Livro projeto deixe me ver

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PROJETO

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Dedico este projeto à todos aqueles que lutam todos os dias por uma sociedade mais igualitária. Àqueles que, como disse Rosa Luxemburgo, perceberam que quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem. E àqueles que estando em um lugar de privilégio, sabem que o que os diferencia de alguém que não está nesse mesmo lugar, foi a pura sorte de ter nascido no lugar certo.

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SUMÁRIO

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11 12 Acerolas Empoderamento feminino

Prefรกcio Sobre o projeto

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Anna Grrrl Empoderamento feminino

Emerson Dias

26 Amanda Paschoal Empoderamento feminino

Empoderamento negro

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34 Monge Han Empoderamento asiรกtico

Priscila Barbosa

36 Camila Rosa Empoderamento feminino

Empoderamento feminino

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46 Renata Nolasco Empoderamento feminino

Kuy Empoderamento femino

48 Cristina Corat Empoderamento negro | feminino

62 Ana Maria Sena Empoderamento negro | feminino

74 Faw Empoderamento negro | feminino

50 Cyla Costa Empoderamento feminino

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58 Dharilya Empoderamento negro | feminino

70 Natรกlia Schiavon Empoderamento feminino

Limรฃo Empoderamento negro | feminino

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80 Anacardos Empoderamento negro | feminino

Flรกvia Borges Empoderamento negro | feminino

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Prefácio O projeto Deixe Me Ver é um projeto de conclusão de curso de Caroline Monroe, estudante do curso de Design Gráfico pela Faculdade de Artes, Arquitetura e Comunicação, da Universidade Estadual de São Paulo. Numa sociedade que se mostra cada vez mais aberta à discussão sobre opressões, o projeto visa demonstrar como a ilustração pode ser uma forma de empoderamento de grupos socialmente oprimidos. Através de entrevistas com artistas que enxergam a importância da representação de todos os grupos sociais e demonstram isso em suas peças gráficas, foi criado um livro e um site para que toda essa reflexão sobre o assunto pudesse ser compartilhado com o público em geral. Entretanto, o trabalho visa alertar principalmente outras pessoas da área artística sobre a necessidade dessa discussão. Desta forma, além de falar sobre sua trajetória como artistas, os entrevistados também deram dicas para futuros profissionais da área. Todas as artes utilizadas no projeto foram concedidas com a permissão de seus criadores e suas respostas foram reproduzidas integralmente, sem edições. Boa reflexão!

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ACE ro las Acerolas - Gabriela Carvalho e Lilian Espíndola

Recife - PE

instagram/acerolas_

Pra você, o que é representatividade? Para nós, representatividade é ser uma referência para alguém que compartilha um determinado grupo social com você na sociedade. É poder se inspirar em uma pessoa, por conseguir se identificar com ela. É sentir que você não está sozinho, que tem outras pessoas “parecidas” com você lutando pelas mesmas causas que você acredita. A representatividade é especialmente importante

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para os grupos oprimidos da sociedade, que de algum jeito têm seus direitos tolhidos, de forma velada ou explícita. Ela nos dá um sentimento de força coletiva, que nos impulsiona a resistir. A gente não pode enxergar o que a gente não vive, e é por isso também que existe representatividade: para mostrar às pessoas pontos de vista, realidades, compreensões de mundo diferentes.


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Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? A arte é um reflexo do que acontece na sociedade. Logo, dado o contexto – ainda pequeno, mas em constante crescimento – de ascensão dos movimentos sociais na mídia, os artistas têm cada vez mais se preocupado em produzir artes empoderadas, mostrando o mundo a partir do ponto de vista deles.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? Entender a pluralidade do grupo que você está representando, ou seja, tomar cuidado para não reforçar estereótipos e saber o seu lugar de fala. Nós, por exemplo, fazemos parte de um grande grupo: mulher. Mas há vivências que não conhecemos, como a negra, indígena, trans, periférica, etc. Logo, nós só podemos falar sobre ser uma mulher de classe média nordestina. Ao nos reafirmarmos, temos que ter o cuidado de não excluir nem oprimir as outras mulheres que tem vivências diferentes das nossas. O nosso papel é apenas de apoiá-las.


Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Acreditamos que a própria representatividade nos estimulou a produzir arte. Percebemos que os grupos oprimidos sempre têm que provar mais suas competências para serem aceitos. Uma mulher, por exemplo, produzindo qualquer coisa, principalmente a nível profissional, tem que ser a melhor para obter credibilidade, caso contrário ela não é levada a sério. Esse tipo de pressão muitas vezes nos desestimula a lutar pelo nosso espaço. Ver mulheres ganhando visibilidade com seus trabalhos artísticos, de cunho político ou não, nos inspirou muito e nos dá cada vez mais força em acreditar no nosso potencial. Outro fator que nos estimulou foi o fato de dificilmente vermos frases feministas em português. Notamos que estávamos consumindo “produtos feministas” que não nos representavam completamente: nem toda a população brasileira fala inglês, nem todos que veem as camisas feministas pelas ruas se identificam com as mensagens. Percebe-se que muitas vezes a linguagem distancia o leitor do conteúdo da mensagem. Somado a isso, temos também a questão de sermos mulheres nordestinas. Ainda é muito disseminada a visão de que tudo das regiões sul e sudeste é sempre superior, no entanto o Nordeste é repleto de cultura e

potencial criativo, assim como todos os Estados brasileiros. Basta haver visibilidade para isso. Ao incorporar o nosso sotaque nos letterings, nós tentamos democratizar mais o feminismo, tornando ele mais acessível do ponto de vista local, além de empoderar as nordestinas, grupo que ainda é vítima de preconceito. Hoje em dia, a mídia tem dado mais ênfase ao Nordeste, o que ocasionou aos próprios pernambucanos terem mais orgulho de seu Estado. Tudo isso nos deu mais espaço para sermos bem recebidas com nossa proposta. Portanto, acreditamos que temos um impacto ideológico, de auto aceitação e empoderamento da mulher nordestina.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? No contexto das lutas sociais aos poucos conseguindo mais força e, em contrapartida, os movimentos fascistas tentando contê-las, o conselho que damos para um artista é: tenha consciência do poder que a arte tem, tanto político quanto social, de sensibilizar, empoderar e aproximar as pessoas; esteja seguro de seus posicionamentos para não ofender grupos oprimidos, e só vai!

