uni7 rev. fantasma 2017.2
01. agosto
4. BANDA Francisco Oliveira e Thauna Schneider 14. entrevista AntĂ´nio Bruno e Kelson Moreira 22. atleta Ramon Morales e Isa Machado 30. designer Daniele Evangelista e Nildo Loiola 38. ator Luis Gonzaga 48. ilustrador Wilnan Oliveira e Priscila Sousa 56. artigo Juliana Cruz
Universidade 7 de Setembro - UNI7 26 de Agosto 2017 — Felipe Goes
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acro the universe Sim, os Beatles sĂŁo para sempre
Thauana Schneider Francisco Oliveira
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ross A banda de rock de maior sucesso em todos os tempos começou de forma humilde na Inglaterra. O cantor, compositor e guitarrista John Lennon dava seus primeiros passos no mundo da música em sua cidade natal, Liverpool, e criou um grupo com alguns colegas de escola, The Quarrymen. Em 1957, após um dos seus shows, foi apresentado ao cantor e então guitarrista e depois baixista Paul McCartney.
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A inesquecível Beatlemania
DISCO GRAFIA Março de 1963 PLEASE PLEASE ME Novembro de 1963 WITH THE BEATLES Julho de 1964 A HARD DAY’S NIGHT Dezembro de 1964 BEATLES WFOR SALE Agosto de 1965 HELP!
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les ficaram amigos e em seguida McCartney entrou no grupo. Não passaria muito tempo até que um novo integrante entrasse no time: o cantor, compositor e guitarrista George Harrison, colega de escola. Com o tempo, o grupo foi ganhando consistência, um baterista fixo, Pete Best e um novo nome, The Beatles, combinação de beetles (besouros, em inglês) com o rótulo beat music, definidor de música dançante na época.
Em 1961, após temporadas em Hamburgo na Alemanha e em bares como o Cavern Club, encontram o empresário Brian Epstein, que resolve agenciar o quarteto. Depois de ser recusado por praticamente todas as gravadoras britânicas, os Beatles foram contratados pelo pequeno selo Parlophone, dirigido por George Martin, produtor que teria participação importante na carreira da banda. O primeiro compacto, Love Me Do, saiu no inicio de 1963, com repercussão moderada, e marcou a última mudança na formação do grupo:sai Pete Best, entra em seu lugar Ringo Starr.
As coisas mudariam a partir de 1963, quando músicas como Please Please Me, From Me To You e especialmente She Loves You ajudaram o tornar a banda um verdadeiro fenômeno de popularidade no Reino Unido. Essa febre tomaria os EUA de assalto A partir desse momento até 1966, os a partir de fevereiro de 1964, graças “Fab Four” (quatro fabulosos) fizeram inúmeros shows pelo mundo e a uma visita de John, Paul, George e Ringo e também pela música I Want quebraram recordes de vendagens To Hold Your Hand atingir o primei- e lotação. As canções de sucesso ro lugar na paradas de lá. Não demo- vinham uma após a outra: A Hard Day’s Night, And I Love Her, Eight rou para que esse sucesso invadisse todo o planeta. era a beatlemania. Days a Week, Help!, Yesterday, Day Tripper, In My Life, Norwegian Wood, Eleanor Ribgy. Foi a primeira vez que isso aconteceu com uma banda.
#Beatlemania
The Beathes em um show no Cavern Club
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Em agosto de 1966, exaustos e em meio a polêmicas, resolveram não fazer mais shows. Isso gerou grande expectativa em torno de seu próximo LP, ainda mais pelos boatos de que seria um trabalho totalmente inovador. E Revolver, o único disco de inéditas que eles lançaram em 1966, era simplesmente excepcional, considerado por muitos como o seu melhor trabalho. Hearts Club Band, chega às lojas, e logo se torna um novo marco na impressionante historia do grupo britânico, com sua mistura de rock, psicodelismo, música indiana, jazz, vaudeville e música erudita de vanguarda.
Capa do disco Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (1967)
Com a trágica morte do empresário Brian Epstein, o quarteto entra em uma fase problemática, que, se não influi na qualidade de suas músicas, gera alguns produtos não muito elogiados, entre eles o filme para a tevê Magical Mistery Tour, lançado no final de 1967. O relacionamento entre os integrantes do grupo começa a se se deteriorar, especialmente entre John, agora casado com a japonesa Yoko Ono, e Paul, os principais compositores e parceiros aparentemente inseparáveis, até então.
O disco The Beatles, que recebeu o apelido de álbum branco por causa da capa totalmente branca, mostrava esse clima de pré-separação do grupo, pois pareciam músicas individuais de cada um, acompanhados pelos outros músicos, e não um trabalho de uma banda unida e coesa.As gravações para o que viria a se tornar o filme Let It Be ajudaram a piorar esse clima, e os quatro começaram a fazer alguns trabalhos individuais. No final de 1969, sai Abbey Road, gravado com a intenção não declarada de uma despedida digna.
Os outros integrantes preferem encerrar as atividades do grupo, e durante anos, questões legais os envolveriam.
Em abril de 1970, o que todos temiam ocorre: Paul McCartney lança seu primeiro disco solo, e afirma estar saindo dos Beatles.
O álbum branco mostrava o clima de pré-separação do grupo, pois pareciam músicas individuais de cada um, acompanhado pelos outros músicos.
Dezembro de 1967 MAGICAL MYSTERY TOUR Junho de 1967 SGT. PEPPER’S LONELY HEARTS CLUB BAND Agosto de 1966 REVOLVER Dezembro de 1969 RUBBER SOUL
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Novembro de 1968 THE BEATLES (THE WHITE ALBUM) Janeiro de 1969 YELLOW SUBMARINE Setembro de 1969 ABBEY ROAD Maio de 1970 LET IT BE
A comoção foi geral, e durante a década de 70, o boato que todos queriam ver se tornar real era uma volta dos Beatles. O máximo que ocorreu foram as participações especiais dos três em dois discos solo de Ringo Starr, os ótimos Ringo (1973) e Goodnight Vienna (1974)
As gravações foram feitas em função da excepcional série Anthology, que contou a história da banda com detaCom a morte de John Lennon em dezembro de 1980, isso se tornou lhes minuciosos e riquíssimo mateimpossível. O mais próximo disso rial de arquivo. Exibida inicialmente ocorreu em 1994/95, quando Paul, na tevê, gerou anos depois uma caixa George e Ringo se uniram para com- de DVDs. pletar a gravação de duas músicas de John Lennon, Free as a Bird e Real Os três CDs duplos lançados com Love, registradas no formato demo material inédito do grupo em função por ele e completada pelos outros da série de tevê atingiram o primeiro integrantes. lugar nas paradas dos EUA, prova de que, sim, os Beatles são para sempre. A prova é que, em pleno 2009, seus discos continuam vendendo milhões de cópias anualmente, e atraindo novas gerações de fãs.
