Memória e espaço urbano na Mooca carolina monteiro

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

MEMÓRIA E ESPAÇO URBANO NA MOOCA:

MANEIRAS DE INTERVIR NO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO CAROLINA PETROZZIELLO MONTEIRO JUNHO 2016



Trabalho Final de Graduação apresentado por Carolina Petrozziello Monteiro como exigência do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie sob orientação da Profª. Dra. Roseli Maria Martins D`Elboux

São Paulo 2016



Aos meus orientadores Lucas Fehr e Roseli D`Elboux, pela paciência, pelo apoio, por todo o saber transmitido durante o desenvolvimento do trabalho e por acreditarem em mim. Aos meus amigos que de alguma maneira fizeram parte desta fase da minha vida, em especial para Marcelo Beretta, que me acompanhou fielmente durante os cinco anos, sempre me apoiando. Aos meus tios por tudo que me proporcionaram. À minha irmã, Carla Petrozziello Monteiro, por estar sempre ao meu lado. E aos meus pais, Elcio Monteiro e Izabel Petrozziello Monteiro, por simplesmente tudo.



SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

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I. RECONHECIMENTO

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À Leste do Rio Tamanduateí

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As Primeiras Fábricas

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O Bairro da Mooca

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Operação Urbana Consorciada: Mooca - Vila Carioca

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II. LEITURA

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Conceituação de Monumento e Memória

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Preservar ou Restaurar

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Preservação no Brasil

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Patrimônio Industrial

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III. CONCEITUAÇÃO

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Reflexos da Desindustrialização

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Leitura da Cidade

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Memória e Identidade

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Sesc Pompéia - Lina Bo Bardi

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Tate Modern - Herzog & De Meuron

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IV. EXPERIMENTAÇÃO

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Estação Mooca da CPTM

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Officina Vanorden

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A Intervenção

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V. CONCLUSÃO

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ÍNDICE DE IMAGENS

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“Cada nova situação requer uma nova arquitetura” Jean Nouvel


INTRODUÇÃO O surgimento das cidades envolve diversas transformações, e espaços que são ocupados e alguns que depois deixam de ser; essas transformações deixam cicatrizes, fragmentos e vestígios. O presente trabalho irá abordar as transformações ocorridas durante o processo de expansão da cidade de São Paulo, em particular no bairro da Mooca. Além disso, irá tratar quais são os vestígios deixados pelas transformações e a importância atual destes. A ideia principal do trabalho é compreender as transformações que estão ocorrendo no bairro da Mooca, causado pelo êxodo das indústrias, e procurar, através da leitura do entorno e do maior entendimento de conceitos como monumento, memória coletiva e identidade, reverter tal situação. Acredito sim que seja importante o adensamento do bairro, porém as origens deste, representado pelos edifícios históricos, devem ser preservadas mesmo que isso signifique um condomínio residencial a menos. O primeiro capítulo aborda brevemente o contexto histórico e econômico do processo de industrialização de São Paulo, estudando o caso do bairro da Mooca. Além disso, faz uma breve introdução à como o bairro se encontra hoje e os meios atuais de gerenciamento do espaço urbano, como a operação urbana Mooca – Vila Carioca, proposta pelo novo plano diretor. O segundo capítulo aborda a questão do patrimônio, faz referência à importância de manter os edifícios históricos, de preservar a memória coletiva. Para isso, relaciona alguns conceitos de autores com pontos de vistas diferentes, que discutiram o assunto e que influenciaram a maneira como são realizadas as intervenções em patrimônios até hoje. De uma maneira breve será relacionado como surgiram os órgãos de preservação no Brasil, e os problemas ocasionados pela demora de sua organização. 12


O terceiro capítulo faz referência à diversas maneiras de ler e interpretar a cidade, sempre tendo em mente que mesmo que os textos estudados sejam relativamente antigos, seus conceitos ainda podem ser utilizados como uma maneira de simples leitura e entendimento da cidade. O quarto e último capítulo refere-se à uma visão mais aproximada da área de estudo, onde se procura entender suas condicionantes, problemáticas, e a memória que existe no local, e se ainda existe. Estuda-se mais aproximadamente os edifícios que condicionaram a implantação, como a estação Mooca da CPTM e o edifício histórico das Officinas Vanorden.

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RECONHECIMENTO ‘O amor e o respeito pela própria terra, pelas próprias raízes, pelos antepassados’ Renzo Piano em A responsabilidade do arquiteto



À LESTE DO RIO TAMANDUATEÍ

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A construção da estrada de ferro São Paulo Railway em 1867, que ligava o porto de Santos ao interior do estado, dá início a uma série de transformações na concentração urbana da cidade de São Paulo. Esta que antes era delimitada pelo vale do Anhangabaú e do Tamanduateí, cercada por propriedades rurais, começa a se desenvolver e crescer dando origem à novos bairros como Bom Retiro, Barra Funda, Brás, Pari, Belenzinho e Mooca. A produção cafeeira foi a principal responsável por diversas mudanças no setor econômico, social e político do Brasil, além disso, foi ela que impulsionou a construção da ferrovia, pois necessitava escoar a produção com rapidez até o porto de Santos. A implantação da estrada de ferro foi realizada ao longo da várzea do Rio Tamanduateí por ser uma região plana e praticamente desocupada, e será um elemento que irá definir os novos pontos de atração, próximos às estações, os novos trajetos e os novos eixos de ocupação da cidade. A construção da ferrovia junto com o sucesso da produção cafeeira, que possibilita o acúmulo de capital, o aumento da população e o consequente mercado consumidor impulsionam o desenvolvimento industrial desta região da cidade. O Rio Tamanduateí foi uma barreira natural que dificultou o crescimento da cidade de São Paulo para leste por muito tempo. O Mapa ao lado (Imagem 03) mostra que em 1810 a concentração urbana ficava restrita entre as várzeas, e que existiam na época somente duas pontes que atravessavam o Rio Tamanduateí, uma na altura do Brás e a outra no caminho


Imagem 03: Concentração urbana em 1810. Áreas além do Rio Tamanduateí ainda não eram ocupadas.

para a Mooca. Porém estas áreas além do rio não eram ocupadas pois eram propensas à inundações e insalubres. Ao observar as plantas da Cidade de São Paulo de 1881 e de 1897 percebemos grandes mudanças em um curto período de tempo em toda a cidade, mas principalmente na região leste. A planta de 1881 demonstra o que já foi dito anterior-

mente, ou seja, a principal concentração urbana entre os vales dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, enquanto que a região leste se mantém desocupada. Existe já um pequeno arruamento no território que se formará o bairro do Brás, porém ainda restrito à proximidade da estação de trem. E no que será o bairro da Mooca, já estão registradas as Ruas da Mooca e Piratininga. O mapa de 1897 demonstra mudanças significativas na região leste da cidade. Em menos de vinte anos grandes 17


arruamentos foram abertos inclusive para além da ferrovia, onde ainda não existia tecido urbano, somente chácaras. Apesar do arruamento e expansão da cidade muitos quarteirões ficaram vazios, principalmente pela distância do centro, pela dificuldade de se locomover e pela falta de 18

Imagem 04: Concentração Urbana de São Paulo em 1881. Surgimento dos primeiros arruamentos à leste do Rio Tamanduateí.

saneamento básico e abastecimento de água de qualidade (RUFINONI,2004). É evidente que a ferrovia desempenhou um papel importante no desenvolvi-


Imagem 05: Concetração Urbana de São Paulo em 1897. Surgimento de novos arruamentos além da ferrovia.

mento da cidade e principalmente no direcionamento da urbanização, porém são os investidores do café que começam a exigir melhorias urbanas. Em 1879 se iniciam

as obras para o abastecimento de água e coleta de esgoto da capital, porém nos bairros operários como Brás, Pari, Mooca e outros o abastecimento era feito por dois chafarizes. Mais tarde, em 1891, estas áreas passam a ser abastecidas por um sistema alternativo, que captava água do

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Córrego Ipiranga, mas esta não era considerada própria para o consumo. Inclusive as fábricas, já implantadas na região, que precisavam de água tiveram que construir poços artesanais. Com relação à iluminação, em 1872 os lampiões de querosene são substituídos por iluminação à gás, e mais tarde, no século XX, substituídos aos poucos pela energia elétrica. E por fim, para resolver o problema da locomoção dos moradores dos bairros mais afastados, foi implantado o transporte por bondes expandindo assim as comunicações entre os bairros vizinhos e o resto da cidade.

AS PRIMEIRAS FÁBRICAS

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Fatores que determinaram o surto industrial (RUFINONI, 2004): • Investimentos da produção cafeeira que possibilitou a construção da ferrovia São Paulo Railway, que facilitava o escoamento e exportação da produção, e também a entrada de matérias primas que a indústria necessitava; • No inicio do século XX serão implantados os sistemas de energia elétrica; • Disponibilidade de mão-de-obra, principalmente imigrante, que veio com ajuda do governo para substituir o trabalho escravo nas lavouras de café; • Formação de mercado consumidor interno, possibilitado pelo trabalho livre e pelo aumento da população; O desenvolvimento da indústria já acontecia nas últimas décadas do século XIX, mesmo não sendo uma atividade


Imagem 06: Tabela 01 demonstra o crescimento industrial de São Paulo.

de destaque para o governo, que ainda se interessava mais pela produção do café (NICIA, 1960 apud RUFINONI, 2004). Estes primeiros industriais tiveram diversos problemas para conseguir se desenvolver, como a dificuldade na obtenção de matérias-primas, de mão de obra qualificada e de investimentos no setor. O maior era que a tarifa aduaneira protecionista não era retirada o que tornava impossível o produto nacional competir com os importados. Somente com a abolição da escravatura e a proclamação da República

e suas mudanças no quadro econômico do país, como o crescimento do mercado consumidor interno e revisão das tarifas alfandegárias, que a indústria começou a efetivamente a se desenvolver, pois conseguia competir com os produtos estrangeiros. Neste período foram fundadas então importantes indústrias como a Fábrica de tecidos Sant’Anna da Juta (1889), Companhia Antárctica Paulista (1891) e Fábrica de tecidos de Regoli Crespi & Cia (1897). A tabela 1 realizada por Pasquale Patrone (1953) com base na obra de Bandeira Jr (1901 apud RUFINONI, 2004) descreve em números o crescimento industrial descrito acima. Através da leitura da tabela é possível comprovar que a proclamação da República (1889) e suas novas medidas econômicas impulsionam o crescimento das indústrias nacionais. Quase todas essas eram de proprietários estrangeiros e grande parte da força de trabalho era composta por imigrantes, principalmente italianos. Mais tarde, outro acontecimento histórico influenciou o desenvolvimento das indústrias do Brasil, em 1929 a queda 21


da bolsa de Nova York e a então superprodução de café, marca o fim da supremacia cafeeira e a migração do campo em direção a São Paulo, aumentando a população urbana. Já em 1939 a produção industrial supera a produção agrícola pela primeira vez.

