Fragmentação do objeto | Apropriação do espaço

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CONTRA-RÓTULA

fragmentacao do objeto

APROPIACAO DO ESPACO



fragmentação do objeto

apropriação do espaço universidade presbiteriana mackenzie faculdade de arquitetura e urbanis mo trabalho final de graduação

orientadora | prof a dr a lizete maria rubano caroline côrte-real bastos são paulo 2 015



agradecimentos

Aos professores Lizete Rubano, Igor Guatelli, Lucas Fehr e Daniel Corsi. À minha família, Duval Bastos, Sylvana Côrte-Real e Lucas Côrte-Real, por todo suporte e dedicação. Aos amigos, Maria Clara Manesco e Renato Assada, por todo apoio e companheirismo. E aos colegas da tur ma Mackenzie 310, em especial, Anna Rossi, Daniela Ramos, Ga briela Bandeira, Hingrid Fer nandes, Luna Galletti, e Thais Zuchetti.



sumário

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capít uloum panorama urbano

024

capít ulodois espaço e indivíduo

048

capít ulotr ê s est rat égias

078

capít uloquatr o hipót ese

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bibliogr afia

dinâmica lugar percurso


capĂ­tuloum

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panorama urbano

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“O se n ti d o d a r e lação h u man a r eduz - se à produçãotr o ca- m er cad o. A q u i to d as as r e lações se concent ram e, ass i m, to d o s o s lu g ar e s d a cidade são vist os, p r o j e t ad o s, p r o je tad o s d e n o v o, t ransf or mados em fu n ção d e s tas.” | CA CCIARI, 2009, p.31 |

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Co n s tr u ir e morar em cidades, desde o princípio de sua f or maçã o, co n s is te necessariamenet e em viver de f or ma colet iva. A part i r d a n e ce s sidade de organiz ação dessa vida pública na cidad e, e me r g iu um poder urbano, aut oridade polit ico- administ rat i va e n car r e g a da de sua gest ão. A relação ent re os moradores d a cid ad e e esse poder urbano variam int ensament e de acord o co m lo cais e períodos vividos, “mas o cert o é que desde a sua o r ig e m cidade signif ica, ao mesmo t empo, uma maneira d e o r g an izar o t errit ório e uma relação polít ica.” (ROLNIK , 200 9 , p. 2 1 ) . A s ag lo m erações dos indivíduos, pot encializ aram sua s r e laçõ e s de colaboração e f avoreceram – em decorrência d a e s p e cializ ação do t rabalho – sua sobrevivência at ravés d a tr o ca. A part ir dessa relação podemos ent ender o que f oi o s u r g ime n to do mercado, que t inham sua ext ensão def ini d a d e aco r d o com o domínio t errit orial da cidade. A expansã o me r can til ocorreu quando as cidades passaram a se organiz a r e m fu n ção do mercado, gerando um t ipo de est rut ura urba na q u e n ão só opera uma reorganiz ação do espaço int er no, m a s tamb é m r edef ine t odo o espaço circundant e, at raindo grand es p o p u laçõ es para a cidade.

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“a transformação da vila medieval em cidade-capital de um Estado moderno vai operar uma reorganização r a d i c a l n a f o r m a d e o r g a n i z a ç ã o d a s c i d a d e. O primeiro elemento que entra em jogo é a questão da m e r c a n t i l i z a ç ã o d o e s p a ç o, o u s e j a , a t e r r a u r b a n a , que era comunalmente ocupada, passa ser uma mercadoria - que se compra e vende como um lote d e b o i s - u m s a p a t o, u m a c a r r o ç a o u u m p u n h a d o d e o u r o.” | ROLNIK, 2009, p.39 |

A par t i r d o m o m en to q u e o e s p aço p as s a a ser mat erializ ado s ob e s s a ó t i ca – co mp r a e v e n d a d o espaço como um pr od u to – s u r g e m, e n tão, n o v as ló g icas operat ivas de gest ão e de se n v o l vi m e n to q u e p as s am a b alizar como e com que i n t en s i d ad e o co r r e a co n s tr u ção d a cid ad e. O pr e se n te t r ab a lh o b u s ca u ma r e fle x ão sobre o seu local de i n s e r ção, d es p e r tan d o alg u mas p e rcepções perant e a c onstr u ção d o te r r itó r io u r b an o, le v an tan d o quest ões a respeit o da s m o t i vaçõ e s/ o b je tiv o s d as p o líticas p ú blicas de int er venção e res s al tan d o al g umas co n d icio n an te s q u e se f az em import ant es n a co m p r e e n s ão d as cid ad e s co n te mp orâneas. O objet ivo a qui é q u e s ti o n a r q u e m s ão o s p r o tag o nist as, benef iciados,

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d e s fav o r ecidos e como se dá o impact o gerado na cida d e fís ica e s uas consequências na sociedade. O s te r mos re- vit aliz ar ou re- qualif icar são comumen t e u tilizad o s ao descrever sit uações de t ransf or mações, at ravés d e p o lítica s públicas. Est as se dão at ravés da lógica pela qua l s e e s co lhe um espaço que irá receber novos element os – ar q u ite tô nicos, inf raest rut urais, dent re out ros – e t em com o in te n ção desencadear uma série de t ransf or mações, já com o b je tiv o s pré- det er minados. O próprio t er mo planejament o j á n o s co n d uz a esse sist ema de pensament o, ou seja, propo r, d e fo r ma racional, uma ação que ant ecipa e prevê possívei s co n d icio nant es para se conseguir alcançar um f im desejado. Mas o q u e se procura ao re- vit aliz ar (t raz er vit alidade) ou r eq u alificar (t raz er qualidade)? E t alvez mais import ant e, pa ra q u e m d e fat o essas ref or mulações são pensadas? S e g u n d o Pet er Hall, em Cidades do Amanhã, a part ir de u m d e te r min a do período o planejament o urbano convenciona l “ co me ço u a plant ar bananeira e a virar do avesso”, deixand o d e co n tr olar o cresciment o urbano – no sent ido de plano s e r e g u lament os para guiar o uso do solo – e passando a e n co r ajá- lo das mais diversas f or mas.

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“[ … ] C i d ad e s, a n o v a me n s ag e m soou em alt o e bom s o m , e r am máq u in as d e p r o d u zir riquez as; o primeiro e p r i n ci pal o b je tiv o d o p lan e jament o devia ser o de az e i tar a máq u in a.” | H ALL, 1995, p.407 |

“E m b o r a s e s aib a q u e as cid ad es moder nas sempre e s ti v e r am as s o ciad as à d iv is ão social do t rabalho e à acu mu lação cap italis ta, q u e a exploração da p r o p r i e d ad e d o s o lo n ão s e ja u m f at o novo, e que h aj a – co mo mo s tr o u à e x au s tão Lef ebvre e depois to d a a g e o g r afia h u man a r e ce n te – uma relação diret a e n tr e a c o n fig u r ação e s p acial u r b ana e a produção ou r e p r o d u ç ão d o cap ital, co mo e s ta mos vendo, há algo d e n o vo a r e g is tr ar n e s s a fas e d o capit alismo em que as ci d ad e s p as s ar am e las me s m as a ser geridas e co n su m i d as co mo me r cad o r ias.” | A RANTES, 2002, p.26 | 16

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A s c i d ad e s e stão e m co n s tan te mu tação, não só de sua m a t é r i a e d i fi cad a – e d íficio s, r u as, p r aças, vias de t ransport e, e t c – m as t am b é m d as ló g icas o p e r ativ as que conduz em seu de s e n v o l vi m e n to. A cid ad e co mo “ máq u ina de produção de r i qu e z as ”, co n f o r me Hall in d ica, p o s s u i u m a relação diret a com a s di r e tr i z e s p o l í ticas e e co n ô micas v ig e n t es no últ imo século, e qu e p as s am a s e r ace n tu ad as n as ú ltimas décadas.


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Es s e p r o ce s s o e co a até o s d ias d e h o je, em que polít icas pú bl i cas p au tad as p o r g r an d e s o b r as ( u r b a nas, inf raest rut urais, e di f i caçõ e s) co m o fim d e r e -q u alificação de regiões e/ ou e v e n to s d e g r an d e r e le v ân cia e atr ativos a invest iment os f ina n ce i r o s ( C o p a d o Mu n d o, O limp íad as, EX PO, dent re out ros), s e t o r n am co m b u s tív e l p ar a a r e v alo r ização econômica dos e s pa ço s u r b an o s. E n fatizan d o q u e e s s a revaloriz ação se dá n ã o n o s e n ti d o d o v alo r d e u s o co mu n itário e democrát ico da c ida d e, m as d o v alo r fu n d iár io e imo b iliá rio, que at ende aos i n t er e ss e s d e u m g r u p o e s p e cífico. A i n se r ção d e n ov o s e q u ip ame n to s co m f ins de valoriz ação e m a rk e ti n g, a e s p ecu lação imo b iliár ia, a co ncent ração de capit al e a p r i v ati z ação d o e s p aço u r b an o g e r a m uma urbaniz ação e x c l u d e n t e, e q u e faz d as cid ad e s h o je v erdadeiras máquinas de p r o d u ção d e riq u e zas o n d e o e s p aço se t or na um produt o a s e r co m e r ci al izad o, u ma me r cad o r ia. Na prát ica, essas t ra n s fo r m açõ e s a cab am co n s is tin d o e m “ c olocar cada um em s eu d e v i d o l u g a r ” , o u s e ja, r e alizar u m a “higieniz ação” de á reas d i t as d e g r a d ad as, s e m d e fato e n fr e nt ar as reais causas, a c e n t u an d o o s j á co n h e cid o s p r o b le mas de segregação social e e s p aci al , e m q u e o ace s s o e o d ir e ito à c idade são def inidos pe l a co n d i ção e c o n ô mica d o cid ad ão.

