BRASÍLIA: A cidade que nasce no coração do Brasil carrega consigo um significado questionável
BRASÍLIA X ALPHAVILLE Mesmo separadas por milhares de quilômetros, a capital nacional pode ser comparada com Alphaville, bairro nobre no inteiror da cidade de São Paulo.
DOMADORES DO IMAGINÁRIO Conheça os grandes nomes por trás da gloriosa capital nacional
I. Arquitetura e modernismo............................................ pág. 3 II. Os pais de Brasília....................................................... pág. 4 III. Figuras de destaque................................................... pág. 6 IV. O desenvolvimento da utopia brasiliense ............... pág. 7 V. Niemeyer pelo Brasil.................................................... pág. 9 VI. Brasília: corpo estranho?......................................... pág. 12 VII. Brasília x Alphaville ................................................. pág. 14
ARQUITETURA DE UM SONHO
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Bruno Modenezi Rossetto Carolina Bavaresco Tomchinsky Carolina Kee Park Gustavo Marasca Baldasso Izabella Valdovino Moraes Luana Bambini Vasconcellos Vict贸ria Firmino da Silva
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ARQUITETURA E MODERNISMO
O modernismo foi um movimento artístico e cultural iniciado na Europa, caracterizado por apresentar formas geométricas definidas, sem ornamentos, panos de vidro contínuo e integração da arquitetura com a paisagem. Os arquitetos modernistas buscavam o racionalismo e o funcionalismo em seus projetos. No Brasil, uma das grandes obras e símbolo do modernismo é a construção de Brasília, que toma forma no plano urbanístico desenhado por Lúcio Costa ao lado da genialidade criativa de Niemeyer. Percebe-se a marca do modernismo nos principais monumentos arquitetônicos, construídos ao longo do eixo monumental, que corta o plano piloto no sentido leste/oeste. O projeto ordena o espaço nas escalas de uso, dentro da qual cada função urbana cria estruturas próprias e identificáveis. O Plano Piloto não responde somente à densidade populacional, mas ao tratamento da paisagem através do emprego daquilo que chamamos de técnicas rodoviárias e paisagísticas. O resultado desse conjunto arquitetônico são prédios, monumentos e espaços públicos que viraram verdadeiras obras de arte a céu aberto. POR IZABELLA VALDOVINO
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OS PAIS DE BRASÍLIA Conheça aqueles que deram vida à capital nacional brasileira.
OSCAR NIEMEYER
Nascido em 15 de dezembro de 1907, no Rio de Janeiro, Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho ganhou destaque por apresentar importante papel na construção da capital planejada do Brasil, localizada no coração do país. Criou e inovou espaços, formas e curvas, domando o concreto e desafiando o cálculo e a lógica. Rara figura como profissional e cidadão, acreditava que a arquitetura deveria provocar espanto, surpreender ao primeiro olhar e orgulhar pela ousadia. O contato com o pioneiro da arquitetura modernista no Brasil, Lúcio Costa, influenciou Niemeyer de forma que, mais tarde, ambos trabalharam juntos na construção de obras para a grande Brasília.
Sua arquitetura do período desenvolveu o estilo brasileiro. As obras de Niemeyer representam uma das mais fortes imagens do processo de modernização brasileira no século 20. Em 1957, Niemeyer, responsável por projetar os edifícios da capital, une-se a Lúcio Costa, responsável por desenvolver o plano piloto da cidade. Resultam daí formas inusitadas que parecem pousar no chão miraculosamente, atingindo um ideal longamente perseguido na história da arquitetura: a associação entre leveza e gratuidade. As obras de Brasília foram iniciadas em novembro de 1956 e finalizadas em 1980 - a inauguração se deu no dia 21 de abril do mesmo ano. Seu nome virou sinônimo de sua arquitetura, cujo estilo espalhou-se pelo mundo e influenciou gerações. Por apresentar projetos repletos de formas, dar vida aos desenhos de Niemeyer foi um grande desafio conquistado pela engenharia. Morreu aos 104 anos, em sua cidade natal, no dia 5 de dezembro de 2012, às margens de seu 105º aniversário.
POR CAROLINA TOMCHINSKY
Linha do tempo Oscar Niemeyer:
1928
Casa com Annita Baldo, filha de imigrantes italianos, com a qual terá uma filha, Anna Maria Niemeyer. 1900
Matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, que será dirigida, a partir de 1931, por Lucio Costa. Se forma em 1934.