O BAIRRO DA MOOCA

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O bairro da Mooca por ter se desenvolvido junto com a construção da linha férrea e com o crescimento da primeira indústria nacional, carrega em seu traçado vestígios de sua formação, tanto na implantação como nos estabelecimentos de maior importância que carregam e mantém a tradição de quem já morou e trabalhou ali. A ocupação destas primeiras indústrias se deu principalmente ao longo da ferrovia - comum nas outras regiões também, formando assim um eixo de galpões industriais que vai, ao longo do leito do Rio Tamanduateí, do Brás até a região do ABC - onde as fábricas voltavam os fundos para a ferrovia e a frente para as ruas paralelas, no caso da Mooca, a atual Avenida Presidente Wilson e a Rua Borges de Figueiredo. Algumas indústrias se instalaram um pouco mais afastados da ferrovia, como é o caso do Cotonifício Crespi e a Fábrica de Estopa Fepal. O restante do bairro foi sendo ocupado por diversos estabelecimentos, mas principalmente por habitações para os trabalhadores, as vilas operárias, e pequenas casas comerciais.


Imagem 07: Galpões voltados ao longo da ferrovia. À esquerda da imagem a Av. Presidente Wilson e à direita a Av. Henry Ford.

A arquitetura das primeiras indústrias é composta principalmente por grandes edifícios, que geralmente ocupam o quarteirão inteiro, construídos com alvenaria de tijolos aparente e estrutura de ferro, com coberturas metálicas, sendo o shed a solução mais utilizada para a ilumina-

ção das oficinas. Alguns dos lotes industriais permanecem até hoje, e mesmo que desmembrados entre vários proprietários, mantêm a característica de “lotes-quarteirão” (RUFINONI, 2004, pag.22) que marcam a paisagem do bairro. As moradias do bairro da Mooca eram constituídas principalmente por vilas operárias construídas desde 1890. O dono da indústria destinava a moradia a seu operário com a intenção de conseguir em toca pagar salários menores e um trabalhador fiel ao emprego. Cada indústria possuía uma equipe de engenheiros que projetavam as vilas procurando reduzir o preço da construção e o aproveitamento máximo do terreno. Algumas vilas possuíam outros equipamentos como igrejas, creches e armazéns. Na Mooca uma vila de grande importância era a do Cotonificio Crespi, construída em 1925, pelo Engenheiro Jayme de Silva Telles. Foi considerado um projeto inovador para a época, pois as casas germinadas eram dispostas em uma rua estreita e agrupadas com arranjos poligonais, criando áreas com jardins na frente. 23


A vila existe até hoje, porém foi bastante descaracterizada. A partir da década de 50 as indústrias começam a deixar São Paulo e vão para áreas mais afastadas da cidade em virtude de benefícios fiscais, a Mooca sentiu essa mudança das indústrias, visível quando se depara com a quantidade de galpões abandonados. Mesmo que a atividade industrial ainda seja uma característica do bairro, muitas coisas mudaram desde a Mooca original, estas mudanças foram intensificadas pela valorização imobiliária causada pela construção da linha 3 vermelha do metrô e da proximidade com o centro da cidade. O bairro com a valorização começa a se verticalizar e os investidores acabam utilizando esses grandes terrenos de galpões industriais abandonados para construir empreendimentos de torres residenciais, destruindo o patrimônio industrial da região. Somente depois da demolição de alguns edifícios históricos que se percebeu a importância de manter estas estruturas no tecido urbano atual, permitindo assim a relação da população com sua

história e a memória de seus antepassados e à compreensão da formação de seu bairro e, portanto da cidade de São Paulo. Hoje, além dos órgãos de patrimônio histórico que tombaram diversos complexos industriais, na tentativa de manter viva a história do bairro, existe também no

Imagem 08: Vista da chaminé da União, mantida no empreendimento Luzes da Mooca.


Plano Regional da Subprefeitura da Mooca uma preocupação com estes edifícios. O plano tem como premissa principal o desenvolvimento regional e propõe medidas que o permitam como, melhorar transporte, diversidade de uso e diversidade social, melhoria das áreas verdes existen-

Imagem 09 e Imagem 10: Vista da fachada de galpões degradados na Av. Presidente Wilson.

tes e criação de novas, propiciar o acesso da população à equipamento de lazer e cultura. Com relação às áreas tombadas o plano propõe estimular a implantação de programas e empreendimentos de maior porte pelo setor público ou privado, e a criação de um eixo de parque linear ao longo da linha férrea, revitalizando os grandes edifícios industriais. Infelizmente no Brasil a preocupação e preservação do patrimônio industrial ainda se encontra nos primórdios, muitos edifícios importantes foram perdidos,


abandonados, ou até mesmo desconfigurados ao ponto que se encontram descontextualizados e sem sentido, como é o caso da chaminé da Antiga Fábrica da União. Estes edifícios que carregam em si a evolução da cidade e a sua lógica de ocupação deveriam ser tratados com mais respeito, estabelecendo relação com a cidade atual e preservados, pois vários que estão abandonados se encontram em péssimas condições. A ideia do trabalho portanto é evidenciar a importância destes monumentos para a cidade e para a população, através de um projeto de intervenção em um edifício histórico industrial na Mooca. O projeto procura estabelecer relação com o entorno, com a história e cultura do local e solucionar problemáticas encontradas no bairro.

OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA: MOOCA - VILA CARIOCA

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Existe hoje uma preocupação em viver em uma cidade compacta, com mais qualidade urbana. O novo Plano diretor Estratégico (PDE) aprovado em 2014 pelo atual prefeito Fernando Haddad, visa criar novas centralidades, a melhoria do transporte público e da mobilidade na escala do pedestre. Além das iniciativas do PDE, algumas áreas da cidade estão englobadas em áreas de desenvolvimento com intervenções mais específicas, as Operações Urbanas Consorciadas. O bairro da Mooca faz parte de um dos territórios da Operação Urbana Consorciada, denominado Mooca – Vila Carioca, onde o principal objetivo da operação é a sua reinserção na dinâmica urbana, sem alterar sua identidade. Sua área de atuação engloba as sub-prefeituras do Cambuci, Mooca,



Ipiranga e Vila Prudente (Imagem 11). A operação urbana busca fazer com que esta área se torne um polo cultural e um setor de crescimento populacional e econômico. Para isso são propostas ações que respeitem o processo de transformação do território, e são evidenciados quatro pontos norteadores do projeto: a mobilidade, a drenagem, as áreas verdes e espaços públicos e o uso e ocupação do solo. A principal diretriz da operação é transformar o uso predominantemente industrial, adensando e criando equipamentos variados para o suporte aos novos moradores. Para atingir esta diretriz, foram propostos: • A transformação do eixo da ferrovia em um polo logístico com uso misto e de entretenimento; • Otimização das áreas obsoletas dando a elas uma nova função; • Preservação dos Patrimônios Históricos; • Aumento de equipamentos institucionais, de saúde, educação comerciais e de serviços; 28

Imagem 11: Setores de atuação da Operação Urbana Consorciada Mooca-Vila Carioca. Área do projeto sinalizada na imagem. Imagem 12 (ao lado): Caracterização funcional por setores de atuação. Área do projeto sinalizada na imagem.

• Criação de aberturas em quadras extensas; • Continuidade Urbana da fachada do edifício; O projeto proposto busca respeitar as diretrizes impostas pela operação urbana, e conforme a Imagem 12 a área de estudo esta inserida no polo de entretenimento. Desta maneira não seria necessário adensar, mas sim, criar um novo uso para o edifício tombado, que atenda aos moradores da região, resolvendo, além disso, o problema de mobilidade na escala do pedestre.



LEITURA “A Mooca é um bairro onde os sentidos se afloram, bastando ficar atento aos cheiros que marcam a vida [...]: cheiro de diesel das locomotivas, [...] do malte e cevada da Cervejaria Antártica. Da mesma maneira para os sons: máquinas das gráficas e tecelagens, dos gritos da torcida no estádio da rua Javari, do trem correndo sobre os trilhos, do apito das fábricas, das pessoas conversando.” Folder da exposição Mooca Oggi, realizada no Memorial do Imigrante.



CONCEITUAÇÃO DE MONUMENTO E MEMÓRIA

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Massino Cacciari em seu livro “A cidade” (2004) levanta uma questão importante sobre as cidades contemporâneas; ele as analisa como um local de passagem entre espaços fechados com funções determinadas, ou seja, lugar que os moradores utilizam somente para ir e voltar de seu trabalho e residência. Sendo assim a cidade é organizada a partir do direito privado dos moradores, priorizando a segurança e a privacidade, e estes, devido as circunstâncias em que vivem, tornam-se cada vez mais individualistas. A cidade contemporânea descrita por Cacciari possui outra característica importante que a torna ainda mais complexa. Ela é influenciada pelos avanços da tecnologia e portanto sofre com a rapidez das transformações. Suas distâncias passam a ser medidas em tempo, e este se tornou o limite mais importante para a sociedade, que está sempre procurando diminuíi-lo e acaba sempre condicionada por este. Tal rapidez altera os percursos e a vivência entre as pessoas. Os moradores passam com pressa por dentro da própria cidade, sem olhar para o que está acontecendo em volta, pois não existem quase espaços de permanência, de contemplação e socialização. Por estas características que não nos reconhecemos nas cidades contemporâneas, e deixamos de viver em cidades e passamos a viver em territórios, como o próprio Cacciari afirma. Além disso, as transformações “impedem que no âmbito de uma geração se conservem memórias do passado” (ROSSI, 2001, p.33) ou seja, as mudanças na cidade são tão


rápidas e constantes que muitas vezes partes importantes dela são destruídas sem que percebamos. Tais vestígios são importantes para que a população mantenha uma ligação com seus antecedentes, sua cultura, e relação de identidade com o lugar em que vive. Existe, portanto uma dialética importante entre as transformações e memória, pois Se não houver memória, a mudança será sempre fator de alienação e desagregação, pois fica faltando uma plataforma de referência (...) é a memória que funciona como instrumento biológico-cultural de identificação, conservação e desenvolvimento. (MENESES, 1978, p.46 apud KUHL, 2009)

