RE_LUZ
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Universidade Presbiteriana Mackenzie Caroline Pilon de Oliveira Martins
RE_LUZ Cidadania com[o] centro
S達o Paulo 2015
RE
_FORMULAÇÃO _NOVAÇÃO _UTILIZAÇÃO _FORMA _ORGANIZAÇÃO _ADAPTAÇÃO _ESTRUTURAÇÃO _HABILITAÇÃO _CICLAGEM _VITALIZAÇÃO
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Trabalho Final da Graduação apresentado por Caroline Pilon de Oliveira Martins como exigência do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie sob orientação da professora Profª Drª Lizete Maria Rubano.
São Paulo 2015
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À minha mãe, por me fazer entender que a metafísica enobrece a reflexão. Ao meu pai, por me mostrar que a medida certa de ceticismo engrandece a discussão. E ao meu irmão, por simplesmente me fazer querer entender.
A todos que, de alguma maneira especial, contribuíram.
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O METRÔ DE SÃO PAULO ATENDE 4Mi DE PESSOAS POR DIA DESTES, 147 MIL TRANSITAM PELA
metro.sp.gov.br
ESTAÇÃO DA LUZ
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A SUBPREFEITURA DA SÉ ABRIGA 431.106 HABITANTES DESTES, 8.720 SÃO MORADORES DE RUA, 52% DO TOTAL DE SÃO PAULO ALÉM DOS 711 CORTIÇOS DA REGIÃO, prefeitura.sp.gov
COM APROX. 7500 PESSOAS 12
O NÚMERO DE USUÁRIOS DE CRACK NO PAÍS ULTRAPASSA 1 MILHÃO
A CADA 16H, CRACOLÂNDIA TEM 1 INTERNAÇÃO A FORÇA SÃO GASTOS 0,5% A 1,3% DO PIB COM O COMBATE E TRATAMENTO CONTRA O USO DA DROGA
www.medicinaintensiva.com.br/crack-epidemia.htm http://infograficos.estadao.com.br/especiais/crack/perfilusuarios.pdf
DESTES, 370 MIL HABITAM AS CAPITAIS, 450, A CRACOLÂNDIA
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O PROJETO NOVA LUZ VISAVA CONCEDER 362 MIL METROS QUADRADOS DA REGIÃO PARA INCORPORADORAS AS DESAPROPRIAÇÕES E DEMOLIÇÕES
portal.aprendiz.uol.com.br
DA ÁREA CUSTARAM AOS COFRES
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PÚBLICOS R$65 MILHÕES
O CUSTO DO TEATRO DA DANÇA E DA ÓPERA DE SÃO PAULO FICOU EM TORNO DE R$300Mi, SENDO 20Mi O VALOR DE PROJEJO PAGO AO ESCRITÓRIO
concursosdeprojeto.org
RESPONSÁVEL (HERZOG & DE MEURON)
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Território Identidade Paisagem Espaço uso Urbano Diversidade Espaço Memória Morfologia Legitimação Contenedor Lugar Espaço Público Espaço uso Mutações Hiperlugares Espaços Post-it Espaço heterogênio Espaço difuso Híbrido Legibilidade Identidade Condição Urbana Articulador Vitalidade Lugar Encontro Musealização Memória Espaço heterogênio Espaço uso Culturalismo de mercado Paisagem Interrelações Cidade Genérica Culturalização Escalas EspaçosPost-itHiperlugaresCondiçãoUrbanaDiversidadeMutaçõesContenedor Lugar Espaço Público Espaço uso Mutações Hiperlugares Espaços Post-it Espaço heterogênio Espaço difuso Híbrido Legibilidade Identidade Condição Urbana Articulador Vitalidade Lugar Encontro Musealização Memória Espaço heterogênio Espaço uso Culturalismo de mercado Paisagem Interrelações Cidade Genérica Culturalização Escalas Espaços Post-it Hiperlugares Condição Urbana Diversidade Mutações Musealização Memória Espaço heterogênio Espaço uso Culturalismo de mercado Paisagem Interrelações Cidade Genérica Culturalização Escalas Espaços Post-it Hiperlugares Condição Urbana Diversidade Mutações Contenedor Lugar Espaço Público Espaço uso Mutações Hiperlugares Espaço heterogênio Espaço uso Culturalismo de mercado Paisagem Interrelações
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Território Identidade Paisagem Espaço uso Urbano Diversidade Espaço Memória Morfologia Legitimação Contenedor Lugar Espaço Público Espaço uso Mutações Hiperlugares Espaços Post-it Espaço heterogênio Espaço difuso Híbrido Legibilidade Identidade Condição Urbana Articulador Vitalidade Lugar Encontro Musealização Memória Espaço heterogênio Espaço uso Culturalismo de mercado Paisagem Interrelações Cidade Genérica Culturalização Escalas EspaçosPost-itHiperlugaresCondiçãoUrbanaDiversidade MutaçõesContenedor Lugar Espaço Público Espaço uso Mutações Hiperlugares Espaços Post-it Espaço heterogênio Espaço difuso Híbrido Legibilidade Identidade Condição Urbana Articulador Vitalidade Lugar Encontro Musealização Memória Espaço heterogênio Espaço uso Culturalismo de mercado Paisagem Interrelações Cidade Genérica Culturalização Escalas Espaços Post-it Hiperlugares Condição Urbana Diversidade Mutações Musealização Memória Espaço heterogênio Espaço uso Culturalismo de mercado Paisagem Interrelações Cidade Genérica Culturalização Escalas Espaços Post-it Hiperlugares Condição Urbana Diversidade Mutações Contenedor Lugar Espaço Público Espaço uso Mutações Hiperlugares Espaço heterogênio Espaço uso Culturalismo de mercado Paisagem Interrelações
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1. PROPÓSITOS 1.1 Porquê
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2. LEITURA 2.1 Flanêur e dinâmica 2.2 Diário
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3. RACIOCÍNIO 3.1 Luz: Renovação Urbana, 1974 3.2 Luz Cultural, 1984 3.3 Projeto Pólo Luz, 1995 3.3.1 O sentido de propagar 3.4 Programa Monumenta, 2002 3.4.1 Mercado e as cidades genéricas 3.5 Projeto Nova Luz, 2005 3.5.1 Economia Solidária 3.5.2 “Step by Step”
54 58 64 72 76 82 84 92 97
4. IDEIA 4.1 Plano Diretor e o Zoneamento pela diversidade 4.1.1 Questão da moradia 4.1.2 Projetos de intervenção urbana 4.1.3 Desenvolvimentos de equipamentos urbanos 4.2 Ensaio de uma Luz – Projeto Novos Sonhos
104 105 107 110 112
5. EXPERIMENTAÇÃO 5.1 Tradução Projetual: diversidade e vitalidade 5.2 “Post it” diversificado
132 146
6. 7.
ÍNDICE DE IMAGENS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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PROPÓSITOS “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.” Alberto Caeiro
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O QUÊ
COMO
PORQUÊ
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1.1 Porquê
* A abordagem do conceito de marginalização deste trabalho refere-se ao âmbito social, de discriminação como um processo do sistema da sociedade, produto de seu funcionamento. Neste caso, o sujeito que vive a “margem da sociedade”.
O exercício a seguir constitui uma proposta hipotética de intervenção urbana que atente de maneira possível, sensível e eficaz pa-ra a articulação dos, muitas vezes, divergentes interesses envolvidos nas relações ocorridas dentro do espaço da cidade. Intenta-se trabalhar em uma análise quanto à situação atual da região central de São Paulo, em específico a área da Luz, bem como em relação aos programas de requalificação propostos e suas consequências no urbano e nas condições sociais. Levando-se em consideração as características e as atividades lá consolidadas, propõe-se uma nova vertente de projeto para a área, destacando-se as condicionantes lá existentes e valorizando as pré-existências muitas vezes descartadas. Diante disso, observa-se um grande conflito entre as iniciativas populares (movimentos organizados) e as propostas oficiais para a região, em que espaços, numa das áreas mais valorizadas da cidade, acabam como residuais, seja pela marginalização*, seja pelo andamento de projetos municipais conflitantes com o interesse popular. Em específico e a princípio, para um desafio projetual, pretende-se trabalhar com a proposta de novo uso e requalificação da Estação Júlio Prestes, elemento histórico e característico da cidade que será futuramente desativada conforme os projetos da CPTM. Deste modo, vê-se a Estação, assim como os elementos urbanos ainda mantidos, como a Pinacoteca do Estado e a Estação da Luz, como uma grande potencialidade no que se refere ao seu valor histórico, estético, local e metropolitano e também ao seu posicionamento na área.
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Em síntese como objetivo geral, procura-se entender a dinâmica do território da Luz e estudar como promover determinada transformação qualitativa, como elemento de apoio às atividades pertinentes ao lugar, diante de situações tão polêmicas como as que já se efetivaram ali. Para isso, foi elaborada uma linha de raciocínio que visa, através de um processo analítico, concretizar uma hipótese palpável e coerente no sentido urbano. Com isso, estabeleceu-se uma investigação de diversos aspectos inerentes à produção urbana de São Paulo, como questões econômicas, movimentos sociais, políticas públicas, entre outros temas que contribuem na formação da região central. Deste modo, deixa-se aqui um registro de um trabalho de aproximação de um território urbano que, na tentativa de alcançar um nível mais sensível de discussão, baseia-se numa motivação, um propósito, um “porquê” referentes ao prazer e satisfação de se envolver com um tema pelo qual se tem afeto. Uma hipótese que desencadeia possibilidades para o futuro, mas ligado no presente, um ensaio que percorre uma cidade real, com processos reais, e acima de tudo, uma vida real.
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“A cidade se impõe como uma consequência das atividades que nela acontecem, sociabilidade que nela se fabrica, comunidades que nela se formam.” Rem Koolhaas.
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LEITURA
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2.1 Flanêur e dinâmica Entender que o caráter mutante do território é uma questão inerente a todo espaço urbano, independentemente de sua consolidação ou história é um passo primordial para se compreender suas necessidades também mutantes, bem como as relações sociais estabelecidas que conformam uma “identidade*”. Historicamente, hipóteses para um melhor processo de construção das cidades são criadas com o objetivo de uma melhor espacialização das atividades decorrentes da produção e da circulação de mercadorias, além do cotidiano e das estruturas sociais. Porém, para além dessa ideia generalizada do conceito essencial do que deve ser a urbanização - como prática - propõe-se, neste exercício, aferir o desenvolvimento das cidades e a sua condição singular que merecem, sempre, enfoque particular e atualizado das condições contextuais que a abrigam.
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*Identidade neste trabalho refere-se ao contexto cultural que abriga a arquitetura estudada: ‘’aqueles aspectos de nossas identidades que surgem de nosso ‘’pertencimento’’ a culturas étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais’’ (Hall, 2006, p.).
* Em suas observações quanto à cidade, o autor constitui uma sensível lamentação quanto à transitoriedade de sua época – moderna, em que a rápida evolução dos meios industriais, os ambientes, produtos e costumes também passavam a ser transitórios -, o que na situação constituía um fenômeno recente. É interessante o modo como ele se alimenta dessas insatisfações para uma nova ótica de abrigo – analogia à arquitetura neste trabalho -, que articule as questões condicionantes existentes, já consideradas por ele como caóticas de modo inovador e positivo. ** Escala Global: Refere-se ao processo mundializado de globalização, onde medidas administrativas – inclusive de caráter urbano - são submetidas às questões econômicos/ financeiras de mercado. Escala Metropolitana: Delimita-se pelo território das grandes cidades, onde se vê a necessidade de sistemas de interligação dos diferentes contextos e bairros, sejam eles físicos (transporte) ou virtuais (comunicação). Escala Regional: Um escala intermediária que aproxima o contexto da grande cidade com o do bairro. Escala Local: Pertinente ao usuário, bem como as suas atividades cotidianas decorrentes num corte territorial reduzido.
Uma vez que a cidade se constitui como um mecanismo em constante estágio de mutação, entende-se que variáveis do cotidiano influenciam na sua composição. No objetivo de se compreender razoavelmente a situação territorial na Luz, coloca-se como prioridade o entendimento dos processos subjacentes que conformam a região, para uma posterior possibilidade de torná-los perceptíveis no que se refere à sua relação com os usuários. Para isso, deve-se eliminar efetivamente a noção tradicional ultrapassada de que o processo de urbanização se reduz à expressão da forma física na paisagem urbana, entendendo assim, que cada território é constituído por uma combinação singular de circunstâncias históricas numa composição absolutamente dinâmica. Quando se diz respeito à análise da dinâmica do território da Luz, intenta-se refletir quanto à articulação de diferentes escalas que estão presentes em uma região de posição estratégica central favorecida no contexto metropolitano de São Paulo. Para isso, são elencados alguns fatores determinantes que influenciam na formação urbana da área pelas atividades lá decorrentes, tais como: ocupação pelas diferentes classes sociais, atividades funcionais, diversidade de usuários, processos e conflitos sociais, amplitude de horário de atividades, eventos singulares, dentre inúmeros outros fatores. Para isso foi composto um diário através de visitas ao local em que se pôde, de certo modo, avaliar “in loco” e empiricamente, as práticas pertinentes à região, muito do que se observa na leitura sensível de Jane Jacobs com seus objetos de estudo. Vale, portanto, acrescentar o prioritário e essencial enfoque humanizado para a composição desta análise, uma vez que se entende como princípio primordial, a promoção de que abrigue o que no território acontece, uma cidade feita para pessoas e por elas legitimada. Flanêur segundo Baudelaire: Uma pessoa que anda pela cidade “para passear”* A hipótese de “Flanêur” (BAUDELAIRE, 1863) para este trabalho foi estabelecida através do diário a seguir, procurando absorver de modo sensível os acontecimentos da região, e através disso, tentar entender os motivos que a levaram ao seu contexto urbano atual, seja ele de marginalização, seja de rica atividade diversificada social. Diante dessa diretriz para análise da dinâmica territorial, propõe-se a elaboração de um diário de campo que aproxima a argumentação teórica da realidade do bairro apresentada. Para isso é importante ter-se consciência do papel das diferentes escalas na região, desde a chamada “global” até a local, passando pela metropolitana e regional.** 33
2.2 Diário O diário de campo se estabeleceu através de um percurso em comum que foi feito durante quatro dias da semana: domingo, segunda-feira, sexta-feira e sábado. O percurso se concretizou por um trajeto cíclico que abrange as áreas consideradas influentes na região. Iniciou-se pela Estação da Luz, depois abarcou o Jardim da Luz e Pinacoteca do Estado, posteriormente, Rua Brigadeiro Tobias (paralela à Av. Prestes Maia) até a Av. Senador Queirós, ingressando na Av. Ipiranga. Após isso, foi percorrida a Rua Santa Ifigênia até a Praça Júlio Prestes, tangenciando toda a Estação Júlio Prestes pela Alameda Cleveland até atingir-se a Rua José Paulino através de uma transversal (Alameda Nothmann), onde por fim, chegou-se novamente à Estação da Luz.