1920
1907
Nasce, dia 15 de dezembro, no Rio de Janeiro, Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho.
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1940
1929
1930
1935
Inicia sua vida profissional no escritório de Lucio Costa.
1936
Entra em contato com Juscelino Kubitschek, ainda prefeito de Belo Horizonte, que encomenda a Niemeyer o Conjunto Arquitetônico da Pampulha. 1940
Conhece o arquiteto Le Corbusier, que chega ao Rio de Janeiro a convite de Lucio Costa, para atuar como consultor nos projetos do MES e da Cidade Universitária.
LÚCIO COSTA
Lúcio Costa, também conhecido como mentor da Arquitetura Moderna Brasileira, nascido em Toulon, França, em 27 de fevereiro de 1902, veio ao Brasil em 1917. Posteriormente, passou a frequentar o curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes e logo se tornou um arquiteto, urbanista e professor brasileiro. Ficou conhecido mundialmente pelo projeto do Plano Piloto de Brasília. Em oposição com a escola, Lúcio passou a considerar influências da obra do arquiteto franco-suiço Le Corbusier. Em 1930, por indicação de Rodrigo Melo Franco de Andrade, influente entre os modernistas de São Paulo e Rio de Janeiro, Lúcio Costa foi nomeado para dirigir a Escola Nacional de Belas Artes, com o dever de renovar o ensino das artes plásticas e implantar um curso de arquitetura moderna.
Oscar Niemeyer foi um de seus alunos que acabou por ter a honra de desenvolver, ao lado de seu professor, o projeto do Ministério de Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Em 1957, quando lançado o concurso para a nova capital do país, Costa enviou sua ideia para um anteprojeto, contrariando algumas normas do concurso. Mesmo assim, venceu quase por unanimidade, embora acusado pelos concorrentes. O projeto desenvolvido foi o Plano Piloto de Brasília e, assim como Niemeyer, passou a ser conhecido mundialmente como protagonista de grande parte dos prédios públicos e da capital nacional brasileira. O planeamento de Lúcio Costa punha em prática os conceitos modernistas de cidade: o automóvel no topo da hierarquia viária, propiciando o deslocamento da cidade (contudo, em seus projetos, ele também criou a Estação Rodoferroviária de Brasília) e os blocos de edifícios afastados em pilotis sobre grandes áreas verdes. Com o objetivo de remeter aos projetos de Le Corbusier na década de 20 e seu projeto para a cidade de Chandigarh, Brasília possui diretrizes pela escala monumental dos edifícios governamentais. A cidade de Lúcio Costa também possui conceitos semelhantes aos dos estudos de Hilberseimer. Em seguida de Brasília, recebeu convites para coordenar vários planos urbanísticos no Brasil e exterior. Colaborou e dirigiu o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Faleceu em 13 de junho de 1998, aos 96 anos, no Rio de Janeiro. Lúcio Costa realizou 106 projetos, sendo os mais conhecidos o Plano Piloto de Brasília e Plano Piloto da Barra da Tijuca. POR LUANA BAMBINI
1956
É convidado pelo presidente JK para projetar a nova capital. É encarregado de organizar o concurso para escolha do planopiloto de Brasília. 1950
1957/58
1967
Impedido de trabalhar no Brasil por ser membro do Partido Comunista, decide instalar-se em Paris, realizando diversas obras pela Europa e pelo mundo. 1960
Em Brasília, executa os projetos do Palácio da Alvorada, do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.
2006
Casa-se com Vera Lúcia G. Niemeyer, no Rio de Janeiro.
1980 2000
1981
Retorna ao Brasil e realiza diversos projetos: Memorial JK, Sambódromo do Rio de Janeiro, entre outros.
2010
2012
Morre, no dia 06 de junho, sua única filha. O arquiteto Oscar Niemeyer falece, dia 05 de dezembro, no Rio de Janeiro, na véspera de seu 105º aniversário. ARQUITETURA DE UM SONHO
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FIGURAS DE DESTAQUE
ALFREDO CESCHIATTI
ATHOS BULCÃO
MARIANNE PERETTI
ROBERTO BURLE MARX
Ceschiatti, escultor, desenhista e professor brasileiro, foi o principal escultor de Brasília. Responsável por realizar esculturas no Palácio da Alvorada, Supremo Tribunal Federal, Catedral Metropolitana, Palácio do Itamaraty, Câmara dos Deputados e Teatro Nacional, foi professor de escultura e desenho na Universidade de Brasília. Alfredo procurou explorar, em seu trabalho, a figura feminina, representada em suas obras com formas curvilíneas, puras e arredondadas.
