Fotos: Carol Corso
CONEXÃO FAÇA CHUVA OU... CHUVA Por Carol Corso
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Um dos ditados irlandeses mais famosos diz: se você não gosta do clima, espere cinco minutos. Essa frase tem um sentido bastante forte, especialmente para quem se desloca a pé ou de bicicleta na capital irlandesa. Em Dublin, é sempre conveniente estar preparado. Sol, chuva, vento e tempestade se misturam e marcam presença em poucas horas de um dia e em uma ve-
locidade inexplicável. Desta forma, calça e jaqueta impermeáveis são acessórios bem atrativos para quem pedala e quer se manter seco. Depois disso, é seguir pelas ciclovias e ficar atento aos vidros espalhados pelas ruas. Dublin é uma mina de cacos, especialmente na área central. Por isso, furar um pneu fica bem fácil por aqui, principalmente para os mais distraídos. E quem não sabe como fazer um remendo ou trocar a câmara terá que arcar com um conserto que custa cerca de 12 euros. Em Dublin, faça chuva ou faça chuva, é costume também ventar bastante, especialmente no outono e no inverno. Então, quem está na rua se molhando, precisa ser bastante
firme no equilíbrio e nas pernas. Ciclista veterano sabe o quão chato pode ser pedalar contra o vento. Mas na primavera e no verão, finalmente, o clima pega mais leve. Fora as metamorfoses climáticas, Dublin, como muitas outras cidades, também sofre com uma parcela que desconsidera a boa conduta no trânsito. É muito fácil, por exemplo, encontrar vários carros parados em cima das ciclovias quando não há onde estacionar, principalmente na região central. Desta forma, pedalar pelas ruas principais, especialmente em horários de pico, é mais complicado do que o usual. Taxistas “tirando um fino” de quem pedala também se fazem presentes por aqui. Mas a maioria mostra
bastante respeito e conscientização sobre o trânsito de bikes e procura andar devagar e distante quando vê um ciclista por perto. Por outro lado, Dublin detém a vantagem e orgulho de estar em nono lugar entre as 20 melhores cidades do mundo para andar de bicicleta no ranking da Copenhagenize. A capital apresenta benefícios que fazem esquecer qualquer mau tempo e caquinhos de vidro. A cidade é super plana e é bem difícil de se deparar com grandes morros no caminho. Além disso, Dublin disponibiliza ciclovias em quase todas as ruas. De acordo com dados do Dublin City Cycling, Unidade de Ciclismo, Estradas e Departamento de Trânsito da cidade, a Câmara Municipal de 39
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Dublin começou a instalação de ciclovias em meados dos anos 1990. Hoje elas somam quase 200 quilômetros. Há também diversos incentivos, como o Dublin Bikes, sistema de aluguel de bicicletas, pela barganha de 20 euros anuais. Outro projeto é o Bike to Work, destinado a quem deseja pedalar até o local de trabalho. O profissional pode pedir auxílio à empresa para adquirir sua bicicleta e equipamentos de segurança no valor de até mil euros. O empresário ajuda custeando a magrela e acessórios, isento de impostos. Também há aplicativos su-
per bacanas e gratuitos que auxiliam em rotas para ciclismo mais convenientes, como o Dublin Cycle Planner, um app que indica a distância, se as ruas do trajeto serão muito movimentadas e até uma média das calorias que irá precisar para chegar ao destino. Apesar de todas as estruturas e incentivos que Dublin oferece, o melhor de tudo é a sensação de liberdade e a possibilidade de escolha. Ter a chance de eleger a bicicleta como opção e sair livre pedalando. Poder chegar mais rápido ao destino e não depender da espera. Contribuir para uma cidade mais humana, com menos poluição e barulho de motor. Essa sim é a melhor vantagem de todas, quando uma cidade proporciona livre-arbítrio e um sistema de locomoção digno para todos.
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