Uma maneira de manter viva os vestígios do passado é mantendo o que se convencionou chamar de monumento histórico. Segundo Françoise Choay o monumento é : Todo artefato ou conjunto de artefatos deliberadamente concebidos e realizados por uma comunidade humana, independentemente da natureza e das dimensões a fim de lembrar para a memória viva, orgânica e afetiva de seus membros, pessoas, acontecimentos, crenças, ritos ou regras sociais 33


constituídos de sua identidade.(CHOAY, 2011, p12) A definição dada acima já levanta questões importantes, como a natureza e as dimensões dos monumentos. Estes são qualquer artefato que, com o tempo, adquiriu valor histórico e cultural, mesmo que quando realizado não tinha tal intenção e pode, portanto assumir qualquer dimensão, a de grandes criações, grandes edifícios ou obras mais modestas. O autor Alois Riegl vai além e afirma que o monumento não precisa ser nem uma obra de arte, pode ser qualquer obra humana com certa antiguidade (CHOAY, 1984) Aldo Rossi em “A arquitetura da cidade” (1966) também fala sobre o conceito de monumento, e sua definição não se distancia das já descritas, ou seja, é um elemento que lembra um fato histórico e contém em si vestígios do passado. Porém, Rossi levanta dois pontos importantes deste conceito. Primeiro o fato de que o monumento pode assumir um significado subjetivo, pois pode gerar uma interpretação singular do monumento, dependendo 34

do sentimento que ele gera em cada indivíduo e, segundo, que pode gerar um anacronismo cultural se deixar de estar ligado ao desenvolvimento cultural. Com isso entendemos que os bens culturais não podem ficar alienados à realidade, pois devem manter seu valor histórico, cultural, simbólico para as próximas gerações, e servir de suporte para a memória coletiva. Muitas vezes na tentativa de manter a memória viva acabamos deixando o monumento parado no tempo, sem alterá-lo, e ele fica sem nenhum uso correndo o risco de ser demolido para dar lugar a outro empreendimento. Quando o monumento é tombado pelos órgãos de preservação conseguimos assegurar que ele não seja demolido, mas não que será conservado. O lado positivo é que carregam por mais tempo suas feições originais. Uma maneira de garantir sua conservação é encontrar outro uso para ele, tendo então uma função contemporânea. Esta também é uma maneira de preservar e assegurar sua importância pois apesar de assumir outra função, ele ainda desper-


tará emoções e sentimentos na população dentro da cidade, pois o povo que contribuiu para a sua construção, é o mesmo de hoje, só que representado por outra geração. O termo conservação se refere ao caráter preventivo, onde são adotadas medidas para garantir por mais tempo a integridade da obra, enquanto que o termo restauração é uma ação que não deveria ser comum, mas que quando necessária, deve levar em conta a essência da obra e o que ela mantém presente através do tempo. Restaurar não é voltar ao estado original, é principalmente um ato crítico, onde projeto e criatividade fazem parte (RUFINONI, 2004). As maneiras de intervir em bens culturais sofreram mudanças graduais até chegar na legislação e ações adotadas hoje em dia. Este processo de se aproximar de um dado monumento muda dependendo da cultura e a relação que esta tem com seu passado. O primeiro momento em que se olhou para os bens culturais de maneira crítica foi no renascimento, a partir deste momento a preservação passa a ser motivada por questões ligados à cultura, começa-se a reconhecer que ao destruir os monumentos se está apagando os vestígios de civilizações passadas e impossibilitando que as futuras gerações tenham contato com elas. O século XIX é caracterizado pela elaboração da legislação que regula as intervenções, a realização de levantamentos, a criação de órgãos de preservação e formulações

PRESERVAR OU RESTAURAR

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teóricas a respeito do tema. Neste período existiam tanto posturas mais conservadoras como a de John Ruskin que afirma que a função mais nobre da arquitetura é evidenciar a idade do edifício, até os que defendiam refazer os monumentos, como Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc. Para Ruskin a restauração é uma mentira. Para ele se o edifício chegou ao ponto de precisar ser restaurado significa que precisa ser destruído, além disso, evidencia o respeito pela matéria original, e levava em consideração as transformações ocorridas ao longo do tempo. Segundo ele, se preservado, um monumento não precisará ser restaurado. (KUHL, 2009) Viollet-le-Duc também evidencia o fato de que um monumento precisa ser primeiramente conservado, e a maneira mais fácil de fazer isso é encontrar uma função para ele. Em suas obras de restauro corrigia o que achava defeituoso no monumento, e não pretendia deixar idêntico ao que foi um dia ou o que teria sido feito na época, mas a reformulação do modelo ideal para a época em que é feito o restauro. Camillo Boito se coloca de maneira 36

intermediária entre os conceitos de restauração descritos acima. Para ele deve-se dar ênfase no valor da obra, respeitando as diversas fases do monumento, e caso seja necessária a restauração que seja evidente, com outro material e sinalizando a data do restauro. (KUHL, 2009) Alois Riegl foi muito importante tanto na teoria quanto na prática de preservação de monumentos. Em sua obra “O Culto Moderno dos Monumentos” (1903) ele faz um estudo sobre a preservação na Áustria, mas que pode ser usado o conceito em outros países. A primeira parte consiste no Culto que é a discussão teórica que fundamenta a lei, nesta parte ele fala sobre o “valor do antigo” por ser o elemento sempre presente nos monumentos. A segunda parte é o projeto de lei para a preservação dos monumentos, esta é baseada principalmente em respeito ao valor da antiguidade; A terceira e última parte é composta pelas disposições para a aplicação da lei; para ele o restauro deve ser um ato histórico-crítico deve respeitar as diversas fases da obra e seu percurso ao longo do tempo, e não voltar a algum es-


tado primitivo. (KUHL, 2009) Cesare Brandi foi importante por levar os ideias e debates sobre restauro ao campo disciplinar. Em seu livro “Teoria da Restauração” (1963) enfatiza os princípios fundamentais do restauro, tais como a distinguibilidade(1), a reversibilidade (2), a mínima intervenção (3) e a compatibilização de materiais e técnicas(4). Tais preceitos são baseados no que está descrito na Carta de Veneza, ou seja, que no processo de restauração se deve respeitar o monumento, portanto, pretende conservar e revelar os valores estéticos e históricos deste. (KUHL, 2009) A carta de Veneza representa debates ocorridos na década de 1940, onde é evidenciado a necessidade de se criar regras de conservação e restauração válidos internacionalmente, a qual pode sofrer uma pequena adaptação dependendo do contexto cultural de cada região. Além disso levanta o questionamento de que profissionais de outras áreas devem participar das atividades de restauração pois o que é considerado bem cultural é muito amplo. Por estes motivos a Carta é utilizada até hoje. Importante ressaltar que os estudos descritos, quando se referem à preservação e restauração, estão se referindo a obras de interesse cultural, não se trata de conservar tudo que se encontra, mas estudar os elementos caracterizadores de uma cultura, de um período histórico que transmitam valores que possam ser transmitidos ao futuro. Quando preservamos um edifício seu valor deixa de ser venal (5), que pode mudar com o tempo, se tornando mais valorizado ou menos, e passa

1 Distinguibilidade: Utilizar material diferente para realizar a intervenção, o Restauro não pode ser confundido com a obra original; 2 Reversibilidade: Re-trabalhabilidade, a Restauração não pode impedir uma intervenção futura; 3 Mínima intervenção:Pois a restauração não pode desnaturar o documento histórico; 4 Compatibilização: técnicas compatíveis que não sejam nocivas e com eficácia comprovada através de muitos anos de experimentação; 5 Venal: Valor de um imóvel relativo à venda

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a ser valor social, que permanecerá sempre o mesmo com o passar do tempo (LEMOS, 2013).

PRESERVAÇÃO NO BRASIL

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A Constituição de 1934 atribuiu ao Estado a função de preservar o patrimônio histórico, possibilitando assim a criação de uma legislação de preservação. Em 1935 foi criado o Departamento de Cultura da Cidade de São Paulo, por Mário de Andrade. Este se manteve forte até a criação da Secretária de Cultura em 1975. A partir do proposto por Mario de Andrade, foi criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Enquanto o ideal de Mario era dar mais ênfase a preservação de aspectos da cultura popular, pois ele tinha uma preocupação maior com as raízes antropológicas, o órgão deu ênfase maior em obras que significassem as etapas de formação do Brasil. O SPHAN enfrentou diversos problemas para encontrar profissionais no Brasil que entendessem de história, arte e restauro para realizar o levantamento de obras de relevância para serem preservados. O interesse do órgão recaiu principalmente sobre edifícios produzidos entre os séculos XVI e XVIII e algumas manifestações do Séc. XIX. Enquanto que as construções do Séc. XX foram ignoradas por serem consideradas pura importação (KUHL, 2009) O atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN, antigo SPHAN), por ser um órgão federal teve muita dificuldade para definir os monumentos de interesse


a serem tombados, afinal eles eram responsáveis por fazer levantamento em um país com dimensões continentais e com diferentes produções culturais em cada região. Este problema resultou na multiplicação dos órgãos estaduais, no estado de São Paulo o Condephaat (1968) e na cidade de São Paulo o DPH (1975) e o Conpresp (1985/86). Em 1964, portanto foram criados estes novos órgãos de preservação, e a legislação que coordenava o IPHAN foi modernizada, neste período surgiu o Conselho de Proteção do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico (Condephaat). Este, além de tombar casas bandeiristas de taipa, como os demais órgãos até o momento, passou a tombar monumentos urbanos, como vilas operárias e a definir uma área envoltória de 300 metros. Sob a direção de Sabato Magaldi foram criados o Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), que ficaria com as construções até 1922, e o Departamento de Informação e Criação Artística (Idart) que cuidaria da modernidade. No entanto o DPH neste período só podia identificar

os bens e não tombá-los. Em 1982, o Condephaat anunciou que iria tombar cerca de 13 mil imóveis no estado, onde mais de 3000 se encontravam na cidade de São Paulo. Vários proprietários destes imóveis se anteciparam e demoliram grande parte do patrimônio relevante da cidade, momento em que diversos casarões da Av. Paulista foram destruídos. A criação de diversos órgãos reguladores do patrimônio em nível federal e estadual trouxe o problema de lentidão e ineficácia, pois não existe uma centralização de informações e de critérios de atuação. Percebemos que a preservação de monumentos históricos no Brasil só se consolidou no Século XX, procura-se neste período afirmar a própria nacionalidade em busca das raízes culturais brasileiras até então pouco valorizadas, era uma maneira de se contrapor a excessiva europeização. De qualquer maneira, tudo isso já começou tarde demais, muitos edifícios de São Paulo antiga já se perderam sem ser ao menos documentados. Para que o patrimônio seja realmente preservado é 39


preciso que se eduque, é preciso conscientizar a população de que estes bens fazem parte da nossa cultura, não passada, mas futura, que é nossa herança material deixada pelos antepassados e que deixaremos como legado. O interesse da população sobre os temas referentes a bens culturais tem aumentado. Ainda são muito esporádicos mas presenciamos organizações de moradores lutando pela preservação de edifícios antigos. As discussões sobre o tema, sobre os mecanismos de controle e sobre a importância dos bens culturais ainda são restritos a um número pequeno de pessoas. Muitos ainda caminham pela cidade sem perceber o valor da paisagens construída ao redor. Os que defendem a preservação muitas vezes são vistos como inimigos do progresso, e antiquados, pois para a maioria o progresso é visto como a destruição do antigo para a construção de algo novo. Para que termine esse descaso com o bem cultural, ao edifício público, é preciso que se eduque, e que a população tenha mais contato com os edifícios tombados e suas histórias.