Bulcão, pintor, escultor, desenhista e artista brasileiro, foi responsável por colorir diversos edifícios com seus painéis pela cidade de Brasília, exibindo, assim, sua arte e seu talento próprio ao mundo. Com Oscar Niemeyer, deu luz, cor e vida à capital, colaborando para inovar a cidade através de suas mundialmente reconhecidas formas. É possível ver, em seu trabalho, traços de harmonia, como presente no painel da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, por exemplo.
Peretti, artista plástica parisiense, de mãe francesa e pai pernambucano, foi a única mulher na equipe de Oscar Niemeyer na construção de Brasília, responsável por realizar diversos vitrais ao longo da capital. Marianne é pouco reconhecida por seu trabalho, já que seu nome é pouco mencionado e raramente associado aos vitrais que realiza. Mesmo assim, é, de acordo com Oscar Niemeyer, “uma artista que compreende o sentido das artes. É uma artista de excepcional talento”. Seus vitrais, vistos na Catedral Metropolitana, no Memorial JK, na Câmara dos Deputados e em outras diversas localizações no coração do país, ficaram conhecidos de “vitrais dos trópicos”, justamente pela presença da luz.
Burle Marx, considerado um dos maiores paisagistas do século XX no Brasil, foi responsável por realizar o projeto dos mais belos jardins de Brasília, deixando marcas de sua criatividade e originalidade espalhadas pelo Plano Piloto. Também conhecido como “Poeta dos Jardins”, o paisagista marcou seu nome na história da Capital Federal compondo jardins como quem cria obras de arte.
POR CAROLINA TOMCHINSKY
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Foto: Carolina Park
Maquete do Plano Piloto no Espaco Lúcio Costa.
O DESENVOLVIMENTO DA UTOPIA BRASILIENSE A construção da grande capital, um sonho que começou ainda antes do Brasil republicano, foi dada em apenas quatro anos e caracterizada pelo emprego da modernidade utópica e do monumentalismo, visando a criação de um novo Brasil. A ideia de transferir a capital do Brasil para o interior do país já surgia em meados do século XVIII, sendo apoiada por inconfidentes mineiros. Esta, no entanto, não foi levada adiante nem com a proclamação da independência do país, em 1822, quando manifestavam-se diversos projetos e propostas para a interiorização da capital. Foi na Constituição da República, de 1891, que, finalmente, foi incluído um artigo que constatava que uma área, no planalto central da República, seria demarcada e pertenceria ao Estado, para a construção da futura capital. Apenas em 1956, com Juscelino
Kubitschek eleito presidente, as primeiras obras da nova capital federal, então denominada Brasília, se consolidaram. Estas se prolongaram por somente 4 anos, na velocidade de um mandato, sendo a inauguração em 21 de abril de 1960, visto que seu governo tinha um caráter progressista. A construção de cidade foi uma prioridade no plano de governo de Kubitschek, que visava tornar Brasília o centro da modernidade e progresso brasileiro. Para tanto, contou com Oscar Niemeyer — um dos mais originais arquitetos que marcaram a estética modernista e já conhecido,
na época, pelo planejamento do Conjunto da Pampulha — para projetar todos os edifícios públicos da capital. Niemeyer também foi escolhido para chefia do Departamento de Urbanística e Arquitetura, sendo encarregado de abrir um concurso para escolha do projeto urbanístico que seria a base para o erguimento da cidade. Desse modo, o governo anunciou, em março de 1957, o concurso de escolha do Plano Piloto, cujo vencedor foi o urbanista Lúcio Costa. O projeto do urbanista consistia em uma planta em forma de um avião, onde o eixo norte-sul teria ARQUITETURA DE UM SONHO
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função de tronco circulatório, com pistas de alta velocidade cruzadas por pistas laterais que distribuiriam o tráfego para os setores residenciais e de lazer. Já no eixo monumental, leste-oeste, ficaria o centro político, concentrando os centros administrativos e os setores comercial e cultural. Para a projeção de Brasília, Niemeyer e Costa buscaram uma imagem de modernidade: Brasília deveria ser uma utopia que traçaria as imagens do futuro da nação, espelhando a proposta desenvolvimentista