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Domingo Inóspito 11/10/15 – 10h
Iniciando-se pelo domingo, vale enfatizar a escolha deste dia pelo seu caráter único na semana, de fechamento das atividades comerciais, o que ficou claramente refletido em todas as regiões do trajeto. Portanto, observou-se o que já era esperado de ausência praticamente total nas atividades urbanas da Santa Ifigênia e também da Rua José Paulino. É o dia em que as lojas optam por fazer as reformas e reparos. Isso fica claramente denotado pelo seu uso estritamente comercial, que apesar de ser positivo e característico para a cidade, quando único, como neste caso, não promove a diversidade urbana necessária para que a intensidade perdure. Por outro lado, observa-se na Estação da Luz um movimento mais descontraído e definitivamente reduzido, em que os usuários aparentavam menor urgência em sua atividade. Isso acaba refletido no Jardim da Luz. A área que geralmente possui visitação, desta vez apresentava-se ainda mais densa, com mais pessoas, inclusive famílias e grupos de amigos. Entretanto, ficou sensível que o caráter da visita, nesse dia, era diferenciado, denotando mais uma atividade de lazer, passeio e contemplação. Nos trechos intermediários, como por exemplo a Rua Brigadeiro Tobias, denotou-se claramente uma região “periférica”, onde o pouco comércio existente durante a semana está todo fechado, e o trajeto dos usuários é exclusivamente de travessia, gerando inclusive uma sensação de desconforto e talvez insegurança pelo ambiente inóspito. 35
03. Jardim da Luz
04. Rua Brigadeiro Tobias 36
Observou-se, dentro das análises, os eventos singulares que acontecem em diferentes dias da semana, como por exemplo a feira de rua numa travessa da Av. Ipiranga. O movimento parecia reduzido, porém notou-se uma boa relação, de familiaridade dos usuários com o local e entre si. Ficou claro neste sentido, que a feira atendia aos moradores da região, concretizando um evento claramente de escala local. No contexto das imediações da Estação Júlio Prestes em si, denotou-se alguns eventos particulares, como o Coral Matinal da Sala São Paulo que trazia um público geral, que chegava principalmente de carro, e uma minoria à pé – transporte público - através do estacionamento. Isso confirmou, o que se denotará nos capítulos seguintes, o intercâmbio de pessoas adsvindas de diferentes regiões se amplia, concretizando-a como um edifício de caráter claramente metropolitano. Na sequência, finalizou-se o domingo nas áreas lindeiras da Estação, onde se dá de maneira mais intensa, a ocupação característica do local quanto a marginalização social, com moradores de rua pulverizados no contraponto com o policiamento civil em massa, que denota o que se apelidou nesse trabalho como “segurança formal”, onde a sensação de segurança não vem de um ambiente urbano de qualidade, mas sim, da presença de um poder autoritário maior.
05. Rua José Paulino 37
06. Feira Av. Ipiranga
07. Rua Santa IfigĂŞnia 38
08 - Av. Ipiranga 39
Segunda-feira do despertar 17/09/15 – 15h Na segunda-feira, a dinâmica se altera completamente, em praticamente todos os trechos, pelo início da semana produtiva. Observou-se neste ponto, e que se levará para o restante das análises, a extrema importância das atividades comerciais no funcionamento da dinâmica territorial das cidades. O comércio destaca-se como a atividade principal existente que promove um intercâmbio de pessoas e mercadorias ao longo da cidade, isso fica claramente denotado no funcionamento dos polos comerciais da região (Rua Santa Ifigênia e José Paulino), que neste dia, já iniciam um movimento maior. Entende-se neste caso, o papel metropolitano desse comércio especializado nas escalas da cidade, e evidencia-se que, a partir disso, o desafio da produção urbana e arquitetônica se encontra na formulação de espaços e atividades que extravasem esse período comercial, incluindose programas diversificados em todos os momentos do dia, durante toda a semana. Essa característica de início das atividades produtivas da semana se transfere também para a Estação da Luz, onde o movimento já se altera completamente, adensando-se e traduzindo a sua imagem conhecida, de um edifício absolutamente articulador, de escala metropolitana, que recebe três milhões de pessoas por dia, num fluxo constante e frenético. Introduzindo-se o momento da Estação Júlio Prestes em si, observou-se o que já se esperava da atividade, caracteristicamente tímida que se desencadeia a partir e no edifício, oriunda da única linha por ela abrigada – 8, diamante -. Neste momento, sentiu-se a real necessidade de sua “revitalização”, um espaço de altíssimo potencial, que mostrou desencadear, muito menos do que sua capacidade possibilitaria.
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09. Estação Júlio Prestes 41
10. Jardim da Luz
11. Praça Júlio Prestes 42
Sexta-feira frenética 28/08/15 – 17h A sexta-feira na área, como em toda São Paulo, é caótica. A sensação é de que absolutamente tudo acontece, em todo lugar. A iniciar pela Estação da Luz, não há o que comentar: frenética. É definitivamente o dia onde há maior movimento de transeuntes. É como se os 150 mil diários se convertessem em 500 mil, e o espaço para caminhar reduz-se a ponto de não existir. O que se apreende, pela observação dos usuários, é um sentimento de urgência e euforia, talvez para a fuga da semana inteira, e início do descanso. Com isso, vem definitivamente a constante sensação de insegurança, pelos espaços “super-habitados” e descontrolados. As ruas em geral ficam cheias, e a cidade parece se movimentar com o caminhar urgente de todos, não há ninguém parado. O Jardim da Luz já se mostra ocupado por um público que se encontrou no domingo, diferenciado do usuário que trabalha nas proximidades. Inicia-se a mistura dos que circulam e dos que permanecem.
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12. Rua José Paulino
13. Estação da Luz 44
Santa Ifigência e José Paulino atingem um nível, até então, máximo de loucura e a iminência do sábado, que tende a ser mais movimentado, assusta. Fica nitidamente claro o seu papel metropolitano, dentro do funcionamento comercial da cidade, e a absoluta sensação de que definitivamente atrai usuários de todas as localidades. Curiosamente, ingressando na Praça Júlio Prestes, observa-se uma dinâmica social diferente dos outros dias, onde o número de moradores de rua e usuários de drogas se amplia: é uma atividade de movimento constante, diferentes pessoas de cruzam, com distintos objetivos e de diversas maneiras. Numa metáfora, a sensação que se tem é de um “formigueiro” que quando abalado libera uma infinidade de formigas para o exterior, é como se os cortiços “explodissem” para as ruas. Fica nítida a constatação de que, definitivamente, se ingressa no trecho mais crítico no que se refere à marginalização social, a cracolândia que, neste momento, se abre ao mundo que a criou e que a renuncia.
14. Estação Júlio Prestes 45
Sábado de aleluia 28/08/15 – 14h O sábado inaugura a dinâmica diferenciada do final de semana. É o dia que todos esperam, seja pelo descanso semanal nas residências, seja pela explosão de vendas nas lojas. A região assume o pico de sua atividade comercial no período da manhã, enquanto que, à tarde, observa-se sua redução gradativa, até o período noturno inaugurar o domingo, já abordado. Tanto Santa Ifigênia, quanto José Paulino atingem seu ápice iniciado na sexta-feira. Observa-se neste caso, um intercâmbio ainda maior em termos de escalas, pois vê-se a visitação de usuários oriundos de locais mais distantes e com isso, a carência absurda de um transporte intermunicipal realmente eficaz e de espaços públicos urbanos de qualidade. É interessante perceber que as vias secundárias como a Brigadeiro Tobias e a Alameda Nothmann, que interligam vias principais, assumem praticamente sempre o mesmo caráter. São vias sem atividade, com pouca variação de eventos, praticamente nenhum público, são vias locais, mas que não traduzem o “espírito do bairro”, vias de passagem. Neste dia, a situação crítica social da Praça Júlio Prestes se ampliou fortemente. Neste ponto, nos espaços residuais – lotes vazios - em frente à estação, ocorria uma “feira” periódica da região, onde muitos dos usuários de droga se concentravam e recebiam o apoio de instituições de saúde. Apesar do caráter positivo da iniciativa, a sensação de abandono e degradação é absoluta. Entende-se pessoalmente o nível de deterioração e desamparo de uma parcela da sociedade como fruto de uma situação desigual e um crescimento urbano desenfreado.
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15. Al. Cleveland - “feira”
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16. Rua Sta. IfigĂŞnia 48
Observou-se através deste estudo, na prática, as dinâmicas atuais do bairro, porém, como consequência de uma série que questões históricas de desenvolvimento que contribuíram para seu contexto atual. Vê-se que desde o declínio da economia do café – com consequente desinteresse das elites pelo local - e da criação do plano Prestes Maia – que não estabelecia diálogo com a ferrovia – o comércio e as atividades locais passaram a tomar o lugar dos casarões nas margens da ferrovia. Com isso, foi-se estabelecendo na região um fenômeno de perda de residência formal, e de ascensão de moradia provisória dos imigrantes. Isso influenciou para a característica transitória da região, que se dilata até hoje, em que os investimentos já não são mais priorizados, e as transformações ocorrem sem amparo de políticas públicas. Contudo, é importante aferir que, as atividades que acontecem ali - e aqui expostas -, seja a transição de passageiros nas estações, sejam as atividades comerciais locais de destaque, ou a moradia popular nos cortiços do bairro – dentre uma gama enorme de outras - são consideradas como forças vitais e motoras da constituição da área e devem ser consideradas prioritárias nas análises e propostas. Reafirma-se, portanto, o protagonismo da questão das escalas na região, uma vez que, na relação entre a situação político administrativa atual e a crescente ampliação tecnológica global, vê-se uma dificuldade de definição do que abrange cada tipo de escala, da local à metropolitana. Denota-se, deste modo, o papel claro da escala metropolitana quanto à questão social da região e das consequências da gestão pública urbana, uma vez que o centro torna-se uma consequência de medidas tomadas em outras regiões economicamente mais vantajosas. Isso contribui para um fator claramente percebido no diário da marginalização local, questão influente na apropriação espacial física do bairro. Associada a essa questão, um quesito determinante na dinâmica territorial da Luz, e que pauta grande parte da discussão deste trabalho é a aplicação de projetos urbanos na região. Para isso, serão analisados diversos exemplos como o “Luz: Renovação Urbana (1974)”; “Luz Cultural (1984)”; “Pólo Luz (1995)”; “Programa Monumenta (2002)” e o centro das argumentações, o “Projeto Nova Luz”, a serem abordados criticamente adiante. Para análise desses projetos dentro do contexto territorial, é importante destacar que as gestões públicas preveem modificações há muitas décadas, e devido a fatores de divergências de interesses político administrativos, sua completa realização tornase dificultada pela descontinuidade das administrações – o que foi positivo em alguns momentos e negativo em outros.
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* AMSI (Associação dos moradores do Bairro Santa Ifigênia) ** AMCCE* (Associação dos moradores e comerciantes dos Campos Elísios) *** ASCEVI (Associação Santa Cecília Viva)
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A grande questão de pauta neste caso é a sociedade – moradores e usuários da região - que, organizada em movimentos e movida por um sentimento legítimo de apropriação do espaço, pelo seu fator histórico e social, desempenha papel de resistência na aplicação de diversas políticas urbanas e de instrumental jurídico. A exemplo disso, cita-se diversas instituições e ONGs responsáveis pela defesa dessas causas sociais, tais como a “Amo a Luz”, AMSI*, AMCEE*, ASCEVI*** entre inúmeras outras. Portanto, compreende-se que pela divergência de interesses de setores da sociedade, sejam eles público/administrativo, privado ou da comunidade, identifica-se um papel muito forte da região como objeto de altíssima potencialidade, e por isso, de interesse de todos. Sendo assim, em suma, a questão primordial dentre todas as questões: Como agir no sentido de se democratizar o acesso à cidade? Inicia-se, portanto, a argumentação do próximo capítulo.
GRÁFICO SINTÉTICO - DIVERSIDADE URBANA
6
5
4
3
2
1
0 Domingo Estação da Luz
Segunda-feira Jardim da Luz
Sexta-feira Sta. Ifigênia
Sábado Estação Julio Prestes
Domingo José Paulino
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“A tarefa do arquiteto consiste em proporcionar à vida uma estrutura mais sensível.” Alvar Aalto
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RACIOCÍNIO
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3.1 Luz: Renovação Urbana, 1974
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Como princípio desta argumentação, é importante introduzir um dos projetos iniciais elaborados para a região. O “Luz: Renovação Urbana”, encomendado pela Coordenadoria Geral de Planejamento – COGEP* – ao escritório Rino Levi Arquitetos Associados. Constitui-se como a primeira proposta para a renovação do traçado urbano da cidade de São Paulo, abordada juntamente com a aplicação da lei de zoneamento. A legislação objetivava a orientação do desenvolvimento do bairro, sem descaracterizá-lo ao longo do processo. Vê-se uma parceria do setor público, no que se refere às iniciativas indiretas (legislação de zoneamento) com o setor privado, nas intervenções diretas. É interessante abordar, a seguir, não apenas as características básicas da implementação, mas também, suas semelhanças às discussões atuais, e quais os ganhos – ou perdas - possibilitados por esta proposta nos dias e hoje, inclusive quando o assunto é a divergência dos interesses envolvidos na ação. As diretrizes observadas nas diferentes propostas mostram uma grande aproximação do que se entende por urbanidade. No caso, trata-se da diversificação de intensificação do uso do solo ao longo da área – como um objetivo na melhoria do desempenho da região, e não uma modificação de sua função -, a melhoria da qualidade ambiental do bairro e do espaço público, e por último, mas de suma importância, a recuperação de áreas degradadas do ponto de vista físico, material. Observa-se uma grande semelhança Órgão que antecedeu a atual SEMPLA - de intenções com as discussões atuais. A diferença essencial reflete-se apenas no contexto Secretaria Municipal de Planejamento de 40 anos de evolução da cidade que permeia as discussões de cada proposta.
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Tratando-se das semelhanças com as preocupações de gestões mais progressitas, e do que foi comentado no primeiro parágrafo deste capítulo, este programa em geral não foi de fato colocado em prática, e isso ocorreu por um motivo principal: o interesse imobiliário e, no caso, a falta dele. Ou seja, as medidas diretas – iniciativas projetuais do poder público-, que teoricamente deveriam acontecer como uma consequência das indiretas – investimento da iniciativa privada-, não foram de fato levadas adiante, devido à pequena margem de lucro fornecida por projetos sociais e de infraestrutura de longo prazo, e a região continuou pouco adensada e sem a implantação dos equipamentos articuladores da vida urbana. Porém, é válido lembrar que a falha não se encontra apenas no que se refere às intervenções diretas, mas também, na legislação, quanto ao destino da atividade industrial local. Entende-se, com uma explicação sintética, que a atividade industrial na região se tornou prejudicial, dentre outros fatores, pela sua emissão de ruídos e degradação da paisagem urbana. Usos Vias de circulação Institucionais Residenciais Industriais Comerciais e de serviços Áreas verdes Outros Totais
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Padrão existente na Luz em 1974 29,36% 24,12% 14,89% 7,21% 9,94% 5,12% 9,36% 100,00%
Padrão proposto 20% 15% 40% 0% 10% 15% 0% 100%
Tabela de padrões de desempenho para a região da Luz. Além do adensamento dos usos, observa-se grande ênfase no traçado viário da cidade – bem como na circulação e nos transportes. Dentro disso, observa-se a abertura de novas vias – o que nunca ocorreu - e a implementação da linha norte-sul do metrô.
Porém, assim como veremos a seguir no projeto nova Luz, a “solução” adotada foi a de “expulsão”, ao invés de adaptação e rearticulação das atividades existentes dentro de um contexto, até então, industrial. Neste caso, o “não cumprimento da lei”, ao não se encarar a atividade industrial como prejudicial, aproximou, de certa maneira positiva, a região do Bom Retiro, com suas oficinas e fábricas compostas muitas vezes por estrangeiros, da reestruturação econômica mundial. Entretanto, cabe ressaltar aqui que esta argumentação trata do ponto de vista urbano e territorial, mas não se refere ao contexto social, uma vez que essas atividades “empregavam” - e o fazem até hoje - o uso de trabalho escravo no interior dos galpões, como no já divulgado caso dos operários bolivianos. Em suma, a atividade econômica positiva se manteve instalada, possibilitando a permanência de uma região ativa, com intercâmbios comerciais e sociais. Diante dessas conclusões, enfatiza-se a importância do enfoque na atividade local/produtiva predominante, e a essencialidade de se adaptar aos diferentes contextos. Por fim, deve-se destacar um aspecto importante da iniciativa: ser motivadora de projetos posteriores. A preservação dos patrimônios históricos tão evidentes e concentrados na região é uma dessas evidências. Neste caso eram previstas reformulações dos mesmos e qualificação do seu entorno como medida condicionante para a sobrevivência do monumento ativo no espaço urbano. Portanto, entende-se o projeto da década de 70 acima argumentado, como uma referência inicial para o que se discutiu - e propôs - nos projetos seguintes.
