumprir pena’ por não se vergar ao poder instituído – não sabia que o Capitão lá tinha estado, nem tão pouco quem ele era! Se, 38 anos depois do 25 de Abril de 1974, já existem militares que não sabem quem foi Salgueiro Maia, o que se poderá esperar da próxima lista dos “Grandes Portugueses” do nosso século? João Paulo Narciso