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“ C omo est ou dando a ent ender que o planejament o dit o est rat égico pode não ser mais do que um out ro euf emismo para gent rif icat ion” | ARANTES, 2002, p.31 | O p r o d u to dessas lógicas operat ivas que cont rolam o uso d o s o lo é u ma cidade segregada, onde os f luxos f inanceiros e o s p r o ce s s o s especulat ivos são os agent es de t ransf or mação q ue co n s titu e m uma f orça única que const rói o espaço urbano, o u o d e s tr ó i para a sua reconst rução em uma out ra condição q ue lh e p o d e ser benéf ica. 
 “ N a cidade global, a inf raest rut ura é implant ada em função das novas áreas corporat ivas reest rut urada s. Os equipament os, que a princípio se int egram de mod o tot aliz ant e, t or nam- se cada vez mais compet it ivos e locais. Em vez de redes, a nova inf raest rut ura c ri a enclaves. Ela agora não responde mais a necessidade s, mas é uma ar ma est rat égica do urbanismo dominant e. “ | BRISSAC, 2002, p.47 |

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C om o i m p act o f í sico n a cid ad e, mu itas v e zes t emos a f or mação de s s e s e n cl ave s citad o s p o r Br is s ac, caract eriz ando uma de s a r ti cu l ação d o te cid o u r b an o, d e s ar ticulando no sent ido de e s pa ço d e co n v ív io o u e s p aço g e o g r áfico, conf or me Milt on S a n to s, 2002, co n s titu íd o q u an d o a n aturez a é modif icada pe l a i n t e r ve n ção h u man a e lh e s ão atr ib u ídas f unções, f or mas, v a l or e s co n cr e to s e s imb ó lico s, s e n d o o espaço geográf ico o “ es p aço d as r e l açõ e s s o cias.”

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A partir desse panorama sobre o planejamento urbano e s t r a t é g i c o c o n t e m p o r â n e o, o n d e o p r o t a g o n i s t a é o c a p i t a l e o e s p a ç o é t r a t a d o c o m o u m p r o d u t o a s e r c o m e r c i a l i z a d o, procura-se aqui levantar hipóteses sobre outras possíveis f o r m a s d e o r g a n i z a ç ã o d o e s p a ç o. O e n f o q u e n ã o é a p e n a s no planejamento urbano em macro-escala, mas também na busca da compreensão das diferentes formas de se pensar e produzir os espaços também em micro-escala e a sua a r t i c u l a ç ã o c o m o t o d o.

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colagem digital | 03

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capĂ­tulodois

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espaço e indivíduo

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col agem di gi t al | 04 O m apea mento a qui ci t ado, é referente a os exem p los a ponta dos no f i m desse c a pítulo, nã o sendo esses os loc a is sel eci o na dos pa ra a r eal i z aç ã o da s inter venç õ e s pr oj et ua is do tra ba lho fin a l de gr adua ç ã o. Est e proc esso foi rea liza d o at r avés de vídeos e i m agens, de diversa s vi si t as a c a mpo pa ra que se pudesse obser va r as di nâ mic a s pa drões dos l oca is e c omo ela s se al t era va m pera nte à si t uaçõ es c otidia na s e/ou si t uaçõ es a típic a s. 1

E s s e capít ulo t em como propósit o invest igar e evidenci a r o s ag e n ciament os e a const rução de sit uações urbanas e ar q u ite tô nicas, a part ir do reconheciment o e mapeamento 1 d e micr o- dinâmicas divergent es, sociais exist ent es e in d e p e n d ent es, ou a part ir da presença e/ou mont agem d e s u p o r te s arquit et ônicos, capaz es de f uncionar como mot or es d e fo r taleciment o de out ras lógicas urbanas, de processos d e e s tr u tu r ação e moviment os de ret errit orializ ações moment ânea s d e alg u n s t errit órios da cidade de São Paulo. E n te n d e -se por “micro- dinâmicas divergent es” as açõ es r e alizad as que t êm por caract eríst ica a modif icação na ut iliz aç ã o co tid ian a de det er minado espaço. Pode compreender t ant o a ação ú n ic a de um sujeit o – ou grupo – a part ir do f ort uit o e e s p o n tân eo ou a part ir de suport es ant erior ment e inst aurado s – ar q u ite tônicos, ou não – que visam desest abiliz ar e/ou inst a r d ife r e n te s usos a um local.

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R e t e r r i t o r i al i z açã o é o ato d e “ r e cu p e r ar ” o t errit ório: “a d e s te r r ito r ialização é o mo v iment o pelo qual se ab an d o n a o te r r itó r io, ‘a o p e r ação da linha de f uga’ e a r e t e r r i t o r ialização é o mo v ime n to de const rução do te r r i tó r i o. No p r ime ir o mo v ime n to, os agenciament os se d e ste r r i to r ializam e n o s e g u n d o e les se ret errit orializ am co m o n ov o s ag e n ciame n to s maq uínicos de corpos e co l e t i vo s d e e n u n ciação. De le u ze e Guat t ari af ir mam q u e a d e s te r r ito r ialização e a r et errit orializ ação são p r o ce ss o s in d is s o ciáv e is.” | D E L E U ZE E GUAT TA RI , ap u d , HAESBAERT e BRUCE, 2002, p. 8 | Po r t a n t o, a i n t e r p r e t a ç ã o a q u i a p r e s e n t a d a é q u e a p a r t i r d e ações realizadas – entende-se as micro-dinâmicas divergentes – acontece esse movimento de desterritorialiazação seguido p e l o d e r e t e r r i t o r i a l i z a ç ã o, q u e p o d e o c o r r e r d e f o r m a e f ê m e r a ou prolongada, variando de acordo com a intervenção proposta pelo sujeito e/ou com a fragilidade do local ao qual ela foi inserida.

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Q u e s tio n a - se a lógica de quais ações/ocupações são essa s, q u e, ap e sar de moment âneas e não sist emát icas, são capazes d e in iciar moviment os imprevisíveis de ret errit orializ ação do s te r r itó r io s aparent ement e est áveis. At ravés do pensament o d e Be r n ar d Tschumi, é evidenciado que para a ocorrência dess a s micr o -d inâmicas divergent es, não é necessária a decorrênc i a d e u ma somat ória de event os adjacent es, podendo est a s, in clu s iv e, eclodir a part ir de ações cont radit órias cont ingencia i s. T s ch u mi af ima que qualquer sequência arquit et ônica inc l ui o u imp lica em pelos menos t rês relações: o programa que é in d ife r e n te ao espaço (Indif erença – sequências de event o s e s e q u ê ncias de espaços podem ser amplament e dist into s e n tr e e le s); o programa que ref orça o espaço ( Reciprocida d e – s e q u ê ncia de espaços e sequência de event os, podem , clar ame n t e, se t or nar t ot alment e int erdependent es e at é a co n d icio nar a exist ência de cada um); e o programa que t rabal ha o b liq u ament e ou cont ra o espaço (Conf lit o – sequência d e e v e n to s e espaços ocasionalment e se colidem e cont radiz e m u m ao o u tro). O in tu ito aqui é ref let ir sobre essas dif erent es f or mas d e o cu p ação, expressão e usos dos espaços a part ir de uma te n tativ a de f or mulação e quest ionament o de possíveis lógic a s s u b jace n t es (t alvez invisíveis) em relação àquilo que se vê co mo mai s visível ou aparent e nessas f or mas de est rut uraç ã o

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do e s p aço e e x p r e s s ão d as d in âmicas, p ois, seguindo Milt on S a n to s, 2002, é p o s s ív e l s e mp r e h av e r uma dif erença ent re f or m a e co n t e ú do, e n tr e a e x p r e s s ão do t errit ório e suas l ógi cas co n s ti tu ti v as. C om b as e n e ss a e s tr u tu r ação, fo r am escolhidos alguns e x em p l o s n a cid ad e d e S ão Pau lo, analisando como a c on te ce r am as tr an s fo r maçõ e s q u e cu lminaram na dinâmica u n i e p l u r i d i m e n s io n ar q u e e s s e s e s p aço s apresent am nos dias de h o j e. C om o p r e m i s s a par a a e s co lh a d e s s e s e x emplos de locais em e s t u d o, o s e s p aç o s s e le cio n ad o s fo r am “lugares vulneráveis” e mai s su j e i to s ao s mo v ime n to s d e reprogramação e de s p r o g r am ação d a ló g ica d o min an te d o espaço. Não à t oa, s ã o l u g ar e s d e co n ce n tr ação mas s iv a, ef êmera ou plural, f rá ge i s, p o r tan to, à in te r fê n cias d e d ife r ent es âmbit os. Sobre e s s e p r o ce ss o, cr ia-s e a h ip ó te s e d e tr a balhar essa análise a pa r t i r d e t r ê s mo me n to s d is tin to s, classif icando- os como: i n t er f e r ê n ci as / s i tu açõ e s au to r itár ias, in terf erências/sit uações i n du t i vas e i n te r f e r ê n cias /s itu açõ e s e s p o nt âneas.