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Por Kelson Moreira e Antonio Paiva
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| REPÓS | AGOSTO 2017 | ENTREVISTA |
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Em uma noite fria de janeiro, George R.R. Martin está no Jean Cocteau Cinema. Depois de assistir ao episódio de Game of Thrones, em que Ned Stark, é decapitado, Martin fica em silêncio por um momento. Então, diz: Não importa quantas vezes eu assista a isso, o impacto ainda é forte. Claro que, para mim, há ainda muito mais nos livros.
Nasci em 1948 e fui criado em Bayonne, Nova Jersey, que é uma península ao sul de Jersey City. De ônibus, levava 45 minutos até o centro de Manhattan, mas Bayonne era como um mundo próprio. Nova York era perto, mas não íamos lá com muita frequência. Meu pai tinha o sobrenome Martin, mas era descendente de italianos e alemães. O da minha mãe era Brady – irlandês. Ouvi muito da minha mãe sobre a herança dos Bradys, que havia sido uma família importante em alguns pontos da história de Bayonne. Eu soube desde muito pequeno que éramos pobres. Mas também sabia que a situação da minha família não havia sido sempre essa. Para chegar à minha escola, eu tinha que passar pela casa em que minha mãe nasceu, uma casa que havia sido nossa em outros tempos. Fiquei com isso na cabeça, é claro, e em algumas das minhas histórias há essa sensação de uma era de ouro perdida, repleta de maravilhas jamais sonhadas. De alguma forma, o que minha mãe me contou deu vida a todas essas coisas na minha imaginação. Você e seus pais eram próximos?
Meu pai era uma figura distante. Não acho que ele tenha me entendido em algum momento, e não sei se cheguei a entendê-lo. Não usávamos esse termo na época, mas você provavelmente poderia dizer que ele era um alcoólatra funcional. Eu o via todos os dias, mas raramente conversávamos. A única paixão que tínhamos em comum era o esporte. Fiquei com isso na cabeça, é claro, e em algumas das minhas histórias há essa sensação de uma era de ouro perdida, repleta
Você saía muito de Bayonne antes de entrar na faculdade?
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É o que motiva os personagens, mas é também a causa da ruína de cada um deles. Como era a relação familiar na sua casa?
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Nós nunca tivemos um carro. O meu pai sempre dizia que dirigir e beber não era nada bom, e ele não ia mesmo parar de beber [risos]. Meu mundo era então bastante pequeno. E era um campo para a imaginação. Por muitos anos fiquei olhando para fora da janela da nossa sala de estar, para as luzes da Staten Island.
De onde vem toda a sua imaginação?
É fácil ter ideias. Hoje tenho mais ideias do que seria capaz de escrever. Para mim, o importante é a execução. Tenho orgulho da minha obra, mas não sei se chegaria ao ponto de dizer que é totalmente original. Shakespeare tomou todas as tramas dele de outros lugares. Em As Crônicas de Gelo e Fogo, peguei coisas da Guerra das Rosas e de outras fantasias, e tudo isso funciona na minha cabeça e se mistura de uma forma que eu espero que seja unicamente minha.
Você é uma pessoa agradável, entretanto seus livros são incrivelmente violentos. Isso gera algum conflito com suas visões sobre poder e guerra?
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A guerra descrita por Tolkien era pelo destino da civilização e pelo futuro da humanidade, e isso virou o padrão. Não tenho certeza se é um bom padrão, entretanto. O modelo de Tolkien levou gerações de escritores de fantasia a produzirem uma série infinita de lordes malignos e seus terríveis exércitos, todos sempre feios e vestidos de preto. Mas a vasta maioria das guerras através da história não foi assim. A Primeira Guerra Mundial representa um exemplo muito mais típico de guerra do que a Segunda – o tipo em que você olha depois e diz: “Por que diabos estávamos lutando? Por que milhões de pessoas tiveram que morrer? Valeu mesmo a pena se livrar do Império Austro -Húngaro, ter varrido uma geração inteira do mapa; Você contou certa vez sobre o vislumbre original que teve e que se tornou As Crônicas de Gelo e Fogo: uma visão espontânea em sua mente de um garoto testemunhando uma decapitação e encontrando lobos na neve. É uma gênese interessante.
Era o verão de 1991. Eu ainda estava envolvido com Hollywood, escrevendo séries de TV. Meu agente estava tentando me arrumar reuniões para que eu pudesse apresentar minhas ideias, mas eu não tinha nada para fazer em maio e junho. Fazia anos que eu não escrevia um romance. Eu tinha uma ideia para um livro de ficção científica chamado Avalon. Comecei a trabalhar nele e estava indo bem, quando de repente me veio na cabeça essa cena, que essencialmente se transformaria no primeiro capítulo de A Guerra dos Tronos. Era do ponto de vista de Bran Stark: eles viam um homem ser decapitado e depois achavam os lobos na neve. A cena foi tão vívida que eu tive que escrevê -la. Sentei e em três dias coloquei-a no papel, já quase na forma final em que todos leram no livro. Ao decidir escrever uma trilogia – agora prevista para se transformar em sete livros –, você ficou preocupado com as comparações a O Senhor dos Anéis?
Na verdade, não. A partir dos anos 1970, os imitadores apenas retraçaram os mesmos caminhos que ele, sem nada da originalidade e do amor que Tolkien tinha pelos mitos e histórias. Mas eu sempre fui considerado, pelo menos dentro do gênero, um escritor sério. Além disso, a história me pegou de uma maneira muito forte. Achei que meus livros podiam ter o tom cru e sujo da ficção histórica misturado a um pouco da magia e do fascínio da fantasia épica.