PATRIMÔNIO INDUSTRIAL

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A discussão sobre a importância do patrimônio industrial se iniciou na Inglaterra nos anos 1950, quando foi usado o termo “arqueologia industrial” pela primeira vez. Em 1965 o Ancient Monuments Board decidiu reconhecer os edifícios industriais como bens culturais, e protegê-los, já que até então não eram. Reconhece-se assim sua importância como vestígios que sinalizam o desenvolvimento industrial das cidades.


A partir de então começou uma fase de levantamento, análise e realização de inventários. A vanguarda Britânico na Revolução Industrial refletiu seu pioneirismo quando se trata de preservação dos edifícios industriais, talvez pelo fato de se orgulharem do fenômeno que nasceu no país e se espalhou por todo o mundo. Em outros países europeus, como França, Bélgica e Itália, o tema começou a ganhar espaço somente em 1970. Trabalhar com edifícios ou complexos industriais muitas vezes significa atuar em áreas grandes e decadentes que necessitam ser inseridas em uma nova realidade. Um problema decorrente de se trabalhar em áreas industriais, é o fato de que muitas vezes se encontram próximo a áreas centrais das cidades, e sofrem com a pressão imobiliária, o que acaba destruindo exemplares importantes, ou deixando-os abandonados por muito tempo e acabam se deteriorando. Como o que ocorreu no bairro da Mooca, onde grandes exemplares foram demolidos e os que permaneceram encontram-se em péssi-

mas condições. O interesse por preservar exemplares da arquitetura industrial no bairro da Mooca foi tardio, muito se perdeu para o boom imobiliário e ao processo de verticalização ocorrido no bairro. O processo de tombamento de galpões industriais na Rua Borges de Figueiredo foi aberto pelo CONPRESP somente em 2007, desta maneira muito foi perdido sem que ao menos houvesse qualquer discussão sobre a possibilidade de tombamento. O caso da Fábrica de Açúcar União é um exemplo de exemplar que foi perdido pela pressão imobiliária, que foi demolida para dar lugar a um empreendimento de com quase mil unidades autônomas, distribuídas entre apartamentos de um dormitório a luxuosas moradias com quatro suítes, além de torres comerciais para lojas e escritórios (CORREA, 2011 apud FORTUNATO, 2012). Depois de dois anos de discussão no CONPRESP foi preservada somente a chaminé para sustentar a memória local. A importância de preservar patrimônio industrial reside não só no fato de que 41


funcionam como remanescente físicos das transformações sociais, econômicas e técnicas das cidade, mas também do ponto de vista educacional, pois permite entender as diversas fases de desenvolvimento da industrialização, dos processos produtivos, dos equipamentos utilizados em cada região. Os edifícios que compõem o patrimônio industrial nem sempre possuem excelentes projetos arquitetônicos, mas sua escala permite uma leitura diferenciada da paisagem em que estão inseridos, diferenciando assim a região em relação os bairros tradicionais do restante da cidade.

A particularidade do patrimônio industrial é que ele não se restringe somente ao edifício em si, mas possui diversas tipologias que fazem parte do complexo e que são tão importantes quanto, como as vilas operárias e seus equipamentos, as infraestruturas de energia, transporte e água. A análise e compreensão destas características só será possível com a preservação destes monumentos e não somente o edifício sozinho, mas o complexo de que ele é formado, e da paisagem que ele configura, como quadras grandes e contínuas, gabaritos mais baixos, sheds.

Imagem 14 (ao lado): Vista da chaminé da união em primeiro plano, e da chaminé da Antártica em segundo plano. Edifício do empreendimento Luzes da Mooca, faz um enquadramento do visual. Foto feita na Rua João Antônio de Oliveira.

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CONCEITUAÇÃO “A cidade mostra a conjunção intrínseca entre a forma e o conjunto de sua história. Quando formas que guardam a memória da história da cidade desaparecem, é a cidade que desaparece” Jean Paul-Doole, Longe do lugar, fora do tempo



REFLEXOS DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO

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No final do século XIX e começo do século XX a cidade de São Paulo sofreu grandes mudanças em relação ao uso e ocupação do solo do espaço urbano. Através da implantação da ferrovia a expansão da cidade ganha um novo eixo e áreas que antes eram desocupadas e sem infraestrutura passam a ser ocupada pelas indústrias. A indústria se consolidou efetivamente entre 1930 e 1980, neste período existiam diversos fatores que contribuíam para a manutenção da atividade industrial em São Paulo e região metropolitana. A indústria paulista cresce e se desenvolve em atividades ligadas principalmente à produção de produtos alimentícios, tecidos e frigoríficos. Aos poucos o transporte rodoviário foi se consolidando e tomando o lugar do ferroviário (KUHL, 1998). A mudança da importância do transporte, para o rodoviário, influenciou na consolidação das indústrias. Na década de 1960 ocorre um declínio econômico e do ritmo de crescimento das indústrias paulistas, já na década de 1970 as principais atividades econômicas em São Paulo passam a ser prestadoras de serviços e comércio. Para compreender o que ocorreu no bairro da Mooca, que ao crescer junto com o desenvolvimento das indústrias passa a ser esvaziado, é preciso entender dois conceitos distintos, o de desindustrialização e o de desconcentração industrial. Segundo Fernando Laurentino (2002) a desindustrialização refere-se ao desaparecimento das áreas industriais, enquanto que a desconcentração industrial refere-se a mu-


danças da participação de uma área industrial em uma determinada região. O que ocorreu com a Região Metropolitana de São Paulo pode ser considerada uma desconcentração industrial, pois, as sedes das empresas foram deslocadas para outras regiões do estado, saindo do Imagem 16: Expansão das Indústrias no Estado de São Paulo, passam a expandir para o interior do estado. Imagem 17: Gráfico com a porcentagem de Indústrias na RMSP, demonstrando uma redução de quase 10% em cinco anos.

centro da cidade, como mostram os gráficos a seguir. O que aconteceu no bairro da Mooca foi uma desindustrialização, pois os galpões industriais foram esvaziados, ou utilizados como depósitos deixando grandes áreas ociosas próximas ao centro de São Paulo. Estas áreas acabam se tornando alvo de grandes empreendimentos, como shopping centers, condomínios-clubes que desconfiguram o desenho original do bairro e suas características.


LEITURA DA CIDADE

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Kevin Lynch no livro a Imagem da Cidade (1960) procura examinar a legibilidade das cidades por seus moradores, a imagem desta que fica gravada na lembrança de cada um, sua fisionomia e a possibilidade de ser transformada. Para realizar uma pesquisa mais profunda sobre o tema, o autor estuda o desenho e entrevista os habitantes de três cidades norte-americanas. Mesmo não sendo a área de projeto, o estudo realizado pelo autor é mais profundo e seus conceitos podem ser incorporados à outras cidades contemporâneas pelo mundo. O autor começa definindo o conceito de cidade como uma construção no espaço, que pode ser vista sob diversas perspectivas, condições atmosféricas e luzes, e principalmente que nós não somos somente observadores, mas que fazemos parte dela e que não estamos sozinhos. Apesar da cidade ser uma construção coletiva, cada indivíduo possui uma lembrança e confere um significado para cada imagem da cidade, sendo assim, a realidade nunca é igual para duas pessoas. Cada imagem da cidade, portanto, possui identidade e significado, que podem ser fruto de lembranças passadas ou de sensações imediatas. São estas imagens que são responsáveis pelo nosso reconhecimento no ambiente, que quando é característico e legível torna-se seguro e potencializa novas dinâmicas sociais. O observador, quando está familiarizado com o ambiente em que vive, não sofre tanto com pequenas mudanças, pois estas não rompem a ligação com os elemen-


tos já existentes. A partir do conceito de “reconhecimento no território” o autor propõe uma discussão importante, a de que a cidade não possui uma ordem definida, mas é aberta e passível de desenvolvimento, este é importante, pois possibilita a criação de novas histórias. (LYNCH,1960) Assim sendo a cidade, apesar de possuir elementos notáveis, deve conseguir acompanhar as mudanças na sociedade e permitir a criação de novas memórias. O desenvolvimento da cidade descrito anteriormente deve acontecer de maneira legível e distinta, porém mantendo sempre como principal base o território como ele é, desta maneira o cidadão consegue absorver as mudanças e se manter bem orientado para deslocar-se com facilidade. Existe, portanto um processo interativo entre o observador e o espaço urbano, onde ambos são complexos e mutáveis, e tais alterações podem ser reforçadas através de artifícios simbólicos ou da reformulação do entorno. Outra maneira de perceber o espaço urbano e suas mutações é através de

cinco elementos que Lynch (1960) destaca, são eles: vias, limites, bairros, pontos nodais e marcos. As vias são os canais de circulação por onde os habitantes se locomovem; os limites são quebras de continuidade, que separam uma região da outra, estas barreiras podem assumir diversas formas, como praias, margens de rios ou até cortes de ferrovias como é o caso do projeto desenvolvido. Os bairros são as regiões da cidade que são agrupadas por possuírem caraterísticas semelhantes, do ponto de vista social, na arquitetura, na geografia ou até mesmo no uso predominante. Os pontos nodais são elementos estratégicos na cidade configurados principalmente por convergências de caminhos que criam núcleos importantes e estes podem tornar-se a síntese do bairro ou até seu centro. O último elemento de leitura proposto pelo autor são os marcos, ou seja, objetos físicos, como um edifício, um sinal, uma loja, que podem ser visíveis de longe ou somente a partir de uma certa proximidade. Tais elementos servem de referência para os habitantes se localizarem, 49


pois possuem uma forma clara e mais fácil de identificar dentro do espaço urbano. A compreensão destes elementos evidenciados pelo autor ajuda a entender a cidade como uma sobreposição de imagens, pois apesar deles possuírem definições diferentes, como já foi descrito, formam juntos o que chamamos e reconhecemos como cidade. A análise do bairro da Mooca e do entorno da área escolhida, através da metodologia proposta por Lynch (1960), evidencia alguns problemas da região. A ferrovia se comportando como limite, não só divide a região em termos administrativos, em subprefeitura da Mooca e Subprefeitura da Sé, mas também cria ruas sem saída, dificultando o fluxo de pessoas e carros na região. Por esta razão não são criados pontos nodais e marcos no entorno. Apesar da proximidade com a estação Moóca da CPTM, ainda não existe comércio, serviços e demais atividades significativas que desenvolvam uma maior dinâmica na região. A formação do bairro provocado pela industrialização e o posterior êxodo 50