“[...] NA ARQUITETURA DA CIDADE, NÃO SE VÊ APENAS ESTRUTURAS E EDIFÍCIOS COM ASPECTOS MERAMENTE FUNCIONAIS: HOUVE GRANDE PREOCUPAÇÃO NA CRIAÇÃO DE FORMAS CLARAS, LEVES, ELEGANTES, BELAS E MODERNAS.” Esses trabalhadores foram denominados “candangos”. Entretanto, o curto prazo da construção, que exigia seu término para 21 de abril de 1960 (ou seja, no fim do mandato de JK), resultou em um trabalho intensamente árduo desses trabalhadores. Além disso, em decorrência da falta de ferrovias e rodovias para o transporte de pessoas e materiais de outras regiões para o interior do país, tiveram que ser construídos quilômetros dessas vias e ser utilizado o transporte aéreo,
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de JK. Dessa forma, na arquitetura da cidade, não se vê apenas estruturas e edifícios com aspectos meramente funcionais: houve grande preocupação na criação de formas claras, leves, elegantes, belas e modernas. Dentro desse padrão, Oscar Niemeyer trabalhava com formas curvas e sensuais nos edifícios, enquanto Lúcio Costa projetava conceitos modernistas ao fazer Brasília uma cidade para automóveis, focando no planejamento das rodovias.
Ainda em 1956, iniciavamse os processos de terraplanagem e uma das primeiras obras da Capital já havia começado: a construção do Catetinho, a residência presidencial provisória. Em 1957 o Plano Piloto de Lúcio Costa já surgia em meio ao cerrado brasiliense. As obras contaram com uma grande quantidade de trabalhadores que foram atraídos, principalmente do Nordeste, à nova capital devido à concepção de otimismo que esta e Kubitschek traziam.
Croqui do Plano Piloto para Brasília realizado por Lúcio Costa
contribuindo para altos custos da obra, os quais, até hoje, permanecem inestimados. Por fim, ao contrário do que muitos esperavam ser possível, a Capital foi inaugurada na Praça dos Três Poderes na data prevista e, a partir de então, iniciou-se a transferência dos principais órgãos do Governo Federal para a nova capital com a mudança das sedes dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Diferente do desenvolvimento de outras cidades, o plano
urbanístico de Brasília foi completamente e diligentemente planejado; não houve um surgimento e uma expansão natural. Portanto, Brasília, apesar de ter sido projetada para ser um exemplo de ordem, eficácia urbana e uma cidade utópica onde se pretendia eliminar as classes sociais, na realidade, sofreu distorções em sua proposta idealista primitiva, gerando um crescimento desordenado, uma segregação das classes baixas para a periferia e uma concentração da elite no local.
POR CAROLINA PARK
NIEMEYER PELO BRASIL Conheça obras de Oscar Niemeyer, caracterizadas por fugirem da convencionalidade e merecedoras de destaque através da conjunção de recursos inovadores.
CONGRESSO NACIONAL
É o setor do poder executivo do governo federal brasileiro e é onde está localizado o gabinete presidencial do Brasil. Sua construção começou em 10 de julho de 1958 e incluiu o desafio de concretizar as ideias de Niemeyer a respeito das colunas curvas da fachada (também conhecida como “velas”). E então foi concluída e em 1960 inaugurada.
O edifício projetado por Oscar Niemeyer segue os padrões da arquitetura brasileira moderna. Diante da semiesfera da esquerda se encontra o Senado, enquanto na da direita se encontra a Câmara dos Deputados. Entre eles há duas torres onde ficam os escritórios. Foi inaugurado em 1960 e é um dos três edifícios que forma a Praça dos três poderes.
PALÁCIO DO PLANALTO
Foto: Leandro Neymann Ciuffo
Foto: Mario Roberto Duran Ortiz
Oscar Niemeyer, uma das figuras chave no desenvolvimento da arquitetura moderna, ficou conhecido, principalmente, pelas curvas que caracterizam a maioria de suas obras. Além disso, criou um estilo que desafiava o cálculo e a lógica da engenharia, e, entre o belo e o funcional, optou pela surpresa e a invenção, o que pode ser visto claramente em todas as suas obras que se encontram não só no Brasil, mas espalhadas pelo mundo. Um projeto importante e que destacou e elevou a carreira de Oscar Niemeyer foi o projeto da cidade de Brasília, atual capital do Brasil, que tem grande fama por ter sido projetada de modo a atingir o título de “capital moderna, a mais bela capital deste mundo” (Juscelino Kubitschek).