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e mer son Emerson Dias Campinas - SP

instagram/emersondiasm5

Pra você, o que é representatividade? Representatividade é como um espelho, no qual você encontra pessoas que vivem as mesmas situações e superações que você, e essas pessoas se tornam um exemplo pra você, tais pessoas fazem com que nos colocamos no lugar delas isso nos capacita a evoluir, e refletirmos se aquela pessoa que enfrenta as mesmas dificuldades que eu conseguiu trilhar aquele caminho e se destacar, logo eu também posso ser bom e me destacar no caminho que eu escolher.

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Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade?

Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial?

Sim acredito que sim! Vejo que isso não é só no meio artístico mas na sociedade como inteira estamos caminhado a passos muito lentos em relação a uma sociedade em que todos se vejam em todas as mídias, vejo isso nos comerciais, nas midias, na tv, mas ainda é muito pouco não é nem um por cento do que devemos caminhar mas é um começo, (e eu me incluo nisso pois representatividade não era uma pauta importante no meu trabalho a 5 anos atras), a popularização da internet tem um papel importante nisso, pois agora todos são criadores de conteúdo e podem dizer como se sentem e tocar nas feridas ainda não cicatrizadas de nossa sociedade, antes só os grandes canais tinham o poder da fala e eles que decidiam as pautas a serem refletidas.

Acho que o desafio é o mesmo de expor qualquer opinião, vivemos em um lugar plural e existem pessoas com os mais variados posicionamentos, muitos vão se ofender com sua proposta e muitos irão aplaudir e se inspirar, acho que o único cuidado que eu tenho é de tentar retratar o que eu sinto, pois vou ter propriedade para discutir algo que sinto, que não retratei pelo ponto de vista de outra pessoa, vivemos em um momento de embate de ideias um momento muito delicado que pessoas confundem opiniões com ofensas.

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Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? O que motivou meu trabalho foi minha timidez, quando adolescente eu me tornei uma pessoa mais introspectiva, não me enturmava tanto assim, então os melhores momentos eram sozinhos desenhando em sala de aula mas naquela época, não sabia o que queria dizer com meu trabalho, com o tempo fui experimentando vários estilos até me encontrar, quando entrei na faculdade comecei a encontrar, ouvir e ler verdades que são ocultadas de nós no ensino fundamental, principalmente na questão negra, foi ai que comecei a me ter um pouco mais de foco nessa questão, mas mesmo assim eu trato de todos os temas que visitam minha mente.

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Sobre impacto social eu vejo a arte como uma mídia também e como uma mídia ela deve ser plural e representar a sociedade. Algumas dezenas de pessoas me mandam mensagens dizendo que se inspiram no meu trabalho, alguns dizem que querem tatuar, que se sentem representadas, que sentem a mesmas coisas, mas em questão de quantidade ainda é pouco, de acordo com minhas metas, mas devemos ser bom no pouco para sermos bons no muito.


Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? A arte se trata principalmente de liberdade, então seja livre pra se despir se expor através do seu trabalho, seu trabalho é seu universo particular você pode fazer o que quiser, chegar aonde quiser, e ser real consigo mesmo que as pessoas possam ver você no seu trabalho, acho que falar sobre o que vive e o que sente já se trata de representatividade pois varias pessoas sentem a mesma coisa que você, e ao mesmo tempo acho que não devemos levar isso como uma obrigação cada um deve refletir e analisar os temas relevantes para o seu trabalho, um artista pobre não deve ter a obrigação de retratar pobreza, como disse anteriormente arte se trata de liberdade.

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an na Anna Grrrl - Ana Antonov Cachoeirinha - RS facebook/annagrrl

Pra você, o que é representatividade? É retratar pessoas ou situações com um cuidado a mais, sem reforçar os estereótipos que a mídia tradicional impõe.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Acredito que sim, as questões sociais estão muito mais presentes agora, e a repercussão (principalmente negativas) se espalha muito rápido, a maioria dos artistas tratam desse assunto com boa intenção e consciência, mas alguns é apenas pra não “pegar mal” com algum grupo. Em 2017 o feminismo e Girl Power explodiu no marketing e na publicidade, as marcas milionárias estão explorando esse assunto exaustivamente só com o propósito de ganhar dinheiro em cima de pessoas que não estão no “padrão”da moda. 22


Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial?

O maior medo é ter uma boa intenção mas por ignorância acabar ofendendo algum grupo em especifico, também é necessário muito cuidado com o lugar de fala, sempre tentei me colocar no papel de mulher branca que não é pobre, pedindo opinião de outras pessoas para artes especificas que eu não tinha conhecimento nem vivencia sobre.

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Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Acredito que foi só pra botar para fora aquelas coisinhas que irritam no dia a dia, aquela violência que é mascarada de várias formas sutis, teve um dia muito importante pra mim como artista foi quando uma menina chegou pra mim e falou: “Eu vi uma menina no trem com as pernas peludas e aquilo tava me incomodando, mas dai eu lembrei dos teus desenhos exatamente sobre estar ofendida por isso, e isso me fez refletir demais sobre o por que daquele pensamento estar ali já que não mudava nada na minha vida as pernas dela peludas ou não.”