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3.2 Luz Cultural, 1984
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Como uma iniciativa do Governo Estadual, financiada por este, sem apoio da iniciativa privada, o projeto “Luz Cultural”, coordenado pela professora doutora Regina Prosperi Meyer visava em seus primórdios a valorização do ambiente cultural e social dentro da reconhecida dimensão histórica da região. A iniciativa incorporava a região do Jardim e Estação da Luz, bem como a inclusão dos equipamentos histórico-culturais do entorno adjacente. Constituía-se pelo mapeamento desses equipamentos urbanos e o investimento nas atividades decorrentes. Como dito anteriormente, a intenção era a indução de uma modificação nas atividades sociais da região, ao invés de imediata execução de grandes obras edificadas. Isso diversificaria e permitiria ao usuário uma melhor percepção espacial do seu ambiente dentro do seu cotidiano e que posteriormente pudesse ser refletida para a questão a ser construída, partindo de uma identidade já fortalecida na atividade diária. A coordenação trabalhou em parceria com diferentes órgãos relativos à administração pública, como a Polícia Militar, no sentido de incentivo e apoio – e não repressão - e a Prefeitura do município, promovendo eventos, atividades e oficinas nesses espaços identificados. Ao contrário da iniciativa projetual anterior de 1974, este projeto buscava o sentido inverso de atuação, em que a sociedade em si, através de seus interesses e necessidades e das atividades que exercia, ditaria o rumo das diretrizes de projeto a serem aplicadas. A proposta parece, à princípio, utópica, porém, entende-se que num trabalho posterior da coordenadora do projeto, ela poderia se encaixar dentro dos padrões do desenvolvimento da cidade se possuísse uma melhor relação com o contexto econômico (atividades diretas da iniciativa privada) que a tornaria factível, possível. Isso fica melhor contextualizado em seu livro publicado posteriormente, em que ela – Meyer- analisa o interesse na “instalação do novo modelo metropolitano em vista do novo modelo produtivo”, ou seja, “...a metrópole contemporânea, instalada no centro da nova fase do capitalismo mundializado”, inserida no contexto das discussões de início de milênio. (MEYER, R. 2004 pág. 21). O processo de construção de uma representatividade forte e legítima da comunidade leva muito tempo e precisa de diversos estímulos para que se mantenha. Portanto, apesar da intencionalidade positiva e envolvida com o cunho social forte da região desde aquela época, a iniciativa não gerou um efeito substancialmente sentido no espaço urbano devido ao processo ser interrompido pelas diferentes gestões públicas e, consequentemente, pelos diferentes interesses de setores da sociedade.
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17 e 18. Estação da Luz
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19. Museu de Arte Sacra
20. Museu de Arte Sacra
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21. EdifĂcio Ramos de Azevedo
22. Quartel da Luz
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3.3 Projeto P贸lo Luz, 1995
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Mais uma vez, observa-se o nítido papel da região como pólo cultural dentro do contexto urbano de São Paulo. Portanto, a iniciativa Pólo Luz, do Governo do Estado, vem como uma evolução mais concreta da medida anterior de potencializar o caráter do bairro como centro difusor de cultura e atrair investimentos da iniciativa privada que, de fato, concretizariam a reabilitação física da área. No projeto denota-se a criação de várias iniciativas que obtiveram destaque na modificação da área. O projeto coordenado novamente por Regina Meyer, com a Associação Viva o Centro, era a reabilitação de edifícios históricos como a Pinacoteca do Estado, transformando-a em um museu – projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha – e propunha para a Estação Júlio Prestes, abrigar a sede da OSESP – projeto do arquiteto Nelson Dupré. Além disso, foram executadas obras de menor porte como a Estação da Luz, Jardim da Luz, Museu de Arte Sacra, a criação do museu da língua portuguesa, entre outros. A operação de requalificação dessa região nesse período foi bem sucedida no que se diz respeito à produção de edifícios com programas culturais de valor e ao grau de investimento por parte do Governo do Estado nessas atividades. Porém, não se pode deixar de abordar a visível desigualdade social que foi ainda mais acentuada com a instalação desses programas como, por exemplo, a cracolândia em plena praça Júlio Prestes. Os problemas sociais – ligados essencialmente ao tráfico - já estavam presentes na região antes mesmo dessas operações se constituírem, sendo, inclusive, uma das forças motivadoras à ação pública. O enfrentamento deste tema sempre foi, e é, ainda mais hoje, necessário. Deste modo, observa-se nas ações do Polo Luz, uma abrangência e inserção dos equipamentos propostos dentro de uma escala metropolitana, porém, um grande afastamento quanto à escala local, do bairro e da comunidade. Sendo assim, pode-se analisar os resultados deste projeto, neste tópico das desigualdades urbanas, através dos próprios edifícios. O Complexo Júlio Prestes domina a discussão sem dúvida nenhuma. Em sua análise, fica claramente percebido seu afastamento do entorno, inclusive das suas imediações, seja pelo público que atrai, pelo modo como os usuários chegam ao local, seja pela sua comunicação física com as cotas das ruas, entre inúmeros outros fatores, que o concretizam como um projeto segregador e isolado do seu meio. Isso é, inclusive, observado no contexto histórico da própria estação Júlio Prestes. 65
23 e 24 . Pinacoteca do Estado 66
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25. Estação Júlio Prestes 26. Concurse Júlio Prestes, visto da Sala São Paulo 68
69
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Diferentemente da Estação da Luz, que servia como um elemento de passagem dos trens, a estação Júlio Prestes desempenhava o papel de ponto final, portanto, seus desafios de comunicação com a cidade já se apresentavam maiores. Sua implantação arbitrária e fica muito mais clara numa breve comparação com a sua vizinha: Enquanto a Luz preserva seu papel de ligação entre os dois lados da linha férrea, servindo como elemento de transposição, projetada por Ramos de Azevedo – onde, inclusive, ao invés de locar a entrada principal do lado do centro, o arquiteto optou por inverter seu papel, e posicioná-la de frente para o Jardim da Luz, a Júlio Prestes posiciona-se como uma “caixa” isolada de qualquer um dos lados que a tangencia, funcionando, inclusive, como uma barreira na paisagem, no território e no espaço, argumentação que será mais aprofundada posteriormente. O projeto Pólo Luz e suas consequências – bem ou mal sucedidas -, colocou como questão entender qual a aplicação “correta” da proposta para que se estabeleça uma relação entre a valorização dos equipamentos culturais - tão característicos da região -, e o modo como isso influenciará o tecido urbano envoltório, articulação que se demonstra absolutamente necessária, senão urgente na área. Para isso, entramos na discussão do 27. Hall Sala São Paulo Programa Monumenta, a seguir.
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3.3.1 O sentido de “propagar” Seja pela acentuação do processo de desigualdade gerado nas grandes metrópoles, seja pela crescente ação dos movimentos populares na disputa pelo território, nos dias atuais ficam cada vez mais recorrentes os assuntos relativos ao futuro da cidade, bem como se dão os processos de urbanização. Dentro do tema acima exposto no Projeto Pólo Luz, entende-se a iniciativa de se atuar na região através da implantação de grandes equipamentos como objetos de “propagação positiva” no entorno adjacente, pelas atividades e dinâmicas que promovem, entretanto, no caso da luz, o que se observa é que a estratégia foi mal sucedida – quanto à urbanidade - como a Sala São Paulo e a Pinacoteca do Estado. Quando eficaz, essa estratégia poderia ser definida como “diversidade derivada” (JACOBS, 2009), onde empreendimentos “secundários” surgem em consequência da presença de usos principais combinados fortes, ajudando a intensificar e acelerar a formação de uma cidade mais complexa. Observa-se na argumentação de diversos autores dentre eles, Otília Arantes, 2012, a ênfase quanto ao caráter excludente desse tipo de transformação espacial dentro do meio urbano, ou seja, a relação entre as mudanças nas cidades, os agentes e as ocasiões. Dentro de diversos quadros analíticos da autora, exemplifica-se, em sua argumentação, os casos de Berlim e Barcelona como sendo casos de “Gentrificação Estratégica”. Determinadas ocasiões têm fator propulsor no desenrolar do planejamento da cidade: no caso de Berlim, as consequências das Guerras, e de Barcelona, o período pré-olímpico. Essas circunstâncias estabeleceram uma relação de “ocasião – modificação”. O fato é que, atualmente, e na maioria dos casos – a exemplo da região da Luz -, vemse especulando o que se chama de uma parceria entre o poder público e o privado, onde grandes projetos, máquinas de crescimento – equipamentos ou eventos culturais – são implantados no sentido de favorecer o que a autora denomina de a “marca” competitiva das grandes cidades. Isso faz parte de um impulso político iniciado anteriormente na Europa, principalmente dentro do Período Mitterrand, em que a afirmação cultural é parte relevante dos valores de mercado e consequentemente, da constituição da experiência da sociedade. “Estética pós-moderna que celebra a diferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda e a mercantilização de todas as formas culturais” (HARVEY, 1995, págS 48-64). 72
MUSEU = SHOPPING
Neste caso, tanto a cultura quanto a arte passam a ser considerados como mercadorias, manipulados como imagem da marca. (JACQUES, 2003) A questão é que atualmente, dentro de uma consequência do chamado – “culturalismo de mercado” (ARANTES,1998) -, o uso cultural dentro de áreas de patrimônios vem assumindo papel de estratégia principal do processo de revitalização urbana. Ou seja, diante da argumentação anterior, a cidade fica basicamente à mercê de duas possibilidades: preservação desenfreada ou urbanização genérica, onde a primeira preconiza a petrificação dos centros históricos, e a segunda cria cidades genéricas estéreis (JACQUES, 2003)). Deste modo, afirma-se a criação de uma dualidade, competente a muitas cidades, em que um centro engessado e uma periferia generalizada, constituem um padrão internacional genérico e muitas vezes, gentrificador, numa realidade de “espetacularização” das cidades (JACQUES, 2003). Quais as justificativas e implicações disso dentro do contexto urbano atual? Para que se possa traçar um raciocínio lógico quanto aos limites que definem a contribuição urbanizadora da “requalificação” de uma área por equipamentos culturais, é interessante ter a noção clara do significado de cultura, bem como as suas condições no contexto social.
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Basicamente, numa análise histórica sintetizada, pode-se dividir o termo em três conceituações principais: “Clássico/Erudita”– intimamente ligado à noções artísticas e estéticas de “Beaux-Arts”, por exemplo-, “Antropológico/Etnológico” – no sentido de um caráter identitário que revela o modo de vida de uma sociedade -, “Econômica” – numa noção mais contemporânea, uma cultura de massa relativa às questões mercantilistas, ligadas ao desenvolvimento tecnológico, bem como a seus produtos (JACQUES, 2003). Essa apreensão se torna interessante para se compreender o momento e a crítica que vive a opção pela “cultura” como programa de “requalificação”, submetida aos valores de interesses econômicos, onde fica clara a utilização do patrimônio material, principalmente em sítios históricos, como contenedores de programas de âmbito cultural, atrativos à competição entre cidades. A questão principal, na realidade, não se situa, portanto, na eleição de um dos três valores sintéticos acima expostos, porém, no fato de dia a dia esses valores se separarem cada vez mais, diluindo e alienando um significado cultural que poderia ser – pela evolução histórica – muito mais completo e democrático. Um fator agravante, como na argumentação de Otília Arantes, 2012, é o processo de atualização e modificação do meio urbano sendo executado essencialmente sob o interesse rentista e imobiliário, gerando transformações territoriais bastante contraditórias. Trata-se de um processo de planejamento intimamente relacionado com as questões empresariais, com a elite financeira tomando posse das cidades, o que a autora passa a chamar de “for business”, e que contribui enormemente para o processo de gentrificação, iminente na região central de São Paulo. O mais interessante dentro disso é abordar a questão de que a elite sempre ocupou áreas e decidiu as questões acerca da urbanização devido à sua capacidade econômico financeira de realização, ou seja, a novidade não está aí. O que mudou agora, dentro do assunto argumentado é o objeto de interesse em que são aplicados os investimentos, como no caso atual, os equipamentos culturais, que no contexto do “culturalismo de mercado” (ARANTES, 1998), atendem à população, porém na maioria das vezes, de maneira extremamente seletiva. No caso deste trabalho, legitima-se a apropriação cultural de espaços públicos – muitas vezes patrimônios históricos - com o objetivo de propagação de urbanidade. Isso no sentido de que o produto final tem, por principal propósito, a conformação de espaços públicos de qualidade e grande variedade de usos na proposta de maior diversidade 74
urbana (JACOBS, 2009). Porém, a crítica está no fato de que, na grande maioria das vezes, - nitidamente exemplificada no estudo anterior do Projeto Pólo Luz - a promoção cultural não se dá efetivamente, uma vez que, devido à “espetacularização” do espaço urbano, a apropriação deste acontece de maneira segregada, oriunda dos processos prévios de gentrificação. Isso acaba gerando o que já se apontou neste estudo: objetos que apesar de se articularem com a escala metropolitana, não se inserem no contexto local das regiões, perdendo assim parte de seu propósito. Entende-se que a solução para a situação exposta seja uma proposta híbrida e não genérica, que atente ao real valor completo daquilo que pode ser “cultura”, assimilando os elementos imateriais de uma sociedade dentro de espaços materiais, ao invés de sobrepor estes a aqueles, uma vez que além da questão física - arquitetônica e urbanística de fato -, a questão social demonstra-se fundamental no resultado obtido pelos projetos. Deste modo, aplica-se a questão profundamente abordada por Jane Jacobs, 2009, da diversidade como elemento essencial da composição urbana da cidade, onde uma grande variedade de usos principais combinados e secundários articulam-se entre si, promovendo uma dinâmica muito mais rica dentro do cotidiano urbano local. Este ponto da argumentação se mostra precioso para a constituição do raciocínio do trabalho, uma vez que esse tipo de estratégia, acima exposta, é muito recorrente nas propostas urbanísticas atuais, porém, devido ao que foi abordado anteriormente na argumentação de Otília Arantes, é feita de maneira comprometida com interesses específicos, com pouco ou nenhuma articulação das diferentes escalas, a exemplo do Pólo Luz. Este é um momento delicado do trabalho, porque aqui começa a se constituir a proposta projetual que objetiva experimentar uma possibilidade frente a reflexão neste trabalho exposta. Diversidade e vitalidade talvez coloquem-se como o conceitos principais desse trabalho, seja ele projetual, seja reflexivo. A importância de um elemento forte na região que se identifique com as diferentes escalas e paradoxos que ela apresenta, de uma maneira culturalmente consciente torna-se uma possibilidade, e as táticas a serem usadas para que ele se estabeleça de maneira eficaz tornam-se essenciais. Para isso, aplica-se a fluência de usos e confluência de trajetos, onde usuários se intercambiem, horários se cruzem e cotas se unifiquem iniciando a principal conclusão quanto à leitura da situação urbana atual e, portanto, quanto à estratégia básica de projeto. 75
3.4 Programa Monumenta, 2002
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* IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico~ DPH -Departamento do Patrimônio Histórico