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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Localizado em Belo Horizonte (MG), o conjunto arquitetônico da Pampulha foi projetado por Oscar Niemeyer por encomenda do prefeito Juscelino Kubitscheck. Construído entre 1942 e 1944, é um projeto que engloba diversos edifícios em torno do lago artificial da Pampulha.
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Com a arquitetura de Oscar Niemeyer e a construção de Joaquim Cardoso, a catedral foi o primeiro monumento a ser criado em Brasília e se encontrava pronta em 1960, porém, teve sua inauguração apenas em 31 de maio de 1970. Localiza-se em uma praça a onde foram construídas quatro esculturas em bronze com três metros de altura, representando os evangelistas.
CONJUNTO ARQUITETÔNICO DA PAMPULHA Foto: Andre Borges Lopes
Foto: Carolina Park
CATEDRAL METROPOLITANA
Foto: Gil Ferreira
É a mais alta instância do poder judiciário brasileiro e acumula competências típicas de uma Suprema Corte (tribunal de última instância) e de um Tribunal Constitucional (que julga questões de constitucionalidade). O edifício teve sua primeira sessão em 21 de abril de 1960 e divide a Praça dos três poderes com o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto.
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IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Foto:Tuca Vieira
Também conhecida como Igreja da Pampulha, encontra-se localizada no Conjunto Arquitetônico da Pampulha. Oscar Niemeyer, no projeto da capela, experimenta a plasticidade do concreto, criando uma abóboda (cobertura encurvada) até então que só tinha sido utilizada em hangares. Além disso, foi inaugurada em 1943 e é considerada a obra prima do conjunto.
NIEMEYER PELO MUNDO SEDE EDITORA MONDADORI
Foto: https://designkultur.files.wordpress.com/2010/12/editora_mondadori_iv11.jpg
Foto: Marieta
CENTRO CULTURAL INTERNACIONAL OSCAR NIEMEYER
POR VICTÓRIA FIRMINO
O prédio principal da Editora Mondadori foi projetado em 1968 e se encontra em Milão. Nessa obra é possível ver que Niemeyer utiliza sua técnica das formas curvas. “Recordo como fiquei satisfeito ao ver a fachada desenhada, ao sentir que naquele ritmo de arcos tão diferentes - de 3 a 15 m de vão - estava a minha contribuição de arquiteto” (Oscar Niemeyer). O Centro Cultural, cuja construção durou de 2008 a 25 de março de 2011, localiza-se em Avilés, Espanha. É caracterizado por possuir cinco espaços que compõem o centro: o Auditório, a Cúpula, a TorreMirante, o Edifício Polivalente e a Praça Aberta, descritos por Oscar Niemeyer como “uma praça aberta a todo mundo, um lugar para a educação, a cultura e a paz”. ARQUITETURA DE UM SONHO
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BRASÍLIA: CORPO ESTRANHO? Brasília, localizada no coração do país e cercada pelo cerrado virgem, é apenas uma falsa segurança de progresso.