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S o b r e o s processos de int erf erências/sit uações realiz ados e/ o u acatados pelos indivíduos , t raça- se um breve parale l o atr av é s de Michel Foucault , com o int uit o de levanta r min imament e, quest ões relacionadas às condut as da socieda d e d e n o r maliz ação perant e algumas condicionant es int rínsec a s às n o s s as relações sociais. A p ar tir da f or mulação da noção de biopolít ica, Foucaul t p o s s ib ilita int ert ext ualiz ar à análise da discipilna dos corpos o e s tu d o dos mecanismos de regulação da vida - ent endido s co mo u m a segunda f or ma de acomodação dos mecanismo s d e p o d e r à realidade hist órica que const it ui o present e: a r e alid ad e das nor mas. Ent endendo como biopolít ica: “A relação do pod er c om o sujeit o, ou melhor, o indivíduo, não deve s er s implesment e essa f or ma de sujeição que per mi t e a o poder t omar dos sujeit os bens, riquez as e, event ualment e seu corpo e seu sangue, mas que o poder deve exercer- se sobre os indivíduos, um a v ez que eles const it uem uma espécie de ent ida d e biológica, que deve ser levada em consideração, se queremos precisament e, ut iliz ar essa população como máquina para produz ir, para produz ir riquez as, ben s, para produz ir out ros indivíduos.” | FOUCAULT, apud, CASTRO, 2009, p.59 |

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Na p e r s p e ct i va s o b r e o s me can is mo s d e r e gulação, o indivíduo, m e m b r o d o co r p o b io p o lítico d as p o p u laç ões, é nor maliz ado, u m a v e z q u e é co n s titu íd o a p ar tir d a g over nament abilidade da q u al “g o v e r n a r co n s is te e m co n d u zir condut as.”(FOUCAULT, a pud , C AST R O, 2 0 0 9 , p. 1 9 0 ) . O c o n ce i to d e n o r malização r e fe r e -s e ao processo de r e gu l ação d a v i d a d o s in d iv íd u o s e d as populações. Nesse s en t i d o, n o ss as s o cie d ad e s s ão s o cie d ades de nor maliz ação. En t en d e n d o co m o n o r ma: “Nós nos convertemos em uma sociedade essencialmente ar t i cu l ad a s o b r e a n o r ma. O q u e implica out ro sist ema d e v i g i l â n cia e co n tr o le. Uma v is i bilidade incessant e, u m a cl as s ificação p e r man e n te dos indivíduos, uma h i e r ar q u i zação, u ma q u alificação, o est abeleciment o d e l i m i te s [ . . . ] A n o r ma n ão s e def ine como uma lei n atu r al , mas p e lo p ap e l d e e x ig ê ncia e coerção que é cap az d e e x e r ce r e m r e lação ao s quais o domínio se ap l i ca. A n o r ma é p o r tad o r a, co nsequent ement e, de u m a p r e te n s ão d e p o d e r. A n o r m a não é, sequer ou s i m p l e sme n te, u m p r in cíp io d e int eligibilidade; ela é u m e l e m en to a p ar tir d o q u al d e te r minado exercício de p o d e r e nco n tr a-s e fu n d ad o e le g i t imado.” | F O UCA ULT, ap u d , CA STRO, 2009, p.310 |

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O p r o ce s so da nor maliz ação do sujeit o, em que, at ravés d a n o r ma s e chega a um maior cont role sobre as massas, discipli na o s in d iv íduos a obedecer às regras possivelment e já implícit a s n as r e lações sociais exist ent es. Exerce um domínio dif eren t e q u e o d a lei, uma vez que est a separa e divide, enquant o a n o r ma p r et ende homogeneiz ar. “A nor ma é o que pode aplicar- se t ant o a um cor p o que se quer disciplinar como a uma população que se quer regulariz ar” | FOUCAULT, apud, CASTRO, 2009, p.58 | A le i, a disciplina e a segurança – conf or me descrit os p o r Fo u cau lt – são inst rument os vigent es na cidade, mas sua p r e s e n ça e aplicabilidade ocorre com dif erent es níveis d e in te n s id ade dependendo da região em que se est á analisando. Uma s é r ie de caract eríst icas como localiz ação, inf raest rut ura s, v alo r e p ot encial econômico do espaço são part e f undament a l p ar a co mpreender como a presença da lei, disciplina e s e g u r an ça se f az em present es (ou não) e suas int ensidades. A r e g ião c ent ral da cidade de São Paulo, possui uma série d e “ lu g ar e s vulneráveis” onde os dif erent es gradient es de presen ç a d e s s e s fat ores acabam por of erecer uma margem maior a o s p o s s ív e is moviment os de ret errit orializ ação do espaço.

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c olagem d ig ital | 05

“ […] comparação ent re a lei, a disciplina e a seguran ç a para dif erenciá- las, apont ando que a primeira (l ei ) proíbe, a segunda (disciplina) prescreve e a t ercei ra ( segurança), sem proibir ou prescrever, anula, limit a o u r egula uma realidade at ravés de alguns inst rumento s de proibição e de prescrição”. | FOUCAULT, 2008, p.61 |

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A pr i m e i r a h i p óte s e q u e s e ap r e s e n ta, com relação ao e n t en d i m e n t o d o s e s p aço s e d o in d iv íduo, diz respeit o as i n t er f e r ê n ci as / s i tu açõ e s au to r itár ias, e m que se discut e a i m po s i ção d e u m zo n e ame n to /co mp o r tament o a ser seguido em u m l u g ar o n d e an te r io r me n te s e v e r ificav a uma predominant e e s po n tan e i d ad e nas fo r mas d e u tilização dos espaços. A M a r q u i s e d o Pa r q u e I b ir ap u e r a, p r o je tada por Niemeyer, f oi c onstr u í d a co m a in te n ção d e s e r u m co n e c t or ent re os edif ícios e n ão t i n h a o i n tu ito d e s e co n s o lid ar co mo “abrigo” para seus u s uár i o s e s u as i n ú me r as ativ id ad e s. O u s o da marquise sempre f oi li v r e, e sp o n tân e o, s e m q u alq u e r d e limi t ação programát ica, m a s r e ce n te m e n te, a p ar tir d e u ma imp o s ição da administ ração do p ar q u e, skati s tas, ciclis tas e p e d e s tr e s passaram a t er um l oc a l d e l i m i t ad o p ar a o u s u fr u to d a Ma rquise. Ou seja, de f or m a i m p o s i ti v a ap lico u -s e u m zo n e ame n t o em um lugar onde s e ve r i f i cava u ma ace n tu ad a e s p o n tan e idade nas f or mas de oc up ação d o e sp aço.

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breve histórico A primeira proposta para o Parque Ibirapuera surgiu em 1926, de W e r n e r H a c k e r e a p r e s e n t a v a u m d e s e n h o n e o c l á s s i c o, m a s e m 1 9 3 3 a p r o p o s t a d e O t a v i o Te i x e i r a M e n d e s e m c o n j u n t o c o m o s projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer foi a realizada. A construção do Parque visava comportar a sede dos festejos e s i m b o l i z a r, p e l a a r q u i t e t u r a , o p a p e l e c o n ô m i c o a l c a n ç a d o p o r S ã o P a u l o, c o m o p ó l o i n d u s t r i a l l a s t r e a d o p e l o d e s e n v o l v i m e n t o a g r í c o l a e m e r c a n t i l q u e j á s u p e r a v a o R i o d e J a n e i r o, c a p i t a l d o p a í s e c e n t r o h i s t o r i c a m e n t e g e r a d o r d e c u l t u r a e a r t e. 
“ [ . . . ] u m centro permanente de cultura, capaz de atender as necessidades do melhor conhecimento e divulgação de nossa indústria, agricultura e c o m é r c i o, a t r a v é s d e r e a l i z a ç õ e s d e e x p o s i ç õ e s, b e m c o m o u m l o c a l c o n d i g n o p a r a a s m a n i f e s t a ç õ e s a r t í s t i c a s d e S ã o P a u l o. R e l a t ó r i o d a C o m i s s ã o d o I V C e n t e n á r i o. ” ( M A R I A N O, C a s s i a , 2 0 0 5 , p. 9 7 ) .

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breve histórico O projeto do Edifício Gazeta foi concebido pelo renomado engenheiro J o s é C a r l o s d e F i g u e i r e d o F e r r a z - c o n s t r u t o r d e o b r a s c o m o M a s p, M e t r ô d e S ã o P a u l o, P l a n e t á r i o d o I b i r a p u e r a , c ú p u l a e a s t o r r e s d a C a t e d r a l d a S é e o P a ç o M u n i c i p a l - o r i g i n a l m e n t e, o p r é d i o deveria ser um dos mais altos da cidade tendo o dobro do tamanho q u e p o s s u i h o j e, m a s “ a F u n d a ç ã o n ã o t e v e f ô l e g o p a r a b a n c a r a c o n s t r u ç ã o a t é o f i m . N o f i n a l d o s a n o s 6 0 , p o r f a l t a d e d i n h e i r o, decidiu-se dar acabamento ao pedaço que já tinha sido erguido e d a r a o b r a p o r t e r m i n a d a .” 2 As obras tiveram início no final da década de 1950 e o edifício foi inaugurado em 1966. Sendo o primeiro edifício construído no B r a s i l c o m a s c a r a c t e r í s t i c a s n e c e s s á r i a s p a r a m a n t e r u m a r e d a ç ã o, gravura, composição e distribuição de um jornal. Hoje é o maior p a t r i m ô n i o f í s i c o d a F u n d a ç ã o C á s p e r L í b e r o, p o s s u i 1 5 a n d a r e s, q u e a b r i g a m t o d a s a s u n i d a d e s d e n e g ó c i o d a F u n d a ç ã o. N o p r é d i o circulam, em média, 20 mil pessoas por dia. Na base estão dois s í m b o l o s : o p a i n e l f r o n t i s p í c i o “ G a z e t a ” , d e c o n c r e t o, e a f a m o s a e s c a d a r i a , c o m s e u s 3 2 d e g r a u s.