Quando o terceiro livro saiu, comecei a receber ligações de Hollywood. O interesse cresceu quando os filmes de O Senhor dos Anéis começaram a sair, e de repente todos os estúdios queriam seu próprio Senhor dos Anéis. Todos os épicos de fantasia do mundo foram negociados. Aqueles filmes provaram que o público era capaz de aceitar dragões e coisas assim com seriedade. Mas eu nunca achei, desde o momento em que comecei a escrever a série, que ela poderia ser filmada. Cheguei a dizer que era impossível. Eu estava em uma posição privilegiada, de não ter que me preocupar em pagar minha hipoteca. Por isso recusei todas as ofertas, mas fiquei pensando: o único jeito de fazê-la seria na televisão – mas não pela CBS ou NBC, porque a história era muito sexual, muito violenta, muito complicada. A única alternativa era se fosse em alguma rede como a HBO. Ou de Jon Snow. Aqueles eram os dois personagens mais cotados para se construir todo o resto em volta, exceto que fazendo isso você perdia 90% da história. Outra pessoa sugeriu: “Vamos contar só o começo em um filme, e se fizer sucesso fazemos mais”. A série lhe deu milhões de novos fãs. Julgando pelas discussões online, eles são extremamente passionais quando se trata de sua obra...
Fiquei com isso na cabeça, é claro, e em algumas das minhas histórias há essa sensação de uma era de ouro perdida, repleta
É um sentimento incrível, saber que você tem não só uma porção de leitores, mas de espectadores também, e que eles são tão intensos, trazendo essa carga tão grande consigo. Mas talvez por isso o meu ritmo tenha diminuído – saber que há tanta gente analisando cada linha, esperando cada virada de trama e cena. Vamos lançar um livro contando a história de Westeros, ainda este ano. Acho divertido, e secretamente recompensador, que eu tenha tantos fãs interessados na história do cenário. Não sei se eles estudam a história do mundo de verdade com tanto afinco, sabe? Na escola talvez eles se sintam entediados com todos os Henrys da história inglesa.
Quando Ned Stark mata o Patrulheiro da Noite a morte pesa sobre seus ombros.
Tirar uma vida humana deveria ser sempre grave. Estamos criando mecanismos que nos permitem matar seres humanos com drones e mísseis, enquanto ficamos sentados apenas apertando botões. Não sei se isso é necessariamente algo bom. A questão de sempre é: quando você está em guerra.
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Dada a complexidade de As Crônicas de Gelo e Fogo, você chegou a ficar preocupado com o nível de fidelidade à história na transposição para a TV?
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| Tyrion Lannister |
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A mente precisa de livros como uma espada precisa de uma pedra de amolar.
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Um dos momentos mais fascinantes da série aconteceu no episódio da Batalha de Blackwater, quando Sandor diz a Sansa: “O mundo foi construído por assassinos, então é melhor se acostumar a olhar para eles”.
Às vezes é difícil ouvir a verdade. Duas das frases centrais da série são verdades, mas não o tipo de verdade que a maioria dos humanos gostaria de contemplar. “O inverno está chegando” e “Valar morghulis” – todos os homens devem morrer. A mortalidade é a verdade inescapável de toda a vida... e de todas as histórias também.
a luz do Capetinha Paginação Ramon Morales Iza Machado
Foi eleito o melhor jogador do Brasileirรฃo de 98, trouxe a vitรณria no Campeonato Paulista de 99 em um jogo clรกssico e em 2000, com dois gols na partida, conquistou o Campeonato Mundial de Clubes com o Corinthians, quando fez um jogo memorรกvel contra o Real Madrid.
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prólogo Edilson Capetinha se hidratando com gatorade, quando ainda vendia sua alma para o diabo a publicidade.
E
dílson da Silva Ferreira, mais conhecido como Edílson Capetinha é um futebolista brasileiro que atua como atacante. Começou a carreira profissional como jogador Profissional pelo Industrial-ES de Linhares em 1987, acompanhando seu irmão mais velho que era um jogador de futebol conhecido. O time era amador e disputou apenas um campeonato, sendo logo em seguida extinto. Depois foi para o Tanabi no interior paulista, quando um “olheiro” do Guarani o viu jogar e o levou para o clube campineiro, onde se profissionalizou. O técnico era Fito Neves, ele o conheceu na Bahia e o apoiou bastante, colocando-o no time titular logo na primeira partida do Campeonato Paulista de 1992, contra a Portuguesa de Desportos do craque Dener.
plebeu do paraíso
Seis meses depois o Palmeiras, patrocinado pela companhia italiana Parmalat, o contratou. E nesse time ele obteve grande destaque nacional, sendo bi-campeão Paulista, do Rio-São Paulo e do campeonato Brasileiro. Pelo Palmeiras marcou, segundo o próprio jogador, o gol mais bonito de sua carreira, contra o Corinthians. Transferiu-se ao exterior, defendendo o Benfica (Portugal) em 1995 e o Kashiwa Reysol-JAP. Voltou ao Brasil em 1998 para o Corinthians. Na vitoriosa carreira, o “Capetinha”, assim apelidado após sua passagem pelo Palmeiras, colecionou vários títulos na carreira: o tricampeonato Paulista, o Campeonato Carioca, o Torneio Rio-São Paulo, sendo tricampeão brasileiro, conquistando o Mundial de Clubes da FIFA, Campeonato Baiano e a Copa do Mundo de 2002.
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rei do inferno
Jogar um bom futebol ĂŠ o que faz vocĂŞ ganhar o jogo de verdade
Em 1998 foi contratado pelo Corinthians e brilhou no brasileirĂŁo
do mesmo ano conquistando o 2° titulo nacional para o timão. Foi eleito o melhor jogador da competição. Em 99 conquistou pelo Corinthians o Campeonato Paulista onde proporcionou uma batalha dentro de campo após fazer embaixadinhas e parar a bola na nuca na frente dos palmeirenses. Conquistou o Brasileiro de 99 sendo um dos principais jogadores do elenco, formando um ataque excepcional junto com Luizão (com quem já tinha atuado no Guarani) e Marcelinho Carioca.
campeão Mundial de 2000 Em 2000 veio a conquista do Campeonato Mundial de Clubes, quando Edilson fez um jogo memorável contra o Real Madrid: marcou 2 gols, um deles colocando a bola entre as pernas do zagueiro Karembeu e chutando forte. O jogo terminou em 2 x 2. Na final o Corinthians venceu o Vasco da Gama nos pênaltis. Com a desclassificação do Corinthians da Libertadores em 2000, novamente pelo rival Palmeiras, o jogador acabou deixando o clube numa saída turbulenta.