Discute-se agora o programa considerado como sendo de maior relevância dentro dos objetivos e diretrizes propositivas neste estudo. De abrangência nacional, firmado no último ano do Governo de Fernando Henrique Cardoso, 2002, o programa prevê o combate às causas de degradação do patrimônio artístico nacional tombado pelo IPHAN nos grandes centros históricos do país. Seus recursos são viabilizados através de uma parceria de empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, órgão responsável, também, pelas orientações e modelos de implementação da iniciativa. Além disso, participam da liberação de fundos, o Ministério da Cultura, o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura do Município, numa proporção de aproximadamente 20%, 15% e 15%, respectivamente, restanto os outros 50% para o BID. “O diferencial deste programa é ter como princípio básico garantir as “condições de sustentabilidade”, entendidas como a geração permanente de receita suficiente para garantir o equilíbrio financeiro das atividades e manter conservados todos os imóveis da Área de Projeto, objetivo que pretende ser alcançado com o estabelecimento de novos usos para os imóveis e monumentos recuperados, assim como a intensificação de fluxo de turistas nas áreas de intervenção.” (MinC; BID, 1990; www.monumenta.gov.br). Em resumo, numa encomenda de projeto de implementação feita pela Unidade Especial de Projeto – UEP, pretende-se aumentar a abrangência e utilização econômica, cultural e social do patrimônio material, reposicionando-o de maneira vantajosa e eficaz no contexto produtivo da sociedade atual. Sendo assim, através de um convênio entre o Ministério da Cultura e a Prefeitura de São Paulo, foi implementado o Programa Monumenta no município no que se chamou “Conjunto Histórico da Região da Luz”, tombado em 2000 pelo IPHAN. Uma versão preliminar do projeto, elaborada pelo IPHAN, CONDEPHAAT e DPH* para a região previa a reativação do bairro como uma centralidade através da articulação de intervenções pontuais dentro de um plano urbano comum que previa intervenções no espaço urbano como o alargamento de calçadas, melhorias na circulação e reformulação da malha viária. Consideram-se como principais frentes de atuação: recuperação do patrimônio, requalificação do espaço urbano, financiamento para recuperação dos imóveis privados e capacitação e educação patrimonial. 77
Dentro disso, foram elencadas 5 principais áreas, nas quais ocorreriam intervenções de ocupações diversas e complementares entre si, com o objetivo de compor o plano urbano geral. Entretanto, esse partido não foi levado em consideração dentro da formulação anterior geral do Programa Monumenta em si, fazendo com que a sua formalização acontecesse de maneira divergente à proposta nas diretrizes iniciais do empréstimo. Essa desarticulação constitui, portanto, um dos primeiros passos para o “fracasso” da iniciativa. Sendo assim, numa divergência entre a proposição do setor responsável pelos fundos e do setor responsável pelo projeto de fato, a organização da proposta foi comprometida e iniciaram-se os cortes de áreas de atuação e o não cumprimento do objetivo ideal. A exemplo disso, coloca-se a intervenção em área que abarca, quase que exclusivamente, os quarteirões de edifícios monumentais tombados, deixando de fora os socialmente mais complexos. Essa característica foi forte na divulgação popular do plano, tornando-se quase que mais evidente do que a proposta inicial. Esse corte também foi condicionado ao potencial da intervenção de apoiar a proposta inicial de sustentabilidade exposta anteriormente. Ou seja, quanto maior a área de atuação, mais diluídos seriam os investimentos nos edifícios pontuais, portanto menos edifícios seriam revitalizados. Sendo assim, o direcionamento dos investimentos ficou restrito a edificações consideravelmente “garantidas”, deixando de lado elementos característicos e significativos, como por exemplo as vilas operárias. Dentro do que restou, e desconsiderando-se edificações que já tivessem passado por um processo de recuperação anterior nas outras propostas (Ex: Estação Júlio Prestes – Sala São Paulo), o projeto definiu diferentes graus de intervenção nos monumentos, desde a limpeza, até o restauro global. Esses edifícios são: “Conjunto do Jardim da Luz, Ponto de Bondes, Prédio do Ponto Chic, Casa da Administração e o Coreto, os dois
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1- Jardim da Luz 2- Prédio Ponto Chic 3- Ponto de bondes 4- Casa da Administração 5- Gruta Artificial 6- Grupo Escultório 7- Coreto nº 1 8- Coreto nº 2 9- Estação da Luz 10/11- Pontilhões de Ferro Forjado 12- Pinacoteca do Estado 13- Eficício Paula Souza 14- Edifício Ramos de Azevedo 15- Quartel da Luz 16- Hotel Federal Paulista 17- Hotel Queluz 18- Armazém Central da Estrada de Ferro 19- Museu de Arte Sacra 20- Mosteiro da Imaculada conceição da Luz 21- Igreja de São Cristóvão 22- Antigo Seminário Episcopal 23- Portal de Pedra 24- Praça Cel. Fernando Prestes 25- Estação Júlio Prestes 26- Chaminé
pontilhões de ferro forjado situados em ambos os lados da Estação da Luz, o Eficício Paula Souza, o Edifício Ramos de Azevedo, o Quartel da Luz, o Hotel Federal Paulista, o Hotel Queluz, o Museu de Arte Sacra, o Antigo Seminário Episcopal, a Praça Coronel Fernando Prestes, e a Chaminé da usina da Luz, além dos 103 imóveis privados dentro da área de projeto.” (MinC; BID, 1990; www.monumenta.gov.br)
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Iniciando-se agora uma argumentação que se refere à real execução e aplicabilidade do plano, é válido citar dois fatores influentes: Contribuição da iniciativa privada e o Fundo Municipal de Preservação. Havia duas maneiras do setor privado ter sua participação: Como potencial operador mediante a “concessão de usos” dos edifícios ou como parceiro em empreendimentos imobiliários e comerciais dentro da área de projeto, sendo o segundo, claramente o preferido. Já o Fundo Municipal de Preservação, regulamentado apenas em 2006, tem por objetivo dar continuidade às ações do Monumenta após o fim dos projetos, participando de um processo de manutenção e inserção economicamente sustentável. Dentro disso, referindo-se ao que realmente foi possível ser feito, diante dos investimentos, sejam eles públicos ou privados, observa-se o início das intervenções com o restauro da chaminé, remanescente da primeira usina elétrica da cidade na rua João Teodoro, executada e financiada integralmente pela Prefeitura do município em 2002. Nos anos seguintes foram elaborados pela UEP/São Paulo projetos executivos para intervenção nos edifícios e monumentos históricos selecionados, e também foram iniciados processos licitatórios para a execução das obras. (MinC; BID, 1990; www. monumenta.gov.br) Consequente a isso, inicia-se o caraterístico processo de “não andamento das obras” dentro do nosso contexto governamental. Devido a isso, foi assinada uma renovação de contrato até 2007, porém, foram aplicados, também, cortes de orçamento para o Município pelo MinC, já que sua distribuição varia proporcionalmente conforme o andamento das obras. Deste modo, com recursos reduzidos, o programa necessitou reestabelecer suas prioridades, novamente, restringindo o modelo apenas aos edifícios monumentais, ainda que com diminuição do investimento, e excluindo totalmente o restante, como o Quartel da Luz e, inclusive, o Plano Urbanístico Estratégico, que representava um diferencial positivo do Programa Monumenta sobre as iniciativas anteriores. Em resumo, até 2007, entre as realizações executadas pelo projeto estão a restauração do Coreto, do ponto de Bondes e do Ponto Chic, além de algumas medidas pontuais na capela da Imaculada Conceição da Luz, e nos Edifícios Ramos de Azevedo e Paula Souza, além da reurbanização da praça Fernando Prestes. Como conclusão, entende-se o Programa Monumenta dentro do município de São Paulo como uma iniciativa dotada de muitas complicações e processos burocráticos oriundos de divergências de interesses. Isso fez com que, apesar da existência de obras 80
de restauro e conservação aplicadas a edifícios representativos da história da cidade, não houvesse uma melhoria de fato no sítio urbano, no território, de maneira mais ampla, restringindo-se as alterações, apenas a questões pontuais que se adaptavam aos recursos disponíveis. Sendo assim, observa-se o programa, em sua proposta de diretrizes, como uma evolução na questão do patrimônio historico histórico das cidades, e vê-se uma relação muito íntima com o que essa reflexão vem a propor. Porém, o principal fator de “fracasso” se deu pela falta de articulação do restauro e da preservação histórica com a melhoria do ambiente urbano como um todo, com a melhoria do bairro sob diferentes aspectos.
PODER PÚBLICO INICIATIVA POPULAR INICIATIVA PRIVADA
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3.4.1 Mercado e as cidades genéricas Nossas sociedades são, cada vez mais, sociedades de mercado. Já não existe mais a crença de que conhecimento determina as direções do desenvolvimento, mas sim, os comportamentos e interesses de mercado. Numa sociedade como essa, presencia-se um fenômeno básico e preocupante em que não são mais as partes que geram as regras do mercado dentro de sua produção e desenvolvimento, mas sim, o próprio mercado é que cria novas regras para se adaptar aos interesses das partes. Deste modo, todo e qualquer intercâmbio de ideias assume papel restrito e engessado a serviço do mercado. Como o sistema econômico é dotado de uma característica de instabilidade, essa relação de dominância – mercado sobre ideias - acaba por fazer com que uma gama de ramificações subsequentes a ele – mercado - fique sempre na dependência coadjuvante de sua eficácia ou não. E nisso se inclui o processo de urbanização. Nele, o mercado incorporou os valores arquitetônicos e construtivos, assumindo para si e para a sociedade, que o valor dos edifícios está restrito apenas à sua capacidade de ser habitado como valor de troca, objetivando apenas a lucratividade financeira e desconsiderando as questões de identidade social e histórica dos espaços. Deste modo, atinge-se a argumentação vastamente abordada por Koolhaas, desde 1995, quanto ao fenômeno das cidades genéricas. Territórios artificiais e sem história vão se constituindo à mercê de interesses displicentes quando às reais necessidades do espaço urbano e, com isso, intensifica-se a iminente desaparição dos centros históricos e sua substituição por simulacros de um passado próximo, com tecidos urbanos puramente instáveis – um evidente temor na região da Luz já tão submetida aos interesses imobiliários, majoritariamente.
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MERCADO > IDEIAS
SISTEMAS POLÍTICOS Diante disso, fica clara a interferência na paisagem urbana, em que os principais elementos formais são resultados de interesses econômicos, num processo de urbanização que visa total e prioritariamente a eficiência e a produtividade. Tornando a cidade capitalista do futuro uma soma de “pedaços de paisagem” “pedaços de matÉria urbana”. Em síntese, aproxima-se de uma cidade que se não for revisada e democraticamente pensada, caminha a passos largos ao status de genérica, onde quem dita prioritariamente as suas necessidades e intervenções é o próprio sistema econômico, neste caso, o processo de urbanização busca cada vez mais as vias de menor conflito, eliminando de sua dinâmica qualquer acontecimento de pequena ou média escala, que ofereça resistência ou confronto. Enquanto não se entender e se incorporar, no cotidiano de desenvolvimento urbano, que a cidade não é apenas um objeto dos interesses hegemônicos, mas sim, uma consequência de atividades humanas, continuaremos ampliando essa atual fabricação em massa de cidades que deixam de se articular às problemáticas urbanas mais democráticas, como se o sentido histórico de desigualdade já estivesse sido suficientemente abordado.
+ ECONOMIA DE MERCADO x VALORES COLETIVOS 83
3.5 Projeto Nova Luz, 2005
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Chega-se neste momento, no aspecto mais polêmico da discussão da região no que se refere, principalmente à divergência de interesses e necessidade de articulação dos mesmos dentro de um grande processo de resistência popular quanto a iniciativa público/ privada. O projeto Nova Luz surge como uma iniciativa da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do município de São Paulo, em 2005 para a requalificação da região central de São Paulo. Até então, como iniciativa, o projeto previa modificações interessantes a serem abordadas a seguir, mas como a proposta desta análise é a de fazer uma reflexão que se direcione mais à eficácia real do programa, trataremos de questões além das suas características básicas da proposta. Para o desenvolvimento deste raciocínio, a discussão será baseada em quatro aspectos: Os objetivos, as diretrizes e propostas para alcançá-los, o método como * Setores de identidade – São eleitos as essas propostas serão concretizadas e por fim, a real aplicação do plano.
principais atividades das vias, seu “caráter” e posteriormente seu projeto. **Microclima – “Um claro entendimento dos aspectos climáticos locais assegura que o projeto potencialize aspectos de conforto ambiental no desenvolvimento dos espaços públicos. Um ambiente agradável que propicie caminhadas e melhore as condições de ilhas de calor é viabilizado através da interpretação do microclima local. A estratégia de micro clima foi utilizada como premissa fundamental para orientar as decisões de projeto, permitindo que a Nova Luz fosse uma região reconhecida como sustentável e com baixo consumo energético.” (PROJETO NOVA LUZ, Partido Urbanístico, 2011).
Objetivos Num breve resumo, a princípio, entende-se a proposta como uma grande síntese de aspectos positivos de diferentes estudos de caso, como o Londrino, por exemplo. Neste aspecto já se inicia a grande crítica pelo fato dos diferentes contextos serem obviamente diferentes geradores de necessidades e prioridades e, portanto, ser, de certo modo, leviana a aplicação de um modelo em que se reproduz cenários político, econômico e social completamente diferentes. A iniciativa prioriza, através de uma divisão de “setores de identidade”* a proteção da malha urbana existente, o estabelecimento de maior conectividade geral (com entorno, pedestres e questão da acessibilidade), uma montagem de uma rede de áreas verdes e espaços públicos articulados, aplicação de setores atrativos de uso misto e de “âncoras”, sendo esses fatores resumidos dentro de uma estratégia de microclima**.
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ROJETO
Propostas Os mecanismos para atingir esses
RTEADORES objetivos não nos são desconhecidos
dentro do estudo urbanístico de uma cidade, como por exemplo: se das idéias desenvolvidas no projeto urbano com relação a - Aplicação de uso do solo misto; os e definição do programa de usos para cada edificação. - funções Valorização dos espaços públicos e atividades para incentivar o uso públicas e os investimentos na quantodas áreas à mobilidade, habitabilidade, quadrícula é região. ticas do bairroconectividade, senso de lugar e Este princípio é composto pelos seguintes bulevares que através de pavimentação, elementos: oporcionam segurança, m o entorno. arborização, � 1. Arborização; iluminação, mobiliário o que garanta � 2. Jardins de chuva; rea da Nova urbano, infraestruturas verdes, entre dade urbana � 3. Praças; outros. Dentro disso, são eleitas diversas 3 - Mobilidade). � 4. Terraço jardim. a rede tipologias de vias, como boulevares, ruas mas mais Como parte do Projeto Urbano, propõe-se comerciais vias pátios, locais, omo uma redeespecializadas, de novos parques, praças, porte público. jardins elevados e ruas arborizadas com o mini anel viário, passeio cultural, rua com objetivo de proporcionar um ambiente de qualidade para empreendimentos, com um superfície compartilhada; senso de lugar e identidade. Esses espaços ntos de entrada e rotas reforçam o padrão da malha urbana. undamentais de - Criação de espaços livres através és da criaçãode praças de entretenimento, valorização Acessibilidade às Conexões da Cidade uncionam como Generalacessibilidade Osório, daaosPraça Júlio em pontos do Largo Potencializar principais ansição para pontos de conexão da cidade, proporcionada Praça do Triunfo, Praça Nébias, umas áreas, oMesquita, pelo sistema de transporte público local. cer essas e o estabelecimento de pátios, terraços, ndo edifícios e Definição de Setores de pequenas praças, entre outros; cos. uso Misto e Âncoras está estruturado da - O projeto Criação de através equipamentos definição de quatro setores de uso misto e om o entorno, comunitários articuladores como elementos com âncoras urbanas. Para ajudar a e construção de senso de vizinhança, escala, de apoio ao cidadão, que são elementos es, fomentando orientação e legibilidade, estas âncoras ciais e de lazer. estãona estrategicamente escassos região; localizadas e são capazes de atrair público para atividades de comércio. na Sãoinfraestrutura inseridas no - lazer, E porcultura fim, emelhoria projeto para reforçar as ligações entre os públicos de e destinos, geral bairros da região, nodestacando que sevisuais referee ao s aos aumentando a identidade do lugar. a gama de saneamento e fornecimento de energia.
um projeto urbano estruturado e coerente, alguns princípios a incorporar no desenho soluções relacionadas às des na área.