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Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Meu conselho é fazer o que faça você se sentir bem, sem ofender ninguém, sem excluir ninguém, sem retratar apenas as situações do seu ponto de vista, é bom conversar com as pessoas e saber o lado delas, acredito que isso faz a pessoa crescer, faz o artista crescer também.

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a man da Amanda Paschoal Santa Bárbara d’Oeste - SP instagram/pasch_al

Pra você, o que é representatividade? Representatividade é se enxergar no mundo, sentir que você é parte de algo, que algo te representa. Ter sua existência validada dentro de um determinado espaço.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Questões políticas tomaram uma proporção muito maior nos últimos anos, colocando contra a parede diversos criadores de conteúdo e artistas, com uma pressão se espalhando até pelas produtoras, editoras e afins. Um posicionamento às vezes mal visto, mas que têm demonstrado alguns resultados positivos, dado a vasta quantia de conteúdo inclusivo que foi produzido, publicado e lançado nos últimos cinco anos.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? Não acredito que seja um cuidado especial, é um cuidado de pesquisa e de levar seu conteúdo à sério, tal qual uma questão científica. Conhecer o que você está retratando para não reproduzir falácias e perpetuar visões incoerentes com a realidade.

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Sempre ilustrei mulheres e tive esse interesse por como elas eram retratadas em diversas áreas, por ter iniciado meus trabalhos junto com uma corrente feminista forte dentro do ambiente de produção de zines, alguns dos meus primeiros trabalhos tratavam dessas questões com um viés de militância maior. Conforme migrei para o feminismo interseccional passei a me atentar à mais questões de recorte dentro

das discussões, também. Hoje ainda sou convidada para ilustrar mulheres em específico para campanhas feministas, mas dentro de meu trabalho autoral todas estas questões técnicas moram na concepção da obra, de maneira menos literal. Escolhendo uma pose diferente, retratando traços faciais andróginos, dentre outras questões. Como também sou quadrinista, sempre que ilustro penso na criatura ilustrada como um personagem com história e contexto. Nas entrelinhas moram significados poderosos. Já recebi muitos agradecimentos e feedbacks positivos de pessoas que se sentiram acolhidas dentro do meu olhar. Acredito que em conjunto essa nova leva de artistas conseguiria obter um forte impacto social, influenciando jovens minorias que el_s possuem tanta capacidade quanto qualquer outr_.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Pesquise o que você quer retratar, faça seu trabalho com atenção e dedicação.

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PRIS CI LA Priscila Barbosa São Paulo - SP

instagram/priii_barbosa

Pra você, o que é representatividade? Representatividade pra mim é a abertura de espaços pra expressão de grupos ou causas marginalizados ou tidos como inferiores e consequentemente silenciados..

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Acho que talvez o aumento da produção artística que leva em consideração uma representatividade mais heterogênea tenha vindo de uma demanda exigida pelo próprio público, que passou a não aceitar mais uma arte engessada e que reafirma padrões. Nos dias de hoje, tem sido cada vez mais necessário que nós artistas tomemos partido e utilizemos a arte como ferramenta política, que é de fato uma das suas maiores potências enquanto comunicação.

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Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? O mais importante no meu processo é ouvir o que o público têm a dizer e tentar retratar diferentes pessoas com o máximo de respeito. É fundamental me propor a ilustrar tentando me desfazer dos meus próprios pré-conceitos e padrões com os quais fui crescendo, sem tomar o lugar de fala de ninguém. Pelo contrário, tentando criar espaços e levantar outras mulheres pra que elas possam expressar o que só elas sentem, e que talvez eu nunca consiga acessar.

Minhas ilustrações retratam em sua maioria o universo feminino através de retratos ou metáforas. Tento trazer assuntos que têm minha atenção, como a liberdade feminina e o conhecimento e aceitação do próprio corpo, enquanto potencial poético. São inquietações muito íntimas e pessoais que levo à público numa tentativa de encontrar respostas ou apenas poder ver que outras tantas mulheres estão na mesma busca. A botânica permeia todo esse universo, trazendo naturalidade e delicadeza aliados à força, uma característica marcante nas mulheres mas muitas vezes subjugada ou vinculada à estereótipos antiquados e sexistas.​ Muitas vezes uma metáfora tem mais impacto provocativo que uma imagem explicita e pode suscitar reflexões e discussões bastante relevantes no cenário atual da discussão de gênero. Nesse cenário, aposto em uma linguagem cheia de sutilezas e nostalgia pra alcançar sentimentos e sensações que façam com que outras pessoas se identifiquem com essas discussões.

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Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Prestar atenção nas pessoas ao seu redor e dar voz a elas. Não se colocar no lugar do outro, acho esse discurso bastante falho tendo em vista que cada pessoa tem uma experiência que difere até mesmo das pessoas que lutam pela mesma causa. Além disso, criar se baseando em causas que você de fato sente algo e não como uma jogada de marketing, porque isso fica muito claro e é bastante desrespeitoso.

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mon ge Monge - Eric Han Schneider Curitiba - PR

instagram/mongehan

Pra você, o que é representatividade? É se sentir visto e representado pelo veículo de mídia ou arte que você acompanha.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Acho que sim! É um conceito que tem chamado bastante atenção agora também.

Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? Acho que é delicado na verdade. Quando eu produzo sobre minha realidade existe menos preocupação, mas se eu for fazer um personagem negro, ou trans, eu sinto que deveria escrever o personagem junto de uma pessoa dessa realidade, do contrário só estou me preocupando com as aparências. 34


Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Acho que de certa forma tem sim. Comecei a produzir quando vi que era possível falar sobre essas coisas pra começar. Antes eram só coisas da minha vida que eu não sabia se deveria dividir com as pessoas. Mas lá por 2014 vi uns vídeos de pessoas asiáticas americanas falando sobre suas vivências, e várias coisas sobre minha vivência brasileira asiática vieram a cabeça, e comecei a ficar com muita vontade de dividir.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Acho que é importante pensar que é bom falar sobre representatividade simplesmente porque são histórias muito reais pra gente passar batido. E histórias que tem essa sensação de real, que espelham a nossa vida de alguma forma, é a que se conectam com as pessoas e dão forças pra elas encararem as próprias vidas. É uma benção fazer isso, mas pra fazer bem precisa de tato e estudo com certeza. Trabalhar com realidade asiática me fez aprender muito sobre a história dos meu avós e da minha família.