Brasília é artificial. Foi inteiramente planejada e, consequentemente, não cresceu de modo natural: sua construção concretizou-se em apenas quatro anos, com o objetivo inicial de difundir a modernidade no interior do país e cultivar ideias igualitárias. Mesmo sintética, a capital nacional reflete com fervura o ser humano atual, fruto da modernidade em transformação, com traços de isolamento, fetichismo e individualismo. Belíssima, é uma espécie de ilha isolada, alheia à vida a seu redor e ao povo que a circunda. A cidade é uma concentração de modernidade — sem mencionar a de renda per capita, que é 5 vezes maior do que a média do Brasil — que contrasta com as cidades satélites ao seu redor: verdadeiras periferias onde moram não só os trabalhadores da base da pirâmide social, mas também a violência. ARQUITETURA DE UM SONHO | | 13
De qualquer forma, a capital nacional O aspecto mais comovente da traz uma mistura de incômodo e fasarquitetura de Brasília é a desastrada cínio, justamente por ser notoriamente traição de seus próprios princípios, de e acintosamente diferente do restante forma a fazer com que o povo acredite do Brasil: Brasília ostenta seu próprio que, além do Brasil, a política e os seus progresso e singularidade. Seus parespectivos representantes pudessem radoxais monumentos, apesar de menascer de novo; perante crises nos grandiosos e impressionantes ao políticas, econômicas e representavivo do que quando vistivas, o povo agarra qualtos por telas, continuam “O ASPECTO MAIS quer possibilidade de grandes demais para seEntretanto, hoje COMOVENTE DA melhora. rem acolhedores. em dia, “Brasília” tornouARQUITETURA se, contraditoriamente, A cidade surgiu como um símbolo de esperança, DE BRASÍLIA É sinônimo de distanciacom o objetivo de quemento e indiferença. A DESASTRADA brar as correntes que coAlém disso, é justamente nectam o Brasil atual com tal indiferença que cria em TRAIÇÃO DE o Brasil escravocrata, tal metrópole, tão isolada SEUS PRÓPRIOS conservador, ditatorial e e tão distante, um muro PRINCÍPIOS” intolerante. Brasília nasceu entre os representantes e com o propósito de negar os representados: aqueles o passado através da fantasia de que, que deveriam refletir os interesses com a construção de uma cidade com do povo brasileiro vivem isolados em ideais progressistas e modernistas, uma utopia brasiliense, sempre em todo o subdesenvolvimento do país contato com uma realidade distorcida, seria anulado. De acordo com Juscelino fantasiosa e totalmente diferente. Kubitschek, a nova capital fora projeEm 2000, o IDH do Plano Piloto tada como “um rompimento completo comparava-se com o da Austrália, com o passado, uma possibilidade de país que ocupa a segunda posição do recriar o destino do país”: consiste em respectivo ranking mundial. Enquanto acreditar na possiblidade do Brasil esisso, o Brasil perde para outros oitenta escapar de si mesmo. e quatro paí-ses, colocando-se na 85ª
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“NENHUM MONUMENTO DO SÉCULO XX FOI MAIS ESPETACULAR QUE BRASÍLIA, A CAPITAL CONSTRUÍDA NO MEIO DO NADA” posição. As cidades e até metrópoles, como São Paulo e Rio de Janeiro, ficam do outro lado das extensas áreas de cerrado virgem que cercam a capital nacional, mostrando que Brasília pode, certamente, ser vista como um corpo estranho no meio do Brasil. Os brasileiros enxergaram nela, inicialmente, o fim do atraso à modernidade, mas, com o passar do tempo, a capital tornou-se ignorante perante os problemas presentes ao seu redor. É certo que, diante a tantos elogios e tamanha grandiosidade, Brasília só poderia ter decepcionado. Mesmo assim, a arquitetura da capital surge como um símbolo mundial, representando a inovação, a transparência e a prosperidade. Nenhum monumento do século XX foi mais espetacular do que Brasília, a capital inaugurada no meio do nada. E, consequentemente, foi a única capacitada a produzir efeitos tão contraditórios. Sua grandeza paradoxal, seus gloriosos princípios e seu impacto político tornam-na incomparável a qualquer outra estrutura contemporânea. Apesar da traição de seus próprios propósitos, a história de sua criação continuará sendo conhecida pelo seu resultado: estruturas arquitetônicas inovadoras e incomparáveis. POR CAROLINA PARK E CAROLINA TOMCHINSKY ARQUITETURA DE UM SONHO
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BRASÍLIA X ALPHAVILLE A arte é a pura manifestação da estética, muito bem representada pela magnífica arquitetura de Brasília. A arquitetura é a combinação entre beleza, conforto e expressividade, de modo que cada construção sempre represente algo a mais do que os olhos podem ver. Cada obra de Brasília possui seu próprio significado: as grandes janelas dos três poderes, Supremo Tribunal Federal, Palácio do Planalto e Congresso Nacional, denotam a transparência e a honestidade, mostrando os princípios que todos os políticos devem seguir e representando a política ideal. Dessa forma, é notável que a arquitetura esteja ligada a outros fatores além de tetos e paredes, proporcionando reflexões sobre cidades, casas ou prédios.