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Edilson Capetinha no Campeonato Brasileiro de 1998, o qual trouxe a vitรณria para o Timรฃo Corinthians.
epílogo
Perto do fim de sua carreira, Edilson chegou a jogar nos times: Vasco, Nagoya Grampus (no Japão) e no Vitória.
Depois de encerrar a carreira de futebolista, Edílson continuava trabalhando com o futebol e com o entretenimento tendo uma banda e um estudio. A empresa de Edilson Capetinha se chama Ed Dez. Em janeiro de 2016, Edilson atuará na quarta divisão do Campeonato Paulista com a camisa do Taboão da Serra. O atacante terá função dentro e fora de campo neste novo desafio. Ele assinou contrato de um ano com a nova equipe, mas ainda não tem data certa para retornar aos gramados
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BIOGRAFIA
ALEXANDRE WOLLNER A busca da perfeição
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POR: NILDO DIAS & DHANIELLE EVANGELISTA
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Em quase meio século de atuaç ão, Wo llne r é responsável pela divulgação da metodologia na área do design e pela i dent i dade visual de diversas empresas. Por sua atuação pedagógica, continua influenciando os designers brasileiros com um trabalho conceitual e de qualidade, que alia criatividade e experiência.
Alexandre Wollner é um dos responsáveis pela profissionalização do design no Brasil. Filho de imigrantes iugoslavos, interessa-se pelo desenho na infância. A partir de 1942, tem aulas nos ateliês da Associação Paulista de Belas Artes. Com 22 anos, entra no curso de iniciação artística do Instituto de Arte Contemporânea - IAC, do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp. Segundo Wollner, a escola é “um centro de estudo e divulgação dos princípios das artes plásticas, visando formar jovens que se dediquem à arte industrial”.1 A vivência no IAC permite que ele perceba a possibilidade “da participação social e cultural do artista por meio do design”.2 Estuda com Lina Bo Bardi (1914 - 1992), Poty (1924 - 1998) e Sambonet (1924 - 1995). Em 1951, o Masp o contrata como assistente de montagem da exposição do artista suíço Max Bill (1908 - 1994). O contato com a obra desse artista o aproxima do rigor e objetividade da arte concreta. Interessado no movimento concretista, ele adere, em 1953, ao Grupo Ruptura e apresenta suas pinturas construtivas na 2ª Bienal Internacional de São Paulo. Os trabalhos são agraciados com o Prêmio Pintura Jovem Revelação Flávio de Carvalho. Nesse ano, Max Bill o escolhe para uma vaga na Hochschule für Gestaltung Ulm [Escola Superior da Forma de Ulm], na Alemanha. No período, cria cartazes para mostras de cinema, em parceria com Geraldo de Barros (1923 - 1998), e, em 1954, realiza o cartaz da 3ª Bienal Internacional de São Paulo.
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“Design não é arte, como definimos arte, considero uma coisa orgânica no sentido social, cultural e econômico. Não considero uma coisa especial. as pessoas vêem coisas que fiz e não sabem que fui eu e eu acho ótimo. A busca da perfeição é o caminho do design.”
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Em 1958, Wollner retorna ao Brasil. Nesse ano, funda o Form-Inform, com Geraldo de Barros, Rubem de Freitas Martins e Walter Macedo. O escritório faz os primeiros programas de identidade visual para empresas brasileiras, cuidando de toda a imagem corporativa, do logotipo à embalagem e tipografia. A equipe remodela algumas marcas como Elevadores Atlas e Sardinhas Coqueiro. Em 1962, fora do Form-Inform, inicia, com o artista gráfico Aloísio Magalhães (1927 - 1982), um curso de tipografia no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ. A experiência é o embrião da Escola Superior de Desenho Industrial - ESDI, pioneira na introdução do moderno design no Brasil, inaugurada no Rio de Janeiro em 1963. Na década de 1960, Wollner abre o próprio escritório de programação visual. Desenvolve logotipos para a Metal Leve (1963) e a Eucatex (1967). Em 1970, é eleito presidente da Associação Brasileira de Desenho Industrial - ABDI. Permanece no cargo até 1974. Realiza a programação visual da Bienal da América Latina em 1978. Dois anos depois, mostra seus projetos no Masp e no MAM/RJ. Opta por uma exposição “que mostre o processo de criação, execução e implementação de um programa de identidade visual”.3 Em 1999, o Centro de Comunicação e Artes do Senac, em São Paulo, promove a sua segunda exposição individual. Em 2003, Wollner comemora seus 50 anos de design, com o livro Design Visual 50 Anos, publicado pela Cosac & Naify, e a exposição de suas fotografias no Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo.
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1953
PrĂŞmio de Pintura da II Bienal de SP
1951
Instituto de Arte Moderna de SP
1928
SĂŁo Paulo
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Autor do Cartaz da III Bienal de SP
1954
1954
Ingressa na Hochschule
1958
Volta a SP
1996
Exposição tendências construtivas MAC-SP
1980
Apresentação Individual no MASP
1960
Mostra Koncrete Kunst em Zurique
1959-60
Trabalha no departamento de Comunicação da Panam Propaganda
2017
Aos 89 anos vive e trabalha em SP
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De cowboy a diretor
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Nascido em São Francisco, Clint, à época Clinton Jr., vivia uma vida de nômade com os pais, que estavam sempre mudando de cidade.
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Sem sombra de dúvida, Clint Eastwood é um dos maiores ícones da história da sétima arte. Mesmo não apresentando o glamour de astros como Humphrey Bogart ou Clark Gable, que brilharam nos anos 40, ele fez história a partir da década de 50 como uma das estrelas máximas de Hollywood, como ratificou a revista Empire, que o colocou em segundo lugar no ranking dos 100 maiores astros de todos os tempos.