Paulista, 900. Quando a cidade era mais gentil. Disponível em:<https:// q u a n d o a c i d a d e. w o r d p r e s s. c o m / 2 0 1 2 / 0 1 / 2 8 / p a u l i s t a - 9 0 0 / > . A c e s s o e m : 3 d e j u n h o de 2015. 2

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S itu ação similar – com relação a imposição e delimit ação no tip o d e u so – da escadaria do prédio da Gaz et a, na Aveni d a Pau lis ta, onde os próprios est udant es ou mesmo t ranseuntes u tilizav am de f or ma dif erent e de sua f unção primária. Podem o s e n co n tr ar ali uma diversidade de usos onde as pessoas se ap r o v e itam do abrigo da sombra do edif ício e da própri a e s cad ar ia como banco, mas que t eve seu carát er modif icad o, a p ar tir d o moment o que per manece f echada em det er minado s h o r ár io s est ipulados pela administ ração do prédio, visand o “ maio r s e gurança e cont role na ent rada do edif ício”. Us u alme n t e, essas nor mas/regras são colocadas a par t i r d e d is cursos que visam a ordem e a organiz ação, e, co n s e q u e nt ement e, a segurança. São quase sempre seguida s/ o b e d e cid a s, muit as vez es, por serem uma imposição e nã o p ar tir e m da vont ade do próprio sujeit o, mas t ambém em virt ud e d is s o, h á a perspect iva ameaça de serem rompidas, uma v ez q u e o lim it e f oi impost o. O limit e t raz sempre consigo o s eu n e g ativ o : a possibilidade de sua deslimit ação.

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c olagem d ig ital | 06

E m r e lação às int erf erências/sit uações induz idas, o enf oq ue d o e s tu d o é na quest ão do suport e – inf ra- est rut ural ou nã o. S u p o r te sendo aquilo que est á sob, algo que não se impõ e o u s o b r epõe, nem preenche ou complement a (GUATELL I , 2 0 1 2 ) o local no qual f oi inserido, acarret ando em um a r e s s ig n ific ação espacial. Nesse campo de análise, como o p r ó p r io n ome apresent a, o exemplo de est udo são os espaç o s q u e r e ce bem a indução de algo, não necessariament e no s e n tid o d e impulsionar uma dinâmica específ ica, mas t ambé m d e d e s e s t abiliz ar uma sit uação e consequent ement e gerar um a s itu ação out ra, imprevisível. Co mo e x emplo, podemos cit ar a propost a de int er venção d o ar q u ite to Rem Koolhaas no Edif ício São V it o, regist rada no liv r o A r te /Cidade, de Nelson Brissac Peixot o, 2002. Koolhaa s, atr av é s d a int rodução de um elevador – uma inf ra- est rut u ra d e mo b ilidade que alt eraria a relação espaço- t empo, porém , s e m p r e visões quant o aos desdobrament os – propunha n ão a const rução de algo est ável ou a reorganiz ação d e u ma e s tr ut ura mas, ao cont rário, a desest abiliz ação de um a s itu ação aparent ement e est ável e a consequent e abert u ra p ar a u ma sit uação out ra e imprevisível, ou seja, uma dinâmi c a d ife r e n te de uso, mas, ressalt a- se, baseada nas dinâmicas j á e s tab e le c idas pelos ocupant es do edif ício. Fala- se, port ant o, d a p o s s ib ilidade do que parece ser sempre o mesmo, t or nar-se r e p e n tin ament e out ro, porém, sem pré- det er minações.

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breve histórico O Edifício São Vito, foi um edifício residencial localizado na Avenida do Estado, popular mente conhecido como “Treme-Treme”, chegou a ser consi derado o maior cortiço vertical da cidade São Paulo. Foi projetado pelo engenheiro Aron Kogan e erguido pela Construtora Zarzur & Kogan. As obras começaram em 1954 e foram concluídas em 1959. A arquitetura do prédio teve influência do moder nismo e foi concebido como “solução” para o problema da moradia popular, e, naquela época, era um dos prédios mais imponentes da cidade de São Paulo. Na planta original, o edifício tinha 624 apartamentos com área de 30 m 2 cada. O edifício buscava atrair pessoas como “profissionais liberais, imigrantes, caixeiros-viajantes e casai s que chegassem à cidade durante um período de grande crescimento econômico.” 3 Através de relatos documentados na época, o edifício era apontado como a maior concentração populacional da cidade, com 3 mil pessoas, “a maioria biscateiros, assalariados modestos e prostitutas.” 4 “A degradação foi acentuada pela divisão de diversas quitinetes em duas, pela instalação de diversas “gambiarras” na rede elétrica (80% dos pontos de ligação do prédio eram clandestinos em 2002) e até pela suspensão da coleta de lixo, o que levou muita gente a atirar sacos de lixo das janelas , além de água suja e restos de comida. “ 5 “É um lugar perigoso, difícil de entrar, só tendo aval de algum morador, ter credibilidade na área, ser gente conhecida [...] Mesmo viaturas policiais que iam atender ocorrências chegaram a ser atingidas por botijões de gás e vasos sanitários que eram atirados dos andares do edifício. Já fazia anos que se registrava com frequência furtos entre apartamentos.” 6 “A violência dentro do próprio edifício fez com que aos poucos os moradores deixassem o prédio: havia 150 apartamentos abandonados em 2002.” 7 Em 2004 o edifício foi completamente esvaziado, e pauta para muitas discu ssões e processos judiciais, até que no ano de 2010 iniciou seu processo de demolição, ter minado seis meses depois em maio de 2011. 42

3 4 5 C o n d o mínio d a d úv id a ”, R o b er t o d e O liv e ir a, R e v i st a d a Fo lha, 2 7 / 1 0 / 2 002, p ág s. 1 4 - 19

“ E d if ício S ão Vit o ( 1 9 592 0 0 9 ) ” , Jo ão Ped r o Vile l a , É p o ca S ão Paulo n úmer o 17, s et e mb r o d e 2 0 0 9 , E d itora G lo b o, p ág s. 7 0 - 77 6 7


J á n a an ál ise das int erf erências/sit uações espont âneas, o cer ne d a d in âmica modif icadora é o homem. O homem que t em a co n d ição de t ransgredir as nor mas inst auradas pela sociedad e, q u e “ p e n sa por si próprio” e que at ravés do exercício d a au to n o mia, t em a capacidade de criar algo novo, inesperado. O s u je ito que não se assujeit a. “ [...] da ordem do assujeit ament o, implicando n ã o s ó em uma relação de obediência, mas t ambém na a doção pelo indivíduo do discurso do out ro.” | BARTHES, 1996 | A tr av é s d e uma ação emancipat ória moment ânea - do inst ant e o n d e o s enso comum, a lógica comum é corrompida e um a o u tr a ló g ica é inst alada - esse indivíduo const it ui uma dinâmi c a d iv e r g e n te às habit uais. Sit uações que podem – ou não – tr an s ce n der ef êmeros moment os e virem a ser t or nar dinâmic a s co n s o lid a das, como por exemplo, o caso do Minhocão. O e s p aço do Minhocão – Elevado Cost a e Silva – const ruíd o e fe tiv ament e para at ender o t ráf ego de aut omóveis, ao f ech a r s e u u s o p rincipal, independent e de sua f or ma edif icada primári a , é o cu p ad o pelas pessoas, se aproveit ando daquele espaço pa ra u m o u tr o uso que não o seu original. A apropriação do Eleva d o p e lo h o m em, ou seja, seu uso/cont eúdo, se desconect ou d e s u a o r ig inal, possibilit ando out ras dinâmicas que f oram a l i in s e r id as, independent e de sua f or ma e f unção principal. 43


breve histórico O Minhocão foi idealizado em 1968, quando um arquiteto do departamento de Urbanismo da Prefeitura sugeriu ao então prefeito J o s é V i c e n t e F a r i a L i m a u m a v i a e l e v a d a s o b r e a A v e n i d a S ã o J o ã o, que poderia diminuir o trânsito no local. O arquiteto elaborou um p r o j e t o a t é a P r a ç a M a r e c h a l D e o d o r o, r e c u s a d o p e l o p r e f e i t o, q u e c o n h e c i a o e f e i t o q u e t a i s o b r a s t i n h a m c a u s a d o e m o u t r a s c i d a d e s. Porém, Faria Lima acabaria por encaminhar o projeto à Câmara reservando as áreas para a obra, que poderia ser iniciada por o u t r o p r e f e i t o. Q u a n d o P a u l o M a l u f a s s u m i u , e l e d e u a n d a m e n t o a o p r o j e t o, e s t e n d e n d o - o a t é o L a r g o P a d r e P é r i c l e s, n o b a i r r o d a s P e r d i z e s. O p r o j e t o, c u s t o u q u a r e n t a m i l h õ e s d e c r u z e i r o s, e f o i c o n s t r u í d o e m 1 1 m e s e s, e n g o l i n d o o e s p a ç o d a P r a ç a R o o s e v e l t , a t é o L a r g o P a d r e P é r i c l e s, p a s s a n d o s o b r e a R u a A m a r a l G u r g e l , a A v e n i d a S ã o J o ã o e a s u a c o n t i n u a ç ã o, a A v e n i d a G e n e r a l O l í m p i o d a S i l v e i r a , a l é m d e t u d o p a s s a a c i n c o m e t r o s d e e d i f í c i o s r e s i d ê n c i a i s. S u a extensão é de 3,4 km, nas quais foram utilizados trezentos mil s a c o s d e c i m e n t o, s e s s e n t a m i l m e t r o s c ú b i c o s d e c o n c r e t o e d u a s m i l t o n e l a d a s d e c a b o s d e a ç o, e n t r e o u t r o s m a t e r i a i s. 
 E m 1 9 7 6 , o M i n h o c ã o p a s s o u a s e r i n t e r d i t a d o à n o i t e, m e d i d a a d o t a d a p a r a e v i t a r o s a c i d e n t e s n o t u r n o s, q u e s e t o r n a v a m r o t i n a , e p a r a a d i m i n u i ç ã o d o b a r u l h o n a r e g i ã o. E m n o v e m b r o d e 1 9 8 9 , a e n t ã o prefeita Luiza Erundina determinou que ele fosse interditado das 21h30 às 6h30.