PROTEGER A MALHA URBANA
DEFINIR PORTAIS
FORTALECER AS CONEXÕES
REDE DE ÁREAS VERDES
CONECTAR AO RESTANTE DA CIDADE
ESTABELECER ÂNCORAS URBANAS
86 Partido Urbanístico� �� ���
Método
USO DO SOLO, continuação USO DO SOLO, continuação
USO DO SOLO, continuação
Para alcance dessas propostas, além das diretrizes gerais já expostas, a iniciativa prevê um levantamento lote a lote da região delimitada quanto ao uso e ocupação do solo, estado de conservação, edifícios tombados e ícones, áreas verdes, corredores de circulação, e todos os outros aspectos básicos conhecidos de levantamento para reconhecimento da área. Diante disso, são definidos lotes que serão removidos, -segundo o projeto, 24% do total -, e outros que serão mantidos, e é traçado um plano de aplicação de novos edifícios dentro dos usos determinados nas diretrizes gerais. Numa síntese, após isso, são delimitados os “Setores de Identidade”, numa tentativa de se aproximar ao contexto local urbano da área, e promover condições das principais características da região manterem-se, numa tentativa. Dentro disso, é delimitada a área para aplicação da ZEIS, estabelecida pelo plano diretor, para moradia popular. Além disso, cabe lembrar a manutenção do sistema viário, com valorização dos principais corredores existentes e sua melhoria. Sendo assim, dentro da estratégia de microclima, são determinados os chamados “portais”, que definem os acessos às áreas de projeto. Neste aspecto não fica muito clara, apesar da explicação de como será dada a sua implantação, a sua real intenção. Enfim, o projeto apresenta-se de maneira detalhada, explicitadas todas as suas propostas, intenções e métodos, dentro de um padrão de referências internacionais e intenções de inclusão. Portanto, é claro que como proposta e discurso, excetuando-se algumas críticas já apresentadas, o projeto possui intenções e raciocínios positivos e bem estruturados. Porém, o problema não está de fato em sua elaboração, mas sim, como dito neste prefácio, a intenção de análise deste estudo vai mais a fundo, nas questões oriundas do interesse dos ocupantes da região e da real aplicabilidade do programa. Subproduto 5.1: Pue Consolidado
Serviços Residencial Comercial Entretenimento Institucional
Serviços Residencial Comercial Entretenimento Institucional Serviços
Residencial Comercial
Entretenimento
Institucional Subproduto 5.1: Pue Consolidado
Patrimônio Histórico Prédios Mantidos Espaços Livres (Pav.) Espaços Livres (Verdes) Áreas de serviços Patrimônio histórico Prédios mantidos Espaços livres (Pavimentadas) Espaços livres (Verde)
Áreas de serviços
Patrimônio histórico Prédios mantidos Espaços livres (Pavimentadas) Espaços livres (Verde) Áreas de serviços
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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO, continuação
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Fontes: - MDC, Mapa digital da Cidade, 2004 (adaptado) - Subsídios para o Projeto Urbanisto Nova Luz - EMURB, 2006, 2007 e 2009 - TPCL, Cadastro Territorial e Predial de Conservação e Limpeza - Projeto Urbano (PUE/ZEIS)
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* Gentrificação – é entendido como o processo de mudança imobiliária, nos perfis residenciais e padrões culturais, seja de um bairro, região ou cidade. Esse processo envolve necessariamente a troca de um grupo por outro com maior poder aquisitivo em um determinado espaço, com a exclusão arbitrária do grupo menos favorecido. É um fenômeno muito presente nas lógicas urbanas das cidades e que contribui para a formação das periferias e a acentuação da desigualdade social.
É fato que a Lei é arbitrária e excludente, mas também é fato que é justamente a sua incoerência que dá respaldo à resistência popular da região para argumentar contra as suas determinações absurdas. A “Associação Ama a Luz” constitui um grande representante desse processo de resistência, e vale lembrar que não está, de fato, contra as diretrizes do projeto em si, mas sim, contra o modo como elas estavam sendo implantadas à serviço do interesse econômico de valorização da região. Como comentado no primeiro estudo do projeto de 1974, “Luz: Renovação Urbana”, um programa nesta escala se estabelece pelas medidas indiretas – poder público -, conformadas através de um plano legislativo juntamente com as medidas diretas - iniciativa privada - com a aplicação de fato dos projetos. O caso é que, no processo de projeto Nova Luz, a região, assim como em todas as grandes metrópoles brasileiras, está submetida a uma força maior muito influenciadora, ligada aos fatores econômicos e especulativos, valor imobiliário e criação de um diferencial competitivo na disputa das lógicas “globais”. Ou seja, a região central, como abordado anteriormente, historicamente riquíssima, área de convergência dos principais meios de transporte, atividades produtivas, elementos culturais e de patrimônio histórico, constitui em si uma grande potencialidade para o mercado com a criação e obtenção de imóveis de alto valor por parte justamente da iniciativa privada, responsável pelo financiamento e execução das medidas diretas de projeto. Dentro disso, e para que isso fosse possível, fica claro e óbvio que a permanência dos moradores locais e inclusive, da inserção de moradias populares na área das ZEIS, ficava cada vez mais distante da aplicação de fato, e iniciava-se o mais preocupante agravante dessa grande luta de interesses: o processo de gentrificação*. Qualquer iniciativa social de qualidade prevê a inclusão como fator primordial. E a partir disso, o processo de gentrificação é um mal dentro do desenvolvimento econômico das sociedades que promove, além da segregação, um círculo vicioso de marginalização social que impulsiona cada vez mais a desigualdade refletida no âmbito da discussão do espaço urbano.
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28, 29, 30 Demolições Nova Luz
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31, 32, 33 Entorno JĂşlio Prestes
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3.5.1 Economia Solidária Diante das abordagens anteriores do que é aplicado na região e a questão do mercado, acrescenta-se a argumentação a seguir, referente ao desenvolvimento solidário. É válido saber que o valor disso, dentro de um panorama geral, não se refere à tentativa de criar ou propor um novo sistema de produção para o setor econômico, que se adeque as questões sociais dispostas no trabalho. Mas sim, apenas introduzir-se uma nova ótica de produção que é considerada válida em inúmeros aspectos e se identifica com a abordagem geral de sempre investigar um novo sentido para as coisas, numa sociedade que a cada dia, requer mais inovação e transformação. Elege-se o exemplo do desenvolvimento solidário pelo seu valor determinante que relaciona intimamente questões sociais a questões políticas e econômicas, representando assim, uma abordagem imprescindível no tópico da região central de São Paulo, uma vez que o principal conflito é que a área é submetida, quase que exclusivamente, aos interesses econômicos hegemônicos, muito distantes dos sociais. Entende-se por economia solidária, um processo de desenvolvimento sustentável e cooperativo alternativo ao capitalismo oriundo de reflexões socialistas autogestionárias propostas oficialmente em 1864, na Associação Internacional dos Trabalhadores, por Marx e Engels, em Londres. Posteriormente lapidado, o desenvolvimento propõe novas soluções para as atividades produtivas dentro de uma prioridade maior que são as melhores condições ambientais, maior igualdade social e auto-valorização dos trabalhadores dentro da economia. O que se entende dentro desta argumentação como principal valor do desenvolvimento solidário, é que sua abordagem é realista e procura se afastar de questões utópicas unilaterais. Sendo assim, fica claro que não se nega a existência do capitalismo como sistema econômico, tampouco a atividade lucrativa, o mercado ou a relação “patrãoempregado”, porém, dentro destas constatações, propõe-se novas perspectivas de se visualizá-las e melhor conduzi-las no sentido de um progresso tecnológico que não negue os avanços técnicos-científicos oriundos de investimentos capitalistas, mas submeta-se a questões cooperativas e favoreça os valores de igualdade social. Para que se entenda a lógica do sistema solidário, é importante estabelecer uma análise comparativa em relação às principais características do sistema capitalista, sejam elas positivas ou não, mas sobretudo, denotar-se a importância do desenvolvimento técnico e científico na evolução social. 92
ASSOCIAÇÃO DE IGUAIS x CONTRATO ENTRE DESIGUAIS
Como se é sabido, o desenvolvimento capitalista se baseia na propriedade privada do capital, e acaba dividindo a sociedade em duas “classes”: os proprietários de capital e os seus empregados, e todas as decisões que fazem parte do capitalismo visam a maximização do retorno sobre o capital aplicado, portanto, o lucro. Neste aspecto, o principal elemento propulsor desse desenvolvimento é a concorrência, a competição, que estabelece as devidas relações econômicas dentro dele. Dentro dessa luta, a superioridade técnica é que define o vencedor e posteriormente gera a divisão hierárquica em empresas. Cabe agora uma comparação inicial com o desenvolvimento solidário, que ao invés do desenvolvimento individual pela competição, visa um progresso comum através da cooperação, no sentido da negação de “vencedores x perdedores”. Trata-se de uma busca pela igualdade dentro da produção, onde a relação hierárquica é substituída por uma sociedade cooperativa. (SINGER, 2002) Ou seja, ao contrário do que é habitual hoje em dia no universo competitivo das grandes corporações, com as patentes e monopólio, todas as descobertas técnico-científicas geradas no meio produtivo devem ser compartilhadas e livremente disponibilizadas à sociedade. Não há competição entre os sócios, mas sim uma cooperação: se a cooperativa progredir, todos ganham por igual, mas se ela for mal, todos participam por igual dos prejuízos. A exemplo disso, cita-se a criação do sistema Linux de softwares, em oposição ao monopólio da Microsoft, já que o Linux é acessível e aberto a todos os interessados, além de muito mais democrático. Uma outra característica clara do desenvolvimento capitalista é que, apesar de muitos setores se beneficiarem dele - tanto os empresários quanto os consumidores – ele não é para todos, ou seja, é seletivo, porque quem acaba sendo suprimido nessa relação de benefícios, é o trabalhador que não se apropria de qualidades vantajosas do sistema. Dentro de uma estrutura solidária, visa-se a eliminação das diferenças na participação geral das decisões da empresa, promovendo responsabilidades e direitos comuns a todos, independente de suas posições. Isso se transfere, portanto para a distribuição dos salários, que se apresenta mais igualitária diante da receita obtida no montante final, devido ao maior engajamento de todos. Mesmo com a condição de partilha justa (no desenvolvimento solidário) a todos os participantes, inevitavelmente concretizam-se as diferenças, no que se refere à capacidade e qualidade de produção. Para isso, entende-se no sistema solidário uma certa “desigualdade tolerável” das retiradas, que acompanha um escalonamento de funções 93
dentro de empresas, o que é justo, já que acima da relação harmoniosa comum, também existe uma gradação de responsabilidades. Porém, repudia-se a exploração e alienação do corpo produtivo, fazendo com que todos que participem da produção, tenham os mesmos direitos de participar das decisões que afetam o todo. Sendo assim, os assalariados se tornam individualmente e igualmente responsáveis pelo futuro daquela empreitada, pois sua remuneração passa a depender cada vez mais dos resultados obtidos através das suas decisões. A primeira aplica a heterogestão, ou seja, a administração hierárquica, formada por níveis sucessivos de autoridade, entre os quais as informações e consultas fluem de baixo para cima e as ordens e instruções de cima para baixo. Os trabalhadores menos qualificados sabem muito pouco alem do necessário para que cumpram suas tarefas, que tendem a ser repetitivas e rotineiras. À medida que se sobe na hierarquia, o conhecimento sobre a empresa se amplia porque as tarefas são cada vez menos repetitivas e exigem iniciativa e responsabilidade por parte do trabalhador. (SINGER, 2002) A empresa solidária se administra democraticamente, ou seja, pratica a autogestão. Quando ela á pequena, todas as decisões são tomadas em assembleias, que podem ocorrer em curtosintervalos, quando há necessidade. Quando ela é grande, assembleiasgerais são mais raras porque é muito difícil organizar uma discussão significativa entre um grande número de pessoas. Então os sócios elegem delegados por seção ou departamento, que se reúnem para deliberar em nome de todos. Decisões de rotina são de responsabilidade de encarregados e gerentes, escolhidos pelos sócios ou por uma diretoria eleita pelos sócios. Pelo visto, a autogestão conta com um esforço adicional dos trabalhadores na empresa solidária: além de cumprir as tarefas a seu cargo, cada um deles tem de se ater aos problemas gerais da empresa. (SINGER, 2002) A heterogestão e a autogestão são duas modalidades de gestão econômica que servem a fins diferentes. A primeira parece ser eficiente em tornar empresas capitalistas competitivas e lucrativas, que é o que seus donos almejam. Já a autogestão promete ser eficiente em tornar empresas solidárias, além de economicamente produtivas, centros de interação democráticos e igualitários (em termos), que é o que seus sócios precisam. (SINGER, 2002). Enfatiza-se, nesta breve reflexão, que a principal contribuição do desenvolvimento 94
HETEROGESTÃO – AUTOGESTÃO
CAPITALISMO ECONOMIA SOLIDÁRIA COMPETIÇÃO COOPERAÇÃO LUCRO SOBRA HIERÁRQUICO COMPLEMENTAR RECEBIMENTO RECEBIMENTO
AUTORITÁRIO ACORDADO QUANTITATIVO QUALITATIVO 95
solidário, mais do que a análise de sua viabilidade ou não, está simplesmente na proposição de uma ótica inovadora fora dos padrões pré-estabelecidos de um sistema a que as pessoas já são submetidas. “Afinal de contas, as pessoas não são naturalmente inclinadas à autogestão, assim como não são à heterogestão, porém são influenciadas ao longo de sua vivência. Em geral, trata-se de oferecer aos excluídos dos benefícios do desenvolvimento em sua forma capitalista, oportunidades de participar da produção social e da gratificação correspondente, em sua forma solidária.” (SINGER, 2002) Dentro disso, cabe um adendo importante: entende-se obviamente que a premissa inicial para viabilização de propostas deste caráter está na necessidade de uma reforma geral de valores na sociedade, não apenas profissionais, mas também éticos e pessoais, no sentido de entender que o individual serve ao coletivo e a cooperação gera um processo evolutivo comum que, embora mais lento, torna-se muito mais sólido ao longo do tempo. O que se propõe de fato, é que dentro da discussão da região central de São Paulo, com a abordagem experimental aqui aplicada, haja também um acompanhamento econômico vantajoso disso, que venha para propor novas soluções, aceitando as contribuições do passado, mas também adequando-se a uma nova sociedade com valores éticos, ambientais e sociais mais lapidados e aprofundados, aos quais São Paulo, como uma metrópole claramente rica, promissora e influente, deveria se adequar e promover. Essa discussão se reflete nos instrumentos urbanísticos, planos diretores e leis de zoneamento. Nesta sugestão de análise urbana atual, diferente do planejamento urbano ortodoxo, propõe-se enxergar as cidades de uma nova maneira, abrigando suas questões virtuais, mutativas e transitórias - como exposto anteriormente -. Ou seja, sem legitimar as mazelas sociais oriundas de um sistema segregador e desigual, pretende-se entendê-lo de maneira consciente e, dentro de suas brechas, propor novas experimentações, hipóteses e estratégias para um urbanismo de qualidade que funcione de maneira realista e eficiente dentro do panorama metropolitano existente. Em referência a Baudelaire em sua discussão do “Flanêur” introduzida no início desse trabalho, propõe-se mais do que apenas observar à distância, mas também alimentar-se da dificuldade estabelecida para criação de uma nova ótica propositiva.