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ca mi LA Camila Rosa Joinville - SC

instagram/camixvx

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Pra você, o que é representatividade? Pra mim, representatividade é quando um determinado grupo ou setor da sociedade consegue se sentir contemplado pela atuação de uma outra pessoa ou grupo em um espaço de poder. É quando você sente que quem tem uma maior influência na sociedade consegue representar setores marginalizados como as mulheres, negros etc através de suas ideias e comportamento.


Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Acredito que sim porque passamos por um momento de despertar de consciência política e a representatividade faz parte dessa nova pauta. Hoje é muito importante que os artistas também se preocupem com a influência que eles e o trabalho deles tem sobre outras pessoas e como isso pode mudar a realidade da sociedade.

Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? Pra mim o maior desafio é conseguir ter foco e cuidado com o que está sendo abordado. Não é só sobre ter um trabalho que as pessoas possam se sentir representadas, mas sim sobre ter um trabalho que também possa educar e mudar a realidade das pessoas que consomem ele.

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Desde a adolescência eu tive envolvida com assuntos políticos, como feminismo, movimentos sociais, veganismo etc, então pra mim foi apenas esperar o momento de eu conseguir encontrar uma maneira de colocar isso no meu trabalho, não foi algo que pensei muito, eu só comecei a expor o que eu sentia em relação ao mundo. Não acredito que o meu trabalho tem um grande impacto social, mas eu sei que ele atinge muitas pessoas e que isso ajuda na mudança de pequenas realidades e isso pra mim já é suficiente.

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Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Nunca tentar se enquadrar na tendência do momento, mas sim fazer o que você sente que é a sua realidade, a sua essência.


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kuy Kuy - Karyne Elise Recife - PE

instagram/kuyillustrations

Pra você, o que é representatividade? Representatividade é você sentir e perceber que algum aspecto próprio, pessoal, está sendo correspondido e demonstrado por algo ou alguém. Envolve empatia e a percepção de que pessoas necessitam disso para elevar a autoestima, para se sentirem contempladas, para conseguirem ter ídolos que não são intocáveis ou idealizados, mas que essas mesmas pessoas podem ser. Em aspectos pessoais, gosto de ser representada, não só em termos físicos, mas psicológicos também, pois assim consigo enxergar que posso ser tal pessoa (se ela é forte, determinada, guerreira, por exemplo, talvez um dia eu consiga ser tudo isso).

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Sim, até porque o assunto tem estado mais em voga. Tem-se falado muito mais disso e as pessoas cobram representatividade. Isso é importante.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? Os desafios são os esteriótipos, pois é muito fácil cair neles, mesmo que não intencionalmente. Na área da ilustração, por exemplo, é perigoso fazer uma personagem negra com lábios enormes, pois pode parecer uma brincadeira de mau gosto. Da mesma forma que é muito perigoso fugir muito da realidade, como fazer personagens negras com traços mais brancos, por exemplo (como nariz e lábios finos, boca pequena, cabelos lisos). É importante representar, tentar mostrar a realidade, mas sem cair na zoeira, nos esteriótipos

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ou na “higienização”. Uso este termo pois parece que há uma tentativa de querer esconder a realidade, fingir que ela não existe. Se for fazer personagens negras, que seja com aquele nariz de bolinha, aquela boca mais carnuda, aquele black grandão. Mas nada super exagerado ao ponto de se tornar uma humilhação pra quem está observando a ilustra ou pra quem você tá tentando representar.


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Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Ultimamente, eu trabalho mais com ilustração didática infantil. Sim, eu creio que meu trabalho tenha um impacto social, pois a criança começa a formar conceitos identitários desde muito cedo. Fazer com que uma criança negra mais gordinha consiga se enxergar brincando com os amiguinhos em uma ilustração no livro da escola é muito importante, muito essencial. Até porque, quando a sociedade lida com minorias, quando lida com o “diferente”, tende a desprezar

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tudo isso. Tende a julgar, a fazer bullying... As pessoas são ensinadas a diminuir o que é diferente delas. A sociedade forma “padrões” do que devemos ser e se fugirmos desses “padrões”, seremos taxados como errados, defeituosos, ridículos, inúteis e por aí vai. Se uma criancinha negra gorda, por exemplo, olha para uma personagem igualmente negra gorda e FELIZ na ilustração, pode fazer com ela perceba que também pode ser feliz que nem a personagem.


Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Meu conselho é conversar com pessoas que precisam ser representadas mais frequentemente (como as minorias, por exemplo), observar, ter mais empatia, se colocar no lugar do outro. Afinal, como já mencionei, se eu for representada, gostaria de me enxergar forte, determinada etc. Se a todo momento eu for colocada como alguém fraca, pequena e inútil, passarei a acreditar que eu de fato sou todas essas coisas negativas, que esse é o padrão. É difícil sair do padrão ou conseguir perceber que há saídas.