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breve histórico A r e g i ã o d a P r a ç a R o o s e v e l t , p e r t e n c i a a D o n a V e r i d i a n a P r a d o, q u e, q u a n d o c o m e ç o u a c o n s t r u i r s e u p a l a c e t e e m H i g i e n ó p o l i s, c o m e ç o u a l o t e a r a á r e a q u e, a p ó s a c o n s t r u ç ã o d a I g r e j a d a C o n s o l a ç ã o, p a s s o u a f u n c i o n a r c o m o e s t a c i o n a m e n t o e l o c a l p a r a f e i r a s - l i v r e s. Foi inaugurada na década de 1970 com o projeto de Roberto Coelho C a r d o z o, e, t i n h a o o b j e t i v o d e p r o m o v e r a r e v i t a l i z a ç ã o d a á r e a c e n t r a l p a r a o m e i o d e m e g a e s t r u t u r a s a r q u i t e t ô n i c a s e v i á r i a s. Concretizou dessa forma a idealização da primeira praça moderna de S ã o P a u l o. B u s c a v a c o n t e m p l a r u m e x t e n s o p r o g r a m a , e a p r e s e n t o u d i v e r s o s p r o b l e m a s e m s u a o c u p a ç ã o, u m a v e z q u e o p r o j e t o a c a b o u se voltando para sí e se desintegrava do entorno – “área de uso p ú b l i c o e l e v a d a s e m r e l a ç ã o a s c a l ç a d a s e d i s t a n t e d a s e s q u i n a s, resultando em uma ruptura urbana[...]”(ALEX, Sun 2008). Após sua progressiva degradação e a concretização de um espaço o c i o s o, e n t r e m u i t o s o u t r o s c a s o s, f o i r e a l i z a d a s u a r e f o r m a p e l a prefeitura de são Paulo e reinaugurada em 2012.

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A relação do indivíduo com a Praça Roosevelt apresenta a l g u m a s s e m e l h a n ç a s c o m a d o M i n h o c ã o. A p e s a r d o e s p a ç o t e r s i d o c o n t r u í d o p a r a o l a z e r p ú b l i c o, n o t a - s e u m e l e v a d o grau de apropriação no que diz respeito as outros tipos de convivência. O uso da praça não se restringe a transeuntes e e s p o r t i s t a s, t a m b é m s e r v e d e p a l c o p a r a r e i n d i v i c a ç õ e s s o c i a i s, s e n d o p o n t o i n i c i a l / f i n a l d e m a n i f e s t a ç õ e s e o u t r a s f o r m a s d e e x p r e s s ã o p o p u l a r, n ã o s e r e s t r i n g i n d o a p e n a s a o c a r á t e r r e c r e a t i v o. A s d u a s s i t u a ç õ e s, a p e s a r d e e s s e n c i a l m e n t e d i f e r e n t e s, n o que diz respeito a forma (como função) e conteúdo (como utilização) são apropriadas pelas pessoas para além das d i n â m i c a s p r é - c o n c e b i d a s. H o j e, t a n t o a P r a ç a q u a n t o o Elevado são usualmente cenários de ‘eventos’ de diversos t i p o s d e t a m a n h o, o r g a n i z a d o s p e l a s o c i e d a d e ( a t r a v é s de Coletivos – que não visam o fim lucrativo) e/ou por iniciativa pública.

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capítulotrês

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estratĂŠgias

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três | um dinâmica

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“ C idades se t or naram desregulament adas. es sa desregulament ação é ref orçada pelo f at o da maiori a das cidade não pert encerem mais ao domíni o do visível. O que f oi um dia chamado de desenho urbano f oi subst it uído pela composição dos sist ema s invisíveis. Por que arquit et os ainda f alam sobre monument os? Monument os são invisíveis agora . Eles são desproporcionais – t ão grandes (na esca l a do mundo) que eles não podem ser vist os. Ou t ã o pequenos (na escala de chips de comput adores) q ue eles t ambém não podem ser vist os”. | TSCHUMI, 1999, p.216 | A s cid ad es do passado, apresent avam seus limit es at ravés d e mu r o s e port ões. Hoje, segundo Tschumi, os limit es da cida d e co n te mp orânea não são mais visíveis. Na “cidade sem port a s” o s e s p aços das est rut uras, das per manências, do const ruí d o s ão co n s t ant ement e desaf iados por vet ores abst rat os, nat ura i s d o co tid ia no da cidade, que, desest abiliz am incessant ement e o s s ig n ific ados arquit et ônicos. “ O aspect o da per manência é const ant emen t e desaf iado pela imat erial represent ação dos sist em a s a bst rat os [...] arquit et ura é const ant ement e sujeit a a

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r e i n t e r p r e tação. De fo r ma alg u ma , a arquit et ura pode al e g ar t er u m s ig n ificad o p e r man ent e.” | VI RI L I O, ap u d , T S CHUMI, 1999, p.216 |

Na co n ce p ção d e T s ch u mi, a fo r ma-fu n çã o conf or ma apenas u m p r o ce ss o p r o je tu al, n ão s e n d o e le me n tos que caract eriz am a par t i d a n e m a ch e g ad a, r e n e g an d o a rigorosa premissa m ode r n i sta d a f un ção co mo e le me n to b aliz ador da concepção do o b j e to. O i n t e re s s e s e r e v e la n a p e r ce pção da inst abilidade n a ar q u i te tu r a co mo e s p aço co n ce b id o e vivenciado, deslocas e e n tão, o b i n ô mio fo r ma-fu n ção p ar a e spaço- event o.

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c olag em digital | 07

A rqu i t e t u r a f o i u m d ia a ar te d as me d id as e proporções, e, at ravés de l a , s e co n s e g uia me d ir o te mp o e e s p aç o. Cada const rução t inh a se u si g n i f i c ad o, fu n ção e id e n tid ad e det er minados, uma c orre sp o n d ê n ci a q u as e q u e in s e p ar áv e l com o local ao qual e r a m i n se r i d as. Ho je a ar q u ite tu r a co n te m porânea se encont ra n o “ e sp aço fr ag me n tad o, fe ito d e acid e n tes, onde as f iguras s e d e s i n te g r am ” ( T S CHUMI , 1 9 9 9 ) e est á const ant ement e v ul n e r áv e l à r e - in te r p r e taçõ e s. Re ce p to ras de agent es não v is í ve i s, p e r d e o s e n tid o, s e d is s o cia, da noção crist aliz ada da f o r m a- fu n ção e co n ce d e camin h o p ar a novas int erpret ações r e l a c i o n ad as a p er ce p ção d o e s p aço.


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“A B au h au s te n to u co n ciliar as duas em um novo fu n ci o n al d u o d e s ig n ifican te e signif icado – uma g r an d e s ín te s e. A lé m d is s o, a Bauhaus t ent ou inst it uir u m a ‘ se man tização u n iv e r s al d o ambient e no qual tu d o v i r ou o o b je to d a fu n ção e da signif icação’. E ss a f u ncio n alid ad e, e s s a s ín te s e de f or ma e f unção, te n to u tr an s fo r mar o mu n d o to d o em um signif icant e h o m o g ê ne o, o b je tiv ad o co mo um element o de s i g n i f i caç ão : p ar a to d a fo r ma, to d o signif icant e, há um o b j e to si g n ificad o, u ma fu n ção. A o f ocar na denot ação e l i m i n o u a co n o tação.” | T S CH UMI, 1999, p.220 | “Ar q u i te tu r a d iz r e s p e ito tan to mais aos event os que to m am l u g ar n o s e s p aço s q u an to aos espaços em si [ . . . ] as n o çõ e s e s táticas d e fo r ma e f unção f avorecidas l o n g am e n te p e lo d is cu r s o ar q uit et ônico precisam s e r su b stitu íd as p e la ate n ção às ações que ocorrem d e n t r o e ao r e d o r d o s e d ifício s – para o moviment o d o s co r po s, p ar a as ativ id ad e s, p ara as aspirações...” | T S CHUMI , ap ud, SP ERLING, p.21 | A de fi n i ção d e e s p aço ap r e s e n tad a, fu ndament a- se na sua r e l a ç ão i n d i ss o ci áv e l ao e v e n to, s e n d o o espaço o cat alisador do e ve n to, l o g o, u m n ão te m au to n o mia perant e o out ro, são qu a li fi cad o r e s m útu o s. 54


“ N ão é uma quest ão de saber qual vem primeiro, moviment o ou espaço, quem molda o out ro, um prof undo laço é envolvido. Af inal, eles são conjunt o s da mesma relação.” | TSCHUMI, 1999, p.128 | O s e v e n tos t ambém não são uma relação dissociada d o p r o g r ama, são t ambém decorrent es deles, at ravés de sua s p o te n cialidades lat ent es, dão margem para que o inesperad o o co r r a. O que se dest aca, é que o event o não é um produt o r e s u ltan te da est rut uração de um programa legível em uma fo r ma p u ra ou de uma seleção e combinação de f or mas, ma s q u e atr avés dele, as pot encialidades lat ent es do programa fav o r e m que o moviment o do inesperado ocorra. “O programa é uma determinada série de ocorrências e s p e r a d a s, u m a l i s t a d e n e c e s s i d a d e s u t i l i t á r i a s, frequentemente baseado no comportamento social, h á b i t o s o u c o s t u m e s. E m c o n t r a s t e, e v e n t o s ocorrem como uma indeterminada série de r e s u l t a d o s i n e s p e r a d o s. R e v e l a n d o p o t e n c i a l i d a d e s ou contradições escondidas no programa, e relacionando-as a uma particular (ou possivelmente excepcional) configuração espacial, podendo criar c o n d i ç õ e s p a r a o c o r r ê n c i a d e i n e s p e r a d o s e v e n t o s. Po r e x e m p l o, u m p o d e c o m b i n a r o u r e u n i r a t i v i d a d e s