das indústrias, como já descrito, e a falta de pontos nodais, fluxo de pessoas transformam a área em um terrain vague. O termo utilizado por Ignasi de Solà-Morales (1995), significa “terreno vazio”, porém vazio no sentido de ausência de encontros, de espaços, de atividades, e não como algo ruim, pois este terreno apresenta diversas potencialidades. Terrain vague são espaços muitas vezes esquecidos, abandonados e que não se estabelece nenhum vínculo com o presente. São territórios que, assim como o próprio autor define, ficam fora da dinâmica urbana e normalmente são identificados por áreas industriais, portos, lugares contaminados, espaço de manobra de trens, enfim, espaços onde já não reconhecemos mais a cidade. Solà-Morales (1995) reconhece que é função da arquitetura resolver este problema de espaços vazios no desenho urbano, porém que não se deve simplesmente construir algo por construir, igual ao resto da cidade ou reproduzir um padrão que já deu certo uma vez, pois esta maneira provoca transformações muito fortes,


dificultando o reconhecimento da área por parte da população. A intervenção em uma cidade, quando já não pode ser feita seguindo um modelo já estipulado, deve dialogar com o entorno, não para imitá-lo, mas para ter uma base dos gabaritos, dos ritmos e dos alinhamentos. O autor propõe, portanto uma intervenção que se relacione com o existente sem apagá-lo, demolindo ou tirando sua importância. Enric Batlle (2011) quando discute o conceito de “Jardim da Metrópole” defende uma maneira de intervir nesses vazios da cidade de modo semelhante à de Solà-Morales. Ele também reconhece este fenômeno como um problema recorrente nas cidades contemporâneas, e evidencia a tendência atual de homogeneização causada pela globalização e a falta de conexão entre os espaços da cidade. Tais conceitos podem ser aplicados também ao bairro da Mooca em São Paulo, onde os espaços residuais causados pelo êxodo industrial estão sendo ocupados, porém sem estabelecer qualquer relação com o resto da cidade e com a identidade

do bairro. O chamado “Jardim da Metrópole” é este novo estrato que procura desenhar a nova geografia da cidade, que resolve as problemáticas do meio ambiente, ou seja, pretende definir um novo modelo de ocupação territorial. Estes novos lugares propostos são destinados à um uso concreto, com diversas atividades, tornando-se assim em um espaço útil para a cidade. Uma questão importante abordada por Enric Batlle (2011) é que estes espaços possuem uma dinâmica própria, e que devemos perceber a riqueza de cada lugar, pois cada um tem uma história, um potencial diferente. Hoje, com a globalização, produzimos na cidade lugares homogêneos e o “Jardim da Metrópole” entra como um mecanismo de defesa e reação a este processo. Trata-se de entender que a cidade é uma estrutura complexa, produto de uma história única, onde o uso do espaço livre depende da compreensão da paisagem. Para propor um projeto consistente deve-se ter em mente todas as condicionantes que tornam aquele lugar único, ou 51


seja, conhecer o local e potencializar suas características positivas. Batlle (2011) não quer acabar com as transformações, mas afirma que devemos conservar a essência de cada local, tornando assim o vazio em uma nova paisagem. O bairro da Mooca possui diversas áreas em que se pode adotar os conceitos de intervenção citados. Por ter se desenvolvido na época da industrialização de São Paulo, possuía diversos galpões e indústrias, quando estas foram migrando para fora da cidade estes espaços foram abandonados e assim permaneceram até o mercado imobiliário perceber seus terrenos de grandes extensões, preço barato e proximidade do centro e da linha de trem. Esses vazios foram ao longo do tempo ocupados por novos empreendimentos, mas que não conservaram a essência do local, pelo contrário, foram se homogeneizando como o resto da cidade, e o bairro que antes era característico, único, um lugar que seus moradores tinham orgulho de pertencer, foi se transformando em só mais um bairro da cidade. Os únicos vazios remanescentes foram os galpões e 52

fábricas tombados pelos órgãos de preservação, em uma tentativa de manter viva a identidade do bairro, porém vários estão se degradando, ou por estarem abandonados ou pela dificuldade de restaurar um bem tombado, como é o caso do objeto de estudo. A partir da leitura dos textos pode-se evidenciar alguns conceitos que serão adotados no partido do projeto, tais como manter um espaço que possui identidade, e significados diferentes para cada observador, seja ele morador do bairro da Mooca ou somente uma pessoa de passagem. Estudar as potencialidades e características do local para assim conseguir conservar sua essência, sem deixar de lado o meio ambiente e sem deixar de ser um espaço livre e aberto para a metrópole. A ideia principal do projeto é propor um edifício que consiga resolver as problemáticas do território, como a dificuldade de transpor a linha férrea, e ao mesmo tempo, destaque os edifícios históricos ao criar um contraste entre o novo e o velho. Assim, o projeto não impõe nenhuma leitura definida do espaço aos seus obser-


vadores, porém não deixa de criar um marco na região, que pretende mudar as dinâmicas sociais e as referências dentro do bairro. O conceito de memória coletiva pode ser definido como um registro imaterial de um local e época que está presente no cotidiano dos moradores através de patrimônios históricos conservados (MENEZES, 1984). A memória consegue transmitir a cultura local e permitir que se crie a noção histórica do passado, ou seja, reconhecer o decorrer do tempo no espaço que se altera conforme o fluxo da história. A percepção das mudanças, e o reconhecimento da memória, dá aos indivíduos uma maior compreensão da cidade, e sentimento de pertencimento ao território. Tendo a arquitetura como suporte para a formação da memória coletiva, é necessária a preservação de patrimônios históricos para que estes atuem na formação de reconhecimento e para que possa existir assim uma consciência histórica dos moradores. Estes, conforme vai ocorrendo o crescimento urbano, vão adquirindo novas cargas culturais e consolidando uma memória com significados importantes para um território, geração ou para um momento histórico. A preservação do patrimônio e, portanto, da memória coletiva gera uma identidade para a população com o local, essa se fundamenta na essência histórica e cultural. Um local que possuí identidade se torna único, impossível de ser reproduzido, fornecendo particularidades culturais e uma relação

MEMÓRIA E IDENTIDADE

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afetiva com os moradores. Um território que deixa de manter vestígios do passado, de manter um suporte para a memória coletiva, ou seja, um território sem identidade foi chamado de “Cidade Genérica” por Koolhaas (1997). Esse conceito define espaços que, por não terem identidade, podem ser construídos em qualquer lugar. Nestes, o passado é substituído completamente e o presente construído sem uma fundamentação histórica ou de relação com entorno. A “Cidade Genérica” não vê o passado como algo necessário, portanto, não mantém em seu território recordações específicas, não há bens culturais ou memórias, é um local sem vínculos. Como consequência desta ausência de memória a consciência histórica e o sentimento de pertencimento é perdido, gerando uma alienação dos moradores. Os indivíduos passam a reconhecer o espaço pelo tempo, e a cidade gera espaços fragmentados, que se alteram rapidamente e de maneira isolada. Para Meneses (1984) são estes fatores que criam espaços descontextualizados e vazios urbanos. 54

Para que a cidade continue crescendo e se desenvolvendo sem perder sua identidade, e sem causar alienação de seus moradores, é necessário que se mantenham as memórias coletivas. Visto que, como já foi dito anteriormente, os patrimônios históricos atuam como mediadores da memória coletiva, esses devem ser mantidos no território urbano. É necessária a criação de projetos onde o passado e o presente convivem harmoniosamente, sem que o desenvolvimento da cidade seja prejudicado, desta maneira criamos espaços coesos, sem vazios urbanos, onde edificações históricas não são abandonadas. O presente trabalho propôs-se a estudas dois casos onde o patrimônio histórico que havia sido abandonado passa a receber um novo uso e volta a estabelecer relações com o restante da cidade e seus moradores.


O Sesc Pompéia é um centro de lazer que faz parte de um trabalho desenvolvido pelo Sesc no período entre 1969 e 1974, que tinha como proposta a criação de diversos centros culturais e esportivos por São Paulo. Este se diferencia dos demais por estar localizado em um patrimônio industrial. O edifício em que o Sesc Pompéia está inserido foi construído em meados de 1938 pela indústria alemã Mauser e Cia que produzia tambores. O projeto do edifício segue as características dos edifícios industriais da época, ou seja, paredes em alvenaria de tijolos aparentes com estrutura de ferro e a utilização de sheds para a iluminação interna. Características que podem ser encontradas no edifício em que será realizada a intervenção deste trabalho. Em 1971 o Sesc comprou o terreno para a construção do complexo, a primeira proposta arquitetônica foi a de criação de um projeto completamente novo, demolindo os galpões. Mais tarde, a Arquiteta Lina Bo Bardi foi convidada para executar o projeto do Sesc, e o conceito adotado foi o de reutilizar o edifício industrial, revitalizando-o. A intervenção proposta por Lina não alterou os principais aspectos da fábrica, mas sim, evidenciou seus elementos originais, como a estrutura, as paredes externas, onde removeram o reboco e deixaram os tijolos aparentes e a cobertura. (OLIVEIRA, 2007)

SESC POMPÉIA Lina Bo Bardi

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O projeto procura manter uma relação não só com a pré-existência em si, mas com o entorno, com a memória que o edifício carrega para a história do bairro e para os moradores. Em 1982 a primeira etapa do Sesc foi concluída, a que estava contida no edifício fabril, mais tarde, em 1986 o bloco esportivo foi inaugurado. O complexo esportivo está localizado em uma edificação nova, que se diferencia do existente pela materialidade e pelo gabarito. O complexo foi realizado em concreto aparente, e possuí proporções verticais, que remete a uma chaminé de fábrica, contrastando com a horizontalidade do edifício industrial. O que interliga os edifícios do complexo é a rua de paralelepípedo, por onde é feita a circulação do projeto e torna o Sesc Pompéia um espaço único. Para manter viva a memória e a atividade industrial que existiu no bairro, o projeto respeita o edifício fabril com suas proporções, retirando os elementos que dificultavam sua leitura como o reboco nas paredes. Outro aspecto importante do projeto da Lina que será incorporado no 56

Imagem 18 (acima): Relação entre edifício novo e galpão histórico. Imagem 19 (ao lado): Interior Sesc. Visível a diferença do material da intervenção e o utilizo de sheds. Imagem 20 (ao lado): Vista do caminho que interliga todo o projeto.

presente estudo é a criação de um pátio interno que busca um diálogo entre o novo e o antigo e acaba se tornando o elemento de ligação entre o edifício histórico e o anexo.