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re na ta Renata Nolasco Mossoró - RN

instagram/atxnolasco

Pra você, o que é representatividade? Identificação do sujeito com a obra/imagem/meio. É se ver e ver o seu dia-a-dia, suas experiências, retratas de forma fiel e não caricata. Propagar a realidade de um grupo.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Sim, pois lentamente estamos nos dando conta de que o mundo não é formado exclusivamente de homens brancos, héteros e cis. E se o mundo não é formado exclusivamente de homens brancos, héteros e cis, por quê deveríamos aceitar que essa seja a única realidade nos apresentada? As demandas das minorias de poder por verem o seu mundo nessas obras tem feito com que os artistas percebam a importância da representatividade (e, infelizmente, também da representatividade capitalizada), assim como o mercado se abrir para artistas que não sejam exclusivamente homens brancos, héteros e cis.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? Acredito que seja importante que exista representatividade em obras ficcionais porque o mundo não é feito por pessoas iguais, mas muitas vezes eu não faço parte de grupo de pessoas minorizadas (como negros e trans, por exemplo). É sempre difícil escrever ou ilustrar um grupo do qual você não faz parte, por receio de cair na caricatura. Mas se você tem essas pessoas no seu convívio social, então conversar, conhecer e entender normalmente já basta para clarear a mente - se você não tem essas pessoas no seu convívio social, então alguma coisa está errada. E é sempre importante deixar que esses grupos falem por si mesmos. Não acredito que apenas mulheres devem falar sobre mulheres ou apenas LGBTs falarem sobre LGBTs, mas quando a maior parte das vozes e a liderança da representação de mulheres e LGBTs não vem de mulheres e LGBTs, corremos o risco daquela representatividade espelhada, do que o Outro vê quando olha para a minoria. Acredito que meu maior cuidado seja a veracidade do que represento e de não estar pisando no lugar de ninguém que tem mais respaldo do que eu para falar sobre aquilo.

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Olha, indignação princialmente (haha). Não sinto tanta vontade de ilustrar coisas que me fazem sentir bem, só vivê-las me basta, mas às vezes o gatilho da vida real é tão pesado que para não gritar a gente tem que colocar no papel. Também achei principalmente nas tiras um meio didático de abordar certos temas, o velho “entendeu ou quer que eu desenhe?”. E o impacto social sempre existe quando a gente cria alguma coisa e compartilha isso, mesmo que pequeno. Influencia nossos amigos, familiares... Nos últimos meses, com a onda direitista no nosso país, sinto as mudanças principalmente nos comentários na minha página. Antes, não tinham tantos comentários raivosos. Hoje, é só o que tem.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Divulgue. Não escreva ou ilustre para si, escreva e ilustre sobre si e coloque isso no mundo. Precisamos nos ver, compartilhar e nos amar mais.

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cris ti na Cristina Corat São Paulo- SP

instagram/criscorat

Pra você, o que é representatividade? Para mim, representatividade é se enxergar como pertencente ao mundo sem sentir medo. É mostrar que todo ser humano é importante para a sociedade ao exaltar culturas e pessoas diferentes em meios midiáticos, de forma a poder ver em seu semelhante você mesmo.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Sim, mas ainda há muito para progredirmos. Ainda vejo muita gente que, por exemplo, coloca em seus trabalhos um negro e um asiático no meio de várias pessoas brancas e acredita que foi diverso, como se fosse desencargo de consciência. O dia em que as ditas minorias não forem esquecidas e colocadas por último para ter a “cota de diversidade”, aí sim teremos uma real representatividade.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? É essencial entender e saber quem são as pessoas a serem representadas, para não cairmos em esteriótipos. A diversidade existe não só por nossos traços físicos, mas também porque temos culturas diferentes que nos definem socialmente. Então, junto das imagens representativas, é importante entender quais características serão agregadas para torná-las mais reais e próximas do público alvo, de modo que não ofenda ninguém.

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Como mulher negra, eu sei das dificuldades e preconceitos que todas as mulheres negras enfrentam. Como tive liberdade no meu trabalho, escolhi fazer algo que trouxesse um aprendizado pessoal para o público, mostrando a importância do feminismo negro. Acredito que meu vídeo possa dar força para mulheres que precisam de voz e informar, tanto àquelas que sentem que são um erro quanto à toda população, que a sociedade que está errada.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Estude a sociedade em que você vive, sério. Sua arte comunica algo para pessoas e elas são impactadas por isso, independente do que seja.

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cy la Cyla Costa Curitiba - PR

instagram/cylacosta

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Pra você, o que é representatividade? Pra mim, representatividade é a presença social de todas as camadas da sociedade que, embora frequentemente sejam chamada de “minorias”, não são exatamente uma minoria. Todas as pessoas têm o direito de se sentirem representadas e identificadas conforme seu gênero, cor, discurso, orientação sexual, tanto em esferas pequenas como sua escola quanto nas maiores, como na política. Esse é o senso de pertencimento que faz com que a gente sinta que nossa vida é valorizada.


Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade?

Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial?

Sim, definitivamente. Acho que estamos num momento bem especial pois, desde que existe a comunicação digital e redes sociais, esse é o momento em que estamos vendo tudo isso se manifestar de forma mais abrangente. Os artistas têm um alcance maior, por meio de uma rede que (ainda) não tem muito controle. Geralmente os artistas são uma classe preocupada com questões sociais como a representatividade, então o resultado é mais informação sobre isso online, na forma de suas expressões artísticas.

Olha, não sei se consigo responder isso com tanto conhecimento de causa, pois até agora só participei de projetos que acredito com minha expressão artística, nunca coordenei nenhum projeto grande sobre isso. Mas sim, existem vários cuidados a serem tomados, como minúcias de linguagem escrita e visual que possam tomar um rumo inesperado. Quanto a gente coloca algo no mundo louco da internet, isso está aberto a todo tipo de interpretação. Por isso, quando se trabalha uma questão delicada e polêmica como as de representatividade, todo cuidado é necessário.