BRASÍLIA
Brasília é uma cidade planejada para ser a sede do poder nacional, a qual foi construída por Oscar Niemeyer e Lucío Costa no meio do cerrado brasileiro, ou seja, afastada de cidade grandes como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. A construção de Brasília levaria o modernismo para o cerrado mas, por ter sido construída tão longe de núcleos urbanos, pode causar questionamentos. O plano inicial de Brasília era uma ótima ideia pois a modernização do interior traria uma maior importância à região, a qual seria a capital do país. Além disso, a cidade teria um lazer público por conta das superquadras, dos edificios sem muros ou portarias. O questionamento perante Brasília é construído por esta ser afastada de outras capitais, o que aconteceu pois o poder nacional queria se proteger do povo, ou seja, afastar a democracia da população. Dessa forma, vemos que, em primeiro plano, a construção de Brasília apresenta uma proposta favorável que visa ajudar uma região pouco povoada mas que, ao mesmo tempo, pode prejudicar um sistema político por afastar o governo do povo.
ALPHAVILLE
O preconceito é um atributo da desigualdade social. É causado pela falta de conhecimento e pela grande ignorância presente. Sempre tememos o desconhecido por julgar, descriminar e desentender, criando, assim, fobias e medos cada vez maiores e forçando pessoas a se esconderem por traz dos muros de suas casas, com portas trancadas em condomínios fechados com seguranças armados, isolados do resto da cidade. Nesse sentido, o bairro de Alphaville é o melhor exemplo aonde o medo afastou a população dos grandes núcleos urbanos. Por Alphaville ser projetada para a elite, o lazer público fica cada vez mais distante daqueles com menor bolso. Os lazeres proporcionados por Alphaville estão sempre ligados à áreas comercias como shoppings, centro comerciais e restaurantes. Lazeres comunitários, como quadras e parques, são encontrados apenas dentro de condomínios fechados, justamente para privatizar a segurança e conforto, de modo que aqueles com um menor bolso não consigam ter um aproveitamento do bairro igual aos que tem bolsos maiores. Portanto, Alphaville é a prova que a pequena porção da elite prevalece com os seus direitos sobre a maior proporção das pessoas. Alphaville é, sem dúvidas, a maior prova de que, mesmo localizado em uma cidade modernista, os direitos de poucos (elite) prevalecem, sendo estes maiores do que os direitos da população com renda menor, e todos fecham os olhos em frente a isso.
Na imagem ao lado, podemos ver que a concentração demográfica é drasticamente maior em cidades como São Paulo, na qual localiza-se Alphaville, do que em Brasília.
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BRASÍLIA x ALPHAVILLE
Brasília e Alphaville têm suas semelhanças e diferenças. Ambas possuem dois objetivos distintos: o objetivo da construção da capital é construir uma “cidade-estado” que fosse a capital do país e sede do poder nacional; enquanto isso, o objetivo de Alphaville é apenas se afastar de cidades maiores e perigosas, como São Paulo, para ter mais segurança. Por um lado, esses dois locais foram planejados, mesmo com objetivos diferentes. Ambas são afastadas e foram construídas com o intuito de serem frequentadas pela elite e, além disso, ambas possuem seu planejamento diferente da proposta inicial. Por outro lado, em Brasília, conseguimos encontrar lugares que visam o público, como visto nas superquadras: extensões residenciais abertas ao público que sustentam-se em pilotis (permite o livre acesso) e possuem comércios. Cada superquadra possui um único acesso comum, garantindo um tráfego mais calmo e em menor velocidade. Já em Alphaville, encontranos condomínios, que se opõe às superquadras, já que visam completamente o privado, além de serem murados.
Vista aérea das superquadras, projetadas pelo urbanista Lúcio Costa.
Vista aérea do bairro de Alphaville, localizado na cidade de São Paulo.
Vista aérea do condomínio murado Residencial Nove, localizado em Alphaville.
POR BRUNO ROSSETTO E GUSTAVO BALDASSO ARQUITETURA DE UM SONHO
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“NÃO É O ÂNGULO RETO QUE ME ATRAI,NEM A LINHA RETA, DURA, INFLEXÍVEL, CRIADA PELO HOMEM. O QUE ME ATRAI É A CURVA LIVRE E SENSUAL, A CURVA QUE ENCONTRO NAS MONTANHAS DO MEU PAÍS, NO CURSO SINUOSO DOS MEUS RIOS, NAS ONDAS DO MAR, NO CORPO DA MULHER PREFERIDA. DE CURVAS É FEITO TODO O UNIVERSO, O UNIVERSO CURVO DE EINSTEIN”.
OSCAR NIEMEYER