Tarantula (1955) - Jack Arnold
Nascido em São Francisco, Clint, à época Clinton Jr., vivia uma vida de nômade com os pais, que estavam sempre mudando de cidade.
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Passou boa parte da adolescência em Oregon e se mudou para Seattle em 1951, já com 21 anos. Lá, ingressou no exército, onde atuou como salva vidas e instrutor de natação. Na instituição militar conheceu um amigo que lhe indicou para o primeiro trabalho envolvendo o cinema, na Universal Pictures. De volta à Califórnia, deu início a sua histórica trajetória. Em 1955, fez sua estreia como ator em um papel não creditado em Revenge of the Creature. Realizou ainda vários chama-
aed cauctui seni sena, noccis viconvo, nosul vemedem nunihin re et inaturs aterte pere me audendiis ocum addawe
“T
enho com o cinema
a mesma relação que
tenho com o golfe. Adoro jogar golfe, mas não quero ter a obrigação de praticá-lo todos os dias.
Claro que aprecio o fato de eu ainda ter o que fazer, o trabalho me mantém jovem. Pelo menos é assim que entendo. Ainda não estou preparado para me aposentar. O que poderia fazer? Certamente, ficaria bebendo cerveja pensando no que passou e nas coisas que eu poderia ter feito diferente.” dos filmes B, como Lady Godiva, Tarantula, Never Say Goodbye e Star in the Dust, todos sem contar com o nome nos créditos. Quase abandonou a carreira de intérprete, mas em 59 conseguiu um papel de coadjuvante na série televisiva Rawhide, onde ficou por seis anos e acabou roubando o posto de protagonista.
O convite que mudaria sua carreira veio em 1964. O cineasta italiano Sergio Leone convocou o ator para interpretar “o homem sem nome” de Por Um Punhado de Dólares, filme que deu início não só à Trilogia dos Dólares, mas também a todo um gênero: o bang bang à italiana ou western spaghetti. Na sequência, Clint e Leone realizaram Por uns Dólares
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Eastwood, diretor e político
a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966). Os longas só chegaram aos cinemas dos Estados Unidos em 1968, mas foi o suficiente para elevar o ator ao patamar de astro. Antes disso, em 67, é comandado por Vittorio De Sica no capítulo “Sera Come Le Altre, Una”, do filme-coletivo As Bruxas, que contava ainda com a presença dos diretores Pier Paolo Pasolini, Luchino Visconti, Franco Rossi e Mauro Bolognini. No final da década de 60, já visto como ícone do gênero, estrela os faroestes A Marca da Forca e Os Aventureiros do Ouro, isso sem falar nos dramas de ação Meu Nome É Coogan e O Desafio das Águias. Filmes como Os Abutres Têm Fome, O Estranho Sem
Nome e Josey Wales - O Fora da Lei provam que o western não ficou de lado nos anos 70, mas sem dúvida podemos ver Eastwood se destacando também em um ambiente mais urbano. Em 71, assumiu o papel do detetive Harry Callahan, também conhecido com Dirty Harry, em Perseguidor Implacável. Voltou ao personagem outras quatro vezes, em Magnum 44, Sem Medo da Morte, Impacto Fulminante e Dirty Harry na Lista Negra. Também em 1971, Eastwood fez sua estreia na direção em dose dupla. Primeiro veio o curta
aed cauctui seni sena, noccis viconvo, nosul vemedem nunihin re et inaturs aterte pere me audendiis ocum addawe
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documental O Estranho que Nós Amamos - O Contador de Histórias, sobre os bastidores das filmagens de O Estranho que Nós Amamos, de Don Siegel, e depois surgiu Perversa Paixão. Apesar de ter deixado de ser algo certo mais a frente na carreira, no início, Clint estrelou a maioria dos filmes que dirigiu, como Escalado para Morrer, Rota suicida, Bronco Billy e O Destemido Senhor da Guerra.
de assumir a função de compositor e, assim como nas demais, o faz com maestria. Foi eleito prefeito da cidade de Carmel, em 1986, na Califórnia, e foi convidado para ser mais ativo dentro do partido Republicano, mas preferiu não dar seguimento à carreira política, para a felicidade da sétima arte. Em 1992, dirigiu Os Imperdoáveis, que é considerado por muitos como o último grande faroeste, sendo a despedida com chave de ouro do gênero que o consagrou. A produção conquistou quatro prêmios Oscar, incluindo Melhor Diretor e Melhor Filme. Dois anos mais tarde, realizou e estrelou o drama romântico As Pontes de Madison, ao lado de Meryl Streep, e levou muita gente a se emocionar nas salas de cinema.
Mesmo marcado pelo jeito durão em que aparece em seus filmes, Clint nunca conquistou a antipatia das pessoas e, com o tempo, foi provando que também era um sujeito de sensibilidade artística única. O primeiro exemplo disso talvez tenha sido Bird, drama estrelado por Forest Whitaker que conta a história do músico Charles Parker. O cineasta demonstra toda a sua paixão pelo jazz e pela música no longa. Nos anos 80, como se não bastasse o trabalho como ator, diretor e produtor, Eastwood “inventa”
- Sergio Leone
Por Um Punhado de Dólares (1955)
- Jack Arnold
Revenge of the Creature. (1955)
“Você já teve a sensação de ter atravessado o caminho de alguém com quem você não deveria se meter? Este alguém sou eu
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A segunda metade dos anos 90 gerou produções menos badaladas e de qualidade mais questionável, como Poder Absoluto, Crime Verdadeiro e, principalmente, Cowboys do Espaço. Estrelado por Kevin Spacey, John Cusack e Jude Law, Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal foi sua melhor obra no período. A “má fase” - que nunca chegou a ser ruim de verdade - acabou em 2003 com o intenso drama Sobre Meninos e Lobos, que rendeu um Oscar de Melhor Ator para Sean Penn e um de Melhor Ator Coadjuvante para Tim Robbins. No ano seguinte, voltou a dar duas estatuetas da Academia para dois nomes de seu elenco com as premiações de Hilary Swank e Morgan Freeman pelas atuações no surpreendente e devastador Menina de Ouro, que também lhe rendeu uma nova conquista como diretor.