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Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Eu sou mais envolvida com questões de feminismo e sinto que o que me estimula a fazer isso é minha própria vivência como mulher em um mundo machista. Penso que o que posso fazer, em primeira instância, é conversar ao vivo com pessoas que estão à minha volta que muitas vezes falham em enxergar coisas simples, replicando preconceitos e perpetuando um mo-

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delo patriarcal, às vezes sem sequer perceber. Num âmbito maior, sinto que posso usar minha arte para transmitir ideias de igualdade e chamar a atenção pra questões de gênero, já que tem algum alcance como artista. Dessa forma, acho que consigo um equilíbrio micro/macro legal.


Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Tenho certeza que sou uma pessoa super privilegiada em vários aspectos então tento olhar pra isso e encorajo os outros a fazerem o mesmo. A gente já sabe que a sociedade do jeito que está é bem bizarra mas também não dá pra ficar chorando em casa. Também não dá pra abraçar toda causa, senão não resta vida e nem leveza. Pra mim, a questão toda é sobre equilíbrio. Acho que a questão mais pungente pra mim é o feminismo, então tento dar atenção a isso e me pronunciar por meio do meu trabalho, mas sempre tentando equilibrar isso com minha vida e meus outros trabalhos. Não sou super idealista e não vivo só por uma causa, mas as ideias e causas também fazem parte da minha vida. Quero cultivá-las aqui pertinho e quem sabe ajudar outras pessoas a desconstruírem esses padrões estranhos e limitadores sob os quais vivemos.

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Dha ri lya Dharilya Fortaleza - CE

instagram/dharilya

Pra você, o que é representatividade? Acredito que seja o ato de representar algum grupo ou classe social.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Sim, principalmente quando ele mesmo faz parte de determinado grupo que sente falta e precisa dessa representativa.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? O maior desafio é medo da rejeição, medo das criticas... As vezes são seus próprios pensamentos te sabotando Até porque você acaba querendo trabalhar com algo que não é “padrão” Percebi que as criticas vão aparecer independente do trabalho que eu fizesse e estaria mentindo se eu falasse que não perco o chão quando recebo alguma. Existe sim um cuidado especial, é sempre bom ler artigos ou entrevistas, sobre o grupo pelo qual você deseja trabalhar essa representação... conversar com algum amigo ou alguém que faça parte desse grupo ou classe social... uma de nossas principais ferramentas é saber ouvir nosso publico. As vezes nos surpreendemos com a opinião de cada um...

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Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Meu maior estimulo inicialmente foi eu mesmo (hahaha)... quando criança sentia falta de me ver representada em desenhos animados... conto nos dedos os que tinham alguma personagem legal que me identificava (como caverna do dragão que tem a Diana), ou mesmo em brinquedos... filmes... propagandas, etc. Mas até então era algo apenas pra satisfazer uma necessidade pessoal, por um lado eu sentia um pouco de vergonha de dizer “faço personagens pretas de cabelos crespos poque eu quero” parecia que soava um pouco egoísta da minha parte, e eu sentia um pouco de vergonha de pensar assim... não tinha noção que outras meninas negras sentiam a mesma falta de se ver representada até eu publicar minha primeira HQ e começar a mostrar alguns desenhos na internet... muitas comentam , ou mesmo conversam pessoalmente em eventos sobre o visual das personagens, do quanto foi importante pra elas ou para suas filhas,

irmãs, mães... eu não tinha noção se isso poderia trazer algum tipo de impacto social, me sentia pequena demais pra isso, mas senti um quentinho no coração imenso quando percebi a alegria do publico que acabei formando, por algo que pra mim parecia tão simples. Atualmente lendo artigos sobre representatividade e movimentos de mulheres negras, percebo a importância de trabalhar a causa em minhas ilustrações e historias em quadrinhos, não só por mim, mas por todos que não se sentem representados.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Você não está sozinho nessa luta, o preconceito vai aparecer camuflado de critica, ou de “opinião pessoal”, mas nunca deixe isso te calar... Fazer arte é a arma mais poderosa pra combater o ódio e o preconceito com amor!

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ana ma ria Ana Maria Sena Brasília - DF

instagram/__namaria

Pra você, o que é representatividade? Toda e qualquer pessoa, principalmente as minorias, se verem representadas(ou serem represente) de um espaço, que e seu por direito.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Tem se falado mais, os tidos como minorias tem solicitado mais. Logo existe um pensamento de incluir essas pessoas. E essas pessoas tem dito um espaço maior tambem.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? Todo e qualquer trabalho que envolva um público, tem que a ver um cuidado, estamos trabalhando com pessoas. Lógico que devido todo um contexto histórico, é importante se pesquisar até onde pode-se ir e que impacto vamos causar.

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Eu sou uma mulher negra, periferica, que vem tentando fazer artes. Se eu não falar sobre minha realidade, quem vai? E querendo, assim como eu me espelho nos que vieram antes de mim, eu sou um exemplo de representatividade para algumas meninas. Além do meu trabalho, eu tento sempre alcançar essas pessoas e falar que é dificil, mas é possivel sim. Temos que tomar todos os espaços.

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Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Um conselhor que me deram, foi que para eu ser verdadeira comigo. A partir do momento que você sente que está fazendo o certo, para você, ta tudo de boa.

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li mao Limão - Angélica Rio de Janeiro - RJ

instagram/limaocomvodka

Pra você, o que é representatividade? Pra mim é uma forma de mostrar realidades às outras pessoas. de buscar espaço pra ser ouvida e vista.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Acredito que sim. Nos últimos anos vejo que se tem discutido muito isso e acho que isso é fantástico, mas as vezes vejo que as pessoas tem dado mais atenção pra uma representação de uma determinada coisa feita por quem ja ta no topo, sabe? O bom é que não é todo mundo que é assim.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? Acho que o principal desafio é saber como representar a diversidade do mundo. Você não vai saber representar alguém se você não ouve o que aquela pessoa tem a dizer, sabe? Esse que é o ponto.