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programadas para que eles possam carregar uma c o n f i g u r a ç ã o e s p a c i a l d e t a l f o r m a q u e, m i s t u r a n d o i t e n s p r o g r a m á t i c o s d e f o r m a s c o m u n s o u p r e v i s í v e i s, e l e s g e r a m i n c o m u n s o u i m p r e v i s í v e i s e v e n t o s. E u frequentemente tenho chamado essa particular c o n f i g u r a ç ã o e s p a c i a l d e i n - b e t w e e n .” | TSCHUMI, 1992 | A po s s i b i l i d ad e da cr iação d e o u tr o atr av és de programát icas u s uai s, q u e, q u an d o s o mad as as in ce r te zas - as ações dos i n di ví d u o s – g e r am e s p aço s d o n o v o, o espaço- ent re (inbe t w e e n) , e sp aç o s p as s ív e is d e mú ltip las pot encialidades, a t i v a d as q u an d o o s mo v ime n to s d o s co r pos são inseridos. A l ógi ca an te r i o r m en te atr e lad a ao e s p aço da f unção, convert es e e n tão n a l o g i c a d o e s p aço d o s s e n tid o s, da experiência. “ O p e n e tr an te ch e ir o d a b o r r acha, do concret o, do co r p o ; o g o s to d a p o e ir a; o desconf ort o no ralar d o co to ve lo e m u ma s u p e r fície abrasiva; o praz er d as p ar e d e s te x tu r izad as e a dor de uma quina b at i d a no e s cu r o ; o e co d e u m corredor – espaço n ão é simp le s me n te a p r o je ção t ridimensional da r e p r e se n tação me n tal, mas é algo que é ouvido, e al g o s e n tid o e q u e açõ e s in flu enciam sobre. E é o o l h o q u e e n q u ad r a – a jan e la, a port a, o rit ual do d e sap ar e cime n to d a p as s ag e m … Espaços do

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Filme “Koyaanisqatsi: Life Out of Balance” - Diretor: Godfrey Reg gio

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c olagem d ig ital | 08

moviment o – corredores, escadas, rampas, passagens, ent radas; aqui começa a art iculação ent re o espa ç o dos sent idos e o espaço da sociedade, a dança e o s gest os que combinam a represent ação do espaço e o espaço da represent ação.” | TSCHUMI, 1999, p.111 | A r e fle x ão aqui propost a evidencia o ent endiment o do espaço d a cid ad e, como um espaço em per manent e est ado de moviment o, r e ce p to r de const ant es f orças, que não é mais limit ado pel a s co n d icio nant es das visuais, onde a arquit et ura do espet ácu l o faz s e n tido como “solucionador” de sit uações. Ent ende- se q u e o e s paço da cidade, o espaço da arquit et ura, deve ser co n ce b id o como pot encializ ador da criação de moment o s, e s p aço s que sejam passíveis de apropriações out ras – à logi c a d a p r o g r amát ica f uncional – e que t êm como premissa a busc a d o fav o r e ciment o dos event os, da vida insert a nele, onde pos sa o co r r e r u ma conexão quase que simbiót ica, ent re espaço e in d iv íd u o, ou seja, uma int er- relação ent re esses organismos, u ma as s o c iação t ão ínt ima que per mit e a possibilidade destes p e r d e r e m sua ident idade singular e virem a signif icar um a o u tr a co n dição ao espaço e moment o inst aurado.

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trĂŞs | dois lugar

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A ár e a de at uação selecionada para o desenvolviment o d e p r o je to foi o cent ro da cidade de São Paulo, especif icament e a r e g ião compreendida na cont ra- rót ula. Por ser uma regi ã o d e n s a e consolidada, mas que ainda possui espaços com u m p o te n cial lat ent e de uso, o desejo da escolha part iu do ímpe t o d e co mp reender minimament e as dinâmicas, imperf eições e lacu n as apresent adas no local. Fo r am e s c olhidos t rint a locais passíveis de int er venção, on d e a p r e mis sa para est a def inição, f oi a de ut iliz ar lugares que a cid ad e já proporciona, ou seja, não se t eve a int enção d e d e s ap r o p riar nenhum local onde já havia algum t ipo de uso, p o r me n or que ele f osse. Esses espaços se enquadram n a s s e g u in te s condições: L o ca is próximos a condições desf avoráveis como grand es o b r as de inf ra- est rut ura urbana – linhas f érreas, viadut os, g r andes vias – que apesar de cumprirem o papel d e u n ificar a cidade em grande escala, em pequena esca l a d e s art iculam o espaço em suas imediações. L o ca is que apresent am o lot e desf avorável a const ruçõe s, o u s eja, com pot encial econômico baixo ou pouco at rat i vo p ar a o mercado imobiliário, como áreas irregulares o u pequenas, índices de const rut ibilidade baixos, o u p r o ximidade a áreas de t ombament o hist órico.

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L o cai s o n d e a le g is lação n ão p e r mite const rução, como e sp aço s aér e o s – v is ív e is e n tr e e mpenas cegas – ou e sp aço s com p o te n cial late n te d e uso público – como p r aças e p a r q u e. O s l o c a i s q u e s e a d e q u a m a e s s a s p r e s s u p o s i ç õ e s, e q u e f o r a m o s s e l e c i o n a d o s p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o d o t r a b a l h o, refletem diferentes tipos de espaço e possuem distintas r a z õ e s d e c a r á t e r d e p r e c i a t i v o, m a s c o m u m e n t e s ã o l u g a r e s o n d e o i n t e r e s s e d o s e t o r p r i v a d o n ã o j u l g a l u c r a t i v o. Per an t e a e ss a d e fin ição, fe z-s e n e ce s s ário o ent endiment o m í n i m o d a r e g i ão, o n d e s e le v an ta o q u e st ionament o de quais f ora m as co n d i ci o n an te s q u e tr an s fo r mar a m e conf or maram os e s pa ço s q u e se ap r e s e n tam n o s d ias d e hoje e result aram nos e s pa ço s e xp e ct ante s citad o s. B e n e d i to L i m a d e To le d o, e m Tr ê s Cidades e um século, e v ide n ci a o i n í ci o d a d e s o r d e m n a fo r mação da cidade, onde pr i n ci p al m e n t e, a ár e a ce n tr al é to mada por lot eament os de s a j u stad o s, co n fo r man d o r u as e e s p aço s vagos. “[ … ] I n i cio u -s e, e n tão, e m S ão Paulo, para usar uma e x p r e s s ão Mo n b e ig, u ma e p id e m ia de urbaniz ação. E p i d e m i a p e la r ap id e z d e p r o p agação do processo;

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epidemia por seus aspect os pat ológicos de crescimen t o desordenado, sem inf ra- est rut ura.” | TOLEDO, 2007, p.78 | E s ta “ e p idemia” t eve como precursor, segundo Ant onio Egídi o Mar tin s ( TOLEDO, 2007) Frederico Glet t e, que após adqui ri r a Ch ácar a Mauá, iniciou abert ura das ruas dos Prot est ant e s, Tr iu n fo, A ndradas, Piracicaba, Helvét ia, Glet t e, Nort hman entre o u tr as. “Assim, uma a uma, as ant igas chácaras, t ão apreciad a s pelos viajant es que por aqui passaram na primei ra met ade do século, começam a ser lot eadas, de f or m a empírica e desordenada.” | TOLEDO, 2007, p.78 | A r e g ião passou por inúmeras mudanças desde ent ão, entre 1 8 7 0 e 1890 já se apresent ava como uma área residenc i a l d a e lite, passando a adquirir o carát er comercial, junt ament e co m s u a vert icaliz ação, na década de 1920, provenient e d a co n s o lid ação da Capit al como cidade indust rial. Ent re os ano s d e 1 9 5 0 e 1960 com a criação da Avenida Paulist a – q ue v e io a e se t or nar o novo cent ro das elit es – a área começ o u g r ad ativ ament e a se conf igurar como “cent ro popular”:

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col agem di gi t al | 09

“p r o g r e s s iv ame n te ( mas ain d a não t ot alment e) ab an d o n a d o p e las camad as d e alt a renda desde a d é cad a de 1 9 6 0 [ …] o s e d ifício s do cent ro t radicional, fo r am ab an d o n ad o s, p e r d e r am seu valor imobiliário e f o r am d e ix ad o s d e te r io r ar. A s sim, ao cont rário do q u e e s s as clas s e s afir mam, fo i seu abandono que fe z co m q u e o s e d ifício s s e d e teriorassem, pois não co m p e n s av a mais man tê -lo s. Não f oi a det erioração q u e p r o vo co u o ab an d o n o.” | VI L LAÇA, 1997, p.282 |

Na d é cad a d e 1 9 7 0 co n s o lid o u -s e o carát er de cent ro das c a m ad as p o p u l ar e s e já e r a v is to co mo “ decadent e” pela elit e pa ul i stan a. E n t r e o s an o s d e 1 9 8 0 a 2 000 o esvaz iament o c en tr al s e i n t e n sifico u , e n tr e o u tr o s fatores, em virt ude de pol í ti cas p ú b l i cas e p r iv ad as co n ce n tr ad as na z ona sudoest e da ci d ad e, acar r e tan d o e m 6 0 0 mil m2 d e área út il comercial v a ga, e ce r ca d e 4 6 mil imó v e is r e s id e n ci ais abandonados. 8

8 Per s p e ct iv a d a Á re a cen t r al d e S ão Pa u l o: ev o lu ção u r b an a, p lan os e p r o jet o. Facu ld ad e de A r q uit et u r a e U r b an is mo da U niv er s id ad e S ão Paul o P r o f. D r. E d uar d o N obre

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Inú m e r o s fo r am o s p r o ce s s o s q u e p r o mo v eram as mudanças na r e gi ão ce n t r al , e, s imu ltan e ame n te, alte r aram suas dinâmicas. Pa r a o p r e se n te t r ab alh o, o q u e n o s in te r e ssa evidenciar é que, m u i tas v e z e s, e s s e s fato r e s s e d e r am d e f or ma desordenada, e c om o r e s u l tad o, d ir e ta o u in d ir e tame n te, numerosos espaços a c a b ar am se m a n ife s tan d o n o s d ias d e hoje como ret alhos r e m an e sce n te s d o te cid o u r b an o. O u s e ja, em meio a t ant as t ra n s fo r m açõ e s d e s r e g r ad as, e s p aço s f oram “esquecidos” c om o p e r te n ce n te s d a malh a u r b an a.