- Clint Eastwood
Menina de Ouro. (2004)
‘Ninguém chega à posição em que estou como unanimidade’
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- Clint Eastwood
- Clint Eastwood
Gran Torino (2008)
Após dirigir Matt Damon em dois projetos (Invictus e Além da Vida), o cineasta se uniu
ao ator Leonardo DiCaprio para contar a história de John Edgar Hoover, um dos principais responsáveis pela criação do FBI e ícone do serviço secreto nos Estados Unidos. No mesmo ano em que lançou J. Edgar, Clint anunciou que voltaria a atuar em um filme de outro diretor, algo que não acontecia desde 1993 (Na Linha de Fogo). Ele assinou para interpretar um olheiro do mundo do baseball que está perdendo a visão em Trouble With the Curve. O longa marca a estreia na direção de Robert Lorenz, que é sócio de Eastwood na Malpaso Productions e que participou como
Sully - O Herói do Rio Hudson (2016)
Depois de Million Dollar Baby (no original), Clint ficou quatro anos sem atuar, voltando apenas no belo Grand Torino. Neste meio tempo, no entanto, dirigiu três produções, incluindo os audaciosos A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, em que trouxe a mesma história a partir de perspectivas diferentes. O terceiro projeto foi A Troca, em que comandou Angelina Jolie no papel de uma mãe que tem o filho raptado e faz de tudo para reencontrá-lo.
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“MAULICIO” Entrevista com
de Sousa
A prova viva de que é possivel fazer sucesso no Brasil desenhando. Entrevista: Priscila Sousa Arte: Wilnan Custódio
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Mauricio de Sousa é uma daquelas pessoas que parecem ter idade indefinida. Quando o cartunista e empresário era mais jovem, aparentava ser mais velho. Hoje com 81 anos, parece ter algumas décadas a menos de vida, não só no que se refere ao visual mas também em termos de vitalidade e agilidade mental. Levaria muito tempo e espaço para listar todas as realizações e glórias do criador da Turma da Mônica. Ao lado de Pelé, Tom Jobim, Ayrton Senna e poucos outros, ele é um brasileiro notável cuja excelência em sua área de atuação é incontestável e amplamente reconhecida dentro e fora do país. O artista nascido em 27 de outubro de 1935, em Santa Isabel, interior de São Paulo, acaba de lançar a autobiografia Mauricio – A História Que Não Está no Gibi (Sextante/ Primeira Pessoa). O livro mostra como o jovem que saiu de uma cidade pequena para a capital para trabalhar como repórterpolicial acabou virando cartunista.
Atualmente, Mauricio é uma mistura de Monteiro Lobato, Walt Disney e George Lucas. Na obra, é possível notar como ele acertou o passo para emplacar os personagens no que ainda era um inexplorado mercado editorial de HQs no Brasil. Porém a saga dele não é apenas de expansão (inclua aí a venda de produtos e a criação de merchandising): é também uma história de reinvenção e de eterna curiosidade. Figuras como Mônica, Cebolinha, Cascão e Chico Bento têm vida própria há muito tempo, claro, mas quando Mauricio lançou a Turma da Mônica Jovem, em 2008, poucos esperavam que ele conseguiria criar um novo universo tão bem-sucedido quanto o original. Sempre ligado nas novas ferramentas, ele não se furta de usá-las para passar sua mensagem – a Turma da Mônica tem até seu próprio canal no YouTube. Esta entrevista foi conduzida na atual sede da Mauricio de Sousa Produções, localizada em um moderno centro empresarial no bairro paulistano Lapa de Baixo. O local é fantástico, uma verdadeira ode aos quase 60 anos de carreira dele, e ainda está sendo ampliado. Maurício conversa de forma coloquial, e por meio de suas ideias e objetivos de vida se mostra um eterno humanista.
Década após década, novas gerações descobrem seus personagens. Como você enxerga esse legado? Para mim, o tempo não conta mesmo: no universo da Turma da Mônica não existe o limite temporal. Não tem antes nem depois, é 50
um bloco de situações que se juntou Esse é o legado que criamos. Ele vai se somando a outras coisas que vão acontecendo e assim vamos usando tudo. Ao mesmo tempo, ter esses personagens tão icônicos é uma responsabilidade. Para que isso siga como sempre foi e continue funcionando, eu prezo o propósito de vida que temos. Usamos ética e um tipo de comportamento. Em nossos produtos, aplicamos arte e criatividade. Também aproveitamos as ferramentas e as tecnologias que surgem para poder passar mensagens modernas e adequadas ao tempo em que vivemos.
Como manter a essência desses personagens depois de tantos anos? Veja, os personagens ainda andam pela calçada, pelo campinho. Isso não muda. É porque a criançada também não muda. Procuramos criar um ambiente que é todo inerente à infância. A fórmula que usamos é a que todo mundo gosta. A garotada entende e recebe o que fazemos como algo particular. Já vi isso acontecendo na China, na África, no Japão. Minha mensagem funciona e vai continuar funcionando. As emoções básicas são as mesmas dentro das pessoas. Todo mundo fica bravo igual à Mônica, tem fome igual à Magali, gosta de andar em uma turminha unida como a dos meus personagens. Eu não estou inventando nada. Shakespeare já fazia isso há muito tempo. Temos histórias universais. Na verdade, é muito fácil. Mas, sim, também dá trabalho.
Dentre os mais de 300 personagens que você criou, existe uma figura considerada “maldita” e que foi tirada de circulação há uns 45 anos: o nicodemo. nas historinhas dele, havia piadas com deficientes físicos, idosos, mendigos... o que você lembra sobre ele? Ah, quanto ao Nicodemo... bem, era uma tira de humor negro. Na época, meus estúdios ficavam dentro do prédio da Folha de S.Paulo. No grupo Folha havia o jornal Notícias Populares, que trabalhava com todo
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aquele lance de jornalismo sensacionalista, crimes, uma atmosfera carregada. Pensei: por que eu não posso me soltar um pouco e fazer algo assim? E fiz as histórias do Nicodemo. Não acho que ele era do mal, ele até tentava ajudar. Era assim: ele via um cara se afogando, jogava uma boia e ia embora. E o cara se afogava mesmo assim. Era bem intencionado, mas o resultado das ações dele era sempre desastroso. Ele conseguiu ser “despedido” de dois jornais. Primeiro, do extinto Jornal da Tarde. Um dia, me chamaram: “Mauricio, não dá para seguir, é muito pesado, muda o personagem”. Argumentei que não dava para mudar, que ele era assim mesmo. Eu o joguei na Folha da Tarde e o diretor me chamou: “Não dá, etc” Foi a mesma coisa.