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3.5.2 “Step by Step” “Como uma cidade pode usar os projetos urbanos e arquitetônicos para regenerar a si mesma” Jane Jacobs
Elaborada por Hardt-Waltherr Hämer, arquiteto alemão, a proposta de “Step by Step” constitui uma experiência de renovação urbana de uma região da Berlim “PósGuerra” chamada Kreuzberg, para a IBA – International Building Exhibition Berlin, de 1987. O projeto constitui um exemplo forte dentro da argumentação desta monografia devido ao seu enfoque prioritário quanto às peculiaridades e características pré-existentes de uma região consolidada cuja identidade foi afetada por fatores externos - no caso de Berlim, a Guerra, e na região da Luz, as ações de projetos como o Nova Luz e a degradação oriunda da marginalização e abandono pelo Estado. Após a destruição de Berlim na Segunda Guerra Mundial, a recuperação imediata da cidade foi feita de maneira adaptada ao contexto econômico e social devastado, portanto, não houve um planejamento urbano elaborado de maneira sensível quanto à real condição da metrópole. Sendo assim, setores produtivos foram selecionados de acordo com o pouco que podia ser feito, segregando moradia de trabalho e indústria, e contribuindo para o desaparecimento de muitas edificações históricas e imóveis populares, em especial no lado ocidental – a exemplo de Kreuzberg como uma zona industrial -, resultando numa condição inóspita e numa monotonia muito criticadas depois. Posteriormente em 1987, devido aos problemas de reconstrução da cidade, foi promovida uma iniciativa chamada de IBA – International Building Exhibition Berlin -, para a exposição de trabalhos que dessem ênfase numa reconstrução planejada e sustentável da cidade. Dentro disso, destaca-se a proposta para a região de Kreuzberg. De aproximadamente 130.000 habitantes, a área sofreu com a divisão política, fazendo com que crescessem os “ghettos” para imigrantes, idosos e desempregados, além de apresentar grandes vazios ociosos oriundos das ruínas da guerra e do muro - fatores 97
semelhantes ao processo de gentrificação e aos vazios da região da Luz. O que se pode destacar, nesse contexto, é que a região já passava por processos de reurbanização forçada imediatamente antes da proposta “Step by Step”, porém nocivas ao desenvolvimento urbano geral. Ou seja, aplicava-se por exemplo, um projeto genérico e arbitrário que se baseava principalmente na reforma do sistema viário, sendo que a principal demanda se referia à qualidade dos espaços para os usuários remanescentes e à adaptação à economia do país como um todo. Com isso, a principal proposta do programa referia-se à real necessidade da população local, acima das grandes transformações edificadas, baseando-se no logo: “The capacity to make the city liveble” – A capacidade de se fazer a cidade passível de vivência”. Diante disso, entende-se que a proposta se referia muito mais ao atendimento social da população quanto à sua história do que à grandes transformações radicais que se afastavam cada vez mais do que havia sido uma Berlim constituída ao longo de toda a história europeia. Para isso, foi feita uma articulação em que as “estruturas de decisão” tinham uma relação muito maior com as “associações locais administrativas e proprietários de imóveis” do que com as “autoridades públicas”, requerendo-se, deste modo, a participação dos habitantes, fossem eles idosos, adultos, jovens ou crianças, trabalho essencial numa requalificação de qualidade da região central da Luz. Algumas diretrizes foram implantadas e serão resumidas a seguir como referência de partido básico para a ideia deste trabalho. - Mistura entre moradia e trabalho: propostas de ambientes mistos e múltiplos contribuem para que o processo de vivência se agregue ao processo de produção, promovendo uma melhor dinâmica da cidade em geral;
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34. Askanischer Platz P贸s Guerra 35. Berlim P贸s Guerra 36. Mapa de interven莽茫o do projeto
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- Preservação da estrutura existente: baseando-se no princípio de que edifícios existentes oferecem mais qualidade por menos custo, priorizou-se nos casos possíveis, a modernização de edifícios existentes sobre a construção de novos objetos; - Discussões públicas das decisões a serem tomadas: As propostas ficariam a cargo de profissionais competentes, porém, toda decisão a ser efetivamente tomada, passaria anteriormente por um debate sujeito à aprovação e sugestão popular; - Previsão de infra estrutura pública sem expulsão dos usuários. O resultado disso, foi modesto, porém absolutamente eficaz, uma vez que, com apenas 50% dos custos que seriam investidos numa iniciativa tradicional, geraram-se frutos, como mais de 5000 unidades residenciais renovadas, 23 centros de cuidados infantis construídos, 5 escolas construídas, entre outros equipamentos de atendimentos à população. Tornou-se possível a recuperação de uma região de maneira positiva, com qualidade aos usuários e fazendo com que 95% dos moradores voltassem a Kreuzberg após a renovação. Sendo assim, entende-se num exemplo prático e existente que a questão da reurbanização de um território, independente das causas que levaram à sua destruição, está intimamente relacionada ao usuário, ao cidadão, bem como à dinâmica territorial proporcionada pelas suas atividades. Sendo assim, o principal ideal que define a diferença de um projeto urbano genérico e ineficaz para uma proposta completa, sensível aos processos históricos de uma região, é o que objetiva principalmente o reconhecimento das relações gerais e de seus moradores, tomando decisões que estejam relacionadas com o cotidiano da região e valorizando a história que a compõe. Deste modo, o processo como um todo se inicia com uma proposta, mas não tem um prazo para acabar, devendo ser incorporado à cultura do cidadão e carregado para sempre, pelas gerações futuras.
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37. Margens do Rio Kreuzberg - atualmente 38. Oranienplatz atualmente 101
“ (...) o entrelaçamento de manifestações humanas. Há muita gente fazendo coisas diferentes, com motivos diferentes e com fins diferentes, e a arquitetura reflete e expressa essa diferença, que é mais de conteúdo que somente de forma. Por serem humanas, as pessoas são o que mais nos interessa. Na arquitetura, tanto quanto na literatura e no teatro, é a riqueza de diversidade humana que dá vitalidade e colorido ao meio humano (...). Raskin.
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IDEIA 103
4.1 Plano Diretor e o Zoneamento pela diversidade
“Com relação ao risco da monotonia (...) a maior falha das nossas leis de zoneamento encontra-se no fato de permitirem que toda uma área seja reservada para um único uso.”Raskin.
No decorrer do processo de pesquisa, apresentou-se necessário construir um panorama geral urbano que contextualizasse minimamente os assuntos abordados nessa argumentação de uma maneira atual. Considerando-se que o objetivo deste trabalho se refere à discussão das questões pertinentes ao planejamento e ao urbanismo contemporâneos dentro de uma área central consolidada e não necessariamente ao estabelecimento de diretrizes decisivas e finais, julgou-se válida uma articulação dos princípios aqui discutidos com o novo plano diretor e consequente com o zoneamento da cidade de são paulo, relativos à questão central. Cabe ressaltar que o interesse dessa abordagem refere-se a uma análise da dinâmica territorial de fato, bem como suas especificidades e relações, uma vez que, do ponto de vista estático, as diretrizes propostas no plano são sempre justificáveis, porém, nem sempre satisfatórias na prática. Trata-se de entender que nem sempre o planejamento do meio urbano representa uma reprodução de conceitos ortodoxos lógicos, mas que pode ser sim, uma identificação do que foi, em experiências anteriores, o sucesso e o fracasso empíricos, anexando a isso uma argumentação mais sensivelmente engajada das reais condições do território que vise sempre a promoção de diversidade nas ruas, calçadas, imóveis e equipamentos públicos, fazendo possível a participação ativa dos próprios usuários.
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ZEIS 1
Favelas, lotes irregulares, população de baixa renda
ZEIS 2
Glebas e lotes não edificados, subutilizados
ZEIS 3
Imóveis ociosos, cortiços em regiões “centrais”
ZEIS 4
Lotes não edificados,área de proteção de mananciais
ZEIS 5
Lotes vazios em áreas dotadas de infraestrutura
Deste modo, organizou-se uma argumentação articulada a três aspectos relevantes da proposta deste trabalho: 1- Questão da moradia 2- Projetos de intervenção urbana 3- Desenvolvimento de equipamentos urbanos 4.1.1 Questão da moradia O primeiro tópico apresenta-se definidor no sentido de que o plano prioriza questões relativas ao adensamento habitacional ao passo que a região, numa posição central valorizada, vem passando pelo processo de gentrificação anteriormente abordado nas argumentações dos planos urbanos propostos, como o “Projeto Nova Luz”. Dentro das diretrizes estaticamente justificáveis do plano, principalmente nos capítulos II e VII do primeiro título, apresenta-se um aspecto interessante a ser abordado: A aplicação central de ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) As Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) são porções do território destinadas, predominantemente, à moradia digna para a população da baixa renda por intermédio de melhorias urbanísticas, recuperação ambiental e regularização fundiária de assentamentos precários e irregulares, bem como à provisão de novas Habitações de Interesse Social – HIS e Habitações de Mercado Popular – HMP a serem dotadas de equipamentos sociais, infraestruturas, áreas verdes, comércios e serviços locais, situadas na zona urbana. (PLANO DIRETOR, Art. 44.) A região da Luz dispõe de ZEIS-3, cujas áreas apresentam imóveis ociosos, subutilizados, ou deteriorados em regiões dotadas de serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas, com uma boa oferta de empregos, além de interesse público ou privado, típico de uma região central. Seus princípios, em tese, se baseiam prioritariamente na existência de Conselhos Gestores, compostos por representantes dos moradores, do Executivo e da sociedade civil organizada, para participar da formulação e implementação das intervenções a serem realizadas em suas áreas. Dentro disso, o plano prevê uma série de regulamentações relativas às áreas verdes, uso e ocupação do solo, entre inúmeras outras a serem seguidas pelas iniciativas projetuais, sempre com o intuito de adensamento demográfico e inclusão social. Esses valores, como já dito uma série de vezes, são legitimados e prioritários nesse trabalho, porém, acreditase que a maneira como são dispostos, se não viabilizados por instrumentos novos de gestão, acabam por se inviabilizar.
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Observando-se o esquema ao lado, entende-se a concentração das áreas de ZEIS no perímetro delimitado. Esta talvez seja a principal ressalva quanto ao plano. Acredita-se que uma delimitação menos rígida e concentrada em termos de espaço físico promova melhores condições, tanto do ponto de vista urbano, quanto para a população instalada, que ao invés de implantada num grande setor único residencial – passível de marginalização e exclusão – poderia se estabelecer pulverizada num contexto urbano diversificado e democrátivo ao longo do bairro.
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Outra questão pertinente quanto à moradia na região, que é a intenção clara de adensamento, refere-se ao “modo equilibrado” como isso deve ser estabelecido. Ainda que as mesmas densidades habitacionais sejam previstas – antes e após projeto -, ou até mesmo aumentem, menos pessoas são assentadas do que despejadas, porque as pessoas transferidas em geral viviam em condições de superlotação. O resultado é que, ao invés da solução do problema, surge apenas uma transferência da superlotação para outro local, geralmente zonas periféricas e, consequentemente, dá-se processo de gentrificação. Quando se refere ao “modo equilibrado” a ser estabelecido, indica-se a preocupação da densidade no que se refere à sua aplicação desenfreada e mal fundamentada, que implica na ameaça à diversidade da seguinte maneira: de algum modo, para acomodar uma concentração exclusiva de moradias no espaço, recorre-se à padronização, claramente identificável nos conjuntos habitacionais ortodoxos brasileiros, o que é fatal, pois, como abordado anteriormente, a diversidade está nitidamente relacionada às idades e tipos de construção. Uma alternativa para a necessária aplicação de altas densidades e a promoção de variedade é a intensa atividade comercial e de lazer nos térreos de grandes edifícios residenciais, neste caso, onde a ocupação do solo é altíssima pelo uso estrito residencial “ineficácia urbana” * (JACOBS, 2009) -, possibilita-se as atividades comerciais. Em síntese, no caso dos tópicos acima, observa-se frequentemente em regulamentações como a do Plano Diretor, a apropriação do território de maneira objetiva, com o principal intuito de adensamento, mas que muitas vezes não estabelece um critério válido, sem proporcionar espacialidades para as outras relações pertinentes e necessárias ao meio, como por exemplo as que são oriundas dos vazios. É absolutamente necessário que haja diferenças, bem como um zoneamento flexível, elaborados com o intuito de encorajar deliberadamente a diversidade espontânea. A diversidade de usos oferece a possibilidade digna de apresentar um conteúdo com diferenças autênticas e não programações arbitrárias e estéreis de uma zona puramente residencial, a exemplo da ZEIS. 4.1.2 Projetos de Intervenção Urbana Os projetos de intervenção urbana constituem instrumentos de ordenação e reestruturação do território urbano consolidado com potencial de transformação. São propostas elaboradas de forma participativa sob responsabilidade do Poder Público Municipal. O interesse em se abordar este aspecto está na ênfase já dada nesse trabalho
* Ineficácia Urbana – Em “Morte e Vida de Grandes Cidades”, Jabobs aborda este conceito como um fenômeno oriundo de regiões da cidade que possuem um único uso e portanto pouca diversidade urbana. Como citado na frase, refere-se ao uso exclusivamente residencial que não permite atividades diferenciadas da moradia. 107
PROPOSTAS: URBANÍSTICAS Elaboração de projetos urbanos com etapas e fases, definição de uso e ocupação do solo.
PIU PROJETOS DE INTERVENÇÃO URBANA
SOCIAIS Promoção de moradias sociais, instalação de equipamentos públicos AMBIENTAIS Soluções para áreas de risco ambiental, melhoria das condições ambientais e paisagísticas ECONÔMICO-FINANCEIRAS Estudo de viabilidade econômica, estratégias de financiamento wGESTÃO DEMOCRÁTICA Mecanismos de participação e controle social, instrumentos para monitoramento e avaliação das ações
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a todas as propostas submetidas para a região central de São Paulo ao longo do seu desenvolvimento na tentativa de uma reformulação. Os projetos contribuem para alcance de objetivos relativos à melhoria de infraestrutura, reestruturação das quadras, organização de ocupação do solo, entre os inúmeros e diversos aspectos das dinâmicas reais. É válida, neste caso, a ênfase dada por Jane Jacobs à questões práticas principais de melhoria na urbanidade da cidade: A necessidade de quadras curtas, prédios antigos e concentração. Ruas frequentes e quadras curtas são valiosas para propiciar uma rede de usos combinados e complexos entre os usuários do bairro. Imprescindível entender que dentro do traçado viário, as ruas não são um fim em si, mas sim, um meio para o fim, que é representado pelo uso nelas abrigado. Se esse fim – que visa gerar diversidade e catalisar os planos de muitas pessoas - for limitado por um zoneamento repressivo ou por uma padronização de projetos urbanos genéricos, não se obterá nada de muito significativo como resultado final. É na valorização dos prédios antigos, que as idades das construções se misturam, enfatizando a identidade do local e preservando uma paisagem que se refere a uma história que lá aconteceu e não pode ser ignorada. O projeto urbano torna-se valioso quando as devidas considerações do contexto preexistente são feitas e depois disso, propostas engenhosas de adaptações de novos usos a edificações antigas são elaboradas. Dentro da ideia de concentração, destaca-se a combinação de usos principais e ruas frequentes que efetivamente ajudam a gerar diversidade, pela maneira como atuam: o modo como funcionam (atraindo para si misturas de usuários) e os resultados que elas proporcionam (crescimento da diversidade) (JACOBS, 2009). Dentre as opções de Intervenção como as Operações Urbanas Consorciadas e as Áreas de Estruturação Local e Intervenção Urbana, existe a questão da Concessão Urbanística, aspecto de importante menção nesse momento. Num contexto municipal conhecido por escassez de recursos para intervenções urbanas, entende-se a necessidade de buscar alternativas de recursos com o setor privado para promover melhorias na cidade. A Concessão Urbanística surge nesse cenário, em sua justificativa, como um instrumento urbanístico para viabilizar parcerias entre os setores público e privado. 109
Em síntese, a Concessão Urbanística, enquadrada no projeto de lei 87/2009 da gestão Gilberto Kassab (DEM), para sua aplicação no projeto de “revitalização” da Nova Luz, autorizava a terceirização de áreas do município repassando-as à iniciativa privada, que “adquiriria”, por sua vez, o direito de desapropriar imóveis para a revitalização de áreas degradadas, construção de imóveis e novos bairros de interesse público e – obviamente - privado. A proposta, se não for analisada com olhos críticos, representa grande ameaça ao cotidiano social da região logo pela sua determinação. A lei foi incluída de forma genérica, sem definição precisa e sem identificação de situações concretas de aplicação. Numa ausência de debate ou questionamentos, a seleção da concessão urbanística foi resultado de um processo restrito, discutido por um leque limitado de atores que, se implantada, significaria a expulsão e;ou segregação de usuários e moradores da Luz. Ou seja, sem incluir os potencialmente afetados por sua implantação, contrariando qualquer espírito democratizante de inclusão, tão enfatizados nos ideais do Plano Diretor. Entretanto, seja pela “implementação” arbitrária, seja pelas suas determinações “segregadoras”, foi exatamente o absurdo da concessão urbanística e suas falhas contraditórias que permitiram a iniciativa popular, numa argumentação lógica, ampliar seu processo de resistência. Essa situação, além de gravíssima, representa o que tanto se censura nesse trabalho, que é, além de um poder indiscriminado da iniciativa privada (mercado), vê-se no desenvolvimento das cidades, a ocorrência de completa submissão das forças públicas frente ao sistema, e consequentemente, total desamparo das forças sociais quanto ao que, teoricamente, deveria ser seu representante nas relações “público x privado”. * 4.1.3 - Desenvolvimento de equipamentos urbanos No terceiro título da lei, no capítulo I (“Política de Desenvolvimento Econômico Sustentável”) e capítulo VIII (“Desenvolvimento Social e do Sistema de Equipamentos Urbanos e Sociais”) introduz-se estratégias relativas à implantação de pólos e equipamentos que contribuam pra o desenvolvimento de diferentes regiões através de um potencial característico a ela competente, seja ele rural, cultural, histórico, econômico, etc... 110
PIU elaborado pelo poder público + Implantado por empresa estatal, municipal ou consórcio + Conselho gestor partidário
A concessionária poderá obter sua remuneração mediante exploração de: Terrenos Potencial construtivo Edificaçõs de uso privado Renda derivada da exploração de espaços públicos
Através disso, são delineadas as regiões de interesses que se subdividem por características particulares relevantes, como os pólos estratégicos, as centralidades polares e lineares, pólos de economia criativa etc... Este é um fator muito forte e característico na região da Luz, pela história e cultura a ela agregadas e os legítimos processos sociais - populares - de resistência quanto aos direitos dos usuários e moradores da região. Observa-se, neste caso, uma leitura e um mapeamento em larga escala da cidade, feito pelo plano diretor, determinando cada segmento seu, bem como a possibilidade de se promover as estratégias mais cabíveis a cada situação. Entende-se a importância do enfoque aprofundado na região central para que propostas eficazes sejam estabelecidas no sentido de equipamentos públicos condensadores – forte partido desse trabalho -, um dos objetivos da proposta projetual aqui apresentada. Para finalização desta discussão, uma vez que se estabelecem os ideais para a área, é importante citar um fenômeno recorrente na abordagem de autores como Jane Jacobs, 2009, designado pela “auto destruição da diversidade” pelo seu sucesso: uma vez que regiões diversificadas tornam-se muito valorizadas e atrativas, inicia-se um processo de disputa entre muitos interesses. Ou seja, na região central de são Paulo, pelas previsões futuras diante do seu investimento, muita gente deseja morar, devido às qualidades e facilidades por ela proporcionada. Deste modo torna-se lucrativo construir e investir, até que num momento isso se torne excessivo e devastador, fazendo com que poucos passem a poder pagar, os menos favorecidos sejam expulsos e as características iniciais ricas estabelecidas se percam. Neste momento vale ressaltar o principal propósito deste capítulo, além das diretrizes gerais quanto à prática do planejamento e os métodos de um zoneamento de qualidade, algo que já foi mencionado aqui, que se refere à importância insubstituível da iniciativa pública no caráter administrativo do desenvolvimento urbano, justamente para delinear como esses processos vão se relacionar de maneira benéfica com os habitantes das resistências sociais. Os municípios reivindicam um poder público central forte e consciente, que oriente, organize e fiscalize esses processos e ações, contribuindo para um ambiente comum mais favorecido e desenvolvido. Isso se define claramente por um “zoneamento pela diversidade” combinado à constância de edifícios públicos, em que as mudanças urbanas, à medida que ocorram, não sejam prioritariamente de uma única modalidade, mas abranjam as mais diversas esferas envolvidas na tomada de cada decisão. (JABOBS,2009).