“A r e l ação e n tr e a au s ê n cia d e u tilização e o sent iment o d e l i b e r d ad e é fu n d ame n tal p ar a compreender t oda a p o te n cia e v o cativ a e p ar ad o x a l do t errain vague n a p e r cep ção d a cid ad e co n te mporânea. O vaz io é a au sê n cia, mas tamb é m a e s p e rança, o espaço do p o s s í v e l . O in d e fin id o, o in ce r to ta mbém é a ausência d e l i m i te, u ma s e n s ação q u as e oceânica [...] parece e n fi m , c o mo a co n tr aimag e m da cidade, seja no

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A c id ad e é fo r m ad a p o r in ú me r o s fr ag ment os. Dent re eles é pos s í ve l p e r ce b e r man ch as d e “ n ão -cid ad e” em diversos locais da m al h a u r b an a. L u g ar e s ap ar e n te me n te e squecidos, exógenos e e str an h o s, fo r a d o cir cu ito d as e s tr u turas produt ivas das c ida d e s, i l h as i n te r n as d e s ab itad as, improdut ivas e muit as v eze s p e r i g o s as, lo cais co n te mp o r an e ament e à margem do s is t e m a u r b an o e p ar te fu n d ame n tal d o s ist ema.


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s e n ti d o de u ma cr itica s u a, s e ja no sent ido do indício d e u m a su a p o s s ív e l s u p e r ação.” | S O LÀ- MORALES, 1995| C on fo r m e I g n as i d e S o là-Mo r ale s, e s s e s espaços expect ant es, c ha mad o s te r r ai n v ag u e, s ão lo cais q u e aparecem geralment e n a s p e r i fe r i as d i fu s as d a cid ad e o u n o coração da cidade t ra di ci o n al . E sp aç o s ( in ) v is ív e is n a r e g ião cent ral da cidade de S ã o Pau l o e q u e fo r am o mo tiv o d e te r minant e na escolha da á rea d e p r o j e t o. B a s e ad o n a co mp r e e n s ão d e s s e s e s p aços desvinculados da m a lh a, s u r g e a in te n ção d e r e alizar e n xert os urbanos, que pe l a e ti m o l o g i a da p alav r a: “ E n x e r ir ” e “ e nxert ar”: ambos vêm de I N SE R E R E , f o r mad o p o r I N-, “ e m” , + SERERE, “unir, ligar, i n s er i r.” O u s e j a, p r o p õ e -s e r e -ad ap tar, re- conf igurar, repr og r am ar, r e - s i g n ificar e /o u r e -in s e r ir e sses espaços vagos – n o vam e n te, o u n ão – n a co n d ição u r b ana expressada.

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E s s a p r o post a visa explorar em dif erent es escalas a apropriaç ã o d o lu g ar, não havendo o int uit o de simplesment e “preencher” p o r co mp le to espaços selecionados, mas t ambém de experiment a r fo r mas o ut ras de ocupação do mesmo. Out ra condicionant e p ar a e s s es enxert os urbanos é a programát ica, que procu ra n ão s e limit ar ao carát er das t radicionais lógicas ut ilit arista s d o p r o g r ama arquit et ônico em que os usos necessit am d e r e laçõ e s diret as e at endem uma demanda específ ica imedia t a , e s im b u scar promover suport es que possam f uncionar com o u m co n tr apont o a essas lógicas abrigando uma diversidade d e u s o s – q u e se relacionam, ou não – podendo vir a proporciona r d in âmicas divergent es das habit uais.

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três | três percurso

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“ O que se quer é indicar o caminhar como um inst rument o est ét ico capaz de descrever e modif icar o s espaços met ropolit anos que muit as vez es apresent a m uma nat urez a que ainda deve ser compreendia e preenchida de signif icados, ant es que projet ada e preenchida de coisas. Assim, o caminhar revela- se um inst rument o que, precisament e pela sua int rínsec a c aract eríst ica de simult ânea leit ura e escrit a do espaç o, s e prest a a escut ar e int eragir na variabilidade desses espaços, a int er vir no seu cont ínuo devir com uma aç ã o s obre o campo, no aqui e agora das t ransf or mações, c ompart ilhando desde dent ro as mut ações daquel es espaços que põem em crise o projet o cont emporâneo.” | CARERI, 2013, p.32 | E s s e o lh ar, sobre o caminhar e suas inúmeras percepções in e r e n te s ao mesmo, seria o prólogo do pensament o sobre o s p e r cu r s o s t raçados pelos indivíduos, relat ivo não soment e a o s camin h o s ent re as int er venções em proposição, mas t ambé m atr av é s d a relação do individuo para com a própria cidade. A o s e falar do espaço do percurso – espaço do nômade – a r e fe r ê n cia opost a t ambém se irrompe, o espaço sedent ár i o, p o s to q ue, apesar de viverem em cont raposição, vive m tamb é m em osmose, t raçada pela dualidade do cheio e d o v azio. S e guindo a lógica de Felix Guat t ari e Gilles Deleuz e,

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e m M i l P l atô s “o e s p aço s e d e n tár io é est riado por muros, r e c in t o s e p e r cu r s o s e n tr e o s r e cin to s, ao passo que o espaço n ôm ad e é l i s o, mar cad o s o me n te p o r ‘tr aços’ que se apagam e s e d e s l o cam co m o tr aje to.” ( GUAT TA RI e DELEUZ E, apud, C A RE R I , 2013, p. 4 0 ) . Em s u a e s s ê n cia o te r mo p e r cu r s o ca rrega mais de um s igni fi cad o : o si mp le s ato d o camin h ar, ref let indo a prát ica da t r ave s s i a; a a ce p ção co mo o b je to ar q uit et ônico, ref erent e a lin h a q u e at r av e s s a o e s p aço ; e a a ção como est rut ura n a rra t i va, r e l atad a p e la e x p e r iê n cia d o e s paço at ravessado. Pa r a o s n ô m ad e s o p o n to d e p ar tid a e de chegada t em i n t er e ss e s ci n cu n s tan ciais, u ma v e z q u e o espaço int er mediário – es p aço d o i r – r e p r e s e n ta a e s s ê n cia do nomadismo, onde c ot i d i an am e n t e se ce le b r a o r ito d a e te r na errância: “Assim c om o p e r cu r s o se d e n tár io e s tr u tu r a e dá vida à cidade, o n om ad i s m o co n sid e r a o p e r cu r s o co mo o lugar simbólico em qu e se d e se n r o la a v id a d a co mu n id ad e” (CARERI, 2013). O e sp aço d o n ô m ad e, d ife r e n te me n te d o que é not ado pelo s ede n tár i o, n ão são v azio s, mas s ão ch e io s de possíveis rast os i n v is í ve i s, p o i s t od a d e fo r mid ad e é “ u m event o, um lugar út il pa ra o r i e n tar- se e co mo o q u al co n s tr u ir uma mapa ment al.” (CA R E R I , 2013) .

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A r e fle x ão aqui propost a da concepção/pensament o nômade, v is a e v id enciar a vida vivenciada no “espaço livre”, espa ç o e x te r n o aos enclaves criados, t ant o da cidade, como na s r e laçõ e s sociais do próprio indivíduo. Sit uações essas em que o in d iv íd uo cont emporâneo – por muit a vez es – imerso no seu – in v ar iável – cot idiano caót ico, acaba por viver pela cidad e, s e m d e fa t o (vi)vê- la. Co mp r e e ndendo as dif erent es f aces do que pode vir a ser o p e r curso, e suas represent ações perant e as vivênci a s p r o p o r cionadas por- ent re- eles, ref let e- se sobre uma out ra fo r ma d e pensar projet o. Uma possível diret riz projet ual onde a o p r o p iciar que a conexão ent re as int er venções – ou não soment e e n tr e e las – seja o próprio caminho da cidade, a experiênc i a co mo u m t odo, nunca será a mesma, não soment e pelo f at o d e q u e, p as s ado o moment o, ele não é mais passível de repet içã o, mas também dest acando os possíveis percursos, ent re rua s, av e n id as, praças, largos, ent re out ros, abra- se margem pa ra in ú me r o s cenários, mult iplicados exponencialment e devid o as s u as numerosas variáveis, não conf or mada apenas pel o s tr aje to s por sí só, mas aliado t ambém a possíveis momento s – co mo event os – que são passíveis de ocorrer at ravés d a s p e r s o n ag ens que a própria cidade nos of erece.