No final, deixamos o Nicodemo para lá. Vimos que ele não era mesmo a nossa onda.
Seus personagens são licenciados para cerca de 150 empresas e aparecem em mais de 300 produtos, de macarrão instantâneo a fraldas. Seu lado de empresário se sobrepõe ao de cartunista? Tenho que inventar um jeito de ganhar dinheiro para seguir criando e fazendo as coisas. Não me acho um administrador, empresário, nada disso. Eu me acho mesmo um artista metido a besta.
você também comenta o momento político de 1964, quando os militares tomaram o poder justamente quando você começava a firmar o seu nome. Cita pessoas de esquerda que eram perseguidas pelo novo governo, mas também fala da intransigência dos sindicalistas, que “obrigavam” você e outros a trabalhar para eles. Como criador de histórias infantis, eu não devo ter opinião sobre política. Mas como cidadão eu fico meio preocupado com o que está ocorrendo. Essa divisão entre esquerda e direita, bem, sinceramente eu acho que isso não deveria existir. No país, alguns estão bem e outros se encontram em pior situação, infelizmente. Isso vai existir sempre. Faz parte da condição humana. Mas eu, como autor, tenho que pregar paz, concórdia, intercâmbio de ideias e, de alguma maneira, passar algum tipo de felicidade. Nas minhas histórias, a molecada briga durante o dia, vai para casa dormir e, no outro dia, faz as pazes. Brincam e brigam de novo como se nada tivesse acontecido. Esse é o ciclo da vida. Nada é definitivo no momento de destruição. O que deve permanecer dentro das pessoas é a construção.
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Maior Influência
Will Eisner, criador de The Spirit, fez a cabeça de Mauricio Em A História Que Não Está no Gibi, Mauricio de Sousa conta que foi influenciado por diversos artistas, mas poucos o tocaram tanto como Will Eisner, criador do herói The Spirit. “Ele era o desenhista que eu queria ser quando crescesse. Foi o artista que mais me influenciou na abertura das histórias, aborda-
gem de temas, ângulos das cenas, desenvolvimento de personagens, enredos e narrativas”, afirma o brasileiro. The Spirit se tornou a tira favorita dele. Mas não eram histórias para criança. “Elas tinham violência, crime, lutas, tiros e um realismo acima da média.
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Burn the witch Burn the witch
WHEKN OW
This is a low flying panic attack Sing a song on the jukebox that goes
Juliana Cruz Nunes
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WHERE LI YOU VE
a mo on N
uma era em que as revoluções musicais são conduzidas por artistas de hiphop e eletrônico, o Radiohead suspira inovação musical. Cada novo disco do quinteto inglês é um atestado artístico, um testemunho vanguardista, uma tomada de pulso dos nossos tempos – e do próprio estado de espírito inquieto de Thom Yorke e companhia. Lançado em maio de 2016, o álbum A Moon Shaped Pool se desenrola como uma crônica sobre perdas, mudanças e anseios.
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Lançamentos supresa: o anúncio do lançamento foi feito apenas 3 dias antes da data em que o álbum foi lançado.
Dias antes de ser lançado, fãs britânicos do grupo receberam por correio um informativo com o texto misterioso.
shaped pool O recado foi dado dias antes do lançamento: perfis de Facebook e Twitter apagados, páginas em branco, nenhuma foto, nenhuma explicação, nenhum apego. Tudo do zero. A Moon Shaped Pool chegou para confirmar que agora o Radiohead - banda que há mais de 20 anos vem nos ensinando o que é ruptura em música popular - queria recomeçar, deixar para trás o que tinha sido feito até agora. Que a banda de ontem não é mais a de hoje.
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bey ond you
Yorke decidiu inverter algumas características antigas da banda em prol de questões mais individuais.
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Tal recomeço é escancarado pela sonoridade de A Moon Shaped Pool: menos eletrônica, menos ruidosa, menos frenética. Ao que parece, Thom Yorke também é humano como a gente, afinal, e está disposto a analisar seu lado de dentro. Não se encontra aqui o inquieto militante de Hail To The Thief ou o crítico impiedoso da sociedade e da tecnologia de OK Computer, muito menos o alienado de Kid A ou Amnesiac. Yorke decidiu inverter o peso de todas estas facetas em prol de questões mais individuais. E o mais interessante: quer falar sobre isso. Está mais calmo, questionador, mais indiferente - e isso é um elogio. A banda trocou a pressa e a angústia por uma desacelerada mais introspectiva. Isso vai além de mim, além de você, Yorke reflete em Daydreaming, aceitando que nem sempre as coisas são como a gente gostaria, apenas são como são. E se isso fica claro e evidente na execução: o Radiohead de agora está muito mais para Sail To The Moon do que para Bodysnatchers. A Moon Shaped Pool chega ao público como uma obra segura, essencialmente precisa. Um regresso (in)voluntário ao imenso acervo de composições e temas instrumentais produzidos pelo quinteto inglês nas últimas duas décadas. Das 11 faixas que recheiam o disco, pelo menos seis foram executadas em apresentações ao vivo ou exploradas em diferentes fases
e projetos do grupo inglês. Escolhida para a abertura do disco, Burn The Witch, por exemplo, teve fragmentos da própria letra publicados na contracapa do álbum Hail To The Thief, de 2003. Burn The Witch ainda foi objeto de discussão entre os integrantes durante as sessões de Kid A (2001) e In Rainbows (2007), sendo finalizada há poucos meses. Mesmo ancorado no passado, A Moon Shaped Pool está longe de parecer uma preguiçosa reciclagem de conceitos antigos. Prova disso está na busca do quinteto por uma som remodelado, orquestral, estímulo para a série de colaborações com os músicos da London Contemporary Orchestra. De forma geral, os arranjos são a grande riqueza do disco. Em algumas faixas como Glass Eyes ou Desert Island Disk ou até mesmo na lindíssima The Numbers, eles soam fazendo papéis invertidos: guitarras que parecem piano, pianos que parecem violão, e assim por diante, construindo um clima quase folk em alguns momentos. Mas não nos deixemos iludir: mesmo na calmaria existem tempestades. E quando elas chegam, chegam em forma de verdadeiros tornados sonoros que arrastam você para longe, indefeso. Burn The Witch já abre o disco num destes momentos, com suas cordas frenéticas e incessantes, e é justamente aí que já fica clara uma mudança de abordagem.
bey ond me
Burn The Witch já havia sido cogitada em dois outros álbuns, entre os anos de 2001 e 2007 com Kid A e In Rainbows.