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? Eu gosto de desenhar garotas estranhas com cores fofinhas. Acho que resume bastante o que eu sou. Não sei se isso tem impacto para outros mas tem pra mim. Me vejo em quase toda ilustração que faço e isso me deixa contente.

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Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Faça. Faça e isso é muito mais fácil de se falar do que de se fazer. O medo e a dúvida vão encontrar você toda hora e vão estar em seu encalço o tempo todo, mas acima de tudo isso, siga fazendo. Não tem outra pessoa no mundo que vá contar a história na sua cabeça do jeito exato que você imaginou, então faça.

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na ta lia Natália Schiavon Bauru - SP

instagram/nataliaschi

Pra você, o que é representatividade? É a representação e autoexpressão de grupos historicamente oprimidos, é a qualidade de um trabalho que manifesta histórias e perspectivas plurais ao invés de se apoiar apenas em um grupo predominante, específico e excludente.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Acredito que sim. Penso que hoje em dia, por exemplo, a ideia de uma série, um quadrinho ou um livro só com personagens brancos, cis e heterossexuais possa parecer incompatível com a nossa realidade cultural. E acho que enxergamos essa incompatibilidade em parte por causa do fortalecimento dos movimentos sociais na internet e nas ruas, das constantes discussões sobre questões raciais, de gênero e sexualidade que estão sendo levantadas por esses movimentos. Acho que os artistas atualmente têm essa preocupação porque entendem a importância social que uma obra tem em refletir seu tempo e todas as pessoas que o compõem. 70


Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial?

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social?

Acho que é importante reconhecer o quê eu, como artista e como pessoa, represento - e também o quê eu não represento. Existem certas temáticas e perspectivas que eu não poderia abordar sozinha, baseada apenas nos meus conhecimentos ou leituras, porque eu não tenho a vivência. Acho que meu maior cuidado é não me apropriar da representatividade dos outros, não criar uma abordagem rasa para um assunto que eu não conheça direito, e entender que existem espaços que eu contribuo mais como ouvinte do que como uma participante ativa.

Desde criança eu sempre gostei de desenhar, sentia que nesse processo de criação eu me entendia mais, e eu que sempre tive certa dificuldade de me expressar verbalmente também encontrava um meio onde podia ser eu mesma e refletir todas as minhas ideias, inseguranças, sonhos. Acho que esse ato de criação e vulnerabilidade por si só tem um impacto social, porque pode estimular outras pessoas a fazerem o mesmo. Mas não sei se meu trabalho tem um impacto social muito grande não, talvez mais depois que comecei a contribuir pra Capitolina, com ilustrações e textos sobre assuntos como feminismo, mulheres na arte, saúde mental, etc. e tive um retorno bem legal de meninas que se identificaram com esses trabalhos!

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Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Eu diria para sempre buscar sua própria voz na arte. Para experimentar sem medo e sem julgamentos todas as formas de expressão que você quiser se aventurar. Acredito especialmente que as narrativas de meninas e mulheres merecem ser contadas, pois são vivências historicamente excluídas dos meios artísticos e muitas vezes desvalorizadas por serem consideradas “autobiográficas” demais ou qualquer outra características que só se torna pejorativa quando atrelada a obra de uma mulher (ou de outros grupos marginalizados). Seja fiel à sua história e a quem você representa, e apoie artistas com histórias completamente diferentes da sua também.

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faw Faw - Flávia Carvalho Belo Horizonte - MG facebook/fawcarvalho

Pra você, o que é representatividade? Representatividade para mim é se reconhecer, é se sentir próximo de algo ou alguém por partilhar de condição ou experiência de vida similares.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Não sei se o mundo artístico está mais comprometido com a representatividade, mas que pautas como esta estão em voga na atualidade é inegável, além do crescimento do acesso/visibilidade (principalmente pelos meios de comunicação e redes sociais) e de espaços de discussão/formação entre grupos que historicamente já vinham tentando efetivar esse diálogo. Acredito que esse momento é um resultado de uma construção histórica por um lado, que na verdade conquistou essa visibilidade e por outro lado gerou uma reflexão necessária e uma preocupação sobre representação. 74


Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? São muitos os desafios. Meu trabalho perpassa sobre a questão racial e feminina, a arte ainda é um espaço dominado pelos homens e a ideia dos eternos “mestres” , então se colocar numa temática que não é- apesar de estar um pouco nos holofotes atualmente - a dominante sempre é desafiador. Pois minha condição como mulher e negra dentro da sociedade representa por si só um desafio. Logo meu trabalho e minha expressão, seja ele ligado ou não à representatividade, também serão limitados pela minha própria condição. Principalmente no campo financeiro. Já recebi muitas críticas ao meu trabalho autoral por estar na mesma

temática ou ser considerada limitada, por exemplo por não representar homens e pessoas de pele branca na mesma frequência com a qual abordo mulheres e crianças negras. Por outro lado, se afirmar representativo é lidar com críticas sobre “níveis” de representação, se eu estou de fato fazendo o que proponho, de ser cobrada quanto a isso e de muitas vezes ser limitada a ocupar espaços que apenas discutam sobre representação, ou sobre ser mulher ou ser negra. Meu cuidado ao ser representativa é sempre ouvir muito, dialogar, ler e principalmente respeitar condições das quais não sou a protagonista.

