Onde estão as mulheres arquitetas?

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O ESPAÇO DA MULHER NA ARQUITETURA E URBANISMO Apesar da clara superioridade numérica, o protagonismo das mulheres é raro em cargos de coordenação e gerência, em prêmios, exposições, publicações e outras seleções que iluminam a produção arquitetônica, certamente não por falta de mérito e sim de oportunidades.

“Já fui destratada dentro de obra, o empreiteiro berrou que eu era mulher e não sabia o que estava fazendo” Marina Portolano “Quantas vezes me sentei numa mesa com clientes e eles nem olhavam para a minha cara, só olhavam para os homens?” Carol Bueno

“Levou tempo para eu entender por que não conseguia fazer arquitetura do jeito que gostaria, que eu estava colocada na lista dos designers de interiores, e não dos arquitetos” “Na cabeça das Fernanda Marques pessoas, ao pensar numa obra e construção, tem de ter um [cromossomo] Y ali” Fernanda Marques

RELATOS DE ARQUITETAS

“Eu apresentava o projeto inteiro e o cliente só falava com o meu sócio, como se eu não estivesse lá” Mila Strauss

“Eu preciso ter absoluta certeza de tudo e ser infalível para ser respeitada” Marina Portolano

NEM TUDO SÃO MÁS NOTÍCIAS... Devido ao desequilíbrio de equidade, foi

Comissão Temporária de Equidade de Gênero aprovado a criação de uma

pelo CAU/BR. Essa política deverá atender às seguintes diretrizes: promover a profissão de arquiteto e urbanista como uma contribuição para o desenvolvimento da sociedade e para a promoção da justiça social; contribuir com a implementação da Nova Agenda Urbana da ONU, que prevê a atenção às questões etárias e de gênero de maneira transversal em todos

os seus compromissos e contribuir para com o alcance do 5º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU: a igualdade de gênero. O CAU-BR também aderiu à Plataforma de

Empoderamento das Mulheres da ONU. Os “Princípios de Empoderamento das Mulheres” oferecem orientações para as organizações capacitarem as mulheres no local de trabalho, no mercado e na comunidade.

MARION LUCY

ÉTICA E SEXISMO:

Marion Lucy Mahony Griffin nasceu nos Estados Unidos em 1871. Ao longo de sua carreira, atuou no seu país de origem, na Índia e Austrália. Estabeleceu uma série de parcerias no desenvolvimento de projetos, sendo os mais reconhecidos os realizados com os arquitetos Frank Lloyd Wright e Walter Burley Griffin, o qual também era seu marido. Com o primeiro, desenvolveu o mobiliário de vários projetos, incluindo vitrais, mosaicos e painéis decorativos. Com o marido, trabalhou no campo do urbanismo: foi coautora e ilustradora do projeto da cidade de Canberra, Austrália.

Além de arquiteta, Marion era horticultora, designer gráfica, pintora e ativista política. Foi a segunda mulher a se graduar em arquitetura pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a primeira mulher a ser registrada como arquiteta no estado de Illinois. Contribuiu imensamente para a divulgação e disseminação do estilo arquitetônico da Pradaria, comumente atribuído somente a Frank Lloyd Wright. Fez diversas residências desse estilo, nos Estados Unidos, Índia e Austrália. Veio a falecer em 1961.

Suas belas perspectivas em aquarela, tanto de prédios como de paisagismo ficaram conhecidas como uma das marcas do estilo Wright de trabalho, contudo o famoso arquiteto nunca deu a ela o crédito por seus desenhos. Um século depois seria conhecida como uma das maiores desenhistas de arquitetura, mas, durante sua vida, seu talento era visto apenas como uma extensão do trabalho feito pelos homens do escritório. O historiador de arquitetura Reyner Banham atribui a ela o título de "maior desenhista de arquitetura de sua geração."


DENISE SCOTT BROWN

Vanna Venturi’s House

Nascida em 1931 no Zâmbia, a arquiteta Denise Scott Brown iniciou seus estudos na África e concluiu em Londres. Posteriormente, realizou seu mestrado nos Estados Unidos, lugar da maioria de seus projetos que viriam a seguir. Em coautoria com Robert Venturi (1925-2018), atuou em diversos projetos de arquitetura e urbanismo para universidades americanas, além de escrever o livro “Aprendendo em Las Vegas: o simbolismo esqueceu-se da forma arquitetônica”. Através de suas teorias pioneiras e obras provocadoras, o casal ocupou a vanguarda do movimento pós-moderno na arquitetura, liderando uma das mudanças mais significativas em nosso campo disciplinar no século XX. Em sua produção teórica, Venturi e Scott Brown assumiram uma posição nitidamente crítica em relação ao modernismo na arquitetura e na sociedade como um todo, e seus projetos refletiam essas críticas.. Em 1991, Robert Venturi recebeu, sozinho, o Prêmio Pritzker. O feito causou polêmica há alguns anos, com muitos arquitetos e arquitetas do mundo todo argumentando que Denise Scott Brown merecia ter recebido o prêmio juntamente com seu marido.

Provincial Capitol Building, Toulouse

Em 2013, a Women In Design, uma organização estudantil da Escola de Design de Harvard, realizou uma petição online para pedir o reconhecimento retroativo do prêmio a Denise Scott Brown. O grupo foi respondido pelo presidente do prêmio Pritkzer, Peter Palumbo, que negou a possibilidade. No ano de 2016, Scott Brown e o marido, Robert Venturi, receberam, dessa vez juntos, a Medalha de Ouro do American Institue of Architects (AIA). A instituição selecionou a dupla por seus “projetos construídos e literários que definiram o curso do pós-modernismo e quase toda a evolução formal na arquitetura”, Scott Brown e Venturo são a primeira dupla a receber a Gold Medal após o AIA aprovar em 2013 uma mudança em seu regulamento, que passou a permitir que a honraria seja concedida a duplas que trabalham juntas. Denise é a segunda mulher a ganhar medalha de ouro no AIA.

Em fevereiro de 2020, Denise ganhou o prêmio Jane Drew de 2017, que reconhece o trabalho de profissionais que “elevaram o perfil das mulheres na Arquitetura”. “Sou um pouco atordoada em relação a prêmios, como você pode imaginar, dada a minha história com eles. Mas aconteceram coisas que me fizeram muito feliz na minha velhice e uma delas é este prêmio”, reagiu. Robert Venturi e Denise Scott Brown


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