TATE MODERN Herzog & De Meuron

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Imagem 21: Vista anexo construído em 2016, com volumetria que contrasta com edifício existente. Imagem 22: Vista do interior da intervenção, demonstrando o pé direito. Imagem 23: Vista aérea do projeto, Caixa de vidro que ultrapassa as paredes históricas e abre o projeto para a cidade.

Outro edifício industrial que recebeu um novo uso pois estava ocioso, graças a desindustrialização das cidades, é onde hoje funciona a Tate Modern, em Londres. A antiga central elétrica, projetada pelo arquiteto Sir Giles Gilbert Scott foi construído entre 1947 e 1963, e transformado em uma galeria de arte moderna pelos arquitetos suíços Herzog & De Meuron. O projeto revitalizou a margem sul do Rio Tâmisa, e transformou a antiga zona industrial, que se encontrava subdesenvolvida em melhores condições sociais, urbanas, transformando-o na terceira maior atração turística de Londres. O projeto preservou não só as paredes de alvenaria, a estrutura metálica e a cobertura, mas também algumas gruas e guinchos industriais que hoje servem para auxiliar na montagem de grandes exposições. A intervenção se preocupou também com a escolha dos materiais para transformar o edifício histórico em museu, como vidros duplos para o controle climático, envidraçamento duplo da cobertura para melhorar o isolamento térmico e acústico. Algumas partes da galeria ficam em um edifício anexo, de sete andares, localizando dentro do volume do edifício histórico. Este anexo possui uma nova estrutura metálica, separada do edifício tombado, e dois dos seus últimos andares ultrapassam a altura das paredes do edifício histórico, formando uma caixa de vidro fora de seu volume, desta maneira o anexo se abre totalmente à cidade. (PROJETO DESIGN, nº245)



EXPERIMENTAÇÃO “A memória é a chave da arquitetura. Sem ela, não temos futuro” Daniel Libeskind em entrevista ao repórter Marcio Orsolini, de BRAVO!



ESTAÇÃO MOOCA DA CPTM

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A São Paulo Railway (SPR) foi a primeira estrada de ferro construída em São Paulo, realizada por investidores ingleses para escoar a produção de café, ligando o Porto de Santos à Jundiaí. A ferrovia corta São Paulo de norte a sul transportando pessoas e cargas, sob a administração da concessionária MRS. A estação Mooca foi inaugurada em 1898 como uma das paradas da São Paulo Railway próxima das fábricas para ajudar no escoamento da produção, e no fornecimento de matéria prima para a indústria. A estação original como mostra a planta abaixo (Imagem 25) era na Rua Taubaté, hoje Borges de Figueiredo, e bem menor da que existe hoje.


Imagem 25 (ao lado): Planta Estação Mooca CPTM. Imagem 26: Acesso Estação Mooca pela Av. Presidente Wilson.

A estação que existe hoje foi construída nos anos 1960 quando as instalações já não eram mais suficientes para atender a demanda operacional e incompatível com os conceitos da companhia responsável na época pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (EFSJ). Estes reconstruíram não só a Estação Mooca, mas também outras como Ipiranga, Pirituba e Lapa, seguindo sempre o mesmo estilo arquitetônico, no caso o modernista, com referência à Arquitetura Paulista dos anos 1950. Além de possuir um novo estilo, a

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nova estação possibilita o trajeto entre a Rua Borges de Figueiredo até a Avenida Presidente Wilson, porém é restrito aos usuários. Atualmente verifica-se que estes dois acessos foram mantidos, um pela Avenida Presidente Wilson onde existe o acesso por uma rua mais larga, quase como uma praça (Imagem 26), enquanto que o outro é realizado por um corredor comprido e estreito, acessado no final da Rua Monsenhor João Felipo (Imagem 27). Hoje passam pela estação cerca

de 6,2 mil usuários, segundo dados da CPTM, e o intervalo dos trens varia de oito a quinze minutos, podendo chegar à vinte, por causa do transporte de carga. A estação Mooca é uma parada da linha 10 – Turquesa, que liga o Brás ao Rio Grande da Serra, que não possui ligação com outras linhas, no máximo com ônibus nas ruas do entorno. Além disso, a estação não possui acessibilidade, para ter acesso à plataforma de embarque o portador de necessidades especiais precisa ser carregado pelos funcionários da estação.


A ferrovia ao cortar a cidade cria diversos problemas de mobilidade, pela dificuldade de transposição. A região onde esta implantada a estação Mooca é um exemplo desta problemática. A única maneira de transpor a ferrovia, não sendo um usuário da linha, ou seja sem pagar, é seguindo aproximadamente 500 metros até o Viaduto Prof. Alberto Mesquita de Camargo, onde a passagem é bem estreita (Imagem 28). Ao lado do viaduto existe uma passarela metálica de pedestres, que se encontra em péssimo estado de con-

servação, além de ser afastada e pouco convidativa como demonstra a imagem 29.

Imagem 27 (ao lado): Acesso Estação Mooca pela Rua Monsenhor João Felipo. Imagem 28: Passagem pelo Viaduto Prof. Alberto Mesquita de Camargo. Imagem 29: Passagem pela passarela metálica.


OFFICINAS VANORDEN

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O edifício industrial que será tratado neste trabalho está localizado ao lado da antiga São Paulo Railway, marcando a esquina da Rua Borges de Figueiredo com a Rua Monsenhor João Felipo. O edifício carrega características da arquitetura fabril, e por isso representa o processo de industrialização de São Paulo. O imóvel foi construído em 1909 pela Sociedade Anônima Casa Vanorden, proprietária do lote na época, com o projeto arquitetônico de Jorge Krug. A construção que abrigava uma indústria gráfica, ou editora ligada à fabricação de papel, era composta por um imóvel na frente de dois pavimentos, e uma sequência de dez galpões com aproximadamente 6,5 m de altura e uma modulação bem demarcada na fachada de 4,5m. (Imagem 30)


Imagem 30 (ao lado): Desenhos de 1909, projeto de Jorge Krug.

Imagem 31 e 32: Comparação entre a fachada da da Officina Vanorden em 1909 (esquerda) e 2016 (direita). Demonstra a ampliação e as marcas do tempo na fachada, causados pela falta de manutenção.

Em 1911 o imóvel foi ampliado e a fachada para a Rua Borges de Figueiredo que possuía 4,5m de sobrado passou para 13,50m, além disso, os galpões modulados passaram de 10 para 17. As ampliações mantiveram as características construtivas e arquitetônicas iniciais, ou seja, foram feitas com alvenarias em tijolos aparente, com pilastras que demarcam a modulação e quebram os planos contínuos da fachada para a rua. (Imagem 31 e 32)


O uso de platibandas por toda a extensão da fachada não permite, ao nível da rua, reconhecer o telhado utilizado na construção, e a separação entre o telhado do edifício original e o realizado com a ampliação de 1911. Pelo Zoneamento de uso do solo o edifício está inserido em uma área definida como Zona Especial de Preservação Cultural (ZEPEC), que são áreas da cidade destinadas à preservação e proteção de espaços de grande importância para a memória e identidade e vida cultural da cidade (Imagem 33).

Imagem 33: Zoneamento da área de estudo, demonstra que é uma zona especial de preservação cultural. Imagem 34 (ao lado): Mapa de tombamento do CONPRESP, resolução Nº 14/2007.



A INTERVENÇÃO

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A indicação deste imóvel e de outros na Região foram acolhidos pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo (CONPRESP) que iniciou o processo de tombamento em 2004. Em 2007, com a resolução Nº 14\2007, a edificação das Officinas Vanorden e outros galpões com valor arquitetônico da Rua Borges de Figueiredo, como o conjunto Moinho Minetti Gamba, foram tombados (Imagem 34). Atualmente o edifício das Officinas Vanorden foi modificado para atender o uso de um estacionamento, portanto apresenta elementos não originais, como uma estrutura metálica para sustentar a nova cobertura, e elementos que dificultam a leitura do edifício como a pintura na fachada do primeiro andar. Mesmo com estas alterações, o edifício apresenta características que fazem dele um exemplar da arquitetura fabril do século XIX, que se distingue do entorno por sua materialidade, e a predominância de horizontalidade, criada pelo desenho continuo dentado resultado do uso de sheds. A proposta do trabalho consiste em um projeto de intervenção no edifício das Antigas Officinas da Sociedade Anônima Casa Vanorden. A intenção é propor a recuperação do edifício de interesse cultural oferecendo-lhe um novo uso. Para isto serão criados três anexos, dois dos quais no volume do próprio edifício e um no terreno ao lado, onde hoje existem galpões abandonados. O programa proposto para a intervenção foi escolhido a partir


da leitura do bairro, considerando seus aspectos históricos, sua inserção no restante da cidade e suas problemáticas. Este contém um setor cultural, composto por um centro de lazer e um museu; uma área educacional, composta por uma biblioteca e um Laboratório de Fabricação; e uma área comercial. Além dos anexos onde estão inseridos os programas descritos, a proposta de intervenção procura solucionar o problema da transposição da linha férrea, pois são poucos os pontos onde o pedestre consegue ultrapassa-la sem preImagem 35: Vazio ao lado da linha férrea, terreno que srá incorporado ao projeto. Imagem 36: Vista da fachada do estacionamento, galpão à esquerda é a officina Vanorden.

cisar pagar e de maneira segura. O terreno onde o projeto será implantado se encontra na esquina da Rua Borges de Figueiredo com a Rua Monsenhor João Felipo, próximo à estação Mooca da CPTM. No Terreno hoje existem galpões e grandes áreas abandonadas (Img. 35), próximos à linha férrea, e galpões que estão sendo utilizados como estacionamento, sendo que parte do estacionamento esta localizando dentro de um edifício tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade e São Paulo (CONPRESP) em 2007 (Img. 36).

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No entorno no terreno existem outras edificações que foram importantes para a definição da implantação do projeto e para a escolha do programa, tais como a Estação de trem, a Antiga Fábrica da Antárctica, o Moinho Minetti Gamba e a chaminé da Fábrica da União. Imagem 37: Diagrama sinalizando os edifícios notáveis do entorno, que serão importantes para a implantação do projeto. Officina Vanorden (objeto de estudo)

Chaminé União

Moinho

Estação Mooca CPTM

Fábrica Antártica


Além disso, podem ser encontrados nas proximidades, agora com uma visão mais ampla, diversas universidades e alguns equipamentos culturais, como o Museu da Imigração, o parque Dom Pe-

Imagem 38: Levantamento dos equipamentos do entorno, serão importantes para a escolha do programa.

dro II, o clube Juventus. O levantamento destes equipamentos foi importante para a definição do programa proposto. A falta de áreas de convivência e de encontro pública, tanto para moradores quanto para os estudantes destas universidades, e o interesse em colocar à disposição dos estudantes o laboratório de Fabricação foram os definidores do programa.