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4.2 Ensaio de uma luz “As cidades têm capacidade de oferecer algo a todos, mas só porque e quando são criadas por todos.” Jane Jacobs.
O projeto Novos Sonhos constitui uma organização não governamental de apoio social que resgata crianças e adultos em situação de vulnerabilidade das ruas da cracolândia, na cidade de São Paulo. Com o ideal de educação pela cultura, são disponibilizadas atividades como jiu-jitsu, futebol, música e o “carro chefe”, ballet, que abrigam todos os interessados num universo de esperança e recuperação de sonhos. A idealizadora, Joana Machado, conta com a colaboração exclusiva de doações, sem renda fixa, seja de entidades ou pessoas físicas, administrando duas sedes: uma na cracolânida – crianças, trabalho preventivo - e uma em Guarulhos – adolescentes e adultos, trabalho corretivo – que abrigam aproximadamente 350 crianças. Com o apoio de 20 voluntários fixos e 30 aos finais de semana – dentre eles professores, psicólogos, motoristas, auxiliares, entres outros -, executa-se um trabalho de ajuda mútua, em que constitui-se o mapeamento das famílias da região para “recrutamento”, e posterior envolvimento integral na vida dos participantes – diante das realidades divergentes do interior e exterior da ONG -, com atividades no contra-turno escolar, além da distribuição mensal de cestas básicas e apoio à recuperação de cortiços e residências.
“Ainda temos crianças aqui.” Joana Machado.
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“O trabalho conta com o ideal de não haver individualismo em nenhuma questão, onde todos conformam um organismo comum de trocas e melhorias. Afinal de contas, são seres humanos vendo a situação de seres humanos, todos devem se ajudar, e o incentivo não vem apenas dos contribuintes ou pais, mas inclusive, dos próprios traficantes. Ou seja, todos querem e sabem o que é um futuro melhor, só precisam de oportunidades. ”, Joana Machado. 115
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“As crianças, que em meio ao crack nascem e crescem, vivem um ciclo sem fim de vício, prostituição e violência. Estando aqui, nessa realidade, não pude deixar de me sensibilizar, vendo seres humanos, como eu, comendo lixo para sobreviver, em meio a crises de overdose e abstinência. Através do esporte e da arte, eu vi um novo caminho e me senti responsável por dar a eles essa oportunidade. Considero isso um chamado de Deus. ”, Joana Machado. 123
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“O que precisa ser entendido é que a cracolândia é um reflexo de uma sociedade atual desvirtuada, onde o povo é massacrado pelo interesse de muitos que simplesmente não se importam com o restante. Como cobrar algo de alguém que não teve nenhuma oportunidade na vida? Para as pessoas com as quais me envolvo aqui, tudo sempre foi uma necessidade, são pessoas sem perspectiva, sem esperanças. Portanto, a proposta deste projeto é justamente dar uma nova opção a esses jovens, apresentar uma nova perspectiva de oportunidade, que eles podem tomar para si, ou não. Mas acima de tudo, ter uma opção que não seja o tráfico, a prostituição, etc....”, Joana Machado.
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Este trecho do trabalho constituiu-se como a exemplificação humana e social real dos temas aqui abordados de maneira acadêmica, numa perspectiva de pessoas que “vivenciam a região”, de fato. A realidade que se vive na cracolândia é um dos fatores motivadores iniciais para execução deste trabalho. A miserável e degradante situação dos marginalizados, emociona e choca, porém na grande maioria das vezes é simplesmente descartada pelos poderes que teriam, de alguma maneira, subsídios para modificar esta situação. Projetos como este, iniciados com recursos mínimos e pela simples vontade de ajudar ao próximo, possibilitados através de um senso coletivo maior, servem de inspiração e caráter motivador para o papel não apenas do profissional – arquiteto - como agente de mudança, mas também da pessoa que muito pode, quando munida de valores concretos. O projeto Novos Sonhos sintetiza em sua singeleza o que se acredita neste trabalho como ser a responsabilidade e potencial de cada um de contribuir, através dos instrumentos que lhe cabem, para um mundo melhor e mais igualitário. Acredita-se na arquitetura e no urbanismo como ferramentas capazes de promover esta mudança, desde que aplicadas de maneira consciente, num trabalho político, comprometido e convicto, onde a poesia e o sonho caminham juntos com a responsabilidade civil, integralmente.
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“Deve-se aceitar, como arquiteto, ser exposto à críticas. A arquitetura não deve confiar na plena harmonia.” Renzo Piano
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EXPERIMENTAÇÃO 131
5.1 Tradução - diversidade e vitalidade O que se entende, em comum, diante dessas tão sensíveis divergências de interesses, é uma tentativa de associação, de todas as partes, seja ela pelo envolvimento social, seja ela pelo interesse de negócio. Cabe aos analistas e urbanistas, estabelecer uma estratégia, setorizar essas relações de modo a se tornarem produtivas e eficientes de um modo geral a todos os lados, priorizando incentivos e adquirindo concessões em pról de um projeto maior, entendimento da arquitetura como um elemento urbano espacial promotor e articulador de acontecimentos e atividades variados relacionados ao contexto social que a abriga e que bela se concretiza. E por isso, como elemento de destaque na sociedade em geral, a ênfase na sua participação quanto às questões políticas e de desenvolvimento econômico que a abrangem. Com o desenvolvimento tecnológico em situação protagonista, o futuro passa a ser história num prazo de tempo muito curto do ponto de vista da evolução da sociedade. Portanto, acredita-se que toda a arquitetura, como objetivo conformador de um meio, que perdurará por muitas décadas, deva ser feita de maneira hipotética e experimental como fruto de um estudo do que serão as gerações futuras, bem como as características, necessidade e anseios de sua sociedade presente. Uma arquitetura feita para o amanhã muitas vezes não é compreendida, porém uma arquitetura feita para o hoje torna-se obsoleta pouco após sua concretização. Chega-se neste ponto do trabalho numa tentativa de tradução projetual do que foi abordado até então através de análises, teorias e valores. Para isso, é interessante que se tenha consciência da dimensão histórica da estação Júlio Prestes para o local, bem como suas principais características que consolidam preexistências fortes para as tomadas de decisões projetuais. Partindo-se de um contexto urbano inicial anterior, denota-se em São Paulo, no século XIX um processo de crescimento descontínuo e desenfreado, em que chácaras independentes transformaram-se em áreas de fábricas e vilas operárias, tangenciando a evolução do rio Tamanduateí e a orla ferroviária.
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50. Gare Estação Júlio Prestes, 1995
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51. Gare Estação Júlio Prestes, 1995
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52. Gare Estação Júlio Prestes, 1995
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A partir do século XX, com uma economia “dependente” da produção cafeeira, a elite passa a influenciar o processo de crescimento urbano dos Campos Elísios, com o posterior processo de “verticalização” e abertura de grandes avenidas. É nesse contexto que se insere, em 1925, a proposição da Estação Júlio Prestes como um ponto final da ligação da estrada de ferro Sorocabana. O projeto, inspirado no estilo clássico Luís XVI, foi elaborado por Cristiano Stockler das Neves*, e sua influência obtida nos estudos na universidade da Pensilvânia, unia a modernidade – em termos construtivos – americana, com o gosto histórico francês. Na concepção do arquiteto, uma estação que simbolizava a evolução cafeeira no país não poderia ser singela e despojada. Devido a isso, cria-se a proposta, que dentre posteriores modificações e variações, veio a formar o que se conhece hoje como a estação Júlio Prestes, uma edificação clássica imponente, belíssima em seus detalhes que, utilizando-se da associação entre concreto armado e aço – altas tecnologias para época – estabeleceuse no contexto da cidade como a última grande edificação da República Velha. Desvencilha-se neste ponto do trabalho, de uma descrição prática dos termos técnicos da construção da estação. No lugar disso, propõe-se uma discussão sobre alguns fatores que contribuíram para que o edifício se torna-se o que é hoje, e consequentemente sua desativação, fator motivador deste trabalho. Como início, além da discussão quanto à implantação do projeto já feita (3.3 Pólo Luz), o edifício da estação demorou 13 anos para ser construído, e dentro disso, uma série divergências entre as companhias administradoras das ferrovias e os responsáveis pelo projeto, inclusive o autor da obra, contribuíram para uma influência muito negativa no resultado final, onde elementos de partido foram removidos e anexos descomprometidos foram criados, fazendo com que a solidez do projeto inicial ficasse abalada. Este foi um período onde muita coisa mudou no país, tanto no meio político, quanto econômico, cultural e social. Na situação global, com a crise de 29 e queda das economias mundiais e, em São Paulo, do café, o efeito de decadência reverteu-se para todos os sistemas dependentes dessas atividades, e consequentemente a ferrovia, bem como seus componentes, no caso, a Estação Júlio Prestes. Posteriormente, com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, esse setor da produção – café - fica novamente abalado com a queda das exportações, além do que nesse contexto, de necessidade de readaptação, em 1950, inicia-se a expansão da indústria automobilística e com isso, a ferrovia entra numa crise da qual não mais se recuperaria no nosso país. 136
* Cristiano Stockler das Neves, fundador da Universidade de Arquitetura do Mackenzie, prefeito de São Paulo em 1947, colaborador do 1º Plano Diretor São Paulo e fundador da IAB.
53. Concourse Estação Júlio Prestes, 1995 137
54. Antigo Pátio Estação Júlio Prestes, 1995 138
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55. Antigo Concourse “Aberto”, 1995
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Além da modernização econômica, ocorre a partir dos anos 30, em termos culturais e artísticos, a consolidação do movimento modernista, em que conceitos como funcionalidade, racionalidade e negação dos estilos do passado, desfavorecem muito as arquiteturas ecléticas tradicionais. O fato é que, devido aos fatores acima expostos, entende-se que a Estação, como objeto, apesar do encantamento detalhado do projeto clássico, já estava fadada ao “fracasso” – em termos da sua relação com a cidade - desde sua própria inauguração, em 1938, em que nem mesmo seu propósito fortalecia o caráter de sua criação. Ou seja, pensou-se uma estação para uma cidade, quando foi inaugurada, já se tinha outra. Diante dessa abordagem e da mais valiosa mistura entre pré-condicionantes positivas e negativas, sentiu-se o interesse em trabalhar com esse espaço e história tão peculiares, recuperando seu caráter e importância, e procurando possibilitar sua requalificação e reintrodução, de maneira sólida e diversificada, dentro de uma sociedade contemporânea que é carente de espaços públicos amplos de qualidade para atendimento de uma população em desenvolvimento.
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56. Lado Externo da Ferrovia, 1995 57. Estação Júlio Prestes, atual Sala São Paulo
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5.2 “Post it” diversificado “O máximo de inovação e de mediocridade convivem no mesmo espaço e tempo, o espaço e tempo metropolitanos.” Rem Koolhaas
Introduzindo-se a questão das carências urbanas contemporâneas, é importante que se tenha em mente a abordagem da dinâmica territorial anteriormente aplicada – 2.1 Flanêur e dinâmica – à região, onde se denota a absoluta carência e necessidade de equipamentos de suporte ao usuário local, sejam eles culturais, educacionais, esportivos, entre muitos outros. Hiperlugares, segundo Koolhaas são espaços onde tudo acontece, desde a produção inicial até o alcance ao consumidor, seja de bens, experiências ou atividades, um contexto unitário. São objetos contenedores de espaços dinâmicos, e consequentemente de possibilidades mas que, mais que grandes centros, estabelecem uma relação com a cidade, no sentido de se abrir a ela, e com ela dialogar. Portanto, baseando-se nisso e no conjunto preexistente da região, propõe-se dentro de uma premissa básica de “diversidade e vitalidade”, a criação de um objeto mais que contenedor, articulador. Que lide com o contexto caótico e divergente da área de uma maneira singular, procurando estabelecer as mais completas relações entre as escalas urbanas complementares, os usuários distintos, as cotas alternadas, as atividades produtivas diversas e acima tudo, os interesses conflitantes e comuns. Para isso, escolhe-se a implantação de um “Centro de Cidadania Luz” que se constitui pela articulação de três blocos principais e abriga diversos usos estrategicamente posicionados na tentativa de um objetivo principal de apoio ao cidadão.