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As my world Comes crashing down Poderia ser uma guitarra de heavy metal - aliás, não há nada tão heavy metal quanto invocar Burn The Witch mas são violinos e violoncelos elegantes que conseguem passar a tensão sem necessariamente deixar a música pesada. Seu peso fica no psicológico, o que é muito mais eficaz. Como em todos os discos do Radiohead, parece que você está ouvindo a trilha sonora dos seus mais intensos sonhos ou mais aterrorizantes pesadelos. Mas onde antigamente o imaginário conseguia ser palpável (como em Airbag, por exemplo, que diz um airbag salvou minha vida ou em There There, na qual é dito que nós somos acidentes esperando para acontecer, aqui os significados acompanham a música aérea e solta, ganhando mais liberdade também de interpretação. Em Glass Eyes, era de se esperar que Yorke rechaçasse a sociedade fria ou egoísta dos nossos tempos, mas ele quebra a todos quando revela hey, it’s me sendo levado pela avalanche sonora que ouvimos ao fundo. Em todo o álbum a situação do mundo e aquilo que o cantor está sentindo se misturam. Quando vejo você me tratando mal, não quero saber, canta Yorke em Identikit. Se ele está pensando em uma
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traição pessoal, política ou corporativa, ou apenas como os traços faciais podem ser reunidos como retratos falados da polícia, isto não está claro, mesmo depois que surgem acordos no estilo dos Beatles: Corações partidos provocam chuva. Em Present Tense, uma espécie de bossa-nova agridoce comparável a músicas passadas do Radiohead como Knives Out e House of Cards, Yorke canta: Enquanto meu mundo desaba/ Estou dançando, desesperado, e pensa: Todo este amor terá sido em vão?.
O álbum é dominado pelas preocupações do Radiohead: questões ambientais, sociais e o amor que acabou.
Após 23 criativos e felizesanos, por muitas razões estamos seguindo caminhos diferentes, disse Yorke.
I’ll be dancing Freaking out
For temente inf luenciado pela separação de Thom Yorke e a artista plástica Rachel Owen, com quem o músico britânico manteve um relacionamento durante 23 anos, A Moon Shaped Pool utiliza da temática do rompimento como um caminho não óbvio para a construção de grande parte das canções. Há uma nave espacial bloqueando o céu / E não há onde se esconder / Você corre de volta e tapa os ouvidos / Mas este é o som mais alto que você já ouviu, canta em Decks Dark, música que utiliza de ovnis e extraterrestres como uma metáfora para os tormentos do cantor. Armadilhas sentimentais que se armam durante toda a construção da obra, violenta mesmo na serenidade de suas canções. Daydreaming também foi muito comentada por supostamente conter outras metáforas sobre o fim do matrimônio de Thom Yorke, que em 2015 divorciou-se de um casamento que durou 23 anos, ele tem hoje 47 anos, ou seja, o matrimônio durou praticamente metade da vida dele. A música começa com este que é um dos efeitos mais analógicos, como uma gravação que vai
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I’m NOt LIVINg
perdendo velocidade. A tecnologia só ajuda a capturar e repetir a sonoridade das guitarras acústicas, dos teclados, da percussão e das vozes, alimentadas ou não por meio de instrumentos de distorção analógicos. É tão amoral quanto um microfone ou um amplificador. E a música soa acústica mesmo que obviamente tenha sido programada. Existem algumas curiosidades, como, durante o clipe ele partindo de um túnel, anda por vários caminhos, abre 23 portas, representando que para alguns representa a longevidade de seu casamento, até e chega em uma caverna com uma fogueira da qual deita-se perto do fogo e diz algumas palavras ilegíveis, que para entender o que é dito, é necessário ouvir a música ao contrário e você verá que ele fala: Half of my life, half of my love. Não para por ai, em diversos momentos é também feita várias referências a outros videoclipes e momentos da banda. O álbum termina com True Love Waits, canção de amor que o Radiohead compôs nos anos 1990 e gravou pela primeira vez num EP ao vivo em 2001 chamado I Might Be Wrong, com Yorke tocando e cantando sozinho, numa evolução até o refrão da música: Don’t Leave, Don’t Leave. Duas
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I’m JUst KILLINg tImE décadas mais tarde, sua versão em estúdio testemunha a que paciente perfeccionismo a banda chegou. Em vez de acordes de guitarra, a música começa com quatro notas de piano que se repetem, um acorde seccionado e despojado. E ainda no piano são tocados outros acordes durante o primeiro verso. Aos poucos mais pianos são agregados: loops com sons alternados, tonalidades baixas sonoras, acordes que se repetem, e nem tudo faz parte de um arranjo, mas muita coisa emana junto com ele. Um mundo que existe fora dos anseios de um homem e não quer ser ofuscado por eles. Conceitualmente posicionado em algum lugar entre a melancolia de OK Computer (1997) e os experimentos climáticos que habitam em Kid A (2000), mesmo depois de uma longa espera de 5 anos, A Moon Shaped Pool mostra o esforço de uma banda que mesmo em uma explícita zona de conforto, lentamente seduz e convence o ouvinte. A mesma sensação de chegar em casa depois de uma longa viagem, perceber que todos os móveis da sala continuam ali, porém, foram mudados de lugar.
True Love Waits foi composta nosanos 90 e gravada pela primeira vez no EP I Might Be Wrong.
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uni7 rev. fantasma 2017.2
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