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Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? O que me estimulou a escolher esse caminho foi minha própria experiência de vida. Sempre fui fã de arte, literatura, cultura pop, ilustração, entre outros, mas desde criança nunca realmente me vi naqueles que admirava. O acesso ao mundo artístico sempre foi transformador para mim, mesmo que seja um mundo prioritariamente branco e masculino, mas a necessidade de me ver representada nunca foi preenchida. Então, quando decido criar uma ilustração ou uma narrativa, gostaria de que elas contribuíssem para maior diversidade das histórias. Gosto muito da concepção de Chimamanda Ngozi sobre o perigo da história única, por isso decidi contar outra história que não a mesma que já conhecemos a tanto tempo. Para mim o impacto social da minha obra é alcançado quando um diálogo acontece a partir dela, seja com quem for, e quando obtenho uma resposta de meu público de se reconhecer numa ilustração minha.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Bem, abordar representatividade no meu trabalho autoral foi uma decisão unicamente minha, minha necessidade e fruto da minha experiência. Traçar esse percurso nunca deve ser uma pressão, a/o artista negra/o por exemplo deve ser livre para definir o rumo de seu trabalho. Independente de se propor ou não à representatividade, persista na sua jornada. Aprenda todo dia e respeite cada história, toda diversidade é bem vinda quando há respeito mútuo. 76


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fla via Flávia Borges São Paulo - SP

instagram/breezespacegirl

Pra você, o que é representatividade? Representatividade para mim é poder se enxergar no mundo. É reconhecer que a nossa existência é válida.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Acredito que sim, principalmente porque as minorias (mulheres, negros e pessoas lgbt) que antes não eram representadas, estão conseguindo se inserir no meio.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial? No meu caso, como mulher e negra, construir representatividade é um processo de autoconhecimento, de me colocar e me enxergar no mundo, não apenas para mim, mas para muitas iguais a mim que também não tiveram essa oportunidade antes. O cuidado que se deve ser tomado é não cair em estereótipos, principalmente de vivências que não fazem parte da minha. Por isso é importante ouvir e conhecer as diferenças na hora de representar o outro.

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social? O que mais me estimulou a ilustrar foi conhecer tra-

balho de outras mulheres, e de entender que não só é válido tratar do “universo feminino”, como também necessário. Ainda não consigo dizer o impacto social que o meu trabalho tem, mas sempre fico contente de receber mensagens de pessoas que se identificam com algum desenho meu ou que conseguem se enxergar ali, assim como eu me sinto quando vejo o trabalho de alguém que eu admiro.

Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Meu conselho é que entenda que representatividade é importante para todos os indivíduos poderem se enxergar no mundo. E se você é um artista que não se vê representado, tente ir atrás e se rodear de referências de artistas que te representem, e veja isso como uma oportunidade de autoconhecimento e de se colocar no mundo, colocando assim outros semelhantes que também não tiveram essa oportunidade antes.

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ana car dos Anacardos - Ana Flávia Cardoso Belo Horizonte - MG

facebook/anacardos_art

Pra você, o que é representatividade? Representatividade é você poder se sentir representado por algo ou alguém semelhante, seja em raça, crenças, vivências, cultura, etc.

Você acredita que os artistas têm tido uma maior preocupação em fazer trabalhos onde exista representatividade? Sim, eu notei um aumento nessas questões. Mas, infelizmente eu imagino que seja algo mais mercadológico do que uma “consciência” sobre a importância da representatividade. Você pode expor trabalhos que possuem personagens/elementos que aumentam a visão de representatividade, mas muitas vezes as equipes não são mistas.

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Quais são os desafios de trabalhar com representatividade? Existe algum cuidado especial?

Sobre o seu trabalho, o que te estimulou a fazê-lo? Você sente que ele tem impacto social?

Principalmente você ter uma diversidade na equipe de trabalho. Acho muito complicado você tratar de assuntos no qual você não vive. Acaba sendo um problema quando não ha um lugar de fala das pessoas que se deseja representar.

Eu trabalho com várias questões, por ser mulher afrodescendente. Eu sempre sofri preconceitos, principalmente pela questão estética. Acho que a arte é uma maneira de comunicar com meus semelhantes e eles se sentirem representados por mim. Eu fui impactada socialmente pela arte, e acho que ela tem o poder de mudar as pessoas. Eu me preocupo sempre em representar pessoas que se pareçam comigo, assim eu me sinto parte para outras pessoas também se sentir.

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Nesse contexto, qual conselho você daria pra um artista? Procure suas questões, procure se expressar dentro do que te envolve culturalmente. Caso queira expressar em nome de outras pessoas ou culturas que não seja a sua, tenha empatia de envolver essas pessoas no seu projeto, tente ouví-las para evitar esteriótipos. Toda produção artística pode ser feita com empatia e respeito ao outro... E eu atualmente me preocupo quando a representatividade vira apenas um “marketing de causa”, sem embasamento, e sem créditos para os artistas. Fale, questione e se posicione, isso é muito importe!

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“Deixe Me Ver” é um projeto de conclusão de curso de design gráfico. Este projeto tem como intuito divulgar o trabalho de artistas nacionais e também chamar a atenção para a importância da ilustração como forma de empoderamento de grupos socialmente oprimidos. Além disso, propõe dicas sobre representatividade na ilustração para todos os artistas, iniciantes ou nem tão iniciantes assim.

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Index A Acerolas, 12 - 15 Amanda Paschoal, 26 - 27 Anacardos, 80 - 83 Ana Maria Sena, 62 - 65

Emerson Dias, 16 -21

F

M Monge Han, 34 - 35

Faw, 74 - 77

N

Flรกvia Borges, 78 - 79

Natรกlia Schiavon, 70 - 73

Cristina Corat, 48 - 49

K

P

Cyla Costa, 50 - 57

Kuy, 40 - 45

Priscila Barbosa, 28 - 33

D

L

R

Dharilya, 58 - 61

Limรฃo, 66 - 69

Renata Nolasco, 46 - 47

Anna Grrrl, 22 - 25

C Camila Rosa, 36 - 39

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E


Agradecimentos À todos os artistas que acreditaram no projeto e disponibilizaram de seu tempo e boa vontade para fazê-lo acontecer. Que a força de todos vocês continue e que não percam a fé de que um dia viveremos num mundo mais justo.

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PROJETO

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