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INFORMAÇÃO + EDUCAÇÃO > CONHECIMENTO = CIDADANIA
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Em Mutations, Koolhaas aborda enfaticamente a questão dos espaço “Post-it” como sendo dispositivos de funcionamento da cidade contemporânea ligados às dinâmicas da vida coletiva e a maneira dos indivíduos de se relacionarem por meio de canais não convencionais. Neste tipo de espaço aplica-se grande empenho na relação “cheios x vazios” das edificações, em que os vazios residuais são conectados livremente por uma infraestrutura, o que permite os mais variados tipos de acontecimentos democráticos e inusitados. Entende-se em sua argumentação, assim como neste trabalho, a importância dos “vazios”, sejam eles arquitetônicos ou urbanos, como elementos qualificadores dos “cheios”, onde se exercem, acima de qualquer outro local, as práticas coletivas inusitadas. É um espaço que não possui intenção de se enraizar arbitrariamente no território, mas sim, abrir margem para protagonistas, que são os acontecimentos oriundos da vivência. Trata-se de uma nova forma de socialização, relativa à mudança de mentalidade popular, anteriormente abordada nos capítulos das vertentes econômicas. 148
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Recuperação – Bloco Gare “Metrópole é um estado mental, um estilo de vida e uma forma de comunidade. Uma comunidade formada por muitos coletivos diferentes, comunidades que ocupam lugares inesperados e que nem sempre precisam ser físicos.” Jane Jacobs 152
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Corte Transversal Gare
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Elevação Gare
O bloco da Gare representa claramente o ponto estruturador e motivador de toda a proposta. O principal enfoque nas experimentações a ele aplicadas refere-se à sua requalificação em termos espaciais, proporcionar a vitalidade a um espaço que há muito se perdeu nas relações com a cidade. Para isso, foi elaborado ao longo do seu eixo longitudinal, um corredor verde que proporcionasse uma integração com a rua, no sentido de se trazer o ambiente externo para dentro, mas ao mesmo tempo, estabelecesse um vínculo linear, indireto e sutil dentro do complexo inteiro – incluindo o novo edifício – constituindo-se, deste modo uma grande praça dinâmica e flexível. Posteriormente a isso, seguindo princípios de urbanidade abordados por Jane Jacobs em “Morte e Vida de Grandes Cidades” – quadras curtas e muitas ruas -, propôs-se a abertura de inúmeros eixos transversais, sejam eles dentro da gare, sejam eles no restante do complexo, possibilitando ao usuário uma maior gama de trajetos e percursos, com a possibilidade de melhor interação com a edificação e as diversas atividades nela ocorridas. Articulado aos eixos de circulação e comunicação estabeleceu-se um programa que possibilitasse a interação com a rua – atividades espontâneas – e valorizasse os grandes vãos existentes – fator considerado de grande relevância. Para isso, aplicou-se o uso principal esportivo na cota térrea, com a implantação de quadras esportivas e tablados diversos. Complementar a isso, e seguindo o objetivo principal de mistura dinâmica de usos, articulou-se de maneira pulverizada, espaços para atividades descontraídas, como quiosques de convívio que entram numa cota inferior, através de arquibancadas, seguindo o eixo dos trilhos do trem, e a eles fazendo uma referência. Como objeto de apoio, associa-se ao bloco longitudinal edificado da Gare, todos os equipamentos de apoio e infra estrutura, que requerem uma segmentação maior de espaços e acesso controlado, como depósitos, vestiários, administração, etc...
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Implantação e Corte Longitudinal
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Planta 1ยบ Pavimento Gare
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Numa associação vertical, introduzem-se os mezaninos – de acesso controlado dentro do bloco de infra estrutura - com atividades complementares, como artesanato e apoio ao Centro de Discussão da Cidade, um espaço reservado para informação ao cidadão, com uma biblioteca, mapas, anúncios e salas de consulta. Sua conformação segue, numa referência, o eixo do principal trilho dos trens, e consolida-se com o objetivo principal de introduzir ambientes contemporâneos contrastantes dentro do edifício histórico, mas sempre de maneira sutil e coadjuvante a ele. Sua materialidade corresponde ao partido escolhido no edifício seguinte do Bloco de Produção, optando por uma estrutura metálica delgada e transparências, de modo sempre a enfatizar a amplitude dos espaços e promover uma ligação entre os blocos. Neste ponto, cabe a apresentação da passarela principal, elemento que articula de maneira sutil, em termos de edificação, os dois blocos – mas mais que isso, as inúmeras espacialidades presentes nesse intervalo - promovendo um eixo linear que acompanha o eixo arbóreo e media todos os “tempos” dos edifícios ricamente estabelecidos na quadra: da Gare, do Centro de Saúde e da nova proposta. Numa proposta que aplica uma gama tão variada de usos, compreende-se que a conformação espacial deve ser estrategicamente organizada, de modo a constituir uma lógica e não apenas uma grande mistura. Portanto todas as medidas propostas, fazem parte de um cuidado, aplicado ao complexo em sua totalidade, de se propor as transições adequadas na edificação, sejam elas entre os componentes dele próprio, sejam elas com
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o entorno, utilizando-se de elementos espaciais e articulação estratégica dos programas, para que os usuários se apropriem da melhor maneira. Dentro dessa argumentação, cabe ressaltar o papel do centros de informações no espaço do concourse da estação. Ele é elaborado de maneira a se possibilitar, com o mínimo possível de alterações espaciais, um ponto neutro numa zona tão especial, que agrega o acesso do exterior, a comunicação com a Sala São Paulo e a introdução das atividades da Gare. É importante destacar ao final deste bloco, a importância da identidade gerada pelos trilhos dos trens dentro da edificação, bem como a história que carrega. Para isso, enfatizam-se as referências a isso feitas dentro da proposta, porém ressalta-se que a intenção nunca é de uma associação literal, mas sim, espacial, que se articule ao inconsciente do usuário dentro de sua experiência na edificação. Essa referência acontece nas atividades simples, que geram os acontecimentos inesperados, como nos quiosques de convívio, na paginação de piso translúcida e até mesmo nos detalhes, que embora sutis, geram uma reinterpretação do que foi o espaço dos trilhos. A exemplo disso cita-se os grandes mezaninos longitudinais que seguem exatamente a conformação antiga dos trens e são estruturados através de vigas vagonadas cujas dimensões foram associadas à dos comboios.
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Transposição – Bloco Subterrâneo “A arquitetura é uma expressão de valores.” Norman Foster. 162
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Planta Subsolo 164
O bloco de transposição surge no momento da leitura do território como uma necessidade de interligação entre os dois lados da ferrovia, bem como a articulação das cotas que se diferenciam por aproximadamente 8 metros de altura. O principal intuito neste bloco é favorecer as atividades características da região, como uma estratégia de se articular a elas e promover mais variações no modo de relação com o usuário. Devido a isso, propõe-se um espaço duplo que atenda ao comércio têxtil da Rua José Paulino e imediações, seja ele um museu de fluxo, seja ele uma grande passarela com arquibancadas adjacentes que atenda a desfiles ou eventos corriqueiros. Devido a isso, estabelece-se, diante da articulação com os eixos de fundação existentes da gare, três ligações longitudinais horizontais de fluxo, onde podem acontecer ambas as atividades. Posteriormente a isso, delimitam-se nas “folgas” dos trilhos dos trens, os eixos transversais, através de aberturas zenitais, que permitem, além da iluminação natural, a relação sensorial com a linha ferroviária, seja pelo som emitido ao passar do trem, seja pelo ritmo de passagem estabelecido que conforma a sua existência no inconsciente do usuário ocupante. Na sequência, introduz-se, no espaço, onde termina a linha férrea e inicia-se o subsolo da gare - com um pé direito maior -, uma praça de alimentação. A estratégia neste caso refere-se à aplicação de um uso genérico, que atenda a diversas parcelas comuns da população e funcione como um espaço democrático de transição entre o que se aplica no subsolo e o uso concentrado que se inaugurará no térreo da gare. Deste modo, o bloco subterrâneo funcionou não apenas para o uso a que foi submetido, mas também para um espaço de transição a quem pretende acessar os blocos superiores pelo lado, que não o do centro da cidade. Em termos de partido, a principal preexistência para sua concretização é a estrutura existente da gare. Uma vez que se estabelece um recuo das suas fundações, obtém-se um espaço amplo onde podem ser locadas as lojas e restaurantes, com uma grande escadaria central que permite a comunicação vertical com o próximo bloco. Essa comunicação se fortalece pelo mezanino locado em todo o perímetro da praça, como uma hipótese de diversificação de qualidade de um espaço tão comercialmente difundido.
Corte Transposição 165
Produção – Bloco Anexo “O peso de cada indivíduo no interior de cada sistema se determina pela qualidade e a quantidade e trabalho que produz/gera, e não pela cultura e especialidades que possui previamente”, Koolhaas, Mutations. 166
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O novo bloco anexo à estação surge como uma iniciativa de se fortalecer a reestrutuação da Gare, mas mais que isso, no sentido do complexo como um todo, numa articulação do centro cultural e esportivo ao contexto contemporâneo atual de uma sociedade que está em constante estado de produção e criação. É um espaço democrático que abriga uma incubadora, bem como ambientes para co-working. Para o estabelecimento da edificação em si, foi proposto um centro comercial na cota térrea, que dialoga com a dinâmica da rua e dá suporte às produções efetuadas nas outras atividades do complexo. Num primeiro pavimento localiza-se um setor artístico, de salas de dança e música - bem como um auditório de apoio -, que visa a articulação com todo o bloco da Gare, no que se refere à cultura, porém numa edificação nova, que permite, de maneira mais facilitada, a aplicação de questões técnicas como isolamento acústico e vibratório.
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Planta 1º Pavimento
Corte - Edifício Produção
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No restante do edifício, após uma articulação urbana com existente, concretiza-se de fato o bloco da incubadora. O ponto forte da edificação está na questão da independência dos ambientes e na comunicação instantânea requerida por um programa como este, seja ela visual ou espacial. Portanto, propôs-se, através do estudo dos espaços Post-it, acima exposto, a articulação de caixas autônomas envidraçadas através de uma passarela sempre aberta e comum em todos os pavimentos que gera os efeitos de fluidez do espaço tanto buscados. A ideia primordial é que o “dentro” e o “fora” da edificação se confundam através de espaços que desmistificam a ideia tradicional de corredor e se integrem a paisagem dupla – interna e externa. Além disso, optou-se pelo uso de plantas únicas e diversificadas, articuladas através de mezaninos e terraços pulverizados ao longo da volumetria, o que permite a identificação e comunicação vertical dentro do bloco.
2º Pavimento
3º Pavimento
4º Pavimento 170
Portanto, entende-se que a iniciativa primordial dentro desta proposta se refere a um novo modo necessário de se enxergar a sociedade contemporânea - bem como o ambiente urbano que a compreende e que a ela corresponde - no que se refere às constantes e dinâmicas modificações nela ocorridas. Um modo mais sensível e singelo, que seja nutrido pelo simples interesse de servir e proporcionar possibilidades, vitalidade e diversidade. Afinal de contas, do que seria feita a sociedade senão da diferença? Deste modo, aplica-se a experimentação de espacialidades diversificadas e democráticas, onde o principal agente é o usuário constantemente conectado a um universo paralelo e imaterial. Ou seja, um espaço dinâmico que viabilize encontros físicos, mas que se constitua humildemente no sentido de se entender que as principais relações, como dito no início deste estudo, não são unicamente físicas, mas também, virtuais, o que permitiria, deste modo, a evolução de uma gama infinita de atividades e possibilidades que extravasam as paredes que as abrigam.
Elevação - Bloco Produção 171
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Dentro deste ideal, retoma-se o início desta argumentação: O vazio central. Representado pela praça principal desse conjunto, é o momento de inauguração da experiência do usuário em suas atividades, o ponto em que o complexo modestamente se apresenta, introduz suas diferentes épocas e oferece suas mais diversas possibilidades. É o centro físico do bloco em seu todo, mas mais que isso, a extensão democrática da rua e das calçadas, num eixo transversal que apresenta a promenade edificada e proporciona o enquadramento-mirante da ferrovia, bem como sua história e significado da maneira valorizada, como deve ser. É neste ponto que se entende que a valorização da Estação Júlio Prestes não está apenas em sua reformulação e melhoria física, mas sim, no respeito pela sua história, no zelo pelos seus detalhes, e acima de tudo, na gratidão pelas memórias, por ela possibilitadas, ao inconsciente urbano. Inconsciente que se reflete numa sociedade, em costumes e valores que formam uma cultura como ela é, como o elemento primordial do trabalho minucioso que deve ser a arquitetura. E isso tudo acontece num vazio.
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“O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que veem em tudo o que lá não está, A memória das naus. O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele.” Alberto Caeiro 177
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6. Índice de Imagens 01, pág 28, “Cracolândia”. 02, pág 29. “Sala São Paulo”. Caroline Pilon. 03, pág 36 superior. Caroline Plion. 04, pág 36 inferior. Caroline Pilon. 05, pág 37. Caroline Pilon. 06, pág 38 superior. Caroline Pilon. 07, pág 38 inferior. Caroline Pilon. 08, pág 39. Caroline Pilon. 09, pág 41. Caroline Pilon. 10, pág 42 superior. Caroline Pilon. 11, pág 42 inferior. Caroline Pilon. 12, pág 44 superior. Caroline Pilon. 13, pág 44 inferior. Caroline Pilon. 14, pág 45. Caroline Pilon. 15, pág 47. Caroline Pilon. 16, pág 48. Caroline Pilon. 17, pág 60. Caroline Pilon. 18, pág 61. Caroline Pilon. 19, pág 62 superior. http://www.panoramio.com/photo/109675591 20, pág 62 inferior. https://tudodebomretirohome.wordpress.com/2015/04/19/museu-de-arte-sacra-de-sao-paulo/ 21, pág 63 superior. https://arquivopublicors.wordpress.com/2015/08/26/acao-educativa-em-arquivos-vi-o-servico-educativo-doarquivo-historico-de-sao-paulo/ 22, pág 64 inferior. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Quartel_da_Luz_(Batalh%C3%A3o_Tobias_de_Aguiar)_2.JPG 23, pág 66. http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/default.aspx?c=exposicoes&idexp=1084&mn=537&friendly=ExposicaoEsculturas-no-Parque-da-Luz 24, pág 67. Caroline Pilon. 25, pág 68. Caroline Pilon. 26, pág 69. Caroline Pilon. 27, pág 70. Caroline Pilon. 28, pág 90 superior. http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1288985&page=2 180
29, pág 90 inferior esquerdo. http://blogs.estadao.com.br/cidades/2010/07/ 30, pág 90 inferior direito http://blogs.estadao.com.br/cidades/2010/07/ 31, pág 91 superior http://www.brasildefato.com.br/novaluz/noticia/uma-obra-de-fic%C3%A7%C3%A3o-urban%C3%ADstica 32, pág 91 inferior esquerdo http://www.brasildefato.com.br/novaluz/noticia/uma-obra-de-fic%C3%A7%C3%A3ourban%C3%ADstica 33, pág 91 inferior direito http://www.brasildefato.com.br/novaluz/noticia/uma-obra-de-fic%C3%A7%C3%A3ourban%C3%ADstica 34, pág 99 superior esquerda. http://spyguy.berlin/spyguy-stories/392/ 35, pág 99 superior direita. https://en.wikipedia.org/wiki/Kreuzberg#/media/File:Fotothek_df_pk_0000180_001.jpg 36, pág 99, inferior. http://spyguy.berlin/spyguy-stories/392/ 37, pág 101 superior. https://en.wikipedia.org/wiki/Kreuzberg#/media/File:Fotothek_df_pk_0000180_001.jpg 38, pág 101 inferior. https://en.wikipedia.org/wiki/Kreuzberg#/media/File:Fotothek_df_pk_0000180_001.jpg 39, pág 112/113. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 40, pág 114/115. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 41, pág 116. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 42, pág 117. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 43, pág 118/119. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 44, pág 120/121. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 45, pág 122/123. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 46, pág 124. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 47, pág 125. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 48, pág 127. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 49, pág 128/129. “Projeto Novos Sonhos”. Caroline Pilon. 50, pág 133. João L. Musa e Carlos Kipnis. 51, pág 134. João L. Musa e Carlos Kipnis. 52, pág 135. João L. Musa e Carlos Kipnis. 53, pág 137. João L. Musa e Carlos Kipnis. 54, pág 138/139. João L. Musa e Carlos Kipnis. 55, pág 140. João L. Musa e Carlos Kipnis. 56, pág 142. João L. Musa e Carlos Kipnis. 57, pág 143. João L. Musa e Carlos Kipnis. 58, pág 144/145. “Estação Júlio Prestes Contextualizada”. Caroline Pilon e Thiago Bodini. 59, pág 178. “Criança na cracolândia”. http://www.diariodocentrodomundo.com.br/estive-na-cracolandia-e-lembrei-de-voce/ 60, pág 179. “Bailarina Novos Sonhos”. Caroline Pilon.
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