A implantação do projeto foi pensada a partir de três conceitos principais, a transposição da linha férrea, o “olhar” para a chaminé da fábrica da Antárctica, e a intenção de manter o alinhamento original da quadra, como mostram os diagramas abaixo. O último diagrama demonstra uma preocupação com a intenção de manter a característica dos bairros industriais, criada pela sequência de galpões que formam grandes quadras continuas, dificultando a criação de caminhos. O projeto procura

manter a fachada no alinhamento, para criar a imagem da quadra continua, porém serão utilizadas as aberturas existentes na fachada para gerar uma passagem para o miolo da quadra, criando novos caminhos. A implantação final segue o diagrama 40, o edifício onde será realizada a

Imagem 39: Diagramas de implantação, que demonstram as principais diretrizes como a transposição da linha férrea, o olhar para a chaminé e anter o alinhamento da quadra, respectivamente.


recuperação é o edifício histórico tombado, e os anexos propostos; o edifício onde será realizada a valorização é o edifício em rampa onde estará localizado o Laboratório de Fabricação; e a passagem utilizada para realizar a transposição, interliga todos os edifícios propostos com o outro

Imagem 40: Diagrama da Implantação final, demonstrando a ação que será realizada em cada edifício proposto.

lado da linha férrea e com a Estação da CPTM, mantendo um alinhamento com a chaminé da Antarctica. Utilizando uma entrada de veículos existente na fachada original do edifício histórico para a Rua Borges de Figueiredo, foi criado um acesso para o miolo da quadra e dividindo assim o interior do edifício histórico em duas partes. De uma lado foi proposto uma biblioteca, aberta ao público e de fácil acesso, por estar próxima à rua. Com o intuito de ver o edifício histórico por diferentes perspectivas, o programa da bi-


blioteca foi inserido no subsolo, ou seja, foram criados dois pavimentos abaixo do nível da rua. Tais pavimentos são recuados com relação as paredes históricas, para respeitar sua fundação existente, e caso seja necessário conseguir retornar à como era o edifício originalmente. A área da biblioteca mantém a cobertura em sheds. O outro lado do edifício histórico é utilizado pelo centro cultural, um centro de convivência e encontro dos moradores da região. Um ponto de encontro que não tem uma função e um programa definido, é um espaço aberto à população. Dentro aproveito o pé direito alto para criar um mezanino metálico, solto da estrutura original do edifício, para não compromete-la e para criar uma dinâmica maior no espaço. No segundo andar do edifício histórico foram criadas salas para aulas coletivas, que podem ser organizadas pelos próprios moradores, como salas de costura para terceira idade, aulas de artesanato, etc. O segundo andar do edifício histórico da acesso ao museu com acervo permanente sobre o bairro da Mooca e a industrialização de São Paulo. Este edifício 76

consiste em um volume retangular de aço corten, localizado sobre o edifício histórico, é deste volume que sai a passagem para realizar a transposição. Foram criadas algumas poucas aberturas irregulares em sua fachada, visando enquadrar algum marco que considerei importante do entorno, demarcados na imagem 41. Imagem 41: Diagrama demonstrando as visuais que serão exploradas no projeto. Em vermelho estão destacadas os edifícios importantes do entorno.


No local onde hoje existem galpões abandonados e uma área vazia foi proposto um outro anexo, entre este e o edifício histórico foi pensado uma praça em dois níveis onde estão localizados os comércios e serviços. Este edifício anexo estabelece uma relação de contraste com o edifício histórico existente com relação ao material e ao formato, e de analogia quando respeita o gabarito existente e os alinhamentos. No edifício anexo esta localizado o Laboratório de Fabricação, estes são chamados também de FabLab, estes são espaços em que as pessoas se encontrar para materializar suas ideias. Estes laboratórios foram criados pelo MIT e hoje já se encontram em mais de 60 países, para ser reconhecido como tal deve atender aos seguintes requisitos (GINESI, 2015): – Abrir as portas à comunidade pelo menos uma vez por semana sem cobrar nada; – Compartilhar ferramentas e processos com os outros laboratórios do tipo;

– Participar ativamente da rede por meio de videoconferências e encontros presenciais. Estes espaços contém, portanto as ferramentas, as máquinas e a tecnologia necessária para que qualquer pessoa consiga desenvolver seu projeto. Geralmente estes laboratórios estão associados a universidades por isso a importância do levantamento das diversas universidades do entorno. A ideia do programa escolhido foi de fazer uma contextualização da indústria, ou seja, não voltar a implantar indústrias no centro de São Paulo, pelo ruído, problemas relacionados à carga e descarga, dentre outros que ela poderia gerar; mas criar no centro um espaço que permita o acesso de todos à tecnologia. A intenção é criar indústrias urbanas não poluentes, compatíveis com a sociedade contemporânea, com tecnologia a disposição e rapidez para desenvolver um projeto. O anexo do FabLab é um edifício com função urbana, pois sua cobertura forma uma rampa que da acesso à trans77


posição da linha férrea e que funciona também como um mirante para o bairro, a medida em que o usuário vai subindo a rampa e se deslocando pela cobertura, consegue visualizar por diversas perspectivas o bairro, a ferrovia e os edifícios históricos do entorno. Do outro lado da ferrovia a intervenção consistiu somente no acesso à transposição e em uma grande praça livre em frente ao prédio da Fábrica da Antárctica. A transposição que antes era paga, pois era necessário entrar na estação da CPTM para atravessar, e que não possuía acessibilidade, passa a ser pública, acessível aos que possuem dificuldades de locomoção e mais interessante, pois instiga o usuário a olhar mais para o espaço que esta percorrendo. A ferrovia que ainda hoje é um limite, impedindo a ligação e dificultando a passagem principalmente de pedestres, procura ser evidenciada de uma maneira positiva no projeto. A partir do momento em que o projeto soluciona a sua transposição, a ferrovia deixa de ser uma problemática do local e passa a ser um marco 78

importante do bairro. Esta condicionou o crescimento e a industrialização de São Paulo, condicionou a maneira como os edifícios e os bairros ao seu redor foram implantados. Para evidenciar a importância da ferrovia para a região o projeto procura não criar barreiras visuais para ela. A fachada do edifício anexo voltada para a ferrovia é feita com fechamento de vidro, mais grosso para proteger a acústica dos laboratórios. A divisória da rua com a linha férrea, que hoje é um muro de alvenaria passou a ser de vidro. E do outro lado, em frente à Fábrica da Antárctica, o edifício que chega fica acima do nível da rua. Assim quem esta na praça ou na Avenida Presidente Wilson consegue visualizar o trem passando. A própria rampa, a passagem que da de frente à chaminé, as aberturas propositais em determinados pontos, são maneiras que o projeto encontra de fazer o usuário vivenciar mais a cidade, e interagir com ela e com a memória que estes edifícios carregam. Ou seja, manter uma relação permanente entre o observador e


os marcos e limites do entorno, elementos de leitura propostos por Lynch (1960), que estabelecem uma relação de reconhecimento do cidadão na cidade. O projeto procura também criar na praça central o que Lynch chamou de “ponto nodal”, um espaço de encontro, um vazio que valoriza os cheios, um vazio que deixa de ser um espaço sem conexão com o presente, um Terrain Vague (SOLA-MORALES, 1995) e passa a ser o elemento que une todo o projeto. Enfim, o trabalho se propõe a reconhecer o poten-

cial da área, a riqueza cultural do bairro, a memória existente nos edifícios históricos e através destes elementos propor uma intervenção que transforme este terrain vague em um espaço de encontro, que faça parte da dinâmica da cidade atual e que crie uma nova paisagem, como era proposto por Batlle (2011).

Imagem 42: Imagem digital demonstrando a praça central proposta na intervenção.


ACESSO


Praรงa semi-rebaixada


2ÂŞ pavimento biblioteca


1ยบ Pavimento


2ยบ Pavimento


3ยบ Pavimento


Corte AA

Corte CC


Corte BB


Elevações





CONCLUSÃO “A rua de agora se fechou em fortaleza. Da “minha” rua ficaram apenas os ecos do passado” Wilson Natale em Crônicas da Mooca




O desenvolvimento desta pesquisa teve como conclusão uma visão diferenciada da maneira de ler a cidade, suas transformações e a importância de cada elemento para a memória coletiva. Além disso, e principalmente, uma visão diferente do Bairro da Mooca. A escolha de trabalhar na Mooca e a ideia inicial do trabalho era resgatar o sentimento que existia no bairro, um bairro família, receptivo como descrito no livro de Mino Carta ou Crônicas da Mooca. À medida que o trabalho foi se desenvolvendo e depois de algumas visitas ao local, percebi que o bairro que eu imaginava não existia mais. Sim, ainda existem algumas pessoas que mantêm as tradições italianas, as cantinas, os jogos do Juventus e as festas tradicionais, porém a dinâmica no bairro mudou, está mais fechado atrás de grades, mais “seguro” assim como o resto da cidade.