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Filme “L’Année der nière à Marienbad” - Diretor: Alain Resnais

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E m d e co rrência desse processo, ref let e- se sobre uma idé i a e m q u e o s conect ores projet uais possam ser t ranspost os pa ra p r ó p r ia ci dade. Como exemplo, em um objet o, o exercício d o camin h ar de um indivíduo que sai de uma quadra e visa chega r a u m r e s taurant e – ou qualquer out ro pont o programát ico d o lo cal – provavelment e ele passará por escadas, corredores, e le v ad o r es et c. Por que não t ranspor esses t rajet os para o e x te r io r ? Transf erir esses corredores para as ruas, as escada s p ar a d ife renças t opográf icas e os elevadores para passarela s? É imp o r tant e dest acar que o cent ro de São Paulo é uma regi ã o co n s o lid ada, onde inúmeros equipament os de variadas f unções s ão p r o p orcionados, por consequência, ref let e- se sobre a n ão n e ce ssidade de uma proposição projet ual onde o obje t o ab r ig u e todos os usos e at ividades f echados nele mesmo, o u s e ja, a const rução como espaço- f im, caract eriz ada apena s co mo p o nt o de chegada e saída. Busca- se port ant o a inserç ã o d e u m n ovo element o à um cont ext o pré- exist ent e, onde o me s mo, se abre a possibilidade de art iculações de t roc a s fís icas, v isuais, f uncionais, programát icas e event uais.

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A t r a v é s d o e n te n d ime n to d o p e r cu r s o co mo qualif icador a essas c ond i ci o n an t e s pr o p õ e -s e u ma e x p an s ão, um prolongament o do mo m e n t o p r o j e tu al, ao in v é s d a co n tr açã o, do est reit ament o, n ã o s o m e n t e d o limite fís ico mas tamb ém de sua condição c onte n ci o n ad o r a d as p o s s ib ilid ad e s d e const it uição de m om e n t o s o u tr o s, d o s e v e n to s.

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A estr at é g i a aq u i ap r e s e n tad a, p e r an te to d as as condicionant es a nt er i o r m e n t e c itad as, v is a a cr iação de uma rede de pos s i b i l i d ad e s atr av é s d a fr ag me n tação do objet o. Ao invés da c o n ce n tr ação d as ló g icas p r o g r amát icas, propõe- se a pu l v e r i z ar i z ação d as r e s u ltan te s fr ag me nt adas nos espaços e x pe ctan te s p r op o r cio n ad o s p e la cidade. Mult iplica- se, de s t a fo r m a, as p o s s ib ilid ad e s d e ap r o priação do espaço, a m pl i fi can d o as co n d içõ e s p ar a o co r r ê n c ia de dif erenciadas di n â m i cas e e v e n to s, e m d iv e r s o s lo cai s, t ant o do espaço f ís i c o co n str u í d o, d o e s p aço ab s tr ato d o s percursos e/ou das s ua s i n ú m e r as con e x õ e s co m a p r ó p r ia cidade.

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I M A G EM TU D O

capĂ­tuloquatro

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hip贸tese

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croquis de estudo da autora

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croquis de estudo da autora

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fragmentação do objeto

sesc ceu instituição centro cultural

PROGRAMAS Programas e equipamentos incorporados a grandes objetos de concentração de cultura/atividade/instituição, como quadras, piscinas, oficinas, bibliotecas, apresentações entre outros.

E S T R AT É G I A Hipótese de fragmentar esses programas, e distribuí-los por uma região. Dessa for ma, o caminho que levaria a pessoa de um local para o outro dentro de um edifício, se tor naria a própria cidade.

OBJETO Único objeto contém todos os programas anterior mente citados, concentrando muitos usos em um único local, que (pode) ter um raio de abrangência muito limitado.

espaços ociosos - infraestruturas

espaços ociosos - praças

espaços áereo residual

01

a v d u q u e d e c a x i a s x a v r i o b r a nc o

08

r ua a ur o r a

15

02

a v r i o b r a n c o x r u a g e n e r a l o só r i o

09

a v s ã o j o ã o x a v i pi r a nda

03

rua mauá - estacionamento

10

pr a ç a do c o r r e ir o

04

rua mauá - praça

11

r ua gl i c é r io o

05

rua mauá - terreno baudio

12

a v pr e fe ito pa s s o s - “ pr a ç a ”

06

av tiradentes - passarela

13

a v do e s ta do - c a nte ir o

07

av cásper libero - praça luz

14

a v pr e s te s ma ia

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FRAGMENTOS A idéia de fragmentar programas implica na diminuição dos objetos, dessa for ma, trabalhou-se com a idéia de utilizar espaços que a cidade propicia, espaços residuais.

baixo de viadutos

v iadut o diário popular

23

16

av v ieira de carv alho

24

largo do arouche

17

largo set e de set embro - respiro

25

praça dom josé gaspar

18

met rô sé

26

v ale do anhangabaú

19

rua v encelau brás x rua robert o

27

rua f ormosa

20

simonsem

28

av 23 de maio - cant eiro

21

rua libero badaró

29

praça igreja da consolação

22

largo paissandú

30

rua da cant areira - post o abandonado

praça da república


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rua libero badar贸, 360 a t i v i d a d e

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f 铆 s i c a


CIRCULAÇÃO A circulação do edifício busca ser um lo cal passivel de utilização. Uma vez que a proposta do objeto, visa a realização de atividades físicas, a rampa foi projetada com intuito de também funcionar como pista de corrida, onde por ela, é possivél visualizar todas as atividades realizadas nos pavimentos.

E S T R U T U R A P R I N C I PA L Estrutura metálica foi escolhida pela facilidade de montagem, diversidade de modulações, maior possibilidade de grandes vãos e peças estruturais de menor dimensão. No objeto proposto também foi adotado a utilizacao de laje steel deck, para o travamento longitudinal da estrutura.

U S O S D O E S PA Ç O No centro do projeto estão localizados salas, que possibilitam multiplas atividades, desde espaços que abrigam aulas de dança, yoga, musculação a locais de suporte para as atividades realizadas no local, como vestiários e lanchonete.

M AT E R I A L I DA D E Além da rampa como circulação, o projeto possui uma generosa escada de chapa metálica dobrada, com fechamento em duas das laterais com vidro colorido; e guarda-corpo em chapa metálica perfurada Característica de todos os objetos propostos, buscando atingir uma mesma linguagem visual.

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CORTE URBANO

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PLANTA SITUAÇÃO

IMPLANTAÇÃO


PLANTA TÉRREO

PLANTA TIPO 1º, 2º E 4º, 5º PAVIMENTO

PLANTA VESTIÁRIO

PLANTA COBERTURA

CORTE LONGITUDINAL

CORTE TRANSVERSAL 89


PERSPECTIVA têrreo entrada

PERSPECTIVA térreo uso 90


91


PERSPECTIVA rampas e circulação

PERSPECTIVA salão multiuso 92


93


av. rio branco, 722 1/2 a p o i o

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r e s i d e n c i a l


E S T R U T U R A P R I N C I PA L O edifício foi implantado se encontra entre duas empenas e sob uma pequena casa já existente. A logistíca de montagem e a possibilidade de vencer vãos com peças esbeltas levou a escolha da estrutura metálica.

CIRCULAÇÃO O edifício foi implantado se encontra entre duas empenas e sob uma pequena casa já ex istente. A logistíca de montagem e a possibilidade de vencer vãos com peças esbeltas levou a escolha da estrutura metálica.

ÁTRIO CENTRAL O edifício anexo possui um átrio central onde se localiza a escada de circulação, que concecta todos os pavimentos, visando um espaço mais amplo e uma melhor ventilação, uma vez que sua largura é pequena.

U S O D O E S PA Ç O O edifício anexo possui um átrio central onde se localiza a escada de circulação, que concecta todos os pavimentos, visando um espaço mais amplo e uma melhor ventilação, uma vez que sua largura é pequena.

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CORTE URBANO

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PLANTA SITUAÇÃO

IMPLANTAÇÃO


PLANTA ACESSO

PLANTA ÁREA DESCANSO

PLANTA PAV TIPO

PLANTA COBERTURA

CORTE LONGITUDINAL

CORTE TRANSVERSAL

97


PERSPECTIVA vista lateral esquerda

PERSPECTIVA vista lateral direita 98


99


PERSPECTIVA área de alimentação e descanso

PERSPECTIVA cobertura 100


101


rua vieira de carvalho, 149 a b r i g o

102

t e m p o r รก r i o


E S T R U T U R A P R I N C I PA L A estrutura metálica foi utilizada para a construção do abrigo temporário por suas qualidades como a rápida montagem e peças mais esbeltas, facilitando a implantação do projeto.

U S O S D O E S PA Ç O O térreo abriga o espaço de oficinas e vestiários, com acesso lateral ao fundo do lote para carga e descarga de materiais, enquanto na laje superior estão dor mitórios e administração.

M AT E R I A L I DA D E A estrutura principal é composta por peças metálicas, assim como a circulação (escadas e rampa frontal de acesso) que são em chapa metálica dobrada pintada de acordo com a comunicação visual. Concreto e vidro completam o edifício.

FACHADA O guarda corpo, parte principal do elemento de composição da fachada, é em chapa metálica perfurada com uma paginação em peças diagonais, construída a partir de diferentes tons e perfurações.

103


CORTE URBANO

104

PLANTA SITUAÇÃO

IMPLANTAÇÃO


PLANTA TÉRREO

PLANTA 1 PAV

PLANTA COBERTURA

CORTE LONGITUDINAL

CORTE TRANSVERSAL

105


PERSPECTIVA entrada

PERSPECTIVA entrada 106


107


PERSPECTIVA quarto

PERSPECTIVA circulação e permanência 108


109


b

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