Talvez seja exatamente por isso que seja importante manter os edifícios históricos, desta maneira conseguiríamos manter pelo menos vestígios do que foi a Mooca um dia, para que mais pessoas que tenham o interesse de conhece-la melhor, assim como eu, consigam estabelecer uma relação com o local e perceber a identidade da Mooca que ainda esta presente nas paredes de alvenaria aparente, nos sheds, nas “quadras contínuas”, nas cantinas italianas e nos jogos do Juventus. Além disso, outro ponto importante é perceber que as cidades estão crescendo, e os espaços sem construções já quase não existem. O trabalho procura, portanto, ressaltar a importância de reconhecer o valor dos edifícios históricos e de saber trabalhar em terrenos com pré-existências, sabendo respeitá-las e ressalta-las.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANDEIRA JUNIOR, Antônio Francisco. A indústria no Estado de São Paulo em 1901 / estudo de Antônio Francisco Bandeira Junior. São Paulo; Typ. do Diario Official,1901 BATLLE, Enric. El jardin de la metrópoli: del paisaje romántico al espacio libre para una ciudad sostenible. Barcelona; G. Gili, 2011. BOITO, Camillo, Os Restauradores: Conferencia feita na exposição de Turim em 7 de junho de 1884; Cotia – SP, Ateliê Editorial, 2008. BRANDI, Cesare; KÜHL, Beatriz Mugayar. Teoria da restauração. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004. CACCIARI, Massimo; A cidade; Barcelona; Gustavo Gili; 2010. CARTA, Mino; MELLO, Hélio Campos. Crônicas da Mooca: com a benção de San Gennaro. São Paulo: Boitempo, 2009. CHOAY, Françoise, O patrimônio em questão: analogia para um combate; tradução: João Gabriel Alves Domingos; Belo Horizonte, MG; Fino traço, 2011 KOOLHAAS, Rem. Rem Koolhaas: três textos sobre a cidade. Barcelona: G. Gili, 2010. KUHL, Beatriz Mugayar. Preservação do Patrimônio Arquitetônico da Industrialização, Cotia, Ateliê, 2009. KUHL, Beatriz Mugayar. Arquitetura do ferro e arquitetura ferroviária em São Paulo: reflexões sobre a sua preservação. 1º ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998. LAURENTINO. F.P. Várzea do Tamanduateí: Industrialização e desindustrialização. Dissertação de Mestrado – FFLCH-USP, São Paulo, 2002. LEMOS, Carlos Alberto C., Da Taipa ao Concreto: Crônicas e ensaios sobre a memória da arquitetura e do urbanismo; São Paulo, Três Estrelas, 2013. LUZ, V. NICIA. A luta pela industrialização do Brasil (1808-1930). São Paulo, Difel, 1960, p.198-200 97


LYNCH, Kevin; A Imagem da Cidade; tradução Jefferson Luiz Camargo – 3° Ed. – São Paulo : Editora Martins Fontes, 2011. MENESES, U.B., Patrimônio Ambiental Urbano: Do lugar Comum ao Lugar de Todos, CJ Arquitetura, 1978, n.19,p.46. MENESES, Ulpiano Bezerra de. Identidade Cultural e Patrimônio arqueológico. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº 20, 1984. OLIVEIRA, Liana Paula Perez. A capacidade de dizer não: Lina Bo Bardi e a fábrica da Pompéia. Dissertação de Mestrado. São Paulo: FAU Mackenzie, 2007. PASQUALE, Petrone, As indústrias paulistas e os fatores de sua expansão. In: Boletim Paulista de Geografia, nº13, março 1953. São Paulo, Associação dos Geógrafos Brasileiros, 1953, p. 27. RIEGL, Alois. O culto moderno dos monumentos: a essência e a sua origem. São Paulo: Perspectiva, 2014. ROSSI, Aldo; A arquitetura da cidade; São Paulo, SP; 2° ed.; Martins Fontes, 2001. RUFINONI, M. R. Preservação do patrimônio industrial na cidade de São Paulo: o bairro da Mooca. Dissertação de Mestrado. São Paulo, FAUUSP, 2004, pp. 6-147. RUSKIN, John, A lâmpada da memória, Cotia – SP, Ateliê Editorial, 2008. SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Territorios. Barcelona, Gustavo Gili, 2002. VIOLLET-LE-DUC, Eugène Emmanuel, Restauração, Cotia – SP, Ateliê Editorial,2006. DOCUMENTOS ELETRÔNICOS: FORTUNATO, Ivan. Mooca, ou como verticalização devora a paisagem e a memória de um bairro. Janeiro 2012. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.140/4189 25.03.16 22h30min Herzog & De Meuron Arquitetos: Museu Tate Modern, em Projeto Design, nº 245, 2000. https://arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/herzog-amp-de-meuron-arquitetos-museu-tate-01-07-2000 98


12.05.16 13h30min SOMEKH, Nádia. Patrimônio cultural em São Paulo: resgate do contemporâneo, Novembro de 2015. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.185/5795 17.04.16 12h00min MENEGUELLO C., BERTINI G., RUFINONI M. e VALENTIN F. Demolição de galpões industriais na Mooca: descaso e impunidade. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.088/1913 01/02/2016 01.02.16 22h35min Anexo XXY – Livro XXV - Plano Regional Estratégico da Subprefeitura Mooca. http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/secretarias/planejamento/zoneamento/0001/ parte_II/mooca/551%20ANEXO%20XXV%20do%20Livro%20XXV.pdf> 15.09.15 19h50min WEBSITES: http://www.habitacao.sp.gov.br/casapaulista/downloads/ppp/diretrizes_projeto_operacao_urbana_mooca_vila_carioca.pdf 08.05.16 08h25min http://www.estacoesferroviarias.com.br/m/mooca.htm 28.04.16 22h50min http://www.estacoesferroviarias.com.br/m/locais/mooca.htm 28.04.16 22h50min www.saopauloantiga.com.br/tag/casa-vanorden/ 21.04.16 20h40min http://www.archdaily.com.br/br/01-9310/em-obras-avancos-do-novo-edificio-tate-modern-de-herzog-e-de-meuron-londres-inglaterra 12.05.16 13h30min http://www.portaldamooca.com.br/index.php/cronicas-poesias-e-etc/ 19.12.15 12h30min

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ÍNDICE DE IMAGENS IMAGEM 01: Fachada Officina Vanorden (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 02: Vista da Ferrovia a partir da passarela (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 03: Concentração Urbana de 1810 (Fonte: Planta imperial cidade de São Paulo, por Rufino José Felizardo e Costa, 1810 - parcial (São Paulo Antigo: Plantas da Cidade, São Paulo, 1954) apud RUFINONI,2004) IMAGEM 04: Concentração Urbana de 1881 (Fonte: Planta da cidade de São Paulo, por Henry B. Joyner, Companhia Cantareira e Esgotos, 1881 (São Paulo Antigo: Plantas da Cidade, São Paulo, 1954) apud RUFINONI, 2004) IMAGEM 05: Concentração Urbana de 1897 (Fonte: Planta geral da capital de São Paulo, por Gomes Cardim, 1897 (São Paulo Antigo: Plantas da Cidade, São Paulo, 1954¬) apud RUFINONI, 2004) IMAGEM 06: Tabela 01; Crescimento industrial (Fonte: BANDEIRA JUNIOR, Antônio Francisco. A indústria no Estado de São Paulo em 1901 / estudo de Antônio Francisco Bandeira Junior. São Paulo: Typ. do Diario Official, 1901. Apud RUFINONI, 2004) IMAGEM 07: Vista aérea de galpões ao longo da ferrovia (Fonte: http://www.habitacao. sp.gov.br/casapaulista/downloads/ppp/diretrizes_projeto_operacao_urbana_mooca_ vila_carioca.pdf 26.05.16 11h30min) IMAGEM 08: Vista Chaminé União (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 09: Vista Fachada Galpão Av. Presidente Wilson (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 10: Vista Fachada Galpão Av. Presidente Wilson (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 11: Setores de Atuação da OUC (Fonte: http://www.habitacao.sp.gov.br/casapaulista/downloads/ppp/diretrizes_projeto_operacao_urbana_mooca_vila_carioca.pdf 13.02.16 15h30min) IMAGEM 12: Caracterização funcional dos setores de atuação (Fonte: www.prefeitura. sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/legislacao/planos_regionais/index.php?p=1887 13.02.16 15h30min) IMAGEM 13: Tapume na Rua Borges de Figueiredo (Fonte: Danielle Alves Lessio, disponível em https://issuu.com/daniellelessio/docs/monografia 18.04.16 16h15min) IMAGEM 14: Vista Chaminé União e Antártica pela Rua João Antônio de Oliveira (Fonte: Acervo Pessoal) 101


IMAGEM 15: Fachada Deteriorada Av. Presidente Wilson (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 16: Expansão das Indústrias (Fonte: http://www.geografiaparatodos.com.br/ captulo_11_a_industria_no_brasil_files/image034.gif 12.03.16 13h20min) IMAGEM 17: Gráfico de Indústrias na Região Metropolitana de São Paulo ( Fonte: www. capes.gov.br/apoio-a-eventos/paep 12.03.16 13h20min) IMAGEM 18: Relação Edifício histórico e anexo (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 19: Interior Sesc Pompéia (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 20: Caminho que interliga o complexo (Acervo pessoal de Marcelo Beretta) IMAGEM 21: Anexo Tate Modern (Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-9310/em-obras-avancos-do-novo-edificio-tate-modern-de-herzog-e-de-meuron-londres-inglaterra 12.05.16 13h30min) IMAGEM 22: Interior Tate Modern (Fonte: http://www.archdaily.com/429700/ad-classics-the-tate-modern-herzog-and-de-meuron 12.05.16 13h30min) IMAGEM 23: Vista Aérea Tate Modern (Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/774197/expansao-do-tate-modern-de-herzog-and-de-meuron-sera-inaugurada-em-2016 12.05.16 13h30min) IMAGEM 24: Fachada Officina Vanorden (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 25: Planta Estação Mooca CPTM (Fonte: Ralph M. Giesbrecht, disponível no site: http://www.estacoesferroviarias.com.br/m/locais/mooca.htm 12.04.16 15h30min) IMAGEM 26: Entrada Estação CPTM (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 27: Entrada Estação CPTM (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 28: Passagem pelo Viaduto Prof. Alberto Mesquita de Camargo. (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 29: Passagem pela passarela metálica. (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 30: Desenhos de 1909, projeto de Jorge Krug; (Fonte: Arquivo Municipal) IMAGEM 31: Fachada Officina Vanorden em 1909 (Fonte: http://www.saopauloantiga. com.br/casa-vanorden-1922-2015) IMAGEM 32: Fachada Officina Vanorden em 2016 (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 33: Recorte do Zoneamento de Uso do Solo do bairro da Mooca. (Fonte: Prefeitura do Município de São Paulo.) IMAGEM 34: Mapa de tombamento, resolução Nº 14/2007. (Fonte: CONPRESP) IMAGEM 35: Vazio ao lado da ferrovia (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 36: Fachada estacionamento (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 37: Diagrama Edifícios Notáveis no Entorno (Fonte: Acervo Pessoal) 102


IMAGEM 38: Levantamento do Entorno (Fonte: Acervo Pessoal, base google) IMAGEM 39: Diagramas de Implantação (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 40: Implantação (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 41: Diagramas Visuais (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 42: Render praça central (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 43: Planta Acesso (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 44: Planta praça semi-rebaixada (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 45: Planta 2º pav. biblioteca (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 46: Planta 1º pavimento (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 47: Planta 2º pavimento (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 48: Planta 3º pavimento (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 49: Corte AA (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 50: Corte CC (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 51: Corte BB (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 52: Render edifício rampa (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 53: Elevações (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 54: Vista interna Biblioteca (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 55: Vista circulação FabLab (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 56: Render vista ferrovia (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 57: Vista área de exposições (Fonte: Acervo Pessoal) IMAGEM 58: Vista dentro da Estação CPTM (Fonte: Acervo Pessoal)

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